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Ao largo da costa algarvia

COMANDO DA ZONA MARÍTIMA DO SUL DEU A CONHECER O DIA-A-DIA DE UMA LANCHA DE FISCALIZAÇÃO RÁPIDA DA MARINHA

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

Algarve Informativo foi convidado pelo Comando da Zona Marítima do Sul para embarcar numa das Lanchas de Fiscalização Rápida da Marinha em missão no Algarve, para melhor conhecer o trabalho que é efetuado no dia-a-dia através da realização de alguns exercícios e atividades, desde a navegação em águas restritas e do resgate de homem ao mar, ao combate a um incêndio a bordo e à patrulha e vigilância marítimas. “O Comando da Zona

Marítima do Sul, depois de devidamente autorizado pelo Comando Naval e pelo Estado Maior da Armada, abriu duas das suas unidades, dois navios, aos

A segundo-tenente Joana Canas Costa, comandante do NRP Escorpião

órgãos de comunicação social, para que, através de vós, a população em geral saiba o que fazemos no nosso quotidiano. A 20 de maio celebra-se o Dia da Marinha, que, à semelhança do que já aconteceu no ano transato, não poderá ser festejado como era tradição, devido à pandemia por covid-19. Também tínhamos o hábito de acolher escolas para incentivar os mais jovens a seguirem uma carreira militar, nomeadamente na Marinha, o que este ano também não é

aconselhável fazer”, explicou o

Capitão-Tenente João Afonso Martins, 2.º Comandante da Zona Marítima do Sul.

A manhã do dia 12 de maio a bordo do NRP Escorpião começou, então, com a saída da Marina de Vilamoura, seguindo-se uma viagem até à Baia de Armação de Pêra, onde nos encontramos com o NRP Hidra, que tinha partido de Portimão. Uma viagem durante a qual se simulou um incêndio de Classe A, ou seja, de materiais sólidos e não de combustíveis ou equipamentos elétricos, o que constituiria um incêndio de Classe E.

“O incêndio foi detetado numa das casas-de-banho e foi logo combatido por uma equipa de primeira ação com extintores. A restante equipa do navio garantiu que não havia tensão alta no local

Capitão-Tenente João Afonso Martins, 2.º Comandante da Zona Marítima do Sul

de incêndio, isto é, que não existia perigo de electrocução, para assim se avançar para o combate com água, que é muito mais efetivo. A primeira equipa foi depois rendida por elementos que já possuem ARA – Aparelhos de Respiração Autónomos, de modo que o fumo já os afeta, excetuando a diminuição

de visibilidade”, descreveu o CapitãoTenente João Afonso Martins. “As

cortinas de fumo foram acionadas para evitar a propagação do fumo para o restante navio, até porque, estatisticamente, o fumo mata mais em incêndios a bordo do que o fogo propriamente dito. Em simultâneo, é importantíssimo que se garanta o arrefecimento da zona exterior ao incêndio, através de um género de «cubo de água». Se o incêndio fosse em matéria combustível – gasóleo ou óleo – o combate seria completamente diferente e muito mais demorado, porque normalmente tenta-se conseguir a autoextinção do incêndio por

via da sua contenção, já que, acabando o oxigénio no local, as

chamas morrem por si só”, indicou o

2.º Comandante da Zona Marítima do Sul.

Enquanto toda esta operação decorria no interior do navio, a comandante do NRP Escorpião, a segundo-tenente Joana Canas Costa, permaneceu na ponte para coordenar o combate ao incêndio e para assegurar a segurança da navegação. Em todos os incêndios é considerada a possibilidade de recorrer a auxílio externo, nomeadamente de outros navios da Marinha Portuguesa, mas a ideia é que a tripulação seja autossuficiente para resolver a situação. Já com Armação de Pêra à vista, o NRP Escorpião foi «intercetado» por um semirrígido do Corpo de Fuzileiros da Marinha Portuguesa, em resposta a um alerta para uma embarcação suspeita a navegar na costa algarvia. A simulação repetiu-se com o NRP Hidra e, depois das despedidas, regressou-se a Vilamoura, numa viagem que incluiu um exercício de homem ao mar, utilizando-se a embarcação semirrígida de apoio do NRP Escorpião.

NRP Escorpião que foi a última de uma série de três Lanchas de Fiscalização Rápida da Marinha entregues à Marinha Portuguesa,

construídas em fibra no Arsenal do Alfeite, mas cujos cascos foram feitos na empresa CONAFI – Construção Naval de Fibras Lda., sediada em Vila Real de Santo António. As cinco lanchas constituem a classe ARGOS e foram batizadas com os nomes de constelações de estrelas, designadamente «Argos», «Dragão», «Escorpião», «Cassiopeia» e «Hidra», tendo a «Escorpião» sido lançada à água a 26 de julho de 1991 e aumentada ao efetivo dos navios da Armada a 26 de novembro do mesmo ano.

Entre as principais missões do NRP Escorpião contam-se a salvaguarda da vida humana no mar e o exercício da Autoridade Marítima e da atividade de segurança marítima nos espaços marítimos de jurisdição e responsabilidade nacional. No âmbito destas missões é exercida uma vigilância e patrulha das águas sob jurisdição nacional que incluem: a busca e salvamento; a fiscalização da pesca; a vigilância de atos ilícitos e de tráfego ilícitos de estupefacientes; o controlo da poluição no mar; a fiscalização dos esquemas de separação de tráfego marítimo existentes ao longo da costa; e o apoio às populações e organismos civis.

As missões de busca e salvamento compreendem as ações para a salvaguarda da vida humana no mar, como consequência de acidentes com aeronaves ou com navios e embarcações. A fiscalização da pesca, tarefa acrescida com a criação da ZEE –Zona Económica Exclusiva, implica uma série de verificações só possíveis com as vistorias a bordo das embarcações de pesca. Por sua vez, a vigilância de

atos ilícitos e de tráfego ilícito de estupefacientes são tarefas executadas em colaboração com outras entidades. E, desde 19 de agosto de 2020, o NRP Escorpião é comandado pela segundotenente Joana Canas Costa, que ingressou na Escola Naval em outubro de 2010, tendo concluído o mestrado integrado em Ciências Militares Navais em setembro de 2015. “Estas ações são

bastante importantes para abrirmos as portas ao exterior, de modo a que a população perceba como é o nosso dia-a-dia e quais as dificuldades que sentimos enquanto andamos no mar. Hoje o dia até está calmo, mas, quando acontece algo, a nossa missão é clara, salvar pessoas, esteja o mar como

estiver”, referiu a segundo-tenente Joana Canas Costa, que é uma das poucas mulheres a comandar um navio na Marinha Portuguesa. “Sempre

ambicionei isto e para isso estudei e preparei-me. É um desafio constante, mas também uma experiência que nos enrique bastante, porque nenhum dia de mar é igual a outro. Felizmente que já somos algumas mulheres a comandar navios em Portugal, que, se calhar, é o topo da carreira

de um oficial da Marinha”.

Joana Canas Costa exerceu as funções de Chefe do Serviço de Comunicações e Operações a bordo do NRP «Baptista de Andrade», entre outubro de 2015 e julho de 2016, altura em que assumiu os cargos de Chefe do Serviço de Operações e Adjunto do Imediato para a Gestão do Pessoal do NRP João Roby. Em outubro de 2017 passou a exercer o cargo de Chefe do Serviço de Navegação, tendo sido sujeita a um período de Plano de Treino Básico. Especializou-se em Navegação em 2018/2019 e desempenhou, entre agosto de 2019 e agosto de 2020, o cargo de Oficial Navegador a bordo do NRP Sines, tendo efetuado diversas missões de busca e salvamento, uma missão na Zona Marítima da Madeira e uma na Zona Marítima dos Açores. Em outubro de 2019 pertenceu ao staff da Força Naval Portuguesa (PRTMARFOR) durante o exercício LUSITANO19, a bordo do NRP Bérrio. Depois, entre novembro de 2019 e dezembro de 2020, integrou a Equipa de Avaliação do Centro Integrado de Treino e Avaliação Naval, período durante o qual participou em inspeções administrativas e planos de treino de vários navios da esquadra, na área da navegação. Foi promovida ao atual posto em 1 de outubro de 2017 .

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