Modelo os capianos

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DANIEL DEUSDETE (organizador)

POSTAIS DA VILA CAP-XIV 1ª edição

Brasília

2016.


Copyright ©2016 Todos os direitos reservados pelos autores PROIBIDA A REPRODUÇÃO POR QUALQUER MEIOS, SALVO EM BREVES CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE. Revisão Beth e Jácomo Arte da capa e ilustrações Capiano 1 Capiano 2 Fotos Amaral

Produção Editorial Os Semeadores Contatos com o autor contato@ossemeadores.com.br

Impresso no Brasil, Brasília-DF Novembro de 2016.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Deusdete, Daniel OS CAPIANOS - As aventuras da turma do CAP-XIV. - Brasília: Os Semeadores, 2016. 146 p. : il. ; 21cm. Bibliografia: p. 160 ISBN 978-85-68083-XX-Y 1. Biografias 2. Crônicas 3. Contos I. Título

Índice para Catálogo Sistemático: 1. Biografia xxx: 922

CDD xxx


DEDICATÓRIA: Dedicamos este livro às seguintes pessoas especiais: - A Deus, em primeiro lugar - Aos nossos professores e mestres. - Aos nossos familiares e amigos. - Aos que vivem sem preconceito, que exalam amor pelo próximo. - A você que ama uma bela história. - Àqueles que entendem que é possível escrever os principais textos de nossas vidas nos momentos mais difíceis de nossa existência. Obrigado por existirem. Atenção: o texto acima não é real; serve apenas de modelo que pode ser substituído por outro à escolha da Equipe Organizadora.


FOTOS DA VILA POSTAL – 1984


VIVER A AVENTURA CAPIANA DE CONQUISTA É TRANSFORMAR AS ÁREAS FRÁGEIS DA SUA VIDA EM TRAMPOLIM PARA SALTOS EM GRANDES ALTURAS!


FOTO DA FORMATURA – 11/12/1986


SUMÁRIO

DEDICATÓRIA: ....................................................................................... 3 SUMÁRIO ................................................................................................... 7 EDITORIAL ............................................................................................... 9 PREFÁCIO .............................................................................................. 13 INTRODUÇÃO ....................................................................................... 15 Elizabeth ................................................................................................... 17 Sérgio Jácomo .......................................................................................... 21 Carlos Manoel Amaral Soares ............................................................. 23 Daniel Deusdete – “Massa!” ................................................................. 28 Daniel Fontenele...................................................................................... 34 Júnia........................................................................................................... 37 Marcos Vaospasse Cocco ...................................................................... 41 Itzel Pérez Ortíz ...................................................................................... 45 Rogiero Victor de Andrade .................................................................. 48


Leandro ..................................................................................................... 56 Tiango ........................................................................................................ 61 Carlos Henrique Caldeira Jardim ...................................................... 65 JOSร CARLOS ....................................................................................... 73 Carlos Cantarin....................................................................................... 82 Walmiro Gonรงalves Costa .................................................................... 86


EDITORIAL Estamos muito felizes de estar apresentando aos amados leitores uma obra excepcional que é “OS CAPIANOS - As aventuras da turma do CAP-XIV”! Ficamos mais felizes ainda por que, de certa forma, pudemos participar de todo o processo de construção deste livro, diretamente e podendo ser edificado com o testemunho aqui compartilhado. Tenho certeza que você ficará admirado do começo ao fim desse livro por que embora sejam histórias de cada um de nós, no final veremos que ela faz parte de algo muito maior e que não está em nosso controle. Somos feitos de retalhos. Pedacinhos coloridos de cada pessoa que passa pela nossa vida e que se vão costurando em nossa alma. Nem sempre doces, nem sempre agradáveis, mas sempre nos acrescentando e nos fazendo ser quem somos. Em cada encontro, em cada contato, estamos ficando mais completos... Em cada retalho, uma vida, uma lição, um carinho, uma saudade... que nos tornam mais pessoa, mais humanos, mais gente, mais completos.


Eu penso que é assim mesmo que a vida se faz: de pedaços de outros caboclos [saudades do Ramba...] que vão se tornando parte da gente também. E a melhor parte é que nunca estaremos prontos, finalizados... Haverá sempre um retalho novo para adicionar à nossa alma. Portanto, fica aqui o registro, neste livro, a cada um dos amigos do CAP XIV, que faz parte dessa história de vida que permite engrandecer nossa história com os seus magníficos retalhos. Que nós também possamos deixar pedacinhos de nós mesmos pelos caminhos e que eles possam ser parte das nossas histórias. E que assim, de retalho em retalho, possamos nos tornar, um dia, um imenso bordado de 'nós' tramados na urdidura do Pai eterno. Em breve nos veremos para sermos completados pelo que é Perfeito. Além das histórias de aventura, amor e de esperança, alegrias e tristezas, você também encontrará nessas páginas diversas reflexões edificantes e proveitosas para a vida como um todo. Ainda queremos aproveitar o ensejo para comunicar aos amados leitores que as versões impressas e eletrônicas poderão


apresentar alguma diferença na disposição gráfica do texto devido a sua endentação, mas o conteúdo é o mesmo. Agradeço sua compreensão e paciência. Atenção: o texto acima não é real; serve apenas de modelo que pode ser substituído por outro à escolha da Equipe Organizadora.

Editora Os Semeadores.



PREFÁCIO Este é um livro que descreve inúmeras reflexões envolvendo o caminhar capiano. Essas histórias são fruto da vivência e experiência de diversos homens .... Este é um livro que se deve ler com a perspectiva da certeza da amizade e da união de todos na caminhada do ser humano. Todo homem carece da direção no seu viver. O poeta bíblico nos ensina que é “se o Senhor quiser que faremos isto ou aquilo” (Tg 4.15). Assim é que na trajetória de vida dos capianos se manifestou o propósito de vida em cada um, conduzindo o seu coração ao verdadeiro sentido da vida. Em meio a todos os percalços e vicissitudes, cada um de vocês pode recomeçar, porque aprendeu a olhar para frente, sempre avante, sem jamais desistir. Quando se pensa em ensinamentos não se pode partir apenas do humano. “Superar” é um verbo. Significa ser vitorioso, vencer. Mas, quando se pensa no tipo de experiências de vida, não se poderá descrevê-la como fruto de uma vitória conquistada. A vitória é resultado do esforço e do empenho de cada um, o qual tem em si mesmo o dom da graça de Deus em todas as coisas. As histórias narradas na forma de lições de moral irão te ajudar na busca de uma vida na qual você possa se inspirar xxx


Boa leitura! Deus traga a você alegria, saudades, o texto aqui é apenas para exemplificar, pois a autoria será do professor Osmar. Atenção: o texto acima não é real; serve apenas de modelo que pode ser substituído por outro à escolha do Prof. Osmar, ou outra pessoa à escolha da Equipe Organizadora.

Professor Osmar Mestre em letras.


INTRODUÇÃO

Sobre a origem destes livro: Este é um livro que se originou no coração capiano dos alunos do Curso de Administração Postal, da Turma do Cap XIV. Você estará sendo colocado diante de várias áreas ou retalhos que ao longo dos tempos foi formando uma grande e bela colcha de retalhos tramada, como já dissemos, na urdidura do Pai Celestial. Dentro de cada retalho, teremos histórias de vidas com suas missões, visões, valores que foram sendo desenvolvidos, criados, acompanhados e realizados ao longo de mais de 30 anos. Temos dito aos nossos filhos que algumas conquistas na vida são muito complicadas e representam muito quando conquistadas, por exemplo: 1. A esposa. 2. Um lar, isto é, a casa ou apartamento. 3. Um trabalho. 4. Uma formação escolar, preferencialmente nível superior. 5. Um carro. 6. A igreja ou um sistema de vida no qual desenvolvemos nosso espírito. 7. Um ministério. Além disso, sem dúvida alguma, um caráter proveniente de um coração amante da verdade, da justiça e da misericórdia.


POSTAIS DA VILA Todas elas são presentes de Deus para nós, mas não caem do céu, devem ser buscadas em oração, trabalho, luta e muita fé em Deus. Com nossa disposição vinda do alto e com honestidade e paciência prosperaremos em tudo e a cada dia melhoraremos e. nossa tendência, é melhorar ainda mais. Além disso, você também encontrará uma palavra de fé, de encorajamento, de certeza e de convicção de que não estamos aqui por acaso, nem somos frutos das circunstâncias aleatórias do universo. Tudo na vida tem um propósito, uma função e você já descobriu a sua ou o seu propósito? Leia este livro e conheça a nossa história que se perpetuará em nossos filhos, frutos de nossa geração. Palavras finais da introdução. Agora, com vocês cada um de nós. Tenha paciência e respeito por seu colega, mas pode zuar à vontade e também chorar, rir, se emocionar... Agradecemos sua compreensão e paciência com relação ao que precisa de melhorias. Ajude-nos! Atenção: o texto acima não é real; serve apenas de modelo que pode ser substituído por outro à escolha da Equipe Organizadora. Equipe organizadora

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Elizabeth “Quando tudo parece dar errado, acontecem coisas boas que, se tudo tivesse dado certo, não teriam acontecido.” Renato Russo.

Vim para Brasília tão logo conclui meu curso de engenharia civil em BH. Vinte e dois anos e um panorama econômico nada favorável, fizeram-me tentar a vida longe de minha família. Aprovada no concurso de Administrador Postal, cheguei a Brasília com toda minha esperança nesse futuro emprego. Essa esperança é que me fez não retornar logo após ter enfrentado um interminável percurso de Pioneira por cenários cada vez mais áridos e ter identificado umas casinhas ao longe, logo após de uma imensa área alaranjada de barro – a Vila Postal. Na verdade, além da esperança, pesou o fato de não dispor de dinheiro para a passagem de volta. Mas, ainda bem que não desisti, essa primeira impressão foi logo dissipada pelos novos colegas que o destino me deu. “Garotos bons” como diz nosso eterno xerife, coberto de razão. O companheirismo, nessa fase difícil esmaeceu as agruras do lugar, do dinheiro curto (a bolsa era de 1,5 salários mínimos

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POSTAIS DA VILA para cobrir todas as nossas necessidades), da pressão por bons resultados escolares e a postura militar que nos era imposta. Não ocorreu apenas a dissipação da má impressão, os colegas se tornaram amigos eternos e valorosos, daqueles que nunca especemos e que quando reencontramos nos enchemos de alegria e da sensação de nunca termos nos separado. Nesse tempo comecei a me ver como pessoa, através desses amigos, aprendi muito a meu respeito. Fizemos teatro, organizamos um coral, aprendi a patinar, continuei a jogar vôlei, fizemos almoços comunitários, festinhas, excursões e passeios (até em garupa de moto andei, coisa inimaginável morando com meus pais). Na escola, descobri habilidades não cobradas de um engenheiro e também como podemos ser versáteis. Na Vila, aprendi os afazeres domésticos, a cuidar de uma casa, a gerenciar a minha vida financeira, a cozinhar, a dançar e até tive meu primeiro namorado. Aliás, casei com um colega de CAP, de quem já me separei, mas com quem tive dois filhos e a quem devo ter permanecido em Brasília até hoje, mesmo tendo saído da Empresa em 1993, quando passei a ser Perita Criminal da Polícia Civil do DF (hoje já estou aposentada). Foi a fase da passagem da “infância” para a fase adulta. Pude curtir a adolescência, mas com a responsabilidade de quem não tem o escudo protetor da família e deve arcar pelos seus atos.

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CAP-XIV São tantas recordações daquele tempo. Eleger uma seria difícil, principalmente, uma publicável. Antes de passar a relembrar alguma passagem, tenho que enaltecer e agradecer a felicidade de ter convivido na mesma casa da Edna (minha “mãe”, apesar de mais nova), Júnia, Marly e Julieta. Não poderia desejar um grupo melhor. E, também, a Janete com quem trabalhei na ECT e que é madrinha do meu caçula e me convidou para ser madrinha da sua linda filha Ana Cecília. Bom, agora, vamos a um “causo”: Certo dia, descontentes com a qualidade da comida servida no bandejão, em que chegamos a localizar alguns insetos e pedrinhas, e cansados de protestar, decidimos radicalizar um pouco. Já havíamos feito uma enorme pirâmide com os copinhos de gelatina, que foi servida estragada. Nada aconteceu e, como sempre, quando o Diretor da ESAP foi fazer sua inspeção, o almoço foi o de gala, arroz, feijão, estrogonofe de frango, maionese, salada e pudim de caixinha. Tendo ele concluído que a comida era boa. Então, marcamos um determinado dia e boicotamos o almoço. Quase todos (unanimidade nunca se obtém), foram almoçar em outro lugar e a comida sobrou em muita quantidade. Dessa vez, houve resultado. Nos dias seguintes, em represália,

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POSTAIS DA VILA reduziram a quantidade servida e a comida não foi suficiente para todos... affff. Aluno só se ferra. Mais uma lembrança, essa da escola e para relembrar o saudoso professor Guy que nos deixou em agosto deste ano. Na última matéria que ele lecionou para o nosso CAP – lecionou várias, quase no final do semestre, ele caminhava pela sala como sempre fazia. Ficava atrás da primeira cadeira, ia até o fundo da sala e retornava de costas, repetindo esse movimento enquanto fazia sua explanação. De repente alterou seu trajeto e foi até o quadro. Muito surpreso, exclamou: “vocês dormem na minha aula! E mantém os pescoço erguidos sem apoiar!” Estava se referindo a mim e à Edna (rssss). Gente boa, não tomou nenhuma atitude contra nós duas.

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Sérgio Jácomo “Poucas coisas lhe pagarão maiores dividendos do que o tempo que você investe em compreender pessoas e circunstâncias.” Kienzle & Dare

Há mais de três décadas, eu começava uma aventura que, sem dúvida, foi a maior e mais gratificante da minha vida até agora. Garoto pobre do subúrbio do Rio de Janeiro, na juventude dos 21 anos, muito exigente comigo mesmo (e também com os outros...), idealista e sonhador, do tipo que ainda não entendia muito bem os jogos de poder (portanto, ainda ingênuo e imaturo...), eu, recém-formado em Letras, juntei-me a outros mais de 120 jovens provenientes de todas as regiões do país, a grande maioria engenheiros ou com formação na área de Exatas, selecionados em concurso público, para participar do CAP XIV , décima-quarta turma do Curso de Administração Postal, oferecido pela ESAP -Escola Superior de Administração Postal dos Correios. Até hoje, periodicamente, a turma promove encontros festivos vibrantes e emocionantes, que se tornam celebrações verdadeiramente especiais, nas quais passado e presente são temas recorrentes em todas as conversas, entre recordações e brincadeiras. Vivenciar intensamente tais momentos é uma rara oportunidade para reforçarmos a convicção de que a vida tende a

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POSTAIS DA VILA ficar melhor, quando temos determinação e coragem para trilhar os nossos próprios caminhos gerados por nossas escolhas e, também, de que não devemos deixar de comemorar, à nossa maneira, os fatos mais significativos de nossa existência. Sobre uma historinha daqueles tempos em Brasília, lembro-me de uma cena com dois alunos do CAP XII, um deles de sobrenome MENEZES. Logo nos meus primeiros dias na ESAP, eles vieram ao meu encontro e um deles, apontando para mim, comentou com o outro: " Pronto, Menezes, encontramos o cara que veio do Rio para comer você...". Então, foi-me explicado que leram o meu nome completo na relação dos novos alunos do CAP XIV, afixada em quadro de avisos da escola: SÉRGIO JACOMO MENEZES, o que nos faz lembrar da importância da correta acentuação na língua portuguesa...

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Carlos Manoel Amaral Soares “Estou de volta pro meu aconchego Trazendo na mala bastante saudade Querendo um sorriso sincero Um abraço para aliviar meu cansaço E toda essa minha vontade.” (Dominguinhos). Estória da "mala da velhinha" Foi num domingo, 22 de julho de 1984, final de tarde, e meu avião acabara de aterrisar em Brasília, procedente de Porto Alegre. Começava uma experiência totalmente nova em minha vida, que culminaria por assegurar-me após 30 meses de estudos e infindáveis provas o tão almejado emprego de Administrador Postal nos Correios. Já havia superado três fases duríssimas do concurso público - a prova escrita e os exames psicotécnico e físico, em um contexto de aproximadamente 73 mil inscritos, autêntico vestibular postal destinado a preencher as vagas para o Curso de Administração Postal (CAP), anualmente ofertado pelos Correios por meio da ESAP - Escola Superior de Administração Postal. Não me faltava intimidade com os Correios, em cuja área operacional havia ingressado por outro concurso prestado no RS oito meses antes, dividindo desde então os meus dias em três

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POSTAIS DA VILA partes: trabalhar, estudar e dormir, tudo visando à aprovação no CAP - um ciclo extenuante, que por muitas vezes me fez pensar se todo aquele sacrifício valeria à pena - afinal, estava a renunciar ao curso de Ciências Biológicas e às sempre bem vindas férias de verão. Restava agora empenhar-me e muito para ao final lograr aprovação na décima-quarta turma (CAP XIV), evitando o vexame de ter de retornar a mesma posição de trabalho no Centro de Distribuição Domiciliária (CDD/PAE), minha primeira unidade de lotação nos Correios, a partir de novembro de 1983. Retornando ao aeroporto de Brasília, lá estava eu à espera da minha bagagem defronte à esteira rolante... passados alguns minutos, com pouca gente ao meu lado, pego uma mala muito parecida com a minha (assim pensei, desconfiado) e que continha o mesmo número de controle etiquetado no bilhete aéreo ("deve ser a minha, certamente um pouco arranhada pelo manuseio no trajeto", assim pensei). Alguns passos e adentro o hall do aeroporto, onde alguém me esperava portando um crachá escrito com o meu nome. Era o "Braga" (José Braga Queiroz), também funcionário da ECT, porém bem mais antigo que eu, aluno do CAP XII. Seguimos numa kombi para a desconhecida "Vila Postal" e conosco, sentado ao meu lado, outro colega também aprovado no RS para o CAP XIV, o "Homero" (Homero José Vizeu de Araújo) - eu, feliz e contente porque tudo havia dado certo na viagem.

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CAP-XIV Chegando à vila, paramos em frente à casa G11 onde fomos recebidos por outros colegas, todos do CAP XII, que lá nos aguardavam com o "jantar" pronto - sanduíches com ki-suco, se bem me recordo. À noite, já no quarto, começa o drama e motivo principal dessa estória: ao abrir "minha" mala, constato atordoado que havia sido trocada com a de alguém !!! Vestidos, blusas, calcinhas, sutiãs, bijuterias e sei lá mais o quê... tudo indicando que a bagagem retirada na esteira pertencia a uma mulher... o que fazer àquela hora da noite? Ligar para o aeroporto? Para a companhia aérea? Em meio à angústia do fato que testemunhei sozinho no quarto, restava-me chamar e colocar a par os colegas de casa, solicitando-lhes a boa vontade de me emprestarem cuecas e meias, pelo menos. O terno e a gravata, que lá na DR/RS me foi pedido que fossem usados no primeiro dia na escola, certamente serviriam bem por um, dois ou quem sabe três dias, mas e depois? O desespero bateu fundo... e se não encontrasse mais a minha mala? Comprar novas roupas? Em quais lojas e com que tempo e dinheiro? Que mulher seria essa que ficou com minha mala? Estaria ainda em Brasília ou teria viajado para outro destino? Pela aparência das roupas que tarde da noite comecei a manusear, todas em formato "alargado", alguém que estava ao meu lado (acho que Cleômenes) não teve dúvida em cravar: são de uma "velhinha" !!!

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POSTAIS DA VILA Piadas e muitas risadas depois, "Shigueo" (Luis Shigueo Agata, "in memoriam") e "Cleômenes" (Cleômenes Viana Batista), os primeiros a chegar na G11, solidarizaram-se comigo, emprestando-me cuecas, meias e tudo o mais que eu precisasse no dia seguinte - no calor do Cerrado (e no suor do meu nervosismo), estas teriam de ser necessariamente substituídas até que me retornasse a mala de direito. Vem o dia seguinte, visto o terno novamente e com a "mala da velhinha" em mãos embarco num dos vários ônibus que levaria os alunos à ESAP - lá chegando, dirijo-me de pronto à recepção da ESAP em busca de alguém que pudesse encaminhar uma rápida solução para o meu problema. "Chiquinho" (Francisco), coordenador do CAP, pede que me acalme e que lhe entregue a tal mala recebida por engano, tudo isso no hall do prédio administrativo e na presença de alguns colegas de CAP que ali se aglomeravam. O resto dessa estória é dizer que circular por dois dias seguidos pela escola e arredores vestido de terno/gravata, tendo que ouvir, aqui e ali, piadas de colegas sobre quais modelitos eu dispunha para variar a vestimenta, foi algo até divertido e que amenizou por certo a cruel dúvida que pairava em minha mente naquelas infindáveis 48 horas: quando e em que condições retornaria a minha verdadeira mala? Bem, o alívio só veio na terça-feira à noite, quando uma kombi dos Correios encostou na G11 trazendo-me-a de volta... e assim terminou o terceiro dia do primeiro mês de curso de um Esapiano quase despido e descalço pelo destino!Eu gosto de

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CAP-XIV contar a minha história desde o momento em que fui atraído por esse concurso da ESAP.

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POSTAIS DA VILA

Daniel Deusdete – “Massa!” “O coração possui razões que a própria razão desconhece.” (Blaise Paschoal). [NÃO SERÁ O MEU TEXTO... É SÓ EXEMPLO] Eu gosto de contar a minha história desde o momento em que fui atraído por esse concurso da ESAP. Eu trabalhava na Eletrocomp – fábrica de componentes eletrônicos, como ferramenteiro. Eu era formado também em Projetos de Ferramentas e Dispositivos, cursos apenas profissionalizantes. Sem graduação técnica, nem superior. Eu tinha um amigo, Claudinei, que tinha passado nesse concurso e agora iria para Brasília estudar e depois trabalhar. Ele foi do CAP XIII. O pessoal o chamava de “Sardinha” porque ele comia muita sardinha durante o curso, na Vila Postal. Quando soube que passara, acreditei que poderia também passar, embora o achasse muito mais inteligente que eu e bem mais esforçado. Eu não tive dúvidas. Pedi as contas em meu trabalho e fui estudar. Em casa não havia espaço para eu estudar e nossa condição era muito humilde. Então, eu mesmo construí um porão, embaixo do quarto de meus pais e lá me tranquei por dois meses, onde estudava das 7h da manhã até às 22h da noite.

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CAP-XIV Meu pai não gostou nadinha de minha iniciativa, pois ajudava em casa com meu pequeno salário de metalúrgico. Ele era bravo e começou a me perseguir e batia na porta de meu quarto onde estudava e me chamava de vagabundo e mandava eu ir trabalhar porque o que eu estava querendo era ilusão e não era jamais para mim. Resolvi olhar para frente e não dei importância às suas ameaças e foquei nos estudos a tal ponto que decorara todo conteúdo programático por causa da exaustão no estudo contumaz. Eu era daqueles que saia muito para ir jogar, passear, curtir a época que vivíamos com os amigos; no entanto, para surpresa de todos, naqueles dois meses eu jamais arredei o pé daquele porão e estudava muito. Meu pai percebeu que eu estava concentrado e parou de me perseguir. Chegou o grande momento de fazer a prova do concurso e eu estava muito confiante, muito mesmo. A confiança era tanta que olhava nos rostos das pessoas para ver se eu as veria na próxima fase. Nenhum dos que mirei, encontrei na fase seguinte. Lembro-me depois de Silos, do Mauro, do Fernando, do Faustão e de toda a turma de São Paulo. Eles não me pareciam nadinha com caras de nerds...rs...rs...

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POSTAIS DA VILA Lembro-me bem do dia em que chegou o telegrama comunicando que eu tinha passado. Ai que vontade que me deu de ir até meu pai e esfregar o resultado em sua cara ...rs...rs... Eu não fiz isso. Chamei-o num canto e disse que estava indo embora e nunca mais voltei. Ou seja, tornei-me independente e mesmo na época da bolsa com aquele 1,5 salário mínimo (lembram-se?), eu ainda ajudava em casa, em Guarulhos/SP. De filho vagabundo e que não queria nada com nada, passei a ser o filho exemplar de toda a casa. Meu pai falava de mim para todo mundo com muito orgulho e eu fiquei calado, apenas curtia aquilo em meu íntimo. A história está apenas começando... Uma péssima viagem ... Massa! Essa palavrinha acabou sendo minha marca registrada na ESAP durante o tempo de CAP e me persegue até hoje: fui estigmatizado por ela. “Oh céus! Oh dor! Oh vida!” A minha aventura mais doida (doida mesmo...) na ESAP se deu no último semestre quando resolvi fumar com meus amiguinhos do CAP (não citarei nomes nem a pau... rs... rs... ou imitando meu xará: “nem sob tortura declinarei seus nomes, salvo por autorização expressa”) um cigarrinho bem diferente que tinha um cheiro de mato queimado. Eu já era fumante àquela época, mas somente era viciado em nicotina; esse outro, seria minha primeira e (sério!) última vez.

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CAP-XIV Santo Deus! Exclamei. Livrai-me de todo mal e não me deixes seduzir por essa erva que estou a experimentar. Vocês acreditam que eu orei mesmo ao Senhor e apresentei aquele cigarrinho aos céus? Eu nunca fui santinho não. Quem me conhece, sabe das coisas. É ... parece que Ele ouviu minha voz e, misericórdias, fiz uma péssima viagem. Sentei-me num cantinho e seguindo as instruções de meus amiguinhos comecei a por a fumacinha para dentro. Eu não sentia nada e até achei que aquilo era falso e que estavam me enganando. Eles me orientavam: - Dê uma tragada forte e segura a fumaça dentro para subir para cabeça e eu já parecia uma panela de pressão. Aí comecei a passar mal e fiquei ruim mesmo. Vomitava e fazia outras coisas e me levaram para debaixo do chuveiro e eu fiquei muito, mas muito mal mesmo. Um de meus amiguinhos vendo que a coisa perderá o controle, conjecturou de me abandonar num mato próximo, pois achavam que eu iria embora mesmo. Graças a Deus não fizeram isso. O fato mesmo é que ninguém sabia o que fazer e a situação gravíssima. Eu tinha consciência de tudo, mas minha percepção temporal e sentidos estava toda doida. Meu corpo entrou em colapso e cheguei a temer a morte por overdose: é mole? O coquetel era o vinho, a chora-rita e o cigarrinho. Acho que aquela “coiza” era batizada e o fornecedor um “gambiaui” ...rs...rs.

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POSTAIS DA VILA Levei muitos dias para me recompor e até hoje tenho a nítida sensação que deixei ali alguns neurônios soltos e desconexos. Se minha memória e raciocínio eram dez, hoje creio que trabalho com 8,5... Eita trem ruim sor. Eu quando estava mal, lembro-me bem, instruia, assim mesmo, meus colegas em como me socorrer. Parecia haver mais de um em minha simples casinha abençoada e aquela “coiza” tinha de sair logo. Lembranças vão surgindo à medida que escrevemos, conversamos, pensamos e refletimos em nossas ações. Hoje, não fumo mais, também não bebo, nem uso qualquer “coiza”. Além do que passei a ser um daqueles caras que ajudam instituições que cuidam dos drogaditos em Brasília. Eu sou colaborador do Desafio Jovem de Brasília, há mais de 15 anos com fornecimento de cestas básicas mensais à instituição. Tenho visto muitas vidas recuperadas e totalmente restabelecidas ao convívio social, produzindo e constituindo famílias. Aos meus amiguinhos que participaram dessa minha aventura um grande abraço. Hoje são todos bem-sucedidos e homens responsáveis e competentes em suas respectivas áreas. Eu os admiro e os tenho em alta estima. MASSA GALELA!

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Daniel Fontenele “Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência..” (A.D.) [a sugestão da frase acima para todos os autores pode ser modificada à escolha do autor... segue apenas sugestões, blza?]

Em 1984 fui comunista. Daqueles que só liam sinopses de Marx e militavam no movimento estudantil pra pegar as menininhas que não depilavam as axilas... Cursava agronomia na Universidade Federal do Ceará e me especializei em ervas proscritas pelo imperialismo ianque. Daí fiz o concurso do CAP e me vi com dificuldades de convencer a família em recusar a "grande oportunidade" de por fim a idealismos inconsequentes. Embarquei praticamente amarrado. Desembarquei curioso e me sentindo muito deslocado. De fato, como conciliar uma vagabundagem crônica com o ritmo frenético daqueles malucos que foram me receber no aeroporto? Timidez a mil, falei pouco e observei muito. Festas estranhas com gente esquisita. Na tal escola um regime a que não estava acostumado: tinha que estudar!! Absurdo!!! E falavam de uma tal sirene que poderia tocar aleatoriamente e que obrigava ao

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CAP-XIV comparecimento, pena do mundo se acabar, o aluno ser empalado e deportado humilhado e aos pedaços para sua casa ou coisa assim. Enfim, era um esquema a que eu jamais me adaptaria, rebelde sem causa que era... Mas a cidade, aaah, era Brasília na década de 80!! Então era mais ou menos assim: o menor tempo possível enquadrado e todo o tempo livre aproveitando os vinte e poucos anos explorando e conhecendo a verdadeira liberdade!! Vi muita coisa naquela época. Revirei aquela cidade inteira, justamente quando Brasília era celeiro de muitas novidades no cenário cultural do país. Da ESAP não lembro quase nada, mas da Vila e de alguns de seus moradores, meus caros, guardo algumas das lembranças mais loucas da minha vida! Difícil escolher qual a mais emblemática. Uma delas relaciona-se com os efeitos dos hormônios juvenis confrontados com a incompetência minha e de mais seis bravos colegas em encontrar representantes do sexo oposto. O tempo passava e a "carência afetiva" agravava-se ao ponto de alguém sugerir a alternativa mais antiga do mundo, se é que me entendem... Feita pesquisa de mercado, a constatação trágica: a parcimoniosa bolsa de estudos não era suficiente para tais regalos. Pelo menos não para todos! Decidiu-se, portanto, que no dia do

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POSTAIS DA VILA nosso pagamento todos do grupo contribuiriam com certa quantia que haveria de ser sorteada em ordem a contemplar um felizardo! Estava inaugurado, naquele momento, o primeiro consórcio de b... do Brasil!!!! O negócio foi ganhando adeptos e aprimorando-se. Surgiu a possibilidade de dois sorteios mensais e houve até quem propusesse a instituição de "lances" para arrematação da "carta de crédito "... O certo é que de repente a vida ganhava um outro sentido!!! A empolgação e o império dessa concupiscência mensal ruiu de forma melancólica quando um esapiano do CAP XII resolveu afrontar o porteiro da "empresa fornecedora ", o que degenerou para uma forte pancadaria com direito à intervencao conciliadora do titular da 12a. DP (NA 12a. DP)... O registro trágico é que eu não cheguei a ser contemplado em nenhum dos quatro meses em que durou o empreendimento! E por ter sido o que menos bebeu naquela fatídica noite, sou o único a lembrar que a arrecadação daquele mês foi usada para convencer aquela compreensiva autoridade a retirar o FDP do Cap XII da cela em que já se encontrava. Quanto aos demais participantes, nem sob tortura declinarei seus nomes, salvo por autorização expressa.

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Júnia “De perto, ninguém é normal” (Caetano) [a sugestão da frase acima para todos os autores pode ser modificada à escolha do autor... segue apenas sugestões, blza?] Tia Nair é assim. Para ela, todo mundo tem que fazer concurso. A chamo, carinhosamente, de Maria concursinho. E foi ela que nos falou, a mim e meus primos, que estavam abertas as inscrições para um concurso dos Correios. Não podia contrariála. Não faria isso antes, que dirá naquele momento que já não tinha mais a minha mãe, sua irmã, para me dar conselhos. Pois é... Graças a essa tia querida, eu me inscrevi para o concurso. Nem imaginava o que rolaria na prova que faria, sequer de que matérias era composta, só sei que na véspera do exame, também véspera de uma viagem com minha irmã para a Foz do Iguaçu, saímos eu, ela e meu irmão para beber. Eles bebiam com força e eu os acompanhei. Fazer a prova de ressaca não devia ser um bom sinal. Até então, não tinha pensado nesse concurso com seriedade, no entanto, ao sair da prova, naquele domingo ensolarado, comecei a desconfiar que podia ter futuro essa ideia maluca da tia Nair. Fui aprovada. Em Niterói, 16 aprovados, dos quais só eu de mulher. Depois saberia que essa estatística se repetira em todo

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POSTAIS DA VILA o Brasil. Após o resultado da prova, seguiu-se uma bateria de exames médicos e psicotécnicos. Em cada um deles encontrava com aquela turma de rapazes que, em sua maioria, já se conheciam do curso de engenharia da UFF e brincavam animadamente uns com os outros. Eu, timidamente, só os cumprimentava como mandava a boa educação e abria um livro para não me sentir totalmente deslocada. Certamente, um bom observador repararia que a página aberta não se alterava. Eu tentava ouvir o que diziam, sem emitir qualquer som. Um dia, no meio da farra, começaram a dividir tarefas para quando chegassem à Brasília e a pergunta final foi: quem vai cozinhar? Acho que pela primeira vez olharam para mim e um deles disse: a Júnia, é claro! Ao que imediatamente retruquei observando que seria um prazer, mas eu não tinha esse predicado. Aí, ouvi: Gente! Ela fala!!! Pois é.... Quem diria. Esses meninos se tornaram amigos queridos, até casei com um deles. A despedida da família e amigos mais íntimos foi com muito choro na Rodoviária do Rio de Janeiro. Até meu irmão recém-nascido foi lá me dar adeus. Lembro-me que chorei ininterruptamente, até Juiz de Fora. Não, eu não me enganei; é isso mesmo!!! A Empresa nos mandou de ônibus e esse percurso haveria de ser repetido dezenas de vezes para vermos a família. Como dávamos conta? Mais de 18 horas viajando. Hoje, continuo

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CAP-XIV fazendo a mesma viagem, mensalmente, porém 1 hora e meia já me parecem tempo demais para ficar sentada no mesmo lugar. Cheguei à Brasília uma semana após à maioria dos demais colegas. Minha casa já estava formada. Lá encontrei Marli, Julieta, Beth e Edna, que me receberam muito bem. Nutro por elas um carinho enorme. Foram as minhas irmãs, nessa família que se formou ao longo daqueles dois anos e meio. Sou grata a tudo que vivi naquele tempo: choros, amizades, amores, decepções amorosas, cumplicidade, vontade de voltar e acabar ficando, chora Rita, forró, música sertaneja (nunca tinha ouvido falar disso no Rio), truco (isso também não), almoços comunitários, poeira e casa popular. Da escola, não lembro muitas coisas, o que me leva a crer que não foi ruim, também não foi tão bom assim, como já diria a música. Para mim, quando olho para trás, fica muito mais a experiência do que os fatos. Foi marcante! Percebia isso toda vez que voltava a Niterói e encontrava as coisas do mesmo jeito que havia deixado e eu já não era mais do mesmo jeito. Passados muitos anos – talvez uns 20 – por ocasião de uma grande reunião nacional da equipe de operações dos Correios, na qual havia muitos de nós do CAP XIV, o Elder, denominado injustamente de Urtigão (para mim, ele é um doce de criatura), nos convidou para irmos à sua casa após o expediente.

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POSTAIS DA VILA Lá, o Thomé propôs um desafio: que elegêssemos o mais normal do CAP. Só o Thomé mesmo para ter uma ideia dessas! Após muitas discussões, histórias nunca dantes reveladas, bate bocas hilários, não conseguimos chegar a um nome. Comprovou-se o que já dizia o Caetano: de perto, ninguém é normal. Acho que isso resume a nossa experiência. Chegamos ao ponto de nos conhecermos de perto – para o bem e para o mal!

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Marcos Vaospasse Cocco “Respondeu Jesus: "Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito.” (Jesus, em Jo 3.5). Meu nome é Capiano. Cheguei ao Distrito Federal em julho de 1984 para fazer um curso na Escola Superior de Administração Postal que, embora com a patente de “superior”, sempre foi desconhecida pelo Ministério da Educação. Naquela época eu tinha um “nome de guerra”, já que a escola era dirigida por coronéis. Tão logo cheguei, cansado e com muito sono, fui levado para a Praça da Popoteose, onde um professor chamado Leopoldino, também conhecido como Popó, colocou no meu peito um crachá, dizendo que aquilo passava a fazer parte do meu corpo e que não poderia ser retirado nem para tomar banho. Fiquei atônito, imaginando como conseguiria tomar banho de crachá. Mas isso era problema para depois. O importante é que lá estava o meu “nome de guerra” no crachá: Esapiano! Pode parecer estranho, mas venho de várias partes do país e do mundo. Venho dos pampas e das serras gaúcha e catarinense, da cidade maravilhosa, das lindas praias nordestinas, das terras entre as serras capixabas, do cerrado, da exuberante Amazônia, da garoa paulistana, das montanhas das Gerais. Dos pampas aos seringais! Venho também das terras panamenhas, que unem as

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POSTAIS DA VILA Américas do Sul e Central, do planalto das Guianas, das savanas africanas. Sou poliglota! Agora resido na Vila Postal. Explicar como era essa vila não é muito difícil. Basta dizer que na época chuvosa poderíamos chamá-la de Barrolândia e, na época seca, de Puerópolis. Quase desisti. Mas a vila tinha algumas coisas muito importantes e que me ajudaram muito: amizade, companheirismo, coleguismo, apoio mútuo e festas, muitas festas regadas a Chora Rita, que ajudavam a aliviar a pressão por resultados e também a depressão, provavelmente consequência da saudade. A escola era interessantíssima. Logo nos primeiros dias de aula fiquei entusiasmado. Entra em sala o cantor Waldick Soriano! Pensei que ele ia fazer um show musical, mas para minha surpresa começou a dar aula de marketing. Como era polivalente esse artista! Em seguida apareceu um professor disfarçado de açougueiro para dar aula de uma disciplina bastante complicada, que prefiro não revelar aqui. Fiquei extasiado! A escola era realmente o máximo. Que criatividade! Havia também professores que pareciam neuróticos. Talvez por isso eu quase tenha me tornado um “maluco beleza”. Gostava muito de música. As preferidas eram as do Sidney Magal, cantadas frequentemente no ônibus que fazia meu transporte de Taguatinga, onde ficava a vila, para a escola, em Brasília. Também adorava fazer chacota comigo mesmo. Cantava uma música que dizia o seguinte: “Quem é? Quem é?”

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CAP-XIV “Que vive nesse mundo sem dinheiro e sem mulher?” A resposta: eu! O Esapiano! Numa outra música eu insinuava que era inútil: “Inútil, a gente somos inútil.” “A gente não sabemos tarifar telegrama.” “A gente não sabemos o que é post-grama.” “A gente não sabemos nem abrir aerograma.” “Inútil, a gente somos inútil.” Fazia chacota comigo e me divertia com isso. Acho que somente eu, o Esapiano, poderia mesmo conseguir isso. Eu era muito hospitaleiro. Sempre recebia muito bem os novos alunos que chegavam anualmente. Mas também gostava de assustá-los. Certa vez eu ministrei a aula inaugural de uma das novas turmas. Sim, eu, Esapiano, sou graduado em engenharia, administração, letras etc. Portanto também poderia dar aulas e naquele dia ministrei uma aula de português. Pedi aos novos alunos que fizessem uma redação. Ao final, abordei com veemência os péssimos trabalhos e disse que o bicho ia pegar. Todos os alunos ficaram apavorados. Felizmente, para esses alunos, apareceu “Coronel” Chiquinho e acabou com a minha aula. Mas o tempo passou e o curso chegou ao fim. Agora um pouco mais maduro, eu, o Esapiano, tive que percorrer o Brasil. Tive filhos, netos. Construí minha vida e sou feliz.

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POSTAIS DA VILA Agora chamado Capiano, livre do meu “nome de guerra”, só tenho a agradecer por essa fantástica experiência, que ficou marcada para sempre no meu coração, e contribuiu para que eu me tornasse uma pessoa melhor, mais consciente dos próprios defeitos e mais preocupada com a felicidade alheia. Ah! Faltou dizer o local exato onde nasci! Mas isso não posso revelar, porque nasci numa capital e ela é secreta!

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Itzel Pérez Ortíz "La vida no es la que uno vivio, sino la que uno recuerda y como la recuerda para contarla.". (A.D). Do Panamá para Brasília. Qualquer dia alguém entra no escritório onde eu trabalhava com tom preocupado e diz “uma bolsa para estudar vai se perder no Brasil. Naquele momento, eu não pensei muito, e eu disse: "Eu irei." Tudo mundo virou-se para me ver e acho que eles fizeram mais perguntas do que eu tinha-me feito naqueles poucos segundos. A partir desse momento, tudo aconteceu muito rápido, tentar aprender um pouco de Português; lembre-se que não havia internet em 1984, tudo o que eu tinha era brochuras sob o carnavais do Rio de Janeiro, ou seja, todos, incluindo eu, pensei que seria carnaval e mais carnaval. Saí do Panamá em 30 de julho e cheguei no aeroporto de Rio de Janeiro em 31 de julho, por coincidência, no dia do meu aniversário. Eu me lembro de encontrar vários cartões de feliz aniversário na minha bolsa. Chorei até que eu fui pegar a minha bagagem. Como eu disse antes, eu tentei aprender Português, mais em algumas semanas eu só aprendi a dizer Obrigado e Devagar,

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POSTAIS DA VILA e no aeroporto do Rio ninguém teve muito tempo para me dizer o que fazer. Muito rápido eu estava sentada no outro avião para o meu destino final, Brasília. Ali começou minha aventura. (Lhes conto que entrei sem passar pela alfandega, fiquei uns três meses em situação irregular). Minha chegada em Brasília não foi diferente. Ninguém me esperava, ninguém falava espanhol, mas eu sabia que no aeroporto devia ter uma Agência dos Correios. Fui direto para lá e eles ligaram para a ESAP. Depois de um tempo, levaram-me diretamente para a escola. Recebeu-me o coordenador do CAP XIV e ofereceu-me como um almoço de boas-vindas um cachorro-quente. Terrível, né? Minha estadia em Brasília foi muito, muito difícil. Eu nunca fui muito comunicativa. Era um pouco tímida e queria fazer amigos e compartilhar com todos, mas era muito difícil. O curso foi terrivelmente exigente, havia muitas coisas que não conhecia e muitas outras que não entendia. Eu devo ser honesta, muitas vezes senti rejeição e indiferença, mas eu também senti muito amor. Sem intenção de fazer qualquer um se sentir mal, me desculpe, mas eu entendi cada um desses sentimentos e foram a força que eu precisava para seguir em frente. Para mim, o Curso Superior de Administração Postal, pode não significar muito, mas a experiência que ganhei, a força e segurança em mim mesma, serviram-me até hoje.

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CAP-XIV Espero não incomodar ninguém, mas temos alguns personagens da Vila Postal que devo mencionar: Geraldo Moreira, Ivan Bolis, Albertino que se aventuraram a fazer trabalhos comigo e correrem riscos de não alcançar boas notas. Isso significou muito para mim. Agradeço a Braquehais e Geraldo que me deram as melhores férias na bela Fortaleza. Agradeço ao Silos por me levar a conhecer São Paulo. Obrigado por serem meus amigos. Também lembro muito dos almoços com os Paulistas: eles foram ótimos! Para finalizar, estou segura que se alguma coisa tivesse sido diferente não tivesse sido tão bom, mais devo agradecer ao Brasil, ao Correios a oportunidade de conhecer Brasília, aos Capianos e a mim mesma. Obrigada!

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Rogiero Victor de Andrade "As coisas têm vida própria. Tudo é questão de despertar a sua alma." (CEM ANOS DE SOLIDÃO, Gabriel Garcia Marquez ). Os anos de 1983 e 1984 foram efervescentes e extremamente importantes na vida política do país, na música brasileira (popular e bandas de rock nacional) e também na minha vida. No primeiro, fui aprovado em Engenharia na Universidade Federal de Uberlândia, para onde fui e onde vivi até março de 1984, quando, enfim, percebi que Exatas não era “exatamente” a minha praia. Com muita dificuldade, amadureci a ideia de abandonar o curso, tendo sido, inclusive, orientado pelo Reitor da Universidade a refletir melhor e pensar em quantos jovens gostariam de estar no meu lugar. Minha maior preocupação era com o que meus pais pensariam. Por fim, fiz um teste vocacional e a psicóloga ao final me disse que eu poderia ser tudo na vida, menos engenheiro. E que eu fugisse das matérias de Exatas. Voltando para casa, convenci os meus pais que o meu futuro estaria na medicina e iniciei um cursinho voltado para o ingresso em alguma faculdade de medicina, o que, desde aquela época, era muito difícil. Estudava muito e estava focado.

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CAP-XIV Porém, um dia minha mãe ouviu no rádio que haveria um concurso para os Correios e meus pais me aconselharam a inscrever-me. Não tinha a mínima noção do que seria e, principalmente, para o que seria. Fui lá, fiz a inscrição e chegou o grande dia da prova. Era jovem mas não era bobo. Naquela época tinha minhas pendências esquerdistas (usava camisetas do Chê, do Solidariedade, era filiado ao PT desde a sua criação, achava Cuba maravilhosa etc.), porém, sabia que estávamos em um processo de abertura e que os militares ainda mandavam muito, inclusive nos Correios. Fiz a prova e na redação, escrevi exatamente o contrário do que pensava na época, imaginando como seria uma cabeça conservadora de direita. Não sabia que, aos cinquenta anos, pensaria muito parecido com o que, na época, era apenas uma invenção criativa. Como havia mais de 70.000 inscritos para apenas 120 vagas, mesmo estando preparado, achei que não daria em nada. Porém, para minha surpresa, fui aprovado, junto com o Cantarin na minha cidade. E agora? Continuar estudando para tentar uma incerta faculdade de medicina ou abraçar uma chance de estudar já com uma bolsa, liberando meus pais dessa despesa comigo, visto que percebi que eles não teriam condições de me bancar por muito tempo, mesmo que passasse em uma universidade federal. Um grande dilema que não me dava muitas opções.

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POSTAIS DA VILA Em um domingo de julho de 1984, lá íamos nós de ônibus (700 km) rumo a Brasília, onde nunca antes havia estado (não sem antes me desfiliar do PT, por via das dúvidas), chegando lá em um dia frio e um pouco chuvoso. Fomos recebidos na rodoviária por um colega do CAP XII, se não me engano (não me perguntem nomes!). Fomos passando pelas largas avenidas de Brasília, e eu sempre pensando que estava chegando, Guará, Taguatinga e finalmente Vila Postal. Sinceramente, a melancolia e o desespero foram enormes quando chegamos na Vila. Que lugar assustador! Ficamos na casa de colegas do CAP XII que se encarregaram de acabar com a comida preparada com tanto carinho pela mãe do Cantarin para a primeira semana em Brasília. Acabou em uma hora. Enfim, conheci meus futuros amigos do CAP XIV, pessoas de todos os cantos do país e até de outros países da América Latina e da África, com seus costumes, sotaques, regionalismos e diferenças culturais. Só na minha casa, a G2, que seria o meu lar por dois anos e meio, estavam reunidas pessoas oriundas de quatro estados (São Paulo, Minas, Piauí e Rio Grande do Sul) Conhecendo um pouco da vida de todos, uma grande maioria já formada ou prestes a se formar, em especial em Engenharia, de onde eu havia fugido há tão pouco tempo, todos com suas incertezas, inseguranças e dificuldades, comecei a perceber que estávamos no mesmo barco.

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CAP-XIV E, para meu espanto, no primeiro ano de curso reencontrei o que havia sido o meu martírio na UFU e que julguei nunca mais encontrar por essas estradas da vida. As aulas de Cálculo I e Cálculo II. E de matemática!! E ainda com um professor extremamente exigente. Na hora me lembrei daquela psicóloga que havia me sugerido correr de Exatas como o diabo corre da cruz. Mas não havia mais jeito... Colegas formados em Engenharia com grande dificuldades nas provas. E agora? O que seria de mim? Seria reprovado e voltaria novamente para casa, fracassado? Quantas noites de estudo e quanta ajuda de amigos mais experientes na matéria foram necessários para não dar mais esse dissabor aos meus pais. Uma escola diferente, rígida, com formação militar, à qual aprendi a me moldar. E até a gostar nos seus aspectos de organização e seriedade. Foi um período de muito aprendizado, mudanças de conceitos e de onde me lembro com carinho de algumas poucas festas, das noitadas de estudos seguidas de guerra de papel durante as madrugadas, onde o Chepp sempre se dava mal. Por qual razão os gaúchos são tão perseguidos? Do Afranio, mineiro de fala arrastada e fã de rock pesado, sempre reclamando das músicas sertanejas que eu e o Cantarin gostávamos tanto, mas um cara de imenso coração.

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POSTAIS DA VILA Do meu conterrâneo Cantarin que gostava muito de cozinhar (ainda bem!) e esbanjava seu costumeiro bom humor. Meu grande parceiro de vólei. Apesar de somente ele jogar bem! Do Albertino com seu jeito amigo peculiar, sempre preocupado com o bom relacionamento entre todos da casa. Um cara zen. Do seu Quequé (Orlane), já casado, e sempre muito respeitado em suas opiniões e do Chepp sempre sendo o mais zoado na casa. E sempre perdendo no truco, pois tinha como característica ficar muito vermelho quando trucava em falso. Mas também um amigo ponta firme que me ajudou muito nos estudos de Cálculo. E a G2 era o cinema da Vila onde muitos iam assistir jogos e filmes, inclusive a Copa de 86. E também as eternas discussões futebolísticas! Do que mais me arrependo naquela época? Com toda certeza foi não ter aproveitado tanto as noitadas na Vila, bem como as excursões e demais aventuras, pois voltava muito para casa aos finais de semana. Hoje, revendo fotos daquela época, sinto não ter participando mais. Assim, deixei de aprofundar a amizade com a grande maioria, que aprendi a conhecer melhor após nossa formatura e alguns apenas recentemente. Poderia e deveria ter aproveitado melhor aquele tempo, pois às vezes damos importância a coisas e pessoas que não terão lugar no nosso futuro. E deixamos de aproveitar mais esses

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CAP-XIV momentos importantes com pessoas especiais. Como dizia Renato Russo: “não busque pessoas perfeitas por que não somos, busque apenas pessoas que te valorizam”. Talvez por isso, não me lembre de um Causo específico daquele período. Um que chame a atenção e desperte a curiosidade. Talvez aquela prova de Filatelia, onde o Chepp.....(essa não pode!). São tantos pequenos causos que me chegam à mente aos borbotões, como uma colcha de retalhos, que não saberia identificar um mais especial. A sirene, inauguração do Popódromo, “olha aí o Correio!”, aventuras no restaurante, furtos na Vila, competições nos rodízios de pizza, bizarrices nas assinaturas da VEJA, enfim, tantos pequenos causos pitorescos que reforçam a certeza de que aquela era a minha Macondo. No entanto, os frutos daquela época cresceram fortes. E brotaram vistosos. Após todo esse tempo, por exemplo, em apenas um dia conversei com a Beth e com a Janete muito mais do que havia conversado em 2 anos e meio de CAP. E adorei, pois são pessoas maravilhosas que não tive a oportunidade de conhecer melhor durante o curso. O que dizer do sorriso cativante e da pessoa fantástica que é a Junia? Sempre amiga! E tantos outros amigos e pessoas

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POSTAIS DA VILA maravilhosas que aprendi a gostar e compreender muito mais após nossa saída da ESAP. Tantas que seria injusto continuar nomeando apenas algumas. Para mim, aquele período foi de muita dificuldade e sofrimento mas também de muito aprendizado. E ele se perpetua até os dias de hoje. Com mais de cinquenta anos de idade e trinta anos após nossa formatura, fazer parte desse grupo e estar prestes a participar de um evento que ficará marcado para a história é muito gratificante. Com toda certeza, nunca existiu um CAP como esse. Nunca houve e nunca haverá uma Festa de Capianos com tanta gente e, principalmente, com tanta gente alegre, simpática e que nos traz sempre boas e belas recordações. Sim, apesar da Vila e das condições duras daquela época, ficaram muitas boas recordações, mas essas se fizeram exclusivamente pelas pessoas e suas interações. Tantas boas recordações que estamos aqui hoje celebrando essa amizade. As boas amizades precisam ser valorizadas e eternizadas. E esses são meus bons e grandes amigos. Para sempre! Afinal de contas, como diz o poeta, “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, por que se você parar para pensar, realmente não há”.

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CAP-XIV Portanto, vivamos o hoje a cada dia, valorizando sempre essas lembranรงas e essas amizades...

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Leandro " A poesia é a criação rítimica da beleza em palavras." (Edgar Allan Poe). Cotidiano de um esapiano em prosa e verso Nesses versos quero lhes falar Como era naquelas terras candangas viver Mato, poeira, lama e tudo por fazer O cotidiano de minha casa apresentar. Em meio a tanta gente cheguei Onde vou ficar? Foi o que pensei Logo chegou uma lista Vão morar nesta casa mineiros, carioca e paulista. Eram três quartos, cozinha e sala ao meio Também em comum um banheiro Logo fizemos um sorteio Pra ver quem seria o meeiro. Dois mineiros acomodados nos fundos Outro mineiro no meio. Sortudo! Carioca e paulista contudo Construiriam laços profundos. Naquela casa todos tinham a sua cota Um cozinhava Outro lavava E dois arranhavam a nota.

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CAP-XIV À noite soava o violão Rouquidão e desafinamentos Cantavam os talentos De Fagner e Ramalhão. As mesinhas de estudo iríamos arranjar Em um retângulo adjunto Daqui pra frente faríamos o jantar Nunca mais, senão todos juntos. Pela manhã cada um tinha sua vez Caminharia até a padaria para comprar o pão Não era para demonstrar desfaçatez Afinal, todos tinham a sua honrosa missão. No café da manhã a famosa abacatada Com o barulho do liquidificador O mineiro ao som do despertador Em cinco minutos não atrasava a sua jornada. Nas festas rolava solta a batida de maracujá Era confeccionada ali mesmo naquele sopé Ao som do baião começava o arrastapé E vinha gente de toda esquina, canto e lugá Éramos muito receptivos Uns vinham cantar Outros chorar E alguns só para os aperitivos. Mas ali cabia todo mundo, to falando! Contar seus causos do interior vinha o Ramba O Silos, mais uma turma, puxava o samba Aí, chegava um outro irmão, um tal Tiango.

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POSTAIS DA VILA Também era bem frequentada pelas mulheradas Mas tudo com muito respeito Afinal estudante também tem direito Alguns ali até encontraram suas namoradas. Uma corrida com os amigos era comum Gostávamos de estar bem fisicamente Por isso na QNL9 íamos velozmente E todos incentivávamos um a um. A turma era mesmo de fina malha Era comum faltar água e energia Mesmo com corpos sujos um ou outro dormia E quando a chuva caía era banho de bica e de calha. Tomar o ônibus dos correios às sete da manhã era rotina Os banhados e perfumados: nas alas E os atrasados e manguaçados, nem falas Cusparadas secas e cabeças tacanhas nas tinas. Os que chegavam primeiro, sentados e acomodados iriam Dormindo ou estudando todos chegavam a ESAP No bar do Espanhol já rolava pão de queijo, copa e zap O truco, até os cariocas aprendiam. Quem diria? Nem tudo era festa não Tinha que se estudar no duro O esforço era de dia ou no escuro Pois no final haveria a tal classificação. Havia um ponto de encontro antes da aula começar Onde todos davam o seu parecer Os protagonistas eram Valspasse, Marcílio, Luis Carlos e Bem-Querer Com aqueles momentos nunca deixei de sonhar.

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CAP-XIV Das aulas a que destacaria era a de filatelia Cartas não seriam apenas um post-grama Haveria de lhe imprimir um selo envolto em filigrana Ali muitas coisas se aprendiam, apesar da sua monotonia. Línguas ali também se aprendiam Inglês, português e francês Afinal teríamos que falar com vocês Amigos de outras terras que viriam. Passaram também uma mulherada porreta As mais íntimas eram: Junia, Edna e Beth Marly, Itzel e Janete Também havia uma japonesa: a Julieta. Vou terminando de escrever agora Muitos fatos ainda lhes haveria de contar Mas depois de trinta anos sem lá estar Causos curiosos, por hora, a memória não me aflora. A vida nos leva por caminhos e atalhos Foi muito gratificante viver naquela terra A amizade agora no meu coração se encerra E deixo aqui meu canto, nesta colcha de retalhos. Na minha casa todos se dedicavam com afinco Morávamos Sílvio, Pacheco e eu Com Máximo e Celso se deu Era na QNL9, bloco E, casa cinco. Tenho para com os amigos uma enorme gratidão Por terem compartilhado comigo as suas vidas

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POSTAIS DA VILA Naquela casa, na escola, nas idas e vindas Que pena! Aqueles tempos nunca mais voltarĂŁo.

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Tiango "Amigos tornam as risadas mais altas, as conversas mais gostosas e a vida mais feliz." (A.D). ENTÃO... CAPXIV 30 anos. Foi...Tem sido mais ou menos assim. Perdi um churrasco certo dia em Juiz de Fora, pois minha carona não apareceu e fui aconselhado a investir a grana num concurso dos Correios. Nem sabia que existia. Inscrevi-me, na época de saco cheio da engenharia 8º período, mas sem perspectiva. Engenheiros tropeçavam uns nos outros pela rua. Primeiras boas surpresas, nas fases finais do concurso encontrei o Máximo que vinha me perseguindo ou eu a ele ao longo de toda nossa trajetória estudantil. Nos conhecíamos, nos cumprimentávamos, mas não convivíamos no dia a dia e mesmo assim estudamos juntos no ginasial, no Colégio Técnico Universitário, entrada por vestibular, na Engenharia e naquele momento na ESAP sem nunca combinarmos nada. Também uma vizinha foi grata surpresa. Rosemary Antunes, filha de um amigo de meu pai, vizinha e sempre próxima. Antes de chegar em Brasília, já percebia os sinais de que essa boa aventura seria de encontros, que até hoje ocorrem.

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POSTAIS DA VILA Vamos à saga da despedida na rodoviária de Juiz de Fora, toda família meio felizes, meio chorosos, meio preocupados e com direito a tentar embarcar um monte de panelas velhas dentro de um saco de farinha, preocupação da minha mãe. Onde cozinhar meu filho?? Que a Itapemirim proibiu e só chegou bem depois a Brasília com a ajuda da Ana Paula, nossa colega, cujo pai trabalhava na Itapemirim e auxiliou para que as panelas fossem enviadas na outra semana e que tive que buscar no Rodo Ferroviária de ônibus, presente de mãe grega. Minha viagem mais longa tinha sido para o Rio até então, 200 km. Descobri que partes do meu corpo as quais nunca havia dado atenção, começaram a se manifestar pela dor. Por exemplo, nunca tinha percebido meu pescoço que depois da viagem de19 horas, insistiu em se fazer presente por vários dias. Assim tem sido até hoje, com várias partes desse corpo. E elas doem. Logo que cheguei, deparei com o nordeste representado na minha casa. O nordeste não era assim tão longe. Aldo-AL, Janílson-RN, José Edmilson-RN e Ronaldo-RN. O Mauro NeresMG estava ali para contrabalançar, rs... rs... Convívio bom, problemas naturais de adaptação. Imaturidade às vezes ajudando e às vezes complicando. Tive ali pessoas próximas que com o tempo se fizeram amigos. Que oportunidade foram aqueles anos. A vila era uma fauna. Tinha bicho de todo jeito e todo tamanho, mas a maioria disposta a aprender e crescer. Era metido a atleta. Corria e logo na chegada em BSB uma amiga cruzou meu caminho. Sim, amiga de cara, afinidade

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CAP-XIV instantânea e sinal de muitas histórias que compartilhamos. Muito carinho e atenção até hoje, assim sempre será. Também atleta. Como corríamos. Eu ainda tinha joelhos. Além disso, tinha o vôlei, o futebol e o basquete que Leandro insistia em me ensinar e pelo qual era apaixonado. Enfim, descobri com o tempo que gosto de esportes e gosto de cozinhar, o que não quer dizer nada em relação executar bem quaisquer que sejam esses gostos.... rs...rs... O esporte e a cachaça foram veículos importantes de aproximação. Os grupos naturalmente se fizeram. Queria conhecer todos, mas certamente não fui feliz. Por exemplo, Itzel sentiu-se só e ingenuamente achei que estava próximo. Coisas da língua e principalmente de nossas percepções ainda jovens e em formação à época. Além das farras etílicas e juvenis que sempre geravam boas histórias: entrar escondido na piscina de ondas do Parque da Cidade, Faustão entrando em casa se “esquecendo” de abrir a porta. Entrou. Briga com o Leandro que considero amigo, por nada. Emanuel jogando óleo usado em mim. Óleo usado da vila!!!! Rs. Rambaldi e Montenegro conversando no Bar do João durante mais de 15 horas e só descobrirem que eram ambos do CAP na hora de ir embora. Festas de arromba na G1. Festas da cachaça na casa dos cearenses e pernambucanos. O point “Bar do João”, sempre como principal palco de algumas dessas lendas.

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POSTAIS DA VILA Diverti-me bastante também com a Movie’s Gang, sempre motivo de sacanagens e brincadeiras dos que não eram iniciados, mas que me propiciou bons momentos. As meninas são um capítulo à parte. Há muitas estórias e histórias. Meninas, todas especiais a seu modo. O que me marcou foi sua conduta leve e tranquila no meio de tantos machos e machos que sempre vi se comportarem com qualquer uma delas como gentlemen. Conduta que me ficou registrada como postura de homens e não de machos, mesmo quando ainda meninos. Ah!! Havia os saraus improvisados com sempre algum bom violeiro emprestando seu talento. Homenageio a todos na pessoa do Celso, bom menino, bom homem e cuja “Dia Branco” com ele tocando e cantando ainda me faz chorar como agora. Muito do que escrevi, há muito mais, ou quase tudo está muito aquém do que sinto. Difícil traduzir sentimentos em palavras, mas vale o registro. Aprendi, cresci, me tornei mais maduro e de quem é a culpa???? A culpa é de todos com os quais indistintamente convivi no CAP XIV, colegas e mestres. A culpa é de todos vocês!!!! Breve nos veremos em mais um encontro e muitos outras páginas serão escritas nesses dias. Saudades de todos. Tiango – 20/04/62 e também em (+/-) 22/07/1984.

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Carlos Henrique Caldeira Jardim "La vida no es la que uno vivio, sino la que uno recuerda y como la recuerda para contarla.". (A.D). Houve uma vez uma Esap, um Cap, uma vila e um ônibus Início de 1981. Prestes a concluir o último semestre de Técnico em Eletrônica junto ao Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (RJ), chego um dia em casa e minha mãe (dona de casa com a sua simplicidade de quem não pôde frequentar uma escola) chega e me diz algo do tipo: filho, ouvi na rádio, que os correios estão com inscrições abertas para um concurso para um curso superior (faculdade sei lá) que paga uma bolsa e, no fim, contrata o aluno para ganhar 10 salários mínimos por mês como administrador! Encontro no mesmo dia com alguns colegas na CEFET e converso com eles a respeito. Já nos últimos dias de inscrição, vamos a um posto de inscrição na Primeiro de Março, no centro do Rio e todos fazem a inscrição, menos eu... Ainda não havia completado 18 anos (mas o completaria antes do início do curso) e a moça da inscrição me barrou! Ah, o tal do concurso era para uma certa ESAP (Escola Superior de administração Postal). Julho de 1983. Depois de ter desistido de seguir adiante no curso de Oficial de Náutica na Escola de Oficiais da Marinha

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POSTAIS DA VILA Mercante, onde fora aprovado em concurso no final de 1981, encontro-me em plena sede da Diretoria Regional da ECT no Rio de Janeiro realizando a bateria de exames para ingressar na ESAP, na turma do CAP 13, após aprovação em concorridíssimo concurso. Pensava lá com meus botões: talvez se tivesse passado em 1981, não teria maturidade para ir pra Brasília, mas agora, após a experiência na Marinha, onde consegui lidar com enormes adversidades e, despeito disso, ter obtido bom rendimento acadêmico e conceito de oficialato, meu desafio nos Correios não será um tiro no escuro. Mas não foi bem o que achou a banca do exame psicológico, pois me reprovaram na fase de entrevista (o que só veio a me ser esclarecido um ano depois). Tentei outras oportunidades na área de eletrônica, mas a crise do início dos anos 80 batia com muita força (hiperinflação, desemprego, dívida externa nas alturas e olha que tem gente que tem saudade daquela época...). Acabei indo trabalhar num banco privado como digitador. Fiz novo vestibular e passei em economia na UFRJ, mas a situação apertada lá em casa só reforçava a convicção de que precisava de estabilidade, o que me fez vislumbrar a possibilidade de tentar novamente a Esap. Sabia que a matemática sempre poderia me ajudar e decidi que encararia mais uma vez a tal Esap, a não ser que surgisse prova para Petrobras, Caixa ou Banco do Brasil, já então mapeados como possibilidades.... Julho de 1984. Após ser aprovado no concurso do CAP 14, inclusive pelos tais psicólogos que, desta feita, atestaram que

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CAP-XIV eu estava pronto para seguir em frente (os caras quase me pediram desculpas pelo ano anterior), encontro-me em plena Rodoviária Novo Rio aguardando com mais uns vinte e tantos malucos a partida para a Brasília, rumo à ESAP. Confesso que quase desisti na hora quando me dei conta que deixava para trás namorada, amigos, primos, pais e irmãos (em especial meu irmão mais velho que sofrera um grave acidente de moto e se encontrava internado já há alguns meses). Vinte horas de viagem com lágrimas por um bom trecho, mas já construindo amizades antes de chegar na tal Escola. Ali já estabeleci um vínculo maior com alguns colegas: Douglas (também de Duque de Caxias), Silvio Serpa, Wagner Rosa (que posteriormente veio a se tornar o “sexy-simbol”, segundo algumas meninas prendadas da Escola). Fico pensando se a viagem de ônibus não é, de certa forma, providencial para que o futuro aluno reúna forças e estabeleça vínculos para enfrentar o que tem por vir... Eita povo competente esse dos Correios, pensa em tudo! Na bagagem, além de uma mala e da “minha alma embalada para viagem”, um violão que nunca toquei direito, no máximo “arranhava”, mas que me confortava e me aproximava das pessoas, às vezes até atraía algumas do sexo oposto: um verdadeiro ganha-ganha. Aliás, sempre tive a fé de que uma pessoa que goste de música já é meio caminho andado para ser alguém legal. Cada um com sua mandinga!

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POSTAIS DA VILA Chego na” rodoferroviária de Brasília” (um verdadeiro buraco, de onde diziam também chegar e partir trens, de sorte (ou seria azar) que já começo a achar o negócio meio esquisito e deprimente), cheio de sono, fome, tristeza, mais amassado que biscoito na boca de banguela (como gostava de dizer meu pai). Uma galera do CAP 12 nos recepciona até a Escola que, no final das contas, achei até que dava para o gasto. Deixo mala e violão num canto e sou convidado a ir para um auditório, onde alguns outros malucos supostamente ouviam umas coisas que jamais escutei de verdade, pois minha alma estava a mais de mil quilômetros de distância. Mais tarde nos chamam para cá e para lá, até chegar a um tal de edifício-sede da ECT. Só sei que no meio disso tudo descubro que fora designado “cabeça da casa”. Novamente me lembrei dos caras do exame psicológico: malucos são esses caras que devem ter chegado à conclusão de que poderia ser chefe de alguma coisa. Confesso que imaginei que, assim que possível, passaria tal honraria para alguém mais ajuizado (o que foi feito mais adiante). Chego, finalmente, no fim da tarde, a tal Vila Postal, repleta de buraco e poeira e com ruas repletas de ninguém. Buraco, poeira e lama para mim não eram problema, pois vinha de um de um bairro de Duque de Caxias praticamente desprovido de saneamento e pavimentação. Mas aquela sensação de ninguém na rua e o estado de lástima de diversos colegas despertaram aquele estado inicial da rodoviária. Porém, mais tarde, com os colegas da casa já definidos — Marcos, Luís Carlos, Godoy e

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CAP-XIV Maurício —, choramingamos, conversamos e concluímos que íamos seguir em frente e nos ajudar. Perto de dormir descubro que meu colega de quarto, Marcos, era de Cachoeiro de Itapemirim e já pensei: com este capixaba por perto não vou passar aperto... Começam as aulas e seguia com aquela convicção de que a matemática, que sempre me ajudou, não iria me abandonar à própria sorte. Ledo engano, já não sei se pelo fato da fama do professor narrada pelos alunos dos outros CAP ter me minado, a verdade é que a aprovação em matemática, no fim do semestre, foi decidida nas últimas badaladas e graças ao apoio dos amigos da casa. Mas havia algo, muito melhor que a matemática, que me salvaria: ela, a música! Primeiro que entrei em um coral formado por uma galera muito bacana, capitaneado pela maestrina Marisa. Além disso, batia um violãozinho em especial na minha e na casa das alunas vizinhas simpáticas (se bem que, a bem da verdade, havia uma delas um pouco mais séria). Graças a isso, pude ir conhecendo diversos colegas que tocavam, estes sim, violão: o magistral Edimilson, o companheiríssimo Celso, o intelectualíssimo e camaradíssimo Daniel e o cantante e animadíssimo Aldo. Desses nunca mais me separei! Mas havia ainda um ônibus, ônibus este que fazia o trajeto Vila/ESAP pela manhã (quase madrugada) e ESAP/Vila,

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POSTAIS DA VILA partindo às 18h45, religiosamente, de segunda à sexta-feira (correio é horário!). Nessas viagens de volta, que duravam bem uns quarenta minutos, ficava ouvindo e prestando atenção nuns caras dos CAP 12 e 13 que cantarolavam músicas bregas que animavam a até então aparentemente indócil viagem diária... Vários do CAP 14 iam se assanhando, dentre eles eu, e iam se juntando ao espetáculo brega... Minha mãe, pessoa simples, adorava dois cantores (além de Roberto Carlos que ocupava um lugar cativo por ser da mesma cidade de origem de dela e do meu pai, Cachoeiro de Itapemirim): Ritchie (aquele da “Menina Veneno”) e Sidney Magal (aquele da “Cigana Sandra Rosa Madalena”). Eu, do alto da minha pseudointelectualidade, repudiava, externamente, tal gosto, mas lá no fundo me tocava com ambos os cantores, sobretudo com o performático Sidney Magal com o seu jeito incomum de cantar e com a sua comunicação corporal invejável. Pensava comigo: esse cara vai, de uma só tacada, no coração e nas entranhas da mulherada, ele é muito bom! Mas isso era secreto, bem secreto comigo mesmo... Eis que um dia resolvo, em pleno percurso do ônibus para a casa, fazer uma performance “a la Magal” e inacreditavelmente percebi que conseguia alcançar a altura e a rouquidão da voz do maluco (ainda que terminasse quase sem voz após o feito).

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CAP-XIV Para minha surpresa, os colegas foram se interessando e quase todos os dias rolava o ritual do Magal. A partir daí era Magal nas festas da Vila, a Magal nas comemorações oficiais da ESAP, Magal na recepção de novo CAP. Haja Magal. Chegou-se ao ponto de se formar o grupo musical “Caldeira e suas magaletes”, constituído por divertidas figuras gaiatas de mais de um CAP. Magal tomou conta de mim a ponto de achar, por algumas vezes, sem graça as férias na casa dos meus pais sem a presença do Magal... Seria mesmo o Magal um mero personagem? Estaria a banca de psicólogos correta em ter me reprovado em 1983? O auge do Magal, a meu ver, ocorreu em uma festa junina na Vila. Não me perguntem o ano porque costumava começar a beber cedo em tais ocasiões. Gerardo fez o roteiro que basicamente consistia no seguinte: o noivo, representado por um dos colegas que fez o papel da noiva, o delgado e o padre (já não me recordo dos atores, tudo pura culpa da cachaça)... A novidade: Sidney Magal é convidado para cantar na festa em homenagem aos noivos e eis que, num surto de tomada de consciência e completamente embriagado por sua paixão avassaladora, o noivo escapa da noiva, pai, delegado e tudo o mais e salta ao colo do Magal que com ele foge para, enfim, encontrarem o verdadeiro amor! Não consigo deixar de rir até hoje quando me recordo do salto do Ivan e da minha corrida com ele no colo. Inesquecível!

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POSTAIS DA VILA A vida é mesmo única. Ainda bem que houve uma vez uma ESAP, um CAP, uma Vila e um ônibus.

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JOSÉ CARLOS " Há entre o tempo e o destino Um caso antigo, um elo, um par Que pode acontecer menino Se o tempo não passar?" (Tempo e destino – com Dominguinhos). “O ZÉ BICHA” Uma música que gosto muito diz que “há entre o tempo e o destino um caso antigo, um elo, um par”. Não sou de dar muita importância a essas coisas de destino ou às bobagens “escritas nas estrelas”, como dizem alguns românticos, mas de certa forma, algumas coisas que acorreram ao longo dos meus quase sessenta anos são ao menos curiosas. Sou o segundo de quatro filhos de um José e de uma Maria (de Lourdes) que até o dia do meu nascimento não haviam escolhido o meu nome, sabiam apenas que se fosse menino não seria José, afinal o primeiro filho já tinha recebido o nome de José (em homenagem ao pai) Arsênio (em homenagem ao avô paterno). Minha sorte de não ter sido o primeiro poderia ter me reservado um nome menos comum ou outro escolhido da tabela periódica, mas eis que nasci em 19 de março numa pequena cidade, de um pequeno Estado, chamada São José da Laje, então

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POSTAIS DA VILA que nome poderia ter um filho do Zé, nascido na Laje no dia de São José. E por falar na minha terra natal, durante quase toda a minha vida só me recordo da cara de riso das pessoas e da pergunta São José de que? (Belchior sabe bem o que é isso). Ainda inspirado em “Tempo e Destino” peço desculpa a todos por começar meu relato muito antes da nossa viagem para Brasília, na verdade, antes mesmo da minha peregrinação por essas terras. Meu velho pai, já falecido, foi nascido e criado em Niterói, foi da marinha mercante e por quase meio século conheceu quase todos os lugares do planeta banhados por um oceano. Com uma vida dedicada ao mar, poderia eu ter sido filho de uma italiana, angolana, mexicana ou até japonesa (eu poderia ter sido o “Japa-gay” em vez de “Zé Bicha”). E como alguém assim acabou descobrindo o amor da vida na “tal da Laje”, cidadezinha encravada num vale, no interior de Alagoas, banhada por um rio que nem barco a remo “navega”? É aí que entra pela primeira vez os Correios na minha vida (antes mesmo dessa vida ter sido imaginada). Pois é, meus pais se conheceram por correspondência! As cartas também fizeram parte da minha infância, adolescência e juventude, já que as enormes cartas do meu velho, sempre escritas com uma caligrafia impecável, eram muito aguardadas, pela saudade (e também porque eu saberia se ele

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CAP-XIV tinha encontrado os disco de “Metal” que eu tinha pedido) e chamavam muita atenção pelos selos e os nomes estranhos dos lugares. Mesmo assim, nunca colecionei selos e (como quase todos) muito menos pensei em um dia trabalhar nos Correios. Em 1983 me encontrava totalmente desestimulado com o curso de engenharia que fazia, tinha trocado a Católica de Petrópolis pela UFF e nem a metade dos créditos foram aproveitados, mesmo já tendo passado quatro anos na universidade ainda “pagava” matérias do básico, sem contar a falta alternativas que o mercado apresentava na época. Foi então que minha namorada falou-me de um concurso e dizia categoricamente “Faz Junior, que você passa”. É claro que no fundo eu creditava esse otimismo a uma falta de conhecimento de estatística, só mais tarde pude perceber que tratava-se de uma forma especial de enfrentar os obstáculos da vida. De qualquer forma, fiz minha inscrição e a história transcorre bem parecida com a de todos os colegas até aquele “ônibus pra Brasília”. Recém chegado ao DF, resolvi ir visitar uma amiga da minha mãe (da Lage), Dona Corália (também já falecida), que morava em Sobradinho. Não sabia o que esperar, afinal não conhecia ninguém e além do nome estranho, muito estranho, que já tinha ouvido algumas vezes na casa dos meus pais, pouco sabia sobre as pessoas que iria visitar, parecia esses casos de amizades que o tempo e as distâncias deixam esquecidas.

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POSTAIS DA VILA Para a minha surpresa fui recebido como um membro da família; uma família típica de nordestinos, pioneiros em Brasília, cresceram com a cidade (construindo a cidade). O carinho que recebi desses amigos, realmente não tenho como descrever em palavras. De certa forma, essa amizade que se formou me privou, em parte, do convívio com os colegas nos finais de semana na Vila Postal, quando a maioria dos “causos” ocorriam. Com muita frequência, mesmo de ressaca, “viajava” de Taguatinga a Sobradinho, somente para ouvir as histórias, contadas sempre com muito bom humor, dos tempos da construção de Brasília. As dificuldades que aquelas pessoas enfrentaram naquela época e como podiam encarar tudo aquilo, rindo do que passaram, fazia com que os pequenos obstáculos da nossa vida de adcapianos me parecem pouco significantes. Formava em mim uma certeza de que um dia também estaríamos rindo das nossas dificuldades. Todos foram para mim um grande exemplo de superação e de sucesso. Com certeza o dia mais difícil que vivi em Brasília foi quando fui visitar Dona Corália no hospital e recebi a notícia de que ela já não estava conosco. Bem menos angustiante, foi outro fato curioso. É que fui criado em Niterói na subida do “Morro de Estado”, barra pesadíssima, violência por todos os cantos, mas a primeira vez

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CAP-XIV que me senti vítima da “violência urbana” foi justamente na Vila Postal. Tínhamos retornado de férias a pouco tempo, quando tivemos o desprazer de ter a casa arrombada. Entraram no quarto que eu dividia com o Thomé e fizeram a limpa. É aquela história, “pobre” não tem nada, mas vive perdendo tudo (rsrs). Zé Tonel estava cheio de roupa nova (queria ser “fashion” a todo custo), acho que não sobrou nem as cuecas, enquanto minhas calças remendadas e camisas surradas foram categoricamente rejeitadas pelo “meliante” especialista em moda. A Vila tinha empresa de segurança contratada que era obrigada a indenizar os alunos nesses casos. No semestre anterior a casa da Júnia havia passado pela mesma amargura e as meninas tinham nos contado como era difícil a negociação com essa empresa. Diante da perspectiva sinistra, eu e Thomé fizemos um “BO” recheado de “sonhos de consumo” e assim não tivemos dificuldade em aceitar os 50% de indenização que a empresa picareta oferecia, recuperando praticamente todo o prejuízo. Bem, como diz o ditado: “Para tudo na vida tem remédio”. Para falta de grana o remédio era a Rita, “Chora Rita”. Para falta da família, eu tinha o carinho em Sobradinho. Para falta dos velhos amigo, os novos amigos, parceiros na mesma batalha. Para falta “do que fazer” tinham as aulas (tipo: remédio pior que a doença). Para falta da namorada (a tal otimista), só mesmo as viagens “fugidas” para Niterói.

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POSTAIS DA VILA Esse último remédio era tão bom que não podia dar em outra coisa, acabou em casamento um ano e meio antes da formatura. A ideia original era “casar, continuar enfrentando a distância, e pensar em filhos somente bem depois da conclusão do curso”. É claro que não ia dar certo, com aquele “fogo” todo, mais cedo ou mais tarde algo estaria na “fornada” de nove meses. E foi assim que cheguei ao último período, dividindo as preocupações com o trabalho de final de curso com a expectativa da chegada do meu primeiro filho. Graças a “Santa” Beth, que assumiu o trabalho final praticamente sozinha, consegui chegar a formatura. Meus pais estavam viajando, minha mulher no finalzinho de gravidez, ficou certo que minha “tia Zeza” seria a única de Niterói a poder assistir a tal formatura. Porém a menos de uma semana do evento, meu primo sofre uma crise de apendicite e tem que ser operado às pressas e lá fui eu para Brasília sozinho outra vez. Assim minha madrinha, foi Marilda, uma neta de Dona Corália, uma justa e sincera homenagem. Durante todo o CAP uma pergunta sempre se fez presente em nossa mente, sobre nosso destino: “Onde vou Pará?”. No meu caso, tenho que escrever assim mesmo, pois foi exatamente para o Pará que fui mandado, com minha esposa Cleo e o pequeno Fernando.

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CAP-XIV Tenho que confessar que nos pareceu ter ido para outro planeta, costumes, comida, música e até a chuva, enfim era tudo muuuito estranho. Na minha percepção, em Belém, no verão chovia todo dia e no inverno chovia o dia todo, sendo que cada pingo era suficiente para encher um copo d'água. Por anos sonhamos em voltar para Niterói, até perceber que não seria mais esse o caminho a ser trilhado. Com o tempo aprendemos a gostar de muita do Pará e até hoje sou grato pela oportunidade de ter vivido na amazônia, onde nasceu nossa filha Renata. Como o clima de Belém prejudicava muito a minha saúde e dos meus filhos, mesmo não querendo mais voltar para Nikiti, sair do Pará era acima de tudo necessário. Quando pedi transferência, pela última vez, não fiz grandes restrições, queria apenas ir para o Nordeste. Quis então o destino que a oportunidade surgisse exatamente em Maceió, bem perto da grande metrópole de São José da Laje, que finalmente pude conhecer e participar da reinauguração da Agência de Correios local, quando fui saudado como verdadeiro filho legítimo da terra (quem diria?). Sei que essa é uma trajetória simples e comum e pensei seriamente em descrever algum dos fatos mais inusitados, daqueles bem bizarros que presenciei, participei ou protagonizei nos nossos tempos de ESAP, mas quando olho pra trás percebo

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POSTAIS DA VILA que cada pequena lembrança esteve comigo durante todo o “resto” da minha vida. Os jogos de truco, os copos de Chora Rita “entornados” sem o uso das mãos, as brincadeiras no ônibus, as piadas infames, as “corridas de subir no poste”, a “polaca invisível”, até a lembrança da ridícula inauguração de um “mastro” com direito a parabéns para coronel, enfim cada pedacinho dessa louca colcha de retalhos é parte do que sou e compartilhar com vocês, outras experiências que vivi, ao longo do tempo, é minha forma de agradecer a todos pelos “dias de luta, dias de glória (ou nem tantas assim)”, que foram nossos adoráveis tempos difíceis de “capianos”. É claro que temos lembranças diferentes, vivenciamos situações diferentes, algumas mais bizarras que as outras, mas creio que o consenso é que aqueles foram dias especiais para todos. Tenho muitas vezes a estranha sensação de que no CAP, apesar da competição éramos mais unidos. Apesar das carências, também éramos mais solidários. E principalmente apesar de todas as regras, éramos mais livres. Pensar naqueles dias é voltar no tempo, é reviver as alegrias (tristezas também), é ressonhar um futuro, querer o tempo de volta e sentir viva toda aquela ebulição de sentimentos. Mas é claro que mesmo fazendo nosso próprio destino não somos donos do tempo e as lembranças cada vez mais esmaecidas são nosso único elo com a pessoa que fomos naqueles dias!

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CAP-XIV Como diz a canção que me inspirou no início “O que acontecerá aos corações se o tempo não passar?”

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Carlos Cantarin "Cada saudade tem um porquê e um por quem.". (Renato Russo). Feira da Pechincha da Ceilândia Assim como a maioria dos que ingressaram na ESAP, especificamente CAP XIV, também venho de uma família humilde, de poucos recursos. Tive o privilégio de estudar num dos melhores colégios particulares do interior de São Paulo, mediante uma bolsa de estudo para atleta. Agarrei esta oportunidade com unhas e dentes e, motivado pelo senso de competitividade, terminei o colegial com uma bagagem considerável, apto para encarar quaisquer vestibulares da época. Infelizmente, também terminei o colegial sem a mínima vocação, sem ao menos saber o que fazer da vida. Passei em alguns deles, engenharia química e bacharelado em biologia, sem ao menos saber qual a área de atuação destes profissionais. Neste mesmo período, conheci o grande amor de minha vida: Teresinha. Fato este que me deu uma motivação diferente. Não pensava ser bem sucedido, estabilizado ou realizado profissionalmente. Só queria ter a possibilidade de viver a dois, e

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CAP-XIV também , por questões religiosas, sair definitivamente da casa de meus pais. Então, a saída imediata seria prestar concursos: Banespa, Caixa e, finalmente, Correios, incentivado pela sogra, Técnica em Filatelia. Bom, a chegada em Brasília não assustou. Muito menos a Vila Postal. Afinal, para quem já morou na periferia de São Paulo na infância, e via sua casa inundada a cada chuva, aquilo era um paraíso. Um paraíso de terra vermelha...desculpe...barro. Desculpe novamente...barro e poeira. Mas o choque maior foi o cultural. Deparei-me com uma galera fora do comum, de uma cultura impar, que tanto me orgulhava. Sentia-me um peixe fora d’água. Lembro-me um dia, no ônibus, saindo da Vila Postal, conversando entre amigos dos diversos CAP, soltei uma pérola absurda, um erro de concordância de doer. Acho que, de tão grave, acabou sendo lobotomizada “do meu cérebro” (só pode ser, né?). E, pra minha sorte, adivinhem quem ouviu, várias poltronas atrás ?? O “véio” Ramba. Preciso dizer mais alguma coisa ? Quem o conheceu bem, consegue imaginá-lo falando a respeito disso, com aquela delicadeza e ironia, peculiares.

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POSTAIS DA VILA Causos, não tenho muitos. Vivi muito pouco socialmente na ESAP. O pouco que ganhávamos, guardava para viajar a cada duas ou três semanas. Mas as histórias folclóricas giram em torno das nossas aquisições de eletrodomésticos junto à “feira” da Ceilândia. Claro que todos de origem duvidosa. Nem tão duvidosa assim. Sabíamos qual era a procedência, né ? Imaginem a cena, semanalmente, os integrantes da G2 subindo com uma geladeira no lombo, com o intuito de resgatar a “garantia” da mesma junto ao fornecedor. Acredito que nos 2 anos e meio, ela tenha sido levada para conserto umas 10 vezes. Porém, tivemos boas aquisições, como a famosa TV colorida, de trocentas (mais uma vez o Ramba) polegadas. Palco de muitos programas, tais como Roque Santeiro (novela que o Afrânio abominava, e “não” assistia de maneira alguma), a copa do mundo de 86, e as noitadas de truco. Por falar em G2, acredito que era a casa mais “homogênea” da vila postal (2 paulistas, 2 piauienses, 1 gaúcho e 1 mineiro). Quanto à minha vida profissional na ECT, até que foi razoável. Iniciei em Macapá, um moleque de 21 anos gerenciando uma unidade operacional com quase 40 empregados, num período pós plano cruzado, mão de obra escassa, onde tive a oportunidade de chefiar desde surripiadores de reembolsos postais, até indiciados de estupro e homicidas.

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CAP-XIV Ainda bem que tinha um tesoureiro de confiança, pois nem balancete de agência eu sabia fazer. Consegui retornar a Diretoria Regional de S J Rio Preto, a qual se extinguiu em 1990, e por conta disso, acabei sendo transferido para São Paulo, onde tive a oportunidade de trabalhar com Carminha e Rogiero na APECE, e Tiango na RPN. Aliás, trabalhar com o Tiango me proporcionou conhecer a gastronomia nas madrugadas, ao retornarmos da operação: pastel, coxinha, quibe. Tiango era o “cara”. Conhecia bem os caminhos da Vila Carrão, Penha, Tatuapé. Retornei a Rio Preto, então Região Operacional, onde tive a oportunidade de trabalhar até o ano de 2000, e em seguida me desliguei do quadro da ECT, no primeiro PDI. Resolvi, então, seguir minha real vocação: educador físico. Hoje vivo isolado no litoral oeste do Ceará, num vilarejo chamado Almofala, onde, salvo as proporções românticas, me comparo a Andy Dufresne e Zihuatanejo. Apesar de apaixonado e um tanto piegas, não vivo mais ao lado daquela que foi o grande amor da minha vida. Vida esta que é uma eterna busca. De sonhos, de amores,... Qualquer dia alguém entra na sua vida e a sua vida já não é mais a mesma e aí ...

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Walmiro Gonçalves Costa "El número pi () há sido desde miles de años atrás um enigma y “entretenimiento”, para matemáticos de todo el mundo com diferentes métodos tratando de descifrar el valor de dicho número, quienes com su esfurezo han logrado hacer historia em su búsqueda.” (A. D.). O número Pi e a ESAP. "Em 2009, na Universidade de Tsukuba, no Japão, pesquisadores suplantaram o antigo recorde da constante Pi, duplicando o número de casas decimais conhecidas para mais de 2,5 trilhões. Em 73 horas e 36 minutos, foram calculadas 2.576.980.377.524 casas decimais utilizando um computador denominado à época de T2K Tsukuba System. " Lembro de ter lido essa notícia, quando me encontrava em visita a uma Universidade Americana, no ano de 2009. Assuntos relacionados à Matemática sempre foram do meu interesse, mesmo porque sou um apaixonado e egresso dessa ciência e com frequência revejo alguns de seus capítulos vistos por mim durante meus anos de estudante de ciências exatas. Recentemente, fui novamente surpreendido pela força desse número. Recebi imagens de uma comemoração que estava ocorrendo na Universidade do Kentucky, no dia do aniversário do

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CAP-XIV número Pi . Meu filho que estudava lá me fez essa grata surpresa. Havia inclusive a distribuição de biscoitos cunhados com o fantástico número. Todas as vezes que me deparo com número Pi, navego no tempo e me vejo novamente na Vila Postal. E o que a Vila Postal, o CAP XIV e nossa comemoração de 30 anos têm a ver com esse número ? Todas às noites, na casa da Vila Postal onde morava, assistia a um espetáculo de inteligência e precisão. Talvez, sem perceber, estive diante de uma nova versão de Arquimedes, o primeiro matemático da Antiguidade a tentar estabelecer um valor para o número irracional e transcendente PI . Todas as noites, páginas e mais páginas com cálculos do número Pi, feitos à mão . As casas decimais já contavam muitas centenas de números. Ficava assistindo àquele espetáculo, em meio ao grande silêncio e solidão imposto pela Vila Postal. A cada dezena de casas decimais calculadas, a genial calculadora humana se exercitava com alteres, o que lhe dava, a cada dia, mais uma dezena de milímetros de bíceps. Mais parecia um prisioneiro que escrevia a sua história em forma de número Pi. Calado, movimentos lentos e dono de uma educação invejável. Assim se comportava o Arquimedes da Vila Postal. Um grande companheiro.

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POSTAIS DA VILA Em busca de novos horizontes, achou por bem pedir desligamento do curso e retornou para a sua cidade natal e retomar os estudos na área de Engenharia Eletrônica. Passou então a frequentar a casa dos meus pais, com os quais fez grande amizade. O encontrei uma vez durante um período de férias escolares. Mas nosso Arquimedes, após comprar uma motocicleta para o seu transporte, sofreu um acidente e um TCE ( Traumatismo Crânio Encefálico ) e faleceu. Era o ano de 1986 ! Só pude comparecer na missa de trigésimo dia (eram católicos ) , e nesse momento causei uma grande lembrança e dor à mãe do nosso colega, que, ao me ver, lembrou do filho. História triste e a escolhida para o meu texto. Qual o motivo da escolha ? Não só para prestar uma homenagem ao colega que se divertia com o número PI, como também para reiterar o que sempre digo : "tive o privilégio de viver e conviver com um grupo de jovens de uma inteligência ímpar!". Todos cumpriram - e continuam a cumprir -, com o seu papel relevante na sociedade. E tudo o que conquistaram foi por meio de uma caneta, de um lápis, de uma borracha e de uma inteligência fantástica. Parabéns a todos vocês !! Vocês são ímpares !!

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CAP-XIV E que nosso colega e amigo EUGÊNIO VANDERLEY ICHIHARA , continue a calcular as centenas de milhares de casas decimais que esta vida nos reserva !! Você sempre estará nas nossas lembranças e nos nossos corações !!!

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