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LITERATU AMIGOS FALAM DE ECO: “professor”, “simples”, “supremo e completo”
Sob aplausos, chega ao fim velório de Umberto Eco na Itália P. 2
Conforme a vontade de um dos maiores escritores da história, o cerimonial foi estritamente laico. O caixão com o corpo de Eco deixou o local do velório sob muitos aplausos.
OBRA PÓSTUMA
OS MELHORES
HOMENAGENS
Editor de Umberto Eco promete novo livro muito em breve. P4
Confira uma lista de livros nas diferentes áreas em que o autor se destacou. P. 6
Personalidades se manifestaram em homenagens ao escritor. P. 3 FEVEREIRO DE 2015 | Nº 2216017 | R$10,50
editorial
Sob aplausos, chega ao fim velório de Umberto Eco na Itália.
O Ur-Fascismo pode voltar sob as vestes mais inocentes. Nosso dever é desmascará-lo e apontar o indicador para cada uma de suas novas formas — a cada dia, em cada lugar do mundo. Cito ainda as palavras de Roosevelt: “Ouso dizer que, se a democracia americana parasse de progredir como uma força viva, buscando dia e noite melhorar, por meios pacíficos, as condições de nossos cidadãos, a força do fascismo cresceria em nosso país” (4 de novembro de 1938). Liberdade, liberação são uma tarefa que não acaba nunca. Que seja este o nosso mote: “Não esqueçam”. E permitam-me acabar com uma poesia de Franco Fortini: Sulla spalletta del ponte Le teste degli impiccati Nell’acqua della fonte La bava degli impiccati Sul lastrico del mercato Le unghie dei fucilati Sull’erba secca del prato I denti dei fucilati Mordere l’aria mordere i sassi La nostra carne non à più d’uomini Mordere l’aria mordere i sassi Il nostro cuore non à più d’uomini. Ma noi s’è letto negli occhi dei morti E sulla terra faremo libertà Ma l’hanno stretta i pugni dei morti La giustizia che si farà.
Na amurada da ponte A cabeça dos enforcados Na água da fonte A baba dos enforcados No calçamento do mercado As unhas dos fuzilados Sobre a grama seca do prado Os dentes dos fuzilados Morder o ar morder as pedras Nossa carne não é mais de homens Morder o ar morder as pedras Nosso coração não é mais de homens Mas lemos nos olhos dos mortos E sobre a terra a liberdade havemos de fazer Mas estreitaram-na nos punhos os mortos A justiça que se há de fazer.
Umberto Eco
Daniel Ortunho
Chegou
ao fim o funeral do escritor italiano Umberto Eco, realizado nesta terça-feira (23) no Castelo Sforzesco. Conforme a vontade de um dos maiores escritores da história, o cerimonial foi estritamente laico. O caixão com o corpo de Eco deixou o local do velório sob muitos aplausos. Agora, o corpo do escritor será cremado em cerimônia privada. O Senado da Itália fez um minuto de silêncio antes do início dos trabalhos nesta terça-feira para homenagear Umberto Eco. A vice-presidente da Casa, Linda Lanzillotta, falou sobre as obras do escritor e emocionou os parlamentares
A ministra italiana da Educação, Stefania Giannini, “Professor”, “simples”, lamentou a morte do escritor durante o funeral do “supremo e completo”: italiano. “Eco é o símbolo daquele classicismo inovador, do qual nós temos tanta necessidade, e amigos falam de Eco. do qual nosso país é líder no mundo. Nós perdemos um professor, mas não perdemos suas lições. Caríssimo professor Eco, caríssimo Umberto, hoje não é um adeus”, disse a representante do governo em discurso no funeral. Já a prefeita de Alessandria, Rita Rossa, afirmou em sua fala que Eco amava sua cidade natal e que gostava de falar em dialeto quando passava seus dias no local. “Lembro de suas frases em dialeto, quando ele dizia que ir para a Igreja fazia bem, porque nunca se sabe. Era um homem muito simples”, ressaltou. O neto de Umberto Eco, Emanuele, fez um discurso emocionado durante o velório do avô e afirmou estar “orgulhoso” pelo escritor. “Querido avô, queria fazer uma lista com todas as coisas que fizemos juntos nestes 15 anos, mas ela seria muito longa. Estou orgulhoso de você e é uma grande coisa ter um avô assim. Obrigado por suas histórias”, disse o jovem. Ele ainda afirmou: “desde pequeno, lembro de seu afeto, de sua generosidade e de sua sabedoria e vi crescer sua inteligência e ironia - que nunca faltavam. Depois pelas músicas que vocês me fez escutar e por todas as coisas que você me transmitiu”. Além de arrancar muitos aplausos pela emoção, a referência de Emanuele tem a ver com uma carta publicada por Umberto Eco no jornal L’Espresso , há alguns anos, em que o avô pedia para ele “estudar a memória”. A diretora de cinema Elisabetta Sgarbi, que é responsável também pela editora que lançará o último livro de Umberto Eco, afirmou que o escritor italiano era um homem “supremo e completo”. “Perdemos uma grande personalidade do século passado e desse início de século. O qual tinha uma grandeza que ainda temos muita coisa para aprender. Ele era um homem supremo e completo”, ressaltou a diretora. O livro “Pape Satan Aleppe - Crônicas de uma Sociedade Líquida” será lançado no dia 26 de fevereiro pela editora La Nave di Teseo, co-fundada por Eco e outros escritores italianos. O escritor e dramaturgo italiano Dario Fo revelou que Umberto Eco o queria na versão para os cinemas de seu livro “Em Nome da Rosa”. “Ele me queria no ‘Em Nome da Rosa, mas o trabalho era muito pesado para mim e não o fiz. Eco era fascinado pelo (estilo) Grammelot”, revelou o Nobel de Literatura para a Radio Capital. Com informações da Agência Ansa: www.bit.ly/af4839fjds
Diretor Executivo danielortunho@gmail.com
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Ao anunciar funeral, editor de Eco promete novo livro. Na
manhã deste sábado, o editor de Umberto Eco, Mario Andreose, falou sobre o funeral do escritor italiano e adiantou informações sobre um novo livro. O funeral acontecerá na terça-feira (23), às 15h (horário local) no Castelo Sforzesco, em Milão. O local abriga um museu aberto para visitação e obras de Da Vinci e Michelangelo. O escritor podia observar o castelo onde será velado da janela de sua casa. A pedido de Eco, a cerimônia será laica, já que o escritor era ateu, informou o representante. Andreose também anunciou um livro inédito de Eco, uma coleção intitulada ‘”Pape Satan aleppe” , que será lançado em março pela La nave di Teseo. Eco migrou para a editora independente, liderada por Elisabetta Sgarbi, após a família Berlusconi adquirir parte de sua antiga editora. “Apesar de sua doença, ele continuou a trabalhar até o final da vida em seu novo livro”, declarou Mario. A morte do autor de “O Nome da Rosa” foi registrada por volta das 22h30 (horário local), em sua casa em Milão. Segundo agências e a mídia internacional, o escritor sofria de câncer, mas a família Livro: O nome da rosa, 1986 ainda não falou oficialmente sobre a causa da morte. O advogado Gianni Cosca , que era amigo de Umberto Eco, chegou a falar sobre a doença ao jornal La Stampa. “Eu sabia que o Umberto estava com câncer há dois anos, mas ninguém imaginou que o final estava tão iminente”, declarou.
Obra póstuma... Eco deixou um livro pronto: Pape Satàn Aleppe, com textos publicados desde 2000 na coluna La
Bustina di Minerva, do jornal L¿Espresso. O título vem da frase de abertura do Canto 7 do Inferno, de Dante Alighieri. Selecionados pelo próprio Eco, os textos têm como ponto em comum a noção de uma sociedade líquida, conceito do filósofo polonês Zygmunt Bauman. Eco assinava a coluna desde 1985, e o último texto, publicado em 27/1, tratava de exposição, em Milão, do pintor do romantismo Francesco Hayez. Pape Satàn Aleppe ainda não tem edição brasileira confirmada.
Filme: O nome da rosa, 1986
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Um dos intelectuais de maior atuação e projeção internacional, dono de uma erudição pop que o
fez transitar entre as áreas acadêmica, editorial e midiática, Umberto Eco será enterrado terça-feira na Itália. Morto na sexta-feira, aos 84 anos, o teórico e escritor italiano, que vendeu 30 milhões de livros traduzidos para mais de 40 idiomas, está sendo velado no Castelo Sforzesco, em Milão. O imponente local foi especialmente escolhido: nele está abrigado um museu com obras de Da Vinci e Michelangelo que Eco via da janela de sua casa, onde mantinha uma biblioteca com 30 mil volumes.
Confira alguns livros que repassam o legado de Eco em suas diversas frentes de atuação.
ESTETA
Antes de se tornar mundialmente conhecido pelos trabalhos em semiologia e literatura, Umberto Eco se destacou na filosofia da arte, especializando-se nas teorias estéticas da Idade Média. Em 1956, aos 24 anos, publicou sua tese sobre a estética em São Tomás de Aquino. Esse estudo é a base do livro Arte e Beleza na Estética Medieval (1987, Record). Outros títulos seus conhecidos em estética e história da arte são História da Beleza (2004, Record) e História da Feiura(2007, Record).
SEMIÓLOGO
ROMANCISTA
Nos anos 1960, Eco se tornaria, Consagrado ao lado de nomes como Roland Barthes, umas das principais vozes da semiologia, campo de estudos que ganhara destaque com o avanço das teorias da linguística e do estruturalismo. São desse período duas de suas obras mais famosas, hoje referenciais nos estudos de comunicação. A primeira, Obra Aberta (1962, Perspectiva), tornou-se um marco ao desenvolver a ideia de que o sentido de uma obra é completado pela interpretação de um leitor/espectador para além da intencionalidade do autor/artista – ele desdobraria o tema em Os Limites da Interpretação (1990, Perspectiva). A segunda, Apocalípticos e Integrados (1964, Perspectiva), colocou em discussão a alta cultura erudita e baixa cultura popular no período da comunicação de massa e da indústria cultural.
como teórico e aproximando-se dos 50 anos, Eco ganhou o grande público com seu primeiro romance, O Nome da Rosa (1980, Best Bolso). O livro, que vendeu milhões de exemplares no mundo, foi adaptado em 1986 para o cinema pelo francês Jean-Jacques Annaud, com Sean Connery no papel do monge franciscano Guillaume de Baskerville, o ex-inquisidor encarregado de investigar a morte suspeita de uma freira em uma abadia do norte da Itália. Depois, Eco lançaria outros romances, como O Pêndulo de Foucault (1988, Record), A Ilha do Dia Anterior (1994, Record) e A Misteriosa Chama da Rainha Loana (2004, Record). Sua mais recente obra literária, Número Zero (2014, Record), é um thriller contemporâneo centrado no mundo da imprensa.
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FEVEREIRO DE 2015 | Nยบ 2216017 | R$10,50