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ESTADO DE MINAS - DOMINGO, 1º DE FEVEREIRO DE 2004
GERAIS
❚ VIOLÊNCIA/
CONSUMO DE DROGAS EM PRAÇA DA VILA CAFEZAL, NA REGIÃO CENTRO-SUL DA CAPITAL, É SUSPENSO APÓS ORDEM DE CRIMINOSO
Tráfico faz trabalho da polícia
CRISTINA HORTA
PROVOCAÇÃO
Assinatura na faixa dependurada na praça de esportes revela quem manda na área: o traficante “refrigerante”, também conhecido como “Maragon”
do Cintra Gil, os moradores deveriam informar a polícia quando os traficantes tentam dar ordens no morro. Mas ele compreende que os moradores não avisam a polícia porque “se sentem intimidados”, o que faz prevalecer a Lei do Silêncio. Enquanto isso, os moradores estão tranqüilos com a determinação do “Refrigerante”. Depois que o local deixou de ser ponto de consumo de drogas, passou a ser usado para seu verdadeiro fim: a prática de esportes. Na praça, os moradores do Aglomerado da Serra – com 130 mil
habitantes – podem jogar futebol e dama, caminhar, andar de skate e patins. “Tem que gostar; a polícia vem aqui e volta, mas quem fica aqui são eles (traficantes)”, afirma um morador do aglomerado.
GAMBIARRA Mas, mesmo sendo utilizado pela comunidade ainda restam reclamações. Moradores queixam que o escoamento de água ainda não foi finalizado. Segundo o líder comunitário, José Timóteo Severiano, o problema é que moradores da parte debai-
xo do aglomerado reclamam do escoamento de água. O líder comunitário da Vila Marçola, na parte de baixo do aglomerado, Antônio João, diz que a obra da prefeitura foi “mal feita e realizada pela metade”. “Não tem escoamento de água e esgoto e querem jogar tudo lá em baixo”, reclama Antônio. A prefeitura, através da assessoria de comunicação, diz que a obra foi aprovada no Orçamento Participativo e que a finalização depende da Copasa, que não foi encontrada para se pronunciar sobre o problema. (DC)
AMARELO
O aumento de força dos líderes do tráfico se deve à ligação destes com outros tipos de organizações criminosas, como contrabando, pirataria, tráfico de armas e laços com agentes corruptos do poder público. Um outro fator, segundo o secretário executivo do Crisp, Róbson Sávio Reis Souza, está relacionado a falta de cidadania que afeta os moradores dos aglomerados. “Não é porque a população gosta do mando do traficante, é porque ela se vê escravizada”, afirma. Para o tenente Renato Salga-
PRETO
Intimidação garante Lei do Silêncio
MAGENTA
No alto do morro, um traficante proíbe o uso de drogas no seu território. A situação tem como palco a praça de esportes da Vila Cafezal, Centro-sul de Belo Horizonte. A vila faz parte do Aglomerado da Serra, uma das áreas mais violentas da capital e local de dois homicídios ontem. Lá, duas faixas ditam a regra: “Não use droga neste local”, determina a primeira faixa. Ao lado dela, a outra detalha a informação: “maconha, etc” e assina a sentença com o nome de “Refrigerante”. Para moradores e Polícia Militar, “Refrigerante”, também conhecido como “Coca-cola”, é “Marangon”, um dos comandantes do tráfico de drogas e receptador de produtos roubados do Cafezal. Sua ordem é respeitada. Moradores do local, que temem se identificar, confirmam que desde a chegada da faixa o consumo e tráfico no local desapareceram e a comunidade pode usufruir da área de lazer, construída pela prefeitura. De acordo com o tenente Renato Salgado Cintra Gil, da 127ª Companhia – responsável pelo policiamento no local – “Marangon” é conhecido pelos militares que atuam na região a mais tempo. De acordo com eles, o traficante mora em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, de onde comanda as operações na vila. Os policiais estiveram na pra-
ça ontem, mas não retiraram a faixa. O tenente reconhece que as faixas estão no local “já faz um tempo”. Ele também informa que a polícia deve procurar a prefeitura para retirar a faixa de uma forma “certinha”. Outro empecilho para a retirada do recado do traficante é que a faixa “está um pouco alta”, de acordo com o tenente. Mas o militar afirma que “não pode deixar a faixa lá, como se aquele pedaço fosse do traficante”. O pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), Róbson Sávio Souza Reis, compara o nível de organização dos traficantes mineiros, com o Rio de Janeiro, São Paulo e Vitória. “Onde as organizações do tráfico se sentem poderosas, ao arrepio da lei e se metem a desdenhar do próprio Estado”, analisa Róbson. O pesquisador do Crisp elogia a construção da obra, ao oferecer alternativas de lazer e assim evitar que jovens trilhem o caminho do crime. “O tráfico seduz os jovens, oferecendo lucro e poder”, afirma Róbson. No entanto, é importante que o poder público marque presença no local. No ano passado, em Belo Horizonte, o número de homicídios na capital aumentou 40% e o número de crimes violentos 70%. Para Róbson, isso mostra que o mundo do crime não vale a pena, já que várias vítimas que sustentam as estatísticas estavam envolvidas com o tráfico de drogas.
CYAN
DANIEL CAMARGOS
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AMARELO
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