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ESTADO DE MINAS - SEGUNDA-FEIRA, 2 DE FEVEREIRO DE 2004

PÁGINA 19

GERAIS

❚ DEPORTADOS

❚ VIOLÊNCIA

AGENCIADORES E ATRAVESSADORES ESTÃO EM ATIVIDADE NA REGIÃO LESTE DE MINAS, MESMO APÓS O RETORNO DOS BRASILEIROS QUE TENTARAM ENTRAR DE FORMA CLANDESTINA NOS ESTADOS UNIDOS

PELO MENOS 13 HOMICÍDIOS SÃO REGISTRADOS NA REGIÃO METROPOLITANA DESDE SEXTA

Quadrilhas mantêm esquema de fraudes FERNANDA ODILLA De Governador Valadares

O retorno dos 277 brasileiros, deportados de uma só vez por tentar entrar clandestinamente nos Estados Unidos, não foi suficiente para inibir a ação das quadrilhas especializadas num negócio que traz prosperidade para o Leste mineiro e deixa um rastro de violência promovido por quem explora a atividade. Na semana passada, pelo menos 30 pessoas do Vale do Aço e Vale do Rio Doce fizeram contatos e acertaram viagens com agenciadores, responsáveis por mandar 70% dos imigrantes brasileiros aos EUA e organizar a travessia e documentos para paulistas, catarinenses, capixabas e cariocas. Os cabeças do esquema estão em Governador Valadares e Ipatinga, que mantém funcionários nas pequenas cidades ou visitam os municípios da região uma vez por semana para recolher dinheiro e vender o sonho de conquistar a América. “O negócio aqui não pára”, frisa o delegado federal Sérgio Murilo de Lima, lembrando

❚ TRÁFICO/

MARCELO SANT´ANNA

AÇÃO

Zelino, de Ipatinga, confirma atuação de encarregados de indicar clientes que, para a legislação brasileira, mandar pessoas para o México para atravessar a fronteira sem documento não é crime. A polícia só pode atuar em casos com comprovação de fraude de documentos, especialmente de passaportes e vistos. “Ou quando há extorsão de famílias com parcelas da viagem a serem quitadas e em ca-

sos de estelionato”, diz, emendando que os “cobradores”, especializados em recolher o dinheiro de quem atrasa são truculentos e violentos. No final de semana, um cônsul de Ipatinga, conhecido apenas como Mário, estava na cidade de Tarumirim, a 72 quilômetros de Valadares, para receber o pagamento dos que passaram

a fronteira e fechar novos negócios. Mais da metade dos moradores do município já foram ou estão nos EUA e quase ninguém fica preso. “Nossos contatos e coiotes são bons. Só mesmo se der muito azar”, diz um agenciador da região, que se prepara para levar emigrantes na próxima semana. “Vem sempre um pessoal de Ipatinga e de Valadares. Eles já tem os contatos na região, que ganham até US$ 500 para indicar quem quer viajar”, conta Zelino, comerciante da cidade entendido do esquema. “Eles chegam em carros novos e dão garantias de que tudo é muito tranqüilo. Como o pessoal que a gente conhece já passou, a gente confia”, diz o agricultor José de Anchieta Marcial, de 47 anos, que viu o filho Renan, de 19 anos, partir para os EUA para ficar preso três meses e voltar deportado para Simonésia, quase divisa com Espírito Santo. “Quem fecha o negócio não conta o que está por vir. Eles chegam aqui e nos convencem de que vamos encontrar outra coisa. Sofri demais”, diz Aécio Gomes de Oliveira, de Ladainha, que também foi repatriado.

FISCAIS E MILITARES SOMEM COM O RECADO DE CRIMINOSO EM PRAÇA DA FAVELA

Escolta garante retirada de faixa DANIEL CAMARGOS

A faixa pendurada no alambrado da praça de esportes da Vila Cafezal, região Centro Sul de Belo Horizonte – que proibia o uso de drogas no local – foi retirada ontem de manhã. Fiscais da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), escoltados por uma viatura da polícia militar, removeram a faixa assinada com o nome de “Refrigerante”. O autor da mensagem, segundo a polícia militar e os moradores, também atende por “Coca-cola” e “Marangon” e é traficante de drogas e receptador de produtos roubados. Para tirar o recado do traficante da praça, o tenente Renato Salgado Cintra Gil, da 127ª Companhia – responsável pelo policiamento no local – precisou da ajuda dos agentes da PBH. “A polícia não ia subir no alambrado para retirar a faixa porque é constrangedor”, afirma o tenente. Segundo o militar, a retirada da faixa não provocou nenhum tipo de reação dos moradores e pessoas ligadas com o tráfico de drogas. Mas, ontem pela manhã, na rua doutor Camilo, na entrada da vila, dois grupos que disputam posições do tráfico de drogas trocaram tiros. Quando a polícia militar chegou no local, foi recebida a bala e revidou, atingindo um adolescente, integrante de um dos grupos, que foi socorrido para o Hospital de Pronto-socorro João XXIII, com dois tiros na coxa. Segundo informações do HPS, o adolescente está internado e não corre risco de vida. Para o pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), Róbson Sávio Souza Reis, grande parte dos crimes violentos e homicídios, que cresceram 70% e 40% respectivamente no ano passado, envolvem adolescentes ligados ao tráfico de drogas. Para Róbson, eles vislumbram no mundo crime uma oportunidade de ganhar dinheiro e alcançarem poder.

ADMIRAÇÃO O respeito e admiração dos moradores dos aglomerados com os traficantes não é novidade. Em setembro do ano passado, Roni Peixoto, considerado o braço direito de Luís Fernando da Costa, o Fernandinho BeiraMar, foi recebido com festa na Pedreira Prado Lopes, Nordeste da capital. Depois de deixar a penitenciária Nelson Hungria, em

liberdade condicional, foguetes e churrasco reuniram cerca de mil moradores da Pedreira para recepcioná-lo. Durante a festa, a polícia tentou subir o morro, mas foi barrada pela multidão que fechava a rua. A festa quase termina em tragédia, já que mulheres e crianças estavam presentes e na linha de frente caso acontecesse um confronto com a polícia. Roni Peixoto foi condenado duas vezes por envolvimento com drogas e em setembro saiu em liberdade condicional. Em novembro, ele voltou a ser preso por determinação da Justiça, que acatou pedido do Ministério Público que investigou indícios de envolvimento de Roni com o tráfico de drogas após a condicional. Agora, ele está novamente preso na penitenciária Nelson Hungria.

CRISTINA HORTA

MEDO

Comunidade cobra segurança para poder usar equipamentos do local

CRISTINA HORTA

INVESTIGAÇÃO

PM suspeita de vizinho do bar, no bairro Lagoinha, em Neves

Dois policiais mortos no final de semana LUCIANA MELO

O soldado do 34º Batalhão do bairro Caiçara, José Lafaiete Pereira, de 35 anos, foi assassinado ontem em um bar próximo a sua casa no bairro Lagoinha, em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte. O soldado Lafaiete estava no bar Rabelo’s, à paisana, quando dois homens chegaram em uma moto e dispararam seis tiros. Policiais da 2ª Cia Independente acreditam que o crime foi por desentendimentos pessoais. A morte foi o 13o homicídio registrado na capital no final de semana, e o segundo de um policial. A polícia suspeita que o autor do crime seja um homem conhecido como Beto, que mora próximo ao bar, no bairro Labanca. Segundo um policial que não quis se identificar, a vítima tinha muitos desafetos e abusava de sua patente para ameaçar as pessoas. Reclamações sobre a conduta do soldado já haviam sido encaminhadas à Polícia Militar. O soldador Antônio Carlos Reis Alves passava próximo ao bar no momento dos disparos. Ele afirma que era amigo de infância do soldado e nega as denúncias de abuso de poder. Chocado com a vio-

lência, Antônio Carlos Reis Alves pede justiça na apuração do crime. “Tive um pressentimento em casa e quando estava próximo do bar escutei os tiros”. Outro policial que foi vítima de violência em Ribeirão das Neves foi o soldado do 1o Batalhão da Polícia Militar, José Aparecido Felipe, de 40 anos, baleado no último sábado, durante uma tentativa de assalto a um supermercado, no bairro Santana. Os três assaltantes, entre eles o autor do tiro, Adevaldo Custódio da Silva, que moram no Jardim Leblon, região de Venda Nova, na capital, foram presos pelos policiais militares. No Bairro de Lourdes, na região Sul de Belo Horizonte, um homem foi apedrejado e logo depois enforcado. Segundo o Departamento de Investigações (DI), a vítima vivia em uma casa abandonada e já parcialmente destruída na rua Gonçalves Dias, na companhia de outros desabrigados. A polícia acredita que o motivo da morte tenha sido um desentendimento entre a vítima e outras pessoas que dormiam no local. A única testemunha do crime, segundo o DI, possui uma deficiência na fala e não conseguiu informar quem era o autor do crime.


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