Teste

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© 2002 Franciane Ulaf

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ADEPH Academia de Desenvolvimento e Planejamento Humano


Para minha m達e


SUMÁRIO PARTE I Introdução

07

Reflexão – Auto-percepção Um balanço prévio de sua vida

16 18

PARTE I 1. PEP

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O que é PEP? Por que você deveria planejar a sua vida

2. Os fatores que facilitam e dificultam o sucesso de um PEP Comportamentos que facilitam o sucesso Comportamentos que dificultam o sucesso

20 20 23

29 29 31

3. Quais os primeiros passos

42

3.1 Mudança de Paradigma 3.2 Postura Proativa 3.3 Autoconhecimento

42 53 57 60 60 75 78

Ferramentas para o Autoconhecimento 1. Descubra quais são seus valores pessoais 2. Identificação dos pontos fortes e fracos 3. Identificação de padrões

PARTE II 4. Projeto de Vida 4.1 Foco 4.2 Metas X Objetivos 4.3 Visões X Objetivos

79

80 82 88 89

5. Planejamento Estratégico

94

5.1 A Missão e a Visão 5.2 Definição de Metas 5.3 Estratégia 5.3.1 Nível estratégico

94 97 107 110

1. Análise dos Fatores Internos

110

2. Análise dos Fatores Externos

111

3. Análise de Questões Críticas

112

4. Estratégias Alternativas

113


5.3.2 Nível Tático 5.3.3 Nível Operacional

116 118

1. Suas Metas são Compatíveis ?

118

2. Recursos Externos

118

3. O Recurso Responsabilidade

119

4. Organização

119

5. Recursos Pessoais

119

5.4 Análise Estratégica 5.5 Manutenção da Estratégia 5.6 Montagem do Planejamento Estratégico

PARTE III 6. Auto-organização 6.1 Organização Física 6.2 Organização Psicológica 6.3 Organização Mental

7. Definição de Limites 7.1 Disponibilidade 7.2 Pressão 7.3 Qualidade 7.4 Envolvimento

8. Definição de Prioridades 8.1 Os 4 Níveis de Prioridades 8.2 O mais Importante em Primeiro Lugar 8.3 Coerência na Priorização

9. Produtividade

126 129 130 134

135 135 136 138 140 140 142 142 143

144 144 147 151

155

9.1 Eficiência X Eficácia 9.2 Ocupado X Produtivo

155 156

10. Administração do Tempo

157

10.1 O Tempo 10.2 A Administração do Tempo 10.3 O que é Administrar o Tempo ? 10.4 As 4 Gerações de Administração do Tempo 10.5 A Organização do 2º Quadrante

11. Objetivos X Felicidade Considerações Finais Referências Bibliográficas Como entrar em contato com Franciane Ulaf

159 164 173 175 180

184 187 189 192


“Tu és o arquiteto do teu próprio destino.Trabalha, espera e ousa.” Wilcox Wheeler


INTRODUÇÃO

A idéia de escrever sobre planejamento estratégico pessoal surgiu durante

um

curso

de

autodesenvolvimento

em

1997.

Dentre

as

ferramentas que utilizávamos para alavancar o desenvolvimento pessoal estava o planejamento. A técnica utilizada era rudimentar: definir metas a curto, médio e longo prazo. Através de conversas com os demais participantes, pude perceber que a maioria já estava fazendo o curso pela 2º ou 3º vez, e persistiam as dificuldades para cumprir o planejado. Os maiores problemas, segundo as pessoas que tive contato, estavam relacionados

à

administração

do

tempo,

auto-organização

e

autoconhecimento. Deficiências nestas áreas dificultavam a realização das metas propostas. A partir deste curso decidi pesquisar os temas relacionados à organização e planejamento pessoal. Ao longo desse tempo que venho pesquisando

o

tema,

pude

constatar

que

muitos

dos

problemas

relacionados ao estresse, depressão, falta de motivação, baixa autoestima, dentre outros, estão diretamente ligados à falta de organização e má administração do tempo e, principalmente, à ausência de objetivos pessoais de longo prazo. Constatei que a maioria das pessoas não precisa de um manual de planejamento ou um guia de administração do tempo, se antes não se conhecerem o suficiente para saberem onde estão e onde querem chegar. Isso envolve autoconhecimento, saber onde está significa conhecer seus pontos fortes e fracos, seus objetivos de vida, seus valores pessoais, seus mecanismos de defesa, enfim, só um conhecimento claro, objetivo e realista sobre você mesmo é que poderá determinar onde você quer chegar. Isso é manifestado através de um projeto de vida, definição de metas realistas, priorização coerente.


Franciane Ulaf Cheguei à conclusão de que a motivação é uma questão de objetivos, sem saber para onde está indo, a pessoa sente que tudo o que faz é inútil. Atividades isoladas, desconectadas de um objetivo maior não são motivadoras pois não têm “significado”. O significado é o porque, a razão. Se não houver esse porquê, a desmotivação é uma conseqüência natural. Quem gosta de fazer algo sem saber porque está fazendo? Muitas pessoas acreditam que não possuem poder de decisão sobre a própria vida, que devem aceitar passivamente o que lhes acontece. As evidências nos mostram que a realidade é bem diferente. Os grandes sucessos foram conquistados em cima de muito suor e determinação. As pessoas que conseguem o que querem têm um sonho e o perseguem até realizarem o que desejam, não esperam que a vida, o destino, Deus, ou algo externo determine seu rumo. Estudos demonstram que a maioria das pessoas não sabe o que quer da vida, ou se sabe, não tem idéia de como realizar seus sonhos. Não me refiro a sonhos como algo abstrato, irreal, mas como objetivos que podem ser realizados, mas ainda não “tomaram forma”, não foram planejados. A literatura na área de planejamento e administração do tempo é muito vasta, no entanto, é comum ouvirmos comentários de pessoas que “já tentaram de tudo” e não conseguiram mudar velhos hábitos negativos e aplicar as técnicas propostas. Se as pessoas não estão obtendo êxito aplicando o que há disponível no mercado é porque algo está errado. As técnicas em si são boas e “parecem” aplicáveis. Então por que as pessoas não conseguem segui-las e administrar suas vidas da forma como desejam? O planejamento é a ponta do iceberg. A administração do tempo é apenas uma ferramenta. É preciso cuidar muito bem da base pra que esse planejamento de fato reflita realidade, ou seja, para que você não planeje um monte de coisas que não vai cumprir pelo simples fato das metas serem ilusões, ou você não estar preparado para cumprí-las. Você também precisa cuidar da base do iceberg para que esse planejamento seja realmente o que você precisa, as pessoas às vezes planejam

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Planejamento Estratégico Pessoal baseando-se em hobbies, ilusões passageiras, sem saber o que elas precisam de verdade. Aqui você não encontrará somente técnicas para aplicação imediata, mas uma oportunidade de reflexão profunda e contínua, através de ferramentas de autoconhecimento, desenvolvimento pessoal e reavaliação de hábitos, conceitos e paradigmas. A 1º parte é destinada a esclarecer o tema “planejamento estratégico pessoal”, analisar os fatores que facilitam e dificultam o sucesso de um planejamento, e também propor os primeiros passos e as mudanças interiores necessárias para que você seja bem sucedido ao planejar seus objetivos. A 2º parte trata do planejamento estratégico em si. Como elaborar um projeto de vida, como definir metas e objetivos e como planificar detalhadamente cada meta, traçando caminhos, prevendo obstáculos, levantando recursos. A 3º parte apresenta algumas ferramentas de administração pessoal que podem auxiliar e até garantir o sucesso de um planejamento, como auto-organização,

administração

do

tempo,

definição

de

limites

e

prioridades.

A era do desenvolvimento pessoal

"Daqui a alguns séculos, quando a história da nossa era for escrita de uma perspectiva bem distante, eu acho que é muito provável que o evento mais importante que esses historiadores irão retratar não será a tecnologia, não será a Internet e nem mesmo o comércio via e-mail (ecommerce). O que verão é uma mudança sem precedente na condição humana. Pela primeira vez, literalmente, há um substancial e rápido crescimento no número de pessoas que tem escolhas. Pela primeira vez,

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Franciane Ulaf eles terão que gerenciar a eles mesmos. E deixe-me dizer, nós estamos totalmente despreparados para isso." Peter Drucker A evolução da história humana pode ser compreendida em eras. Após alguns milhares de anos tentando compreender e controlar o mundo e a

natureza, o homem chegou ao século XXI com um conhecimento

razoável a cerca do seu ambiente e das ferramentas, oportunidades, insumos que este proporciona. Fechamos a era industrial, entramos na era da informação onde tudo parece mais rápido, mais fácil, mais barato. No entanto, era após era, os problemas básicos do homem permanecem os mesmos. Nenhuma nova descoberta conseguiu encontrar a fórmula da felicidade, da motivação, da auto-realização, embora as livrarias estejam abarrotadas de livros de auto-ajuda e gurus cobrem fortunas por uma "palestra motivacional". Essa

incessante

busca

pelo

equilíbrio

interno

sempre

esteve

presente na natureza humana, entretanto, é agora, na era da informação que essa necessidade se faz notar de forma explícita. Ouvimos muito dizer que nós estamos no início da era da informação. Sim estamos, mas também estamos vivenciando o início da era do desenvolvimento pessoal. Nunca na história humana nós tivemos tanta necessidade de buscarmos um significado para as nossas vidas. O porquê não é difícil de entender. Durante toda a sua trajetória, o homem teve quem o liderasse, não precisava pensar muito, bastava "seguir o rumo da vida", como seus pais haviam feito, como seus irmãos, amigos e vizinhos estavam fazendo. Não havia, para a grande maioria, nem sequer o que questionar, era esse o caminho a seguir, a vida era uma seqüência de fatos previsíveis. Se o pai era fazendeiro, os filhos também seriam fazendeiros, iriam se casar com uma mulher da comunidade e ter vários de filhos, esses filhos também seriam fazendeiros e assim por diante. Até metade do século XX, se você não nascesse na

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Planejamento Estratégico Pessoal alta sociedade provavelmente nunca faria parte dela, a não ser por casamento, ou se você tivesse uma brilhante idéia e criasse um império industrial como Henry Ford, John Rockfeller, Thomas Edison. Até a década de 80 ainda existia um certo determinismo, a presença de

muitos

governos

autoritários,

a

forte

influência

da

religião,

principalmente antes dos anos 60 fazia com que as pessoas sempre tivessem alguém que as liderasse. Elas sentiam que não eram livres, que não podiam fazer as escolhas que quisessem, pois o governo as proibia, a religião não permitia, o trabalho era uma coisa totalmente maçante e necessária para o próprio sustento. Poucos pensavam em realização pessoal quando se tratava de trabalho. As mulheres começaram a trabalhar por quê? Primeiro por necessidade, depois por uma questão de libertação, de conquistar a liberdade de poder ter uma profissão, mas não era por realização pessoal. Nessa época quem pensava em realização pessoal eram cientistas, escritores, filósofos, pessoas que passavam fome mas faziam o que gostavam, não abriam mão da realização pessoal. Mas essas pessoas eram raras, o sistema não permitia que todo mundo fosse assim, a situação mundial requeria pessoas-máquinas que produzissem sem pensar e não questionassem as regras. Quando as oportunidades de realização pessoal começaram a aparecer, as pessoas se voltaram para a busca de status e dinheiro. No final dos anos 70 até começo dos anos 90 as empresas incharam seus quadros de funcionários, criaram cargos absurdos numa hierarquia cada vez mais vertical onde as oportunidades de promoção eram imensas. Foi a era yuppie, aqueles executivos que trabalhavam sem parar em busca de mais dinheiro, de promoções, de status. O que aconteceu quando vieram as novas teorias de administração? A reengenharia e o downsizing diziam para achatar a hierarquia, reorganizar a empresa, enxugar o quadro de pessoal que era excessivo, cortar custos. As empresas entenderam que cortar custos era só demitir o pessoal. Foi aquela enxurrada de gente na rua, sem perspectiva de encontrar um novo emprego porque todas as

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Franciane Ulaf empresas estavam fazendo downsizing. Isso coincidiu com o início da era da informação. Em 94, a internet começou a funcionar comercialmente nos EUA, em 95, em praticamente todo o resto do mundo. Nessa mesma época, ou um pouco antes, outras teorias começaram a se destacar, começaram a falar de qualidade de vida, inteligência emocional, de autodesenvolvimento. De repente as pessoas começam a perceber que elas eram muito mais livres do que jamais foram, do que seus antepassados jamais puderam sonhar em ser. E essa liberdade trouxe com ela toda uma gama de escolhas. Não há mais ninguém para dizer o que você tem que fazer, ou como você deve agir. No entanto o que se percebe é que as pessoas temem essa liberdade, tentam achar que ainda existe determinismo, que elas não têm escolha, que um problema pequenininho é capaz de bloquear todo o caminho da vida. Agarram-se à pessoas, religiões, ideologias que digam pra elas “isso é certo, isso é errado”, “Você tem que fazer deste jeito”. Isto dá a segurança que elas precisam para que não tenham que olhar para dentro de si mesmas e procurar as próprias respostas. Por incrível que pareça, as pessoas têm um medo enorme de olhar para dentro de si. Então buscam falsas verdades fora de si. Necessitam desesperadamente que alguém lhes diga qual o caminho certo a seguir. A insegurança proporcionada pela liberdade, diversas escolhas, diversos caminhos a seguir, desperta o medo. Esse processo é inconsciente, muitas vezes, inclusive, a pessoa sente tanto medo, que está cheia de caminhos a sua frente, mas acha que está sem saída, que a vida empacou, que seus problemas não têm mais solução. Nas palavras de Peter Drucker: “Nós teremos que aprender primeiro quem nós somos. Nós não sabemos. Quando eu pergunto aos meus alunos - pessoas bem-sucedidas, “Você sabe em que você é bom?” – quase nenhum sabe responder. “Você sabe o que você precisa aprender para utilizar 100% as suas forças?” Nenhum deles nunca, sequer, questionou-se sobre isso. Do contrário, a maioria deles está muito orgulhosa da sua ignorância.” Há um tempo atrás, o

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Planejamento Estratégico Pessoal assunto ‘autoconhecimento’ era tido como místico, alternativo, para quem gostava de ficar filosofando, pensando na vida. A visão era de que autoconhecimento era

“coisa de quem não tem o que fazer”. Hoje, o

maior guru de administração e economia da atualidade está dizendo que o autoconhecimento é fundamental. No mundo de hoje já não há mais a figura da autoridade a quem se deve obedecer sem questionar, seja política, religiosa ou familiar. O homem é mais livre do que jamais pode imaginar, no entanto, não sabe lidar com essa liberdade. A oportunidade, talvez a primeira na história, de se encontrar a auto-realização, está presente em todos os momentos de nossas vidas, e não está em livros de auto-ajuda ou conselhos de um grande guru motivador, mas na capacidade de autogerenciamento da própria vida. Estamos vivendo o início da era do desenvolvimento pessoal. Agora, é mais do que necessário conhecer-se bem e escolher um caminho a seguir. Nunca tivemos tantas oportunidades de encontrar a autorealização, o aproveitamento destas chances depende unicamente de cada um de nós.

Objetivos

“Estabelecer um objetivo é como plantar uma semente. Você a enterra, depois rega, expõe à luz do sol e fertiliza. Em algum momento do futuro surge um brotinho. Você dá continuidade ao processo de cuidados, até ter uma planta robusta e forte com brotos e frutos. Você não planta uma semente e fica só olhando para a terra, esperando resultados imediatos.” Chérie Carter-Scott

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Franciane Ulaf A falta de objetivos de longo prazo é o grande responsável por estados depressivos, sensação de vazio, desperdício de tempo e falta de motivação. Se a pessoa não sabe porquê faz as coisas, qual o resultado final, se não tem motivos, a sensação de estar sendo inútil é inevitável. A sensação de que a vida não tem sentido, a falta de perspectiva a longo prazo causa depressão e falta de motivação. Muitas pessoas dizem que não podem planejar a vida porque esta muda tanto que não cumpririam o planejado de qualquer maneira. Imagine um viajante. Ele pega o carro, sai de São Paulo sem destino, pois “acha melhor e mais divertido sair por aí sem rumo”. No fundo, tem uma vaga idéia de que quer chegar em Fortaleza, mas não sabe muito bem para onde tem vontade de ir. Sem mapa e sem objetivo, pega a estrada. Ao longo do caminho, vai parando, conhecendo outras pessoas, fica um tempo em algumas cidades, passa rapidamente por outras... Em algum ponto do caminho entre o Rio e Vitória, ele encontra uma pessoa que o convence a ir a Cuiabá. Depois de passar um tempo nesta cidade, ele decide partir, outra vez sem rumo. Desta vez, ele acaba em Brasília, após muitas paradas. De repente, ele se lembra que gostaria de conhecer Fortaleza e que sua idéia inicial, apesar de vaga, era seguir para essa cidade. Mas a essas alturas, ele percebe que suas economias acabaram e que ele terá que voltar para São Paulo, pois já não tem condições de ficar viajando sem rumo por aí. A vida de muitas pessoas é como a do viajante sem rumo. Sem um planejamento, sem um objetivo e suas respectivas metas, o indivíduo acaba sendo governado pelas circunstâncias e pelas decisões de terceiros. Aí, é claro que a vida vai mudar bastante, quando não há um controle e um foco, para onde o vento soprar a pessoa segue. E isso não envolve somente pessoas sem personalidade ou submissas, desde que não se saiba para onde está indo, o que o controlará são as forças externas. A vida segue sempre em frente, e é preciso ter alguém no comando, se na

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Planejamento Estratégico Pessoal sua vida essa pessoa não é você, tome cuidado, tem alguém tomando decisões em seu lugar! Entretanto, esse controle não pode ser total, a intenção não pode ser de controle absoluto, pois não somos oniscientes, não temos conhecimento das variáveis externas que atuam sobre nós, não podemos controlar as pessoas ao nosso redor nem as ocorrências do ambiente externo. Cada dia que vivemos é um território desconhecido, na qual podemos prever o que “queremos” fazer, mas não podemos ter certeza do que iremos de fato fazer. Querer controlar o tempo cronologicamente por exemplo, é ineficaz, pois as circunstâncias externas não vão deixar de acontecer porque você resolveu organizar-se. Também não podemos buscar sermos eficientes com as pessoas, não podemos dizer “agora não posso escutar seus problemas, volte outra hora.” Há quem faça isto, estas pessoas estão acabando com seus relacionamentos mais preciosos. Da mesma forma, não podemos escolher baseando-se somente em uma liberdade individual independente. Não vivemos isolados, o ambiente influencia nossas decisões. Há pessoas que em nome de uma liberdade utópica escolhem plantar no outono, o inverno vem e mata suas sementes, e elas ainda ficam se perguntando o que foi que deu errado. Todas estas questões serão profundamente analisadas a diante para que você tenha todo um embasamento ideológico para compreender o processo de planejamento e gerenciamento de vida como um processo complexo,

integrado e interdependente e não como um conjunto de

técnicas isoladas de efeito imediato, porém inúteis a longo prazo. O

que

você

encontrará

aqui

então,

transcende

a

simples

transmissão de técnicas de gerenciamento do tempo e planejamento de vida. A determinação de um foco, o autoconhecimento, a eliminação de hábitos negativos e aperfeiçoamento de qualidades como autodisciplina e organização são também abordadas para que o seu processo de planejamento de vida não seja somente um maço de papéis esquecido em alguma gaveta.

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Franciane Ulaf

Reflexão AUTOPERCEPÇÃO

Esse exercício tem o objetivo de identificar o nível de autoconhecimento prévio ao início do processo de auto-estudo. As respostas à estas perguntas serão utilizadas em outros exercícios posteriormente. Muitas vezes nem paramos para pensar em questões como estas e não percebemos

influências

comportamento.

O

negativas

mais

provenientes

importante

neste

de

nosso

exercício

é

próprio o

auto-

questionamento, é forçar-se a pensar nestas questões, por mais difícil que seja. 1. Quem sou eu? (Qual a imagem que você faz de si mesmo? Imagine-se como outra pessoa descrevendo você. Que características ela salientaria, como o descreveria como pessoa, profissional, membro de uma família, etc.) 2. Como eu acho que os outros me vêem? (essa pergunta é importante para identificar características como arrogância, insegurança, humildade, etc. Provavelmente as outras pessoas não o enxergam como você imagina!) 3. Quais são meus pontos fortes? 4. Quais são meus pontos fracos? 5. Sou o que gostaria de ser? Se não, consigo identificar o porquê? 6. Quais são meus maiores medos? 7. Quais são os valores que norteiam a minha vida? 8. Qual o meu nível de receptividade à mudanças? (Sou uma pessoa aberta à mudanças ou procuro deixar as coisas sempre do jeito que estão, pois me sinto mais seguro?) 9. Como é minha relação com minha família?

16


Planejamento Estratégico Pessoal 10. Como é minha relação com a sociedade? (sou uma pessoa aberta, sociável, ou tímida, retraída? Evito ou procuro o contato com as pessoas?) 11. Qual o meu nível de satisfação profissional? (gosto do que faço, ou trabalho só pela necessidade do dinheiro? O trabalho que tenho me satisfaz totalmente?) 12. Qual o meu nível de satisfação financeira? (ganho o que gostaria ou imaginava ganhar nesta etapa da vida, ou minha situação financeira é sempre fruto de insatisfação e preocupação?) 13. Qual o meu nível de satisfação pessoal? (minhas experiências, meus contatos, minhas conquistas são satisfatórias?) 14. O que constitui um desafio para mim? (o que é um desafio difere de pessoa para pessoa, o que eu encaro como desafio? Procuro ou evito desafios em minha vida?) 15. Quais são meus objetivos de vida? (objetivos gerais de longo prazo) 16. Quais são as qualidades que mais admiro em outras pessoas? Quem são as pessoas que mais admiro e por quê? 17. Quais são os defeitos que mais abomino em outras pessoas? Quais são as pessoas que não gosto e por quê? 18. Se dinheiro e tempo não fossem problemas para você, o que faria em sua vida?

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Franciane Ulaf UM BALANÇO PRÉVIO DE SUA VIDA

1. Como está sua vida, suas realizações neste momento atual? 2. Quais são os valores que estão balizando a sua vida neste momento? 3. Qual foi a última ação significativa que você teve? 4. Quais foram os grandes desafios que você superou em sua vida? 5. Que características pessoais foram alavancadas para esse sucesso? 6. Que características, habilidades e qualidades você gostaria de preservar por toda a vida? 7. Que características você precisa abandonar? 8. Quais são seus objetivos para os próximos 3 anos? 9. Que fatores impulsionam a realização desses objetivos? 10. Que fatores restringem a concretização desses objetivos? 11. Como você pode reduzir a força desses fatores restritivos? 12. Qual o objetivo mais significativo para você nesse momento? 13. Qual o primeiro passo que você deve dar em direção à ele? 14. "Nós somos o resultado de nossas escolhas" ; O que você fez no seu passado para ser o que é hoje? Você é hoje o que imaginava que seria no passado? 15. O que você está fazendo hoje para ter o futuro que deseja para você?

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PARTE I O que é Planejamento Estratégico Pessoal

Quais os fatores que dificultam e quais os que facilitam o sucesso de um planejamento Quais os primeiros passos – As mudanças interiores necessárias


Franciane Ulaf 1 – PEP

O que é PEP? O PEP, abreviação para Planejamento Estratégico Pessoal, apresenta-se como um conjunto de técnicas, conceitos e ferramentas que visa dinamizar a auto-organização, a administração do tempo e a busca da realização de objetivos pessoais e profissionais, através do autoconhecimento e desenvolvimento pessoal e planejamento.

Planejar a vida estrategicamente não envolve somente a criação de estratégias para a realização de metas específicas. A simples aplicação de técnicas isoladas, desvinculadas de um processo de autoconhecimento, ou com um fim específico, tem se demonstrado ineficaz. As mais recentes pesquisas na área de comportamento humano concluíram que o processo de desenvolvimento não ocorre isoladamente, mesmo de uma habilidade específica. É preciso prestar atenção no todo para que a pequena parte em questão se desenvolva adequadamente. O simples fato de se estar mudando uma pequena parte em si mesmo já afeta o todo de alguma forma. É o equilíbrio natural da vida, se dermos atenção demais a uma determinada parte em detrimento das outras, o desequilíbrio se fará notar em algum ponto. A técnica PEP foi desenvolvida com base em observação e questionamento quanto à alguns fatos: A maior parte do material disponível para auxiliar pessoas a administrarem melhor o seu tempo, planejarem suas vidas, obterem maior

20

produtividade

ou

organizarem-se

melhor,

quando

suas


Planejamento Estratégico Pessoal técnicas funcionam, “quebram a pessoa em partes”, ou seja, o trabalho é muito bem administrado, mas as outras dimensões de sua vida são deixadas de lado. Ou olham para a vida como “departametada” e organizam a agenda para conseguir “atender” as demandas de cada uma das partes para que se consiga um “equilíbrio”, que na verdade acaba sendo uma forma de conseguir um tempinho na agenda para a família, para o lazer, para a saúde, sem se descuidar do trabalho. Assim, tem-se a sensação de ser uma pessoa “preparada” para o mercado do 3º milênio, uma pessoa que consegue administrar carreira, família e lazer com equilíbrio. Observando estas pessoas que se intitulam bem-sucedidas e atualizadas, pude perceber que na verdade, o que elas conseguiram foi atingir um alto grau de “automação pessoal”, conseguem realizar várias atividades, delegam com sucesso, muitas trabalham bem em equipe, realizam alguma atividade física, possuem uma família equilibrada e conseguem dar alguma atenção à ela. Ou seja, conseguem ser perfeitos “robôs”, fazendo tudo o que é defendido em artigos e livros como qualidades e comportamentos desejáveis em um bom profissional. “Aparentemente” representam o ideal de profissional a ser seguido, mas no fundo não se sentem felizes, o tipo de vida que levam não representa qualidade de vida em si. Muitos profissionais que se enquadram neste perfil relatam que possuem “tudo o que uma pessoa pode querer”, um bom emprego, uma família equilibrada, saúde e conseguem dar conta de tudo, ou seja, são vistos como bem sucedidos, como exemplos. No entanto, dizem que apesar de tudo sentem um vazio muito grande, não sentem-se motivados como gostariam. A sensação é de que algo está faltando em suas vidas. A motivação, apesar de estar sendo pesquisada há muito tempo, ainda representa um mistério. A maioria das pessoas não consegue permanecer motivada por um longo tempo e acabam procurando-na

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Franciane Ulaf nos “lugares errados”. Valores distorcidos podem fazer a pessoa acreditar que o que a motiva é algo que somente a faz fugir de uma realidade da qual ela não gosta, por exemplo. Empresas investem pesado em programas motivacionais onde palestrantes animados tentam transmitir “seus motivos” aos funcionários e fazê-los ver a vida como eles vêem de forma a tornarem-nos motivados. O resultado é alguns dias de motivação intensa e depois tudo volta ao normal. Há pessoas que insistem em definir as próprias “regras de vida” e às vezes, mesmo sob fracassos seguidos, não percebem que o jogo da vida possui suas próprias regras e que estas não podem ser mudadas para satisfazer vontades egoístas. Estes são os fatos. A técnica PEP então propõe que: Não adianta organizar-se, administrar muito bem o tempo para realizar atividades diárias, rotineiras, sem conexão com algo maior, pois desta forma a pessoa sente-se desmotivada. A motivação surge justamente quando as atividades realizadas no dia-a-dia têm um porquê, um significado, estão interligadas com objetivos de médio e longo prazo. Para saber o que o motiva, você deve conhecer-se bem e eliminar as influências externas e valores distorcidos. Os

valores

adotados

devem

passar

por

um

processo

de

questionamento visando buscar qualquer incompatibilidade com as leis naturais da vida - “não adianta querer criar suas próprias leis, se plantar no inverno, suas sementes morrerão de qualquer jeito”. A natureza nos ensina que tudo na vida é interdependente e segue leis que estão fora do nosso limite de controle. Não é possível ser totalmente independente, vivendo sob regras próprias, quem insiste

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Planejamento Estratégico Pessoal acaba sentindo na prática que a força da natureza é mais forte que a vontade individual.

Por que você deveria planejar a sua vida? Algumas pessoas apresentam uma certa resistência quando o assunto é planejamento de vida. Dizem que isso não dá certo, que suas vidas estão nas mãos de Deus, que não podem controlar o destino, etc... Planejar a vida não significa controlar cada passo e viver como um robozinho autoprogramado. Planejar significa saber onde se está, onde se quer ir e como chegar lá. Não são poucas as pessoas que passam a vida reclamando que nunca conseguem o que querem, que seus sonhos nunca se realizam. São estas mesmas pessoas que adotam uma postura reativa com relação à vida. Esperam que as soluções para seus problemas caiam do céu, reclamam da vida e do destino, não raro pedem para terceiros – sejam santos, parentes, amigos, políticos – resolverem seus problemas e cruzam os braços. Nada fazem por si mesmas, não tomam atitude alguma para saírem da situação da qual reclamam tanto, mas que elas próprias criaram. Nós somos a soma de nossas escolhas. Se o resultado não nos agrada, devemos nos questionar e descobrir quais foram as ações do passado que trouxeram esse resultado indesejado, e não reclamar e colocar a culpa em terceiros ou na má sorte, no destino ou na vontade de Deus.

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Franciane Ulaf Eis alguns motivos pelas quais você deveria levar à sério a idéia de planejamento de vida: Preparação Nem tudo na vida pode ser feito de uma hora para outra, a maioria das metas a que nos propomos realizar requerem um tempo de preparação até que possam ser realizadas. A construção de uma casa, a compra de um bem, uma viagem longa, grandes mudanças, são alguns exemplos bem comuns da necessidade de planejamento. O navegador Amyr Klink passa anos planejando suas viagens. Podemos encarar nossas metas como uma viagem. Não é possível decidir de um dia para o outro partir sem antes planejar. Há metas que exigem dedicação durante anos para que ao final possa ser concretizada. A não realização de muitos sonhos se deve ao fato de que as pessoas têm seus objetivos em mente, mas não se preparam para eles, não tomam atitudes no presente para que no futuro possam realizar seus sonhos. Para que um jovem consiga passar no vestibular, é preciso meses de dedicação, onde a cada dia há algo a ser feito para que a meta de passar seja alcançada, não é possível estudar tudo de um dia para o outro. Também com nossos objetivos, devemos saber o que fazer a cada dia ou mês para que no final do prazo estabelecido possamos ver os sonhos realizados.

Empregabilidade Os empregos estão acabando, e isso não é novidade. Desde o início dos anos 80, quando a informática e a robótica começaram a tomar o lugar das pessoas nas empresas, fala-se em empregabilidade. No início dos anos 90, as enxurradas de demissões tiveram ainda outro motivo,

24


Planejamento Estratégico Pessoal novas técnicas administrativas diziam para enxugar as organizações. Downsizing e reengenharia viraram moda e a estabilidade no emprego virou história. É importante entender que empregabilidade não envolve somente a capacidade

de

se

manter

num

emprego,

ou

de

conseguir

outro

rapidamente. Essa mentalidade está com os dias contados. Com o crescente

número

de

profissionais

autônomos,

freelancers,

e

a

popularização do teletrabalho, a idéia limitada de “conseguir emprego” está sendo substituída pela idéia de “ser capaz de realizar”. E “ser capaz de realizar” não depende de estar formalmente empregado numa organização. Envolve qualidades como espírito empreendedor, iniciativa, postura proativa, boa comunicabilidade, inteligência emocional. E o que isso tem a ver com planejamento? A pessoa que não possui objetivos definidos, que não possui as qualidades acima, se apega à condição de empregado. Teme perder o emprego, não consegue vislumbrar a idéia de trabalho fora de uma organização, da forma como está acostumado. O nível de empregabilidade então, é medido pela capacidade de se manter e realizar bons trabalhos estando empregado formalmente ou não, em qualquer situação. Um profissional com um alto nível de empregabilidade pensa em primeiro lugar em seus objetivos pessoais, principalmente os ligados ao seu desenvolvimento pessoal. Não entra em uma empresa pensando em fazer carreira, mas em desenvolver suas próprias habilidades fazendo o melhor possível para a empresa, até que seu objetivo pessoal ali dentro seja

atingido.

Diferente

de

um

profissional

com

baixo

nível

de

empregabilidade que já entra na empresa com medo de ser demitido, e pensa em ficar ali até que esse dia chegue. Geralmente está sempre desmotivado, suas preocupações resumem-se a resolver as urgências do dia-a-dia, que surgem por negligências passadas (pois no passado não havia tempo para pensar no futuro), e assim seguem contando os anos para a aposentadoria. A motivação do profissional com alto nível de

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Franciane Ulaf empregabilidade vem de seus próprios objetivos, ele consegue vislumbrar o futuro e planeja sua vida em cima daquilo que ele quer para si mesmo. O outro aciona o mecanismo de defesa chamado “sempre ocupado”, assim não há tempo para pensar no futuro, pois se parasse durante alguns segundos para refletir sobre o próprio destino, o que surgiria seria o medo de um futuro incerto.

Desenvolvimento Pessoal De que adianta desenvolver a habilidade de fazer cálculos integrais se você é um artista plástico? Muitas vezes para realizar nossos objetivos, precisamos desenvolver algumas habilidades necessárias. Demóstenes, o famoso orador grego, era gago e passou muitos anos isolado da civilização desenvolvendo a oratória e vencendo a gagueira. Desenvolver habilidades específicas

porque

parecem

interessantes

ou

porque

são

“características desejáveis” em profissionais, tornam-se inúteis se não estiverem ligadas aos seus objetivos. O conhecimento em planejamento também é útil para desenvolver as habilidades em si. Determinar “quero desenvolver a oratória” é muito vago. Como você vai fazer isso? Que recursos vai utilizar? Quanto tempo vai demorar? As respostas envolvem planejamento e dão vida ao objetivo. Este deixa de ser “um sonho” e passa a ser algo que será realizado em um período de tempo determinado. A visualização do caminho a seguir através do planejamento elimina a “aura de sonho” envolta em muitos objetivos que deixam de ser realizados, pois a pessoa não sabe o que fazer para chegar lá.

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Planejamento Estratégico Pessoal Autoconhecimento Este, na verdade, é um pré-requisito para um bom processo de planejamento pessoal. Só se pode planejar quando se sabe exatamente onde se quer chegar e esse conhecimento, sem uma percepção clara de si mesmo torna-se ilusório, não reflete a realidade e a longo prazo causa depressão e desmotivação, pois as metas, sendo ilusórias, não são realizadas. À medida que a pessoa busca um melhor gerenciamento de seus recursos básicos, é natural que aumente também o seu nível de autoconhecimento. Gerenciar somente através de técnicas, como já foi dito, não surte efeito a longo prazo, é preciso conhecer-se, saber para onde se quer ir e como chegar lá. O autoconhecimento acaba sendo desenvolvido à medida que se adquire o hábito de planejar, organizar e administrar o tempo.

Realização de metas Como já foi dito, um dos maiores causadores de estados depressivos é a falta de objetivos de longo prazo e a não realização das metas, que sem um planejamento acabam não passando de sonhos. Planejar a sua vida significa traduzir seus sonhos para uma linguagem realista e compreensível. Não é possível realizá-los enquanto forem apenas sonhos, idéias vagas.

Diminuição do estresse O estresse surge da falta de planejamento e da má administração do tempo. Há uma preocupação desproporcional com as coisas que vão surgindo inesperadamente, e nem sempre são importantes, ou trarão

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Franciane Ulaf algum resultado no futuro, e uma negligência, às vezes sem intenção consciente, para com as coisas que realmente importam na vida. Aos poucos, uma boa administração do tempo leva a pessoa a se organizar, compreender a vida e as pessoas e priorizar o que é de fato importante de tal forma que o estresse negativo acaba sendo uma simples lembrança de uma época tumultuada. Mas administrar o tempo somente através de técnicas e planilhas acaba

piorando

as

coisas,

montar uma agenda com dezenas de

compromissos e atividades cronometradas causa mais estresse do que o esquecimento do um compromisso ou outro devido à falta da agenda.

Qualidade de Vida Assim como a diminuição do estresse é uma conseqüência natural proveniente de uma vida mais refletida, equilibrada, organizada, a qualidade de vida é priorizada e aumenta consideravelmente. O aumento da qualidade de vida é o objetivo desta abordagem de planejamento pessoal. Toda a teoria e técnicas propostas aqui têm como compromisso maior o bem estar de quem as aplica, ao contrário de muitas teorias da área que tentam transformar as pessoas em robozinhos autoprogramados.

Auto-estima A concretização das metas propostas, naturalmente aumenta a autoestima, pois o indivíduo percebe que é capaz de realizar o que se propõe. Com

a

auto-estima,

a

autoconfiança

também

aumenta

e

conseqüentemente cresce a capacidade de realizar metas cada vez mais complexas.

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Planejamento Estratégico Pessoal 2 – O que facilita e o que dificulta o sucesso de um PEP

COMPORTAMENTOS QUE FACILITAM O SUCESSO DE UM PEP Comprometimento com o planejado Definir objetivos, planejar metas e elaborar estratégias pelo simples gosto e prazer de planejar, para alívio de consciência ou para satisfazer terceiros pouco adianta, pois não há o fator comprometimento. Há pessoas que adoram planejar, mas não possuem responsabilidade para com o planejado. Esquecem-no pouco tempo depois de o terem feito. Um exemplo muito comum é o planejamento de ano novo. Faz-se promessas, define-se metas ousadas, que uma semana depois são esquecidas e renovadas no próximo 1º de Janeiro.

Auto-estima e Autoconfiança Sem essas duas características, é possível que a pessoa não acredite que possa realizar o que planejou, que não confie em si mesma o suficiente para enfrentar os desafios do caminho. Ambas aumentam à medida que as metas vão sendo cumpridas, mas uma pessoa que não possua previamente um nível básico de auto-estima e autoconfiança dificilmente conseguirá começar a executar um planejamento.

Desapego O apego a idéias, pessoas, instituições pode ser tão nocivo que a ponto de ser capaz de prejudicar a concretização de suas metas. Não me

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Franciane Ulaf refiro a um desapego total, a eliminação de vínculos, à vida solitária. Refiro-me àquele apego patológico, sem razão de ser, que impede que você siga em frente. Esse apego pode ser o ciúme de um cônjuge, que impede que você se afaste muito ou faz com que você perca muita energia controlando-o. Pode ser o apego a uma ideologia sectarista e limitadora, seja religiosa, mística, filosófica, política. O desapego é a capacidade de colocar de uma forma ética as suas metas em primeiro lugar e racionalmente eliminar ou não se apegar ao o que estiver impedindo.

Auto-organização É uma condição básica para que se consiga planejar e executar, cumprindo

prazos

e

seguindo

os

caminhos

traçados.

A

falta

de

organização causa entropia e acaba desmotivando, pois a confusão é tanta, que a pessoa acaba se perdendo e não conseguindo realizar o que planejou. A auto-organização é muito mais do que a simples organização física. Este tema será analisado em outro capítulo, explicando que a organização ainda se divide, além do nível físico, em psicológica e mental, e que desorganização nestes dois níveis pode atrapalhar um planejamento muito mais que o nível físico.

Postura Proativa Ter uma postura proativa é muito mais do que simplesmente ter iniciativa, como muitos pensam. Significa romper com o determinismo e aceitar a responsabilidade sobre a própria vida, sobre os erros e acertos.

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Planejamento Estratégico Pessoal Esse tema será analisado mais adiante, quando tratarmos dos passos necessários para que um planejamento seja bem sucedido.

Flexibilidade Achar que podemos seguir planos exatamente como imaginamos sem nunca realizar uma mudança, sem nunca questionar o planejamento já elaborado pode impedir que ele seja realizado. A flexibilidade facilita a concretização das metas na medida em que permite que, sem dramas, sejam feitas alterações no plano, ou até mesmo ele seja eliminado ou adiado, devido às circunstâncias. Estabelecer datas é importante, mas é fundamental não prender-se a elas caso seja necessário modificá-las.

COMPORTAMENTOS QUE DIFICULTAM O SUCESSO DE UM PEP

Perfeccionismo “São muitas as pessoas que, por alguma razão planejam, planejam, planejam por anos e nunca partem. Com as mais curiosas explicações: ou procurando aperfeiçoar cada vez mais um plano, uma viagem, ou aguardando o momento apropriado. Certamente, as âncoras imaginárias acabam prendendo muita gente, e isso faz com que seus projetos nunca sejam realizados.” Amyr Klink Se há um defeito que pode boicotar o melhor planejamento é o perfeccionismo.

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Franciane Ulaf Em primeiro lugar, é preciso definir e situar o perfeccionismo. O perfeccionismo em si é uma doença, patologia, muitas vezes ligada à arrogância e ao medo de errar. Então tudo deve ser perfeito, não admitese erro, mudança. O perfeccionista geralmente defende sua posição analisando somente o binômio perfeição-displicência. Para ele não existe meio termo, ou se é perfeito em tudo o que se faz, ou se é totalmente displicente, negligente e despreocupado. A questão não é nem o meio termo, é a situação saudável e equilibrada, que é o detalhismo. Neste caso, não se é displicente, mas também não há a doentia preocupação em não errar. O perfeccionista está mais preocupado em manter as aparências, em se mostrar superior do que com o resultado em si. O detalhista analisa a fundo todas as variáveis e procura diminuir ao máximo as possibilidades de falhas, mas não entra em processo de autoculpa caso algo não saia como planejado. Outro

aspecto

negativo

legado

ao

perfeccionismo

é

a

procrastinação. Milhares de desculpas e explicações lógicas são criadas para adiar algo que já está pronto para começar. O que acaba acontecendo é que os planos nunca saem da gaveta. Ou quando saem, já passou a sua hora de ser executado. A oportunidade já se foi. O perfeccionista jamais admitirá que sua verdadeira preocupação é com a opinião alheia, há um medo inconsciente de que suas falhas sejam expostas, de que “descubram” que ele é tão normal quanto qualquer ser humano. Portanto, a solução para trabalhar com esse defeito é analisar e questionar a sua relação com a opinião alheia. Essa é uma tarefa difícil porque caso você seja muito perfeccionista, além de considerar isto uma qualidade, você dificilmente admitirá que seu problema é a falta de autoconfiança. Entretanto, se você realmente deseja ser bem sucedido em seus planejamentos considere a possibilidade de ser detalhista, e principalmente, de descer do pedestal de ser superior e perfeito.

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Planejamento Estratégico Pessoal

Imediatismo: O inimigo número 1 das realizações Pode-se dizer que o imediatismo é o inimigo número 1 do sucesso, da felicidade e da realização de seus objetivos. O consultor americano Stephen Covey define felicidade como sendo o fruto da habilidade e do desejo de sacrificar o que queremos agora em função do que queremos futuramente. Se você não for capaz de fazer isto, é porque não se sente feliz. Pode parecer estranho a primeira vista, mas se você refletir um pouco, também chegará a esta conclusão. A pessoa imediatista precisa satisfazer seus desejos como um vício, se quer viajar tem que ser hoje, se quer tomar um sorvete, tem que ser agora, se não tem dinheiro para comprar um carro no momento, nem sequer pensa em planejar a compra de um. A única realidade do imediatista é o presente, mesmo que a utilização de certos recursos ou algumas ações se apresentem explicitamente como prejudiciais no futuro. A pessoa imediatista ignora este fato e segue em frente, só pensando em realizar seus desejos imediatos. Age desta forma porque não possui objetivos nem de médio, nem de longo prazo, não sabe o que fará da vida no próximo mês, quanto mais no próximo ano. Essa condição torna o imediatismo um vício, pois para que a pessoa não caia na real e se dê conta de que sua vida é vazia, ela precisa constantemente ser estimulada por novidades, emoções fortes, realização imediata das vontades, quando isto não é possível, a pessoa sente-se mal, incapaz, ou culpa alguém ou uma condição externa pela não realização de seus desejos. Por outro lado, quando a pessoa é capaz de abdicar da realização imediata de seus desejos, quando entende que poderá ter repercussões negativas no futuro, é porque sente-se tranqüila quanto aos seus objetivos. Sabe que se realizar uma vontade do momento, no futuro não poderá realizar seu objetivo e abre mão de seu desejo imediato sem autoculpa. Por exemplo, se eu estou planejando comprar um carro no

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Franciane Ulaf próximo ano e para isto preciso economizar mensalmente uma certa quantia, sei que não poderei comprar tudo o que tiver vontade neste período. Uma pessoa imediatista não respeita esse objetivo, gasta o dinheiro e conseqüentemente não sobrará nada para comprar o carro, isso trará uma sensação de infelicidade. Ao passo que uma pessoa que abre mão de pequenas coisas durante um período e chega a comprar o carro, sentirá a satisfação de ter conseguido cumprir um objetivo traçado, essa sensação dá a motivação necessária para estabelecer outros objetivos futuros. Esse comportamento gera a sensação de felicidade.

Falta de Objetividade Quando tratarmos da definição de metas essa questão ficará mais clara. Há pessoas que planejam ilusões, sonhos, sem objetividade alguma. Definir como meta, por exemplo, “ser feliz” é o cúmulo da falta de objetividade. Ninguém faz nada contra a própria felicidade de caso pensado, portanto “ser feliz” não é uma meta. É fácil identificar uma pessoa que não possui objetivos claros de vida. Basta perguntar-lhe quais são seus planos para o futuro. Excluindo os que não têm idéia alguma, que alegam serem guiados pelo destino, ou que simplesmente dizem que fazer planos não dá certo; encontramos os que se utilizam da generalização para referir-se aos seus planos e da abstrata idéia de futuro. São os eternos sonhadores, romantizam seu destino, imaginando o melhor dos mundos, mas não conseguem enxergar o futuro com clareza. Com freqüência dizem “um dia chegarei lá”; “quero ser um vencedor”, “um dia realizarei meus sonhos”; “um dia ainda fazer/terei/conquistarei isto”; “no futuro pretendo fazer tal coisa”; “meu sonho é ter/fazer/ser qualquer coisa”; “quando tiver tempo, vou fazer isto”... E não é raro encontrar pessoas que se consideram determinadas,

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Planejamento Estratégico Pessoal com objetivos, que dizem saber onde querem chegar, mas na realidade não conseguem conceber a idéia de futuro. Nada é mais falso e enganoso, até perigoso, do que um futuro vago. Quem diz que um dia fará tal coisa, provavelmente nunca fará, não por falta de vontade de realizar, mas por não enxergar o futuro com clareza. Não há nada mais vago do que a expressão “no futuro...”, pois sem a determinação de tempo, sem o “quando”, o futuro dura para sempre e nunca acontece. Na maioria das vezes, esse comportamento serve como mecanismos de defesa contra defeitos como falta de objetividade, falta de perspectiva, desorganização

e

o

terrível

desconhecimento

quanto

aos

próprios

objetivos reais. Grande parte das pessoas tem medo de não ter objetivos, temem tornar-se pessoas sem perspectiva, sem destino certo. No entanto, não percebem que já se tornaram, seguem a trilha da vida “empurrando com a barriga”, pisando somente no terreno conhecido por onde outros já passaram. Numa tentativa inconsciente e desesperada de esconder a verdade de si mesmas, criam “sonhos”, objetivos fantasiosos, às vezes até realizáveis, mas como possuem aquela “aura mágica”, utópica dos sonhos, permanecem nos planos do futuro eternamente. “Não há caminho certo para quem não sabe aonde vai”, diz o ditado. Sonhos por si só são vagos, irreais. Se você um dia pretende realizá-los, coloque os pés no chão, defina bem o que quer da vida e comece a planificar seus objetivos; só assim sua aparência utópica passará a ser vista com clareza e objetividade. A organização é fundamental. Colocar tudo no papel é a garantia de que você não vai se perder em meio à fantasias novamente. Após definir qual o seu norte, para onde você quer ir, trace o caminho, a estratégia para chegar lá. Esse procedimento fará com que você, se é o seu caso, saia do grupo dos eternos sonhadores que vêem o futuro como uma miragem no deserto, e passe ao grupo dos que sabem o que querem da vida e

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Franciane Ulaf enxergam o futuro como um lugar definido que pode ser alcançado de forma clara e objetiva. Esse processo de definição de metas claras e estratégias para atingilas será explicado a diante.

Desorganização Você pode elaborar um planejamento perfeito, claro, objetivo, detalhado, no entanto se for uma pessoa desorganizada corre o risco de perder-se no meio do caminho ou nem sequer começar a execução do plano. Pessoas desorganizadas acabam tendo que se preocupar tanto com a entropia que provocam (esquecem compromissos, perdem papéis importantes, demoram na execução de tarefas simples), que passam a maior parte do dia consertando os erros de ontem, ao mesmo tempo em que vão cometendo outros erros hoje para consertar amanhã.

Postura Reativa O contrário da postura proativa. O indivíduo reativo espera que o mundo resolva seus problemas, que seus sonhos se realizem como um passe de mágica, culpa terceiros ou condições externas por suas falhas e omissões e não assume a responsabilidade por suas escolhas. Este quadro parece realmente muito pessimista, retratando um indivíduo covarde, sem iniciativa, irresponsável. Aposto que muitos sujeitos reativos, lendo este parágrafo, não se identificariam. Aliás, esta é uma característica desta postura. Quem é reativo não assume a responsabilidade por nada, nem por sua condição. Ainda são capazes de identificar outras pessoas que possuem essas características sem perceberem que eles mesmos são assim. Este é um dos defeitos mais difíceis de serem trabalhados

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Planejamento Estratégico Pessoal justamente por esse motivo. Uma pessoa desorganizada sabe de seu problema e deseja organizar-se, uma pessoa com baixa auto-estima também identifica o problema, mas uma pessoa reativa, assim como alguns perfeccionistas não conseguem perceber seu próprio defeito, assim tornando o processo de mudança muito mais penoso e lento.

Acomodação A acomodação geralmente é uma conseqüência da falta de objetivos. Perde-se a vontade da agir, pois não vislumbra-se nenhuma recompensa pelo esforço. O psiquiatra vienense Viktor Frankl identificou como acomodadas as pessoas que perderam o sentido da vida, sentindo-se inúteis e sem poder de escolha frente à um destino incontrolável. O dr. Frankl foi um judeu sobrevivente da 2º guerra, que viu toda a sua família morrer nas mãos dos nazistas e viveu durante anos em campos de concentração. Mesmo tendo passado pelos horrores da guerra, ele conseguia manter sua mente isenta de influências e observar o desenrolar de sua própria história, imaginando para si um futuro que mais tarde veio a se tornar realidade, ao final da guerra quando tornou-se professor e escritor. Apesar da humilhação e das condições subumanas vividas pelos prisioneiros de guerra, Frankl concluiu que mesmo nas condições mais desumanas é possível ter uma vida com finalidade e sentido. Ele transmitia essa mensagem aos seus companheiros que se acomodavam com sua situação e ficavam à espera da morte. “Se um prisioneiro não lutasse contra essa destruição espiritual com um esforço determinado de preservar seu amor próprio, perdia a noção de individualidade, de constituir um ser pensante com liberdade interior e com valor pessoal. Sua existência se degradava ao nível da vida animal, lançando-o em uma depressão tão profunda que ele se tornava incapaz de agir.” Viktor Frankl, apesar de tudo o que

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Franciane Ulaf passou conseguiu superar o que de pior pode acontecer a um ser humano e ainda ajudar muitos outros a encontrarem um sentido para a vida. Apesar disso, podemos observar milhões de pessoas acomodadas e sem vontade de viver por motivos tão insignificantes comparados aos horrores da guerra como pequenas brigas amorosas, desavenças familiares ou até mesmo a situação econômica do país, o desempenho do futebol, o mau tempo,... Há pessoas que se acomodam ao se depararem com o menor obstáculo, desistem de seguir em frente, acabam por perder o sentido da vida.

Auto-sabotagem Nós mesmos possuímos mecanismos internos para sabotar nossos próprios planos, abaixo estão algumas das mais comuns desculpas que damos à nós mesmos para não cumprir uma meta, cada uma delas é uma barreira que nós mesmos levantamos para derrotar nossos esforços: -

Não vou conseguir, não sou tão bom É a dúvida quanto à própria capacidade. É claro que se a meta

envolve algo da qual você não domina, não sabe fazer essa é uma dúvida normal.

No

entanto,

acabamos

duvidando

da

nossa

capacidade

justamente nas coisas que mais sabemos fazer. Quando há algo muito importante ou valioso em risco, temos medo da responsabilidade de assumir o erro e colocamos a culpa na capacidade. Por isso o autoconhecimento é tão importante, quando você conhece bem sua capacidade, não há margem de dúvida, não há espaço para fingir que você “não é tão bom quanto parece.”

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Planejamento Estratégico Pessoal -

Tenho medo de falhar O perfeccionismo é o grande vilão da auto-sabotagem, pelo medo de

errar deixamos de agir. Os grandes sucessos da história são marcados por tentativas de acerto que incluem fracassos. Thomas Edison e Abraham Lincoln são bons exemplos. Se tivessem medo de errar, nunca teriam chegado aonde chegaram. Os fracassos podem, muitas vezes servir de aprendizado. Há um ditado que diz que tudo o que lhe acontece na vida é para o seu próprio bem, veja sempre as suas experiências com bons olhos e procure aprender com elas. -

Não me sinto seguro Mudar nem sempre é fácil. Quando estabelecemos uma meta, às

vezes temos que adotar novas posturas, explorar novos terrenos, viver novas experiências, e isso gera insegurança. No entanto, o que menos temos na vida é segurança. Hoje, você pode ter uma boa casa, uma família, um emprego, um carro, mas tudo isso é efêmero, você sente segurança nisso, mas esteja certo de que a vida pode lhe tirar tudo isso a qualquer momento sem aviso prévio. Estar consciente deste fato é bom para nos desligarmos da necessidade de nos sentirmos seguros e abrirmos mão de metas ousadas em nome desta segurança. Um analista financeiro, funcionário de um grande banco, enfrentava o dilema de ter que sustentar a família ao preço de executar um trabalho que ele não gostava, conviver com pessoas das quais ele não simpatizava e receber um salário muito inferior à sua formação acadêmica e capacidade. A segurança deste emprego o impediu durante muitos anos de tentar algo melhor. A imensa insatisfação no entanto venceu a insegurança e ele pediu demissão. Depois de 8 meses de procura, ele conseguiu finalmente um emprego que se encaixasse em seus requisitos. Um cargo melhor, um ambiente menos hostil e mais agradável, um

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Franciane Ulaf salário maior, um chefe menos autoritário. Logo que assumiu o novo emprego, soube através de amigos que o banco havia passado por processo de reengenharia e que muitos funcionários foram demitidos e cargos foram eliminados, inclusive a sua antiga função. Se ele tivesse se agarrado à segurança do emprego que tinha, hoje estaria desempregado. Nada na vida é seguro, tudo pode mudar de uma hora para outra. Não deixe de tomar uma decisão ousada e enfrentar o desconhecido por causa da aparente segurança do que você já conhece. Faça as mudanças que você quer antes que a vida o obrigue a mudar coisas que você não quer. -

Não tenho tempo suficiente Essa é a campeã das desculpas para você não fazer o que sabe que

tem que fazer. O grande problema da “falta de tempo” é a dificuldade em priorizar

o

que

é

mais

importante.

A

priorização

leva

à

desorganização, então você só faz as coisas que vão aparecendo, as coisas urgentes, que já estão explodindo ou que já explodiram. O resultado é que você está sempre ocupado com essas coisas urgentes e não sobra tempo para mais nada. A síndrome da urgência gera um ciclo vicioso, pois enquanto você está preocupado apagando os incêndios, as coisas que ainda estavam em tempo de serem resolvidas “antes da explosão”, são deixadas para depois até que se inicie um novo incêndio. Essa questão será aprofundada quando falarmos da administração do tempo. -

Não tenho as habilidades necessárias Talvez sua meta exija algo que seja difícil para você como liderança,

iniciativa,

comunicabilidade,

negociação.

Nada

melhor

que

uma

oportunidade para desenvolvermos nossas habilidades precárias na

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Planejamento Estratégico Pessoal prática. Muitas pessoas definem habilidades a serem desenvolvidas no papel, mas fogem de qualquer situação que as teste na prática. A não ser que seja algo que não seja do seu interesse ou que você realmente veja que não é possível o desenvolvimento, não diga que não tem as habilidades necessárias, e sim que esta é uma ótima oportunidade para você aprender e se desenvolver. Algo a ser levado em conta porém, é a aptidão. Se você sente que não tem talento para determinada coisa e não tem vontade de desenvolver, não imponha a si mesmo um desafio da qual você não sentese motivado a realizar. Não precisamos desenvolver todas as habilidades humanas, não temos que encarar como desafio tudo o que aparece a nossa frente, mas apenas o que é do nosso interesse.

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Franciane Ulaf 3 – Quais são os primeiros passos?

Antes de pensar em planejar alguma coisa, algumas mudanças interiores são necessárias para que este processo não seja apenas mais uma tentativa de aplicação de técnicas isoladas que acabam não surtindo efeito.

3.1 Mudança de Paradigma “O que somos comunica com muito mais eloqüência do que fazemos ou o que dizemos. Nós todos sabemos disso. Existem pessoas em quem cofiamos de forma absoluta, pois conhecemos seu caráter. Não importa se são eloqüentes ou se conhecem as técnicas de comunicação ou não. Confiamos nelas e trabalhamos com elas de modo proveitoso”. Stephen Covey “O que você é ecoa em meus ouvidos com tanta força que não consigo ouvir o que diz”. Ralph Waldo Emerson Não enxergamos o mundo como ele realmente é. O que vemos é o resultado da interpretação que nosso próprio mundo interior faz dos estímulos, informações e percepções que recebe do mundo exterior. Enxergamos através de uma lente que deforma a realidade de acordo com sua própria conveniência, sejam valores, condicionamentos, cultura, tradições, hábitos e informações adquiridas ao longo da vida. Através desta lente, formamos os mapas que seguimos. Esses mapas nos dizem como é a realidade. Mas mapas não são o território, são apenas interpretações, e não raro, estas interpretações estão equivocadas.

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Planejamento Estratégico Pessoal Quando nos deixamos guiar pelas lentes para interpretar a realidade, não podemos esperar obter um retrato fiel. O território existe independente de existirem mapas e essa é a primeira percepção que temos que mudar e aceitar se quisermos agir com o mínimo de influências errôneas provenientes de mapas poluídos por ruídos e deformados por preconceitos e idéias cristalizadas. No entanto, é natural do ser humano “interpretar as coisas” e isso dificilmente pode ser mudado. Observar imparcialmente sem julgar ou tirar conclusões com base nos “próprios mapas” é quase impossível, e também não é desejável, pois a pessoa que adota essa postura acaba tornando-se passiva, recebe informações e estímulos e não é capaz de formar a própria idéia sobre o assunto. O objetivo aqui não é atingir um estado de imparcialidade, conseguir observar sem julgar, mas aprender a questionar nossas percepções de forma que possamos evitar as influências mais negativas provenientes de nossas lentes, que às vezes se manifestam através de preconceitos, idéias fixas, valores extremados, objetivos irreais, etc. Fatos são fatos, não são passíveis de mudarem de acordo com a conveniência, ponto de vista ou vontade de alguém. O território é constituído por fatos, você pode no máximo adotar uma posição em relação à esse fato baseado no seu raciocínio, valores, crenças, etc. Nossos comportamentos, atitudes e hábitos externos refletem a percepção que nossas próprias lentes têm da realidade. Tentar mudá-los sem analisar essas percepções é como usar uma maquiagem, a mudança é

apenas

externa

e

pouco

duradoura.

Utilizar

técnicas

de

condicionamentos, baseadas na repetição, ou na adoção de novas posturas na intenção de tornar-se bem-sucedido em determinada área é tão inútil quando tentar modificar a aparência à longo prazo com a utilização de recursos de maquiagem. O paradigma que deve ser modificado

é

justamente

esse,

de

que

as

coisas

podem

mudar

rapidamente, de que a solução é a utilização de técnicas milagrosas, de efeito rápido e duradouro. O pesquisador norte-americano Stephen Covey

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Franciane Ulaf realizou uma pesquisa sobre desenvolvimento pessoal e sucesso que abrangeu 200 anos de literatura na área. A conclusão a que ele chegou foi de que os estudos sobre sucesso e desenvolvimento pessoal podem ser divididos em “ética da personalidade” e “ética do caráter”. A ética do caráter ensina que “existem princípios básicos para uma vida proveitosa, e que as pessoas só podem conquistar o verdadeiro sucesso e a felicidade duradoura quando aprendem a integrar estes princípios a seu caráter básico.” A ética da personalidade se baseia em soluções rápidas para problemas

complexos.

personalidade,

da

O

sucesso

imagem

tornou-se

pública,

uma

atitudes

e

decorrência

da

comportamentos,

habilidades e técnicas que lubrificam o processo de interação humana. Ou seja, a ética da personalidade diz que o ser humano vale por aquilo que pode apresentar exteriormente, o quanto consegue convencer terceiros de suas idéias, o quanto consegue ser carismático, adorado por todos, o quando consegue apresentar de status exterior, enquanto a ética do caráter valoriza o que o ser humano é por dentro, independente de quanto sucesso possa apresentar “por fora”. A ética da personalidade “encanta”

por

oferecer

soluções

rápidas

e

fáceis

para

problemas

complexos, de desenvolvimento ou resolução que demandariam longo tempo e esforço. As referências ao caráter passam a ter um efeito ilustrativo, “demonstre ter caráter para adquirir credibilidade”. Essa abordagem tem ocupado um lugar de destaque na literatura de desenvolvimento pessoal desde a 2º metade do século XX. E apesar das tentativas claramente manipuladoras e enganosas de se obter sucesso, que são facilmente identificadas e evitadas por quem percebe o engodo, há ainda uma face da ética da personalidade infiltrada em nossa cultura, em nosso modo de pensar e agir. Um pai, por exemplo, que tenta impor seus valores ao filho e não respeita sua própria individualidade está agindo de acordo com a ética da personalidade e não do caráter – é mais importante que seu filho seja bem sucedido aos olhos da sociedade do que feliz interiormente. Essa visão, por mais que não seja explicitamente

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Planejamento Estratégico Pessoal aceita, é o que ocorre com a maioria das famílias. Inconsciemente, as pessoas internalizaram os conceitos da ética da personalidade e vivem sob esse paradigma. A interpretação que fazem do mundo tem como base valores externos, os valores tidos como “corretos”, esses valores somente mapeiam o território. A ética do caráter procura “perceber” o território e adequar princípios e valores de acordo com a realidade. Viver segundo esse paradigma não é “tão fácil” quanto viver segundo a ética da personalidade, no entanto, a longo prazo, a auto-realização, os interrelacionamentos, a motivação constante justificam o esforço e tempo empenhado em realizar os objetivos baseados em princípios reais e não ilusórios. A proposta de planejamento pessoal descrita aqui, pretende portanto, conciliar o processo de planejamento, administração do tempo, autoconhecimento

e

autodesenvolvimento com a ética do caráter,

mapeando o território da forma mais precisa possível, sem soluções “rápidas e infalíveis”, mas processos contínuos, que exigirão dedicação e mudanças profundas. A percepção correta da realidade não é tão difícil de ser encontrada. A maioria de nós consegue enxergá-la, mas devido aos ruídos, às influências das lentes que usamos, preferimos ver a realidade da forma que nos for mais conveniente. Da mesma forma que para plantar, precisamos observar as estações e condições ambientais, apesar da possibilidade de desrespeitar essas variáveis. “Teoricamente”, podemos tomar a decisão que quisermos, temos autonomia para isto, quem vai reclamar se plantarmos no inverno? Essa é a visão da ética da personalidade, “faça o que você quiser, independente da vontade de terceiros”. A ética da personalidade é cega para os fatores ambientais e princípios que guiam a vida humana. O frio é capaz de destruir as sementes plantadas, e uma pessoa com o foco na ética da personalidade pode encontrar todas as desculpas, menos a óbvia para justificar o fracasso. Os inter-relacionamentos vistos sob esta ótica, são encarados

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Franciane Ulaf como “utilidades”. Os contatos são necessários para subir na carreira, conseguir um “favorzinho”, obter maior status. O sucesso é medido através de posses, posição social, profissional e reputação familiar. A felicidade é algo utópico, eternamente perseguido pelos adeptos desta ética. Uma mudança de paradigma só ocorre quando há humildade e compreensão suficiente para admitir que a percepção que se tem da realidade pode estar errada. Há pessoas que por natureza já adotam a ética do caráter como filosofia de vida, outras estão tão inseridas na ética da personalidade que nem sequer percebem que precisam mudar. A reação a um texto como esse é de que é mais uma “baboseira de autoajuda” que não traz resultados. Não há humildade alguma, só a arrogância se manifesta. Esses resultados, procurados por estas pessoas, são imediatos, se algo não se mostra eficiente de forma rápida e facilmente compreensível, então é descartado. Não é à toa que são estas mesmas pessoas que lotam os consultórios de terapeutas em busca de uma solução para sua depressão, falta de motivação, falta de perspectiva de vida, insatisfação geral com tudo, família, amigos, trabalho... O que encontram são remédios de efeito de curto prazo, ou terapias que se estendem por anos, sem se mostrarem eficientes, mesmo após longos períodos de tempo. Por outro lado, vemos pessoas que baseiam suas vidas na ética do caráter e sempre procuram agregar conhecimento às suas

vidas,

não

reagindo

a

idéias

como

esta,

mas

procurando

compreender ainda mais e aplica-las em suas vidas. Também não é à toa que estas pessoas estão sempre motivadas, têm relacionamentos sólidos e desinteressados, pensam nos resultados a longo prazo antes da satisfação imediata. A compreensão necessária é o entendimento de que nem todos precisam ver as coisas da mesma forma. A idéia contrária leva aos preconceitos. “Se alguém não pensa como eu, então esse alguém tem algum

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problema

e

não

deve

ser

levado

à

sério”.

Quanto

mais


Planejamento Estratégico Pessoal compreendermos o mundo e as pessoas à nossa volta, mais condições teremos de interpretar de forma correta a realidade. Como isso nem sempre é possível, (às vezes as informações de que dispomos não são suficientes para analisar corretamente a situação) o ideal é adotar uma postura o mais imparcial possível, procurando ver as situações com isenção, mantendo em mente que cada julgamento que aparecer em seu quadro mental é proveniente das lentes que estão filtrando as percepções e emitindo seu parecer de acordo com a bagagem de informações existentes, os valores, crenças, cultura, etc. Você tem o direito de formar a sua opinião sobre as coisas, até deve fazer isto, mas também tem que estar consciente de que é apenas a sua opinião, a sua percepção dos fatos. Estar consciente desta influência já é um grande passo, pois no momento em que um preconceito ou um julgamento surgir, você saberá que ele não condiz com a realidade, mas à sua percepção pessoal da situação. O objetivo desta mudança de paradigma é passar a viver segundo os próprios princípios naturais que regem a vida humana. Estes princípios, que serão aprofundados adiante, existem independente de fronteiras físicas, culturais, filosofia, religião, ideologia. Não são novidade, nem foram criados por alguém. Nas palavras de Stephen Covey: “Os princípios não são valores. Os princípios são o território. Os valores são os mapas. Quando valorizamos os princípios corretos, temos a verdade – o conhecimento das coisas como elas são”. Você pode estar se perguntando, e o que tudo isso tem a ver com planejamento pessoal? Bem, se você planejar suas metas em direção a objetivos que contrariam os princípios naturais, os objetivos fundamentais humanos que são a busca da felicidade e auto-realização não serão atingidos. Há um consenso em torno destes dois objetivos magnos. Obviamente

ninguém

faz

nada

de

caso

pensado

para

a

própria

infelicidade. Apesar de este ser muitas vezes o resultado atingido, a intenção era buscar satisfação, bem-estar, realização. O porquê da não

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Franciane Ulaf realização destes objetivos está na priorização das coisas erradas, baseadas em princípios não naturais. Apoiar a escada na parede errada levará ao fracasso apesar das “intenções serem boas”. O processo de mudança de paradigma exige tempo, mudança de hábitos, atenção e percepção quanto às próprias reações, idéias, preconceitos, atitudes e intenções. Não é uma tarefa fácil e às vezes chega a ser incômoda, irritante. É muito difícil admitir os próprios erros de julgamento, preconceitos, más intenções. O mais comum durante esse processo, é surgirem diversos mecanismos de defesa do ego para justificarem cada posição apontada “pela consciência” como equivocada. Mais uma vez, sem a humildade e compreensão, dificilmente velhos conceitos

arraigados

no

comportamento

do

dia-a-dia

poderão

ser

questionados. Como uma pessoa extremamente egoísta conseguirá questionar seu egoísmo sem essas duas posturas? Provavelmente, tentará justificar para si mesma o fato de ser egoísta e acabará acreditando que na “verdade este não é um defeito tão grave”, afinal todos são assim. Ou tentará se convencer de que precisa ser assim para se defender das “ameaças externas”,... No processo de questionamento, procure prestar atenção em cada justificativa quer der para seus atos, idéias, hábitos, etc. Princípios não precisam “se justificar”, pois sua autenticidade e validade falam por si mesmas. Se você está precisando usar muita lábia para justificar determinado comportamento ou idéia, pode ser que você esteja tentando enganar a si próprio para proteger-se de algo que você inconscientemente não quer ver. Uma forma de organizar esse processo de análise de paradigma, é manter um diário pessoal, onde você registra as decisões que tomou e o porquê, as percepções que teve de informações recebidas, pessoas que encontrou, textos que leu, enfim, tudo o que provocou em você algum tipo de julgamento, positivo, negativo ou neutro. Após um tempo será possível identificar se você está baseando suas reações em valores que mapeiam corretamente o território ou se são mapas ilusórios, que

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Planejamento Estratégico Pessoal refletem uma realidade que só existe em sua cabeça. Essas conclusões podem ser obtidas questionando se os valores que você acionou referemse a princípios naturais, ou seja, aplicáveis a todos os serem humanos e capazes de gerar bem-estar e realização ou referem-se à idéia préconcebidas, valores de um grupo restrito, interesses pessoais, espelho social ou valores geradores de satisfação apenas imediatas, mas nocivas a médio e longo prazo.

Interdependência “O ponto culminante de nossas vidas tem a ver com nosso relacionamento com os outros, pois a vida humana se caracteriza pela interdependência.” Stephen Covey

A maior parte da literatura de auto-ajuda e desenvolvimento pessoal atual defende uma idéia de independência ilusória. Prega-se que as pessoas podem se dar ao luxo de escolher o rumo da própria vida sem respeitar as leis naturais. É como dizer que você não precisa observar as estações do ano, ou a situação do solo para plantar, pois a qualidade da colheita dependerá somente do seu esforço pessoal no plantio e cuidado com a plantação. As metas a que nos propomos realizar são de certa forma como uma pequena planta que aos poucos cresce e toma forma, mas

não

depende

somente

de

nós.

Quem

tem

valores

somente

relacionados ao ganho financeiro e ao reconhecimento profissional, em certo ponto de sua vida, perceberá a falha que cometeu ao longo do caminho. Da mesma forma, uma pessoa que não possui preocupações financeiras e pensa que é possível “viver de amor”, também sentirá o desequilibro em algum ponto. Todos os aspectos da vida requerem a

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Franciane Ulaf devida atenção e enquanto um estiver sendo negligenciado, não haverá equilíbrio. Vivemos em um mundo interdependente, tanto entre uns com os outros, como com o ambiente e as leis naturais. Aprender a viver dentro desta interdependência, de forma equilibrada é um grande desafio. Já não precisamos ser egoístas a ponto de nos protegermos do mundo, não precisamos mais nos auto-afirmar e ficar repetindo “eu posso”, “eu sou capaz”, “eu sou o melhor”, “na minha vida ninguém manda”. Esses são mecanismos de defesa apenas, dentro de um sistema interdependente, não é preciso “se proteger”, as partes colaboram umas com as outras, sem um interesse oculto de ganhar acima de tudo.

Os princípios naturais

“É impossível quebrar a lei, no máximo quebramos a nós mesmos contra a lei.” Cecil DeMille “Plante um pensamento, colha uma ação; plante uma ação, colha um hábito; plante um hábito; colha um caráter; plante um caráter, colha um destino.” Ditado popular “Não adianta se preparar fazendo uma meditação zen para pular do viaduto, porque você vai virar meleca de qualquer jeito.” Amyr Klink “O sucesso na vida pode ser definido como a expansão contínua da felicidade e a realização progressiva de objetivos compensadores.” Deepak Chopra

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Planejamento Estratégico Pessoal “O agricultor pode cometer um erro e semear suas ervilhas desalinhadamente; as ervilhas não cometem erros, apenas nascem e exibem sua forma.” Ralph Waldo Emerson Os princípios são as leis naturais as quais todos nós estamos submetidos, são “o território”, a realidade objetiva. Não pertencem a alguma filosofia, religião ou código moral, neles estão presentes por serem universais, por serem evidentes em si mesmos. Não dependem de opinião, ponto de vista ou filosofia de vida. Há quem insista em tentar quebrá-los por achar que pode definir as próprias regras, mas como um motorista procurando um lugar tendo o mapa da cidade errada em mãos, só acelerará o processo, chegando mais rápido ao lugar errado. Estes princípios não são novidade, sempre existiram pois são o “território da vida humana” e muitos filósofos, pensadores, escritores, inventores, religiosos já os identificaram ao longo da história humana. São princípios naturais a imparcialidade, a honestidade, a integridade, a qualidade, a educação, etc. Viver segundo estes princípios não pode ser uma questão de opção, pois a conduta contrária, se não causar problemas imediatos, causará a longo prazo. Quem contraria estes princípios, na maioria das vezes sabe que está agindo errado e tem consciência de que sua atitude pode trazer conseqüências indesejáveis. “Uma das melhores maneiras de entender como somos governados por essas realidades extrínsecas é analisar a “Lei da Fazenda”. Na agricultura, podemos ver e concordar facilmente que as leis e os princípios naturais governam o trabalho e determinam a colheita. Mas, nas culturas social e empresarial, pensamos que podemos nos livrar do processo natural, tapear o sistema, dando um “jeitinho” e ainda assim ganhar o dia. Você pode se imaginar dando um jeitinho na fazenda?” Stephen Covey

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Franciane Ulaf A literatura moderna em desenvolvimento pessoal tenta convencer os seus adeptos de que existe uma maneira rápida e fácil para se obter qualidade de vida. Os slogans geralmente referem-se à tempo (pouco tempo para aprender ou desenvolver algo complexo) e à maneiras pouco éticas de se obter sucesso rápido. Segundo Stephen Covey, esta abordagem baseia-se na “ética da personalidade”. “Trata-se de uma forma sem conteúdo, de um esquema para se “ficar rico depressa”, por meio de promessas de “fortuna sem fazer força”. Pode até ser que dê certo, mas a picaretagem é inegável. A ética da personalidade é ilusória e enganosa. Tentar aumentar a qualidade de vida utilizando suas técnicas e receitas rápidas equivalente a uma tentativa de ir a um ponto de Chicago tendo como base um mapa de Detroit.” O processo de crescimento e amadurecimento é natural à vida humana. Um pianista não consegue tornar-se virtuoso com apenas 1 ano de estudo, e além do crescimento, o domínio da técnica, precisará de muito

tempo

para

desenvolver

a

capacidade

de

interpretação,

a

sensibilidade musical, o amadurecimento não ocorre por meio de técnicas de atalho. Os princípios podem ser vistos como “as regras do jogo da vida”. Se você concorda com eles ou não, pouco importa, assim como a lei da gravidade, os princípios existem como leis absolutas que governam a vida humana. A única opção que você têm é dar-se conta de que eles realmente existem e viver conforme seus preceitos, ou insistir em fazer suas próprias regras e ficar à mercê da força da natureza que operará contra você. Nas palavras de Phillip McGraw: “Você pode ignorá-los ou topar com eles, surpreso porque você parece nunca ter sucesso; ou você pode

estudá-los,

adaptar-se

à

eles,

moldar

suas

escolhas

e

comportamentos por eles, e viver bem.” Aprender a viver segundo os princípios naturais é a chave para o sucesso de uma estratégia de vida. Erich

Fromm

retrata

bem

esta

questão: “Hoje

em

dia

nos

deparamos com indivíduos que se comportam como autômatos, que não

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Planejamento Estratégico Pessoal conhecem ou compreendem a si mesmos, e a única pessoa que conhecem é a que pensam ser, alguém cuja conversa vazia substituiu a comunicação real, alguém em quem o sorriso sintético tomou o lugar do riso genuíno e a sensação de desespero total ocupou o vazio deixado pela dor autêntica. Duas coisas podem ser ditas a tais indivíduos. A primeira é que sofrem de defeitos aparentemente incuráveis, como a falta de espontaneidade e caráter. Ao mesmo tempo, podemos dizer que eles não diferem de milhões de pessoas que, como nós, caminham pela face da Terra.”

3.2 Postura Proativa

O hábito da proatividade foi proposto por Viktor Frankl, psiquiatra judeu sobrevivente da segunda guerra, criador da logosofia. Frankl defendia que a liberdade de opção humana é a única que nunca pode ser retirada, a menos que a própria pessoa permita que isso aconteça. Seus carrascos podiam controlar completamente a situação e o ambiente, podiam fazer o que quisessem com seu corpo, mas o próprio Viktor era um ser dotado de autoconsciência, e podia atuar como observador de seu próprio destino, sua identidade básica estava intacta. Ele podia decidir, dentro de si, como tudo aquilo iria afeta-lo. “Entre o estímulo e a resposta encontra-se a liberdade de escolha do ser humano”. Adotar uma postura proativa é muito mais do que simplesmente ter iniciativa. Significa acima de tudo reconhecer a própria responsabilidade sobre a própria vida, deixando de culpar terceiros, seja outra pessoa, Deus ou o destino por nossas falhas, omissões, incapacidades. A

palavra

responsabilidade

respons-abilidade

habilidade para escolher a sua resposta. Ao

significa

a

falar em proatividade, a

reação de alguns ouvintes é dizer que por não podermos controlar as circunstâncias externas, somos levados pelo rumo da vida e não pela

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Franciane Ulaf nossa vontade. Esses são os chamados "reativos", esperam que as coisas aconteçam e então reagem, não conseguem sequer vislumbrar a possibilidade de decidir sobre o próprio destino. As pessoas reativas são afetadas por situações físicas, circunstâncias, sentimentos, condições, outras pessoas. Se o tempo está bom, se o cônjuge está de bom humor, sentem-se felizes, se o pneu furou, o tempo está chuvoso, o vizinho reclamou do barulho do som do filho, então sentem-se insatisfeitos, reclamam da vida. As pessoas reativas são capazes de se deixarem afetar por coisas tão pequenas e insignificantes que perdem um tempo precioso da vida, perdem oportunidades, deixam de realizar sonhos, chegam até a destruir

relacionamentos

de

tanto

se

concentrarem

em

detalhes

irrelevantes. As pessoas proativas são guiadas por valores, não se importam com as circunstâncias, com as variáveis, escolhem responder aos estímulos externos com base nesses valores e não com base em reações momentâneas, emoções, como raiva, ódio, orgulho, ciúmes. Um planejamento só pode ser levado a diante por uma pessoa proativa. Uma pessoa reativa encontra tantos obstáculos no caminho que acaba desistindo antes mesmo de começar a colocar o plano em prática. Esses obstáculos podem ser desde um dia chuvoso até uma briga conjugal. As lentes que filtram a realidade para pessoas reativas vêem obstáculos onde as proativas vêem oportunidades, as reativas perdem tempo e energia se defendendo e lutando contra coisas das quais não possuem a menor influência, enquanto as proativas concentram-se em seus objetivos somente e não desperdiçam seus recursos tentando mudar pessoas, manipular situações, criar uma realidade externa ilusória. O problema não é o que acontece conosco, mas como respondemos ao acontecimento. O que importa não é o que somos, mas o que fazemos para mudar o que somos. O que diferencia uma pessoa proativa de uma reativa é a atitude em relação às circunstâncias, pessoas, oportunidades e desafios. A pessoa proativa sabe que só pode contar consigo mesmo para vencer, o apoio de terceiros é uma conseqüência. A pessoa reativa espera

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Planejamento Estratégico Pessoal que terceiros a apóiem antes mesmo de tomar alguma atitude. Portanto, iniciativa não é a única característica das pessoas proativas, acaba sendo mais uma conseqüência do seu modo de ver as coisas e agir em resposta às situações, do que a própria definição de proatividade.

Postura proativa diante dos problemas “Não lidamos muito com os fatos quando estamos nos contemplando.” Mark Twain Não

como

encarar

problemas,

autoconhecer-se,

encontrar

soluções e caminhos se alguns mecanismos de defesa e hábitos negativos estiverem operando em você. Insistir em estar sempre certo, achar que tudo o que acontece com você é culpa de terceiros ou injusto, desculpar os próprios defeitos dizendo que tem gente muito pior ou que seus problemas são pequenos perto dos problemas de outras pessoas, enfim, são muitos os mecanismos que afastam as pessoas da realidade: Seus problemas são só seus, foram causados de alguma forma por você mesmo, e se você ignorá-los eles se tornarão maiores até que você não tenha mais controle algum e sofra as conseqüências de sua negligência. Os casos mais comuns são de pessoas que ao invés de tomarem a iniciativa para resolverem seus problemas, adotam uma postura de pena para consigo mesmas, consideram sua situação injusta e a única coisa que fazem é reclamar. Há quem se auto-engane a ponto de repetir infinitamente “eu não acredito que isto está acontecendo”, “isso não poderia acontecer comigo”. Além de não fazerem nada para resolver o problema, nem sequer absorvem o fato. Há ainda os que bloqueiam os problemas, não admitem a existência deles, como uma mãe que não percebe que o filho está se envolvendo com drogas apesar de todos a alertarem.

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Franciane Ulaf Como diz a frase de Mark Twain “Não lidamos muito com os fatos quando estamos nos contemplando”, enquanto estivermos achando que o que nos acontece é injusto, que não merecemos o que de ruim nos ocorre, enquanto estivermos numa condição de negação da realidade, tentando proteger uma condição pessoal “segura”, onde tudo é conhecido, não poderemos lidar com os fatos. Outro hábito negativo é tentar escapar da responsabilidade de resolver os próprios problemas comparando-os a outros muito piores. Os seus problemas são só seus e se você ficar de braços cruzados, ninguém mais se importará e o problema crescerá. Não importa se você quebrou o pé e o sujeito ao seu lado não tem uma perna, a dor é sua e você continuará sentindo mesmo estando consciente da situação do outro. Com os problemas ocorre o mesmo, sempre terá alguém que tem problemas maiores que os seus, mas isso não é motivo para deixar de resolvê-los. Seu problema pode ser muito pequeno perante outros que você pode enxergar em outras pessoas, mas ele é seu e isso é suficiente para tornálo grande o suficiente para atrapalhar a sua vida. Um hábito que pode bloquear totalmente a mente e impedir a resolução de certos problemas é querer estar sempre certo, apegar-se tão firmemente aos próprios valores e conceitos aa ponto de não ser capaz de compreender que para resolver certos problemas é preciso ter a humildade de admitir a possibilidade de estar errado. Esse hábito interfere com maior força em relacionamentos conjugais e situações de trabalho. As partes consideram seu modo de pensar, idéias, valores como absolutos e não admitem que o outro não aceite seu ponto de vista. Esse hábito afeta também réus inocentes em julgamentos. Eles estão tão convencidos de que sabem a verdade, que alguém a descobrirá e a justiça será feita que não se importam muito em serem convincentes perante o juiz ou o júri, acham que por estarem falando a verdade, todos irão acreditar em suas palavras. Isso aconteceu com Oprah Winfrey quando foi acusada por pecuaristas do Texas a incitar as pessoas a não comerem carne em seu

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Planejamento Estratégico Pessoal programa. Ela estava tão convencida de que a acusação era injusta e que não tinha fundamento algum que durante um bom tempo durante o julgamento ela mantinha uma postura reativa, ficava deprimida, irritada com a situação, esperando que o júri fizesse justiça porque “ela” sabia que estava certa. Seus advogados e estrategistas convenceram-na de que se continuasse a acreditar inocentemente na verdade seria derrotada. As pessoas não sabem o que você sabe, mesmo que você saiba que está certo, ninguém é obrigado a aceitar isso. Oprah ganhou o processo após virar o jogo, argumentando e defendendo sua posição com respeito ao júri que não tinha “obrigação” de saber que era ela quem estava certa. Sua atitude mudou de reativa, sentindo mal e deprimida, decepcionada e evitando dar-se conta de que realmente estava sendo julgada, não importando quão injusto pudesse parecer a situação para uma posição proativa, tornando-se autoconfiante, defendendo-se sem pena de si mesma, argumentando sua posição com segurança. Se esta mudança não tivesse ocorrido, seus estrategistas garantem: ela teria perdido o processo.

3.3 Autoconhecimento “Conhece-te a ti mesmo”. Sócrates “Pior que o simples desconhecimento, contudo, é a ignorância potenciada de uma falsa certeza – o acreditar convicto de quem está seguro de que sabe o que desconhece.” Eduardo Gianetti “Se você não conhecer a sua identidade, irá correr o risco de tentar ser tudo e fazer tudo de maneira aleatória e casual.” Jim Cairo

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Franciane Ulaf Um dos maiores obstáculos encontrados por quem pretende fazer um projeto de vida, ou mesmo planejar o próximo ano está ligado à falta de autoconhecimento. As pessoas em geral, pensam que se conhecem bem, mas quando se encontram cara-a-cara consigo mesmas e precisam definir planos, percebem que não sabem exatamente quem são e o que querem. Há quem restrinja seus planos à carreira, numa tentativa de fuga à vida pessoal. Planejar somente a vida profissional dá a sensação de que se está crescendo, progredindo, no entanto todos conhecemos histórias que relatam os males que a entrega total ao trabalho pode fazer na vida de uma pessoa. Autoconhecer-se envolve entender quem você é e no que deseja se transformar. A necessidade de autoconhecimento para o planejamento também está ligada à realidade. Alguém que não se conhece bem é capaz de determinar metas ilusórias das quais não poderá cumprir. Essa questão está

ligada

à

autopercepção,

quem

não

tem

um

bom

nível

de

autoconhecimento pode achar que tem características que na verdade não possui e ignorar habilidades importantes. O principal entrave para o autoconhecimento não é ignorar que é preciso conhecer-se, mas sim permanecer na arrogância de achar que isto não é preciso, que já se conhece muito bem. Se observarmos a história, podemos notar que os mais ilustres pensadores e filósofos admitiam humildemente que mal sabiam sobre si mesmos e frisavam a importância do autoconhecimento. Como as frases famosas de Sócrates “só se que nada sei” e “conhece-te a ti mesmo”. No entanto, hoje podemos encontrar indivíduos que negam essa necessidade e alegam conhecer-se muito bem. Não raro, muitas destas pessoas têm conflitos familiares, sofrem de problemas

de

saúde

(com

ênfase

para

problemas

cardíacos

e

hipertensão). Dentre os diversos mecanismos de defesa que bloqueiam o autoconhecimento, esse tipo de arrogância é o pior obstáculo, pois há uma negação da necessidade de olhar para dentro de si próprio. Presume-

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Planejamento Estratégico Pessoal se que não há mais nada a saber, a descobrir. Similar a alguns cientistas que dizem que a ciência chegou ao fim, que não há nada mais a ser inventado. Grande parte dos conflitos e problemas entre as pessoas decorre do fato de que elas não conhecem a si mesmas. Quanto mais um indivíduo sabe sobre si mesmo, mais ele conhece suas fraquezas, seus mecanismos de defesa, mais ele percebe que não é melhor do que o outro, daí nasce o respeito. Quem conhece a si mesmo, compreende melhor o mundo à sua volta, sabe que como ele as pessoas ao seu redor também são imperfeitas, têm medos, limitações, e também consegue perceber o valor de cada um, assim como conhece o seu. Não fica procurando defeitos nas pessoas, para julgá-las, mas procura ver suas qualidades. Quanto mais uma pessoa mergulha em seu universo interior, mas ela vê os outros como seres em evolução. Passa a centrar-se em seu crescimento pessoal, não se importando com os comportamentos alheios. A maioria dos conflitos humanos ocorre porque um não aceita o jeito de ser do outro e tenta impor suas verdades, ou seja considera-se melhor e julga o outro por suas limitações e diferenças, ao invés de notar o seu valor intrínseco e aproveitar a oportunidade de convivência para ensinar e aprender, pois é através de trocas que evoluímos. Não há autoconhecimento sem disponibilidade pessoal. O primeiro passo é sempre a conscientização, é aceitar que você nada sabe sobre si mesmo e enfrentar o desafio da jornada interior. O processo de autoconhecimento é uma eterna busca interior e não uma técnica que aplicada revelará todas as facetas e segredos sobre você mesmo. Quem inicia este processo não deve esperar resultados imediatos, mas estar preparado para descobrir coisas desagradáveis sobre si mesmo e se auto-enfrentar para conseguir mudar aquilo que precisa ser mudado para que os objetivos sejam atingidos.

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Franciane Ulaf “A importância de analisar sua verdadeira identidade antes de determinar um objetivo não pode ser subestimada. Falta de identidade resulta em falta de direção na definição do objetivo. A incapacidade de analisar sua verdadeira identidade causa confusão e resulta na determinação de um objetivo inconsistente com o que você gostaria de ser. Por isso, a pergunta-chave é: Quem sou eu?” Jim Cairo

FERRAMENTAS PARA O AUTOCONHECIMENTO

1. Descubra quais são seus valores pessoais “Buscar um significado abstrato para nossas vidas é abdicar de nossa responsabilidade proativa, colocando nosso destino nas mãos das circunstâncias e das outras pessoas.” Stephen Covey “Nunca trabalhe em uma organização cujos valores são inaceitáveis para você. Ignore esse princípio e você condenará a si mesmo à frustração a ao não desempenho.” Peter Drucker

Valores e conceitos constituem o seu paradigma pessoal. Funcionam como base para as escolhas que você faz na vida, orientam a sua bússola interior na hora de tomar decisões.

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Planejamento Estratégico Pessoal Identificação dos valores pessoais Os valores são os conceitos que você têm sobre as coisas, situações, idéias. O que você pensa ser certo ou errado, o que pesa quando você está indeciso está ligado aos valores pessoais. Nós os utilizamos a todo momento quando tomamos decisões ou fazemos julgamento de situações, idéias ou pessoas, no entanto, não os identificamos com tanta facilidade. Colocar os valores no papel não é tão fácil quanto tomar uma decisão com base neles. Eles estão tão enraizados em nosso modo de agir e de pensar que mal notamos sua influência. Por isso, essa fase levará algum tempo e exigirá um certo esforço para que sua lista de valores reflita de fato a realidade. Pode parecer um absurdo dizer que não os conhecemos, mas é a realidade. Grande parte das pessoas ao serem questionadas a cerca de seus valore pessoais não sabem o que dizer, no máximo conseguem relatar uns 3 ou 4 provenientes da moral ou da religião, mas os valores mais

profundos,

reais

responsáveis

pelas

nossas

escolhas

ficam

escondidos por trás de uma série de condicionamentos ideológicos. De fato muitas pessoas possuem valores reais morais e religiosos, a maioria os tem. O problema é que os condicionamentos nos fazem dizer que “temos valores que na realidade não são nossos”. No fundo podem até ser verdadeiros, mas para que se considere um valor real, devem passar por um processo de questionamento, livre de preconceitos e baseado na lógica. Questionar valores é complicado porque entram em questionamento questões como religiosidade, moral, valores transmitidos pela família, cultura, tradições, etc. Estamos tão inseridos dentro da sociedade e cultura em que vivemos, que não percebemos que a maioria dos valores que temos como nossos, foram na verdade absorvidos do meio e não refletem a realidade, ou contrariam os princípios naturais e não produzem qualidade de vida. Às vezes, quando tomamos uma decisão, a base é um

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Franciane Ulaf valor que desconhecemos e só um programa de questionamentos e análise profunda é capaz de retirá-lo do lado oculto de nossa mente. No entanto, apesar da dificuldade para descobrir os verdadeiros valores intrínsecos, isto é possível através de uma postura sincera para consigo mesmo, o afastamento de preconceitos e condicionamentos sociais e culturais e o questionamento profundo. Questionar profunda e sinceramente significa não dar respostas simplistas e óbvias, procurar os porquês através da reflexão, não reagir às perguntas de forma agressiva, não ter pena de si mesmo e, principalmente, procurar afastar ao máximo a tendência natural do auto-engano. O que acontece normalmente numa primeira tentativa de encontrar os próprios valores, é que alguns destes mecanismos de defesa acabam sendo utilizados. Por isso, essa lista de valores deve estar sendo constantemente revisada e questionada. Quanto mais você se conhecer, mais vai perceber a atuação de um mecanismo ou outro para disfarçar algo que você não estava preparado para enxergar naquele momento.

Reflexão e mudança dos valores pessoais Identificar os valores somente não basta. À medida que você vai tomando conhecimento de seus valores reais, pode perceber que alguns não se adaptam à realidade que você quer, ou seja, você busca uma coisa, mas toma decisões que o levam para a direção contrária, ou que os valores que tem como “certos” contrariam os princípios naturais e causam decepção, frustração e fracasso ao invés de levarem ao sucesso e proporcionarem qualidade de vida. Após colocar no papel seus valores, questione se eles não ferem os princípios naturais da vida. Muitos de seus fracassos no passado podem ter sido causados por valores distorcidos. Acreditar egoisticamente que todos devem sempre te escutar, fazer tudo o que você quer e nunca o

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Planejamento Estratégico Pessoal contradizer, por exemplo, pode afastar as pessoas que mais poderiam ajudar na concretização de seus objetivos. Este é um valor distorcido que muitas pessoas têm e nem sequer desconfiam que este seja um dos motivos de seus fracassos. Como este, existe uma série de valores que não levam ao sucesso, muito menos à felicidade, pelo contrário, só trazem discórdia, fracasso, desilusões. Valores

não

são

necessariamente

“coisas

boas”,

se

você

é

extremamente egoísta, são valores para você tudo o que se relaciona com o seu bem estar, os seus bens e o que você preza mais. Mesmo coisas extremamente negativas podem ser valores, se são levados em conta na tomada de decisão. Há pessoas que gostam de prejudicar os outros a qualquer custo, isso é um valor, mesmo que a pessoa não saiba, ou não admita. Mesmo um psicopata que “mata por gosto”, matar é um valor para ele. Portanto, quando estiver fazendo sua lista de valores, evite a hipocrisia de colocar somente “coisas bonitas e nobres”, todos temos muitos defeitos e estes influem diretamente quando precisamos tomar uma decisão. Só podemos mudar um defeito a partir do momento que sabemos que ele existe em nós. Após definir os valores, sem considerar se eles ferem ou não os princípios naturais, você deve questionar ao máximo o que o leva a ativar este valor, se eles o prejudicam ou ajudam, se o levam ao sucesso ou ao fracasso, e se decidir que este é um valor prejudicial, pode determinar que irá se esforçar para excluí-lo de seu paradigma pessoal. Isso pode levar muito tempo, talvez anos, mas se você não se der conta do valor prejudicial, ou se negar a mudar, pode não conseguir atingir os objetivos que deseja. A mudança dos valores pessoais é um processo que ocorre quando você se torna consciente do modo como toma suas decisões e busca eliminar valores que contrariem os princípios naturais. A maioria das pessoas diz estar em busca da felicidade, mas quando são levantados seus valores pessoais, podem descobrir que muitos contrariam estes princípios e conseqüentemente estão levando a pessoa a qualquer lugar,

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Franciane Ulaf menos aonde quer chegar. A felicidade, um estado que reflete o nível da qualidade de vida, só pode ser obtida quando todas as suas decisões foram tomadas com integridade, isto é, sem ferir os princípios naturais. Para compreender a necessidade de se adotar valores que não contrariem esses princípios, é preciso entender que eles não dependem de opinião, gosto, filosofia de vida ou religião, não foram criados por alguém, simplesmente existem. São prioridades que independem de nossos valores. “Muitas pessoas acreditam que, pelo fato de darem valor a alguma coisa, basta alcançá-la para obterem qualidade de vida. Pensam: “Serei feliz e satisfeito quando tiver mais dinheiro... quando meu talento for reconhecido... quando comprar um carro novo...” Stephen Covey Os valores constituem o paradigma pessoal. Isto representa aquilo que acredita ser certo ou errado. O paradigma é o conjunto de mapas que você construiu ao longo dos anos para decifrar a realidade. No entanto, o paradigma não é a realidade, apesar de muitas pessoas "terem certeza" de que é. O mapa não é o território. Este existe independente de qualquer opinião ou ponto de vista. A Terra é redonda, independente de um dia terem pensado que ela era plana. Os princípios naturais representam o território e nossos valores representam os mapas. Insistir em manter valores que ferem estes princípios, só o levará mais rápido ao lugar errado. Valorizar coisas que contrariam os princípios que regem toda a natureza pode trazer um sucesso efêmero, mas nunca trará felicidade e qualidade de vida. Estas só são alcançadas quando suas ações são baseadas nos valores que mapeiam corretamente o território. 1.1 A importância de conhecer os próprios valores e adequá-los à realidade dos princípios naturais:

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Planejamento Estratégico Pessoal Autoconhecimento O início do processo de autoconhecimento é procurar conhecer quais são os próprios valores e conceitos pessoais. Todas as decisões que tomamos na vida são baseadas em valores, sejam nossos ou de outras pessoas, sejam verdadeiros ou “mascarados”.

Muitas pessoas acabam

tomando a decisão errada porque acreditam em “valores distorcidos” que não trarão felicidade. Na intenção de “estar fazendo a coisa certa”, muitas pessoas ignoram seus verdadeiros valores e tomam atitudes que terminam por desviá-las do caminho que tinham como certo em suas vidas. É como um viajante no deserto que tem uma bússola e um mapa. De repente alguém chega e diz que ele está indo no caminho errado, este acredita e realmente passa a achar que seu mapa está errado e sua bússola estragada. A pessoa tira-lhe os instrumentos e diz: “Vá naquela direção.” O viajante segue em frente sem questionar. Depois de muito tempo andando sem rumo, já numa situação precária, o viajante chega a conclusão de que pegou o caminho errado, mas aí já é tarde demais, o tempo perdido não pode ser recuperado. Diz um antigo provérbio chinês: “Se não mudarmos nossa direção, acabaremos por chegar ao nosso objetivo inicial.” As pessoas em quem confiamos, na tentativa de nos ajudar, com a melhor das intenções, julgam o nosso caminho e nos indicam direções contrárias a que estamos seguindo. Quem não conhece os próprios valores e não tem convicção no caminho que está seguindo, acaba mudando de direção. Dependendo do tempo que passam seguindo o caminho errado, acabam se tornando pessoas tristes, deprimidas, que não foram capazes de ouvir a própria voz ou contradizer uma pessoa próxima. Entram em becos sem saída, ou chegam a lugares onde não gostariam de estar. O autoconhecimento evita estes desvios porque fornece a autoconfiança necessária para seguir um caminho, mesmo que só você acredite nele.

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Franciane Ulaf Definição de limites Os limites estão intrinsecamente ligados aos valores. Referem-se não só aos limites físicos do seu corpo e da sua mente, mas aos limites "invisíveis" relacionados à ética, moral, amizade, comprometimento, etc. Esta é a questão mais delicada relacionada a valores, pois quando não os conhecemos bem, facilmente ultrapassamos nossos próprios limites e isto a longo prazo tem um efeito devastador na integridade, auto-estima e auto-confiança. A diante trataremos a fundo a questão do estabelecimento de limites. Tomada de decisões pessoais Falamos sobre isto na introdução do capítulo. Conhecer os valores é essencial para que possamos tomar a decisão correta e seguir o caminho que de fato desejamos. Se os valores que temos como certos, não são os que refletem o nosso real mundo interior e contrariam os princípios naturais, corremos o risco de tomar a decisão errada e nos arrependermos depois. Ajustamento social e profissional Muitas pessoas que desconhecem os próprios valores pessoais, ou adquirem valores externos e contrários aos princípios, acabam se envolvendo com atividades profissionais ou grupos sociais que não refletem de fato sua vontade interior. Realizam atividades que não aproveitam seus talentos e aptidões, mantêm amizades com pessoas das quais não gostam e não se identificam, às vezes por interesse, por necessidade de fazer parte de um "grupo", seja ele qual for, ou até mesmo por falta de opção.

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Planejamento Estratégico Pessoal Promover mudanças profundas Não há como realizar mudanças internas sem conhecer os próprios valores. Há quem tente, mas só consegue mudar pequenos detalhes externos. Aliás, o primeiro passo no caminho do autoconhecimento é descobrir quais são os verdadeiros valores pessoais e determinar os conceitos de vida relevantes. Não é possível buscar o “sucesso”, se você não sabe o que essa palavra significa para você. Cada um dos conceitos fundamentais da vida, felicidade, sucesso, crescimento profissional, etc, podem significar coisas totalmente diferentes para cada um. Se você não parar para refletir, corre o risco de passar um bom tempo buscando algo que na verdade não queria para você.

1.2 Como descobrir seus valores e conceitos Em primeiro lugar é preciso adotar uma postura de sinceridade para consigo mesmo e evitar todo o tipo de influências externas e hipocrisia, que geralmente está relacionada a valores falsos. Essa é uma questão delicada, pois as pessoas tendem a absorver valores do meio e se negam a questioná-los, como se fossem verdades absolutas. Isso acontece muito com valores religiosos e morais. Um valor é de fato um valor quando tem o poder de influenciar suas decisões, o que acontece na maioria das vezes com esses tipos de valores é que a pessoa fala uma coisa, mas faz outra; e não admite questionar. Por exemplo, um marido que diz ter o valor da fidelidade porque se considera uma pessoa religiosa e digna, mas trai a mulher, não possui aquele valor na realidade. Esse é um exemplo explícito, fácil de se identificar. No entanto, em nossa vida diária, acabamos por contradizer a maioria dos valores que dizemos que temos. Mesmo sem perceber, temos atitudes inconscientes, bem menos perceptíveis que a do marido infiel e é por isso que uma lista de

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Franciane Ulaf valores demora algum tempo, tem que ser refeita várias vezes, até que consiga de fato refletir a realidade. São exemplos de valores pessoais: Fama, assistencialidade, sucesso profissional, busca espiritual, família, liberdade, conhecimento, boa saúde, boa forma física, honestidade, sinceridade, altruísmo, ceticismo, trabalho árduo, etc... Stephen Covey identificou os centros nas quais as pessoas baseiam suas vidas. Ele denomina de "centro de influência" o centro na qual residem nossos paradigmas mais básicos, as lentes que usamos para observar o mundo. Dentro deste centro de influência, existem centros alternativos a que a maioria das pessoas está "amarrada", são centros que são fontes de valores anti-naturais, cuja permanência neles acaba por trazer conseqüências indesejadas. São eles: CENTRADO NO CÔNJUGE: É a dependência emocional em sua manifestação mais básica. Na fase de crescimento, o indivíduo depende da família, mais precisamente dos pais, se não passar pela transição da independência-interdependência, ou se pelo menos não atingir um nível de independência básica, buscará a dependência emocional que tinha com os pais em um parceiro(a). Dominada por esse tipo de dependência, a pessoa torna-se vulnerável aos humores e sentimentos, reações e opiniões do cônjuge e teme qualquer evento externo que possa ameaçar a união,

sejam

filhos,

parentes,

sucesso

profissional,

dificuldades

econômicas, etc. "Quando dependemos da pessoa com quem entramos em conflito, tanto a necessidade quanto o conflito se exacerbam. Reações exageradas de amor ou ódio, tendência para a briga ou o afastamento, distanciamento, agressividade, amargura, ressentimento e competição calculista são alguns dos resultados freqüentes." A orientação, as vontades e os valores da pessoa centrada no cônjuge tornam-se um espelho do outro quando as coisas estão indo bem,

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Planejamento Estratégico Pessoal mas ao menor sinal de desentendimento, a pessoa vai ao extremo oposto só para contradizer e ter argumentos para humilhar e brigar com o outro. CENTRADO NA FAMÍLIA: “As pessoas centradas na família obtêm seu senso de segurança ou o amor-próprio da tradição, cultura ou reputação familiar. Sendo assim, tornam-se sensíveis a qualquer mudança nesta tradição, cultura ou a influências que possam afetar a reputação.” A harmonia dentro de uma família só existe quando há respeito mútuo e liberdade de ação e expressão entre seus membros. Pais que tentam educar seus filhos com enfoque na família não conseguem compreender a individualidade de cada pessoa, obrigando os filhos a seguir os passos que eles acham corretos, com medo de que a reputação da família possa ser afetada. Pais que agem desta forma tentam mostrar seu amor impondo condições aos filhos, fazendo com que se tornem emocionalmente dependentes ou refratários e rebeldes. A segurança, valores e orientação desta pessoa dependem da aprovação familiar. O critério de decisão encontra-se no que é melhor para a família ou no que esta deseja. CENTRADO NO DINHEIRO: O que importa para as pessoas centradas no dinheiro é a segurança econômica, qualquer ameaça a esta situação causa estresse, ansiedade e medo. Como a maioria das pessoas não possui uma certeza de segurança financeira para toda a vida, essas sensações acabam tomando conta da vida de quem centra-se no dinheiro. Qualquer decisão tomada leva em conta em primeiro lugar a segurança financeira. Pessoas centradas no dinheiro vivem aterrorizadas pelo fantasma do desemprego, fazem seguro de tudo o que possuem e costumam economizar muito. Por mais que todos se preocupem com a segurança financeira, esse caso é patológico, a necessidade de segurança acaba fazendo com que a pessoa abra mão da liberdade pessoal em nome da estabilidade. Podem por exemplo se sujeitar a realizar um trabalho da

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Franciane Ulaf qual não gostam ou deixar de adquirir bens ou aproveitar melhor a vida, porque temem perder o dinheiro que conseguiram economizar. CENTRADO NO TRABALHO: A pessoa passa a acreditar que o trabalho é o sentido de sua vida e ignora todos os demais setores da vida. Geralmente, este centro representa uma fuga, quando algo não vai bem, relacionamentos, família, vida social, a pessoa se enterra no trabalho. No entanto, isto não é uma regra, muitas pessoas centradas no trabalho fazem da famosa frase de Adam Smith "O trabalho dignifica o homem" a sua única lei. Apaixonam-se pelo que fazem e parecem esquecer que a vida não é só trabalho. "Considerando que seu senso de valor está vinculado ao trabalho, a segurança é vulnerável a qualquer coisa que ao acontecer o impeça de continuar. Sua orientação é resultado das exigências do trabalho. A segurança e o poder limitam-se às áreas ligadas ao trabalho, tornando-o ineficiente em outros setores da vida." CENTRADO NOS BENS: Por bens entendemos não somente bens materiais, mas principalmente bens intangíveis como fama, sucesso, posição social. Assim como acontece com as pessoas centradas no dinheiro, o centro nos bens causa um estado constante de ansiedade e medo de que algo possa acontecer e tirar-lhes os bens tanto tangíveis quanto intangíveis. "Na presença de alguém com menos renda status ou fama, sinto superioridade. Meu senso de valor flutua constantemente. Não tenho

constância,

permanentemente

tranqüilidade proteger

e

ou

personalidade

garantir

meus

marcante.

bens,

Tento

propriedades,

investimentos, posição ou reputação. Todos nós já ouvimos histórias de gente que comete suicídio depois de perder suas fortunas, em uma queda brusca da bolsa, a fama, ou uma derrota política." CENTRADO NO PRAZER: A pessoa vive para satisfazer suas vontades imediatas, geralmente busca emoções cada vez mais fortes, pois

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Planejamento Estratégico Pessoal vai cansando à medida que se acostuma com a sensação. Buscam uma vida fácil e agradável e não estão dispostas a fazem esforço algum, a não ser para conseguirem "mais sensações prazerosas". Geralmente são pessoas que não possuem grandes responsabilidades e também não estão dispostas a mudar esta situação, não são necessariamente jovens, pois encontramos muitos adultos acomodados, trabalhando para "financiar o fim de semana", vendo na vida uma fonte inesgotável de adrenalina e fortes sensações. "Férias que não acabam nunca, filmes em excesso, TV o dia inteiro, abuso indisciplinado dos momentos de lazer, nos quais a pessoa adota a lei do mínimo esforço, desperdiçam pouco a pouco uma vida. Fazem com que o potencial de alguém permaneça adormecido, que os talentos continuem sem ser desenvolvidos. Onde estão a segurança, a orientação, a sabedoria, o poder de escolha? No limite, estão no prazer de um momento fugaz." CENTRADO NOS AMIGOS: Ocorre muito com as pessoas jovens, mas isso não é uma regra. O espelho social torna-se o centro da vida, as pessoas de um mesmo grupo tornam-se parecidas em seu modo de vestir, pensar, falar. As escolhas são baseadas nos valores e na aprovação deste grupo. "A aceitação e a sensação de pertencer a um grupo distinto tornase importante, quase supremo. O espelho social, distorcido e instável, transforma-se na fonte dos fatores que sustentam a vida, criando um alto grau

de

dependência

dos

humores,

sentimentos,

atitudes

e

comportamentos inconstantes dos outros." CENTRADO NO INIMIGO: Pode parecer um absurdo dizer que alguém poderia centrar sua vida em um inimigo, mas isso acontece, e muito, principalmente quando não há alteração constante entre as pessoas que estão em conflito real. "Quando alguém acha que foi tratado com injustiça por uma pessoa, social ou emocionalmente representativa, fica muito mais fácil se preocupar com a injustiça, e fazer da outra pessoa

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Franciane Ulaf o centro de sua vida. Em vez de cuidar proativamente de sua vida, a pessoa centrada no inimigo reage impulsivamente aos comportamentos e atitudes de quem considera inimigo." Esse fato é facilmente percebido nas campanhas políticas. Enquanto alguns candidatos de concentram em apresentar suas propostas, outros se dedicam inteiramente a falar mal do outro candidato, sem sequer falar de suas próprias intenções. Também é comum em casos de divórcio recente. Uma das partes (ou ambos) torna o ex-cônjuge um inimigo constante e faz de tudo para prejudicá-lo. CENTRADO

NA

IGREJA:

"Acredito

que

pessoas

seriamente

envolvidas com qualquer crença admitirão que ir à igreja não é sinônimo de espiritualidade interior. Existem pessoas que se ocupam tanto com rezas e projetos da igreja que ficam insensíveis para as necessidades humanas prementes que as rodeiam, contradizendo os próprios preceitos em que dizem acreditar tão profundamente." As pessoas centradas na igreja se preocupam demasiadamente com as aparências e com a reputação,

vivem

em

"compartimentos

ideológicos",

tendendo

a

discriminar quem pensa de forma diferente. Vivem de justificativas "decoradas", todos os "porquês" em sua vida são os revelados pela igreja. CENTRADO NO EU: São as pessoas "independentes", ainda não atingiram a compreensão da interdependência. São egoístas e pensam que podem definir as próprias regras e viver do jeito que bem entenderem, nem que pra isso tenham que prejudicar outra pessoa. "Existe pouca segurança, orientação, sabedoria ou poder de escolha no centro limitado pelo EU. Assim como o mar morto, ele aceita, mas nunca dá. Está estagnado. Na maioria das abordagens do amadurecimento e satisfação pessoal, encontramos, muitas vezes, o EU em seu centro." Esta condição não é de todo negativa, pois é uma etapa a ser vivida antes de atingir a interdependência. Não é possível pular direto da

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Planejamento Estratégico Pessoal dependência emocional, a independência individualista e egoísta precisa ser vivida para que se possa compreender a interdependência. Stephen

Covey

apresenta

estes

10

centros

e

propõe

que

coloquemos os princípios naturais em nosso centro de influência, eis seus argumentos: "Os princípios não reagem a nada. Eles não ficam irritados, nem nos tratam mal. Eles nunca pedem divórcio ou fogem com nosso melhor amigo. Eles não tentam nos passar a perna. Eles não enchem nosso

caminho

de

atalhos

e

milagres.

Eles

não

dependem

do

comportamento dos outros, do meio, ou da última moda para ter validade. Mesmo em meio a pessoas ou ocasiões que parecem ignorar os princípios, podemos nos consolar com a certeza de que estes são maiores do que as pessoas ou as circunstâncias, e que de milhares de anos de história assistiram ao seu triunfo, repetidas vezes." Há 5 motivos importantes que você deveria levar em conta ao pensar em colocar os princípios como centro de seus valores. 1.

Você

não

está

agindo

levado

por

outras

pessoas

ou

circunstâncias. Você escolhe proativamente o que considera a melhor alternativa. 2. Você sabe que sua decisão é mais eficaz porque se baseia em princípios, com resultados a longo prazo previsíveis. 3. O que você escolhe fazer reforça seus valores fundamentais da vida. As experiências que você tem quando leva adiante suas decisões ganham em termos de qualidade e significado, no contexto de sua vida como um todo. 4. Você pode se relacionar com seu cônjuge ou o seu chefe a partir de

vínculos

profundos

que

criou

em

seus

relacionamentos

interdependentes. Como você é independente, pode ser interdependente com eficácia.

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Franciane Ulaf 5. Na condição de uma pessoa centrada em princípios, você vê as coisas, pensa, age diferentemente. Como possui um grau mais elevado de segurança, orientação, sabedoria e poder, que fluem de um centro mais sólido e imutável, você conta com a base de uma vida altamente proativa e eficaz.

1.3 Conceitos de Vida São temas que determinam o modo com que você buscará o equilíbrio, tomará decisões e determinará os caminhos que seguirá em sua vida. O que você pensa sobre “o que é ser feliz”, “o que é ser bem sucedido”, o valor do trabalho, acumulação de riquezas, motivação, qualidade de vida, família, etc... tem impacto direto sobre suas decisões, mesmo que inconscientemente. Você recebe uma proposta de emprego fora do país e não poderá levar sua família. Essa decisão acionará seus valores e conceitos sobre essas questões essenciais em que você baseia suas decisões. Se você é uma pessoa que preza o bem estar pessoal, os momentos de lazer com a família, os contatos com os amigos, é provável que você não aceite o convite. Caso você seja uma pessoa que coloca o trabalho em primeiro lugar, não hesitará em aceitar, mesmo que tenha que passar meses sem ter contato direto com a família ou os amigos e tenha que trabalhar de modo a não ter tempo algum para o lazer. Você também pode levar em consideração o quanto vai ganhar, mesmo que seja um sacrifício enorme trabalhar longe da família. Tudo vai depender do que você "valoriza", do que você pensa sobre essas questões que são levantadas quando você precisa tomar uma decisão. E esse processo não acontece somente quando temos que tomar uma decisão desta grandeza, a cada momento em nossas vidas estamos decidindo algo, somos a soma de nossas escolhas. Portanto, se você não está satisfeito com o

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Planejamento Estratégico Pessoal "resultado", talvez esteja fazendo as escolhas erradas, traindo seus valores, fazendo coisas para satisfazer terceiros, mesmo que isso represente um sacrifício para você.

2. Identificação dos pontos fortes e fracos Essa é uma lista que também pode demorar algum tempo até que reflita a realidade. Num primeiro momento, a tentativa de se definir qualidades e defeitos pode ir desde a ausência de conhecimento sobre si mesmo e o conhecimento deste fato, a pessoa não consegue definir suas características, permanece atônita em frente ao papel em branco ao darse conta de que de fato, nada sabe sobre si mesma até a arrogância dos que preenchem rapidamente o papel com suas características, mas depois de algum tempo, talvez meses, nenhuma daquelas características é constatada como verdadeira na observação das atitudes do dia-a-dia. Ou seja, a primeira tentativa de definição de pontos fortes e fracos pode ir da total falta de percepção sobre si mesmo, até uma percepção distorcida. Utilize a tabela na próxima página para identificar seus pontos fortes e fracos. Abaixo estão algumas perguntas que podem ajuda-lo a ser mais sincero consigo mesmo. Tente se lembrar de situações em que teve sucesso. Quais características de destacaram? Houve algum comentário positivo das

pessoas

envolvidas

que

pode

dar

uma

pista

destas

características? Faça o mesmo com situações de fracasso. Que defeitos foram os responsáveis? (Evite ao máximo colocar a culpa em terceiros!) - Se você fracassou, mesmo que por influência de outra pessoa, seu erro então foi ter se deixado influenciar.

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Franciane Ulaf PONTOS FORTES

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PONTOS FRACOS


Condição Atual

Aspectos a Melhorar

Estratégias de Desenvolvimento

Nível de Prioridade*

* Nível de prioridade : Determine uma escala, em que cada valor refere-se à um grau de prioridade. Ex. Escala de 1 a 5 onde as metas mais importantes recebem 1 e as menos importantes 5.

Pontos a trabalhar

AVALIAÇÃO DOS PONTOS FORTES E FRACOS

Planejamento Estratégico Pessoal

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Franciane Ulaf 3. Identificação de Padrões

Boa parte do nosso comportamento é constituída por padrões. Agimos em determinadas situações de forma automática, e acabamos não percebendo. Esse padrão pode ser de um mecanismo de defesa, reagimos sempre da mesma forma à uma determinada ameaça ou ataque; uma estratégia,

utilizamos

sempre

o

mesmo

artifício

para

conseguir

determinadas coisas; um hábito, certas atividades rotineiras que fazemos sempre da mesma forma. A identificação destes padrões é muito útil, pois são coisas das quais não temos consciência – todos à nossa volta enxergam, com exceção de nós mesmos. E, diga-se de passagem, não é muito bom mantermos comportamentos inconscientes. Para descobrir estes padrões, a ajuda de pessoas próximas pode ser muito útil. Peça-lhes para observá-lo durante um período e anotar coisas que você fez ou falou, que provavelmente você nem se deu conta. A autoobservação também pode ser utilizada, no entanto, é preciso muita atenção e sinceridade para consigo mesmo para notar e assumir comportamentos automáticos. Muitos dos nossos hábitos negativos que acabam levando ao fracasso em determinados objetivos é decorrente de um comportamento sistemático, algo que você faz e não percebe,

mas que acaba

prejudicando o resultado esperado. O filósofo Kierkegaard disse certa vez que a vida é vivida para frente, mas compreendida pelo retrocesso. Observando suas atitudes, comportamentos,

sucessos

e

fracassos

do

passado,

você

pode

compreender melhor quais os mecanismos que o levam a acertar ou errar. Somente ao compreender os padrões que se formam em seu próprio comportamento é que você pode conhecer suas capacidades e descobrir o seu potencial.

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PARTE II Projeto de Vida A elaboração do Planejamento Estratégico Missão e Visão Definição de Metas Detalhamento Estratégico


Franciane Ulaf 4 – Projeto de Vida

“Se você não tem uma estratégia de vida, você simplesmente não é competitivo. Há um monte de cães atrás dos ossos aí fora e sair tropeçando neles não é o caminho para o sucesso. Os vencedores nessa vida conhecem as regras do jogo e têm um plano, uma vez que sua eficiência é comparativamente exponencial às pessoas que não o possuem. Não há mistério, apenas fatos.” Phillip McGraw A vida não é longa o suficiente para fazermos tudo o que gostaríamos de fazer. Sem um foco você acaba tentando fazer muitas coisas sem ser realmente bom em nada. Para ser bem sucedido é preciso antes de tudo saber para onde você está indo: “ser bem sucedido em quê?” E sucesso não significa somente carreira profissional. Se você ignorou seus velhos amigos até perdê-los alegando falta de tempo, se você deixou com que seu casamento se deteriorasse, se você só consegue se

“manter

funcionando”

à

base

de

antidepressivos,

você

é

um

fracassado, não importa se sua carreira é um “sucesso”. Muitas pessoas quando fazem projetos e planos para o futuro pensam somente na vida profissional, o resultado é o fracasso na vida pessoal, pois as prioridades estão todas na carreira e “não há tempo a perder com o resto”. Um projeto de vida garante que você não vai chegar no meio do caminho para algum lugar que você nem mesmo sabe onde é e se perguntar: “O que estou fazendo aqui?”, sentir-se perdido, sem rumo, à mercê das circunstâncias externas da vida. Os planos de longo prazo criam um pano de fundo psicológico e uma estrutura informativa sobre o futuro, na qual você pode basear suas decisões de curto prazo. O projeto de vida é a trilha por onde você irá percorrer ao executar os diversos planejamentos que tem e terá. São as diretrizes básicas que determinam o rumo da sua vida. Indica para onde você deve seguir, quais são suas

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Planejamento Estratégico Pessoal prioridades, habilidades, o que precisa ser conquistado, aprendido, realizado. Um projeto de vida revela o seu propósito. Encontrar um propósito para a vida pode não ser muito fácil, e é preciso ficar claro que não estamos falando de questões filosóficas “porque vivemos”, qual o “significado da vida”, etc. Devido a essa dificuldade, o processo de autoconhecimento é fundamental para que se estabeleça objetivos realistas e que serão seguidos até o fim. Objetivos irreais podem ser desde sonhos utópicos até aspirações ligadas à fases, modismos, influências externas. Um adolescente pode dizer que seu objetivo é ser vocalista de uma banda de rock aos 16 anos, provavelmente aos 23 já terá esquecido este sonho. Um advogado que seguiu a carreira por influência da família, mas não se sente adaptado à profissão deve pensar em mudar de carreira e não em ser um grande profissional, pois se não gosta do que faz dificilmente terá sucesso. Parece óbvio, mas não é tão evidente assim quando é a sua vida. As pessoas possuem uma facilidade enorme para identificar erros e acharem as coisas óbvias na vida de outras pessoas, mas não conseguem ver que os mesmos casos se aplicam às suas próprias vidas. Só o autoconhecimento propicia o contato com as informações sobre você mesmo que serão importantes para encontrar o seu propósito e fazer um projeto de vida. Não há tempo suficiente para que possamos fazer tudo o que temos vontade. A vida é feita de escolhas, no momento em que você faz uma escolha, está abrindo mão de todos os outros "futuros" pertencentes às opções recusadas. A interligação e a seqüência desses caminhos é que faz um projeto de vida ser bem sucedido ou não. Portanto, de nada adianta planejar cada ação, se não houver direcionamento, pois os resultados serão aleatórios dentro do contexto geral da vida. Quando se tem um projeto de vida, cada planejamento, por mais específico que seja, está relacionado com as metas principais e gerais definidas neste projeto.

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Franciane Ulaf A vantagem é que evita-se o desperdício de tempo executando planos inúteis (do ponto de vista dos objetivos principais da pessoa), e que muitas vezes consomem grande quantidade de tempo, recursos e energia que poderiam estar sendo aplicados em algo mais significativo e relevante. Sem um projeto de vida ainda corre-se o risco de só identificar essa "inutilidade" do plano depois de já realizado.

4.1 Foco “Não adianta ter paciência e persistência sem ter um rumo definido.” Amyr Klink “Uma forte paixão, por qualquer objetivo que seja, garantirá o sucesso, pois o desejo pelo fim apontará os meios.” William Hazlit Se você não sabe para onde está indo, não chegará a lugar nenhum. A premissa básica para o sucesso de um planejamento é conhecer o alvo por traz dele, a intenção maior por traz de um objetivo menor. De que adianta realizar inúmeros objetivos pequenos, se não há interligação entre eles? O foco direciona o planejamento de acordo com o projeto de vida. É o destino onde você pretende chegar através do caminho percorrido com o planejamento. É o motivo maior que guia a realização das metas. O foco serve principalmente para aquelas horas em que você acha que tudo o que está fazendo não tem sentido, que todo esforço dedicado na concretização dos objetivos é vão. Estar consciente do foco é um fator motivador, nessas horas, você se lembra que o que está fazendo no momento não tem fim em si mesmo, mas no alvo que você pretende conquistar ao completar o planejamento.

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Planejamento Estratégico Pessoal “É muito triste passar a vida inteira cumprindo as suas obrigações sem nunca ter construído algo de fato.” Amyr Klink A maioria das pessoas vive em piloto automático, faz as coisas sem saber ao certo o porquê. O trabalho é só uma forma de se sustentar, o lazer a válvula de escape dos problemas e do trabalho, o estudo, obtenção de conhecimento e desenvolvimento de habilidades é visto somente como uma forma de manter-se vivo no mercado. Não é raro vermos pessoas idosas, ou mesmo um pouco mais jovens se lamentando por não terem construído nada em suas vidas, só fizeram o que tinham que fazer para continuar vivos e desperdiçaram um tempo imensurável com atividades de pouca utilidade, assistindo TV, jogando conversa fora, dormindo mais do que o necessário,... Viveram suas vidas sem grandes objetivos, além dos imediatos e impostos pelas próprias condições da vida ou por terceiros. Se você não quer estar nesta condição quando estiver velho e resolver parar para pensar de que valeu a sua vida para chegar a conclusão de que foi uma vida inútil, que não deixou rastros e não contribuiu com nada para outras pessoas, recomendo que faça com sinceridade este exercício:

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Franciane Ulaf Imagine-se no final de sua vida. Um jornal decide publicar uma matéria sobre você. O que estaria escrito nesta reportagem? Quais os feitos, realizações, frases seriam atribuídos à você? Você seria lembrado como que tipo de pessoa? Quais as qualidades e defeitos seriam ressaltados sobre você neste artigo? Ou você não seria lembrado? Sua vida é tão medíocre que ninguém seria capaz de lembrar sequer o seu nome? Se este é o seu caso, o que você pode fazer para reverter esse quadro? Como você quer ser lembrado? (não me refiro à fama ou reconhecimento público, um cientista que fez muitas descobertas pode ser lembrado numa reportagem mesmo que tenha sido anônimo por toda a vida.) As pessoas geralmente são lembradas por seu caráter, integridade, realizações, qualidades. Se o que domina em sua personalidade são seus defeitos e as pessoas, em sua maioria, preferem não estar perto de você, sua família só o suporta por obrigação, você não constrói nada de útil, provavelmente não haverá nada a ser lembrado no final de sua vida. É difícil que alguém admita que se encontra nesta condição, mas ela existe, há muitas pessoas assim. A sinceridade neste exercício é muito importante, pois a tendência é a pessoa vislumbrar um futuro utópico, ela quer ser lembrada por algo que nunca fará ou será. Considere a sua idade e a sua condição atual, o que você sabe, o que pode aprender, desenvolver, os recursos a que tem acesso e o que pode conseguir, com os pés no chão, sem sonhar com uma realidade tão distante que não pode sequer ser planejada. As informações obtidas neste exercício devem ser revistas anualmente, você deve verificar se está indo em direção à concretização do que estabeleceu com “realizado” em seu artigo, ou se seus interesses mudaram, a reportagem após 5, 6 ou 10 anos pode mudar completamente. O ideal é que não mude, mas devido a falta de autoconhecimento de grande parte das pessoas que fazem esse exercício é muito difícil os interesses, valores e prioridades manterem-se constantes por muito tempo, principalmente se a pessoa é muito jovem. A maioria das pessoas escreve baseando-se em suas prioridades e valores do momento. Pessoas muito jovens não escrevem sobre caráter, integridade, honestidade, mas sobre fama, status, dinheiro e geralmente criam ilusões fantásticas sobre o futuro. Pessoas com depressão ou crises familiares, escrevem sobre paz, tranqüilidade, união. Procure, ao fazer esse exercício, olhar para você como ser humano, independente de seus interesses e problemas momentâneos, pense em como isso tudo muda ao longo dos anos, tente identificar os valores universais e buscar seus objetivos magnos, aqueles que provavelmente não serão afetados pelo tempo.

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Planejamento Estratégico Pessoal Com esse texto em mãos, você já tem condições de ter uma idéia de quais as diretrizes básicas de seu projeto de vida. Selecione os principais

pontos

destacados,

entre

realizações,

qualidades,

frases,

estórias e planifique como o que deve ser feito para que no final de sua vida o resultado seja o desejado por você. Esse projeto deve reunir os principais pontos a serem desenvolvidos por você ao longo da vida, são os objetivos principais. Não se preocupe com detalhes agora, estes serão explorados adiante. A primeira tabela é um exemplo de como você pode planificar a definição de seus principais objetivos, sempre questionando o porquê de querer realizá-los e definindo prazos. Muitas vezes mantemos sonhos “desatualizados” em nossa mente e nem sabemos o porquê. Questionarse é importante tanto para verificar se você ainda deseja realizar um objetivo, quanto para registrar seus porquês. Quantas vezes você já não se perguntou sobre os motivos de querer realizar algo no passado que agora já nada significam? Se não “atualizarmos” nossos motivos, corremos o risco de lutar por um objetivo cujas razões já não são mais importantes. Quanto à definição de prazos, pode ser um pouco complicado lidar com datas, principalmente se você ainda não tem uma idéia clara do objetivo. Mas lidar com prazos pode fazer com que você se force a pensar no seu objetivo com mais clareza e objetividade, sendo um ótimo exercício para que você vá descobrindo e definindo detalhes, metas e comece a se direcionar ao seu objetivo. Você não precisa definir exatamente em quanto tempo realizará a meta, mas é importante definir a proximidade (curto, médio e longo prazo) e estimar datas. A tabela “status de realizações” deve registrar quantas e quais foram as metas já realizadas, quais você deixou a oportunidade passar e quais ainda podem ser realizadas. Por fim, você registrará os seus objetivos gerais no projeto de vida. Não se preocupe com detalhes aqui. Recomendo que você mantenha seu

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Franciane Ulaf projeto separado por objetivo, ou área de vida e por data, de preferência anual. Em “fase” você deve indicar em que estágio se encontra ou se encontrará no futuro seu objetivo (início, preparação, continuidade, manutenção, etc) Objetivos, como já foi dito, são gerais, representam um marco a ser atingido, um passo, uma etapa a ser galgada. As metas são específicas, são meios para se atingir os objetivos. No projeto de vida, você deve registrar objetivos. Você não precisa saber exatamente o que vai estar fazendo daqui a 10, 20 anos, principalmente se você for muito jovem, mas se tiver alguma idéia, isso já poderá ser um passo importante para que você possa definir rumos e prioridades em sua vida. Você pode definir primeiramente os objetivos principais que tem em mente para realizar e depois ir encaixando dentro de uma grade que representa os anos para realização. Muitas

pessoas

utilizam

o

ano

como

unidade

máxima

de

planejamento. Definem no início do ano que farão nos próximos 12 meses. Desta forma, perde-se a visão de conjunto. Boa parte dos nossos objetivos de vida não podem ser concretizados em apenas 1 ano. Sem um projeto de vida que abranja vários anos, a pessoa não consegue visualizar a necessidade de tomar atitudes agora para realizar projetos que só serão concretizados daqui alguns anos. Há objetivos que requerem dedicação e ações durante um longo prazo para que possam ser realizados. Se você define que pretende fazer um mestrado dentro de 2 anos, terá que se preparar para isso, não pode ficar esperando os 2 anos passarem sem tomar determinadas atitudes (estudar o tema escolhido, realizar os testes necessários,

economizar

dinheiro,

procurar

realizar

uma

atividade

profissional que permita dedicação ao curso, etc). Esse mesmo raciocínio pode ser aplicado à compra de bens que estão além das suas capacidades econômicas. Os “planejadores anuais” não incluem uma viagem cara em seu plano se não forem capazes de arcar com as despesas no momento, pensam “o dia que eu tiver dinheiro vou viajar para tal lugar”, um

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Planejamento Estratégico Pessoal planejamento mais amplo pode incluir a viagem como um objetivo, “economizar uma certa quantia todo mês durante 3 anos”. Grades realizações exigem tempo, dedicação e programação. 1 ano só permite que você realize pequenos projetos e não consiga enxergar o todo, a interligação entre os diversos projetos a que você se propõe a realizar. Um projeto de vida permite que você programe grandes objetivos e saiba o que tem que fazer ao longo dos anos para chegar até eles. Os níveis (pessoal, profissional, saúde, etc) podem mudar conforme o que você considera importante, pode-se incluir por exemplo, os níveis mental, familiar, espiritual, social, esportivo, .... A pergunta que segue cada objetivo deve ser respondida com muita sinceridade. Com freqüência determinamos objetivos as quais não nos identificamos, não possuem ligação com a nossa missão de vida, que posteriormente será tratada, ou contrariam os princípios naturais.

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Franciane Ulaf 4.2 Metas X Objetivos “O ato de estabelecer objetivos fornece dois bens valiosos para você: sentido de causalidade e marcas para iluminar o caminho. Os objetivos o põem ao timão da sua vida; persegui-los é reconhecer a causalidade sobre a situação. Eles permitem determinar o curso, em vez de simplesmente ficar à deriva e deixar que a vida aconteça para você.” Chérie Carter-Scott Há muita confusão entre estes dois conceitos. Metas não são a mesma coisa que objetivos. Estes são generalistas, representam “um alvo a ser atingido”, “algo a ser conquistado”, “onde se quer chegar”. As metas referem-se aos objetivos como os meios para se conquistá-los. Você irá chegar aos seus objetivos através da concretização de metas. Se o seu objetivo é ser arquiteto, suas metas provavelmente serão algo como “fazer uma faculdade de arquitetura”, “desenvolver um estilo pessoal de design”, “conhecer lugares com arquitetura diferenciada”, etc. O objetivo é sempre o fim, as metas representam o que você terá que fazer, desenvolver, criar, para atingir o objetivo. Como um primeiro passo, você pode começar definindo seus objetivos, “os alvos que você deseja atingir como fim”. Não determine como objetivos atividades diárias, compromissos, responsabilidades a cumprir. Objetivos são gerais, representam um fim e não um meio. Seus objetivos podem ser formar-se em um curso universitário, fazer uma pósgraduação, abrir um negócio próprio, mudar-se de cidade, aprender uma língua estrangeira, desenvolver habilidades, etc. Antes de começar a definir seus objetivos, leia os tópicos abaixo. É imprescindível determinar objetivos com base em seus valores pessoais e à sua missão de vida. Sua vida deve seguir uma linha reta, se você começar a definir objetivos contrastantes entre si, que o levem para caminhos contrários, você estará fadado ao fracasso. Há objetivos que são tão conflitantes quanto querer

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Planejamento Estratégico Pessoal ser médico e advogado ao mesmo tempo, mas devido à sutiliza, você pode não perceber. Se prestar atenção aos seus valores pessoais e nunca definir objetivos que não se encaixem em sua missão, tem grandes chances de evitar erros assim. A missão de vida será tratada no capítulo 5.

4.3 Visões X Objetivos Uma grande armadilha na determinação de objetivos são as visões, as intenções. Muitas pessoas determinam como objetivos “ser feliz”, “ter saúde”, “ficar milionário”, “conhecer um grande amor”. Estes não são objetivos. Em primeiro lugar, porque são coisas das quais ninguém determinará o contrário. “Quero ser muito infeliz e acabar com a minha saúde até morrer”, ou “quero ser pobre para o resto da vida”, a pessoa pode não desejar se tornar milionária, mas definir que quer ser sempre pobre também não vai. Quanto à conhecer um grande amor, um desejo muito comum, não pode ser determinado como objetivo, pois não depende somente da pessoa. Você não pode determinar “em dois meses vou conhecer uma pessoa maravilhosa”, não é algo que esteja dentro do seu limite de controle, pelo contrário, você pode passar a vida inteira sem conhecer “um grande amor”, isso absolutamente, não depende de você. As intenções que temos para nossa vida são sempre as melhores, é claro, portanto não precisamos determinar intenções como objetivos, pelo simples fato de serem questões óbvias. Digo que objetivos são gerais quando os comparo com metas, mas comparando com visões e intenções, digo que os objetivos são muito específicos, indicam claramente um lugar a ser atingido, e não algo tão amplo, genérico e de difícil constatação quanto “ser feliz”. Objetivos são indicações de resultados calculáveis a serem atingidos. São os objetivos que transformam os sonhos em realidade. Através deles é que as visões

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Franciane Ulaf abstratas são realizadas. Você se sente feliz quando atinge seus objetivos, mantém-se saudável quando estipula objetivos e metas para manter o corpo, a alimentação e a mente sadias. Visões como ficar rico podem ser definidas em objetivos mais específicos, dentro das suas possibilidades. Se você já não está mais em idade de juntar uma boa fortuna e chega à conclusão de que a única forma de “ficar rico” é ganhando na loteria, é melhor colocar os pés no chão e determinar objetivos realistas, do contrário você corre o risco de se decepcionar, pois verá que não consegue atingir os objetivos que determina.

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Objetivo (curto/médio/longo)

Prazo

PROJETO DE VIDA - Área da Vida : ____________________________

Por que quero realizar esse objetivo ?

Planejamento Estratégico Pessoal

91


Franciane Ulaf

Objetivo/Área : ANO

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FASE

Data : ___/___/___ ATIVIDADES


ÁREA

Objetivo/fase/atividades :

ANO : ______ IDADE : ____

PROJETO DE VIDA

Planejamento Estratégico Pessoal

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Franciane Ulaf 5 – Planejamento Estratégico

5.1 A Missão e a Visão “Todo mundo possui uma vocação ou missão específica na vida; todo mundo deve realizar uma atividade em particular para se sentir satisfeito. Nisso, ele não pode ser substituído, nem sua vida pode ser repetida. Por essa razão, a tarefa de todas as pessoas é tão particular quanto sua oportunidade específica de implementá-la.” Viktor Frankl “Todo ser humano tem um trabalho a fazer, responsabilidades a realizar, influências para exercer, que são suas e tão-somente suas, e que nenhuma consciência a não ser a sua pode ensinar.” William Ellery Channing

A declaração de missão de George Bernard Shaw: “Minha vida pertence a toda a comunidade e enquanto viver tenho o privilégio de fazer por ela tudo que estiver ao meu alcance. Só quero morrer depois de ter dado o máximo de mim. Quanto mais me empenhar, mais viverei. O que me dá prazer é a própria vida. Esta é uma espécie de tocha suntuosa que herdei para conduzi-la e quero mantê-la o mais radiante possível antes de legá-la para as futuras gerações.” Há algum tempo as empresas descobriram o poder de definir uma missão para que todos os funcionários seguissem o mesmo rumo e compartilhassem da mesma visão da empresa. Mas uma declaração de missão não é útil somente para guiar empresas. Os indivíduos podem se

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Planejamento Estratégico Pessoal beneficiar muito do conhecimento de planejamento estratégico, antes aplicado somente nas organizações. Uma declaração de missão descreve o que você é e de que forma você contribui com o mundo à sua volta. A missão pessoal diz de forma mais específica o que as suas ações e intenções representam de fato. Não é onde você quer chegar, mas onde você está agora, o que você é. Reflete seus talentos, o que você faz que repercute em sua vida e na de outros. O verdadeiro motivo da nossa existência é fornecer algo singular, que contribua de alguma forma para alguma coisa. Quando você descobrir o que é que você fornece de único às demais pessoas, descobrirá

sua

missão. Observe que a definição de missão aqui não é a mesma encontrada em algumas religiões, onde o significado é de algo que “deve ser feito” no futuro. A missão aqui não tem ligação com o tempo, representa o que você é, e com o que e como você contribui. “Se você não sabe para onde está indo, provavelmente acabará em algum outro lugar. Como você pode saber para onde está indo ou como fará para chegar lá se não tiver um destino bem claro em mente?” Ioki Berra Uma declaração de missão possui muitas utilidades, mas talvez a mais importante delas seja o poder de mantê-lo dentro dos seus propósitos de vida. Na confusão do dia-a-dia, muitas pessoas acabam se distanciando daquilo que consideram realmente importante. Uma missão evita esses desvios, até porque na maioria das vezes eles ocorrem porque a pessoa não sabe ao certo qual o seu caminho, sente-se perdida, então envolve-se com qualquer coisa que possa parecer interessante. A missão delimita o seu campo de ação, faz com que você se preocupe com o que é realmente importante para você e descarte o resto.

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Franciane Ulaf A composição de uma declaração de missão Sua declaração de missão deve conter todos os aspectos de sua vida interligados. Quem é você? O que você representa para as outras pessoas? Qual o significado da sua vida? Qual o legado que você gostaria de deixar no mundo? Essas perguntas são fundamentais para que você tenha uma declaração clara. Não adianta construir um texto bonito, filosófico, com ares poéticos se ele não refletir a realidade, se ele não puder ajudar na determinação de seus objetivos. É melhor fazer um texto simples e objetivo, mas que você entenda e possa se lembrar sempre dele quando estiver indeciso quanto à uma questão importante. Sua missão pode ser composta de algumas linhas escritas ou de uma página inteira, o tamanho não é importante, mas sim o conteúdo, que deve expressar o que você é, o que você representa e o que você quer deixar de legado para o mundo.

A declaração de visão

Viktor Frankl descobriu através da observação de seus colegas de campo de concentração que os que sobreviviam eram os que tinham uma visão do futuro, uma convicção de que tinham algo a realizar depois que saíssem daquele lugar. Sobreviventes de campos vietnamitas e outros lugares relataram experiências semelhantes, a força que leva uma pessoa a lutar no presente é saber que há algo melhor no futuro à espera dela. A visão é a idéia que você tem do futuro. Onde você quer chegar? No campo profissional, a visão de ser diretor da empresa pode leva-lo à se esforçar, motivá-lo a enfrentar os mais difíceis desafios e dificuldades, enquanto uma pessoa que não tem uma visão pode desmotivar-se ao se deparar com o menor obstáculo, deixar de perceber o sentido do que está

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Planejamento Estratégico Pessoal fazendo e acabando por não crescer profissionalmente. A visão não se restringe à vida profissional. Você deve estabelecer pontos de referência em todos os setores de sua vida, e à medida que for alcançando, renovar suas visões.

5.2 Definição de Metas

“Nenhum vento é favorável para quem não sabe em que porto quer chegar.” Sêneca “Não há meio de decidir que medidas adotar até que saibamos o que estamos tentando realizar.” Robert Mager “Ação é algo fácil. O que não é fácil é ligar as ações aos resultados. O que não é fácil é agir com um propósito, agir de forma a chegar aonde você quer.” Robert Mager As metas são as ações necessárias para que você atinja seus objetivos. Para cada área de sua vida, você definiu vários objetivos quando fez seu projeto de vida. Agora, chegou a hora de definir como você irá atingir cada um desses objetivos. Sem metas, de que adianta você trabalhar com todo o seu empenho, tornar-se organizado, controlar muito bem o seu tempo? Dar um duro danado para fazer tantas tarefas rotineiras ou urgentes que não trazem resultado futuro nenhum é muito frustrante. É preciso ter metas pessoais, profissionais e também conhecer as metas da empresa ( caso você trabalhe em uma ) para que você sinta que o que faz no presente faz parte de um contexto muito maior que se manifestará no futuro.

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Franciane Ulaf Muito se fala em motivação, e a maioria das pessoas ainda continua “em busca da motivação perdida”, sem saber que para sentir-se motivado é preciso saber para onde está indo. Quem não tem metas, acaba não vendo razão para fazer as coisas. Motivação vem de motivo, qual o motivo pela qual você faz o que faz? Se a resposta não lhe agrada ou você não sabe respondê-la, você não se sentirá motivado. E isso não tem necessariamente a ver com um trabalho cheio de desafios e novidades. Conheço uma história contada pelo consultor americano Zig Ziglar, em que um faxineiro de uma grande empresa norte-americana certa vez, assistiu a uma de suas palestras na companhia e resolveu seguir seus conselhos. Este homem continuou como faxineiro na mesma empresa, mas alguns anos depois comprou uma bela casa. Ele havia estabelecido como meta investir mensalmente uma quantia do seu salário e ía para o trabalho motivado todos os dias pois sabia que o fruto daquele trabalho lhe compensaria com seu maior sonho. Portanto, se você está em busca da “motivação perdida”, descubra quais são os seus motivos e diga “eu quero chegar lá”, onde este “lá” é um lugar determinado por você. A única verdadeira motivação é a interna, ninguém é capaz de motivá-lo e vice-versa. E é só através do conhecimento de seus próprios objetivos é que você pode encontrá-la.

CARACTERÍSTICAS DAS METAS 1. METAS SÃO REALISTAS – Metas não são sonhos, não as baseie em um ideal que você criou como situação perfeita. Metas não precisam ser somente coisas grandiosas. Não extrapole seus limites ao estabelecê-las. Não adianta colocar como meta perder 10Kg em 1 semana ou fazer 2hs de exercícios por dia se a sua consciência lhe diz que você não vai fazer isso. É preciso se conhecer bem para estabelecer metas. Desde os conceitos de felicidade, sucesso, qualidade de vida, trabalho, etc até saber

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Planejamento Estratégico Pessoal qual a sua forma de agir e reagir. Não adianta dizer “A partir de hoje...”, eu serei mais perseverante, mais responsável, etc, etc... Há pessoas que criam metas irreais e dizem para si mesmas que a partir daquele dia mudarão seu jeito de ser para poder cumpri-las. E isso, claro, não acontece. As pessoas podem até mudar hábitos, desenvolver habilidades, mas ao longo de um período de tempo e não de um dia para outro. Portanto, se você sabe que suas características não lhe permitem realizar a meta, primeiro se proponha a desenvolver as habilidades necessárias (se isto for possível). 2. METAS SÃO MENSURÁVEIS – Você consegue medir a evolução da meta enquanto a realiza ? Não, então elas correm o risco de se tornarem vagas demais. Por exemplo, ao invés de estabelecer uma meta “parar de fumar”, prefira “reduzir o número de cigarros para 6 ao dia” e gradativamente diminuir o número em novas metas, assim que esta for cumprida. Se sua meta for parar de fumar e você conseguir reduzir de 20 para 2 ao dia, poderá ficar frustrado pois não conseguiu atingir a meta, mesmo tendo feito um grande avanço. Metas financeiras podem ser definidas como aumentar em 50% meu valor de mercado em 2 anos, conseguir um aumento de salário para “tanto” ao mês ou mudar para um emprego que proporcione o salário que desejo. “Diminuir

em

30%

o

tempo

gasto

com

interrupções

durante

o

expediente.” “Diminuir para 40 minutos diários o tempo gasto com correio eletrônico”. Enfim, quanto mais você puder mensurar suas metas, mais fácil será a verificação da concretização. 3. METAS SÃO DESAFIOS – Metas são desafios que exigirão uma estratégia para serem cumpridas. Tome cuidado com metas fáceis, pois elas podem desestimular, assim como metas acima da própria capacidade de realização. A maioria dos seres humanos é movido à desafios, descubra o que o motiva e crie suas metas em cima disso.

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Franciane Ulaf

4. METAS SÃO ADMINISTRÁVEIS – De que adianta estabelecer uma meta na qual a concretização não depende somente de você? Ganhar uma competição é um bom exemplo. Por mais que você se esforce, seus adversários podem estar melhores que você e não há nada que você possa fazer para determinar o potencial deles. Portanto, nunca determine uma meta quando o resultado não depende exclusivamente de você. Uma derrota nestas circunstâncias pode gerar frustração, dúvida quanto à própria capacidade e desmotivação sem necessidade.

MÉTODO DE DEFINIÇÃO E ANÁLISE DE METAS

1. Diagnóstico da situação atual As seguintes tabelas visam mapear a situação atual de pontos positivos e negativos com relação à concretização de metas propostas. Utilize estes modelos e aplique a cada meta que você conseguiu atingir e as que você falhou. Tabela de metas concretizadas Tem o objetivo de levantar qualidades e fatores que contribuem com a concretização das metas propostas, assim como identificar se as metas estavam de acordo com o projeto de vida e com a missão pessoal. Note que pouco adianta cumprir diversas metas dentro do prazo esperado se elas nada tem a ver com as prioridades em sua vida, que estão ligadas ao projeto de vida.

100


Planejamento Estratégico Pessoal Tabela de metas não concretizadas Tem o objetivo de levantar os motivos da não realização das metas propostas. Procure evitar culpar terceiros ou fatores externos por suas falhas. Muitas vezes, estes fatores externos realmente atrapalham e dificultam, mas não são os únicos responsáveis. Procure ver aonde você errou em primeiro lugar.

101


METAS

102 ( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

A meta estava ligada ao seu projeto de vida e à sua missão ? ( ) Sim ( ) Não

Que fatores externos contribuíram para a concretização da meta ?

( ) Sim ( ) Não

A meta foi concretizada dentro do prazo esperado ? Se não Qualidades pessoais que colaboraram quais os fatores que decisivamente para a concretização da meta dificultaram ?

METAS CONCRETIZADAS

Franciane Ulaf


METAS

Quais defeitos pessoais influenciaram negativamente e impediram a concretização da meta ?

Que fatores externos influenciaram negativamente ou impediram a concretização da meta ?

METAS NÃO CONCRETIZADAS

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

( ) Sim ( ) Não

A meta estava ligada ao seu Estratégias para impedir ou superar estas projeto de vida e influencias negativas e defeitos à sua missão ?

Planejamento Estratégico Pessoal

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Franciane Ulaf Determinação de Metas Determinar uma meta precisa pode não ser tão fácil quanto parece. Para verificar esse fato, antes de ler este capítulo, escreva quais são as metas que deseja realizar num período de 24 meses. Você verá quanta imprecisão é capaz de escrever! Alguém poderia, por exemplo, ter escrito as seguintes metas: -

Melhorar minha atitude com relação aos meus filhos;

-

Ter orgulho do meu trabalho;

-

Melhorar as relações familiares;

-

Estar no lugar certo na hora certa;

-

Aumentar a auto-estima;

-

Ter mais motivação no trabalho;

-

Desenvolver um sendo de equipe para melhorar as relações no trabalho;

-

Tomar decisões mais acertadas;

-

Ter mais confiança em minhas habilidades.

Você consegue identificar o que há de errado com essas metas? Metas como essas na verdade são armadilhas, pois são genéricas demais, representam abstrações e são impossíveis de serem medidas, qualificadas ou reconhecidas quando atingidas. Metas devem identificar performances a serem realizadas, de forma que possam ser medidas ao longo do tempo em que estão sendo concretizadas e reconhecida a sua finalização. O que quer dizer a meta “ter mais orgulho do meu trabalho”? Todos sabemos o que é ter orgulho do trabalho, mas isso não pode ser definido como meta pelo simples fato de ser abstrato demais. Como você medirá a

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Planejamento Estratégico Pessoal evolução da meta? Hoje meu orgulho no trabalho está 10% melhor que ontem? E como você identificará o cumprimento desta meta? “Melhorar minha atitude com relação a alguém” – o que é atitude? Como alguém pode medir atitude? O fato de determinar metas assim, já indica que a pessoa pouco sabe o que fazer para resolver o problema. Dizer “pretendo melhorar minha atitude com relação ao meu filho” é o mesmo que dizer: “Não faço idéia do que fazer, então vou escrever essa meta

para

aliviar

minha

consciência.”

No

próximo

capítulo,

você

aprenderá a planejar estrategicamente suas metas e se não souber escrever metas claras, precisas e quantificáveis, encontrará muita dificuldade. O estabelecimento de metas é realmente um processo complexo, que exigirá que você reescreva-as diversas vezes até que consiga atingir o objetivo – uma lista de metas realistas e mensuráveis. Você pode estar se perguntando, por que toda essa insistência em mensurar, quantificar e especificar tanto as metas? Primeiro, porque, como já dissemos, o processo de planejamento exigirá detalhamento, e metas abstratas não podem ser detalhadas. Segundo, porque metas irreais ou pouco claras geralmente não são realizadas, e a não realização leva conseqüentemente à desmotivação, à falta de confiança no próprio potencial, à baixa auto-estima, e até à problemas mais graves. Alguém que determine uma meta “tomar uma atitude para melhorar meu casamento”, provavelmente não saberá o que “fazer” à nível de ações para melhorar o casamento e no dia-a-dia nem se lembrará da meta, o que fará a situação piorar ainda mais, pois nenhuma “atitude” será tomada e meta não será realizada. Ao escrever suas metas, questione-se sobre o significado de cada palavra que compõe a meta. O sentido é abstrato? Pode ter várias interpretações? Há como ser mensurado? Você seria capaz de identificar alguém que tenha atingido esta meta? Talvez o ponto mais importante a ser analisado na definição de metas é pensar em sua identificação. A meta

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Franciane Ulaf “sorrir toda vez que cumprimentar alguém” é verificável, pois você “vê” quando alguém está sorrindo. A meta consertar a TV é verificável, pois representa uma ação, você é capaz de dizer quando alguém está consertando uma TV, ou se uma TV estragada foi consertada, ao passo que a meta “tomar decisões mais acertadas” não pode ser identificada ou medida, além disso, é um tipo de meta que representa a ponta do iceberg, decisões erradas são tomadas por outros motivos que não o simples ato de “tomar uma decisão”. Uma boa técnica para verificar se a sua meta é realista ou não é listar as performances que a identificam. Quando alguém está realizando esta meta, que ações identificam que ela está de fato fazendo isto? Quais são as performances que identificam quando alguém está ou não cumprindo a meta? Se houver dificuldade nesta tarefa, você pode utilizar o

processo

inverso,

tentar

identificar

o

que

uma

pessoa

que

definitivamente não está cumprindo a meta faz. Faça também uma lista dos resultados alcançados. Como você sabe que alguém atingiu a sua meta? Quais são os resultados visíveis que você pode identificar e dizer “essa pessoa atingiu a meta”? Note que aqui você deve descrever resultados e não processos. Se mesmo após muito questionamento, você ainda achar que a meta deverá ser abstrata, pois ela em si possui este caráter, as performances listadas é que dirão se ela foi ou não cumprida. Por exemplo: - Ter orgulho no trabalho (É uma meta abstrata, mas pode ser verificável se você explicar o que você quer dizer com “ter orgulho no trabalho”) -

Realizar tarefas no prazo;

-

Falar bem da profissão;

-

Levar trabalho para casa se for preciso;

106


Planejamento Estratégico Pessoal -

Manter relações amigáveis com colegas e superiores;

-

Vestir-se de maneira adequada. Essas performances podem ser facilmente verificadas e tornam a

meta verificável, mas note que para outra pessoa, “ter orgulho no trabalho” pode gerar uma lista de performances totalmente diferente, por isso é tão importante explicar o que você quer dizer com a meta, até para você mesmo. Muitas pessoas definem metas abstratas e não sabem o que querem dizer com ela, tem apenas um sentido vago de que querem realizá-la, mas não sabem como fazê-lo, nem como identificar quando a meta for atingida. O que você quer dizer quando define em uma meta que precisa ter mais iniciativa? Digamos que para você ter iniciativa é assumir responsabilidades, tomar boas decisões, ser pontual, não esperar que outros digam o que fazer. O próximo passo será, então, identificar pessoas e resultados que identificam a concretização da meta. Que pessoas em sua opinião atingem ou atingiram a meta proposta? O que faz você acreditar que essa pessoa atingiu a meta? Que performances ou ações desta pessoa justificam a concretização da meta?

5.3 Estratégia “O que você está fazendo nunca é significativo, a menos que você possa dizer ou sugerir por que você o está fazendo: a qualidade da ação e a motivação que lhe dá poder não podem ser avaliadas sem conhecer o relacionamento de propósito.” Kenneth Andrews

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Franciane Ulaf O planejamento estratégico é um plano unificado, abrangente e integrado com a finalidade de assegurar a concretização dos objetivos. As estratégias definem as ações a serem tomadas para a realização das metas. Formam um conjunto de diretrizes que traçam o caminho a seguir, as sub-metas (os marcos do caminho), definem os recursos necessários, prevêem obstáculos e oportunidades e esboçam as ações. As metas e objetivos ditam quais e quando os resultados precisam ser alcançados, mas não dizem como devem ser conseguidos. As estratégias servem justamente para guiá-lo rumo a concretização de seus objetivos e metas. As maiores preocupações das pessoas que pensam em planejar são as mudanças ambientais capazes de alterar os planos feitos. A estratégia lida com o desconhecido, não o incerto. Não é possível prever todos os eventos. A flexibilidade é essencial no trato com os fatores desconhecidos do ambiente. A essência da estratégia é construir uma postura que seja tão forte e potencialmente flexível, que a pessoa possa alcançar suas metas, apesar das maneiras imprevisíveis que as forças externas possam interagir, quando a situação chegar. A estratégia divide-se em 3 níveis: Estratégico, tático e operacional. É nesta fase que você traçará o caminho a ser seguido para a realização de cada uma de suas metas. Estes 3 níveis especificam o que precisa ser feito, como e o que será preciso para que a meta seja cumprida. O

gráfico

ao

lado

demonstra

como

deve

ser

montado

seu

planejamento estratégico pessoal. O ideal é que, para uma melhor organização, você monte seu planejamento num computador, organizando cada caixa “área da vida” como uma pasta e suas sub-pastas. As áreas da vida correspondem às áreas “pessoal”, profissional”, “saúde”, “familiar”, etc. Cada área possui seus objetivos, que possuem várias metas, que por sua vez são detalhadas em níveis de estratégia, que serão explicados a seguir.

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Planejamento Estratégico Pessoal Características de uma estratégia eficiente: Metas claras, decisivas e diretas Impacto motivacional Compatibilidade com o meio Adequação à luz dos recursos Horizonte de tempo coerente com a sua capacidade Praticabilidade Flexibilidade Segurança Adequação aos valores pessoais

Área da Vida

Objetivo

Metas

Nível estratégico Nível tático Nível operacional

Objetivo

Objetivo

Metas Nível estratégico Nível tático Nível operacional

109


Franciane Ulaf 5.3.1 Nível Estratégico

O nível estratégico do planejamento define o que precisa ser feito para que a meta seja concretizada. Neste nível também são definidos prazos e especificações mais abrangentes. Neste nível você irá formular as estratégias propriamente ditas para que possa atingir cada uma das metas propostas dentro de cada objetivo. Para uma única meta, pode existir diversas opções de caminhos para atingi-la. A estratégia indica qual o caminho a ser escolhido para chegar a uma determinada meta. É preciso ter em mente que nenhuma das estratégias cogitadas para a escolha final pode ser a “certa” ou a “errada” no sentido absoluto; ambas podem estar certas ou erradas para a pessoa. A avaliação, portanto, precisa repousar em um tipo de lógica circunstancial que não dê enfoque a uma “melhor maneira”, mas que possa ser personalizada para cada tipo de problema enfrentado. Para chegar à conclusão de qual caminho escolher, você deve analisar algumas questões: 1. Análise dos fatores internos Você deve levar em conta suas aptidões, suas habilidades e tendências na escolha da estratégia ideal. Se não fizer esta análise, corre o risco de escolher um caminho que aparentemente é mais fácil, ou que já funcionou para outras pessoas, mas que para você exige um esforço extra,

desnecessário,

pois

você

não

domina

certas

habilidades

necessárias, ou não é a estratégia adequada para você, por mais que tenha dado certo para outra pessoa. Veja a meta como uma música que deve ser tocada, e a estratégia, a escolha do instrumento a ser utilizado. Se você toca violão e não piano,

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Planejamento Estratégico Pessoal é óbvio que escolherá tocar a música no violão. Você deve fazer o mesmo com suas metas. Olhar só pelo lado do desafio pode fazer com que você acabe não cumprindo suas metas. Adotar uma linha de raciocínio do tipo: “vou escolher tocar a música no piano pois assim eu aprendo um novo instrumento” pode dificultar e até impossibilitar a realização da meta. O foco do desafio deve ser na meta (uma música difícil) e não na estratégia (um instrumento da qual não se tem domínio). O foco de desafio na estratégia só deve ser levado em conta quando houver uma possibilidade coerente de enfrentar o desafio. 2. Análise dos fatores externos A

determinação

de

uma

estratégia

adequada

começa

pela

identificação das oportunidades e riscos em seu ambiente. Mapear as oportunidades e ameaças de cada caminho pode ser decisivo para a escolha da estratégia. Em um determinado caminho podem surgir oportunidades que representam um benefício maior ou poderão ser aproveitadas em outras metas, o que pode não ocorrer se outro caminho for escolhido. Assim como certas ameaças, obstáculos que existem em uma certa estratégia, podem não existir em outra, ou podem ser menores, ou mais intensificadas. Você deve pesar os prós e os contras de cada estratégia possível, comparando com a análise interna. Por exemplo, se você fosse escolher entre duas estradas para chegar em outra cidade, poderia levantar todos os pontos fortes e fracos e as características de cada uma e escolher dentre a que apresenta o melhor conjunto de benefícios, e os obstáculos menos perigosos “para o seu caso”. É imprescindível estudar bem o seu caso e escolher a estratégia adequada. Uma estrada pode ser ótima para uma pessoa, e terrível para outra. Digamos que uma estrada permita chegar na outra cidade dentro de um menor tempo, mas não possua restaurantes para que você possa parar para alimentação. Em compensação, a outra não permite que você chegue

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Franciane Ulaf tão rápido, mas possui diversas opções de restaurantes. Você deve primeiramente analisar o que você prefere, o tempo é importante? Ou você prefere fazer paradas e se alimentar, mesmo chegando horas mais tarde? Uma das estradas pode apresentar um asfalto corroído e muitos buracos, o que pode não ser bom para o seu carro, cuja suspensão não está muito boa (fator interno). A outra estrada pode apresentar um volume muito intenso de caminhões, o que facilita a propensão para acidentes, estressa o motorista, e pode causar congestionamentos. Cada uma destas características pode ou não fazer com que você decida escolher entre uma estrada ou outra. Tudo vai depender da comparação com os seus fatores internos, numa balança entre prós e contras. 3. Análise de questões críticas As questões críticas compreendem detalhes que podem afastá-lo dos objetivos principais de seu projeto de vida, de sua missão. A adoção de

uma

estratégia

específica

pode,

por

exemplo,

impossibilitar

a

concretização de outra meta, ou ir contra o estabelecido em sua missão. Essa análise pode ser feita através de algumas perguntas que devem ser aplicadas a cada estratégia possível de ser escolhida. Esta estratégia de adapta ao meu projeto de vida? Esta estratégia fere algum de meus valores pessoais? Adotar esta estratégia me afasta, de alguma forma, de minha missão de vida? Há algum objetivo que será afetado negativamente se eu adotar esta estratégia? De que vou ter que abrir mão caso adote esta estratégia? Terei que enfrentar fatores ambientais das quais não estou preparado?

112


Planejamento Estratégico Pessoal Analisando minha lista de pontos fortes e fracos, percebo que minhas habilidades são suficientes para conseguir cumprir a meta através desta estratégia? 4. Estratégias alternativas Nem sempre acertamos ao escolher uma estratégia, ou algum fator ambiental impede que continuemos a aplicá-la. As estratégias alternativas são os planos de contingência, caso algo na estratégia adotada der errado. Geralmente, adota-se como estratégia alternativa, a 2º opção, que “concorreu” com a 1º para ser aplicada. Caso seja uma meta importante, esta 2º opção deve também ser planejada como a 1º, seguindo os passos descritos a seguir. Você pode precisar dela quando menos esperar, e pode não ter tempo, nem cabeça para fazer um outro planejamento. Para cada meta planejada, utilize uma tabela como esta para melhor visualização das oportunidades, ameaças e das respostas à questões críticas. Depois questione-se sobre a adequação ao seu caso específico para encontrar a estratégia ideal.

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ESTRATÉGIAS

ANÁLISE ESTRATÉGICA Meta : OPORTUNIDADES AMEAÇAS QUESTÕES CRÍTICAS

Franciane Ulaf

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Planejamento Estratégico Pessoal TOMADA DE DECISÃO Escolher a estratégia mais adequada pode não ser muito fácil. Dentre muitas, pode-se eliminar as que não se enquadram no seu perfil, mas quando sobram 3, 2 estratégias a serem escolhidas, é preciso muito equilíbrio, liberdade, coerência e foco para saber qual a estratégia mais adequada para o seu caso. Essas 4 habilidades funcionam juntas e tomar uma decisão sem uma delas pode fazer com que você faça a escolha errada. Equilíbrio é saber pesar os prós e contras de cada estratégia de forma justa. A tendência num momento de escolha é dar demasiada ênfase à algum ponto forte da qual se quer muito, ou eliminar uma estratégia devido à um único ponto fraco da qual se quer evitar a qualquer custo. É como uma pessoa que descarta uma estratégia excelente porque se recusa a falar com uma pessoa da qual teve um desentendimento no passado. Um simples ponto fraco é capaz de estragar toda uma estratégia caso a pessoa não faça a escolha utilizando essas 4 habilidades. Essa pode ser uma ótima forma de reconciliar-se com o antigo desafeto, por exemplo. A liberdade é não ficar preso ao passado, não apegar-se à coisas insignificantes. Deixar de escolher um caminho porque terá que falar com uma determinada pessoa é apegar-se ao passado, dessa forma, não há liberdade na decisão. Da mesma forma, não é coerente eliminar uma estratégia devido a um detalhe tão insignificante. A coerência é questionar a decisão em busca da lógica. Tem lógica deixar de adotar uma estratégia que apresenta muitas vantagens em relação às outras por causa de uma única pessoa da qual você se recusa a falar? O foco é manter-se dentro dos seus propósitos de vida. Uma estratégia pode não contrariar seus princípios, ou a sua missão, mas pode não ter nada a ver com os objetivos que você persegue. Uma estratégia pode até passar pelos questionamentos da análise crítica – pode não ferir sua missão e seus objetivos, pode não exigir habilidades da qual você não possui – mas

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Franciane Ulaf deve passar pelo teste do foco antes de ser escolhida. Uma estratégia que foge muito dos seus propósitos de vida pode representar uma grande perda de tempo, recursos e energia, enquanto você poderia decidir por uma estratégia que auxilia a realização de outras metas distintas.

5.3.2 Nível Tático O nível tático especifica como as ações definidas no nível estratégico serão realizadas. Após escolher a estratégia, é aqui que você terá que “desenhar” o caminho das pedras. O que terá que ser feito? Como fará isso? O nível tático traça a rota que deverá ser seguida para a concretização da meta. Após a escolha da estratégia no nível anterior, chegou a hora de especificar de que forma ela será executada. Se você optou por uma determinada estrada no nível estratégico, agora terá que especificar detalhes como: a que horas pretende sair, se vai passar antes no posto para fazer uma revisão e abastecer o carro, quantas paradas vai fazer durante o percurso, a que velocidade média pretende andar (resultando na hora de chegada), entre outros detalhes. O nível tático também envolve a especificação de como você aproveitará as oportunidades geradas pela estratégia escolhida, assim como, de que forma enfrentará os obstáculos. As tabelas propostas servem apenas para uma melhor visualização da estratégia. Você deve montar seu planejamento da forma como for mais conveniente, seja um documento em Word com informações detalhadas, ou tabelas diferentes. O importante é que a forma utilizada seja útil para você.

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TÁTICA ESTRATÉGIA

PLANEJAMENTO TÁTICO

Planejamento Estratégico Pessoal

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Franciane Ulaf 5.3.3 Nível Operacional O nível operacional faz um levantamento dos recursos necessários para que a meta possa ser realizada. Será preciso tempo extra? Dinheiro? Apoio de alguém? Desenvolvimento de alguma habilidade? Enfim, tudo o que você precisar a nível de recursos será determinado no nível operacional. Fatores a serem analisados: 1. Suas metas são compatíveis? Se você possui duas metas que exigirão uma grande quantidade de tempo despendida no mesmo período, uma das duas terá que ser adiada, ou você corre o risco de não concretizar nenhuma delas. Você deve determinar o nível de recursos de que dispõe e analisar as metas em busca de incompatibilidades. 2. Recursos externos Faça um levantamento de pessoas, empresas, organizações que pode auxiliá-lo na concretização de suas metas, assim como (se for necessário) uma estratégia de como conseguir esta ajuda. Estes recursos não são necessariamente monetários. Podem ser o tempo de outra pessoa, as habilidades, o conhecimento, o apoio de uma empresa, enfim, recursos

podem

ser

qualquer

concretização de suas metas.

118

forma

de

insumo

utilizado

para


Planejamento Estratégico Pessoal 3. O recurso responsabilidade Estabelecer metas, de certa forma, é bem simples, cumpri-las é outra estória. Quando as coisas começam a dar errado, a tendência é culpar terceiros, obstáculos do caminho, ou qualquer outra força externa. Assumir e determinar bem, registrando, a responsabilidade pela aplicação de cada recurso é um passo importante para que você não caia nessa armadilha. É sua responsabilidade também administrar os obstáculos, eles estarão lá de qualquer forma, negar a sua existência ou desistir por causa deles é não assumir a responsabilidade pela concretização da meta. 4. Organização A auto-organização é um recurso imprescindível para o controle operacional. Se você não conseguir administrar os recursos de que dispõe ordenadamente, provavelmente não conseguirá aplicá-los da forma como havia planejado. Para alcançar um nível desejável de auto-organização é preciso muita disciplina. Se separou 2hs por dia para se dedicar à uma meta, precisará de disciplina; se programou poupar uma quantia de dinheiro por mês, precisará de disciplina para se policiar e não gastar. 5. Recursos pessoais Os recursos pessoais são aqueles insumos que você tira de dentro de si para a concretização de seus planos. É bom sempre estar consciente deles e medindo seu nível, pois em meio a tempestades, acabamos esquecendo nossas forças interiores e só enxergando as dificuldades externas. Todos estes recursos podem ser treinados e desenvolvidos. Nenhuma dessas habilidades é privilégio de “quem já nasceu assim”, pelo contrário, a maioria são habilidades desenvolvidas ao longo da vida, exigidas pelas experiências que passamos.

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Franciane Ulaf A seguir você encontrará uma tabela que deverá ser preenchida para cada meta que você determinar, numa base de tempo que você escolher, pode ser diária, semanal, mensal, dependendo de sua dedicação à meta. O importante é a sinceridade para consigo mesmo, dizer que você foi muito persistente quando no fundo você sabe que isso não é verdade, pode criar uma idéia falsa do seu desempenho, o que não trará nenhum benefício para você. Quanto ao nível, você pode escolher uma escala própria, de 1 a 5 de 1 a 10. É importante especificar separadamente o que significa cada nível para tornar a verificação o mais técnica possível. Flexibilidade A flexibilidade é um recurso muito importante para a concretização de metas. Tanto fatores externos quanto internos podem fazer com que os planos tenham que ser revistos para serem finalizados. A falta de flexibilidade leva a pessoa a achar que não pode mudar os planos, que se planejou uma coisa, deve seguir à risca até o fim. A mudança é vista como um fracasso. A pessoa inflexível, quando muda, sente-se frustrada pois a mudança foi o último recurso quando tudo mais não funcionou. Ela sente que “traiu seus planos”, pois não fez como havia planejado. Não podemos prever o futuro, podemos no máximo imaginar alguns obstáculos que podem surgir e nos preparar para enfrentá-los. As mudanças e revisões de planos fazem parte do caminho. Persistência A persistência é o recurso mais importante na concretização de um planejamento. Raramente o desenrolar de um planejamento ocorre da forma como foi idealizado. A dificuldade é intrínseca a um bom desafio, e metas são desafios, do contrário acabam desestimulando antes mesmo de

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Planejamento Estratégico Pessoal começar a concretizá-las. Portanto, a persistência deve ser o seu maior aliado na busca de suas realizações. Autoconfiança e auto-estima A dúvida quanto à própria capacidade pode fazer com que você desista de um plano muito bem elaborado, na qual você possuía plena capacidade de realização. O medo do desconhecido, o perfeccionismo, a insegurança podem fazer você acreditar que não pode concluir o planejado. Por outro lado, esta sensação pode estar sendo gerada por um planejamento irreal, onde você superestimou sua capacidade, neste caso, a flexibilidade deve entrar em ação e você deve questionar se realmente deve seguir em frente, mudar os planos para se adaptar à sua realidade, ou abandonar a meta. Mas esta decisão não deve ser tomada num momento de crise, de depressão, quando a auto-estima está baixa e achamos que não somos capazes de realizar nada. A decisão de desistir só deve ser tomada se de fato, você constatar que as metas são irreais, que está além da sua capacidade e condições realizá-la. Coragem A coragem é um insumo que pode ser muito útil, mas também pode ser muito prejudicial. A coragem para realizar uma meta deve ser coerente

e

sensata,

pois

do

contrário,

pode

superestimar

a

sua

capacidade, subestimar o ambiente e os obstáculos e levá-lo à uma condição desagradável. Um bom exemplo de coragem sensata é o navegador Amyr Klink. A princípio pode-se dizer que ele é um aventureiro muito corajoso que arrisca a vida em suas jornadas, mas após estudar sua história, chegamos á conclusão de que ele não é um aventureiro, mas um grande planejador. Suas viagens são meticulosamente planejadas com anos de antecedência,

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Franciane Ulaf todos os obstáculos são previstos, ele só parte quando os riscos são praticamente todos conhecidos e há preparação suficiente para enfrentálos. Sua declaração antes de partir da África para o Brasil na travessia do Atlântico foi “o mais difícil já foi feito, agora qualquer um pode sentar neste barco e remar em direção ao Brasil”. Sua coragem não é desmedida, é calculada e planejada. Liberdade O apego ou submissão à idéias, pessoas, organizações pode frustrar o melhor planejamento. Se uma pessoa tem poder sobre você suficiente para impedir que você tome atitudes, o seu planejamento pode ser boicotado. A liberdade a que me refiro, na maioria dos casos é a liberdade emocional, se você é psicologicamente dependente de alguma coisa, seja pessoa, idéia, organização, seu grau de ação é muito limitado. Por um apego psicológico, você pode decidir tomar uma atitude contrária aos seus planos ou deixar que algo externo conduza suas ações. A liberdade emocional é o estado de sentimento natural de uma pessoa amadurecida. Como a liberdade emocional nasce da auto-aceitação, quando você está livre emocionalmente, não tem nada a provar a ninguém, não depende do consentimento de outros para agir e não se prende a ideologias castradoras. Essas ideologias são, por exemplo, uma religião que impede que a pessoa aja de uma determinada forma, uma filosofia de vida que dita modos de viver. Se a pessoa deixa que algo externo diga como ela deve fazer as coisas em sua vida, ela não tem liberdade suficiente para realizar metas ousadas, grandes desafios. Até a submissão à um cônjuge ou parente pode atrapalhar a realização de um plano. Liberdade emocional é agir com assertividade e determinação, levando em conta os próprios sentimentos e as pessoas em volta. Liberdade emocional é seguir

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Planejamento Estratégico Pessoal em primeiro lugar a própria vontade, sem desrespeitar o ambiente e as outras pessoas, mas ao mesmo tempo, sem seguir as vontades delas. Na tabela de planejamento operacional, determine os recursos necessários para o cumprimento de cada estratégia e suas especificações. Por exemplo, para o recurso tempo de uma determinada estratégia, você deve determinar além da quantidade, como irá conseguir esse tempo, como irá utilizá-lo, de que recursos terá que abrir mão para conseguí-lo ou utilizá-lo, enfim, quanto mais especificações você colocar, mais fácil se tornará a compreensão posterior e a utilização desta tabela. No momento em que escrevemos algo, temos a idéia clara em mente, mas após um tempo, podemos não compreender o que queríamos dizer com nossas próprias palavras, se estas não forem claras o suficiente.

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Franciane Ulaf PLANEJAMENTO OPERACIONAL Estratégia : Recurso

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Data : ___/___/_____ Especificações


Planejamento Estratégico Pessoal

Nível dos Recursos Pessoais RECURSO NÍVEL

Data : ___/___/_____ Estratégias para melhorar o nível

125


Franciane Ulaf 5.4 Análise Estratégica

Após escolher as diversas estratégias para atingir suas metas, você deverá submetê-las a um processo de análise. Você não executará uma meta de cada vez obviamente. A cada período, você terá muitas metas a realizar competindo pelas mesmas 24hs diárias, pelos mesmos recursos operacionais, por uma atenção bem dividida. O problema é que você definiu as estratégias até agora de forma isolada, sem levar em conta as demais

metas.

Esta

análise

visa

procurar

por

incompatibilidades,

incoerências e inconsistências entre as estratégias escolhidas. A estratégia não pode ser formulada nem ajustada sem um processo de avaliação estratégica. A avaliação é uma tentativa de olhar além dos fatos óbvios relacionados à saúde de curto prazo e avaliar os fatores e as tendências mais fundamentais que governam o sucesso no campo de ação escolhido. Fatores a serem analisados : Consistência A consistência na estratégia não é simplesmente uma falha na lógica. Uma das funcões-chave da estratégia é proporcionar coerência à ação. Um conceito claro e explícito pode facilitar muito o desenrolar da meta, uma coisa pode ser teoricamente feita de uma determinada forma, mas na prática pode não funcionar, ou pode não sair como você esperava. Um questionamento crítico quando às possibilidades de aplicação da estratégia pode excluí-la caso apresente inconsistências. É muito fácil escrever num papel quais ações devem ser tomadas para a realização de uma meta, mas colocar em prática pode não ser tão simples. É preciso, antes de tudo, pensar em como você executará cada ação que determinar

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Planejamento Estratégico Pessoal e registrar da forma mais clara possível. Dizer que no próximo ano você fará um MBA no exterior e que para isso basta enviar o material requerido, fazer os testes preliminares e fazer uma entrevista é uma forma muito simplista e arriscada de formular uma estratégia, aliás, somente isto não forma uma estratégia. Você não pode saber se irá passar nos testes nem se será aceito pela faculdade. Uma estratégia detalhada pode facilitar as coisas: Determinar um roteiro de estudos, entrar em contato com uma empresa especializada em treinar e orientar alunos que querem entrar em MBAs fora do Brasil, além do mais é preciso muita autocrítica para saber se você realmente pode concorrer a um MBA de porte. É muito comum pessoas superestimarem suas capacidades ou nem sequer pensarem na possibilidade de estarem tentando algo da qual está muito acima de seu nível. Isto ocorre também com estratégias que exigem ações que requerem determinadas habilidades ou pontos fortes das quais a pessoa não possui, mas “pensa” que possui. Essa falta de autoconhecimento exclui, inclusive, a possibilidade de aprendizado ou desenvolvimento da habilidade em questão, pois a pessoa já pressupõe que não precisa aprender. A consistência também envolve adequação aos valores e missão pessoal. Essa inconsistência pode surgir, não na formulação da estratégia, onde esse cuidado já é tomado, mas nas mudanças de direção que podem exigir alterações que conflitem com os valores. Ao longo da aplicação da estratégia, você deve estar sempre atento para que novos rumos estejam de acordo com seus valores, sua missão e seus limites, que serão aprofundados no capítulo 7. Consonância A estratégia precisa representar ações adaptáveis ao ambiente externo e às mudanças críticas que nele ocorrem. Se o ambiente em que você está inserido não permite determinadas ações, exige certos recursos

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Franciane Ulaf ou atitudes de sua parte, você deve adaptar suas estratégias à ele. Se você trabalha 8hs por dia, não pode comprometer o recurso tempo de forma a prejudicar seu desempenho, se você mora numa cidade pequena e as possibilidades dentro do que você quer realizar são limitadas, caia na real e defina estratégias aplicáveis. Se o ambiente oferece muitos obstáculos, você deve criar estratégias específicas para superá-los. Os recursos necessários também precisam de estratégias específicas, pode ser difícil conseguir determinados insumos. Viabilidade É aqui que uma estratégia pode ser decisivamente descartada ou definitivamente escolhida. Pode a estratégia ser tentada dentro dos recursos físicos, psicológicos e financeiros disponíveis? A estratégia pode ser muito boa, pode já ter levado outras pessoas ao sucesso, mas pode não ser aplicável ao seu caso. Uma estratégia que requeira tarefas a serem realizadas fora do âmbito das habilidades e conhecimentos existentes, ou que serão de difícil aprendizado não podem ser aceitas. Além

disso,

as

estratégias

não

podem

sobrecarregar

os

recursos

disponíveis nem criar subproblemas de difícil solução. Para cada estratégia, você definiu no nível operacional, quais recursos e em que quantidade precisariam ser utilizados. Agora você deve analisar juntas todas as estratégias que “concorrerão” no mesmo período de tempo e ver se não há recursos que ultrapassam a sua capacidade, ou os exigirão em um nível capaz de causar estresse. Dedicação e persistência não significam entregar-se totalmente até a exaustão a um determinado projeto. Desta forma você estará desperdiçando seus recursos mais preciosos que são sua saúde, a capacidade de raciocinar com coerência (num momento de estresse, as decisões raramente são coerentes) e até seus relacionamentos que ficam desgastados devido à sua falta de atenção.

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Planejamento Estratégico Pessoal 5.5 Manutenção da Estratégia Então você fez seu projeto de vida, definiu suas metas, elaborou as estratégias para atingi-las e começou a colocar em prática seus planos. Mas o processo ainda não terminou. Iniciar uma estratégia e “deixá-la ao relento” pode fazer com que você acabe não tendo sucesso em seus projetos, apesar de todos os esforços feitos até aqui. Toda estratégia precisa ser acompanhada e monitorada de perto durante sua execução. Eis algumas dicas para que não perca de vista o rumo de sua estratégia. Crie um senso de urgência Se você determinar um objetivo que será concretizado em 2 anos, há a possibilidade de que você tenha a sensação de que ainda tem muito tempo pela frente, de que não precisa se apressar. Essa despreocupação pode ser fatal para o fracasso da meta. Algumas metas exigem dedicação constante para que os resultados desejados sejam atingidos. Uma forma de criar esse senso de urgência é incluir pequenas atividades relacionadas à meta em questão em seu planejamento semanal ou mensal. Desta forma, você sentirá que se não cumprir aquela tarefa reservada para aquela semana ou mês, o resultado final pode ser prejudicado. O ideal é logo ao fazer o planejamento estratégico, já determinar quais são as pequenas tarefas necessárias ao longo do tempo para que a meta seja atingida e alocá-las no planejamento semanal de acordo com as prioridades. Estabeleça marcos claros Ao fazer o planejamento, você deve determinar marcos que devem ser atingidos dentro de um determinado período de tempo. Como numa

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Franciane Ulaf competição longa, sua meta será a concretização de várias pequenas tarefas a serem completadas ao longo do caminho. Estes marcos devem estar claramente determinados para que quando você os atinja, saiba identificar e partir rumo ao próximo alvo. Monitore sua evolução Você deve além de manter um controle sobre o desenrolar do planejamento, observando se os marcos estão sendo atingidos dentro do prazo determinado, monitorar a sua própria evolução ao longo do caminho. Como está o nível dos recursos? Você está desenvolvendo alguma habilidade pessoal? Quais estão sendo os ganhos e as perdas? O esforço está valendo a pena? Você sente-se motivado?

Quais são as

oportunidades e obstáculos que estão aparecendo pelo caminho, estou aproveitando as primeiras e lidando bem com as “pedras”? Mantenha um registro das vantagens de se atingir a meta e seu objetivo Nos momentos de maior dificuldade e estresse, temos a tendência de pensar que a luta não está valendo a pena, que é melhor desistir de tudo e voltar à tranqüilidade anterior ao início da jornada. Nestes momentos, geralmente temos dificuldade para enxergar as coisas com clareza e não raro, nos deixamos levar por emoções negativas e opiniões de terceiros. Acabamos nos esquecendo dos motivos que nos levaram a querer realizar aquele objetivo e determinar a concretização daquela meta. Manter um registro bem claro das vantagens que você vislumbrou quando estava definindo seus objetivos e metas e do porquê da escolha de cada uma, inclusive das estratégias pode além de afastar pensamentos negativos, garantir a motivação, pois faz você voltar a pensar da mesma

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Planejamento Estratégico Pessoal forma que pensava quando estava planejando, momento em que provavelmente você estava motivado.

5.6 Montagem do planejamento estratégico Você pode montar o seu planejamento estratégico de diversas formas.

Aqui,

proponho

que

você

mantenha

o

registro

de

seu

planejamento tanto por metas, como por prazo. O ideal é montar primeiro o planejamento por metas e depois encaixar dentro da cronologia, de acordo com sua disponibilidade e capacidade produtiva. Planejamento por meta No planejamento por metas, você deve separa-las por áreas (profissional, desenvolvimento pessoal, família, saúde, etc). Outros tipos de metas podem ser incluídos, além destas citadas dependendo de suas prioridades, como metas esportivas ou relacionadas à projetos específicos. Planejamento por prazo No planejamento por prazo, você pode determinar metas de curto, médio e longo prazo ou separando por períodos. Esses períodos podem variar de pessoa para pessoa. Curto prazo para você pode ser 3 meses, para outra pessoa 6 meses. É importante definir isto. O planejamento por prazo só deve ser feito após o planejamento por meta estar bem detalhado quanto aos níveis de controle.

131


METAS

Nível Estratégico

132 Nível Tático

PLANEJAMENTO POR META Nível Operacional

Franciane Ulaf


Longo Prazo

Médio Prazo

Curto Prazo

Áreas

PLANEJAMENTO POR PRAZO

Planejamento Estratégico Pessoal

133


PARTE III Ferramentas de apoio para o sucesso de um PEP Auto-organização Definição de Limites Definição de Prioridades Produtividade Administração do Tempo


Planejamento Estratégico Pessoal

6 – Auto-organização

“Todas as coisas devem ser feitas da forma mais simples possível, porém não mais simples que o possível” Albert Einstein “O fanatismo consiste em redobrar seus esforços quando você esqueceu o seu objetivo.” George Santayana “Os planos fazem você entrar nas coisas, mas você precisa encontrar a saída.” Will Rogers Defina auto-organização. Você provavelmente deve ter pensado num conceito ligado à “arrumação de papéis”, “metodologia para realizar ações” ou algo semelhante. Organização para você e para a maioria das pessoas compreende a ponta do iceberg do que venha a ser de fato “autoorganização”. Há ainda 2 outros níveis de auto-organização, cujo desenvolvimento pode ser muito útil. A organização psicológica, que está relacionada ao controle emocional, ao equilíbrio entre os diversos papéis desempenhados na vida. E há também a organização mental, relacionada à capacidade de concentração, de raciocínio lógico, concatenação de idéias e outras habilidades mentais. 6.1 Organização Física “Treine-se para perceber e coletar o que está a muito tempo no lugar errado.” David Allen

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Franciane Ulaf A denominação “organização física” compreende tudo o que envolve arrumação, metodologia, planificação, esquematização do ambiente físico, das “coisas” em geral. A organização física à nível individual, apesar de ser encarada por muitos como difícil de ser alcançada, é a mais fácil e simples comparando-se com os 2 outros níveis. A maioria das pessoas que se considera organizada atingiu um certo equilíbrio nesta área. No entanto, como já foi dito, a organização física é somente a ponta do iceberg. Uma pessoa, por exemplo, que se considera organizada devido ao seu aspecto físico de organização bem desenvolvido, mas não consegue cumprir prazos, não consegue ser pontual, não consegue conciliar vida profissional e pessoal, está sempre estressada, na verdade não pode ser considerada uma pessoa integralmente organizada. Um livro que recomendo para o desenvolvimento da organização física é “Produtividade Pessoal” de David Allen (Editora Campus). Allen propõe uma técnica de organização que combina prioridades, objetivos e métodos de organização com a capacidade de relaxar e manter a mente calma e organizada, evitando, assim, o estresse, a síndrome da urgência e a falsa produtividade (fazer muitas coisas sem estar de fato produzindo algo importante). Livros de administração do tempo também podem ser muito úteis.

6.2 Organização Psicológica “A diferença entre uma pessoa feliz e uma infeliz não é o fato de a pessoa infeliz ter mais sentimentos negativos, mas de a pessoa feliz lidar mais efetivamente com seus sentimentos negativos, resolvendo-os no momento em que eles ocorrem.” David Viscott

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Planejamento Estratégico Pessoal Ligada ao controle emocional, à capacidade de gerenciar emoções e utilizá-las adequadamente. Pode parecer estranho, à primeira vista, associar inteligência emocional com organização, mas estes dois conceitos estão

intrinsecamente

ligados.

Qual

a

definição

mais

próxima

de

organização? Controle. A falta de controle, em todos os níveis, representa falta de organização. Não controlar as emoções, não discernir sobre a hora de ter certas reações emocionais, não colocar cada sentimento em seu devido lugar e não saber demonstrá-lo na ocasião certa, da forma correta representa uma desorganização psicológica. Nem

é

preciso

dizer

que

este

nível

de

desorganização

é

extremamente nocivo para o sucesso de um planejamento. A falta de tato nas

relações

interpessoais,

falta

de

sensibilidade,

o

excesso

de

emocionalismo, um temperamento desajustado, pode boicotar suas metas até mesmo sem que você perceba. Pessoas desorganizadas emocionalmente dão demasiada ênfase às emoções em sua vida. Nossas metas geralmente são objetivas. O que acontece na maioria das vezes é que estas pessoas preferem realizar seus desejos imediatos, a abrir mão de algo hoje para realizar uma meta no futuro. Quando a emoção fala mais alto que a razão, não há muita coerência, as decisões são insensatas, priorizando o momento e o lado pessoal, de forma egoísta. Inteligência emocional não é colocar as emoções acima da razão, mas utilizar estas de forma coerente, lado a lado com a razão. Saber equilibrar os diversos papéis desempenhados na vida também faz parte da organização psicológica. Conseguir dar a devida atenção à família, ao mesmo tempo em que se administra uma carreira em ascensão, uma vida social ativa e tempo para o lazer pode não ser muito fácil e requer equilíbrio emocional para não desencadear um rolo compressor de compromissos importantes e urgentes que se mal administrados, geram estresse.

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Franciane Ulaf Os livros que recomendo para o desenvolvimento da organização psicológica são “Inteligência Emocional” e “Trabalhando com a Inteligência Emocional” de Daniel Goleman, (Objetiva),“Liberdade Emocional” de David Viscott (Summus Editorial), “Inteligência Emocional no Trabalho” de Hendrie Weisinger (Objetiva) e “Estratégias de Vida” de Phillip McGraw (Alegro).

6.3 Organização Mental “Pensar é a verdadeira essência do negócio e da vida, e ao mesmo tempo é a coisa mais difícil de fazer em meio a ambos. Os construtores de impérios passam horas no trabalho mental... enquanto os outros festejam. Se você não está inteiramente consciente da importância de empreender o esforço de exercer uma reflexão integrada e auto-guiada, então está se entregando à preguiça, e não controla mais a própria vida.” David Kekich

Relaciona-se com o raciocínio, a destreza mental. É a capacidade de organizar idéias e transmiti-las de maneira ordenada e lógica. Passar idéias para um papel, falar em público, concentrar-se, desenhar um projeto arquitetônico são alguns exemplos de habilidades que exigem organização mental. Dependendo das metas que você pretende atingir poderá precisar mais ou menos dela. Por ser um nível de organização muito difícil de atingir, pode até representar uma meta em si. Para o desenvolvimento da organização mental, recomendo os livros “Pense Diferente, Viva Criativamente” de John Chafee (Campus) e “Mantenha o seu Cérebro Vivo” de Lawrence C. Katz e Manning Rubin e “Além da Inteligência Emocional” de Roberto Lira Miranda (Campus). A organização mental é dividida em diversas áreas, portanto é necessário

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Planejamento Estratégico Pessoal que você defina especificamente o que deseja desenvolver, ex. raciocínio lógico, memória, concentração, inteligência espacial, etc, e buscar material na área escolhida.

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Franciane Ulaf 7 – Definição de Limites

“O sábio é aquele que experimenta sua alma durante a vida. Ele segue sua vontade e se atém à sua verdade quando todas as indicações exteriores lhe dizem que não pode estar certo... Ele é sábio para si mesmo antes de o ser para outros”. Ana Claudia Domene Ultrapassar os próprios limites depende muito dos valores pessoais. Há quem se sinta atraído por desafios e se sacrifica física, emocional e mentalmente para atingir certos objetivos. Mas também há os que se sacrificam mesmo sem disposição para tanto, mas pela necessidade de obter resultados, sejam profissionais, pessoais, familiares, esportivos, etc, mas não conseguem organizar-se de forma a “dar conta do recado” dentro de um tempo previsto, exigindo de si mesmo muitos esforços extras para concretizar os objetivos. Uma boa administração pessoal é, antes de tudo, ter a capacidade de priorizar dentre o que se quer e o que se deve fazer, o que é mais importante e excluir o resto, executando essas atividades de forma organizada. Em cada planejamento realizado, você precisará estabelecer os limites, tanto necessários para a própria organização e eficácia no trabalho, como os seus limites pessoais. Analise a sua vida, os seus conceitos de sucesso, de qualidade de vida, de felicidade. É com base nestes princípios, que são os valores que guiam a sua vida, que você poderá determinar os limites que irá impor em cada um dos itens abaixo. 7.1 DISPONIBILIDADE – Se você está mais disponível para os outros do que gostaria, é melhor colocar um limite em sua disponibilidade. Por

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Planejamento Estratégico Pessoal exemplo, se o seu ritmo pessoal e seus valores permitem que você trabalhe 8hs por dia com no máximo 1hs extra, e seu trabalho anda exigindo que você trabalhe 12hs, e isto faz com que você se sinta estressado, sua família anda reclamando da sua ausência e você se sente explorado, estabeleça um limite. Há pessoas que suportam longas jornadas de trabalho sem sentirem-se esgotadas, outras quase não agüentam as horas normais. Isso depende muito dos seus valores e motivações. Há quem coloque toda a sua motivação no trabalho e faça com gosto inúmeras horas extras. Outras pessoas priorizam a vida com a família, ou ainda, trabalham somente pelo dinheiro e rezam para que chegue logo a sexta feira para que possa sair da cidade, descansar. Cada um tem um ritmo, uma motivação, um conjunto de valores. Se você desrespeitá-los pode colocar o seu bem estar em risco. É claro que hoje em dia não é todo mundo que pode se dar ao luxo de escolher quantas horas irá trabalhar, mas se você pode, não hesite em respeitar os seus limites. Organize-se melhor, delegue ou divida o trabalho com colegas para que você consiga realizar todas as tarefas dentro do limite que seu ritmo suporta. QUALIDADE DE VIDA x AMBIÇÃO – Nem sempre as conquistas na vida são fáceis. Muitas vezes, sacrifícios são necessários para que possamos atingir os nossos objetivos. Aí está a importância de se analisar não só o ritmo pessoal, mas os conceitos de sucesso, felicidade, qualidade de vida e as metas pessoais e profissionais. Se o crescimento profissional for um valor para você, é claro que você não se importará com o estresse, com a diminuição da qualidade de vida, com a distância da família, ou qualquer situação que possa causar desgaste. Às vezes é preciso desrespeitar os limites do corpo para conseguir se superar e crescer, mas isto deve ser um valor para você, do contrário seu sacrifício será vão. Uma pessoa, por exemplo,

que

não

tem

perspectiva

nem

vontade

de

crescer

profissionalmente, preza a vida com a família e os momentos de lazer,

141


Franciane Ulaf mas precisa trabalhar “para pagar as contas”, pode se beneficiar muito estabelecendo limites nas horas trabalhadas. Quem tenta equilibrar uma carreira em ascensão, mas não abre mão da qualidade de vida, precisa analisar muito bem seus conceitos e valores para não colocar em risco nem a carreira (por estar trabalhando pouco), nem a qualidade de vida (por estar trabalhando demais)! Não é nem um pouco simples, é claro, por isso é que o autoconhecimento é fundamental, é preciso além de saber bastante sobre si mesmo, conhecer muito bem suas metas pessoais e suas motivações. 7.2 PRESSÃO – Da mesma forma que ocorre com a disponibilidade, você precisa saber qual o nível de pressão que suporta no ambiente de trabalho e caso este nível esteja fora de seus padrões pessoais, considere mudar de cargo ou até de emprego. Há pessoas que só produzem sobre pressão, com tendência a serem preguiçosas e sem iniciativa se estiverem em um ambiente onde não há alguém as pressionando constantemente. Outras pessoas encaram a pressão como um fator motivador, quanto mais estresse externo, mais se sentem estimuladas a buscarem resultados. Há ainda os que sucumbem ao primeiro sinal de pressão e se estressam facilmente. Identifique qual a sua necessidade: alta, média ou baixa pressão e procure adequar o seu trabalho a esse limite pessoal. 7.3 QUALIDADE – Cada um tem um nível de qualidade na qual se autoexige dentro das coisas que faz. Determine qual o nível de qualidade que você deseja em cada atividade que faz e trabalhe dentro deste parâmetro. Isto

evita

trabalhos

mal-feitos,

mas

principalmente,

combate

o

perfeccionismo. Na ânsia de ser eficiente, dentro de um padrão artificial de qualidade, acaba-se deixando a eficácia de lado, muitas vezes comprometendo o cronograma de um trabalho. As coisas não precisam ser perfeitas, bastam que sejam bem feitas. Analise o seu padrão e veja

142


Planejamento Estratégico Pessoal se ele é coerente, você não está exigindo demais de você mesmo desnecessariamente? 7.4 ENVOLVIMENTO – Algumas atividades são mais empolgantes e satisfatórias que outras. Muitas vezes, tendemos a nos comprometer demasiadamente com as coisas que nos motivam mais e damos pouca importância para as outras, mesmo quando são relevantes e a sua negligência para com elas é capaz de causar problemas. Tanto na vida profissional quanto na pessoal, a tendência do ser humano

é

evitar

as

tarefas

desagradáveis,

difíceis,

demoradas,

complicadas,... Essas atividades, no entanto, não deixam de ter o seu valor, sendo às vezes, muito importantes. Por outro lado, é também natural nos envolvermos muito com atividades que gostamos. Assim, não sobra tempo para fazer as outras coisas agradáveis, importantes ou não, e muito menos para as desagradáveis, porém importantes. Quando comecei a trabalhar na Internet, na época em não era uma furada investir na rede, me envolvi tanto com minha atividade que passava todo o tempo disponível trabalhando, só pensava em aprender mais, produzir mais, obter melhores resultados dentro daquele trabalho. Não demorou muito para que eu começasse a ter problemas de visão, as notas da faculdade baixassem, a família começasse a cobrar mais atenção, e é claro, o estresse me fazia companhia dia e noite. Isso costuma acontecer freqüentemente com quem trabalha por projetos ou metas. De repente, você tem em mãos um trabalho extremamente excitante para realizar, que além de ser agradável, desafiador, trará resultados profissionais e pessoais muito satisfatórios. A primeira reação é esquecer tudo o mais e se dedicar exclusivamente àquilo. Essa reação é natural e pode trazer benefícios, mas tem um alto preço. O ideal é se dedicar bastante sim, com coerência. Mas como não perder a sensatez em meio à empolgação inicial que a nova atividade proporciona? Em primeiro lugar, é preciso limitar o tempo gasto diariamente na atividade e limitar o

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Franciane Ulaf envolvimento. Se o trabalho é em equipe, procure delimitar bem a sua parte para não arriscar fazer o trabalho alheio ou sobrecarregar o grupo com a sua empolgação. Em segundo lugar, é preciso ter as atividades priorizadas e planificadas, para que você “não se esqueça” que tem muito mais coisas para se preocupar. Sem uma agenda organizada, você provavelmente deixará passar compromissos e atividades importantes, mas que não são tão empolgantes para você. Se não estabelecermos limites de acordo com o nosso ritmo pessoal, valores e conceitos, acabaremos “engolidos pelo tempo”. Essa é a síntese da priorização, só podemos priorizar de forma coerente

quando

nos

conhecemos

bem,

do

contrário

acabaremos

desperdiçando nosso tempo fazendo coisas das quais não precisamos, não são necessárias para ninguém, ou perderemos tempo demais em atividades pouco importantes, com as urgências do dia-a-dia que consomem nosso tempo, nossa motivação e nosso potencial criativo.

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Planejamento Estratégico Pessoal 8 – Definição de Prioridades

8.1 Os 4 níveis de prioridade “Aquele que tem um “porquê” para viver pode enfrentar todos os “comos”. Nietzsche URGENTE x IMPORTANTE Fazer a distinção entre urgência e importância é crucial para que estabelecer prioridades coerentes. A falta de organização e de determinação das prioridades corretas faz com que se perca a maior parte do tempo “apagando incêndios”, ou seja, fazendo as coisas urgentes. No entanto, estas coisas urgentes, nem sempre o foram. É a negligência de alguém, que, na maioria das vezes, faz com que alguma coisa seja postergada até que sua resolução se torne urgente. (excluindo-se, claro, situações inesperadas, acidentes, etc.) É preciso prestar muita atenção às coisas importantes, mas não urgentes, pois são elas que, se não forem “bem tratadas” e resolvidas por completo, se tornarão urgentes no futuro, e provavelmente não serão “bem tratadas”, o que compromete a credibilidade de quem executou. Por exemplo, um arquiteto se comprometeu de entregar um projeto a um cliente no prazo de 3 meses. Mas como isso é “muito tempo” na concepção dele, ele resolveu engavetar a idéia e “pensar nisso depois”. O projeto era importante, mas como não tinha urgência, o arquiteto resolveu não se preocupar com ele. Eis que faltando 1 semana para o prazo final, ele lembrou do compromisso e resolveu fazer o projeto. Mas aí, o importante se tornou urgente também e esse trabalho pode exigir que ele trabalhe muitas horas além do normal para que consiga cumprir o prazo, causando estresse e atrasando outros trabalhos, além da qualidade

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Franciane Ulaf estar comprometida devido à pressa. Esse tipo de situação é muito comum, principalmente em empresas. Tudo o que não é urgente, tende a ser deixado para depois. Essa relação, importância X urgência, é importante também na vida pessoal. Se você não tratar uma pequena cárie, um dia, quando não agüentar mais de dor, terá que fazer um tratamento de canal. Se ignorar o colesterol alto, poderá ter sérios problemas cardíacos. Se não tratar de pequenos conflitos familiares quando eles surgem, terá grandes problemas no futuro. A tabela abaixo separa as prioridades em 4 quadrantes: URGENTE IMPORTANTE I – Problemas imediatos

NÃO URGENTE II – Prevenção,

e de resolução

planejamento; manutenção;

imprescindível; crises;

identificação de novas

acidentes; compromissos oportunidades; com data marcada.

relacionamentos, saúde, família, objetivos de vida, sonhos, etc.

NÃO

III – Interrupções,

IMPORTANTE telefonemas;

IV – Detalhes; atividades agradáveis; passatempos;

correspondência;

conversas inúteis, atividades

urgências de terceiros;

que não trarão resultados

compromissos com data

futuros.

marcada, mas sem importância. A maior parte das pessoas vive entre o 1º e o 4º quadrante. Justamente os que mais devemos evitar. Isso se dá devido à falta de organização, o que torna a pessoa escrava das urgências do dia-a-dia e quando consegue um tempo de folga, ao invés de ir para o quadrante II

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Planejamento Estratégico Pessoal se dedicar às coisas realmente importantes, fogem para o IV procurando uma sensação de alívio, pois sabem que em breve retornarão para o quadrante I. As

atividades

negligenciadas,

pois

urgentes podem

do nos

quadrante

causar

não

problemas

podem

se

não

ser

forem

solucionadas. Uma dúvida freqüente de pessoas que vivem neste quadrante é como sair dele, se cada vez que se tenta priorizar e realizar as “coisas mais importantes” surge algo inesperado para atrapalhar. É também muito comum confundir o 1º e o 3º quadrante, há quem pense que algo é importante por ser urgente. Para saber em qual quadrante se encontra a atividade, pergunte se a atividade urgente contribui para a realização de algum objetivo importante, se a resposta for não, ela pertence ao 3º quadrante. O aproveitamento do tempo é bem sucedido quando há um bom gerenciamento pessoal. Não há como administrar algo que “está fora” quando não se tem conhecimento e controle sobre o que “está dentro”.

8.2 O mais importante em primeiro lugar “Para poder colocar as coisas mais importantes em primeiro lugar, é fundamental deixar de reagir ao que é urgente e passar a entender e fazer o que é importante.” Stephen Covey A urgência tem o poder de nos controlar. O telefone toca, o prazo termina, alguém entra na sala. Torna-se uma rotina, dia após dia, nos concentramos em resolver o que vai aparecendo e o que está para explodir, ou já explodiu. Há pessoas que se tornam “viciadas em urgência”, passam a gostar da sensação de adrenalina, de euforia, da tensão

gerada

pela

correria.

A

urgência

uma

sensação

de

147


Franciane Ulaf responsabilidade, de poder, a pessoa está ocupada o tempo todo, então tem a falsa sensação de que está sendo muito produtiva, de que é importante por ter tantas coisas para fazer. Stephen Covey identificou 6 características da urgência que causam a dependência: 1. Cria sensações previsíveis, confiáveis; 2. Absorve toda a atenção; 3. Alivia temporariamente o sofrimento e outras sensações negativas; 4. Proporciona

uma

sensação

artificial

de

auto-estima,

poder,

plenitude, controle, segurança, intimidade, realização; 5. Exacerba os problemas e sentimentos para os quais se está procurando uma solução; 6. Compromete o rendimento, provoca perda nos relacionamentos. A síndrome da urgência, como é chamada a dependência na sensação da urgência, é causada por uma má priorização. Considera-se como prioridade as coisas urgentes e não as coisas importantes. Utiliza-se o relógio e não a bússola – mais importante do que a velocidade com que está andando, é a direção que você está tomando. Antes de aprender a administrar e tempo de forma eficaz, é preciso antes de tudo, saber priorizar o que é de fato importante, aprender a usar a bússola. Ao contrário da urgência, que nos controla, a importância é controlada por nós, por esse motivo acabamos, no estresse do dia-a-dia nos deixando controlar pela urgência, abrindo mão do controle que poderíamos ter para realizar as coisas importantes. Você deve eliminar por completo da sua vida o 3º e 4º quadrante. As urgências sempre existirão, mas devem pertencer ao 1º quadrante, serem importantes, contribuírem para a realização de algum objetivo do 2º quadrante para serem atendidas. Urgências como ligações telefônicas inúteis, pedidos de terceiros, algumas reuniões, podem ser importantes para outras pessoas, mas não para você. Se você se concentrar neste quadrante perderá muito

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Planejamento Estratégico Pessoal tempo resolvendo os problemas e realizando os objetivos dos outros e deixará de lado os seus. O quarto quadrante também deve ser eliminado, é o quadrante do desperdício. Não é o lazer em si, que faz parte do segundo quadrante, mas a perda de tempo excessiva com um descanso que nunca acaba, programas inúteis de televisão, conversas improdutivas, leituras que não acrescentam nada. Para quem vive na síndrome da urgência, o 4º quadrante acaba sendo uma válvula de escape, é um alívio fugir para o 4º quadrante quando se vive apagando incêndios e não se faz nada concreto de fato. A sensação do 4º quadrante é de que se está “aproveitando a vida” depois de um período de intenso estresse, quando na verdade, está perdendo um tempo precioso, que não poderá ser utilizado novamente. Um instrutor de um seminário sobre administração do tempo, a certa altura, disse: “Tudo bem, agora vamos fazer um teste.” Ele abaixouse e pegou uma jarra embaixo da mesa. Ele a colocou em cima da mesa, próximo a uma vasilha na qual havia algumas pedras do tamanho do punho. “Vocês acham que podemos colocar quantas pedras dentro da jarra?” perguntou. Ele ouviu alguns palpites e em seguida disse que só na prática podíamos saber a resposta. Ele colocou uma pedra na jarra... em seguida outra... e mais outra, até que ficasse cheia até a boca. Então ele perguntou: “Será que ainda cabe mais alguma coisa dentro da jarra?” As pessoas olharam para a jarra e disseram que não. Depois de dizer que estavam enganados, ele apanhou um balde de cascalho em baixo da mesa. Em seguida, colocou-o dentro da jarra e deu uma chacoalhada de modo que o cascalho se acomodasse nos pequenos espaços deixados pelas pedras grandes. Em seguida perguntou mais uma vez: “Cabe mais alguma coisa na jarra?” Dessa vez, o público resolveu embarcar na brincadeira e disse que sim. “Bom!” respondeu ele. E tirou de baixo da mesa um balde de areia. Começou a colocar areia dentro da jarra, que se acomodou em todos os

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Franciane Ulaf pequenos espaços deixados pelas pedras e pelo cascalho. Mais uma vez, ele olhou para a platéia e perguntou: “Cabe mais alguma coisa dentro da jarra?” – “Sim!” – responderam. “Bom!” disse ele, pegando um copo d’água e derramando dentro da jarra.

Por

fim,

perguntou:

“Que

conclusão

podemos

tirar

dessa

experiência?” Alguém disse: “Bem, os espaços existem, basta um pouco de esforço e jeito para colocar mais coisas em sua vida.” “Não!” – respondeu ele, não é essa a conclusão. “O que a experiência nos prova é que, se eu não tivesse colocado essas pedras grandes primeiro, jamais teria conseguido colocar todas essas coisas aí dentro.” As prioridades em nossa vida são as pedras grandes, são as coisas que de fato importam, não as urgências passageiras, prioridades de terceiros,

interrupções.

Se

priorizarmos

as

coisas

importantes,

as

urgências se ajustaram naturalmente e não ocuparão o espaço das pedras grandes. “A tarefa importante dificilmente precisa ser feita hoje ou mesmo essa semana... A tarefa urgente implica uma ação instantânea. O apelo imediato dessas tarefas parece irresistível e fundamental, e ele consome nossa energia. Mas à luz da perspectiva do tempo, sua enganosa notoriedade desaparece gradualmente; com um sentido de perda, lembramos a tarefa vital que adiamos. Percebemos que nos tornamos escravos da tirania da urgência.” Charles Hummel

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Planejamento Estratégico Pessoal 8.3 A Coerência na Priorização Quantas pessoas em seu leito de morte desejariam ter passado mais tempo trabalhando? Você consegue identificar quais são as coisas que realmente importam em sua vida? Você dá o devido valor e atenção à elas? Sua resposta deve ter variado entre um “bem que gostaria, mas não tenho tempo”, “bem que eu tento, mas não consigo” ou “nessa etapa da minha vida, tenho que me dedicar inteiramente ao trabalho”. Se você respondeu que sim, parabéns, você já consegue colocar as pedras grandes primeiro lugar. Mas se você respondeu que não e deu alguma desculpa, leia com atenção este capítulo, a sua felicidade pode depender da sua capacidade de dar o devido valor às pedras grandes. O Futuro do Trabalho Já está acontecendo uma revolução na forma como as pessoas vêem o trabalho. Como já foi discutido no início do livro, as pessoas, hoje, tentam buscar no trabalho a auto-realização. Mas, ao meu ver, a maioria das pessoas apenas fala sobre isto, não pratica. As condições econômicas do país, é claro, não são as mais favoráveis para a busca da realização pessoal, mas exemplos não faltam de que um pouquinho de esforço vale a pena para fazer o que se gosta e não subordinar-se a um trabalho somente pelo salário no final do mês. As pessoas que não buscarem realizar-se com o trabalho, num futuro próximo serão eliminadas do mercado. A tendência para as próximas décadas é o crescimento das atividades autônomas, da terceirização e dos serviços em geral. As empresas aos poucos vão deixar de contratar funcionários para trabalhar por projetos com profissionais autônomos. A moral da estória é que só consegue sobreviver num

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Franciane Ulaf mercado assim o profissional empreendedor, dono da própria carreira, capaz de planejar, gerenciar e vender o próprio serviço. Não há mais lugar para “empregados”. A capacidade de planejamento pessoal será essencial, e para que isso seja possível é preciso saber priorizar com coerência. Quando fui procurar material para pesquisar sobre planejamento pessoal, não encontrei muita coisa. A maior parte dos livros e artigos se referia à administração do tempo e organização no trabalho, como se a pessoa não tivesse vida pessoal, ou como se só precisássemos organizar e administrar o tempo em que estamos trabalhando. Procurar a realização no trabalho não significa dedicar-se inteiramente à ele. Dar o devido valor aos demais setores da vida não significa marcar um horário na agenda para atender à família, fazer uns exercícios e colaborar com uma instituição de caridade só para ser “politicamente correto”. Priorizar as pedras grandes é antes de tudo “seguir o coração”, dar valor às coisas que realmente você sente prazer em fazer. Se você não sente vontade nenhuma de praticar um esporte, não o faça somente porque é bom para a saúde, se você odeia o seu chefe e não vê a hora do fim do expediente para ir para casa, considere mudar de emprego, ou até de profissão. Encontre as suas pedras grandes e as coloque em primeiro lugar em sua vida, não faça nada que é tido como “recomendável” se isto não lhe agradar. As pessoas são diferentes, o que é bom e agradável para mim, pode ser chato e cansativo para você. Os livros de auto-ajuda estão repletos de dicas de como viver melhor, mas só você pode realmente saber o que pode aumentar sua qualidade de vida. Exercitar a coerência na priorização é escolher o que você quer e o que te faz bem e não o que um guru da auto-ajuda diz que você deve fazer para sentir-se feliz. Integridade no momento de escolha A essência da vida baseada em princípios é assumir o compromisso de ouvir a consciência e viver de acordo com ela. Por quê? Porque, dentre

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Planejamento Estratégico Pessoal todos os fatores que nos influenciam no momento da escolha, esse é o fator que sempre apontará para o norte verdadeiro. Ele inevitavelmente produz qualidade de vida. Stephen Covey Imagine que você tenha o dia todo planejamento e de repente surja uma urgência. Como você saberá o que é prioritário? O segredo da priorização coerente é a integridade no momento da tomada de decisão. Você já conhece os princípios naturais, já sabe os benefícios de seguir a vida com base neles, também sabe que as pedras grandes – as verdadeiras prioridades em sua vida – devem ficar em primeiro lugar. Diante desta conscientização pessoal, qualquer escolha será feita com integridade, qualquer que tenha sido a prioridade (a urgência ou o seu planejamento), o objetivo de todo esse processo aprendido é que você sinta-se bem com a decisão tomada. Eis algumas dicas para você exercitar a integridade no momento de escolha: Se a urgência pertencer ao 3º quadrante, considere não atendê-la, ela não é importante. Pode ser para outra pessoa, mas para você não é. Assumir responsabilidades que não são suas pode colocar em risco a sua integridade, baixar a sua auto-estima e fazer com que as outras pessoas se acostumem com essa sua “bondade”. Lembre-se da sua missão e visão. A urgência está dentro da direção que você está tomando ou vai requerer um desperdício de tempo, sem apresentar resultados futuros? A urgência está ligada à alguma pedra grande? Veja

o

seu

planejamento

mensal.

Resolver

a

urgência

vai

comprometer o andamento das metas? (às vezes parar um pouquinho para resolver uma urgência não vai trazer maiores danos, além de um dia corrido)

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Franciane Ulaf Quais serão as conseqüências da postergação ou não resolução da urgência? (Dependendo da conseqüência, é realmente melhor parar e resolver a urgência) Quais os valores ligados à essa urgência? Ela está ligada à algum dos centros de influência descritos anteriormente? Se sim, considere colocar os princípios como centro e conscientizar-se da influência a que você está se submetendo. E finalmente, o que é mais importante agora? Às vezes as urgências que aparecem em nosso caminho podem esperar um pouquinho, não são tão urgentes assim, se o que você estiver fazendo for de fato mais importante, deixe a urgência para depois.

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Planejamento Estratégico Pessoal 9 – Produtividade 9.1 Eficiência X Eficácia “É melhor fazer a coisa certa do que fazer certo as coisas.” Peter Drucker Eficiência – Fazer bem as coisas, foco na atividade Eficácia – Fazer as coisas certas, foco no resultado Algumas das mais recentes teorias em administração pregam que a qualidade deve estar acima de tudo. A interpretação de alguns foi de que levasse o tempo que fosse, a tarefa deveria ser feita da melhor forma possível. Esse perfeccionismo, no entanto, acaba levando a uma distorção da realidade. Quando o único foco é na qualidade, corre-se o risco de se dedicar um tempo enorme melhorando algo que já está bom, ou pior, fazendo algo que não precisa ser feito ou esquecendo das características realmente importantes para o resultado. De que adianta fazer um relatório perfeito e entregá-lo quando já não precisam mais dele? O

foco

da

eficiência

é

na

atividade,

preocupa-se

com

o

procedimento, os métodos, a seqüência, os detalhes. O foco da eficácia é nos resultados, a preocupação é com o que é realmente importante. Colocar o foco na eficácia não significa que a qualidade fique relegada a segundo plano e que as coisas devam ser feitas de qualquer jeito; mas que deve se preocupar em primeiro lugar em fazer as “coisas certas” e descartar todo o mais. Na verdade, quando a eficácia se torna um princípio pessoal, o lema se torna “fazer bem feito as coisas certas”, a qualidade está implícita em cada ação, mas sem se prender aos detalhes irrelevantes, ao perfeccionismo de quem só se preocupa com a eficiência. Focar-se na eficiência é seguir um mapa, enquanto ser eficaz é guiar-se por uma bússola. O mapa pode estar errado ou até mesmo pode ser o

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Franciane Ulaf mapa errado. A bússola indicará somente a direção, o caminho pode ser indicado por um planejamento, que pode ser alterado. Se você ignorar a bússola e mudar a direção, chegará em outro lugar, mas se mantiver a direção, poderá adotar uma infinidade de caminhos, pois todos levarão de uma forma ou de outra ao lugar desejado. Há muito mais liberdade, a chance de se identificar erros conseqüentemente é maior, a correção torna-se mais rápida, os desafios muito mais estimulantes. O foco na eficiência seria algo como uma equipe de demolição que chega para instalar as dinamites num prédio e de repente um gerente aparece e diz “Este é o prédio errado” e alguém responde: “Ah, cara, não seja pessimista, deixa a gente trabalhar em paz.” Tente se lembrar de situações focadas na eficiência ocorridas em seu trabalho, casa, faculdade. Provavelmente foram muitas, pois as pessoas têm uma tendência natural de não pensar no resultado, somente na atividade, fazer “o que está determinado”. Quanto esforço você já fez que não trouxe resultado algum? Quanta atenção você já desperdiçou com assuntos irrelevantes? Quanto tempo você já perdeu por focar-se na eficiência?

9.2 Ocupado X Produtivo Trabalhar mais e mais horas para fazer mais e mais significa que nos cansamos e, logo, cometemos mais erros e trabalhamos mais lentamente. Como um hamster que anda sem parar indo a lugar nenhum, trabalhamos direto, produzindo cada vez menos, em um padrão cada vez mais baixo. Julie Ann-Amos O

fato

de

necessariamente

alguém que

estar

esteja

sempre

sendo

ocupado,

produtivo.

não

Muitas

quer pessoas

dizer que

trabalham demais e dizem estar sempre ocupadas, “sem tempo para mais nada”, na verdade podem estar desorganizadas, o que as faz perder

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Planejamento Estratégico Pessoal tempo “apagando incêndios” causados pela negligência passada, ou até mesmo fazendo coisas inúteis, que pela falta de questionamento, acabam sendo feitas e consomem boa parte do tempo que poderia estar sendo utilizado de outra forma. Essa é a característica principal do terceiro quadrante. Inúmeras urgências que não precisam ser resolvidas por você. Considerando algumas coisas urgentes e não produtivas que temos que fazer por obrigação (1º quadrante), tudo o mais que não trouxer resultados futuros deve ser eliminado de sua agenda. Os “focos de incêndio” não poderão simplesmente deixar de existir da noite para o dia, pois são resultados de erros e negligências no passado. O que você pode fazer é cuidar do presente para que no futuro tenha mais tempo para pensar nas coisas que são realmente importantes. Quanto às atividades inúteis, você precisará questionar tudo o que faz. Estas perguntas o ajudarão a descobrir a importância e a real necessidade das tarefas que realiza: •

Isto é realmente importante? Por quê? (Acostume-se a sempre analisar o porque de tudo o que faz, você descobrirá que faz muitas coisas sem razão alguma)

Se eu não fizer isto quais serão as conseqüências?

Será que já não há alguém que fez ou faz isto? (Grande parte das atividades em empresas são desnecessárias pois já estão feitas, mas devido à má comunicação interna são repetidas inúmeras vezes, principalmente relatórios e levantamento de dados.)

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Franciane Ulaf 10 – Administração do Tempo

“Que insensatez temer o pensamento de desperdiçar a vida de uma só vez mas, por outro lado, não ter nenhuma preocupação em jogá-la fora aos poucos...” John Howe “A arte de administrar o tempo está no equilíbrio e propósito do que você considera importante para a sua vida”. Stephen Covey Quando falamos em administrar o tempo, a primeira reação do ouvinte, na maioria das vezes é negativa. “Não sei administrar meu tempo”, “Isso é muito difícil”, “Duvido que alguém consiga aplicar essas técnicas que falam em cursos”, “Não posso administrar meu tempo, pois o dia pra mim é cheio de imprevistos e nunca consigo fazer o que me proponho”, “Meu dia devia ter mais de 24hs”, “Meu chefe não me deixa livre para administrar meu tempo da forma como eu gostaria”... Enfim, dificilmente encontramos respostas positivas e otimistas quando tocamos neste assunto, no máximo, um “Eu quero muito aprender”. Realmente, a maioria das pessoas possui uma grande dificuldade em administrar o próprio tempo, e as razões são as mais variadas. No intuito de auxiliar essas pessoas, chovem livros e cursos na área, abordando as mais variadas técnicas que prometem solucionar de uma vez por todas o dilema da administração do tempo. Na realidade, a simples aplicação de técnicas desta forma é uma medida paliativa, pois o mau gerenciamento do tempo não provém da falta de conhecimento técnico, mas de hábitos, tendências, valores, características pessoais e comportamentos que levam a um estilo de vida onde o conjunto de variáveis faz com a pessoa perca, ou nem tenha consciência da noção de administração do seu tempo pessoal.

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Planejamento Estratégico Pessoal A boa administração do tempo é muito mais uma questão de autoconhecimento, gerenciamento pessoal e priorização “das coisas certas”, do que a simples aplicação de técnicas. As técnicas funcionam melhor para quem tem um alto grau de autoconhecimento e exerce um bom controle sobre si mesmo, sabe se autogerenciar. Além disso, é imprescindível possuir valores pessoais que não contrariem os principais princípios que norteiam a vida. Se o equilíbrio é fundamental para que possamos ter uma vida harmoniosa e feliz, sem estresse e realizando as metas propostas, é sensato dizer que não podemos priorizar coisas que contrariem a própria natureza humana.

10.1 O Tempo “O tempo é o único recurso comum a todas as pessoas”. Geralmente fazemos referência à algumas pessoas que parecem ter mais tempo que o resto dos “simples mortais”. Conseguem fazer tudo o que planejam, nunca estão atrasadas, nunca reclamam da falta de tempo, conseguem conciliar muito bem família, trabalho e lazer. É natural nos perguntarmos: “Qual o segredo destas pessoas?”, “O que elas têm que eu não tenho?”, “Como elas conseguem fazer tantas coisas da forma certa sem ficarem estressadas?”, “Como elas conseguem conciliar família e trabalho e ainda ter tempo para lazer, se possuem uma grande responsabilidade e fazem muitas coisas no trabalho?” Quebramos a cabeça tentando descobrir “qual o segredo destas pessoas”, sem nos darmos conta de que o recurso que elas utilizam – o tempo – é igual “a todos os mortais”. O que as diferencia é a habilidade em administrar este recurso. E digo mais uma vez, que administrar o tempo pouco tem a ver com a aplicação de técnicas. Provavelmente, a maioria destas pessoas nunca fez um curso de administração do tempo e

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Franciane Ulaf nunca leram livros na área. As técnicas que aplicam são próprias, criadas a partir da necessidade de adequação aos hábitos já existentes. Além disso, a qualidade de vida que muitos buscam não provém só da boa administração do tempo, mas do equilíbrio entre todos os fatores importantes da vida e de ações que não contradizem os princípios básicos da natureza. Por exemplo, se uma pessoa “mestre” na arte da negociação sempre tem a intenção de ganhar em cima dos que com ela negociam, mesmo que isso signifique uma enorme perda para a outra parte, por mais que durante um tempo esta pessoa esteja obtendo vantagem, cada um que negocia com ela o faz uma única vez e sai com uma péssima impressão. Há ainda a possibilidade de não obter sucesso em algum tipo de negociação onde a outra parte não esteja disposta a perder. Muitos autores da área de negociação já estão se baseando no modelo “ganhaganha”, onde o negociador faz de tudo para que as duas partes saiam satisfeitas da negociação, se isto não for possível, nada feito. Um aluno que durante todo o seu período escolar e universitário apelava para o “jeitinho” para passar de ano, pode sentir dificuldade na aplicação de conceitos elementares de matemática, raciocínio lógico e redação quando estiver envolvido com um problema no trabalho. O princípio da causa e efeito não pode ser desrespeitado, a não ser que você esteja disposto a arcar com as conseqüências. “É o único recurso que não pode ser acumulado, guardado, emprestado, vendido ou comprado”. É comum nos referirmos ao tempo como um bem quantitativo. Costumamos nos referir a ele com frases do tipo: “Preciso economizar tempo”, “Gastei tempo demais com essa atividade”,... O tempo é o único recurso da qual não podemos ter controle algum, não podemos parar, acumular, vender, etc. Portanto precisamos nos adequar a ele e conseguir administrar nossas vidas dentro do período que temos disponível, sem

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Planejamento Estratégico Pessoal reclamar, pois de nada adiantará, seu dia nunca terá mais que 24 horas! Pra que gastar energia se preocupando com “a quantidade” de tempo de que você possui? Vai mudar alguma coisa? Tom Peters faz referência à elasticidade do tempo – “Numa crise, um instante vira 1 mês. Se você duvida, experimente ver-se trancado dentro de um banheiro público do Rio de Janeiro.” – Pensar no tempo em termos de quantidade provoca estresse, cada segundo “perdido” numa concepção quantitativa – quanto mais coisas fizer dentro do menor tempo possível melhor – causa uma sensação de perda, insegurança, uma sensação de que algo mais poderia estar sendo feito naquele período “vazio”. Essa sensação causa preocupação, estresse. Administrar o tempo cronologicamente traz mais dor de cabeça do que a total desorganização. Tentar controlar todos os minutos do seu dia certamente o tornará escravo do tempo. Por mais que você realmente consiga realizar tudo o que está programado, não terá mais liberdade pessoal nenhuma, pois todos os seus passos já estarão pré-determinados. O enfoque dado ao tempo aqui, pouco tem a ver com a organização cronológica de agendas, já que esta tem se mostrado ineficaz. Portanto, pensar em tempo como “recurso” quantitativo é um hábito que deverá ser eliminado a fim de se obter maior qualidade na aplicação do que for aqui proposto. “Você acorda todos os dias com 86.400 segundos para serem utilizados, a forma como você os aproveitará é única e se não aproveitar, nada poderá ser recuperado.” O tempo é o mesmo para todos. Reclamar não vai adiantar nada. Ao invés de reclamar, procure se preocupar em descobrir como aplicar da melhor forma possível os 86.400 segundos de saldo diário na qual você possui. E aplicar da melhor forma não significa fazer muitas coisas, mas fazer as coisas certas, que realmente são importantes, e com qualidade. O

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Franciane Ulaf que importa de fato é quão bem você aplica o seu tempo e não quantas coisas você consegue fazer no menor tempo possível. Existem 2 tipos de pessoas “Cronos e Kairos”, as pessoas do tipo cronos estão preocupadas com quantidade, ficam malucas quando tem que esperar, numa fila, no trânsito, numa sala de espera. As pessoas do tipo kairos preocupam-se com a qualidade do tempo gasto. Fazer algo que trará benefícios futuros, que

é

importante

ou

que

simplesmente

torna

aqueles

minutos

“aparentemente inúteis”, como a espera num consultório ou no trânsito, em um momento especial. Este artigo aborda bem esta questão. Muitos já o conhecem pois circula na Internet há muito tempo, seu autor é desconhecido.

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Planejamento Estratégico Pessoal O Banco Imagine que você tenha uma conta corrente e a cada manhã você acorde com um saldo de R$ 86.400,00. Só que não é permitido transferir o saldo para o dia seguinte. Todas as noites seu saldo é zerado, mesmo que você não tenha conseguido gastálo durante o dia. O que você faz? Você iria gastar cada centavo, é claro! Todos nós somos clientes deste banco que estamos falando. Este banco se chama TEMPO. Todas as manhãs são creditados, para cada um de nós, 86.400 segundos. Todas as noites o saldo é debitado como perda. Não é permitido acumular este saldo para o dia seguinte. Todas as manhãs a sua conta é reinicializada e todas as noites as sobras do dinheiro se evaporam. Não há volta. Você precisa gastar no presente o seu depósito diário. Invista então no que for melhor: na saúde, na felicidade, no sucesso. O relógio está correndo. Faça o melhor do seu dia-a-dia.

O aproveitamento destes 86.400 segundos não significa quebrá-lo no maior número de pedaços possível e utilizar cada segundo (tempo cronológico), mas sim aproveitar esta cota diária para fazer o melhor possível de acordo com o que é mais importante para você.

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Franciane Ulaf 10.2 A Administração do Tempo

“A arte de administrar o tempo está no equilíbrio e propósito do que você considera importante para a sua vida.” Esta frase resume o porquê de algumas pessoas conseguirem gerenciar o tempo de forma exemplar e outras, mesmo aplicando técnicas, encontrarem muitas dificuldades. O que você faz com o seu tempo está intrinsecamente ligado aos seus propósitos e objetivos, principalmente a longo prazo. Mais especificamente ao seu projeto de vida e prioridades. Se você não tem um projeto de vida, ou não possui objetivos a longo prazo, é provável que encontre dificuldade em administrar o seu tempo. E a qualidade de vida proveniente da boa administração do tempo, só pode ser obtida quando são priorizadas “as coisas certas”. De que adianta anular a vida pessoal para trabalhar “mais e melhor”, se no tempo livre você não tem o que fazer, nem com quem dividir suas conquistas? Quem se encontra nesta situação geralmente trabalha “nas horas de folga”. Quem só se preocupa com as atividades rotineiras acaba não encontrando motivação para fazer as coisas. As coisas importantes geralmente referem-se a questões ligadas ao longo prazo ou permanentes (atemporais) como família, amigos, lazer. O equilíbrio entre todas as variáveis que são importantes para você, como trabalho, família, bens, dinheiro, contatos, amigos, esportes, reconhecimento, etc, unido a um bom planejamento a longo prazo constituem o cerne da administração do tempo e proporcionam qualidade de vida se bem gerenciados. Administrar o dia-a-dia sem uma visão de longo prazo não faz muito sentido. E geralmente quem se preocupa só com o aqui e agora se preocupa à toa, pois não está construindo nada para o futuro. Isto dá uma sensação de vazio, de que tudo o que se faz é vão, inútil, faz-se porque

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Planejamento Estratégico Pessoal precisa fazer e pronto, não haverá frutos das atividades realizadas. Essa ausência de perspectivas deixa a pessoa desmotivada, pois ela não encontra razões para o que faz no presente. A realização de atividades visando somente o dinheiro ou crescimento profissional proporciona uma motivação efêmera. Não que essas duas coisas não sejam importantes, mas se não houver uma integração equilibrada entre todos os setores da vida direcionados a objetivos de longo prazo, respeitando os princípios da natureza e os limites do próprio corpo, a motivação tende a durar pouco e as atividades passam a ser feitas por pura necessidade de curto prazo. Trabalha-se para ganhar o salário no final do mês, cumpre-se as obrigações domésticas, familiares, sociais mecanicamente, e assim por diante, não há ligação nenhuma com algo maior do que a satisfação de desejos e necessidades imediatas. “Ocupamos mais tempo buscando razões pelas quais não realizamos algo que desejamos do que para planejar aonde queremos chegar.” Uma desculpa comum das pessoas que não costumam planejar é de que estas não têm tempo para planejar. Na verdade, estão mascarando uma realidade da qual não querem enxergar. Não sabem nem o que planejar, não se conhecem o suficiente para tanto. Possuem uma vaga idéia de onde querem chegar (como o homem que queria ir a Fortaleza), mas não têm muita convicção, e muito menos sabem qual o caminho a seguir.

Parar para planejar significa parar para pensar na própria vida,

em seus valores, princípios, sonhos, fracassos, sucessos, aspirações, objetivos, qualidades e defeitos. Nem todos estão preparados para esta auto-análise profunda. Peter Drucker diz que para cada 1 minuto de planejamento, economiza-se 5 em execução. Quem não planeja, além de perder muito mais tempo com as atividades, acaba caindo na armadilha de buscar razões exteriores para a não realização. Culpa-se a família, o

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Franciane Ulaf governo, a falta de dinheiro, o destino, a má sorte... Os motivos estão sempre dentro de você, a responsabilidade é sempre sua, tentar encontrar desculpas externas para justificar os erros pessoais, a falta de ação, a negligência, só consomem um tempo precioso que poderia estar sendo mais bem utilizado tanto para planejar, quanto para desfrutar do “tempo extra” proveniente de uma boa administração do tempo. Analisar o passado é importante para entender o presente e planejar o futuro, mas preocupar-se com ele é perda de tempo. “Sempre existiram e continuarão a existir motivos que poderão limitar nossas ações. São dificuldades íntimas que se transformaram em desculpas verdadeiras, e escondem as reais razões pelas quais abandonamos os desafios”. O ser humano é perito em encontrar desculpas. Sempre há um motivo para justificar o porquê de seus erros, sejam causados pela ação errada ou pela falta de ação, sempre "há uma explicação". Geralmente, a base dessa justificativa é externa para isentá-los da culpa. A vida não é fácil para a maioria das pessoas e os desafios estão presentes em cada esquina. Fugir da responsabilidade por seus próprios atos, ou tentar evitar desafios não tornará a vida mais fácil. Justificar a falta de ação pelos obstáculos que seriam necessários transpor, é como dizer que quer plantar rosas, mas não quer que nasçam os espinhos. As dificuldades que encontramos são os espinhos do caminho e eles sempre estão lá. Onde não há desafios, há pouca recompensa, pouco esforço, pouca “graça”. Evitar os desafios naturais da vida é pedir para ter uma existência “sem sal”. Não são poucos os que reclamam que em sua vida “nada acontece”, tudo é “sem graça”, a rotina os consome. Freqüentemente são estes mesmos que fogem dos desafios, que acham tudo difícil, que procuram sempre fazer as coisas pelo caminho mais fácil. Os desafios e obstáculos

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Planejamento Estratégico Pessoal sempre existiram e sempre existirão, deixar de fazer o que você quer porque terá que enfrentá-los só contribuirá para tornar a vida ainda mais sem sal, se não insuportável. Os problemas na verdade, estão nos defeitos mais íntimos da pessoa,

não

nos

obstáculos

em

si.

Uma

pessoa

que

apresenta

características como perfeccionismo, insegurança e neofobia (medo do novo), provavelmente encontrará diversas razões externas para justificar o porquê de não seguir em frente, por exemplo, num projeto que exige alta

responsabilidade,

inovação,

contato

com

diversas

pessoas

e

comprometimento a longo prazo. Dificilmente admitirá os próprios defeitos como “culpados”, pois isto significaria assumir a culpa para si e responsabilizar-se consigo mesmo com a mudança interior. Acaba sendo muito mais fácil colocar a culpa nos fatores externos e isentar-se da responsabilidade. "De nada adianta conceber o futuro sem determinação para atingi-lo”. Fazer um planejamento por fazer de nada adianta. Há muitas pessoas que passam a vida planejando, adoram planejar, na hora de colocar em prática, mudam de idéia e fazem outro planejamento e assim por diante, acabam nunca realizando algo de fato. O exemplo do regime é clássico. Diz-se que quer emagrecer, determina-se um período, mas a maioria não persiste após os primeiros dias. Sem determinação, pouca coisa pode ser feita. É a determinação que define o nível de motivação que você terá na atividade determinada e sem motivação, é muito difícil levar adiante qualquer meta. Também não adianta pensar no futuro como um sonho distante e ficar esperando que as situações imaginadas ocorram como por mágica. O simples fato de querer que algo aconteça não é suficiente. Toda criança vive de vontades, quer tudo, mas como não tem a capacidade ativa de

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Franciane Ulaf conseguir o que quer, pede a terceiros e fica na dependência destes atenderem ou não o seu pedido. Muitos adultos ainda mantêm essa característica, querem muitas coisas, mas nada fazem para atingir seus objetivos, e quando vêem que não conseguiram o que queriam, culpam terceiros, como se a responsabilidade por suas vidas não estivesse em suas mãos. “Mais importante do que aprender a administrar o relógio é saber utilizar a bússola”. A simples aplicação de técnicas que têm o objetivo de “administrar o relógio” não resolvem o problema do tempo da maioria das pessoas que tentam aplicá-las. Isso ocorre porque poucos são os que sabem “utilizar a bússola”. Aplicar técnicas somente para administrar o dia-a-dia, as atividades rotineiras, resolver os problemas de última hora, pode ser útil para organizar a vida presente, mas não traz resultados, pois não há preocupação alguma com o futuro. Isso também elimina qualquer motivação, pois esta nasce justamente quando existem metas a serem atingidas, quando há algo a ser conquistado. Utilizar a bússola é, além de saber a direção, saber muito bem para onde está indo. Saber que está na direção certa não basta quando você não sabe o que irá encontrar quando chegar lá. Por isso, planejar o futuro é tão importante. Ter a certeza de que suas ações no presente resultaram em frutos gratificantes no futuro, saber que cada atividade que você faz hoje está interligada com algo maior, que é um projeto de vida, traz uma motivação real, que não pode ser encontrada em livros de auto-ajuda, palavras de um grande guru motivador, incentivos de terceiros ou treinamentos da empresa.

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Planejamento Estratégico Pessoal “Pessoas estressadas se recusam a reformular seus compromissos”. As causas do estresse são as mais variadas, entretanto, seja qual for o caso, ele sempre nasce dentro da pessoa. Várias pessoas podem passar pelas mesmas experiências, estar sob o mesmo tipo de pressão e cada um lidar com isso de uma forma diferente, inclusive umas se sentirem extremamente estressadas e outras lidarem de forma tranqüila com a situação. Portanto, não são os fatores externos que causam o estresse, mas a forma individual de cada um lidar com as situações. A maioria das pessoas estressadas coloca a culpa por sua situação em fatores externos. É o trânsito, o cônjuge, o chefe, a pressão do trabalho,... Dizem que querem muito se livrar do estresse a que são submetidos, mas se negam a reformular seus compromissos dizendo que “não têm saída”, “que a vida é assim mesmo”, que se deixarem alguns compromissos de lado terão sérios problemas, e assim por diante. Se o que causa o estresse são problemas internos, podemos concluir que estas pessoas não querem rever suas atividades pois terão que olhar para dentro de si e resolver seus problemas a partir da fonte. É claro que todo esse processo ocorre inconscientemente, ninguém que sofre de estresse, vai admitir de “livre e espontânea vontade” que na realidade seus problemas são internos, eles nem mesmo têm consciência disso. “Levar uma vida complicada é uma ótima maneira de evitar mudanças.” Ocorre com os estressados, analisados acima e também com pessoas que têm aversão à mudança, seja por comodismo, medo ou falta de iniciativa. Fazer tantas coisas que não se consegue tempo “nem para pensar” é um mecanismo de defesa. Passa-se a maior parte do tempo preocupando-se com as atividades rotineiras, em administrar os próprios

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Franciane Ulaf bens, em manter um estilo de vida sofisticado, assim acaba não sobrando tempo para pensar na própria vida, nos próprios problemas, e se isso não ocorre, a idéia que se tem é de que não há necessidade de mudança. O que também pode ocorrer pelo mesmo motivo é a pessoa que leva uma vida muito complicada, geralmente como mecanismo para “fugir de si mesmo”, de um auto-enfrentameto, dar a desculpa de que não tem tempo para pensar em mudanças, apesar de sua vida não estar boa, ela se nega a pensar, refletir sobre a sua situação, alegando falta de tempo. “Você não conseguirá arrumar tempo se não parar para reavaliar o que está fazendo.” A solução para os estressados e para os levam uma vida complicada é parar, e refletir sobre rumo que estão tomando, questionar se a vida que estão levando é aquela que gostariam de ter, se esta está de acordo com seus valores e princípios, planejar o futuro, enfim, dar aquela parada necessária que todos precisamos para fazer um balanço geral da vida e dos planos para o futuro. O problema é que quem se encontra em situação muito crítica, simplesmente diz que “não tem tempo para arranjar tempo”. Se estas pessoas reservassem alguns poucos minutos em determinado momento só para avaliar os estragos que estão fazendo em suas vidas, certamente elas

se

assustariam

e

decidiriam

parar

imediatamente

para

uma

reavaliação da vida. A vida exige de nós equilíbrio em tudo o que fazemos, é a lei da natureza. Quem chega ao ponto de não ter tempo para pensar em si mesmo, provavelmente está em desequilíbrio em algum setor de sua vida. Hoje em dia, o que encontramos em maior quantidade são pessoas que se dedicam demasiadamente ao trabalho, apesar de a “onda workaholic” já ter ficado para traz nos anos 80. Quando isto acontece, a família, o lazer, a saúde, os amigos são deixados de lado e com isso a qualidade de vida

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Planejamento Estratégico Pessoal vai por água abaixo e com ela o bem estar e a tranqüilidade de uma vida equilibrada. O estresse se instala, a saúde piora, a família reclama da ausência e falta de atenção e os momentos de lazer são raros. Mesmo assim, ainda escutamos estas pessoas dizerem que precisam arrumar tempo, precisam melhorar a qualidade de vida, precisam dar mais atenção à família, precisam cuidar da saúde, mas por mais que “tentem”, não conseguem o tempo desejado. Se este é o seu caso, experimente parar durante uns poucos minutos para imaginar a conseqüência do estilo de vida que está levando. Não são poucas as histórias de pessoas, principalmente homens, que tinham vidas altamente atribuladas e estressadas e de repente, por negligência ao próprio corpo, tiveram um enfarte, um derrame, um câncer. A saúde é a primeira a ser deixada de lado por esse tipo de pessoa. A família é a segunda. Muitas vezes a pessoa só percebe o desequilíbrio em sua vida quando algum ente querido sofre um acidente grave, o cônjuge pede divórcio, os filhos têm problemas com drogas, depressão, álcool,... “A compreensão de velocidade e tempo depende de como você está em matéria de opções sobre ações. O quanto você é dono do seu próprio tempo?” Enfim chegamos à compreensão do tempo em si. Por que para algumas pessoas o tempo parece passar tão devagar, e para outras sempre falta tempo para concluir suas atividades? A resposta não está na quantidade de coisas que cada uma faz, mas em quanto cada uma é dona de seu próprio tempo. Quem vive segundo o tempo dos outros não tem a opção de escolher o próprio caminho, e isso é muito mais comum do que imaginamos. Nem tudo o que é urgente é importante, seguir o fluxo das urgências do dia-a-dia é viver sem a opção de ações. Você escolhe agir,

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Franciane Ulaf mas alguém lhe pede para resolver um problema urgente, o que tem prioridade? Essa resposta vai depender dos seus valores e do quanto você exercita a integridade em cada situação. Não existem respostas certas, a compreensão do tempo é justamente saber distinguir as prioridades e agir com integridade em todas as situações. Dependendo das circunstâncias é mais coerente resolver a urgência do outro, em outras, pedir desculpas e dizer que naquele momento não pode atendê-lo, (mesmo sendo o seu chefe!), em qualquer decisão tomada, você deve se sentir bem com o seu posicionamento, se isso não ocorrer, você ainda não atingiu a integridade na tomada de decisões. Essa questão deriva do autocontrole: O autocontrole desacelera as coisas: AUTOCONTROLE: Meu próprio tempo. Meu próprio horário. ACELERADO: Viver segundo os horários dos outros. LENTO: Viver segundo meu próprio horário. A compreensão de velocidade e tempo depende de como você está em matéria de opções sobre ações – Você é dono do seu próprio futuro?

Ser dono do próprio tempo não significa ter um negócio próprio e não trabalhar para ninguém, significa ter um controle sobre as ações que o levam em direção ao seu futuro. Obedecer a ordens de um chefe, quando aquela atividade está dentro de um plano de carreira (feito por você), quando você está interessado no aprendizado que aquela tarefa proporcionará, e você compreende o resultado daquela ação no futuro, você está no controle. Mas se sua atividade profissional o chateia, você não encontra motivação para trabalhar onde está e aquilo nada tem a ver

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Planejamento Estratégico Pessoal com os seus objetivos de longo prazo, você não está no controle, além de estar perdendo tempo fazendo algo que não trará frutos no futuro. Quem escolhe o que fazer com o seu tempo é você mesmo, este controle lhe dá a autoconfiança para seguir em frente e conquistar os seus objetivos. Aí novamente caímos na questão: Quem não tem objetivos, não administra bem o tempo, pois não tem controle sobre suas próprias ações, não é dono do seu próprio futuro.

10.3 O que é administrar o tempo?

É equilibrar as atividades, metas, sonhos, obrigações, sentimentos, valores e motivações de forma coerente e dinamizada, mantendo o foco “no que é mais importante”. Administração do tempo basicamente significa equilibrar a vida. A maioria dos cursos e livros nesta área ainda não chegaram a esta conclusão. Transmitem dezenas de técnicas e métodos visando a melhoria da qualidade de vida através de um bom gerenciamento do tempo, mas o máximo que conseguem é transformar indivíduos em “robozinhos” autoprogramáveis, que seguem à risca seus planejamentos e acabam ficando neuróticos se perdem alguns segundos de seu precioso tempo com um filho ou cônjuge “pouco compreensivo”. Não há como atingir este objetivo, ou seja, equilibrar a vida, dando atenção somente a um determinado setor da vida, que geralmente acaba sendo o trabalho e a geração de riquezas. Normas, procedimentos, técnicas não devem ser aplicados com fim em si mesmo, devem fazer parte de algo muito maior, devem ser a conseqüência natural de uma organização geral da vida como um todo. Tudo o que é realmente importante para a pessoa deve estar interligado quando se fala em

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Franciane Ulaf administrar o tempo. Quando o foco está no trabalho, a idéia central é produzir o máximo possível, no menor tempo, com qualidade. Não se pode perder um minuto sequer. A lista de prioridades da pessoa pende só para um lado. Na verdade, ela só consegue enxergar as coisas urgentes, que estão saltando aos olhos, que precisam ser resolvidas imediatamente, e quando se permite uma folga, corre para o lado oposto, o da inutilidade, ficar sem fazer nada, perdendo um tempo precioso com a idéia de que está descansando, recuperando forças. Enquanto isso, as coisas realmente importantes para esta pessoa são negligenciadas e colocadas de lado, mesmo sem que ela perceba conscientemente. Isso ocorre porque a tendência é separar as áreas da vida como se fossemos pessoas diferentes e não um único indivíduo que possui vários papéis. Separa-se o trabalho, a vida pessoal, a vida social, a vida familiar como se a pessoa que chega em casa às 18:30 fosse a mesma que saiu às 8:30 para ir ao trabalho e não a que saiu do escritório às 18:00 para voltar pra casa. Se você se estressou no trabalho, chegará irritado em casa, se tem problemas em casa, isso vai refletir em seu trabalho, não há como dissociar os papéis que vivemos (profissional, pai, mãe, filho, marido, esposa, vizinho, etc). A vida é um todo constituído pelos papéis que vivemos e estes influem diretamente uns sobre os outros. Administrar o tempo, portanto, é conhecer as suas reais prioridades em todos os setores de sua vida e conseguir equilibrar tudo de forma que nada seja negligenciado. Impossível? Eu garanto que não! Mas para compreender isto, é preciso estar disposto a questionar seus hábitos e conceitos mais profundos e principalmente ter a coragem de mudá-los se for necessário.

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Planejamento Estratégico Pessoal 10.4 As 4 Gerações de Administração do Tempo

“Desmembrar os problemas e tentar resolve-los por partes é como tentar montar os fragmentos de um espelho quebrado para enxergar um reflexo verdadeiro. Depois de algum tempo, acabamos desistindo de ver o todo.” David Bohm “As pessoas com alto nível de domínio pessoal conseguem concretizar os resultados mais importantes para elas – na verdade, vêem a vida como um artista veria uma obra de arte. Fazem isso comprometendo-se com seu próprio aprendizado ao longo da vida.” Peter Senge O estudo da administração do tempo sofreu um grande avanço no século XX. Com a crescente complexidade das rotinas de trabalho e aumento dos compromissos, tanto profissionais, como pessoais, o gerenciamento do tempo tornou-se uma necessidade. Cada geração de pesquisas complementava e enriquecia a anterior, mas até a 3º geração, os melhores métodos e técnicas pareciam não funcionar para a maioria das pessoas. Os grandes pensadores da área de administração, como Peter Drucker, Tom Peters e Stephen Covey, começaram a criticar as técnicas propostas e apontar suas falhas, propondo uma nova abordagem para a administração do tempo, a 4º geração, que mais tem a ver com autoconhecimento e gerenciamento pessoal do que com técnicas e métodos impessoais. A 1º GERAÇÃO A 1º geração de administração do tempo, na verdade não referia-se à alguma “administração”, mas uma preparação e monitoração das

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Franciane Ulaf atividades diárias através de listas de afazeres, bilhetes e lembretes. Apesar de ser um método “arcaico” e básico, muitas pessoas ainda utilizam-se dele para “administrar” sua vida. A famosa lista ABC de prioridades é usada por muitas pessoas como a única técnica de administração do tempo. Apesar de a 1º geração apresentar algumas vantagens em relação às outras 2 que vieram na seqüência, como maior flexibilidade, maior adaptabilidade

às

circunstâncias

e

às

mudanças,

menor

nível

de

“escravização” às agendas e planilhas, as desvantagens ainda são muitas. As coisas estão sempre dando errado, as pessoas vivem desmotivadas, não são pontuais, não possuem prioridades, nem objetivos a médio ou longo prazo. A 2º GERAÇÃO A segunda geração ampliou a organização das listas e lembretes para

as

agendas

e

utilização

de

calendários

para

previsões

e

planejamentos. É possível ser pontual e não se perder em meio a tantas urgências do dia-a-dia dentro da segunda geração. A preparação aumenta a eficiência e a eficácia. A definição de metas aumenta o desempenho e os resultados. Essa geração já conseguia “prever o futuro”, não deixando a pessoa à mercê das ocorrências diárias, no entanto criou a ditadura da agenda. As pessoas que seguem a 2º geração tornam-se escravas de seus compromissos e tudo o que é externo ao “não programado” é visto como uma ameaça, inclusive as outras pessoas, que são vistas como um recurso

para

ajudar

a

atingir

os

resultados

desejados,

se

não

“funcionarem” desta forma, não servem, são “interrupções”, e portanto devem ser evitadas. As prioridades da segunda geração são definidas por metas externas, geralmente profissionais.

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Planejamento Estratégico Pessoal A 3º GERAÇÃO Para a maioria das pessoas, é o que há de mais avançado em administração do tempo. Apesar de a 4º geração já estar sendo pesquisada há mais de 10 anos, alguns autores ainda defendem a 3º geração como solução para os problemas de gerenciamento de tempo, em parte também por desconhecerem as inovações na área. Essa geração promoveu um enorme avanço nas pesquisas em administração do tempo por conciliar a organização da 2º geração à valores pessoais. Estabelece metas de curto, médio e longo prazo baseando-se nestes valores, que ditam as prioridades. Outros avanços foram em busca da eficiência e da responsabilidade pelos resultados, além de haver uma preocupação com o gerenciamento pessoal. As falhas desta geração não estão nos métodos, mas nos próprios princípios em que se baseia. Dá a sensação de que a pessoa tem o controle

total

da

situação

e

pode

tomar

a

decisão

que

quiser,

independente de princípios naturais ou forças externas. É como o indivíduo que insiste em plantar no inverno. Essa geração cega a pessoa para o ambiente externo. Ela se fecha e passa a acreditar que pode criar suas próprias leis, perde o poder de visão. Stephen Covey faz uma analogia interessante, ele diz que os paradigmas em que se baseiam nossas idéias, concepções e valores são como mapas. Não são o território, apenas descrevem-no. “E se o mapa estiver errado? E se quisermos ir a algum lugar em Detroit com um mapa de Chicago? Certamente vai ser muito difícil chegarmos ao local desejado. Podemos mudar nosso comportamento, dirigindo com mais eficiência, conseguindo um carro mais econômico, aumentando a velocidade, mas no final das contas tudo o que conseguiremos será chegar mais rápido ao lugar errado. Podemos mudar nossas atitudes – ficamos tão compenetrados tentando chegar a algum lugar que sequer percebemos que estamos no lugar errado. Mas o

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Franciane Ulaf problema nada tem a ver com comportamento ou atitude. O problema é que estamos usando o mapa errado.” A terceira geração também erra por ignorar as pessoas. Como o paradigma básico é o controle, tenta-se controlar as pessoas e quando isso não é possível, estas são ignoradas pois constituem problemas e interrupções. Essa geração não consegue compreender a interdependência da vida, prega uma independência utópica, onde tudo o que for externo e não colaborar com os resultados deve ser afastado e encarado como uma ameaça à eficiência. Os valores também são muito individualizados, não há compromisso com os princípios básicos, com o território. Nas palavras de Stephen Covey: “Quando o que valorizamos vai de encontro às leis naturais que governam a paz de espírito e a qualidade de vida, baseamos nossa vida em uma ilusão e estamos fadados ao fracasso. Apesar das mais modernas teorias sobre administração do tempo prometerem produtividade total, as pessoas começaram a perceber que a elaboração de agendas eficientes e o controle do tempo com freqüência são improdutivos. A concentração na eficiência gera expectativas que conflitam com as oportunidades de desenvolver relacionamentos mais ricos, de satisfazer as necessidades humanas, e de desfrutar momentos espontâneos diariamente.” Essa geração induz a uma hiperatividade e desequilibra tanto as prioridades, quanto os valores e relacionamentos. O estresse de muitas pessoas não se deve a falta de administração do tempo, mas a um excesso de controle. A pessoa passa a não ser mais dona do próprio tempo, vive em função de seus compromissos. Tom Peters comenta esse assunto com um exemplo pessoal: “Quando eu tinha 23 anos, estava sempre com pressa. Fazia questão de nunca chegar a um aeroporto mais de 15 minutos antes do horário do avião decolar. (sempre correndo = sentimento de importância pessoal). Eu tinha pressa, mas os aviões eram lentos e as viagens curtas. Hoje, os vôos são mais longos, os aviões mais velozes. Agora, porém, faço questão de chegar ao aeroporto 1 hora antes

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Planejamento Estratégico Pessoal do vôo. Resultado: vou mais longe. Vou mais rápido. Mas o fato de chegar cedo, significa que estou no comando de minha vida, o autocontrole faz com que eu tenha meu próprio tempo.” A 4º GERAÇÃO “Uma das definições de insanidade é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes. – Se a solução fosse o gerenciamento do tempo, certamente a profusão de idéias brilhantes já teria operado grandes mudanças.” Stephen Covey A quarta geração utiliza-se do que há de melhor das 3 gerações anteriores, mas transcende a simples administração do tempo e passa a abordar a liderança de vida. Baseada num paradigma que respeita os princípios universais, busca a qualidade de vida e não o controle sobre as atividades e metas. Isto torna-se secundário quando o foco desvia-se do controle e passa a buscar eficácia e bem estar. O desafio da 4º geração não é administrar o tempo, mas a pessoa, em vez de focalizar a atenção nas coisas e no tempo, as atenções se voltam para a preservação e melhoria dos relacionamentos e na obtenção de resultados. A quarta geração focaliza o que é realmente importante, respeitando os princípios naturais e diminuindo a incidência das urgências que consomem a maior parte do tempo de quem vive na terceira geração. Dentro desta perspectiva, torna-se impensável definir a velocidade e os detalhes técnicos antes da direção, economizar minutos quando podemos estar desperdiçando anos seguindo o caminho errado. Tudo o que você viu neste livro está embasado na 4º geração. Se você administrar sua vida priorizando os princípios naturais, considerando a interdependência da vida, e organizando seu tempo de modo a viver no

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Franciane Ulaf 2º quadrante, sua qualidade de vida dará um salto e você poderá desfrutar do prazer e da felicidade de administrar bem o seu tempo.

10.5 A organização do 2º quadrante

O segundo quadrante é onde se encontram as suas verdadeiras prioridades, as coisas que de fato importam em sua vida, as pedras grandes, que devem ser colocadas primeiro, para que depois você possa acomodar o resto sem cair na síndrome da urgência. Em primeiro lugar, é preciso definir bem qual o conteúdo do seu 2º quadrante. Se você já não fez isso no capítulo em que falamos sobre prioridades, reflita agora sobre o que é importante em sua vida. Esqueça tudo o que é urgente, quando estiver trabalhando na definição do 2º quadrante, finja que o tempo parou e pense somente nas coisas que são importantes para você. Nada no 2º quadrante é urgente, as coisas importantes, mas urgentes devem ser colocadas no 1º quadrante. Esqueça delas por enquanto. Após ter definido o 2º quadrante, é possível que você queira mudar alguns detalhes de seu projeto de vida ou suas metas, por ter uma visão mais clara agora. Utilize o planejamento anual feito no projeto de vida e sua planilha de metas. A organização do 2º quadrante deve ser feita de trás para frente. Tendo em mãos o planejamento anual, faça os planejamentos mensais (se achar que não é necessário fazer os 12 de uma só vez, faça pelo menos dos 3 meses seguintes para ter uma visão ampla

do

que

terá

pela

frente).

A

partir

das

metas

definidas

mensalmente, faça uma planilha semanal. O planejamento diário é limitado, fechado, a urgência e a eficiência ocupam o lugar da importância e da eficácia. Se você só consegue enxergar um dia em sua agenda, perde a visão de conjunto, perde o elo entre suas metas e acaba sucumbindo à

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Planejamento Estratégico Pessoal síndrome da urgência. Sua missão e visão devem estar sempre à vista para que nas atividades do dia-a-dia você não perca o foco que definiu para sua vida. Caso você tenha muitas atividades diárias e não possa abrir mão da utilização de uma agenda diária, imprima uma planilha semanal e mantenha dentro de sua agenda, o resultado pode ser muito mais útil do que a simples visão de conjunto. Muitos executivos perdem reuniões pela manhã porque ao olharem o planejamento do dia, o horário da reunião já passou, se utilizassem a planilha semanal veriam no dia anterior a reunião marcada para o dia seguinte.

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Franciane Ulaf PLANEJAMENTO MENSAL MÊS/ANO : Área da Vida

182

Metas

Especificações


Planejamento EstratĂŠgico Pessoal

QUI QUA TER SEG Horas

PLANILHA SEMANAL

SEX

SAB

DOM

Prioridades

183


Franciane Ulaf 11. Objetivos X Felicidade

O pesquisador David Niven, PhD, autor do livro “Os 100 segredos das pessoas felizes – Descobertas simples e úteis dos estudos científicos sobre a felicidade” levantou 100 características e comportamentos relacionados à felicidade e à realização pessoal. Destas, 15% relacionamse com a determinação de objetivos e estratégias e mais de 40% confirmam os argumentos defendidos neste livro. Dentre elas: 1. Use uma estratégia para alcançar a felicidade Qual a primeira condição para que um negócio dê certo? Um plano de negócios bem feito. Cada negócio precisa definir seu objetivo e em seguida criar uma estratégia para alcançá-lo. O mesmo acontece com as pessoas. Defina o que você quer e então use uma estratégia para consegui-lo. 2. Concentre-se naquilo que é realmente importante para você Não há nenhum sentido em disputar um jogo que você não está interessado em vencer. Faça com que sua vida e suas expectativas sejam reflexos profundamente pessoais daquilo que é realmente importante para você. O que é que você realmente deseja? Qual a meta pela qual vale a pena lutar e que está de acordo com o seu modo de ser? Não invista num objetivo por mera competição, pela expectativa que os outros têm em relação à você, ou por um modelo que lhe impuseram. Os objetivos são essenciais para que as pessoas se orientem no mundo e para que alcancem a satisfação na vida.

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Planejamento Estratégico Pessoal 3. A sua vida tem um propósito e um sentido Você não está aqui apenas para preencher um espaço ou para ser um figurante no filme de outra pessoa. Os estudos realizados com americanos mais idosos descobriram que um dos fatores mais importantes para a felicidade é saber profundamente que sua vida tem um propósito. Sem um propósito claramente definido, 7 entre 10 indivíduos sentem-se inseguros em relação a suas vidas. 4. Faça algo todos os dias As vezes os dias vão embora sem nos darmos conta do que pensamos e do que fizemos. Como se o tempo nos carregasse e não fossemos donos de nós mesmos. Assegure-se todos os dias de fazer algo, por menor que seja, em busca de seus objetivos – “uma viagem de mil milhas começa com um único passo”. 5. Tenha um objetivo Sem um objetivo, tudo perde o sentido. Você pode trabalhar 40 horas por semana, arrumar a casa, brincar com os filhos, divertir-se, tomar resoluções para o ano novo. Entretanto, se você não tiver uma razão para estar fazendo tudo isso, nenhuma dessas coisas terá qualquer sentido. Em uma pesquisa realizada com estudantes universitário fez-se uma comparação entre os estudantes que gostavam da vida que levavam e de seus estudos e os estudantes que sentiam-se insatisfeitos. Constatou-se uma diferença significativa: os estudantes do primeiro grupo tinham consciência

do

que

desejavam

da

vida,

enquanto

os

outros

iam

simplesmente tocando.

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Franciane Ulaf 6. Os objetivos devem estar alinhados entre si Os quatro pneus do seu carro precisam estar adequadamente alinhados. Se não for assim, os pneus esquerdos estarão voltados para uma direção diferente daquela dos pneus direitos e o carro não vai funcionar. Os objetivos também são assim. Precisam estar todos voltados para a mesma direção. Se seus objetivos estiverem em conflito uns com os outros, é possível que sua vida não funcione. 7. Não deixe que outras pessoas definam os seus objetivos Há muitas pessoas que escolhem seus objetivos com base naquilo que outros pensam. Para ser feliz, não é preciso ter sucesso em absolutamente tudo o que se faz. mas é essencial acreditar que se tem controle sobre a própria vida. Aqueles que sabem que são responsáveis por sua própria situação e por suas decisões sentem-se mais satisfeitos do que aqueles que têm a sensação de não segurar as rédeas da própria vida.

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Planejamento Estratégico Pessoal Considerações Finais

O planejamento hoje está tomando novas formas e ampliando seu leque de aplicação. Já não planeja-se somente a carreira, tornou-se necessário também planejar a vida como um todo. Pesquisas com pessoas das mais variadas nacionalidades revelam que os objetivos de vida são fundamentais para que o indivíduo sinta que sua vida tem significado, o que conseqüentemente, traz motivação e felicidade. Uma pessoa que acorda todas as manhãs ciente de seus objetivos e de que a cada dia faz alguma coisa por eles tem uma sensação e uma motivação diferente para com a vida do que uma pessoa que vai levando a vida nas costas, ao sabor do vento. Talvez seja este o segredo da felicidade que estes últimos buscam desesperadamente, pulando de galho em galho, buscando algo fora de si, enquanto os primeiros tiram os objetivos de dentro, seguindo em linha reta, com a convicção de que chegarão lá. A insegurança de um futuro incerto é substituída pela tranqüilidade de compreender o sentido da vida e saber que a cada momento se chega mais perto dos objetivos conhecidos. No entanto, ter objetivos somente não basta. É preciso planejá-los para saber o que se deve fazer ao longo do tempo para que no final do prazo estabelecido realize-se o objetivo. É preciso traçar o caminho das pedras, saber quais são os obstáculos, oportunidades, levantar os recursos necessários, criar uma estratégia. Pessoas motivadas, com objetivos de vida, com a convicção de seguir o caminho que lhes trará realização estão sendo valorizadas como ouro pelas empresas. Estas pessoas são capazes de trazer resultados, criar soluções, fazer a diferença, enquanto as que “apenas vivem” só executam

o

seu

trabalho.

As

empresas

que

investirem

no

desenvolvimento pessoal de seus funcionários, e principalmente, levá-los a descobrirem seus objetivos de vida terão um capital inestimável.

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Franciane Ulaf Funcionários automotivados, proativos e empreendedores, que sabem aproveitar seu potencial da melhor forma, poderão contribuir de forma fantástica com os objetivos da empresa. A

humanidade

desenvolvimento

está

pessoal.

começando

Um

tempo

a

onde

vivenciar sucesso

a

era

significa

do

auto-

realização, e as prioridades não são mais ditadas pelo meio, mas por cada um de nós. Um tempo onde as oportunidades e escolhas são infinitamente maiores do que as disponíveis aos nossos antepassados e a liberdade já não é mais uma utopia ou privilégio de poucos, mas algo na qual ainda temos que aprender a lidar e utilizá-la da melhor forma possível para atingirmos nosso objetivo maior que é a felicidade.

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Franciane Ulaf COMO ENTRAR EM CONTATO COM FRANCIANE ULAF

Franciane Ulaf ĂŠ consultora em desenvolvimento e planejamento pessoal. Atua como palestrante e coach para desenvolvimento e planejamento individual e grupal.

Contato com Franciane Ulaf: pep@francianeulaf.com Palestras e cursos em empresas: eventos@francianeulaf.com PĂĄgina na web: http://www.francianeulaf.com/pep

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