A Bola Oval nas Terras dos Marechais

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A BOLA OVAL NA TERRA DOS MARECHAIS RÚGBI E FUTEBOL AMERICANO GANHAM ESPAÇO EM ALAGOAS

por Allef Chagas A revista A bola oval na terra dos marechais procura tratar do desenvolvimento da prática do rúgbi e do futebol americano no cenário alagoano. Esportes com traços semelhantes ao futebol, mas sem o mesmo sucesso no Brasil, vêm ganhando adeptos nos últimos anos. Para falar mais sobre o esporte, foram escolhidas duas equipes, uma de rúgbi em Arapiraca, no agreste alagoano, chamada de Arapiraca Rugby Club; e outra situada em Maceió, capital alagoana, que pratica futebol americano, o Maceió Marechais. O que é necessário para se praticar os esportes? Como as equipes conseguem se manter num cenário sem apoio mesmo para time de futebol? Como é a participação das mulheres? As reportagens a seguir respondem a isso e mostram as realidades vivenciadas pelas equipes em busca do reconhecimento na prática destes esportes em Alagoas.

FICHA TÉCNICA Texto Allef Chagas Orientação Júlio Arantes Projeto Gráfico e Diagramação Daniel Borges Ilustrações Freepik, Tiago Teixeira Fotografias Freepik, Luiz Pires, Mila Marinho, Dall Fragosso

Universidade Federal de Alagoas Instituto de Ciências Humanas, Comunicação e Arte Curso de Jornalismo Este é um trabalho feito como requisito para conclusão do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Alagoas.


HISTÓRIA DO RÚGBI

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isputado em mais de 120 países, o rúgbi é extremamente popular, sobretudo em países de colonização inglesa, como o Reino Unido, a Austrália, a Nova Zelândia e a África do Sul. Ninguém afirma com convicção a verdadeira história da criação do esporte, mas há um consenso sobre o início de seu processo de normatização. Segundo relatos históricos, o rúgbi surgiu em meados de 1823, na Inglaterra. Durante uma partida de futebol, o jogador William Webb Ellis, da cidade de Rugby, teria pego a bola com as mãos e seguido com ela até o gol da equipe adversária. Sem se dar conta do que acabará de fazer, William abriu caminho a um esporte que hoje acumula mais de três milhões de praticantes, sejam eles profissionais federados ou apenas amantes da prática desportiva. Dois séculos após o ocorrido, o rúgbi tornou-se um dos esportes mais populares do mundo.

REGRAS DO RÚGBI

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rúgbi costuma ser confundido com o futebol americano (football, nos Estados Unidos). Mas é preciso saber que o futebol americano

veio do rúgbi, com uma das principais diferenças é que neste a bola só pode ser passada para trás ou lateralmente, em que a única maneira de se passar a bola para frente é chutando. Já no futebol americano existem os lançamentos de jardas pelo Quarterback, como o Tom Brady que é, talvez o jogador mais famoso do esporte. A disputa de bola em campo também é diferente. O rúgbi tem 3 características peculiares, Line Out, jogada lateral; o scrum, que é formado pelos jogadores mais pesados(formado por 8 jogadores para uma disputa de bola); e o ruck, que é uma proteção para reiniciar o jogo quando um jogador está deitado, o outro time deve esperar que um dos jogadores da equipe que tem posse de bola tente passar a mesma para um membro da equipe para que ocorra a tentativa de tomada da bola, mas depois ou o jogador é tirado ou há a disputa, mas o time adversário não pode pegar a bola diretamente. Para qualquer pessoa que queira competir no rúgbi são exigidos dois certificados obrigatórios. Um deles é o Rugbyready que é da IRB (International Rugby Board) sobre a segurança, como é feita a rodagem do jogo, para que você entenda as regras. Se não possuir esse certificado não pode jogar. Além desse existe mais um que é exigido chamado de RugbyLaws, que são das leis e regras do jogo. É mais complexo porque existem muitas regras, mas um jogador precisa conhe-

cer o básico. Qualquer pessoa tem acesso a esse material, é só procurar por IRB Laws e IRB Ready. Em relação a equipamento, tem que jogar estilo jogador de futebol, mas sem caneleira. O equipamento que é obrigatório é o protetor bucal, que é utilizado em todas as vertentes mais conhecidas: na areia ou no gramado. O uso de chuteira no gramado também é item obrigatório, já na versão de praia (ou areia) se joga descalço.

FORMATOS DO RÚGBI Sobre os tipos de formatos existentes para praticar o esporte, existem três maneiras: o esporte no formato educacional e o esporte no formato alto rendimento, dividido em Sevens e XV, como será explicado posteriormente.

1 - F O R M ATO EDUCACIONAL Como o nome sugere é voltado à prática nas escolas(é geralmente utilizada a versão TagRugby, que é um jogo de iniciação da prática do rúgbi, onde o contato físico é substituído por uma fita que é puxada, nos moldes da brincadeira “pega bandeira”, onde quem tem a fita retirada tem que parar e passar a bola, ou seja, uma pes-


soa de 2 metros pode ser marcada por outra de 1,50m, ou por uma criança. Se ela tirar a fita você está neutralizado do jogo, é utilizada na prática educacional e para iniciar o convívio do esporte para quem não possui conhecimento sobre ele, vale ressaltar que nesta prática não existe contato entre os participantes e o jogo é feito com fitas para ensinar as primeiras progressões, unindo assim esporte e educação, onde podem jogar crianças e adolescentes, independente do peso e do tamanho. O esporte também pode

Foto: Freepik

ser utilizado como lazer, que são cai de 15 para 7, existe apenas 1 as variadas formas que existem (um) minuto de intervalo entre para fazer buscando a diversão. cada tempo e existem diferenças em relação a conversão e joga2 - RUGBY SEVENS dores no scrum.

(Rúgbi de 7)

Foi o formato do rúgbi que retornou ás Olimpíadas, em 2016 no Rio de Janeiro, é uma prática que necessita de atletas de alto rendimento e que é mais seletivo na escolha destes atletas. O tempo é reduzido em relação ao de XV, são apenas 2 (dois) tempos de 7 (sete) minutos, o número de jogadores

3 - RUGBY UNION

(Rúgbi de 15 ou rúgbi XV) É o formato tradicionalmente utilizado, com 15 jogadores, geralmente é formado por 8 atletas mais pesados, com mais de 100 kg; e 7 em uma linha formada por atletas mais rápidos e leves, fazendo assim uma formação de 15 jo-


gadores utilizadas em competições. A Copa do Mundo de Rugby Union é a maior competição deste esporte, foi iniciada em 1987, tendo como sedes Nova Zelândia e Austrália e tendo a Nova Zelândia sendo campeã, conhecidos como os All Blacks, são os maiores vencedores do torneio sendo

campeões por 3 vezes. Uma curiosidade sobre as Copas do Mundo de Rugby Union, foi a disputa de 1995, onde a África do Sul foi sede e campeã. Em meio ao Apartheid, a seleção sul africana de rúgbi conseguiu unir negros e brancos para torcer juntos, o feito de Nelson Mandela e do

o que é o rugby? Rugby XV

2 times de 15 atetlas 2 tempos de 40 minutos Campo – Medidas máximas de 100m x 70m

capitão da equipe, François Pienaar virou filme com nome de Invictus, que ficou famoso em todo o mundo, inclusive com indicações ao Oscar para Morgan Freeman (Nelson Mandela), como melhor ator e Matt Damon (François Pienaar), como melhor ator coadjuvante.

Rugby Sevens

2 times de 7 atetlas 2 tempos de 7 minutos Campo – Medidas máximas de 100m x 70 m

A bola só pode ser passada para o lado ou para trás, nunca para frente. A bola só pode ser jogada para frente através de um chute.

Try: 5 pontos O jogador tem que passar a linha de in-goal (linha Hs) do adversário e apoiar a bola contra o chão.

Apenas o atleta com a posse de bola pode ser derrubado. A ação de derrubar um adversário é chamada de tackle e deve ser apenas da linha do peito para baixo.

Drop Goal: 3 pontos É um chute de bate-pronto, no qual a bola deve quicar primeiro no chão e passar pelo H. Pode ser realizado a qualquer momento da partida.

Line-Out Conversão: 2 pontos Sempre que a equipe faz o Try ela tem direito a um chute para os Hs, valendo 2 pontos. A bola fica parada em um apoio. Na modalidade Sevens e o chute deve ser feito como um Drop Goal. Penalidade: 3 pontos Mesmo procedimento após sofrer uma falta grave.

Quando a bola sai pela lateral os jogadores fazem duas filas paralelas e a bola deve ser lançada entre elas.

Scrum É uma forma de reinício do jogo sempre que há uma infração leve, como um passe para a frente. O time que não cometeu a infração posiciona a bola no túnel para ganha-la de volta.


CAMPEÕES DA COPA DO MUNDO DE RUGBY UNION 1º NOVA ZELÂNDIA

1987 2011 2015 2º ÁFRICA DO SUL

1995 2007 2º AUSTRÁLIA

1991 1999 4º INGLATERRA

2003


Os Tupi

HISTÓRIA DO RÚGBI NO BRASIL

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história do rúgbi no país teve início ao mesmo tempo que o futebol, esporte mais popular do país. A primeira equipe com registro da prática em solo tupiniquim foi o Clube Brasileiro de Futebol Rugby, no Rio de Janeiro, em 1891,porém

não teve vida longa. Segundo o pesquisador Victor Sá Ramalho Antonio, foi Charles Miller, aquele mesmo que trouxe a bola de futebol da Inglaterra para o Brasil, o responsável por trazer também uma bola oval, de rúgbi, para o São Paulo Athletic Club. Porém, a atividade não obteve êxito e foi finalizada. O esporte então passou a ser praticado ocasionalmente, geralmente por britânicos que residiam aqui no Brasil. A partir da década de 1920, o esporte passou a ser jo-

gado mais frequentemente no país, existiam algumas equipes que se destacavam, casos do São Paulo Rugby Football Club e Associação Atlética das Palmeiras, de São Paulo-SP; Santos Athletic Club, de Santos-SP; e Rio Cricket and Athletic Association, de Niterói-RJ. A partir de 1927, as seleções de São Paulo e Rio de Janeiro passaram a se enfrentar anualmente na disputa da Taça BeilbyAlston, homenagem a um embaixador britânico, torneio que foi paralisado posterior-


is - Seleção Brasileira de Rúgbi. Foto: Luiz Pires.

mente devido a Segunda Guerra Mundial, em que alguns estrangeiros se mobilizaram pelos conflitos, e só voltou a ser disputada de 1947 a 1963. O primeiro jogo da seleção brasileira em cenário internacional aconteceu em uma excursão ao Uruguai em 1950 e no ano seguinte o Brasil disputou o 1º Campeonato Sul-Americano de Rugby, na Argentina, onde 04(quatro) seleções participaram do torneio; Brasil, Chile, Uruguai e Argentina e os anfitriões argentinos se sagraram

campeões. Até os anos 1960, a maioria dos adeptos do esporte eram estrangeiros, ou brasileiros descendentes de estrangeiros, no qual se destacavam os britânicos. Só no início da década de 1970 que o rúgbi passou a ser praticado por mais brasileiros em mais estados do território nacional. Entre os anos 70 e 90, o Brasil teve pouco crescimento no esporte e sempre disputou campeonatos sul-americanos e não conseguiu passar do 4º lugar nesta competição. A TV por assinatura ajudou muito no crescimento do esporte, com os campeonatos mundiais passando a ser transmitidos em todo o território nacional a primeira transmissão foi justamente na Copa do Mundo em 1999 pela ESPN. Essa maior visibilidade despontou em uma maior procura pelo rúgbi em solo nacional, vários clubes foram criados ea seleção se solidificou na disputa de campeonatos sul-americanos, inclusive vencendo a disputa da Série B do Campeonato Sul-Americano em 2001 e conseguindo boas campanhas em eliminatórias da Copa do Mundo, mesmo não conseguindo se classificar para o torneio. Em 2010, a empresa Topper, famosa marca de uniformes esportivos do Brasil começou a patrocinar a Confederação Brasileira de Rugby. Além de estampar sua marca, eles queriam alavancar o esporte, para isso, uma série de propagandas foram feitas. Em tom sarcástico sobre dados reais de

um esporte que não tem muita tradição no Brasil, um slogan foi criado e ficou muito famoso: “Rugby, isso ainda vai ser grande no Brasil”. Essas propagandas ajudaram a disseminar um esporte que estava em ascensão no mundo, com campeonatos cada vez mais disputados e veiculados, tanto que em 2016 o esporte voltou a figurar no cenário olímpico, fato que não acontecia desde 1924. O Rio de Janeiro foi o local da tão esperada volta do esporte às Olimpíadas de Verão, que foi disputada na modalidade Sevens, com 7 jogadores. A participação inédita dos Tupis, a seleção brasileira que havia sido classificada por ser o país sede foi razoável, pois conseguiram pontuar contra Fiji, campeões do torneio, o que se avaliou foi o desempenho tendo em vista que estava enfrentando seleções que foram campeãs continentais, o Brasil perdeu para Fiji, Estados Unidos, Argentina e Quênia, ficando com a 12º colocação do torneio. A seleção campeã foi justamente Fiji, país formado por ilhas na Oceania, que conseguiu levar a primeira medalha da história para o seu país, justamente subindo no lugar mais alto do pódio. Já a seleção feminina conquistou resultados melhores, mesmo sendo facilmente derrotadas por potências, as brasileiras conseguiram vencer o Japão, duas vezes e a Colômbia, terminando sua participação em 9º lugar. A Austrália ficou com a medalha de ouro na competição.


ARAPIRACA RUGBY CLUB – O INÍCIO

Já de volta ao Brasil, eles fizeram um curso pela Con-

federação Brasileira de Rugby (CBRu), na cidade de Jaboatão

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m Arapiraca, os primeiros contatos com as regras do rúgbi vieram com o pessoal de Maceió, onde um português iniciou a prática esportiva por lá e depois foi reproduzido no município do interior. Dentro dessa prática o pessoal de Arapiraca criou seu próprio escudo, nome e tiveram várias parcerias. Tudo começou com dois amigos Bráulio Patrick da Silva Lima e Douglas Henrique Bezerra Santos, conhecido como “Bahiano”, que estudavam Educação Física na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), e fizeram um intercâmbio em Portugal, mais precisamente na Universidade de Coimbra, na Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física (FCDEF/UC). A duração do intercâmbio foi de dois anos, de 2010 a 2012, promovido pelo Programa de Licenciaturas Internacionais (PLI). Durante a passagem em solo português, na cidade de Coimbra, eles estudaram uma disciplina denominada “Estudos PráticosI:Rugby” e por meio dela despertaram o interesse em trazer o esporte para Arapiraca/AL, segunda cidade mais populosa do estado, localizada no agreste alagoano, com uma economia forte, o que a destaca entre os municípios do interior do estado.

Símbolo criado para o Arapiraca Club

Os amigos Bráulio Patrick da Silva Lima e Douglas Henrique Bezerra Santos no início do Arapiraca Rugby Club (Foto: Arquivo Pessoal).


Arapiraca Rugby Club (Foto: Arquivo do Clube)

dos Guararapes/PE, onde aprenderam as técnicas do TagRugby no Brasil. Em Arapiraca, eles adaptaram o que aprenderam no curso para a areia, pois havia um local disponível no Parque Ceci Cunha, que seria o primeiro local de treinos no agreste alagoano. Com o interesse local, eles decidiram fundar um clube, no início eles se juntaram com alguns atletas de Maceió para fazer a transição da areia para o gramado e assim participar de competições nordestinas. Após crescente procura pela região, passaram a competir apenas com atletas de Arapiraca. Bráulio Lima, fundador e atual presidente do Arapiraca Rugby Club diz que: “e também a questão de que a gente sempre esteve envolvido com a questão do as-

pecto educacional, então sempre levamos o rúgbi para os estágios. Sempre que pode a gente está levando o rúgbi pra alguma escola. Também em termos de desenvolver o esporte na região é disseminar isso nas escolas, porque é na base educacional que tu vai desenvolver as habilidades mais básicas que precisa ter para jogar o rúgbi”. Em relação ao histórico, eles começaram uma modalidade do zero, adaptando algo já existente para um lugar que não existe e começaram justamente a ensinar nos primeiros estágios do curso de Educação Física da UFAL/Campus Arapiraca que fizeram com o TagRugby nas escolas do estado e do município, através de gincanas e aulas práticas.

AS MODALIDADES DO ARAPIRACA RUGBY CLUB

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entre as modalidades que o Arapiraca Rugby Club possui está o “Beach Rugby”, que é jogado por 5 pessoas na areia. Dentro dessa modalidade eles realizam todo ano um evento denominado Arapiraca Beach Rugby, que é um tipo de competição interna, só para atletas da equipe, mas em 2018 tiveram alguns atletas de Maceió que integraram a disputa, eles utilizaram a data do feriado da padroeira da cidade de Arapiraca, dia 03 de fevereiro,para a exibição e presença de torcedores, o que é facilitado devido ao


feriado na cidade. Outro tipo é o de campo, seja no tradicional de 15 ou o “Sevens”, com 7 pessoas, que é a modalidade que retornou aos Jogos Olímpicos de Verão justamente no Brasil, em 2016. Dentro dessas modalidades o clube já disputou campeonatos de XV etapas do campeonato Nordeste de Rugby, Copa Nordeste de Rugby, em que ficaram em 3º lugar(ANO), já jogaram em Natal, no estádio dos Aflitos em Pernambuco, em Sergipe e na Bahia. Eles foram campeões de Sevens da etapa nordestina que ocorreu em São Miguel dos Campos/AL(ANO). Porém, por conta da falta de patrocínios, eles não conseguiram ir para algumas etapas que foram disputadas, mesmo estando estruturados na questão de treinamentos. Uma coisa que foi importante na implementação do esporte foi a grande quantidade de atletas que eram estudantes e professores de Educação Física, e isso foi importante para a disseminação da prática, já que os profissionais chamavam alunos para conhecer e jogar, ajudando no crescimento do esporte. Assim como na adequação do esporte a situação no município, já que não tinham muita base para o rúgbi e eles tiveram que ir aprendendo, por exemplo, como selecionar a melhor posição para cada um dos jogadores. Aí eles tiveram que configurar isso, cada um teve que pesquisar mais sobre sua posição, sobre o que fazia e isso foi muito importante para o aprendizado

do esporte.

ASA ARAPIRACA RUGBY CLUB E OUTRAS PARCERIAS

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rúgbi, como a maioria dos esportes que não estão em ênfase em cenário nacional, sempre teve muita dificuldade com parcerias. Douglas Bahiano diz que: “um patrocinador que não pode deixar de falar é a Academia Planet Fitness, na figura do Celso e do Junior Moleza, que são os donos, pois eles sempre apoiaram na questão financeira, com viagens, uniformes e também com um auxílio para que os atletas pudessem fazer musculação em um preço mais em conta”. Algo marcante na história do clube foi uma parceria com o ASA, para que ganhassem um determinado nome, na época o ASA disputava a Série B do Campeonato Brasileiro, possuindo assim grande visibilidade. Para ganhar nome na região era muito mais fácil você vincular ao ASA do que chegar com um pequeno nome. A questão das parcerias piorou por conta das transições das prefeituras, pois tinham a prefeitura como apoio e com a mudança o Arapiraca Rugby Club perdeu muito com isso. Um dos marcos foi a primeira vez que jogou no campo do ASA em 21 de Março de 2015, como ASA Arapiraca Ru-

gby Club, em que conseguiram vencer a equipe de Sergipe e foi um jogo bem emocionante, os portões foram abertos e teve um público bastante agradável, em um campo que é o espetáculo do futebol, quem assistiu poder fazer uma linda festa com o rúgbi.

HISTÓRIA DAS TITÃS EQUIPE FEMININA

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equipe feminina de rúgbi iniciou junto ao masculino, infelizmente não conseguiu fazer com que jogasse competições oficiais de Seven. As atletas até já participaram de competições por outros clubes, como o Maceió Rugby e por Pernambuco, e também integram os torneios de Beach. Os treinos sempre são em conjunto com o masculino, mas nas competições os atletas são divididos por gênero. Conversamos com Vitória, estudante de Direito, que aos 20 anos de idade pratica o rúgbi em Arapiraca. Vitória fala que: “Comecei muito nova, por isso não podia competir, só participar de amistosos, a minha primeira experiência foi contra o SERIGY, em Sergipe. Os treinos geralmente eram com todo mundo junto e nunca tivemos problemas com a questão do contato do esporte, já tem 5 anos que pratico”.


Contudo, a atleta de maior destaque do time feminino, Lara Edwards, que é inglesa e estava morando em Arapiraca, acabou voltando para a Inglaterra. Lara auxiliou no desenvolvimento do time feminino, pois participava de diversas modalidades esportivas e por ter vivência prática e experiência com o rúgbi desde a infância, auxiliou na estimulação da equipe com incentivo a respeito da importância das regras e do condicionamento físico da equipe, uma situação que é fundamental para o bom andamento do jogo nas versões competitivas, com

isso a equipe ficou um pouco enfraquecida e atualmente, pela rotina de trabalho dos presidentes, estão tendo poucos treinos. Vitória complementa sobre a situação feminina: “e a saída da Lara realmente causou uma dispersão muito grande no pessoal, o feminino já foi muito maior”. O efetivo para competições sempre foi muito dificultoso, mas eles não deixam de ressaltar a importância das mulheres para o Arapiraca Rugby Club, pois embora elas nunca disputaram sozinhas uma competição oficial, sempre acompanhavam a equipe masculina durante as

viagens e disputavam amistosos nos locais das competições. Douglas Bahiano, vice-presidente da associação diz que isso foi imprescindível no quesito organizacional, pois ajudava a custear as viagens e valorizavam o espetáculo. Mesmo com essas dificuldades, Vitória se mantém otimista sobre o futuro da equipe: “ Tivemos o Beach esse ano que contou com 30 meninas, deu pra fazer vários times e fazer um evento bem bacana. Embora o número esteja diminuindo, estão tentando chamar a galera pra ver se volta como antes”.

As Titãs - Time Feminino do Arapiraca Rugby Club (Foto: Arquivo pessoal)


TOCHA OLÍMPICA 2016

cípios, valores, da família, tudo isso é muito valorizado dentro do rúgbi. Isso é muito importante porque dentro do jogo a gente tem o terceiro tempo, que é o seguinte: quando o jogo acaba, a equipe que está sediando m 2016 a Coca Cola tem que servir um almoço, um fez uma promoção obre a mística de o es- lanche para que a gente converpara que contassem porte ser violento, Dou- se sobre o jogo. E isso é muito histórias interessantes glas Bahiano e Bráulio diferente, pois imaginem aí um e regionais para ser um condunão acreditam que o rú- clássico como Palmeiras e Cotor da Tocha Olímpica. Douglas rinthians, pós-jogo Bahiano contou a todo mundo se abrahistória do Arapiçar e confraternizar raca Rugby Club, é algo que não tem, então a Coca-Cola não existe. entrou em contato Isso são os com ele para inforvalores do rúgbi, mar queseria um você cria amigos, dos 30 selecionaestreita laços, onde dos para conduzir você conhece alguém a tocha olímpica que joga rúgbi, é uma em Arapiraca/AL. festa, uma curiosidaNesse dia, depois de. Douglas Bahiano da condução, atletas conta de uma experifizeram uma pequeência particular que na apresentação do teve em São Paulo: esporte com unifor“Eu estava em São mes. Segundo DouPaulo, num congresglas: “foi marcante so, aí eu fui em uma na história da equi- O atleta Douglas Bahiano durante a passagem da tocha olímpica loja para olhar as bope, pois conseguiem Arapiraca. (Foto: Arquivo pessoal) las de rúgbi, quando mos mostrar nossa cheguei lá o cara que equipe e orúgbi em um cenário gbi seja, mas sim uma atividade estava mexendo nas bolas de nacional, fico muito grato em de contato forte, mas tudo den- rúgbi, ele jogava num time, e poder ter participado desse mo- tro do permitido pelas regras já ele disse ‘Que legal, como está a mento na história”. Além disso, estabelecidas, tanto que o es- questão do rúgbi lá, vamos fazer a Coca-Cola entrou em contato porte foi levado para as escolas e uma visita ao meu clube’ e asporque queria algumas pessoas tiveram uma boa aplicabilidade. sim aparecem os convites, mas para fazer uma campanha re- Douglas Bahiano, fun- a principal pergunta sempre é: gional, mas depois acabaram dador e atual vice-presidente ‘como está a disseminação com deixando de lado e mandaram do Arapiraca Rugby Club relata as crianças?’. Essa é a principal um aviso que poderia ser uma que: “Isso a questão de além de preocupação, porque o esporte boa proposta, mas iriam deixar você só jogar para trás a bola, tem que ser disseminado desde para um futuro, para utilizar o também tem a questão dos prin- a base”.

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esporte como um veiculador de incentivo ao esporte.

O RÚGBI É VIOLENTO?

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Nas escolas, por exemplo, no horário reservado para a prática desportiva, o comum era que fosse só aplicado 60 minutos de futsal, por uma monocultura existente. Bráulio comenta que: “Durante o estágio, acontecia de os meninos jogarem 1 hora de rúgbi e não pedirem o futsal, então se pode afirmar que o esporte é de contato sim, mas não é violento, principalmente se organizado e acompanhado por quem tenha conhecimento no assunto. Se feito de uma forma didática é possível se trabalhar com as crianças e assim viabilizar o esporte desde o início”. Bráulio, que é o atual presidente do Arapiraca Rugby Club, diz que como qualquer esporte de uma cultura diferente, embora o futebol tenha vindo da mesma região, existia uma resistência muito grande no início. O rúgbi começou a ter uma aprovação bem maior posteriormente, mas em virtude da ausência dos principais organizadores e incentivadores, Bráulio e Douglas Bahiano, o esporte teve uma grande queda na aceitação, mas em 2019 esperam ter uma participação maior, e frisa que o público adere e gosta.

SITUAÇÃO ATUAL DO ESPORTE E PRETENSÕES FUTURAS No momento, os gastos com a equipe saem do bolso dos atletas, eles que pagam, que compram e que financiam o esporte. Por uma questão de rotina e vida corrida, houve um certo distanciamento dos treinamentos no ano de 2018. Vale ressaltar que quando Douglas e Bráulio iniciaram o rúgbi no agreste alagoano, eles eram estudantes universitários e agora são professores universitários, ou seja, muito mais funções que carecem de tempo e a rotina mudou completamente, mas quando ambos têm uma folga tenta movimentar o pessoal, chamar para treinos, porque esse afastamento dissipa o pessoal. Após realizar o Arapiraca Beach Rugby, a meta é recomeçar os treinos, e uma novidade é que em Maceió vai ter a abertura do Centro Olímpico, na Ufal, de alguns locais de treinamento, centro esportivo e alguns campos e a organização já deixou aberta a possibilidade de fazer algum projeto de extensão

que utilize o rúgbi, para que organizem competições e que comecem a treinar em Maceió. Assim, é necessário que o Arapiraca volte a treinar, pois eles podem fazer solicitações de materiais e até um projeto com a comunidade, para que utilizando a universidade como veículo, eles consigam utilizar as pessoas que viabilizam o jogo e, após, abrir para o público, porque um projeto de extensão deixa essa possibilidade. Assim, poderiam unir o Arapiraca Rugby ao esporte universitário e ao esporte normal, com auxílio da UFAL, ou de qualquer instituição que puder ajudar em caráter universitário. O que eles não querem é deixar esse projeto morrer, porque o que começou como uma brincadeira é algo que gostam e já está intrínseco neles. Douglas Bahiano diz que: “foram dias e dias de muito trabalho, muita luta e muito cansaço, isso é a realidade, o rúgbi deixou a gente um pouco exaurido assim, mas querendo ou não a gente gosta do que a gente faz, então a gente não quer deixar isso se dissipar. Deu tanto trabalho pra aparecer, então porque vai morrer agora?”.

Time masculino do Arapiraca Rugby Club em jogo oficial. (Foto: Arquivo pessoal)




HISTÓRIA DO FUTEBOL AMERICANO

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futebol americano surgiu a partir de dois esportes normatizados na Inglaterra, o futebol e o rúgbi. Do mesmo jeito que ocorreu com a trajetória desses dois em outros países do mundo, algumas famílias estadunidenses viajavam para a Inglaterra e traziam elementos dos dois esportes. Porém, como não havia conhecimento de regras se tornava uma “bagunça”. Foi então que


em 1876 representantes de três universidades (Harvard, Princeton e Columbia) se juntaram para padronizar um jogo que englobasse os dois esportes já existentes num só, com regras específicas. Segundo publicação do jornalista Marcus Van Groll, no site Travinha Esportes, o futebol americano surge com bastante semelhante ao rúgbi, com a principal diferença sendo que: “toda vez em que um atleta estivesse com a posse da bola fosse derrubado, o jogo deveria ser interrompido pelo juiz, ou seja, os dois times poderiam se realinhar, cada um no seu campo de jogo, e reiniciar a partida de forma mais organizada”. A base do American Football estava ali formada: as equipes possuíam então três chances para a descida no campo adversário (down), avançando pelo menos 5 jardas. Sem sucesso nas três oportunidades para atingir essa distância mínima, a bola iria para a equipe adversária. No início de sua prática, para além do down, o futebol americano ainda não possuía regras específicas, havia especialmente um grande vazio a ser preenchido quanto à segurança. Como não usavam equipamentos de proteção e regras básicas como a opção de passe para frente ainda não haviam sido criadas, o esporte era considerado muito violento devido à quantidade de lesões. Buscando a manutenção da integridade física dos atletas, após mais de 18 mortes de universitários praticando o futebol

Foto: Freepik

americano, Theodore Roosevelt, presidente dos Estados Unidos, declarou em 1905 que se não houvessem mudanças nas regras o esporte seria extinto. Essa medida, além de garantir a segurança, ajudou a sistematizar o esporte que passou a ter regras bem definidas com crescentes inovações que ajudaram a popularizar o esporte.

DESENVOLVIMENTO E REGRAS DO FUTEBOL AMERICANO O objetivo do jogo é ganhar território no campo adversário até cruzar a linha final para marcar pontos, quem marcar mais pontos, vence. As equipes são divididas entre times de ataque, defesa e times especiais, com 11 jogadores em cada. Quando a equipe estiver atacando entram os 11 jogadores de ataque, enquanto a equipe que estiver defendendo terá os 11 jogadores de defesa, diferentemente do futebol, onde os 11 atuam em conjunto; outra diferença é que as mudanças são ilimitadas. O jogo possui quatro tempos com 15 minutos cada um, porém quando a bola cai no chão ou sai do campo, o cronometro é parado e só começa a contar após a jogada reiniciar. A equipe que estiver atacando tem quatro oportunidades para conquistar as dez jardas (uma jarda equivale a 0,9144 metros). Para avançar e conquistar as jardas necessárias são utilizadas duas jogadas básicas, corridas e passes, caso consiga a equipe continua com a posse de bola, se não, devolve a bola para

o time adversário. A função da defesa é não deixar a equipe adversária ganhar território e, consequentemente, tomar a posse de bola. Os principais atos da defesa são os tackles (derrubar o rival), fumble (quando o jogador que está com a posse da bola a solta antes da jogada terminar) e a interceptação, que é quando a defesa recupera a bola do ataque adversário. Existem três formas de pontuação, sendo a principal delas o touchdown, que acontece quando o time de ataque atravessa a endzone (linha final) do campo, seja correndo com a bola ou recebendo passe lá dentro. Essa pontuação vale seis pontos e é o único tipo de pontuação que habilita o time a tentar converter pontos extras. Se a equipe resolver chutar e acertar, marca mais um ponto; se optar por atravessar novamente a endzone marca dois pontos. O Field Goal é uma possibilidade de a equipe marcar pontos sem precisar passar com a bola até a endzone, acontece quando o kicker precisa fazer com que o chute passe pela trave que tem formato de “Y”, caso consiga, marca três pontos para sua equipe, se não conseguir a equipe adversária tem a posse de bola no local onde o chute aconteceu. A última forma de pontuação é também a única exclusiva da defesa, o chamado Safety, que acontece quando os marcadores conseguem derrubar o adversário que estiver com a bola na sua própria endzone, ganhando assim dois pontos e a posse de bola.


o jogo

posições de ataque 1 CENTER

dá inicio à jogada de ataque, lançando a bola para trás para o quarteback

2 GUARDS 3 TACKLES

compõem a linha ofensova, procurando defender do time adversário os jogadores que estão com a bola

4 QUARTERBACK

é o cérebro do time. Distribui as bolas e comanda as jogadas. Pode tanto passar para uma corrida (feita por um running back) quanto lançar a bola (para um wide receiver)

5 RUNNING BACKS

recebem a bola do quarteback e tentam correr o mais longe possível com ela

tmbém conhecidos como linha secundária, marcam os wide receivers, tentando evitar que eles recebam os lançamentos do quarterback

10 LINEBACKERS

tentam atacar o quarterback ou os running back que correm com a bola

procuram colocar-se em posições favoráveis no campo para receber um lançamento do quarterback e avançar com a bola

7 TIGH END

jogador diferenciado de ataque, pode tanto receber lançamentos do quarteback como auxiliar a linha ofensiva na marcação

JOGADORES ESPECIAIS

posições de defesa 8 SAFETIES 9 CORNEBACKS

6 WIDE RECEIVERS

aparecem em situações específicas do jogo

11 DEFENSIVE ENDS 12 TACKLES KICKER compõem a linha defensiva, tentando atrapalhar a linha ofensiva, permitindo que os linebackers e cornerbacks chegem aos jogadores que estão com a bola

vem a campo para chutar Field Goals, que valem 3 pontos se forem convertidos. A Conversão acontece se o atleta conseguir chutar a bola dentro da trave adversária

PUNTER

tem a tarefa de chutar a bola para devolvê-la ao time adversário


EQUIPAMENTO CAPACETE

Feito de Plástico duro, protege a cabeça do jogador, além de fazer parte do uniforme.

protetores

Dão segurança a diferentes partes do corpo, desde o peito até o joelho, passando pelo quadril, pela coxa e pelos ombros

luva Ajuda os jogadores a segurar a bola com maior aderência

CAMISETA E CALÇÃO bola Feita de couro e renda, tem formato oval e é mais aerodinâmica que a bola redonda de futebol.

chuteira

Com travas, auxilia os jogadores a ter contato com o solo de maneira mais firme

Ilustrações: Tiago Teixeira/Freepik

Fazem parte do uniforme e têm modelos de casa e de visitante, assim como acontece no futebol.


CRIAÇÃO DA NFL

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pós as atualizações e normatizações, surgiram os campeonatos nacionais nos Estados Unidos. O primeiro foi criado em 1920, denominado de American Professional Football Association (APFA), que posteriormente passou a se chamar de National Football League (NFL). Em 1960 surgiu uma liga que rivalizava com ela, a American Football League (AFL). Posteriormente, em 1966, os líderes das duas ligas decidiram se fundir, com os vencedores das duas então conferências se enfrentando num duelo conhecido como SuperBowl. Portanto a liga ficou conhecida como NFL, e passou a ser dividida entre conferências, que são duas a National Football

Conference (NFC) e American Football Conference (AFC). Hoje, a NFL possui 32 (trinta e duas) equipes, dividida em dezesseis por conferência. Cada conferência possui quatro divisões com quatro equipes em cada. Os campeões de cada divisão, assim como os melhores colocados se classificam e disputam os playoffs, até que haja um campeão em cada conferência, estes posteriormente se enfrentam no evento chamado Superbowl, que decide quem será o grande vencedor da temporada. A NFL cresceu tanto que há o NFL International Series, em que as equipes viajam para outros países para promover o esporte. Já houve jogos em Toronto, no Canadá; na Cidade do México, no México; e atualmente jogos no estádio de Wembley, em Londres, na Inglaterra. Esses eventos ajudam a expandir o esporte e são de

grande sucesso, com receptividade e estádios totalmente lotados. A liga é a mais transmitida em território americano, com público fiel, estádios totalmente lotados e com maior lucro dos Estados Unidos. Segundo o jornalista Leandro Saioneti, em publicação no Super Interessante , em receita absoluta, que equivale a patrocínios, ingressos e direitos de transmissão. O lucro da NFL é superior aos outros esportes do país, MLB (Major League Baseball), NBA (NationalBasketballAssociation) e NHL (National Hockey League), com arrecadação na temporada 2015-2016 de 12,1 bilhões de dólares.

TRANSMISSÃO DA NFL NO BRASIL


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o Brasil, o esporte chegou a partir da difusão pela televisão. A primeira transmissão do futebol americano no Brasil ocorreu em 1969, pela TV Tupi. Walter Silva narrava os jogos da NFL. Até pelas dificuldades tecnológicas da época, ano da primeira transmissão televisiva em cadeia nacional, os jogos eram gravados e transmitidos após serem passados na CBS, rede de TV americana que transmite os jogos da NFL até os dias atuais. Depois dessa experiência, apenas na década de 1990 o esporte voltaria para a TV. De 1994 a 1998, a Band transmitia os jogos semanalmente, narrados pelo ícone do jornalismo esportivo Luciano do Valle. O desenvolvimento da TV paga no Brasil a partir dos anos 1990 possibilitou a criação de novos canais exclusivos para esportes, com maior difusão de outros esportes internacionais. A ESPN começou a transmitir a NFL no país em 1992, sendo atualmente o canal oficial de transmissão da liga no Brasil. A exibição nela ajudou muito a popularizar o esporte em âmbito nacional. Na última temporada, 2018/2019, a ESPN chegou a transmitir seis jogos ao vivo num mesmo domingo. Na fase dos playoffs, a emissora liderou os níveis de audiência da TV paga e no Superbowl, em 03 de fevereiro de 2019, foi o novamente o canal de TV paga com maior audiência . Com o recorde de au-

diência e os excelentes comentários dos torcedores, que podem interagir ao vivo com os narradores através do Twitter, a emissora promete se dedicar ainda mais em 2019 para aproximar ainda mais os torcedores. Segundo pesquisa do jornal americano The Independent , hoje o Brasil é o 2º país que mais acompanha o futebol americano fora do país de origem, perdendo apenas para o México.

FUTEBOL AMERICANO NO BRASIL

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abriel Granjo, do site Torcedores , aponta que os primeiros relatos da prática em território brasileiro aconteceram em 1986 nas areias do Rio de Janeiro. Estudantes adaptaram a prática do esporte nas areias e denominaram Beach Football. Em 1991, na cidade de Joinville-SC, foi criada a primeira equipe de futebol americano no Brasil, denominada de Joinville Blackhawks (falcões negros). O joinvilense Dennis Prants possuía vizinhos americanos que o apresentaram a prática. Após ficar fascinado pelo esporte da bola oval, ele foi até uma equipe de rúgbi ensinar os praticantes a jogar o futebol americano e logo eles trocaram

de esportes e criaram a equipe. A equipe parou de funcionar em 2008, mas retornou as atividades em 2016, como o nome de Joinville Redlions. Hoje em Santa Catarina, a equipe do Timbó Rex, da cidade de Timbó, é o destaque da região, chegando a ser campeã da conferência Sul da Liga Brasileira de Futebol Americano (BFA). O primeiro torneio de futebol americano no Brasil foi o Carioca Bowl, disputado em 2000 na praia, que teve participação dos seis primeiros times de futebol americano do Rio de Janeiro: Reptiles, Mamutes, Leme Holes, RJ Guardians, Tijuca Night Hawks e Barra FireBirds. O torneio foi vencido pelo RJ Guardians e foi um marco para o futebol americano no país. Hoje em dia o Beach Football é apenas praticado por diversão, já que o futebol americano com equipamentos em campo vem crescendo bastante no número de praticantes em todo o país. Nesse trajeto histórico, o dia que é considerado como do futebol americano no Brasil, denominado de FABR Day, é 25 de outubro de 2008. A partida Barigui Crocodiles X Curitiba Brown Spiders, no estado do Paraná, foi o primeiro jogo fullpads (com equipamentos completos) da história do Brasil. O jogo terminou 33 a 10 para o Brown Spiders, e todos os anos, nesta data, há uma hashtag denominada #FABRDay, em que os times fazem uma homenagem em alusão a essa partida histórica.


Brasil Onças - Seleção Brasileira de Futebol Americano. Foto: Bruna Bittencourt.

CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL AMERICANO

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CBFA (Confederação Brasileira de Futebol Americano) surgiu em 09 de março de 2013 como a instituição máxima que regula e é responsável pelo futebol americano no país, sendo reconhecida pela IFAF (Federação Internacional de Futebol Americano). A Confederação administra os campeonatos nacionais e a seleção brasileira de futebol americano, além de ser responsável pelas outras modalidades do esporte no país, como a Flag Football (onde o contato é menor, pois os tackles – derrubadas – são substituídos por fitas que são puxa-

das) e o Beach Football (futebol americano na areia). O campeonato nacional, denominado BFA (Brasileiro de Futebol Americano), é dividido em quatro conferências: Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Os quatro vencedores se enfrentam em sistemas de Playoffs, como uma semifinal e os vencedores se enfrentam na final, o Brasil Bowl. Esse sistema começou em 2017, em que o campeão foi o Sada Cruzeiro, de Minas Gerais, que posteriormente mudou de nome para Galo Futebol Americano e também conquistou o título nacional em 2018. Além de gerir a liga principal do país, o que equivale à 1ª divisão, a CBFA também regula as divisões de acesso que são a LNFA (Liga Nacional de Futebol Americano) e a Linefa (Liga Nordestina de Futebol America-

no). A LNFA é dividida em quatro conferências (Norte, Centro-Oeste, Sul e Sudeste), em que os vencedores de cada conferência se enfrentam em sistemas de playoffs e há uma final para decidir quem é o grande vencedor, chamada de Super Traktor Bowl. A região Norte não participa do BFA, portanto o seu vencedor consegue acesso apenas para as fases posteriores do LNFA. Os demais vencedores conquistam a vaga direta para a disputa do BFA no ano posterior. Já a Linefa se equipara a uma segunda divisão da conferência nordestina da CBFA, onde apenas a equipe campeã sobe de divisão e disputa a BFA, enquanto o último colocado da conferência nordestina da BFA faz o caminho contrário e disputa a LINEFA.


Maceió Marechais. Foto: Dall Fragoso.

MACEIÓ MARECHAIS – O INÍCIO

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mbora o futebol americano não seja um esporte muito conhecido, nem com maior prática aqui no estado de Alagoas, há uma equipe que representa o nosso estado (e muito bem) em competições oficiais. Trata-se do Maceió Marechais, única equipe de futebol americano em atuação no estado, que surgiu em dezembro de 2013 e, como veremos, já atuou no Estádio Rei Pelé e que apresentou algum destaque da mídia esportiva local. O Maceió Marechais surgiu após a junção de três antigas equipes que praticavam o

esporte na areia, pois não havia estrutura suficiente para praticar em campo. Conversamos com Renato Lobo, atual diretor financeiro e jogador, que explica como se deu o início de tudo. “O futebol americano surgiu com um ex-atleta chamado Paulo, que colocou no Orkut [antiga rede social virtual] chamando pessoas para praticar o futebol americano na areia. Na época foram apenas uns três pra compor o time, mas com isso já deu para começar com o primeiro time, chamado Maceió Crabs”. Felipe Austrelino, 27 anos, é professor de educação física e Linebacker do Maceió Marechais, participou do início do esporte aqui em Alagoas e conta como foi a experiência: “A gente começou num grupo do Orkut, que tinha o nome de

‘futebol americano em Maceió’, nós conversávamos sobre NFL e sobre o esporte, quando resolvemos nos juntar e ir lá no posto 7, na Jatiúca, para brincar. A gente não tinha organização nem nada, foi apenas alguns amigos se juntando para jogar futebol americano. Começamos a nos reunir todo sábado lá no posto 7, depois foi chegando mais gente, tendo maior engajamento e criamos o Maceió Crabs”. Após um período de treinamentos, a equipe decidiu dar um passo mais importante e marcou um amistoso contra a equipe do Mariners, de Recife. Para isso, eles se organizaram e fizeram camisas personalizadas e conseguiram um novo lugar para o jogo que, consequentemente, passou a ser o local dos treinos, no campo de areia localizado em frente ao Hotel Ense-


Recrutamento de atletas no início da história do Maceió Marechais. Foto: Arquivo pessoal.

ada, no bairro da Pajuçara. Felipe comenta que mesmo sendo amantes do esporte, não tinham uma organização ideal para evoluir nos treinamentos e jogos, para isso contaram com uma ajuda: “Depois de um tempo, um dos integrantes da equipe conhecia o professor Eduardo Magalhães que havia estudado nos Estados Unidos e tinha trabalhado com futebol americano e ele nos ajudou a dar um salto de qualidade no Crabs, ensinou sobre o esporte, tática e começou a treinar o time”. Depois do início do Crabs houve maior procura para participar do esporte, algumas evoluções foram feitas e surgiram mais dois times, um no Vergel e outro no Trapiche, chamados de Black Rats e Vikings, respectivamente. Por fim, em dezembro de 2011 houve a migração para o campo, os times de areia não possuíam muita força e se uniram para criar o Maceió Marechais, que foi

oficialmente fundado em 15 de fevereiro de 2013. A dificuldade para conseguir apoio foi fundamental para a união das equipes. “Na época, assim como hoje, não tínhamos muito apoio, a gente jogava só com protetor bucal, as viagens eram custeadas pela gente. Acredito que em 2009 teve um campeonato Nordeste que aconteceu em Natal, no Rio Grande do Norte que o pessoal viajou, e foi o primeiro jogo em campo, mas era halfpad, apenas com metade dos equipamentos, sem capacetes, só com a ombreira. Para esse jogo fizeram uma seleção alagoana, onde juntou o pessoal que era do Crabs, alguns do Black Rats e do Vikings, então foram jogar lá e amadureceu a ideia de criar uma equipe, então em 2011 os times se juntaram e saíram da area e passaram a treinar e jogar em campo”, relata Felipe Austrelino. A curiosidade também está no nome. As equipes brasileiras citadas aqui trazem sem-

pre algo traduzido para o inglês, mas o Maceió Marechais não. “Marechal” é o posto máximo da hierarquia militar. O nome da equipe homenageia os primeiros presidentes do Brasil, Marechal Deodoro da Fonseca e Marechal Floriano Peixoto, que são alagoanos. Por isso os dirigentes da época resolveram nomear a equipe para fazer essa homenagem e ganhar notoriedade no espaço nordestino, justamente com um nome que tivesse relação com o estado.

COMO SER UM JOGADOR DO MARECHAIS

A

pós uma estruturação da equipe e, consequentemente, a migração para o campo, deu-se início ao processo de recrutamento de atletas. O intuito era montar uma base forte para participar, futuramente, de competições oficiais. Todo ano há uma assembleia, onde os atletas se reúnem para traçar as metas para a temporada posterior, fazer um balanço do que aconteceu no ano que passou e escolher quem serão os dirigentes e o presidente, que representarão o Maceió Marechais durante toda a temporada. O método de escolha dos atletas continua o mesmo, apesar dos cinco anos de história do Maceió Marechais. Normalmente são realizadas seletivas uma ou duas vezes por ano por meio de convites pessoais ou por divul-


gações nas páginas em sites de redes sociais da equipe (Instagram e Facebook). A intenção, além de captar jogadores, é difundir o esporte. Não é necessário possuir uma base para começar a jogar, nem mesmo há idade limite ou altura específica, qualquer um pode se inscrever. O objetivo do recrutamento é descobrir a capacidade física e o rendimento de uma pessoa que queira começar a modalidade. Segundo Renato Lobo, apesar de ser um esporte físico, para praticar o futebol americano só é preciso vontade: “Para ser atleta é preciso muita coisa ainda, como eu digo nós ainda não somos atletas, somos apenas jogadores. O necessário para ser um jogador é apenas vontade e ter o desejo”. Um exemplo oriundo desse processo seletivo é o atleta Wictor Silva, conhecido como “Slender”, que apenas conhecia o esporte por assistir jogos da NFL na ESPN, soube por um amigo que iria ter a seletiva, fez tudo para ir e conseguiu passar. Além de dificuldades de locomoção, o atleta fala como foi difícil a aceitação por parte da família: “No início não tive apoio nenhum por parte da família, minha mãe sempre dizia que isso era uma ideia de jerico, até por causa do físico, por ser magro, então era tudo uma invenção porque tinha muito gasto, mas hoje em dia eu consegui com que mudassem de opinião e agora estão me apoiando”. Ainda há uma barreira que separa e gera preconceitos do

público com o esporte, pois é tachado como violento. Renato Lobo conta sobre a mística de o esporte ser violento. “Cada ano que se passa e quem nos acompanha consegue ver que não é um esporte violento, mas sim de contato, nós só precisamos que tentem nos acompanhar um pouco que tiramos essa imagem negativa”. Para garantir a segurança dos atletas e consequentemente evitar lesões são necessários equipamentos específicos para a prática do futebol americano. O equipamento básico que um atleta precisa para participar do jogo é chuteira, meião, calça de proteção (alcochoada, que amortece a queda), shouldpad (proteção do tórax e ombro), helmet (capacete) e protetor bucal. Esses equipamentos ainda não são encontrados em lojas de esportes aqui em Alagoas, para adquirir geralmente são feitos pedidos por sites específicos para isso, e o valor desses equipamentos são variáveis de acordo com a qualidade da marca e do produto. Há também grupos de trocas e vendas de produtos em fóruns do Facebook, que viabilizam a compra dos equipamentos por preços mais acessíveis.

prometimento com a equipe, pois não há captação de recursos para viagens e compra de materiais. O Maceió Marechais, apesar de algumas parcerias, não tem apoio ou incentivo de município ou governo. “Nós somos bancados por nós mesmos, não temos nenhum lucro no que fazemos. Cada associado tem uma taxa mensal no valor de R$ 30,00 que é para custear o valor dos campeonatos, água disponibilizada em treinos, transportes para viagens, assim como algumas taxas extras, conforme vão surgindo atividades. Não recebemos apoio municipal ou governamental”, explica Renato Lobo. A equipe treina no campo da Pecuária no bairro do Trapiche e hoje seus jogos acontecem no campo do Sesi, no bairro da Cambona. O valor arrecadado com a renda dos jogos é gasto para cobrir as viagens de ônibus e para o pagamento das taxas das competições que a equipe participa. Os próprios atletas são responsáveis pelas vendas dos ingressos, todo jogo que acontece em Maceió os ingressos podem ser comprados pelas redes sociais da equipe e os atletas levam o ingresso a domicílio. Além disso, os atletas são responsáveis por pintar as PATROCÍNIOS E marcações do campo e colocar as traves, um dia antes dos ou na REALIDADE manhã do jogo. FINANCEIRA DA Alberto Madeiro, joEQUIPE gador e atual presidente do Maceió Marechais, frisa que o lém da vontade de querer maior apoio que tiveram até praticar é preciso ter com- hoje é o da academia Extreme,

A


que, desde 2016, dá suporte disponibilizando o local para fazer treinamentos físico. No mesmo ano, a final que aconteceu no Estádio Rei Pelé se chamou “Final Extreme de Futebol Americano”, devido ao patrocínio da academia. Em 2019, a academia passou a ceder também o espaço para o setor de fisioterapia da equipe, que é de importância crucial para o bom desempenho dos atletas.

COMPETIÇÕES

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o primeiro semestre a equipe disputa o Torneio Velho Chico, campeonato particular disputado entre times de Alagoas (Maceió Marechais), Sergipe (Sergipe Redentores) e Bahia (Santana Red Bulls e Cavalaria FA.), que serve como uma competição de pré-temporada para preparar as equipes para as disputas oficiais. O Maceió Marechais disputa a Linefa (Liga Nordestina de Futebol Americano), que acontece no segundo semestre e é chancelado pala CBFA (Confederação Brasileira de Futebol Americano). Embora já seja uma marca solidificada no Nordeste, Renato Lobo frisa que um dos principais feitos do time é justamente se manter num patamar sólido, mesmo bancada apenas por seus próprios atletas: “A principal conquista é conseguir administrar um time de futebol americano com êxito e vencendo todos os problemas externos

que possuímos”. A equipe é uma das mais fortes do Nordeste, já foi 2 (duas) vezes vice-campeã da Linefa, em 2016 e 2017. Em 2018 acabou sendo eliminada na fase dos playoffs, equivalente a uma semifinal da competição.

FINAL DA LINEFA EM 2016 NO ESTÁDIO REI PELÉ

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utro motivo para aumentar a atratividade do Maceió Marechais foram as duas campanhas de vice-campeonato na LINEFA, com destaque para o primeiro deles, em 2016. A equipe vinha fazendo uma excelente campanha, havia vencido todos os cinco jogos da fase regular, que culminou

na classificação para a final da LINEFA. Como tinha a melhor campanha dentre os dois times finalistas, conseguiu o mando de campo do jogo aqui para Alagoas. Renato Lobo fala como se deu esse ano histórico do time: “Nesse ano jogávamos em Satuba, estávamos fazendo um campeonato perfeito e quando chegou a final, os diretores da época (Renato Lobo e Alberto Madeiro), que hoje acumulam a função de diretor financeiro e presidente, respectivamente, conseguiram fazer um grande evento em um grande polo esportivo, o qual foi um divisor de águas do futebol americano aqui em Alagoas”. O atleta Carlos Alves, que joga na posição de Defensive End, conta como foi sua expectativa e a preparação para jo-

Carlos Alves, atleta do Maceió Marechais em dia de jogo no Estádio Rei Pelé. Foto: Arquivo pessoal.


gar aquela final: “O dia do jogo para mim, foi algo que eu nunca passei na minha vida, uma ansiedade enorme, mal consegui dormir, assim que eu acordei, comi e fui arrumar o meu material, a todo o momento me vinha o pensamento do jogo, pensando em me concentrar no jogo e não no local que a gente ia jogar e foi algo incrível. Quando a gente chegou no Rei Pelé para pintar um dia antes, a ficha foi caindo pouco a pouco, da hora da pintura em que fizemos o ‘M’ no meio do gramado, toda interação do time, foi lindo e inacreditável, depois de pintar o gramado eu não conseguia pensar mais em nada, não consegui dormir, estava muito ansioso”. Carlos também fala sobre a diferença da estrutura à disposição naquele jogo: “Quando chegamos no vestiário, a gente acostumado a jogar em péssimos estádios, sem estrutura, que mal tinha banheiro pra a gente tomar banho e ver aquela estrutura toda focada só pra gente, foi incrível”. Os jogadores não estavam acostumados com um evento de tamanha proporção, estavam realizando um sonho. Segundo Carlos, a torcida chegou mais perto do horário do jogo, o que fez com que não tivesse grande impacto, com a ansiedade pela final chamando mais atenção: “Assim que entrei no vestiário e comecei a trocar de roupa, meu coração foi a mil, adrenalina, eu não estava conseguindo raciocinar direito, nervoso e ansioso. Quando entramos para o aquecimento, eu

acho que tinha umas 10, 15 pessoas no máximo na arquibancada, mais ou menos o pessoal que a gente costumava a ter nos jogos em Satuba”. Porém, os jogadores foram surpreendidos ao voltarem ao campo com um público de milhares de pessoas para torcer para o time alagoano: “A arquibancada já estava gritando tão alto que a gente no corredor estávamos escutando os gritos ‘UH É MARECHAIS’, ‘VAI MARECHAIS!’ o meu coração foi batendo mais rápido e quando comecei a subir os degraus, olhei pra aquela multidão de quase 4.000 pessoas, eu não tive outra reação a não ser chorar, começou o hino nacional e eu já estava chorando. Imagina você jogar um esporte desde os 14 anos na praia sem expectativa de nada, apenas diversão e chegar no Estádio Rei Pelé para jogar a Liga Nacional de Futebol Americano? Foi inacreditável!” Muitas pessoas que foram para aquele jogo não conheciam o esporte muito bem. É o caso do estudante de Relações Públicas da UFAL, Igor Nascimento, que conta como foi sua experiência de assistir àquela final: “Ouvia muito falar sobre o time e como o esporte estava crescendo. Lá foi a primeira vez que tive contato direto com o esporte. Mesmo sem entender muito, fui pela curiosidade e fiquei muito surpreso pela qualidade do jogo e do evento realizado no Estádio Rei Pelé. O palco principal do esporte alagoano receber o futebol americano em um momento

tão especial”. Alberto Madeiro, atual presidente, fala um pouco sobre esse sucesso. “Foi o primeiro jogo de futebol americano no Estádio Rei Pelé, sendo uma final histórica contra o Tropa Campina-PB, levando um público de 2.500 pessoas ao estádio. Um feito que parecia inacreditável para a gente”. O jogo não terminou do jeito que a torcida esperava. Em uma partida emocionante, os paraibanos do Tropa Campina conseguiram vencer por 15 a 7 e se sagraram campeões, assegurando a vaga na BFA 2018. “A gente entrou muito nervoso, acho que todo mundo estava com essa ansiedade, esse nervosismo, primeira vez jogando uma final em casa e nunca jogamos com tanta gente nos assistindo. Nós terminamos o primeiro tempo perdendo e fomos pra o intervalo perdendo. Entramos cabisbaixos no vestiário e lá conseguimos nos motivar e voltamos mais determinados para a etapa final, nós conseguimos virar o placar. Depois eles empataram e infelizmente por um pequeno erro que aconteceu, nós levamos um Touchdown de retorno e ficamos sem saber o que fazer, achamos que tínhamos perdido foi quando aconteceu o lance crucial que deu resultado final à partida”, comenta o atleta Carlos Alves. Torcida no estádio, pressão por reverter o resultado, com a posse de bola nas mãos, o placar já estava 15 a 7 para os paraibanos. A história da jogada final é contada por Carlos:


“Nosso quarterback Rodolfo chamou uma jogada onde era para estar um jogador e estava outro. No meio da jogada eles trocaram de lugar, mas a jogada já tinha começado com 12 homens em campo. O nosso QB conseguiu um passe de 45 jardas para o Serrano, que pegou na endzone e marcaria o Touchdown que empataria o jogo e nos daria a chance de vencer com a conversão de dois pontos, mas infelizmente estávamos com 12 homens em campo e a jogada não foi validada. Depois disso veio a frustração, choramos bastante, só que esporte é assim, às vezes a gente ganha e outras vezes a gente perde, mas foi uma experiência que vou levar pra minha vida toda e não vou esquecer nunca”. O sucesso desse jogo se refletiu no ano seguinte, em que mais de 100 pessoas compareceram à seletiva para conseguir se tornar um atleta do Maceió Marechais. Essa seletiva aconteceu no próprio Estádio Rei Pelé, onde os candidatos se submeteram a uma série de testes físicos e os aprovados ingressaram no time para a disputa da temporada 2017. Em 2017, mais uma vez o Maceió Marechais conseguiu fazer uma excelente campanha na Liga Nordestina de Futebol Americano, chegando novamente à final. Depois de uma temporada de quatro vitórias e uma derrota, a equipe não conseguiu obter a melhor campanha, que ficou com o Natal Scorpions, que, consequentemente, receberia em casa a final,

em Natal-RN. O jogo foi muito disputado com as equipes se entregando até o último minuto. Os potiguares do Natal Scorpions venceram o jogo por 35 a 27 e conseguiram o acesso para o BFA 2018. O Maceió Marechais bateu na trave mais uma vez e permaneceu na LINEFA. Em 2018, a equipe fez uma temporada com altos e baixos, com três vitórias e uma derrota na temporada regular, mas mesmo assim conseguiu ser primeiro colocado em seu grupo e chegar mais uma vez aos playoffs. Mas dessa vez a equipe não foi páreo para os pernambucanos de Petrolina, o Carrancas FA, e o Maceió Marechais saiu derrotado pelo placar de 45 a 6, dando adeus à competição. A final foi entre os pernambucanos do Carrancas FA e do Recife Pirates, a partida acabou 26x20 para os Pirates e eles conseguiram a classificação para a BFA 2019.

HISTÓRIA DAS HARPIAS – EQUIPE FEMININA

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utra prova que a aceitação do esporte vem crescendo é que o público feminino além de ser muito presente nos estádios já teve interesse em participar da equipe e chegou a fundar uma equipe feminina, denominada Harpias. Um grupo de meninas que acompanhavam o Maceió

Marechais criou o Maceió Harpias, elas já treinavam desde 2012 nas areias, aos sábados à tarde. O time masculino dava suporte com ensinamentos e posteriormente com empréstimo de equipamentos. O único jogo do Maceió Harpias foi o primeiro de mulheres no Nordeste, enfrentando em 2014 o Confiança Alfas (hoje, Aracaju Alfa) em Maceió. Conversamos com Jussara Bispo, 27, assistente administrativa em um hospital, que participou daquele jogo e conta como foi: “A experiência é indescritível, fizemos a primeira partida de full pad (com equipamentos completos) aqui no Nordeste. Éramos minoria e entramos para a história!”. Apesar da partida ter começado de forma acirrada, o time sergipano era mais experiente e venceu por 28 a 6. Jussara conta como foi a preparação anterior à partida: “Nossos treinos eram semanais, duas vezes na semana. Intensificamos quando o jogo foi se aproximando. Todas muito ansiosas, pois era nosso primeiro jogo e com pouco tempo de treino. Apesar de não termos ganho em placar no campo, ninguém jamais vai esquecer aquele jogo, era o time feminino surgindo no Nordeste, era nossa força surgindo”. A equipe deixou de existir em 2015, não por falta de intenção,mas continuar com os treinamentos, principalmente sem grandes recursos, se torna complicado. “Pouco materialhumano, poucas meninas interessadas, pois apesar dos


cuidados, não deixa de ser um esporte de contato e radical. Na época nossa visibilidade era muito menor, nunca tivemos patrocínio nem incentivo. O esporte, como qualquer outro, demanda dedicação e comprometimento, além de ser um pouco caro. Às vezes o treino fluía com apenas 5, 7 atletas, não chegava um time completo, o que dificultava nosso desenvolvimento”, comenta Jussara. Quando a equipe acabou algumas meninas migraram para a equipe de Aracaju para continuar praticando o esporte. Com o tempo, devido às viagens longas, questões financeiras, apenas duas atletas continuam fazendo esse percurso. Jussara é uma delas, para

manter a forma e evoluir cada vez mais no esporte, ela treina com o time masculino, porém para participar de jogos ela viaja até Sergipe para competir pelo Aracaju Alfa, time sergipano que disputa a Copa do Brasil de Futebol Americano Feminino. A equipe do Aracaju Alfa é a única nordestina da competição e disputa o campeonato com equipes de Rio de Janeiro, Distrito Federal, Paraná, São Paulo e Mato Grosso. As viagens são muito longas e os gastos são muito altos, mas não impedem as meninas de continuarem demonstrando seu amor pelo esporte. Jussara comenta as dificuldades que permanecem para um time nordestino feminino

Maceió Harpias, no dia do jogo contra o Confiança Alfas em 2014. Foto: Viviane Leão

que disputa torneios nacionais: “Por não ter muitos times próximos, em termos de cidade, nossos jogos são em cidades distantes, tudo arcado do nosso próprio bolso e através de venda de rifas. Os jogos são sempre em distâncias consideráveis, como Brasília, São Paulo, ou seja, por ser uma das duas do estado na ativa, o custo sai bastante elevado para mim, mas como sou fã do esporte e faço planejamentos, consigo manter uma frequência. Tudo pelo amor ao esporte!”. Na última edição da Copa do Brasil, realizada em 2018, a equipe mato-grossense Sinop Coyotes ganhou seu segundo título, ao vencer o Big Riders FA, do Rio de Janeiro, por 12 a 6.


PRETENSÕES FUTURAS E METAS PARA 2019

O

s treinamentos da equipe em 2019 começaram já no início de janeiro, como preparação para as competições que acontecerão no restante do ano. O primeiro passo foi a seletiva, que ocorreu em 19 de janeiro do corrente ano, contou com 30 participantes que foram submetidos a testes físicos e resultou em 23 escolhidos para ingressar na equipe e ajudar na estruturação para toda a temporada. Outro grande reforço foi a junção à equipe dos atletas do extinto CSA Guerreiros, outra equipe alagoana, que disputou a LINEFA em 2018, mas não conseguiu se manter até o final da competição. Yuri Nunes, 30, servidor público temporário do IBGE e estudante, comenta sobre o fim do CSA Guerreiros: “A gente decidiu acabar com o CSA Guerreiros, depois que ficamos com as dívidas e não tínhamos como pagar porque a gente não tinha caixa e não tinha como conseguir esse caixa já que a quantidade de atletas que participava do time ativamente eram poucas e a taxa de inadimplência era alta, então a gente não teve como arcar com as multas que a gente acabou adquirindo com o W.O. e desistência

do campeonato”. Quanto à ida ao Maceió Marechais, Yuri afirma que isso surgiu a partir do convite do presidente da equipe, ciente das dificuldades em custear equipes na cidade: “Ele viu que não tinha cabimento uma cidade de Maceió ter dois times sofrendo para levar jogadores para viajar, então ele acabou convidando a gente para fazer parte do Marechais e aproveitar que o CSA Guerreiros dispunha de jogadores experientes e aumentar o elenco do time, então a gente acabou aceitando porque a gente viu que era a melhor solução para os jogadores já que a gente não participaria de nenhum campeonato por um bom tempo. Nossa ideia é levar os atletas interessados para continuarem ativos e praticando o esporte que gostamos”. Com a junção e o aumento de número de atletas, além da seletiva realizada com a entrada de novos atletas, a diretoria prevê um ano forte em 2019.O diretor financeiro Renato Lobo afirma: “Nossa pretensão é sempre ser um time competitivo e que esteja sempre entre os melhores, ser o melhor. E o desenvolvimento, nós estamos fazendo internamente, melhorando nossos treinos; e externamente, melhorando a divulgação do esporte”. Já o presidente Alberto Madeiro salienta que o principal objetivo é o título da LINEFA: “A pretensão é che-

gar na BFA, principal divisão do futebol americano do Nordeste”. Ele fala também sobre as metas para expansão dos olhares alagoanos para a equipe: “Em questão de desenvolvimento, nós pretendemos fazer mais ações sociais e também criar uma escolinha de futebol americano, com o flag football, para o desenvolvimento da base do esporte desde a infância”.

JORNALISTA JOGADOR

A

té aqui, tratamos da história do Maceió Marechais com personagens que participam diretamente da constituição da prática do futebol americano em Alagoas, mas achamos justo nos identificar agora no final do texto, pois também sou jogador da equipe. Assim, pedimos licença agora para falar da experiência pessoal deste que vos escreve sobre o Maceió Marechais. Mesmo sendo um amante dos esportes, conhecia muito pouco sobre o futebol americano, até que durante minha graduação em Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas, recebi como pauta o time de futebol americano que representava Alagoas no cenário nordestino. Ao fazer a matéria me veio a curiosidade sobre como era o esporte. A matéria foi antes


da final da Liga Nordeste de Futebol Americano em 2016, então fiquei curioso e fui para aquele jogo no Estádio Rei Pelé, fiquei muito surpreso com a receptividade da torcida e a grandiosidade do evento, mesmo entendendo muito pouco sobre o esporte me despertou a vontade de tentar praticar. Em janeiro de 2017 fiz a seletiva para entrar na equipe e passei, foi um ano de muita aprendizagem que só me fazia amar aquele esporte até pouco tempo atrás desconhecido. Logo na primeira temporada tive o privilégio de jogar a final da liga no Rio Grande do Norte contra o Natal Scorpions. Entrar em campo naquela decisão foi algo incrível que vou levar para o resto da minha vida. Mesmo perdendo o jogo ver aquele espírito de união e equipe foi algo monstruoso, sensação sem igual. Só de lembrar arrepia. Mesmo sem muito apoio nós persistimos praticando o esporte justamente por esse sentimento, jogar ao lado de amigos que se tornam praticamente da mesma família, com um objetivo em comum. Mesmo não conseguindo o objetivo em 2018, nós permanecemos lutando para conquistar esse título tão sonhado por nós e estamos nos preparando muito para ter um excelente ano de 2019 praticando esse esporte que eu aprendi a amar. •

Mais informações: 1 http://travinha.com.br/2010/11/02/futebol-americano-a-historia/ 2 https://super.abril.com.br/mundo-estranho/qual-esporte-fatura-mais-futebol-beisebol-ou-basquete/ 3 http://www.espn.com.br/nfl/artigo/_/id/5251632/super-bowl-com-crescimento-de-audiencia-na-tv-e-streaming-espn-lidera-tv-paga-com-transmissao-da-final-da-nfl 4 http://www.espn.com.br/noticia/481491_brasil-e-2-pais-com-mais-fas-de-nfl-fora-dos-eua-diz-pesquisa 5 https://www.torcedores.com/noticias/2016/09/conheca-um-pouco-da-historia-do-futebol-americano-no-brasil





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