amilcar de castro estudos e obras
amilcar de castro estudos e obras
curadoria rodrigo de castro
Instituto de Arte Contemporânea
Fundadora e Presidente de Honra Founder and Honorary President Raquel Arnaud Presidente President Luiz Antunes Maciel Müssnich Vice-Presidente Vice-President Teresa Cristina Carraro Abbud Diretores Directors Andréa Pereira Hector Babenco Oswaldo Correa da Costa Silvio Meyerhof Conselho Curatorial Curatorial Advisors Carlos Fajardo Miguel Chaia Rina Carvajal Tiago Mesquita Vanda Klabin Conselho Fiscal Financial Advisors Roberto Bertani Thomaz Saavedra
Patrocínio
Realização
Conselho Social General Council Adolpho Leirner Alfredo Setubal Amarilis Rodrigues Ana Lucia Serra Baby Pacheco Jordão Carlos Aparecido Boni Carlos Camargo Cesar Giobbi Denise Grinspum Felippe Crescenti Fernando Barrozo do Amaral Franklin Espath Pedroso Gedley Braga Heitor Martins Jeane Gonçalves João Carlos de Figueiredo Ferraz Lorenzo Mammi Lucia Arnaud Segall Luiz Carlos Bresser Pereira Maria Camargo Marilia Razuk Mauricio Buck Myra Arnaud Babenco Pedro Barbosa Ricard Akagawa Ricardo Lacaz Rodolfo Boccagini de Camargo Rodrigo de Castro Rose Klabin Romulo Fialdini Susana Steinbruch Telmo Giolito Port Victor Pardini Walter de Castro
Apoio institucional
Diretora Executiva Executive Director Regiane Rykovsky Diretora Técnica Technical Director Marilucia Bottallo Gerente Administrativa Administrative Manager Cristiane Bloise Núcleo de Documentação e Pesquisa Documentation Research Pesquisa Research David Moore Forell Vinicius Marangon Estagiárias Trainees Ana Claudia Silveira Takenaka Thaina Juliana Schulze Goni
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Apresentação
IAC
A mostra ‘Amílcar de Castro: Estudos e Obras’ apresentada nos espaços expositivos do Instituto de Arte Contemporânea e do Museu Belas Artes de São Paulo é uma das ações parceiras entre ambas as instituições e evidencia parte importante do constante trabalho de pesquisa e ampliação do conhecimento sobre a produção dos artistas contemporâneos preservada no acervo do IAC. Em particular, ‘Amílcar de Castro: Estudos e Obras’ nos dá a feliz oportunidade de incluir um terceiro e fundamental parceiro do IAC: o Instituto Amílcar de Castro de onde veio parte das obras expostas, filmes e o curador da mostra. Rodrigo de Castro, ele próprio artista plástico, nos apresentou esculturas, pinturas e desenhos que revelam de maneira contundente a preocupação de Amílcar com potentes relações propiciadas pela presença da obra no espaço. Além disso, entre outros aspectos fundamentais, expôs de maneira inédita, parte da produção do artista realizada no período em que viveu em Nova York, na qual explora as possibilidades do aço inox. Esse catálogo acompanha o raciocínio de Amílcar de Castro desde a concepção da obra, ao mesmo tempo em que registra as escolhas do curador em constante diálogo com o trabalho desenvolvido pelo IAC que, sobretudo, privilegia o processo de criação e produção do artista. Raquel Arnaud Fundadora e Presidente Honorária Luiz Antunes Maciel Müssnich Presidente
MUBA
É uma grande honra para o muBA – Museu Belas Artes de São Paulo, pertencente ao Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, acolher em seu espaço expositivo a mostra “Amilcar de Castro – Estudos e Obras”. Amilcar é um grande artista brasileiro, cujas obras apresentam traços de simplicidade, porém de grande significação pela articulação das formas, tanto na pintura como na escultura. A parceria IAC – Instituto de Arte Contemporânea e muBA – Museu Belas Artes de São Paulo tem proporcionado grandes mostras à comunidade estudantil e também à sociedade. Portanto, não podemos deixar de registrar nossos agradecimentos ao IAC, pelas importantes ações que vem apresentando, tanto no campo da pesquisa como nas exposições propostas, o que possibilita o enriquecimento do repertório de nossa coletividade. Dr. Paulo Antonio Gomes Cardim Presidente – muBA
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estudos e obras
perseverança
rodrigo de castro 1920
Na pequena cidade de Paraisópolis, interior de Minas Gerais, nasce Amilcar de Castro, primeiro filho do então juiz Dr. Amilcar Augusto de Castro e Maria Nazareth. Um dia, uma imensa tempestade. Raios e trovões por todos os lados. De repente um desses raios cai e parte ao meio a casa do juiz. Fogo. A casa foi destruída. Amilcar, com oito meses, dormia tranquilamente e só acordou quando sua mãe o retirou do berço. Esse desafio foi vencido porque assim foi, mas os próximos venceria por acreditar e perseverar sempre. O Dr. Amilcar construiu uma carreira brilhante como desembargador e professor da Faculdade de Direito da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais. Publicou livros, assumiu a presidência do Tribunal de Justiça do Estado e com muita competência deixou o seu nome na história.
1935
Dr. Amilcar é transferido para Belo Horizonte, cidade em que permanecerá até o final de sua vida. Maria Nazareth já havia falecido e, pai de cinco filhos, o desembargador conta com sua mãe para organizar a vida familiar. Amilcar, orientado por seu pai, ingressa na Faculdade de Direito da UFMG em 1940 e se forma em 1945. O roteiro parecia estar traçado, o futuro já determinado, e o filho mais velho do ilustre jurista seguiria então aquele mesmo caminho. O caminho planejado e desenhado que aos poucos ia mesmo se concretizando. Mas Juízes não são muito bons em desenho. E algo acontece no segundo ano da faculdade, que modifica completamente tudo isso. Amilcar conhece Guignard e ingressa na Escola Guignard para assistir às suas aulas. Daí para a frente o imprevisível, desajustes e turbulências passam a frequentar a rua Guajajaras 51, residência dos Amilcar de Castro. Amilcar já tinha interesse pelas artes, mas o encontro com Guignard foi o agente catalisador. As conversas com o Mestre, a liberdade para pensar pensamentos livres e independentes, as possibilidades todas ali permitindo se aventurar como e quando quisesse, extravasando para o papel sensibilidades e aprendendo que guardava em si as ferramentas 9
do seu próprio criar, foram experiências marcantes e definitivas. E muito diferentes daquelas do mundo das leis, no qual não havia espaço para o livre criar e muito menos para experimentar o fazer da criatividade. Conviver com esses dois mundos, diversos e distintos, foi o primeiro desafio posto em seu caminho. Amilcar se formou em Direito, como queria seu pai, mas ao mesmo tempo e por sete anos, frequentou quase que diariamente a Escola Guignard. O fazer ensina mais que as teorias e a disciplina exercita e lapida o talento. Com esse pensamento Guignard orientava os seus alunos. Tinha a percepção do que cada um era capaz e com sabedoria os conduzia no sentido de alcançar o melhor resultado no trabalho. Estabelecia-se assim uma relação de amizade e confiança, o que foi muito importante para Amilcar acreditar que podia redirecionar sua vida e seguir rumo às artes. E foi o que fez. Sobre Guignard ele escreveu: “Ensinou a desenhar a lápis 7, 8, 9H. Esse método de desenho trouxe gosto pelo benfeito. Sem sombras. Pelo que é sensível, sem exageros sentimentais. Pela comunicação direta, sem adjetivos ou preciosismos. Foi o que nos deu o conhecimento da linha. Ela mesma, o caminho, o ritmo. O que separa e valoriza espaços. O que é força e suavidade ao mesmo tempo. Sem intermediários. Música necessária. Solo de tempo contido na precisão do espaço. E trama e tece teia de poesia, linha de luz sobre Ouro Preto que amanhece agora. Foi o que fez com absoluto talento e sabedoria. Grande Mestre.” [ A.C.] 10
1 Sem título, década 1970, acrílica sobre eucatex, 40 × 50 cm, col. Instituto Amilcar de Castro [p. 8]
2 Marco Aurélio Matos, Guignard e Amilcar de Castro, déc. 1940 3 Amilcar de Castro em Ouro Preto, 1949 4 Sem título, 1947, carvão sobre papel, 40 × 60 cm 5 Ponte de Marília, Ouro Preto, 1948, lápis sobre papel, 30 × 40 cm, col. particular
6 Amilcar de Castro diagramando, 1957 [p.13]
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rio de janeiro 1952
Amilcar de Castro casa-se com Dorcilia Garcia Caldeira e, no mesmo ano, mudam-se para o Rio de Janeiro. A cidade dos amigos, das descobertas e das realizações. Durante os quase vinte anos em que viveu no Rio, Amilcar trabalhou em revistas e jornais da época – A Cigarra, O Cruzeiro, Manchete, Jornal do Brasil – fazendo a diagramação, a organização gráfica dos veículos de comunicação. A reforma do Jornal do Brasil foi a principal realização do artista nessa área. Por muitos anos o JB foi referência em organização gráfica e, ainda hoje, é um marco na história do design gráfico no país. Em paralelo Amilcar desenvolvia seu trabalho, suas experiências em desenhos e esculturas. Fez amizade com os artistas Ferreira Gullar, na época seu colega na Manchete e no Jornal do Brasil, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Aluísio Carvão, Reynaldo Jardim, Lygia Pape, Willys de Castro e Franz Weissmann, amigo dos tempos da Escola Guignard. Aproxima-se também do crítico Mario Pedrosa e retoma as amizades dos tempos da faculdade em Belo Horizonte, com Fernando Sabino, Hélio Pellegrino e Otto Lara Resende. Os artistas se reuniam com frequência na casa de Amilcar e as conversas enfocavam as questões da arte, rumos e propósitos, rupturas com o pensamento acadêmico e o surgir de novos caminhos e possibilidades para a arte brasileira. Em 1951 Max Bill participa e ganha o Grande Prêmio da I Bienal Internacional de São Paulo, com sua obra Unidade Tripartida. Em 1953 ele retorna ao Brasil e faz uma conferência no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Suas obras, ideias e pensamentos encontram artistas e arte brasileira em um momento de divergências com o existente, de buscas por algo novo e forte o suficiente para romper com tudo o que existia até então. Nesse caldo efervescente a teoria da arte concreta de Max Bill cai como faísca na gasolina. E o Brasil se reinventa na Arte. Em São Paulo o grupo liderado por Waldemar Cordeiro se aproxima mais das ideias e dos conceitos do concretismo delineado pela teoria de arte concreta de Max Bill. Enquanto no Rio de Janeiro os artistas propõem uma outra vertente, onde a emoção do fazer, os traços da individualidade do artista, o sentir e o criar de cada um estejam sempre presentes na obra. Onde a geometria intuitiva possa prevalecer sobre o rigor das matemáticas.
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7 Capa e páginas 4 e 5 do Suplemento Dominical do Jornal do Brasil com o Manifesto Neoconcreto (22/03/1959), diagramadas por Amilcar de Castro > Suplemento Dominical do Jornal do Brasil (26/03/1960), diagramado por Amilcar de Castro
8 Capa e páginas 28 e 29 da revista A Cigarra n° 9, setembro 1959, diagramadas por Amilcar de Castro, coleção de periódicos, acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo > Páginas 99 e 100 da revista A Cigarra n° 5, maio 1959, diagramadas por Amilcar de Castro, coleção de periódicos, acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo [p.15]
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1956-57
Acontece a I Exposição Nacional de Arte Concreta, com a participação de Amilcar e de outros artistas do Rio e de São Paulo. Um pouco depois os concretos paulistas se apresentam no MAM-Rio e os neoconcretos do Rio em São Paulo. As diferenças tornam-se evidentes, levando a uma ruptura entre os grupos. Essa dualidade, esse embate pela arte e seus caminhos, fortaleceram a própria arte brasileira, que passa então a valorizar, a prestar atenção em seus artistas, na criatividade e nas novas propostas. Para deixar claro e público o pensamento neoconcreto, em 1959 o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil publica o Manifesto Neoconcreto, redigido por Ferreira Gullar e assinado por Amilcar de Castro, Claudio Mello e Souza, Franz Weissmann, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Reynaldo Jardim, Theon Spanudis e o próprio Ferreira Gullar. Max Bill acreditava na criação da arte a partir da ciência. “Afirmo mais uma vez que, e m arquitetura, tudo deve ter sua lógica, sua
função imediata, nada poderá ser inútil. Qualquer linha, qualquer plano deve ter sua função que pode ser defendida e explicada. Isso não significa dizer que esteja confundindo arte com ciência. Na arte concreta seria a mesma coisa: ao executar uma obra, o artista concreto parte sempre de uma ideia abstrata, de um esquema gerador quase geométrico. Projeta-a em duas dimensões e, aos poucos, tal como um teorema de álgebra, a forma se desenvolve.” [Max Bill] 15
O Manifesto Neoconcreto discordava e, entre todos os fundamentos ali expostos, declarava que “(...) a arte neoconcreta funda um novo ‘espaço’ expressivo”. As divergências ficam evidentes nas palavras de Amilcar. “Descoberta é descobrir pelos sentimentos que o caminhar na identidade é caminho somente para o caminhante que acredita na liberdade dos caminhos.” [A.C.] “Escultura é a descoberta da forma do silêncio onde a luz guarda a sombra e comove.” [ A.C.]
A partir daí, concretos e neoconcretos realizam a maior, a principal, a mais importante mudança no cenário e na história da arte brasileira. E as gerações futuras recebem de presente as portas abertas para a liberdade de experimentar, propor e criar o que quer que fosse. Amilcar segue com suas experiências e inicia os trabalhos em ferro. No começo eram esculturas de corte e solda, em que a chapa era cortada em partes que, soldadas em posição determinada pelo artista, criavam o volume e o espaço da obra. Também faz algumas peças em madeira.
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9 Sem título, 1951, madeira, 60 × 49 × 17cm, col. Rodrigo de Castro [p.16] 10 Sem título, 1952, madeira, 31 × 48 × 40 cm, col. particular [p.16] 11 Sem título, 1956, aço, 100 × 130 × 135 cm, col. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro [p.17] 12 Estrela, 1952-53, cobre, 50 × 50 × 50 cm, col. Ana Maria de Castro
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Mas o marco, o ponto de partida de onde o artista, vamos dizer assim, conceitua e organiza o pensamento do criar escultórico é uma obra de 1952, executada em cobre, com a qual ganhou o prêmio da II Bienal de São Paulo em 1953. Algumas coisas podem ser observadas nessa peça que, inesperada e contraditoriamente, pelo menos em um primeiro olhar, parecem criar um afastamento em relação ao que viria a ser a produção marcante do artista – as esculturas de corte e dobra. A começar do material, o cobre, que foi utilizado essa única vez. Amilcar substitui-o pelo ferro e mais tarde pelo aço corten, suportes mais rígidos que possibilitaram aumentar a dimensão das peças sem o risco de deformações da chapa. Outra questão que aqui se observa é a forma. As esculturas de corte e dobra de Amilcar são sempre abertas. Abertas no sentido de que as formas não se fecham nelas mesmas, ao contrário, abrem-se para o espaço como que em busca da luz. Essa “estrela” está no inverso desse pensamento. A forma é fechada em si mesma, criando um único espaço interior. Onde guarda a luz. Encerrando estas observações, essa “estrela” não tem o corte. Ao cortar e dobrar chapas planas, Amilcar criou no espaço a sua arte. Ao longo do tempo fez variações, mas o corte e dobra, assim como o preto e branco das suas telas, tem a força e a natureza do seu pensar. Então, por tudo isso, essa escultura aparentemente está fora da curva, como se fosse uma exceção no conjunto. Entretanto, é ela que gera tudo que veio depois. A descoberta da dobra foi fundamental – é ela que vai dar caráter e vigor à obra de Amilcar. Equilíbrio e desequilíbrio serão testados e alcançados com os ângulos e posicionamentos da dobra, que também vai definir e determinar a forma do vazio, espaço preenchido de luz inaugurado na “estrela”.
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13 Sem título,1968, aço inox, 21 × 14 × 7 cm, col. Rodrigo de Castro 14 Sem título,1968, aço inox, 21 × 14 × 7 cm, col. Rodrigo de Castro 15 Amilcar de Castro com os amigos do seu filho Pedro em Nova Jersey, 1970
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nova york — aço inox 1967
Amilcar de Castro ganha bolsa da Fundação Guggenheim e parte para Nova York, onde permanecerá até 1972. E se depara com mais um grande desafio em sua carreira: impossibilidades da época impedem que consiga material e mão de obra para dar continuidade ao seu trabalho com aço corten. Isso o obrigou a pesquisar outros materiais possíveis, escolheu o aço inox, e de forma surpreendente redirecionou sua obra para o inusitado. Deixou de lado o corte e dobra e desenvolveu o que chamava de “chaveiros” – peças cortadas em chapas de inox, com tamanhos e formas diferentes, eram presas a um aro circular, assim como “chaves no chaveiro”. O inox reflete a luz. Tomando partido dessa característica do material, as esculturas dessa fase não guardam ou convidam a luz para o seu espaço. Ao contrário, espalham a luz criando sombras e reflexos que convidam o olhar para o interior da obra. As formas diversas e soltas criam um estado latente de desequilíbrio, desafio constante para a gravidade. Essas esculturas, como poesia, revelam-se aos poucos e devagar, em um outro tempo que não o do imediato. Tecem com a luz formas e espaços intrigantes, desobedientes ao óbvio e inovadores na concepção, onde o desequilíbrio é desafiado e ao mesmo tempo é participante da obra. E o equilíbrio, uma surpresa. Amilcar acredita, vai em frente e é premiado pela segunda vez com bolsa da Fundação Guggenheim com os trabalhos exibidos em exposições em Nova York. 21
corte e dobra Nos anos 1960 Amilcar já havia iniciado a pesquisa e o desenvolvimento das esculturas de corte e dobra. Desenhava e fazia os estudos das futuras peças em cartolina. E o corte, gesto simples do cotidiano, foi para sempre incorporado ao fazer do artista. Cortar e dobrar. Simples gestos que desfazem a paralisia da chapa, transformando-a em coisa presente no espaço, com forma, movimentos, forças, luz e equilíbrio. O corte da chapa abre a escultura para o espaço. A dobra vem, determina e define o ato. E como com os lápis 8H dos tempos de Guignard, não há como apagar, a dobra não aceita arrependimentos e desacertos. A dobra torce a matéria e estabelece o diálogo com a luz, que preenche o espaço, como que incorporando o vazio na obra do artista. E o que vemos é a força da forma, a leveza da peça que às vezes parece pronta para voar, a harmonia silenciosa, sem adjetivos, e a firme intenção do artista ali revelada. Amilcar costumava dizer “minha escultura não deixa resto”. Não deixa resto nem sobras, porque a intenção original sempre tem como ponto de partida um suporte já escolhido nos desenhos, nos estudos que precederam a execução da obra. E essa forma básica será preservada até o fim do processo. “(...) tenho fé na forma que não deixa resto Que estampa e cala Como a fala do poeta Que em silêncio contém o mundo.” [A.C.]
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16 Sem título, década 1997, aço aço corten, ø 800 × 5 cm, col. Prefeitura de Berlim/bairro Hellersdorf
17 Maquetes de esculturas em papel, s.d., dimensões variadas 18 Estudo para escultura de Berlim
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19 Maquetes de esculturas em papel e aço inox, s.d., dimensões variadas
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telas O tecido esticado sem chassi. Tinta preta. Trinchas largas e vassouras. E na cabeça um pensamento. Com gestos rápidos e praticamente contínuos, Amilcar passava para a tela o pensamento daquele instante. E naquele momento, daquele instante único, tudo tinha de acontecer. Queria iniciar e terminar a tela em um gesto. Como se do nada fizesse o tudo com um único movimento. Sem rascunhos, sem ajustes e sem titubeios. Como se, antes de sair de casa, soubesse todos os movimentos que seriam executados no ateliê. Não eram os lápis duros daqueles tempos do Guignard, mas aqui, outra vez, o feito está feito. O criar e o fazer caminham juntos para revelar a identidade do artista. Sem adjetivos ou subjetividades, as telas estampam clara e fortemente a essência de Amilcar de Castro. As varreduras em preto impressas no tecido deixam rastros e fazem com que o branco surja entremeando os espaços vazados. E, assim como nos vazios das esculturas, esses brancos se tornam luz, tecendo com os pretos uma trama vigorosa e única. Quando usava cores, eram apenas as gráficas. E por quê? “Porque não sou pintor. Não tenho essa preocupação com a cor, se o azul deve ser mais ou menos azul, se o vermelho é mais pra lá ou pra cá. Sou gráfico. Uso as cores gráficas. Não faço pintura, mas desenhos.” [A.C.]
20 Istrumentos de pitura de Amilcar de Castro [trinchas e vassouras] no ateliê de Nova Lima [MG], 2001
21 Amilcar de Castro em seu ateliê em Nova Lima [MG], 2001 22 Amilcar de Castro em seu ateliê em Nova Lima [MG], 2001
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vida e arte “O que caracteriza um artista é ele olhar para dentro de si mesmo. Toda experiência em arte é um experimentar-se, é a experiência de si mesmo, é uma pesquisa em você mesmo. Você não pode fazer experiências com os outros. Esse silêncio do olhar para dentro à procura da origem das coisas é que é o grande problema da arte. Procurando a origem você fica original, e não querendo fazer uma coisa diferente. É por isso que eu acho que criar está junto com viver, que arte e vida são a mesma coisa.” [ A.C.] “Acreditar sempre... e até o fim” [ A.C.] Frase curta. Palavras poucas. Um gesto largo no ar, como que empurrando esse fim para um depois, mais e muito além. E assim foi o fazer e o realizar do artista. Acreditando sempre em si, nas certezas de ser, como também naquelas de não ser, o caminho da sua arte. Acreditando sempre no fazer para realizar, mesmo que os contrários sejam muitos, os valores, desvalores e a angústia a espreitar as inseguranças da vida. Acreditando sempre e até o fim realizou uma obra fora do tempo. Hoje ou em qualquer tempo, Amilcar de Castro sempre irá surpreender e preencher nosso olhar, nossa alma, com o inusitado, o novo, a arte pura de um mestre que, com sabedoria, empurrou o fim para um depois, mais e muito além do tempo. Possível apenas quando a vida e a arte, mutuamente atraídas, realizam o incomum, o raro e impensável.
23 Sem título, década 1990, escultura de corte e dobra irregular, aço corten, 98 × 126 × 45 × 2,5 cm, col. Instituto Amilcar de Castro [p. 28]
24 Vistas da exoposição no IAC, 2014 [pp. 30-31, 32-33, 34-35]
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25 Sem título, década 1980, acrílica sobre tela, 65 × 65 cm, col. Instituto Amilcar de Castro
26 Sem título, década 1980, acrílica sobre tela, 65 × 65 cm, col. Instituto Amilcar de Castro
27 Vista da exoposição no IAC, 2014 [pp. 38-39]
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28 Sem título, década 1970, acrílica sobre eucatex, 25 × 40 cm, col. Instituto Amilcar de Castro
29 Sem título, década 1970, acrílica sobre eucatex, 25 × 40 cm, col. Instituto Amilcar de Castro
30 Sem título, década 1970, acrílica sobre eucatex, 25 × 40 cm, col. Instituto Amilcar de Castro
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31 Vista da exoposição no IAC, 2014 32 Sem título, década 1970, acrílica sobre eucatex, 40 × 50 cm, col. Instituto Amilcar de Castro
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33 Sem título, década 1970, acrílica sobre eucatex, 40 × 50 cm, col. Instituto Amilcar de Castro
34 Vista da exoposição no IAC, 2014
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35 Sem título, década 1980, esculturas de corte, aço corten, dimensões variadas, col. Instituto Amilcar de Castro
36 Sem título, década 1980, esculturas de corte, aço corten, dimensões variadas, col. Instituto Amilcar de Castro
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37 Vista da exoposição no IAC, 2014 38 Poema, 1989
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39 Vista da exoposição no IAC, 2014 40 Sem título, década 1980, escultura de corte e dobra redonda, aço corten, 11 × 15 × 12,5 × 0,3 cm, col. Instituto Amilcar de Castro
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41 Sem título, década 1980, escultura de corte e dobra irregular, aço corten, 30 × 17 × 14 × 0,3 cm, col. Instituto Amilcar de Castro
42 Sem título, década 1990, escultura de corte e dobra irregular, aço corten, 21 × 21 × 15 × 0,3 cm, col. Instituto Amilcar de Castro
43 Sem título, década 1990, escultura de corte e dobra irregular, aço corten, 21 × 21 × 8 × 0,3 cm, col. Instituto Amilcar de Castro
44 Sem título, década 1990, escultura de corte e dobra irregular, aço corten, 21 × 20 × 4 × 0,3 cm, col. Instituto Amilcar de Castro
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45 Vista da exoposição no IAC, 2014 46 Sem titulo, década de 80, desenhos de projetos de esculturas, grafite sobre papel, 32 × 44cm, col. Instituto Amilcar de Castro [pp. 55,56,57]
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english version
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Presentation
IAC
The exhibition “Amilcar de Castro: Studies and Works” presented at the Instituto de Arte Contemporânea (Institute of Contemporary Art) and Museu Belas Artes de São Paulo (São Paulo Museum of Fine Arts) is a joint action between the two institutions and demonstrates an important part of the constant research and knowledge expansion work being developed about the contemporary artwork preserved in the IAC collections. In particular, “Amilcar de Castro: Studies and Works” presents us with a unique opportunity to include a third and fundamental partner of the IAC: the Amilcar de Castro Institute, which has provided part of the exhibited works and films, as well as the exhibition curator. Rodrigo de Castro, an artist himself, presents sculptures, paintings and drawings that categorically reveal Amilcar’s concern with the powerful relations favoured by the work’s presence in the space. Furthermore, among other essential aspects, he has exposed an unprecedented production of the artist’s work developed during his time living in New York, where he explored possibilities of works in stainless steel. This catalogue follows the rationale of Amilcar de Castro, beginning in the design of the work, while also registering the choices of the curator who maintained a constant dialogue with the IAC project which, above all, highlights the artist’s creative and productive process.
Raquel Arnaud Luiz Founder and Honorary President Antunes Maciel Müssnich President
MUBA
The Museu Belas Artes de São Paulo (MUBA), associated with the Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (Belas Artes University in São Paulo), is honored to hold the “Amilcar de Castro - Studies and Works” exhibit. Amilcar is a very important Brazilian artist, whose works display traits of simplicity, yet of utmost significance through the relationships established between forms, both in his paintings and sculptures. The partnership between the IAC (Institute of Contemporary Art) and the MUBA has resulted in great exhibitions for students and general public. We cannot, therefore, fail to register our sincerest thanks to the IAC for the important actions it has been developing, both in the field of research and in the exhibitions proposed, which make it possible to enrich the repertoire of our community.
Dr. Paulo Antonio Gomes Cardim President
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Perseverança 1920 In the small town of Paraisópolis, inner-state Minas Gerais, Amilcar de Castro was born, first son of the then judge Dr. Amilcar Augusto de Castro and Maria Nazareth. One day, a huge storm. Thunder and lightning filled the skies. Suddenly a bolt of lightning strikes the judge’s house, severing it in half. Fire. The house was destroyed. Eight-month old Amilcar slept calmly and only awoke when his mother took him from his crib. He overcame this challenge unknowingly, but the following ones he would overcome through belief and perseverance. Dr. Amilcar constructed a brilliant career as a high court judge and professor at the Law School of UFMG – Federal University of Minas Gerais. He published books, took on the presidency of the State High Courts and with great competence left his name recorded in the history books. 1935 Dr. Amilcar is transferred to Belo Horizonte, in which town he would remain for the rest of his life. Maria Nazareth had already died and, as a father of five, the judge is helped by his mother to look after family life. Amilcar, guided by his father, enters Law School at UFMG in 1940 and graduates in 1945. The course seemed to have been set, his future defined, and the eldest son of the illustrious jurist would follow the same path. The planned and designed path gradually materialised. But judges are not very good at drawing. And something happened in his second year at university that changed everything. Amilcar met Guignard and entered the Guignard School to attend his classes. From then on the unpredictable, problems and disruptions become a common part of life at Rua Guajajaras 51, the home of the Amilcar de Castro family. Amilcar had already been interested in the arts, but in Guignard he had encountered a catalyst. His conversations with the Master, the freedom to think freely and independently, all the possibilities that opened up to him to venture as and when he wished, spilling feelings out on to paper and learning that he possessed his very own creative force within himself, were all striking and defining experiences. And rather unlike those from the world of law, where he had not found space for any free creation, let alone to experiment with the creative process. Living with these two worlds, so diverse and distinct, was the first challenge that emerged on his path. Amilcar graduated in Law, as his father wished, but at the same time and for seven years, he attended the Guignard School almost every day. The doing teaches him more than theories and discipline exercise and polish his talent. With this thinking Guignard guided his students. He was aware of each of their capabilities and wisely steered them toward achieving the best result in their work. Thus a relationship of friendship and trust was established, which was very important for Amilcar believing that he could redirect his life toward the arts. Which is what he did. On Guignard he wrote: “He taught us to sketch with a 7, 8, 9H pencil. This drawing method brought a taste for achievement. With no shadows.
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For what is sensitive, without sentimental exaggerations. For direct communication, without adjectives or flowery rhetoric. It was what gave us knowledge of the line. The line itself, the path, the rhythm. What separates and values spaces. What is strength and smoothness at the same time. Without intermediaries. Music necessary. A ground of time contained in the precision of the space. And weaves and spins a web of poetry, a line of light over Ouro Preto where dawn breaks now. That is what he did with absolute talent and knowledge. Grand Master.”
Rio de Janeiro 1952 Amilcar de Castro marries Dorcilia Garcia Caldeira and in the same year they move to Rio de Janeiro. The city of friends, of discoveries and of achievements. For almost all the twenty years he lived in Rio, Amilcar worked for magazines and newspapers – A Cigarra, O Cruzeiro, Manchete, Jornal do Brasil – doing the page layout and graphic arrangement of the publications. The reform of the Jornal do Brasil was the artist’s main achievement in this area. For many years the JB had been a benchmark for graphic arrangement and to this day it remains a milestone in the history of graphic design in Brazil. Amilcar simultaneously developed his work, his experiments in drawings and sculptures. He befriended artists such as Ferreira Gullar, at the time his colleague at Manchete and Jornal do Brasil, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Aluísio Carvão, Reynaldo Jardim, Lygia Pape, Willys de Castro and Franz Weissmann, a friend from the Guignard School. He also becomes close to the critic Mario Pedrosa and renews his friendships from his university days in Belo Horizonte with Fernando Sabino, Hélio Pellegrino and Otto Lara Resende. The artists often met at Amilcar’s house and the conversations focused on art-related matters, directions and proposals, breaks away from academic thinking and the emergence of new paths and possibilities for Brazilian art. In 1951 Max Bill is awarded first prize at the I São Paulo International Art Biennial, for his work Unidade Tripartida (Tripartite Unit). In 1953 he returns to Brazil and holds a conference at the Rio de Janeiro Modern Art Museum (MAM-Rio). His works, ideas and thoughts find artists and Brazilian art at a point of discrepancy with the existing strands, of searching for something new and strong enough to break away from everything that had existed up to then. In this effervescent broth, the concrete art theory of Max Bill dropped like a spark in petrol. And Brazil was reinvented in Art. In São Paulo the group led by Waldemar Cordeiro becomes more aligned to the ideas and concepts of the concretism outlined by Max Bill’s concrete theory of art. Meanwhile in Rio de Janeiro, the artists propose another branch, where the emotion of the doing, the traits of the artist’s individuality, the feeling and creating of each one are ever present in the work. Where intuitive geometry can prevail over strict mathematics.
1956-1957 The I National Exhibition of Concrete Art is held, featuring works by Amilcar and other artists from Rio and São Paulo. Shortly after the paulista concrete artists hold a show at the MAMRio and the neoconcrete artists from Rio in São Paulo. The differences become evident, leading to a rupture between the groups. This duality, this clash for art and its paths strengthened Brazilian art itself, which starts to give value and pay attention to its artists, in terms of their creativity and new proposals. To make the neoconcrete thinking clear and public, in 1959 the Sunday Supplement of the Jornal do Brasil publishes the Neoconcrete Manifesto, written by Ferreira Gullar and signed by Amilcar de Castro, Claudio Mello e Souza, Franz Weissmann, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Reynaldo Jardim, Theon Spanudis and Ferreira Gullar himself. Max Bill believed in the creation of art fro science. “I state once again that in architecture everything should have its logic, its immediate function, nothing can be useless. Any line, any plane should have its function that can be defended and explained. This does not mean that I am confusing art with science. In concrete art it would be the same thing: when executing a work, the concrete artist always departs from an abstract idea, from an almost geometric generative scheme. He plans it in two dimensions and, gradually, like and algebraic theorem, the form is developed.” Max Bill The Neoconcrete Manifesto disagreed and, among all the fundamentals it expounds, it declared that “(...) neoconcrete art founds a new expressive ‘space’.” The dissensions are made evident in Amilcar’s words.
Some things can be observed in this piece that, unexpectedly and perversely, at least at first sight, seem to create a distance from what would come to be the artist’s trademark production: the cut-and-fold sculptures. Starting with the material, copper, which was used this one and only time. Amilcar replaced it with iron and later with Corten steel, more rigid material to enable larger pieces without the risk of deforming the sheets. Another matter observed here is the form. Amilcar’s cut-and-fold sculptures are always open. Open in the sense that the forms do not close on themselves, on the contrary, they open out to the space as if in search of light. This “star” is opposite to the thinking. The form is self-enclosed, creating a single inner space. Where it keeps the light. Concluding these observations, this “star” has no cuts. When cutting and folding flat sheets, Amilcar created his art in the space. Over time he made some variations, but the cut and fold, just like the black and white of his pictures, hold the force and nature of his thinking. So, for all these reasons, this sculpture is apparently off the curve, as if it were an exception in the set. However, it is precisely this piece that generates everything that followed. The discovery of the folding was fundamental; it is what gives character and vigour to Amilcar’s work. Balance and imbalance would be tested and attained through the angles and positioning of the folds, which also define and determine the shape of the void, the light-filled space inaugurated in the “star”.
“Discovery is discovering through feelings that the walk in identity is a path only for the walker who believes in the freedom of the paths.”
1967 Amilcar de Castro is awarded a fellowship from the Guggenheim Foundation and leaves for New York, where he lives until 1972. And confronts another major challenge in his career: at the time he is unable to source the material and workforce to continue his works with Corten steel.
“Sculpture is the discovery of the form of silence where light guards shade and moves us.”
This forced him to study other possible materials. He chose stainless steel and surprisingly redirected his work toward the unusual. He left the cut and fold technique to one side and developed what he called “keyrings”; pieces cut in steel sheets, of varying shapes and sizes, fixed to a circular frame, just like “keys on a keyring”.
From then on, concrete and neoconcrete artists conduct the biggest, the main, the most important change in the history of Brazilian. And future generations are gifted with open doors to the freedom to experiment, propose and create whatever they wish to. Amilcar continues with his experiments and begins his works in iron. Initially he made sculptures from cutting and welding iron sheets into certain positions, giving the work its volume and space. He also made some pieces in wood. But the mark, the departure point from where the artist, shall we say, designs and organises his thinking of sculptural creation is a 1952 work, made in copper, for which he was awarded first prize at the II São Paulo Biennial in 1953.
New York – stainless steel
The stainless steel reflects the light. Taking advantage of this characteristic of the material, the sculptures of this phase do not store or invite the light into their inner space. On the contrary, they spread light, creating shadows and reflections that invite one’s gaze to inside the work. The varying, loose shapes create a latent state of imbalance, a constant challenge for gravity. These sculptures, like poetry, are gradually and slowly revealed, in another time which is not that of the immediate. With the light they weave intriguing spaces and shapes, disobedient to the obvious and innovative in design, where the imbalance is challenged and at the same time participant in the work. And the balance, a surprise. Amilcar believes, he pushes on and is awarded for the second time with a Guggenheim Foundation fellowship for the works exhibited in New York.
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Cut and Fold In the 1960s Amilcar had already started his research and development of his cut-and-fold sculptures. He designed and made studies for future pieces in card. And so cutting, the simple everyday action, was incorporated into the artist’s work forever. Cutting and folding. Simple actions that remove the sheet from its paralysis, transforming it into something present in space, with form, movements, forces, light and balance. Cutting the sheet opens up the sculpture to space. And the folding comes to determine and define the act.
Life and Art “What characterises an artist is his looking inside himself. Every experience in art is a self-experience, it is an experience of yourself, a study into yourself. You cannot experiment with others. This silence of the looking within for the origin of things is the great problem of art. Seeking the origin you become original, and don’t want to do anything else. This is why I think that creating is together with living, that art and life are the same thing.” “Believing always ... and to the end” Amilcar de Castro
And just as with the 8H pencils in the times of Guignard, there is no way of erasing, the fold accepts regrets and mistakes. The fold twists the material and establishes dialogue with the light, that fills the space, as if incorporating the void in the artist’s work. And what we see is the force of the form, the lightness of the piece that at times seems ready to fly, the silent, adjective-less harmony, and the artist’s firm intention revealed therein. Amilcar would often say “my sculpture leaves no residue.” It leaves neither residue nor leftovers, because the original intention is always based on a means of support already selected in the drawings, in the studies that preceded execution of the work. And this basic form would be preserved until the end of the process. “(...) I have faith in the form that leaves no residue That stamps and silences Like the poet’s speech Which in silence contains the world.”
Paintings The stretched canvas with no mounting. Black paint. Broad brushes and brooms. And one thought in mind. With quick, practically continuous strokes, Amilcar conveyed on to the canvas the thought of that instant. And at that moment, in that single instant, everything had to happen. He wanted to begin and finish the painting in one action. As if he made everything from nothing in a single movement. Without drafts, without adjustment and without flinching. As if, before leaving his home, he already knew every movement he would perform in the studio. It was not the hard pencils from the times of Guignard, but here, once again, the doing is done. The creating and doing walk hand in hand to reveal the artist’s identity. Without adjectives or subjectivities, the paintings clearly and forcefully stamp the essence of Amilcar de Castro. The black sweeps printed onto the material leave trails and make the white emerge in between the emptied spaces. And, just as in the voids of the sculptures, these whites become light, weaving with the blacks a vigorous, unique web. When he used colours, they were only graphics. Why so? “Because I’m not a painter. I don’t have this concern with colour, if the blue should be more or less blue, if the red is more like this or like that. I’m a graphic designer. I use graphic colours. I don’t make paintings, but drawings.”
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A short phrase. A few words. A broad gesture in the air, as if pushing this end to an after, further and far beyond. And such were the artist’s works and doings. Always believing in himself, in the certainties of being, as well as in those of not being, the path of his art. Always believing in the making to produce, even if there was so much against him, the values, disvalues and anguish lurking in life’s insecurities. Always believing to the end, he produced a timeless work. Today and anytime, Amilcar de Castro will always surprise and fill our eyes, our souls, with the unusual, the new, the pure art of a master who wisely pushed the end to an after, further and far beyond time. Which is possible only when life and art, mutually attracted, produce the uncommon, the rare and unthinkable.
captions 1 Untitled, 1970s, acrylic paint on Eucatex, 40 × 50 cm. Instituto Amilcar de Castro collection [p. 8] 2 Marco Aurélio Matos, Guignard and Amilcar de Castro, 1940s 3 Amilcar de Castro in Ouro Preto, 1949 4 Untitled, 1947, charcoal on paper, 40 × 60 cm 5 Ponte de Marília, Ouro Preto, 1948, pencil on paper, 30 × 40 cm, private collection 6 Amilcar de Castro, working on page layouts, 1957 [p.13] 7 Front cover and pages 4 and 5 of the Jornal do Brasil Sunday Supplement with the Neoconcrete Manifesto (22/03/1959), pages designed by Amilcar de Castro > Jornal do Brasil Sunday Supplement (26/03/1960), designed by Amilcar de Castro 8 Front cover and pages 28 and 29 of A Cigarra magazine, edition 29, September 1959, designed by Amilcar de Castro, periodicals collection, São Paulo State Archives Public Collection > Pages 99 and 100 of A Cigarra magazine, edition 5, May 1959, designed by Amilcar de Castro, periodicals collection, São Paulo State Archives Public Collection [p.15] 9 Untitled, 1951, wood, 60 × 49 × 17cm, Rodrigo de Castro’s collection [p.16] 10 Untitled, 1952, wood, 31 × 48 × 40 cm, private collection [p.16] 11 Untitled, 1956, steel, 100 × 130 × 135 cm, Rio de Janeiro Modern Art Museum collection [p.17]
12 Star, 1952-53, copper, 50 × 50 × 50 cm, Ana Maria de Castro’s collection 13 Untitled,1968, stainless steel, 21 × 14 × 7 cm, Rodrigo de Castro’s collection 14 Untitled,1968, stainless steel, 21 × 14 × 7 cm, Rodrigo de Castro’s collection 15 Amilcar de Castro with friends of his son Pedro in New Jersey, 1970 16 Untitled, 1997, Corten steel, ø 800 × 5 cm, Berlin city collection / district of Hellersdorf 17 Maquettes of sculptures in paper, undated, various dimensions 18 Study for Berlin sculpture 19 Maquettes of sculptures in paper and stainless steel, undated, various dimensions 20 Amilcar de Castro’s painting instruments [broad brushes and brooms] at the Nova Lima studio, Minas Gerais, 2001. 21 Amilcar de Castro in his studio in Nova Lima, Minas Gerais, 2001 22 Amilcar de Castro in his studio in Nova Lima, Minas Gerais, 2001 23 Untitled, 1990s, irregular cut-and-fold sculpture, Corten steel, 98 × 126 × 45 × 2.5 cm, Instituto Amilcar de Castro collection [p. 28] 24 Views of the exhibition at the IAC, 2014 [pp. 30-31, 32-33, 34-35]
25 Untitled, 1980s, acrylic paint on canvas, 65 × 65 cm, Instituto Amilcar de Castro collection
37 Views of the exhibition at the IAC, 2014 38 Poem, 1989
26 Untitled, 1980s, acrylic paint on canvas, 65 × 65 cm, Instituto Amilcar de Castro collection 27 Views of the exhibition at the IAC, 2014 [pp. 38-39] 28 Untitled, 1970s, acrylic paint on Eucatex, 25 × 45 cm, Instituto Amilcar de Castro collection 29 Untitled, 1970s, acrylic paint on Eucatex, 25 × 45 cm, Instituto Amilcar de Castro collection 30 Untitled, 1970s, acrylic paint on Eucatex, 25 × 45 cm, Instituto Amilcar de Castro collection 31 Views of the exhibition at the IAC, 2014 32 Untitled, 1970s, acrylic paint on Eucatex, 40 × 50 cm, Instituto Amilcar de Castro collection 33 Untitled, 1970s, acrylic paint on Eucatex, 40 × 50 cm, Instituto Amilcar de Castro collection 34 Views of the exhibition at the IAC, 2014 35 Untitled, 1980s, cut-out sculptures, Corten steel, various dimensions, Instituto Amilcar de Castro collection
39 Views of the exhibition at the IAC, 2014 40 Untitled, 1980s, rounded cut-and-fold sculpture, Corten steel, 11 × 15 × 12.5 × 0.3 cm, Instituto Amilcar de Castro collection 41 Untitled, 1980s, irregular cut-and-fold sculpture, Corten steel, 30 × 17 × 14 × 0.3 cm, Instituto Amilcar de Castro collection 42 Untitled, 1990s, irregular cut-and-fold sculpture, Corten steel, 21 × 21 × 15 × 0.3 cm, Instituto Amilcar de Castro collection 43 Untitled, 1990s, irregular cut-and-fold sculpture, Corten steel, 21 × 21 × 8 × 0.3 cm, Instituto Amilcar de Castro collection 44 Untitled, 1990s, irregular cut-and-fold sculpture, Corten steel, 21 × 20 × 4 × 0.3 cm, Instituto Amilcar de Castro collection 45 Views of the exhibition at the IAC, 2014 46 Untitled, 1980s, drawings of sculpture projects, graphite on paper, 32 × 44 cm, Instituto Amilcar de Castro collection [pp. 55, 56, 57]
36 Untitled, 1980s, cut-out sculptures, Corten steel, various dimensions, Instituto Amilcar de Castro collection
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ESTUDOS E OBRAS STUDIES AND WORKS
CATÁLOGO CATALOGUE
Curadoria Curator Rodrigo de Castro
Montagem Set up Mold Comunicação Visual André Silva Haroldo Alves Iano Ahmed Marcelo Fusco
Produção Executiva Executive Producer Agenda Projetos Culturais
Assessoria de Imprensa Press Relations Pool de Comunicação
Produção Producer NU Projetos de Arte
Educativo Educational Team Flora Pitombo Neves Gabriela Pyles Barcellos Jean Luiz Palavicini Natalia Ghacham Fernandes
Realização Presented by Instituto de Arte Contemporânea
Projeto de Expográfico Exhibition Project Elísio Yamada Projeto de Iluminação Lighting Design Rodrigo Jardim Projeto Gráfico Graphic Design Ana Basaglia
Projeto Gráfico Graphic Design Danowski Design Sula Danowski Nathalia Lepsch Carol Müller Machado Tradução Translation Ben Kohn Revisão Proofreading Beatriz Moreira Fotografias Photographs Arquivo Instituto Amilcar de Castro 4 , 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 22, 24, 25, 29, 30, 31, 36, 37, 39, 40, 41, 43, 44, 49, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74 Eduardo Eckenfels 19 João Liberato 2, 20, 21, 26, 27, 28, 32, 25, 46, 47, Markus Schädel 23 Romulo Fialdini 1, 3, 33, 34, 38, 42, 45, 48, 50, 51, 52, 53, 54, 55, 56
Agradecimentos Acknowledgments Ana de Castro Instituto Amilcar de Castro Galeria Marilia Razuk Patricia Thompson Ricardo Lacaz Martins Leonardo de Castro
Laudos Técnicos Condition Reports Raquel Teixeira Tomi Sato
Pré-impressão e Impressão Prepress and Printing Stillgraf
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)
I59a
Instituto de Arte Contemporânea — IAC Amilcar de Castro : estudos e obras. / curadoria [de] Rodrigo de Castro. - São Paulo: IAC, 2014. 64 p.: il. Catálogo da exposição realizada no Instituto de Arte Contemporânea - IAC, São Paulo em 2013-4. Apresentação de Raquel Arnaud e Luiz Antunes Maciel Müssnich ; tradução de Ben Kohn. 1. Castro, Amilcar de (1920-2002) 2. Arte brasileira 3. Artista brasileiro I. Castro, Rodrigo de II. Título CDD 709.81 CDD 700.981
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ISBN 978-85-60291-08-3
9
78 85 60
29 10 83