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Nuno Campos Inácio tem novo livro

NUNO CAMPOS INÁCIO

REGRESSA À FICÇÃO COM «COVID -19 – JOGOS DE PODER»

Texto: Daniel Pina | Fotografia: Daniel Pina

natureza criou uma nova arma mortífera que o homem aprendeu a manipular, disseminando-a pelo mundo, cumprindo determinações de organizações ocultas. Ana Albuquerque é uma radical ambientalista portuguesa, conhecida pelas suas propostas para a redução da população humana em defesa da sustentabilidade do planeta. Mark Duffy é um reputado economista britânico que ambiciona ser Ministro das Finanças do Reino Unido, contando com o apoio de grandes magnatas na defesa da necessidade de diminuição da população economicamente inútil. Ambra Zena é uma veneziana que se viu obrigada a abandonar a cidade natal pela elevada pressão do turismo de massas, liderando agora um movimento que pretende travar o turismo de cruzeiros. Quadro médio numa gigante tecnológica, Yudi Miyamoto advoga a diminuição da faixa populacional mais envelhecida, adversa às novas tecnologias e que limita o desenvolvimento tecnológico e social.

Ao todo, são 13 personagens principais que se cruzam em 50 cidades de 25 países, espalhando um vírus letal e produzindo a vacina salvadora, em permanentes jogos de poder, traição, sedução e prazer. E assim está aberto o apetite para o novo livro do portimonense Nuno Campos Inácio, «Covid-19 – Jogos de Poder», num regresso inspirado à ficção, por onde começou a escrever, antes de ter enveredado pelos caminhos da genealogia e da literatura histórica. Uma obra que nasceu numa conversa de amigos no dia de aniversário da sua filha, 12 de março de 2020, precisamente na véspera de Portugal ter entrado no seu primeiro confinamento geral. “Estávamos

num restaurante, foi a última vez que saímos, e colocava-se a hipótese de, no dia seguinte, tudo ser fechado. Na altura disse, quase por brincadeira, que, como iria ficar sem nada para fazer, ainda escrevia um romance sobre o aparecimento do vírus. E, de facto, no primeiro dia do confinamento, arranquei com o

livro”, recorda o oficial de justiça de profissão e cofundador da Arandis Editora, a par de Sérgio Brito e Fernando Lobo. “Logo em janeiro

de 2020, quando se começou a falar do novo coronavírus, iniciei a investigação e recolha de informações e havia uma série de questões que não batiam certas umas com as outras. Podia ser um problema de fontes ou de interpretação dos próprios acontecimentos, mas parecia que existia ali um jogo de poder com algum objetivo pré-definido. Fui desenvolvendo a história, que acompanha um grupo de cientistas – e não só – que prestam serviços para empresas e organizações detentoras do

poder”, adianta o entrevistado.

Teorias de conspiração que depressa surgiram, um pouco por todo o lado,

assim que se perspetivou a real dimensão da covid-19, com Nuno Campos Inácio a olhar para muitas delas e a tentar descobrir qual o seu ponto embrionário.

“É quase uma evidência que nenhuma teoria de conspiração surge do acaso. Pode haver uma interpretação mais ampla, ou errada, dum acontecimento, mas esse acontecimento existiu, e a obra contém todas as teorias da conspiração conhecidas até novembro de 2020, quando acabei de escrever o livro. E elas vão desde a sua origem natural até à possibilidade de termos organizações secretas devidamente montadas com o intuito de disseminar o vírus, umas com objetivos ambientais para diminuir a pegada ecológica; outras com intuitos economicistas que querem eliminar camadas marginais da sociedade; outras adversas ao turismo de massas pela destruição que provocam em determinadas cidades e nos seus centros históricos; e outras ainda que desejam o confinamento para que as pessoas consumam ainda mais tecnologia. E temos, claro, a Big Pharma, segundo a qual o vírus, quando aparece, já tem cura e tudo isto é uma campanha publicitária para se vender um determinado

farmacêutico”, descreve o autor.

Muitas teorias e enredos que poderiam tornar mais complicada a construção do romance, por envolver múltiplas personagens e locais, mas Nuno Campos Inácio considera que as obras de ficção se criam a elas próprias. “O

autor tem uma ideia, um ponto de partida e uma mensagem que quer transmitir, mas, a partir daí, a história vai-se desenrolando naturalmente e fiel ao seu fio condutor. Neste livro, as quatro personagens principais vão circulando pelo mundo, mas o grande protagonista é o jogo de poder em si, é ele que una as

quase 50 personagens da obra”,

indica, com um sorriso, acrescentando que regressar às origens, em termos literários, foi bastante pacífico. “Os

meus primeiros três livros foram de ficção, simplesmente entrei numa fase da minha vida em que deixei de ter tempo para escrever ficção, devido a toda a investigação que a genealogia e a elaboração das monografias exigem – estamos a falar de obras com mais de 1.500 páginas. Durante este período de confinamento voltei à ficção, mas o livro, embora resulte da minha imaginação, tem por detrás as mesmas rotinas de quando faço

as obras monográficas”.

As rotinas foram as mesmas, mas os estilos são bem diferentes, porque os romances históricos não devem contrariar os factos reais, enquanto a

ficção deve, como o próprio nome indica, ser ficcionada, mas sempre deixando a possibilidade de, afinal de contar, até poder ser verdade. Depois, escrever num período em que praticamente todo o país está «fechado» em casa, deprimido, sem saber o que esperar do futuro, também é desafiante, mas nada que atemorizasse Nuno Campos Inácio. “Como disse,

para mim, a obra nasce dela própria, o que significa que raramente volto atrás. Pego no fio condutor e vou escrevendo ao sabor da pena, o que facilita bastante o processo. Deixo fluir completamente a imaginação e, no fim, leio tudo para ver se as coisas batem certo. A única coisa que

preciso é de silêncio”, explica o

portimonense, embora admita que pegar num tema volátil como a covid-19, com tantas incertezas e novas descobertas quase diárias, não foi fácil. “Aliás, a

minha ideia era que este livro fosse o primeiro volume de uma trilogia, porque a história de «Covid-19 –Jogos de Poder» termina no dia em que a China reconhece a existência do vírus. Estamos a falar de um período em que a população mundial ainda nem sequer sabia da covid-19, portanto, podia ficcionar à vontade. Agora, começamos a entrar numa vertente meramente histórica e nem sei se vou escrever

os outros dois volumes”, admite o

autor, que não quer transmitir, através da ficção, dados incorretos do ponto de vista histórico.

QUEM ESCREVE PARA O PRESENTE NÃO TEM FUTURO

Com trilogia ou não, o certo é que «Covid-19 – Jogos de Poder» é o primeiro romance a abordar o novo coronavírus e deverá mesmo ser, acredita Nuno Campos Inácio, o tema mais recorrente da próxima década em termos literários. “Depois deste

filme terminar vão surgir outras interpretações que vão inundar completamente o mercado, umas a contradizer-se às outras,

portanto, não sei se valerá a pena meter-me nessa guerra”, refere,

garantindo ainda que nunca escreveu com fins populistas ou comerciais.

“Aliás, quando comecei com este livro, ninguém imaginava tudo o que iria acontecer nos meses seguintes, não se pensava que isto fosse durar tanto tempo e ter o impacto que está a ter a nível mundial. No fundo, foi um desafio que lancei a mim mesmo, mas nenhum autor pode estar limitado por aquilo que os outros dizem ou pensam. Quem escreve para o presente, não tem futuro, porque as coisas mudam muito depressa. Este livro pode ter um consumo imediato, mas o objetivo é que perdure no tempo e que, daqui a 20, 50, 100 anos, continue a ser uma obra de ficção que as pessoas possam ler precisamente

por ser de ficção”.

Entretanto, depois de terminada a fase da escrita e edição, surge a «guerra» da distribuição e venda, ainda

mais quando a maior parte dos espaços comerciais estava fechada ao público. Agora, apesar do desconfinamento, continuam a ser proibidas as sessões públicas de apresentação de livros, ocasiões em que a generalidade dos escritores conseguia vender muitos exemplares, até mais do que nas próprias livrarias e grandes superfícies comerciais.

“Neste contexto pensei que as pessoas que me acompanham, enquanto escritor, há 21 anos, mereciam um tratamento especial, portanto, fiz uma edição limitada de 200 exemplares exclusivos para elas. E essa edição esgotou em 48

horas”, salienta Nuno Campos Inácio, sendo que uma segunda edição está prevista ainda para o mês de maio, estando disponível para venda através do site da Arandis Editora.

De qualquer modo, apesar do tema que aborda, «Covid-19 – Jogos de Poder» não deverá ter uma caminhada mais fácil na grande distribuição, antevê Nuno Campos Inácio, e a justificação é bastante simples:

“A Arandis tem condições para ali colocar à venda as suas obras, mas, enquanto a Distribuição pedir 64 por cento do preço de capa para

vender um livro, não o faremos”.

“Somando-se os 6 por cento de IVA, ficavam 30 por cento para a editora e para os direitos de autor. Pode ser muito bom em termos de projeção do autor, mas, comercialmente, é o que tem levado praticamente todas

as editoras à falência”, explica o

ficção concluídas. Quanto à Arandis Editora, está numa fase de reestruturação e preparada para responder aos desafios do ramo.

“Temos mais de 20 obras a aguardar o timing certo para serem publicadas e, assim que tenhamos condições para isso, retomaremos a atividade e voltaremos a assumir a posição de

editora algarvia de excelência”.

Arandis Editora que, recorde-se, nasceu, em julho de 2012, durante a crise mais profunda que o Algarve já tinha vivido, numa altura em que o próprio Estado terminou praticamente com todos os eventos culturais. “Hoje,

vivemos uma crise completamente diferente, mas estamos habituados a lidar com as dificuldades. Olhamos para a editora como um serviço que é prestado à comunidade, à cultura algarvia. Até hoje continuamos sem distribuição de lucros, mas vamos sobrevivendo, ao contrário de outras, mesmo algumas com grande nome, e que não resistiram a este período pandémico. É algo que nos entristece, porque não vemos as outras editoras como nossas concorrentes, somos todos parceiros na divulgação das obras de autores que querem deixar um

legado para o futuro” .

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