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ESTADO DE MINAS ●

S Á BA D O, 2 0 D E J U N H O D E 2 0 0 9 ● E D I TO R : J o ã o Pa u l o C u n h a ● E D I TO R A - A S S I ST E N T E : Â n g e l a Fa r i a ● E - M A I L : c u l t u ra . e m @ u a i . co m . b r ● T E L E F O N E : ( 3 1 ) 3 2 6 3 - 5 1 2 6

DRAMA DE SHAKESPEARE

EM

PAULO LACERDA/DIVULGAÇÃO

Montagem de Macbeth privilegia o trabalho dos intérpretes. PÁGINA 5

Loki: Arnaldo Baptista, documentário dirigido por Paulo Henrique Fontenelle, em cartaz nos cinemas, narra a trajetória artística e humana do músico, antes e depois dos Mutantes

A COR DO SOM PAULO H. FONTENELLE/DIVULGAÇÃO

Além da música, Arnaldo Baptista também se expressa criativamante por meio de suas pinturas

DANIEL CAMARGOS Na ficha técnica do disco Loki? (1974) tem uma nota no final: “Este disco é para ser ouvido em alto volume”. É o melhor caminho para compreender a angústia das letras gravadas por Arnaldo Baptista no primeiro disco depois de ter deixado os Mutantes. Para entender também algumas das razões que criaram e acabaram com a maior banda de rock da história da música nacional, que levaram Arnaldo a tentar suicídio e se tornar tão admirado por um imenso número de fãs, um bom caminho é assistir ao documentário homônimo do disco: Loki – Arnaldo Baptista, que está em cartaz em 17 cidades brasileiras (Belo Horizonte e Juiz de Fora entre elas).

D

irigido por Paulo Henrique Fontenelle, o filme é a estreia do Canal Brasil na produção de longas-metragens e é credenciado por uma bem-sucedida trajetória em festivais, em que recebeu o prêmio do público no Festival do Rio de Janeiro e da Mostra Internacional de São Paulo, no ano passado. “Por causa dos festivais, o filme teve uma repercussão muito grande, os fãs começaram a escrever pedindo para que fosse para o cinema e se tornou viável”, explica Fontenelle. Assim como o volume alto foi recomendado no disco, a tela grande é essencial para apreciar as duas horas de imagens do documentário. Lá estão cenas dos festivais da canção da década de 1960 em que os Mutantes tocaram Domingo no parque com Gilberto Gil, passando por aparições raras da banda, shows da carreira solo de Arnaldo e uma trilha sonora muito bem escolhida. Outro ponto forte do documentário são os importantes depoimentos, que abrangem do irmão Sérgio Dias aos parceiros de banda Dinho Leme, Liminha e Zélia Duncan – que participou da composição recente, que excursionou pelo Brasil, Europa e EUA e gravou um disco ao vivo. Há também contemporâneos como Tom Zé, Gilberto Gil, Rogério Duprat e outros que ressaltam a importância de Arnaldo para a música atual, como Sean Lennon, Devendra Banhart e Kurt Cobain. A principal ausência é Rita Lee. Fontenelle conta que tentou entrar em contato, mas que ela não quis par-

ticipar. “É um direito dela. Ela foi simpática e com as imagens foi possível contar a história dos dois de uma forma bonita, sem que ela precisasse falar”, afirma o diretor. Rita e Arnaldo foram casados durante um período dos Mutantes e o fim da relação dos dois está intrinsecamente ligado ao fim da banda, tema que é bastante explorado no documentário.

EQUIPE ENXUTA No total, Fontenelle gravou 500 horas de imagem. A ideia inicial era produzir um especial para o Canal Brasil, mas ele conta que sempre imaginou a história de Arnaldo como um filme. Fez um primeiro corte nas imagens para três horas e depois chegou à versão definitiva, com duas horas de duração. Fontenelle destaca que o filme teve um orçamento de cerca de R$ 100 mil e uma equipe de quatro pessoas. O diretor destaca o depoimento de Sérgio Dias, que foi emocionante, feito antes do reencontro dos irmãos com o retorno da banda, em que ele se desculpa pelos erros do passado e por não ter compreendido o irmão. Outro depoimento interessante é o de Antônio Peticov, artista plástico, que em 1974 morava na Itália e recebeu a visita do Arnaldo, depois da separação dos Mutantes. Ele ficou uma semana lá, usando um piano elétrico para ensaiar as músicas do que seria o disco Loki?. No final da viagem, disse o real motivo da visita para o amigo: queria contratálo para ser o capitão da nave espacial que estava construindo.

DISCOGR AFIA

ARNALDO BAPTISTA

Mutantes (1968) Mutantes (1969) A divina comédia ou ando meio desligado (1970) Tecnicolor (1970) Jardim elétrico (1971) Mutantes e seus cometas no país do baurets (1972) O A e o Z (1973) Build up (1970) Hoje é o primeiro dia do resto de sua vida (1972) Lóki? (1974) Singin’ alone (1982) Disco voador (1987) Elo perdido (1988) Faremos uma noitada excelente (1988) Let it bed (2004) Mutantes ao vivo (2006)

PARA LER

A divina comédia dos Mutantes, de Carlos Calado (Editora 34) Rebelde entre os rebeldes, de Arnaldo Baptista (Editora Rocco)

TRANSMUTAÇÃO Arnaldo começa o filme pintando uma tela, seguindo uma ideia do diretor: “Todo homem é uma tela em branco que a sociedade transforma”, explica Fontenelle. O trabalho com a pintura ajudou Arnaldo a recuperar-se dos traumas da queda, em 31 de janeiro de 1981, quando pulou do terceiro andar de uma clínica psiquiátrica (dia do aniversário de Rita Lee). No quadro, começa pintando a imagem de uma mulher com os olhos azuis e depois muda para castanho, o que ele chama de “transmutação do amor”. Desde a época da tentativa de suicídio o artista vive com Lucinha Barbosa, que tem olhos castanhos, diferente dos azuis de Rita.


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