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VEÍCULOS AMBULANTE c m y k
Sorveteiro participa do trânsito, circula quilômetros por dia e torce pelo calor, para faturar mais. Carrinho feito em fibra e com rodas de bicicleta não requer muitos cuidados FOTOS EULER JÚNIOR
Movido a gelo
e calor DANIEL CAMARGOS
“O sol cai sobre as coisas em placa fervendo / O sorveteiro corta a rua / E o vento brinca nos bigodes do construtor”. Os versos de Carlos Drummond de Andrade fazem parte do poema Construção, publicado no livro Alguma Poesia, em 1930. À época o sorveteiro Celso Campos, de 50 anos, nem era nascido, mas pode comprovar com o suor dos quilômetros caminhados entre os bairros Nova Floresta, na região Nordeste da cidade, e Santo Antônio, na região Sul, que quando o sol é escaldante a passagem do sorveteiro é mais lucrativa: “Depende muito do clima. Quando está calor chego a vender cerca de 200 picolés. Já nos dias menos quentes vendo entre 50 e 60 picolés”.
FICHA TÉCNICA Motor: Tração humana Potência e direção: Depende da disposição do sorveteiro Freios: Uma barra de ferro na frente Suspensão: Inexistente Combustível: O almoço do condutor Consumo: Depende do calor Sistema de refrigeração: Cinco barras de gelo em gel Capacidade de carga: 300 picolés de 160g Peso total: 30 kg (com o portamalas cheio) Carroceria: Toda em fibra Rodas: Aro 20, com pneu de bicicleta Escapamento: Lixeira de plástico amarrada Preço: R$ 250 usado e R$ 480 novo.
O MOTORISTA Celso foi copeiro, lembra que trabalhou “nas melhores casas da cidade”. O salário era baixo e, há 15 anos, trocou a formalidade por um carrinho de picolé. Hoje, fatura cerca de R$ 600 por mês, contra pouco mais de um salário mínimo nos tempos de copeiro. Porém, a vantagem exige esforço e dedicação. O trabalho começa às 10h, quando ele busca o carrinho em uma sorveteria no bairro Nova Floresta. Depois, empurra o carrinho até o Centro da cidade. Lá, ele fica transitando incessantemente, pois, “se ficar parado, a fiscalização acha ruim”. Depois, segue até o bairro Santo Antônio, sendo que, às vezes, passa pela Praça da Liberdade e região da Savassi, até o retorno para o Nova Floresta.
O VEÍCULO Na sorveteria, quem zela pelos carrinhos é Adalberto José Braga de Oliveira, um dos proprietários. Adalberto explica que as rodas são aro 20 e os pneus, iguais aos de bicicleta, com câmara de ar. Os carrinhos rodam entre dois e quatro meses sem renovar o ar da câmara e os pneus duram cerca de dois anos. O
que precisa ser renovado todos os dias é o gelo, disposto em cinco barras em gel. Uma no fundo e quatro nas laterais. Depois, é só empilhar os picolés. Um veículo novo custa R$ 480, mas Adalberto explica que um usado serve bem e pode ser comprado mais barato, por R$ 250, basta uma boa pesquisa em anúncios de jornal. Prejuízo mesmo é só quando o sorveteiro é atropelado. “É difícil recuperar, mas já existem pessoas que dão um jeito”, explica Adalberto. Outro motivo de cuidado é a tampa do recipiente dos picolés, que quebra fácil e, como todo o carrinho, é feita de fibra. Outros detalhes são uma lixeira amarrada e uma barra de ferro na frente, que serve como freio e apoio
OS RISCOS Personagem ativo do trânsito da cidade, Celso enfrenta os carros, motos e pedestres. Dos motoristas, ele reclama mais respeito, e dos motociclistas, bom senso, já que muitos não respeitam a mão de direção. Quanto aos pedestres não tem nada a reclamar. Para bom vendedor o freguês tem sempre a razão. Apesar de nunca ter sofrido um acidente, Celso conta que muitos colegas já foram atropelados. “Semana passada mesmo teve um. Ele estava passando na entrada de um estacionamento, o motorista do carro não o viu e acertou também o carrinho. O caso foi parar na delegacia”, lembra. O sorveteiro foi entrevistado enquanto circulava pelas ruas do Centro da cidade. Em 10 minutos de conversa caminhando pelas ruas Tupinambás, Rio de Janeiro e Caetés Celso vendeu três picolés, por R$ 0,80 cada.
CYAN MAGENTA AMARELO PRETO
Vendas dependem do clima: nos dias quentes, Celso vende cerca de 200 picolés
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