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GERAIS

Não adianta o jovem querer fazer boas escolhas,se ele não tem oportunidades’

GERAÇÃO

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PAULO EMÍLIO

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ELES ESCOLHERAM UM CAMINHO DIFERENTE E APROVEITARAM A CHANCE PARA TRANSFORMAR A REALIDADE

Jovens revolucionários

JUAREZ RODRIGUES/EM

EM AÇÃO O jogo educativo,criado por Paulo Emílio de Castro Andrade, é uma ferramenta para quem quer trabalhar e uma arma para quem quer lutar por uma nova educação no Brasil. Já foi usado por mais de 700 alunos em três escolas municipais de BH.Dentro do conceito de participação juvenil, em que adolescentes atuam para transformar a realidade, Paulo criou o jogo por acreditar no potencial de todo jovem, que deve saber que a escola não é da prefeitura nem do estado. Não é de determinado diretor, líder, professor ou de algum grupo,mas de toda a comunidade.Os jovens, portanto, têm tempo para mudar a realidade que os rodeia,de uma forma lúdica e participativa. Até quatro equipes podem participar do jogo ao mesmo tempo e cada uma tem entre 5 e 10 jogadores. São 10 fases, sendo que nas três primeiras, os jovens fazem um diagnóstico da escola e da comunidade em que vivem, já que só há mudanças depois de entender o significado que ela tem para o seu entorno.Nas etapas 4,5,6 e 7,os jovens fazem um planejamento de uma ação que pretendem desenvolver e mudar a escola para melhor. Na fase 8, executam a ação. Na 9, eles avaliam,e na 10,se apropriam dos resultados.

Rafael Pereira acredita que o circo pode abrir as portas do mundo para os jovens

Malabarista social Vestindo chapéu-coco, tênis de marca, camiseta regata laranja, da mesma cor dos detalhes da calçabermuda e combinando com as cinco bolas de plástico que joga para cima, esbanjando habilidade, o estudante de educação física Rafael Pereira Silva, de 25, tem discurso articulado. Professor de um projeto social em São Sebastião das Águas Claras (Macacos), distrito de Nova Lima, ele também leciona em uma escola na Pampulha. Em Macacos ensina os truques do circo para crianças, e na escola desenvolve atividades extracurriculares, também, sob o espectro coberto pela lona colorida. A habilidade que demonstra com as bolas alaranjadas teve início há sete anos, quando tinha 18,

e ganhou um davel stick (ou bastão japonês) de uma amiga paulista. “Ficava horas em casa brincando e aprendendo a manusear o bastão”, lembra. O stick se tornou popular, para o desgosto de Rafael, nas mãos dos meninos que pedem dinheiro no sinal e fazem malabarismo. Ele ressalta que participou da campanha da Prefeitura de Belo Horizonte contra a esmola no sinal para crianças. Depois do aprendizado solitário, Rafael se matriculou na Spasso Escola de Circo. Lá, ele aprendeu técnicas de acrobacia e equilibrismo e se tornou monitor, ensinando os truques para as crianças. Paralelo ao aprendizado, foi aprovado no curso de geologia, mas com o tempo percebeu que não era

AMARELO

rial educativo para ajudar a transformar a realidade das escolas públicas. Sabe aquele projeto do Pitágoras quando ele estava com 14 anos, em 1995? Pois surgiu a oportunidade de transformar a menção honrosa em prática. Foi o próprio Paulo que BETO NOVAES/EM pensou em todas as fases do jogo, na lógica de funcionamento e criou o manual de orientação de alunos e professores. Das três escolas em que já foi usado, com mais de 700 alunos e resultados positivos, ele conta a experiência com a Escola Municipal Oswaldo Cruz, no bairro Jardim América. “Os alunos tinham um laboratório de informática que vivia trancado, porque não havia professor”. Num primeiro momento, eles detectaram a necessidade, então, fizeram um abaixo-assinado para saber o que os outros alunos achavam. Em seguida, conversaram com a diretora para reabri-lo e foram encaminhados para o Projeto Click, de inclusão digital, da ONG Humiumbi. Foram preparados para atuar no Paulo Emílio inventou um jogo educativo laboratório da escola que hoje funciona com cursos e horários de acesso livre, para fazer pesquisas, usar e internet, fazer trabalhos e enviar emails. O jogo está conseguindo revolucionar a educação, com a participação ativa e direta dos jovens.

MAGENTA

namental, onde começou como digitador. Dentro do conceito de que “todo mundo nasce com um potencial, Paulo desenvolveu o dele aos 14 anos, no Colégio Pitágoras quando participou do Projeto Viver, em parceria com a Fundação Odebrecht e Unicef. Ganhou menção honrosa e aproveitou a oportunidade para escolher o seu caminho. “Não adianta o jovem querer fazer boas escolhas, se ele não tem oportunidades. Pode ter dinheiro, mas não fazer nada com ele. Por outro lado, não adianta fazer boas escolhas se você não tem oportunidades”, raciocina. A Humiumbi é justamente um espaço de oportunidades, de preparação desses jovens para que façam escolhas de valor. Pesquisador do Observatório da Juventude da UFMG, onde faz mestrado em educação, Paulo diz que a maior referência na sua vida é a mãe, Maria Lívia, “uma pessoa de valor, que criou os filhos praticamente sozinha, já que meu pai teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) que o deixou imobilizado por muitos anos, até morrer em 1999. Ela tem um olhar sensível para o outro e para o mundo”. A família ocupa um lugar especial na vida de Paulo. “Não é que a gente não brigue, não discuta, mas tomamos decisões sempre juntos. No aniversário de cada um, a gente faz um painel com as fotos, recortes de revistas e jornais, com direito a um café da manhã especial e parabéns no quarto. Depois da virada de cada ano, outra reunião, para avaliarmos o que passou e fazer o planejamento nas áreas de saúde, profissional, acadêmica, relacionamentos, viagens, crescimento pessoal. É sério, mas muito divertido”. Hoje, Paulo está se dedicando à divulgação e implantação do Jovens em ação, um jogo que é um mate-

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Ele não gosta de ser confundido com um nerd, por causa dos óculos, dos títulos e das funções que acumula na ONG Humbiumbi, no Bairro Buritis, na região Oeste de BH, mas Paulo Emílio de Castro Andrade, de 26 anos, é mais do que isso. Ele é envolvente, seduz o ouvinte, porque fala e age por um mundo melhor. Adora cozinhar para a família aos domingos, mesmo no momento em que está com alergia à lactose, ainda faz receitas milagrosas sem leite e seus derivados. Unir pessoas e sonhos é uma das qualidades de um jovem que desde adolescente cria projetos de vida para si e para outras pessoas. Aos 6, embarcou com a mãe, a educadora Maria Lívia de Castro Andrade e os outros quatro irmãos para Angola, onde moraram por seis anos. Na volta ao Brasil, a mãe reuniu a família para decidir como iria aplicar o dinheiro do trabalho na África. Não quis carros, apartamentos de luxo nem viagens pelo mundo. Ela preferiu, em comum acordo com os filhos, investir na construção do prédio, no Buritis, sede da ONG Humbiumbi, que está completando 11 anos de existência, com a missão de contribuir para que os jovens da periferia da regional Oeste possam desenvolver o seu potencial humano. Acompanhada dos cinco filhos, Maria Lívia ia todos os domingos ver o prédio sendo erguido. “A gente tirava fotos, admirava a construção e escolhemos, juntos, o nome Humiumbi, um pássaro da tradição angolana, que anuncia o nascer do sol e as boas sementeiras. E convida outros pássaros a voarem alto para que, juntos, possam ter uma visão mais ampla do universo”, explica Paulo. É assim que toda a família voou em direção aos seus sonhos. Paulo, hoje, é presidente e coordenador geral dos projetos sociais da organização não-gover-

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DÉA JANUZZI, SANDRA KIEFER E DANIEL CAMARGOS

a área dele. “Um professor disse que troquei as pedras pelas bolinhas”, lembra. Mas acabou escolhendo a educação física. Um dos objetivos dele é sistematizar o estudo do circo. “Não existem livros de circo que ensinem, mas a tendência agora é de registrar isso”, afirma. Rafael já organizou encontros de malabarista no Mercado Distrital de Santa Tereza, reuniões carnavalescas, em Barroso, na região Central de Minas, e hospedou seis malabaristas estrangeiros em sua casa. “Este ano pretendo ir para o Chile ou para Argentina. O circo abre portas no mundo tudo”, acredita.

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