Pina Bausch by Daniela Callegario

Pi na Baus ch

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Pina Bausch

Pina Bausch “Por vezes, queremos falar de qualquer coisa e chegamos lá muito perto. Mas compreendemos, também, que é tão importante que parece estúpido só o facto de o mostrar. Então é como se o “vestíssemos” com outra coisa, porque mostrá-lo parece-nos arriscado, temos medo. É algo demasiado grande. Há algo de muito mais sério do que aquilo que o público, em geral, pode ver. E existe, está ali, mas não vai ser exibido, porque eu quis escondê-lo. É como se houvesse sempre um grande conflito entre aquilo que queremos tornar claro e aquilo que nos serve para n

”.

“Rough Cut” Homens e mulheres se enfrentam nesse espetáculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Principais espetáculos . . . . . . . . . . . Cronologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Pina Bausch, a insubmissa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

De autoria de Mônica Raisa Schpun: historiadora, pesquisadora e professora do Centre de Recherches sur le Brésil Contemporain, da Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (Paris). É autora, entre outros, de “Beleza em Jogo: Cultura Física e Comportamento em São Paulo nos Anos Vinte” (Senac/Boitempo, 1999)

Sobre a autora

tica -teatro, dança, vídeo, música. Voltando dos Estados

ploma em 1959, Bausch partiu para Nova York, onde estudou

hoje à integração de todas as formas de expressão artís-

1973, foi por ele usado nos anos 1920-30. Obtendo seu di-

tas nova-iorquinos acentuaram a importância dada até

atro dançado”, que dá título à companhia por ela fundada em

Sua experiência americana e o contato com os artis-

1979) seu principal mestre -o termo “teatro-dança” ou “teFormada na Alemanha, Pina Bausch teve em Kurt Joos (1901-

can Ballet e, em seguida, o Metropolitan Opera Ballet. à série que a companhia Tanztheater Wuppertal vem de-dicando, desde meados dos anos 1980, aos países e cidadesaos quais faz suas viagens

Anita Bausch, tinham um hotel-restaurante em Solingen.

1977 O espetáculo de Pina Bausch, “Rough Cut”, acrescenta mais um capítulo

1940 Nasceu em Solingen, Alemanha. Seus pais, August e

dança na Juilliard School of Music, integrou o New Ameri-

“Komm tanz mit mir” (“Vem, Dança Comigo”)

Pina Bausch, a insubmissa

“Rough Cut” Homens e mulheres se enfrentam nesse espetáculo.

tambores e demais instrumentos de percussão e com suas composições eletrônicas. O ritmo é envolvente e dialoga brilhantemente com as curtas sequências e solos, tradicionais do universo de Pina Bausch: marca registrada de sua concepção cênica, o elenco se reveza sem parar no palco, numa economia que prevê raras composições numerosas.

de pesquisa. “Rough Cut” nasceu na Coréia do Sul, como “Água”, em 2001, fora fruto de uma temporada no Brasil.

O título do espetáculo explicita a parceria que Pina Bausch desenvolve há vários anos com o cenarista Peter Pabst. Uma

Em “Rough Cut” ouve-se menos as vozes dos atores-bailarinos da

geleira ou formação rochosa rudemente recortada, como um “es-

companhia e se vê poucas referências explícitas ao país de inspiração,

boço grosseiro” de cenário, metamorfoseia-se conforme os vídeos

a Coréia do Sul. Estas aparecem sobretudo na trilha sonora, com seus

nela projetados, de autoria do mesmo Pabst.

Firmou seu gosto, já adquirido na Alemanha, pela introdução da vida cotidiana na criação artística, graças ao tratamento dado a temas do dia-a-dia, aos objetos que habitam o palco (mesas, cadeiras, copos, flores, galhos, alimentos e bebidas) ou aos trajes dos

O reconhecimento, porém, veio bem mais tarde, e a partir das platéias estrangeiras que, nos anos 1970, receberam suas criações com mais entusiasmo que as alemãs. Essas duas bailarinos-atores, que se vestem com ternos pretos e vestidos de noite, mas podem usar, como em “Água”, maiôs e toalhas de praia. Isso, claro, sem contar o trabalho corporal.

1955

1979

“Keuschheitlegende” (“Lenda de Castidade”)

Com 15 anos inicia estudos de dança na Folkwang School em Essen, com o diretor e coreógrafo Kurt Jooss.

Unidos em 1962, ela incorporou, como solista, o Ballet Folkwang, dirigido pelo mestre Joos, e se iniciou na criação coreográfica.

Estes contribuem para dar forma à matéria “bruta”, transformando

tos e sem rumo. Essa corrida circular e aparentemente sem fim não

a formação rochosa, por exemplo, em colina florida, onde um casal

tem, entretanto, nada de improviso, já que foi escrita e coreogra-

encontra refúgio para namorar. Mas a polivalência do cenário não

fada. Ela faz parte da tensão permanentemente alimentada por

deixa de se impor: de montanha escarpada escalada por alpinis-

Bausch entre o real, o ordinário cotidiano, e a representação,

tas, este passa a paredão de gruta, onde aparece um grupo de espeleólogos munidos de lanternas na fronte, descendo com cordas até o palco, ocupado por “ v e r d a d e i r o s ” b

No final do espetáculo são projetados no mesmo cenário fogos de artifício, cuja explosão combina-se ao ritmo acelerado da trilha sonora, enquanto os bailarinos-atores da Wuppertal correm afogueados, afli-

o ritual cênico. Assim, numa das cenas de “Rough Cut”, vemos as mulheres entrarem no palco caminhando e abanando-se com grandes folhas de repolhos orientais. Em seguida, munidas de baldes e toalhas, elas lavam as costas nuas dos homens, dispostos a seus pés tal como pranchas de lavadeiras.

Desde então, Baush obteve sucesso mundial com a magia de sua linguagem corporal e cênica. E os temas que lhe são caros,

parede rochosa diante da qual os acontecimentos se desenrolam.

Forma-se em Dança e Pedagogia da dança em Folkwang.

1986 A leveza da cena nos faz inevitavelmente sorrir. Um grande frescor emerge tanto do branco dos trajes e das toalhas, da cor clara dos repolhos e da presença da água, quanto do fundo branco da grande

1958

e que também funcionam como motores da criação, participam dessa grande capacidade de encantamento e da eloquência poética de cada uma de suas criações.

“Viktor” (), ou “Café Müller”

características do trabalho de Bausch -a insubmissão aos limites entre diversas formas de expressão artística e a constante tensão entre o ordinário cotidiano da vida e o ritual cênico da representação- não foram imediatamente aplaudidas pelo público alemão.

A carga poética da linguagem de Bausch concentrase no modo com os corpos em movimento exprimem sua tensão estrutural -mas nem por isso imutável-, que

Enquanto isso, em primeiro plano, um homem desenrola de uma toalha branca um enorme repolho e o enxuga-acaricia delicadamente, antes de embrulhá-lo novamente. Os gestos empregados na cozinha avizinham aqui os do cuidado com a roupa, mas também, levando a tensão mais longe, os da intimidade corporal entre homens e mulheres, assimilados à banalidade cotidiana dos afazeres domésticos, ritualizados.

Mas o poder de encantamento que nasce da cena vem também dos “modos” ordinários com que o elenco caminha no palco, executa seus gestos, olha e sorri, com malícia e desenvoltura. Essa irrupção da “vida” no palco nos faz esquecer, por um momento, que estamos diante de uma representação. Tal fato nos é porém imediatamente lembrado, pois a sequência é curta, e os dançarinos-atores lançam-se logo na arrumação do palco para voltarem, em seguida, vestidos de outro modo, encenando o próximo esquete. Temas recorrentes, em torno dos rituais de sedução, da incompreensão mútua entre homens e mulheres, dos desencontros

e na Metropolitan Opera House.

1959/62 Vai para Nova Iorque dançar na Juilliard School

(?)

“Rough Cut” (dedicada à Coréia do Sul)

atravessa embates cotidianos com os quais estamos todos familiarizados. Para tal, o repertório dos esquetes e do fraseado coreográfico é fruto da coleta de dados pelo mundo afora. Após as temporadas de pesquisa, via de regra em viagens, os bailarinos-atores são convidados a improvisar movimentos a partir do que testemunharam. Deles, e sempre dentro do universo expressivo que criou, Pina Bausch “filtra” seu produto final. entre o feminino e o masculino -como na “corrida” desenfreada que fecha “Rough Cut” ou, antes disso, na “luta” febril travada no palco, em que dois bailarinos lançam cadeiras a uma bailarina, que as devolve em movimentos extremamente rápidos. Mais uma tensão desenha-se então, entre, de um lado, solidão, desencontro e incompreensão, e, de outro, uma utopia na qual parecem despontar contornos de relações compreensivas entre homens e mulheres. A coreógrafa nos traz cenas onde os embates -amorosos, quotidianos e outros- que atravessam tais relações acabam sendo pacificados. Sem nunca, para tal, cair na armadilha de representações esquemáticas.

“Água” (fruto da passagem da coreógrafa pelo Brasil)

da Folkwang, de Kurt Jooss.

1962 Volta para Alemanha, dançar no recém-fundado balé

2001

Baush tem 33 anos e ĂŠ contratada para dirigir o Wuppertaler Tanztheater, mais tarde mudado para Tanztheater Wuppertal Pina Bausch.

1973

Rompe com formas tradicionais da dança-teatro, utilizando-se de ações paralelas, contraposições estéticas, repetições propositais e uma linguagem corporal incomum para a época.

1976

um c芒ncer.

2009 Falece cinco dias ap贸s ter-lhe sido diagnosticado

Em 2008, o cineasta Wim Wenders inicia a preparação de um documentário sobre ela. Esse filme, “Pina”, foi oficialmente lançado em fevereiro de 2011 na Europa e em março de 2012 no Brasil com review de 94% no Rotten Tomatoes.

Em 2007, Pina Bausch foi agraciada com o Prêmio Kyoto e, em 2008, com o Prêmio Goethe.

Reconhecimento

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