PENSAMENTO PERENE

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Índice 1. Dedicatória ................................................................................................................ 2 2. Destinatários.............................................................................................................. 2 3.

Qual ....................................................................................................................... 4

4.

Hilemorfismo....................................................................................................... 11

5.

Substância ........................................................................................................... 25

6. Acidentes............................................................................................................... 29 7.

Universais ............................................................................................................ 36

8.

Acima ................................................................................................................... 38

9.

Im/Trans ............................................................................................................. 45

10 Saber .................................................................................................................... 60 11 Sentir.................................................................................................................... 67 12 Entender .............................................................................................................. 79 13

Subjectivo ............................................................................................................ 82

14 Objectivo .............................................................................................................. 94 15 Interactivo.......................................................................................................... 102 16. Princípios .......................................................................................................... 105 17 Falar .................................................................................................................. 112 18

Pensar ............................................................................................................... 125

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Níveis ................................................................................................................ 142

20 Espécies ............................................................................................................. 148 21

Filosofia............................................................................................................ 158

22 Teologia ............................................................................................................. 162 23 Antropologia ...................................................................................................... 175 24

Novo................................................................................................................... 178

25 Bíblico ................................................................................................................ 183 26 Coluna ............................................................................................................... 188 27. Escolas .............................................................................................................. 193 28. Filósofos ............................................................................................................ 207 29 Elenco ................................................................................................................ 260

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1. Dedicatória

A todos quantos querem alicerçar a existência sobre ideias Aos ex-alunos em especial Dedica este chassis de ideias O Autor

2. Destinatários

Aterrei em Luanda vindo directamente dos USA via Brasil em Novembro de 1985 com o intento de passar a derradeira etapa da minha vida missionária numa missão sertaneja fazendo companhia a algum confrade mais jovem. Vai leccionar a História da Filosofia no Seminário de Cristo Rei (Huambo) onde se forma o clero de todas as dioceses de Angola, ordena-me o Superior Religioso. Como disciplinas extracurriculares às eclesiásticas havia-me especializado no ISPA (Lisboa) em Psicologia; também em Psicologia aplicada e Sociologia na Universidade de Kingston (RI, USA); em História, Arte, Música em Brown University (R I, USA),. A Psicologia estaria na linha do meu currículo mas filosofia, votada ao abandono desde os já tão longínquos anos de seminário…! Nas ordens religiosas a obediência é prioritária, baseados no princípio teológico «facientibus quod in se est Deus non negat gratiam», foi mesmo a filosofia que tive de imediato leccionar. Quando no ano seguinte chegou a Cristo Rei o professor que substituí de emergência, vim para a missão espiritana do Populo em Benguela. O bispo da Diocese, Sua Excelência Reverendíssima o Sr. D. Óscar Braga logo veio ao meu encontro dizendo que tinha já disposto com o Superior religioso para eu ministrar aos alunos do Seminário do Bom Pastor a lógica e história de filosofia que leccionara em Cristo Rei. As aulas seriam um extra ao trabalho da missão do Populo onde passei a residir com 2 outros confrades (CSSP). Os alunos Diocesanos juntamente com os das Congregações Religiosas nessa data distribuídos pelos 3 anos do currículo filosófico rondavam os 80, 90, mesmo 100. 2


Todas as manhãs úteis lá seguia para o Seminário regressando pelo meiodia à missão e neste vai-vem decorreram 12 anos. Já próximo do termo do meu leccionato os alunos lançaram-me este repto: afinal vai-se embora sem nos dizer qual a sua filosofia? Este repto a modo de charada deixou-me perplexo, acaso eu tenho qualquer especialidade a que posso chamar minha filosofia? O certo é que a interpelação me decidiu ao que nunca antes me ocorrera, elaborar uma espécie de guia para os seminaristas que durante 3 anos estudam esta disciplina como preparação para a teologia. Através do teclado lancei para o computador umas 150 páginas que em sebenta ofereci ao seminário respondendo assim de imediato ao desafio. Mais tarde, devido a solicitações advindas de antigos alunos em outras disciplinas redigi estoutra edição em linguagem não académica a fim de ser útil a quantos em vez de imagens fugidias desejam assentar a existência em ideias «sont les idées qui régissent le monde»! No mundo lusófono a escolaridade geral vai até ao 12º ano, grande parte termina por aí seus estudos pois devido à luta pela vida não tem possibilidade de frequentar cursos superiores, esta 2ª edição leva o intento de servir esses que ficam fora das universidades «extra muros» por incapacidade financeira, todavia amantes das ideias…! Este método de 2 estilos aliás já o vemos exemplificado nos coriféus das ecolas gregas que usavam um para dentro da escola, outro para o público extra. A meus alunos em outras disciplinas (Inglês, Latim, Grego), já de cabelos brancos a quem pela net tenho enviado esta 2ª edição têm insistido para a publicar dado que não existe nada deste género em linguagem vulgar. Não podendo satisfazer o seu desiderato pois tal obrigar-me-ia a ser formal de acordo com as exigências da publicicade, agrada-me saber no entanto que as ideias ainda que árduas sempre tiveram, continuam a ter os seus enamorados, em género sebenta ou «mails», este meu trabalho que já tem considerável difusão, continua às ordens de quem o solicitar. Os seminaristas têm nesta edição popular o mesmo conteúdo da académica que lhes dediquei mas como terão apostolado entre o povo esta em estilo popular poderá ser-lhes também de alguma utilidade, podem assim confrontar o estilo «isotérico de uma com o exotérico da outra. Porto 28/3/2000 PJMDESOUSA CSSP

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3.

Qual

Sobre qual é que incidiu a pergunta mas como é óbvio não tenho já aqui na manga do casaco pronta para dar de mão beijada a devida resposta aos meus interrogantes…!. A pergunta não é nova, quando nas aulas de história expunha o pensamento de Kant, Descartes, Sârtre, Camus… já queriam saber o que pensava a respeito de tais filosofias mas como fiz sempre ouvidos de mercador, agora como que não me deixam sair a porta sem responder à qual…!? Um comentário nosso é o bastante para o aluno conceber o filósofo não como ele é mas como o professor quereria que ele fosse; traímos o pensamento dos autores se em vez de história fazemos crítica histórica, deixemos o filósofo expor o seu pensamento sem o interromper com o nosso. Ao fazermos filosofia porém a situração é diferente, estamos no uso da nossa autonomia de pensamento, o «qual» faz sentido e merece resposta.

Anedota Os meus alunos em Benguela, foram muitos durante 12 anos, estão ordenados sacerdotes cerca de 150, vários dos quais se especializaram depois em Universidades da Europa e América (DD Custódio, Amadeu, Estêvão, Soma, Brinco…a lista é extensa…! Comunicam frequentemente comigo e felicitam-me por fazer nascer neles o amor às ideias mas a anedota segue-se agora. O Núncio Apostólico visitava Benguela, o bispo Sua Excelência Sr D. Óscar convidou-me para o almoço. Em um certo momento os convivas baixaram a voz, o Dr Soma lá de longe saúda-me alto: mestre, aquelas aulas…! A apercepção transcendental, o imperativo categórico…a dedução metafísica das categorias (Kant)…! Em toda a Benguela poucos conhecerão filosofia como nós, quem é que sabe aqui o que são juízos sintéticos «a priori»…!? No fim da refeição o Núncio Apostólico abeirou-me e disse: é preciso vir à África para constatar que aqui se dá mais valor à filosofia que na Europa…! Regressando à seriedade Minha É impróprio chamar meu ao rio que passa na minha terra bem como ao mar que eu uso, não há qualquer rio, qualquer mar propriedade de 1 indivíduo, o rio e o mar são propriendade comum…! Meus alunos com certeza também não me estavam a interrogar sobre a 4


minha idiossincrasia filosófica mas qual o sistema que melhor projecte luz sobre o caminho da teologia que vão trilhar a seguir. A filosofia que lhes vou aconselhar bem como aos não seminaristas mas que se interessam por ideias, nasceu na Grécia, cresceu em Roma, estendeu os braços pelo orbe inteiro, tem 25 séculos de existência, tem o nome de filosofia perene; desenrolarei diante dos leitores interessados o seu conteúdo temático em 30 epígrafes que reputo suficientes para uma informação básica. A filosofia responde às questões básilares sobre as quais se deve interrogar todo o homem que atinge a idade do pleno desenvolvimento da faculdade que o define, a razão…! Os iniciadores da filosofia perene, os mestres gregos chamavam «nous» inteligência à faculdade mais nobre e definiente do homem, atribuíam-lhe origem divina, dom incomparável dos deuses para conduzir os mortais ao reino da imortalidade servindo-se dos seres como pegões para o Ser. A filosofia foi colocada no topo das demais ciências pelo filósofo por antonomásia (Aristóteles) e nunca mais desceu os degraus do trono real, qual o motivo? Pela nobreza do seu objecto…! Mas o objecto que Aristóteles atribuiu à filosofia é o ser… o que há de mais trivial que o ser? Vêmo-lo, cheiramos, comemos, bebemos, respiramos, tropeçamos, nem precisamos de sair fora de nós, somos seres atirados ao meio dos seres (Heidegger). O mosquito é tivial, a aranha, o micróbio, o anjo, o homem, Deus porque são seres então são triviais? O ser é trivial, fora do ser só o não ser; então só o nada não é trivial…!? A árvore filosófica dos procuradores da sabedoria através dos seres vem crescendo há 25 séculos, seus ramos já cobrem o Universo. Chamada sofia, renomeada filosofia, sob o epíteto preferencial com que queira designar-se é a disciplina orientadora das demais ciências mas distinta de todas por seu carácter a-temporal, desinteressado, diletante, extático, contemplativo, metafísico é a ciência real, «feliz o povo que tem a governá-lo um rei sábio (Platão). O povo Graio interrogava sua faculdade imaginativa sobre quem governava o mar? Neptuno (deus). Os ventos? Eolo (deus). Quem as fontes? Pan (deus). 5


Quem as casas? Penates (deuses)…! Quem corta os fios da vida? Parcas (deusas).

Todas as forças não dependentes do controlo humano eram pelos gregos atribuídas a seres invisíveis a quem consagravam um santuário no monte mais alto que o sol iluminava primeiro e deixava último, o Olimpo, confiavamlhes os seus destinos, ofereciam sacrifícios levados pelo temor pois deles dependiam os bens ou os malies, chamavam-lhes deuses «timor facit deos». Sábios Sábio em sentido grego era o homem mais considerado entre os demais devido aos seus conhecimentos práticos ou teóricos sobre as forças do Universo. Houve ao todo 7 no decurso da história grega, o que demonstra o título não ser atribuído a qualquer charlatão mas a quem se distinguia por seu real saber. Enquanto o povo se contentava com interpretar a realidade pela faculdade da imaginação, estes procuravam lê-la à luz do «nous», inteligência. Tales, o mais famoso dos 7 sábios dessa data previu com exactidão o eclipse solar desse ano, lançou o desafio aos colegas: deixemos de atribuir às forças de que é constituído o universo causas imaginárias derivadas do medo, usando a faculdade que lê a mensagem oculta nos seres, «adaequatio rei et intelectus», lancemo-nos à procura das verdadeiras causas dos fenómenos que os seres nos manifestam…! 585 (A. C.) Eis o ano em que nasceu a filosofia. Tales juntou a si outros curiosos que em grupo deram início à leitura dos seres: este tem uma causa mas ele mesmo ainda tem outra, assim por diante mas a série dos principiados não pode ser infinita, para haver principiados tem de postular-se em absoluto 1 Impricipiado, para haver seres tem de haver o Ser. Tales era de Mileto na Ásia Menor, aí pelo facto mesmo nasceu a 1ª escola filosófica chamada Jónia, designação ética dos colonos gregos aos quais pertencia Tales. Discutiram entre si durante 200 anos sobre o elemento básico donde haviam de partir: terra, água, ar, fogo… «apeiron» …! Um sucessor de Tales, também pertencente ao grupo dos 7 Sábios, Pitágoras achou que sofos/sofia era título arrogante, alterou para filósofo aquele que busca a sabedoria e apelidou esta de filosofia. 6


Qual o conceito intuído por Pitágoras sobre o Imprincipiado? Um matemático, pois tudo no universo está feito com peso e medida, os astros apesar da sua grandeza não fazem o mínimo ruído nem saem das suas óbitas…! Filósofo é pois o que recebeu do Autor do cosmos uma faúlha da Sua Inteligência o «nous» para entender o Universo como obra Sua e caminho para a Sua Morada. O povo judeu não tinha filósofos mas uma espécie de místicos chamados profetas, inspirados directamente pelo Dono do cosmos, sua linguagem coincide substancialmene com a dos filósofos gregos. O filósofo é pois o homem cujo pensamento está baseado na realidade, colhida pela faculdade dada aos mortais para os guiar através das temporalidades até chegarem ao reino onde tudo é imortal e eterno. Nenhuma classe é mais selecta que a dos pensadores genuínos, aqueles que sabem ler nos seres as mensagens que a Mente Suprema doadora do «nous» lhes transmite como luz, as ideias iluminadoras dos seus passos «sont les hommes dês idées, elles seules qui mérite régir le monde». A minha, tua filosofia, se não for a dos cavaleiros que se metem ao caminho em busca do «Arke» do Universo não tem valor perene: são muitos os caminhos que vão ter a Roma, todos legítimos se lá conduzirem o viajante, perniciosos se dando voltas e mais voltas ao acaso em vez de estudar os mapas, se perde o tempo sem atingir o rumo da existência; a filosofia é tanto uma ciência como uma arte, só pode ser filósofo o que tiver a disciplina de um monge (Pitágoras). Alguém pode conhecer a biografia de todos músicos do mundo mas para ser músico só agarrando-se a um instrumento e exercitar-se no piano a vida inteira: deixo de tocar um dia já noto, deixo de tocar uma semana já toda a gente nota (Bethoven). Conhecer o elenco dos filósofos que a história registou durante os 25 séculos da existência da filosofia é preâmbulo pedagógico, mas não é isso que torna alguém filósofo, aliás esses modelos o dizem por si mesmos, não se contentaram por conhecer o que os predecessores lhes ensinaram, continuaram a investigação, por vezes encontraram melhores vias que os pioneiros. Antes de alguém entrar por qualquer sector científico observa como os modelos procederam, não com o intuito de os copiar, o que seria uma inutilidade, sim para se inspirar, entrar no mar onde navegaram, se possível descobrir novas rotas; as ciências viajam nos rios, a filosofia no mar alto; as ciências ocupam-se das províncias, a filosofia do reino do ser (Aristóteles).

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As escolas hodiernas mais representativas do pensamento seguem a filosofia perene mas dialogam com a filosofia de qualquer proveniência, deixam aos leitores toda a liberdade de pensar mas apontam os sistemas genuínos do ser: ciências pode haver milhentas mas verdade só pode haver 1, aquela em que o espírito está conformado e informado pelo ser (Tomás de Aquino). A secção de história que apresentamos é precisamente para mostrar como os artistas do pensamento leram o ser, também para evitar notículas em rodapé quando citamos este ou aquele filósofo.

I Secção: o ser existente (objectivo) II Secção: o ser conhecido pelo espírito do homem (subjectivo) III Secção: história do ser segundo os múltiplos pontos de vista dos pensadores.

Citação de 2 documentos “Muitos dos nossos contemporâneos parecem temer que a íntima ligação entre a religião, a ciência e actividade humanas constitua um obstáculo à autonomia dos homens, sociedades e ciências. Se por autonomia se entende a defesa das leis naturais e leis da liberdade humana, se quer afirmar que de facto o mundo e a actividade humana têm leis intrínsecas que não devem ser violadas mas descobertas com cuidado para serem respeitadas, tal autonomia é justa, deve ser reivindicada pelos homens de qualquer tempo pois corresponde à vontade do Criador. É pela virtude da criação que todos os seres estão dotados de consistência, verdade, bondade, leis de conduta, uma ordem imanente que o homem deve respeitar pois o transcende; a arte e técnica não podem transgredir esta ordem sob pena de envenenar o ambiente. A ciência não pode desligar-se da obediência ao Criador cujos vestígios deve encontrar em toda a criatura que contacta. A ciência por outro lado não pode colocar uma barreira intransponível entre a razão e a religião como se o Deus Criador do Mundo não fosse o mesmo que se revelou em Seu Filho Jesus Cristo, vindo para irmanar o género humano, factos comprovadíssimos pela história. Os cristãos, cuja ciência está esclarecida pela fé, estão mais habilitados a julgar a actividade humana que os possuidores somente da ciência das coisas. 8


Se notarem que os de mera ciência mundana se desviam das leis naturais e não respeitam o Criador, sim devem elevar a sua voz porque entre a ciência que vem da religião e a da contemplação dos seres não há conflito. A criatura tem a razão do seu ser em o Criador” (Gaudium et Sppes, 35…). No dia de S Tomás de Aquino, 28 de Janeiro deste corrente ano 2011, o papa Bento XVI exortou a que nos seminários e institutos católicos se restaure e intensifique o ensino da filosofia perene. "Em uma época em que a própria razão é ameaçada pelo utilitarismo, pelo ceticismo, pelo relativismo e pela desconfiança da razão para conhecer a verdade sobre os problemas fundamentais da vida" vimos chamar a atenção para as recomendações feitas na encíclica „Fides et ratio', de João Paulo II, já que "a teologia sempre teve e continua tendo necessidade da filosofia". Caso contrário, "a teologia não tem o chão sob seus pés". Que filosofia? Pretende-se "recuperar a vocação original da filosofia, ou seja, a busca da verdade e da sua dimensão sapiencial e metafísica", insistindo "na necessidade de ampliar os espaços da racionalidade". O reitor do „Angelicum', Charles Morerod, explicou a importância da metafísica para o estudo da teologia, e convidou a "recuperar com força a vocação original da filosofia". "O cristianismo pressupõe uma harmonia entre Deus e a razão humana. A busca filosófica pode, portanto, confiar, e o crente pode evitar opor à sua fé uma verdade encontrada com a razão." "A importância da filosofia está diretamente ligada ao desejo humano de conhecer a verdade e organizá-la. A experiência mostra que o conhecimento da filosofia ajuda a organizar melhor, em cooperação com outras disciplinas, o estudo de qualquer ciência." "A metafísica quer conhecer o conjunto da realidade - que culmina com o conhecimento da „Causa primeira' de tudo - e mostrar a inter-relação entre os vários campos do saber, evitando o encerramento de cada ciência em si", acrescentou o reitor da „Angelicum'. O tomismo "A Igreja dá destaque à filosofia tomista, não como exclusiva, mas exemplar", recordou o cardeal Grocholewski, em seu discurso, citando a „Fides et Ratio', quando afirma que "nem todas as filosofias são compatíveis com fé e com uma razão adequada à verdade". 9


O cardeal sublinhou também que a lógica na filosofia é necessária na medida em que é uma disciplina estruturante para a razão, desaparecida sobretudo devido ao atual colapso da cultura cristã. Mais filosofia Nas faculdades eclesiásticas de filosofia e nos institutos de filosofia, o primeiro grau dos estudos eclesiásticos dura de 2 a 3 anos. "Isso porque a experiência tem demonstrado que a duração anterior não era suficiente", disse ele. Entre as disciplinas obrigatórias - filosofia do conhecimento, da natureza, do homem e do ser -, sublinha-se a disciplina estrutural: a lógica. Para melhorar a qualidade dos estudos dos futuros sacerdotes, professores e especialistas, portanto, será necessário ter professores devidamente qualificados, com doutorado em filosofia e, na medida do possível, que este título seja eclesiástico. E assim, as faculdades de filosofia precisarão de um mínimo de 7 professores estáveis (Em Observatore Romano 22/3/2011).

I Secção: Ontologia (o ser em si «objectivo») A ontologia: 20 séculos, o período mais longo da história do pensamento ). Limitamos este período ao essencialíssimo visto que o título Escolas e Filósofos supre.

Matéria-forma Potência-acto Essência-existência Substância-acidentes Universal-singular Causa-efeito Criador-criatura Finito-Infinito

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4.

Hilemorfismo

O vocábulo hilemorfo provém da junção dos 2 étimos gregos: hule (matéria), morfos (forma), nele foi posta a teoria filosófica hilemorfismo que afiirma todo o ser cósmico ser um composto de 2 metades unidas metafisicamente em unidades chamadas sínolos. Mestafísica significa além da física porque fisicamente a separação não é possível aliás destruía-se o próprio ser, a separação é feita só pelo espírito cuja natureza não é física e por isso penetra na metafisicidade dos seres. Esboçada por filósofos anteriores, na feição que tem hoje porém entrou na história sob a autoria de Aristóteles. Pelo método da indução e análise partindo da observação dos seres concluiu em a síntese de 2 co-princípios metafísicos mmatéria/forma. Seu mestre na Academia, Platão tinha tentado o mesmo estudo da análise dos seres concluindo no monismo, atribuindo ser unicamente à forma, desprezando o valor da matéria na constituição dos seres; o discípulo enquanto aluno não discrepou do mestre mas quando formou sua própria escola, o Liceu contestou o mestre e criou a teoria duálica da constituição dos seres que a ciência adoptou e até hoje não mais desmentiu. Outras terminologias tais como potencialidade/actualidade, passividade/dinamismo, substância acidentes…embora revestidas de diferentes nuances essencialmente correspondem ao hilemorfismo. Podemos aproveitar mais ou menos de uma teoria histórica mas conhecê-la é sempre útil para fazer dela um juízo valorativo baseado na objectividade em vez de preconceito subjectivo.

Desemvolvimento Platão Na Academia fundada e presidida por Platão que Aristóteles frequentou durante 20 anos como discípulo e depois colaborador, os seres eram concebidos como formas puras modelares criadas pela Mente Suprema no hiperurâneo, copiadas pelos deuses menores, sob a orientação do Pai na matéria inerte jazendo cá em baixo no hipo-urânio, a constituição dos seres portanto consistiria apenas no elemento activo informante da matéria. Hipo-urâneo A matéria não podia ter a mesma origem das formas, seria a maior das contradições dizer que a matéria vinha da Mente Suprema, da mesma fonte que as formas: se não podemos tirar nem pôr a matéria em o nosso espírito, 11


como havíamos de supor que ela existiu na Mente Suprema e veio de lá para o hipo-urâneo? Não podendo por um lado atribuir a existência da matéria à mente suprema, descortinar outra origem por outro lado, supô-la existente sem autor cá em baixo (hipo-urâneo). Aristóteles Aristóteles enquanto fazendo parte da Academia não contrariou o mestre mas quando fundou sua escola rejeitou a teoria monista do mestre substituindo-a peloa dualista, o ser não é somente a forma mas a síntese metafísica matéria/forma, um dueto, um sínulo sendo a matéria tão necessária como a forma para a constituição dos seres cósmicos: a existência das formas separadas no hiperurâneo, trazidas depois por seres mitológicos chamados deuses para a matéria é pura ficção, os seres só existem na junção dos 2 princípios metafísicos (matéria-forma) que podem conceber-se separados mentalmente mas na realidade inseparáveis, quer a matéria quer a forma não são seres mas co-princípios dos seres que só entram na existência unidos numa só a matéria, nunca só a forma. A Mente Suprema, sem precisar dos tais demiurgos intermediários criados pelo mito, infunde na matéria diferentes energias que a transformam de pura passividade em retalhos dinâmicos que começam então a existir como famílias de indivíduos correspondento a espécie à forma, o indivíduo à matéria. Estou a omitir certos pontos obscuros que até hoje a história nunca aclarou: Aristóteles contestava o mestre quanto à separação matéria/forma: uma vez que os seres só entram na existência em forma duálica, conceber as formas existentes separadas em o mundo superior e depois vir de lá para a matéria é anticientífico. Então concebeu as formas latentes na matéria, a Mente Suprema actua essas formas fazendo-as passar de potância a acto, recebendo por isso a designação de Motor Imóvel. A explicação será mais científica que a do mestre…? Platão portanto ficou para a história como autor do monoformismo, Aristóteles do hilemorfismo, teoria prevalente cientificamente embora a Platónica não tenha deixado de ter adeptos através das idades até hoje. Ambas as teorias têm o seu quê de verdade, muito de louvar para quem dá o 1º passo, mas não poderiam vingar se a história não as corrigisse desde a base pois quer uma quer outra estão envoltas em contradição conceptual como demonstraremos no decurso deste nosso estudo. Aristóteles julga evidente que os seres não são meras formas mas duetos, concebe a matéria como co-princípio da constituição dos seres cósmicos, passividade necessária para equilibrar a actividade das formas; os seres não 12


serão apenas a monas activa ou díada passiva Pitagóricas mas a monas/díada em casamento. Para Aristóteles não há demiurgos nem formas lá no hiperurâneo copiadas por eles na matéria; não há formas cósmicas separadas da matéria; o Artífice Supremo, a Mente Suprema faz imediatamente o sínolo juntando matériaforma; cada elemento não existe separado mas sempre em comunidade: tudo o que é da matéria é da forma, tudo o que é da forma é da matéria, a união é de tal modo perfeita que ambos os co-princípios gozam indistintamente as propriedades um do outro, só mentalmente separáveis. Os seres cósmicos devem considerar-se como uma união substancial entre matéria-forma em que a matéria recebe em si as características da forma e a forma aceita as da matéria; deste modo a forma estende-se no espaço, recebe a visibilidade, o que não podia acontecer enquanto residente na Mente Suprema. Os seres são um casamento maravilhoso onde matéria e forma põem em comum as características duma e doutra: a matéria enobrecida com as formas que o espírito lhe imprimiu, a forma com a visibilidade que a matéria lhe deu. Platão/Aristóteles estiveram de acordo em atribuír às formas o qualificativo de espirituais, provenientes do espírito; à matéria a extensividade, ponderabilidade, divisibilidade, visibilidade, passividade, tudo o que não pode provir do pensamento. Estiveram ainda de acordo que haver a forma do ouro, da prata, da macieira, do cão, qualquer ser cósmico sem ser numa matéria é impossível aliás ficariam eternamente na invisibilidade do espírito que as concebe. Pensar Embora a mente humana seja uma faúlha da divina encontra-se porém a infinita distância: a Mente Suprema é Arquétipa, cria os modelos, a humana não tem poder criativo só os lê a partir da matéria/forma existencial. Excede a mente humana fabricar uma forma substancial: ouro, prata, hidrogénio, pereira, coelho, carneiro, mosquito, homem mas entende-as, tem capacidade para captar essas formas na matéria dos seres…! Houve filósofos (alquimistas) que tiveram a grande ideia de fazer ouro mas por mais que filosofassem não encontraram a fórmula mágica para converter pedras em ouro, o que ficou para a história como a anedota da pedra filosofal! Ao espírito humano não pertence o criar e inserir as formas na matéria, sua capacidade, embora maravilhosa, consiste em transpor, ir além da visibilidade, encontrar a composição metafísica matéria/forma, separar mentalmente, guardar a forma positiva na qual está o relacionamento substancial com a passividade da matéria. 13


Não é possível separar fisicamente a matéria da forma, aliás destrói-se o ser: pode tirar-se a forma viva à videira mas nesse a caso a videira morre, perde a forma e não é possível recolocar a forma na videira…! Aristóteles legou à história várias terminologias para exprimir a dualidade dos seres o que se revelou importante na evolução da disciplina. Aristóteles não conheceu senão os seres cósmicos compostos de matéria/frma, o único ser que ele e seu mestre concebiam existir sem matéria era a Mente Suprema. A religião judeo/cristã quando entrou na cultura grega introduziu a existência dos anjos, seres sem corpo, a terminologia potência/acto ajusta-se perfeitamente ao reino angélico reservando-se matéria/forma para o cosmos visível Aprofundando a análise Matéria: sem qualidade, sem actividade, mera passividade, sujeito da forma, mero negativo eléctrico, fotográfico. Forma: acto, energia, distinção, toda a espécie de positividade. Porque toda a actividade vem das formas, sendo a matéria totalmente passiva, tornou-se modo comum de proceder tratar das formas deixando implícita a matéria: os seres são binários mas como a matéria concorda em tudo o que faz a forma, tem unicamente por fim transformar a invisibilidade em visibilidade para ser acessível aos sentidos, basta ao cientista ocupar-se da forma deixando a matéria implicitada: há 100 formas não vivas, 2 milhões de formas vegetativas, milhão e meio de formas animais. Formas dos elementos A ciência posterior a Aristóteles descobriu aproximadamente 100 formas nos elementos sem vida de acordo com a tábua periódica de Mendeleyev, são em geral qualificados de materiais em vez de não vivos mas tal não deve entender-se que os elementos são só matéria (cf o supra referido da impossibilidade de só a matéria ou só a forma existirem). Os elementos materiais embora pareça «contraditio in terminis» são formas espirituais como as vivas pois o ser da forma consiste precisamente em excluir da sua natureza a matéria. A razão especial porque se chamam materiais advém de toda a matéria estar neles, as formas vivas usam a matéria dos elementos, não têm outra. Os mestres gregos atribuíram formas ao ouro, prata, cobre, oxigénio, hidrogénio, carbono, cloro...que embora se revelem pelo peso e pela extensão são por natureza imponderáveis, inextensas, espirituais! Por uma comparação trivial compreendemos a espiritualidade da forma: a forma de Sto António ou qualquer outro santo não acrescenta peso nem 14


extensão ao mármore ou material onde seja esculpida; a imagem na mente do escultor não tem peso nem medida mas quando passa para o mármore adquire peso, extensão, visibilidade, medida porque a matéria do mármore possibilita à forma manifestar suas propriedades fora da mente mas por natureza continua a ser inextensa. A forma esculpida no mármore é acidental, acrescentada ao mármore que já tinha a forma substancial do mármore; as formas ouro, prata, ferro são substanciais inseparáveis aliás esses elementos voltariam ao nada. Usamos o exemplo das formas acidentais para compreendermos a natureza espiritual das substanciais mas não devemos confundir semelhança com realidade, um acréscimo exterior com a forma sem a qual o ser não existiria; para demonstrar o que temos em vista porém, a visibilidade, a comparação é elucidativa, assim como as formas acidentaid adquirem extensão quando saem para fora da mente, assim as substanciais quando postas na matéria fora da Mente Criadora. Os elementos portanto chamam-se materiais mas não são só matéria, têm forma aliás não se distinguiria o ouro da prata, a água do sal…! Os cientistas oferecem prova experimental Os cientistas começaram por ordenar os elementos não vivos segundo o peso atômico mas verificaram que por aí não conseguiam uma classificação distintiva até que vieram ao ponto certo de os classificar pela forma. Grossmann, filósofo actual, diz: só a estrutura dinâmica do elemento define e classifica o elemento, a prata difere do ouro pela estrutura donde derivam as demais propriedades; poderia juntar-se uma montanha de matéria, se lhe faltasse a estrutura ou forma nunca seria ouro ou prata; não é o ser ouro ou ser prata que pesa pois são formas de natureza espiritual; quando se inserem na matéria então sim recebem o peso e demais propriedades que os sentidos detectam. A imagem de Sto António não pesa, esculpida na pedra tem um peso, na madeira, no papel outro peso porque tais acidentes provêm da matéria, não da forma; o que se diz do peso diz-se de tudo o que afecta os sentidos. Os nomes com que a física designa os 100 corpos do quadro de Mendeleyev exprimem as configurações atómicas dos elementos, classificados pela forma estrutural que consiste em o número e disposição dos electrões circundando o núcleo. A intuição metafísica de Aristóteles está assim totalmente confirmada pela experiência científica. Há uma matéria relativa a cada ser ou apenas a matéria absoluta chamada matéria prima? Só conhecemos a matéria como sujeito da forma de cada indivíduo mas por 15


abstracção pode conceber-se uma matéria prima não individualizada. Aristóteles abstraindo das formas individuais encontrou a matéria relativa a cada classe a que chamou sujeito da forma específica; abstraindo de todas as formas dos seres encontrou a matéria prima que designou de Pura Passividade Universal. Pela abstracção é possível portanto encontrar a matéria relativa e a matéria absoluta, Aristóteles assim procedeu e assim designou a matéria como 2 graus de abstracção, pertencerá à ciência investigar se a abstracção corresponde a 2 matérias diferentes ou a uma única. Ao considerarmos os diferentes seres: ouro, prata, vinho, água, oxigénio ficamos persuadidos que a matéria do ouro não pode ser a mesma da água ou do ar, tão díspar se nos apresenta, mas quando aprofundamos a análise, uma vez que a definição vem da forma, nada obsta que os seres sejam feitos de uma só matéria universal: a imagem de Sto António fica melhor no ouro, prata, madeira, mármore, mas poderia espelhar-se na água e reflectir-se no firmamento…! Pertence à linguagem e senso comum pressupor uma matéria a uma forma: o oleiro, o carpinteiro, o ferreiro, o escultor, fundidor, costureiro... todo e qualquer operário antes de se lançar à obra específica do seu metier procura a matéria apropriada, receptora das formas secundárias que tem na sua mente; o filósofo porém, habituado à abstracção, não lhe custa admitir a a matéria como Potência Absoluta qual papel onde desenhados todos os seres o Autor retalhasse e lançasse a voar no Universo…! Substancial/acidental Aristóteles distingue forma substancial e formas acidentais: João nasce com 2 a 3 quilos de peso, cresce e atinge 120 kilos. As mudanças de peso, extensão, figura são acidentais mas a substância e individualidade de João continua, ele é sempre o mesmo João, apenas mudaram a quantidade e qualidade, formas secundárias acrescentadas às constitutivas daí serem classificadas de acidentais. Outro exemplo Fazendo passar uma faísca eléctrica através da água, converte-se em oxigénio-hidrogénio: a mudança da forma é um facto constatável, mas a matéria mudou ou não? O peso ficou o memo, pelo que se conclui que a matéria é a mesma, só mudou a forma: a matéria possibilita a mudança de uma forma substancial a outra, também as mudanças acidentais ficando lá sempre como substrato, como sujeito capaz de receber qualquer forma. Abstracção

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Eu posso ter no meu espírito formas desligadas dos objectos ou simplesmente ligadas a vocábulos como quilos, medo, grande, frio, tolo, sujo... mas para lhes dar conteúdo real tenho de as referir à substância donde as abstraí: Ana tem medo, bacalhau tem peso, Marão grande, João santo, porco sujo...! O espírito pode separar pela abstracção tanto as formas substanciais como acidentais da matéria de todos os seres que enchem o cosmos, ligá-las a vocábulos, conservando-as na memória visual ou auditiva sem ocuparem o mínimo espaço. O nosso espírito tem capacidade para tomar em si as imagens de todos os indivíduos do mundo e as ideias de todas as substâncias conjuntamente; onde houver matéria porém só pode imprimir-se uma forma em sucessão à outra. O nosso espírito tem uma secção para as imagens ou formas individuais sensíveis; outra para as formas substanciais, as ideias Os sentidos captam imagens, a razão ideias; para ter um conhecimento completo é necessário ter sentidos e ter razão porque a razão só capta as ideias dentro das imagens fornecidas pelos sentidos; a inteligência humana vê nas imagens individuais as formas específicas dos seres; se não existirem os sentidos (5 externos-4 internos) a inteligência não pode captar as formas dos seres; a experiência a partir dos que não têm o uso dos sentidos assim o demonstra. Antinomia O conhecimento para ser adequado à realidade tem de conter tudo o que é o ser mas se o espírito só capta as formas sem a matéria, só capta metade, como então conhece o ser?! Este foi o puzzle, o nó górdio que os grandes filósofos gregos Aristóteles/Platão não conseguiram desatar, parecia-lhes impossível que a matéria pudesse sair do espírito uma vez que também não entra nele, isto quanto à Mente Suprema pois assim acontece na humana que é faúlha daquela…! Nova idade, nova cosmovisão Se a ciência tivesse parado a nível grego como definitiva ainda hoje nada sabíamos porque saber metade em o ser que não pode existir como metade era nada saber do existencial. É tão necessário conhecer a origem da matéria como da forma: os sábios gregos postularam a existência das formas a partir de Um Ser todo espírito, é óbvio e razoável, se postulassem a matéria advinda da mesma fonte seria contraditório. Platão fugiu à dificuldade designando por ser apenas o que vinha da Mente Suprema mas as formas vieram para a matéria esta é ser ou se não é o que 17


vieram fazer nela as formas? Aristóteles: a matéria também é ser, deu assim mais um passo na teoria do ser. Mas donde vem a matéria se também, uma vez que é ser tem de procurar-se sua origem tal como se procurou a da matéria? É eterna cá em baixo, respondem unanimemente os 2 pensadores…! Então as formas dos seres precisam de Autoria, a matéria é autora de si mesma? Serão outros pensadores que irão desfazer o impasse. Os seres, quando lhe pusermos os óculos dos Escolásticos idealmente não os vemos em imagens pois as ideias não são imagens, vemos os seres na sua realidade ontológica tal como o sol dissipando as trevas da noite transforma a não visão dos seres em individualidades distintas. A luz da inteligência ilumina os seres de tal modo que se conhece a sua estrutura e pelo facto de conhecer as formas se conhece a matéria; não era possível separar sem constatar a sua distinção, a matéria é conhecida em simultâneo com a forma pois é potência da forma, tal como conhecemos a força do braço pelo lançamento do peso, as trevas pelo facto de conhecer a luz, o negativo pelo facto de conhecer o positivo; o conhecimento só é adequado quando conhece o ser por completo mas pelo facto de conhecermos o positivo conhecemos o negativo. A existência O problema do conhecimento ocupa toda a filosofia moderna e posmoderna, dedicar-lhe-emos toda a 2ª secção deste nosso trabalho, aqui, para defesa do hilemorfismo apontamos a deficiência que trazia dos filósofos gregos e como foi salva pelos Escolásticos, a matéria é conhecida pela oposição à forma, pela dualidade do conhecimento: a matéria a nível dos sentidos, a forma a nível do espírito. Os sentidos externos precisam da extensão para captar as formas mas os internos só precisam do tempo, a memória sensível guarda as imagens em sucessão temporal; o intelecto é inspaciado, intemporal, as ideias, raios luminosos das substâncias são inspaciais, intemporais, não ocupaam qualquer lugar na inteligência porque esta é por natureza inspacial, ninguém sabe onde reside a inteligência pois tem o dom de estar em todas as células do corpo sem ocupar nenhuma: agora está a vir não sei donde para os meus dedos que accionam o teclado do computador…! É óbvio que mediante as 2 faculdades (sentidos/intelecto) conhecemos adequadamente os seres constituídos de matéria/forma, demoraremos longo tempo nesta demonstração em a gnoseologia, aqui só mostramos que é possível a matéria entrar no espírito pelo conhecimento tanto como a forma. 18


Pode, assim como é concebida pelo espírito humano, ser concebida pela Mente Suprema, enigma inultrapassado pelos filósofos gregos. Os seres estão aí compostos desses 2 elementos, os humanos conhecemnos na sua estrutura mas desenhá-los, pô-los na existência da matéria e forma por mais que pensem os filósofos até hoje não conseguiram e podemos profetizar que nunca conseguirão passar à existência uma flor nem tão pouco uma folha de árvore. Torna-se absolutamente necessário postular um autor dos seres: os grandes filósofos Platão Aristóteles postularam-no para as formas, não conseguiram encontrar um autor para a matéria, supuseram-na eterna, sem Autor mas o mérito de terem encontrado o Nous (Mente Suprema) como Autor das formas constituirá para eles através de todos os tempos uma glória imorredoura e incomparável, sem o 1º passo não pode dar-se o 2º. Autor da matéria e forma Escolásticos Os filósofos e cientistas de cultura grega chamam-se helenistas, os judeo/cristãos chamam-se Escolásticos. Do Século I ao XI a Escolástica esteve em incubação. Desde o XI ao XVI tornou-se dominante. Do XVII ao XX a Gnoseologia/Epistemologia dominou a filosofia Actualmente a chamada Neoscolástica retomou a liderança do pensamento. Sem nos referimos a datas e autores, em o mínimo expositório apresentemos como os Escolásticos tiraram a filosofia do impasse grego. O Autor da matéria é o mesmo que o das formas, os 2 elementos provêm da mesma fonte, têm o mesmo Autor. Pelo facto de ser Autor tanto das formas como da matéria o Feitor do mundo, o Artista como lhe chama Platão, o Motor Imóvel como lhe chama Aristóteles sobe da categoria de Feitor para Criador, o que nunca suspeitaram estes 2 corifeus da ciência grega! Esta descoberta sacia plenamente a razão científica pois uma mente ainda que Suprema nunca poderia explicar cabalmente a origem dos seres, só pode conhecer mas não fazer passar à existência, só um Criador a partir do nada da matéria como das formas explica a origem dos seres à razão humana! Onde foram os filósofos cristãos buscar a ciência da Criação? Em sua própria religião, na ciência dos profetas, ensinados pelo próprio Autor dos seres, trasladaram-na para a ciência das Causas Primeiras que afinal estava errada nos alicerces mesmos. Os filósofos cristãos tornaram-se assim os salvadores da filosofia pois o Autor dos seres não podia ser concebido como Mente, a mente só pensa os seres já existentes, não os cria. 19


Daqui em diante, devido à sabedoria dos filósofos cristãos ninguém mais, cientista ou filósofo tem outra concepção do Autor do mundo que Criador. O Autor do mundo criou os seres cósmicos e o homem para conhecer os Planos da Sua Inteligência Infinita não para o confundir com enigmas. Se nós humanos para comunicar as ideias uns aos outros temos de usar a matéria como veículo espacial, o ar onde pomos as ideias transformadas em voz, o divino Criador assim agiu, passou para a matéria em fracções o cosmos, modo adequado ao nosso espírito, a fim de que pudesse captar na sucessão do espaço, tempo, linguagem o conteúdo da Criação, subindo das formas sensíveis às intelectivas, até chegar à fonte, a Mente Arquétipa. No Espírito Criador coincidem matéria e forma: a matéria é uma perspectiva potencial para a forma…! Em Deus matéria-forma coincidem tanto como coincidem tempo e eternidade; o tempo divide-se em passado-presente-futuro quanto a nós mas quanto a Deus é sempre eternidade. Se o tempo em Deus não tem anterioridade nem posterioridade também o espaço não tem extensão, Deus não mede sequer um milímetro, Deus é puro Espírito, onde não há um milímetro de espacialidade, todavia do Seu Espírito sai tanto a matéria espacial como a forma inspacial: tempo-espaço são realidades para nós que não coincidem com a Essência Divina Incorpórea, Inspacial, Transcendente. Devido ao nosso espírito estar no tempo e no corpo detecta os seres na anterioridade e espacialidade, em sucessão de potência-acto, matéria-forma, mas em Deus tudo é sem tempo, sem espaço, a própria potencialidade é Acto, a própria matéria em Deus coincide com a forma, em Deus tudo está em acto, quando passa para o nosso espírito tem de ter antes e depois porque está sujeito à sucessão! Se as ideias do Intelecto Divino nos fossem apresentadas tal qual estão lá, nunca as podíamos captar porque estão todas juntas sem sucessão no espaço e tempo; a matéria põe as ideias em fila indiana, uma após outra, em forma lenta e extensa para as podermos captar, elas que são sem tempo e extensividade no Intelecto Divino! Deste modo entenderemos os seres cósmicos sem enigma, a Criação é uma adaptação sábia à nossa condição de seres duálicos de matéria-forma. O Criador é simplesmente Transcendente por Natureza, todavia Imanente à criatura pelo ser que sem intermédios lhe comunica. O vocábulo ser significa a maior extensão pois estende-se a tudo quanto existe mas ao mesmo tempo significa a menor compreensão pois só indica que está para cá do nada. O vocábulo Ser porém significa a menor extensão, só se refere a um ser, o 20


Um; por outro lado a maior compreensão pois todos os seres com suas características estão em Ele como arquétipos. Na II Parte trataremos exaustivamente do problema do conhecimento, a ontologia voltará a fim de se ver como passa a gnoseologia, mas como é obvio na ontologia já se põe o problema gnóstico pois os gregos e medievais não olharam para o ser apenas na objectividade, procuraram torná-lo subjectivo, passando-o de existente a cognoscente, forneceram-nos vocabulário distinto tal como objectivo e subjectivo, os modernos carregaram mais no aspecto conhecer mas não o descobritam. Os medievais legaram à idade moderna uma nomenclatura sobre o ser como conhecido que nunca mais se tornará absoleta revelando bem quanto lhes interessou passar o ser a conhecer e o conhecer a linguagem Indivíduos: sínolos de matéria-forma. Espécies: forma universal abstraída da individualidade dos sentidos. Reinos: todas as espécies do mesmo género: Reino mineral, dos não vivos, os elementos. Reino vegetal para o primeiro grau da vida, as plantas. Reino sensível para o segundo grau da vida, os animais. Reino intelectivo, o terceiro grau da vida, o racional dos homens. Reino angélico, o quarto grau da vida, totalmente separado da matéria. O Ser Transcendente, Causa dos seres. Eis a nomenclatura cognoscitiva que a medividade nos legou como preciosíssima herança. O divino Criador, quando tirou do nada o espírito humano, podia tê-lo munido ao menos com algumas ideias básicas que fizesse passar directamente do Seu Espírito para o humano, a modo de espécies impressas, as grandes ideias (Platão, Agostinho, Descartes pensam que assim aconteceu). Na linha Aristotélico-Tomista adoptada em geral também pelas ciências das causas próximas Deus criou o espírito vazio (tabula rasa), as ideias estão no campo exterior ao espírito, a matéria; Deus pôs aí as formas que o homem contempla, sem a mínima imposição ao seu livre arbítrio. De acordo com a experiência, o homem precisa de frequentar as escolas 20 anos para aprender o método, o caminho que os pensadores trilharam para encontrar as essências através dos olhos, ouvidos, tacto, cérebro, sensibilidade, racionalidade, trabalho árduo mas compensado pelo encontro do ser como ele está nos objectos e a seguir transpô-lo para a linguagem como melodia. O cientista e filósofo terá como conhecimento individual o que descobriu, conduzido pela mão dos mestres que o precederam: ideias exactas, se diligente; poucas e inexactas se madraço; nenhumas, se apenas vive de imagens! 21


As formas são luz que irradia dos seres para iluminar o caminho humano, tornam-se no espírito coalescentes, dinâmicas, operativas, se o homem depois de as obter como luz as transforma em bem; o espírito humano possui tanto a faculdade de contemplar pelo entendimento, como agir pela vontade. As ideias, como setas luminosas indicam as essências das coisas e as forças contidas na matéria que se oferecem ao homem para as utilizar a bel-prazer em seu proveito: o homem não traz para o seu espírito os seres, traz a luz que o ensina a utilizar todos esses seres, esses maravilhosos robôs em seu proveito. O hilemorfismo e as ciências modernas Os quarks são partículas positivas que exigem as antipartículas negativas tais como os bosões para manter em coesão o átomo com as forças que agem dentro da sua estrutura; o mesmo se dá com o fenómeno electromagnético, perfeito equilíbrio entre magnetismo negativo-positivo; sem o sujeito que mantenha em equilíbrio as forças, o átomo não subsiste; o núcleo positrão necessita do equilíbrio negativo do electrão para que haja a estabilidade do neutrino. A intuição hilemórfica do filósofo tem assim confirmação epistemológica, ontológica, física e histórica científica experimental, o hilemorfismo portanto não é uma antiqualha, em novas terminologias está na ciência de hoje. A modo de Apêndice enumeramos teorias subsequentes, nuances sob outra terminologia, do hilemorfismo.

A / Potência-Acto Potência-acto é uma das terminologias mais usadas até à idade moderna; não obstante nuances de diferenciação, no fundo é a mesma teoria matéria-forma: passar de uma forma a outra chama-se passar de potência a acto. Há a mudança de uma substância noutra; de um acidente noutro pelo que há tantas espécies de passagens de potência a acto como categorias (10). O grão de trigo lança-se à terra, começa o movimento evolutivo até terminar na espiga de 60 grãos; a plenitude do desenvolvimento da potência é o acto, termo do desenvolvimento da potência. uma pevide pode vir a ser um melão mas também pode ser privada do que é ao ser comida pela galinha. Quem dorme não perde a potência de ver, ouvir, comer, entender. O estudante de medicina é um médico em potência. Voltar à potência da matéria Esta expressão provém da teoria de Aristóteles sobre as formas que segundo ele não vieram do hiperurâneo mas da potência da matéria como referimos 22


acima. Segundo esta teoria as formas vivas quando a planta ou animal morrem voltam aonde estavam antes, a potência da matéria, o que quer dizer regressar à condição dos elementos físico/químicos que na verdade é o que acontece quando a vida deixa a planta ou animal. Todo o cosmos se encontra sob a vicissitude de potência-devir-acto; a teoria da potência-acto traduz um facto universal em toda a criação porque tudo o que tem forma pode mudar para outra; os seres angélicos porque não são compostos de matéria-forma não podem corromper-se, mudar de forma substancial mas podem alterar-se qualitativamente devido aos seus actos bons e maus, passam de potência a acto. A passividade da matéria significa o mesmo que potencialidade; julga-se mais conveniente usar matéria-forma só para a corporeidade, embora filósofos como Boaventura apliquem matéria-forma a toda a esfera criada, anjos inclusive, afirmando sem escrúpulo que os anjos têm matéria (potencialidade), não são acto puro, que só pertence a Deus. Na terminologia tradicional filosófico-teológica, quando falamos em matéria sem ulterior clarificação referimo-nos tão-somente ao domínio dos corpos, deste modo evitam-se confusões, aliás o senso comum acha contraditório que sendo o espírito imaterial por natureza, se lhe atribua matéria! Um filósofo como Boaventura não tinha dificuldade em dizer que também os anjos são compostos de matéria-forma pois dava à matéria o sentido de passividade, correspondente a potencialidade, mas poucos dos seus contemporâneos o entenderam correctamente devido à contradição que na linguagem comum o vocábulo envolve. Para nos conformarmos ao senso comum, já que o vocábulo matéria é uma espécie de desafinação no reino dos espíritos, matéria-forma é terminologia que reservamos para o reino dos corpos deixando que potência acto envolva corpos e espíritos.

B / Causa-efeito Um ser em potência precisa doutro em acto que o faça passar da potência em que está para acto; esse ser que opera, efectua a passagem chama-se causa, o que sofre a acção desse ser chama-se efeito. Aristóteles atribuiu à forma não apenas constituência mas eficiência e teleologia. A teoria da causalidade Platónico-Aristotélica foi modificada pelos filósofos cristãos. Os teólogos afirmavam que Deus é causa do ser total da criatura na sua constituição de matéria-forma ou potência-acto, movendo-a de acordo com a sua natureza, livremente o homem, deterministicamente as demais criaturas. 23


Perante esta ciência superior a filosofia achava-se em desacordo, os filósofos cristãos aboliram da filosofia o Feitor dos gregos substituindo-o pelo Criador judeo-cristão, o que daí em diante ficou princípio assente para todas as ciências tanto das causas próximas como das remotas, a Causa Prima não é Feitora, sim para sempre Criadora. C / Substância-acidentes Teoria a que Aristóteles também deu grande desenvolvimento distinguindo 9 acidentes a que chamou entes por participação no ser da substância. Autores modernos como Reinhardt Grossmann dizem que nem Aristóteles nem a tradição Escolástica nos legaram uma prova satisfatória desta distinção. Para este autor, a distinção substância acidentes, matéria-forma seria coincidente, os acidentes seriam meras modificações da forma). Em os subtítulos seguintes daremos mais desenvolvimento a esta questão da divisão dos seres em substância/acidente. D/ Essência-existência A teoria do ser que através das análises matéria/forma, potência/acto, substância/acidentes acabamos de apresentar não faz referência à existência, são modos de pensar o ser, não passam de teorias gnosiológicas. Tomás de Aquino foi alertado por Averróis mas este considerava a existência um mero acidente, pelo que não saía da linha gnosiológica. Aquino coloca o problema da existência como precedente a toda a especulação: «prius est esse» antes de todo o pensamento está a existencialidade, este é o princípio dos princípios, o acto de existir! O homem pode conhecer o ser mas nada pode quanto à sua existência, nem um cabelo da cabeça pode colocar na existência! A existência só se efectuou quando o divino Criador decidiu passar o pensamento para a matéria-forma. Os teólogos dizem que a Criação provém não do Intelecto, mas da Vontade Divina e com razão pois como dissemos supra o Intelecto só pensa, não faz passar à existência. Quando o ser sai da causa para a unidade substancial dos compostos matéria-forma, com os acidentes, então sai para a existência, para o acto de ser. Tomás de Aquino chama à essência possibilidade, à existência a realização da possibilidade pelo acto de ser. Sem o acto Criador a que Aquino chama o acto de ser, sem o acto da causa Criadora unindo matéria-forma no acto de ser do indivíduo, o ser não passa à existência individual. Só em Deus a Existência é coincidente com a Essência “Ipsum Esse Subsistens”. A composição essência-existência (acto de ser, "esse") é a mais profunda de todas e a que melhor convém ao Criacionismo pois só Deus dá à criatura a 24


essência, o que ela é e a põe substancialmente existindo em si mesma pelo acto de ser. E / Arquétipo Tomás de Aquino diz que os seres existem em Deus portanto não como pensados mas totalmente feitos a partir do nada, o que se designa por arquétipos, em si mesmos como criaturas, no intelecto humano como luz irradiada das formas. O Plano estruturante do Universo, concebido na Mente Divina desde a eternidade aguardou até chegar o tempo predefinido para a execução mas existia em pormenor todo completo no Desenho: as criaturas são execuções no tempo do eterno plano divino, vestígios, imagens como disse Boaventura; contracção do infinito no finito como disse Nicolau de Cusa! Em conclusão A teoria hilemórfica da potência-acto, essência-existência, substância-acidentes, coincidência dos opostos e similares pretende explicar o que consegue perceber dos seres para a usar no tempo e como trampolim para a eternidade, não para esgotar o mistério do ser. O que vem a ser existir em Deus como arquétipo? Existir em Deus como Matéria-prima? Existir em Deus como Forma Pura? Como se contraiu o plano todo da criação em tijolos do edifício total? O que é a Criação? O homem nunca saberá criar seres novos; existir é mistério criacionista pertencente exclusivamente ao Criador mas o homem tem como tarefa específica agir em sincronia com Ele, reconhecer que a Criação é um acto de luz para o caminho do homem para o seu Criador, não pode haver maior interesse científico que o de conhecer o modo de sincronizar fazer com criar, fazedor homem, com Criador Deus!

5.

Substância

Substância/acidentes, como advertimos no título anterior trata-se de algo a acrescentar ao hilemorfismo mas pressupõe este. Trata-se ainda de um conceito da autoria de Aristóteles mas enquanto o 25


hilemorfismo foi sempre e em certo modo continua a ser científico a teoria da divisão do ser em substância/acidentes tem história atribulada sempre envolta em polémica aliás iniciada logo entre os 2 grandes filósofos gregos Platão/Aristóteles. Sintetizemos o que a seguir vamos desenvolver A teoria hilemórfica nasceu da discordância entre Platão/Aristóteles acerca da constituição do ser: para aquele o ser era unicamente a forma, para este matéria/forma. Se somos hilemorfistas com Aristóteles vamos ser também substancialistas com ele? Substância encerra vários quiproquós que se prestam à confusão, por substância o que se entende: a forma só, a matéria só, matéria/forma juntas (sínolo), o indivíduo, a espécie? Platão é monista/morfista, o ser é constituído só pela forma, esta é a substância. Aristóteles é dualista/hilemorfista, o ser é constituído por 2 elementos matéria-forma. Substância corresponde à pergunta: em que consiste o ser? Segundo a teoria Platónica é óbvio que sendo constituído só pela forma, substância e ser coincidem em toda a extensão; o problema põe-se apenas para o hilemorfismo de Aristóteles pois sendo constituído por 2 elementos é natural que se pergunte qual deles é essencial, matéria, forma ou as 2 juntas (sínolo)? Se Aristóteles tivesse respondido: substância é a matéria, teria acabado ali a questão, diz um pensador actual (Grossman). Aristóteles respondeu de acordo sua teoria hilemórfica: se o ser é binário também a substância tem de ser binária não pode ser só a forma, muito menos só a matéria, tem de ser constituída pelos 2 elementos, até os seres incorpóreos são duálicos, compostos de potência acto. Para Aristóteles portanto substância e essência do ser correspondem: o ser é um composto metafísico de matéria/forma, assim a substância. Surge um novo questionamento: uma vez que o ser é composto por matéria forma a essência, aquilo que define o ser em 1º lugar é a matéria ou forma? Sem dúvida que a forma. Então o ser acaba por ser definido como Platão o definia, pela forma somente?. Lá se vai a teoria hilemórfica? Aristóteles respondeu: a forma define a espécie, a matéria o individuo. Designou a forma específica como substância 1ª, o sínolo de matéria/forma como substância 2ª. Segundo os historiadores Aristóteles tergiversou andando de lado para lado ora dando mais valor à substância 1ª ora à 2ª. 26


Então o que ficou para a história? Substânci é o que 1º concebemos como base do ser, o que lhe dá estabilidade, o estar em si e não noutro: sub-stare quer dizer estar em baixo, estar na base do ser, o que constitui a essência do ser. Estar em si como sujeito autónomo é o que antes de mais quer dizer substância não obstante alguém pensar o ser com 1 ou 2 elementos segundo o conceito de Platão ou Aristóteles. Parece evidente que o que está em si com autonomia própria é o indivíduo mas quando procuramos o fundamento do indivíduo encontrámo-lo na espécie, talvez a espécie mesma ainda não tenha um fundamento definitivo: o indivíduo cão é incluído na espécie canina e a espécie no género animal…! Surge agora um outro questionamento, o ser não é só constituído por aquilo que o faz estar em si mas por formas secundárias que podem ou não estar na forma que faz o ser estar em si. A essas é que se convencionou, aliás a teoria vinha já de Aristóteles, a Escolástica simplesmente aperfeiçoou e designou por acidentes ou seres do ser. Formas da forma. Os Escolásticos introduziram ainda a distinção «esse in se»/esse a se. Para ser substância basta uma estabilidade temporal «esse in se» mas tal significa imperfeição, há um conceito de substância perfeito designado pela expressão «esse a se». As substâncias materiais têm uma estabilidade temporária, mesmo as espécies são extinguíveis, há já várias que desapareceram do globo, corrompem-se devido à união frágil com a matéria; as espirituais são indestrutíveis, têm estabilidade definitiva, são por isso em certo modo mais substâncias que as materiais mas ainda não atingem o qualificativo «a se» porque não têm em si a razão da sua estabilidade, só o Criador é substância em sentido pleno «in se/a se» pois está em si e por si, não depende de mais ninguém na sua existência ao passo que mesmo as substâncias espirituais dependem para existir do Criador, se ele suspendesse o influxo contínuo da existência regressariam ao nada: em Ele «existimos, vivemos, estamos», confirmará a teologia. O fundamento dos fundamentos, onde repousa definitivamente a estabilidade do ser é a existência que tem de estar absolutamente ligada ao Criador aliás deixava de existir, lá se ia sua substancialidade. Existência Estar em si pertence à definição de substância, mas nenhuma definição inclui a existência; se damos uma definição apenas indicamos a possibilidade de existir. O indivíduo é inefável, é definido pela classe onde é incluído; o indivíduo é constatado, está ali diante dos meus olhos, ao alcance dos meus ouvidos, do 27


meu tacto, do meu cheiro, do meu gosto: a maçã desta macieira, isto é que é existir; o macaco vê, cheira, apalpa, come-a, não a define, constata a sua existência. O homem veio acrescentar à existência do indivíduo a definição de classe e o vocábulo da linguagem, o que em nada afecta a existência do indivíduo que se o homem não o definisse continuava sem classe, sem nome, todavia existente! Os leitores, mesmo os menos habituados a subtilezas, compreendem que a existência antecede toda e qualquer definição pelo espírito, a acção dos sentidos tem de anteceder a do espírito para que este possa dar uma definição da sua autoria! Extingam-se por suposição todas as macieiras da terra, o vocábulo e definição nada sofrem. Suponhamos por outro lado que não havia homens, as plantas e pedras não deixavam de existir ainda que não constatadas pelos sentidos nem definidas como espécies, não tinham nomes nem classes mas existiam. Existir portanto é transcendente a toda a definição, matéria-forma são os elementos definientes os seres cósmicos são substâncias mantidas na permanência ao menos temporal pela Causa 1ª , a existência desta Causa é a que dá estabilidade a todas as substâncias na sua estabilidade temporaria. Por isso Tomás de Aquino introduziu a distinção de essência-existência que Aristóteles/Platão não encontraram. Por essência Aquino entende a definição dos elementos indispensáveis ou essenciais; por existência ou acto de ser, entende a realização dessa definição, que só a causa eficiente e final podem realizar: o acto criador colocou os seres com sua constituição essencial na existência, continua a pô-los aliás caem no nada; existir é sair do nada de si, do tudo da causa Primeira e continuar sem interrupção ligado a Ela. Aristóteles/Platão inferiram porém a necessidade de uma causa existencial ao constatarem que os seres cósmicos são contingentes, deviam forçosamente começar em um ser que não tivesse potência alguma para ser movido por outro; daí o nome de Acto Puro que atribuíram ao Ser dos seres à Causa 1ª. Enquanto não se romper o laço matéria-forma, o ser mundano é tão substância como o anjo e como Deus porque está em si como sujeito autónomo, independente, embora em união frágil, corruptível com o tempo, pode desfazer-se mediante uma força destrutiva maior que a força coesiva. No ser que não tem matéria não há nada para disjuntar pois nunca se juntou, há um simples elemento, a forma, não pode morrer como é o caso do anjo, todavia é contingente, a existência não lhe pertence, veio do nada de si mesmo como os seres materiais. 28


Em o cosmos de matéria/forma há uma única forma que não é temporal por isso mesmo depois de deixar a matéria corporal continua a existir, é por natureza imortal, a alma humana.

6. Acidentes

Aristóteles e na sua sequência a Escolástica além da forma essencial que não pode faltar sob pena do indivíduo ou a espécie desaparecerem da existência admitiram outras formas que podem existir ou não em coexistência com a forma substancial, por isso se chamam acidentes. Em que consiste então a acidentalidade? O acidente altera o ser da substância mas não de tal modo que passe a ser uma outra substância aliás dar-se-ia uma corrupção substancial, a passagem de uma substância a outra acabando um indivíduo e começando outro (generatio unius, corruptio alterius). A mudança da água em vinho, como aconteceu nas bodas de Caná é uma mudança substancial porque a forma básica que mantinha na existência temporal a água cedeu o lugar a outra forma básica, o vinho. A evolução de uma árvore desde o nascimento à morte, a passagem de criança a velho são instâncias de mudança acidental. Em ambos os casos há passagem de potência a acto mas os níveis são diferentes: no primeiro caso substitui-se uma estrutura básica por outra, ao passo que no 2.o só se modifica; no primeiro caso deita-se a casa abaixo e faz-se outra ao passo que no 2.o apenas se conserta a mesma casa. As 9 classes de acidentes que Aristóteles e tradição detectaram na análise do ser são manifestativos ora da matéria ora da forma mas assim como a matéria oferece as suas propriedades à forma e esta as suas à matéria em casamento assim se entrelaçam os acidentes da matéria e da forma. Exemplos de acidentes da matéria: ter metros, gordura, ocupar espaço, estar sentado, deitado, correr, gritar...! Exemplos de acidentes das substâncias espirituais: pensar, querer, ser livre…! Os acidentes são categorias secundárias ou sincategorias. A substância é que verdadeiramente é; o acidente vive do ser da substância. A substância é 29


a raiz da inteligibilidade dos acidentes que por isso são secundários, em relação à substância; sem nomearmos a substância nunca sabemos o significado do acidente. Os acidentes desde Aristóteles até hoje continuam os mesmos Quantidade-qualidade Paixão-acção Lugar-tempo Posição-hábito Relação-(causa-efeito) Descartes e a tradição Escolástica Até a idade moderna esta filosofia manteve-se inalterada, desde então tem sofrido fortes modificações como vamos mostrar em breve síntese. Descartes é tido pelos filósofos modernos e contemporâneos como um representante puro da tradição escolástica mas Grossmann escreveu recentemente todo um tratado demonstrando que Descartes quis introduzir algumas mudanças na Escolástica mantendo todavia inalterada sua estrutura mas tal não aoonteceu porque mexeu na base, a substância fazendo assim sem querer o edifício tombar pela base. A Escolástica chamava à quantidade o acidente próprio dos seres corpóreos, a qualidade o acidente próprio do espírito (qunatidade/qualidade os 2 acidentes próprios). Descartes chama-lhes atributos, terminologia em desacordo com a tradição escolástica que emprega atributo para significar não o acidente mas prisma pelo qual se olha a substância afim de que o nosso espírito limitado possa encarar de diversos ângulos o que não pode abranger só por um; este processo é necessário para a substância divina que não pode ser abarcada de uma vez pelo espírito limitado do homem. Deus é apenas 1 substância mas devido à impossibilidade que o nosso espírito tem de o compreender, divide mentalmente o que é indivisível em si designando-o por múltiplos atributos: omnisciente, omnipotente, infinito, justo, santo…que significam uma e mesma substância simples olhada de diferentes ângulos pelo espírito humano. Duns Scot dirá que o atributo é uma formalidade criada pelo nosso espírito, estratagema para podermos melhor penetrar cognitivamente a substância divina olhando-a de diferentes mirantes sem a dividir na realidade. Descartes definiu a substância corpórea como «res extensa», a substância espiritual como rex ccgitans, a substância divina como «res quae ita est ut 30


nulla alia indigeat ad existendum». Estas definições podem dizer-se escolásticas: os corpos são essencialmente substâncias quantitativas, Descartes definiu como extensas, não altera o sentido quantitativo; substância pensante está bem para o homem mas para o anjo seria melhor inteligente, são as qualidades próprias do espírito, está tudo correcto. Definir Deus como «res» poderia objectar-se mas como a formalidade de substanciea é o estar em si, isso está bem expresso em o existir de tal modo que não precise de nada nem de ninguém para existir, podemos assim concordar que Descartes em estas definições está de acordo com a Escolástica. A tradição escolástica apelidará de acidente próprio dos corpos a quantidade, de acidente próprio dos espíritos a qualidade ou seja em um corpo nunca pode faltar o aspecto quantitativo; nas ausbstâncias espirituais criadas nunca pode faltar qualquer acidente qualificativo. Deus Substância Pura sem acidentes. Para o contemplar o espírito humnano divide-a em atributos que não são acidentes mas pontos de vista para contemplar o que não pode ser abrangido de uma vez pelo intelecto limitado. Descartes sentiu a dificuldade que toda a tradição escolástica teve em distinguir substância e acidente mas com o seu expediente de trocar acidente por atributo em vez de resolver complica! Aos leitores sugerimos que retenham como prático: tudo o que é extensão, medida, peso são acidentes quantitativos próprios dos corpos; tudo o que é qualitativo vem na linha das formas dos corpos ou formas separadas, os espíritos Onde começa a distinção entre substância/acidentes? O autor escolástico Reinhard Grossmann, em seu livro Phenomenology & Existentialism, publicado em 1984 em Londres, diz que toda a tradição escolástica manteve sempre a ambiguidade de distinção entre substância e acidente! Grossmann sugere que se considere substância a matéria, acidentes todas as diferentes formas que pode tomar a matéria Como Grossmann não vemos dificuldade tomar como paralelas totalmente equevalentes as 2 expressões: matéria/forma, substância/acidentes mas alteraríamos a história que como temos vindo a relatar não faz esta correspondência além de que não se vê como a matéria, com exclusão da forma substancial se possa considerar substância: substância quer dizer estar em si, ser autónoma, ora a matéria não é autónoma, não existe sozinha, só coexiste com a forma!? Julgo portanto mais adequada a teoria de Aristóteles, seguida pela tradição subsequente, atribuindo substancialidade ao dueto já que só a matéria ou só 31


a forma não podem estar em si como sujeitos; fora do cosmos, a forma, que então já não é forma pois lá não existe a matéria, é somente espírito com potência e acto, essa forma sim é substância sem matéria. Mantemos portanto o significado de substância tradicional: estar em si em unidades separadas, o que acontece com o indivíduo corpóreo bem como incorpóreo, com o anjo, com Deus. Descartes é um dos filósofos que define Deus como substância, como muito bem sabe Grossmann, especialista na filosofia de Descartes, ora se substância fosse igual a matéria então Deus era a matéria?! Tomás de Aquino define Deus: «Ipsum Esse Subsistens». Se bem o interpreto limita o conseito de substância à criatura, o que me parece muito correcto distinguindo Deus com o vocábulo Subsistência, muito mais apropriado. As substâncias espirituais uma vez criadas não mais deixam de estar em si, de subsistir; as materiais, sujeitas à geração e corrupção, podem desfazer-se, são temporárias mas enquanto são, são substâncias. Grossmann tem dificuldade em saber onde acaba a forma substancial e começa a forma acidental, propõe a matéria para substância, a forma para acidentes; com esse expediente ficará a saber onde está o limite?! Tomemos o ouro: alguém sabe onde acaba a matéria e começa a forma? Não se encontrando melhor solução que a dos grandes filósofos escolásticos, deixar continuar a teoria que nos legaram. A substância está em si, o acidente está na substância. O acidente precisa de receber o ser da substância, como os ramos precisam do tronco. O acidente altera a substância onde tem a raiz, suas atribuições são claras mas se tirarmos os acidentes matamos a substância: sem a cor, lugar, tempo, forma redonda, peso, tamanho o que resta da maçã? Tiro à macieira a terra onde está plantada, a macieira morre, lá se vai a substância com os acidentes todos! Temos dificuldade em distinguir matéria-forma, em distinguir matéria-substância, em distinguir substância-acidentes, concordamos com Grossmann mas nem por isso vamos negar as diferenças: morto o boi, morreu a substância, mas não morreu a matéria, não perdeu nem sequer um grama de peso nem de extensividade; também não morreu a forma porque continua na espécie; não morreram os acidentes porque a cor, o lugar, o tamanho continuam. Temos a semente da árvore (macieira) eis a substância composta de matéria-forma praticamente sem actividade e sem dimensões mas já definida, já é macieira. Mete-se a semente na terra para a forma vital começar a operar; desenvolvem-se simultaneamente as características da matéria (extensividade e derivados) e da forma começando a surgir raiz, 32


erva, tronco, ramos, folhas, flores, frutos; as características da matéria começam a manifestar-se dentro do acidente próprio, a quantidade; as características próprias da forma manifestam-se dentro do acidente próprio, a qualidade. Os acidentes recebem o ser da substância, manifestando-a quantitativa e qualitativa ao mesmo tempo porque recebem da substância a unidade de um único ser. Descartes conservou no homem a dignidade de substância, «res cogitans»; também conservou a dignidade de substância às coisas, «res extensae» mas sua definição de Deus tem algo de ambíguo, Spinosa interpretou Descartes como: só Deus realizando a definição de substância, diz claramente:: há só uma substância, Deus, o homem é um acidente de Deus, as coisas o outro acidente. Parece pequena a distinção «in se»/a se mas é muito importante para distinguir Deus da criatura:. Deus, homem, pedra, são substâncias porque realizam univocamente o «in se» mas não são Deus porque embora sejam «in se», não são «a se». Deus é o único «in se-a se; as coisas, o homem são “in se-a (b) alio. Para ser substância (in se) basta que realize duas causas, os 2 coprincípios matéria-forma; para ser «a se» são necessárias mais 2 causas (eficiente- final), o que só Deus realiza; Spinosa traduziu esse facto dizendo que Deus é a causa de si mesmo “causa sui”. A criatura precisa do «a (b) alio, não pode ser causa de si mesma, é causada por outro, é «ab alio». Esse outro é o Criador, o «a se». O Criador é inseidade-aseidade «inseitas«aseitas»; a criatura é só inseidade «inseitas». Spinosa é tido como o melhor intérprete de Descartes mas Descartes nunca disse que o homem era um acidente, o acidente da qualidade, e o mundo o acidente da quantidade? A substância criada segundo a autêntica tradição escolástica é aquilo que é em si mas não é por si; só Deus é em Si por Si. O acidente nem é em si nem por si, é somente noutro «ineitas, inalietas», não tem ser separado da substância, tem somente o ser da substância como disse Aristóteles: quando nomeamos a substância: mosquito, homem, Himalaia, Oceano...sabemos imediatamente qual a quantidade e qualidades porque o acidente sem a substância não tem ser nem definição, precisa dum indivíduo para mergulhar na vida dele. As 9 classes de acidentes que a tradição escolástica herdou de Aristóteles e nos transmitiu são seres dos seres, só têm ser se estiverem em uma substância. As acções, as paixões, os hábitos, as qualidades, os lugares e tempos só se entendem em relação às substâncias a que se atribuem. Quando digo que estou em Benguela não me refiro a nenhum anjo ou a Deus, só as substâncias corpóreas têm lugar, tempo e espaço. 33


O branco, o preto, o amarelo, o verde, as mil cores do arco-íris não as posso pôr nos anjos, mas também não as posso pôr nelas mesmas e dizer ao verde, amarelo, azul que atravessem a rua; as cores mais maravilhosas têm a triste sina de nunca poderem ser, têm de pedir à laranjeira, flores, paredes para serem brancas, verdes ou amarelas…! Se falo em entender, amar, santificar só posso referir-me a espíritos …! A paternidade (acidente de relação) tem de pôr-se nos progenitores; exige um terceiro ser onde se ponha o outro termo da relação, o filho; pelo acidente da relação pai, mãe, filho são da mesma idade, como substâncias têm idades diferentes! Como nunca posso separar o branco da substância onde estiver, tenho dificuldade em saber o que é o acidente da brancura, vejo porém com meus olhos que a folha muda de cor desde o verde ao vermelho, amarelo apesar da folha (a substância) permanecer a mesma! Descartess e Spinosa conheciam muito bem as definições tradicionais, reparemos como Spinosa define atributo: aquilo que a mente apreende da substância como constitutivo da sua essência»; acidente «aquilo que subsiste em outra coisa, que é pensado por meio dela»; as definições de atributo e de acidente estão perfeitas de acordo com a tradição da escola. A definição de atributo e acidente é que não coincide como fizemos notar. Em Deus, diz Spinosa, pode ser que haja muitos atributos mas só conhecemos 2: o atributo do pensamento e o atributo da extensão! O homem quanto à alma é um modo do atributo da qualidade; o corpo e o mundo são modos do atributo da quantidade! Se a interpretação de Spinosa fora exacta então Descartes ter-se-ia desviado totalmente da tradição mas como é visível a interpretação de Spinosa é adulterada pois Descartes nunca disse que só Deus era substância, o homem e mundo acidentes de Deus…! Spinosa tem erros ainda mais profundos, é o protótipo do panteísmo sendo sua a seguinte frase: sive Deus, sive natura (Deus e natureza são uma e mesma coisa…!) Grossman, embora sugerindo uma definição de substância diferente da tradição é todavia um defensor da substância não apenas em Deus mas nas coisas, como base de estabilidade e estrutura, ainda nos tempos de hoje, acusa Descartes e Leibniz de serem os destrutores da substância indirectamente devido à influência que tiveram nos filósofos modernos e posmodernos. Mónada Leibniz, na sequência de Spinosa admite apenas Deus como única substância; quanto aos atributos e acidentes Leibniz a toda essa 34


nomenclatura substitui-a pela mística palavra mónada que os historiadores classificam de alminha. Há portanto só 2 realidades: Deus (substância) e as mónadas. Grossmann diz que os empiristas na linha de Leibniz e Spinosa, bem como os discípulos de Kant fizeram desaparecer do cosmos a substância ou concedendo-lhe apenas a função de atilho com que são enfeixados os acidentes! A Fenomenologia fez desaparecer definitivamente a coisa em si, começa a filosofia do acidente…! A Mónada de Leibniz O que é a alma humana? O que é o corpo humano? O que é uma pedra? O que é uma cor? O que é ser pai? O que é ser filho? O que é o que se come, bebe? O que é um anjo? O que é o pecado de Adão? Mónada (resposta total). Os filósofos modernos e suas concepções de substância Locke : se há substâncias, não as conhecemos. Berkeley: Deus é substância, se há outras Deus não nos dotou da possibilidade de as conhecer! Hume: quereis saber o que é uma substância? Cor, cheiro, gosto, forma redonda, extensão, peso atados em feixe! Kant: A substância é um conceito limite, pensámo-la como algo indefinido que existe para além das aparências...! Hegel: abolida a substância atinge-se a liberdade do espírito…! Podemos usar terminologias diferentes, como substrato, estrutura, mas não podemos suprimir o estar em si reduzindo tudo ao feixe dos acidentes; podem juntar-se quantas qualidades se quiser, se não houver uma estrutura substancial nada se pode definir, nunca será uma maçã, uma unidade, um ser (Grossmann)! 35


A opinião de um homem sensato como Aristóteles, corrigida com cautela pela Escolástica, vale mais que todas as teorias modernas. Mudar para melhor…mas para o ridículo?!... A escolástica sofreu injúria dos modernos por julgarem que Descartes e Leibniz eram dela autênticos representantes mas está demonstrado por filósofos contemporâneos como Grossmann que Descartes e seu intérprete Spinosa falsificaram a escolástica; os seguintes que se basearam neles olham a Escolástica de viés (bias) para prejuízo da recta filosofia! Perenidade Kant não nega mas se a substância é apenas um conceito limite, tiveram razão seus discípulos em se libertar de tal definição, pior porém foi libertar-se da definição e da realidade transformando a filosofia em puro idealismo o que quer dizer sem qualquer fundamento na realidade, puro logicismo. Kant embora tenha a substância como mera categoria lógica conserva intacta a lista: substância, quantidade, qualidade, relação, acção, paixão, lugar, tempo, hábito, posição. Criou mais duas elevando para 12 mas deixou este veredito sobre elas: A Lógica das categorias de Aristóteles até hoje não foi excedida por nenhuma outra...!

7.

Universais

Nunca pode um mosquito derivar de uma árvore ou uma árvore de um mosquito, a origem ou causa subordina os indivíduos uns aos outros de tal modo que não é possível um indivíduo ser produzido fora dos laços da sua espécie. O indivíduo originado por uma causa gerativa fica pelo facto mesmo integrado em aquele filão onde como elo é originado-originante; recebe a sua origem a partir do superior e comunica a origem ao inferior pelo que qualquer indivíduo é necessariamente originado em a respectiva espécie, possivelmente é também continuador da espécie. João é filho de…trata-se do indivíduo originado e portanto subordinado à sua origem que é seu pai-mãe. Mas João enquanto é filho, necessariamente subordinado, possivelmente é pai subordinando filhos; cada indivíduo é um elo subordinado ao superior, subordinando o inferior. 36


Eu, indivíduo singular, relaciono-me pelo nascimento com a origem (meus progenitores) e deste modo fico incluído na classe homem, fico a ter uma definição comum a todos os indivíduos incluídos na espécie homem. Definir o indivíduo é integrá-lo na espécie. Devia convencionar-se tomar para sujeito existente o indivíduo singular; para predicado a espécie; deste modo todos sabiam que o sujeito era o existente, o indivíduo, a espécie a árvore genealógica em que se insere. O singular é que revela a existencialidade, nunca pode ser predicado, só e sempre sujeito da proposição. As imagens são individuais, as idéias universais: há uma ideia para todos os indivíduos da mesma espécie, uma só ideia para todos os homens mas 6 biliões de imagens, tantas quantas os indivíduos; muitos serem um constitui um autêntico puzzle mas colocar muitas batatas em um saco não constitui puzzle algum!. Uma imagem de Nossa Senhora, por exemplo: no meu espírito, em todos os espíritos humanos e angélicos, em Deus a Senhora é sempre só uma, o espírito traduz a verdade. A multiplicação vem dos sujeitos onde é colocada, quantos sujeitos tantas imagens. O espírito que penetra a realidade vê na raiz, no princípio originante do conhecimento só uma e sempre a mesma Senhora mas a faculdade das imagens vê tantas quantos os sujeitos materiais onde está a imagem. A matéria permite a divisibilidade, a repetividade, a multiplicidade, os sentidos vêem muitas imagens mas o espírito não se engana, vê a realidade que é uma, o espírito é a faculdade da verdade, os sentidos atingem só o exterior, dele formam imagens tantas quantos os indivíduos materiais. Há 2 modos de olhar os seres porque há 2 faculdades do conhecimento: o espírito olha de modo espiritual (a ideia, o universal), a imaginação olha a substância na individualização da matéria, na singularidade dos números, sob o sinal da quantidade...! Costuma colocar-se a existência antes na matéria que na forma mas como fizemos notar no hilemorfismo a existência só começa quando os 2 coprincípios são unidos no sínolo pelo divino Criador; nos anjos a existência não está na matéria porque a não têm mas no acto Criador que lhes limita a existênci precisamente porque começaram. O acto de existir é constatado por nós através de algum ou todos os sentidos, mas dar o existir aos seres…ultrapassa qualquer criatura, mesmo o anjo mais luminoso. Os seres são um produto de Espírito enviando mensagens ao nosso espírito que pode constatar o existente, gerá-lo em imagens, passar as imagens a 37


ideias mas nunca criá-lo existente. Aristóteles porque considera o ser um sínolo, um composto de matéria-forma pode dizer-se que é tanto singularista como universalista mas Platão admitindo só a forma é apenas universalista. O tema dos universais que fez correr tanta tinta na medievidade não é mais que a questão do um e do múltiplo, vemos no ser simultaneamente o um e o múltiplo: pelos sentidos o múltiplo, os indivíduos; pelo espírito a unidade em a espécie. Para o nosso intento de apenas informar sem nos demorar em questiúnculas está dada a informação essencial sobre a ontologia, a constituição do ser. Na história ocupa 20 séculos enquanto as 2 idades sequentes: apenas 5 mas ao considerar como o ser passa a conhecer estas noções voltam todas ao discurso. O ser de que se ocupou a ontologia foi o terráquio, os seres celestes só indirectamente entraram no estudo da ontologia clássico-medieval. O título seguinte revela essa deficiência. Todavia a conclusão perante os seres que tocamos a que chegaram os pensadores clássico-medievais (cf título Im/Trans) não teve progresso nas idades moderno/contemporânea, se o deslocáramos para o fim dessas idades não teríamos que acrescentar fosse o que fosse.

8.

Acima

O urânio « ouranos» para a filosofia grega era a linha separatória entre visível, invisível, acima hiperurâneo, abaixo hipo-urânio, o visível. A terra era o centro do universo «gerocentrismo» porque o conjunto maior, as estrelas da noite e o astro do dia eram luzes para servir a terra, esta a grande senhora…!

Os filósofos gregos, mesmo os maiores (Pitágoras, Platão, Aristóteles) em verdade não legaram à posteridade qualquer conhecimento científico dos mundos superiores, ficaram-se por hipóteses imaginárias, sua filosofia limitou-se aos seres terrenos, o geocentrismo. Este acima visível pertence aos cientistas moderno/contemporâneos devido ao progresso tecnológico da óptica instrumental. Os filósofos gregos portanto admitiam um acima mas todo invisível, o que a partir da terra era visível pertencia à terra, servia a terra. 38


Aristóteles Aristóteles na sua física quis estabelecer cientificamente a ordenação dos astros como fizera para as categorias terrenas; a sua cosmovisão perdurou até aos tempos modernos onde os instrumentos permitiram substituir a fantasia pela realidade visiva. Aristóteles adopta de Pitágoras o sistema geocêntrico: a terra circundada pela lua, planetas, sol que se movem em redor; as estrelas fixas, organizadas em grupos de constelações, cada grupo presidido por um motor inteligente. Este mundo superior às cabeças humanas dependia tal como os seres da terra do Motor Imóvel ou seja da Mente Suprema. Os árabes, os melhores comentadores da Física de Aristóteles na (“Chifa”) interpretam assim Aristóteles: cada grupo de dez esferas (cada constelação) tem uma inteligência a governar esse conjunto; as inteligências estão subordinadas umas às outras mas todas finalmente dependentes do Motor Imóvel que comanda e imprime movimento à série toda. Os árabes distinguem entre os motores estelares que seriam físicos e as inteligências separadas que os comandam, a Inteligência Suprema que fazem coincidir com o Criador. Tomás de Aquino substituiu as inteligências separadas pelos anjos colocando não 1 em cada grupo de 10 mas 1 em cada estrela como governante do mundo em uníssono com o Espírito Supremo. Os árabes adaptaram Aristóteles ao seu sistema criacionista: o Criador imprime movimento à 1.a inteligência, esta a 2.a, assim por diante até à 10.a, responsável pela governação da terra com todo o seu conteúdo. A força existencial pertence unicamente ao Um do qual deriva a existência dos seres criados (Averróis). Os céus visíveis perante a ciência moderna Com o avanço da física os conceitos antigos baseados em meras hipóteses cedem o lugar ao experimento: o centro da Criação passou da terra para o sol, para a galáxia, para…! A ciência passou de geocêntrica, para heliocêntrica, galactocêntrica; hoje os cientistas dizem com humildade: não sabemos onde está o centro do universo, talvez ainda estejamos só nas areias da praia do infinito mar estrelado! O universo não tem fronteiras, o centro está por encontrar; os céus estão cravejados de miríades de corpos gigantes contrastando com o grão de areia, a terra. Os antigos pensavam que as estrelas eram luzes insignificantes e que a lua 39


pousava mesmo sobre as árvores e os tectos, reinava a imaginação como tinha reinado para muitos deuses, mas a ciência veio trocar os seres imaginários pelos reais A terra não é o cosmos, mas também é cosmos, não está desligada do todo, tem relacionamento com as parcelas constituintes do cosmos. A terra tem um satélite, a lua mas ela mesma é satélite, telecomandada pelo sol, numa roda-viva em torno de si mesma e do seu rei que lhe dá as noites, dias, meses, estações, anos, séculos, eclipses; a terra é um joguete do sol…! O sol não está isolado, talvez ande muito mais rapidamente que a terra à volta do seu eixo (a galáxia visível, a via láctea)! Cada vez se conhecem melhor as influências dos mundos superiores em o nosso, mas basta-nos olhar para as que já são conhecidas. A fotossíntese é algo que os antigos não suspeitavam,: aqueles raios longínquos do sol produzem calor e electricidade infinitamente superior a todas as centrais da terra, movem os ventos, as nuvens, as águas, alimentam os animais e plantas. A água é forçada a subir dos mares até às nuvens, aos altos montes, desce aos vales para ser forçada a subir às árvores através da raiz, pelo tronco, ramos até às folhas, onde milhões e triliões de laboratórios (as folhas) fabricam os frutos. Que força não é precisa para elevar da terra até ao cimo das árvores as toneladas de água necessárias para a elaboração dos frutos em todo o globo?! As toneladas de anidrido carbónico que as plantas transformam, as de oxigénio que libertam?! O sol é a gigantesca máquina da terra; sem a eficácia de seus raios não há a evaporação da água do mar, não há nuvens, a terra torna-se outra lua, poeira cósmica, cinzas esvoaçando pelos espaços! Alexandre Magno conquistador da Grécia, disse ao pobre Diógenes que habitava numa barrica: pede-me o que quiseres, eu sou Alexandre. ---Sai, sai depressa da minha frente, não me tires o sol, disse com desdém o filósofo...! O sol é uma estrela insignificante no extremo da via láctea, a galáxia inferior a que chamamos nossa por ser a única que vemos a olho nu; o sol não está imóvel, obedece às estrelas superiores que lhe imprimem os movimentos de translação e rotação em torno de si como ele imprime aos planetas, seus satélites. O observatório de George Hale (USA) conseguiu neste ano de 1998 calcular o dia do sol, correspondente a 27 dias da terra para dar uma volta em torno de si mesmo mas o ano do sol para dar a volta à sua galáxia, corresponde a 200 milhões de anos nossos! O sol está a 149.480.000 km (8 minutos luz) de nós, mas está a 30 anos-luz distante da estrela centro da sua galáxia! A “alfa do centauro”, a estrela mais perto de nós a seguir ao sol está a 4, 5 40


anos-luz. A estrela polar dista de nós 40 anos-luz. A estrela mais alta da via láctea para chegar a nós leva 150 anos-luz. A via láctea (estrada de Santiago) até ao S XVIII era suposta ser o único conjunto de estrelas; quando Messier (1780) descobriu 32 dando a cada galáxia um número de modo que era M31 a galáxia da andrómeda, o mundo científico ficou boquiaberto. Li numa revista científica ultimamente que os astrónomos apontam para 125 biliões de galáxias, será possível…?! (Gerald Kuiper da Universidade de Arizona USA?!). O cientista por vezes sofre da doença da inflação, diz que vê…vê… e é apenas visionário, mas ainda que sejam 10 em vez de 10 mil ou 100 biliões de galáxias, já os Navegadores Portugueses podem calar as sua vaidade de descobridores de novos mundos, suas descobertas não passaram de bocados deste velho e minúsculo satélite...! A distância das galáxias descobertas em 1998 foi calculada em 1 bilião de anos-luz; cada galáxia tem diversificado número de estrelas, podendo atingir 1 ou mais triliões de estrelas! Há galáxias que necessitam de 13 biliões de anos-luz para a sua translação...! É por isso que alguns cientistas julgam que o universo até agora descoberto é a praia; o mar largo está por atingir: os barcos das galáxias vão em correria doida à velocidade da luz em busca do abismo do espaço e desesperam de alcançar o porto terminal pois ainda não saíram da praia…?! O términal do conhecimento pelas últimas causas é quedar-se em admiração no ser (Aristóteles), mas como o conhecimento científico ainda está a sair a barra, o filósofo não pode estabelecer arraiais no presente, tem de seguir para o infinito! Ao visitar o Space Center em Cape Kennedy, Florida, USA, li o versículo da bíblia: «os céus proclamam a glória de Deus “ the heavens proclaim the glory of God” que os astronautas recitaram quando ao regressar da lua extasiados contemplavam sem nuvens o espectáculo dos céus. Os maiores cientistas que a história regista são judeo-cristãos, por isso vêem nas criaturas a grandeza do Deus Criador que eles adoram! Pelo que a ciência nos testemunha até hoje não se descobriu a vida em nenhum desses enormes mundos que estão acima de nós; na hipótese de não haver vida neles, são constituídos apenas pela mistura dos 100 corpos físicos; nesta hipótese as maravilhas da terra são maiores que as de todos estes mundos somados porque na terra existe a vida. Mesmo os elementos de que são compostos esses mundos encontram-se cá em baixo com muito poucas excepções e os cientistas têm muito que admirar sem tirar os pés da terra.

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Os investigadores das pequenas órbitas do átomo encontram no infinitamente pequeno os mesmos motivos de admiração que os astrónomos ao contemplarem as macro-órbitas. Quanto aos fenómenos vitais a admiração exige mais acuidade pois não só há admiráveis fenómenos microscópicos mas há os fenómenos sem medida alguma porque imateriais, a vida é por natureza imaterial sem tamanho nem peso (40 milhões de células diferenciadas no meu, teu estômago, a corrente vital comanda a todas…!). O pensador compreende a inter-relação do micróbio e macróbio, das alturas e profundidades, do visível e invisível, é forçado a admirar a música da criação dia e noite, nos céus, na terra, na profundeza dos infernos como sublimemente cantou o vate (Herculano). O homem comum desconfia da veracidade de tantos milhares de galáxias, biliões de anos-luz, medidas matematicamente tão exactas de corpos tão distantes, da composição tão complexa do átomo, da descoberta de gases no sol e nas estrelas…! O homem comum, de que fazemos parte não deve desconfiar, antes imitar o sábio na sua paciência observadora; em vez de literaturas romanescas, escolha as que o informam dos progressos da ciência, conheça as razões técnicas em que se funda a ciência. Ao telescópio orbital do sábio hodierno chega um raio novo, entre x e z de claridade antes nunca vista, proveniente dessa infinita distância para onde está voltado; esse raio é anúncio de um macro-corpo, encontrou-se uma nova galáxia, o seu raio luminoso vem a correr a 300.000 km por segundo desde o princípio do mundo para te notificar: existo há um bilião de anos-luz, estou velha quando pela primeira vez chego ao teu telescópio! Chegou à lupa radioscópica a irradiação de qualquer átomo de matéria, circula sem cessar desde o princípio do mundo a uma velocidade louca em torno do seu núcleo atómico, está aí um micro-corpo para uma macro admiração! O homem comum não tem a ciência da espectroscopia, não imagina sequer qual o veículo que o sábio usa para ir tão longe, deve acreditar na honestidade do sábio, ouvi-lo, observar o que o rodeia com a curiosidade do cientista. O rádio (raio) é o veículo que transporta o cientista pelo infinito mar do espaço sem sair do seu gabinete; montado num raio infravermelho, ultravioleta, laser, hertziano, quarkeano, qualquer outro de tantos recentemente descobertos, inacessíveis à vista míope do homem comum; o cavaleiro da ciência percorre os espaços infinitos com seu espírito, mais luminoso que esses rádios, traz de lá mensagens de existência de super mundos para o homem comum. Quais surfistas na crista de ondas hertzianas, eléctricas, luminosas, magnéticas, gluónicas, os cientistas percorrem os espaços em velocidades vertiginosas, encontram corpos novos, 42


cores novas ou as mesmas que estão ao seu lado na terra. A cavalo nos raios do sol que nos iluminam e aquecem, os cientistas chegaram ao sol, encontram lá hidrogénio 75% da constituição do sol (com que se pode fazer água!), encontram corpos que não existem na terra, a família hélio. Deste modo, sem suportarem aquela infernal temperatura os cientistas visitaram e conheceram o sol…! As radiações do sol efectuam na terra grandiosas operações, as radiações da lua estão a ser estudadas porque se crêem importantes; as de Vénus, Júpiter, Urano idem. As estrelas mais distantes influenciam a terra, acredita-se que suas radiações ultravioletas operam na terra reacções importantes, carregam a magneticidade dos corpos…! O homem comum desculpando ao cientista a gíria impenetrável da sua terminologia deve juntar-se-lhe na admiração do universo. As descobertas científicas manifestam cada vez mais a interdependência de mundos que pareciam tão distantes e díspares. A unidade, a interdependência, a teledinâmica, a ordem do universo causa hoje como no passado a admiração do sábio: ouço a música das estrelas, dizia Pitágoras há 25 séculos,,,!

Vazios A ciência hodierna ainda não encontrou qualquer ser vivo lá por cima mas custa a crer que estejam vazios corpos tão gigantes; a imaginação precedendo a ciência já lá encontrou há muito lunáticos e marcianos…! O homem não se resigna à matemática da ciência: poderá ser que esses mundos imensos estejam ocos, só para os admirarmos com a nossa miopia? Os astronautas regressaram desiludidos da lua porque nem sequer um micróbio lá encontraram. As sondas de Marte trouxeram a mesma resposta desapontante. Será possível que mundos imensamente grandes a par da micro-significância do nosso estejam mesmo desabitados? Tomás de Aquino aventou que as inteligências separadas são os anjos e para eles é que existem os supra mundos, mas os anjos uma vez que são seres sem matéria que interesse têm em habitar mundos materiais? Uma vez que o homem é o único ser corporal para quem hão-de ser esses mundos senão para ele? O homem está a dar os primeiros passos para a conquista do universo; os avanços da ciência sugerem a possibilidade de dominar as suas condições climatéricas. O homem está portanto ainda às portas do Universo, «magna via restat tibi» falta-lhe percorrer ainda quase todo o caminho, aliás profetizado pelo próprio 43


Cristo: tereis novos céus e novas terras…! Além de todas essas possibilidades temos outra que está prometida: sabemos por revelação segura que todos os homens existentes desde Adão até hoje e os que ainda virão à existência hão-de retomar um corpo diferente algum dia, para quê senão para habitar esses mundos que têm condições climatéricas diferentes do nosso? Para quê então a mania louca do homem actual, perdendo a vida e tirando a do outro por causa de um palmo desta velha terra?! Espírito/vida A corporeidade é imensa, o homem tem ainda muito que andar até conhecer o limite do extenso, até chegar às raias da matéria, mas porque não é só corpo, não se detém aí como morada última; o espírito do homem sobe muito mais acima que seu corpo, pode entrar no mundo dos espíritos, no reino do Espírito. O homem é intérprete e desvelador do cosmos, enquanto o interpreta conhece o seu próprio ser que ultrapassa o cosmos (Heidegger). O homem ultrapassa os espaços, não é apenas «res extensa» é também e primordialmente “res cogitans”; após a extensividade tem de percorrer o mundo da cogitabilidade, o mundo que por enquanto é só dos anjos mas lhe está prometido se para lá dirigir a sua liberdade. Os 2 grandes filósofos gregos admitiam que a forma do homem vem de cima, lá regressa após a viagem terrena. Os judeus, árabes e cristãos afirmam o mesmo com argumentos históricos/teológicos que a forma do homem não morre, regressa ao ponto de partida, o Espírito do qual é apenas um raio de luz, centelha do Nous (Aristóteles). O poder cognoscente do homem não terminará na imensidade física da extensão; depois de percorrer o cosmos hilemórfico tem capacidade para navegar no mundo sem matéria, o mundo das formas vitais e subsistentes sem matéria. As estrelas agora estão acima do homem mas após os corpos novos o homem estará em condições de as habitar com o corpo, de as ultrapassar com o espírito pois é essencialmente espírito, chegará ao Reino do Espírito do qual é uma irradiação e de quem se não pode desligar como os raios do sol não se podem separar do núcleo! A vida humana está numa viagem séria, não a percam os donos com passatempos inúteis, contemplem o cosmos, livro aberto diante de si, estrela de magos que indica a direcção do palácio do Rei, o Ser Invisível a quem ainda que haja 172 biliões de galáxias sobrepostas apenas atingem os pés para escabelo…! Vede os lírios do campo que nada trabalham, o Pai do Céu veste-os de tal 44


modo que nunca Salomão assim se vestiu! O caminho aberto pelos grandes pensadores: Sócrates, Platão, Aristóteles, Agostinho, Aquino…está aberto à concorrência! Procurai a sabedoria e justiça, o reino de Deus em todas as suas criaturas, tudo o que precisais para a vossa vida ser-vos-á dado de graça (Jesus Cristo). Citação De fato, quando se trata de avaliar o desenvolvimento, geralmente considera-se principalmente o progresso tecnológico, reconhecidamente importante. É oportuno recordar o que diz o Papa Bento XVI sobre a técnica, na sua Carta Encíclica sobre o desenvolvimento na caridade e na verdade, no capítulo VI. O Papa sublinha que a técnica é um dado profundamente humano, ligado à autonomia e a liberdade do homem. O Papa se recorda de um princípio importante, na técnica exprime-se e confirma-se o domínio do espírito sobre a matéria. A valorização e importância da técnica se situam na compreensão lúcida do quanto ela é necessária para melhorar as condições de vida, poupar fadigas e reduzir riscos. O Papa Bento XVI, na Carta Encíclica, lembra que na técnica, considerada como obra do gênio pessoal, o homem reconhece-se a si mesmo e realiza a própria humanidade (Arcebispo de Belo Horizonte).

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Imanente/Transcendente

Os filósofos cristãos, os Escolásticos legaram-nos sob este título a finalidade de todas as ciências das causas próximas, ciências das causas supremas filosofia e teologá inclusas: a filosofia da imanência /transcendência indica o caminho certo para através dos seres chegar ao Ser que outra coisa não é senão Deus caminhando para Deus. Deus está em todas as criaturas como caminho, acima de todas porque não é criatura: é impossível o ser ter outro significado senão caminho para o Ser que então já não é caminho mas Fim perante o qual o ser volta ao que é por si mesmo, nada; a passagem do ser para o Ser é o salto do nada para o Total que todavia não é constituído pela soma dos seres, repugna em a Natureza do Criador haver algo de criado. O caminhante do ser para o Ser é o intelecto e coração do homem: «fizestenos para ti, o nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti» (Agostinho). 45


Esta doutrina Escolástica, constitui a centralidade da chamada filosofia perene, a conquista mais preciosa do espírito humano. Significado nominal de imanência, transcendência A terminologia científica ocidental ora pelo invólucro, ora pelo conteúdo é herança latina, temos de remontar às origens para colher dos termos o pleno significado; a língua lusa é das mais fiéis à sua origem, como diz o épico: «com pequena corrupção crê que é a latina». «Manere» … maner. «Imanere»… imaner. «Permanere» … permaner. «Remanere»… remaner. «Prevalere» … prevaler. Os verbos latinos chamados frequentativos inserem a sílaba «sce» antes de «re». «Permanescere…permanecer «Prevalescere…prevalecer «Remanescere»…remanescer. Como é óbvio, a linguagem vulgar deixou cair as partes flexivas que não interessavam à coloquiolidade mas podem sempre usar-se em níveis científicos. Chamamos a atenção somente para o significado das partes flexivas que nos interessam. Manente: o que está aí sempre. Im: dentro. Per: durante. Imanente: o que está dentro. Permanente: o que atravessa o tempo e espaço. «Scindere»: separar «Ab»: «de». «Ad»: «para». «Trans»: além. «Ab, ad scendere: ascender, separar da terra, subir para o céu. «Trans, scendere»: transcender, separar-se da terra, subir acima do céu visível. Assim, como é visível, pelo recurso às origens apreendemos com mais acuracia o significado actual dos termos. Há 2 palavras litúrgicas: Ascensão para significar a subida de Cristo ao Céu, 46


Assunção para significar a subida da Mãe de Jesus e nossa, a Virgem Maria ao céu. «Ab, ad…ascendere» : ascender, Ascensão, separar-se da terra e subir. «Ad..sumere»: assumir, ser tomada (Maria não subiu, foi tomada por Cristo, assumida, Assunta por Ele ao céu). O acontecimento é o mesmo mas com significado diverso: ela não sobe, é subida por Cristo ao Céu; Ele porque é homem mas sem deixar de ser Deus, sobe por si. As 3 preposições «ad, in, trans» ligadas ao mesmo verbo «scindere» significam o modo misterioso como Deus por um lado é tão íntimo à criatura pois tudo quanto é vem de Ele, só Ele e mais ninguém a tirou do nada e constituiu em tudo o que é desde os pés à cabeça; por outro lado, pessoalmente está infinitamente acima das suas criaturas, é impossível que o Criador seja criatura! Fica assim evidenciado quanto ir às origens da linguagem traz significado, liga os pensadores de agora à inteligência das gerações passadas! Imanente A tradição filosófica/teológica ocidental traduz por este particípio o relacionamento de Deus com a criatura: Deus é Senhor total da criatura: se Ele retirasse por um momento o influxo criador, ela regressaria sem mais ao que era antes, o nada de si mesma porque qualquer, até o homem, rei da Criação desde os cabelos às unhas dos pés é obra de Deus, todos os seres que existem não podem escapar a ser incluídos no vocábulo criatura, que significa uma relação entitativa para Deus qualquer que seja sua posição na hierarquia dos seres. Exprime-se por vezes a acção divina de criar pelo verbo fazer, trata-se de um antropomorfismo inevitável em a linguagem corrente mas inadmissível em a linguagem acurada da ciência das últimas causas: fazer é usar o criado enquanto criar é colocar na existência quanto à matéria e forma os seres do cosmos,a partir do nada deles, do tudo da Sabedoria do Criador. A acção é um acidente modificativo do ser já existente, é algo posterior e exterior ao ser, de modo algum pode ser confundido com tirar do nada o ser, a substância, segundo a terminologia Escolástica…! Geração O que há de mais parecido, vulgarmente confundido com criar, é gerar! A análise científica da geração porém define-a como comunicação de algo existente, tal como a vela transmite a luz a outra vela…! A geração é póstuma, estende a criação, dá o que recebeu, não tira do nada o que dá. A acção de criar que homem ou anjo nunca poderá realizar, marca indelével 47


e inconfundível da Inteligência e Poder Divinos é que mereceu da tradição Escolástica o qualificativo de Imanente. Pode ser mal entendida esta designação, a prova é que assim aconteceu na história do pensamento sendo por isso necessário contrapor um outro designativo…! Transcendente Vários pensadores através da história raciocinaram assim: a criatura é toda inteira de Deus, nada dela mesma, então a criatura é Deus… «sive Deus, sive natura» (Spinosa)…! O termo panteísmo (pan=tudo; teísmo= doutrina sobre Deus) afirma isso mesmo que cada ser, cada criatura é Deus…! Deus ser criatura é mais absurdo que o círculo ser quadrado, é uma contradição nos termos, se a criatura é Deus então há tantos deuses quantas as criaturas mas: «se houver 2 Infinitos, não há nenhum porque 1 limita o outro, é impossível haver mais que 1 Deus (Spinosa). Como se compreende que o mesmo filósofo afirme peremptoriamente o pnateísmo e com tanto vigor por outro lado defenda a existência de 1 só Deus? Por vezes o filósofo com o progresso vê melhor, corrige o erro mas sem deitar fora o que dissera antes, fica para a história a contradição…! Mdiante alguns exemplos ainda que triviais mostramos como a Imanência devidamente compreendida em nada se opõe à Transcendência…! Sol Quando desponta o sol, como é linda a rosa da roseira, como é azul o mar, amarela a giesta florida, verde o cedro, cor de vinho o vinho, belos os rostos das filhas de Jerusalém…! O sol fica sempre transcendente, sem descer dá cor e definição aos 3 milhões e meio de espécies mundanas…! A luz do sol tornou-se imanente em cada ser mas o sol não se meteu dentro dos seres, ficou sempre lá nas alturas…! Ford O primeiro carro de nível mundial é da autoria do Sr. Henry Ford que pelo facto mesmo se chamou Ford. O Sr. Ford usando a inteligência desenhou, com a força de vontade mandou ou ele mesmo pôs em execução os diferentes elementos conseguindo fabricar esse instrumento de serventia universal, o automóvel. Ford é a marca imanente à obra, tudo o que é ser carro é Ford mas o Sr. Ford não está lá no meio dos ferros, dentro do motor, o chassis não é feito 48


dos seus ossos…o Sr Ford está todo inteiro fora do carro, é transcendente à obra! Fazedor, feitor, factor, fabricante, construtor A imanência do Sr. Ford consiste em combinar as peças, não as criou, não as tirou do nada nem dos seus intestinos, tirou a forma do carro da sua inteligência, está imanente pela inteligência, transcendente pela pessoa! Deus não é construtor…! Deus está na criatura quanto à totalidade do que ela é pela matéria e forma: a presença da Sabedoria Divina na criatura é de tal ordem que até hoje nenhuma criatura atingiu nem atingirá: as inteligências dos 9 coros de anjos e todos os homens existentes desde o princípio do mundo somadas nunca serão capazes de a partir do nada dar existência a uma folha de árvore, uma areia do mar ou uma gota de água porque as inteligências criadas só têm capacidade para combinar o que existe, nunca para tirar do nada o mais insignificante dos seres. O Sr. Ford pode ter rivais, de facto surgiram muitos outros fabricantes de carros, hoje o mundo está cheio de tantas marcas que se torna necessária uma enciclopédia para lhe conhecer os nomes. O Autor dos 3. 500. 101 Espécies, cada uma com inumeráveis indivíduos não teve, não tem, não terá outro que faça qualquer ser, a Criação põe na criatura uma marca indelével que ninguém pode imitar, é marca inconfundível do CRIADOR. Comparar a Sabedoria do Criador na produção das criaturas com a do produtor de carros claudica mais que colocar a inteligência do asno a par do mais elevado querubim mas como proceder de outro modo?! A manutenção dos seres na existência chamada Providência é a extensão da obra criadora através das gerações, denota infalivelmente a presença Criadora tal como o sol se deixasse de iluminar os seres deixavam de se ver; se Deus por um momento cessasse a Imanência a criatura voltava imediatamente ao nada. Transcendente Ainda que tão misteriosa a Imanência de Deus na criatura de tal modo que nenhuma inteligência humana pode penetrar, a Natureza e Persoalidade do Divino Criador está de tal modo acima da criatura que entre ela e Criador há um abismo intransponível: na Divindade não existe sequer uma célula criada, Deus deixaria de ser Deus se em Ele existisse uma fibra criada: nem tão pouco os céus servem para escabelo dos seus pés, Sua Natureza está tão longe da criatura que ela voando eternamente à mais alta velocidade nunca pode alcançar: há estrelas cuja luz, o mais rápido dos veículos, desde o princípio do mundo vem correndo em direcção a nós para nos dar a notícia da sua existência e ainda não chegou cá, dizemos que o espaço é infinito, 49


então como podemos aplicar o mesmo termo a quem criou os 172 biliões de galáxias cada uma com centenas de biliões de estrelas?! Impossível Se o carro Ford dissesse: quem me fez foi outro carro igual a mim, estava infinitamente errado; assim o homem está infinitamente errado ao afirmar que foi seu pai, outro homem igual a si quem o fez…! Já o dissemos, é erro crasso confundir geração com criação; todo o homem de facto é gerado mas tal não exclui a criação, se não for criado nunca pode ser gerado porque a geração nada cria, só transmite a imanência da natureza, não a transcendência: pai, mãe, filho são pessoas diferentes intimamente relacionadas porque a mesma natureza é imanente nos 3 mas cada pessoa não é, nunca pode ser a outra, transcende a outra…! A Divindade Transcendente é um termo significativo do relacionamento Criador/criatura mas não se aplica à Divindade, Deus não pode transcender a Si mesmo, nessa Natureza Única há comunhão da mesma Natureza e distinção pessoal mas nenhuma Pessoa Divina transcende a outra, nenhuma Pessoa Divina é maior que a outra, entre elas há apenas o relacionamento de Procedência: o Pai é a 1ª Pessoa porque não procede de ninguém, o Filho é 2ª Pessoa porque procede do Pai por via de Inteligêncoa, o Paráclito é 3ª Pessoa porque procede do Pai e do Filho por via de Amor; desde toda a eternidade o Pai está gerando o Filho, Pai e Filho espirando o Paráclito, nesta operação «ad intra» consiste a Vida Divina onde coincide Imanência/Transcendência. A família humana é em toda a Criação o exemplo mais aproximativo da divina: enquanto alguém é pai, alguém é mãe, alguém é filho, 3 pessoas se relacionam pela ordem de origem no mesmo instante em que 1 natureza é partilhada por 3 sempre na mesma ordem: a vida parte do pai para a mãe, termina no filho, nunca pode mudar-se a ordem embora o instante da geração seja o mesmo, a operação natural seja a mesma mas com 3 origens: enquanto alguém é pai, alguém é mãe, alguém é filho! Cada ser humano é criado como semelhança de cada Pessoa de Deus, cada família é constituída como semelhança da família de Deus; cada ser humano é semelhança de Deus ou Deus em semelhança, cada família é divina por semelhança. A Escritura assinala a Imanência do Verbo no seio do Pai e a do Pai no Filho em passagens como as seguintes: «o Pai está em mim e Eu no Pai, quem me vê a mim, vê o Pai». Em a geração divina as pessoas distinguem-se mas não transcendem a natureza divina; em a geração humana as pessoas também se distinguem e transcendem? Julgo que não mas ignoro qual a sá doutrina...! 50


Estilo das Escrituras A Imanência na criatura Os livros sapienciais dizem que a Sabedoria edificou para si uma casa, Deus habita é modo habitual de falar das Escrituras. Paulo usa estilo a invés: em Ele (Criador) vivemos, nos movemos, somos». Pode inferir-se que se somos em Ele, Ele é em nós, segundo a lei da reversibilidade mas o texto, como é claro diz que a criatura está em Ele e não Ele em a criatura. Além da Imanência comum a todas as criaturas que os teólogos chamam presença por Ciência/ Omnipotência, há a derivada da graça, condicional: «se alguém me ama, Eu, Pai e Paráclito viremos, faremos nele morada permanente». Moisés teve de se esconder na caverna para que a Glória de Deus passasse e ele não morresse mas Cristo aproximou Deus do homem com uma condição, o amor. A Criação conduz necessariamente à admissão da existência do Criador mas não revela Sua Natureza, muito menos o mistério da Sua Personalidade. Deus nunca ninguém viu, o Unigénito que embora em carne humana sempre está no seio do Pai é que no-lo anunciou. Conhecer a Deus como Ele é transcende toda a criatura racional ou angélica. O Evangelista João profetiza que no paraíso se verá a Deus na luz do Seu Espírito projectada sobre o nosso! É grande mistério que mesmo revelado custa a crer mas a Deus nada é impossível, assim portanto o devemos crer e desde já agradecer tão incomparável promessa. Os filósofos naturalistas, se verdadeiramente entrassem no âmago da questão filosófica que é o ser atingiam necessariamente a Imanência, Paulo atribui aos poetas gregos o texto «em Ele vivemos, nos movemos e existimos…! A criatura existe, vive, move-se em Deus, se com efeito saisse a porta de Deus ingressava pelo facto mesmo na casa do nada; tudo o que ela é desde o ser ao viver e agir chama por Deus: se todas as criaturas tivessem voz gritariam à uma: sou toda de Deus. Deus às criaturas sob a lei do determinismo Deus não lhes pode dar mais do que têm porque a concha não pode conter o mar mas à criatura livre, em concreto o ser humano Deus pode e quer satisfazer até ao extremo de O ver e em Ele se extasiar por toda a eternidade: «o nosso coração anda inquieto enquanto não descansa em ti» (Agostinho). Na Trindade o Pai pela geração do Filho Unigénito está todo no Filho assim como o Filho no Pai porque toda a natureza do Pai está no Filho bem como toda a natureza do Filho está no Pai; o Pai dá toda a Sua Natureza ao Filho e 51


dá-lhe ser Pessoa também igual mas não lhe pode dar a Sua Pessoa, somente em relacionamento de conhecimento e amor. O mesmo acontece com o Espírito Santo: Pai e Filho comunicam-lhe uma Natureza Pessoal mas não lhe comunicam suas pessoas, relacionam-se os 3 pelo conhecimento e amor! Deus em si mesmo e para si mesmo não é mistério mas para as suas criaturas é mistério no modo como as cria e age nelas sobretudo as que se deixam conduzir pelo Espírito Santo. Deus pode dar a visão mas não dar Sua Natureza à criatura, Deus não cabe em todas as criaturas juntas quanto mais em uma? A imanência na criatura é vestígio, pegada, semelhança (cf. título colunas). A criatura embora não possa conter a Natureza Divina contém a irradiação de sua inteligência, bondade e beleza que a tornam um «deus» no sentido que é de tal modo de Deus que só Ele lhe pode dar a existência e no fim a visão, ela é de Deus em exclusivo! A criatura não pode ser mais divina do que é mas Deus não lhe dá nem podia dar a Sua Natureza, aliás a criatura seria Deus, o que é contraditório. A imensa variedade de criaturas grita em uníssono: meu Criador fizeste-me «um deus» mas só Tu és Deus! Quem como Deus?! Esta espada intelectual de Miguel precipitou 2/3 de anjos rebeldes dos seus tronos celestes metendo-os nos calabouços infernais porque sendo inteligentíssimos pronunciaram a mais tremenda heresia: seremos iguais a Deus colocando o nosso trono acima do Altíssimo...! A alma dá ao corpo tudo o que ele tem pois em ela o abandonando ele deixa de ser corpo humano para ser apenas um punhado de elementos físicoquímicos. O Criador é muito mais imanente à alma que ao corpo mas não deixa de ser imanente ao corpo, é imanente ao homem todo. Se é admirável a imanência do Criador o que diremos do homem novo, recriado à imagem de Seu Filho Encarnado? A Encarnação do Filho de Deus O Filho de Deus fez-se homem. Como conciliar esta antinomia com a impossibilidade de Deus ser criatura? A inteligência subtil dos teólogos cristãos conseguiu ultrapassar a antinomia e legar-nos a seguinte explicação: Natureza Divina e humana ficam sempre inconfundíveis, impossível uma natureza ser a outra mas é possível uma pessoa utilizar 2 naturezas como temos o exemplo na pessoa humana que utiliza o corpo de natureza material e o espírito de natureza incorruptível. A 2ª Pessoa de Deus, o Filho decidiu além da Natureza Divina usar na Sua 52


Pessoa também a humana tornando-se assim Homem-Deus, este é outro grande mistério que se designa de União Hipostática ou seja união de 2 naturezas em a mesma Pessoa Divina, a 2ª. Devido a esta União Hipostática Jesus Cristo é sempre Deus pela Pessoa não obstante ter assumido a natureza humana, mesmo como homem Suas Acções são divinas! Por isso fala aos homens com ciência divina e assegura-lhes a imanência com expressões como a já citada: «Eu, o Pai e Paráclito viremos a quem nos amar, faremos nele morada permanente»; com Sua palavra infalível Cristo afirma imanência de Deus no homem novo» visto que a condição é o conhecimento e amor ou seja ter aceitado o plano da recriação. Há várias outras passagens onde Ele afirma a imanência: «permanecei em mim como os ramos na videira, eu sou a vide, vós os ramos, se alguém não permanecer em mim seca…». «Não sabeis que sois templo de Deus, o Espírito de Deus habita em vós»? Esta imanência porém é diferente da Criação, é dom da graça concedida ao homem novo. O homem está destinado a ter a imanência sobrenatural; se a reconhecer auferirá dela a maior das riquezas: Deus começa desde já a transformá-lo para que chegando ao fim da viagem logo o veja sem necessidade de se purificar em o lugar Purgatório. Estas realidades só acontecem a quem aceita a fé em Jesus Cristo, que veio ter com os homens precisamente para os transformar à Sua Imagem. Kierkegaard tinha razão quando convidou todos os filósofos a dar o salto da fé acreditando que Deus se fez homem…! Portanto o homem se for eminente em todas as ciências, não conhecer e abraçar a doutrina do homem novo, perdeu completamente a sua existência ainda que receba prémios Nobel. Jordano Bruno e Espinosa caíram no panteísmo precisamente devido a afirmarem a imanência sem a transcendência. Há expressões dos Padres que se devem interpretar dentro do antropomorfismo: Deus faz-se tão pequeno que se torna imanente a um micróbio mas por outro lado Deus é tão grande que os céus e milhares de mundos não podem conter! Nicolau de Cusa traduziu esta antinomia pela expressão: Deus é o máximo em Si Mesmo, o mínimo na criatura. A imanência de Deus nas criaturas inferiores tem fim meramente propedêutico: só o homem é espírito; a imanência nas criaturas inferiores é vestígio, esboço no homem velho, espelho no homem novo (S. Boaventura) Deus tem de facto um plano grandioso proposto à liberdade do homem: se aceitar renovar-se será elevado a ponto de ver não em imagem mas como 53


Ele é:: «agora vemos só em enigmas e imagens, depois face a face, como Ele é»! Todo o homem, saiba ou não saiba é fruto daquela decisão divina: «façamos o homem à nossa imagem»; esta imagem é o homem, ele não é outra coisa senão o que o Criador lhe deu tirando-o da Sua inteligência e amor. O homem decaiu, a imagem desfigurou-se mas está lá, se desaparecesse o homem voltaria ao nada. Deus porém decidiu recriar o homem novamente à Sua Imagem, mandou o Filho à terra em carne humana para efectuar a recriação. O problema 1 que se põe ao homem de hoje é o conhecimento e conformação com a sua história: criado/caído/ recriado. Se o homem não a conhecer e não se conformar com ela talvez fosse melhor não ter nascido; é deste modo que o próprio Cristo se exprime: «que importa ganhar o mundo se se perde a si»…! O homem de hoje, mesmo nos países cristãos alheou-se do problema de vida ou de morte da sua existência, por negligência sua mas também por culpa dos pensadores que não o alertam para tal, entretendo-o com teorias que não chegam a parte nenhuma. Os filósofos/teólogos cristãos atingiram o problema e publicaram-no tanto quanto os meios de comunicação dessas idades o permitiram. Os filósofos das idades moderno/contemporâneas pretenderam fazer uma filosofia sem história e sem as aquisições que mediante a influência religiosa foram insertas na ciência das causas supremas. O volumoso pensamento secularizado, restringindo as questões humanas ao espaço temporal do homem trouxe à sociedade actual o despiste da sua história. É necessário incutir na sociedade o pensamento que corresponde à realidade do homem. Os filóso/teólogos de maior nomeada reconheceram e proclamaram Deus como Imanente/ Transcendente As 5 vias de Tomás de Aquino são um exemplo histórico de como da Imanência se vai à Transcendência. Os filósofos Puntel e Kutschera afirmaram num artigo recente que as vias de Aquino continuam válidas, são 5 exemplos que podem resumir-se na via principal a 3ª chamada da contingência. «Se pretendemos explicar os seres contingentes sem o Ser Necessário, então o nada explica o ser». O argumento baseado na contingência dos seres criados demonstra a absoluta necessidade do Ser Transcendente, tudo o que é ser só o Ser o explica porque nenhum ser sabe criar ser, só o Ser. A Summa Contra Gentiles apresenta Deus a nível da inteligência sem qualquer influxo religiosos, só pelo facto de ser criatura de Deus o homem 54


procura conhecer qual o relacionamento com seu Criador. A Summa Theologica é composta para o homem que tem a religião cristã, católica, a única que Deus instituiu para o homem, é portanto ciência para o homem novo. Os filósofos medievais desde Agostinho a Tomás de Aquino salientam bem a diferença entre o homem velho e novo, tema descurado acualmente. Os não letrados A inteligência para ler a Criação não é apanágio do homem que vai à escola mas o homem que se aplica mesmo sem livros ao estudo do ser, usando a razão chega por vezes a resultados que o homem dos livros não atinge. Quando o visitava na sua varanda onde estava doente com o cancro, um homem do povo saiu-se com esta: Sr. Padre, não me explica o que é a nuvem? Pensei que estava a desviar a conversa para temas que não vinham a propósito…! Admiro os montes, as flores, os pássaros, tudo o que vejo da minha varanda, mas a nuvem…vem a voar por aí fora sem motor, os aviões atravessam-na de lado a lado sem encontrar água nenhuma dentro, chega ali ao monte, sem eu mandar descarrega a água mesmo no alto onde eu quero, entra no depósito que é o monte, vem por aí abaixo até à minha torneira para eu beber… e diz o nosso presidente da junta que não há Deus…! Os homens, que em vez de ler nos livros lêem os seres, inferem dos efeitos a Causa: pela imanência elevam-se à Transcendência. Estou certo que Nietzsche, Saramago e similares, se em vez de passarem a vida a escrevinhar e ler papéis olhassem o ser dos campos e dos montes teriam sido filósofos e não bufões, teriam encontrado Deus, tê-lo-iam respeitado como Criador; não escreveriam babuzeiras como escreveu Nietzscte «Deus está morto»….! Sim para quem negligencia reconhecê-lo na imanência pouco a pouco deixa de o reconhecer na Transcendência, então Deus verdadeiramente está morto para ele…! A filosofia é a ciência do homem, sobretudo do letrado, aliás para que servem as letras? Se o analfabeto lê os seres e o letrado não então será como diz Paulo: a ciência humana incha em vez de edificar, o inchaço é doença! Filosofar em seu sentido genuíno é buscar as mais profundas causas dos efeitos fenoménicos constatados à superfície dos seres; não colocando obstáculos voluntários à razão ela procura a luz da verdade que ressalta dos seres tal como a luz do sol os mostra aos olhos.

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Costumam dizer os cientistas que a idade média foi de Deus, a moderna é do homem culto que a Renascença foi rebuscar à Grécia. Tais afirmações são erros científicos, inflacções pois quem hoje, mesmo esses rebuscadores do homm grego, admite a definição de homem que nos legaram, o homem desencarnado, só razão sem sensibilidade nem corpo? A definição que mesmo os mais atrasados dão de homem é a de Porfírio: o homem é animal racional, o corpo também entra na definição de homem, foram portanto os homens cristãos que descobriram o homem, não os gregos, não a renascença. A definição de Porfírio todavia é um início, definições mais perfeitas e completas foram surgindo, a de Boécio excede todas as anteriores incluindo a pessoa na natureza humana; Tomás de Aquino definiu o homem como corpo mas não informado por alma, sim por espírito; se a forma do homem fosse alma morria, só o espírito é por natureza subsistente, é de ser espírito que lhe vem a prerrogativa de ser pessoa livre e responsável. A filosofia medieval acerca do homem altera essencialmente o conceito grego; eis como os slogans científicos estão por vezes longe da verdade, é ciência sem verdade…! A mediedade não modificou só o conceito de homem, elevou o conceito de Deus acima de todos os anteriores (cf. Summa Theologica de Tomás de Aquino); ao conhecerem a Deus melhor que os antecedentes também descobriram caminho mais excelente para Ele: a história do homem começa na Criação mas não termina aí, tão certa como a Criação é a Recriação do homem; se aquela entrou no domínio da ciência universal, assim deve entrar esta pois saber tudo acerca dos seres inferiores e não conhecer a sua história será científico? O nosso tempo é o das ciências humanas mas só o homem velho é escolhido para a ciência do homem pelos cientistas e comunicação social, estão atrasados 2 milénios. Como se pode comparar o homem condenado ao túmulo com o que surge além-túmulo e esta é a proposta que o Criador oferece a todo o que quiser recriar-se; poderá qualquer outra ciência ser de maior interesse humano que esta infalivelmente certa…!? Sem o recto conhecimento da história como pode entender-se a responsabilidade moral, o pecado, o juízo, a punição do mal, o prémio do bem? A busca de Deus está de tal modo impressa no ser humano que mesmo o que se diz ateu busca Deus no seu íntimo, ainda que queira não pode sufocar a voz da sua consciência que sempre lhe diz: estás a mentir, dizes uma coisa aos outros, outra a ti…! A filosofia só se ocupa de provas científicas mas há outras que não sendo científicas buscam todavia Deus pela Imanência à Transcendência. Wittgenstein quis suicidar-se, foi nesse momento que encontrou Deus: em 56


vez de me suicidar, vou voluntário para a guerra, disse; voltou redimido, a fisicalidade acabou, já conseguiu linguagem para traduzir a Deus, até mesmo o Deus Encarnado…! Aqui em África perguntei a nativos não cristãos se sabiam quem era Deus? Kalunga (Grande), Aquele a quem ninguém olha por cima da cabeça…! Na Guiné vi pagãos sem contacto algum com as religiões positivas a colocar malgas com resina a arder, comida e bebida em volta do tronco das grandes árvores: porque o Espírito Grande que manda em nós mediante o nosso espírito habita nas árvores…(assim crêem). Deus é subjectivo, é social, é tribal, é africano, europeu, marciano… ! Kierkegaard: «o meu Deus é subjectivo», é de todos os eus, Deus não pode ficar na atmosfera da dialéctica, deve descer ao coração individual» J J Rousseau: «a consciência da humanidade aperfeiçoar-se-á até nascer nela a consciência de Deus. Quando o jovem aceita espontaneamente a sujeição à religião sente-se livre. Quanto mais observo tanto mais vejo com clareza que é necessário subir pelos efeitos até a causa suprema, a cadeia dos seres criados não pode ser infinita…vejo Deus em todas as suas obras, sinto-o em mim, em torno de mim…mas quando quero contemplá-lo em Sua Natureza, quem realmente é Ele em pessoa, meu espírito fica escuro» (Rousseau). Quem diria que um iluminista poderia falar assim de Deus imanente e transcendente?! Mistica religiosa: «Deus vive imanente em mim, que felicidade, eu o amo como Imanente mas vivo na esperança da Transcendência, de o ver como Ele é (Isabel da Trindade)...! Wittgenstein foi totalmente embebido no positivismo, neopositivismo, materialismo, fisicalismo combatendo até ao paroxismo a metafísica e religião dizendo que não há linguagem científica para tais realidades mas quando voltou da guerra, amadurecido mudou de filosofia e linguagem: a metafísica, a religião e a fé podem exprimir-se em linguagem científica. Antes falava nele a ciência que incha mas ao voltar falava nele a consciência que não mente. A grandeza da Imanência não pode levar à conclusão de que basta, o próprio Rousseau o sentiu: ninguém se contenta com ficar pelo caminho, este só serve para chegar ao termo para onde se dirige; se a obra é tão grandiosa quanto não será o Autor; quanto mais o inventor revela de inteligência no engenho, tanto mais transcende a sua obra. O homem cultiva 360.000 espécies de flores, fica extasiado perante a aparência da sua jardinagem, mas se não vê nelas a imagem do Autor, não caminha para a Flor por Essência à qual conduz a Imanência! 57


O homem está admirado por haver descoberto até este momento científico 172 biliões de galáxias mas se não houvera um Criador para lhes dar a existência, tirando-as ao nada delas mesmas, regulando a translação dos seus movimentos há biliões de anos, como as podia hoje descobrir o homem? Olhando para si mesmo dirá: sou um ser superior a todos esses monstros, o Criador imprimiu sua marca mais em mim que nos astros que enchem o tonel sem fundo do céu; sou feliz por conhecer mas o que sou eu perante o Criador? Sou apenas caminho para Ele, se o Deus Imanente em mim é tão grande como será quando for Transcendente, quando eu o vir face a face!? Se Deus me propõe o plano de o poder ver em Si Mesmo como Transcendente e eu não aceito, não quero sujeitar-me ao processo transformador sou insensato voluntário para minha perdição. Oxalá que todos os homens encham os pulmões para iniciar a viagem da Imanência para a Transcendência, quando lá vão chegar se a luz das galáxias a correr desde o princípio do mundo ainda cá não chegou e o corpo humano é mais lento que a luz? Já se vê que a viagem só pode fazer-se em espírito, o corpo tem mesmo que ficar nos Agramontes…!. A Teologia Dogmática e Mistica são ciências mais perfeitas que a filosofia, preparam melhor o espírito para a viagem da imanência à transcendência, quem tiver coragem, depois da via filosófica percorra o caminho com elas…! Fique a saber todo o cientista porém que a sabedoria só lhe mostra o caminho, há um barco místico que leva em um instante da imanência à pátria da transcendência, a Igreja mediante veículos rápidos que se chamam sacramentos. Se quer verdadeiramente chegar à Transcendência do Transcendente entre na sociedade que tem esses veículos, viage com ela, chega seguramente lá onde o Transcendente é tudo para todos…! Elenco dos nomes que os filósofos da Imanência encontraram para o Transcendente. “Nous”, Eros, Inefável (Platão). “Nous, Noesis Noeseos, Eros”, Ser que atrai os seres pelo Amor (Aristóteles). Um O Maior acima de tudo o que é grande (Plotino) Ipsum Esse Subsistens : Ser Subsistente (Aquino). O Criador de todos os seres a partir do nada pelo que todos são criaturas (Aquino). O Ser acima do qual nada se pode pensar de Maior (Anselmo). 58


O Ser Perfeito que criou o ser imperfeito, o ser pensante que sou eu (Descartes). O Eu donde derivam os eus (Fichte). O Ser onde coincidem todos os opostos (Nicolau de Cusa). O Absoluto que escolheu o “nous” para encarnar (Hegel) O Autor da Lei Moral, O Governador do mundo Moral (Kant). O Ser que pode quanto quer mas escolhe fazer sempre o óptimo (Leibniz). O Oceano de Vida donde emana todo o elan vital (Bergson). A Verdade: se nada há acima da verdade Deus é a Verdade (Agostinho). Deus é Pai Filho Espírito Santo. Fizeste-nos para Ti Senhor, o nosso coração anda inquieto enquanto não vai descansar em Ti (Agostinho). Oração de Tomás de Aquino Ó Espírito de Deus, Verdade e Amor, Inspirai-me sempre: O que devo pensar, O que devo dizer, O que devo esclarecer, Como devo agir, O que devo fazer, Para atingir... A Visão da vossa face na glória. Por Jesus Cristo meu Salvador. Extracto de um auto do S V Invoco o meu Deus para que venha a mim mas que lugar há em mim onde possa habitar Deus? O céu e a terra que Vós criastes e onde me criastes poderão conter-vos? Será porque tudo existe por Vós que faz com que eu vos possa ter em mim? Sim, eu não existiria se Vós não estivésseis em mim! Como posso existir senão em Vós por quem tudo foi criado e por quem tudo subsiste? 59


Para onde me poderei afastar para que de lá venha a mim o meu Deus que disse: a minha presença enche o céu e a terra? Senhor, sei o lugar onde quereis habitar: o meu coração pois o maior pecado é não vos reconhecer em mim e vos amar! Dizei uma palavra a este irrequieto coração para que atraído por ela corra até repousar saciado eternamente na visão da vossa face. (Sto Agostinho Lib I, Opera omnia).

II Secção: Gnoseologia O ser antropomorfizado Medido pelo homem Conhecido pelo homem

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Saber

NB Esta II Parte do nosso trabalho encara o ser sob o aspecto gnoseológico enquanto a I parte encarou o aspecto ontológico. Demos à 1ª parte que retrata a mentalidade da filosofia clássico mediemval um tratamento sucinto, daremos a esta 2ª parte maior desenvolvimento porque se trata da ontovisão do tempo a que pertencemos. O homem é a voz do ser, depende da compreensão do ser que advém a classificação de trivialidade, nobreza, transcendentalidade: para os sensistas trivial, pragmáticos útil, cientistas curioso, filósofos transcendente; foi nesta categoria que Aristóteles colocou o ser…! Como o homem tem por fim conhecer o ser enquanto ser foi-lhe dada uma faúlha do intelecto divino, «nous» para olhar os seres «sub specie aeternitatis» (Spinosa). Esta centelha invisível que não se sabe onde reside pois não tem casa como os sentidos (vista, ouvidos…imaginação) é a riqueza do homem, a partir dela é que se define o homem como espírito incarnado (Tomás de Aquino). Pitágoras, Platão, Sócrates, Aristóteles os coriféus do pensamento grego foram os primeiros a descobrir esta faúlha vinda de cima «turaten» que designaram por diversos cognomes tais como «nous, daimon, noesis, pneuma, logos, dianoia…». A partir da linha revelada, os profetas confirmaram ao escrever no Livro da 60


Sabedoria que o espírito à morte do homem volta à mão de Deus que o tinha infundido no corpo. Qualquer ser é definido pela forma; ora a forma do homem é espírito não obstante estar emoldurada na matéria…! Porque a filosofia usa o «nous» para conhecer os seres é a rainha dos saberes, aufere dos seres a forma em vez da matéria tal como a abelha não come a flor e extrai dela o mel, néctar dos deuses…! Os seres suscitam admiração, êxtase, questionamentos: 360.000 espécies de flores exalando cada uma perfume, beleza pictórica inebriante sem qualquer fim utilitário; bi…tri…ões de mosquitos, moscas, borboletas, formigas, traças, bactérias, micróbios…para quê se não são úteis? Os seres mesmo os que não revelam qualquer serventia têm uma auréola circundante de beleza arrebatadora, onde está desenhado algo do seu Autor, visível porém só ao «nous»: vejo Deus nas asas de uma borboleta (Carolus Lineus). O homem pois devido à forma específica que o define, designada de divina pelos gregos pode auferir dos seres no meio dos quais está projectado os desenhos maravilhosos impressos em a extensividade da matéria e arrebatado cantar: «eu tinha umas asas brancas, asas que um anjo me deu, cansado da materialidade da terra bati-as, voava ao céu»..(Almeida Garret). O «nous» que os filósofos gregos descobriram, capaz de ultrapassar a zona visível dos sentidos, voar ao infinito, será sempre a maior herança científica que a idade clássico medieval legou à moderno/contemporânea. É por ela e com ela que o homem conhece: o que interessa ao homem o ser se o deixa lá quer na mera esfera da utilidade quer na sua transcendência ôntica? O ser só serve o homem quando se humaniza, passa a circular no pensamento, linguagem, intercomunicação humana. O homem é pelo «nous» que detecta nos seres a teleologia, cada ser é causa do outro, todos estão dentro da cadeia causal dominada pela última: «causa causarum est causa finalis» (Aristóteles). O cientista em geral contentas-se com a causa eficiente, a causa próxima, o filósofo porém busca aquela de que dependem material, formal, eficiente, a causa final pois é dela que dependem as demais. Os 2 maiores pensadores gregos (Platão/Aristóteles) constataram que os seres eram produto de um ser inteligente, a inteligência propõe a finalidade antes de unir a matéria e forma pela causa eficiente, isto mesmo denotam os seres, designaram o Autor dos seres por Mente Suprema. A idade clássica descobriu o ser lá, a moderna trouxe-o para cá, para o homem, da onticidade para gnosticidade, tirou-o do cosmos para mim, ti, ele, ela, subjectivou-o, o que não se conhece não suscita qualquer interesse ainda que esteja dentro de mim, ainda que seja eu, se não me conheço não 61


tenho utilidade para mim…! A idade «gnósica/lalógica começa com Descartes, o ser tronou-se harmonia como profetizara Pitágoras, voou da matéria cósmica para o pensamento que o transformou na musicalidade de todas as línguas do mundo. Após as teorias gnósicas e lálicas vamos apresentar então o ser revestido das 3 faces (onto/gnósico/lálica. Como os seres se tornam nossos O modo geral de nos relacionarmos com os seres ambientais é expresso pelo vocábulo conhecer «ignoti nulla cupido», o que não conhecemos não desejamos, não queremos nem tomamos qualquer atitude a seu respeito. Para exprimir a maior penetração possível no conhecimento dos seres usamos intuir. Passar de um conhecimento a outro mediante certas técnicas chama-se raciocinar. Conhecer a nível comum sem distinção de temas chama-se senso comum que também designamos por bom senso porque em geral o senso popular é bom. Para conhecer de modo ordenado apenas um género de fenómenos chamase ciência. Para conhecer o universo dos seres sob o prisma das últimas causas chamase filosofia. Ao conhecimento só do ser humanao chama-se antropologia. Para conhecer o Universo e Autor a partir da informação que deu a seus amigos profetas chama-se teologia. Honrar o Autor do Universo como convém chama-se religião. Conhecimento pela prática que só o próprio pode incorporar em si é arte. Moral é a ciência e prática dos actos humanos. Saber Saber em sentido genérico abrange todos os géneros de conhecimento mas aquele que vai à raiz é que propriamente se chama Sabedoria, é desse que se ocupam as 2 ciências das causas remotas, a filosofia e teologia. A sabedoria envolve por um lado as faculdades mais nobres, as propriamente espirituais (inteligência e vontade) por outro lado, objectivamente o estudo de todo o encadeamento dos seres ate ao Ser. Os filósofos em vez de sabedoria usam geralmente o vocábulo curiosidade derivado de «cur» que quer dizer porquê, expressão equivalente a qual a causa. O cientista não se contenta com a resposta do senso comumm, esta não o sacia nem tão pouco conhecer uma província do ser, quer conhecer todo o reino e verificando que todo é contingente procura a causa de todo o ser 62


principiado, encontra-a no Ser Imprincipiado. Este percurso do espírito até ao Ser Supremo é o caminho da «sabedoria». Os passos para chegar ao seu palácio são lentos e amargos como as raízes das árvores mas os frutos são doces e perenes (O. Marden). Na pátria onde nasceram as ciências e as artes o título de sábio era o mais glorioso que podia atribuir-se a um cidadão, apenas 7 foram laureados com ele, mas o homem que por seu real saber merecia mais que qualquer outro o cognome «sofos», Pitágoras recusou-o, advertindo que é título reservado aos deuses, A pitonisa de Delfos, transmissora dos oráculos dos deuses revelou a um amigo que embora em Atenas muitos se intitulassem sábios, só havia um sábio em Atenas nessa data (Sócrates 467-400). Quando o amigo lhe comunicou o oráculo da pitonisa retorquiu: eu, sábio…!? Só se for porque sei que não sei …! Os verdadeiros sábios como Pitágoras, Sócrates e todos os possuidores da curiosidade de saber nunca se julgam sábios «sofoi», mas eternamente «filosofoi», simples amadores, desejosos, suplicantes, adoradores da Sabedoria. A tendência inata tem de sujeitar-se a técnicas adequadas de selecção que transformem o sincretismo do senso comum onde no mesmo alforge se mete o pão, as botas, a camisa, o casaco, a água, o demónio, inferno, paraíso, Deus…em pomar onde cada árvore produz o seu fruto diferenciado, o jardim científico…! As ciências estão limitadas ao domínio do visível/sensível; a filosofia parte das fronteiras hipo-urânicas para o invisível, o racional, divino; as ciências são físicas, a filosofia é metafísica, arquiciência, meta ciência…! A filosofia de hoje tem em conta as ontovisões dos pensadores que se distinguiram em este ramo no percurso dos seus 25 séculos, bebe as águas do rio onde o jacto da fonte se encontra engrossado dos afluentes...! A Hélade onde nasceram as ciências e a arquiciência deixou transbordar o dinamismo da sua curiosidade científica em direcção ao Ocidente, Alexandria tornou-se em uma certa idade o porto de chegada, fusão, novos direccionamentos da curiosidade helénica: filósofos, religiosos, humanistas aí se refugiaram e puseram em dialéctica suas cosmo visões; daremos desenvolvida cobertura histórica a este facto de enormes consequências para a civilização ocidental. Na mesma área geográfica apareceu um dos maiores génios do pensamento Agostinho que deu à filosofia grega uma totalmente nova ontovisão. A filosofia chamada Ocidental é desde então fundamentalmente outra: se alguém hoje ainda se detiver nos moldes gregos está atrasado 20 séculos 63


reputando actual uma antiqualha. Os filósofos se não armarem suas mentes com as logovisões que se vão sucedendo na história, sua ciência é pergaminho de museu, não mais interessa à existência humana concreta. Quando o telescópio de Hubble foi posto em órbita (1990) descobriu mundos longínquos com que nem sequer sonhava a astronomia pois permaneciam há milénios ocultos sob a luminosidade superficial da Via Lactea. Sem o telescópio que a história vai descobrindo o ser permanece sob o véu (Heidegger). O sábio é o que sabe transformar toda a ciência em antropologia, conhecimento do homem a partir da causa final: no estado actual da ciência a história suplantou a própria filosofia: havendo factos históricos não são precisos argumentos (Hegel). Enquanto a ciência das supremas causas não olhar o ser pelo telescópiohistórico do homem novo está desfasada como a astrofísica antes do telescópio Hubble! A filosofia actual que desconheça o facto singular que tornou antiquadas todas as cosmo/antropovisões gregas está 20 séculos atrás. A filosofia que desconheça o facto cristão é do homem para a morte (Heidegger). O facto cristão, o mais seguro dos factos históricos apresenta um homem totalmente outro: passa pela morte, deixa-a no túmulo enquanto ele voa para o hiperurânio onde a vida não tem fim. Quem hoje fizer filosofia sem o facto que alterou toda a história do homem, corre fora da pista (Reale/Antiseri). O homem novo é mais curioso, mais intuitivo porque seu espírito está afinado pelo Espírito, sem preconceitos de qualquer espécie. O homem novo renasceu pelo espírito, reflecte sem desfiguração o ser, vê nele a marca indelével do Autor; sobe à categoria de sábio porque conduzido pelo Espírito da Sabedoria (Sab 9, 1-11). Os livros vetero testamentários falam de uma figura misteriosa invisível que está em toda a parte e todas as coisas disposta a acompanhar o homem justo, o homem temente a Deus <cum eo ero cuncta componens> (Prov 8, 30). Os livros da Escritura nova concretizam essa figura invisível no Espírito de Deus, o Espírito Criador Imanente à Criação, Imanente ao espírito do homem novo (cf. Título Im/Trans). Os grandes filósofos gregos colocaram Deus como postulado necessário da existência dos seres, não conheciam os livros santos, demonstraram porém que a Sabedoria neles também foi actuante, reconheceram que a razão era faúlha divina, recusaram o título de sábios porque segundo a sua estimativa, só Deus é Sábio. Na economia divina actual a possibilidade de ser homem novo é concedida a 64


todo o homem que vem a este mundo seja judeu ou grego, letrado ou iletrado, filósofo ou não, Deus não faz acepção de pessoas a todo o que deseje ser recriado, Deus o recria. O homem novo tem os mesmos olhos que o velho mas estão purificados, vê mais longe e sobretudo não vê a realidade desfigurada. Os verdadeiros pensadores são vigilantes e laboriosos, ao trabalho exigido para a sua manutenção física sempre juntam o trabalho intelectual porque não só de pão vive o homem: conhecer ao máximo para agir segundo a máxima perfeição possível «sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito». Para saber a fim de agir correcta e eficientemente é preciso estudar, reflectir, meditar, ser filósofo mas sem reducionismos, não se contentar com verdades, não há verdades, há a Verdade (Agostinho). Citação Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte BELO HORIZONTE, sexta-feira, 17 de Junho de 2011 (ZENIT.org) -É simples, mas ao mesmo tempo desafiador, concluir que a vida se conduz e se sustenta de saberes, que são muitos, fonte de poder e até de dominação. Sabido pode ser entendido como aquele que consegue, com palavras e artimanhas, ludibriar os outros. Encontrar saídas e passagens, fazer valer e alcançar seus objectivos e metas, até quando são espúrios e distantes do que se entende e é cidadania. Já vão se tornando obsoletas, e até ridículas, frases ou atitudes que caracterizaram a sagacidade política. Por exemplo, a arte de engambelar os outros, prometer e não cumprir, dar tapinhas nas costas para agradar ou fazer afirmações - até contrárias à própria convicção para garantir simpatias e resultados positivos para pretensões, mesmo distantes, em projectos próprios. É esperançoso ver desmoronar, ainda que lentamente, esse traço antipático na cultura e nas posturas, fruto da projecção que a exigência e o gosto pela transparência e a verdade emolduram na vida social e política. Os saberes científicos alargam horizontes, corrigem descompassos, realimentam a esperança de conquistas e momentos novos mais propícios para a vida. Esses saberes constituem um tesouro que expressa a magnificência da inteligência humana, os engenhos admiráveis das pesquisas que modificam perspectivas. Abrem possibilidades e configuram esperanças e boas condições para o viver humano e tratamentos mais racionais da natureza. 65


Dão iluminação diferente ao sentido da vida, ao grande e crucial desafio da existência. Está localizada na gama complexa e fascinante dos saberes -ciência, política, arte, tecnologia - a referência, sem igual, do saber que é a sabedoria. Vale lembrar o tesouro da Palavra de Deus no livro bíblico da Sabedoria, referência insubstituível e coluna de sustento na vida do Povo de Deus, a compreensão da sabedoria como virtude e companheira. No capítulo oitavo dessa obra, ela é tida como um amor que se procura desde a juventude. Quem quer ser sábio deve buscá-la com a pretensão de fazê-la sua esposa, compreendendo que ela é conhecedora da ciência de Deus, é quem selecciona as obras do Criador, é artífice do bom senso para tudo o que existe. Essa obra recorda que o amor à justiça é fruto da sabedoria, pois ela ensina a temperança e a prudência, a fortaleza - os bens mais úteis na vida. Uma experiência vasta, como capacidade de conhecer o passado e entrever o futuro, conhecendo a subtileza das palavras e as soluções dos enigmas, brota e se mantém pela força da sabedoria. Sem seu saber e o sabor, o bem se compromete, a justiça não é prioridade e a vida fica mais difícil de ser vivida. Perde facilmente o sentido genuíno de dom. Aquele que se empenha, em meio aos embates, para se apropriar de saberes que sustentam o exercício profissional, abre caminhos para ganhos e sustentos da vida, por fazer da sabedoria a sua esposa. “Nela tem uma fiel conselheira para o bem, o conforto nas preocupações e tristezas”, assevera a literatura sapiencial mais genuína do Israel antigo. Por causa dela é que se podem conquistar louvores diante da multidão; o jovem ser honrado pelos anciãos e nos julgamentos se reconhece a perspicácia. De volta para casa, nela se encontra descanso, pois sua companhia não traz amargura e nem tédio a sua convivência, mas sim alegria e contentamento. Os saberes todos têm sua dinâmica e lugar de produção, destinação e atendimento de demandas próprias. O saber da sabedoria não está simplesmente no ar. Ele se produz e se sustenta também em lugares e por dinâmicas. As obras de infra-estrutura em instituições ou cidades são de extrema importância. A queixa mais lamentável é a desfasagem no atendimento de demandas, com retardamentos que esgotam a paciência, com escândalo de sacrifícios impostos, em especial sobre os mais pobres, com a complicação advinda da falta de mão-de-obra especializada e de objectividade e honestidade na gerência de processos.

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As instituições e cidades precisam também de obras, lugares de produção da sabedoria, certamente o tesouro mais precioso para a vida de cada um, que pode amalgamar diferenças e com elas construir tempos novos. Garantir sentido para a vida, que se não for autêntico e profundo não tem gosto e torna-se campo aterrador de batalhas, disputas, desgostos e vaidades que enjaulam a vida entendida e vivida no efémero, que está no que é espectacular. É preciso ter obras como lugar, referência símbolo permanente de beleza e ensinamentos, com dinâmicas que permitam o entendimento, a busca e a súplica, como o sábio Salomão dirigia a Deus, a fonte inesgotável da Sabedoria: “Dá-me a sabedoria que se assenta contigo no teu trono, pois ela tudo conhece e compreende e me guiará com prudência”. Dom Walmor Oliveira de Azevedo é arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

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Sentir

O aparelho congnitivo O conhecimento humano é certamente outro que o angélico e divino porque a alma humana é dependente do corpo residente no espaço e agindo no tempo, todavia é essencialmente um fenómeno espiritual, o seu verdadeiro trono é o íntimo da alma, esse escrínio designado por consciência. Sendo sintético, todavia para termos de sua natureza alguma compreensão temos de proceder analiticamente observando sua elaboração no percurso físico/fisiológico antes de o contemplar em a fase definitiva como fenómeno espiritual propriamente dito. Fase externa, os estímulos O ser humano não está isolado do ambiente onde se processa sua evolução, conhecer consiste no acolhimento em os órgãos adequados sitos na periferia do corpo dos multifacetados seres do cosmos introduzindo-os no circuito de seu dinamismo vital. Cada órgão receptor comporta-se diferentemente para com os sensíveis próprios. Os seres relativos ao gosto entram mesmo no interior do aparelho digestivo, vão fazer parte do metabolismo do corpo: a maçã, pêra, manteiga, pomba, 67


galinha, touro… todas as espécies de frutas e carnes enfim podem ser recebidas e postas ao serviço dos diversos sistemas impactados no corpo. Os sensíveis do olfacto têm diferente entrada no corpo, não pela boca mas pelo nariz, dirigem-se aos pulmões pelos canais laringíacos em vez dos faringíacos. Os sensíveis do tacto detêm-se à superfície da pele, não ultrapassam a periferia do corpo, apresentam suas mensagens a toda a epiderme mas particularmente à das mãos. Mais curioso é o modo como os corpos sonoros e visuais enviam suas mensagens pois mantêm-se à distância enviando aos tímpanos dos ouvidos e órbitas dos olhos ondas específicas portadoras das formas e harmonias…! A artificialidade Hoje há instrumentos que auxiliam, aumentam grandemente a capacidade natural dos sentidos, particularmente olhos e ouvidos: os cegos dispõem hoje de instrumentos cada vez mais sofisticados que lhes aperfeiçoam o tacto a ponto de poderem caminhar sem guias tanto de dia como de noite. Mediante aparelhos conversores de uma espécie de ondas noutra, o som que por natureza é muito mais lento passa a andar tão depressa como a luz (300.000km por segundo). Através de instrumentos podem ver-se e fotografar-se os raios x, g, d que a olho nu nunca poderiam ser vistos. Ver galáxias distantes a biliões de anos luz é o milagre da artificialidade…!

Fase fisiológica. A mensagem que cada estímulo trouxe aos diferentes órgãos dos sentidos não se detém na periferia do corpo, continua o percurso através dos nervos até um órgão central chamado cérebro. O nervo óptico (olhos e seu percurso até ao cérebro é bem conhecido dos fisiólogos. O nervo ótico (ouvidos) é também específico, conduz os sons desde os tímpanos à zona cortical do cérebro. Os nervos dos demais sentidos não são específicos formam uma rede geral espalhada por todas as partes do corpo: o tacto por exemplo ocupa toda a periferia do corpo, exige uma enorme quantidade de nervos para fazer a transmissão ao cérebro e espinal medula. É provável que os nervos do gosto e olfacto sejam também diferenciados, pertence à fisiologia um tal estudo, sem interesse porém para a psicologia. A transferência das impressões dos estímulos desde os órgãos dos sentidos ao cérebro é insensível, na hipótese dos órgãos e nervos funcionarem de modo sadio. A fisiologia tem como campo específico o estudo do corpo, seus diferentes 68


órgãos e respectivo funcionamento: o corpo é qualificado de sadio quando todos os órgãos funcionam normalmente, aliás envia ao sujeito a mensagem de mal estar ou de dor. A sensibilidade manifestada pelo comportamento dos órgãos corporais pertença ao conhecimento: milhares de especialistas, biólogos, médicos estudam há séculos o comportamento do corpo humano e ainda mal o conhecem segundo o testemunho do médico Alexis Carrell. Este conhecimento é tratado como se procedera de objectos exteriores ao corpo, não tem nada de específico diferente do que acontece com os 5 sentidos. Haver também mais do que 5 sentidos, há especialistas que dizem ser possível ir até 50, nada influi no estudo da sensibilidade visto que a natureza do conhecimento sensível não se altera, apenas se exemplifica mais e mais. Limitámo-nos pois ao conhecimento adquirido mediante os órgãos específicos do gosto, olfacto, tacto, ouvido, vista. Há no corpo outras faculdades sensitivas designadas por instintos cuja função além de sensitiva é anunciadora da condição do organismo: a fome na garganta, a sede na língua, a dor em qualquer órgão, as lágrimas na glândula lacrimal, o sono nos olhos, o cansaço nos músculos, a preguiça no lombo, relaxe, stress, neurastenia nos nervos, sensualidade nos órgãos sexuais…! O coração é tido como o órgãos das emoções, paixões, inclinações, estética, vocação profissional…! Separadores Cada sentido é um instrumento analítico, detecta uma propriedade de preferência a outra; um único sentido não seria suficiente para detectar as propriedades de um objecto, é necessário recorrer a um e a outro, por vezes aos 5 a fim de identificar sem ambiguidade o objecto que se pretende conhecer: se esculpirmos um pedaço de madeira e o pintarmos de maçã não distinguiremos a maçã real da artificial usando somente os olhos, o tacto tem de vir em auxílio para nos certificarmos se é realmente maçã ou simulacro; chamam-se sensíveis próprios os que pertencem directamente a um sentido, chamam-se sensíveis comuns os que indirectamente atingem outros sensíveis além do próprio (a maçã pode ser vista, apalpada, gostada, cheirada, até ouvida ao cair da macieira). Condições O cego, surdo, paraplégico não captam os estímulos dirigidos aos seus órgãos devido a deficiências fisiológicas natas ou contraídas nos respectivos órgãos; é possível também perder o olfacto e gosto devido à deterioração da pituitária e glândulas sápidas da língua. Além do funcionamento dos órgãos exteriores é necessário que os veículos 69


de ligação ao cérebro estejam também em perfeito funcionamento: se cortado o nervo óptico ainda que os olhos funcionem perfeitamente a sensação não existe porque não chegou ao centro coordenador, o cérebro. O mesmo se dá quanto aos demais nervos transmissores. Por fim exige-se que o mesmo cérebro funcione normalmente; este é uma central de suma importância pois não se limita a acolher simultaneamente as diferentes espécies de sensações mas ordena-as aliás o conhecimento seria uma baralhada inextrincável. Os antigos chamavam a esta central o sentido comum pois os terminais fisiológicos encontram aí sua raiz unificante. Poderíamos comparar o aparelho sensorial a uma árvore cuja raiz está na periferia do corpo, se ramifica por todo o corpo tendo como central de comando…os psicólogos medievais atribuíam ao cérebro a estimativa, uma espécie de juízo automático sobre o que é bom ou mau para todo o organismo corporal, a psicologia moderna atribui-lhe somente a função centralizadora dos sentidos externos. A essa central bom parar as mensagens dos sentidos periféricos Olhos: detectam as formas e cores dos objectos caso exista o estímulo da luz. Ouvidos: detectam as harmonias das vozes animais e humanas, os ruídos dos objectos mediante as ondas vibratórias do ar circundante. Tacto: detecta a resistência, forma, medida, frio, calor, o seco e molhado dos objectos. Olfacto: detecta o odor perfumado ou nauseabundo dos objectos que emitem tais partículas. Gosto: detecta a qualidade e sapidez dos alimentos. Fase psíquica O fenómeno cognitivo propriamente dito do conhecimento sensível não é de natureza física nem fisiológica. Então? Aqui começa uma série quase infinita de respostas, nenhuma até hoje satisfatória: sabe-se o que não é, não se sabe o que é…! Alma Os gregos atribuíam alma mesmo às plantas porque para eles alma é sinónimo de vida «psique», fenómeno psíquico correspondia a fenómeno vital. Os latinos só atribuem alma aos animais e homem porque para eles alma significa conhecimento ao menos a nível sensível e as plantas não sentem, 70


não têm sequer o grau mínimo de conhecimento. O fenómeno psíquico atravessa o corpo, manifesta-se no corpo mas não é corpóreo…! O que aparece é o corpo havendo cientistas que se quedam por aí, negam haver algo mais: tenho feito inúmeras operações, na ponta do meu bisturi nunca apareceu aquilo a que chamam alma…! (Le Mêtre). Os cientistas materialistas são excepções, os verdadeiros psicólogos são espiritualistas, a alma é de natureza imaterial em contraposição com a natureza material do corpo, mas está nele e manifesta-se nele, até onde vai o corpo e começa a alma? A cultura hebraica/egipcíaca afirma a «monicidade» do homem, não se interessa em distinguir as 2 realidades; a cultura grega porém salienta grandemente a dualidade. Optamos pela teoria dualista porque o fenómeno morte leva-nos a essa conclusão; os livros mais antigos da escritura seguem a teoria monista mas os sapienciais escritos já em ambiente grego já seguem a dual: «o corpo na morte regressa à terra donde foi tirado, o espírito ao Criador donde foi soprado». A morte na verdade é um estado de violência antinatural, como que desfaz o homem pois o corpo logo que a alma o abandona perde toda a organicidade vital ficando reduzido a elementos físico-químicos; a alma sem corpo fica como que maniatada não podendo comunicar humanamente. É indispensável conhecer o estado de queda para compreender o estado deficitário em sentido corporal e espiritual em que se encontra o homem: não é apenas a morte mas a doença e dor físicas, a escuridão da inteligência para descobrir a verdade, a abulia da vontade para a prossecução do bem. A bondade divina como que não podia permitir eternamente este estado antinatural, decidiu a reestruturação do homem (Tomás de Aquino). O nosso estudo tem consciência do estado de ignorância e fraqueza da vontade em que se encontra o homem mas não se abandona ao cepticismo: há já uma luz de esperança acerca da restauração do homem ao ser e agir perfeito segundo sua natureza, pés ao caminho para mediante a luz oferecida dissipar o erro…!

Sensação A sensação não pode explicar-se apenas pelos seus órgãos pois um corpo morto mantém intactos os órgãos e não sente; usa os olhos, ouvidos, mãos, nariz, garganta, cérebro; os órgãos operam mecanicamente como autómatos à sua passagem mas a sensação não é deles nem fica neles, passa automática e inconscientemente através deles e salta para a realidade invisível chamada alma. 71


Se as imagens ficassem nos olhos, colocada a primeira não mais sairia, a 2ª estragaria a 1ª como acontece na câmara fotográfica quando se sobrepõem as imagens. Se o cérebro fosse o estúdio acontecia o mesmo, uma imagem confundia a outra. Em súmula: a sensação pertence à alma, não ao corpo, o processo físicofisiológico é apenas condição «sine qua non» do fenómeno psíquico que reside em essa realidade invisível que a ciência desde os hebreus, egípcios, gregos até hoje designou por psique ou alma. Não há dúvida que cada sentido é especialista em auferir dos objectos uma qualidade mas não se segue que os outros fiquem inactivos pois a experiência mostra que o conhecimento adquirido por todos os sentidos em bom funcionamento é mais perfeito que quando há deficiências em algum deles. A vista identifica a maçã mas com ela estão as sensações provenientes do gosto, tacto, cheiro que desde criança o sujeito vai adquirindo a partir de sentidos diferentes, agora basta a sensação de um sentido para reconstruir o todo. Um só sentido, dificilmente identificará um objecto de modo a não haver erro: há laranjas artificiais em cima da mesa, os olhos julgam-nas verdadeiras, intervindo porém o tacto este sentido desfaz o erro dos olhos. Duas bolas de bilhar absolutamente iguais, se me forem apresentadas isoladamente, nenhum sentido, nem todos juntos distinguem “a” de “b”; quando próximas, distinguem-se pelo espaço/número! A laranjeira tem talvez 1000 laranjas como distingui-las? Terão de usar-se artifícios de numeração, pintura, rótulos, embalagens, colocação no espaço em bicha indiana...! Desfeito porém o artifício pela reunificação das laranjas, volta a indistinção. O número, tacto, vista, ouvido, gosto, cheiro, todos os sentidos são necessários para distinguir as maduras das verdes, as boas das apodrecidas…! Sensação/percepção A sensação é um fenómeno da alma animal mas enquanto há animais com um sentido, outros têm os 5. Os animais chamados primatas têm os 5 sentidos. Se a alma do homem fosse só animal poderia considerar-se inferior em certos aspectos da sensibilidade em comparação com alguns primatas mas…! A alma humana A alma do homem é de natureza essencialmente diferente da animal mesmo dos primatas porque não é dotada somente de sensibilidade como o animal 72


mas de espiritualidade, sua natureza é essencialmente diferente da alma animal: tem as faculdades de inteligência, memória, vontade pelas quais percebe a natureza dos seres deixando os não humanos ainda que dotados de 5 sentidos em certo modo mais agudos que os seus a infinita distância no domínio do conhecimento; o bicho só sente, o homem sente e percebe…! Mesmo quem não seja especialista em psicologia, pelo comportamento nota as diferenças: o cão vê tão bem ou melhor que o homem pereiras, macieiras, videiras, vinho, cerveja, boi, vaca, mosquito, todos os seres extensos no âmbito dos 5 sentidos, porque não lhes dá um nome? Porque ainda que se lhe repita 1000 vezes o nome pereira ele não o aprende? Gosto O cão distingue certamente a sardinha da pescada mas poderá contar um milhão de sardinhas? Mesmo comendo quando chegar à dúzia já está enfastiado, não conta mais! Olfacto Os cães poderão distinguir as flores pelo cheiro? Os cães detectam pelo cheiro os cadáveres soterrados mas a percepção? O homem não tem a sensação aguda do cão mas pela percepção usa a do cão enquanto este tão perfeito na sensação nunca de per si encontraria os cadáveres! A percepção humana não consiste em ter sentidos mais apurados pois os bichos revelam muito mais perfeito poder de sentir que o homem; é uma capacidade essencialmente outra. Os sentidos são necessários para a percepção: cheira este cravo, diz alguém a um cego; outro, outro até 10; notaste alguma diferença? --Não. --Vou dar-te a cheirar outros 10: 1, 2, 3… notaste alguma diferença dos 10 primeiros? --Não. Ora desta 2ª vez o cego foi enganado, cheirou sempre o mesmo cravo pensando ter cheirado 10 diferentes…! A sensação é pois necessária para a percepção mas não é somente tal, é algo de natureza superior que o bicho não tem. O homem não se distingue do bicho por ter uma sensação mais perfeita pois os exemplos abundam em contrário, os bichos têm sentidos mais apurados que o homem. O que faz a superioridade deste em relação ao bicho é a percepção que pertence a uma faculdade mais nobre que nenhum bicho possui, o espírito.

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Ainda outros exemplos para bem acentuar a diferença entre sentir e perceber. O ouvido distingue os objectos sonoros: o sino, a campainha, o violino mas não distinguirá os carros na auto-estrada. Um órgão electrónico pode substituir qualquer instrumento da orquestra; alguém que não seja ajudado da vista fica completamente enganado pensando que ouve um violino ou saxofone; de facto ouve o som deles mas não distingue o instrumento senão ajudado pelos olhos ou tacto. Se o som viera de um gravador ficava outra vez iludido. Torna-se portanto bem patente que os sentidos colaboram, de per si um só ainda que próprio é deficiente mas o que leva a ir buscar outro sentido quando um só tem dificuldade a distinguir? É precisamente a força perceptiva pois o homem não se contenta com sentir, a operação não está completa enquanto não perceber, captar a natureza do objecto que lhe envia tal sensação. Os sentidos não existem isolados entre si nem da faculdade perceptiva: o mesmo indivíduo não tem só ouvido, só olhos, só tacto, cheiro, gosto mas tem os sentidos todos em unidade com a faculdade perceptiva; recorre à faculdade superior para fazer as diferentes análises. Os sentidos não estão separados das faculdades cognoscitivas superiores que os regem, governam, utilizam como servidores; os primatas irracionais são possuidores dos mesmos 5 sentidos que os humanos mas nunca são capazes de conhecer um objecto, falta-lhes a percepção que pertence ao espírito não à alma sensível. O instinto. Há nos animais uma sabedoria que causa mesmo inveja ao homem: a abelha sabe fazer mel, um bicho sabe fazer seda; como é que estes animalejos, que não tâm alma inteligente conseguem fazer o que os humanos dotados de inteligência não conseguem!? O robô Um robot, um computador faz coisas maravilhosas, a boneca dança e canta; alguém mesmo a nível do senso comum dirá que o robot tem inteligência e a boneca sabe dançar? O robô, o computador, a boneca revelam a inteligência de quem fez esses aparelhos, não são eles que têm inteligência mas os autores. Os bichos não têm inteligência nem sabedoria, são robôs, revelam a inteligência de quem os programou, incapazes de modificar o sistema. Ninguém diz que a árvore tem inteligência pois nem sequer tem sentidos; é mais de admirar todavia que a abelha: a laranjeira produz esse sumo muito mais vital que o mel, a videira o néctar que inebria os deuses, a macieira da 74


qual dizem os britânicos «an apple a day keeps the doctor away» …2 milhões e meio de árvores diferentes produzindo cada uma um fruto revelam uma sabedoria extasiante; ninguém todavia atribui inteligência às árvores, a inteligência pertence a quem as desenhou e pôs na existência. Essa criatura que nunca anda por cima mas sempre debaixo dos pés, a terra é a máquina mais extraordinária do mundo: produz toda a espécie de árvores, flores, fármacos dando de comer a 5 biliões de humanos e incontável número de irracionais há milhões de anos…! A terra produz ouro, prata, cem corpos minerais que maravilham e atraem a vaidade humana…! Terá a terra inteligência? O senso comum nunca se lembrou de atribuir inteligência ao pó da terra mas quer o iletrado quer o cientista terão de reconhecer que quem fez este robô era verdadeiramente inteligente…! Agora olha para ti, homem, tu também és um robô, desde os teus milhares de cabelos até às unhas dos pés és um robô; o teu Autor denota muito maior inteligência em te desenhar e colocar na existência que denota nos bichos, as árvores, terra; tu não fazes o que os robôs inferiores fazem, nem sequer és capaz de fazer a folha de uma árvore; apesar desta manifesta incapacidade tu és superior a todas as plantas e bichos juntos; eles não sabem o que fazem e tu não fazes o que eles fazem mas sabes o que eles fazem; aquele que te inventou não te fez robô que actua às cegas sem saber o que faz, não podendo desobedecer 1 milímetro à lei do determinismo; tu não precisas de fazer o que os robôs fazem porque o que os pôs na existência foi única e exclusivamente para trabalharem para ti dispensando-te toda a fadiga que tal produção significa. O Autor dos robôs não te fez robô, colocou em ti uma centelha da Sua Inteligência, tu governas-te por ti mesmo, controlas os demais robôs, redu-los ao teu serviço, és o senhor deles, és deles o comandante em chefe…! O teu Autor não precisa nem quer que trabalhes, os robôs trabalham para ti, quer apenas que o acompanhes conhecendo, admirando e louvando a Sua obra. A filosofia é essa ciência que revela a tua grandeza vendo em ti reflectida a grandeza infinita de Aquele que te fez à Sua Imagem como Inteligente e Livre! A tua grandeza depende de uma realidade invisível que teu Autor pôs dentro de ti, é essa que a filosofia como ponto de partida deve antes de mais estudar, saber consiste em conhecer e manejar convenientemente essa realidade. Espírito Essa realidade invisível pela qual o homem é definido e se distingue dos outros seres chama-se espírito: só o homem é espírito entre os demais seres 75


do cosmos, só ele sabe e tem consciência do seu saber, faz juízos existenciais sobre os seres que se lhe apresentam aos sentidos e por eles às faculdades superiores do espírito. O conhecimento humano não é um fenómeno físico-fisiológico-sensívelinstintivo mas espiritual porque o homem é espírito. Os grandes pensadores gregos não chegaram a uma conclusão certa sobre a natureza do homem, mas os doutores cristãos sim, eis poque a filosofia é progressiva…! Tomás de Aquino em a Suma Teológica expõe a doutrina que se tornou clássica: a alma é um todo inconsútil: quando se separa do corpo leva consigo toda a vida pois é um tecido sem costuras contendo as 3 vidas virtualmente: vegetatividade-sensibilidade-intelectualidade inseparáveis; a alma é toda uma só vida simples e indecomponível, contendo a parte superior eminentemente as propriedades dos graus inferiores. A alma humana que os gregos qualificaram de racional não é apenas forma do corpo, transcende: segundo K Rahner a Tomás de Aquino se deve a demonstração da transcendência da alma humana; o homem não tem uma alma animal mas espiritual. Prova da espiritualidade Se a alma pode viver sem corpo após a morte, então não é uma simples forma da matéria, viver sem corpo é apanágio dos espíritos, a alma humana toda inteira é espírito porque subsiste inteira com todas as virtualidades sem precisar da matéria que abandonou ao sair do corpo. Argumento: se a alma é espírito saída do corpo também é quando no corpo, não podia ser uma coisa no corpo, outra fora do corpo mudando de natureza; portanto a alma não é apenas forma do corpo, desapareceria com o corpo mas transcende a natureza de forma, subsiste sem corpo, é autónoma mesmo sem o corpo. O homem tendo forma espiritual define-se pela forma espiritual, logo o homem é espírito! Cesse a definição anticientífica de animal que lhe deu Porfírio: se não queremos chamar-lhe espírito porque por espírito entendemos aqueles seres que nunca tiveram nem terão corpo chamemos-lhe espiritual porque sua forma é espírito! A doutrina de Aquino tornada comum diz-nos pois que a vegetatividade, animalidade não existem no homem, o homem é só espiritualidade mas na simplicidade do espírito estão em grau mais perfeito as virtudes das formas inferiores. O espírito é subsistente por natureza, os seres definem-se pela forma o homem não tem forma animal mas espiritual, o homem é espírito, esta é a sua real definição. 76


A alma do homem porque é espírito faz do homem um ser transcendente entre os demais do cosmos: todos eles não ultrapassam o cosmos da matéria, o homem transita para o mundo dos espíritos onde não se morre porque o espírito é por natureza imortal. Tomás de Aquino diz que o homem é em certo modo todas as coisas «quaedamodo omnia» porque pelo conhecimento toma e usa todos os seres inferiores de acordo com suas propriedades. A capacidade do espírito humano para conhecer e agir em consequência, uma vez que não restrita ao reino da matéria é a bem dizer ilimitada: começa em «tabula rasa», passa a vida a conhecer e nunca se enche; designam-se as capacidades do espírito humano por vários nomes: entender, perceber, abstrair, pensar, relacionar, raciocinar, compreender, julgar, argumentar, intuir, adquirir hábitos designados por virtudes tais como prudência, justiça, fortaleza, temperança, contemplação, meditação, admiração, êxtase, capacidade até para receber uma super natureza que os teólogos ensinados pela revelação chamam graça que acrescenta novas faculdades: fé, esperança, caridade, carismas concedidas ao homem novo para ser conduzido pelos espíritos superiores, o Espírito de Deus em Pessoa…! Teresa de Jesus compara a alma humana a uma harpa de mil cordas onde o Espírito Santo de Deus toca sinfonias sempre novas a começar no tempo e continuar na eternidade. A ciência psicológica ter atingido esta culminância de definição do homem como espírito traz consigo consequências antropológicas inestimáveis: a nossa filosofia vai explorar essa mina com a qual nenhuma outra se compara: «o que dará o homem em troca da sua alma»?! Alma que agora sabemos é espírito, suas acções, sobretudo as do relacionamento com os outros homens e com seu Autor transitam do tempo para a eternidade. A revelação cristã confirma ai afirmar-nos com segurança que após a morte as almas vão imediatamente à presença do seu Criador e são julgadas segundo o seu procedimento. Devido à situação decadente em que se encontra, o espírito humano tem dificuldade em entender e agir segundo a sua natureza espiritual; o Autor do homem uma vez que o criou livre em nada o força mas vem em sua ajuda se lho pedir como atesta o livro da Sabedoria. «Deus, meu Senhor e meu Pai formaste-me pela tua Sabedoria afim de que sentenciasse com rectidão de espírito; dá-me essa Sabedoria que está sentada contigo em teu trono; ainda que alguém seja perfeito entre os homens, se lhe faltar a tua Sabedoria nada conseguirá. A tua Sabedoria está presente em todas as criaturas que povoam o universo, Ela sabe todas as coisas, peço que me guie no caminho da justiça, porque os pensamentos do homem são fracos, o corpo corruptível torna a alma pesada. Quem poderá conhecer os caminhos que conduzem até 77


Vós meu Deus se do alto dos seus não enviares ao homem caído o teu Espírito de Sabedoria? Só por ela é possível ao homem agradar-te e salvarse» (Sab 9…) Elenco das faculdades cognitivas A/ 5 sentidos externos 1º Olhos (sentido da vista). 2º Mãos (sentido do tacto). 3º Narinas (sentido do olfacto). 4º Garganta (sentido do gosto). 5º Ouvidos (sentido da audição). B/ 4 sentidos internos 1º estimativa 2º imaginativa 3º retentiva 4º rememorativa C/ Faculdades espirituais 1º inteligência 2º memória 3º evocativa D/ Faculdades práticas 1º desejo 2º intenção 3º acção 4º paixão 5º instinto 6º liberdade. 7º Decisão 8º vontade. 9º 4 Virtudes cardiais E/ Faculdades sobrenaturais 1º fé, 2º esperança, 3º caridade, 4º carismas (muitos e variados dons de Deus concedidos aos amigos). 78


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Entender

Acabamos de descrever o aparelho do conhecimento a partir da periferia do corpo onde se situam os 5 sentidos até ao interior onde se encontra a central coordenadora das mensagens dos sentidos. Fizemos notar a perfeição do aparelho sensitivo dos animais: o olfacto do cão, o ouvido do pássaro, o olhar do lince, um tacto e gosto apuradíssimos para se protegerem das intempéries, não comerem o que lhes faz mal! O morcego vê no escuro, a águia fita o sol, o urso dorme sobre a neve, a toupeira respira debaixo da terra, o peixe na água…! Não precisam de fábrica para trabalhar, de escola para aprender, de campo para cultivar, de igreja para rezar, de parlamento para se governarem, nascem ensinados…! Os bezerros saem das mães para o chão, logo vão pelo próprio pé procurar o alimento ao úbere materno; as aves mal nascem, atiram-se dos ninhos a voar; os peixes sabem onde estão os estuários dos rios para irem lá desovar…! O homem nasce com os mesmos sentidos do animal como a experiência o demonstra: a criança chora, procura o seio materno, revela o tacto; mostra-se regalada com o sorver do leite, revela o gosto; abre, fecha, desvia os olhos, tem visão; reage ao perfume, tem olfacto; adormece ao canto maternal, tem ouvido. Constata-se assim que os órgãos do conhecimento sensitivo são inatos, aptos a funcionar desde o nascimento mas sem a aprendizagem não actuam: a criança chora para manifestar o desagrado, sorri para mostrar o agrado; não anda, não procura, não toma, não come sem alguém lho ministrar. Contraste: todo o bicho nasce ensinado, nenhum homem nasce ensinado! O homem para andar, falar, trabalhar, cozinhar precisa de educadores e professores que lhe ponham em função o organismo cognitivo. Não há conhecimento sem longa pedagogia; aquilo a que chamamos senso comum não é mais o produto espontâneo do jogo dos sentidos perante os objectos mas o produto de longa e penosa aprendizagem até aos 20 e mais anos, para não dizer durante a vida inteira! Já se pergunta então onde está a afirmada superioridade do homem que sofre um fadário para aprender e nunca sabe quanto deseja? Os bichos operam como robôs, são perfeitos no seu género, tinham mesmo 79


de o ser dado o artista que os desenha e põe na existência programados. Apesar da inferioridade, se é que aprender a partir de quem sabe denota inferioridade, o homem distancia-se infinitamente do animal porque além do conhecimento sensível tem o intelectivo, possui uma faculdade de conhecimento super sensitiva, o espírito que é por natureza inorgânico, nunca alguém encontrou o órgão onde reside a inteligência, pode abandonar o corpo e de facto abandona continuando a existir sem ele. O corpo do homem não é menos robótico que o do animal mas a alma tem uma forma de conhecimento que excede infinitamente o do bicho: na sensibilidade do bicho está escrito tudo o que ele há-de fazer, não pode sair desse programa, a inteligência do homem é papel em branco para o homem escrever ou permitir que seus mestres escrevam livremente. Deus escreverá também se o homem desejar e lhe pedir pois tendo-o criado livre, trata-o senhorilmente, propõe-lhe o caminho da sabedoria em 10 artigos mas o homem é livre para os adoptar: «está diante de ti o caminho do bem e do mal, escolhe o do bem», dizia o Criador ao povo de Israel por Moisés. Como é evidente o homem não nasce com conhecimento de espécie alguma, para saber tem de seguir processos de conhecimento. Os homens amigos de saber que nos precederam legaram-nos 2 teorias, ambas prováveis, nenhuma forçando o espírito a abandonar definitivamente a outra: Platão advogou um conhecimento inato, Aristóteles adquirido. Qualquer que seja o processo adoptado na aprendizagem, conhecer consiste em captar pelo entendimento as mensagens que o divino Criador escreveu em os robôs inferiores ao homem: conhecer é captar as formas específicas dos seres em as imagens que aos sentidos interiores transmitiram os situados na periferia do corpo. Platão, um dos mestres mais classificados do pensamento afirmava que a mente humana trazia em si as formas dos seres mas diluídas, o conhecimento sensível reavivaria as formas, conhecer seria portanto recordar o que o espírito antes conhecera no hiperurâneo! Aristóteles optou pela tábua rasa: o espírito não traz as ideias quando é infundido no corpo pelo Espírito Supremo, vem de cima (turaten), não é gerado como o corpo; é faúlha luminosa (logos, dianoia, nous) tirada da Mente Suprema; na sua forma activa (nous poiéticos) é capaz de através das imagens se pôr em contacto com as formas metafísicas dos seres, captarlhes a mensagem noética que torna sua.. O conhecimento por imagens pertence, é operação dos sentidos; o conhecimento por ideias é operação do espírito que usa os sentidos como seus instrumentos preparativos. O homem distingue-se do animal porque além do conhecimento por imagens 80


em a esfera dos sentidos possui a capacidade de captar as ideias ou formas espirituais dos seres. O modo de proceder dos olhos serviu sempre aos pensadores como expressão comparativa do que se passa com o espírito: os olhos contemplam os objectos sem guardarem deles as imagens porque se neles permanecessem as imagens não podiam ver os objectos; o espírito olha as formas essenciais dos seres similarmente, sem deixarem imagem, olha-as como os olhos olham os objectos, comunga-as, partilha-as, contempla-as sempre que queira, são suas sem que ocupem qualquer lugar porque o espírito não tem ocupa lugar nem o conhecimento dos seres nele ocupa lugar. Eis porque Tomás de Aquino interpretando Aristóteles disse: o espírito penetrando com sua luz até às essências dos seres torna-as, o espírito não tem outra função senão olhar a essência das coisas. Assim como todas as coisas estão na Mente Suprema sem a ocupar, assim estão na mente humana pela intuição das essências dos seres abstraídas das imagens. O Génesis diz que Deus infundiu no homem um sopro do Seu Espírito, o constituiu um pequeno deus, uma imagem sua. A intuição grega concorda ao considerar o espírito «nous», faúlha do «Nous». Pelo que a curiosidade do espírito humano e a revelação dos livros inspirados chegaram a uma mesma conclusão: saber é penetrar nos seres até atingir, ver neles as formas invisíveis através da matéria visível. As ideias não se vêem todavia são elas que manejam o visível, juntam 2 mundos (visível-invisível) dão ao homem a cosmo visão segundo a essencialidade dos seres que o povoam. As formas que o espírito capta em ideias são as do ser, onde reside o fundamento de toda a actividade. Quem olha o ser a partir da sua forma metafísica, contempla-o do ângulo da totalidade, a partir da verdadeira origem até à sua periferia, é um pensador seminal. O saber humano está hoje encapsulado em incunábulos de fácil acesso nas bibliotecas, ao alcance de todo aquele que tem dentro de si a curiosidade de saber. A nível da profissionalidade os conhecimentos são em geral restritos, os estudantes optam por um ramo do saber; por partilha com os profissionais mediante revistas, livros, CDs, internet, qualquer meio de comunicação; os curiosos podem obter conhecimentos de qualquer ramo científico uma vez que hoje há meios de divulgação para os que não frequentaram as altas escolas. 81


O profissionalismo científico especializa-se nos diversos campos do saber: mineral, vegetal, animal, humano. O profissionalismo metafísico (filósofos, teólogos, místicos) no domínio da espiritualidade. Quem não é profissional partilha a profissionalidade dos cultos na medida da sua curiosidade e capacidade mental. Os campos do saber estão abertos aos interessados em se firmarem sobre ideias em vez dos slogans imaginários do nível sensível que por natureza é relativo, diz respeito somente à idiossincrasia do indivíduo. O maior obstáculo para aceder ao conhecimento científico é o vocabulário particular fabricado e usado por cada ramo de saber. Por vezes é necessário criar termos apropriados mas também acontece ser por snobismo ou ocultismo em que se refugiam os cientistas para exaltar seu ramo particular…! O conhecimento passa-se na interacção sujeito/objecto. Após essa etapa vem a fixação em símbolos e a comunicação (linguagem). Estamos concentrados no sujeito mas o sujeito é tanto mais sujeito quanto cresce em capacidade para conhecer e dominar o objecto, conhecer sem conhecer o ser é tiro de pólvora seca, fumaça que escurece em vez de iluminar. Conhecer o real, sincronizar-se com o real, coagir, reagir, querer, fazer, manejar, formar, transformar: «a filosofia tem perdido demasiado tempo a pensar, chegou o tempo de agir, o mundo não precisa mais de ser pensado, precisa de ser transformado» (Marx, Das Capital).

O ângulo objectivo é estudado na ontologia. O ângulo subjectivo na gnoseologia. O ângulo comunicativo na glossologia O ângulo humano em a moral individual/social A filosofia clássica debruça-se preferentemente sobre o objecto. A moderna/contemporânea sobre o sujeto cognoscente e expressante. NB:« logos, pneuma, nous, noesis, idein, dianoia…» nuances nem sempre pelos gregos bem diferenciadas, usamos apenas «nous» para todas.

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Subjectivo

Descrevemos o aparelho com o qual como instrumento obtemos o conhecimento. O que fazer com ele? 82


Podemos ter os melhores e mais adequados instrumentos de trabalho, se os não usarmos foi gasto e esforço inútil. Até que ponto os seres lá fora, na sua existência inconsciente passam a fazer parte da nossa consciência através da canalização do nosso aparelho congnitivo? Até que ponto se realiza a «adaequatio rei et intelectus« que nos tempos passados entrou na filosofia como um dogma mas que hoje é amplamente constestado? Até que ponto o ser se transforma em conhecer? Se queremos entrar na filosofia pela porta moderno-contemporânea, esta é a identificação que temos de apresentar ao porteiro aliás não nos deixa ultrapassar o átrio: na porta de Academia Platão mandara escrever «quem não quer ser matemático não entre»; no frontespício do templo filosófico moderno há inscrição paralela «quem não é epistemo/gmóstico não entre»…! Nós que trazemos o rótulo de ontológicos não queremos mais ser apelidados de botas de elástico, sim também adoradores no templo gnósico; para haver parelelimo dirigimos então o mesmo repto aos gnósticos: deveis também ser adoradores no templo dos ônticos…! A filosofia moderna em geral revestiu-se deste preconceito: a ontologia está ultrapassada, é perda de tempo percorrê-la…! Não há nada mais antifilosófico que o preconceito, condenar o acusado antes de ouvir as testemunhas, tem sido todavia o grande «crux» que tem acompanhado a viagem filosófica desde a origem até hoje. O problema que se põe no início da idade moderna é o seguinte: os antigos legaram-nos o slogan «adaequatio rei et intelectus», isto é o que nós moderno/contemporâneos questionamos. A nossa atitude é a seguinte: este como qualquer questionamento tem direito de exitir mas assim como os gnósticos têm direito de questionar os ôntico também os ônticos têm direito de questionar os gnósticos, nós respeitamos, valorizamos grandemente o esforço que os filósofos das 2 grandes idades antiga e média fizeram para nos legar o slogna da adequação entre inteligência e ser, sem perder nada desta atitude dubruçamo-nos agora com a mesma veneração inclinando o ouvido ou estendendo os olhos sobre os escritos dos que contestam essa adequação. A nosso ver as duas teorias não se opõem e são ambas justas: quando subo uma montanha contemplo um panorama diferente do que contemplo quando chego ao cimo; olhando de baixo para cima e de cima para baixo é exactamente o mesmo percurso mas a vista é diferente…! As 10 categorias metafísicas de Aristóteles (substâncias, qualidades, quantidades, acções, paixões, espaço, lugares, tempo, haveres, relações) estão hoje transcritas na linguagem por substantivos, adjectivos qualificativos, adjectivos quantitativos, verbos em forma activa, verbos em 83


forma passiva, advérbios de lugar, advérbios de tempo, advérbios de modo, preposições, conjunções. O substantivo é a expressão subjectiva da realidade metafísica, a substância que consiste em estar em si como sustentáculo dos acidentes, é a categoria básica: os seres na existência concreta são todos substâncias, estão em si, posicionados no cosmos em unidades autónomas, são uns. Qualquer ser individual, embora independente reconhece a existência dos outros uns, reage à presença dos outros seres sem os quais talvez ele próprio não pudesse existir; desde os minerais às plantas, animais, homem todos os seres são interdependentes, interagentes: o ferro oxida-se em presença do oxigénio, a madeira arde perante o fogo, a planta seca perante os raios do sol. As plantas alimentam-se, crescem incorporando em si os elementos, recebem pela raiz e pelas folhas o alimento que lhes fornecem os minerais. Os animais reagem por locomoção afastando-se ou aproximando-se dos outros; reagem por sensações e imagens. O homem reage pela fala, pelas ideias, pelas obras, acções físicas, intelectivas, morais aos outros homens, aos outros seres inferiores ou superiores. Todas estas vicissitudes dos seres estão hoje transcritas em formas subjectivas internas e externas ao sujeito como é a voz, a vocabulação, a grafia. O homem O homem é por um lado uma substância entre as outras, mas devido à sua parte mais nobre, o espírito permanece sempre substância, é o único ser que realiza em sentido pleno o conceito de substância, uma base que não mais muda. O homem pela sua parte mais nobre nunca mais deixa de estar em si; os outros seres cedo ou tarde se desfazem, mesmos os penedos mais duros, não realizam para sempre a substancialidade. Para salientar esta profunda diferença deveríamos reservar o nome sujeito só para o homem; a linguagem porém nem sempre atinge o grau de precisão que desejáramos…! O homem por força do seu espírito é sujeito ontológico em relação a si mesmo e gnósico em relação aos outros seres, guardando-os em si mediante imagens e ideias, é o que se chama consciência (ter consigo os outros seres). O homem é também o organizador do saber em diferentes ramos, é o epistemólogo. 84


Deste modo, o homem é duplamente substância: quanto a si mesmo é substância ôntica, quanto aos demais seres recolhe-os em si como substâncias gnósicas ou seja como substantivos, é portanto duplamente sujeito tal como duplamente substância. As pedras que Adão conheceu já há muito desapareceram como areias e lama mas na mente humana estão estenizadas, nunca mais deixam de ser pedras. Com as substâncias vão os acidentes que mediante termos apropriados o homem gnosicamente incorpora também em si. O homem fabrica um símbolo sonoro para cada espécie, um símbolo gráfico para tudo quanto existe, representado pelo vocábulo “ser”. O homem portanto além de ser sujeito entitativo é multimodamente sujeito epistemológico dos demais seres que que introduz na sua dinâmica mediante o processo de interacção com a ambiência dos diferentes seres. O homem é o único ser cósmico dotado de introspecção pelo que junta em si o conhecimento de si mesmo e o extrospectivo dos demais seres do cosmos que todos são objectos que postos ao seu uso sem perderem sua objectividade de estarem em si tomam um segundo modo de ser estando também no homem que se torna o sujeito deles. O homem tem por missão conhecer-se e conhecer os demais seres cósmicos que assim tomam para o homem o relacionamento de objectos de conhecimento; uma vez operado o conhecimento ficam a pertencer ao sujeito, tornam-se subjectivos entrando na vivência do homem sem perderem nada da sua objectividade própria. Os seres corpóreos todos estão no espaço, é a sua posição física, ocupam um lugar entre os outros seres; o homem está lá entre os objectos no espaço mas não se relaciona só corporalmente com os objectos; devido à parte espiritual hospeda-os, recebe-os em sua casa devido à invisibilidade que possuem (a forma) sem os tirar do espaço (a matéria) e tempo (movimentação no espaço); analisa-os, comunga as formas ou essências, recebe-as em seu espírito a modo de relação ou seja virtualmente, como quem diz a minha foram tem a tua de modo superior; este relacionamento com os seres chama-se conhecimento intelectual, próprio só do homem; eis porque só ele realiza em pleno o conceito de sujeito pois transforma os objectos no dinamismo do seu ser como que de temporários os torna eternos como ele. O conhecimento dos objectos é uma espécie de verificação, o homem reconhece que possui de modo mais perfeito a virtude do objecto, a interação fez com que por um lado o homem reconhecesse sua grandeza, maior que todos os objectos, por outro lado reconhecesse a pequena medida que está no objecto. 85


Nenhum objecto tem boca para contar ao seu vizinho a sua história, só o homem fala de si e dos objectos, empresta o seu lábio aos seres corpóreos inferiores, como se exprmiu Heidegger^, os seres tornam-se propriedade do homem, é que os baptiza com seu nome, os andromorfaz. Agostinho deu-se conta da transitoriedade dos objectos, só lhes deu duração na subjectividade da inteligência humana. De facto as formas não mudam se estiverem no espírito, mas na matéria são obrigadas a mudar, sujeitas ao contínuo devir, ao ciclo nascimento-morte; os objectos conhecidos pelo homem tornam-se incorruptíveis no espírito do homem que se torna seu dono, seu sujeito. Kant: os objectos são dotados de espacialidade para estarem em si, de formalidade para entrarem no espírito do homem. Os objectos têm uma referência espácio-temporal decorrente da sua natureza corpórea, têm referência de imagem para com a sensibilidade do homem; têm referência de formas específicas para o espírito do homem. A história dos objectos Se não existisse o homem, os objectos não tinham nome, não tinham linguagem, não tinham ciência, não tinham história; ao contemplarmos hoje um objecto por mais empírico que nos pareça, não o contemplamos na sua nudez empírica, sim nas vicissitudes históricas que o homem lhe adicionou: plantas, pedras, mosquitos, estrelas, sol, casas identificam-se como tal porque o homem transformou esses seres objectos em referências suas, em sinais de música, grafia dos dicionários, arte das pinturas e esculturas dando-lhes toda a espécie de representatividade. Pelo fenómeno linguístico os objectos recebem nacionalidade; quando eu digo árvore, o alemão diz baum (baume), o latino (arbor-arbores), francês (arbre-arbres), inglês (tree, trees) etc. Todos os humanos têm dos objectos a mesma ideia, não obstante exprimi-la com diferente sonoridade de lábios. Ao traduzirem-se em fenómeno intelectivo os seres deixam os nacionalismos para tomarem de novo o significado universal, igual em todo o mundo. O intelecto do homem pensa os objectos em globalidade, dá-lhes cidadania nacional pela linguagem em que os sonoriza ou grafiza. Os objectos ao serem conhecidos ao nível dos sentidos têm apenas relatividade individual, são apenas factos existenciais; uma maçã ao sensibilizar os olhos não entra em cada humano do mesmo modo: o glutão recebe-a como ludíbrio do paladar; o médico como saudável (an apple a day keeps the doctor away); o químico como fórmula matemática, onde se regista 86


a quantidade de ácido, glicose, vitamina; o teólogo como a tentadora de Eva...! O mais trivial objecto subjectiva-se no homem entrando na sua corrente anímica antes de mais pela sensibilidade que o recebe espacio-temporalmente, qualitativamente: cada maçã tem o seu gosto próprio e cada indivíduo a saboreia diferentemente; quando porém se trata do pensamento, da ideia de maçã, todos os intelectos do mundo estão de acordo porque o conhecimento intelectivo não é individual como a sensação mas universal, havendo só uma ideia para todas as maçãs do mundo. Se todos falassem a mesma língua haveria um único som, um só termo em todo o mundo para cada classe, o que seria de grande utilidade mas também causa de monotonia. Nenhum ser entra na dinâmica intelectiva separado das sensações individuais; só depois ascende ao nível intelectivo pelo relacionamento do indivíduo à espécie correspondente; a sensação é só minha, é individual, mas a ideia é de todos os homens de hoje, do passado e do futuro. Como há uma só ideia para cada espécie também devia haver um único termo; porém o termo é relativo à linguagem de cada povo; até hoje ainda se não fabricou uma língua transnacional, uma língua universal do tamanho das ideias, tem de se verter uma língua na outra e cada tradutor é um traidor…! Quando se traduz, se passa de uma língua para a outra há a possibilidade de alterar o “meaning” porque nem em todas as línguas há termos absolutamente correspondentes, especialmente nas línguas orais, como as africanas. O homem põe a inteligência à disposição dos objectos que entram na inteligência com os acidentes dessa linguagem, do ambiente social e científico desse povo. Logo que o uso da razão desperta na criança, ela é ensinada pelos tutores a passar o objecto que sente com as mãos, vê com os olhos, para a sonoridade da língua herdada dos avoengos; na escola aprende a grafar essa sonoridade transformando o vocábulo de som oral audível em visual mudo; o recém-nascido entra na herança da linguagem em que nasceu, não vai de novo fabricar os vocábulos, aprende a correlacionar objecto e palavra até à identificação vocábulo-objecto. Nem sempre há simultaneidade, o conhecimento do vocábulo por vezes precede o do contacto físico com o objecto; acontece até que muitos objectos nunca são experimentados, permanecem toda a vida na memória vocabular, no capítulo dos sinais; outros são apreendidos mediante uma acepção parcial do termo, até mesmo suposta, acontecendo que há vocábulos onde a existência física do objecto não é real mas imaginária: sereia, fada, ilha de ouro são exemplos de seres 87


imaginários; a criança acredita na existência física até se desiludir, descobrindo que a existência consiste em estar em si, não em estar na fantasia expressa em vocábulos. Objectos antropomorfizados Os objectos cósmicos estão hoje diante dos nossos sentidos externos como estiveram no tempo dos nossos antepassados a começar por Adão, mas não assim quanto à percepção. É necessário tomar consciência de que os objectos que observamos hoje não estão nus, receberam significado dos sujeitos que nos precederam, estão acrescidos da carga de conhecimentos que os nossos antepassados puseram neles; não há hoje objecto algum que seja só objecto, está subjectivado, antropomorfizado, humanizado, sociabilizado, historificado, herdado dos conhecimentos que o povo a que alguém pertence lhe atribui por um vocabulário que tanto pode ser expressão correcta do objecto, verdadeira “suppositio”, como adulterada. Quando recorremos a vocábulos translinguísticos, como acontece com os vocábulos greco-latinos, temos de os localizar na história dessas línguas para bem lhes obtermos o significado. A língua lusitana é uma herança preciosa vinda da avoenga greco-latina, acrescida de algumas achegas de outras origens que Sã de Miranda iniciou; dos 90.000 vocábulos só 5% não são herança greco-latina! Quem conhece a língua como está hoje mas sem conhecer suas raízes e percurso não colhe nos vocábulos o mesmo conteúdo que os conhecedores do grego e latim. Quanto maior é o percurso histórico do vocábulo, mais matizes adquire; os objectos ainda que triviais, têm história: a água mata a sede, lava, afoga, é o mar dos descobrimentos marítimos, é o Mar Vermelho dos hebreus, esteve no dilúvio, está no baptismo...! A partir do século passado, a água adquiriu em todo o mundo uma definição que não tinha antes, a definição química, feita por uma fórmula matemática (" H2O"); Lavoisier conseguiu desfazer e de novo refazer a água a partir de 2 gases mediante a corrente eléctrica, legou à posteridade esse facto em uma fórmula matemática. Hoje todos os elementos têm a sua fórmula química de expressão matemática, o que não acontecera nos séculos anteriores.

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A mesma fórmula muda de sentido perante novas perspectivas: de peso evoluíram para serem entendidas dentro do conceito estrutural atómico. O conteúdo do cosmos adquiriu recentemente expressão computorizada, desde a matemática às línguas de todo o mundo, o som e as imagens podem exprimir-se apenas por 2 cifras (0, 1) a linguagem digital binária, coisa inaudita na nossa infância! Porque os homens usaram várias técnicas de observação e provocação das forças naturais até que a hipótese se transformasse em resultados palpáveis, assim surgiram as técnicas; desse modo, os objectos que tinham um significado primitivo simples foram-se carregando de novas significações através da história científico-tecnológica; antropomorfizaram-se não apenas ao nível do senso comum mas do senso armado de instrumentos, mais penetrantes que os sentidos desarmados. Os objectos como é óbvio estão revestidos de muita e variada roupagem, estão subjectivados, colhemo-los embrulhados na linguagem e símbolos por vezes sem nunca os desembrulharmos para contemplar sua objectividade. O alfabeto O século 20 fez a maior revolução da história estendendo a todos, sobretudo a «todas» o conhecimento dos 22 sinais do alfabeto e os 10 sinais dos números. Com a alfabetização geral até as mulheres começaram a frequentar os cursos científicos de tal modo que hoje não há quem não possua conhecimentos de um ou outro ramo científico. A mulher hoje ombreia com o homem em todos os ramos, ao passo que nos séculos passados era apenas “babysitter/house wife”; aqui o maior contributo para a libertação da mulher, igualdade de direitos, aumento do número de cientistas. O saber passou do nível meramente oral do senso comum para o nível escolar generalizado, para o nível científico especializado; para melhor se poderem conhecer os objectos foram divididos em campos de estudo, assim surgiram as diferentes ciências. Por este processo, os objectos são melhor conhecidos pelo grupo que se especializou nesse ramo, que encontrara nele mais e mais virtualidades, exprimindo-as em linguagem fabricada por eles; criaram pelo facto mesmo o problema de mais uma linguagem; em qualquer sociedade tem de atender-se ao nível científico e ao nível comum: os termos têm por vezes um significado a nível comum e outro a nível científico, de acordo com a nomenclatura das diferentes ciências. 89


Façamos uma pequena pausa em este discurso pesado permediando com uma recente anedota --Por favor, vem socorrer-me, telemovelfonou-me um colega. --Que aconteceu? --Caiu-me um porco da roda…! --Que estás a dizer, mataste um porco, a roda passou-lhe por cima? --Estou a falar Português: caiu-me um porco da roda. --Ah…ah…ah… estás a falar escocês, não Português. --Olha, não te caiu um porco da roda mas uma porca…! --Ah, desculpa, nunca mis sei quando é m/f…vem depressa com o mecânico…!

Pertence a cada ciência transformar os seres que estão lá como corpos meramente espaciais, em objectos da mente humana, ligar os objectos à história humana através de sinais que em uma sociedade são perceptíveis por si mesmos, em outra já precisam de explicações e nem sempre a explicação transfere o verdadeiro significado de uma sociedade para a outra. A idade gnóstica trouxe enorme riqueza a todas as ciências, à filosofia inclusive. O que importa é bem analisar o processo do conhecimento: os seres que estão lá na existência fisicamente sem voz própria, sem nome próprio, sem ciência própria, introduzi-los na sociedade, nos símbolos, nos vocábulos do povo, traduzi-los para outros povos, para a história a fim de que universalmente se antropomorfizem é a missão do homem. O indivíduo escolarizado não confunde seres imaginários: sereia, ídolo, duende, Eolo, dinossauro com os seres reais, porque sabe o significado exacto das palavras mas qual o aluno porém que sabe o significado exacto dos 90.000 vocábulos lusófonos? Há palavras que entram centenas de vezes na nossa boca, milhares nos nossos ouvidos das quais não temos um significado exacto, é como uma música cuja melodia sabemos de cor, mas se a quiséramos escrever com notas musicais não seríamos capazes; mantemos falsas suposições anos e anos, sem indagar o sentido musical da palavra; facilmente se misturam ficções, crenças, superstições, ilusões, tradições, convicções, preconceitos, erros, desejos, opções...com a realidade; o indivíduo escolarizado é suposto conhecer o valor, o significado exacto dos termos que usa mas a educação literária fica muito aquém do que se pretende, a maior parte dos que vão à escola contentam-se com um saber aproximativo, o suficiente para obter uma nota, um crédito mínimo ainda com a água benta do professor.

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O cientista que faz da sua profissão o aprofundamento de um ramo do saber, por paradoxal que pareça também não evita cair em grandes erros! O preconceito, batemos muitas vezes nesta tecla, é a pecha do cientista, uma inclinação que o leva a estar totalmente certo da existência ou não existência de uma coisa sem real exame com medo que venha contrariar suas presunções; é uma espécie de vaidade acerca do seu saber, julgando os saberes dos outros inexistentes ou não dignos de se lhes prestar atenção. Dentro dos sistemas científico-filosóficos de maior renome mundial são frequentes grandes preconceitos, atitudes radicais tomadas sem o devido estudo, pelo que mesmo o catedrático de escolas superiores, está muitas vezes a pensar dentro do seu preconcebido dogma, não dentro da verdade objectiva. Um dos grandes obstáculos que obstam à aquisição de uma adequação entre o ser do objecto e o pensamento é a terminologia, imgagina-se que tal termo traduz quando não é verdade: conhecer acuradamente o significa do termo leva a um emprego correcto aliás transmite mediante ele o suposto em vez do real. Há conhecimentos que podem ser vagos mas para os que exprimem as substâncias e sua filiação nas espécies é um prejuízo de base, pois do seu conhecimento depende viver em verdade ou mentira com os seres. Adquirir o recto conhecimento dos seres até os encapsular na correspondente linguagem é o caminho que todo o que tem curiosidade deve percorrer. O problema básico do conhecimento está na correspondência: pensamento, linguagem, objecto. Sem o “meaning” do ser em correspondência com o entender e sua expressividade o conhecimento é fictício, sem os instrumentos do conhecimento bem afinados como podemos estar certos que o ser foi bem apreendido?! As técnicas modernas têm sujeitado os sentidos a experiências psicométricas para que o fenómeno psíquico aconteça dentro dos requisitos do fenómeno físio-biológico. O conhecimento científico refina os sentidos com instrumentos e processos de rigor que pelo facto mesmo conduzem a melhor conhecimento; o cientista provoca os factos a fim de afastar o fantasma do erro sempre perante o homem pois: «errare humanum est». Os seres para serem conhecidos têm de passar de lá para cá, de objectos a sujeitos; enquanto estão lá onde um retalho de matéria os situa no espaço 91


são para o homem como se não existissem. Os seres só têm existência para mim quando tomo posse deles, entram na minha história, são minha propriedade, se tornam subjectivos, quando eu os conheço, os actuo, uso ou abuso das suas propriedades. Em definitivo: dadas as múltiplas vicissitudes da passagem dos seres para o sujeito do conhecimento, o ser que assim entra na história do homem pelo conhecimento sensível-intelectivo, será o ser real, não terá perdido todo o seu conteúdo objectivo com o acrescentamento de tantas visões mais ou menos certas e tantas linguagens mais ou menos bem transcritas nos léxicos, aprendidas perfeita ou imperfeitamente no seu significado!? Uma tonelada de laranjas ocupa um armazém ou vários frigoríficos; a terra, o sol, as estrelas, as galáxias ocupam espaços incomensuráveis; como podem caber na minha mente, como é possível dizer-se que o ser recebido no sujeito é o mesmo que está lá na matéria que não posso abranger? Este o puzzle, «crux», o teste colocado à gnoseo/epistemologia...! O conhecimento é uma seta luminosa que leva o espírito a ver os objectos em si mesmos quer na sua forma individual pelos sentidos, quer na específica pela inteligência, o espírito é essa realidade invisível mas poderosa onde os grandes espaços existem sem ocupar espaço, o que se chama o poder virtual, o exemplo mais flagrante é o Espírito Criador onde não há o mínimo de espaço e dele saírem esses moles imensos que povoam os espaços…! Os filósofos mestres actuais em Oxford Kenny e Kreeft chamam a atenção para esta distinção que faziam os medievais enter «quo/guod»: o espírito é o instrumento pelo qual conhecemos, não o que conhecemos, tão certo para os antigos como para os modernos: «nhil in intelectu quin prius in sensu nisi intelectus ipse» (Leibniz). As formas dos seres chegam ao espírito a modo de radiações luminosas, não deixam qualquer imagem no espírito tal como os objectos sensíveis não deixam imagens nos olhos ou no espelho. O espírito quando quer conhecer dirige-se intencionalmente para o objecto, vê sua forma específica no objecto, não em si mesmo pelo que nenhum conhecimento adquirido barra o espírito, deixa-lhe sempre a porta aberta para o objecto. O processo cognitivo de um objecto isolado só serve o indivíduo que contacta o objecto enquanto não é posto na respectiva classe. Encontrei um objecto esquisito, nunca tinha visto tal, dei voltas à cabeça para saber o nome do objecto; perguntei a várias pessoas ignorantes como eu; comecei a percorrer La Rousse página a página a ver se encontrava o 92


desenho e o nome francês em Larousse; que perda de tempo sem nada encontrar, talvez por a edição ser dos tempos afonsinos…! Fui obrigado a parar o processo mas volvidos anos, estando a visitar um invisual no instituto dos cegos no Porto, com espanto meu, vi embora em edição diferente, o tal objecto; como se chama? Cecógrafo! Agora posso ir ao léxico; fui e lá encontrei a descrição: caneta de cegos, hoje substituída por máquinas sofisticadas, os computadores Braille! Neste caso trivial se instancia o que é o conhecimento sensível individual, não é comunicável, falta-lhe a faceta universal, a passagem para o termo vocabular específico usado em a sociedade particular ou universal em que está transcrito. Os seres naturais estão hoje todos universalizados pela classificação em espécies, géneros, reinos; os artificiais também vão recebendo nomes que se vão globalizando: automóvel, bicicleta, avião, barco, chupeta, casa, cancro…! Quem não coloca as experiências individuais nas classes, géneros, reinos identificando os seres pelo nome universalista não sabe, pois não há ciência do particular (Platão). A classificação dos artefactos nunca será verdadeiramente universal, obedece a experiências relativas e progressivas, mas a classificação dos seres naturais foi alcançada, tornou-se universal, tornou-se ciência. O homem que seja capaz de colocar os minerais, plantas, bichos nas respectivas classes é um novo Salomão. Se um só homem não consegue o domínio do universo, grupos de homens, os especialistas de cada ramo vão conseguindo e fornecem aos não cientistas os frutos. O Criador dotou o homem, mesmo não cientista, de capacidades suficientes para entender a cadeia do ser natural que do mais baixo da terra se eleva até Ele. O conhecimento é pois acção do sujeito, ele colhe mas não fabrica a vinha, colhe o saber tal como a abelha colhe o mel na flor. Fiquem porém certos os 7 biliões de humanos hoje existentes, sumados aos inúmeros antepassados e futuros que por mais que espremam nunca tiram dos seres todo o néctar do seu ser porque são criaturas: todos os cérebros humanos e angélicos juntos nunca saberão criar uma flor, a folha de uma árvore, uma areia do mar…! 93


Basta porém e compensa o árduo esforço dos que procuram conhecer os seres que eles são uma escada que os eleva da terra ao céu, morada onde habita a Sabedoria trinamente Criadora, só então será pleno o conhecimento do ser e por reflexo o ser do homem. Conclusão Após tante elocubração, tantas voltas à cabeça assinamos ou rejeitamos o slogan da adequação entre sujeito/objecto? Deixamos é claro a cada um as suas opções. Quanto a mim a adequação tem vários sentidos: se eu só conhecesse a maçã cipriega o meu conhecimento era adequado quanto a este fruto mas desadequado quanto à pêra, o figo, a papaia. Saboreei vários frutos e verifiquei que o meu sentido de conhecer sabores distingue sempre uns frutos dos outros, por indução concluo: o meu sentido gustativo é adequado a todos os frutos da terra. Continuando este modo de raciocinar a respeito dos demais sentidos e depois a respeito do intelecto conheço tanto mais quantos mais objecto contactar, por indução muitos mais talvez todos. Este é o modo prátido de considerar a adequação que como é óbvio é diferente segundo a experiência e grau cognoscitivo de cada um. A adequação é ainda limitada à natureza do cognoscente: uma anjo conhece mais e melhor. Nenhum espírito criado conhece como o Espírito Criador: mesmo o anjo mais sublime por natureza não sabe, nunca saberá criar a folha de uma árvore e a árvore sabe…!

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Objectivo

Uma vez que os seres foram encapsulados nos vocábulos, não bastará aprender os seres a partir dos dicionários, omitindo a trabalheira que é andar a correr o planeta a fim de conhecer animais e plantas? No dicionário estão todas as frutas, peixes e animais porque não se vão lá buscar as melhores maçãs do mundo as osnofas de Cernancelhe, a carne do búfalo, a lagosta da Califórnia para uma refeição opípara em vez de gastar tempo e dinheiro pelos supermercados…!? 94


O vocábulo é caminho mas o caminho é só fadiga, só pó e sede, confere o caminho de Santiago. A viagem para Nova York é caminho, Nova York só no termo do caminho bem como Santiago…! Se não se propuser um objecto pelo facto mesmo não há viagem para ele. O vocábulo, o pensamento que formou o vocábulo são luz para o objecto, se não houver objecto de nada vale a luz, ilumina o vácuo, a poeira, a sede, os pés maguados. Os nomes, sua grafia e sonoridade foram criados perante os objectos: alguém que tivesse um dicionário inteiro na memória mas nunca tivesse contactado os objectos iria sempre ter ao dicionário, ao mundo dos gráficos, à Net, nunca ao campo onde estão os objectos, morreria à fome se tivera só os objectos do dicionário na cabeça. As ideias são relacionamentos causais entre ser, pensamento e vocábulo: o fenómeno subjectivo da ideia que cria o vocábulo não pode existir sem a presença objectiva, é erro pensar que o subjectivo substitui o objectivo, só leva à comunhão, ao encontro, ao abraço. Os pensadores alemães moderno/contemporâneos criaram e elevaram ao paroxismo os sistemas idealista/subjectivistas mas seu conterrâneo Husserl fazendo uma análise exaustiva da consciência terminou com este argumento contendente: sem intencionalidade não há significado subjectivo, é engano afirmar algo que não corresponda ao objectivo, são pensamentos fantasmas, sereias inexistentes, castelos no ar …! As comparações são sempre mancas mas se as não usarmos ficamos mancos na mesma pois a abstracção nem sempre nos conduz à realidade, tomemos a luz do sol como comparação da luz do espírito. Se o sol tivesse os seres que estão na terra dentro de si não os podia iluminar, impediam-lhe as radiações: os seres estão cá em baixo, fora do sol, em si mesmos e não no sol, aí é que são iluminados pelo sol. Outro processo usado pelos psicólogos antigos é comparar o entender com o ver. Quando se lhe abrem as portas os raios luminosos dos olhos lançam-se sobre os objectos que estão dentro do campo do seu alcance, iluminam-nos; por sua vez a luz ôntica dos objectos sobe pelas irradiações dos olhos até à imaginação; o espírito lança sua luz sobre as imagens e vê nelas as essências dos objectos que subjectivamente se chamam ideias. Comparam-se por vezes os olhos, a imaginação e mesmo o espírito a uma máquina fotográfica que recebe as imagens dos objectos e grava em uma película mas é outra comparação manca, se os olhos, a imaginação e entendimento operassem a modo de película, ficasse lá algo gravado só podiam gravar um objecto porque o 2º já estragava a película. Os olhos, imaginação, entendimento não operam a modo de gravação de 95


imagens mas raios luminosos que não guardam nada: os raios do sol não guardam nada em si mesmos nem no sol, vão ter com os objectos, iluminamnos lá; por sua vez os objectos mediante os raios solares comungam com o sol sem ir lá. O sol vai ter com os objectos que ilumina mas não os grava, assim o espírito vai ter com as essências das coisas mas não as grava, vê-as nelas, não em si, tal como o sol vê suas cores nos seres cá em baixo, não em si. Isto para dizer que para haver conhecimento é necessário que as coisas continuem na matéria porque é deste modo que são conhecidas pelo espírito: se o divino Criador desenhasse as coisas no espírito humano o homem só conhecia os desenhos dos seres, não a onticidade dos seres, não comungava seu dinamismo, nunca saborearia o sumo da maçã. Um dos filósofos mais subjectivistas que narra a história diz que é impossível abolir a crença da existência do objecto; trata-se de uma evidência em que é impossível não se crer acima de toda e qualquer teoria filosófica (Hume). Os antigos usavam uma outra comparação para definir a ideia: fruto do casamento entre sujeito-objecto que se revela no exterior pelo vocábulo que outra coisa não é que o fruto vital da comunhão sujeito-objecto. O ser do objecto é tão fundamental como o ser do sujeito para que se produza o pensamento, a ideia de cabelo, rato, mosquito, osso, micróbio, elefante, oxigénio, ouro, maçã, sol, tigre, diabo, João Baptista, Adão, Deus nunca teriam sido elaboradas pela mente se os seres não existissem; se os objectos não entrarem em contacto com o sujeito na sua realidade ôntica nunca serão conhecidos como são em si mesmos. Os seres a que temos acesso estão na matéria O espírito é imaterial, como então pode conhecer os seres materiais? A existência da matéria é detectada pelos sentidos, o intelecto conhece-a como a possibilidade das formas se manifestarem, uma espécie de tanque continente das formas; a matéria nunca é definida, apenas constatada, o que acontece colocando o objecto ao alcance dos sentidos; a extensividade espácio-temporal é a característica da matéria. O conhecimento refere-se às formas que são apreendidas pelo espírito sem as tirar da matéria: pelo facto de as constatar na matéria mede-as pela comparação com a grandeza do seu espírito à semelhança do que acontece quando apreende a medida dum objecto mediante a fita métrica: como poderia saber a medida sem a matéria do objecto?! O homem porque é espírito e corpo simultaneamente apreende a presença espacial dos objectos pelo corpo, a forma substancial pelo espírito, o 96


conhecimento abarca simultaneamente as 2 virtualidades; muito bem disse Kant: o conhecimento tem relação com o espaço e o tempo. Como quer que seja entendido o conhecimento nunca passa de meio, de caminho para…o objecto não entra no sujeito cognoscente como a comida no estômago, fica sempre onde está a matéria; conhecer é simplesmente relacionar o sujeito com o objecto onde quer que esteja; se o objecto estiver no pólo Norte é lá que o conheço existente, não no vocábulo que está na minha memória nem no verbo mental que está no meu intelecto; quer o vocábulo, quer o verbo mental são meios, raios luminosos até ao objecto, é o chamado conhecimento <quo> (meio) pelo qual se atinge o conhecimento <quod> (fim). Os acidentes O conhecimento que temos vindo a considerar é o típico, o da substância ou ser propriamente dito mas há seres que não têm individualidade, existem nos seres individuais chamados acidentes; o conhecimento para ser completo, como está na realidade não pode limitar-se à substância, tem de incluir os acidentes! O conhecimento da substância é fundamental, sem a conhecer é impossível conhecer os acidentes; é tradicional desde Aristóteles enumerar 9 (cf. a respectiva secção); aqui reparamos apenas no processo do conhecimento acidental. Vi um leão amarelo comer um homem branco! Donde vieram o amarelo e o branco juntar-se respectivamente ao leão e ao homem se nunca alguém viu o branco e amarelo individualmente diante dos olhos? João é filho de António. Vejo António, vejo João mas onde está o filho? Invadiu-me o sono. O "me" sei que sou eu mas onde está o invadir e o sono? João é preguiçoso. Vejo João mas o preguiçoso onde está? Eu ando com Deus no pensamento. Sei quem sou eu, mas Deus? "Andar no pensamento, como sei isso"?! Com estes exemplos triviais chamamos a atenção para a dificuldade de saber até que ponto vai a substancialidade e acidentalidade bem como 97


objectividade e subjectividade; quando saímos do capítulo das substâncias para entrar na classe dos acidentes entramos num capítulo obscuro da filosofia porque o acidente não tem ser próprio, recebe o ser da substância (Aristóteles) por isso muda continuamente de significado, o acidente é camaleão! O pensamento, o branco, o amarelo, o andar, o preguiçoso, o filho, o sono, o matar, o tempo, o século 15, a eternidade, a beleza, a justiça, a verdade, erro, vaidade onde estão? Só entendo a acidentalidade quando aponto a substância a que se referem; os acidentes não têm singularidade, não estão em si e por si, só se tornam objectos através da substância a que se ligam, só então são detectados e entendidos, nunca estão neles, estão na substância que os recebe, andam de casa em casa, tomam a existência da substância a que se ligam, são como o arco-íris. O ser da substância não pode ser atribuído a outro: a laranjeira não pode estar na figueira; o cavalo não pode estar no mosquito; a lua no sol; a mulher na sereia, o homem no lobisomem porque são substâncias, só podem estar em si como objectos, nunca noutro. Os demais seres que não são substâncias são seres em sentido imperfeito porque não podem estar em si, apenas noutro como é o caso do amarelo ou do verde que só podem estar na substância laranjeira ou laranja que os aceita e lhes empresta a substancialidade. O conhecimento humano entra nesta classe, é uma acção, pertence à classe dos 9 acidentes. Goza de omnilocação porque pode percorrer todos os lugares e objectos sem fronteiras num instante enquanto o corpo permanece no mesmo lugar. Salta… já está em N. York a subir à estátua da Liberdade! Volta…já está dentro do computador…! O meu pensamento não está preso ao corpo, salta para os objectos mais distantes captando deles não apenas a substancialidade mas toda a gama acidental que os ambienta: num abrir e fechar de olhos já deu a volta ao mundo, mais do que isso, já foi à lua, ao sol, às galáxias, regressou sem queimaduras…! O que é então o pensamento? Os pensadores modernos e posmodernos definem-se por este poder: «sum res cogitans», sou substância pensante eis o grito de Descartes que se fez ouvir em todo o mundo pensante como se fora uma novidade não existente desde o princípio do mundo. Quando um veículo que passa apressado levanta o pó, os transeuntes não o vêem como ele é, dão-lhe o nome de levantador de pó, eis porque o 98


pensamento não é correcto se não realizar a sintonia, a junção objecto real e sujeito: se o sujeito em vez do veículo contacta o pó que o veículo levantou não há relacionamento correcto entre o objecto e intelecto, o conhecimento é vicioso. Pensamos neste tempo, não temos sequer dúvida de que o pensamento tem por sujeito o espírito humano mas não devemos ser tão personalistas a ponto de pensarmos que ao acentuar algo o descobrimos: Aristóteles começou precisamente sua filosofia criando todo um sistema expressivo para evitar o erro do pensamento a que deu o nome de lógica, a ele daremos cobertura em outro título deste nosso trabalho. Confronto com a realidade Os olhos se ficarem a dormir de dia como de noite no sujeito que os tem na cara nunca vêem, têm pelo menos de abrir as portas orbitais para a luz entrar e com ela algum objecto iluminado, esse objecto também é um sujeito, é uma substância que está em si: os olhos são sujeito porque estão em si mas aquilo que os olhos vêem também é um sujeito que está em si; a qual deles dar preferência? Serem necessários objectos para ver é uma evidência, idem para conhecer, qualquer que seja a prioridade nunca pode chegar ao ponto de o sujeito prescindir do objecto para conhecer. Até para se conhecer a si mesmo o sujeito precisa de objectivar-se, colocarse na espécie que diz respeito à sua individualidade. As confusões advindas da linguagem provêm de operações incompletas, não se relaciona convenientemente o vocábulo com o objecto: os verbos que significam acções/paixões confundem o interlocutor quando ele ouve o termo mas não sabe a que objecto se refere. Causa de confusões é também a equivocação, o emprego do mesmo vocábulo para diferentes realidades; as preposições, advérbios, interjeições, conjunções são vocábulos confusos mesmo para estudantes se nunca fizeram o conveniente relacionamento entre o vocábulo e realidade que se quer exprimir por ele; sem referência certa a um objecto não há sentido, entra o som no sujeito mas não entra o significado; ora se o vocábulo não transmite conteúdo, não há conhecimento ou supõe sem fundamento. Sócrates, mestre de Platão/Aristóteles transmitiu-lhes o cuidado da acuracia do termo em que ele e seus alunos se tornaram modelos. Uma vez de acordo sobre o significado do vocábulo Sócrates procedia à aplicação; no Meno pede primeiro a definição do termo coragem, de acordo com o significado social do termo (naquele tempo não havia dicionários); logo a seguir exige exemplificações de múltiplos actos de coragem para que o termo seja correctamente aplicado à realidade objectiva.

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A falácia mais perigosa e habitual provém de tomar por igual o termo vazio e o termo cheio. A definição terminológica indica a possibilidade de aplicação mas não a afirmação da existência; quando Platão definiu em a República o estado ideal, não afirmou que tal estado era o de Atenas, disse mesmo que talvez não existisse em parte alguma da terra, Atenas era precisamente a antítese do estado ideal; confundir o significado nominal do vocábulo com a aplicação desse significado a um objecto é das falácias mais vulgares, mesmo Sócrates caiu nelas baptizando-as os historiadores de falácias socráticas. A falácia socrática confunde o significado lexical da palavra com o seu conteúdo existencial; é falácia tão traiçoeira que mesmo os filósofos mais clarividentes: Platão, Aristóteles, Aquino, Descartes, Wittgenstein caíram nessa ratoeira de tal modo que atraíram para a idade moderno/contemporânea a suspeita de idealista/subjectivista. O dinheiro devido ao fenómeno da inflacção é o caso mais flagrante da ausência de conteúdo não obstante ficar inalterado o continente mas se repararmos no conjunto dos valores modernos são virtuais, não reais, valorizamos os sinais e não reparamos que os sinais não são realidades. Supõe-se que a realidade expressa pela definição lógico-morfológica do termo está lá no ser como a linguagem exprime, mas a suposição é errada; os lógicos medievais deixaram-nos regras preciosas sobre a «suppositio termini», acepção dos termos; segundo eles o termo personifica uma realidade mas se contra a expectativa comum o termo não supre «non supponit» mas exprime somente a significação do termo, então está vazio de realidade, há só o significado da palavra significante, há só dicionários, conjunto de falácias, há as mesmas carteiras mas estão vazias porque o dinheiro passou a ser mera folha de papel. Kant, Hegel, Spinosa, Husserl, Heidegger, Wittgenstein, Cassirer, Popper, Saussure deram enorme relevo à linguagem: para o aluno o significado do dicionário, do termo e sua entonação pode preceder o encontro do objecto, mas quer antes quer depois alguém nunca saberá o que é uma coisa sem referência a algum objecto. O professor Barnes de Oxford em um livro recente sobre filosofia disse com muita graça a respeito das teorias do «meaning»: há sempre um significado que atribuímos a um termo, pretendemos ao aplicá-lo ir sempre mais além do que a simples significação do termo, colocar no termo além da significância verbal alguma existencialidade, se por exemplo ao pronunciar o fonema porcos «pigs» o interlocutor não aplica a nenhum objecto real, então tanto vale dizer “pigs” como vossas excelências...! Objecto é só o físico? Por tal pugnou acirradamente a escola de Viena até que um dos maiores 100


fisicalistas actuais (Wittgenstein) se deu por vencido terminando por admitir que espírito, alma, anjo, Deus…são objectos de conhecimento embora sem a fisicalidade das pedras e árvores; não confundir real com físico, a metafísica não é física mas é real, a causa possui mais onticidade que o efeito e todavia quanto mais elevada menos visível, a causa Suprema é Invisível. Em os títulos filosófico/teológico mostraremos em concreto qual o método para conhecer o invisível. O negativo, o máximo, o mínimo, o muito, o pouco…são objectos? O nada exprime-se por relação ao ser: 100 dollars na carteira; tiramo-los, fica o nada desse dinheiro na carteira; a partir do ser dos dollars é que definimos o nada dos dollars na carteira; o mesmo se diga em referência a qualquer outro nada: nada de água, vinho, azeite, luz, calor, cerejas, trigo, milho...até chegarmos ao nada absoluto, negação de todos os seres, expressão significativa da ausência do ser criado perante o Ser Criador. Exprimir o ser pelo lado do nada ou diminuição, pelo negativo é uma forma corrente da linguagem: não ter saúde, força, amigos, não ter o peso exigido, não ter a medida...todo o ser tem a sua expressão correlativa do não ser; é muito normal este modo de falar, aliás não poderíamos exprimir a ausência do ser. O mais paradoxal na linguagem é exprimir-se o impossível, o contraditório do ser que nunca pode existir na realidade e todavia pode existir na linguagem: um círculo quadrado, um triângulo redondo, um homem leão, um demónio santo, um espírito com asas, uma mulher homem, um homem mãe...! Esta possibilidade de o espírito poder fabricar o que não existe, o que nunca pode existir, o contraditório, não significa ausência de objecto pois está lá o objecto círculo e o objecto quadrado; está lá o significado que ao fazer um desfaz o outro, exprime a impossibilidade de concomitância dos 2. Poderíamos rebuscar os mais estranhos exemplos para provar que não há vocábulo que adquira significado senão em relação a um objecto mas esse relacionamento obedece a uma convenção clara ou oculta na linguagem de cada povo. A linguagem vulgar tem o mesmo conteúdo que a científica? As ciências Físico-químicas, Bio-Fisiológicas, Astronómicas, Psicológicas, Antropológicas, Lógicas, Linguísticas, Semióticas, Epistemológicas, Morais, Jurídicas, Sociológicas, Religiosas, Estéticas, Históricas...expressam os objectos tal como a linguagem vulgar mas mais adequadamente que a vulgar…!

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Por vezes a terminologia científica é snobe, usa uma terminologia ocultista a fim de não ser acessível aos que conhecem apenas a linguagem vulgar; outras vezes a linguagem científica busca a acuracia para melhor adaptar o termo à realidade que o cientista vê melhor que o senso comum…! Da presente elaboração concluímos que sem o objecto o espírito humano não pode elaborar o pensamento, consequentemente a linguagem é tão objectiva como subjectiva, os objectos para os olhos são iguais em todo o mundo mas para os ouvidos, para a linguagem diferem de povo para povo, diferem de idade para idade. O subjectivo, o vocábulo se não se for ajustando ao objectivo, acabe por ter pouco conteúdo até ao ponto de ficar vazio. Quando comparamos a astrofísica do tempo de Aristóteles com a de hoje o que concluímos? A concepção geocêntrica mudou para heliocêntrica, para galacteocêntrica, para…ainda não sabemos onde está o centro do mundo. Se o homem não usasse as técnicas cognoscitivas, não valia a pena os seres existirem, não lhe eram úteis mas por outro lado, se os seres não existissem não valia a pena empregar técnicas subjectivas de conhecimento, elas nunca podiam como não podem criar objectos. A interacção sujeito/objecto em contínua dialéctica é que produz o recto conhecimento. Embor já implicitamente já esteja nos 2 títulos anteriores consideremos embora brevemente a interacção Objecto/sujeito.

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Interactivo

Perante a realidade sujeito/objecto quanto mais intenso e extenso for o relacionamento mais exacto, mais perfeito é o conhecimento: operação árdua, prolongada por toda a vida…! O objecto nasce vivo na mente humana, a luz ôntica do objecto penetra no espírito pelo que o espírito comunga a essência, a forma espiritual desse objecto, estabelece-se um cordão luminoso vital entre as essências e a mente de tal modo que a mente como que vê as essências, as quididades de cada ser específico, incorporando-as na sua corrente espiritual viva, está sempre a vivificar-se mentalmente na medida em que está em contacto com 102


essas quididades. A inteligência humana dando nascimento em si, segundo a sua forma espiritual aos seres, fica pelo facto mesmo enriquecida com a onticidade do ser que em si incorpora; a inteligência pode conceber ilimitadamente todos os seres do universo, gera assim para si, torna-se geratriz gnóstica dos seres «mens est quaedamodo omnia» (Tomás de Aquino). A adequação entre conceito e realidade é feita pelas ideias tal como entre os olhos e os objectos a ligação é feita pela luz; a mente intui a realidade substancial das coisas, há um reconhecer da coisa nascida luminosamente no espírito, um verbo mental dizendo a coisa ao espírito, há uma comunhão vital entre as essências e a mente humana. A operação intelectiva interna não termina numa posse egoísta, vai converter o verbo interno que concebeu como luz, em música, em palavra, verbo externo para que possa sociabilizar-se, intercomunicar com os demais espíritos. Já nos referimos aos 2 sistemas (inatismo/ abstractismo). Devemos esclarecer que conhecer a partir das ideias em vez do objecto não é sem objecto: Platão, Agostinho e Descartes partiram das ideias para ir ao encontro dos objectos, supunham que as ideias eram criadas juntamente com a alma servindo os objectos apenas para as despertar. Como tal não pode provar-se experimetalmente, o senso comum trata todo o conhecimento como adquirido. Gilson, historiador moderno diz que a demonstração por Tomás de Aquino da capacidade da inteligência para adquirir todas as ideias a partir dos sentidos foi o facto filosófico mais importante de toda a idade média e se estenderá por todas as idades. O neotomismo em voga nas grandes escolas actuais segue o sistema Aristotélico/Tomista: objecto sujeito mas ninguém pode filosoficamente impor como absoluto aquilo que é relativo; conhecer sem objecto é uma coisa, conhecer o objecto indo ao encontro dele ou recebendo-o em sua casa não é negar o objecto. Para a interacção ideia/objecto embora invertendo o modo de aquisição ambos os sistemas são bons se conservarem a objectividade dos objectos; reprovados se suprimirem a dualidade reduzindo tudo ao sujeito. É árdua a tarefa de adquirir as ideias durante anos nas escolas, na vida, sujeitos às correcções dos professores, dos colegas, a fim de o conhecimento não ser uma ilusão, corresponder à realidade dos seres (adaequatio rei et intelectus); seria menos trabalhoso se as ideias nascessem conosco.

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O pai não pode deixar ao filho os seus conhecimentos; cada um tem de começar do nada a adquirir a ciência mediante esforço e trabalho árduo: na escola com a palmatória a empolar as mãos, na oficina calejando-as com a ferramenta; quem não se sujeita ao sofrimento da aprendizagem, o que sabe? O homem começa a sua caminhada gnóstica com o cérebro vazio pois nada entra na inteligência senão pelas portas dos sentidos (nihil in intelectu quin prius in sensu, nisi intelectus ipse, slogan de Leibniz). É preciso ter em mente o estado histórico do espírito humano que se encontra obscurecido, tem dificuldade em encontrar a verdade, por isso Deus veio em auxílio do homem oferecendo-lhe a renovação da inteligência, vontade todas as faculdades da alma, o próprio fundo da alma. É necessário ainda distinguir erro e limitação: a verdade é a igualdade entre ser e pensar mas como se pode julgar que o pirilampo do espírito humano ainda que no vigor e perfeição da sua acção natural pode esgotar o mistério do ser? É por isso que o conhecimento tem de ser tarefa comum, os 7 biliões existentes actualmente estão interligados na tarefa do conhecimento e melhor uso dos seres existentes Só o Criador abrange no Seu Espírito a obra que criou; o homem contente-se com o que a razão alcança ainda assim suficiente para ficar extasiado perante o mais insignificante dos seres criados…! Na primavera de cada ano aparecem nas árvores de todo o mundo biliões, triliões…de folhas todas diferenciadas umas das outras cheias de estomatitos que são laboratórios quase invisíveis onde se fabrica o fruto da respectiva árvore. Este incontável número de folhas nasce e cresce a bem dizer ao mesmo tempo, o homem vê e admira pois os 7 biliões juntando suas técnicas pensando toda a vida não são capazes de fazer 1 única folha…! E uma maçã, uma pêra, uma gota de água, de vinho…? E está persuadido pelo facto de plantar ou regar que as maçãs, peras, uvas são suas; está persuadido que sabe fazer um filho e que é todo seu…? Está persuadido que é total dono de si mesmo, quando não foi capaz sequer de fazer 1 dos seus cabelos…! O homem conhece ao conhecer o ser verifica que tal riqueza é toda para ele mas não foi ele nem é ele o autor do ser fora de si nem do seu próprio ser: o homem é um utente mas não é o Senhor do mínimo ser, goza de uma riqueza imensa mas se for sensato, por um lado reconhecerá a realidade e a serventia do ser para si , por outro lado reconhecerá que nada é seu. De quem é então o ser? 104


Só tem um Autor, o Ser. Os seres que o homem utiliza não conhecem o Dono mas o homem conhece, se O não reconhecer é mentiroso e injusto. Concluíndo esta análise sucinta do sistema gnoseológica A filosofia moderna/actual intitula-se gnóstica mas tal não quer significar sem objecto. Por outro lado a gnoseologia moderno contemporânea não é uma descoberta, é uma acentuação forte da parte subjectiva do conhecimento: os antigos, também começaram pelo processo cognoscitivo, a lógica de Aristóteles não é outra coisa senão um sistema de conhecimento. Os escolástico desenvolveram grandemente a lógica sendo célebre o Português Pedro Hispano, depois papa cujo sistema foi usado durante séculos em toda a Europa. Os escolásticos legaram-nos ainda excelentes modelos cognitivos como se exemplifica no argumento ontológico de Anselmo. Sem dúvida conhecer é operação do sujeito mas não consiste em devorar-se mas colocar ao seu uso três milhões e meio de espécies ônticas…! Vamos pôr em prática a intercomunhão sujeito/objecto a ver se podemos dar passos em frente conhecendo mais e melhor que os antigos, ou se não passamos de os censurar e depois nem sequer atingir o nível que nos legaram? Principiemos pelos princípios…!

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Princípios

Um dos temas mais confusos e difíceis de extricar é o dos princípios, em realidade, falando com autenticidade só há um principio, esta palavra não devia ter plural pois na realidade só existe 1 Princípio, tudo o mais é principiado, relacionado causalmente com o Princípio. Como porém o Criador insere na criatura sempre algo que manifesta o Seu modo de agir, não a faz só efeito mas causa também: todos os seres são principiados pelo antecedente mas são princípio do consequente; a causalidade dos seres em relação de uns com outros é próxima, a de todos os seres com o Criador é remota. Estas terminologias se não forem bem compreendidas levam a grandes confusões: ao designar o Criador por causa Remota, causa Suprema dá a entender que fica muitodistante da criatura, ora o Criador está mais próximo 105


da criatura que ela de si mesma (Tomás de Aquino). O pai gera o filho que por sua vez se torna pai para gerar o neto, no efeito passivo está incluído o princípio activo causador do seguinte na série. O que sucede com o rei da criação sucede com os seres mais próximos do homem (animais e plantas), trata-se de uma prova especial de intimidade porque Deus não precisa que a criatura lhe dê seja o que for, os elementos e anjoso não são gerados. Julga-se também por vezes que a 2ª é uma substiuição da 1ª, ora é apenas um acompanhamento secundário, prova de amizade do Criador à sua criatura associando-a à Sua Obra que todavia é sempre Sua, o Criador não se retira, não vai dormir deixando a criatura em seu lugar, Ele está sempre necessariamente presente porque gerar não é criar mas colaboração secundária na criação, o filho que um pai gera é mais exacto dizer que o pai é o Criador pois mesmo o poder gerador é dádiva do Criador…! O princípio causal é o fundamento, está na base da ontologia, como é óbvio todos os seres são causados, têm origem em 1 único princípio básico, o Criador: os seres principiados formam uma cadeia ininterrupta entre si mas toda sempre presa ao Criador aliás cairiam no nada donde saíram. Dado este entrelaçamento de uns seres darem a mão a outros poder-se-á dizer que todo e qualquer ser é simultanemante principiado e prinípio: em relação à Causa Suprema é sempre principiado, em relação ao ser que se lhe segue na cadeia é causa…! A ciência devia ordenar os princípios principiados, dispô-los em pirâmide no seguimento de Plotino de tal modo que a cimeira da torre ligasse os principiados ao Princípio, ainda porém sou lançou as colunas da Catedral…! O papel do filósofo consiste em chamar a atenção para o que se passa na invisibilidade, ao contrário do que parece a invisibilidade é o sustentáculo da visibilidade e não viceversa. Encontrar o Arke donde depende tudo, foi com esse intuito que os Jónios inauguraram a via causal, ingressando na qual os pensadores subsequentes encontraram o Ser Necessário, Transcendente, Princípio dos seres de natureza principiada que designaram de contingentes. O magno problema da filosofia moderna e pós consiste no inquérito de como se relaciona a ontologia com a gnoseiologia. Toda esta II parte do nosso trabalho está dedicada a esse questionamento e múltiplas soluções apresentadas, aqui, uma vez que se trata de princípios devemos apresentar tanto os ônticos como gnósicos. Na verdade o ser só nos interessa se se torna nosso, se passa da objectividade, lá fora para a nossa subjectividade, transita da existência ontológica para a noológica, subjectiva (cf títulos obj/suj): os princípios 106


subjectivos são detectados por indução pelo «nous» à medida que vai conhecendo os objectos, pelo facto mesmo vai descobrindo sua capacidade cognoscente. Exemplo trivial O cognoscente chega à margem de um rio, deseja encontrar a origem, a fonte onde nasce: olha o sentido da corrente usando os sentidos externos, continua usando outro género de sentidos, os internos, depois com a faculdade super sensível, infere imediatamente que a fonte se encontra em direcção oposta à corrente, subindo de barco ou atravessando as cidades, aldeias e campos por onde passa chega à fonte que é a Estrela em relação ao Mondego. O rio, a direcção da corrente, as cidades, a fonte constituem o elo causal. Olhos, imaginação, locomoção, constatação da origem ao encontrar a fonte constituem a via noética. As ciências das causas próximas vão até onde a visibilidade as conduz, a fonte; agora começa o nível filosófico, o das causas metafísicas de natureza invisível porque em verdade a fonte é o princípio do rio para os sentidos mas não para o «nous» inteligência; esta vê que a origem do rio não está na fonte mas no mar, vê o princípio onde os sentidos vêem o termo…! O sol lá das alturas manda à nuvem que leve a água a um alto monte, a nuvem é atravessada por centenas de aviões, não leva água nenhuma dentro mas chega ao pico dos montes e descarrega aí toneladas e mais toneladas de água que entra no bojo do monte e sai pelas torneiras das fontes…! Os sentidos descobrem os efeitos, só o espírito descobre esta série de causas reais invisíveis, tornando mentirosas as aparentes. Esta via invisível que o espírito seguiu para a encontrar o mar como origem de todos os rios verdadeiramente não é metafísica, pertence ainda às causas próximas, à visibilidade embora menos aparente que a 1ª. Saber como apareceu essa mol imensa de águas, a partir da pura invisibilidade, sem causa principiada anterior, toda essa água que circula há milhões de anos da terra para o mar e do mar para a terra sem que uma gota se perca, este sim é o nível metafísico pertencente às 2 ciências das causas últimas, a filosofia e teologia: a filosofia postula a existência da Causa Imprincipiada pois «se tudo começa, então nada começa» (Aristóteles). A teologia firma esta inferência da razão com o dado histórico: de facto a acompanhar a visibilidade há uma figura misteriosa invisível que a ocultas dos sentidos realiza o plano maravilhoso da Criação visível «cum eo ero cuncta componens» (Prov 8,30, cf título Sabedoria). Conhecer não é outra coisa que medir o ser mediante o «nous» faculdade própria que transcreve o objecto que recebe em si sem o alterar «adaequatio rei er intelectus» . 107


Baseado em a natureza e capacidade do «nous» Aristóteles formulou para a filosofia o princípio da unidade : cognoscente, conhecido que entrou e ficou para sempre na história com a designação de princípio de não contradição. Princípio de não contradição Tão ontológico como gnósico, simultaneamente objectivo/subjectivo. O ser igual a si mesmo (A=A). Não ser=não ser (nA=nA). Entre ser/não ser nada se pode inseir, 3º Excluído. Ser/não ser, nunca se juntam porque ao entra um tira o outro n (A e Na). Aristóteles classificou de evidente, a história designou-o de «princípio de não contradição», ninguém pode quer na ordem ontológica quer gnósica, histórica ou geográfica destruí-lo, contradizê-lo. A gnoseologia portanto é tão velha como a filosofia unidas na faculdade «nous» que não tem outra função natural senão a de conhecer o ser enquanto ser. Os modernos aberta ou tacitamente contestam dizendo que o mesmo princípio não pode servir as 2 ordens: objectiva/subjectiva mas após Aristóteles ninguém ofereceu substituto. Na verdade o «nous» devido a não ter órgão, não é perturbado pela forma material como os sentidos, torna-se sujeito de todas as formas entitativas sem as alterar: cada ser é sempre relativo a outro, outro… até ao Ser Absoluto, o ser é porção, caminho para o Ser, o espírito não tem capacidade para captar o ser na sua absolutez, nunca pode esgotar o conhecimento do ser pois a Criação excede a compreensão humana mas pode conhecer a mensagem utilitária, capta do ser tanto quanto o Criador quis que significasse para o homem (cf Im/Trans). A partir do supra dito compreendemos os múltiplos significados que o vocábulo princípio contém, concretizamos com alguns exemplos. Exemplos Os pontos cardeais norte-sul, este-oeste são princípios relativos à terra. A cabeça e os pés são o princípio do corpo em ordem tanto descendente como ascendente. Em geometria dizemos que o ponto é o princípio da linha, esta da superfície que por sua vez é o princípio do volume...! Princípio é portanto um conceito mais vasto que causa pois aplica-se tanto à ontologia como gnoseologia, história, é relativo a todo o ponto de partida.

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Os 3 reinos da vida (vegetal, animal, racional) após a criação são princípios gerativos com várias operações subalternas: nascer, crescer, nutrir-se, miscigenar, ambientar-se, frutificar, morrer). A ordem gnoseológica segue a ontológica em sentido inverso partindo das diversas faculdades como sujeitos: sensação, imagem, ideia, voz, vocábulo, técnica, ciência…! Sem o ser, o conhecimento é vazio, permanece no não ser, não pode andar, é impossível pensar outra coisa senão o ser. A História não pode preceder o ser porque a história é manifestação do ser no devir do tempo e do espaço; o nada não tem história, porque nem sequer tem espaço ou tempo, acidentes inseparáveis dos seres móveis. O princípio de não-contradição tem assim todas as prioridades: Ontológica, Gnoseológica, Lógica, Histórica mas é em o «nous» que elas se tornam subjectivas...! Princípio de razão suficiente Leibniz é o autor deste princípio, pelo que se pode chamar um princípio moderno. O princípio de razão suficiente nasceu por 2 motivos: desde sempre, até mesmo cientistas e escritores atribuíram causalidade ao acaso. Leibniz desfez o mito dizendo que não existe o acaso nem o “fatum” tudo tem uma razão suficiente; atribui-se ao acaso um certo número de acontecimentos de que por preguiça não quer investigar-se a causa, mas tudo acontece segundo as leis do determinismo ou da liberdade humana que se alguém conhecera já não atribuía os efeitos ao acaso. Outra razão que levou Leibniz a postular o princípio de razão suficiente foi a Criação pois sem o Criador não há razão suficiente para entender o universo. Espinosa diz que a Criação é necessariamente exigida pela contingência dos seres. Descartes dissera que a Criação depende de um acto livre de Deus mas Leibniz entendeu Descartes no sentido de a Criação ser arbitrária, a Criação tem de ser regida por motivos sábios: Deus é a Inteligência pura, se os dotados de razão não agem sem motivações, como pode o Criador agir só por capricho, arbitrariamente”!? Deus agiu pelas melhores razões ao criar o mundo e por isso o mundo é o mais perfeito possível! Vários filósofos têm levado para a chacota “o melhor dos mundos” perante a peste, a fome, a guerra…! 109


Leibniz diz que a razão suficiente da Criação foi a Bondade Divina, sendo bom tinha de fazer um mundo bom, está de acordo com a teologia judeo-árabe-cristã e as filosofias tradicionais de Platão-Aristóteles-Aquino. Os teólogos porém introduzem o argumento histórico da queda para explicar o mal, acidente acontecido após a Criação, não pertence à origem dos seres, boa por essência mas a um acidente de percurso que desconhecido levam a erro sobre a bondade da Criação. Faltou a Leibniz explicar o mal pela história da queda, daí a ironia a que se expôs. A razão suficiente de Leibniz aparentemente é mais maleável que o princípio de causalidade, sem a conotação determinística que vários querem ver no vocábulo causa; não foge porém a ser um termo análogo. A crença A crença é um princípio mas não infalível, os sentidos devem ser educados e controlados aliás caem no erro: todos vêem o sol surgir no oriente e morrer no ocidente; disseram durante séculos que o sol andava, a terra estava quieta; os sentidos não estão errados, é de facto o que eles vêem; os sentidos porém não fornecem o conhecimento definitivo, este tem de ser completado pela inteligência pois só ela vê o conhecimento pelas causas ao passo que os sentidos não vêem o alicerce debaixo da terra: os sentidos detectam os efeitos mas não as causas, estas pertencem à inteligência, dotada do poder penetrante de ver até ao invisível. A inteligência é dotada intrinsecamente da capacidade de atingir a raiz dos fenómenos, a substância, acima do poder dos sentidos. Os sentidos só podem ver as aparências, a inteligência penetra além dos sentidos, apreende a verdade da causa através do efeito, comanda os olhos para que vejam a realidade como ela é mas não para aí. A inteligência continua a viagem causal para além dos olhos desarmados: o sol também anda, não em relação à terra mas às galáxias superiores, confirmam hoje instrumentos fabricados pela inteligência que estendem o poder dos olhos a distâncias nunca dantes sonhadas....! O nosso conhecimento científico provém da crença nos profissionais das ciências que nunca tivemos oportunidade de constatar: os alunos adquirem a maior parte dos seus conhecimentos mediante os mestres que orientaram sua inteligência em tal e tal direcção; a inteligência não se mete hoje ao trabalho de explorar o átomo, vai buscar o que outros exploraram, acredita neles. Entender as coisas através do auxílio dos outros é o que se chama crença; o homem acredita nas matemáticas que os professores lhe ensinam, acredita 110


nos economistas, acredita na linguagem, acredita no reclame, acredita no médico, acredita no bruxo, acredita no político, acredita em si mesmo, acredita no diabo …! A crença do homem no homem é uma fonte imprescindível do conhecimento: consciente ou inconscientemente todo o homem é conduzido por crenças em outros homens que julga superiores a si em conhecimento. A crença humana é admitida por todas as ciências, todas têm os seus criadores e mestres, mesmo os chamados autodidactas aprendem a partir de mestres. A fé O mais seguro dos princípios é a fé em Deus, este termo deveria reservar-se só para Deus pois o homem é sempre falível, nunca merece fé em absoluto, a fé em Deus é dotada da infalibilidade. A filosofia, ciência das causas supremas encontra Deus com toda a certeza cientificamente seguindo a cadeia dos seres mas a filosofia não consegue conhecer a natureza íntima de Deus. Ele manifestou algo aos seus amigos, só pela fé em tais testemunhas se conhece a história e o plano de Deus para o homem. Rahner, considerado o maior filósofo /teólogo actual afirmou que hoje Deus é do domínio de qualquer ciência como Criador: as físico-químicas de facto há muito adoptaram o princípio criacionista: tudo é criado, a ciência só transforma o criado. O que acrescenta a fé ao conhecimento causal? A fé é um complemento histórico: sabemos que a história no tempo dos gregos não era tida como ciência das últimas causas mas a partir de Agostinho, no seu apogeu com Hegel a história passou a ser argumento preferencial. Os pensadores cristãos além da ciência que o cosmos oferece aos olhos aceitam a ciência dos profetas, homens credenciados para transmitir as mensagens de Deus, aceitam acima de qualquer ciência humana a do Fundador do cristianismo, um homem que se declarou Filho de Deus Encarnado e provou que assim era regressando à vida por si mesmo após o terem morto, está vivo com a belíssima idade de 2000 anos. Concluindo O ser até ao Ser vem a nós pelo «nous» que o transforma de objectivo em subjectivo: no vocábulo ser está toda a sensibilidade, intelectualidade, bondade, beleza, unidade, imortalidade; Heidegger na sequência de Kant salientou a pulcritude do ente nas expressões artísticas da poesia, música, 111


drama (hoje cinema, vídeo, animatógrafo...) quem todavia nos traz toda esta riqueza do ser é o «nous». Se o «nous» porém não se reconhecesse como principiado com a missão de unir os seres (todos principiados) ao Ser Imprincipiado contradizia sua natureza mesma. Os gregos atribuíram ao «nous» natureza divina, centelha da Mente Suprema; os crentes «espelho» da divindade. É a jóia da criação para atravez do ser conduzir o seu possuidor, o homem ao Ser, leva o homem ao céu, traz o céu ao homem…! 2 Citações recentes Relativismo (Cardeal Ratzinger na Sorbonne) O pensamento científico estabelecido em outro fundamento que não seja o ser perde a verdade, torna-se relativo ao inventor, não satisfaz o princípio de contradição: ser e não ser excluem-se, se não está de acordo com o ser tem necessariamente de excluir-se. P Hélio, filósofo brasileiro disse recentemente: o que dirige a sociedade é o direito positivo (criado por um jurista e seguido pela sociedade). Se esse direito contraria o direito natural, vai contra o ser, está errado pois entre ser e não ser não pode colocar-se qualquer outra possibilidade, é o princípio do 3º excluído. Um cientista defendeu que um cão é igual a um burro, todos seguiram a opinião do cientista e votaram por ele, tonou-se lei tratar o cão por burro. A lei todavia não conseguiu que o cão não mordesse e o burro não couceasse os que votaram a igualdade!

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Falar

É o dom humano por excelência, consiste em os humanos comunicarem entre si a riqueza dos objectos pensados mediante a melodia da linguagem. O animal que fala. A voz humana põe em sinfonia todos os seres que o pensamento detecta no céu e na terra de acordo com as convenções linguares dos povos e nações do mundo inteiro…! A filosofia clássica descobriu o ser como objecto do «nous» (ontologia). O moderna transformou o ser em conhecer (gnoseoloiga). A contemporânea transformou o ser em melodia (glossologia). 112


O ser pensado só tem uma face, todos o vêem do mesmo modo mas falado tem inúmeras vozes e tonalidades, cada povo o sonoriza a seu modo. A filosofia em cada idade reveste uma característica, a actual é glossolálica. As vozes humanas que agora cobrem o globo (7 biliões) se em coro gravassem os seres do universo extasiariam mesmo quem não tem ouvidos (anjos, Deus…)! Há certamente vozes mais numerosas que as humanas: aves, feras, animais selvagens e domésticos, os ventos, trovão, rugido dos mares…mas não traduzem os seres, só anunciam sua presença…! O fenómeno que peremptoriamente separa o homem do animal é a fala, toda a comunicação social desde o nível mais comum ao artístico e sofisticado passa pela linguagem: é a moeda corrente que transmite ideias, agita paixões, tece intrigas, causa disputas e guerras, promove a paz, canta o amor, blasfema o céu, mete nos infernos, adora a Deus...! A linguagem é olhada sob diversos ângulos: fonética, morfologia, sintaxe, estilística, retórica, poética, semântica, semiológica, semiótica, lógica, matemática, tecnocrata…! Os mestres da linguagem debruçam-se sobre os diversos ângulos da sua expressividade para melhor compreender o instrumento por excelência da comunicação humana. Quem não é especialista tem ao menos de compreender de modo geral a função da linguagem: os mecânicos conhecem a linguagem do seu metier totalmente, dão às peças do carro o nome próprio, o utilizador só sabe o nome das peças que manipula…! Em este título olhamos a linguagem sob o aspecto da sua funcionalidade básica pois convém à filosofia olhar qualquer tema somente sob o prisma das supremas causas. Realidade, pensamento, fala, vocábulo, grafia, eis a sequência a ter em vista para demonstrar a génese da linguagem. Logo que a razão desabrocha, os primeiros membros da criança a serem educados pelos progenitores são os pés para que ande, a língua para que comunique! Cedo a criança deixa a casa paterna, toma o caminho da escola onde passará a adolescência e juventude na aprendizagem das técnicas linguares que vão além da trivialidade coloquial doméstica, disciplinas para as quais os progenitores não têm capacidade ou não querem exercer; só após o longo período da escolaridade a pessoa está apta para entrar no mundo da actividade social cuja trama consiste no recto e competente uso da linguagem. A fonética 113


Se nunca tivesse havido separação entre os povos só haveria uma língua mas devido às separações eis a enormidade de línguas que se criaram para comunicar entre si ou de idade para idade. Usaram sucessivamente gravuras de objectos nas rochas…tijolos…couros…! A técnica fonográfica só em tempos históricos muito próximos começou a existir excedendo de tal modo as técnias anteriores que se tornou o protótipo universal: o homem que em vez de desenhar os objectos nas rochas os desenhou no aparelho sonoro que todo o homem/mulher possuem e relacionou com 1, 2, 3 segmentos de recta foi o maior benfeitor do progresso humano. A excelência deste método é tão óbvia que se tornou o paradigma universal mas reservado a pequenos grupos de técnicos especializados. Recentemente, há pouco mais de 1 século os diferentes povos foram comunicando uns aos outros a ideia de alfabetizar por completo suas populações, hoje é um facto geral consumado; eis o maior factor do progresso moderno…! Os progressos da idade presente não sofrem comparação com o passado devido à escolaridade: a descoberta das diferentes formas de energia desde a eléctrica à nuclear, o motor, o carro, o transatlântico, o avião, a sonda espacial, o «Columbia, Discovery, Shuttle»; o rádio, gravador, televisão, o radar, os satélites; o computador, a Internet; instrumentos cada vez mais sofisticados na medicina, electrónica, farmácia, astronomia, guerra das estrelas têm todos uma expressão gráfica: os 22 a 30 sinais alfabéticos...! Este estonteante progresso em tão curto espaço teria sido inexistente se a linguagem oral não fora convertida em sinais que os próprios instrumentos entendem, trabalham em favor do homem (rádios, gravadores, telefones, computadores, internet…). Desenvolvem-se cada vez mais os relacionamentos entre a linguagem vulgar e científica; a grafia toma grande relevo na expressão científica: a física exprime-se em coordenadas algebro-geométricas; a química, farmácia por fórmulas como «H20», H2S04; a pintura desde o cubismo ao abstractismo obedece a perspectivas gráficas; as distâncias são cobertas devido ao conhecimento das ondas luminosas e magnéticas que os instrumentos entendem mediante cifras linguares...! O homem está ensinando aos instrumentos a manusear os sinais lingúisticos (letras/algarismos) que usa para que desempenhem tarefas que ele deveria executar com enorme esforço e os instrumentos fazem enquanto ele descansa e dorme. O computador é um exemplo típico do progresso da linguagem instrumental: começando por simples operações aritméticas, hoje é capaz de efectuar as operações algébricas mais sofisticadas; traduzir para a própria todas as 114


línguas do globo, tocar todas as músicas das orquestras mais famosas, mostrar pinturas, aquitectura, filmes de toda a espécie; mediante os dedos em teclas tem sido o modo normal de comunicar com o computador, agora já se dispensam as teclas, comçam mesmo a dispensar-se os dedos, a voz move as teclas ou sem teclas escreve no écran…! O computador percebe assim todas as linguagens que não apenas a coloquial mas a musical, fotográfica, videográfica, guardando no seu cérebro milhares de canções, fotografias, vídeos em escrita binária enquanto o cérebro humano só é capaz de guardar quantidades insignificantes e com falhas de memória...! Computadores ajustados aos carros avisam o condutor com toda a cortesia: por favor feche a porta, esqueceu as chaves, as luzes continuam acesas...! Usados na navegação aérea como pilotos automáticos, poupam ao homem o stress que a atenção contínua exige...! O carro tanque desembarcado na lua e o que recentemente pousou em Marte são consertados de longe, é-lhes mudada a rota, corrigido o braço a partir da terra...! Donde tão rapidamente veio este progresso em cadeia? Porque a linguagem passou da língua e ouvidos para os olhos, para os braços, enveredou por técnicas sofisticadas, alargou as rédeas à infinita curiosidade científica do espírito humano que assim através de várias etapas atingiu a era digital, a linguagem binária que o Criador usou para fazer todos os seres do comos, a matéria/forma! Assim se compreende que os espíritos científicos e filosóficos da nossa idade se alertassem para o problema que tem estado na base de tão extraordinário surto de progresso…! A idade contemporânea será sem dúvida classificada de «Idade glossolálica, glossográfica, glosso-Informática, glosso-digital, glossológica»...! O progresso aplicativo das técnicas já em uso há-de continuar de tal modo que em breve cada família, cada indivíduo mediante a rede comunicativa tenha consigo toda a informação, não precise de ir à escola, ao médico, ao supermercado…! Fazer jus a uma idade não deve tirar o que pertence às demais. Seríamos injustos se disséramos que o problema da linguagem, suas técnicas científicas aconteceram de improviso nos nossos dias, que os filósofos passados foram vesgos quanto a este problema fundamental, as técnicas gráficas foram criadas para algo já existente: os 90 mil vocábulos da língua lusíada foram criados antes das modernas técnicas da linguagem bem como gramáticas, estilísticas, retóricas, lógicas. Nunca se reconhecerá bastante o que os linguístas passados nos legaram ao 115


criar as inúmeras flexões dos vocábulos que desde os gregos e romanos se têm vindo a aperfeiçoar para que o vocábulo se adapte a tempos, a realidades, a imaginações devido a pequenas mudanças: quero (acção), queira (possibilidade), queria (desejo), quererei (futuro), querer é poder…! Hoje encontramos tudo feito mas os antigos tiveram de construir toda esta flexibilidade da linguagem, não os julguemos sem contributo para o progresso hodierno pois sem os pequenos passos dos antepassados não poderíamos dar os gigantescos de hoje. Os sábios latinos lançaram-se a fundo na corrente egipto/fenícia/helénica, foram mestres inigualáveis na fabricação da linguagem por excelência de cujas técnicas beneficiam hoje, a língua latina. Esta por sua vez é repositório de todo o passado, sem ela não teriam chegado a nós as luzes dos pensadores passados. Agostinho, Boécio, Aquino, Lombardo, Dionísio, Avicena, filósofos e teólogos foram mestres consumados em esta língua; começaram por se familiarizar com o vocabulário das suas ciências, admitindo o sentido que as respectivas escolas davam a esses termos, redefinindo-os quando havia ambiguidade em torno deles, criaram o slogan: dêem-se as definições correctas dos temos da linguagem, acabam as discussões. O vocabulário greco/latino é a maior herança cultural do passado sem a qual não poderíamos comunicar com os grandes espíritos de antanho, simplesmente não teríamos história do pensamento e dos feitos de nossos antepssados. Elogiar pois a época presente não deve levar ao desequilíbrio de diminuir o mérito das passadas; o vocabulário é o estofo da ciência, as fórmulas e gráficos da técnica são traduções do vocabulário que será sempre o estofo geral da comunicação...sábio ainda hoje é o que possui mais vocabulário e domina o seu conteúdo…! Ensino da linguagem A criança começa a balbuciar, está a acordar a razão, a faculdade do pensamento, precisa da linguagem para se exprimir, os progenitores ensinam-lhe a formar as vogais escancarando a boca desde o máximo ao mínimo de abertura e soprando para que as cordas vocais produzam o som diferenciado que cada abertura de boca ocasiona. A cada som vocálico desde a máxima abertura até ao fundo da gargante correspondem os seguintes sinais gráricos: a, e, i, o, u. Colocando as vogais nos lábios, dentes, palato… a cada órgão correspondendo um sinal gráfico chamado consoante porque não tem som, este vem-lhe da vogal adjunta formando sílaba, formam-se todos os sons linguísticos. 116


O vocábulo é composto de uma ou mais sílabas: o vocábulo lusófono mais extenso, artificialmente construído consta de 13 sílabas: «anticonstitucionalisimamente»! Acepção, «suppositio» Só quando uma emissão de voz constituída por uma ou mais sílabas por convenção de cada povo representa um objecto é que adquire significado «meaning», então toma a designação de vocábulo, também palavra. A técnica de formarr os sons para os vocábulos chama-se fonética. A técnica de aplicar signifcado aos vocábulos chama-se morfologia. A técnica de combinar vários vocábulos a ponto de formar juízos chama-se sintaxe ou lógica. Unir vários juízos em sequência chama-se discurso. Prosa, poesia e outros enfeites estilares são nuances da linguagem. Significativos são os ramos científicos porque juntam à linguagem comum sentidos superiores, visões mais aprofundadas dos objectos em que se especializam, significam o real progresso de um grupo que se torna luz para o geral. Os filósofos e teólogos são grandes benfeitores da humanidade porque exploram a ciência do homem, não suceda que esteja a abarrotar do conhecimento dos seres inferiores e à míngua do seu próprio conhecimento. Quanto mais alguém se embeber na ciência filo/teológica mais proveitosa será sua existência presente e caminho seguro para a eterna. Plurilábio Os grupos linguísticos actuais têm a seguinte ordem de acordo com o número de participantes: Chinês, Balcâncio, Saxónico (Inglês-AlemãoHolandês), Latino (Francês, Espanhol, Português, Italiano, Romeno ). O grupo banto é certanente o maior da África mas devido a permanecer ainda basicamente na oralidade não é referido. Grafia Todas estes grandes grupos linguares já classificados e os ainda não classificadas do mundo inteiro se podem grafar com 23 sinais constituídos por 2 a 3 segmento de linha recta ou curva: os progressos actuais admiramnos mas não percamos a admiração por estes passos do passado sem os quais não poderíamos ter os presentes. Nos milénios subsequentes até hoje não houve necessidade de criar mais, estas 23 letras e 10 algarismos grafaram, continuam a grafar todas as línguas existentes! Seria de esperar que devido aos progressos hodiernos se acrescentassem novos sinais, afinal surgiu a maior das possibilidades gráficas com o mínimo de sinais: a linguagem digital que consegue com apenas 2 sinais (0, 1) grafar 117


todas as línguas, fotografias, canções, músicas do mundo inteiro e arquivar as mesmas não em papel mas no ventre de uma caneta (pen)…! Linguagem/realidade O benefício essencial da linguagem está em colocar na língua, instrumento básico da comunicabilidade todos os seres existente no céu e na terra mediante vocábulos que tanto podem acarretar consigo uma formiga como o Atlas. Um dos vocábulos mais usados na linguagem é «ser» Vejamos, tomando este vocábulo monossilábido como protótipo a carga significativa que pode acarretar desde longe para transmitir à geração actual. Finance é um neoscolástico contemporâneo, eis o que diz da génese e progreso do vocábulo “ ser “ A / ser “Esse, exesse, existere, extare”, verbos latinos que têm a raiz de ” esse”. “Ens, essens”, particípios de “esse”. “Existens, extans (stans)” particípios de “exesse, existere, extare (stare)”. “Esse” indica a actividade primeira de qualquer objecto “prius est esse quam esse tale”. Os particípios são tempos verbais, não alteram o significado. O vocábulo ser veio das línguas orientais para o grego e latim; destas para as línguas vernáculas. Es-bhu (fuo) são as duas raízes indo-europeias originais do verbo ser significando brotar-crescer; delas derivaram «einai-esse, fuo-fui» formas presente-perfeito grecolatinas. Todas as línguas europeias introduziram o verbo ser no seu vernáculo: sein (Alemão), be (Inglês), être (Francês), byt (Russo), ser (Português)...! B / estar O verbo “exstare, sistere, stare» com os derivados «consistere, constare” mantêm tão estreita relação de significado com “esse” que várias línguas empregam ser por estar “Stare”: estar de pé. «Consistere» estar firme, consistir. «Exstare=ex aliquo stare, ex aliquo esse” sair de. Podemos constatar por nós próprios a proximidade do significado de ser e estar. 118


Nas principais línguas europeias (Francesa, Inglesa, Alemã) ser acumula estar. O Português estar significa algo de passageiro, acidental; enquanto ser define, afirma a estabilidade da definição, afirma a substância. Em Português ser, haver, existir aproximam-se muito no significado de conteúdo. Formas derivadas de ser, existir, estar, haver Ente, existente, estando, havendo. Ser, existir, estar, haver. Essendo, essente deram em Português sendo, ente e o substantivo abstracto essência. Em Português, o particípio substantivado "ente", umas vezes significa "essente" (que existe apenas como possível); outras (que existe actualmente como indivíduo). Os substantivos abstractos essência-existência são de uso corrente quer na língua comum quer em filosofia. A essência indica o modo estático definiente, de per si não inclui a existência. O modo actual, individual e dinâmico é indicado pela existência. Na comunicação não especializada estas distinções minuciosas não importam mas na linguagem filosófica estas distinções terminológicas são importantes, inúmeras questões se têm levantado devido à defeituosa inteligência do verbo ser e seus derivados. A filosofia usa os mesmos termos que a linguagem vulgar mas preocupa-se com nuances de sentido a que a linguagem vulgar não atende. Ser é a palavra mais usada em todas as línguas, o saco universal para onde se atiram todas as coisas que se conhecem e não conhecem ou a que não se quer dar o nome próprio, é pelo facto mesmo a palavra da confusão, porque tanto pode conter o mundo inteiro, o céu e a terra como apenas uma teia de aranha; daí terem de se usar todas as cautelas acerca do sentido que toma em filosofia. O significado básico é o da primeira acção de um ser; os orientais aonde se foi buscar o termo entendiam como primeira acção o nascer, o conceito porém é anterior ao nascer; é este o sentido filosófico: o conceito, a definição manifestada no primeiro acto de um ser; como todos os seres têm esse primeiro acto, eis a razão porque é a palavra básica, mais universal porque ainda que se não conheça nenhuma outra actividade, se existe, começou, deu o primeiro passo ao ser concebido quer real quer mentalmente!

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“Esse ou actus essendi”= actividade do ser, acto de ser “Ens, entia”= particípio de “esse” no singular e plural neutro. “Essens, essentia” = outra forma do particípio de “esse”, no singular e plural neutro. Temos assim 2 particípios derivados do verbo ser: “Esse = ens, essens”. O plural neutro de “ens”= “entia”. O plural de essens= essentia Para a língua lusa transitou ente, entes, não essente, não ência mas essência. Os verbos latinos «existere, stare”, “existens, existentia; stans, extans, extantia” passaram a: existir, estar com todas as suas formas substantivas e adjectivas. Existir acrescenta a actualidade ao ser: além de ter uma definição e ser possível, realiza-a neste momento, é um ente existente. Existente é complementar do substantivo ente ou ser para significar a actualidade porque ente ou ser tanto significa actual como possível, real como potencial. O substantivo essência significa a formalidade, a quididade, a mera possibilidade para existir, não inclui a existência embora também não a negue pois indica a potência para ser. Existência é substantivo; existir é o verbo que designa o acto de ser de uma essência. Tomás de Aquino no comentário ao «De Trinitate» de Boécio diz: o ser é análogo, como tal, cada ciência terá de usar o método apropriado para captar o ser dentro do seu grau de abstracção. O ser das ciências físicas é o móvel; o das matemáticas prescinde da mutabilidade, considera apenas a medida; o Ser Supremo é imutável; aspectos diferentes do ser exigem metodologia diferente, adaptada ao objecto para que o conhecimento seja fácil e resulte em ciência. O vocábulo tanto pode estar cheio de existencialidade como nada ter dentro, significando apenas o invólucro que tem o mesmo nome cheio o vazio. O dicionário contém todos os significados de um idioma e todavia não tem realidade alguma dentro de si: pera, maçã, uvas, ouro, homem, Deus...todos os seres aí contidos não passam de sinais gráficos que os lábios podem traduzir em sons mas não está lá pera alguma, maçã ou Deus; este é o grande problema do vocábulo que tanto significa cheio como vazio. 120


A Lógica e gramática advertem-nos que reparemos sempre se de acordo com o contexto se está a dar o significado nominal da palavra, a explicar o que o termo significa na língua que está a ser usada ou se está a afirmar a realidade existencial significada pelo vocábulo. O dicionário apresenta todas as definições dos termos mas não lhes põe dentro a existencialidade; para que se afirme a existencialidade é necessário sair ao campo, apontar para o fruto da pereira e dizer: acolá estão as peras que estão sempre no campo, nunca no dicionário...! Animal racional é a definição do homem, expressa sua essencialidade mas não tem homem nenhum lá dentro, nada tem de existencialidade; quando vai ali o homem José da Silva, agora é que ponho existencialidade no vocábulo, ponho lá ao menos um homem que tem tal definição. Enquanto nos mantemos no dicionário, suas definições e sinonímia estamos no mero campo dos sinais. A criança vai ao dicionário procurar o significado do vocábulo homem, encontra animal racional, tanto valendo empregar estes 2 como aquele único, mera tautologia, sinais da mesma realidade mas uma forma linguística equivalente a outra, de per si não contém a existencialidade. A existencialidade não está nem em homem nem em animal-racional pois são meros vocábulos, em que um significa o outro, não afirmam que estejam cheios mas apenas que podem ser cheios da realidade que convencionalmente significam. Tomás de Aquino bateu-se grandemente por esta distinção quando disse: nenhuma definição contém existencialidade, por isso é que as definições exprimem essências, não o acto de existir; entre essência e existência há uma distinção como entre o real e o possível; o vocábulo tanto traduz o real como o possível, tem de se olhar à sintaxe para evitar o equívoco! Aristóteles tinha dito por outras palavras: a Lógica e gramática são meras técnicas da correcta expressividade do ser: há distinção entre a técnica expressante e a realidade aí contida. O ser real fica lá sempre na existência tal qual é, quer o homem lhe dê expressão linguística ou não; se o homem apreendeu a adequação entre o significado e o ser então o homem possui a verdade, o termo trouxe-lhe a realidade. Os homens que nos precederam contemplaram os seres, conceberam-nos mentalmente, fabricaram um sinal para cada essência a fim de comunicar com os outros homens da mesma língua; hoje o vocábulo transmite-nos seus modos de conhecer, suas ideias sobre os seres. 121


Para irmos ao encontro dos filósofos que nos precederam temos de percorrer o caminho: vocábulo, pensamento, objecto; se há essências, foram abstraídas dos indivíduos, eles têm que estar lá em si mesmos na matériaforma da sua constitucionalidade individual alhures. As cautelas que estamos a exigir para a palavra-chave da linguagem filosófica “ser” que substitui todos os verbos, bem como os vocábulos derivados «essência, ente» estendem-se aos 90 mil vocábulos da língua Portuguesa, bem como a todos os vocábulos das línguas dos homens e dos anjos: não basta saber o que significam mas é preciso saber se contêm o que significam de tal modo que não confundamos o significado nominal com o ser real que está lá na matéria em indivíduos e espécies...! Pode haver o perigo e de facto é frequente alguém não falar dos seres existentes mas apenas das palavras que os significam. Outro grande mal é ligar a uma palavra não o sentido real mas imaginário; deste modo ocasionam-se discussões intermináveis porque a pessoa que imagina pensa que tem razão quando só tem razão aquela que pelo vocábulo que pronuncia traduz a realidade. Influência da história no significado dos vocábulos A significação dos vocábulos varia de época para época; a partir da idade moderna, o vocábulo ser não tem o mesmo conteúdo que durante a clássica e medieval; Kant reduziu o ser aos fenómenos, afirmando dogmaticamente que a razão não tem capacidade para conhecer o ser substância; seus seguidores reduziram o ser a mero significado lógico. Os existencialistas: Heidegger, Kierkegaard, Marcelo, Sartre usam ser para significar a situação existencial do homem que segundo eles consiste em qualquer espécie de angústia, não se importam de definir o homem segundo a sua essência. Freud é fenomenista psico-sociólógico define o homem segundo o critério do pansexualismo…! Portanto o ser em geral e o ser aplicado recebe inúmeras significações de acordo com as idades e até de acordo com as ideologias. Na comunicação interpessoal o monossílabo ser é proferido centenas de vezes ao dia, trata-se de uma espécie de muleta linguística a que se arrima o pensamento impreciso, substituinte de todas as coisas cujo nome se ignora ou não quer pronunciar....! Anedota para aminizar a sensaboria filosófica Conversavam animadamente 2 amigos no omni)bus mostrando-se muito reconhecidos a quem lhes deu o ser; um filósofo entrando nesse preciso 122


momento admirou-se ao deparar com um tema tão sério na conversação habitualmente trivial do «bus»; integrando-se no contexto da conversa descobriu que quem lhes deu o ser foi o patrão pelo facto de os associar à empresa! O ser significa assim tudo o que se quiser até mesmo a promoção social. Os vocábulos da comunicação são na sua maioria veículos de imagens, captadas em mil e uma vicissitudes, transmitindo sensações carregadas de idiossincrasias circunstanciais apenas. A filosofia para evitar a confusão nos termos através das idades tem de prestar atenção ao significado que o vocábulo tem em tal época definida: os gregos legaram à história uma vintena de escolas filosóficas; os medievais criaram a escolástica que se prolongou por vários séculos; a filosofia não pode descuidar o sentido histórico dos termos, observar sua mutabilidade temporal. Os pensadores de todos os tempos sentiram dificuldade em exprimir as ideias com o vocabulário coloquial, precisamente pelos particularismos que os termos ganham na comunicação diária mas também se tiveram ficado hirtos no significado primitivo tornavam-se incompreensíveis em seus tempos. A filosofia exprime-se na fraseologia da sua natureza, processo aliás comum às demais ciências: matemática, estatística, medicina, química, direito, moral, teologia... ! Por mais que desejemos usar a linguagem comum não podemos fugir a uma terminologia adequada à disciplina em que nos queremos exprimir mas deve evitar-se o snobe, por vezes o cientista quer manter-se no mistério, não aproximando o saber do público, fornecendo ao menos a explicação dos termos. Quanto ao que nos diz respeito, sem fugir à dualidade procuramos aproximar quanto possível a linguagem filosófica da vulgar. Platão foi o primeiro a usar duas técnicas linguísticas: esotérica para a Academia; exotérica, para o público em geral. O estilo académico era sóbrio, matemático enquanto o popular era cheio de imagens, apotegmas, mitos (cf. mito da caverna). Aristóteles preferiu a linguagem sóbria apropriada às ciências e à filosofia. Devemos traduzir a linguagem técnica em termos simples quanto possível para levar as ideias às mentes dos leitores menos escolarizados, por mais que nos esforcemos porém tal desiderato nunca pode realizar-se plenamente pois não podemos desligar-nos da história e nomenclatura de cada ciência. Vários pensadores pretendem abster-se da linguagem, terminologia, estilos do passado, põem em parêntese ("epoche") a tradição anterior antes de 123


iniciar a tarefa de pensar a fim de o pensamento ser incontaminado de influências escolares e linguísticas. Descartes tentou uma tal experiência, quis livrar a filosofia dos erros acumulados no passado, deitou fora todos os conhecimentos adquiridos na escola, na tradição, na academia dos jesuítas, até mesmo os adquiridos através dos sentidos (senso comum) a fim de o seu espírito ficar puro, tábua rasa para pensar; ora sabemos o que aconteceu à sua inerrância…! Quem quiser separar-se dos outros pensadores para descontaminar o seu espírito acaba por o contaminar com sua idiossincrasia solipsista, fica sem universalidade, para ser ele só! Não vamos separar-nos da história, arquivo dos luzeiros que pensaram antes de nós, sob pretexto de contaminação; também não vamos separar-nos das aquisições linguística da nossa sociedade, mas nela encontrar a expressividade correcta da realidade (verdade), evitando o equívoco da imagem, aparência, sombra, relativismo fugaz. O pensador que pretenda ser incontaminado pela linguagem e história cai no sem sentido das coisas porque não há ideias singulares: os que nos precederam tiveram diante de si as mesmas realidades que nós e tinham talvez as faculdades menos contaminadas, quiçá pensaram mais genuinamente que nós hoje pensamos. Hoje quase não lemos o ser nos campos mas nas bibliotecas, formado ou deformado, não podemos evitar esta dupla visão, pretender o contrário não conduz a um conhecimento mais puro do ser porque o ser não tem só existência física mas também histórica, vocabular, científica, documental, cultural! Andamos do ser para o pensar, do pensar para o falar, do falar para sua expressividade gráfica, a quem devemos dar a prioridade? O que importa o ser se eu não o conheço, se eu não tomo posse das suas propriedades utilitárias pelo conhecer? E o que importa conhecer os seres se não chegarmos a conhecer a fonte? Cada ser representa uma pequena propriedade mas o Ser é o oceano onde estão todas as propriedades concentradas. Platão chamou ao Ser o Inefável, Aquele de quem ninguém sabe falar mas esse de quem ninguém sabe falar deu ao ser humano uma faúlha do Seu Ser para O pensar. Como exercício para O pensar colocou em inúmeros seres a sua marca para assim se exercitarem a fim de ampliar o espírito para finalmente O pensar. Por isso em pensar colocamos a onto /gnos/ glossologia. 124


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Pensar

Ser, pensar, falar é a ordem natural do caminho cognitivo, o pensamento porém se colocado no meio liga os extremos, com efeito é o pensamento que faz a ponte entre o ser e falar...! «Penso, logo existo, existem os demais seres, existe Deus, exprimo o pensamento da existência pela harmonia da linguagem » (Descartes). Logos é o vocábulo grego que significa tanto pensamento como palavra. Heráclito apelida de logos a lei que rege os seres, Aristóteles preferiu substância e causalidade «ousia, «telos»: o ser que está em si por isso se deve chamar substância depende de 4 origens chamadas causas (material, formal, eficiente, final), a última comandando as antecedentes. Sem a devida técnica o ser é mal pensado, a acção é mal dirigida, nenhuma arte devia preceder a de saber pensar, seus princípios vamos expor em primeiro lugar. De logos Aristóteles derivou lógica, a técnica de exprimir correctamente o pensamento mediante a palavra. O homem tendo por definição específica racional, sua operação característica é pensar não a modo intuitivo como os anjos, a modo arquético como Deus mas a modo de raciocínio passando de um conhecimento a outro mediante comparações; obtido o conceito do ser partilha o pensamento através da fala ou grafia da fala. Cultivar a faculdade pensante a ponto de ela operar sem erro a passagem do ser a verdade deve ser a 1ª tarefa humana pois se não pensar com verdade também não fala com verdade. O processo do conhecimento é natural, todo o humano pensa, todo o humano fala mas se não cultivar a arte de pensar e sua expressão adequada, seu pensamento não ultrapassa o nível rudimentar tal como todos os humanos são músicos: assobiam, sopram numa cana, mas dizem que há burros flautistas…! É diferente cantar o tra la ri loló, Maria vai pela sombra de ser contralto de ópera, tocador de cravo como Betoven, Mozart… é preciso frequentar anos e anos a escola para aprender a arte, cantar ou tocar segundo os requisitos da música pois ninguém vai a um concerto de rudes, mas profissionais de reconhecida categoria. Enquanto a música, pintura, escultura, teatro, poesia …são artes particulares 125


tendo em vista comunicar com grupos restritos, a linguagem é da extensão da humanidade e tem em vista comunicar pelo menos com os usuários do mesmo lábio. A maioria dos humanos limita-se ao nível rudimentar, vende gato por lebre, confunde sentimento com pensamento, imagens com ideias, quando 2 interlocutores discutem raramente se entendem um ao outro porque um bate no cravo, outro na ferradura, um julga que sua palavra é veículo para libré mas o outro pelo mesmo vocábulo entende lebre…! Pois bem, ainda que falte a consciência geral da sua necessidade, a arte de pensar é a mais útil e quem a ensina um benfeitor da humanidade. Historicamente quem antes de qualquer outro pensador reconheceu a necessidade de criar a técnica de pensar correctamente de tal modo que sem ambiguidade a palavra conduza ao objecto, foi, nem podia ser outro senão o filósofo (Aristóteles) que designou pelo vocábulo Lógica derivado de «logos» que em grego significa simultaneamente pensamento e palavra esta técnica das técnicas. Por paradoxal que pareça, da espontaneidade do pensar é que provém mediante análise atenta a arte, o pensamento é um achado, ninguém o faz, é descoberto pelo espírito enquanto faz a introspecção de si mesmo; assim como à terra é conatural produzir frutos espontaneamente, assim o espírito pensa, produz as ideias que transpõe para os vocábulos de cada grupo linguar a fim de poder comunicar, ser entendido e respondido. A arte de pensar, como a de cantar ou desenhar não partem do nada, sim das inúmeras capacidades do espírito humano, elevam-nas, estendem-nas, aperfeiçoam-nas, cultivam-nas aliás a terra espontanemente produz ervas más e abrolhos em vez de peras, maçãs, melões, melancias…! O 1º homem e 1ª mulher foram criados adultos e com fala pois ao ver Eva que o divino Criador fizera a partir da sua costela Adão exclamou: osso dos meus ossos, carne da minha carne, chamar-se-á Eva, vai ser a mãe de toda a humnidade…! Adão deu a cada animal e planta o nome correspondente à sua natureza, criando assim os primeiros substantivos, o que denota ter sido criado com o dom de pensar e falar, isento de percorrer o caminho penoso dos descendentes que vêm ao mundo bebés, têm de receber a técnica de pensar e falar a partir dos progenitores. Hoje sabemos o que acontece a toda a criança que vem à luz do dia: gritos, choro, balbuceio ninguém precisa de ensinar-lhe, mas sílabas, palavras indicando a dedo os objectos é arte a aprender na escola materna a que todos os nascidos têm de sujeitar-se para entrar no mundo da comunicação. Um experimentalista quis saber se alguém conseguiria falar sem a aprendizagem materna, fez crescer até aos 3 anos o filho entre animais: cacarejava, cantava como galo, ladrava como o cão; convenceu-se e 126


convenceu a ciência que a expressão do pensamento pela linguagem é arte que tem de cultivar-se arduamente a partir do berço, depois nas escolas por longos anos. Com a arte de pensar segue-se concomitantemente a de falar e grafar, o pensamento não pode revelar-se sem a expressão adequada da linguagem. O pensar é espontâneo e original mas a sua expressão mediante os sons com que cada povo se exprime precisa de teoria e arte aliás ficava ensimesmado sem se estender aos demais. Nesta idade da civilização humana as línguas dos povos mais adiantados evoluíram a bem dizer paralelamente adoptando técnicas comuns diferenciando-se apenas pelos vocábulos próprios de cada grupo étnico. A 1ª língua culta dentro da qual nasceu a lógica foi a grega: quando os romanos conquistaram a Grécia tomaram dela as técnicas e vocábulos, acrescentaram muitos outros advindos dos povos pertencentes ao Império desde o Ganges aos Montes Ermínios, refinaram as técnicas gramaticais transformando sua língua bárbara em a língua culta por excelência acima da qual até hoje nenhuma outra se ergueu, o latim. As línguas ocidentais são herdeiras desta, a filha predilecta com 96% dos termos, as mesamas categorias e flexões é a lusa como testemunha o poeta: «com pouca corrução crê que é a latina»! Aquilo a que chamamos ramos científicos: botânica, física, química, matemática, medicina, farmácia, história, psicologia, religião…seja qual for o ramo entra na cultura de cada povo pela língua, o veículo universal da ciência é a língua. A língua de cada povo significa a sua riqueza científica, cultivá-la é simultaneamente tornar-se apto a receber toda a ciência que mediante ela como ponte passa para o espírito. Hoje os povos civilizados, particularmente os herdeiros da língua culta por excelência todos aprendem as regras da linguagem pelo menos a nível das 3 secções gramaticais: fonética, morfologia, sintaxe. Fonética Como a palavra significa, trata dos sons e sua grafia: o órgão produtor do som é a cavidade bocal que desde o máximo ao mínimo da abertura fazendo passar o ar pelas cordas produz todos os sons chamados por isso vocálicos (cf título fala). Morfologia Os vocábulos produzidos pelo aparelho fonador (boca) foram grafados em diversas combinações de letras a que foi atribuído por cada povo um objecto, assim se formaram as palavras representativas dos objectos. Os vocábulos estão hoje repartidos em 10 categorias: substantivo, adjectivo, 127


artigo, pronome, numeral, verbo, advérbio, preposição, conjunção, interjeição. Substantivo para designar os seres. Adjectivo: qualidades. Numeral: quantidades. Artigo: salientar o nome Pronome: substituto do nome. Verbo: acção/paixão. Preposição: partícula alterante da função lógica do nome a que está preposta. Advérbio: modifica o verbo. Interjeição: exprme emoções indefinidas. Conjunção: coordena/subalterna proposições. Sintaxe É a técnica de ordenar os vocábulos de modo a formar proposições, conectar estas de modo a formar o discurso, tratado, livro. A esta secção gramatical também se chama lógica, já explicaremos porquê. Lógica Quando Aristóteles criou a lógica como técnica de pensar, nela estava incluída a gramática bem como todo e qualquer ramo científico; com o andar dos tempos as ciências, a gramática inclusa foram-se autonomizando e abandonando a filosofia. A Lógica de Aristóteles perdeu o seu valor prático precisamente porque suas técnicas passaram para difentes ciências em particular para linguagem. Embora tendo cedido a praxis a outras ciências, pelo seu valor histórico merece ao menos um conhecimento rudimentar a todo o que se diz culto, esta é a opinião de um filósofo actualde Oxford (A. KennY). Percurso Embora muito por alto é útil rever o percurso da lógica. As obras de Aristóteles estiveram enterradas durante 1 século após a morte do autor, andaram das mãos de Anás para as de Caifás até chegarem a Roma em 86 A.C, 300 anos após a redacção original. Andrónico de Rodes ordenou-as segundo os temas, atirou para depois da física «meta physica» os temas que não soube classificar; esta fortuidade baptizou para sempre as 14 obras mais importantes do filósofo! Não foi Andrónico mas um escritor bizantino porém que séculos depois organizou os diferentes tratados da Lógica, os baptizou com nomes latinos: Categoriae, De Interpretatione, Priora Analytica, Analytica Posteriora, Topica; deu ao conjunto o pomposo nome de Organon. Fisicalidade Aristóteles classificou os primeiros filósofos, os Jónios de meros 128


físico/químicos, os Pitagóricos de matemáticos, não havia verdadeira distinção entre cientista e filósofo; Platão (427-347 A. C.) escrevera no pórtico da Academia: quem não é matemático não entre. A lógica deveria criar uma técnica capaz de exprimir devidamente o pensamento que se não tivera expressão comum não poderia comunicar-se. Aplicada à filosofia a lógica tem por tarefa específica ordenar as categorias do ser, transpô-las para a linguagem de tal modo que haja igualdade entre ser, pensar, expressão fonética e gráfica; sem este correlacionamento nunca se poderá distinguir a verdade do erro…! Categorias metafísicas Substância, qualidade, relação, acção, paixão, quantidade, tempo, espaço, lugar, hábito. Como é visível o filósofo fez corresponder as categorias lógicas à onticidade dos seres em esta sequência: ser, pensamento, expressão linguar de tal modo que terminada a operação haja «adaequatio rei et intelectus», a expressão linguar em retrocesso encontre o pensamento universal e o ser existencial. Os seres têm como primeira manifestação a forma que é de natureza espiritual, qualitativa, os seres incorpóreos são entitativamente mais perfeitos que os materiais; quer uns quer outros segundo a sua substancialidade são qualitativos, operam e são operados (acção/paixão), relacionam-se, estão no tempo, têm hábitos; se corpóreos acrescentam quantidade, espaço, situação geográfica. A quantidade, como o demonstra a verdadeira metafísica não é a base dos seres, também não pode ser a base do pensamento: as acções humanas são qualidade, o pensamento humano é substancialmente formal. A quantidade começa com os seres corpóreos mas nenhum corpo é só matéria, é sínolo de matéria/forma, sua definição provém sempre da forma, portanto da parte espiritual…! Aristóteles nunca concedeu à quantidade a representação dos seres mesmo corpóreos pois não existe qualquer ser definido em primeira instância como quantidade, tem sempre forma substancial que é imatematizável, é sempre espiritual acrescida de qualidade, acção, paixão, relação, quantidade…diferentes acidentalidades. Perante a metafísica dos seres se deduz a justeza da técnica do pensamento para exprimir a realidade: se o pensamento não exprimir a realidade como ela é, o pensamento não tem base, é nulo, está vazio e quem o supõe cheio está errado, anda iludido. Crux

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Esta palavra latina significa encruzilhada, aqui está o início da viajem pelo caminho que leva à verdade, o início da eva ao erro, o viajante do pensamento repare bem se vai paa norte ou para sul…! Eis a distinção entre a verdadeira filosofia e a falsa, o autêntico filósofo e o pseudo: quem pensa a realidade como ela se apresenta à faculdade de a ler tal como os objectos corpóreos se apresentam aos olhos, ouvidos, tacto, gosto, cheiro, constrói sobre a rocha porque o ser da inteligência, a capacidade humana de pensar está baseado no Ser, caminhando sobre ele o viajante chega necessariamente ao Ser. Fora desta base não há filosofia, há diletantismo, jogos mentais, passatempos, subterfúgios, subjectivismos, idealismos, preconceitualismos, existencialismos, jogos de palavras para entreter papalvos…! As categorias gramaticais, como é óbvio são uma réplica das categorias de metafísicas, sua nomenclatura é cavacada sobre as categorias de Aristóteles, incorporou em si tudo o que havia de prático na ciência/arte de pensar Aristotélica, o linguista é simultaneamente lógico pois as gramáticas hodiernas estão todas organizadas segundo a lógica tradicional. Matematização Com Descartes e Leibniz mas sobretudo com Boole, Russel, Whitehead, Russel, Wundt, Fechner, Frege… muitos outros pensadores modernos, sob pretexto de dar à linguagem um significado preciso particularmente à filosofia que necessita de conceitos e expressões desambiguadas, designaram por sinais matemáticos as operações lógicas, matematizaram a linguagem à imitação do que vinham fazendo os físico/químicos que deram a todos os elementos expressão matemática, a água é H2O, o ácido sulfúrico H2SO4…! Foi precisamente este o intento de Aristóteles ao criar a Lógica, dar à linguagem um significado certo para ninguém ser enganado por ela, como é histórico não forjou quaisquer sinais alheios à linguagem, foi usando técnicas dentro da mesma linguagem que ele construiu as proposições apodíticas estabelecendo os valores lógicos em relação aos ontológicos: o substantivo tem todas as preeminências, segue-se a qualidade, relação, acção, só depois a quantidade e acidentes corpóreos. BARBARA (AAA) Todo o homem mortal Sócrates homem Sócrates mortal Substantivos: homem, Sócrates Qualidade: mortal 130


Quantidade: todos

Tudo baseado na substância, qualidade, quantidade sem que uma categoria se atravesse no lugar da outra…! Logística A logística booleana derivada de Boole, embora contestado como seu criador consiste essencialmente na simbologia proposicional da coordenação e subordinação. Os manuais escolares do 11/12º ano introduzem o aluno nesta simbologia. A Gulbenkien tem 2 mnuais de Lógica Simbólica excelentes, o que há de mais completo sobre o assunto mas preferimos a apresentação de Copi, tenho comigo a 6ª edição deste autor, um dos mestres mais prestigiados no ensino da logística, professor de Harvard University, USA, Irving Copi. Copi desenvolve a disciplina a nível filosófico, mais elevado que o da escolaridade elementar; com ele analisamos todos os símbolos e operações com eles efectuadas tiramos as conclusões expressas no juízo seguinte Juízo de valor A logística criou uma vasta simbologia para expressar com rigor matemático a verdade das proposições apodíticas da lógica tradicional. Não havia, conseguiu esse rigor expressivo? Para unir 2 proposições em coordenação a linguagem gramatical usa partículas e locuções conjuntivas (e, não só, também, ainda, até mesmo, muito embora, todavia, contudo, para mais, não obstante, além de , ; . ) A lógica simbólica só tem 1 sinal (^), liga de facto as proposições deixando de fora as nuances que as partículas exprimem, cheias de riqueza noética qualitativa, em linguagem concreta seria como quem vai ao mercado comprar maçãs, mede o tamanho, o número, o peso, agora leva consigo as medidas todas das maçãs mas deixa ficar a substância maçã bem como a qualidade…terá grande valor a exactidão matemática deixando de lado a substancialidade qualitativa…? Não se depreenda deste nosso linguajar qualquer desprezo pela logística e disciplinas matemáticas, prezamo-las ao máximo dentro dos seus campos específicos, não quando tomam o lugar metafísico que não lhes pertence, a quantidade, medida e peso das maçãs tem valor se aplicadas por exemplo à substância maçã e qualidade cipriega, o adicionamento quantitativo tem valor suposto o substancial e qualitatvo, mas como substituto…vai comer peso e medida sem o conteúdo substancial? Cada um é livre de cursar as disciplinas que quiser e valorizar subjectivamente esta disciplina de preferência aqueloutra devido a fins utilitários, mas o filósofo que procura a verdade desinteressada não se sujeita 131


a tal critério. A matemática e logística são linguagem completiva, não substitutiva, mais ajustada às ciências físicas pode valorizar-se em relação à tecnologia físico/química mas não pode deslocar-se daí para valorizações absolutas: tomar a quantidade como padrão absoluto de valor metafísico é tomar o vazio pelo cheio, trocar o valor real pelo utilitário se é que há utilidade nisso. Esta tendência historicamente designada de positivismo lógico começa a ser fortemente contestada pelos cultores das ciências humanas: psicologia, história, antropologia, filosofia perene. Filósofos linguistas como Dilthey levantaram a voz de tal modo que a matematização e logisticismo estão passando à história mas não quer dizer que dela não se conservem sempre resquícios, há sempre ronceirismos…! O filósofo não pode rebaixar o pensamento regido pelas causas reais ao regido pelas pretensões utilitárias, nenhum padrão é superior ao real: a filosofia não fará favor a esta ou aquela ciência, explora o ser em todas as suas manifestações ônticas, as gnósticas devem corresponder-lhe ou não têm conteúdo, as ciências das causas próximas exploram apenas províncias do ser para fins parciais, devem filiar-se na ciência da total causalidade. A teleologia é a característica do ser inteligente que nada faz sem primeiro se propor um fim, o Criador definido pelos pensadores gregos como «Noesis noesesos», ao criar propôs ao ser inteligente reger-se pela causa final; o ser para ser entendido tem de considerar-se em suas 4 causas: material, formal, eficiente final, mas o comandando pertence à final: causa causarum est causa finalis (Aristóteles). A história hoje passou a mestra da vida humana, o homem actual se não conhecer a história despista-se no caminho da existência, havendo factos históricos não são precisos argumentos (Hegel). O que tem a ver a matemática com a humanização da existência, porque então querer matematizar as ciências humanas, não serão antes as ciências humanas que devem humanizar as matemáticas? Suprimir a expressão qualittiva da linguagem sob pretexto de exactidão, os termos que mesmo o senso comum compreende por uma sigla que nada diz ao senso comum, empobrece em vez de enriquecer a transmissão do pensamento: as conjunções acima citadas traduzem nuances preciosas do pensamento que a fórmula matemática simplesmente despreza…! As siglas obedecem a critérios pessoais idiossincráticos, desenhos que o senso comum mal entende e até ridiculariza, tenho em mente a mofa que os estudantes de Harvard University faziam do «E» voltado às avessas»: «the ugly quantifier» …! É portanto óbvio mesmo ao senso comum que a matemática e logística ainda que envoltas em uma aura de certeza dogmática traduzem apenas a faceta quantitativa dos seres deixando fora a substancialidade, formalidade, qualidade, relacionamento, adulteram portanto, não traduzem a realidade. 132


Os matemáticos antes de pretender matematizar o pensamento deveriam antes repensar a cabalística de seus sinais expressivos que enervam os alunos mesmo os mais dotados devido às contradições que encerram. Os gregos e latinos nunca admitiram o zero; só na idade média entrou na linguagem Ocidental com a ambiguidade significante que ainda conserva de tanto significar 10 como nada: tenham as associações matemáticas o bom senso de lhe fixar sempre o valor 10, represente-se o nada por outro sinal, o parêntese vazio por exemplo (). Os utilizadores do ábaco representavam por «--» mas uma vez que este sinal hoje é utilizado para significar menos adopte-se outro nas convenções internacionais, livrem os alunos das contradições que eles criaram …! Os greco/latinos somavam as cifras à direita: CIII, CX (cento 3,10). Os Babilónios relativavam a posição dos algarismos: 1205903 em que cada casa à esquerda multiplica, cada casa à direita divide por 10. Esta sim, uma grande convenção matemática! Os Árabes, como aliás os fenícios já haviam feito, nascidos no solo babilónico trouxeram o modelo para o Ociedente, não inventaram, só estabeleceram de novo a ligação que tinham antes tapado entre Oriente/Ocidente. Até hoje não foi possível dizer o que é a medida e o que mede (E. Boutroux falecido em 1922). O ordinal foi distinguido do cardinal por G Cantor falecido em 1918….! As matemátidas têm de se definir a si mesmas aclarando seus sinais e nomenclaturas em vez de se arrogarem de ciências exactas e o que é mais utópico querer medir o QI (quociente intelectual) das crianças por sistemas quantitativos…! Boutroux foi certamente o mais conceituado matemático do seu tempo e interrogava-se: o que é a medida e o que mede ?! Euclides criou a geometria no espaço, tida como dogmática até que outros sistemas se formaram baseados em postulados hipotéticos com tanto direito como os Euclideanos pois uma ciência sem relação ao ser é meramente formal, depende da fecundidade imaginária…! Físico/químicas A física (cf tabela periódica) matematizou-se, representa os 100 corpos físicos por uma fórmula matemática mas alguém beba H2O verá o que lhe acontece, a água para ser potável precisa de aditivos qualitativos que a fórmula matemática não exprime. Dilthey, um defensor do humanismo dissera isso mesmo: as ciências físicas ao deixarem de ser humanas tornam-se perniciosas…!

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Apear-se da ilusão quantitariva A crise financeira actual deveria significar um aterrar da ilusão da quantidade…! Os bancos cheios de cifras, a quantidade sentou-se na cadeira da qualidade, o dinheiro inflacionando aumentou a quantidade mas a qualidade? O que vale agora a quantidade…!? Exemplo real que parece anedótico Em um país Africano alguém de nós conhecido tinha no banco dinheiro para 3 camiões mas um certo dia os dirigentes políticos resolveram passar de 1000 para 1 suprimindo 3 zeros à qualidade. O cliente não quis tirar seu dinheiro do banco à espera que tornasse a desinflacionar mas aconteceu o contrário, o governo decidiu tirar outros 3 zeros não à quantidade mas qualidade, quando o cliente foi levantar o seu dinheiro, dava-lhe para 3 caixas de fósforos, então tornou-se benfeitor do governo: faço oferta ao meu país de 3 caixas de fósforos, metamorfose qualitativa de 3 camiões que eu tinha depositado no banco. …! Em Portugal os bancos estão cheios de cifras quantitativas mas na bancarrota… as notas e moedas têm escrita a mesma quantidade que antes de desvalorizaram 8 vezes desde a conversão do escudo em euro e os governantes em 3 anos aumentaram a dívida nacional de 60 para 120%…! Os financeiros há muito andam a enganar os simples: o ouro era o padrão, depois passou para a divisa, depois para o valor que um país grande e rico lhe fixou sem perguntar aos pobres se concordavam, formou-se o Euro baseado nos mesmos critérios: os países ricos fixam-lhe a cotação que lhes convém…! A técnica É também uma linguagem, fala através das mãos: pensar, falar, operar eis as 3 características humanas. O ser racional distingue-se pelos uso de instrumentos apropriados. O fim é servir, suavizar mas a máquina começou a render mais, toca a substituir o homem pela máquina, agora o homem está sem máquina e a máquina sem o homem…! A técnica empolou de tal modo o conceito da sua supremacia que o big-bang até já se oferece para substituir o Criador…! A partícula de Higins já é partícula de Deus…! A arrogância torna a técnica bem como a ciência de sábia em insensata…!? A matemática, a logística, as técnicas são linguagens, cada uma tem seu papel a desempenhar e desejamos a todas pleno sucesso nas respectivas áreas, simplesmente não se sobreponham, não se atravessem nos campos alheios. 134


O critério de valorização da linguagem está na perfeição com que exprime a realidade clara, distinta, adequadamente, nenhuma até hoje excedeu a greco/latina e suas derivadas. O ser é mudo, está desde a Criação à espera que o homem lhe empreste a voz (Heidegger).ou o transforme de pensado em operado (Marx). A linguagem culta, a música, a poesia, a arte são os veículos pelos quais o pensamento conduz ao êxtase do ser, filosofia que não termine na admiração extasiante do ser não realiza seu fim, a filosofia ou é a ciência do ser ou não é filosofia (Aristóteles). Gracejando João Gonçalves é um bom aluno de matemática. João, pode explicar-me o que signifca a cifra «1»? -- 1 é 1, a unidade, o início dos números, o primeiro algarismo, salta aos olhos…que mais hei-de explicar? És capaz de me dizer quem inventou os algarismos de 1 a 10? --Os árabes. --Estás certo? --Sempre ouvi dizer. Já agora: podes explicar-me porque o «0» tanto vale dez como nada? ---Nada, à esquerda. ---E se lhe puseres uma vírgula? ---A vírgula não o tira da esquerda…! ---Acreditas que o 9 é o desenho de 9 figuras? ---É uma, como são nove? ---Sabes porque os romanos representaram 10 por «X? ---E os fenícios 10 por 0? ---As nossas aulas não tratam disso. Menina Júlia --Qual o tema da classe hoje? --Ordenadas cartesianas. --Percebeste? --Pouco --És a melhor aluna e pouco ? --Pedimos à professora que nos explicasse o que era o plano ortagonal, abcissa, ordenada, coordenada mas disse-nos que não tinha tempo, para ir à internet…! A idade digital Hoje o aluno não sabe a tabuada nem fazer uma conta de dividir, muito 135


menos o que é a mantiça o que muito arrelia os velhos professores e pais dos alunos que em níveis de menor escolaridade aprenderam a tabuada. No computador o aluno faz a conta num instante sem a tabuada. O professor deve ser realista, ficar estático no passado torna-o uma antiqualha abusado e ridicularizado pelo aluno se não está à altura das técnicas deles: pelo telemóvel consultam uns aos outros nos exames, pelo hipad consultam alguém fora da sala, fazem exames brilhantes sem saberem nada, porque o professor antiquado nem sequer nota a intercomunicação. Chegou a era digital, em vez de exprobar ensine os benefícios, a grande técnica envolvida em expressão tão simples, tire benfício dela. Joaquim Araújo (Unaiversitário) --Usa computador? ---Tenho Hipad---Escreva-me por favor 15 em digital…? --Ah… desculpe, não sei…! --- ….1111=15 Que lhe parece? ---Não faço ideia…! A linguagem digital, mais apropriadamente chamada binária pois temos 20 dedos e ela só usa 2, desenhados por uma recta e uma curva, com os quais escreve todas as línguas do mundo, matemática, logística, sinfonias, óperas… mediante sua combinação em séries lógicas, tão simples que um robô entende e executa mais depressa que os humanos…! O computador num ápice escreve, transmite pela internet de um ao outro extremo da terra livros, fotografias, sinfonias usando a sua linguagem binária «0, 1». Tratando-se da técnica de que hoje faz uso tanto a criança como o analfabeto porque a não conhece um universitário ? O professor não terá ficado catedraticamente sentado no passado em vez de introduzir o aluno nas novas tecnologias? Maria Emília aluna do 12º ano de escolaridade. --Sabes dizer-me quantas são as categorias gramaticais? --Não faço ideia…! --Sabes dizer-me o que significa santo? --Uma espécie de boneco que há nas igrejas. --O vocábuo santo vem do verbo «sancire» em latim, quer dizer estar de acordo com a lei, aliás é punido com uma sancção (castigo por ter desobedecido à lei…!). Em estilo religioso trata-se da lei divina, o decálogo, santo é aquele que cumpriu a lei divina merecendo por isso culto chamado dulia e peanha nas igrejas. 136


--«Peanha, dulia» não sei o que significam…! --Não tens dicionário…! Após a brincadeira Pensar é encapsular o pensamento nos vocábulos convenientes, não colocar alhos na caixa dos bogalhos…! A riquíssima língua lusa senhora de 96% do vocabulário greco/latino deve ser ensinada como fazem os dicionários categorizados assinalando os elementos originais e seu significado antes de coalescerem em vocábulos complexos: contentar-se com o uso coloquial sem ir à raiz é conhecer a rama sem o tronco e raiz da árvore que produz o fruto. Sem o conhecimento da própria língua como pode compreender-se qualquer ciência que deve ser transmitida mediante ela e servindo-se dela como ponte navegar para outros idiomas? O reportório terminológico dos nossos estudantes é reduzidíssimo, apatia pelo dicionário…! Os nossos locutores, que deveriam ser modelos, metem dó, começam todas as palavras por prolongados aaaaaa: aaaaaassim, aaaaaavaler, aaaatudo….! Na descrição dos acontecimentos revelam um dicionário muito elementar mas… sabem francês, inglês…!? Sem o devido conhecimento da língua própria como podem transpor seu pensamento para outra? A língua é a expressão por excelência do pensamento, sem a dominar completamente não se sabe pensar pois onde vai pôr-se a inteligência do ser senão no vocábulo que lhe é apropriado? As ciências de qualquer espécie, mesmo as quantitativas não podem compreender-se senão mediante a linguagem, esta é que deve estudar-se a fundo, ser o critério do QI do aluno pois é na língua e pela língua que um povo se revela. A tecnocência hoje em dia concretiza-se no uso de instrumentos: o médico pede ao computador que examine o paciente, lê depois a análise que o laboratório lhe fornece. Os químicos, físicos, engenheiros, bancários pegam na calculadeira, computador, internet, sua sabedoria consiste em manejar instrumentos. A ciência tem vindo a reduzir-se a técnicas, a manejo de instrumentos, mas se alguém não sabe manejar o espírito, entender o ser e dar-lhe a adequada expressão linguar é utilitário não sábio. A lógica de Aristóteles baseada na ordem metafísica, aperfeiçoada pelos medievais é indesmentidamente a melhor técnica de pensar, hoje em dia está consubstanciada nas línguas cultas das quais a lusa é protótipo como diz o poeta: «com pouca corrupção crê que é a latina». 137


1. Substância é a essencialidade do ser e pelo facto mesmo onde começa a operação mental do conhecer correspondento em gramática ao vocábulo substantivo. 2. Qualidade segue imediatamente ao conhecimento da substância, o que em gramática é espresso pelo adjectivo. 3. Quantidade, se as substâncias a conhecer têm corpo são quantitativas, caso não tenham como acontece com os anjos e Deus são apenas qualitativas. A substância humana é mista porque como espírito só tem qualidade mas como corpo também tem qualidade. Em gramática o numeral exprime a quantidade. 4. Acção/paixão, o verbo exprime as 2 modalidades porque tem voz activa e passiva. 5. A acção pode ter qualidade, em gramática exprime-se pelo advérbio. 6. Os corpos pelo facto de terem extensão ocupam espaço e pelo facto de se ajustarem aos outros corpos têm um sítio, situam-se entre este e aquele, corresponde-lhe a geometris 7. Devido à origem os seres adquirem relacionamento, assim filho indica uma relação de origem para o pai, em gramática designa-se pelo complemento de posse. 8. Os seres sobretudo os pessoais são donos de isto e daquilo, possuem, é o que se chama hátito em lógica e complemento em gramática. 9. A linguagem tem 2 espécies desnecessárias em filosofia, os artigos e pronomes, partículas que substituem outras portanto tomam a designação do substantivo, adjectivo etc que substituem. 10. As preposições são também partículas que modificam os substantivos tal como os advérbios modificam os verbos. 11. A interjeição não exprime propriamente um pensamento mas um sentimento de admiração ou indignação: oh, irra…! 12. Importantes também os sinais lógicos que iniciam as proposições que designamos por conjunções. O que em gramática se chama lógica consiste em harmonizar toda esta morfologia de vocábulos de modo a formar afirmações e negações: o núcleo é a proposição que exprime um juízo de valor e tem de ser constituída ao menos por um sujeito (substantivo) e um predicado (verbo com qulificativo). A unir proposiçõe para formar discurso temos em morfologia as conjumções lógicas divididas em 2 grandes classes: coordenativas, subordinativas. Exemplo Maçã, árvore, comeu, Adão , paraíso,mulher, pecar, Eva, foi enganado etc. Estes vocábulos nada afirmam ou negam porque lhes falta a técnica chamada lógica. Eva mulher de Adão no paraíso comeu 1 maçã e por ela foi enganado Adão 138


1ª Proposição: substância, relação, lugar, acção, quantidade, hábito. 2ª Proposição: coordenada copulativa: Adão (sujeito), foi enganado (voz passiva correspondente a paixão ) Como é óbvio a ordem metafísica e lógica surgem acupladas, a gramática obedece às regras lógicas de Aristóteles, a linguagem pela diferenciação de suas categorias expressa simultaneamente a metafísica e a lógica. A filosofia e teologia são as ciências metafísicas por excelência, são as revelantes máximas da capacidade do espírito, nelas fica exemplificado em concreto o que é pensar no máximo da capacidade do espírito. Os títulos seguintes a começar pelos níveis são precisamente demonstração das diferentes capacidades do espírito em conhecer as categorias em relação às substâncias em sua ordem de valor. O pensar mediante suas expressões linguísticas são esforços humanos para abraçar a realidade que pertence ao ser, à existência mas o espírito entende e incorpora em si como que tomando-lhe o sabor (sapiência, sabedoria). Pensar, entender eis até onde porde ir o espírito humano. Porque não cria os seres? Os 7 biliões de pensantes todos juntos a pensar não são capazes de criar uma folha de árvore! Eis a deficiência do pensamento: abrange do ser tanto quanto é necessário para o utilizar em seu proveito mas não esgota a sua compreensão, só o Criador do ser compreende totalmente o ser e como Ele é grande até nas coisas ínfimas…! A filosofia idealista é um caso típico de ideias grandiosas de acordo com a lógica e glossolália mas sem metafísica, sem realidade. Kierkegaard disse a respeito do sistema de Hegel: um manual de lógica mas oco de ser! O sistema Kantiano, dos mais prestigiados da idade moderna é grandioso mas somente em lógica e psicologia subjectiva, a realidade é conceito só dele, não serve para património universal, não traduz a realidade. A teoria do conhecimento contribuiu muito para a passagem do ser a pensamento, este a vocabulário, a linguagem mas não criou o ser, talvez nem tenha olhado para sua onticidade com os olhos penetrantes dos pensadores precedentes, talvez os modernos tenham olhado mais para o invólucro em vez de intuir sua inefabilidade, sua metafisicidade…! Os 90.000 vocábulos do diccionário luso são uma riqueza incomparável como artifício mas carteira vazia, inútil se não forem cheios com a realidade das 3. 500.101 espécies de seres e suas propriedades ônticas. Na igualdade ser, pensar, expressar pelo termo apropriado está a ciência humana basilar de todas as demais: pelo termo prenhe de ser em ser formando coluna o homem se eleva do hipo ao hiperurâneio onde está situado o palácio do SER. 139


Os antigos latinos tinham por ideal «mens sana in corpore sano» ter um espírito são dentro de um corpo são, mas o espírito antes do corpo; na verdade o dom mais precioso do Criador é um espírito recto, que apreenda a realidade. Será verdade que o divino Criador dá a uns um espírito recto e a outros torto? Não há árvore que nasça torta, é ao crescer que ao siori dis ventos entorta se não tiver estaca direita a que se arrime. Esta a história do homem, todos nascem com espírito puro, «tabua rasa», mas não se arrimando a estacas direitas os ventos da juventude escolar entortam de tal modo que depois pautando a realidade por si ela sai torta em seus conceitos: o livro da Criação está desenrolado diante de toda a inteligência mas hoje em dia poucas inteligências se instruem para ler esse livro, poucos se sincronizam com a realidade dos seres, caem em admiração e elevação perante ela imitando os grandes pensadores gregos que nos deixaram esta intuição nunca mais alterada: o hipo tem origem no hiper, a inteligência «nous» vem do hiper para se purificar através dos seres e regressar ao hiper para repousar. Dado o desastre original mesmo os espíritos mais puros têm manchas, curteza de vista, se não tivera surgido novas possibilidades de ver o ser, só o que a inteligência consegue ler no livro da Criação constituiria a ciência humana basilar de todas as demais que os grandes filósofos gregos nos legaram mas não ultrapassaria a visão do hipo. A história Se o hipo vem do hiper, também o conhecimento dele vindo de lá é mais perfeito. Nenhum filósofo grego foi ao hiperurâneo: «o Pai dos homens e dos deuses, a Artífice do mundo nunca foi visto nem ouvido por alguém é o Invisível e Inefável. Um pequeno povo (Israelita ou Judeu derivado do sobrenome de Jacob ou de 1 dos seus 12 filhos) porque prestava culto a esse Pai Invisível ele começou a comunicar com os que melhor o reconheciam e lhe prestavam culto. Esses predilectos do Pai foram chamados profetas porque serviam de mensageiros para o resto do povo, conheceram o mundo a partir da informação que o Pai lhes comunicou e escreveram em livros (cf bíblico). Sua ciência veio a verificar-se superior à dos filósofos gregos que reconheceram o hipo vir do hiper mas nunca lá foram. A ciência da Criação não veio dos filósofos mas dos profetas a partir da história narrada no livo do Génesis e esta tornou-se a base do conhecimento dos seres. O Autor da história Impensável é o que seguidamente aconteceu na história humana: o Pai 140


Inefável, Invisível que mediante os profetas recebeu o nome de Criador de tudo quanto existe na terra e firmamento decidiu revestir a forma humana e vir ter com os homens para os iluminar com toda a verdade sem erro: Eu sou a luz do mundo, quem me segue não anda nas trevas, sou o caminho, a verdade que conduz à vida eterna no meu reino, ninguém chega lá senão pelo caminho que eu lhes mostro em a minha própria vida e lhes ensino com minha palavra constituinte de nova humanidade e nova sociedade, a Igreja, Eu sou o Alfa e o Ômega (Jesus Cristo). A sabedoria grega descobriu a fonte dos seres mas nunca lá entrou, a judaica rasgou o véu, começou a haver intercâmbio, mas nada comparável à sabedoria cristã em que o Invisível se tornou visível o «nous» a lâmpada que luminava o mundo foi substituída pelo Sol «Nous». Eis o dever do filósofo, mostrar as etapas do conhecimento: a ciência dos seres mudos é importante mas se não viera a judeo/cristã, a ciência histórica, não passaria de noite uma vez ou outra iluminada pela lua , a história mediante o homem que fez a história porque Homem-Deus, agora o caminho ser/história é meridiano. É pena que a maioria dos chamados filósofos termine aqui ainda hoje a tarefa da rainha das ciências, não indique os passos seguintes, nós pensamos que tem obrigação de sugerir o que vamos desenvolver nos títulos subsequentes que a rainha das ciências deve encarar ou ter a humildade de passar para outtras seus títulos reais. (cf. títulos seguintes).

Post Scriptum Em data posterior a este título apareceu no Zenit esta entrevista da qual citamos a parte mais significativa sobre um dos maiores pensadores da humanidade, Tomás de Aquino.

ZENIT: Não está na moda, mas você defende São Tomás como precursor de uma Psicologia saudável, como grande conhecedor das vias do pensamento. O que quer dizer com isso? Mercedes Palet: Na Psicologia contemporânea, é necessário defender uma linha de pensamento que permita uma consideração integral de todas as dimensões da pessoa, a partir da qual se descubra que a razão e a vontade são o centro directivo da personalidade e da conduta humanas. Todas as dimensões da vida emocional e afectiva estão feitas para serem guiadas a partir da razão e da vontade, e não precisamente para serem anuladas, e sim para serem ordenadas e colocadas ao serviço do mais elevado que há no homem: o bem da razão. Não se pode conhecer o homem concreto sem entender a inteligência, a vontade, a alma humana, suas 141


potências sensitivas, em suma, o verdadeiro ser e funcionamento “profundo” – a verdadeira Psicologia profunda – da personalidade humana. Por isso, qualquer psicologia digna do homem deve fundar-se em um adequado conhecimento da natureza humana do sujeito concreto que pretende conhecer e ajudar. Os claros princípios da antropologia filosófica tomista devem desempenhar um papel capital na reconstrução de uma autêntica psicologia no âmbito cristão. Como exemplo, posso referir-me a uma das partes e a alguns pontos dessa obra de São Tomás, dizendo que toda a segunda parte da Suma Teológica é um autêntico tratado de psicologia fundamental, tanto teórica como prática. Partindo das riquíssimas descrições que se encontram nos tratados dedicados às virtudes morais, o psicólogo pode encontrar e elaborar um magnífico e preciso instrumento de diagnóstico e terapia. Partindo de uma fundamentação antropológica segundo os ensinamentos de São Tomás de Aquino, seria possível livrar a Psicologia da sua projecção de ser uma Psicologia modelada principalmente sobre a patologia, e formular uma Psicologia da plenitude pessoal, social e espiritual do homem. (Miriam Díez i Bosch)

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Níveis

Após tanta teoria, já ficaram para trás 18 títulos cada qual indicando um processo de conhecer o ser ainda haverá algo a acrescentar? Qual o conteúdo de mais este título «níveis»? Se a sua casa só tem 1 andar, o que avista pela janela não pode ser o mesmo que o habitante em o 50º andar de um arranha-céus…! O espírito humano é constituído por andares, conforme a altura onde alguém habita assim vê, assim conhece. Sempre com a brevidade que o nosso trabalho exige reparemos como é possível ter diferentes vissões do ser de acordo com o andar científico onde alguém habita Senso comum Científico Filosófico 142


Teológico O nível designado por senso comum não precisa de tratamento, todos o usam desde os mais doutos aos analfabetos, estilo do cavaqueio em que na mesma conversa se misturam pão, gato, cão, boi, todos os santos mas também Mefistófeles não excluído…! O nível científico selecciona, divide o estudo sobre os seres em diferentes campos de pesquisa a fim de aprofundar mais e melhor cada área e assim contribuir para um saber totalmente unificado como preconizava Descartes. Este campo é o mais vasto porque dividido um diversos ramos a fim de obter de cada um mais amplo e profundo conhecimento. Cada ramo científico usa terminologias adaptadas à matéria em causa: a química trata da constituição atómica dos elementos preferindo para tal um estilo de expressividade matemática: H2O, SO4 etc. (cf tábela periódica). A biotécnica ocupa-se dos seres vivos, como tal necessita de uma nova terminologia estando hoje muito em voga a análise DNA. Para a medicina há uma panóplia de instrumentos para efectuar a análise do corpo humano. Para as ciências humanas há também diferentes estilos e técnicas para avaliar o QI intelectual, o carácter, o temperamento etc. Os níveis são estabelecidos de acorco com o mais próximo ou remoto relacionamento entre fenómeno e causa. O senso comum contenta-se com a evidência que os sentidos oferecem, o fenómeno apenas. O nível científico parte do fenómeno à procura da genuína causa segundo a natureza do corpo em estudo. Este é designado como o nível das causas próximas. O nível filosófico/teológico não se contenta com o nível próximo das ciências, busca a raiz comum a todos os fenómenos, as chamadas causas remotas que vão subindo até encontrar a causa de todas as causas, o Princípio Imprincipiado (cf título princípios). A Causa Suprema Suprema é simultaneamente Objectiva e Subjectiva, é Sumo Espírito por Natureza. Todo este trabalho científico quer a nível das causas próximas quer a nível da Causa Suprema está feito, os pensadores que nos precederam legaramnos este incomparável espólio, importa apenas tomarmos consciência da fortuna inqualificável que abrindo o nosso espírito podemos herdar. Os grandes filósofos gregos (Platão/Aristóteles) subindo a cadeia das causas próximas conseguiram encontrar a Suprema designada por Eros (Platão), por Noesis/Teos (Aristóteles). Este dedicou a Deus a filosofia 1ª a que por isso chamou teologia. Os filósofos cristãos (escolásticos) corrigiram a teologia de Aristóteles conservando-a como parte da filosofia ou então separando-a em ciência 143


autónoma chamada também teologia. Quem não conhecer a história ficará confuso perante os vocábulos relativos a cada ciência mas também com diferentes conteúdos de acordo com a história. Deus foi recebendo nomes conforma os conteúdos que ia acrescentando através das idades: Demiurgo, Fiturgo, Eros, Motor Imóve, Mente Suprema, Inefável, Pai dos deuses e dos homens, ser, Bem, Deus. Como o conceito de Deus assim o de mundo foi adquirindo conteúdos através da história. O mundo teria sido feito, disseram os gregos, os cristãos corrigiram para criado. O homem seria só alma, os cristãos corrigiram: alma e corpo. O Autor do mundo seria apenas um Feitor/Motor, os cristãos corrigiram para Criador. Os gregos consideravam a história apenas um estilo literário para elogiar os heróis, os cristãos transformaram-na em ciência dos factos. A religião grega era mitológica, a cristã é histórica. O facto cristão criou a antropologia do homem novo que os gregos nem usando sua fecunda imaginação jamais sonharam. Estes dados introduzidos na filosofia alteraram-na desde a base pelo que a filosofia que temos hoje no ocidente verdadeiramente não é mais a grega mas a cristã. Cerca de uma centena de Universidades católicas que temos hoje espalhadas a bem dizer por todo o globo ensinam a filosofia segundo esta plena evolução, a chamada filosofia perene, produzem milhares de artigos cada ano sempre acrescentando algo ao pensamento dos pensadores anteriores. Através dos tempos surgem pensadores sedentos de verdade, desejosos de conhecer o ser, este é o intento dos cientistas e filósofos no geral mas também surgem idealistas, até msmo pensadores românticos que pretendem fazer das ciências a filosofia inclusive mera literatura. Há também pensadores que estão em um nível e atravessam-se, invadem outros níveis para os quais não adquiriram a latitude de espírito necessária para esses níveis, isso acontece mais frequentemente os pensadores a níveis das causas próximas introduzirem-se em temas que devem ser tratados a nível das causas supremas, daí as visões erradas. Os 3 exemplos que apontamos seguidamente são desse género, cientistas que quiseram ser filósofos e teólogos: o cientista em seu campo é rei mas no dos outros não deve entrar sem licença dos profissionais aliás sujeita-se a repreensões dos cultores dessoutros níveis Cosmoginia 144


A cosmogonia segundo a astrofísica A astrofísica tem-se interessado mais que qualquer outra ciência na pesquisa do início do cosmos e consequente evolução até ao estado actual. A teoria do Big Bang é a que está mais em voga actualmente. Os físicos servem-se da experiência atómica para comparativamente estabelecer a expansão do universo. Os astrónomos baseados na teoria expansionista que lhes oferecem os fisicistas transladam o processo para a expansão do Universo a partir de uma espécie de explosão atómica a que um humorista deu o nome Big Bang. Devido ao progresso da tecnologia telescópica os astrónomos hoje penetram profundamente no universo e imaginando que ele cresce a modo de árvore quanto mais fundo o atingem mais remoto no tempo o colocam. Assim as descobertas mais recentes atingiram as galáxias em formação há 12 e 13 biliões de anos: Schedler (2010) e R Ellis (2011) oferecem o 1º dado experimental acerca da idade das galáxias, 12, 7 biliões de anos e 13, 2 respectivamente. Pelo que o Início da expansão (Big Bang) terá acontecido há 13, 7 biliões de anos. Os astrofísicos usando as mesmas teorias expansionistas que segundo eles se vão transformar em compressivas devido ao arrefecimento estabelecem também desde já o fim do universo daqui a 4, 55 biliões de anos...! Os 2 cientistas supra ofereceram assim à astrofísica as suas experiências mas a astrofísica em geral ainda não as aprova como concludentes, classifica-as de especulativas. São porém de louvar quer os fisicistas quer os astrónomos que se dedicam ao conhecimento do maravilhoso universo. Os mais prudentes vão dizendo que se trata de um tonel sem fundo, ainda não se conseguiu senão chegar ás areias da praia. O homem perante o que a ciência já lhe descobre, ainda que migalha pode ficar em admiração toda a sua curta existência. (Wikipédia 2010) Abiogénese Para explicar o início da vida há também teorias científicas que vão desde a geração espontânea até à RNA. Depois de Pasteur (1864) que mediante suas experiências desfez completamente a espontaneidade os cientistas procuraram outras explicações surgindo a abiogenese e a teoria de Openin (1930). Actualmente a que apresenta alguma credibilidade científica é a RNA que calcula o início da vida há 3,5 biliões de anos. 145


Darwinismo Assim é designada a teoria evolucionista das espécies surta nos tempos modernos através das experiências de Darwin: de 2 a 4 espécies originais surgiram as hoje existentes devido à «strugle for life» perante as condições ambientais.

A/ Big Bangg As teorias científicas do Big Bang já contam 13 versões e vão continuar aliás parava o progresso, elas porém não tocam de longe ou de perto na filosofia, os próprios cientistas o testemunham e põem sua assinatura criacionista no universo: «nada se cria, só muda». Os cientistas puseram a hipótese de ter acontecido no universo cósmico o que acontece na explosão do átomo (enorme fluxo de energia). Terá de facto o universo na sua expansão seguido o modelo da configuração atómica, quem o assegura? A energia do Big Bang não é uma matéria informe, tem forma e todas as formas como bem pensaram Platão/Aristóteles têm origem na mente divina. Os filósofos judeo-cristãos demonstraram que a filosofia está de acordo com o dogma criacionista que afirma o Universo ter sido originado a partir da Mente Divina mediante uma única palavra « hieí, fiat, fça-se». O criacionismo atribui a origem do Universo a Uma Ineligência de poder Infinito que deu origem e continua a governar esse conjunto enorme de galáxias a rolar através dos espaços à velocidade da luz sem se entrechocaram. O criacionismo que as inteligências filosófico teológicas dos pensadores que nos precederam julgaram como a única explicação possível para o início do universo e confirmado pelos livros santos não vai ser abalado por uma mera hipótese científica. Fred Hoyle baptizou a teoria expansionista com a expressão trocista de Big Bang em a dialéctica com os que pretendiam elevar esta teoria a nível criacionista...! B/ Abiogenética Como é óbvio a teoria do Big Bang é físico/astronómica, aplica-se unicamente ao mundo físico, o aparecimento da vida obedece a um novo tipo de investigação. Poucos cientistas têm aparecido para explorar este campo sobretudo após Pasteur ter desfeito a teoria espontânea com a penada de um frasco bem arrolhado. 146


Evolucionismo A evolução das espécies posta a rolar por Darwin há 150 anos tem hoje em dia também várias versões, ainda não passa de hipótese científica. Recentemente, a quando do aniversário da teoria apareceram vários artigos alguns dos quais misturando teologia com biologia ou astronomia O arcebispo do rio de Janeiro na celebração do nascimento de Darwin e publicação da evolução das espécies disse: Darwin deixou de ser cientista quando se meteu no campo onde não era chamado, o criacionismo, o mesmo acontecerá quem imitar…! O cientista fique em seu campo, não tire conclusões supremas mediante fenómenos de causas próximas. Eis uma resposta prudente e sábia: as teorias científicas são todas benvindas, nenhuma se opõe à filosofia perene e à teologia. Quando os cientistas o afirmam deixam de ser cientistas, fazem-se teólogos sem o serem e assim dão raia. Summa summarum as 3 teoria só por informação defeituosa infringem o criacionismo que a mesma ciência sensata há muito estabeleceu como seu dogma: está tudo criado, a ciência e técnica só transformam. Se com tanta teoria ficamos sem conhecer o ser e depois não o utilizamos como tranpolim para subir ao Ser então demos grandes passos mas foi mera perda de tempo: conhecer, ganhar o mundo e perder-se a si nele é insensatez rematada. Em o título Im/Trans demonstramos o que Agostinho há 15 séculos concluíra: o nosso coração ficará eternamente inquieto se não repousar no Ser. O caminho duro da ciência só tem razaão de ser se conduzir o viajante ao termo da viagem: alguém que vá para Roma, se ficar a meio do caminho ou até mesmo às portas, nada lhe valeu o troço percorrido e o esforço feito se não chegou onde queria. Assim a viagem da Imanência se não chega à Transcendência. Citação O livro da Sabedoria, explica como, por analogia, podemos conhecer o Criador a partir da grandeza e beleza das criaturas, pois a própria fonte da beleza as criou (Sb 13,3.5). Ainda que desconhecer a Deus seja insensatez, pois as obras estão aí para nos revelar o artista (Sb 13,1), nem mesmo o insensato é capaz de ignorar a beleza do universo. E foi na natureza que Niemeyer encontrou a inspiração para sua arte. "Criado à imagem de Deus", o homem exprime também a verdade de sua relação com o Deus Criador pela beleza de suas obras artísticas. Aarte de fato é uma forma de expressão propriamente humana; acima da procura das necessidades vitais, comum a todas as criaturas vivas, ela é uma superabundância gratuita da riqueza interior do ser humano. Nascendo de um talento dado pelo Criador e do esforço do próprio homem, a arte é uma forma de sabedoria prática, que une conhecimento e

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perícia para dar forma à verdade de uma realidade na linguagem acessível à vista e ao ouvido. A arte inclui certa semelhança com a atividade de Deus na criação, na medida em que se inspira na verdade e no amor das criaturas. [CEC, 2501] Com suas formas tantas vezes fluidas e curvilíneas, a arte de Oscar Niemeyer imitava aquilo que ele encontrava "nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida". Bela e grandiosa por imitação, mas também pela criatividade com que Deus lhe presenteou, a obra de Oscar é um convite a refletirmos sobre a relação do homem com seu Criador

(Arcebispo de

Belo Horizonte)

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Espécies

100 minerais 2.000.000 vegetais 1.500.000 animais 1 Humano Ciências 1º Físicas: os 100 corpos da tábua de Mendeleyev. 2º Biológicas: vida vegetal, animal. 3º Antropológicas: pessoa humana Ainda que sumariamente vamos lançar um olhar ao trabalho realizado pelas ciências da natureza que dizem mais respeito ao nosso trabalho, os cientistas dedicaram-se, separando, organizando cada província do ser a fim de o filósofo partindo desse trabalho subalterno penetrar nas entranhas mesma do ser para desvendar se possível seus mistérios, como preconizara Aristóteles. A filosofia/teologia agradece aos cientistas os dados e método etiológico, assim pode com os pés bem firmes no chão continuar a marcha metafísica alumiada pela candeia do intelecto agente até à Fonte Ôntica. Físico-químicas Pertence-lhes o estudo dos 100 elementos. A tabela periódica de Mendleyev constitui o evangelho físico-químico actual, significa um triunfo extraordinário do «nous» conseguindo ver dentro da 148


hermetia do ouro, ferro, prata, oxigénio, hidrogénio as formas atómicas que distinguem um elemento do outro, dispotas em oitavas musicais totalmente harmónicas, não obstante o «spin» de velocidade louca dos eletrões em torno dos respectivos núcleos! Restringimos o termo físico aos elementos não vivos da terra e astros. Os antigos pensavam que os astros eram constituídos por elementos diferentes do nosso planeta mas os cientistas actuais após várias experiências concluíram que com poucas excepções os elementos estelares são os mesmos que existem na terra, o que difere é o estado sendo preponderante o gasoso; vida ainda não foi encontrada. Os electrões voltejam em torno do átomo comandados por uma lei semelhante à que rege os gigantes do espaço nas suas órbitas; os cientistas podem assim estudar na baixeza da terra a altura dos céus constatando que a estrutura dos grandes mundos consta dos mesmos elementos que compõem o minúsculo, prova de que o cosmos tem para o grande como para o pequeno o mesmo Planeador. Nos tempos modernos uma autêntica plêiade de cientistas após a electrólise feita por Lavoisier (1789) surgiu em especial na Europa debruçando-se sobre os elementos para descobrir suas propriedades utilitárias em geral mas tal não impediu de estudar concomitantemente as estruturas ônticas, a tabela periódica sintetiza os resultados. Os elementos encontram-se no cosmos em composições diversas, corpos que eram julgados simples verificou-se serem compostos: grande foi a admiração quando Lavoisier demonstrou que a água é um composto de 2 gases na proporção de 2 partes de hidrogénio para uma de oxigénio H2O. A primeira tarefa dos cientistas consistiu em dividir os compostos em seus elementos simples; vários processos se ensaiaram até que a perseverança dos engenheiros físico-químicos encontrou o que parece ser o processo definitivo: a forma dos elementos a partir do número dos electrões circundando o núcleo do átomo de cada substância simples: o átomo de hidrogénio é o mais simples de todos, tem apenas 1 electrão girando em órbita à volta do núcleo. Os elementos estão organizados em oitavas (cf Linus Pauling). Os elementos simples encontrados no cosmos (terra, planetas, sol, estrelas) rondam a centena; parecer-nos-ia que dada a enorme extensão do cosmos físico haveria muito maior número de elementos; os cientistas estimam que a classificação está praticamente completa. No espaço de 2 séculos os cientistas catalogaram todos os elementos 149


simples, sabendo-se assim a percentagem de cada elemento na formação dos compostos que constituem o cosmos. Progresso No princípio do S. XX ainda o átomo era tido como indivisível com uma estrutura sempre igual, hoje sabe-se que os átomos de cada elemento são constituídos por quarks e partículas quanta; cada dia se vão descobrindo na estrutura dos átomos novos “quarks” (36 actualmente). O dinamismo da matéria foi explicado com os gregos pela queda dos átomos no vácuo…! A idade média permaneceu “statu quo”. Os tempos modernos vieram continuar a curiosidade de Demócrito e obtiveram resultados estupendos em comparação da queda no vácuo…! Os instrumentos que nos 2 últimos séculos se descobriram tornaram possível uma análise mais aprofundada da matéria, detectar o que a olho nu não era possível: raios X, beta, gama, ultra violeta, ondas hertzianas, electromagnéticas, radiações estelares. Todos os corpos emitem ao serem percorridos por uma corrente electromagnética radiações que podem ser examinadas difractando-as mediante prismas; deste modo os corpos mesmo os mais longínquoas da esfera terrestre revelam suas estruturas atómicas aos cientistas que os estudam. Todos os elementos físicos reagem activa ou passivamente à corrente eléctrica que tem relacionamento com a luz pois suas ondas têm a mesma rapidez; foi através da luz que se fizeram as primeiras pesquisas sobre a natureza do átomo, se medem as distâncias, os pesos, se conhecem as estruturas dos corpos…! Maxwell (1831-79) foi o grande estudioso da luz interessando-se por saber se era ondular ou corpuscular, se sua natureza era material ou formal. Reconheceu que a luz é o veículo mais rápido que viaja no espaço mas não é pura forma: os raios luminosos dos corpos celestes não se propagam em linha recta, desviam-se dos corpos, flectem à esquerda e à direita o que prova serem materiais aliás nada perturbaria a sua marcha em linha recta. A teoria luminosa de Maxwell sobre a luz, electricidade, raios x, radiações magnéticas, generalizada a todas as estruturas atómicas concluiu afirmando que nenhuma irradiação é só forma mas matéria/forma! Esta conclusão há muito se pedia à ciência pois desde Aristóteles se vinha afirmando que os seres são compostos de matéria-forma mas tal afirmação não era demonstrada pela experiência: os que procuram as causas 150


superiores estão por isso muito gratos à ciência que lhes veio através da fisicalidade oferecer a prova de que suas intuições metafísicas estão correctas (cf hilemorfismo). Maxwell, Broglie fizeram suas experiências em elementos simples, sem nenhuma composição com outros corpos; esses elementos apesar de não terem qualquer mistura de outros corpos revelaram a tal composição que Aristóteles designara de metafísica; os cientistas entraram assim na intuição de Aristóteles e demonstraram-na experimentalmente; desde então a filosofia exulta com o testemunho experimental das ciências físicas a respeito da teoria hilemórfica. Mediante alguns exemplos triviais poderemos fazer compreender mesmo a quem não se dedica à especulação a distinção entre física e metafísica. A água foi dividida em 2 gases: oxigénio e hidrogénio, 2 corpos que não mais se podem dividir, por isso se chamam simples, elementos. Estes corpos simples, ainda não são simples, o que parece uma contradição nos termos; trata-se de uma composição não física: a decomposição da água em 2 gases simples oxigénio/hidrogénio chama-se decomposição física, cada corpo tem existência individual após a decomposição. Os elementos oxigénio, hidrogénio fisicamente são considerados corpos simples mas metafisicamente têm uma composição inseparável deles mesmos, se violentamente se tentar desfazer essa composição destrói-se o elemento sem conseguir mostrar de um lado a matéria, do outro a forma porque no cosmos não existem formas sem matéria, só o espírito subsiste sem matéria, como é o caso da alma humana que sendo espírito subsistirá após a separação do corpo. Co-existem! Todos os seres cósmicos mesmo considerados simples pela física são uma composição de 2 elementos (matéria-forma) que não podem separar-se sob pena de destruir o corpo pelo que coexistem, não existem: ao que é separável dizemos que existe, ao inseparável física mas composto metafisicamente dizemos que coexiste: o laço que une a matéria à forma se desfeito destrói-se o ser. O facto empiricamente observa-se melhor nas formas vivas pois se tirarmos a forma viva à árvore, animal, homem destruímo-la, não fica a vida de um lado e o corpo do outro; «a pari» assim acontece com os elementos físicos, oxigénio, hidrogénio, qualquer corpo simples se o desfizermos nunca mais conseguimos refazê-lo porque a forma desaparece mas tal não é tão aparente à experiência empírica, foram os cientistas físico/químicos que descobriram devido a técnicas sofisticadas que mesmo os elementos não 151


vivos considerados simples pela física são compostos metafisicamente: todos os corpos são binários, compostos de um elemento activo e outro passivo a fim de se manterem estáveis; se alterado este correlacionamento, corrompese o corpo (generatio unius, corruptio alterius). Os cientistas físico-químicos entraram mais a dentro no domínio das causas últimas que os filósofos modernos (Lovejoy, 1934, Harvard University). Isto significa que em vista de um saber totalmente unificado as ciências devem partilhar seus achados: os cientistas encontraram experimentalmente as 2 causas constitutivas dos seres (matéria-forma) sem a certeza das quais a viagem para as causas eficiente e final continuavam a ser hipotéticas, baseadas apenas em uma intuição sem prova experimental. A propósito da cooperação das ciências das causas próximas com as das causas últimas devemos dar aos químicos também a grande honra de confirmarem cientificamente o criacionismo estabelecendo como princípio: «está tudo criado, nada se perde da criação, só se transforma». Eis o valor da cooperação entre as ciências: as ciências das causas próximas e das remotas beijaram-se na teoria do hilemorfismo; a filosofia e teologia podem assim com os pés bem estribados no solo continuar a especulação filosófico/teológica em busca da raiz da matéria e diferentes formas da natureza dos seres. Assim se confirma nos tempos de maior evolução científica a intuição que teve na data longínqua (384-322 A.C.) Aristóteles, designado por isso o filósofo dualista, em oposição ao monista, seu mestre Platão. O hilemorfismo não é uma antiqualha filosófica como filósofos modernos a quiseram designar desconhecendo as experiências físicas dos homens da ciência.. Anedota (Para tornar mais leve esta pesada comida!) Em Angola, após a independência a única filosofia e religião permitidas no ensino desde as primeiras letras até à Universidade era o materialismo dialéctico: as carantonhas de Marx e Lenine estavam à porta das livrarias e escolas, toda a literatura que contrariasse o materialismo dialéctico era deitada fora (consegui sem gastar kuanzas uma boa colecção dos livros deitados ao lixo). Um professor quis entrar comigo: a matéria dialéctica do trabalho é a única que existe, não o feitiço da matéria-forma que vocês ainda ensinam nos seminários…! Agostinho Neto, citei, no dia da independência, eufórico, cheio de retórica anicoloialista clamava com voz altissonante: «trabalhadores, o patronato 152


acabou, agora sois livres, não mais chicote, ireis ao trabalho se muito bem quiserdes»! Volvidos 3 anos fez outro discurso: «é necessário ir procurar um instrumento que usavam os colonos para pôr as pessoas a trabalhar»…! Os antigos diziam «primum vivere, deinde philosofare»; o 1º artigo de qualquer filosofia política é dar comida aos cidadãos; o marxismo dialéctico onde foi aplicado trouxe a ruína económica; em Angola, o país mais rico de África, a maior parte do povo passa mal…! ---Padre, somos obrigados a ensinar o que o governo manda…! ---Ainda bem que chegamos a acordo: o marxismo dialéctico é política, não filosofia…! Como o interlocutor frequentava a comunidade paroquial pudemos assim usar um tom jocoso! (fim da anedota) Marx revoltou-se contra o seu professor (Hegel) por ser idealista, disse que andava com a cabeça para baixo e os pés no ar, ia pô-lo com os pés no chão. O chão todavia para Marx era a cabeça dele; quando Engels lhe observou: oh Marx, não é só o trabalho que tem valor, se não houver ouro nas minas o trabalho não faz ouro…! ---Tu não sabes filosofia, eu é que sei…! Engels é que teve de pagar o que ele comia, até mesmo o caixão com que foi enterrado em Londres…! Taxinomia Nos elementos a forma só é acessível ao cientista, nos vivos porém a forma é acessível ao próprio senso comum devido ao espectáculo do nascimento e morte que diariamente se desenrola diante dos humanos. Plantas, animais, humanos entram na vida individual a partir da espécie pelo acto de 2 vivos unidos sexualmente: cada espécie é uma cadeia constituída pelos indivíduos passados/actuais/futuros (em potência) baseada na esperança de os actuais lhes comunicarem a vida como fizeram para eles os antepassados. “Vivus a vivo simili”, um vivo vem de outro vivo da mesma espécie: de uma laranjeira não vêm uvas; da videira laranjas; do boi/vaca mosquitos; do homem/mulher, ratos! Estamos longe daquela idade mítica em que se acreditava os ratos nascerem dos excrementos das cloacas, confundindo habitat com geração! Constatar o facto geracional é domínio do senso comum, catalogar as espécies é do científico: Aristóteles tentou a primeira taxinomia mas foram 153


precisos mais 20 séculos para encontrar continuador condigno (Carolus Linaeus). Desde então, pelas 5 partidas do orbe surgiram classificadores das espécies vegetais e animais comunicando entre si os resultados de tal modo que se atingiram as cifras do elenco supra exarado. A forma viva O que diferencia o ser não vivo do vivo? A forma, assim se responde mas a inteligência da resposta não é tão fácil, só através de diferentes exemplos a inteligência colhe a noção das formas vivas em contraposição com as não vivas, estas diferem daquelas em dinamismo: os elementos reagem uns sobre os outros, empurram-se por assim dizer, o que Aristóteles designou por «motus ab extrínseco»; os vivos são regidos por outra espécie de movimento «motus ab intrínseco», ninguém os empurra, movem-se devido a uma máquina interna a eles mesmos: as plantas movem os membros superiores mas não os pés enquanto os animais se movem de pés e mãos...! Notamos ainda que os vivos usam a matéria dos não vivos, quando a vida sai da planta ou animal não leva consigo nem sequer 1 grama, a matéria porém não fica sem forma, retoma as dos elementos não vivos…! Desfeito o ouro, prata, hidrogénio, oxigénio não é possível reconstituí-los; de uma pedra também não é possível fazer ouro; nas plantas e animais o facto ainda é mais patente, não é possível substituir uma forma viva por outra: boi, vaca, qualquer planta, se perder a forma viva não mais a readquire nem vem outra para o seu lugar, não há regresso da morte; todos sabem matar, tirar a forma viva mas ninguém sabe fazer reentrar no corpo a forma vegetativa, animal, racional que abandonou o corpo! Donde vêm, para onde vão as formas que aparecem e desaparecem deixando o cosmos sempre com o mesmo peso, a mesma quantidade de matéria? A ciência ainda tem de responder a questões triviais como estas mas aceitando os resultados da classificação dos seres em os reinos mineral, vegetal, animal, racional já oferece ao conhecimento enormes progressos. Teleologia Aristóteles ao analisar os seres descobriu antes de mais sua natureza binária, compostos de matéria forma mas estas 2 causas exigem outras 2: cada ser recebe a sua existência a partir de outro (causa eficiente) em vista a uma realização (causa final). Se o homem nas suas obras usa as 4 causas: parte da intencional, o que pretende fazer, lança mãos à obra, é o factor eficiente, junta os materiais dando-lhes uma forma, eis a obra completa. O Artista Supremo usando Sua Mente «Nous» ao fazer o mundo usou as 4 154


causas tal como o homem cujo «nous» é faúlha da Mente Suprema. Como os seres são dinâmicos a Mente Suprema está sempre a unir as formas à matéria em vista do fim que tem em vista na Sua Obra, elas não se compreendem só olhando sua matéria forma, é exigida a causa eficiente que por sua vez tem um fim em vista: o Artista do mundo é sua causa final, Eros, Bem. Belo, Mente arquétipa fundadora dos seres. A natureza dos seres exigindo suas formas a partir de uma Causa invisível no Hiperurâneo mas necessariamente existente como postulado da contingência é a mais preciosa herança da especulação grega, nunca desmentida, aperfeiçoada apenas pelos pensadores cristãos: cada ser é uma forma activa robótica nos seres inferiores, livre nos humanos, o que denota um Pensador de alto gabarito para dar existência a tantos e tão bem ordenados uns para encadear nos outros. Cada ser individual é um robô de tal modo perfeito (acabado) que se não for contrariado atinge sempre o seu fim, deixa o homem boquiaberto: como é possível, por exemplo, que a terra calcada pelos pés animais saiba produzir 2 milhões de plantas enquanto as inteligências humanas todas juntas não são capazes de fabricar uma folha dessas mesmas árvores?! Esse contraste esmagador entre a terra tão inferior e sua realização prova que a inteligência não vem dela mas de quem a programou com todos os elementos que nela existem para servir a vida. Os corpos gigantes que à velocidade da luz correm no espaço desde o início do mundo em órbitas tão bem calculadas que não se entrechocam revelam igualmente a Inteligência de quem imprimiu neles a ciência robótica que os conduz…! O sol é uma areia desse universo supra e bem considerada a força robótica que exerce sobre a terra já espanta numa gama do belo ao sublime. Se os robôs sem vida ou os viventes inferiores ao homem demonstram tão maravilhosa programação, como deve ser a do homem que embora não sendo capaz de criar a organização cósmica todavia a entende, admira, repara que está toda ao seu serviço…! Valeis mais que todos esses robôs, disse o Mestre dos mestres. Por isso o sábio grego (Sócrates) estabeleceu para si um único programa: «gnoti seauton» conhece ó homem o teu próprio ser, não passes a vida a olhar para fora de ti…! A sabedoria grega da contemplação dos seres tornou-se a ciência das ciências, a filosofia é a ciência do conhecimento dos seres para neles repousar em admiração (Aristóteles). A sabedoria grega demonstra, antes da existência das técnicas sofisticadas de hoje que o livro dos seres é inteligível a todo o homem normal que o queira ler mas se não é autodidata siga o dedo dos filósofos que lhe apontam as letras para que possa começar a leitura. 155


Os seres todos sem excepção são robôs perfeitamente programados unicamente para o servir o homem de tal modo que ele é um rei sem necessidade de trabalhar, basta-lhe usar devidamente a faúlha divina do seu espírito para colocar o universo ao seu serviço…! A religião revelada aos cristãos não veio destruir mas aperfeiçoar, tornar mais penetrante o «nous» a fim de descobrir cada vez mais o préstimo dos robôs para a actividade humana, por outro lado produzir sede por Esse Programador alto ao mesmo tempo longínquo e próximo (cf Im/Trans) que fez tudo isto só para o homem usar como caminho até Ele onde se saciará da Beleza, Inteligência, Amor pleno de que as coiss são pequena migalha. Os textos religiosos cristãos confirmam que o universo foi programado para servir o homem de tal modo que não precisa de trabalhar, somente sincronizar-se com seu Criador: «procurai o reino de Deus praticando a justiça, tudo vos será dado por acréscimo tal como às aves do céu que não semeiam nem criam, o Pai do céu as alimenta»…! A maior insensatez do cientista, aliás confirmada pelo livro da Sabedoria está em não reconhecer nem sequer dizer um obrigado ao Autor de todos os seus bens, ainda por cima o considera inimigo…! Há sempre um mas…! Enquanto os robôs autómatos de per si nunca se desprogramam, o homem porque é simultaneamente programado e programador pode desprogramarse e desprogramar os autómatos. É sobretudo notável a desordem que vai no causador das desordens dos seres inferiores: o ser humano denota muito mais descontrolo que os autómatos. O homem pôde e pode estragar a sua própria programação, a chamada consciência que feita só para o bem pode tornar-se pedregosa onde a semente do bem nem sequer germina…! Aquele que programou os robôs para o homem e o homem para Si espera-o no fim da viagem para lhe retribuir segundo o seu comportamento. Tornando-se sábio não só pelo que a natureza criada diz mas também pelo conhecimento da sua história o homem de hoje tem de chegar à conclusão de que precisa de ser reprogramado desde a base. Os robôs criados continuam aí ao serviço do homem mas se o homem não entender que está desprogramado e pelo facto mesmo a desprogramar os autómatos está a conduzir tudo para uma catástrofe suprema. Actualmente há homens desprogramados, homens a começar o reprogramento, outros já adiantados nesse reprogramento. Os seres estão aí, cada humano os verá conforme os olhos que tem: perfeitos, vesgos, com glaucoma ou cataratas…! Indivíduos/espécies/reinos/princípios, Princípio 156


Quantos lírios terão existido desde o princípio do mundo? Impossível contá-los pois enchem os canteiros e jardins em toda a redondeza da terra. Quantas formas de lírios? 1 (Uma). Quantos homens e mulheres há no mundo? 6 Biliões. Quantas formas humanas? 1 (Uma) Todos os bois e vacas do universo têm uma só forma Todas as cerejeiras uma só forma Os gatos, o ouro, a prata…cada espécie por mais indivíduos que possua tem sempre só 1 forma; os indivíduos da mesma espécie são multiplicados tal como uma vela passa o fogo para outra, o fogo é o mesmo, o bocado de cera é que é outro, a multiplicação vem da matéria que pode estender-se e dividirse ao passo que a forma só se estende, não pode multiplicar-se senão como repetição em bocados de matéria, o número vem da divisão da matéria, não da forma. O espectáculo indivíduo/espécie que contemplamos hoje é o mesmo que contemplaram as gerações passadas, subindo a escada geracional o indivíduo racional, o homem tem assim milhões de caminhos para sem se perder chegar infalivelmente ao Princípio (cf título coluna). Agradecemos aos cientistas ter descoberto no universo estes 3 milhões e meio de robôs: aos físico-químicos a maravilha científica da tabela periódica, aos taxinomistas as espécies vegetais e animais, aos psicólogos, moralistas, teólogos a riqueza do espírito humano. Se os cientistas não tiveram realizado suas tarefas científicas, o filósofo/teólogo apenas especulava, agora deduz, o caminha da metafísica é uma via causal, segura como não há outra para do ser se elevar ao Ser. A via religiosa/histórica aperfeiçoa e confirma com a infalibilidade esta via científica. Lista dos robôs classificados segundo as formas específicas

104 não vivas (físicas) 1.500.000 botânicas 2.000.000 zoóticas 157


1. humana com biliões de indivíduos pessoas. Formas hiperurânicas 9. coros de Anjos Deus, 1 Única Natureza em 3 Pessoas, Criador de todos os robôs

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Filosofia

O leitor terá certamente reparado que a filosofia/teologia não aparece no elenco das ciências? É natural a qualquer ciênica mudar de conteúdo durante a sua história, o mesmo acontece com as ciências das últimas causas consideradas super ciências: actualmente cada ciência tem a sua filosofia, pode partir-se de qualquer género e remar em direcção às causas remotas. Aristóteles pôs o fundamento para estes 2 modos de filosofar designando por filosofia comum aquela que parte das causas próximas em direcção às últimas, por telogia e metafísica a filosofia 1ª . Temos demonstrado (cf titulo níveis) que de facto se pode partir de qualquer ciência em demanda do Arke. Neste título e seguinte refrimo-nos à filosofia 1ª, daí não a incluirmos nos níveis científicos. O rio desde a nascente à foz atravessa várias regiões, passa por diversas cidades recebendo o nome de cada, o Tejo é o rio de Toledo, de Vila Franca, de Lisboa, os habitantes desses espaços conhecem o rio conforme ele se revela no percurso da sua cidade; só o cultor da ciência própria sabe integrálo na geografia do país ou ainda melhor na do globo. Este símile ajudará a compreender o objecto da filosofia 1ª, não cuida de uma província do ser, de um traço, conhece o ser desde a fonte (Aristóteles). Desde as unhas dos pés aos cabelos, dos musgos aos ciprestes, da lua às galáxias…tudo cabe em «é», flexão de ser, ventre mínimo para conteúdo máximo, maior que a arca de Noé pois até o dilúvio está lá dentro…! As ciências estudam o fenoménico, o que aparece, a filosofia, a raiz invisível que embora escondida é causa do visível. Como é óbvio a filosofia passa além dos fenómenos, seria inútil ocupar-se do 158


que as ciências já fizeram, aproxima da fonte, a Causa, quer conhecer o ser na sua ligação com o Ser…! A generalidade dos humanos contenta-se em saber a nível do senso comum, os cientistas a nível de efeito causa-próxima, os filósofos a nível da Causa Invisível do visível. Pareceu bem aos cientistas dividir as tarefas, assim nasceram os diversos ramos, a autonomia científica; a filosofia comum ordenou as ciências formando um esquema geral, mas o seu papel específico consiste em mostrar o encadeamento dos seres, sobretudo o relacionamento com a fonte concretizada no Ser, também chamado Deus (Aristóteles). A filosofia não é uma ciência utilitária analisando e explorando os seres em proveito da manutenção e comodidades humanas, é a ciência curiosa por excelência, só lhe interessa responder aos porquês que os seres dirigem aos humanos. Quem só se interessa pelo utilitarismo, a rega do rio, não sabe o monte onde nasce e o mar onde desagua pouco sabe do rio. É na invisibilidade dos sentidos que se encontra o Ser Supremo, «o Pai de tudo quanto é belo, nunca visto pelos mortais (Platão). A teologia natural que Leibniz designou por Teodiceia é complementar a todas as ciências aliás os seres dos quais de algum modo tods as ciências se ocupam existiriam sem causa (Aristóteles). Na idade cristã, não como parte da filosofia mas como ciência à parte surgiu a Teologia cristã; hoje, uma vez que a teologia filosófica passou a designarse por teodiceia, quando se fala em teologia entende-se esta ciência nova de que nos ocuparemos em (cf título teologia). Aristóteles na filosofia 1ª tratou de uma série de questões a que já nos referimos na 1ª parte tais como: distinção entre substância acidentes, o dualismo matéria/forma, individualmente do homem e de Deus. Aristóteles é ainda autor do princípio de não contradição ontológica, gnoseológica, historicamente válido. Uma das razões pelas quais por vezes a filosofia é olhada com uma certa ironia advém da oscilação dos filósofos não só sobre os pontos de vista da ontologia mas também e sobretudo sobre os 2 seres em concreto, homem, Deus. Na idade moderna Descartes mudou o eixo da filosofia para o aspecto subjectivo do conhecimento oscilando em questões essenciais como a substância: deu 3 definições de substância: «res cogitans, res materialis, res infinita» mas a que ficou para história foi a última «res quae ita existit ut nulla alia indigeat ad existendum, só aplicável a Deus. Depois tomou como base não a substância objectiva mas a consciência ou razão «res cogitans». Partindo desta postulava imediatamente a Substância Deus e a partir dele como Criador o mundo e até ele mesmo. 159


Estabeleceu o que se chama a «petítio princípii» pois se Deus é que é princípio então não é a razão e se é a razão então não é Deus…? Aberta a porta para mudar o objecto da metafísica, meu Deus, a que nós chegamos…! Kant: a metafísica terá como objecto chamar a razão a juízo, ralhar com ela por ter saído dos seus limites dizer que conhece a substância dos seres quando não é verdade, só conhece as aparências, está limitada aos sentidos e estes não passam de 2 acidentes: o espaço e tempo…! Spinosa: só Deus é substância, o homem e mundo são 2 acidentes da Substância Deus…! Leibniz: os seres são mónadas divididas em 2 classes as corpóreas e anímicas mas em sincronia na acção devido à harmonia pré estabelecida pelo Criador…! Os idealistas acabaram de vez com a substância: o fluir livre do pensamento «panta rei», deixar o pensamento andar espontaneamente por onde ele quiser ir, prendê-lo à substância é prendê-lo a um amuleto…! O elenco não termina aqui mas não podemos omitir o mais importante filósofo contemporâneo, Heidegger: ser é o ser do homem em situação no espaço e tempo, o homem é o ser individualizado pela contínua angústia da morte…! Acho que é presunção demasiada um filósofo erguer-se entre centenas e milhares de cultores da razão que o precederam, afirmar-se ao mesmo tempo tribunal e juiz, citar a pobre metafísica a comparecer com a corda ao pescoço, condená-la a comer os fenómenos de espaço e tempo, deitar fora a substância da fruta, vinho, batata, couve…! Não vamos imitar chamando por sua vez ao nosso tribunal todos os que alteraram o conceito tradicional da metafísica, aliás Baudrillard e não só já comentaram esses desvios dizendo que por vezes os cultores da razão perdem o bom senso que manifesta a boa saúde da razão…! Regressando a Aristóteles e sua linha A análise do ser feita por Aristóteles ainda hoje causa admiração, estamos perante um génio, o argunauta que caminhando sobre os seres chegou ao templo do Ser, os medievais não só aprovararm mas seguiram julgando ser o recto caminho. A lei das 4 causas é intrínseca aos seres inferiores e razão pelo que há perfeita harmonia. Aristóteles não é menos subjectivo que objectivo: a razão fazendo a introspecção do seu modo de ser e depois fazendo extropecção para o modo de ser dos seres exteriores verifica que todos obedecem ao mesmo processo. 160


O que quero? Uma casa (causa final). Mãos à obra (causa eficiente). Ferro, cimento, madeira…(causa material). Planta, e colocação dos materiais guiados pela planta (causa formal). A casa feita, o fim do qual dependeram as causas material, formal, eficiente. Os seres inferiores ao homem manifestam esta ordem fixa neles, a lei do determinismo. O homem embora condicionado pelo determinismo dos seres inferiores que usa encontra em si a lei da liberdade de acção. A intuição genial de Aristóteles detectou nos seres não um determinismo absoluto, sim o que chamou a teleologia, sempre uma certa margem para a Causa final agir quando quiser para modificar, conduzir de diversos modos o determinismo, classificou a força da Causa final como uma espécie de Íman gigantesco conduzindo os seres pela atracção e antropomorfizando essa causa final designou-a de Mente Suprema, Eros conduzindo os seres inteligentemente e atraindo-os pelo Amor ou seja fomentando neles não só o conhecimento mas o bem…! Aristóteles aliás como seu mestre Platão na análise dos seres descobriu que o Autor era Uma Inteligência Soberana «Nous», Noesis, Logos…» dela dependiam as formas dos seres, assim acontece com o espírito humano, dele saem as formas da facção. O grande problema que ele nem seu mestre conseguiram resolver foi o problema da matéria, os pensadores cristãos acrescentaram a autoria da matéria à Mente Suprema e aprofundaram muito mais o conhecimento dela concluindo que Sua definição é «Ipsum esse subsistens», é ser com capacidade para criar ao passo que o espírito só tem formas para fazer. As formas são de natureza espiritual, criações do espírito, o Autor das formas mundanas é necessariamente Espírito. Platão/Aristóteles fundadores respectivamente das escolas do pensamento mais célebres de toda a antiguidade (Academia/Liceu) guiados apenas por seu «nous» chegaram à fonte, ao Ser, afirmaram como única razão de haver seres haver o Ser, não o viram nem ouviram mas postularam-no como Ser Necessário para explicar a contingência dos seres, serão por isso eternamente a referência patrão do poder do «nous» para descobrir o «Nous». Os pensadores moderno/contemporâneos com suas diversas tentativas de mudar o objecto material/formal da metafísica terão chegado mais longe?

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Teologia

Teologia: teos (Deus), logia (ciência), tratado de Deus. Com excepção de um único, o judeu, os povos antigos mesmo os de mais desenvolvida civilização (Egípcios, Gregos, Romanos) tinham de Deus uma noção totalmente outra da científica e revelada, eram politeístas. Roma adoptou o politeísmo grego, adicionou seus próprios deuses e os das terras conquistadas; condenou à pena capital cerca de 10 milhões de cristãos por não aceitarem seu politeísmo. Filósofos Os filósofos gregos não seguiam a via popular eram monoteístas, reconheceram mediante a análise dos seres que provinham de um só princípio, a mesma mão operadora mas de natureza superior: os seres de natureza contingente, o Autor do Universo de natureza Necessária, os seres começam, Ele o o Arke não pode começar. No título filosofia expusemos como os sábios gregos chegaram à conclusão que o amo do mundo só podia ser 1: «há só 1 amo do mundo» (Homero). O povo grego e romano era politeísta, os filósofos monoteístas.

Profetas Um povo de pastores sem cientistas nem filósofos aparece na história com uma classe de homens que nenhum outro povo apresenta, os profetas, tratase do povo judeu ou israelita (cognome derivado de Judas, um dos filhos de Jacob também chamado Israel). Esta família foi para o Egipto para se livrar da fome, a princípio muito bem recebida mas depois pouco a pouco reduzida à condição de escrava. Moisés, um dos descendentes apascentava o rebanho no deserto, viu uma sarça que ardia sem se consumir, aproximou-se e a sarça falou ordenando que se descalçasse antes de se aproximar: -- «Vai libertar o teu povo, escravo dos Egípcios» (estava lá há 500 anos). --Qual o teu nome para eu dizer ao povo? -- Aquele que é, o Eterno. A história completa vem narrada em os 5 livros iniciais da bíblia, o Pentateuco, em súmula: Deus por Seu Profeta perguntou ao povo se queria rejeitar todos os deuses dos outros povos, ter só Ele como Deus Único, serlhe Consagrado? O povo aceitou, recebeu pelo mesmo Moisés as 10 leis (decálogo) pelas quais devia governar-se, o 1º artigo soa assim: ouve Israel, o teu Deus é o 162


Criador do Céu e da Terra, a Ele só servirás, a Ele só adorarás. Tudo aconteceu segundo o prometido e este povo atravessou a pé enxuto o mar, viveu 40 anos no deserto alimentando-se com pão descido do céu, sem dar um tiro entrou triunfante na terra prometida precedido apenas da arca onde estava a lei e manã símbolos da Aliança. Moisés anunciou ao povo que após ele Deus enviaria sempre chefes e outros profetas mas na plenitude dos tempos o Deus que lhe aparecera no deserto lhes enviaria um profeta ainda maior. De facto este povo teve sempre profetas a acompanhá-lo durante toda a sua história que além de anúncios circunstanciais apontavam para o dia do grande Profeta: Isaías/Jeremias identificaram-no como Servo de «IAVE. Tudo aconteceu segundo a profecia mas muito mais grandiosamente do que se esperava: Deus não mandou um profeta como os anteriores mas o próprio Filho que com enorme surpreza revelou que Deus sendo de facto 1 por Natureza não é 1 solitário mas 1 família constituída por 3 Pessoas (Pai, Filho, Mãe). Deus não tem corpo mas Ele, o Filho para vir ao mundo dos homens tomou corpo no seio de 1 Virgem acontecendo um prodígio nunca visto: na mesma Pessoa duas naturezas de distância infinita, a natureza humana e a divina a ponto de se poder tratar com Deus como se Ele fosse simples homem! A promessa está escrita em 46 livros, a história da Sua Vida em 27, hoje, dado o grau de civilização mundial esta história é acessível a todo o homem de instrução elementar (cf título bíblico). Esta história é proclamada em todo o mundo pela sociedade instituída por esse mesmo Messias, a Igreja Católica. Os profetas, homens a quem o próprio Autor do mundo decidiu descobrir como fez o cosmos e deseja o homem se comporte para com Ele encontraram na filosofia grega sintonia monoteísta. Alexandria foi o lugar geográfico do encontro das 2 fontes; dialogaram, influenciaram-se mutualmente, hoje não há filosofia sem influências advindas da revelação no que diz respeito à origem dos seres em geral, do homem em particular, da Natureza do Autor do mundo pois a filosofia postulara apenas Sua existência ficando sempre ignorante de Sua Essência, o Inefáfel. Recordando o encontro. Filon, judeu (13 antes---40 depois de Cristo) foi o primeiro cientista a fazer uma comparação entre a narrativa da origem do mundo segundo a filosofia Platónica do Timeu e a Criação narrada no Génesis. Clemente de Alexandria (150-215) filósofo convertido ao cristianismo advogou um diálogo franco entre Platão, Moisés, Cristo contra outra corrente 163


que optava por separação intransigente: o que tem Atenas com Jerusalém (Tertuliano)? Plotino (205-270 A. D.) Plotino realizou um ecletismo filosófico-religioso da filosofia grega na versão neoplatónica e as religiões orientais: budismo, judaísmo, cristianismo. Esta simbiose ficou para a história com o nome de Eneadas devido à distribuição em 6 grupos de nove livros cada que lhe deu um dos seus discípulos. Alguns afirmações das Eneadas «Deus é único em si mesmo, distinto do mundo, sua natureza não pode ser devidamente expressa por conceitos abstraídos das coisas. Deus é o Absoluto, Sua existência é tão certa como a existência dos seres porque foi ele que os fez quanto à matéria e forma. O Absoluto não tem as determinações que encontramos nas criaturas: nascimento, geração, crescer, diminuir, agir, padecer, mudar, envelhecer, mover-se, repousar...! O Absoluto está acima de todas as coisas, não se lhe podem atribuir os qualificativos: ser, substância, vida, pensamento; Ele é o Ser por Natureza, o Pensamento por Natureza, aonde iria buscar os pensamentos fora de Ele? Ninguém todavia tem pensamentos que não venham de Ele! Ele é Inefável, nada sabemos verdadeiramente do seu íntimo, falamos de Ele mas com nossas palavras e nossas ideias. Deus transcende palavra, espírito, sensibilidade mas é Ele que concede o pensamento e palavra aos que se aproximam de Ele para embora imperfeitamente o conhecerem. Nada nos impede de termos, embora sem o ver, tacitamente a sua posse; Ele inspira, invade o peito dos amigos, têm a certeza de terem consigo a fonte donde jorram os seres e todos os bens dos seres. Se o nosso espírito é puro, vaticina a si mesmo que Ele é Puro Espírito, de Ele depende o nosso espírito, pensamentos e bens, mas Ele nunca se identifica com os valores que concede mesmo aos espíritos mais puros, a todos transcende. Ele é o Sol de que todas as coisas são apenas raios. Ele é a Árvore da vida donde procede tudo o que respira. Ele é a Fonte donde descem todos os rios e mares. Ele é o «Um» donde procedem as coisas em ordem de dignidade formando 164


uma pirâmide com a matéria por base, subindo em direcção ao vértice por ordem de dignidade. Mente Suprema, Um Vida (vegtativa, sensitiva, humana) Matéria. Não há outro princípio dos seres senão o Um, a matéria cuja origem os mestres gregos não quiseram atribuir ao Um por a julgar imunda, é boa, tudo vem do Um, a matéria inclusive, abaixo dela só o nada. O homem está colocado entre as tendências para o Um e para a matéria tem de optar; o resultado é fruto da liberdade. Viver passionalmente segundo as tendências para o corpo é fácil; elevar-se ao Belo, Verdadeiro, Bem é difícil porque exige a força constante da vontade, das energias da alma. Só pela vontade livre purificada pela catarse, ascese, contemplação se chega ao Um. Vencida a luta, ao deixar o cárcere do corpo, a alma abandona as próprias ideias, todas as formas que pertencem a este mundo, passa a ser iluminada pela Inteligência, Beleza, Bem do Um” (B Mondin Vol 1, pg 126)! A filosofia de Plotino, como é visível denota influências religiosas orientais como o budismo mas em especial judeo/cristãs, é uma filosofia influenciada pela religião monoteísta. Revela princípios cristãos tais como liberdade, responsabilidade, mérito. De acordo com o esquema do triângulo da sua autoria tudo, mesmo a matéria, tem origem no Absoluto, o Um, o Criador. Porfírio recolheu a filosofia do mestre em 6 grupos de 9 livros (6 x 9=56) que por isso se chamam Eneadas. Após a queda da Grécia em 80 antes de Cristo, Alexandria, capital do Egipto tornou-se o refúgio dos filósofos bem como dos judeo-cristãos perseguidos por motivos religiosos em Roma e outras partes do Império. Neste centro heterogéneo de culturas e religiões nasceram as aproximações entre filosofia e profecia, Plotino é fruto desta convivência filosófico-religiosa identificando o Ser, o Um, o Arke do Universo com o Deus Criador judeocristão. Os filósofos árabes Ibn Sena (Avicena) 980-1037 Ibn Roshd (Averróis) 1126-1198) Estes 2 filósofos situam-se muito para além de Plotino na cronologia mas fazem parte do impacto filosófico religioso: eram hispânicos, a designação de 165


árabes está por muçulmanos, devido à sua religião nascida na Arábia a partir das visões nocturnas de Maomé no S. VII. O Islam, como veio a ser chamado o Maometismo, devido ao espaço geográfico que foi cobrindo com suas conquistas tornou-se talvez o maior sincretismo religioso-filosófico-político criado na idade média, características que ainda hoje retém. A religião islâmica embora afirme que sua doutrina vem do fundador Maomé, em realidade ela é uma contrafacção do judaímo admitindo 2 dogmas importantes: o monoteísmo e o criacionismo. Em Alexandria os chefes árabes começaram por destruir a maior e mais preciosa biblioteca do mundo mas depois desta fúria derivada do seu fanatismo religioso deixaram-se também influenciar pela cultura sincrética existente. Do Oriente Europeu, sobretudo da Grécia trouxeram a filosofia e arquitectura através do Mediterrâneo para a Península onde floresceram nas artes e letras na longa estadia de setecentos anos SS VIII-XV. Os filósofos cristãos tal como os árabes aproximaram a filosofia da religião, entraram na cruzada científico/religiosa do monoteísmo que acabou de uma vez para sempre com os ídolos: hoje todo o mundo quer científico quer religioso reconhece que só há 1 Deus Criador de tudo quanto existe. Sto Agostinho (354-430) A ciência nova Agostinho constatou em si o estado decadente da natureza humana, procurou remédio sucessivo na filosofia de Cícero, Pirro, Manes, Plotino (Eneadas) mas nenhuma o satisfazia porque não via nelas capacidade para livrar o homem da decadência original. A mãe e Ambrósio, o bispo de Milão aconselhavam-no a fazer-se cristão porque no cristianismo encontraria remédio para o mal mas Agostinho não se convencia, pensava que não era capaz de cumprir o artigo 6 da lei. Toma e lê. Uma criança ao que parece ofereceu-lhe o livro das Escrituras aberto em S Paulo onde o apóstolo diz: pela graça sou o que sou, um homem novo…! A leitura de Paulo convenceu-o que de facto no cristianismo havia um antídoto contra a concupiscência e demais inclinações mãs, aceitou receber o baptismo e verificou em si o que lera, na verdade o cristianismo mediante ritos sagrados dos quais a porta é o baptismo muda o homem a partir da base, dá-lhe forças espirituais que se sobrepõem às inclinações carnais. Recebeu sucessivamente a graça de simples cristão em o baptismo, depois sacerdote e bispo. O que Paulo dizia sobre a graça verificou em si mesmo ser verdade, fez a 166


sua confissão pública que ainda hoje todos podem conhecer em o livro chamado das Confissões, crescendo em graça até à santidade, grande estudioso dos livros santos em que se tornou mestre. Até Agostinho ciência era só a helenista, as religiões mesmo a judaica e cristã não eram reputadas científicas, um dos motivos alegados pelos gnósticos para não abraçarem a religião advinha do preconceito de que os crentes eram analfabetos seguindo a modo de carneiros os chefes religiosos. Agostinho tornado pastor escreveu várias obras apologéticas em que contestava Plágio e os gnósticos que afirmavam a natureza ter capacidade para se restaurar mediante a filosofia. Finalmente teve a genial ideia de colocar em o esquema das Eneadas não, Aristóteles, Plotino mas o Mestre provando com argumentos irresistíveis que a filosofia grega ou maniqueia não tem capacidade para ir dentro do homem e recriá-lo, só o cristianismo tem o Mestre que cura o homem por dentro «non foras ire, intus veritatis magister»! No tempo de Agostinho filosofia significava a ciência no mais alto grau, a física, matemática, astronomia, biologia ainda não tinham saído do ventre da filosofia, ela era ao mesmo tempo a súmula e a cúpula do saber. Assim decorridos 5 séculos a ciência no seu mais elevado grau tornou-se cristã devido ao génio de Agostinho. A ciência nova Esta ciência poderia chamar-se filosofia porque o esquema era o de Plotino e salvaguardava o que tinha de bom mas o caixilho não correspondia ao conteúdo, qualquer ciência distingue-se pelo objecto material/formal ora quer um quer outro diferiam essencialmente de Plotino: Agostinho não colhe a ciência a partir da lâmpada dos filósofos mas do Mestre, Sol que veio iluminar todo este mundo, Pessoa Divina em forma humana, portanto a ciência que vem de Ele tem de chamar-se Teologia. A Teologia introduz a história na ciência o que os gregos nunca quiseram fazer «de singulari non fit scientia» dizia o divino Platão ninguém ousando contradizê-lo, Agostino é o 1º pensador a dar à história a categoria de ciência. Agostinho apresenta Aquele a quem toda a história está referida por antes e depois (A. C. A. D.). Como Homem-Deus traz Deus para a história humana de modo definitivo: os profetas já o tinham predito, agora acontece mesmo, é Ele em Pessoa que com toda a categoria ensina sobre Deus porque é Deus, sobre o homem porque é Homem, sobre o mundo porque o tirou do nada pela Criação, Sua Sabedoria é Sol perante o qual todas as lâmpadas sábias empalidecem. A ciência nova de Agostinho não é um capítulo da filosofia grega é uma ciência totalmente nova dos pés à cabeça, perante ela começaram a notar-se 167


os erros da filosofia grega de tal modo que começou a ser abandonada, para conservar sua autonomia iniciou um processo de correcção, tornou-se «ancilla theologiae». A filosofia nos anos sequentes à ciência nova modificou-se a partir dos fundamentos, evoluiu de tal modo pelo contacto com a teologia que pode dizer-se deixou de ser grega para ser cristã. Desde Agostinho até hoje a teologia também evoluiu em várias direcçãos dividindo-se em vários ramos: teologia dogmática, moral, ascética, mística, bíblica, litúrgica…! A teologia assim como dialoga com a filosofia dialoga hoje com todos os ramos científicos, actualmente com o relativismo filosófico, com as técnicas científicas da biogenia. D durante toda a medievidade a influência incidia sobre a filosofia, as ciências como que ainda estavam todas em seu ventre. Não obstante a influência que a teologia causou à filosofia, os grandes teólogos medievais como Tomás de Aquino advogaram sempre sua personalidade; 11 séculos decorridos Descartes consagrou de vez sua autonomia um tanto abalada na medievidade. O problema que se põe é que enxoval levou a filosofia ao desligar-se da teologia e que separação é essa quando hoje não tem uma tábua que não tenha sido remexida devido à luz que se habituou a receber da teologia? A filosofia grega foi alterada em pontos essenciais como o criacionismo, a natureza do homem, o argumento histórico e terminologias totalmente outras...! Regressar a Platão/Aristóteles, Plotino? Abandonar as aquisições recebidas, manter-se em gueto quanto a influências advindas da teologia, das demais ciências? Descartes embora para fugir à censura da autoridade eclesiástica advogasse a independência da filosofia da teologia, era sensato, de modo algum preconizou o retorno à filosofia grega: «sou uma substância pessoal cuja natureza é essencialmente espírito, pensar é minha actividade específica, Deus existe, é o Criador do mundo e meu quanto ao corpo mortal e alma imortal». A filosofia autónoma da teologia não foi despida das influências nela incorporadas, não se mete em guetos, recebeu, continuará a receber influências, nenhuma esfera de conhecimento chegou ao sumo a ponto de fechar a torneira ao progresso. Acontece ainda que desde Descartes até hoje os filósofos que os historiadores nos apresentam são todos cristãos, só 1 judeu. Há vários filósofos protestantes mas no pouco de religião que têm são cristãos. 168


Portanto a filosofia tornada cristã não mais mudou de autoria, não há outra, as escolas superiores hodiernas, mais de uma centena espalhadas pelos 5 continentes são todas católicas, seus alunos pertençam à religião cristã, a qualquer outra ou nenhuma seguem a filosofia que os pensadores cristãos têm demonstrado ser aconfessional, servir a todo o homem que vem a este mundo. Descobrir o mundo pertence apenas à escola de Sagres. Descobrir a lua pertence à Nasa Americana. O computador a Bill Gates, americano. Quem cursa estes avanços da ciência e técnica deixa de ser quem é? Ser de Camões, Dante, Cervantes pela admiração da sua arte será entrar em gueto? Os filósofos são número insignificante em comparação dos não filósofos, igualmente os teólogos, então quem se deixa iluminar por esses poucos mete-se em gueto? Quem se eleva, eleva o mundo: os sábios, os heróis, os santos são uma minoria em relação ao conjunto da massa humana, são esses todavia que elevam o mundo e o livram dos guetos da ignorância e do mal. Toda a ciência tem o seu mérito mas há que estabelecer prioridades, nenhuma excede a renovação do homem e essa ciência é só de Cristo, legada aos seus e a todos quantos quiserem beneficiar dela. Os filósofos cristãos libertaram a filosofia da contradição, deram-lhe o fundamento criacionista, o único que satisfaz as exigências do espírito, livraram a filosofia do gueto da contradição, como podia ser a rainha das ciências quem tinha por base a contradição? Introduziram na ciência a correcta definição do homem, mostraram a possibilidade de passar além túmulo, a um reino de felicidade…! A filosofia embora tendo revestido um cunho cristão está aberta a todos os espíritos, independentemente de seus credos religiosos, não tem outros interesses que a verdade: há só uma rainha, a verdade, as ciências todas são servas desta rainha (Aquino). A filosofia que procura toda a verdade sem preconceito é a iniciada pelos gregos, continuada pelos cristãos até hoje, esta é filosofia perene, aberta a crentes e não crentes porque a ciência não vai impedir a razão de voar segundo todas as suas capacidades, o tribunal de Kante há muito foi abandonado, a razão continua sem as limitações que seu tribunal lhe impôs. A filosofia tem por objecto estudar o mundo investigando suas origens mediante o nexo causal, sua informação advinha apenas da contemplação muda dos seres cósmicos. A teologia contempla o mundo tal como a filosofia mas além disso ouve o que o Autor do mundo disse sobre si mesmo e sua obra por seus profetas e Filho. A filosofia não atinge tanto como a teologia, tem ido lá buscar a correcção 169


dos seus erros mas nisso mostra a sua autenticidade pois o erro corrige-se à medida que se depreende. Teologia/religião Por vezes considera-se a teologia como representante da religião cristã: a Igreja mediante a hierarquia recomenda este e aquele teólogo, por outro lado também censura os que se desviam mas tal não significa elevar seus escritos a documento da religião cristã: Bíblia, tradição, catecismos, concílios ecuménicos, declarações ex cátedra do papa são os documentos da religião cristã, nenhum teólgo tem seus escritos elevados à categoria de documento da fé cristã, a teologia é uma ciência racional, favorece a fé porque vai buscar informação aos livros sagrados mas não é documento de fé, qualquer cientista tem abertos os livros sgrados como os teólogos mas seus temas científicos embora estejam de acordo com os documentos de fé não revestem por isso tal categoria. A teologia é uma filosofia mais completa usando além das fontes especulativas também as históricas advindas da revelação de Deus aos homens.

Os limites da ciência Seria erro crasso atribur à ciência o que não lhe pertence: atribuir por exemplo a queda do politeísmo à filosofia ou mesmo teologia. Quando Agostinho criou a ciência nova já o Império Romano era monoteísta e cristão, a idolatria caíra não por virtude da filosofia mas pela heróica resistência dos cristãos que devido à sua constância na fé atiraram para o lixo os milhares de deuses do panteão para lá subir a Cruz, o símbolo de Aquele condenado a morrer nela peloss imperadores. Constantino aceitou o conselho materno de confiar a batalha ao Deus dos cristãos em vez de aos do Império, a vitória sobre Maxêncio no MÍncio foi retumbante, está provado, este sim é Deus, fora os ídolos suba seu símbolo ao panteão para sempre, Roma é desde então a capital do Único Deus, o Deus de todos os homens. A vitória da fé como é evidente não é uma questão de ciência, a fé vence o mundo, a ciência vence apenas a ignorância dos poucos que querem aprender: Agostinho, Tomás de Aquino e demais teólogos servem-se dos documentos de fé para iluminar a razão mas não ultrapassam o domínio da ciência falível, a infalibilidade pertence à fé exposta em os documentos a ela referentes vigiados e interpretados pela Hierarquia.

A Escolástica 170


A Escolástica, eis um termo de enorme conteúdo: os apóstolos com decisão inabalável lançaram-se à conquista do mundo para Cristo em todos os seus aspectos de renovação, a Europa tornou-se o campo preferido e por outra o campo onde a semente melhor germinou: o império romano, os bárbaros aceitaram ser cristãos, então os intelectuais a partir de Agostinho iniciaram a dialéctica: as ideias directrizes da vida humana concebidas pela inteligência no estado decadente e as recebidas a partir da luz de Cristo, o slogan latino «fides quaerens intelectum, intelectus quaerens fidem» resume uma atitude geral dos povos a partir de seus chefes em procurarem iluminação na fé, esta por vezes procurar uma formulação na cultura barbara/imperial. É extraordinário que perante a nova iluminação e sal a partir de Roma o Império passou a bárbaro, o último bastião desabou em 1453 mas quer um quer outro mantiveram-se unidos no que receberam de novo: a partir do célebre dia de Natal de 800 todo o poder Imperial do mundo passou a ter origem no Vigário de Cristo, o Papa que a uns coroava imperadores, a outros constituía reis, aconteceu o que a história baptizou com o nome de Santo Império. Todo o poder instituído realizou a profecia de Daniel: a pedra descida do monte desfez todos os reinos e o mundo começou a edificar-se sobre ela, a espada metida na bainha, quem manda é a Verdade da Cruz. As leis, os costumes, as associações, as escolas tudo tomou o mesmo rumo da iluminação e salificação. Limitando a Escolástica ao aspecto científico A Igreja estabeleceu a escolaridade geral em 2 braços: letras (trivium), ciências (quadrivium). A alta escolaridade das Universidades: Bolonha, Paris, Salamanca, Coímbra…! A teia escolar que hoje cobre o mundo é instituição medievel da Igreja que recebeu por isso o título de instituidora das escolas «Escolástica». Nas Escolas Superiores a Filosofia/Teologia eram as cadeiras dominantes e sobre essas a Igreja exerceu sempre o papel de supervisora através da Inquisição destituindo os mestres que declaradamente renunciavam à fé. Com a lei da separação, estabeleceu-se pelo facto mesmo o paralelismo: Instituição secular, Instituição da Igreja, direito civil, direito canónico, Escola Civvil, Escola Católica…! Para a Igreja não houve prejuízo, até foi motivo de purificação mas os estados sob o ponto de vista moral têm-se degradado a olhos vistos pelo que não mais se chamam cristãos mas seculares «mundanos» sem mais. A Escolástica é pois a culminância entre fé e razão, o período onde nasceram as grandes fontes orientadoras do pensamento humano, as Universidades 171


que embora secularizadas nunca mais deixaram de existir. A Igreja foi forçada a criar suas próprias, que aí estão em paralelo cheias de prestígio.

Um pouco de história. Sto Anselmo (1033-1109) Anselmo é o marco miliário da Escolástica quando a ciência atingiu a mentalidade expressa pelo slogan: «fides quaerens intelectum, intelectus quaerens fidem». As 2 ciências líderes do pensamento humano concordaram em darem-se as mãos tomando por lema procurar a verdade não só a partir da informação mundana mas também a partir da informação ditada pelo Criador aos seus amigos. Anselmo é modelo dos teólogos tanto subindo por indução como exemplifica no Monologium: «intelectus quaerens fidem», como descendo por dedução como procede no Proslogium: «credo ut inteligam». Aqui se encontra o célebre argumento «ontológico» que tanta discussão tem dado por ser tomado como mero apriorismo a partir da definição mas na realidade é a partir da definição obtida a partir da história da revelação, é uma verdadeira dedução, chamam-lhe «a priori» mas sua verdadeira característica é histórico. S Tomás de Aquino (1225-1274) Em Aquino como que a Escolástica atinge o seu apogeu do abraço entre as 2 fontes de informação porque Aquino é tanto grande filósofo como teólogo. Os árabes pretenderam dominar a Europa pelas armas, letras, matemáticas, filosofia e teologia, queriam apropriar-se do centro mais elevado de informação da época, a Universidade de Paris. Aquino mostrando contra a opinião deles que já Aristóteles defendera a imortalidade individual da alma, abateu-lhes a arrogância. A 2ª pedra da funda foi contra as 2 verdades: os árabes afirmavam que havia uma verdade filosófica, outra teológica. Tomás: 2 ciências superiores procurando as raízes em que se baseiam todas as demais sim, filosofia/teologia; duas verdades não porque o autor do mundo onde se colhem as verdades racionais é o mesmo onde se colhem as verdades teológicas, Ele não pode dizer uma coisa na filosofia, outra na teologia, contradizer-se-ia a si mesmo, não seria Deus. Com Tomás de Aquino a teologia mudou do esquema Platónico para o Aristotélico, recebeu a designação de Tomismo, demonstrando assim que a fé dialoga com a razão sob qualquer sistema científico, a teologia adopta os desenvolvimentos das ciências inferiores quando conduzem a melhor 172


entendimento da verdade, é humilde como deve ser toda a verdadeira ciência. Aquino advogou a autonomia mas não o abandono de influências, antes franca colaboração; deu o exemplo escrevendo um tratado de filosofia e outro de teologia: a Suma Contra Gentiles é um Tratado de filosofia Aristotélica influenciada pelas verdades cristãs sobretudo o criacionismo; a Suma Teológica é um Tratado de teologia vertido no estilo da filosofia Aristotélica tal como a teologia de Agostinho fora vertida no esquema Platónico. Descartes recebeu toda a sua formação na Escolástica, ao separar a filosofia da teologia fê-lo dentro da mentalidade Escolástica, não advogou o regresso da filosofia a Atenas, é decididamente criacionista: Deus Criador do mundo e do homem, Senhor do pensamento. Embora criacionista e admita definições quer de Deus quer do homem advindas da Escolástica, não é teólogo, só filósofo, o que demonstra por um lado a personalidade da filosofia mas por outro a influência recebida durante a Escolástica. Descartes está persuadido que a razão sem qualquer auxílio da fé é inerrante, a persuasão dele é importante e tem um fundo de verdade porque a razão foi criada para isso, não tem outra função que conduzir todas as outras faculdades para a descoberta da verdade, mas Descartes fechou os olhos ao que devia conhecer como cristão católico que era: a queda, a razão está lá com suas aspirações mas meia cega, não vê claro, confunde facilmente o erro com a verdade…! Descartes quis basear em um ser no estado de meio cego por natureza a inerrância, ora «errare humanum est» . Descartes quando esteve na moda foi tido como o génio filosófico por excelência, as correntes modernas todas foram no séquito do seu «cogito» subjectivo mas já passou tudo: «Il faut démonter Descartes»(Baudrillard). Mostrou ingenuidade infantil ao julgar que Deus lhe concedera o privilégio filosófico da inerrância: nem aos grandes teólogos, como Tomás de Aquino e Boaventura foi concedida a inerrância, só a 1 foi concedida a inerrância e poder de libertar dela e todos os males a quem o seguir, o Cristo como bem deixou claro Agostinho. Pascal fez-lhe ver isso mesmo: olha, disse, a natureza humana está decadente, reduzida a um caniço, só Jesus Cristo a pode refazer a partir da base (Descartes não o quis ouvir, preferiu seguir o caminho do filósofo inerrante…já alguém, embora exageradamente o pelidou de pai de todos os erros da filosofia moderna…!). Nenhuma ciência é inerrante, nenhum filósofo/teólogo é inerrante, Agostinho escreveu todo um livro a corrigir os erros que ao rever seus escritos na idade madura encontrara. 173


O erro é condição humana, o mal não é errar mas ficar contomaz no erro: meter-se pelo caminho errado é o remédio para descobrir o verdadeiro porque constatando que está a andar para sul quando o termo da viagem é Compostela, o viajante arrepia caminho…! A filosofia continuará a ser rainha colocando-se no caminho da sua vocação: descobrir a verdade, é o campo onde todos os humanos se igualam em possibilidade de opções: o ateu, budista, muçulmano, cristão pois todos têm a dádiva divina da razão, a consciência, a liberdade, o poder de entender o ser no seu papel de conduzir à verdade, optar pela senda do vício ou da virtude, do heroísmo até ao Absoluto. A filosofia não é um gueto ou torre imóvel: deixou-se influenciar pelo criacionismo, pode admitir outros «insights» sugeridos pela história, fazemos votos que o estado decaído do homem e remédio apresentado pela história bíblica se torne ciência filosófica, invada as múltiplas ciências antropológicas pois é de importância humana ainda maior que o criacionismo para o conhecimento e comportamento humano. A filosofia moderna tem sistemas melhores e piores, por vezes deixa de lado as questões supremas para ocupar-se de questões de lana caprina a que Beaudrillard chamou um conjunto de charadas: «une charadie». Há por isso razões para recomendar e também para desaconselhar certos sistemas. Meus ex-alunos pediram-me que lhes aconselhasse o melhor sistema. A minha resposta é esta: para saber não há limites, conheçam se possível todos os sistemas mas para adoptar na vida não se pode ser dual ou se tem uma filosofia ou nenhuma, é contraproducente ter duas filosofias, o hommem não pode marchar em 2 direcções. Maritain, Sertillanges, Mercier, Leão XIII, Ratzinger e tantos outros de grande calibre mental estruturaram suas mentes em o sistema da filosofia perene, os exemplos convencem mais que as simples declarações de que esta filosofia é verdadeiramente a herdeira da realeza que lhe vem do passado, a filosofia do ser enquanto ser, a filosofia caminhante pelo ser até ao Ser. O homem tem necessidade de uma filosofia, a sociedade ocidental está-se degradando por não adoptar actualmente outra filosofia senão a do consumismo barato. O conhecer em o nível das causas supremas, conhecer o ser como caminho para o Ser, conhecer sobretudo o ser do homem como o viajante do ser ao Ser, o ser que tem história trágica mas pode transformar-se em heróica. A filosofia acima de tudo deve ser portanto uma antropologia, não pode ocupar-se só de todos os temas humanos mas deve equacioná-los e apontar quais suas melhores auxiliares na ciência necessária para a acção transformadora do homem. 174


Só uma sociedade através de uma história que já percorreu 2 milénios pode de facto mudar o homem de velho em novo. A verdadeira antropologia deve encarar este tema da maior importância para o homem: história do homem caído/história do homem novo.

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Antropologia

O vocábulo significa pensamento, palavra, tratado do homem Alexis Carrel lamentava-se de o homem se voltar tanto para o conhecimento dos seres inferiores e pouco para o conhecimento de si mesmo, apelidou o homem de hoje: «L‟homme cet unconnu»! O homem de hoje dá-se mil definições: médico, político, matemático, psicólogo, professor, aviador, técnico de…mas todos estes títulos são acidentais, addvêm-lhe do relacionamento com os seres inferiores, são funcionais, não definientes. O homem deve conhecer a sua história, ninguém se autoprincipia, acontece que ao investigar onde começa sua árvore em geral basta aparecer um rei ou conde para alguém começar aí sua genealogia, já se julga nobre por ter entre os avoengos uma pessoa nobre à qual está relacionada pelo sangue. Há porém outros relacionamentos de origem: quando começou a religião de um povo, qual o facto histórico pelo qual entrou na sociedade das nações, no mundo da ciência…! Estes relacionamentos próximos têm algum valor mas não satisfazem o espírito sedento da origem suprema. Em termos simultaneamente religiosos e históricos o Livro do Génesis é o único que relata a origem do 1º casal não gerado, se é 1º não podia ser gerado, a histórica narra como apareceu: foi criado e recebeu imediatamento do Criador a ordem e simultaneamente a capacidade de se multiplicar.. Em vez de conhecer a história a antropologia faz especulações mirabulantes sobre a origem do 1º homem que põem de boca aberta os pobres de espírito: o autor do 1º homem foi o macaco…! É curioso que o macaco outrora sabia fazer homens e hoje só sabe, se é que sabe, produzir cata ou platarríneos…! A história verdadeira e infalível sobre a qual o verdadeiro sábio assenta a origem do homem, é a Criação. O homem que se limita a conhecer o gerador, não vai buscar a origem gerada à criada não vai ao fundo das questões, não sabe verdadeiramente 175


quem é seu autor e obrigações que tem para com ele. Só um deshumanizado perdeu a veneração para com seu gerador e então para o Criador não há gesto algum de reconhecimento? Todo o homem, queira ou não saber tem um Criador, um Recriador, tem uma tarefa a realizar durante o período de sua existência, no fim tem de lhe prestar contas sobre o talento que lhe foi entregue para render «statutum est homínibus semel mori, post hoc judícium» (Heb 9,27), logo a seguir à morte segue-se o juízo individual de acordo com o que estiver escrito no livro da vida. Segundo o nível actual da ciência, não conhecer a história da criação, a tragédia da queda e a oferta do Criador para recriar, o ter de prestar contas pela administração do talento da vida é andar às cegas no caminho da vida e quem anda às cegas cai no barranco…! Ainda que o homem se dê mil definições, se não souber aquela que seu Autor lhe deu: «façamos o homem um espelho da nossa vida, da nossa ciência, do nosso amor», dá grandes passos científicos mas sem lucro para a sua pessoa. A natureza humana tem história própria, distinta dos seres inferiores, sua história porém não vem com a natureza, deve ser transmitida pelos genitores e mestres, encontra-se também em documentos fidedignos nos quais Deus pôs Sua assinatura. Os grandes pensadores gregos analisando a natureza do espírito humano concluíram que não podia ser gerado; os pensadores cristãos baseados na velação acrescentaram algo que os gregos nunca sonharam, o corpo vem da mesma origem do espírito, o Criador tira da Sua Sabedoria Omnipotente essa faúlha imortal que infunde no óvulo/sémen que os pais lhe oferecem, só Ele sabe enlaçar o espírito à matéria constituindo o homem total de corpo e alma, o homem pessoa. O pensador deve olhar o homem sob todos os prismas científicos constituintes da natureza e pessoa humana advindos da filosofia, teologia, história. A antropologia abrange todas as ciências que dizem respeito ao homem, não tem barreiras e esta é que é a ciência útil, a verdadeira filosofia porque pensar tudo e não se pensar a si mesmo é fazer grandes viagens, consumir a existência, cansar-se em direcções erradas consignadas nos «magni passus». O título «Bíblico» narra «longum et latum» os 3 estádios da vida humana. O título «Novo» indica o estágio mais importnte «recriado» pois conhecer a queda e não o modo de se levantar seria lacuna imperdoável. Da antropologia antiga o mestre por excelência é Aristóteles, concebeu o homem como espírito, sob esse aspecto nunca foi ultrapassado: A alma humana é o conjunto de 3 almas ou faculdades da mesma: vegetativa, sensitiva, intelectiva. Esta parte da alma é divina, não pode ser 176


gerada, veio directamente da Mente Suprema «turaten» para a alma humana, a ela está entregue toda a conduta humana, a sensibilidade e corporeidade devem ser regidas por ela, é dotada de forças especiais sobretudo a «fronesis» para governar o todo; mediante seu governo sempre iluminado pelo «nous» as faculdades quer noéticas quer práticas, sensitivs e corporais criam hábitos bons para agir bem e facilmente, as chamadas virtudes. Aristóteles nomeia expressamente 30 disposições criadas pelo «nous» e «fronesis» para agir bem, dominar as tendências inferiores concupiscívas e agressivas. O homem que assim agir está segundo a lei natural e as praxes da sociedade, a «polis», é cidadão exemplar. Se não cultivar os hábitos bons terá os maus derivados da inclinação para baixo dos sistemas concupiscivo e agressivo, a polis rejeita-o. O homem novo Os pensadores cristãos retomaram e aperfeiçoaram este esquema grandemente, introduziram nele a novidade cristã: na alma mesma ou espírito que já era considerado de natureza divina foi colocada como que uma 2ª natureza, esta sim com certeza de natureza divina tornando a alma luminosa, engraçada, por isso chamada graça. Nas faculdades foram também colocadas virtudes novas; a fé para a inteligência, a esperança para a vontade, a prudência para governar toda a parte inferior que por sua vez foi também munida de hábitos: a fortaliza para o apetite agressivo, a temperança para o concupiscivo. Tomás de Aquino acrescentou às de Aristóteles várias outras naturais além das sobrenaturais, os especialistas contam 56. Seguindo os princípios e definições que deram de virtudo nós próprios podemos continuar o elenco, surgiram conhecimentos derivados de novas ciências e técnicas que podem ser empregues para bem ocasionando hábitos bons ou para mal ocasionando maus: a internet, o computador, o telemóvel, comprimidos para regular a biologia obrigam a acções morais donde nascem bons ou maus hábitos; brincando a modo de hobby fomos até 120 virtudes sem ser exaustivos…! Exemplo como se cultiva uma virtude ou em seu lugar se deixa prosperr um vício: Comer sofregamente (vício), suavemente (virtude). Telemóvel sempre na mão (vício), consultado uma vez por dia (virtude). Internet para o bom e útil (virtude, pornografia (vício). Diferença entre virtude (hábito) e acto. Dominar uma só vez a gula é acto, tomar o compromisso inabalável de sempre a dominar (hábito, virtude). O homem virtuoso é o que tem hábitos operativos para tudo o que é bem, 177


estabelece a sua natureza e pessoa toda afinada para praticar o bem. Que vantagem traz o organismo virtuoso à pessoa que o cria por seu modo de proceder correcto usando as forças naturais e sobrenaturais? O homem virtuoso natural e sobrenaturalmente é conduzido não já pelo seu espírito mera faúlha mas pelo Espírito memso de Deus «são filhos de Deus os que são conduzidos pelo Espírito Santo de Deus». O Espírito então além das virtudes enche a alma de dons inefáveis que os teólogos e místicos designam por vários nomes: dons, frutos, carismas…!

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Novo

Homem é o substantivo que novo qualifica, como é óbvio, trata-se de uma espécie de apêndice ao título anterior, a ele já nos referimos pois tudo o que diz respeito a homem deve ser referido na ciência que expressamente o encara. Novo porém é de tal importância para todo o homem que vem a este mundo, por outro lado rara ou até completamente omitido pelos tratadistas que sentimos necessidade de lhe dedicar um título à parte. A informação sobre o homem novo tem 3 fontes: bíblia, catecismos, a Sociedade dos homens novos, a Igreja. Em bíblico e CQR estão as fontes escritas, a sociedade viva é de todos conhecida no ambiente da filosofia ocidental e não há pensador que de algum modo não esteja relacionado com ela. A característica destas fontes informativas é tão especial como especial é o homem novo, precisa de uma explicação prévia para que o leitor ou estudioso não se despiste: homens célebres como Lutero, laureados de prémio Nobel como Saramago em vez do grão da vida nova recolheram da bíblia a palha do joio, da Igreja só escândalos…! Já se pergunta se a filosofia deve tratar destes temas? Julgue cada um segundo o seu critério, quanto a nós se a ciência das últimas causas não aponta e ao menos esquemativamente equaciona os grandes problemas humanos, então é feita de parangonas enganadoras. O homem que não tem tempo para pensar, confia nos que pensam é então entretido com inutilidades fornecidas pelos pensadores, ganha o mundo inteiro e deixa oca a sua vida. Leibniz, Tomás de Aquino, um pensador protestante outro católico ambos estão de acordo que a filosofia deve equacionar os grandes problemas humanos e entre eles nomeiam a graça: Deus oferece aos homems sem excepção o ano da graça, ano da graça significa o ano de Cristo até ao fim do mundo quando então virá como juiz. 178


Tomás de Aquino em sua Suma Teológica considerada a catedral do pensamento, os analistas ousam dizer que cerca de 8.000 autores estão nela representados; Tomás de facto era um espírito enciclopédico «timeo hominem unius libri» é dito seu, apresenta o homem na conjugação dos 2 aspectos: natural e conservar, sobrenatural a acrescentar afirmando o que vimos repetindo em termos nossos: a idade do homem velho por decreto divino acabou, esta é do ano da graça, Deus oferece-se para mudar o homem de desgraçado em engraçado, belo, templo onde quer habitar para o conduzir ao termo da carreira, o seu reino glorioso…! Os livros sagrados não transmitem as especulações do espírito humano nem suas invenções como as de Ford, Fleming, Pasteur, Gama, Colombo, Amstrong, Miguel Ângelo, Descartes, Galileu…! Os homens das Escrituras não exprimem suas teorias filosóficas, são profetas, falam em vez e em nome de Deus que os escolheu para transmitir aos homens suas mensagens: Moisés profeta da Criação, Noé do dilúvio…! Os 26 livros chamados Novo Testamento não são de oráculos dos profetas mas a história do Profeta, Messias, Enviado «a latere» de Deus, nada menos que o Filho de Deus em carne humana! É precisamente Ele que anuncia o ano da graça e agraceia todo o que aderir ao Seu Plano. Ao retirar-se da visibilidade até ao fim do mundo entregou o Plano e Processo à sociedade por Ele instituída sobre os apóstolos em sucessão até ao fim do mundo. Conhecer os caracteres destas fontes de informação é inteiramente necessário a quem as deseja compulsar. O modo mais habitual e rápido é dirigir-se imediatamente à fonte viva, a Igreja que hoje tem ministros deste plano em todo o mundo. Nos livros santos encontra 3 factos de que se deve tornar consciente: Criação, Queda e Recriação. A notícia da criação é belíssima, a da queda trágica, a do recriação esperançosa, é a notícia das notícias, é designada de Evangelho, a boa notícia sem mais. Custa a crer que o homem possa ser feito de novo mas é verdade, certeza mais segura que o sol não cair do firmamento…! Tal possibilidade é historicamente tão certa como Deus ser Deus porque a paavra de Deus Encarnou no Filho que pessoamente veio ter com os homens a dar-lhes esta notícia. Ele ao despidir-se para voltar ao Pai disse: ide anunciai a Boa Nova a tods as nações, quem crer será salvo, quem não crer será condenado A renovação tem de ser operana ao longo da viagem terrena e concentra-se toda na alma, a renovação do corpo será só no fim do mundo, este corpo está irremediavelmente perdido, não vai ao reino de Deus, fico nos 179


cemitérios. O plano da transformação do homem velho em novo historicamente já leva 20 séculos de existência, passaram já 30 gerações de indivíduos que dentro de uma certa percentagem aceitaram o plano da renovação; 2/3 dos homens actuais estão a realizar o plano da renovação com maior ou menor eficiência. Não há filósofo algum dos que estão seleccionados pelos autores para representar as diferenes correntes que não tenha maior ou menor influência do homem novo ainda que ele mesmo não esteja a pôr em prática esse plano mas por osmose da sociedade e da disciplina cultivada por os que estão a renovar-se, ele partilha ainda que inconscientemente. Novo Adão/Nova Eva Assim como a Criação teve Adão/Eva como cabeças, assim a Recriação tem 2 novos chefes da humanidade nova: Cristo/Maria. A Recriação toma os humanos no estado natural em que cada um se encontra, deita fora o que está quebrado, repõe o organismo, põe nele vida nova. A vida à semelhança da natural tem 8 fases distintas, a recriação acompanha-as para as transformar de velhas em novas. O Criador é Espírito, a recriação acontece toda no domínio invisível do espírito, apenas há sinais visíveis instituídos para assinalar a operação do Espírito. Deus é Trino em Pessoas, a recriação é feita pela 3ª Pessoa chamada por isso Espírito Santo, o homem é transformado de velho em novo de um modo místico, invisível e insensível, é pedido ao receptor que acredite nessa transformação quando acontece o sinal exterior realizado pelo ministro da Igreja. Sinais sacramentais Alguém não entra na Sociedade dos homens novos só por mera decisão pessoal, tem de ser aceite o pedido seguindo-se a intrução ao menos sobre a essência de ser cristão. Uma vez consciente, preparado e decidido segue-se o acto oficial da entrada na Sociedade mediante o sacramento porta dos outros, o rito do baptismo. As outras fases de crescimento passam-se dentro da nova sociedade onde o neófito acaba de entrar. Os ritos sacramentais constam de 3 elementos designados por matéria, forma, ministro. Baptismo: nascer, sinal água. Crisma: crescer, sinal óleo. Eucaristia: comer, beber; sinal pão, vinho. Penitência: cura; sinal os pecados apresentados ao sacerdote juiz pelo pecador. 180


Viático: fim da vida: sinal azeit e pão Eucarístico para a viagem da terra ao céu. Matrimónio: o contracto entre os 2 para sempre celebrado perante o ministro da Igreja. Ordem: azeite na cabeça e mãos e imposição da mãos pelo bispo e presbíteros. Os catecismos e instrução oral dos ministros da Igreja são mais completivos, aqui limitamo-nos ao indispensável para fazer compreender como é o processo da transformação do homem velho em novo. A vida nova, como fica exposto, uma vez que é vida tem de ter cuidados semelhantes aos da vida natural para se manter e desenvolver; o homem novo encontra tudo dentro da sociedade onde entrou, a Igreja, basta seguir as instruções. Porque sendo absolutamente necessária esta transformação e oferecendo-a o Criador de graça, porque têm os humanos reluctância em aceitar?. Muitos não aceitam o processo da recriação e outros depois aceitar voltam para trás devido às condições: «a luz veio ao mundo mas os homens preferem continuar nas trevas do seu espírito» (Jo 3, 19). <Quem nascer de novo, constrói sobre rocha; o céu e a terra podem cair mas a casa construída sobre a minha palavra nunca». A Palavra Encarnou para recriar e iluminar: da plenitude da Sua luminosidade é que os homens renascidos recebem luz: «Eu sou a luz, o caminho, a verdade que conduz à vida, ninguém recebe a luz, a vida nova senão por mim». Jesus Cristo é o Homem Novo, só quem se tornar seu discípulo mediante seus ministros é que pode renovar-se. Jesus Cristo revelou o mistério da Sua Pessoa aos homens, mostrou-lhes claramente que era o Enviado de Deus e Deus Ele mesmo além de ser homem, cumulava as 2 naturezas para ser compreendido humanamente, mas não deixava de ser Deus. Revelou o mistério de Deus até então nunca conhecido da humanidade: Deus de facto é só 1 Natureza mas 3 Pessoas a possuem por inteiro, Deus é assim 1 por natureza mas trino em Pessoas, é 1 família. A Natureza Divina é toda Espírito, cada Pessoa é Espírito, apropria-se porém o vocábulo Espírito à 3ª porque significa a União íntima entre Pai e Filho. A esta Pessoa Divina apropria-se o vocábulo Sabedoria embora pertença às 3 igualmente porque assim como liga o Pai ao Filho também liga os humanos a Deus. O Espírito Santo no dia do Pentecostes de há 2 milénios transformou 12 homens de velhos em novos em um abrir e fachar de olhos; a transformação

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miraculosa e instantânea só aconteceu com esses 12, a transformação daí em diante até hoje segue as fases indicadas supra. «Se alguém nascer de novo fica unido a mim pelo conhecimento e amor como os ramos na videira, o Pai e o Espírito virá também a ele, faremos nele morada permanente; todos quantos quiserem ser renovados e conduzidos pelo Espírito serão feitos filhos de Deus muito amados, clamarão em uníssono comigo e com o Espírito: Aba, Pai mas se não derem fruto o Pai cortará os ramos secos e lançá-los-á ao fogo para arder»! Este plano de Deus dura até ao fim do mundo, é mais firme que o céu e a terra, está aberto, é oferecido gratuitamente, por isso se chama graça...! Se é para todos, todos o devem conhecer porque a cada um diz respeito não como mera condição de melhorar sua vida mas de a refazer desde a raiz. Esta Boa Nova deve ser anunciada a todos: ide, pregai a todo o mundo, quem crer e aceitar os sacramentos será salvo, quem não crer será condenado. Tem de haver portanto a anuência individual para que a recriação seja possível, o que o grande filósofo /teólogo Agostinho sintetizou no slogan: quem te criou sem ti, não te recria sem ti (Agostinho). Deus quer que o homem o acompanhe em tudo o decurso da recriação, é o que Agostinho anuncia com toda a clareza: não há excepções, se não quiseres dar a mão a Deus Ele não te renovará. A religião cristã católica é uma vivência: «para mim o viver é Cristo, em seu corpo que é a Igreja, estou crucificado com Ele; se morremos com Ele também com Ele ressuscitaremos» (Paulo). Ciências Filosofia, teologia, bíblia, história…iluminam, mas a humanidade a esta altura do facto devia já estar mais consciente sobre este facto de vida ou de morte. Os filósofos, como temos referido, após a idade grega são todos cristãos salvo 2 judeus, 2 árabes, porque a filosofia se detém antes em questões relativas ao homem velho que ao novo? O criacionismo entrou na ciência em geral porque o homem novo não há-de entrar na antropologia? Em todo o caso fique claro que o problema do homem novo não é apenas um problema de ciência ainda que teológica ou bíblica, é um dom de Deus que em geral dá suas graças aos humildes como o próprio Cristo orou: «Eu te dou graças ó Pai porque escondestes estas coisas aos sábios e as manifestastes aos pequeninos…! Talvez o maior contra venha a ser o que mais deveria atrair o homem: «Quem te criou sem ti não te faz novo sem ti». Que dita ser antes conduzido pelo Espírito de Deus em vez do meu porque 182


não hei-de querer …!?

De um autor do S. IV Começa o reino da vida, é dissolvido o império da morte… O homem novo é concebido pela fé, sua mãe é a Igreja que o dá à luz pelo baptismo, o alimenta com o pão da vida celeste, a palavra Luz e Unção do Espírito, o congrega como ramo de família unida em famílias, comunidades cada vez maiores até abranger o mundo na comunidade Igreja. Acabou o velho, começou o novo dia da recriação para o homem novo na perspectiva de uma nova pátria aberta pelo Salvador dos homens: «vou subir para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus, lá há muitas moradas que esperam a todos vós, homens novos que deixastes vossos caminhos para seguir os meus (S Gregório de Nissa). Uma anedota para terminar o título de máxima seriedade! 2 frades capuchinhos postaram-se no meio da estrada com grande cartaz: conversão ou morte (com a mão indicavam aos motoristas para inverter a marcha). Riam-se uns, rogavam pragas, outros e seguiam seu caminho. Passada a curva da estrada ouvia-se um grande estrondo Então os capuchinhos tiraram o hábito, mudaram a linguagem: senhores motoristas, invertam a marcha, a ponte caiu…! Todos com repetidas vénias de agradecimento voltavam para trás…! A quem indica perigo de morte para o corpo…vénias. A quem indica o perigo de morte para o espírito…mofa…!

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Bíblico

Bíblico, qualificativo de homem tem hoje inúmeros significados pois dada a escolaridade geral e as versões em vernáculo, sua leitura é acessível ao homem de qualquer cultura. No passado mesmo os analfabetos não eram de todo ignorantes da bíblia, por vezes sabiam de cor a história dos personagens bíblicos sobretudo a vida de Jesus mas hoje todo o homem de cultura média tem acesso ao texto integral da bíblia. Em este título tomamos Bíblico em sentido genuíno, aquele que conhece a 183


índole dos livros reunidos em a colecção Bíblia e procura a informação neles contida sem outra intenção que conhecer exactamente a mensagem que o autor quis transmitir em esse escrito. Os 73 livros reunidos em um único volume não foram escritos na mesma época, por vezes distam milénios uns dos outros, têm diversos escritores mas 1 só e mesmo Autor de todos eles, Deus…! A característica essencial que distingue a bíblia de todas as demais fontes literárias, históricas ou didáticas consiste em ser Sagrada, separada de todo e qualquer outro livro profano, nada se lhe pode juntar nem também retirar. Os escritores dos livros bíblicos são profetas, não falam por eles, transmitem fielmente a comunicação, o oráculo, a palavra que Deus lhes mandou escrever ou pregar oralmente ao seu povo antes de a redigirem por escrito. Antiseri, filósofo actual diz ser impossível algum cientista, sobretudo filósofo no Ocidente não conhecer a bíblia e as teses essenciais que apresenta. O nosso intento específico ao incluir bíblico em em guia filosófico é convidar qualquer pensador ao menos por motivos históricos a procurar na bíblia documentação por os 3 factos referentes ao homem: criado, caído, recriado. As antropologias apresentadas como científicas não o são na realidade porque ignoram estes 3 estádios históricos do homem: a natureza humana como saiu das mãos do Criador, a natureza humana segundo o plano de Adão, a natureza humana segundo o Plano de Cristo. O chamado Antigo Testamento narra os 2 primeiros estágios: criação, queda. O Novo Testamento, a recriação ou história do homem novo. Com estes pressupostos em mente então a simples leitura da bíblia é muito proveitosa, indispensável para quem se diz culto. Tratar ex profiesso destes temas pertence a várias outras ciências mas a ciência das últimas causas não conhecer, não informar ao menos de sua relevância para a antropologia, é lacuna de palmatória. Escritores, simples literatas como é o caso de Von Brown, José Rodrigues, Saramago e tantos outros poderão usar a bíblia para seus interesses banais? Não, é uma traição à história e profanação do sagrado, merecem o qualificativo de escritores nojentos...! A um filósofo que não tem outro interesse senão a verdade, não só é lícito mas um dever. Bergson introduziu na filosofia a moral do Evangelho e a mística dos santos do Evangelho que apelidou de moral aberta. Os filósofos protestantes, que em maioria preenchem a filosofia moderno/contemporânea abordam sempre a questão religiosa. A propósito devemos advertir os leitores que todos eles, baseados em Lutero têm o «bias» de uma interpretação bíblica errada. Advogam uma interpretação individual livre, ora a bíblia obedece à 184


interpretação oficial dos especialistas, aliás como acontece ao direito e história. A bíblia é ensinada e interpretada oficialmente pela Igreja, a interpretação particular não passa acima da oficial. Lutero advogava uma religião de fé vazia, sem caridade, sem obras pronunciando frase como esta «pecca fortiter, crede fortius», «sum pestis tua papa» foram suas últimas palavras; ora tais interpretações da bíblia são ao avesso. O filósofo, qualquer que seja a sua religião (católico, protestante, judeu, muçulmano) ou nenhuma é o homem que só admite como ideia a conformação com a realidade seja ela qual for. A bíblida testemunha como certíssima a realidade do homem novo, uma antropologia que só conhece o homem velho está desfasada da história e da verdade, não é científica, não é filosófica, por mais ciências que haja só há 1 verdade (Aquino). Visão histórica Há 3 ppovos que influenciaram a bem dizer todos os aspectos da vida humana: grego, romano, judaico. O povo grego dominou o povo romano pela superioridade dos seus filósofos, o judeu dominou um e outro pela sabedoria dos seus profetas. A Bíblia é a história dos profetas que anunciam sob juramento terem recebido de Deus a revelação da vinda de um modelo perfeito com poder para levantar o povo do aviltamento em que mergulhara (Antigo Testamento). E teve confirmação de facto este anúncio? Há 26 livros bíblicos (Novo Testamento) que apresentam esse Messias anunciado pelos profetas na Pessoa de Jesus de Nazaré. O reconhecimento não aconteceu com seu povo, ainda hoje o não reconhece, só um grupo de 11 que receberam o nome não de profetas mas apóstolos, enviados por Ele Jesus: «ide pregai a Boa Nova em todo o mundo, quem crer que Eu sou o Homem Novo e torno novos a quem crer em mim, será salvo e quem não crer será condenado». Os 11 tiveram a mesma sorte que o Cristo, condenados por serem propagandistas de um tal absurdo: um crucificado ser Filho de Deus, o Homem novo, com poder de transformar os homens de velhos em novos à sua imagem morrer crucificado?! Hoje, na capital do Império que crucificou o Homem Novo e seus 11 está como bandeira a Cruz, o sinal de todos os que acreditam em o Crucificado através de todos os tempos, a espada foi metida na bainha, a cruz de aspecto tão áspero é o sinal da paz e amor. O absurdo tornou-se história e havendo factos não são precisos mais argumentos; o Crucificado hoje domina a fina flor do pensamento e 185


civilização em todo o mundo; 2 milhões de bispos e sacerdotes formados em filosofia e teologia após as generalidades das escolas secundárias, com especialistas na bíblia e domínios científicos desde a biogénese à partícula de Hyggins presidem em todo o mundo como vigários de Ele. Quem apresenta melhores, mais elevados créditos científicos? Quem hoje não conhece a história desta sociedade fundada há 2 milénios sob o estandarte de uma cruz poderá merecer o nome de cientista,filósofo? Os gregos gloriam-se na filosofia, os judeus nos milagres feitos por Moisés, nós os homens novos gloriamo-nos na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, sabedoria de Deus (Paulo). Todo o homem de cultura comum hoje está em condições de conhecer esta história, mas para o filósofo deve ser um «must».

Biblia (livros) é o plural do vocábulo grego biblos (livro), trata-se de uma colectânea de 73 livros contendo as mensagens que Deus enviou ao Seu povo mediante homens escolhidos marcados com o selo chamado milagre para que não haja dúvida acerca da sua missão profética. Guardado com especial vigilância pela autoridade hierárquica para que nada seja acrescentado ou alterado quanto ao texto original através dos tempos mormente quando é necessário recopiá-lo devido à deterioração dos materiais ou multiplicação para enviar a diferentes comunidades. A bíblia consta essencialmente de uma aliança entre Deus e Seu povo. A aliança do Sinai acabou por incumprimento, Deus fez nova aliança não com um povo em particular como antes mas com um povo selecto pescado 1 a 1 de todas as nações do mundo sem excepção: todo o que se deixar vir no anzol para esse povo selecto é banhado em uma água que o torna novo, despe todas as ligações com os homens velhos fica a ser a nação santa, nação sacerdotal toda consagrada ao Senhor. Os profetas da Antiga anunciaram de muitos e variados modos a vinda do Fundador da Nova, o Messias, o Cristo. Este Mediador e esta Aliança é definitiva, vai pescando através de todas as gerações eleitos dentre todos os povos e nações até ao fim do mundo. Então seguir-se-á o juízo, apartamento dos que aceitaram dos que não aceitaram a aliança: «vinde benditos de meu Pai possuir o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo» (Mat 25). A Criação, Queda, Recriação do género humano são os 3 temas essenciais dos livros da bíblia, uns completando os outros. Toda a ciência humana que não leve ao conhecimento destes 3 factos traz o homem distraído do problema essencial da sua existência: «o que interessa ao homem ganhar o mundo se se perde a si…».

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É em ordem ao conhecimento destes 3 factos que dizemos ao humanista e filósofo que deve ser bíblico pois não tem outras fontes com características históricas de certeza como as bíblicas. Os filósofos judeus, árabes, cristãos defrontaram-se com os teólogos de suas religiões, forçados a descer da cátedra filosófica para a teológica quanto ao início do mundo: o mundo foi Criado não feito, o pensamento filosófico estava baseado em hipóteses, não certezas até ser iluminado pela história bíblica. Após a adopção do Criacionismo estão de acordo cientificamente: filosofia, religião, história, todas as ciências em geral: o Autor do mundo é o Deus do mundo, só há 1; se houvera 2 nenhum era Deus (Spinosa). A existência de 1 só Deus Criador tornou-se absolutamente científica mas quem a trouxe para a ciência foram os teólogos mediante o conhecimento dos livros santos. É indispensável conhecer a Queda a fim de compreender o mal. O mal O fenómeno do mal é um teste para o pensador: optimismo como fizeram Leibniz e Hegel afirmando que o mal não existe, quem acredita hoje nessa ingenuidade filosófica? O mal está aí sem causa ou Deus é o causador…!? Se o filósofo só tiver por resposta ao problema do mal o optimismo ou fatalismo é um enganador científico, está a enganar a quem nele se fia como conhecedor das causas até à raiz. Só a história oferece ao filósofo ou qualquer cientista a elucidação da sua origem. A mesma história ensinará que o mal não é um «fatum», tem solução. O mal pode sair do mundo através do Recriador conhecido hoje mundialmente por sábios e ignorantes pelo nome Cristo. A bíblia apresenta o homem que trouxe o mal à Criação e o homem que trouxe o bem tirando o mal da Criação: Adão…Cristo. Toda a história humana actual se padroniza por este Homem, se o iletrado o sabe como pode ignorar tal o cientista: as 2 vertentes da história encerram-se em 2 cifras: AC…AD, antes de Cristo, após Cristo. O filósofo que a respeito destes acontecimentos humanos não seja histórico/bíblico vive de hipotéticos mitos. As inferências a partir da contemplação dos seres conduzem a um mundo invisível mas não informam do seu conteúdo. O cosmos nada diz sobre o homem e seu destino, só a história pode ministrar essa informação: história mundial, história da Igreja, história bíblica são as fontes a partir das quais se pode obter a ciência do homem no que diz respeito ao seu estado deplorável e como remediá-lo para atingir o destino da 187


sua Criação. Actualmente é o livro (colectânia de livros) mais difundido no mundo inteiro. O filósofo moderno que não seja bíblico está desfasado; a história pela sua índole factual vence toda a especulação que não se eleva acima da probabilidade, por vezes a mera hipótese. O filósofo hodierno portanto deve abrir as portas à informação vinda da história, teologia, bíblia.

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Coluna

As colunas por um lado dão firmeza, por outro dão unidade ao edifício. As ciências não passam de ramos, a filosofia é o tronco, a teologia a raíz, este o instrumento, o objecto o ser-Ser, na interacção sujeito/objecto eis a ciência erecta em catedral, eis a árvore, um todo unificado artística e sapientemente pois em elementos separados é amontoado de pedras inútil, não abriga ninguém. De que são feitas as colunas e que templo construi a ciência completa encabeçada pela filosofia/teologia? As colunas são os 3 milhões e meio de espécies, os indivíduos, o enchemento de cada espécie; se cada espécie ordenar seus indivíduos desde a base e cada espécie se sobrepuser a espécie, aí temos a coluna que se eleva da terá ao céu, do ser ao Ser, a torre de Babel autêntica…! Assim é feito o templo da Sabedoria: cada espécie de seres é uma coluna feita de columelas, todas as colunas dos seres sobrepostas formam a torre de Babel, feita não de pedra e cal mas de seres reais. Elevando-se até aos céus o que encontra a escada de Jacob? O Ser Imprincipiado. Antes do tempo, só Ele existia sem tempo, sem mudança, a eternidade mas quando decidiu fazer vestígios, pegadas, imagens suas, isto é que são os seres assinalou-lhes a lei do espaço e do tempo, o determinismo que tudo coduz para Ele enquanto demonstra sair de Ele. Por vezes promete-se muito e realiza-se pouco: a torre filosófica para satisfazer as expectâncias tem mesmo de se elevar da terra ao céu, tem mesmo de construir, não ficar nas pretensões babélicas: os especialistas da taxinomia, como já referimos, organizaram os indivíduos vivos em espécies; cada uma tem indivíduo sem número a constituí-la. Seja que indivíduo for em qualquer das espécies, é um monumento 188


arquitectónico revelador de tal grau de sabedoria que todos os intelectos dos homens e anjos juntos não são capazes de construir! Se pudéssemos ver o operário que no início da primavera tira dos ramos secos das árvores as novas folhas ao mesmo tempo em toda a redondeza da terra ficaríamos varados de espanto! Como é possível o mesmo operador, porque só pode ser 1, o Ser ocupar o mundo inteiro, tocar ao mesmo tempo nos ramos secos, extrair deles biliões, triliões, inumeráveis… ões de folhas, das folhas flores, das flores frutos…!? Esse operário construiu um robô, colocou-o à distância de 8 minutos luz desses ramos, ele manda um raiozinho da sua natureza luminosa a cada ramo seco dos biliões de árvores existentes e eles sorriem-lhe com as folhas, flores e frutos para ele? Não come nem bebe, tudo só para o homem comer…! Há porém um prodígio bem maior e que poucos olhos alcançam: o Sol de que este visível é mero símbolo ilumina e produz o mesmo efeito renovador em 7 bliiões de seres humanos, fá-los germinar, florescer, frutificar em ciência e amor…! O filósofo definiu a ciência das últimas causas como desinteressada, sem outro interesse que de ser em ser cair na admiração do Ser ! O filósofo é esse navegante solitário que decidiu subir o rio do ser até ao Ser: pode escolher 3 milhões e meio de vias teleológicas para subir dos seres ao Ser, tal como pode escolher subir os rios, constatará que a via de um é a de todos: cada rio começa no mar, termina no mar…! Tomemos a via mais óbvia, a geracional. Os vivos percorrem um ciclo temporário de mais ou menos anos, acabam por desaparecer deixando outros em sua vez, este é o processo geracional. Tomando qualquer indivíduo dos 7 biliões actualmente existentes partindo da China, Japão, Cochinchina, Angola, Timor, Portugal procede-se retrogradando. O filho vem do pai, o pai do avó, este do bisavô, aquele do trisavô…não sabemos quantas gerações temos de percorrer…ainda um dia a ciência conseguirá encontrar o número de gerações ocorridas até agora…! Seja qual for o número das gerações chega-se ao 1º casal; como é o 1º não teve quem o gerasse; a geração que era suposta ser a causa dos vivos, afinal chega ao fim de si mesma, não tem mais anteriores para a explicar…! Todos os seres que conhecemos obedecem a esta lei sem excepções: começam por outro, o homem não faz excepção, os iniciadores não podiam ser gerados pois não havia geradores mais. Para não alongar repetindo o que já sabemos a partir de outros títulos: o homem bem como todos os gerados foi criado, tem um Criador, é o Ser. Podemos conceder à ciência evoluísta das espécies que umas venham de 189


outras até chegarmos a 1 só; ser uma ou muitas exige igualmente ter início em o Ser Necessário. Por mais voltas e hipóteses que se conceda ao espírito humano fazer chega sempre à mesma conclusão à qual chegaram os pensadores passados, os da filosofia perene: sem o Ser Imprincipiado nada tinha principiado, ora principiou, logo existe o Ser Imprincipiado. Nunca ninguém viu, nunca alguém lhe ouviu a voz, diz com imensa pena o divino Platão, dá-lhe o nome de Inefável mas também o de Pai e de Bem, Justo, Belo, Bom, Eros. O discípulo Aristóteles dá-lhe o nome de Ser, Inteligência, Espírito, Causa Final, Eros. Estes pensadores não foram preguiçosos subiram o rio dos seres até ao Ser, amaram-no, deram-lhe os nomes mais ajustados correspondentes ao conteúdo do seu saber. Juntando a história A contemplação muda dos seres conduziu ao trono do Ser. A história concorda inteiramente com estes navegantes, fez o mesmo percurso mas chegou mais longe, o Ser deixou de ser Inefável, falou, o Ser é Palavra, fala e envia suas mensagens a todos quantos quiserem ouvir aqueles amigos escolhidos como profetas transmissores da mensagem daquele que se revelou a eles como Palavra e prometeu um dia revelar-se como Visão. Eis em conexão: ciências, filosofia, história, teologia, religião revelada por profetas, pelo Verbo, a Palavra mesma de Deus prometendo a Visão a quem o ouvir e seguir. O caminho está patente, é claro mas quem ficar a ler o mapa, não se meter por ele nunca chega a Nova York. Nenhum argumento científico pode desmentir o criacionismo, a geração não explica o início dos seres vivos e os elementos não podem explicar a origem da vida, ninguém dá o que não tem e se tem é porque recebeu. Não há filósofo ou cientista hoje que não seja criacionista, diz o grande filósofo/teólogo Rahner. Na verdade o criacionismo quando alguém põe o raciocínio dedutivo a trabalhar é a única explicação causal do início dos seres. Se cada indivíduo seja de que espécie for é um monumento de sabedoria o que será a fonte? A fonte designa-se com a mais pequena das palavras: Eu sou aquele que é, a fonte chama-se «É», a flexão mínima mas a mais expressiva do verbo ser agora Verbo Ser! O início do mundo visível exige um iniciador não principiado de natureza invisível, um Espírito que sempre pensa a si mesmo «Noesis noeseos». 190


O Iniciador dos seres não é mudo, falou aos seus amigos, explicou-lhes como foi a origem de todos os seres, particularmente o homem, a Criação. Para os seres inferiores com a Criação termina sua história, para o homem começa: após o sonho paradisíaco a queda…! A idade histórica actual é a da possibilidade de Recriação: quem te criou sem ti não te salva sem ti…! Colunas Limitamos as colunas à humana mas o filósofo tem liberdade para seguir qualquer pois são paralelas, como filósofo pode exprimi-las até pela simples via do hilemorfismo: o rio é a matéria, a água a forma. O homem remando, subindo a corrente chega necessariamente à fonte para nela se dessedentar eternamente: «esta é a vida eterna, que te conheçam como verdadeiro Deus». A vida por natureza é invisível, o Ser fonte da vida é Vida por Natureza, é Espírito, Causa da vida criada existente fora do Seu Ser; só a vida humana é chamada a entrar no Palácio do Espírito porque é espírito: «Deus é Espírito e é pelo espírito que deve ser encontrado, conhecido e amado». Os filósofos, os sedentos de Sabedoria só ficarão saciados quanto chegarem a casa da Rainha e se inebriarem com o néctar e delícias da Verdade por Natureza tendo acabado todas as ideias de seres inferiores pois perante a realidade não mais são precisas fotografias ou pinturas…! Citação de 2 filósofos que pela coluna dos seres subiram ao Palácio da Vida Perene. S Boaventura (Itinerarium mentis in Deum) O homem pode subir da terra ao céu guiado pela luz que do rosto de Deus se reflecte no seu espírito tal como chegaria ao sol o que caminhasse sobre seus raios como trilhos …! Usando a inteligência mesmo no estado decadente em que se encontra o homem subindo o canal da vida gerada chega necessariamente à sua origem como o Génesis descreve: no 6º dia, após ter criado as espécies inferiores o Divino Criador fez o homem e mulher com poder geracional para se multiplicarem até ao fim dos tempos dotando-os de inteligência (faúlha do Seu Ser) espécie de raio luminoso que sempre indica a direcção do Sol Divino. Só o homem pode entrar na casa do seu Criador para lhe agradecer mas pode chegar lá de mãos vazias ou riquíssimo, já que é seu rei, levando consigo o conhecimento e agradecimento das 360.000 variedades de flores, cada uma com seu perfume, cor, forma diferenciada! Se o homem entrar na casa do seu Senhor com todas estas beldades perfumadas dos seres existentes na terra da qual Ele o constituira rei 191


certamente Ele o receberá bem melhor que com a inteligência vazia! 2 milhões de árvores com frutos de tantos sabores que ainda variando todos os dias a sobremesa não conseguirá no espaço da existência saboreá-los todos! Desde os peixes às aves, do elefante ao gafanhoto, ao micróbio…todos com poder geracional, saindo uns do ventre dos outros há milhares e milhões de anos a dizer ao homem caça e come, leva toda esta acção de Graças ao teu Criador/Recriador...! A luz de algumas estrelas vem a correr desde o início do mundo só para trazer ao homem a mensagem do sem fundo do espaço celeste além do qual está alguém à sua espera…! Não quererás ó homem usar esses raios estelares como carruagem para subires em seu esplendor até à casa do Artista que os desenhou? Maravilhoso o caminho dos seres para o Ser, se os 7 biliões de humanos actualmente vivos, impossível de saber quantos biliões mortos e quantos biliões estão para vir à existência fazendo uso da inteligência se deleitam com a contemplação e uso dos seres o que será se chegarem à Casa do Ser que criou toda esta gama maravilhosa…!? Mas não entrarão na Casa do Ser se não revestirem a túnica nupcial do homem novo. Queiram ou não queiram todos os humanos são criaturas, mas só querendo são «recriaturas». Dêm o passo mais importante da sua existência, aceitem a túnica para o banquete das núpcias eternas daquele que veio recriá-los, o Filho do Rei. Ao entrar na sala do banquete, ao verem pela primeira vez o Rei Criador do Universo, todos ficarão de tal modo saciados que não querem outra comida senão o beijo do Seu Amor, arrebatados gritarão cada um com sua voz: que glória, que felicidade, não mais Senhor senão aniquilas-me, que felicidade… começa o reino de todos os bens sem mal algum para todo o sempre…! Extracto de vários diálogos de Platão Se alguma coisa é bela é porque participa da Beleza Infinita. Se alguma coisa é boa é porque participa da Bondade infinita. Se alguma coisa é justa é porque participa da justiça infinita. Se alguma coisa é espiritual é porque participa do Espírito infinito Se alguma coisa é inteligente é porque é faúlha da Mente Suprema. Se alguma coisa é, participa do Ser. Só o bárbaro não reconhece Deus (Platão).

III Secção Trata-se de um extra, trata-e de um acréscimo útil também para nós a fim de 192


evitar notículas ao fundo da página, quem quiser consultar citações deste ou daquele autor já sabe que se encontram no fim. A/Escolas B/Fillósofos C/Elenco

27.

Escolas

Parece-nos útil a fim de levar por si mesmos os leitores a decidir apresentar o panorama das escolas do pensamento que mais se distinguiram desde hás 25 séculos a esta parte. Aristóteles Primeiro apresenta-nos as escolas que o precederam e seus representantes que tomam lugar e valor na história do pensamento face aos seus critérios; no início da Metafísica recapitula os sistemas que o precederam e biografa seus criadores; atemo-nos ao seu critério judicativo. A Filosofia começou em Mileto no ano 585 AC, assinalado pela ocorrência de um eclipse solar do qual o astrónomo Tales usando a geometria e matemáticas de que era cultor previra e anunciara a data exacta da ocorrência. Mileto, cidade da Ásia Menor (Turquia), fundada por imigrantes fenícios, repovoada por imigrantes gregos, tornou-se um centro de ciência como tantas outras colónias gregas. Aí nasceu Tales em 624 AC, Olimpíada 39,1 de uma nobre família fenícia; seu nome figura entre os 7 sábios da Grécia, cultor não só da matemática, geometria, mas ainda física, estratégia militar, arte náutica, engenharia, economia, astronomia, política, mitologia; viajante, historiador dos eventos científicos da Babilónia, Fenícia, Egipto...! O título de sábio não está somente ligado ao que hoje chamamos ciência mas a uma certa astrologia pois anunciou o fim da guerra Medo-Lídia em conexão com o eclipse ocorrido na 48, 4 Olimpíada, segundo o relato de Heródoto. 193


Cálculos computorizados recentes asseguram que o eclipse se dera a 28 de Maio de 585, Olimpíada 48, 3, apenas alguns meses de diferença da data indicada por Heródoto. Plínio, historiador romano, que refere o eclipse aponta a mesma data, o que comprova a historicidade do fenómeno e coloca na história o primeiro filósofo. Tales foi um técnico, cientista, sábio no sentido que a palavra revestia na sua época, não foi propriamente um filósofo segundo os critérios hodiernos, o termo nem sequer estava forjado, aparecendo somente um século mais tarde quando Pitágoras renunciou ao cognome sábio pertencente só aos deuses, apelidando-se tão-somente aprendiz da sabedoria “philos sofias”. Aristóteles atribui a Tales a honra de fundador da filosofia mas faz logo notar que ele, bem como os colegas da 1ª Escola (Jónia), devem preferentemente ser chamados “físicos” pois filosofia é Metafísica, coisa que Tales não conheceu. Nos moldes de hoje Tales seria caracterizado como meio-cientista, físico-químico, astrónomo, astrólogo, charlatão, mitólogo politeísta pois contemplando a natureza exclamou: tudo está cheio de deuses! Platão também se refere a ele no Teeteto relatando o seguinte episódio: «Tales enquanto contemplava os astros caiu a um poço; felizmente saiu ileso (há historiadores que dizem ter morrido), uma criada Trácia muito ladina mofou: “ lê nas estrelas e não olha para os pés…cai no poço... ”! Com humor comenta Hirschberger: sina de muitos seguidores que andando pelos píncaros da abstracção perdem o senso comum...! Há historiadores que apontam o facto de Tales ter separado a filosofia do mito como principal motivo para a história lhe dar o título de pai da filosofia mas ele não fez tal separação, o mito continuou, Platão legou à história belíssimas criações míticas...! Quando Tales apontou apontou a água como o elemento arke do universo, não o fez por razões científicas derivadas do conhecimento das leis físicas, mas derivadas da mitologia Egípcia que atribuía à água a origem de todas as coisas (cf. Reale). O que lhe mereceu a honra de primeiro filósofo foi ter formulado a primeira questão da filosofia: Um/Múltiplo? Aristóteles atribui-lhe a honra de Fundador precisamente porque iniciou o método indutivo, a via da causalidade; não distinguiu causas próximas de últimas (metafísicas) mas notou que os seres se influenciavam em cadeia ininterrupta. Historicamente, portanto, Tales é o fundador da filosofia porque armado apenas da capacidade da razão se lançou em busca do «Arke», o Um, princípio do múltiplo. 194


A água, o ar, o apeiron não são com certeza princípios últimos mas actuam uns sobre os outros, Tales pôs a questão a que todos os filósofos seguintes darão a sua achega: os seres estão interligados formando cadeia até à sua Cabeça. Tales não conseguiu dar uma resposta adequada ao seu questionamento mas abriu a dinâmica da procura do princípio coalescente do múltiplo, abriu a história da mais nobre de todas, a ciência das causas sem fronteiras até à Suprema em o ano 585 AC. Monas/ Díada Pitágoras despiu o título “sofos” (sábio) preferindo o humilde subtítulo filósofo “filos-sofias» (amante da sabedoria); aceitou dos Jónios o questionamento do Arke do Universo, sugeriu para o múltiplo a díada, para arke a monas (medida) visto que todos os seres se apresentam esculpidos na matéria em unidades com forma, proporção, harmonia conotativa de uma Inteligência Soberana, a Monas (Unidade). A Pitágoras se deve também a exigência de um comportamento filosófico religioso, moral, ascético acima do vulgar: não pode ser filósofo quem não for asceta. Adoptou como religião oficial da escola o orfismo, cujo dogma mais característico é a crença na imortalidade. Parménides Embora a «monas» de Pitágoras fosse uma melhor interpretação do «arke» que o «apeiron» dos Jónios, a medida não tem dinamismo capaz de ser causa, os filósofos seguintes presididos por Parménides e Heráclito procuraram outra realidade para arke: Parménides sugeriu a substância estável «on/ser»; Heráclito, o acidente mutável (“reon, panta rei”). Empédocles Filósofo eclético aplica aos 4 elementos dos Jónios a filosofia de Heraclito e Parménides. Anaxágoras Dentro da matéria, o múltiplo a que chamamos mundo reside o logos, espécie de inteligência «nous» que rege o múltiplo. Perante tal descoberta Sócrates apelidou-o de o primeiro filósofo sensato, mas ao ouvir-lhe a explicação da natureza do “nous” (fogo devorador), ridicularizou-o. 195


Demócrito Na última divisão da matéria «átomo» encontra a permanência substancial de Parménides; na queda, a mobilidade dinâmica de Heráclito. É reputado o 1º filósofo materialista ao explicar o ser a partir da matéria somente. Protágoras Desvia do cosmos para o homem a investigação filosófica: “ hommo mensura”. Com este slogan abre-se a dialéctica: singular/universal; como cada um tem o seu modo de sentir e imaginar, daí o relativismo individual em dialéctica com o universal. Sócrates Universal/espírito/imortalidade. Entre os 3 maiores filósofos de todos os tempos. O “nous” reside no corpo mas é espírito, sede das ideias, da verdade, do conhecimento universal, não morre com o corpo, é imortal como dissera Pitágoras. Platão (427-347) Discípulo de Sócrates, seu historiador e continuador na exploração do “nous”. O “nous” não tem origem terrena mas celeste, como dissera Pitágoras; vem do hiperurâneo, traz a cópia das formas (os modelos) que lá contemplou; cá em baixo recorda os modelos; regressa ao hiperurâneo após a purificação pela filosofia ou metempsicose. A respeito do mundo afirma que as formas de todos os seres são cópias dos modelos hiperurânicos que os demiurgos inseriram na matéria do hipourâneo ; o mundo superior é causa do inferior. Aristóteles (384-322) Além de historiador dos cultores desta disciplina desde o seu início é por antonomásia o filósofo. Está presente em todos os temas básicos da filosofia daí em diante, podemos dizer sem sombra de erro que a dupla Platão/Aristóteles é a madre da filosofia. Criador da lógica. Criador da metafísica Criador da antropologia Criador da teologia…! O historiador das “ideias”, como vieram do hiperurâneo para transformar o 196


caos da matéria harmonioso mundo, o “divino Platão” foi mestre de Aristóteles sucedendo assim que o aluno mais brilhante recebeu do mais elevado mestre o néctar filosófico durante 20 anos. Aristóteles ao criar seu próprio sistema admite “insights de Pitágoras, Heraclito, Parménides, Empédocles, Anaximandro mas sua arte e conteúdo de pensar advém-lhe essencialmente de Platão. Os 2 pensadores gregos criaram perenemente para toda a humnanidade subsequente a arte de pensar e o objecto de pensar: a arte é a Lógica o objecto é a metafísica do ser: este tem uma aparência patente a todos através dos sentidos, tem sua realidade escondida só visível ao «nous». Os seres aparecem na existência como elos causais: recebem o ser a partir de um antecedente e comunicam-no ao consequente. O primeiro da série uma vez que é 1º não recebe de outro mas ele existe como principiado, logo tem de existir a partir de outro ser que por natureza não seja principiado, esse ser não está no reino inferior da matéria, tem de estar no superior, há assim 2 mundos, o hipo que recebe as forams causais, o hiper que as dá, o Ser Transcendente que as religiões chamam Deus. Repartindo por Aristóteles-Platão os êxitos em uníssono e dissonância, podemos concluir com certeza: os 2 pensadores gregos abriram para a humanidade a senda da filosofia, ciência do espírito humano caminhante pelo nexo causal dos seres até à fonte dinâmica de todos eles, o Um, o Arke, o Ser, o Bem, Deus Transcendente à mobilidade. Platão desce por intuições do Ser ao ser; Aristóteles sobe por abstracções do ser ao Ser; estamos perante um método dedutivo (Platão), um método indutivo (Aristóteles) mas uma única filosofia: ser-Ser lida de baixo; Ser-ser lida de cima. Não obstante as diferentes nuances Aristóteles/Platão não podem separarse, suas filosofias são a mesma filosofia olhada do ângulo superior (Platão), do inferior (Aristóteles) as 2 são completivas ou com mais exactidão, a mesma (Jaeger). Aristóteles e as ciências Aristóteles não partiu para as causas remotas passando por cima das causas próximas das províncias do ser confiadas às ciências, foi tão grande cientista quão filósofo, foi o 1º taxionomista. A ciência é mais indutiva que dedutiva mas Aristóteles afirma na Lógica que a indução é apenas para encontrar os princípios; uma vez encontrados deve proceder-se à dedução, só então o círculo do conhecimento fica completo a modo de saciar o espírito que só repousa quando encontra a base da verdade.

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Aristóteles é o modelo do raciocinador; Platão o modelo do “intuidor”, um método não destrói o outro; as profundas intuições Platónicas pelas quais descobriu as ideias serão para sempre o cume da especulação humana. Whitehead comenta a propósito: os filósofos subsequentes não fizeram mais que acrescentar notas de rodapé ao sistema de Platão! Keith Thomas, um Oxfordeano actual diz que o grande mérito de Platão está em ter ensinado a pensar o maior filósofo da humanidade, Aristóteles. Como vemos: um pensador põe no topo Platão, logo outro Aristóteles. Deixemos cada um optar pois como bem disse Jaeger: diferem no método, não na filosofia. Aristóteles tem um estilo rigoroso, definições precisas, metódico, mas o preferi-lo por melhor se ajustar ao estilo da ciência não pode entender-se como diminuição da grandeza especulativo-poética de seu mestre e toda a humanidade, o divino Platão. Heidegger, distante mais de 20 séculos diz: ainda hoje o escopo essencial da filosofia consiste em responder a este questionamento aparentemente banal formulado por Aristóteles: “o que é o ser, o que é o Ser ”? Aristóteles não formulou apenas a pergunta, meteu-se pelo caminho do ser ao encontro do Palácio do Ser que seu mestre dizia estar no hiperurâneo e de facto aí o veio a encontrar abraçando-se assim mestre e discípulo no palácio do Ser, demonstrando cabalmente à humanidade que o ser não é terminal, só caminho para o Ser. Decadência da filosofia grega Após o apogeu com Platão-Aristóteles, a filosofia grega entrou em decadência dando origem a pequenos sistemas na linha da moral (estoicismo, hedonismo, ecletismo, cepticismo). Estoicismo: Zenão, Epícteto. Ecletismo: Cícero, Séneca, Marco Aurélio. Hedonismo: Epicuro Cepticismo: Pirro, Diógenes, Sexto Empírico. A Grécia decaiu em todos os aspectos até que foi absorvida no Império Romano que se por um lado lhe matou o corpo, por outro lado tomou-lhe a alma culta, infundiu e difundiu-a no mundo chamado Ocidental irradiando daí para os demais revestindo-se assim da Universalidade que não mais devestiu. A cultura grega não morreu com a Grécia, trasvasou para o Império, para o mundo epitetada então de helenismo. 198


Alexandria Devido particularmente a não serem «personae gratae» aos imperadores em Roma, pensadores e religiosos vindos de todos os quadrantes: budistas, sintuístas, orfistas, pitagóricos, neoplatonistas, judeus, cristãos refugiaram-se em Alexandria, hoje Cairo que devido ao acolhimento a eles oferecido se tornou a capital do pensamento nesse período histórico. A religião revelada (judeo/cristã/islâmica aí se encontrou com a filosofia helenista abrindo uma dialéctica que até hoje não mais teve clausura. Aliás o impacto religião/filosofia em certo modo vinha já da raiz grega onde chefes e povo advogavam o politeísmo, os filósofos o monoteísmo. A dialéctica Alexandrina em as grandes linhas apenas Século I AD: Filon, judeu procura conciliar Platão com as Escrituras judaicas do Génesis e Livros Sapienciais. Século II: Clemente de Alexandria pretende que a filosofia grega seja propedeuta do cristianismo para os não judeus. Século III: Plotino aproxima a filosofia na versão neoplatonista das religiões monoteístas: Zoroatismo, Budismo, Judaísmo, Cristianismo: Filosofia e religiões estão em plena sintonia ao admitirem que todos os seres quer espirituais quer materiais provêm do Um, o Absoluto, o Super Ser. Século IV- V: Agostinho Agostinho retoma a fórmula Plotínica das Eneadas mas vai muito mais longe que Plotino, não fica apenas no Um indiferenciado da especulação filosófica introduz na filosofia pela 1ª vez o Deus da história e em vez da especulação sobre a origem do mundo a história contada pelo mesmo Autor do mundo….! Alteração radical na filosofia, alteração radical na religião Roma após ter perseguido ferozmente a religião cristã, concede-lhe plena liberdade, abre-lhe as portas de par em par (313 A. D.) com Constantino. Como revelam os sucessivos Concílios Ecumenicos (Niceia, Constantinópla, Éfeso) estava escondida mas viva, de facto, mesmo sem se notar estava hierarquicamente organizada. Teodósio Magno perante esta realidade em 380 pelo Edito de Milão publicou-a como a religião oficial do Império mandando atrirar ao lixo os ídolos do panteão até aí considerados deuses do Império consagrando-o para sempre ao Deus Único e Verdadeiro que adoram os cristãoss…! A religião cristã mudou a Grécia filosófica, mudou Roma imperial, mudou a cultura, moral, comportamento do mundo patenteando não só um novo conceito de Deus mas um novo conceito de homem, o homem novo, o homem cristão. 199


A Escolástica É um vocábulo híbrido significando novas atitudes de comportamento invadindo todos os domínios sócio culturais em um longo período de 11 séculos. O cognome só lhe adveio com o apogeu deste dinamismo transformante no século XI domínio com Anselmo de Aosta (1093-1109) mas quanto ao conteúdo a partir da época Agostino/ Boeciana (480-524). Hirschberger chama a este intermentes aurora da Escolástica pois embora não oficialmente escolástico este período desenvolve-se já no espírito da Escolástica aliás o slogan que tipifica a Escolástica «fides quaerens intelectum, intelectus quaerens fidem é quase ipsis verbis tirado tanto de Agostinho como de Boécio. Diálogo Com Agostinho (480-534) O diálogo religião/filosofia foi estabelcido sobre o Platonismo. Com Tomás de Aquino (1225-1274) O diálogo filosofia/religião foi estabeleceu-o sobre o Aristotelismo recebendo por isso a designação de Tomismo. 3 Opiniões O Platonismo-Agostinianismo nunca foi desbancado pelo Aristotelismo-Tomismo (Taylor). O Aristotelismo tomou por inteiro o lugar do Platonismo-Agostinianismo (Hoffmann). O Platonismo e Aristotelismo completam-se, são uma simbiose inseparável (Jaeger). Teologia Talvez nem o próprio autor, Agostinho se tornasse consciente do impacto que o seu expediente de introduzir a história na filosofia helénica veio trazer à ciência. Agostinho consciente ou inconscientemente criou uma ciência nova embora dentro de uma roupagem e vocábulo velhos: a roupagem advinda das Eneadas, o vocábulo advindo da filosofia 1ª de Aristóteles, a que o filósofo também deu o nome de teologia. Trata-se de uma ciência sem precedentes, uma criação científica totalmente nova, infelizmente sob roupagem e vocábulo velhos que iludem os desatentos dos conteúdos . Classificamos essa diferença em uma frase correspondente a uma biblioteca. O Deus a filosfia Aristotélco/Platónica apresenta é produto meramente 200


especulativo, intuído por esses grandes pensadores na mutez dos seres cósmicos. O Deus apresentado por Agostinho é O Deus Existente, Vivo, Real, feito Palavra que se manifestou aos seus amigos com voz humana para dizer quem era, qual a Sua Natureza, como deu início aos seres, o homem e a que fim o predestina…! Como é óbvio, o Deus de Agostinho fornece um muito mais adequado conhecimento da Obra e Autor que o resultante da voz muda dos seres intuído pelos filósofos gregos. Em Aristóteles Deus é um retalho da sua filosofia encontrado por indução a partir do ser. Em a teologia de Agostinho Deus fala de Si Mesmo, explica como pôs na existência os seres. Sendo em toda a extensão teologia, não filosofia com um acrescentamento então a teologia de Agostinho é um documento da fé cristã para colocar ao lado da bíblia, catecismos, declarações dos Concílios? Redondamente não A ciência nova de Agostinho é uma ciência humana enquanto as Escrituras têm por Autor o próprio Deus que nem se engana nem pode enganar. A ciência de Agostinho é falível como tudo o que é humano mas significa o cume do saber humano, não é infalível mas aproxima-se ao máximo da infalibilidade: a busca a verdade pelo caminho seguro pois a procura a partir de Quem é a Verdade Mesma falando de Si e Sua Obra. Nem filosofia, nem documento de fé, sim uma criação científica sem precedentes, a teologia Agostiniana é realmente uma ciência nova. Pena é que só recentemente Leibniz tenha criado o vocábulo teodiceia para distinguir a teologia de Aristóteles da de Agostinho, mais vale tarde que nunca. A ciência nova veio tomar o lugar da filosofia grega? Também não…! Aparecendo estoutra ciência muito mais perfeita e informativa quem pode impedir os pensadores de enveredar por ela uma vez que com vantagem substitui a outra? Ninguém tem direito de impedir quem de ora avante siga Agostinho em vez de Aristóteles. O reverso da medalha tem o mesmo poder: se o filósofo não pode impedir alguém de subir à categoria de teólogo também o teólogo não pode impedir o filósofo de continuar a ser o que é, filósofo. Quaisquer que sejam as opções, os mais credenciados pensadores cristãos sempre defenderam a existência das 2 ciências em vez de uma só embora reconhecendo a proeminência da teologia. Parecer de um pensador tão grande filósofo quão teólogo 201


Filosofia e teologia devem considerar-se duas ciências porque seus objectos formais são totalmente diferentes além do objecto material ser também só parcialmente coincidente. Ambas devem ser colaborativas como servas da única rainha, a verdade: se não chegarem a acordo alguma delas é pressuposta estar errada, deve investigar-se qual e corrigir-se pois 2 ciências sim, 2 verdades nunca (Tomás de Aquino).

Grega/cristã Os pensadores modelares, teólogos na linha de Agostinho defendem a continuação da filosofia como ciência autónoma diferente da teologia. Ser autónoma quer dizer ficar estática? A filosofia passou de grega a helenista (Plotiniana), introduziu em si novas ontovisões, vai certamente continuar a aceitar progressos, quer representar o pensamento dinâmico de todas as idades em vez de ficar estática, reduzida a antigualha de museu, vai depois da visão Plotinista aceitar as novas «ontoantropo-teovisões escolásticas? O slogan da Escolástica «fides quaerens intelectum, intelectus quaerens fidem» estabeleceu um diálogo entre todas as ciências e a revelação cristã: a filosofia como contendo ou presidindo a todos os domínios científicos foi como testa de toda a cultura a que entabulou o diálogo com a fé ou teologia visto que esta usa o vocabulário, estilo e vocabulário filosofico Platónico/Aristotélico. Perante a luz advinda à filosofia mediante a ciência nova verificou-se que a filosofia grega estava estabelecida sobre uma contradição que a razão clara nunca poderia admitir: o Iniciador do mundo era concebido pela filosofia grega como Feitor, ora repugna à razão, esta não admite que se faça algo sem haver com que se faça. Autor do mundo só podia ser Aquele que tira do nada deles mesmo ou seja totalmente do Seu Poder os seres quanto à matéria e forma. O Autor do mundo só podia ser um Criador. Ora é o Iniciador do mundo que Agostinho introduziu na ciência como histórico é Criador, logo a razão exige forçosamente que tome as vezes do especulativo grego para que o pensamento que só pode assentar sobre a verdade não entre em contradição consigo mesmo. O iniciador dos seres portanto não é Motor Imóvel de costas viradas para os seres a quem dera existência total mas Pai que ama toda a sua criação, sobretudo o rei da Sua Criação, o homem que por informação directa do seu Autor não tem 3 almas das quais só uma é imortal, tem 1só racional, toda imortal. O corpo para os filósofos gregos era cárcere temporal da alma, não pertencia 202


ao homem. O corpo, segundo a informação do seu Criador pertence ao homem, passará pela morte mas ressuscitará participando da imortalidade da alma para sempre. Corrigida assim em seus fundamentos mesmos a filosofia evoluiu de helénica, plotínica para Escolástica como é óbvio. Os judeus e árabes também fizeram evoluir a filosofia no sentido da Escolástica corrigiram igualmente a filosofia grega a partir da informação de seus livros santos. Então a filosofia não é somente cristã mas também judeo-islâmica? Historicamente, a partir de Plotino exceptuando 1 pensador judeu e 2 árabes todos os filósofos são cristãos mas não querem a filosofia para si, querem seja a disciplina que dirige todo o homem que vem a este mundo pois todo ele é dotado da faculdade típica da filosofia, a razão. A partir da Escolástica não há outra filosofia Universal senão a cristã mas não para se instalar em beco ou feudo, sim para ser o ponto de convergência de toda a humanidade. O diálogo entre filosofia/teologia mostrou-se de tal modo frutuoso que deu à filosofia sua base de consistência, augúrio de que o será através de todos os tempos mas cada ciência respeitando a casa da outra, dignificando-se mutuamente. Escolas O vocábulo talvez suscite nos leitores uma imagem desfasada da história: na época grega a escola tomou antes de mais o sentido de região, depois veio para 3 lugares de Atenas: Praça (escola comum), Academia em o jardim de Academos, Liceu em outro jardim, os alunos passeavam enquanto recebiam as lições daí o epíteto de peripatéticos. No perído helenista escola tem o significado de grupo à volta de um líder. A filosofia como temos referido englobava ou representava as demais ciências daí denominarem-se escolas filosóficas. Escolas no sentido e com o conteúdo que têm hoje são uma criação da hierarquia da Igreja: começaram junto das catedrais e foram estendendo a ponto de todas as paróquias, sobretudo os conventos terem suas escolas tornando-se célebres pelas disciplinas ensinadas sob a designação de trídium (matemáticas) e quatrívium (letras). O apogeu veio com as Universidades, escolas superiores a partir do S.XII criadas pelos papas: Paris, Bolonha, Coímbra, Salamanca…! O iluminismo começou a espalhar a ideia de que a Igreja era obscurantista, contra a ciência: trata-se de calúnia ou ignorância crassa pois a Igreja foi a fundadora das escolas dos moldes que ainda hoje revestem, detentora e promotora da cultura. 203


As escolas de que os governos se apossaram após a laicização inventada pelo iluminismo são criação da Igreja. Se vamos às artes: arquitectura, pintura, escultura, literatura quem as promoveu mais que a Igreja? A filosofia, direito, teologia eram as super disciplinas que distinguiam as Universidades. Pois que a Igreja era a instituidora das escolas, a hierarquia eclesiástica intervinha quando essas escolas revelavam desvios doutrinais: filósofos como Giordano Bruno foram condenados por causa das suas doutrinas. Esta vigilância doutrinal se por um lado era protecção contra os erros por outro lado era limitação à liberdade do pensamento. Daí nascer mesmo dentro das esferas eclesiásticas o movimento de separação da filosofia da teologia: esta continuaria sob vigilância doutrinal, aquela livre da censura eclesiástica. Quatro séculos mais tarde após Aquino ter defendido a autonomia, um filósofo educado no Tomismo (Descartes) defendeu a liberdade de censura na ciência do pensamento iniciando com sua filosofia designada de racionalismo a idade moderna pondo termo ao longo período da Escolástica. Antes de passarmos a essa idade sumarizemos as virtudes e defeitos da Escolástica começando por nomear seus principais representantes. Elenco Filon, Maimônides (judeus); Avicena, Averróis (árabes); Clemente, Orígenes, Tertuliano, Agostinho, Boécio, Anselmo, Scot, Boaventura, Alberto Magno, Tomás, Abelardo, Occam, Suarez, Sanches…! Uma plêiade de pensadores do mais alto gabarito mental: introduziram na filosofia grega tantas e profundas modificações que verdadeiramente a tornaram sua, a tornaram Escolástica. A filosofia grega não tinha qualquer firmeza histórica, apenas intuições pessoais de certos homens embora mentalmente bem dotados; a Escolástica tem suas pedras fundamentais alicerçadas na história, ciência que entrou na filosofia pela porta dos filósofos/teólogos cristãos. A Filosofia grega foi boa enquanto não apareceu a cristã; esta não rejeitou o esquema grego, considerou a filosofia Aristotélico-Platónica propedeuta, não despreza o esforço titânico que os grandes filósofos gregos fizeram para encontrar o Arke, mas se mediante outra ciência encontraram mais profunda informação do Arke não vão regredir para honrar uma razão menos esclarecida. Hirschberger diz: após as recentes investigações de Denifle, Wulf, Grabmann, Gilson, Koch… se aclarou que a filosofia medieval procurou aprofundar os problemas racionais perante uma luz mais clara, a revelação. 204


O filósofo cristão foi sempre um defensor da sã razão preservando-a de várias tentativas reducionistas advindas posteriormente do Luteranismo, Calvinismo, Empirismo, Idealismo, Cepticismo, Irracionalismo. A teologia não oprime, pelo contrário excita a razão dizendo-lhe: sobe alto quanto puderes pela escada do ser até ao Ser; por diferentes caminhos ambas procuramos o Ser. Há que felicitar a Escolástica pelos desvios da razão que corrigiu, pelas hipóteses sadias que confirmou, pelas novas cosmo-antropo-teovisões que trouxe e fez mesmo transbordar para as idades subsequentes. Idade Moderna Vários acontecimentos, consequentemente várias datas são aduzidas para justificar o início de uma idade diferente da antrior que tomou o nome de moderna visto passar a ser a idade da moda: as Descobertas, o Protestantismo, o Concilio de Trento, a Renascença…! Devido a estarmos em filosofia seleccionamos como início da idade moderna a mudança do estilo e eixo da investigação filosófica que do ser transitou para o conhecer, de ontologia passou a gnoseologia. R. Descartes 1596-1650 Descartes é reconhecido por Iniciador, Pai da filosofia moderna. Qual o sentido a dar a filosofia moderna? Apontam-se razões como: separar a filosofia da teologia, mudar o objecto formal da filosofia de ôntica para gnóstica, julgar a razão inerrante iniciando assim o racionalismo/subjectivismo. A Descartes também pejorativamente tem sido dado o título de pai de todos os erros filosóficos modernos. Começamos por defender Descartes: como todo o pensador pensou bem e pensou mal porque há-se ser pai de erros e não de virtudes. Correntes subsequentes da atribuição de pai dos erros, ele teve também virtudes, porque há-de ser pai só de erros, pagar pelo empirismo, materialismo, marxismo, fenomenalismo, existencialismo…!? Todo o filósofo está em pé de igualdade para com os precedentes, a herança é composta de virtudes e defeitos, pode pender mais para um lado que para o outro mas a responsabilidade é individual. Características da filosofia moderna/posmoderna Do Século XVII em diante podemos dizer que não há escolas, mas movimentos, não há sistemas, cada filósofoa cria o seu sistema, cada filósofo procura antes a originalidade que a sequência do caminho trilhado por seus antecessores. O primeiro sistema moderno é intitulado racionalismo mas o racionalismo de 205


Descartes não é o mesmo que o de Spinosa ou Leibiz. O empirismo de Locke não é o de Berkeley. O cepticiso de de Hume diferencia-o dos anteriores. O criticismo de Kant não tem igual, seus discípulos são idealistas O idealismo de Hegel não é o de Schelling, o de Fichte também não. O materialismo de Marx não é o de Freud, o de Feuerbach idem. O fenomenalismo de Husserl não é o Scheller . Vitalismo de Bergson, positivismo de Comte são igualmente originais. Existencialismo é talvez o movimento com alguma característica de escola mas Kierkegaard, Heidegger, Marcel, Sartre, Camus…qual deles é igual? Epistemólogos, biavioristas, pragmatistas, estruturalistas, linguistas…! Já se vê que chamar a estes sistemas escolas é forçar os termos! Juízo de valor Que confiança podemos ter hoje na filosofia mais do que tiveram os cépticos?! Criou o seu próprio descrédito: a ciência da razão sobre a qual deveria construir-se a verdadeira ciência chegou ao paradoxo de não ter um mínimo de razão. O cepticismo que cai sobre a filosofia cai igualmente sobre a ciência: as teorias científicas sucedem-se contradizendo-se, já não se sabe em que princípio científico se firma qualquer ciência (J Baudrillard) Pensem bem, pensem mal ou até nem pensem nada os filósofos, matemáticos e cientistas, o nosso planeta, as esferas celestes continuam a rolar; a luz continua a percorrer o espaço a velocidades vertiginosas, talvez nunca chegando ao fundo sem fundo do universo...! É necessário retroceder ao bom senso do existente, do real; a razão não se sacia com especulações vazias. (David Robinson “Introducing Philosophy”) . Juizo pessoal A filosofia moderna e posmoderna também tem grandes virtudes, não se pode sem mais atirar para o cesto dos papéis da crítica negativa. Por épocas a filosofia tem as seguintes características 1. Idade Grega (descoberta da razão e do ser). 2. Medieval (a filosofia aceita o auxílio da fonte revelada). 3. Moderna (A filosofia concentra-se no sujeito cognoscente em vez do ser). 4. Posmoderna (a filosofia concentra-se na expressividade da linguagem). 206


Para além da filosofia contemporânea ainda há mais alguma? A Escolástica subterrânea Alemanha

Herbart Juízo sobre a filosofia subjectivista de Kant: como é possível admitir a aparência fenomenal sem admitir a substância que causa a aparência? A pura fenomenologia é mera especulação mental nada tendo a ver com a realidade! Bolzano Kant interpretou mal os juízos analíticos de Leibniz, os quais não são tautológicos como ele afirmou mas provenientes da experiência. O idealismo dos seus alunos culminando em Hegel é pura acrobacia mental, sem objectividade ou qualquer relacionamento com o ser real. Baumgarten, Teichmuller e vários outros fazem críticas semelhantes às diversas facetas da filosofia moderno/contemporânea…! França Pascale, Maritain, Sertillanges, Mercier… ! A escolástica subterrânea deu lugar a uma escolástica nova sob o título de filosofia perene (cf neotomismo)

28. Filósofos

Este título não tem conteúdo diferente do anterior «Escolas». Então apresentamos as grandes linhas, o caixilho, agora o quadro completo das correntes com seus autores. Por fim o Elenco cronolágico dos filósofos citados. Quando não se situam as questões no ambiente histórico em que surgiram tal induz em erro. Quando alguém baseia o seu pensamento em um só filósofo ainda que célebre fica limitado a suas perspectivas, mesmo sem querer é reducionista. 207


Tomás de Aquino dizia a propósito: temo o homem de um só livro. Além de reducionista torna-se fanático, cego para outras fontes de luz. Este o motivo porque aconselhamos os nossos leitores a bem situar as correntes do pensamento na história antes de abraçar qualquer que seja. Faz parte do currículo escolar obrigatório no mundo lusófono a história da filosofia mas a nível elementar, não é uma história compreensiva. Aconselhamos pois aos leitores que verdadeiramente desejam assentar seus actos em uma filosofia que os valorize consultem historiadores propriamente ditos que existem em vernáculo tais como Batista Mondin. Apresentamos em este título história o pensamento dominante de cada autor, à flata de melhor servirá de orientação básica para os leitores que desejem uma filosofia da vida. Como por outro lado em o nosso guia fazemos citações sem notículas em rodapé, a história e o elenco anexo suprem esta lacuna. Concentramos ao máximo o que ocupa enciclopédias tais como a de Abagnano, Copleston e historiadores mais sumários como: Baptista Mondim, Johannes Hirschberger, Dave Robinson. Filósofos Gregos Tales: “o mundo está cheio de deuses”! Como a água faz a unidade dos elementos, assim o Reitor dos deuses e do mundo lhes imprime uma finalidade única. Anaxímenes Do ar se originam todas as coisas inferiores pela condensação, superiores pela rarefacção; o Autor do mundo, tal como o ar tudo origina a partir da invisibilidade. W Jaeger: apesar da expressão aparentemente politeísta os primeiros pensadores querem simplesmente dizer que o mundo é penetrado por formas vivas agindo em uníssono com um princípio invisível, Deus. Hirschberger adopta a visão de Jaeger: estes filósofos, diz, querem simplesmente dizer que o mundo é penetrado por um princípio inteligente que unifica a multiplicidade. Assim como a água e ar penetram tudo o que tem vida, assim o Presidente do mundo. Pitágoras: o autor do mundo é o Um, o Ser que deu uma medida concertada a cada coisa de tal modo que construiu o cosmos por unidades harmoniosas: a alma racional é uma centelha do Um (Monas), se praticar a justiça, não sair 208


do caminho que lhe foi traçado, no momento da morte voa para junto da Monas permanecendo divina e imortal. Heráclito O mundo de seres contrários e antagónicos consegue a harmonia do devir devido ao Logos sua lei imanente e permanente. Nem todos conseguem ver esta harmonia, só os que vivem do logos (razão), centelha do Logos; os que vivem dos sentidos vivem enganados. Os que estão em harmonia com o Logos pela via ascendente da virtude estão na verdade. O Logos estende a tudo a sua lei. As leis humanas de acordo com o Logos são boas; em desacordo são más; todo o homem é responsável pelo próprio destino, pode seguir a via ascendente ou descendente. A alma que segue a via ascendente voa até unir-se à Luz, ao Logos. Só o Logos é incorruptível, quem se une a ele, de mortal torna-se imortal. Parménides Os seres com seus fenómenos mudam continuamente, são antes não seres que seres, pertencem à ilusão dos sentidos; só o Ser, o Logos Invisível serve para base do pensamento; o pensamento só pode alicerçar-se no Logos. Empédocles (Matou-se atirando-se à cratera do Etna na tentativa de fazer crer que subira ao Céu). Duas leis intrínsecas regulam o mundo constituído por 4 categorias de elementos: o Amor e o Ódio que estão sempre em luta; se vence o ódio segue-se a morte; se vence o Amor segue-se a vida; a razão humana procura o Amor. Demócrito A alma humana é constituída por átomos leves da substância dos deuses, por isso é durável; os átomos da terra ao contrário são grosseiros, mudam constantemente devido ao movimento proveniente da queda vertical. A felicidade está na alma racional (tranquilitas animi). Anaxágoras Os seres são compostos de átomos qualitativos “homeomerias”, a mudança de uns seres em outros é devida ao eterno movimento mas para que tudo 209


decorra em ordem e unidade no cosmos tem de o movimento ser presidido pela Mente Suprema “Nous”. Protágoras “Hommo mensura” A moral deve obedecer aos princípios divinos da justiça e do respeito infundidos por Júpiter na alma de cada homem, não aos sentidos que sentem diferentemente de homem para homem tornando assim tudo relativo. Sobre Deus não consigo chegar a uma conclusão sobre o que constitui a Sua Natureza. Górgias O Ser Infinito não pode estar em lugar algum, aliás era circunscrito; se não está em algum lugar então não existe…! (Górgias não conseguiu pensar o Ser como transcendente à matéria, tornouse pai dos cépticos) Sócrates A pitonisa (sacerdotisa de Delfos) disse a um seu amigo que era o homem mais sábio de Atenas. Sócrates reflectiu: porque sei que nada sei, eis porque sou o mais sábio. A minha vocação será ensinar aos homens o caminho da verdade que não vem dos sentidos mas vem do “Nous” que deu a cada homem uma centelha, que habita no corpo e não morre com ele, é imortal. Todos os homens mesmo os escravos são sábios se se deixarem instruir pelo nous, a razão. Sócrates demonstrou como o escravo Menon sem ter andado em escola alguma sabia matemática unicamente usando o “nous”. Alcibíades: os discursos de Sócrates contêm tudo o que há de sabedoria, verdade e bem para quem quiser tornar-se bom e belo. Que pena condenatória escolherei para mim, atenienses? A que mereço: não agi por dinheiro nem lugares de honra, passei a vida a ensinar à juventude o caminho da verdade e do bem afim de que cada um preze a alma imortal acima de todos os bens. O discurso irritou os juízes que o condenaram a beber a cicuta. Aos amigos que o dissuadiam respondeu: pratiquei a justiça que Deus infundiu no meu “nous”; a morte é a libertação do cárcere do corpo, vou viver entre os deuses. Antístenes 210


A fama e o prazer opõem-se à sabedoria. Diógenes O dinheiro e a luxúria corrompem a alma; se visse diante de mim Afrodite (a deusa do prazer sensual) atirava-lhe uma seta. Euclides Só existe o Ser, o Um e o Bem, tudo o mais é ilusão dos sentidos. Platão, o divino Na terra há formas belas, não existiriam se não existisse a Forma Suprema, a Beleza, o Bem, o Ser de que participam. Todos os seres são participações em maior ou menor escala da Forma Suprema, o Bem que as religiões chamam Deus. A alma racional é uma centelha divina, o cocheiro do carro humano, veio do hiperurâneo e lá regressa se seguir o caminho da filosofia, da virtude, justiça dentro da polis; quando liberta do corpo irá viver na companhia de Deus. Que Deus existe demonstram-no os dias, as noites, as estações do ano, pela sucessão ordenada do movimento. Tudo o que existe em cima e em baixo vem dele, até alguns bárbaros o reconhecem. A Ele ninguém viu, vive no mundo superior invisível aos mortais, o hiperurâneo, ninguém sabe falar dele convenientemente. No Timeu demonstrou que todas as formas vêm de Deus Pai de tudo; tem muitos intermediários, os demiurgos mas só ele é Deus. Aristóteles É apelidado “o filósofo”, o primeiro pensador sistemático completo conseguindo caminhar através dos seres até ao Ser, resolvendo todas as antinomias dos precedentes, o primeiro a fazer a história dos filósofos e a criar um sistema completo. Aristóteles, como Platão, considera a alma racional não gerada mas uma faúlha do Nous, vinda directamente de cima e infundida no corpo. Todos os seres são sínolos de matéria e forma. Todas as formas são movidas por Deus teleologicamente, caminham para ele como para um íman. Definição de Deus: “Noesis, noéseos”, Espírito sempre em acto de se pensar a si mesmo, move os seres como Causa final, atraindo-os pelo Amor. Estóicos: Zenão, Epícteto, Séneca, Marco Aurélio. 211


Todo o cosmos é conduzido pelo Logos, a Razão Universal de que a nossa alma é uma faúlha. O homem torna-se imortal na medida em que se conforma com o Logos. O Logos exerce uma Providência perfeita sobre o homem que se deixa conduzir por Ele, vivendo segundo a razão virtuosa, tendo coragem de enfrentar o sofrimento. Epicuro O determinismo absoluto não existe porque os átomos, ao contrário do que opinava Demócrito não caem no vácuo em linha recta mas inclinados “clinamen”. A vida virtuosa adquire a paz da alma “tranquilitas animi” e dá prazer; a virtude não é sempre árdua como pensam os estóicos. A ataraxia dá tranquilidade mesmo perante os maiores males como a morte; porque havemos de a temer se quando vier já não existimos! Cépticos Pirro, Carnéades, Sexto Empírico São os expoentes embora a história nos ofereça muitos mais: desde o não conhecer absoluto até algum conhecimento existem todos os graus de cepticismo. Os próprios cépticos se combatem uns aos outros variando entre o cepticismo Pirrónico e o moderado de Sexto Empírico. Cícero Procura o melhor de cada sistema, autor do ecletismo. Grande crente na imortalidade e na protecção dos deuses, sobretudo Júpiter, o Patrono de Roma; todos os cidadãos devem reger-se pela justiça. ………………………………………………………………………………………… ……………………………………………… O impacto religiões reveladas/filosofia grega Os judeus traduziram para grego as Escrituras, verificaram que na cultura grega havia algo de teológico, começaram a prestar atenção a esse facto. Filon foi o judeu que primeiro pôs em paralelo o que os livros dos filósofos e os livros santos, especialmente o livro da Sabedoria dizem de Deus como Autor do mundo e do homem. Usou a filosofia Neoplatónica como campo de comparação. Filon foi o primeiro que relacionou o Deus revelado com o intuído pelos filóofos gregos. 212


Cristianismo Nesse mesmo século 1º, no mesmo espaço geográfico do Norte de África, Alexandria apareceu o cristianismo que tal como o judaísmo se pôs em contacto com o helenismo mediante a filosofia de Platão. Clemente de Alexandria, helenista convertido ao cristianismo foi o primeiro a tentar uma ponte entre os pontos válidos da filosofia grega e o Neoplatonismo. A filosofia grega é incapaz de modificar o homem mas tem do homem a noção da imortalidade, útil preâmbulo para o cristianismo. Clemente venceu a resistência que pensadores como Tertuliano, Taciano e outros ofereciam à mistura e interrelação das 2 fontes. Orígenes (185-254) É o primeiro filósofo-teólogo interpretando a Criação como obra do Deus Único em natureza mas Trino em Pessoas. Plotino Plotino viveu no mesmo ambiente geográfico multi-influenciado, o norte de África. Sua pretensão era oferecer às classes cultas um ideal filosófico em harmonia com a religião. Plotino toma a visão cósmica piramidal do neoplatonismo como a melhor expressão do relacionamento entre o cosmos e Deus que ocupa o topo da pirâmide, o Um. Do Um derivam os seres espirituais e mistos até mesmo a pura matéria. Pela primeira vez aparece na filosofia a origem da matéria a partir de Deus, o que mostra a influência bíblica na filosofia grega. O homem deve percorrer o caminho da filosofia e da ascese para ascender ao Um. Porfírio (232-303) Compilou a doutrina de Plotino sendo o autor das célebres Eneadas ( 9x6 ). Proclo (410-4850) Outro discípulo de Plotino introduziu elementos da filosofia de Aristóteles na filosofia Platónica, demonstrando que as duas filosofias têm noções monoteístas de Deus próximas das religiões judaica e cristã. Agostinho

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Percorreu os vários sistemas filosóficos do tempo, adoptando definitivamente o Neoplatonismo das Eneadas. A ciência nova Após a conversão ao cristianismo criou uma nova ciência, a teologia. Agostinho segue o esquema de Plotino mas embora dentro do estilo do neoplatonismo modifica totalmente o conteúdo e em parte a linguagem: Deus é Um sim como proclama Plotino mas em 3 hipóstases enquanto Plotino nem sequer considera a personalidade divina. Há os conceitos de pecado, de homem velho e homem novo, temas que Plotino nem sequer aflora! Agostinho explorou a semelhança que o homem é de Deus no sentido da Personalidade divina vendo nas faculdades da alma vestígios das relações trinitárias: “mens, amor, notitia; memoria, inteligentia, voluntas (mente, amor, conhecimento; memória, inteligência, vontade). As 3 faculdades da alma são sinais da Trindade: Pai, Filho, Espírito Santo. Agostinho é o descobridor do homem interior: “noli foras ire, in teipsum redi, in interiore homine habitat veritas” (não procures fora, entra em ti após o baptismo, és o homem novo onde reside a verdade). O homem novo não é a Verdade mas uma participação, um direccionamento para o “Magister”, o Mestre da Verdade, a Verdade em carne humana, Cristo; à medida que qualquer homem se aproxima do Magister vai-se transformando de velho em novo, do mesmo modo que a treva se muda em luz. Em carta a Proba: renascidos do Espírito vivamos conduzidos pela luz do Espírito. Agostinho demorou a converter-se porque achava impossível vencer as inclinações carnais, permanecer puro sem quedas após o baptismo; não tinha conhecido o mistério da graça que Deus concede aos baptizados; foi Ambrósio que lhe assegurou esse auxílio; ao ler Paulo encontrou a frase: pela graça de Deus sou aquele que sou, a graça em mim não foi vazia. Resolveu-se a receber o baptismo; então verificou por experiência que assim é: Deus quando manda o que não podes dá a graça para que possas. É o doutor da graça escrevendo 15 livros contra Plágio que afirmava não ser precisa a graça para a salvação. Agostinho tendo descoberto e aceite transformar-se no homem novo enxertado em Jesus Cristo tornou-se talvez o maior pensador da história, atingiu uma clareza e vigor racional que nenhum filósofo anterior atingiu, tornou-se um luminar tanto para o simples filósofo como para o teólogo, embora Hegel seja quem publicou, todavia foi Agostinho o primeiro filósofo 214


que trouxe a história para a filosofia; autor da atitude mental que veio a exprimir-se pelo slogan: “fides quaerens intelectum, intelectus quaerens fidem” a fé procurando a razão e a razão procurando a fé até que se abracem como 2 irmãs em vez de inimigas, cedam uma à outra, a que tem mais luz na prossecução da verdade. Com Agostinho a visão científica do mundo eleva-se acima de todas as cosmovisões anteriores quer religiosas quer filosóficas, tornando-se o protótipo da conduta moral humana aceitando a predestinação do homem novo, passando de filósofo/teólogo a religioso vivendo ao máximo o ser cristão (outro Cristo). Entre muitas definições que Agostinho nos legou de Deus apraz-me citar esta feita em genuíno estilo Platonista; Platão concebe Deus como Beleza, mas a Beleza não passa de uma ideia morta; em Agostinha a Beleza é viva, pessoal, amável para relacionamento e intercâmbio com o homem: “Oh pulchritudo semper antiqua et semper renovata, tam sero te cognovi, serius te amavi…fecisti nos ad te, Domine, irrequietum est cor nostrum donec requiescat in te” (ó beleza antiga e sempre nova, como lamento ter-te conhecido tão tarde, ter-te amado ainda mais tarde, fizeste o homem para ti, o coração humano anda inquieto até descansar em ti). O relacionamento não é vivo tendo como consequência a modificação radical do homem nas mãos do Criador/Salvador; a filosofia por mais subida que seja não salva o homem, não o transforma; só Jesus Cristo através dos meios deixados na sua Igreja o reconstrói de novo. Agostinho, como mais tarde fará Kierkegaard convida os filósofos a darem o salto da fé, a terem coragem para enfrentar o combate do homem novo contra o velho como ele fez. O pensamento de Agostinho no Ocidente é nas grandes linhas coincidente com o dos grandes teólogos do Oriente: João Crisóstomo, Gregório de Niza, Gregório de Nazianzo, Basílio, Pedro Crisólogo… (século V)! Citemos uma passagem deste último no sermão sobre a Sabedoria do Verbo, baseado em Paulo. “Ensina-nos o Sto Apóstolo (Paulo) que 2 homens deram início ao género humano: Adão e Cristo; o primeiro homem foi criado como um ser vivo; o último tornou-se espírito que dá vida; o primeiro foi criado pelo segundo de quem recebeu a alma para poder viver; o último Adão formou-se por si mesmo; de Ele procede a vida de todos; aquele Adão foi modelado no barro desprezível; este formou-se por si mesmo no seio preciosíssimo da Virgem; naquele a terra é transformada em carne; neste a carne é elevada à condição de espírito. O segundo Adão ao formar o primeiro imprimiu nele a Sua 215


Imagem; o primeiro teve princípio; o último veio salvar o primeiro e não tem fim. Este último portanto, se bem compreendemos a história é que em verdade é o primeiro, aliás assim se definiu quando disse: Sou o Primeiro e o Último porque sem princípio e sem fim. O primeiro homem é o carnal e pecador; o segundo é o espiritual e santificador do pecador. O primeiro só ocasionou fadigas e dores; este livra delas e dá vida como a sua, por isso continua o Apóstolo: o primeiro homem veio da terra, o segundo desceu do Céu; quem segue o homem terreno é terreno; quem segue o celeste é celeste. Os que nasceram da terra, trazem consigo a miserável condição do primeiro Adão caído no pecado e ignorância, não poderão ser celestes senão nascendo de novo a partir do homem novo. Este nascimento é feito pelo Espírito que o segundo Adão Jesus Cristo nos enviou para estar na Igreja, fecundar continuamente com sua presença a fonte sacramental, restituir ao homem velho a imagem da sua criação que é a imagem do homem novo. O Apóstolo conclui: assim como trouxemos em nós a imagem do homem velho, sejamos agora a imagem do homem celeste. Uma vez renascidos, adoptados como filhos do Pai celeste e irmãos de Jesus Cristo não percamos mais nem embaciemos pelo pecado a imagem do nosso Criador, não a da majestade que só a Ele pertence mas a da inocência, mansidão, paciência, humildade, misericórdia, paz que nos dá o novo Adão, no qual comungamos a vida porque nele estamos inseridos, com Ele formamos um só corpo” (Pedro Crisólogo). Esta a diferença entre o homem anterior ao cristão e o que se tornou cristão: o filósofo que fique na linha do pensamento pagão desconhece a história da queda, fala e vive como se a natureza humana estivesse como quando foi criada, quando a realidade é do homem caído, o velho Adão; fala de Deus no relacionamento com a natureza, pouco sobre o relacionamento pessoal que deve ter com Ele; desconhece os planos de renovação, tem a presunção de tudo saber e poder e afinal é uma douta ignorância. Os filósofos ignorantes da economia da graça julgam a natureza humana inerrante pretendendo governar sua existência por ela conforme está! A filosofia sem os novos insights que o cristianismo lhe trouxe não modifica o homem para que os olhos vejam os seres correctamente; só os processos que Jesus Cristo estabeleceu aclaram o homem. Os pensadores subsequentes à era cristã nas definições e conceitos sobre Deus e o homem manifestam sempre alguma influência cristã maior ou menor conforme sus inserção na nova vida. O mero filósofo dá de Deus uma definição longínqua; manifesta para com ele um relacionamento frio, desconhece como Deus se aproximou do homem 216


como Pai bondoso para o levantar à dignidade em que o tinha constituído pela Criação. A aproximação da filosofia Platónica da teologia foi tão íntima durante a idade média que mal se distingue se um autor é filósofo ou teólogo. Boécio É um cristão leigo que escreveu o célebre livro “De Consolatione Philosophiae” durante a sua estadia na prisão. A sua filosofia vai na linha de Agostinho: “intelectus quaerens fidem”. Deixou definições célebres sobre a eternidade, pessoa, versando com proficiência todos os temas filosóficos. Escreveu sobre múltiplos assuntos. Deus para Ele não é mais o Deus Uno dos judeus mas o Deus cristão Uno e Trino dedicando-lhe o livro “De Trinitate”. Em 476 caiu sob os bárbaros o império romano do Ocidente, há como que um interregno, não aparecem pensadores de valor até ao S. XI Anselmo de Aosta (1033-1109) É considerado o iniciador da Escolástica mas esta quanto ao processo já vem de Agostinho mrecendo de Hirschberger o título de pré-escolástica. Anselmo retomou o slogan de Agostinho e Boécio “fides quaerens intelectum”, deu-lhe antes a forma “ credo ut intelligam” . Anselmo diz que até à vinda do cristianismo e a introdução do criacionismo na filosofia ela estava baseada sobre o princípio contraditório da facção; isto demonstra, diz, que a filosofia sem os princípios cristãos não fundamenta o espírito na certeza mas simplesmente em opiniões mais ou menos prováveis. Deve dar-se prioridade à palavra viva de Deus que ao notar a fraqueza da mente humana para entender a Sua Obra veio orientá-la mediante homens escolhidos, por fim restaurá-la mediante o Filho. A palavra de Deus é a Palavra, merece todo o assentimento sem reserva, não é uma opinião, um pensar mais ou menos aproximado mas uma definição entregue por Deus aos homens como merecendo total adesão do espírito devido à ciência infalível de Deus autor do mundo e do homem. A razão aliás antes da luz que lhe veio da revelação estava baseada no erro julgando o mundo como feitura quando o mundo é criatura: a religião cristã baseada no que o próprio Deus ensinou sobre a sua obra sabe muito mais que a razão sem o esclarecimento do Autor. As 2 fontes completam-se na consecução de uma só mas mais esclarecida verdade. 217


Anselmo escreveu 2 Obras célebres Monologium e Proslogium. Na primeira fala de Deus a partir do Cosmos; na segunda, a partir da revelação. É na segunda que vem o célebre argumento “ontológico”, demonstração «a priori» da existência de Deus que tem dividido os filósofos acerca da sua validade. Assim como Anselmo conciliou a fé com a razão também reconciliou o homem com o Homem Deus, Jesus Cristo. O homem novo prevalece sobre o velho teórica e praticamente. Jesus Cristo ser Deus era necessário pois um mero homem não podia salvar o homem oferecendo uma satisfação condigna pelo pecado original nem tinha capacidade para modificar o homem por dentro como fez Jesus Cristo ao unir o homem à sua humanidade como os ramos se unem à videira. Abelardo É um dos filósofos teólogos onde mais se nota a luta entre o homem velho e o homem novo: fez-se monge e teólogo com o fim de vencer suas paixões, especialmente as do coração mas não foi consequente. Como as acções são de acordo com o que alguém é, “operari sequitur esse” também a sua doutrina é um misto de acerto e desacerto: dedicou-se à teologia, escreveu muito sobre Deus Uno e Trino mas o concílio de Soissons condenou-lhe 19 teses! Manifesta-se em Abelardo já aquela tendência que ganharia cada vez mais corpo de separar a filosofia da teologia para subtrair aquela à censura hierárquica. Abelardo advoga a separação da filosofia da teologia não no sentido de não dialogarem mas para que o pensamento se livre da supervisão dos inquisifores. Os muçulmanos Avicena, Averróis Crescidos em solo ibérico são influenciados pelo método escolástico férazão; estes pensadores, como os filósofos medievais, primeiro são crentes, atendem ao que diz o seu profeta, só depois são filósofos Platónicos ou Aristotélicos. Para fugirem à codenação de heresia pelos chefes religiosos defendem a teoria da dupla verdade: verdade teológica, verdade filosófica. 218


Tomás de Aquino refutou-os com a célebre distinção: 2 ciências sim, 2 verdades não. Os árabes têm de Deus o conceito judaico do Antigo Testamento, não atingiram o conceito cristão da Trindade, limitam-se a admitir o monoteísmo. Negam frontalmente a divindade de Cristo, interpretam o cristianismo a seu modo, não conforme a história. Os árabes tiveram um papel importante na adopção da filosofia de Aristóteles como esquema filosófico- teológico Tomás de Aquino adoptou o mesmo esquema e assim a filosofia/teologia Escolástica deixou de ser transcrita em moldes Platónicos para tomar o Aristotélico-Tomista. Os árabes são totalmente criacionistas; embora filosoficamente AristotélicoPlatónicos, não mais tratam Deus como Fiturgo ou Motor Imóvel mas Deus é o Criador de tudo, a matéria inclusive. Tomás de Aquino Tomás de Aquino figura simultaneamente entre os maiores filósofos da humanidade e os maiores teólogos cristãos; é defensor da separação entre filosofia e teologia como ciências distintas embora colaborantes na investigação da Única Verdade. A motivação de Aquino é a seguinte: muçulmanos, judeus, pagãos têm de Deus conceito religoso diferente mas como humanos são dotados da mesma faculdade, a razão; por ela chegam como todos os humanos a Deus como Autor do mundo e do homem. Daí em diante a teologia de cada religião acrescenta o conhecimento de Deus conforme a sua crença religiosa. A finalidade da teologia é precisamente interpretar a obra criada para além dos conceitos filosóficos de acordo com a revelação que cada religião personifica. Summa Contra Gentiles Aquino não só advogou mas deu o exemplo de tratar a Filosofia em uma obra diferente da teologia, a Summa Contra Gentiles Deus é o Ser Supremo, Aquele que é. Tem tantos nomes (atributos) quantos são os ângulos pelo quais o podemos encarar, aponta 13 principais; estes atributos não dividem a substância simplicíssima de Deus, as divisões são estratagemas do nosso espírito para melhor o poder conhecer embora fiquemos só à superfície.

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Na Summa contra Gentiles é que se encontram pela primeira vez as célebres 5 vias ou argumentos demonstrativos da existência de Deus, capazes de levar o espírito humano até Deus Criador: movimento, causa, contingência, graus, teleologia. Summa Theologica Em livro separado Aquino escreve a sua teologia sob o título de Suma Teológica. Aquino repete as 5 vias na Suma Teológica para demonstrar que a fé aproveita totalmente a razão mas o conceito teológico de Deus é completamente diferente do encontrado pela filosofia. Aquino expõe a Trindade não a ponto de desvendar o mistério mas a ponto de a razão não encontrar repugnância. Agostinho já tinha dito que a razão pode não penetrar na profundeza dos mistérios mas nada encontra de irracional que contradiga a razão, esta exulta com a verdade revelada. Agostinho tinha encontrado nas faculdades da razão vestígios da Trindade. Aquino descobre na Trindade as Relações Substanciais em que faz consistir as Pessoas Trinitárias: Pai, Filho, Espírito Santo. Entrou também profundamente no mistério do Deus-Homem, o Verbo Incarnado. Aquino é também o grande teólogo do Verbo transubstanciado no pão e no vinho Eucarísticos: «na cruz estava oculta a divindade, na Eucaristia está também oculta a humanidade mas cremos e adoramos inclinados o grande sacramento»! É o doutor da alma humana una com 3 faculdades, da graça, do homem novo. Tomás de Aquino dá razão a Abelardo e aos árabes sobre a existência da filosofia e teologia como ciências separadas pois a simples filosofia não pode entrar nesta compreensão dos mistérios de Deus. O que Aquino não admite é a teoria das 2 verdades: todas as ciências são servas de uma única verdade; cada uma em seu campo e objecto devem ambas colaborar na tarefa de encontrar a verdade; quando há conflito alguma deve estar errada; em princípio a presunção da verdade está do lado da teologia mas é também possível a teologia interpretar mal a revelação por isso esta deve ser supervisionada pela autoridade hierárquica. O seu lema filosófico-teológico: “Deum scire et animam” conhecer a Deus e a alma. Boaventura 220


Segue o lema de Anselmo em sujeitar a fé à razão mas é Agostiniano e Platonista, não adopta o Aristotelismo como Tomás de Aquino. A razão deve ser subordinada à fé, diz, porque historicamente não foi a razão que encontrou a verdade sobre Deus mas a teologia baseada na fé. A metafísica de Aristóteles ou de Platão têm de ser corrigidas pela teologia inspirada na fé. Todas as coisas são um vestígio mais ou menos perfeito de Deus que as criou mas a razão desamparada mal nota esses vestígios. A filosofia ignora completamente o homem novo, só a fé o revela e indica o caminho da ascensão do homem novo até Deus, coisa que o mero filósofo não sabe porque é velho. Boaventura descreve esta ascensão no livro “Itinerarium mentis in Deum”. Duns Scot É outro filósofo-teólogo escolástico de grande envergadura mas bastante influenciado por Avicena na teoria do ser que para ele é uno e significa simplesmente estar para cá do nada; para Tomás de Aquino o ser é análogo, significa o conjunto sucessivo das perfeições criadas em cada ser pelo Ser. Duns Scot como todos os escolásticos dedicou-se primeiro ao conhecimento de Deus ensinado pela fé, só depois procurou a harmonia entre as 2 fontes. O argumento da causalidade, demonstrativo da existência de Deus é usado pelas 2 ciências filosofia e teologia. O argumento ontológico de Anselmo é demonstrativo da existência de Deus mas somente após o da causalidade indutiva, como ilustração. Na subida do homem novo para Deus, Scot tal como Boaventura põe a acentuação em a vontade livre, pois a graça de Deus age especialmente sobre a vontade humana; a felicidade celeste derivaria também antes da vontade ornada da caridade que da visão. Tomás de Aquino mantém a linha intelectualista de “in lumine tuo videbimus lumem” afirmando que é após a visão de Deus e devido a ela que resulta a adesão da vontade. Esta diversidade demonstra que o filósofo-teólogo cristão é um pensador livre, recebe luz projectada da revelação mas essa luz em vez de lhe tirar qualquer liberdade de pensar ainda o incita mais ao aprofundamento racional. Occam É tido como o último filósofo escolástico mas também como um dos que convenceram a comunidade cristã a separar filosofia e teologia, foi excomungado devido aos erros teológicos tais como: a razão não conduz à fé 221


e a fé não aperfeiçoa a razão; entre os 2 domínios há separação como entre o céu e inferno; a fé é cega…! Sobre a existência de Deus Occam é enigmático, admite as provas mas acha que só atingem a probabilidade; por outro lado impressiona-o grandemente a providência que tudo conserva e conduz, sendo necessário o Ser que mantenha em actividade o ser; aliás, porque é contingente cairia no nada. Os nomes que damos a Deus são meros símbolos, não o podem conter devidamente pois são antes próprios das criaturas. Como vemos por estas simples frases, Occam é meio crente, meio filósofo, um tanto céptico mas admite o argumento da contingência de Tomás de Aquino para demonstrar a existência de Deus. Se bem conhecera Tomás de Aquino veria como fala dos nomes de Deus: nós os tomamos a partir das criaturas mas os purificamos de antropomorfismo ao aplicá-los a Deus. O próprio Deus nos livros sagrados se revela ao homem em estilo antropomórfico. Occam portanto navalhou dando golpes a torto e a direito, sua navalha é polémica. O papa depois de o ter chamado e advertido sem resultado algum excomungou-o.

Capréolus, Caetano, Silvestre São filósofos dominicanos escolásticos comentaristas célebres, ecléticos não inovadores. Nocolau de Cusa Chama à filosofia separada da teologia sábia ignorância “De docta ignorantia”; Agostinho já usara expressão semelhante. Define Deus como o Infinito e o mundo como “implícito no Infinito”! Deus é o Máximo, a criatura está implícita no Máximo. Deus é o ser onde coincidem os opostos: em Deus estão todas as perfeições mesmo as opostas. Sendo infinito Deus não pode ser definido pelas criaturas e seus atributos Ele é a sua definição.

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A criação é uma contracção de Deus. O mundo é uma teofania. O homem é um pequeno deus “humanus est igitur deus”. As expressões de Nicolau foram por vezes interpretadas como panteístas mas Nicolau foi sempre considerado como ortodoxo, ele queria significar o mesmo que as escrituras afirmam quando dizem que o homem é a imagem de Deus. Eckart Dominicano, bom pregador, começou pouco a pouco a desviar-se da doutrina teológica; foi condenado em 26 proposições. Exemplo: como o pão é transformado no corpo de Cristo, assim a alma é transformada em Deus até ao ponto em que não há mais nenhuma distinção, Deus e eu somos uma só coisa. Eckart reconheceu que a expressão “transformados em Deus” é errónea mas visto que é impressionante deve continuar! Hoje à distância, põe-se o mesmo problema se de facto ele foi herege ou usou expressões ousadas, um tanto mal soantes como Nicolau de Cusa. Henrique Suso seu discípulo diz que ele de modo algum era herege mas um entusiasta da espiritualidade. O historiador Copelstone diz que é justa a advertência que lhe fizeram os teólogos mas por outro lado é demasiado considerá-lo herege sobretudo que a condenação das suas teses veio 2 anos após a sua morte. Nicolau dAutrecourt é Occamista moderado. Marsílio de Pádua tem uma doutrina política censurada, critica o princípio da causalidade como fez Occam.

Renascença Erasmo de Roterdão (1467-1536) Não era um filósofo ou teólogo propriamente dito mas Escritor crítico com o espírito da Renascença. Em teologia advogava que se seguissem os Padres e a Escolástica. Sobre o homem novo discutiu até que ponto devia ser passivo e activo pondo em dialéctica a natureza e a graça mas não optou quer por Plágio quer por Lutero.

Thomas Morus (1478-1535) 223


É teólogo-filósofo político; no seu famoso livro, a Utopia defende a liberdade religiosa e de culto; homem perfeito é aquele que livremente desenvolve todas as virtualidades da alma quer naturais quer sobrenaturais; morreu mártir por preferir obedecer ao Papa em vez de a Henrique VIII Montaigne (1533-1592) Debruçou-se sobre o homem interior a fim de descobrir a “forme maitresse”, a razão que em cada um permanece imutável sob o fluir de tantos fenómenos. Bernardino Telesio (1509-1588) Distingue a filosofia da teologia: a primeira trata do homem natural, a segunda do sobrenatural. A alma do homem é parte mortal, parte imortal? Só esta é capaz de receber a graça e vida sobrenatural oferecida por Deus Salvador. Jordano Bruno (1548-1600) Deus é imanente e Transcendente ao mundo, este só conhecido pela fé ao passo que o imanente é conhecido pela filosofia. A religião exterior é própria dos supersticiosos; a interior é a dos filósofos; o filósofo procura a experiência de Deus mais que o conhecimento, quando o encontra torna-se divino e conhecedor de todas as espécies; no homem reflecte Deus como a lua o sol; o homem depois de conhecer o bem e o belo enche-se do furor heróico, liberta-se de tudo, não quer outra coisa senão Deus, com as asas da inteligência e vontade eleva-se até se tornar um com Deus! Bruno tem influências de muitas e variadas correntes, sua doutrina é nitidamente panteísta, por isso a Inquisição o condenou; mostrou-se contumaz, foi queimado vivo em Roma no Campo das Flores, rigor pouco filosófico/teológico mas são os tempos…o tempora oh mores! Influenciou vários pensadores subsequentes particularmente Espinosa e Schelling. 1492 Descoberta da América Início da idade moderna Lutero (1483-1546) 1517 Fixação das 95 teses na porta da Igreja de Wittenberg A reforma protestante é essencialmente um acontecimento religioso mas com consequências nos dogmas cristãos, na política, sociedade, ciência, filosofia. 224


Bernardino de Sena, João de Capistrano, Girolamo Savonarola lutaram por uma reforma da Igreja anteriormente a Lutero. Em crise a autoridade do Papa, dos príncipes cristãos, da filosofia, da teologia, das instituições, a ânsia de libertação do império e do gravamen da Cúria favoreceram Lutero. A reforma começou na religião mas estendeu-se aos domínios social, político cultural. Lutero revoltou-se contra a autoridade do Papa, as indulgências e meios de justificação como sacramentos, obras boas, penitências, peregrinações…! Lutero a princípio não quis atingir a doutrina tradicional cristã sobre Deus e Jesus Cristo, mas sequentemente descambou na fé, caridade, sobretudo na moral. Lutero atacou o Papa como representante e detentor da autoridade a ele confiada por Jesus Cristo, os actos usados pela hierarquia para justificar o homem, reduzindo os sacramentos a 2: baptismo e ceia, dando-lhes ainda um sentido diferente do tradicional, reduzindo a fé às palavras bíblicas interpretadas subjectivamente. Lutero quis tirar da jurisdição do papa até mesmo a autoridade sobre a religião, derivando-a directamente de Deus e da bíblia. Poderia ser como Lutero desejava se Cristo assim tivesse estabelecido mas essa não é a história, Cristo deu forma hierárquica à Igreja, as chaves dadas a Pedro eram e foram transmitidas aos sucessores. A libertação da submissão da autoridade civil à religiosa era também desejada pelos príncipes, daí apoiarem a reforma que advogava essa libertação. Lutero pretende suprimir toda a autoridade religiosa e meios de justificação, tornar a religião um mero fenómeno de consciência sem actos justificativos, dependendo cada um directamente de Deus pela fé sem passar pela autoridade da Igreja. A Escritura e a fé em Deus, eis tudo para ser cristão mas tal é não ser cristão porque contra a natureza da Igreja que Cristo instituiu! Lutero procurou sobretudo influenciar os príncipes a quem esta doutrina agradava, abrigou-se à sua sombra. A Alemanha e depois a Inglaterra adoptaram sua doutrina tão fácil de cumprir que ainda hoje fundamentalmente vigora. A Igreja hierárquica condenou 41 teses em 1520 pela bula Exurge Domine. Na dieta de Worms Lutero prometeu submeter-se mas logo a seguir recusou. 225


Não reformou, dividiu a Igreja, levando soberanos e povos a entrar pelo caminho da heresia e perseguição aos fiéis ao papa. Zuinglio, Melanchton, Calvino, Henrique VIII levaram a Alemanha, Suiça, Inglaterra para o fraccionamento da Igreja fundando o Protestantismo aliado aos mais influentes poderes políticos. A Igreja reuniu-se em Trento abrindo um amplo debate que durou 20 anos. Conseguiu aclarar todos os temas contestados por Lutero dando definições claras do poder de Ordem e jurisdição do papa, bispos e sacerdotes, dos sacramentos, sacramentais, escritura, indulgências, obras de caridade: a fé não consiste apenas num acto interior mas tem de ser vivificada pela caridade e boas obras, pelos sacramentos, liturgia e autoridade santificante da Igreja (fora da Igreja, barca de Pedro não há salvação).

Caetano (1468-1533) Vitória (1483-1546) Suarez 1548-1617) São símbolos de uma escolástica medieval a desmoronar-se e cada vez se acentua cada vez mais a separação nítida: teologia-filosofia. F Bacon (1561-1626) Galileu Galilei (1564-1642) Advogaram para a ciência a mesma autonomia e separação da teologia como aconteceu com a filosofia. Galileu foi censurado pelo Papa e cardeais pelos seus pronunciamentos contra a Escritura. Galileu visto que defendia o giro da terra em volta do sol afirmava que a Escritura estava errada ao dizer que o sol parou. A Escritura não está errada, os hermeneutas dizem que o Escritor sagrado quis dizer que Deus estendeu a luz do sol até acabar a batalha…! Toda a ciência é provisória, relativa a uma idade, se naquele tempo se dissesse que a terra parou ninguém entendia tal linguagem: nesse tempo era ciência popular e científica, os grandes corifeus da ciência Pitágoras e Aristóteles eram geocentristas. Com Copérnico e Galileu a elite científica adoptou o heliocentrismo mas fora dessa elite ou mesmo dentro dela ainda hoje o sol é que nasce, se põe, morre no ocaso…! O centro do universo já passou do sol para a galáxia «milkway» e cautelosos 226


agora os cientistas já vão dizendo que não sabem onde está o centro do cosmos, onde está então o dogmatismo da ciência para suplantar a fé?

Idade Moderna Pela porta da Renascença, Reforma Protestante, Descobertas dos Portugueses e da América por Colombo entra a idade moderna. A filosofia sai do controlo da teologia, os pensadores usam livremente a razão segundo as influências sociais, culturais, génio pessoal, até mesmo caprichos individuais. A filosofia esconde a face onteloógica para mostrar a epistemológica, aproxima-se tanto das ciências parciais que os filósofos quase não se distinguem dos cultores das ciências das causas próximas. A religião não deixa de influenciar os pensadores mas individualmente, notase no pensador qual o seu grau de religiosidade: no elenco dos filósofos modernos só figura 1 católico, aliás o fundador da filosofia moderna (Descartes), todos os outros são protestantes. Nas idades posmoderna e contemporânea há filósofos confessamente religiosos, agnósticos, ateus e indiferentes à religião. R Descartes (1596-1650) É o primeiro grande filósofo após o rompimento entre filosofia e teologia, apelidado por isso pai da filosofia moderna. Embora criado e educado catolicamente quis fazer filosofia livre da censura católica e para melhor satisfazer o seu desiderato retirou-se para a Holanda, país protestante, sem qualquer censura eclesiástica não só filosófica mas também teológica. Abandonou o Tomismo Aristotélico que conheceu na versão eclética de Suarez, aderiu ao Agostinianismo Platónico. O Deus de Descartes não é o Deus Trino da revelação cristã, também não é o Motor ou Fiturgo dos gregos mas o Deus Uno dos judeus, árabes e filósofos, o Deus Criador do mundo que distinguiu particularmente o homem ao infundir nele uma substância pensante, a alma com ideias concriadas. Deus é veraz, por isso as ideias postas na alma são inerrantes! Deus é o ser Perfeito; da sua definição concluímos a sua necessária existência; sem o ser Perfeito não poderiam existir os seres imperfeitos. 227


Descartes tem da Escolástica a certeza dogmática da existência de Deus Criador, afirmou a Sua existência histórica, não meramente postulada, como tinham feito Platão e Aristóteles. O criacionismo passou expressamente a ser afirmado pela filosofia moderna, é uma aquisição para sempre advinda da revelação para a teologia, filosofia e qualquer ciência durante a Escolástica, nenhum filósofo moderno e posmoderno regressa à Grécia, nenhum tem outra ideia de Deus senão a do Criador do mundo e do homem. Descartes afirma também expressamente a criação da alma por Deus como verdade histórica, os grandes pensadores gregos opinavam que era centelha do Nous. O Criacionismo sem o qual não haveria uma base segura para qualquer filosofia passou definitivamente para a idade moderna que clara ou tacitamente o aceitou: quando algum filósofo se refere a Deus é ao Deus Criador dos cristãos judeus e árabes, não mais ao Deus Feitor ou Motor dos gregos! Enquanto a filosofia moderna conserva estas jóias preciosas da criação do mundo e da alma por Deus, lhe atribui com certeza histórica a acção criadora universal, o cognomina de Criador, esta filosofia alicerça definitiva e seguramente o pensamento humano no relacionamento ser-Ser, é não obstante a separação da teologia uma filosofia de bases seguras para o pensamento. Precisa no entretanto de novas conquistas que se se abrir ao diálogo encontrará ainda em depósito na religião cristã. A filosofia moderna é verdadeiramente humanista, política, moralista, verifica o mal existente na sociedade e nos indivíduos, mas não encontra fármacos para sanar os comportamentos humanos. Os filósofos olham para a revelação vinda da religião sobre a origem do ser a partir do Criador, mas não olham para a queda histórica e sanação do homem a partir da raiz. O filósofo a começar por Descartes fecha os olhos à decadência humana, afirma a inerrância da razão, quando o erro entra pelos olhos dentro! Descartes fechou a porta aquele diálogo fé-razão que vinha existindo desde a idade média; tomou o que quis da filosofia medieval, deixou o que não lhe agradava…! Os seguintes filósofos ainda mais se embrenham em caprichos individuais. Descartes omite também qualquer referência a Cristo, o que demonstra completa ignorância da história humana, do homem novo! Blaise Pascal (1623-1662) 228


Transcrição do que escreveu de Deus em 23 de Novembro de 1654. “Fogo. Deus de Abraão, Isaac e Jacob, não dos filósofos e dos sábios; certeza, sentimento, alegria e paz. Deus de Jesus Cristo, Deum meum, Deum vestrum (meu Deus e vosso Deus). Quero esquecer-me de tudo, menos de Deus que não se encontra fora das vias do Crucificado do Evangelho. “Pai justo, o mundo não te conheceu mas eu te conheci”. Alegria, alegria, lágrimas de alegria. “A vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o Deus único verdadeiro e aquele que enviaste, Jesus Cristo”. Jesus Cristo, eu me afastei de ti, evitei-te, reneguei-te, de novo te crucifiquei, que eu daqui em diante jamais me separe de ti. Renúncia total ao mal, submissão completa a Jesus Cristo mediante o meu confessor e director espiritual (fé na Igreja e sacramentos). Oh a grandeza da alma humana! Alegria eterna, por um dia de provação na terra”. (Extracto do seu Memorial). Pascal-Descartes na dialéctica razão-fé. Os 2 filósofos conterrâneos e contemporâneos estabeleceram entre si uma longa correspondência; Pascal sabia que Descartes tinha sido educado catolicamente como ele mas deixara a prática religiosa refugiando-se apenas na filosofia. Pascal diz-lhe que o Deus filosófico de Descartes não é o Deus cristão, o Deus Uno e Trino, o Deus de Jesus Cristo, Descartes não é cristão mas ateu porque o Deus cristão é Jesus Cristo! Diz-lhe também que as ideias inerrantes em que confia são fruto do orgulho porque após o pecado original o homem está decadente, é uma «caniçada», a razão não tem poder algum para salvar o homem, só a fé, a Igreja e sacramentos de Jesus Cristo Salvador e Restaurador do homem convertem o homem velho em novo pela penitência…! Com estes e muitos outros argumentos quis Pascal demover Descartes de ser um mero filósofo para ser um cristão mas tal não aconteceu. Descartes nunca renunciou formalmente ao catolicismo, embora vivesse em ambiente protestante cerca de 20 anos, mas viveu como filósofo, não revela qualquer influência da fé na sua vida, ignorando os meios de salvação deixados por Jesus Cristo, os sacramentos. 229


Pascal, ao contrário nunca deixou a confissão e sacramentos até à morte que foi verdadeiramente a morte do justo. B Spinosa (1632-1677) Judeu crente em Deus Criador, tal como Descartes, é aliás o melhor conhecedor e intérprete do cartesianismo. Deus é a única substância porque substância, segundo a definição de Descartes é aquilo que não precisa de nada nem ninguém para existir, o que só se realiza em Deus “substantia ita est ut nulla alia res indigeat ad existendum”. Deus está de tal modo unido ao mundo por Ele criado que forma um todo com ele: a matéria e a forma são 2 atributos da substância que é Deus, Deus e natureza não se distinguem “sive Deus sive natura”. O homem é um acidente da forma quanto à alma, um acidente da matéria quanto ao corpo! Foi condenado pelo seu panteísmo e expulso da sinagoga judaica na Holanda. G W Leibniz (1646-1716) Filósofo racionalista na linha de Descartes mas de religião protestante embora sem proselitismo; trabalhou árdua e sinceramente para a união entre a Igreja católica e protestante na Alemenha. A doutrina de Leibniz não é diferente da de Descartes, embora tenha grande influência Spinosista. Deus é o Criador do mundo, sendo Perfeitíssimo não podia criar um mundo imperfeito, por isso este mundo é o melhor dos mundos. Os seres, inclusive o homem são mónadas (formas) provenientes de Deus por Criação. Quando lhe puseram o problema do mal, Leibniz viu-se e desejou-se para justificar a Deus na sua famosa Teodiceia. Foi muito útil porém este novo termo para distinguir a teologia filosófica da teologia religiosa. Poderia resolver o problema historicamente se usasse o conhecimento bíblico do pecado original, mas os protestantes interpretam a bíblia a seu modo, tratam a queda original como mero mito não história, depois são obrigados ao optimismo de meter o bico na areia para não ver o mal…!

J Locke (1632-1704) 230


Com este filósofo Inglês começa uma nova corrente filosófica chamada “empirismo”. Enquanto a filosofia racionalista com Descartes, Spinosa, Leibniz se baseava essencialmente na razão, daí o nome de racionalismo, esta baseia-se particularmente na sensibilidade. Tem em comum com o racionalismo colocar em primeiro lugar o «cogito»: há sensações antes de haver coisas. Os 3 pensadores mais representativos desta escola são Locke (inglês), Hume (escocês) Berkeley (irlandês). Locke é protestante anticatólico declarado. A sua noção de Deus é a de Criador, na linha de Descartes e Leibniz. No homem encara sobretudo as relações sociais e políticas; não mostra outra influência cristã mais que um ódio total aos católicos. G Berkeley (1685-1753) Embora bispo protestante dedicou-se à filosofia. Admite a criação como base do pensamento. Quanto ao conhecimento é Descartista total afirmando que Deus põe o conhecimento directamente na inteligência sem passar pelas coisas pois a matéria não pode causar ideias “esse est percipere et percipi”. D Hume (1711-1776) Inglês da Escócia é um filósofo ambíguo nas suas afirmações dizendo Hirschberger a seu respeito que é difícil saber se fala a sério ou está a divertir-se com os leitores! O princípio sobre que estabelece a sua filosofia é o mesmo que o de Descartes e filósofos modernos, a gnosiologia, mas sua gnose é mero jogo psicológico. Como os demais filósofos ingleses é empirista-experimentalista, faz confusão entre ideias e imagens admitindo o singular, não o universal, as ideias são impressões esbatidas, não produzidas por Deus na alma nem vindas das coisas mas são fabricadas na alma pelo princípio de associação psicológica, pelo que nenhuma correspondência existe entre as ideias e as coisas, conhecemos pelo hábito da sucessão de umas coisas às outras. “A maravilhosa galeria de imagens em que o homem está fechado não tem nenhuma janela, jamais o homem saberá o que os quadros interiores representam no exterior”. A respeito de Deus Hume não é ateu, escreveu mesmo um tratado sobre a religião a nível natural mas devido ao seu agnosticismo total (lava as mãos sobre todo o existencial) porque tanto pode dizer que as coisas existem como 231


não existem, é por vezes conotado como ateu. Depois de negar o conhecimento objectivo termina a sua filosofia com esta afirmação retórica: “por instinto todos acreditarão sempre na existência das coisas e de Deus, o instinto livrará o homem da mordaça do cepticismo “!

O Iluminismo Aos empiristas segue-se uma outra escola do pensamento chamada iluminista com representantes na Inglaterra (Newton e Reid); na Alemanha (Reimarus, Wolf, Lessing, Baumgarten); na França os Enciclopedistas (Delambert, Diderot, Montesquieu, Voltaire). Todos eles são teístas no sentido filosófico, admitem Deus Criador; nenhum pratica a religião cristã, embora sejam cristãos são revoltados contra o cristianismo. Voltaire é mesmo um blasfemo, contrário a todas as instituições eclesiásticas, embora no leito de morte pretendesse retratar-se mas seus amigos não o tomaram a sério. J J Rousseau (1712-1778) Suiço, tido como o principal representante do iluminismo, célebre pelos livros: Contrato Social, Emílio, Profissão de fé do vigário saboiano. No Emílio mostra a concepção que tem do homem: o homem é naturalmente bom, a civilização é que o estraga, por isso deve educar-se fora da civilização actual só em contacto com a natureza…! Notar a corrupção da sociedade até mesmo da ciência está justo, mas o remédio sugerido porém é ineficaz para corrigir o homem; se a sociedade está contaminada foi o homem que a contaminou; voltar ao natural não vai suprimir a corrupção. Falta a Rousseau o argumento histórico da decadência pelo pecado original bem como o conhecimento do autêntico remédio que não é a floresta; a natureza humana precisa de uma sanação radical obtida pelo Crucificado de quem aprendeu a história quando católico mas depois pôs completamente de parte. Todos os iluministas têm uma confiança inabalável no homem e na resolução de todos os problemas unicamente pelo progresso humano científico e social, mas como é óbvio é uma confiança demasiada como os factos seguintes demonstram à saciedade. Sobre Deus fala assim: as causas do movimento não vêm da matéria; quando observo a reacção das forças naturais que agem umas sobre as 232


outras, compreendo cada vez melhor que é necessário subir de efeito em efeito até à causa primeira pois supor uma série infinita de causas causadas sem uma Incausada é não supor nenhuma…! Todos os seres postulam uma inteligência ordenadora do cosmos para um único fim. A este Ser que é inteligência, tem vontade e poder por si mesmo para ordenar todos os seres cósmicos eu chamo Deus; vejo-o em todas as suas obras, sinto-o em mim, percebo a sua influência em tudo o que está à volta de mim, mas quando quero contemplá-lo nele mesmo, indagar qual exactamente a sua substância, ele me escapa, o meu espírito perturbado fica vazio, sem nada compreender da sua personalidade…! Criticismo É o sistema de Kant que surgiu no apogeu do florescimento germânico, basta atender ao elenco dos escritores de renome mundial dessa época: Klopstock, Lessing, Herder, Goethe, Schiller, Richter, Holderlin, Kleist. Na música: Bach, Haendel, Gluck, Haydn, Mozart, Schubert, Beethoven, Schumann. Na filosofia: Fichte, Schelling, Hegel, Schopenhauer, Feuerbach. E Kant (1724-1804) Certamente o maior filósofo moderno, um dos maiores de todos os tempos, há mesmo quem afirme ser o maior de todos os tempos, o que historiadores como Baptista Mondin abertamente contestam. Para avaliar Kant devidamente seria preciso interpretá-lo “comme il faut”; para isso ele mesmo deveria ter concorrido usando linguagem clara, o que não acontece, como diz Hirschberger, faceta aliás muito comum aos pensadores germânicos, pelo estilo e terminologia peculiares, ainda pela inconstância das suas definições de um livro para o outro. Kant é um eclético, uma espécie de estuário de rio onde vieram parar todas as correntes filosóficas anteriores em amálgama consciente e inconsciente. A linha geral porém da sua filosofia vai na linha de Platão, Agostinho, Descartes, os empiristas Locke, Berkeley, Hume; os racionalistas Wundt e Leibniz. Religiosamente é influenciado pelo protestantismo alemão em que foi educado, embora não seja praticante de religião alguma. É também influenciado pelo iluminismo Francês, especialmente Rousseau. Kant é uma montanha de filósofos amontoados. Kant é filósofo do seu tempo, o filósofo do cogito, ninguém talvez melhor que ele realizou o ideal gnóstico de Descartes transformando a filosofia de 233


objectiva em subjectiva, aliás sua filosofia é mesmo caracterizada pelos historiadores como criticista subjectivista. Descartes começou a filosofia no seu cogito, Kant começou no eu analisando a sensibilidade, intelectualidade, estética, vontade da alma humana, pretendendo encontrar “a priori” todas as condições do conhecimento quer sensível quer intelectivo. Tomás de Aquino procedeu igualmente à análise da alma e suas faculdades mas “a posteriori”, baseado na experiência e reacção das faculdades perante os objectos, não a priori como Kant procede na sequência subjectiva iniciada por Descartes. Kant ergue um tribunal para julgar a razão e por isso seu sistema se chama criticismo subjectivista. Conclui que a alma tem capacidade para a ciência mas não para a metafísica, não pode portanto conhecer o mundo, o homem, Deus, a invisibilidade, em especial Deus! Depois da crítica feita à razão teórica Kant vai aplicar a mesma navalha de Occam à razão prática; dá à razão prática tudo o que tinha negado à razão pura admitindo: o mundo, a alma imortal, Deus…! Aqui está um dos pontos contraditórios, um pau de 2 bicos que leva os historadores ora a desculpar, ora a culpar Kant. Talvez esteja influenciado por Hume quando o despertou do letargo racionalista, o qual afirma não conhecer pela razão mas pelo instinto! Seja como for, na razão prática Kant diz que a alma é imortal, de outro modo a liberdade não era premiada pelo bem que praticou livremente. A imortalidade exige também a existência do autor da lei moral, só Deus através da lei moral impede o homem de seguir a sua inclinação má por natureza. Kant mostra aqui a influência do protestantismo que diz a natureza humana estar essencialmente corrompida, contrariamente ao que diz o catolicismo que afirma a natureza humana estar mortalmente ferida mas não morta, aliás não tinha salvação possível, o espírito não pode morrer. Sobre o cristianismo Kant tem um conhecimento muito pobre e superficial A religião positiva, diz, foi fundada por Jesus Cristo mas o mundo não precisa de outra religião senão a lei moral sob a conduta de Deus Criador! Como é notório, Kant admite a decadência do homem, confessa que só Deus o pode libertar da sua decadência, do mal em que livremente incorre pela inobservância da lei moral mas é dominado pelo espírito do quietismo e iluminismo, recusa o pecado original e os meios de justificação oferecidos por Jesus Cristo, achando inútil o culto religioso, pretendendo uma justificação pela mera observância da lei moral sobre a qual emitiu o juízo de que poucos 234


a podem cumprir nos parâmetros de perfeição com que a formula nos imperativos categóricos: “age de tal modo que a tua conduta sirva de modelo universal”. Se a lei moral é um ideal que ninguém pode cumprir, o que vale dizer age de tal modo que sejas modelo…! Imitou Agostinho na análise valiosa que fez do espírito humano mas não ouviu o que Agostinho disse: só a filosofia de Jesus Cristo, a graça que veio trazer salva o homem. Kant é vítima do ambiente criado por Lutero: suprimir a Igreja e os meios de santificação que oferece, esquecer Jesus Cristo Salvador, relacionar-se apenas com Deus mediante a natureza e faculdades do raciocínio, esquecer o Enviado de Deus. Kant discute todas estas questões longamente nas Críticas e na religião dentro dos limites da razão. Curioso ainda Kant fazer a crítica da história mas sem imitar Agostinho, nenhuma referência à Igreja, apenas seu juízo subjectivo, fraco conhecimento dos factos. A filosofia de Kant não salva ninguém, como aliás qualquer uma, seu sistema moral tão puro não deixa de ser demonstrativo da necessidade de cura do homem. Ele não acertou com os meios radicais da sanação humana, todavia apelou para uma vida racionalmente pura para agradar a Deus. Se Kant fora melhor conhecedor do cristianismo certamente encontraria soluções para a sua moral sem saída, meramente estóica: perfeita no ideal, incapaz de cumprimento na realidade. Só a filosofia de Jesus Cristo poderia valer a essa incapacidade dando-lhe a graça, mas Kant não encontrou Jesus Cristo, foi a sua grande lacuna, inadmissível em quem era tão versado até mesmo na história e na bíblia. Kant nunca fala em pecado. Agostinho confessa o seu pecado, agradece ao Deus bondoso que o procurou não obstante os seus pecados. Kant não mostra arrependimento algum dos pecados que seus biógrafos dizem ter existido; afirma no entretanto que tem a consciência pura…! Suas últimas palavras: Senhores, não temo a morte e saberei morrer; asseguro-vos diante de Deus que se soubesse que ia morrer esta noite, ergueria as mãos e diria louvado seja Deus. Se o espírito maligno pudesse dizer-me: fizeste este ou aquele infeliz, oh então sim, temeria a morte…! Nenhuma ideia cristã acerca do Mediador entre Deus e os homens, o Salvador e modificador do homem velho em novo, Jesus Cristo. Pouco para um filósofo de tal calibre racional e cristão embora protestante…! O Idealismo 235


Os discípulos de Kant: Fichte, Schelling, Hegel fundaram o sistema chamado idealismo que consiste em um Platonismo ainda mais radical que o de Kant, um cogito, uma libertação de todas as condições existenciais, deixando o espírito andar à rédea solta, de acordo com o poder da fantasia. Os 3 são alemães como Kant e também protestantes de religião. Fichte imita Kant na linha da Crítica da Razão Prática. Schelling na Crítica do Juízo. Hegel na Crítica da Razão Pura. J G Fichte (1762-1814) É religioso, pretende conduzir a um sistema moral mais benigno e exequível que o de Kant. Sobre Deus o seu pensamento sai da interpretação cristã vai na linha de Plotino: “Deus é totalmente inacessível ao homem; é incognoscível, inefável, fora do saber, do conceito, da palavra; a razão humana pouco atinge, o seu conhecimento só é atingido pelos místicos”! F W Schelling (1775-1854) Ensaiou várias teorias religiosas em seu livro: filosofia da mitologia, filosofia da revelação. Sobre Deus: Ele manifesta-se progressivamente na natureza. Quando este actuar atinge o nível de consciência reflexa, a mitologia é substituída pela revelação, cujo ponto culminante é a Encarnação do Filho de Deus no qual Deus manifesta plenamente Sua Personalidade livre…! G W Hegel (1770-1831) Vários historiadores dizem que excede Kant; não é só filósofo mas teólogo protestante. Escreveu como teologia: Espírito do cristianismo e seu destino, Vida de Jesus, Filosofia da religião. Escreveu sobre filosofia: Filosofia da História, Filosofia da arte, História da filosofia (verdadeira enciclopédia). Hegel é um dos filósofos que considera a bíblia como livro histórico e suas afirmações válidas tanto para a filosofia como para a teologia ou qualquer ciência. Não se pode ter outra visão do mundo senão a da criação, diz Hegel. O ateísmo, tendência da sociedade para o afastamento de Deus também se encontra na bíblia onde o povo judeu era sempre propenso a alienar-se de Deus, mas sempre era castigado. Interpreta a Trindade em termos de dialéctica, seu método preferido (tese=Pai; antítese=Filho; síntese=Espírito Santo). 236


Hegel critica seus antecessores, especialmente Kant dizendo que sua moral do Sollen (dever) é inumana, procedente do pessimismo de Lutero. Hegel critica Fichte e Schelling porque deixaram um abismo entre real e ideal, ora segundo ele o real é racional e o racional é real; todas as coisas se encontram numa trama de relações reais com a razão. A evolução histórica da religião termina no cristianismo, aí está o vértice, o Absoluto da religião porque não pode haver maior Absoluto que Deus Humanizar-se em Jesus Cristo; só o cristianismo é a religião da verdade. Hegel diz que o Logos incarna no homem e faz a história; a ciência atinge o Absoluto na filosofia do Idealismo! Hegel fala de muitos modos de Deus ora com profundeza, ora desacauteladamente incorrendo por vezes no panteísmo na linha de Spinosa. Hegel imita o método dos medievais, arromba as barreiras entre fé e razão, faz a filosofia da religião, não tem pejo de dizer aos pensadores que a religião deve ser pensada como um factor que pertence à natureza do homem, o pensador arreligioso é preconceituado. Hegel desfaz os limites que Kant arbitrariamente pusera à razão. Hegel, como Agostinho, considera a história acima da simples especulação filosófica estabelecendo o seguinte critério: havendo factos não são precisos argumentos. Outro «insight» de importância foi dar à história bíblica o mesmo valor que tem na história profana: a veracidade dos factos é o critério tanto para os autores profanos como para os bíblicos! O grande senão que encontramos em Hegel é que sendo simultaneamente filósofo e teólogo embora protestante não faça qualquer referência ao estado decadente do homem na inteligência e acção, prefere a linha de Descartes supondo-se capaz de toda a ciência, capaz de todos os absolutos. Se olhasse para si, visse a sua própria conduta moral (teve uma filha fruto do adultério com a esposa de seu patrão) com a humildade da verdade concluiria que o homem está mesmo caído, sem a graça, só com a filosofia e teologia científica não chega a parte nenhuma, é só vaidade humana! Hegel repara na alienação do homem de Deus sem reparar na causa que é o pecado original e actual. Infelizmente abundou no pecado, pelo que deveria moderar o seu optimismo; os grandes pensadores como Kant erraram tão grandemente, ele censura seus erros, então ele vai atingir todos os absolutos desde a ciência à arte e religião sem errar?! Hegel na sua teologia refere-se à Encarnação mas não à salvação do homem por Cristo mediante a Igreja Hierárquica, a graça, sacramentos, boas obras. Sua doutrina teológica está dentro do erro protestante segundo o slogan de Lutero: “pecca fortiter, crede fortius” (peca fortemente, contanto que creias mais fortemente). Onde está qualquer passagem bíblica que aconselhe a pecar, não ter medo de pecar logo que creia com mais força!? 237


A filosofia idealista de Hegel só serve para exercício de lógica (Kierkegaard). Hegel eleva a história acima da filosofia mas o seu discernimento histórico tanto é sério como autêntica charada como se deduz das afirmações seguintes: a Encarnação é um Absoluto, nenhuma outra religião tem igual, a religião cristã significa o Absoluto da História (óptimo); o Império Germânico é a incarnação do Absoluto…! («abrenuntio»). Voluntaristas Como é natural, a filosofia idealista de Hegel despertou reacções diferenciadas e opostas. A experiência, a vontade e sensibilidade a que Hegel deu tão pouca ou nenhuma importância foram os motivos de reacção dos filósofos J F Herbart (17761841) A Schoppenhauer (1788-1860). Como representantes da corrente dizem: Hegel não viu guerras, sofrimentos e mortes, para ele tudo foi óptimo. Existe o mal e deve ser superado pela vontade animada de uma moral prática combatente das paixões, praticando a ascese da renúncia à própria sensibilidade, ao individualismo, identificandose com a Vontade Absoluta que rege o mundo; esta é a suprema sabedoria, de suma utilidade para o homem! Como é evidente, reconhecem o Absoluto que na linha de Hegel significa Deus; quanto ao homem, limitam-se ao natural, julgando que a simples vontade humana pode triunfar do mal. S Kirkeggaard (1813-1855) Protestante, filósofo estudioso de Kant e Hegel; cursou a escola teológica protestante em Berlim onde se laureou em teologia mas renunciou à carreira de pastor, não quis seguir o seminário que o prepararia para esse munus. É uma das figuras mais interessantes do protestantismo luterano, uma espécie de Agostinho dentro do luteranismo que abraçou com sinceridade até notar a corrupção da igreja luterana da qual se tornou então um crítico radical. É crítico também da filosofia de Kant, mas sobretudo de Hegel porque permanece sempre no reino do universal, não atende à pessoa e suas reacções individuais. A religião não é uma filosofia especulativa e balofa como Hegel a pinta mas compromisso subjectivo, Deus é subjectivo, é o meu Deus, para Ele é que eu vivo, a Ele é que devo prestar contas.

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Criticou a igreja luterana por ser meramente formalista, não atender ao interior, ao compromisso pessoal: “ a fé cristã inclui o risco, a interioridade e o sofrimento”. Em quem se fundam tuas esperanças, foi-lhe perguntado ao morrer. Em quem senão Jesus Cristo, respondeu. Fez a todos os filósofos este apelo: dai o salto da fé porque só quem acredita no mistério de Deus feito homem é verdadeiro filósofo, só Ele salva o homem! Algumas citações sobre a relação fé-razão e sobre Deus. Deus é o Ser, não é preciso demonstrar a existência de alguém que está presente em tudo e em todos. Quanto ao que Deus é na sua manifestação em Cristo, tal não podemos demonstrar, só a fé; quem não tem fé não vê o milagre; se usamos só o que a razão colhe na natureza, então não distinguimos uma religião da outra, faremos o islamismo igual ao cristianismo, a religião igual a uma teoria de pensamento! O homem não pode ver as coisas sub “specie aeternitatis”, há uma diferença infinita entre o seu modo de ver e o de Deus: sem dúvida Ele está presente na sua obra mas a obra não é Ele, isso seria panteísmo; por Essência Deus é Invisível e Transcendente à criatura. A fé requer a adesão pessoal a verdades que à razão humana parecem paradoxo, parecem absurdas; não o são todavia, o crente usa a razão para certificar-se que crê contra a razão! Quando o homem crê em Deus, nota a infinita diferença que separa sua natureza da de Deus, prostra-se diante de Deus e adora. A adoração é a expressão máxima do relacionamento de um ser humano com Deus, Deus é tudo para aquele que o adora. Quem crê e se abandona a Deus deve renunciar a tudo, isso envolve sofrimento, envolve convencer-se que sozinho não pode fazer nada, o sofrimento é característica da fé. O homem caiu no pecado, como descreve a Escritura; o pecado não pode ser explicado pelos cânones da filosofia. A opção pela própria sabedoria levou o homem ao pecado, depois à consciência da culpa e ao desespero. A queda foi devida ao saber do bem e do mal, o saber perde o homem! O pecado situa o indivíduo na sua extrema individualidade, ele diz respeito a mim, só eu sou responsável. Cristo libertou o homem do pecado sem privá-lo da individualidade, cada um deve decidir se quer ou não ser libertado por Ele. Estas frases colhidas dispersamente em seus escritos denotam a profundidade que este sincero luterano atingiu. 239


É pena que homem tão sincero e religioso não chegasse à fé católica; tinha grande simpatia pelo catolicismo mas nunca se fez católico. Viveu a religião protestante dentro do conceito da fé absurda porque não conheceu a fé esclarecedora de Agostinho. Este homem subjectivamente é um autêntico cristão; apesar da agudeza do seu espírito e de ter estudado teologia não conseguiu a iluminação última da fé integral a ponto de dar o passo de transição para ela, terá posto algum obstáculo…admite o pecado, terá reconhecido o seu pecado da idade de Giovanni, seu relacionamento matrimonial infeliz, terá pedido perdão ao menos de coração ao Cristo em quem acreditou… !? Kierkegaard não acreditava na Igreja protestante à qual pertencia, não conheceu a católica detentora dos processos de santificação tais como o poder de perdoar pecados e a comunhão sacramental, procurou salvar-se só. Se o fez com recta intenção, a quem faz o que está ao seu alcance salva-se pela misericórdia de Deus.

F Nietzsche (1844-1900) Pertence aos filósofos voluntaristas, ele verdadeiramente não pensa, ele quer, ele pretende. Na obra Ecce hommo define-se dinamite que vai explodir, abalar o céu e a terra! Um pouco mais adiante diz: não me julgará a história antes um bobo…?! É um espírito doente, contradizendo-se continuamente nas próprias afirmações. Hirschberger que fez dele um estudo exaustivo, define-o como um colapsado no corpo e na alma, claramente nos últimos 11 anos da vida passados no manicómio, mas em prenúncio toda a sua vida. As obras de maior divulgação que melhor servem para o analisar são: Ecce homo, Assim fala Zarathustra, Para além do bem e do mal, A Vontade do Poder, O Anticristo. Ele pretende outra moral que não a burguesa moral cristã alemã, outro sentido da vida, a transmutação de todos os valores mas quando porém começa a concretizar a moral e religião que idealiza é completamente oco nos conteúdos. Ele tem por ideal a vida com todas as energias não refreadas, um homem poderoso em vez de fraco, mas não lhe dá conteúdo. O que entende por vida total? A felicidade não está no prazer, eudemonia, caridade, amor, mas no ódio; a vida consiste na vontade de domínio, este é o princípio de todos os valores. O bem é tudo o que leva ao poder…! 240


O que é o mal? Tudo o que vem da fraqueza: não paz mas guerra, não virtude mas destreza sem escrúpulos éticos; os fracos e pobres devem ser mortos; que coisa pior que as obras de misericórdia que só multiplicam os fracos! Fraqueza é tudo o que vai com os escravos: foram os judeus e cristãos que se puseram do lado dos escravos dizendo que bom é o fraco, o oprimido, conotaram Deus com a religião dos escravos. Virtuoso é o nobre, o aristocrata, o senhor, o poderoso, o inocente. Tudo o que fazemos é para renovar a vida; tenho de combater não somente a ideia de pecado mas também o mérito da virtude; devemos fazer a humanidade livre de toda a responsabilidade; devo convencer a humanidade da ilusão de todas as causas e fins. Acabe o imperativo categórico da moral, acabe o ligar o vício e as consequências. A inocência é o “amor fati”, abandonar-se ao destino sem a ilusão de ideais, deixar tudo retornar eternamente! Nada é verdade, nada é mal, tudo é permitido, não há mais proibições, o Deus da moral e proibições está morto, oh eu te amo eternidade livre! Queres seguir o caminho do Criador, queres fazer um Deus a partir dos 7 demónios que te dominam…?! O homem ideal é um César com a alma de Cristo! O homem ideal define-se pela criação de valores. Muitas outras afirmações suas é possível extrair das suas obras mas repetitivas da mesma contradição contínua, tanto afirma um valor como logo o nega. Nietzsche quis de facto criar novos valores mas quando os quer concretizar tudo se esvai em palavras: sua filosofia se esfuma em pura negatividade, queria criar mas destruiu tudo o que queria criar, deitou abaixo o homem antigo, velho, mas onde está o novo? Deitou abaixo o anticristo mas onde está o Cristo? Matou o Deus burguez alemão mas não conseguiu ressuscitá-lo. Matou Cristo mas não encontrou outro para o substituir pois queria um Cristo Kaizer! Onde está esse homem para além do bem e do mal!? Pôs nas nuvens o super-homem mas qual…? Foi o cristianismo que inventou o conceito de um Deus contra a vida; inventou a alma para denegrir o corpo; o pecado e consciências são invenções judias que o cristianismo de Roma tomou para dominar o mundo! Amor, sacrifício, penitência são conceitos contra a vida, é a moral de escravos que o cristianismo proclama! O Deus da Cruz é uma maldição contra a vida! 241


Dionísio é o Deus da Vida contra o Deus Crucificado e morto! Levanto contra a Igreja cristã a mais terrível das acusações: assassina da vida, nada deixou livre do seu contacto corruptor, criadora de todo o antivalor…! Afirmações opostas: os valores cristãos nunca foram superados pelos de qualquer ciência! Cristo na cruz é o mais elevado símbolo aparecido na história até hoje! As obras boas da Igreja católica são superiores à fé estéril protestante, a beleza da sua liturgia, a honra prestada aos sacerdotes, a reza do rosário, a confissão sacramental, o celibato dos jesuítas...! Na Igreja católica há um autêntico misticismo ao passo que no Luteranismo existe só o professorado, a cátedra! Como admiro a hierarquia da Igreja católica, verdadeira herdeira da grandeza do Império Romano…! Lutero foi um destruidor, substituiu o sacerdócio hierático pelo sacerdócio comum; como se entende um sacerdócio sem hierarquia? Lutero era um camponês sem espírito de finura, loquaz e arrogante, um pobre diabo que se atreveu a ter um diálogo descomposto com Deus, perdeu todo o sentido hierático! A igreja romana é elegante nos seus gestos litúrgicos, nas manifestações do semblante. Como gosto de admirar as capas nobres do clero e os sacerdotes da igreja católica, “delicados animais de presa”! Perante tal desconexão de bendizer contra maldizer, comenta Jaspers: para toda a afirmação Nietzsche encontra uma negação. Nietzsche é essencialmente um colapsado: todos os que quiseram aproveitar sua filosofia para um lado ou outro saíram do Nietzsche histórico para o substituir por o Nietzsche que desejavam, como temos exemplo em Bertram, Klages, Baeumler, Jaspers, Heidegger …! Renato Barílli: Nietzsche não combate a Deus mas um ídolo feito pela religião e moral adulterada do protestantismo como se deduz de suas palavras: seremos acusados de maldade e loucura por querermos introduzir um novo modo de ver a religião. Nietzsche quereria simplesmente dizer de um modo chocante que o Deus que a religião do seu tempo apresentava não era verdadeiro e por isso devia morrer…! Esta é uma das interpretações benignas de Nietzsche mas não é esta linha que em geral é explorada. Nietzsche tem merecido demasiada atenção dos intelectuais esquerdistas, na realidade o seu valor objectivo é oco: um espírito doente que toda a vida manifestou sintomas de loucura, passou os 11 últimos anos de sua vida no manicómio…!. 242


Materialismo Os filósofos materialistas em geral são hostis ou neutros quanto à religião com que são conotados, oferecem definições e soluções para o homem dentro do esquema da sociedade em que estão inseridos. S Freud (1856-1939) Freud é o autor da psicanálise, examina as operações humanas com o fim de detectar as doenças psíquicas ou físicas afirmando que devem ser curadas não por fármacos mas terapêutica psíquica. Freud nos conceitod do <eu> consciente, subconsciente, inconsciente é influenciado pela filosofia alemã de Kant, pelos idealistas e materialistas. Interpretar todos os traumas psíquicos devido ao instinto sexual reprimido…é certamente uma mono mania psiquiátrica, um preconceito psíquico, alguém recebe o rótulo de doente antes mesmo de ser examinado…! L Feuerbach (1804-1872): Deus é uma criação do espírito humano; não foi Deus que criou o homem mas o homem é que no seu idealismo criou Deus…! A Trindade de Deus é criada a partir das 3 faculdades psíquicas do homem: vontade, razão, amor...! F Engels (1820-1895) Influenciado pela obra Essência do Cristianismo de Feuerbach abandonou o idealismo de Hegel e ingressou no materialismo de Marx a quem se ligou indissoluvelmente até à morte; suas ideias não se distinguem, fazem unidade com as de Marx. K Marx (1818-1883) Autor do materialismo dialéctico, mentor do partido comunista Russo. A religião é uma superstrutura estabelecida sobre a estrutura básica do homem, a estrutura económica; a religião é a única consolação do povo pobre, é o ópio do povo; a igreja capitalista faz a religião para dominar os fracos; a Igreja está unida com o capital e as forças estatais que o sustentam, por isso deve combater-se. Marx bem como os demais materialistas pouco ou nada conheciam da religião, agiam por preconceito deduzindo suas opiniões de certas atitudes sociais e religiosas defeituosas que constatavam na sociedade religiosa protestante de suas nações. Lenin (1870-1924) Combateu a religião cristã na Rússia para impor o comunismo; o sucessor Estaline matou a ferro e fogo legiões…!

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Maotsetung (1893-1940) Fez a revolução cultural banindo a religião Budista e Confucionista tradicionais da China. Positivismo Auguste Comte 1798-1856) É autor do positivismo em França, interpretando a história do homem segundo a lei dos 3 estados: teologia na infância, metafísica na juventude, física na idade adulta. A religião seria substituída em definitivo pela ciência. O facto é que Comte pretendendo abolir a religião instituiu ele mesmo a religião da Humanidade para a qual fez um calendário minucioso dos dias celebrativos. Quanto à confiança absoluta na ciência, teremos outras opiniões a citar! H Spencer (1820-1903) Evolucionista radical admite porém Deus como Ser transcendente ao mundo. C Darwin (1809-1882) Evolucionista das espécies não obstante admite a criação conforme narra a bíblia J S Mill (1806-1873) Experimentalista, não aborda o problema de Deus. R Ardigo (1801-1869) Experimentalista na linha do anterior. Espiritualismo No último decénio do S XIX, princípio do XX nasceu e cresceu rapidamente uma corrente espiritualista precisamente em oposição à anterior materialista. Surgiu pelos seguintes factores: a ciência tornou-se consciente dos próprios limites após o entusiasmo racionalista, iluminista, idealista e positivista de que poderia resolver todos os problemas só por si. A ciência físico-matemática não conseguiu resolver os fenómenos da vida, do conhecimento, liberdade e vontade por métodos quantitativos o que levou os cientistas a desconfiar se o método científico-matemático seria apropriado para aplicar a todas as ciências? Os factores metafísicos e religiosos afinal não foram eliminados, muito menos substituídos com o advento do estádio científico, como preconizavam os positivistas! Os mais representativos filósofos espiritualistas 244


F Ravaison ( 1813-1900), C Renouvier, J Lachellier (1834-1918) E Boutroux (1845-1921). Os aspectos mais importantes da realidade: o ser, a verdade, o bem, a moral, a religião não têm qualquer determinação física, o espírito científico não abrange toda a actividade da razão, falta-lhe precisamente a parte mais nobre, Feuerbach e Marx empregaram método errado aos temas espirituais, por isso fracassaram. Fenelon, M Biran chamaram a atenção quer no púlpito quer na imprensa para os valores espirituais. H Bergson 1859-1941) Judeu vivendo em França. Na Evolucion Creatrice e Les 2 Sources de la morale et religion defende as leis da consciência e da moral, defende a intuição como método adequado ao campo da consciência, moral e religião contra o científico dos positivistas. É célebre a sua distinção de moral fechada (dos filósofos) e moral aberta (dos cristãos) que é praticada pelos santos e místicos do cristianismo. M Blondel (1861-1949). Afirma a necessidade da graça para todo o homem visto que não existe o homem naturalmente bom mas só o decaído; o homem ainda que estivera em estado natural puro porque limitado e finito precisaria da graça para se manter. É dos raros filósofos que olharam para o problema histórico do homem, apontou para a existência do homem novo e necessidade de todo o homem conhecer e entrar na economia do homem novo. Era de esperar do Criador Sábio e Bondoso o auxílio para ultrapassar a finitude e o pecado, o que aconteceu com a graça dada por Deus em Jesus Cristo, Autor do homem novo. Blondel é de opinião que a filosofia ocidental só tem sentido se for cristã! A indigência do homem postula um ser superior não apenas para ser conhecido mas Criador de uma ordem de regeneração e salvação universais. A vida sobrenatural da graça encontra na indigência da criatura pecadora a base para o bom Deus se compadecer e vir em auxílio do homem. Pragmatismo (De origem americana) São chamados pragmatistas os filósofos defendentes do princípio do êxito: bom é o que dá resultados; defendem a prioridade da acção em vez da prioridade do pensamento e da verdade. Este sistema, levado às suas últimas consequências é perigoso porque matar 245


alguém pode levar a bons resultados, todavia não é lícito fazer o mal para que venha o bem! Estes pensadores religiosamente são protestantes liberais, admitem Deus conforme a religião o propõe na sua confissão. C S Peirce (1839-1914) Não é possível servir a Deus e a Mamon, diz; o mundo de hoje não confia em Deus e no que prega a religião mas no sucesso das suas empresas; como distinguir a crença verdadeira da falsa senão pelos resultados? Há porém uma utilidade universal em que todos estão de acordo: agir segundo o melhor sistema racional…! W James (1842-1919) Grande catedrático das cadeiras de filosofia e psicologia de Harvard, uma das Universidades mais famosas do mundo, é pragmatista voluntarista. A lógica prestou um grande serviço à humanidade mas depois de 20 anos ao seu serviço renuncio a ela como caminho para encontrar a verdade! No que toca às questões últimas o homem alcança a certeza não pelo raciocínio mas pela fé. Fé e sentimento são comuns a todos os homens, estão por isso na base do encontro das mentes. Todas as tendência que temos impelem-nos a admitir uma vida sobrehumana no Absoluto sem perdermos a individualidade pessoal. O fundamento da religião não é a razão mas a fé! A fé manifesta-se em muitas e diversas experiências místicas como visões, preces, vozes, libertações de doenças, medos etc. A fé todavia tem além de experiências, ensino e doutrina que apontam para a existência de um Deus que só quer o bem e a vida moral do género humano…! J Dewey (1859-1952) Professor da Universidade Colúmbia em Nova York, autor da ética chamada melhorismo ou seja nem pensar que tudo é bem nem que tudo é mal mas lutar contra o mal atingindo senão o óptimo ao menos o melhor. A filosofia é a teoria geral da educação moral e cívica. A escola que depois deve continuar na vida deve tender a melhorar as condições humanas em todos os sectores científicos, humanos, religiosos. Neo-realistas O neo-realismo nasceu na Inglaterra com Alexander, Moore, Broad, Smith, Bertrand Russel, Whitehead; foi transportado para a América e lá floresceu com Whitehead e Santayana. Bertrand Russell (1872-1970) 246


É difícil encontrar um sistema para Russell porque andou de uns para outros. O mesmo se diga da religião: abandonou o cristianismo aos 16 anos e terminou agnóstico dizendo que não há argumentos sólidos para dizer que Deus existe, também que não existe! É comparável a Nietzsche afirmando quase tudo e negando quase tudo. A. N. Wheitehead (1861-1947) Ocupou a cátedra de filosofia de Harvard, escreveu com Russell os Principia Mathematica, discorre longamente sobre o formalismo matemático e a natureza do ser dizendo que se deve investigar cada ciência por seu método e por fim procurar uma aproximação a todo o humano saber. Sobre Deus: como se há-de explicar o mundo sem Deus? O problema difícil que se põe é como se há-de conhecer se por intuição ou demonstração. Deus é o princípio do bem que triunfará na luta contra o mal. Para livrar os homens do mal Deus sofre com todos os que lutam na aventura da vida (referia-se ao Crucificado)! J B Watson , G H Mead Ambos behavioristas estudando o homem pelas reacções ao ambiente; procuravam um método diferente do espiritualista e positivista mas pouco se elevaram acima do comportamento biopsíquico não conseguindo descobrir o espírito encarnado que procuravam no homem! Neo-idealisas São todos teístas embora com diferentes opiniões sobre Deus e a moral. Quando se pensava que as correntes materialistas, voluntaristas, positivistas, realistas, behavioristas tinham apagado de vez o idealismo hegeliano, eis que ele ressurge fortemente em França com: Ravaison, Lachelier, Brunschvicg, Hamelin. Na Inglaterra: Coleridge, Carlyle, Grenn, Taggart, Bradley. Nos USA: Roice Na Itália: Croce, Gentile O Hamelin (1856-1907) A consciência, que é a razão individual, conduz ao Absoluto que existe fora do mundo na Sua Personalidade Transcendente e lhe chamamos Deus ou em linguagem hegeliana a Razão Suprema. F H Bradley (1846-1924) Platonista hegeliano Inglês, combateu o positivismo e disse: o devir constante 247


dos seres mundanos exige a base estável do Absoluto para o qual os seres tendem como finalidade última. J Royce (1855-1916) Neo-idealista americano com influências pragmatistas diz que a finalidade de tudo e todos é o Absoluto donde tudo deriva e para onde tudo se dirige, é a Vontade absoluta pela qual são conservadas as coisas e todos os fins particulares. O Absoluto (Deus) realiza-se nas coisas mas essencialmente no homem. Benedetto Croce (1866-1952) Ministro da Educação no tempo de Mussolini. Voltar a Hegel após o desenvolvimento que a filosofia já tomou com os movimentos subsequentes, eis o que deve pretender a filosofia hoje. O homem deve ser artista, económico, moral e lógico. Como hegeliano que é salienta o argumento histórico como preponderante: «Deus fala pelos factos históricos que assim mediante a história entra no campo da razão! Enquanto salienta o valor do argumento histórico exagera-o mais que Hegel elevando factos temporais fúteis à condição de absolutos…! G Gentile (1875-1944) Professor na Universidade de Palermo, morreu fuzilado pelos partigiani. A religião é a antítese da arte, a exaltação dos objectos que têm como princípio Absoluto Deus diante do qual o homem se aniquila misticamente. A religião tem papel fundamental na educação do espírito. Como ministro da Educação desenvolveu uma campanha contra a escola laica. Deve haver uma síntese entre ser, religião, moral, arte, história sob a dependência do Absoluto. O estado deve conceber-se como uma realização espiritual do homem, não positivista. Fenomenologia E Husserl 1859-1938) A fenomenologia iniciada por Brentano e Scheller foi aperfeiçoada por Husserl que se tornou o protagonista do método fenomenológico desenvolvido negativa (epoche) e positivamente (zu der Dage selbst) a fim de contrariar quer o método empírico Inglês quer o criticista idealista alemão e positivista francês. Tem dois momentos especiais: a redução eidética e redução transcendental. Esta última «epoche» é que estuda a consciência pura, vazia de todo o fenómeno. O Papa João Paulo II formou-se neste método que pretende mediante uma 248


análise rigorosa da consciência e do espírito descobrir princípios intuitivos e espirituais acima dos sentidos em que o fecharam o positivismo e empirismo. Husserl diz que o seu método serve para o conhecimento de Deus. Existencialismo Filosofia muito influenciada pelo ambiente: após a dura experiência da 2ª Guerra mundial os pensadores debruçaram-se sobre as causas destes conflitos humanos que trazem à humanidade a angústia, a dor, a morte; encontraram as causas nas forças irracionais, nos instintos de morte que Freud anunciara. O método é experimental mas antipositivista, desenvolve-se sobretudo no campo antropológico, na expectativa de encontrar forças inexploradas no homem que expliquem porque em certas épocas é mais levado por energias obscuras irracionais que por ideais nobres. Representantes alemães: Heidegger, Jaspers (filósofos); K Barth, P Tilich, F Gogarten, R Baultmann (teólogos) Na França: J P Sartre, G Marcel, M Ponty, A Camus, R Senne, L Lavelle. Espanha: Ortega y Gasset. Itália: N Abbagnano, E Paci.

M Heidegger (1889-1976) Tido como o principal representante do existencialismo. Na sua obra escrita ainda na juventude Sein und Zeit (ser e tempo) ele põe o grande problema filosófico de todos os tempos: saber o que é o ser e como o encontrar; toma o homem como protótipo do ser e examina-o segundo o método husserliano. Todo o existencialista tem uma angústia, a de Heidegger é a morte, o princípio de individuação, a casca onde cresce o fruto humano. Deus é o Ser, os entes aparecem no Ser! Nb: foi hitlerista, o que não é compatível com um filósofo católico que se preparava para ser jesuíta. K Jaspers (1883-1969) A razão humana é impelida para além dos seus limites para a transcendência em direcção a Deus. A morte não é de temer, será absorvida na vida, a imortalidade feliz não depende do nosso saber mas é consequência do nosso amor aos semelhantes e ao Ser Supremo! J P Sârtre (1905-1880) 249


O Ser e o nada, a Nausea; o diabo e o bom Deus além de outras são obras conhecidas em todos os meios cultos e não só. A liberdade absoluta só existe para a escolha do projecto de vida; todas as outras escolhas são condicionadas pelo projecto originário. Toda a realidade é para o homem uma paixão para fundar e encontrar o Ser que escapa à contingência, o Ens causa sui (o Ser que é causa de si mesmo) que todas as religiões chamam Deus. O homem aniquila-se enquanto homem para fazer nascer Deus…o homem é uma paixão inútil. O homem é o ser que tem como projecto Deus. Deus é aquele que decide o coração humano a realizar seu projecto fundamental. Deus é um desejo do homem…! Frases dispersas de um pensador que a par de Feuerbach, Nietzsche, Russell faz um Deus segundo os seus desejos e aprova a política e moral comunistas. A Camus (1913-1960) Advoga o suicídio para se libertar da angústia G Marcel (1887-1973) Existencialista católico, escreveu Le mistère de l‟être. É um existencialisa socrático-cristão, pondo em relevo a tradicional metafísica tomista sobre o ser: o homem é um espírito incarnado, um viator à procura do Ser; a vida é uma peregrinação através do saber e do bem para chegar ao Ser. Há, diz, um ser para além de todo o dado, além de tudo aquilo que pode fornecer a matéria, um princípio misterioso que está em convivência constante comigo, quer o meu bem; o universo tem sentido para mim porque é caminho para Ele, afasta pela esperança de o encontrar o desespero existencial. Chega-se à transcendência do Ser não pela lógica mas pela intuição. O homem é feito para Deus, não tem outra medida e não pode deixar de reconhecê-lo quando passa na sua proximidade. A atitude conveniente do homem diante de Deus não é a de interrogação nem especulação mas adoração, humildade, oração. O filósofo deve falar a Deus, não de Deus. É tempo para o metafísico compreender que a adoração de Deus é a terra firme pela qual pode participar da Transcendência dentro da sua limitação natural. Enquanto os demais existencialistas, Kierkegaard inclusive têm como característica algo que os angustia, que os prende numa camisa de forças, 250


Marcel não deixa de reconhecer as circunstâncias angustiosas mas julga-as transitórias e ultrapassáveis pela esperança, fé em transcender as angústias ao atingir o Ser; desde já portanto, alegria na adoração do Ser que nos transcende mas nos quer no reino da Sua Transcendência…! A filosofia de Marcel demonstra que como se vive assim se pensa; Marcel, católico é um existencialista diferente de todos os demais existencialistas perante a angústia humana porque sua vivência é diferente, põe a esperança onde os demais põem o cinto da angústia. Neopositivistas L Wittgenstein (1889-1952) Afirmado como sendo o filósofo mais notável na idade posmoderna ou contemporânea, pertence ao grupo dos positivistas renovados, tendo também influências existencialistas, mas quiçá a sua maior fama lhe advenha de ser um acérrimo defensor da linguagem. No seu Tractatus limita a linguagem ao campo da lógica e fisicalidade combatendo acirradamente o que chama o uso indevido da linguagem na metafísica e religião. Os escritos póstumos que ultimamente se têm publicado apresentam um W. totalmente outro (A Revista Portuguesa de filosofia dedica um dos seus números de 2003 por inteiro ao pensamento de W posterior ao Tractatus, onde o filósofo se retrata e confessa finalmente que a linguagem pode também exprimir a metafísica e religião). A análise da linguagem é um instrumento indispensável para a pesquisa filosófica e teológica; W prestou um grande serviço a todas as ciências, a estas principalmente quando afirmou que traz sempre valiosas descobertas a pergunta: com que finalidade uso tal palavra, tal proposição? Wittgenstein é católico não praticante mas o ter-se oferecido como voluntário para trabalhar ao serviço da Cruz Vermelha na recolha de feridos e cadáveres durante a última guerra mundial mostra pelo menos um fundo cristão recebido de Cristo no baptismo. R Carnap (1891-1970) Judeu pertencente ao círculo de Viena, a famosa escola da fisicalidade e da redução da linguagem à mera esfera da ciência experimental; refugiou-se na Inglaterra quando Hitler invadiu a Áustria. Deus é interpretado diferentemente conforme a linguagem: mítica (Deus é um ser antropológico); metafísica (Causa Primeira, Absoluto); mística (Ser Supremo envolto na experiência cristã emotiva ). A J Ayer (1910- 1989) Protestante Inglês neopositivista e linguista. 251


Afirma que a linguagem nem sempre é adequada ao conteúdo, especialmente em religião. Para se concluir com certeza que Deus existe é preciso que as proposições usadas como premissas sejam certas; as proposições «a priori» são logicamente certas mas não servem para demonstrar a existência real, são meramente tautológicas; só as provas empíricas podem levar-nos a maior ou menor probabilidade conforme a referência que os seres empíricos têm com Deus. Por Deus designamos um ser dotado de atributos transempíricos; muitas vezes o nome Deus não é autêntico porque não encerra o conteúdo que lhe convém como Ser Supremo. Ayer é censurado por usar o critério reducionista da fisicalidade que ele pretende aplicar a todas as ciências, filosofia e religião inclusive. Joad, Warnock, Lewis demonstraram-lhe claramente que o critério da fisicalidade era contraditório, isso o obrigou a dar a mão à palmatória.

Estruturalismo, Linguagem O estruturalismo é uma reacção ao existencialismo, surgiram numerosos: Strauss, Foucault, Althuser, Lacan, Chomsky, Derrida. Na filosofia antiga, a palavra que melhor corresponde a estrutura é forma que consiste em encontrar laços para unir o múltiplo da matéria. Os matemáticos usam função, os psicólogos a associação( gestalt) Husserl investigou as estruturas da intuição. Kant, Fichte, Hegel a estrutura do “eu”. Os teóricos do estruturalismo são teóricos da linguagem como os analistas e neopositivistas mas não têm em vista o significado “meaning” da linguagem, sim a investigação directa e exclusiva da técnica linguista afim de que ela sirva para todas as ciências independentemente do “meaning”. Estas tentativas foram desenvolvidas antes de mais por Saussure e a seguir por vários outros. Os antropólogos quer físicos quer culturais também aplicaram este método ao estudo das sociedades primitivas. C Levi-Srauss (1908-1970) Belga, fixou o estruturalismo da linguagem nas seguintes regras: o método consiste em passar dos fenómenos fónicos cônscios para as subestruturas inconscientes do espírito; os termos devem considerar-se não separados mas em correlação; a linguagem é um sistema que procura através da indução dos factos chegar a leis gerais…!

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A estrutura que Saussure definiu como exclusiva da língua estende-se a todas as manifestações: culturais, religiosas, artísticas, filosóficas, científicas, mitológicas porque todas usam a linguagem como instrumento de expressividade. Ele entrou no campo filosófico quando constatou que as estruturas do espírito humano foram descobertas antes pelos iniciadores dos sistemas filosóficos do passado. Aristóteles, por exemplo, coloca no espírito a estrutura permanente que interpreta unitariamente o devir dos fenómenos naturais e humanos, chamando-lhe forma; o logos dos estóicos; o intelecto agente de Averróis; o eu puro de Fichte; o espírito absoluto de Hegel são diversos modos de interpretar a estrutura da mente humana. Strauss oferece várias interpretações da origem da estrutura, uma delas seria a mente colectiva dos povos, adquirida através da análise social: a estrutura de uma sociedade faz as estruturas mentais dos seus indivíduos. Se um indivíduo vive numa sociedade mitológica tem uma estrutura mental mítica; se numa sociedade religiosa tem a estrutura religiosa dessa sociedade! Não há dúvida que a sociedade influencia nas ideias quer cívicas quer religiosas e assim vemos que poucos, se é que alguns indivíduos há que não tenham influência da filosofia, teologia ou religião em que foram educados e em que vivem mas as estruturas mentais dependem das mentes anteriores à sociedade. M Foucault (1926-1984) Francês, médico, estudou a ligação da linguagem com as estruturas corporais, depois estendeu as leis da estrutura corporal à história dentro da qual envolve todas as ciências. Autor do “arquivo”: estrutura linguística histórica, basilar para todos os enunciados seja qual for a ciência a que se referem. A ciência que estuda a natureza do arquivo chamar-se-á arqueologia do saber. A história influencia os enunciados conforme as épocas. Os enunciados filosóficos e religiosos têm sentido conforme as épocas. Foucault usa a história para estudar a arqueologia do saber e pretende saber que estrutura existe na mente que faz mudar o sentido dos enunciados de época para época: o vocábulo ser no tempo de Aristóteles tinha um significado e no de Descartes outro, depende da estrutura mental que opera estas mudanças de época para época…! O vocábulo Deus significa uma coisa numa sociedade e outra noutra bem como numa época e noutra! O método estruturalista tem as suas virtudes e os seus defeitos como todos 253


os outros. Se pretendesse aplicar-se a todas as ciências resultaria em fracasso como o da fisicalidade e imanência…! F Saussure (1857-1913) Suíço, pretende que a linguagem seja um conjunto de sinais correspondentes a outros, não a objectos ou ideias. A linguagem deve ser uma ciência independente de teorias relativas a filosofia ou teologia, quaisquer outras ciências, ter significado em si mesma. A linguagem é uma estrutura básica universal sem ligação porque anterior às demais estruturas: a linguagem é sons entendidos imediatamente pelos que os ouvem; cada elemento é entendido em relação ao todo…!? Os filósofos seguintes actuais têm influências mas não são tão apologistas do estruturalismo como Saussure e Foucault. J Baudrillard (1929 J Derrida (1930-2004) J Lacan (1901-1981)

Neomarxistas Têm influências do velho marxismo mas trata-se de um marxismo muito mais temperado que o de Marx sem a pretensão de interpretar tudo segundo uma dialéctica materialisata anticapitalista, antireligiosa, antipatronal, determinística. A dialéctica é estabelecida pelos indivíduos e estabelece-se para qualquer alienação que não simplesmente a económica. Os regimes comunistas por vezes são tão alienantes dos indivíduos como os capitalistas. A respeito da religião, os marxistas heteredoxos têm uma noção da religião muito mais profunda que os ortodoxos: a religião não serve apenas como lenitivo do pobre e oprimido mas é um importante elemento de luta e superação das tiranias. A religião cristã, diz Garaudy, esteve sempre conosco comunistas a lutar contra qualquer forma de opressão que está longe de ser unicamente a do capitalismo sobre o operário! A Gramsci (1891-1937) Italiano: a dialéctica deve estabelecer-se entre idealismo e materialismo a ponto de encontrar um equilíbrio, não apenas a dialéctica idealista de Hegel, nem a materialista de Marx. H Marcuse 1898 Alemão judeu: Estabelece uma dialéctica universal para resolver todos os 254


conflitos porque por enquanto o homem trouxe o inferno do outro mundo para este. Critica os totalitarismos políticos vindos de tantos lados até mesmo da parte dos marxistas. Critica os métodos da filosofia contemporânea: empirismo, operacionismo, linguística, inadequados do ponto de vista gnosiológico, aplicados a servir em vez de combater os erros e políticas do tempo. Marcuse também procura o Transcendente mas enquanto o procura no espaço e no tempo, tudo querendo ver sob o prisma do prazer, será difícil que o encontre. Marcuse pensa que a natureza humana se vai redimir a si própria sem precisar de salvador e que o paraíso se vai estabelecer sobre a terra. Poderia ser mas não apenas pelos meios económicos e busca do prazer universal que ele preconiza! E Bloch (1885-1970)…! Alemão. Publicou como a melhor expressão do seu pensamento a obra Ateísmo e cristianismo. É de tal modo revisionista que aboliu o princípio sagrado dos marxistas, a dialéctica da matéria substituindo-o pelo da possibilidade, o “ainda não”, a esperança em vez da profecia da vitória do proletariado sobre o capitalismo. O homem por natureza tende para o possível que se lhe apresenta futuro. A vida humana é animada pela esperança de um novum ultimum, aquela instância em que ouçamos: para, chegou a beleza, chegaram o novo céu e a nova terra, porque assim está escrito “eis que faço novas todas as coisas”. A religião tem uma importância fundamental na vida do homem, não é uma alienação como pensaram Feuerbach e Marx mas uma ajuda na luta contínua para a mudança do mal em bem. Deus é o “absconditus”, não se realiza no homem agora mas só no mundo futuro, o ainda não alcançado; vive desde já em nosso interior embora não coroado; os ensinamentos dos profetas e particularmente o de Cristo não são de modo algum ópio do povo mas um protesto contra tudo o que se opõe a uma vida humana mais justa e feliz. A religião oferece os elementos que constituirão o reino futuro que agora antevemos na esperança, pois o homem define-se o ser que espera…! R Garaudy (1913- …) A igreja católica, diz, operou transformações sociais de suma importância como a abolição da escravatura, a igualdade do homem e da mulher, descobriu os conceitos e o respeito pela pessoa, os conceitos e prática do verdadeiro amor, da liberdade e transcendência. Quando em plena sessão do partido comunista assim falava foi expulso do partido que queria atribuir-se o mérito de defensor de todas as liberdades! 255


Nós marxistas nunca desdenharemos da fé, das esperanças, ideais do cristianismo mas achamos que sem a revolução comunista há estruturas que resistem a este ideal que nem a confissão religiosa mais pura, o catolicismo conseguiu desfazer; devemos juntar nossas forças ao cristianismo para que as esperanças de uma sociedade renovada não sejam ilusórias mas se concretizem quanto antes; devemos combater para que o ideal cristão de trazer o céu para a terra se concretize na sociedade; o marxismo deve integrar a maravilhosa comunidade dos santos! Após a invasão da Checo-Eslováquia, da repressão de Gdansky e outros episódios Garaudy sofreu um profundo choque nas esperanças de o marxismo ir trabalhar para o reino de Deus sobre a terra. Abandonemos de vez o modelo soviético, voltemo-nos para os países industrializados, falemos-lhes em rever a sua conduta para com os trabalhadores, unamo-nos com a Igreja católica na luta pela igualdade social preconizada nas encíclicas dos chefes. Cristo não é o roubador das energias humanas, abandone-se este errado conceito. O homem deve ser inventado, renovado todos os dias nos seus ideais e prática; a própria igreja ficou estática muito tempo; juntemos forças para que advenha o reinado do homem novo. M Horkheimer (1895-1950) Alemão, fundou com Marcuse, Adorno, Fromm a revista de pesquisas sociais em Frankforte onde se teorizou de várias formas o socialismo comunista mas de modo geral é neopositivista, crítico de todos os sistemas. Embora marxista convicto criticou quase todos os pontos de vista de Marx. Em relação à religião criticou Marx por não ver os grandes benefícios da religião, reduziu-os a mero remédio popular! Nietzsche, diz, quis libertar o homem dos vínculos da moral e da religião mas com isso levou o homem a ser dominado pelos instintos cegos; há que escolher e optar por valores certos, não pensar por exemplo que o conforto social substitui a salvação da alma! Na Nostalgia do totalmente outro Horkheimer corrige várias das suas atitudes anteriores e valoriza a religião não só no sentido de contribuir para felicidade do homem corporal mas também porque desenvolve a necessidade de transcendência do homem: o pensamento humano se não for ajudado teologicamente não pode alcançar a realidade Infinita do ser de Deus nem compreender o modo da sua existência. Toda a moral deve ser remetida à teologia para ter uma base de segurança acima do devir humano. Devemos agir com o sentimento da presença de Deus em nós; o meu 256


problema de Deus é que Ele não é representável, não obstante é objecto da minha nostalgia! A teoria crítica da sociedade acaba por remitir para o Outro, para o Teológico…! Adorno, colaborador íntimo faz um todo com o mestre mas tem uma particularidade: defende o indivíduo e a pessoa humana de tal modo que não consente na sujeição à tirania que lhe impõem os sistemas totalitários.

Epistemólogos neopositivistas Desde que Comte remeteu a filosofia para a esfera das ciências e lhe atribuiu como tarefa própria determinar os objectos das ciências, coordená-las, dividilas, os filósofos voltaram-se para as ciências procurando fazer a filosofia de cada ciência. Aprofundar as características das ciências tornou-se necessário ao notar-se o seu progresso enquanto a filosofia marcava passo. A epistemologia é portanto a filosofia das ciências, trata-se de uma espécie de crítica feita a cada ramo do saber. O seu método é empírico-pragamático. B Russell (1872-1970) Já citado porque pertence a várias correntes Inglês protestante, abandonando a prática religiosa aos 16 anos, os historiadores designam-no por agnóstico. É um dos principais representantes da epistemologia tornando-se mundialmente conhecido pelo livro que compôs em colaboração com Whitehead “ Principia mathematica”; adopta as teorias linguistas de Wittgenstein expostas no Tractatus. É difícil dar-lhe um lugar na filosofia porque oscilou constantemente passando de uma corrente para a outra mas de um modo geral predomina nele o espírito da filosofia inglesa do empirismo e experimentalismo. O corpo e a alma são definidos por Russell em termos de dados sensoriais, chega ao ponto de afirmar que mesmo que outras pessoas não existissem teria a mesma experiência (solipsismo)! Sobre a moral é também oscilanate: admite os conceitos morais segundo a tradição mas por outro lado diz que a moral não é uma verdadeira ciência, o mal é incompatível com um Deus bom e omnipotente, por isso abandonou a religião!

257


Não consigo elaborar uma prova válida da existência de Deus mas também não consigo outra que demonstre a sua inexistência, a mente humana não tem argumentos decisivos nem a favor nem contra a existência de Deus. Portanto Russell não é contra Deus, mostra-se simplesmente agnóstico, ataca sim virulentamente as igrejas cristãs porque foram causa das guerras religiosas e obstáculos à liberdade interior e tranquilidade dos espíritos! K Popper (1902-1994) Alemão protestante adoptando o critério da falsificalidade pelo qual distingue o científico do não científico; segundo este critério a religião seria não científica. Muito contestado este critério pois não há nada que não possa ser falsificado seja no mundo científico ou qualquer outro domínio. T Kuhn (1922…. ) Autor dos paradigmas dizendo que não há um critério uniforme de ciência tendo variado desde Aristóteles a Copérnico, Galileu, Newton, Einstein. A ciência deixa de o ser pelos puzzles que acumula e não sabe resolver. A ciência por vezes é antes uma crença infundada! E Meyerson 1859-1933) Francês afirma que a ciência exige a metafísica, não há ciência sem realidade e a realidade é metafísica. A Eddington (1882-1944) A física exige leis universais e metafísicas que «a priori» estão supostas quando se trata das ciências fenoménicas. G Bachelard (1884 …..) Francês, diz que as ciências são inexplicáveis sem a metafísica porque os princípios em que se fundam (a realidade da matéria e das formas) são princípios metafísicos. H Lotze (1817-1881). Médico e filósofo foi um dos primeiros a reagir contra a onda materialista positivista dizendo que o método fisicalista não podia ser universal, não tem aplicação nas ciências humanas. W Wundt (1832-1920) Psicólogo e fisiólogo vai na linha de Lotze.

258


H Rieckert (1863- 1936) Há 2 lógicas: a das ciências naturais e a das ciências históricas, cada uma com seu método diferente. W Dilthey (1833-1911) Autor de várias obras espiritualistas entre as quais “Construção do mundo histórico, Essência da filosofia” são as 2 principais; nelas desenvolve um combate demolidor ao positivismo com afirmações como esta: só pode saber o que é o espírito quem vive de espírito; quando os que vivem da física vão tratar do espírito estão votados ao fracasso, como foi o caso dos positivistas…! Fim da história

Neotomismo Citamos acima a conclusão a que chegou a chamada filosofia moderno/contemporânea, então chegou o fim do mundo da filosofia? Na Alemanha Baumgarten, Bolzano. Em França Maritain, Sertillanges, Mercier e vários outros pensadores de renome vinham sucessivamente advogando o regresso a uma filosofia de escola, dado que a individualista moderno/contemporânea chegou ao descalabro com que Baudrillard a caracteriza «une charadie»…! O papa Leão XIII deu o mote designando de Perene a filosofia que a escola deveria adoptar. As escolas católicas embora com diferentes facetas adoptaram como base de suas filosofias os princípios da Escolástica medieval a que geralmente deram o nome de Neotomismo. J Hirschberger, um dos mais conceiturado historiadores advoga que deve chamar-se filosofia católica não só porque são as escolas católicas que a ensinam mas também porque realiza o significado do termo, é a filosofia univerdal na geografia e no tempo. Nós em este nosso trabalho vimos usando perene, neoscolástica, neotomista, católica indiferentemente. Esta filosofia perene adoptada universalmente pelas escolas católicas é aquela que não só ilumina mas oferece as bases para quem deseja assentar a existência sobre sobre ideias em vez de imagens. Entra em diálogo com todas as correntes e problemáticas do nosso tempo, a plêiade de pensadores de nomeada é uma autêntica floração. As escolas católicas a partir da Europa estenderam-se ao mundo, hoje cobrem os 5 continentes, as estatísticas actuais oferecem o signicativo número de 205, na maioria escolas superiores entre as quais as grandes Universiddes…! 259


Nomeando algumas Milan, Roma, Paris (Institut catholique), Lovaina (Institut superieur de philosophie), Niemega, Friburgo, Insbruck, Munich, Washington, Notre Dame USA, St Louis, Toronto (Pontifical Institut of mediaeval Studies), Ottawa, Madrid (Luís Vives), Lisboa, Porto, Braga, Luanda. Na Ásia Karachi (Instituto franciscano). Na Austrália Sidney Na América Latina em quase todos os países mas sobretudo Brasil e Argentina. Na Africa várias: Kenia, Tanzânia, Angola, África do Sul…! Le Bulletin Thomiste apresenta em média de 500 publicações anuais provenientes dessas escolas. Os colaboradores do Bulletin têm publicado obras importantes respondendo às questões actuais da ciência com diálogo semelhante ao medieval a «fé procurando a razão, razão procurando a fé» demonstrando que é preconceito da filosofia moderna o slogan Kanteano «tive de admitir pela fé o que neguei pela razão»: a fé é um auxiliar imprescindível da razão, salvou-a da bancarrota (cf história). Eis a filosofia que oferço aos meus alunos, a do homem que anda com os pés no chão, a cabeça erguida até à altura do Ser. Scolion final São as ideias que governam o mundo (slogan) As ideias são os seres mundanos oriundos da Mente Suprema (Platão) Os seres São arquétipos na Mente Divina (Tomás de Aquino) São criaturas de matéria/forma no cosmos (Tomás de Aquino) São ideias abstractas da matéria/forma na mente humana (T Aquino) São escada para a mente humana subir até Deus (Boaventura). Juíz universal do uso livre das ideias por cada humano (Deus). A filosofia ilumina, não salva, só Jesus Cristo salva o homem (Agostinho).

29

Elenco

260


INÍCIO

585

MILETO

624-562

COLOFON 610547

TALES ANAXIMANDRO

585525

ANAXIMENES

580460

XENOFANES

SAMOS

530

PITAGORAS

EFESO

500

HERACLITO

CROTON

490

ALCMEÃO

ELEIA

475

PARMENIDES

A.GENTO

464

ZENÃO

SAMOS

450

EMPEDOCLES

CROTON

444

MELISSO

CLAZO

425

FILOLAU

MENA

500428

ANAXAGORAS

ABDERA

481410

PROTAGORAS

ABDERA

450400

LEUCIPO

ABDERA

460370

DEMÓCRITO

380

ARQUETIPAS

TERENTO 484-427

GORGIAS

SICILIA

VIV

ANTÍSTENES

CINOS

VIV

DIOGENES

ARGE

VIV

ARISTIPO

CIRENE

VIV

EUCLIDES

261


360270

PIRRO

MEGARA

341270

EPICURO

ATENAS

469400

SOCRATES

ATENAS

427347

PLATÃO

ESTAGIRA 384322

ARISTOTELES

ATENAS

336274

ZENÃO

281208

CRISIPO

5038AD

EPICTETO

465AD

SENECA

121180

MARCO AURELIO

?260

EPICURO

360270

PIRRO(N)

412-322

DIÓGENES,CÍNICO

214129

CARNÉADES

II AD

SEXTO EMPIRICO

II AD

CICERO

ROMA

ATENAS

ROMA

ALEXAND. I AD

AD FILON

PATRÍSTCA

150-215

CLEMENTE DE ALEXANDRIA

185-254

ORÍGENES

204-270

PLOTINO

354-430

STO AGOSTINHO

262


MEDIEVAL

QUEDA DO IMPÉRIO 480 524

SEVERINO BOÉCIO

10331109

ANSELMO DE AOSTA

10961141

HUGO (S VITOR)

-1173

RICARDO (S VITOR)

-1182

JOÃO DE SALISBURY, CHART.

10791142

ABELARDO

980 037

AVICENA (IBN SINA)BUKARA

11261198

AVERROIS (IBN ROSHD) CORD.

12251274

T DE AQUINO, ROCCASECA

1221-1274

B.VENTURA BAGNOREGIO, VIT

12651308

DUNS SCOT, MAXTON, ESC.

12901349

G. DE OCCAM, OCCAM, ING.

1296-1366

H SUSO

14011464

NICOLAU DE CUS, CUES, ALEM

1466-1536

ERASMO , ROTERDÃO

1469-1527

N MACHIEVEL, ITÁLIA

1588-1679

T HOBBES, INGLATERRA

263


12661327

0 J.RUYSBROECK

1296-1366 1300-1350 1548-1617

SUAREZ, COIMBRA

EL B

DENIFLE EHRKE ROUSSLOT MARECHAL G FESSARD EMILE CORETH EDITH STEIN R GUARDINI K BARTH P TILLICH MC COOL M MULLER J BLOZ B WELTE OTTO PESSCH HENRI LUBAC J MURRAY G SIEWERTH E CORETH THOMISM 1970-1995 3500 ENTRADAS A PARFOORT J PE OLIVEIRA G LAFONT I TORREL

JUAN ARINTERO M LABOURDETTE P. T DE CHARDIN AMROSE GARDEIL R G LAGRANGE A SERTILLANGES LOUIS BILLOT JACQ MARITAIN CHARLES JOUNET ERICH PRZYWARN ETIENNE GILSON M D CHENU) YVES CONGAR B. LONERGAN K RAHNER . SCHILLEBEECKX J DANIELOU

1859-1931 1877-1964 1863-1948 1846-1931 1882-1973 1891-1975 1869-1972 1884-1978 (1895-1990 1904-1995 19O4-1984 1904-1984 1914…. 1946…

P NIGER J CAPREOLUS A FLORENCE D DEZA PIO V

1451 1446 1459 1523 1567

J TINCTORIS TH DE VIO F SYLVESTRIS

1520 1528 264


UNIVERSIDADES

FORDHAM ROMA GREGORIANA ANGELICO LATRAN LOVAINA MAINZ PLACÊNCIA MUNIQUE TORONTO MONREAL

F DE VITÓRIA D DE SOTO D BANES M CANO TRENTO L MOLINA F SUAREZ JO DE S TOMÁS V CONTENSON G VANN GRABMANN A PATRIS L XIII D ANGELICI P X AS 24 TESES J KUN P SCHANZ N DEL PRADO S RAMIREZ

1546 1560 1604 1560 1545-1563 1588 1548-1617 1644 1674 1530 1870 1879 1914 1914

TH O MEARA O. P. NOTRE DAME EL C PERENE

MODERNA 1596-1650 1561-1626 564-1642 1632-1677 1646-1715 1642-1727 1632-1704 1685-1753 1788-1860 1818-1883 1844-1900 1711-1776 1724-1804

R DESCARTES

J HIRSCHBERGER 1994 H BARCELONA

R BACON G CALILEU B SPINOSA G LEIBNIZ I NEWTON J LOCK G BERKELEY

A BRUNNER A Dempf A Gemelli A Mitterer A Sertillanges B Lakebrink

A SCHOPENHAUER K MARX F NIETZSCHE D HUME I KANT

B Lonergan B Rosenmoller C Baeumker C Bruaire 265


1712-1778 1713-1784 1694-1778 1770-1831 1762-1814 1775-1854 1804-1872 1723-1790 1891-1937

JJ ROUSSEAU D DIDEROT F VOLTAIRE F HEGEL J FICHTE F SCHELLING L FEUERBACH A SCHMITH A GRAMSKI

1999 D ROBINSON 1813-1855 1877-1973 1883-1969 1874-1928 1838-1917 1859-1938 1879-1936 1905-1980 1913-1960 1806-1873 1748-1832 1848-1925 1872-1970 1861-1947 1906-1978 1891-1970 1910-1989 1833-1911 1859-1952 1909-1882 1889-1951 1911-1960 1900-1976 1856-1939 1915-1980 1639-1814 1842-1910

S KIERKEGAARD G MARCEL K JASPERS M SCHELLER F BRENTANO E HUSSERL M HEIDEGGER JP SÂRTRE A CAMUS S MILL J BRENTAN G FREGE B RUSSEL A WHITEHEAD K GODEL R CARNAP A AYER W DILTHEY J DEWEY C DARWIN L WITTGENSTEIN J AUSTIN G RYLE S FREUD R BATHES C PEIRCE W JAMES

C Nink Caffarena D Feuling D Hildebrand D Mercier D Raemaecker D Wulf Dyroff E Brehier E Coreth E Gilson E Przywara E Stein F Dessauer F Kutschera F Steenberghen G Siegmund G Siewerth G Sohngen G Wunderle Garrigou-Lagrange H Dolch H Hengstenberg H Kuhn H Lutzeler H Martius H Meyer H Rommen J Greyser J Bochenski J Cuttat J Engert J Finance J Forbes J Geyser J Hasenfuss J Hellin J Hessen J Hommes 266


J MARITAIN

1882-1973 1902-1994 1886-1965 1878-1965

K POPER P TILLICH M BUBBER

1908 1931 1940 1932 1857-1913 1874-1928

W QUINE R RORTY S KRIPKE J SEARL F SAUSSURE M SCHELLER

1908 L STRAUSS 1878-1950 1872-1956 1858-1947 1859-1941

B SPANN L KLAGES M PLANCK H BERGSON

1941 J KRISTEVA 1930-2004

J DERRIDA

1922 T KUHN 1901-1981 1924-1998 1926-1984

J LACAN JF LYOTARD M FOUCAULT

1929 J BAUDRILLARD 1924-1994 1908-1964 1798-1856

P FEYERABEND CL STRAUSS A COMTE

W Platzeck SMITH

J Koch J LEVINAS J Lindworski J Lotz J Marechal J Maritain J Mausbach J Moller J Pieper J Schwertschlager J Vries K Rahner L Baur L BLOIS L Gabriel L Puntel M Blondel M Grabmann M Reding M Wittmann O Most O Wilpert P Bohner P Descoqs P Favraux P Ricoeur R Berlinger R Guardini R Messner T Steinbuchel V Cathrein V Rufner V Rufner W Brugger

267


268


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