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CALOR
sufoca até a Pampulha Temperatura na primavera volta a bater recorde e se reflete no aspecto esverdeado da água da lagoa, devido à proliferação excessiva de algas FOTOS JAIR AMARAL
ais um dia de calor excessivo, de ar seco e de procura por sombra e água fresca em Belo Horizonte. Os termômetros registraram, ontem, 34 graus na capital, temperatura mais alta desta primavera e uma das mais elevadas do ano. A umidade relativa do ar voltou a cair, ficando na casa dos 26%, disse o coordenador do MG Tempo - Cemig/PUC Minas, Ruibran dos Reis. Para se fazer uma comparação, explicou, o índice em um deserto é de 10%, por isso esses números preocupam. Além de mudar o comportamento dos belo-horizontinos, o clima seco alterou a paisagem da lagoa da Pampulha, um dos mais bonitos cartões postais da cidade. Quem passou pelo local ou se arriscou a pescar em algum ponto da orla, de manhã ou à tarde, viu que a cor verde, símbolo do meio ambiente, também é sinal de poluição. O tom esverdeado no espelho d’água é resultado da proliferação de algas, disse o gerente de Planejamento e Monitoramento Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Saneamento Urbano, Weber Coutinho. Com a baixa vazão dos córregos Sarandi e Ressaca e ribeirões que abastecem a represa, há
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Incêndios consomem 8 reservas ISADORA CAMARGOS
DANIEL, COM A NAMORADA DÉA, APROVEITOU A TARDE PARA UM CHOPE NA ORLA, SEM SE INCOMODAR COM O TOM DA ÁGUA: “QUEM NÃO TEM MAR, TEM QUE IR AO BAR”
DIVULGAÇÃO/CORPO DE BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE TIRADENTES
HORÁRIO DE VERÃO A previsão do tempo para este fim de semana, o primeiro do horário de verão, que começa à meia-noite, é de dias igualmente quentes, sem chuva. O horário diferenciado vai até o primeiro minuto de 19 de fevereiro de 2006, nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e no Distrito Federal. No Norte e Nordeste, o horário normal será mantido.
Vale tudo para se refrescar Em todos os cantos da cidade, é hora de uma água de coco, de um chope gelado, de roupas mais claras e alimentação mais leve. Moradora do bairro de Santa Tereza, na região Leste de Belo Horizonte, a estudante Lucimara Rachel, de 26 anos, toma litros de água de coco, que, “além de gostosa, é ótima para hidratar o corpo”. O dono do caminhão de cocos e abacaxis, José Lúcio, contou que a venda cai até 50% no inverno. “Mas basta o tempo esquentar que a gente recupera.” Mesmo com a poluição, as margens da Pampulha são sempre um lugar de lazer para os moradores da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Aproveitando a folga, o motorista Paulo Rodrigues Lima, de Sabará, reuniu parentes e amigos para algumas horas de tranqüilidade sob as árvores da orla, perto da Casa do Baile. Ao lado de uma garrafa de água gelada, sua sobrinha Kênia Figueiredo de Lima, de 15 anos, aproveitou para
bordar. “Na minha cidade, está muito quente, então viemos nos refrescar neste lugar lindo.” Num bar da orla, os namorados Déa Caldas e Daniel Baeta, ambos de 23, procuraram uma mesa estratégica e curtiram a brisa da tarde, que soprava sobre a lagoa. Para celebrar a sexta-feira de folga, eles pediram um chope caprichado. “Quem não tem mar, tem que ir ao bar”, brincou Daniel.
EM TIRADENTES, FOI REGISTRADA A MAIOR ÁREA QUEIMADA, ESTIMADA EM 500 HECTARES. MILITARES E VOLUNTÁRIOS SE EMPENHARAM NO COMBATE
CRIANÇAS A alta temperatura, no entanto, não é sinônimo de relaxamento e calma para muitos pais. No Centro Geral de Pediatria, na área hospitalar da capital, cresceu o atendimento nos últimos dias. No início da noite de ontem, a moradora da Serra Cristina Floriano esperava, com o pequeno Nicolas, de 2 anos e meio, o atendimento médico. “Ele está com febre e apareceram algumas bolhas. Acho que é o calor. O melhor é procurar ajuda”, contou.
CYAN MAGENTA AMARELO PRETO
Oito unidades de conservação ambiental de Minas Gerais registravam focos de incêndio até o início da noite de ontem, quando o trabalho das brigadas foi interrompido. Estão em alerta vermelho a Estação Ecológica Sagarana, em Arinos, Noroeste do estado, e a Área de Proteção Ambiental Cachoeira das Andorinhas, em Ouro Preto, na região Central. No Refúgio Estadual de Vida Silvestre Libélula Serra de São José, em Tiradentes, e na Área de Proteção Ambiental Santa Izabel, em Paracatu, Noroeste do Estado, o fogo estava intenso na manhã de ontem, mas foi diminuindo até o início da noite. Apenas neste mês, foram registrados 3.051 focos de incêndio em todo o estado. Em outubro do ano passado, foram 3.242. O calor contribui para as queimadas e dificulta o combate ao fogo. A maior extensão queimada foi em Tiradentes, onde a estimativa é de 500 hectares. O incêndio começou quinta-feira, foi controlado, mas na madrugada de ontem ganhou intensidade. À tarde, as chamas foram controladas mais uma vez. No início da noite, 29 bombeiros de São João del-Rei, Barbacena e Juiz de Fora e cerca de dez voluntários da região combateram os focos com a ajuda de um helicóptero da PM. Em Arinos, o incêndio estava controlado, mas recomeçou no início da tarde, devido ao tempo muito seco. Cinco bombeiros de Patos de Minas e 14 brigadistas voluntários combateram o fogo, com o apoio de um helicóptero e aviões. Em Ouro Preto, o fogo começou na última quinta-feira. Quatro bombeiros estavam no local, mas enfrentaram dificuldades para o combate direto ao fogo.
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GUSTAVO WERNECK
mais concentração de matéria orgânica, devido ao lançamento de esgotos. “Na bacia da Pampulha, apenas 60% do esgoto doméstico é interceptado. Portanto, o aparecimento de algas está relacionado à poluição”, afirmou Coutinho. A situação é cíclica e ocorre em graus mais elevados na lagoa especialmente nesta época. O gerente diz que nada pode ser feito para reverter o quadro: é necessário esperar a chegada das chuvas para provocar a dispersão dos poluentes. Mesmo conscientes da série de ações para combater a sujeira e o mau cheiro da lagoa, moradores e turistas se espantam com o que vêem. “O conjunto arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer é maravilhoso, mas fiquei impressionado com a cor das águas”, disse o médico pernambucano Fernando Medeiros, que visitava o local pela primeira vez. Na sua caminhada diária, a moradora do bairro Bandeirantes Lucía Sampaio notou ainda acúmulo de lixo, especialmente garrafas pet, boiando nas águas. Ela se queixou ainda da quantidade de pernilongos que infestam a região e se tornam um transtorno com o calor.
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