ESTADO DE MINAS ● Q U A R TA - F E I R A ,
20 DE MAIO DE 2009 ● EDITOR: Cláudio Arreguy ● EDITOR-ASSISTENTE: Sílvio Scalioni ● E-M AI L: espor tes.em@uai.com.br ● TELEFON E: (31) 3263-5263
ORTES O CUSTO DA RICARDO AYRES/PHOTOCAMERA
NOVO CONFRONTO FRED X RONALDO Fluminense e Corinthians jogam no Maracanã, em busca de vaga à semifinal da Copa do Brasil. Timão pode empatar PÁGINA 28 MAURICIO LIMA/AFP
fidelidade DANIEL CAMARGOS
O torcedor do Cruzeiro necessita de mais do que sangue azul para acompanhar os jogos no Mineirão. Precisa de muito dinheiro para incentivar a equipe no Campeonato Brasileiro e na Copa Libertadores, porque o preço dos ingressos não só o assusta como reduz sua presença, mesmo com a boa fase celeste. No intervalo de pouco mais de um mês, ele vive maratona de jogos importantes (e com ingressos caros). Ela começou em 26 de abril, no segundo jogo da final do Campeonato Mineiro, contra o Atlético; passou pela estreia no Nacional, diante do Flamengo, e pela partida frente à Universidad de Chile, pela competição sul-americana; e chegará ao confronto com o Vitória, sábado, de novo pelo Brasileiro, à rodada de ida das quartas de final da Libertadores, contra o São Paulo, dia 27, e ao duelo com o Internacional, um dos principais rivais na briga pelo título do Brasil, em 7 de junho. A série tem, portanto, seis jogos no Mineirão, todos com o ingresso de cadeira superior central a R$ 35. Se uma família normal, formada pelo casal e duas crianças (pagando meia entrada), quiser acompanhar toda a programação, vai pagar R$ 105 por partida. Com R$ 10 de estacionamento, o total sobe para R$ 115. E, no intervalo de um mês, a despesa para acompanhar a Raposa será de R$ 690. A estudante de enfermagem Débora de Andrade Vale, de 18 anos, vai ao Mineirão com a família desde os 8 anos. “Para ir a todos os jogos, fica muito caro. Terei de deixar alguns do Brasileiro para ir aos da Libertadores”, afirma. Ela vai com o avô, a mãe, o tio e uma prima e a conta só não é tão cara porque o patriarca paga a mensalidade do Cartão Cinco Estrelas, espécie de plano de fidelização dos torcedores celestes. Por R$ 35, pode retirar dois ingressos por jogo pela metade do preço. O estudante de publicidade e propagandaLeonardoGonçalvesfoiaosdoisclássicos decisivos do Estadual e entrou na fila de ingressos para o jogo contra a Universidad de Chile. “Estou indo pela primeira vez na Libertadores. Se a diretoria do Cruzeiro pusesse um preço mais baixo, atrairia mais torcedores.” Depois de pagar bilhetes de arquibancada central para ele e o irmão, avisou, sobre a volta ao estádio: “Só Deus sabe!”. Sem a opção da meia-entrada, por não ser estudante, o auxiliar de escritório Thiago Rodrigues recorreu à geral, o lugar mais barato e menos confortável, de onde se as-
PARA FECHAR O ORÇAMENTO NO AZUL, TORCEDOR CELESTE DIFICILMENTE CONSEGUE IR A TODOS OS JOGOS NO MINEIRÃO, ONDE PODE GASTAR, COM A FAMÍLIA, ATÉ R$ 690 POR MÊS OUTRO PATAMAR Para a final da Liga dos Campeões da Europa, dia 27, entre Barcelona e Manchester United, em Roma, o ingresso mais caro custa 200 euros (R$ 573) e o mais barato, 90 euros (R$ 258). Além da taxa de 45 euros (R$ 129) para quem comprar pela internet de um país não-europeu. Para os jogos do Cruzeiro na Libertadores, os preços para quem comprar com antecedência são: R$ 10 (geral), R$ 15 (anel inferior), R$ 25 (cadeira superior lateral), R$ 35 (cadeira superior central) e R$ 50 (cadeira especial). No dia das partidas, cada entrada aumenta R$ 5, à exceção da geral. Estudantes, menores de 12 anos e maiores de 60 anos pagam meia entrada.
siste ao jogo em pé e com pouquíssima visibilidade. “Quando o ingresso não é tão caro, vou de arquibancada (cadeira superior), mas, com esse preço, só é possível ir de geral.” O bilhete do setor, contra os chilenos, foi de R$ 10. O advogado Francisco Godoy acredita que o time está bem e vale o investimento da torcida, principalmente na Libertadores. Mas considera elevados os preços no Mineiro e no Brasileiro. Ele vê mudança no perfil dos torcedores, principalmente dos que frequentam a arquibancada: “O futebol deixou de ser um esporte popular”.
PROJETO A avaliação dos torcedores é reforçada pelo diretor de Comunicação do Cruzeiro, Guilherme Mendes: “Os preços no Brasil inteiro estão subindo”. Ele afirma que, apesar das queixas, o clube cobra o ingresso mais barato entre os brasileiros da Libertadores. “É uma chance para o torcedor entender que o projeto do sócio futebol é uma oportunidade de garantir ingressos mais baratos e ajudar o clube com receita, pois o sócio terá a entrada garantida nos jogos em casa.” Para o diretor, a sensação dos preços caros entre a torcida celeste aumenta quando o Atlético cobra preços baixos. Ressalta também que o Cruzeiro investiu muito e manteve os principais jogadores. Outro detalhe, observa, é que os preços não tiveram reajuste nos últimos anos. A reclamação dos torcedores cruzeirenses pode ser justificada com a comparação entre os números da bilheteria do Cruzeiro e os do arquirrival no Mineirão em 2009. O time azul fez 17 partidas na Pampulha, contra 14 dos alvinegros, incluindo-se os três clássicos pelo Mineiro. Deixando-os de fora, o Cruzeiro levou quase 240 mil torcedores em 14 jogos (média de 17.139). Já o Galo teve 268 mil em 11 (24,343). Mas públicos maiores não têm proporcionalidade nos cofres. A arrecadação do Cruzeiro (sem os clássicos) foi de R$ 4.006.660. A do Galo, R$ 2.618.800. O número a mais de partidas poderia justificar a vantagem azul, mas a média de renda celeste também é superior: R$ 286.190 a R$ 238.073. A explicação pode estar na média do preço dos ingressos calculada a cada jogo (ver quadro). Enquanto, em alguns do Cruzeiro, ela fica na casa dos R$ 20, nos do outro lado, a maioria não chega a R$ 10.
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LEIA MAIS SOBRE O CRUZEIRO PÁGINA 29
DUELO NA BILHETERIA
RAPOSA 14 239.948 17.139
GALO 11 267.892 24.354
Jogos* Público Média
* Sem considerar os três clássicos contra o Atlético
“Se a diretoria do Cruzeiro pusesse um preço mais baixo, atrairia mais torcedores (...) Só Deus sabe (quando pode voltar)” ■ Leonardo Gonçalves, estudante de publicidade e propaganda
“Quando o ingresso não é tão caro, vou de arquibancada (cadeira superior), mas, com esse preço, só é possível ir de geral” ■ Thiago Rodrigues, auxiliar de escritório
Jogos* Público Média
* Sem considerar os três clássicos contra o Cruzeiro
RENDA
R$ 4.006.660 R$ 286.190
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FOTOS: MARLOS NEY VIDAL/EM/D.A PRESS
RENDA
R$ 2.618.800 R$ 238.073
Total Média
JOGOS NO MINEIRÃO Placar/adversário 5 x 0 Social 5 x 0 Guarani 2 x 1 Atlético 3 x 0 Estudiantes 4 x 1 Ituiutaba 0 x 0 Tupi 0 x 0 América 2 x 0 Universitário de Sucre 7 x 0 Democrata-GV 1 x 0 Tupi 4 x 1 Ituiutaba 2 x 1 Ituiutaba 2 x 0 Deportivo Quito 5 x 0 Atlético 1 x 1 Atlético 2 x 0 Flamengo 1 x 0 Universidad de Chile
Total Média
JOGOS NO MINEIRÃO Pagantes 16.994 5.534 47.803 33.969 11.674 9.535 13.591 14.439 2.425 9.882 12.390 13.878 34.175 47.489 38.186 24.564 36.898
Renda (R$) 225.967,50 81.060 972.856,50 827.617,50 167.927,50 139.547,50 190.527,50 319.065 29.812,50 141.137,50 164.922,50 184.352,50 460.350 1.078.742,50 945.846 473.947,50 741.422,50
Média (R$) 13,30 14,64 20,35 24,36 14,38 14,63 14,02 22,097 12,29 14,28 13,31 13,28 13,47 22,71 24,77 19,29 20,09
Placar/adversário 0 x 0 América 4 x 1 Uberaba 1 x 2 Cruzeiro 2 x 0 Rio Branco 4 x 0 Uberlândia 2 x 1 Villa Nova 6 x 0 Uberaba 2 x 0 Rio Branco 1 x 0 Rio Branco 2 x 0 Guaratinguetá 0 x 5 Cruzeiro 1 x 1 Cruzeiro 3 x 0 Vitória 2 x 1 Grêmio
Pagantes 35.342 6.703 47.803 9.516 24.198 38.106 40.742 27.902 30.027 28.999 47.489 38.186 9.094 17.263
Média = renda dividida pelo número de pagantes
Renda (R$) 354.795 61.830 972.856,50 90.960 225.440 365.965 421.555 274.835 294.540 285.275 1.078.742,50 945.846 83.230 160.375
Média (R$) 10,03 9,22 20,35 9,55 9,31 9,60 10,34 9,85 9,80 9,83 22,71 24,77 9,15 9,29
“O futebol deixou de ser um esporte popular” ■ Francisco Godoy, advogado PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS – 15/2/09