fau. mackenzie daniela sopas
orientadores ângelo cecco. marcelo barbosa
sp. brasil 2018
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ESPAÇOS À ESPREITA
UMA INVESTIGAÇÃO NA AVENIDA NOVE DE JULHO
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DANIELA SOPAS
ESPAÇOS À ESPREITA Uma investigação na Avenida Nove de Julho
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Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie
Orientadores: Àngelo Cecco (monografia) Marcelo Barbosa (projeto)
São Paulo, jul 2018
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Agradeço à minha família pelo amor e cuidado em cada etapa da minha vida, e por me proporcionarem tantas oportunidades que me formaram como pessoa e profissional. À todas as minhas amigas de formação que estiveram presentes desde o início compartilhando as angústias e alegrias, em especial Lorena, Patrícia, Isabella e Bruna. Agradeço o companheirismo e parceria ao longo deste anos de faculdade. E pelos próximos que ainda estão por vir. Aos docentes, responsáveis pelo estímulo ao conhecimento e por serem fonte de inspiração.
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À todos que de alguma maneira participaram da minha trajetória e colaboraram para o meu aprendizado neste início como arquiteta e urbanista. Obrigada.
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INTRODUÇÃO
01. TERRITÓRIO
01.1. CONSTRUÇÃO DA CIDADE 01.1.1. PLANOS PARA UMA CIDADE 01.2. PLANO HORIZONTAL
02. ESPAÇOS À ESPREITA
02.1. PAISAGEM CONSTRUÍDA
03. OUTRAS INTERPRETAÇÕES
04. INSTANTES CONSTRUÍDOS
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04.1. INVADIR 04.2. TRANSPOR 04.3. EXPANDIR 04.4. INTERVENÇÃO 01 04.5. INTERVENÇÃO 02
05. BIBLIOGRAFIA
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“Disse: ‘É tudo inútil, se o último porto só pode ser a cidade infernal, que está no fundo e que nos suga num vórtice cada vez mais estreito.’ E Polo: ‘O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar perceber quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço’” (Italo Calvino, As cidades invisíveis) 8
Em meio a paisagem que se estende na Avenida Nove de Julho, no centro de São Paulo, em um trecho de 400 metros estão os viadutos Júlio de Mesquita Filho, Martinho Prado, Major Quedinho e Nove de julho. Quatro planos horizontais que expõe uma cidade de múltiplas faces, compostas por camadas, sobreposições de processos resultantes de transformações econômicas e sociais. Espaços gerados como subproduto de operações de justaposições, como se na falta de um encaixe perfeito entre partes que se superpõem sobrassem vãos, interstícios ocultos ou encobertos pela confluência de dinâmica que envolvem o ambiente urbano, restos disfarçados pela agitação e dinamismo da cidade. Estes espaços, uma vez notados, parecem pulsar como se aprisionassem em si, como latentes, um anseio próprio de inserção nesta confluência de situações. Espaços passivos, à espera de uma ação que os incorpore a dinâmica da metrópole e os retirem da ausência. Espaços sobretudo potenciais, inseridos em pontos de convergência de situações urbanas. O projeto é, portanto, encarado como uma forma de investigação acerca da constituição do ambiente metropolitano, explorando, sobretudo, a inserção dos viadutos, uma singularidade da paisagem urbana, na dinâmica da cidade.
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01. TERRITÓRIO “O mesmo acidentado da topografia que determinou também este outro traço característico e já referido, que são os viadutos, (...) o modelado do terreno o impõe; a cidade acabará com um verdadeiro sistema complexo de vias públicas com um verdadeiro sistema complexo de vias públicas suspensas que lhe emprestará um caráter talvez único no mundo. Com os viadutos veio o os túneis (...) e será este mais um traço original de São Paulo que, com o outro, fará dela uma cidade dividida em dois planos sobrepostos, cidade de dois pavimentos” (1)
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1. PRADO JR, 1972, p.135)
O desenvolvimento urbano da Cidade de São Paulo, no decorrer de sua história, sempre exigiu a utilização de estruturas para vencer os obstáculos geográficos de seu sítio, consolidando os principais caminhos que ligavam os diferentes núcleos urbanos e que permitiam a circulação de pessoas e mercadorias vindas de diferentes rotas para o florescente comércio local. Após a intensificação dos fluxos de pessoas e veículos surgiu os primeiros viadutos, em substituição aos cruzamentos em nível. Na segunda metade do século XX, a cidade experimentou seu maior ciclo de desenvolvimento, com explosão econômica, demográfica e do uso do automóvel como meio de locomoção, agravando os conflitos de mobilidade e exigindo grandes investimentos em soluções mais complexas para fazer frente aos crescentes congestionamentos. “O plano horizontal é único e está rente à superfície do planeta. Feito por eixos, ele tece e tende a uma malha cada vez mais
2. BUCCI, 2005, p.47
obreposta e fechada: por isso, apresenta-se desde que surge, como um plano.” (2)
Este é o contexto onde foi construída a imensa maioria dos viadutos, plano horizontal da cidade abordado por Bucci, cujos espaços sob suas estruturas foram sendo apropriados de diferentes formas, principalmente por moradias precárias, diante do agravamento da crise habitacional. É necessário antender as demandas por espaços urbanos e permeáveis bem situados para recepcionar serviços, equipamentos e atividades diversas exercidas por organizações sociais. 1. Planta geral da capital de São Paulo. Fonte: Arquivo Histórico Municipal, SP 11
01.1. CONSTRUÇÃO DA CIDADE Decorrente do crescimento populacional e da expansão da cidade de São Paulo, ocorreu nos anos de 1920 uma crise nos transportes e no sistema viário, como Zmitrowicz e Borghetti explicam. Além disso, enfrentava-se uma crise na administração das políticas públicas, sendo necessário a reestruturação do território da cidade como um todo. “Ao crescimento da demanda de transporte público não correspondia a capacidade do sistema de bonde elétricos, que acabou por estagnar na década de 1930.” (3)
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Nesse contexto, São Paulo torna-se uma megacidade. Marcada por intervenções de projetos urbanos que foram responsáveis pelo desenho desta hoje, muitos dos planos desenvolvidos para a cidade não foram implementados devido as dificuldades enfrentadas pelas políticas públicas, financeiras, sociais, entre outras.
3. ZMITROWICZ, 2009, BORGHETTI, 2009, p.22
4. ZMITROWICZ, 2009, BORGHETTI, 2009, p.11
“De 1950 a 2000 São Paulo cresceu de uma cidade que com seus arredores não ultrapassava 2,7 milhões de habitantes para uma metrópole de 16 milhões de habitantes – com dez milhões 15 habitando o seu município-capital.” (4)
01.1.1 PLANOS PARA UMA CIDADE Neste cenário, floresce uma concepção urbanística proposta por Prestes Maia, na qual este reuniu e reaproveitou parte de planos já existentes na prefeitura e no governo. Isto posto, por volta de 1930 é desenvolvido o Plano das Avenidas, juntamente com Ulhôa Cintra, e com
2. Um dos objetivos do plano era desafogar o trânsito no perímetro em torno da Praça da Sé. A imagem mostra a grande quantidade de carros estacionados no marco zero da cidade na década de 1920. Fonte: FFLCH-USP
parte dos planos já existentes. O Plano das Avenidas apresentava-se como diretrizes para vencer os obstáculos físicos, auxiliar a expansão urbana, ampliar as redes de transporte coletivo, diminuir os congestionamentos que começavam a surgir, e solucionar os demais problemas urbanísticos na época.
3. Diagrama do Plano de Avenidas.. Fonte: FFLCH-USP
Considerando a escala e importância deste plano, compreende-se que orientou a remodelação do sistema viário nas épocas seguintes. Nota-se como o crescimento do número de automóveis transformou as relações do espaço urbano e configurou o traçado da cidade, deixando cada vez mais de lado a escala do pedestre. O plano proposto por Prestes Maia implantou-se de forma efetiva em 1940. Porém, antes deste projeto viário e urbano, haviam sido formuladas diversas propostas como o Plano de Irradiação de Ulhôa Cintra, a Série de melhoramentos para São Paulo, entre outras. Na imagem pode-se ver um diagrama teórico do Plano das Avenidas, apresentando como este se inseriria no território. Este projeto fundamentou-se em anéis concêntricos, avenidas radiais e perimetrais, com o intuito de interligar núcleos urbanos distantes entre si. O plano parte do projeto de um anel viário em torno do centro da cidade, este é conhecido como “Perímetro de Irradiação”, também é elaborado o “Sistema Y”, onde a partir destes o plano visava sanar os problemas relacionados aos planos já existentes.
4. Planta geral dos melhoramentos. O mapa mostra as intervenções feitas no centro (1938-1945). Fonte: FFLCH-USP
Quanto as avenidas radias é elaborado um traçado que parte do anel viário em sentido as demais áreas da cidade, conectando as avenidas perimetrais. Já a se-
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5. Construção do Vd. Major Quedinho em 1930. Fonte: Augusto Veloso obras históricas.
6. Construção do Vd. Martinho Prado em 1936. Fonte: Augusto Veloso obras históricas.
7. Vd. Major Quedinho como cartão portal da cidade de São Paulo nos anos 30. Fonte: Augusto Veloso obras históricas.
gunda perimetral foi desenhada a partir do traçado da ferrovia, e a terceira perimetral acompanhou os desenhos dos rios e córregos, como o rio Tiête, Pinheiros e Tamanduateí, surgindo assim os traçados das marginais. Nota-se que o desenvolvimento dessas novas avenidas de tráfico expresso criou barreiras e rupturas urbanas, onde opta-se por 17 implantações de pontes e viadutos para auxiliar a superar essas barreiras e distancias. Durante a gestão de Prestes Maia na prefeitura, de 1938 a 1945, diversas obras previstas pelo seu plano foram iniciadas e em grande parte concluídas, dentre elas a parte aérea do primeiro anel perimetral, ou perímetro de irradiação, conectando a Praça da República á Sé, por meio de transposição de três valores como observa Ângelo Bucci. “Quando, vindo pela avenida São Luís em direção ao Centro Velho, atravessa-se a rua da Consolação desde ali há uma sucessão de viatuos: o 9 de julho (trezentos metros) e o variante Major Quedinho (trezentos metros), ambos sobre o antigo leito do córrego Saracura ou a atual avenida 9 de julho; o viaduto Jacareí (duzentos metros), sobre o antigo córrego do bexiga, e depois da rua Maria Paula (trezentos metros), o viaduto Dona Paulina (duzentos e ciquenta metros) e o variante Brigadeiro Luís Antônio (duzentos metros), sobre o antigo leito do Itororó. Ou seja, desde a frente da Biblioteca Municipal Mário de Andrade até os fundos da Catedral da Sé, ao longo de um percurso que soma 1050 metros, apenas durante trezentos metros, na Maria Paulo, se tem os pés no chão, nos demais 750 metros estamos caminhando no ar.” (5)
Os três viadutos citados, Nove de Julho, Dona Paulina e Jacareí, foram construídos sob a idéia de que um dia dariam passagem ao metrô por seus estrados inferiores, uma vez que seria muito difícil encontrar outra ligação conveniente entre a cidade leste e a oeste.
5. BUCCI, 2005, P.120
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8. Projeto do Vd. Nove de Julho desenvolvido durante a gestão de Prestes Maia. Fonte: Arquivo Sp.
6. ZWITROWICZ, 2009, BORGHETTI, 2009, P.77
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9. Projeto do Vd. Nove de Julho com o metrô em passagem em seu interior. Fonte: Arquivo Sp.
7. ROGERS, 2010, P.35.
Em 1956 Prestes Maia é convidado pela prefeitura para realizar um “Anteprojeto de um Sistema de Transporte Metropolitano Rápido”. Maia propõe um sistema metroviário, mas insiste na finalização de seu Plano de Avenida. Zmitrowicz e Borghetti (2009) em seu livro classificam a implantação de novas principais vias no período de 1950 a 2000 conforme o objetivo desses projetos. Tem-se assim: a ligação Cento-Pinheiros, Centro-Aeroporto, Ligação-Oeste, Avenidas ao longo de ferrovias e avenidas nos vales dos rios Tietê e Pinheiros, completando o segundo anel perimetral. “No Plano das Avenidas de 1930, no sentido leste-oeste, com exceção da linha férrea, cuja a remoção e substituição por boulevards era preconizada [...], não havia elementos a serem aproveitados para facilitar a travessia do centro. Assim, a diretriz utilizou o traçado antes destinado a Segunda Perimetral, contornando o centro meridional.”(6)
A implantação dos projetos, tem como resultado a remodelação e expansão do sistema viário da cidade de São Paulo depreende que o resultado dos projetos desde o início da expansão da cidade, foi a divisão de bairros consolidados, desapropriação de extensas faixas urbanas, intensa diminuição de projetos voltados a escala do pedestre, surgimento de barreiras urbanas, aumento intensivo do automóvel particular. “O automóvel foi o principal responsável pela deteriorização da coesa estrutura social da cidade [...] destruíram a qualidade dos espaços públicos e estimularam a expansão urbana para bairros distantes. [...] A rua, antes um local de brincadeiras e encontros, é tomada pelos carros.” (7)
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10. Prestes Maia concluiu a construção da Avenida Nove de Julho, que liga o centro aos Jardins na zona oeste. A via foi implantada sobre o córrego Saracura. Fonte: Arquivo Sp.
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11. 12. Construção do Vd. Nove de Julho em 1947. Fonte: Arquivo Sp.
13. Vista superior dos Vd Nove de Julho e Major Quedinho. Fonte: Arquivo SP
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14. Vista a partir da Avenida Nove de Julho para o Vd. Major Quedinho. Fonte: Arquivo Sp.
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15. Vista Vd. Major Quedinho. Fonte: Arquivo SP
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16. Vista a partir da Av. Nove de Julho para o Vd. Martinho Prado e Julio de Mesquita Filho
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17. Planta do trecho entre os Vd. Julio de Mesquita Filho e Nove de Julho
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01.2. PLANO HORIZONTAL Se faz possível a busca por uma abordagem atual, de modo que se possa compreender como intervir em um cenário cuja conformação se mostra volúvel. Para isso, serão de extrema importância os estudos realizados por Milton Santos e resgatadas por Ângelo Bucci em sua tese de doutorado, que tem como objetivo obter recursos para recuperar o sentido no propósito da arquitetura, já que a cidade parece tê-lo perdido. A análise proposta se desenvolve a partir da identificação de elementos construtivos da paisagem, estratégia que se fará importante nessa pesquisa.
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Abra-se espaço assim, para as definições encontradas por Milton Santos aos termos horizontalidades: extensões formadas de pontos que se agregam sem descontinuidade; e verticalidades: pontos no espaço que, separados uns dos outros, asseguram o funcionamento global da sociedade e da economia. O horizontal abriga a noção de região, é o território, o encontro vertical exime o papel de função. Logo, é correto que se tomem dois recortes de modo inseparável, visto que, complementares, são componentes essenciais do espaço. Ângelo Bucci em sua tese de doutorado propõem, então, resgatar e aplicar a noção de Milton Santos em um campo mais palpável. Nesse sentido propôs um diálogo entre o plano horizontal, caracterizado pela continuidade, e os eixos verticais descontínuos que se distribuem sobre o território da capital paulista.
18. As diferentes cotas da cidade de São Paulo produzem um plano horizontal espesso composto por diversas camadas, distribuídas entre diferentes níveis, e geralmente carentes de conexão vertical.
8. BUCCI, 2005, P.47
“Esse plano horizontal movediço, em São Paulo, é espesso. Sua espessura matriz está na geografia em que a cidade se implantou e por isso tem cerca de 20 metros, ou seis pavimentos, de altura. As pontes consagraram essa espessura incomum. Mas o plano cresce e ganha maior espessura abaixo e acima da sua superfície espessa. [...] O vigor desse plano horizontal movediço e espesso dissolve cada um dos eixos verticais. Mas também as extensões dos seus eixos horizontais que o compõem dissolvem a própria cidade para mesclá-la a outras cidades, regiões e países. Toda a infra-estrutura, que permite o “funcionamento” da cidade, está disposta nesse plano horizontal. A espessura do plano é maior do que aquilo que se instala na superfície, ela cresce para dentro da terra, subterrânea, e acima, aérea, mas está sempre obediente ao plano horizontal da superfície do planeta — ferrovias, estradas, hidrovias; ou tubos, cabos elétricos, fibras óticas; ou rotas aéreas e órbitas de satélites — tudo está numa malha sobreposta e faz parte desse mesmo plano horizontal definido pelo nível do chão, que em São Paulo é particularmente espesso.” (8)
Podemos defini-los em um eixo horizontal e outro vertical, que simbolizam todos os deslocamentos que acontecem no tecido urbano. O plano horizontal na cidade de São Paulo possui uma espessura, de maneira que é nela onde se encontram pessoas, redes de comunicação e infraestruturas, como os viadutos. De acordo com Bucci, os viadutos são uma singularidade na cidade de são Paulo. Se as ferrovias são como uma rua mecanizada, os viadutos são como uma rua inteiramente construída, onde não era possível. Essa percepção da cidade como um todo nos permite entender como ocorrem as movimentações, de modo que se percebe que o carro, geralmente, é o protagonista no cenário urbano. Somadas, topografia e
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19. Mapa das vias elevados e dos viadutos existentes na regiĂŁo da Avenida nove de julho, revelam o plano horizontal espesso da cidade.
filosofia rodoviarista nos levam a entender que as transposições feitas pelo pedestre na cidade de São Paulo são muitas vezes caóticas, o que significa que aquele que caminha no nível do solo encontra poucas opções de conexões entre cotas de alturas iguais ou diferentes. Aqui, a abordagem que nos interessa é o estudo do plano horizontal espesso que a cidade nos oferece, e que deve ser dotado de projetos que possibilitem a conexão entre estruturas diferentes. Entender a cidade em camadas é o que nos permite eleger o recorte urbano que dá voz ao projeto desenvolvido. Urge assim, a necessidade de que se enxergue na cidade de São Paulo a quantidade de camadas horizontais que compõe este plano. Em outras palavras, existem dinâmicas latentes passíveis de descoberta em todas as cotas, desde o nível dos rios até o ponto mais alto do espigão. Talvez as áreas mais densas da cidade sejam as que abrigam maior quantidade de áreas esquecidas, cobertas por pontes e viadutos em sua incessante expansão horizontal, mas, por abrigarem intensas aglomerações, tem seus vazios mascarados. O fato é que a cidade ainda carece dessa leitura.
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Uma referência que pode ser feita com a intenção de compreender uma diferente abordagem, ainda que na escala metropolitana, é o ensaio realizado pelo grupo paulista METRO Arquitetos acerca da cidade de São Paulo. O projeto do escritório paulistana traz uma discussão acerca da cidade, sobre sua diversidade, complexidade e sentido. Uma das consequências dessas dimensões e da velocidade de suas transformações é a impossibilidade de apreendê-la ou defini-la e, portan-
20. Estabelecimento de malhas e suas interserções. Fonte: METRO Arquitetos
to, a impossibilidade de pensar em desenhar ou projetar a cidade. A arquitetura tem se dedicado ao desenho de espaços particulares e pontuais (edifícios, praças, estações) em que se condensam pensamentos sobre a cidade, mas que não atuam sobre sua totalidade.
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21.22. Presença de torres em São Paulo como polos verticais. Fonte: METRO Arquitetos.
A proposta dos arquitetos é uma malha regular ortogonal de 4,25 km x 4,25 km sobreposta à cidade, no cruzamento de seus eixos, pontos de concentração de atividades. Nesses pontos serão construídas grandes torres, com uso e forma flexíveis, adaptadas aos desejos, história ou vocação da região em que se inserem. Segundos os arquitetos, os nós dessa rede poderão ser torres comerciais, universidades, torres de telecomunicações, de habitação, multifuncionais, estações multimodais de transportes - conjugando helipontos, hidroportos, metrô, estacionamentos – etc. Podem tanto consolidar usos já existentes como incentivar novos desenvolvimentos.
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02. ESPAÇOS À ESPREITA “Cidades feitas de fluxos, em trânsito permanente, sistema de interfaces. Fraturas que esgarçam o tecido urbano, desprovido de rosto e história. Mas esses fragmentos criam analogias, produzem inusitados entrelaçamentos. Um campo vazado e permeável sobre o qual transitam as coisas. Tudo se passa nessas franjas, nesses espaços intersticiais, nessas pregas.” (9)
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A cidade avança em um constante estado de transformação. Infraestrutura de transporte e comunicação, redes de abastecimento e escoamento, edificações, empenas, entres. Os fatos urbanos multiplicam-se em uma operação sem fim. O que antes a suportava torna-se insuficiente. A densidade do ambiente urbano revela-se como a consolidação do imaginário de metrópole, tal imagem, traduzida para a realidade, expõe uma cidade de múltiplas faces, composta por camadas, sobreposições de processos resultantes de transformações econômicas e social. Tal cidade, quando vista de cima em um vôo aéreo, mostra-se como uma massa totalitária e única, onde espaços livres, ou não edificados, parecem já terem sido esgotados. Neste instante, qualquer espaço possível de ser ocupado esvai-se em uma mancha contínua.
9. PEIXOTO, 1996, p.87
23. Cartografia “A velocidade, “a partir da vista aérea da Av. Nove de julho.
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Superado tal momento, ao se penetrar por suas vias, percorrendo-as em um ritmo contrário àquele imposto pelos fluxos da metrópole, revelam-se espaços à espreita. Extraem-se da congestão urbana “momentos de atenção”. Espaços gerados como subproduto de operações de sobreposição, como se na falta de um encaixe perfeito entre partes que se superpõem sobrassem vãos, interstícios camuflados, ocultos ou encobertos pela confluência de dinâmicas que envolvem o ambiente urbano.
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Estes espaços, uma vez notados, parecem então pulsar como se aprisionassem em si, como latências, um anseio próprio de inserção nesta confluência de situações que caracterizada o ambiente urbano. Espaços passivos, à espera de uma ação que os incorpore a dinâmica da metrópole. Espaços sobretudo potenciais, inseridos em pontos de convergência de situações urbanas.
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24. Percurso atravĂŠs dos fluxos da metrĂłpole e de suas diferentes cotas.
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25. Vd. Julio de Mesquita Neto - Trecho de conexĂŁo entre a Rua augusta e Av. Nove de julho.
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26. Trecho de cruzamento entre Av. Nove de Julho e Vd. Julio de Mesquita Filho.
27. Trecho de cruzamento entre Av. Nove de Julho e Vd. Major Quedinho.
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28. Circulação Vertical no Vd. Major Quedinho.
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29. Trecho de cruzamento entre Av. Nove de Julho e Vd. Nove de julho. “É como se a cidade saltasse de colina em colina, nas palavras de Azis Ab’Saber, ou como se fosse uma cidade de dois pavimentos -várzeas e patamares secos - conforme Caio Prado Junior “ (10) 10. Bucci, 2005,P.47
30.31. Trecho de cruzamento entre Av. Nove de julho e o Vd. Major Quedinho.
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02.1. PAISAGEM CONSTRUÍDA Os baixios de pontes e viadutos se apresentam como áreas residuais e esquecidas, porém o corrente estudo indaga a necessidade de desvendar a potencialidade destes espaços para assim mudar o caráter negativo que estes apresentam. Para isso, foca na observação nos viadutos onde busca partir de uma análise da situação atual deste, para elaborar uma proposta projetual que revitalize e transforme estes restos de cidade em locais dinâmicos que qualifiquem seu entorno. Igor Guatelli aborda uma preocupação em refletir os baixios dos viadutos como espaços que devem sofrer uma “estratégia invertida” para alçarem seu protagonismo. “Os baixios dos viadutos se apresentam como não-lugar, como áreas residuais, como sobras, como o avesso, o negativo da cidade e, para transformar essa “ausência” numa presença, espaços de passar-por em espaços de estarem, é preciso trabalhar como que num “contra-projeto”, numa estratégia invertida, no contrapelo de fluxos metropolitanos. Mas, apesar das dificuldades, o projeto apresentado, ao colonizar territórios insuspeitados, tornando-os protagonistas, dando-lhes voz.” (11)
11. GUATELLI, 2008, P.7
Aqui estão alguns dos maiores e icônicos cruzamentos de avenidas e viadutos compreendidos no centro expandido de São Paulo, espaços à espreita a espera de intervenções que os incorporem na dinâmica urbana: -av. João Paulo VI X Dr. Arnaldo e rua Oscar Freire; -av. Nove de Julho X vd. Júlio de Mesquita Filho e Martinho Prado; -av. Nove de Julho X vd. Nove de Julho e Major Quedinho;
32. Ringue de boxe sob o Viaduto do Café em São Paulo. Fonte: Roberto Cattani
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-av. Vinte e Três de Maio X vd. Jaceguai; -av. Vinte de Três de Maio X vd. Brig. Luís Antônio e Dona Paulina; -Corredor Norte-sul X av. Bernardino de Campos e rua do Paraíso; -av. Nove de Julho X rua São Carlos do Pinhal; -av.Vinte e Três de Maio X av. Rubem Berta x av. Ibirapuera e rua Sena Madureira; -av. dos Bandeirantes X av. Santo Amáro X Corredor Norte-sul X av. Ibirapuera Nota-se que a grande maioria deles surgem de uma prerrogativa projetual do Plano de Avenidas: Utilizar o fundo dos vales. Dessa forma, inúmeros rios e riachos foram canalizados, dando lugar às avenidas de escoamento entre o centro e a periferia 40
33. Estação Sumaré. Av. João Paulo VI x Dr. Arnaldo e rua Oscar Freire
Dentre esses cruzamentos, foram elegidos dois de especial interesse para uma análise mais aprofundada que abrangem a av. Nove de Julho: - (a) Viaduto Julho de Mesquita Filho: cruzamento entre a avenida Nove de Julho e os viadutos Martinho Prado e Julio Mesquita Filho; - (b) Viaduto Nove de Julho: cruzamento entre avenida Nove de Julho e os viadutos Major Quedinho e Nove de Julho; O motivo das escolhas desses viadutos é a quantidade de camadas urbanas que abrangem (temos viadutos com galerias e passagem para metrô e outros que transpõe ruas em níveis diferentes), seu porte e entorno construtivamente adensado.
34. Av.
Vinte e Três de Maio x Vd. Jaceguai;
intervenção: avenida nove de julho
terminais de ônibus
vias_ recorte entre os vd. julio de mesquita e vd. nove de julho
ponto de ônibus corredor de ônibus ciclovia
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intervenção: avenida nove de julho predominância de usos por quadra_ Diversidade latente da ocupação do solo, o que valida uma proposta de uso misto para a intervenção. Entre os viadutos encontram-se uma predominância de edifícios de uso misto, térreo comercial e superiores habitacional.
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residencial vertical
áreas verdes
comércio e serviço
garagem
residencial e comércio
equipamentos públicos
sem predominância
intervenção: avenida nove de julho cheios e vazios _ Apesar de se tratar de uma região central, a área está em plena transformação. É possível notar terrenos com potencial de construção no perimetro dos viadutos.
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intervenção: avenida nove de julho legibilidade _ Gabarito alto, massas próximas e adensamento de edifícios.
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intervenção: avenida nove de julho vista aérea_massa totalitária e única, onde espaços livres, ou não edificados, parecem já terem sido esgotados.
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03. OUTRAS INTERPRETAÇÕES Diante do esquecimento e da congestão que conduziram a história de São Paulo, o entendimento fundamentado neste estudo evidencia a força das relações inter-elementares no sentido de conceder a cidade. E uma vez que a função do arquiteto concerne ao ato de propor espaço a tais relações, a intervenção aqui proposta surge como uma tentativa, em forma de ensaio, de aplicar o modo de atuar estabelecido frente à disfunção desenvolvida pela metrópole no processo de superação da topografia. A fim de que a intenção adquirisse maturidade, alguns conceitos e projetos foram de grande contribuição no processo. 46
Em uma tentativa de enfrentar o ostracismo da área e estabelecer uma dinâmica no baixio no Viaduto do Café, o arquiteto Igor Guatelli propõe um projeto de intervenção, neste se encontra como preexistência uma academia, uma biblioteca e um apoio a comunidade local desenvolvidos pelo ex-boxeador Nilson Garrido. Isto posto, é realizado investigações conjuntas com Nilson Garrido e com a comunidade local, para assim ampliar o programa e propor uma arquitetura que requalifique o espaço.
“Propõe uma arquitetura despojada, enxuta, ‘portátil’, um quase nada, mas muito potente: ringues deslizantes, arquibancada momentânea, conteiners deslocáveis e mezaninos leves propiciam a pronta reconfiguração dos espaços (instant city).” (12)
12. GUATELLI, 2008, p.7
O viaduto do café está inserido na região central da cidade de São Paulo, o baixio deste viaduto antes de sua ocupação pela academia Garrido, se resumia em um local vazio e sem uso. Segundo Guatelli, o local que antes era historicamente indesejável ao receber a estrutura de um lugar esportivo e cultural se “metarfoseou”, qualificando o ambiente.
40. Situação atual do viaduto. Fonte: Igor Guatelli
Este projeto de reformulação do baixio do viaduto do café, tomou como princípio enfatizar o programa já existente no local, porém ao implantar estes busca combinar os espaços de forma mais fluida e programática, possibilitando maior flexibilidade do programa. Este baixio possui 2200m², que em sua totalidade foram abordados de maneira a acolher uma interação entre o definido e o não-definido, como aborda Guatelli. Percebe-se que este projeto buscou enfatizar e aprimorar as características e a preexistência já presentes no território. Devido, Guatelli compreender isto como uma estratégia de enfrentamento dos espaços, que evidenciam as marcas latentes no local.
41. Maquete física do projeto para o Viaduto do Café. Fonte: Igor Guatelli
De modo a esboçar uma resposta à abordagem por ele proposta, Ângelo Bucci utilizou um percurso no Centro de São Paulo como inspiração para que fossem sugeridas quatro operações. O caminhar realizado foi suficiente para que o arquiteto mapeasse alguns momentos da cidade, desde o congestionamento de pedestres em vias como a Rua 25 de Março ou a ladeira General Carneiro até a manifestação da topografia e se deus 20m de amplitude pelos edifícios da Rua São Bento ou pelo antigo vazio geográfico hoje ocupado pelo viaduto do chá. Com
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intuito de “atravessas paredes”, as quatro ações que se sustentam na forma dos verbos mirar, transpor, invadir e infiltrar, atuam simultaneamente para realizar a possibilidade de conciliação espacial entre os dois territórios cindidos, noções que referenciam a construção projetual desta pesquisa.
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Mirar: Fundamentado na geografia do patamar filme frente à paisagem da várzea, encoraja a abertura dos edifícios como recuperação da imagem do mirante. Transpor: Propor conexão das diferentes cotas da “cidade vertical”, ocasionando a multiplicação do “chão” da cidade. Invadir: Invasão aérea, desde o patamar de terra firma sobre a várzea. “Transpor é evitar, negar, em oposição, invadir é fundir, concordar. A ideia é que os vinte metros verticais, que serviram para segregar a cidade formal e informal, sejam agora vinte metros de espessura de uma única cidade” Infiltrar: Criação de caminhos e galerias subterrâneas a partir da várzea, de modo a expandir a cota baixa sob o patamar elevado. 42. As quatro operações de Ângelo Bucci. Fonte: Grupo SP.
43. Axonométrica da inserção das novas pontes no vale de Le Flon. Fonte: Bernard Tschumi Architects.
No âmbito da dissolução das prumadas verticais em meio ao plano de camadas que compõe a cidade, também é válido que se considere o trabalho de Bernard Tschumi na concepção de uma nova série de intervenções de Le Flon, em Lausanne, na Suíça. Vencedor de um concurso realizado em 1988, propõe vencer a topografia, os edifícios são usados como passagens/ligação entre pontos extremos da topografia.
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Ao longo do vale no eixo norte-sul na periferia da cidade no século 20, Bernard projeta uma série de pontes, que trabalham como “geradores urbanos”, no total de quatro, que proporcionam o indivíduo a habitar a cidade não apenas no nível da cidade histórica e com conexões através de rampas, escadas e elevadores, cria um novo uso para o vale, possibilitando apropriação deste como uma continuação da cidade histórica. As pontes não têm um uso pré-determinado, mas são locais que proporcionam ao usuário um ambiente propicio a receber diversas atividades. 44. Maquete da Bridge City, pontes como conectores verticais e horizontais. Fonte: Bernard Tschumi Architects.
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45.46. Realização, posterior ao projeto da Bridge City, de uma das pontes, atuando como estação intermodal. Fonte: Bernard Tschumi Architects.
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04. INSTANTES CONTRUÍDOS Tendo em vista o modo através do qual a ocupação se deu em seu encontro com a vale da Nove de Julho, um trecho de 400m entre os vd. Julio de Mesquita Filho e vd. Nove de Julho foi identificado ali palco para novas possibilidades. A sobreposição de históricas conformações devido ao controle exercido pela urbanização sobre a natureza fez com que as dinâmicas se sucedessem de forma descontínua. O plano horizontal da cidade naquele ponto, apesar de seus mais de 14 m de espessura visível, expõe somente duas camadas, a dos viadutos e a da avenida, desconexas pela altura. 52
Ainda que as vias e os espaços públicos se ofereçam de forma limitada ao pedestre, é possível identificar a dinâmica presente no entroncamento, fruto do adensamento da região central. Dinâmica que expressa sua potencialidade reprimida, barrada pelo limbo ocasionado pelas condições geomórficas e dos caminhos obtidos por seu desenvolvimento. Desta forma, encontra-se uma São Paulo que nega aquilo que havia sido vital: a topografia, combinado à escolhas de planejamento de governos anteriores, no qual o automóvel é priorizado. O resultado se estampa em inúmeros pequenos momentos da metrópole, manifestados através de baixios de viadutos, entres, vales abandonados.
Nesse sentido, o estudo busca organizar por meio
de baixios de viadutos e sítios vazios na avenida, uma disposição linear de equipamentos: um núcleo condensador e incentivador de apropriação urbana e o uso das cotas mais baixas da avenida, melhorando o passeio público e desenvolvendo ao eixo o caráter que um ela buscou ter. Para isso, valho-me da noção de Ângelo Bucci e proponho, então, a releitura das quatro operações de “como atravessar paredes” no âmbito da apropriação dos espaços à espreita do sistema viário. Com intuito de inserir tais espaços na dinâmica urbana, as três ações que se sustentam na forma dos verbos: - Invadir: Invasão da infraestrutura de viadutos, criação de um intermediário e ativação da cota do viaduto; - Transpor: Conexão dos diferentes níveis da cidade, sejam eles verticais ou horizontais; - Expandir: Expansão da atuação da cidade.
47. trecho em que o plano horizontal flutua na avenida nove de julho
1300m
250m
Atuam simultaneamente para realizar a possibilidade de concialiação entre os dois territórios cindidos (viaduto e avenida), noções que dão voz a construção projetual desta pesquisa.
300m
250m
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Scanned with CamScanner
04.1. INVADIR acometer, adentrar, apoderar-se, apossar-se, assenhorar-se, conquistar, ocupar, penetrar, possuir.
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Os viadutos são espaços públicos residuais, abandonados e estigmatizados como paradigmas de degradação e de desvalorização urbana, não só no próprio local, mas também no seu entorno imediato. A operação do invadir tem como consequência o apoderamento dessas áreas residuais e esquecidas, o estudo indaga a necessidade de desvendar a potencialidade destes espaços para assim mudar o caráter negativo que estes apresentam. Criação de um nível intermediário, principal elemento articulador, bem como a invasão do nível do viaduto, como possibilidade de conquistar a vista da cidade, ao mesmo tempo cria-se uma novas possibilidade de percursos e usos.
+ 49. Estratégia de intervenção
48. Invadir
04.2. TRANSPOR transpassar, trespassar, travessar, traspassar, atravessar, cruzar. Conexão dos diferentes planos da cidade, sejam eles verticais ou horizontais. No sentido vertical, a conexão das diferentes cotas e no plano horizontal a ligação das lâminas, Dessa forma, uma série de transposições é sugerida de forma a complementar o entroncamento, possibilitando novas apropriações tanto verticais como horizontais. O resultado é a criação de novas percursos ao indivíduo que caminha, fazendo com que ele encontre, em meio ao seu caminhar, novas possibilidades.
50. Transpor
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04.3. EXPANDIR alargar, ampliar, amplificar, aumentar, estender. “Espaços aberto à interpretações e apropriações múltiplas e não correspondentes, capaz de absorver e registrar as marcas deixas sem, no entanto, adquirir um sentido que pudesse ser adotado como mais adequado, e, no momento seguinte, capaz de voltar à situação, e no momento seguinte, capaz de voltar à situação de siginificante, à espera de novos significados, interpretações, intervenções por parte dos usuários ativadores” (13)
Expansão da atuação da cidade a partir da utilização dos espaços residuais. Em meio à tal situação, essa expansão nasce como catalisador das possibilidades, não assumidas, utilizando os viadutos como hospedeiras.
13. DERRIDA, in GUATELLI, 2008, p.185
Scanned
Os núcleos programáticos atuam como propulsores da ativação social, além disso, propem aproximas pontos desconexos da cidade criando novos percursos, trabalha na produção de espaço que propiciem interações e apropriações de outro caráter. Espaços de fluxo constante fundem-se a lugares que clamam por permanência provocando a transgressão de uma logica estritamente funcional. Espaços que abrem novos tipo de apropriações e temporalidades.
51. Invadir
52. Aplicação das quatro operações de Bucci na intervenção.
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avenida nove de julho
53. Aplicação dos conceitos desenvolvidos: Invadir, transpor e expandir.
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avenida nove de julho
pré existência
58
invadir
59
transpor
60
expandir
61
construção total
biblioteca centro comunitário para imigrante
62
midiateca
63
64
corte. avenida nove de julho. esc. 1:2500
viaduto julio de mesquita filho | 1966
viaduto martinho prado | 1930
viaduto major quedinho | 1930 65
viaduto nove de julho | 1947
avenida nove de julho
intervenção 01 | viaduto julio de mesquita filho e martinho prado
PESSOAS APROPRIAÇÃO
PESSOAS TRANSPOR
BIBLIOTECA
LIVROS
AUDITÓRIO
FOYER
ARTE
CAFÉ
LITETATURA
FILOSOFIA
COMUNITÁRIO
PRAÇA CIDADE ENCONTRO
ABRIGO
ABRIGO
IMIGRANTES REFÚGIO
VER
TRANSPOR
IMIGRANTES REFÚGIO
CAFÉ
ENCONTRO
RESTAURANTE
HORA
66 PESSOAS APROPRIAÇÃO PERCURSO CIDADE PRAÇA
VER
intervenção VER 02 | viaduto major quedinho e nove de julho MIRANTE OBSERVAR PAISAGEM
ARTE
EFÊMERO
GALERIA
ESCULTURAS FOTOGRAFIA
ARTE
PESSOAS APROPRIAÇÃO BIBLIOTECA
LIVROS
AUDITÓRIO
FOYER
ARTE
CAFÉ
LITETATURA
FILOSOFIA
MIDIATECA ARTE
VISUAIS SOM IMAGEM
ADM.
AUDITÓRIO
PESSOAS TRANSPOR
VER
CINEMA APROPRIAÇÃO 24H ARTE COMUNITÁRIO
PRAÇA CIDADE ENCONTRO
ABRIGO
ABRIGO
IMIGRANTES REFÚGIO
TRANSPOR
IMIGRANTES REFÚGIO
FOYER
APROPRIAÇÃO
CAFÉ
ENCONTRO
RESTAURANTE
HORA
67
68
69
04.4.1. INTERVENÇÃO 01 Vd. Julio de Mesquita filho Vd. Martinho Prado Biblioteca + Centro comunitário para imigrantes
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A estrutura proposta para a intervenção, cria um nível intermediário entre a cota dos viadutos e da avenida nove de julho, propõe uma invasão e expansão de uma cidade que nunca aconteceu. Assim, a intervenção busca assumir o papel catalisador, propondo estruturas necessárias para que uma nova dinâmica seja possibilidade, como a biblioteca e o centro comunitário, as ligações entre esses espaços, propõe uma indeterminação, ou seja, que esse espaço de conexão crie novas possiblidades de encontro e acontecimento e se distanciem de espaços internos, fechados e internos, e sim conte com uma participação constante da cidade e dos que habitam o lugar.
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72
implantação. biblioteca e centro comunitário imigrantes. esc. 1:750
17 19 21
16
20
15 9
14
8
13
6
3
4
5
10
2 7
1
11 12
22
planta superior. biblioteca e centro comunitário imigrantes. esc. 1:750
18
1. acesso 2. revistaria 3. acesso secundário 4. café 5. sanitário 6. auditório (50 pessoas) 7. auditório (50 pessoas) 8. pesquisa 9. acervo 10. sala autosuficiencia 11. sala autosuficiencia 12. restaurante 13. praça coberta 14. acesso centro comunitário 15. adm. 16. ambulatório 17. juridíco 18. área comum habitacional 19. sanitários 21. café 21. mirante 22. praça descoberta
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6 12
8
5
10
4
10 11
3
7
10 10
2
1
10 10 9
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planta mezanino. biblioteca e centro comunitário imigrantes. esc. 1:750
9
13
1. sala de estudo 2. sala de reunião 3. sala de reunião 4. equipe 5. adm. 6. direção 7. refeitório 8. área de serviço 9. área comum 10. unidade 3 pessoas 11. unidade 2 pessoas 12. unidade 5 pessoas 13. restaurante
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corte aa - intervenção 01 esc. 1:750
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corte perspectivado - intervenção 01
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04.4.1. INTERVENÇÃO 02 Vd. Major Quedinho Vd. Nove de Julho Midiateca
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O segundo trecho de intervenção vem como um convite. Sair do plano da avenida nove de julho ou do viaduto e assistir uma palestra, uma exposição temporária, um filme ou observar a paisagem através do mirante. Nessa transferência, ocorre uma primeira transição da escala da cidade para escala do museu. Durante o percurso, os sons e agitação vindos da rua vão se atuando, até que se chega ao espaço de intervenção elevado, de frente para a cidade, que se abre numa perspectiva totalmente renovada. Liberando-o do confronto demasiadamente próximo e direto com a rua. A escala e o tempo mudaram.
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implantação. midiateca
1. acesso principal 2. café 3. auditório 100 lugares 4. sanitários 5. exposições 6. mirante 7. acervo multimídia 8. acervo. 9. adm. 10. mirante 11. auditório 60 lugares 12. espaço de brincar 13. espaço de discussões 14. restaurantes 15. acesso secundário 15. cinema ao ar livre
3
16
1
11
4 2
7 8
12
5
9 10 13
6 14
15
planta superior. midiateca
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corte bb - intervenção 02 esc. 1:750
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det 01. midiateca esc. 1:50 1 2 3 4
1. placa cimentícia 2. cobertura verde 3. guarda corpo metálico 4. GKD fixado na estrutura 5. caixilho metálico com vidro transparente 6. guarda corpo em vidro fixo 7. piso em madeira 8. piso com fechamento em grelha metálica 9. forro em grelha metálica
5
6
84
7 det 02. fixação fechamento esc.1:10
8 9
planta
85
85
86
87
87
05. BIBLIOGRAFIA
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ÁVILA, João Filipe. O espaço sobrante: o caso dos viadutos. Dissertação (Mestrado integrado em arquitetura) - Faculdade de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação Universidade Lusófona do Porto. Porto, 30 setembro 2013. BUCCI, Angelo. São Paulo, razões de arquitetura: da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes. São Paulo: Romano Guerra, 2010. BRAGA, Milton. “Infra-estrutura e projeto urbano”. Tese de Doutorado São Paulo, FAUUSP.2006. SOLÀ-MORALES, Ignasi. Territórios. Barcelona: Gustavo Gili, 2002. SOLÀ-MORALES, Manuel. Espaços públicos e espaços coletivos. In: HUET, Bernard et al. Os centros das metrópoles: reflexões e propostas para a cidade democrática do século XXI. São Paulo: Terceiro Nome, 2001. p. 101-107 SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996. GUATELLI, Igor. Condensadores urbanos - baixio viaduto do café: Academia Cora Garrido. São Paulo: MackPesquisa, 2008. GUATELLI, Igor. Arquitetura dos entre-lugares. Sobre a importância do trabalho conceitual. Senac São Paulo, São Paulo, 2012. PEIXOTO, Nelson Brissac. Paisagens Urbana. Senac, São Paulo, 1996. PRADO JR, Caio. Evolução política do Brasil e outros estudos. Editora Brasiliense. São Paulo, 1972.
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89
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