EVE - CAP 01- 06

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Anna Carey – EVE – Dark Knight Este livro foi traduzido pela Dark Knight para proporcionar a leitura daqueles que não puderam pagar e para ler livros ainda não lançados No Brasil. Nosso grupo de tradução é uma organização sem fins lucrativos e por favor, não venda e nem troque . Após sua leitura considere seriamente a possibilidade de adquiri estará incentivando o autor e a publicação de novas obras. Dark Knight www.facebook.com/Darkknight

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Talvez não quisesse saber realmente O que está acontecendo Talvez seja melhor que não saiba Talvez não possa suportar sabe-lo A queda foi uma queda Da inocência ao conhecimento

Margaret Atwood O conto da Criada Minha querida Eve:

Hoje, ao regressar do mercado no carro, enquanto cantarolava em seu assento com a bolsa cheia de arroz e leite em pó, vi as montanhas de Sam Gabriel, as vi realmente pela primeira vez. Havia dirigido anteriormente por esta mesma estrada, mas desta vez foi diferente. Ali, atrás dos para-brisas, estavam os imóveis e silenciosos cumes verde azulados, vigiando a cidade, tão próximos que quase podia tocá-los. Eu me detive e a contemplei-as. Sei que vou morrer logo. A epidemia está matando a todos que se vacinaram. Não existem aviões. Os trens não estão funcionando. Todos os acessos à cidade pela estrada foram cortados, e só nos resta esperar. Os telefones e a internet já não funcionam há muito tempo. As torneiras estão secas e as cidades, uma a uma, estão ficando sem energia elétrica. Dentro de pouco tempo o mundo sumirá nas trevas. No entanto, neste momento estamos vivas, talvez mais vivas que nunca, Você dorme no quarto ao lado, de minha poltrona, e ouço o som de tua caixa de música, a da pequena bailarina, tocando as últimas notas.

Te amo, Te amo, Te amo.

Mamãe

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UM Quando o sol se pôs sobre o muro de quinze metros de altura que rodeava o colégio, o jardim estava infestado de alunas do segundo ano. As menores, penduradas nas janelas dos dormitórios, agitavam suas novas bandeiras americanas entre cantos e bailes. Peguei Pip pelo braço e a fiz girar quando a orquestra tocou uma música mais rápida; sua risada, breve e entrecortada, superou o som da música. Era a noite anterior a nossa formatura e estávamos celebrando. Havíamos passado grande parte da vida dentro daqueles muros, sem haver conhecido o bosque que existia do outro lado e aquela era a maior festa nos haviam oferecido. Em frente ao lago foi instalada uma orquestra, formada por um grupo de meninas do primeiro ano que haviam se oferecido como voluntárias, e as guardas acenderam as tochas para espantar os falcões. Sobre uma mesa esperavam meus pratos favoritos: perna de cervo, javali assado, ameixas cristalizadas e fontes cheias de frutas silvestres. A diretora Burns, uma mulher flácida, com cara de buldogue, encabeçava a mesa e animava todo mundo a comer. -Vamos, Vamos comer! Não quero que sobre nada! Quero minhas meninas como porquinhos gordos! As carnes de seus braços balançavam enquanto mostrava a comida. A música mudou para um ritmo mais lento , e abracei Pip para dançar uma valsa. - Creio que és um cara estupendo, disse, enquanto deslizávamos até o lagos. Seus cabelos ruivos cobriam seu rosto suado. - Sou um homem muito bonito. Eu ri e franzi a testa para parecer um homem. Era uma piada do colégio, porque levávamos uma década sem verum homem ou a um menino, exceto pelas fotos do rei que estavam expostas no salão principal. Pedíamos a nossas professoras que nos falassem da época anterior a epidemia, quando os meninos e meninas iam juntos ao colégio, mas elas se limitavam a nos dizer que o novo sistema nos protegia. O homens eram manipuladores, perversos e perigosos. A única exceção era o rei, somente a ele se podia obedecer e acreditar. -Eve, já é hora – disse a professora Florence, que estava em frente ao lago trazendo uma medalha de ouro em suas mãos manchadas e envelhecidas. O uniforme que vestia, próprio das professoras (camisa vermelha e calças azuis), era demasiado largo para seu corpo pequeno – Venham meninas!

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Anna Carey – EVE – Dark Knight A orquestra parou de tocar, e os sons do bosque encheram o lugar. Toquei o apito de metal que trazia ao pescoço, agradecida por tê-lo para o caso de algum bicho pular o muro do lugar. Apesar os anos vividos no colégio, jamais me acostumei com o som das brigas dos cães, o Ra-ta-ta-ta! Ra-ta-ta-ta! Das metralhadoras e os horríveis uivos dos veados quando eram devorados vivos. A diretora Burns se aproximou mancando da professora Florence e tomou a medalha que lhe era oferecida. - Vamos começar! –gritou, e as quarenta meninas do segundo ano formaram uma fila. Ruby, nossa melhor amiga, se pôs na ponta dos pés para ver melhor. – Todas trabalharam muito durante suas estadas no colégio, no entanto, talvez ninguém tenha se esforçado tanto como Eve – Se virou para mim enquanto falava. A pele de seu rosto, enrugada e flácida, pendia formando leves abas – Ela demonstrou ser uma das melhores e mais brilhantes alunas que já tivemos. Assim que, pelo poder que concede o rei de Nova América, te concedo a medalha de mérito. As companheiras a aplaudiram quando a diretora depositou a fria condecoração em minhas mãos e, por faltar algo, Pip levou os dedos aos lábios e soltou um estridente assovio. - Obrigado – disse em voz baixa, olhando para o grande lago, que como um fosso, se estendia de um extremo ao outro do muro, e meus olhos se fixaram em um enorme edifício sem janelas que ficava ao fundo. No dia seguinte, depois de pronunciar meu discurso de despedida diante todo o colégio, as guardas abaixariam uma ponte e as graduadas me seguiriam em fila indiana para atravessá-la. Naquela gigantesca construção aprenderíamos uma profissão. Havia dedicado muitos anos a estudar, a aperfeiçoar o latim, a redação e o desenho; havia passado horas ao piano, interpretando Mozart e Beethovem, sempre com aquele edifício presente a distância: o objetivo final. Sofia, a primeira da classe fazia três anos, havia lido no mesmo pódio um discurso sobre nossa grande responsabilidade como futuras líderes de Nova América. Queria ser médica para evitar mais epidemias. Certa que naquele momento já estava salvando vidas na capital do rei, a Cidade de Areia. Se dizia que o monarca a havia construído em um deserto, onde antes não havia absolutamente nada. Eu morria de desejo de estar ali. Eu queria ser artista. Para pintar retratos como Frida Kahlo ou paisagens de sonhos como Magritte, ou cobrir de afrescos as grandes muralhas da cidade. A professora Florence me pôs uma mão nas costas e me disse: - Representa a Nova América, Eve: inteligência, tenacidade e beleza; Estamos muito orgulhosas de você. A orquestra iniciou então uma canção muito alegre, e Ruby cantou sua letra em voz alta. As outras meninas riram e se puseram a dançasr, girando, girando, até enjoar.

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- Vamos comer um pouco mais. – A Diretora Burns empurrou Violeta, uma menina baixinha de olhos negros e amendoados, até a mesa. - O que está acontecendo? – perguntou Pip. Aproximando-se e tomando-me a medalha para vê-la melhor. - Já conhece a diretora – respondi, disposta a recordar-lhe que nossa professora mais velha tinha setenta e cinco anos, e sofria de artrose e havia perdido toda sua família na epidemia, doze anos antes. No entanto Pip negou com a cabeça. - Não me refiro à diretora, e sim a ela... Ardem era a única aluna do segundo ano que não participava da festa. Estava encostada em uma parede da casa, com o braços cruzados. Continua sendo bonita, apesar de sua carranca e do pouco favorecedor suéter cinza, em que brilhava na frente o emblema da monarquia de Nova América. A maioria das alunas tinham os cabelos longos, mas ela havia sacrificado seus negros cabelos por um corte de pajem que conferia a sua pele um aspecto ainda mais claro. Seus olhos cor de avelã tinham traços dourados. - Está tramando algo, eu sei – disse a Pip sem afastar a vista de Arden – Está sempre tramando. Minha amiga acariciou a medalha e sussurrou: - A haviam visto nadando no lago... - Nadando? Duvido. – Ninguém no colégio sabe nadar; não nos haviam ensinado. - Em seu caso tudo é possível – Opinou Pip, encolhendo os ombros. As alunas do segundo, em sua maior parte, haviam entrado no colégio aos cinco anos de idade, depois da epidemia, Arden, no entanto havia chegado aos oito , e por isso sempre foi diferente. Seus pais a enviaram aqui enquanto vaziam fortuna na de Cidade de Areia, e ela sempre gostou de recordas às demais aluna que, ao contrário das demais, ela não era órfã. Quando acabasse de estudar, iria viver sem precisar se esforçar na nova casa de seus pais. Nunca teria que trabalhar. Segundo Pip, este detalhe explicava sua conduta: como tinha pais, não lhe importava se a expulsassem; Sua rebeldia se manifestava em travessuras inofensivas: figos podres na aveia servida no almoço, um rato morto no banheiro, para completar a tarefa um pouco de pasta de dentes em cima. Mas as veze era mal, até cruel. Em uma ocasião cortou o longo e negro rabo de cavalo de Ruby para zombar da aprovação que esta tivera no exame de “os perigos causados pelo homens e meninos”. Contudo, Arden estava tranquila a alguns meses. Era a última a sentar-se para comer, a primeira a levantar-se e estava sempre só. Cresciam minhas suspeitas de que reservava a pior diabrura para a graduação de amanhã. De repente, ela se virou e foi correndo para sala de jantar. Eu a olhei com suspeita. Não me agradava que houvesse surpresas na cerimônia; já estava bastante

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Anna Carey – EVE – Dark Knight agoniada com o meu discurso. Diziam que o próprio rei iria assista-la pela primeira vez na história do colégio. Eu sabia que era um rumor difundido pela exagerada Maxine, mas, ainda sim se tratava de um dia importante, o mais importante de nossas vidas. -Diretora Burns, por favor, me permite ausentar-me? –pedi-. Esqueci minhas vitaminas na casa.- Busquei nos bolsos de meu uniforme, fazendo cara de frustração. A diretora estava junto à mesa de jantar. - Quantas vezes terei que lhe lembrar que as mantenha em sua pasta? Vá, mas não se distraia- advertiu enquanto acariciava o osso do javali assado, cuja cabeça estava queimada. - Sim, sim- afirmei tentando localizar Arden, que já havia ultrapassado a mesa de jantar- Assim será, senhora diretora. - Eu comecei a correr, depois de prometer a Pip que voltaria em seguida. Dobrei a esquina e me dirigi para a entrada principal do prédio. Nesse momento Arden se agachava junto ao edifício e se metia embaixo de um arbusto. Tirou o uniforme pela cabeça e vestiu um suéter negro; a pele, branca como leite, reluzia ao sol do entardecer. Aproximei-me com um passo enérgico enquanto estava calçando as botas, as mesmas de couro negro que usavam as guardas. - Não sei o que está planejando, mas vou impedi-la – declarei, satisfeita quando a vi erguer-se quando ouviu minha voz. Após uma breve pausa, apertou as botas com força, como se quisesse estrangular seus tornozelos. Após um minuto de silencio disse com serenidade, sem levantar o olhar, no entanto. - Por favor, Eve, volte. Me ajoelhei junto ao edifício, levantando a saia para não suja-la; -Sei que traz algo em suas mãos. Você foi vista no lago. - Ela movia suas com rapidez, sem desviar os olhos das botas atando os cordões com nós duplos. Havia uma mochila em uma vala, debaixo do arbusto em que meteu seu uniforme cinza. – De onde roubou este uniforme de guardiã? Fingiu não ter me ouvido e olhou através de um buraco no mato. Segui seu olhar até os muros do terreno, que estava se abrindo lentamente. Acabava de chegar um 4x4 verde e negro do governo que transportava a comida para a cerimônia do dia seguinte; - Isto não tem nada a ver contigo, Eve – disse.

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- De que trata então? Vai se fazer passar por guardiã?- Peguei o apito que balançava em meu pescoço. Nunca havia denunciado, nem jamais tinha ido contar histórias para a diretora, no entanto a cerimônia era muito importante para mim e para todos os outros – Sinto muito, Arden, mas não posso permitir... Antes que o apito me chegasse aos lábios, arrancou a corrente de meu pescoço e a atirou ao solo. Com um movimento veloz, empurrou-me contra a parede do edifício. Tinha os olhos húmidos e injetados de sangue. - Escute bem- murmurou baixinho, pressionando o braço contra meu pescoço de tal forma que quase não me deixava respirar – Vou sair daqui dentro de um minuto. Se sabe o que lhe é conveniente, voltará para a festa e será como se não houvesse visto nada. A seis metros de distância, várias guardas descarregavam o veículo e transportavam caixas para o interior do colégio, enquanto outras apontavam para o bosque suas metralhadoras. - Mas não há nenhum lugar para onde ir... Arquejei. - Pense bem – retrucou – Acredita que vai aprender uma profissão? – Apontou para o edifício de tijolos do outro lado do lago. Apenas se vislumbrava na penumbra – Nem se que se perguntou por que a graduadas não saem nunca, nem por não há uma porta separada para elas? Na verdade crê que vai aprender a pintar? – Dito isto, por fim me liberou. Esfreguei meu pescoço. Ardia-me a pele onde o elo do cordão havia se rompido; - Mas é claro que sim – respondi – Que mais podemos fazer, a não ser isto? Arden fez uma careta imitando uma risada e levou a mochila ao ombro; se aproximou de mim e percebi um cheiro de carne de javali com especiarias quando respondeu: - Noventa e oito por cento da população está morta, Eve. Não existem pessoas. Como acredita que o mundo vai continuar? Não necessitam de artistas – sussurrou – Necessitam de crianças: as crianças mais saudáveis que consigam encontrar...ou procriar. - Do que está falando? – Arden se levantou sem tirar a vista do veículo, cuja a parte de traz estava sendo coberta por uma guarda com uma lona; depois se acomodou no assento do motorista. - Por que acha que eles se preocupam tanto com nossa altura, nosso peso, o que comemos e bebemos? Sacudiu a terra de seu macacão negro e me olhou pela última vez. Tinha os olhos inchados e veias vermelhas se sobressaiam por baixo da fina pele branca- Eu as tenho visto, visto as meninas que se graduaram antes de

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Anna Carey – EVE – Dark Knight nós. E não penso em acabar na mesma cama de hospital, dando à luz a uma criatura atrás da outra durante os próximos vinte anos de minha vida. Retrocedi, dando um passo atrás. – Está errada, Mas Arden se limitou a negar com a cabeça. Logo, cobrindo os cabelos com um gorro negro, correu até o veículo. Antes de se aproximar, esperou que as guardas do portão dessem a volta. - Uma a mais! Gritou e, saltando sobre o para-choque traseiro, entrou na caçamba coberto do 4x4. A camionete arrancou, dando solavancos pela estrada de terra, e desapareceu na escuridão do bosque. O portão se fechou lentamente por traz dela. Ouvi o som do fechadura sem dar crédito ao que acabava de ver. Arden havia deixado o colégio. Havia fugido. Havia ultrapassado o muro, ia para o desconhecido, sem nada nem ninguém para protege-la. Não acreditei no que me havia dito; não podia acreditar. Talvez regressasse pouco tempo depois no mesmo 4x4. A melhor de suas travessuras mais louca. No entanto, quando contemplei o edifício sem janelas do outro extremo do terreno, minhas mãos tremeram, e a minha boca veio um amargo vômito de frutas silvestres. Vomitei ali mesmo, sobre a terra, enquanto um pensamento me perseguia: E se Arden tivesse razão?

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DOIS Depois de pentearmos os cabelos e escovarmos os dentes, lavamos o rosto e vestimos camisolas brancas que chegavam até os tornozelos, me recostei, me fingindo muito cansada. Nos dormitórios não se falava em outra coisa que não o desaparecimento de Arden. As meninas enfiavam as cabeças nos quartos para divulgar a última fofoca: havia aparecido um broche entre os arbustos, e a diretora estava interrogando uma guarda no portão. Em meio a todo aquele imbróglio, desejava uma das coisas mais difíceis de conseguir no colégio, algo tão raro que nem sequer se podia falar: queria estar só.

- Noelle acredita que Arden se escondeu nos aposentos da Doutora – comentou Ruby a Pip, controlando as cartas que tinha em suas mãos. – Passo. – Haviam se sentado na estreita cama gêmea de Pip, e jogavam com um baralho que haviam pego na biblioteca do colégio. As velhas cartas de “a procura de nemo” estavam gastas e rasgadas, algumas inclusive, manchadas com suco de figos secos.

- Estou certa de quer escapar da cerimônia – acrescentou Pip, cujo rosto sardento esta salpicado de pontinhos de pasta de dente, o que ela denominava seu “removedor de sardas milagroso”. Me olhou, esperando que especulasse sobre o paradeiro de nossa companheira ou que comentasse algo sobre os grupos de guardas que revistavam o terreno iluminando-o com lanternas. No entanto, não disse uma palavra. Não parava de pensar no que Arden havia me contado. Era certo que nos últimos meses a diretora Burns havia se mostrado muito preocupada com nossa dieta, insistindo que devíamos comer bem; supervisionava nossas análises de sangue e pesagens semanais e procurava que todas tomássemos nossas vitaminas. Inclusive enviou Ruby a Doutora Hertz quando teve uma regra uma semana depois das outras meninas.

Me cobri com uma manta leve até o pescoço. Desde de pequena me haviam dito que existia um plano para mim, um plano para todas nós: doze anos no colégio, e depois, a mudança de prédio e a aprendizagem de uma profissão durante quatro anos: depois iriamos para a Cidade de Areia, onde nos esperavam a vida e a liberdade, e ali trabalharíamos e viveríamos, sob o governo do rei. Sempre ouvia isto das professoras; não havia motivos para não fazê-lo. Inclusive aquela teoria de Arden me parecia absurda. Por que nos ensinavam a temer os homens se íamos ter filhos e famílias? Por que nos educavam se estávamos destinadas somente a parir? Que significava a importância que davam a nossos estudos, o ou muito que nos estimulavam para perseverássemos.

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Anna Carey – EVE – Dark Knight - Oi, Eve, Ouviu o que te disse? – Pip interrompeu meus pensamentos. Ela e Ruby estavam me olhando. - Não..., o que? Ruby pegou as cartas; seu cabelo negro abundante ainda era irregular onde Arden o havia cortado. - Queremos uma prévia de seu discurso antes de deitarmos. Deu-me um nó na garganta ao pensar em meu discurso final: três páginas escritas a mão e dobradas na gaveta de minha mesa. - Se espera que seja uma surpresa - respondi após alguns instantes. Havia escrito um texto sobre o poder da imaginação na construção de Nova América. Mas naquele momento pareceu-me duvidosas as palavras que havia escolhido e o futuro que havia descrito. Ruby e Pip me observavam com firmeza , mas desviei a vista, incapaz de sustentar seus olhares. Não podia contar-lhes o que Ardem havia dito : que a liberdade da graduação não era mais eu fantasia, algo para nos manter tranquilas e contentes. - Está bem, seja como quiser – Pip apagou a vela de sua mesa. Pisquei para adaptar os olhos para a escuridão, e pouco a pouco distingui seu rosto redondo sob os raios de luar que se filtravam pela janela - Mas somos tuas melhores amigas. Após alguns minutos se ouviram os tênues roncos de Ruby; sempre primeira a dormir. Pip olhava para teto com as mãos sobre o peito. - Mal posso esperar para me formar – sussurrou – Vamos aprender coisas, coisas de verdade. E dentro de alguns anos sairemos para o mundo, iremos para a nova cidade que está longe dos bosques. Será incrível, Eve. Seremos como ...como pessoas de verdade. – Se voltou para mim, e esperei que a tênue luz não lhe permitisse ver as lágrimas que enchiam meus olhos.

Me perguntei que vida teríamos eu e Pip. Ela queria ser arquiteta, como Frank Lloyd Wright, e construir casas novas que não se deteriorassem, ainda que ninguém cuidasse delas, casas com refúgios cheios de comida enlatada, onde não se poderia introduzir o menor vírus mortal. Eu lhe dizia que , quando terminássemos nossas carreiras, viveríamos juntas na Cidade de Areia; teríamos um quarto com camas enormes e janelas de onde veríamos os confins da Cidade, onde viviam os homens, muito distante de nós, aprenderíamos a esquiar nas encostas íngremes cobertas de neve, que nos havia falado a professora Etta, e poríamos em prática nossa boa educação nos restaurantes com imaculadas toalhas de mesa e talheres de prata; neles, escolheríamos a comida no menu e pediríamos para que preparassem a carne como mais no agradasse. - Eu sei. - Me veio um nó na garganta -. Será genial.

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Anna Carey – EVE – Dark Knight Sequei meus olhos disfarçadamente, agradecendo que a respiração de Pip por fim se acalmasse. Mas me assaltou a culpa e o medo, cada vez maior, de que o dia seguinte talvez não estivesse pronunciando um ingênuo e genial discurso, sim conduzindo-as ao aniquilação. Esperei que o sono me vencesse, mas este nunca chegava. As três horas da madrugada não pude mais ficar deitada. Me levantei, me aproximei da janela e contemplei o lugar. Não havia ninguém, somente uma guarda identificável por suas leves passadas, que percorria o jardim fazendo sua ronda. Nosso quarto se achava no primeiro andar. Quando perdi a guarda de vista, abri a janela como fazia nas noites quentes, e subi no peitoril. Todos os anos fazíamos na escola simulações: o que fazer em caso de assalto, em terremoto, em uma chuva de cachorros, em um incêndio... Lembrei dos simples e fáceis gráficos que a diretora Burns havia distribuído ao final da aula, e deslizei pela janela, agarrada ao peitoril, me preparando para saltar. Assim o fiz e me atirei ao solo. A dor me alfinetou o tornozelo, mas me levantei e corri o mais rápido que pude até o lago. No outro extremo da agua resplandecente, o edifício de tijolos contra o céu escuro. Ao final, cheguei à praia, mas a coragem me abandonou quando as suaves ondas lamberam os dedos dos pés. Nunca havíamos aprendido a nadar. As professoras contavam histórias, de uma época anterior a epidemia, de gente que havia se afogado nas ondas do mar ou na enganosa calma de suas piscinas. Voltei meus olhos para a janela aberta de meu quarto. Faltava pouco para que a guarda dobrasse a esquina e me surpreendesse com a luz da lanterna. Já me havia encontrado antes entre os arbustos depois do desaparecimento de Arden, com o uniforme manchado de vomito; havia lhe dito que estava muito nervosa por causa da formatura, mas não podia lhe dar mais motivos para suspeita. Entrei na agua. Na praia estreita existiam uns arbustos espinhentos. Tirei as meias e as envolvi nas mãos para agarrar-me aos galhos pontiagudos. Avancei rapidamente até que a agua chegou ao meu pescoço, havia caminhado apenas cinco metros quando o solo macio cedeu sob os meus pés. A agua chegou à minha boca, e me agarrei nos galhos, cujos espinhos perfuraram a pele por baixo das meias. Não pude reprimir a tosse. A guarda se deteve no jardim e varreu o gramado e a superfície do lago com a lanterna. Parei de respirar, sentindo meus pulmões alfinetados de dor. Ao final o facho de branco voltou ao gramado, e a mulher desapareceu mais uma vez para dar outra volta no prédio. Continuei minha jornada por quase uma hora. Me custava muito avançar, parava cada vez que passava uma guarda procurando não fazer barulho. Quando por fim cheguei à praia oposta sentei sem jeito na grama enlameada. As meias que envolviam minhas mãos estavam encharcadas de sangue, a camisola molhada e o frio se apegava ao meu corpo; tirei-a e me sentei sob o monstruoso edifício enquanto a torcia.

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Anna Carey – EVE – Dark Knight Naquela parte do prédio não havia nada, exceto a grande ponte de madeira que cruzava o jardim, preparada para a cerimônia do dia seguinte. A diferença do colégio, ali não se viam flores ao redor do edifício de tijolos. Nos haviam dito que as graduadas estavam muito atarefadas para sair dali, que suas agendas eram mais rigorosas que a do colégio, e que o tempo que não passavam comendo, dormindo o em aula, o dedicavam a aprimorar seus conhecimentos. As Alunas do segundo ano costumavam reclamar, preocupadas com a falta de sol, mas uma atividade tão intensa sempre me havia parecido muito gratificante. A grama alta me cercava, mas não bastava para me encobrir, de modo que vesti novamente a camisola húmida pela cabeça e comecei a correr até um canto do edifício. Descobri que existiam janelas, a um metro e meio do chão, menos na parte que ficava voltada para o colégio. Eu estava cheia de esperança, uma sensação de leveza que facilitava meus movimentos. Então encontrei uma torneira enferrujada junto à parede, debaixo da qual havia um balde; eu o virei e, utilizando como um banco, subi para ter uma melhor visão. Ali dentro estava meu futuro, e quando alcançasse o peitoril da janela queria que fosse como imaginado, e não aquilo que tinha ouvido de Arden. Rezei para ver uma série de meninas que se encontrassem em um quarto em cujas paredes tinham pendurado pinturas a óleo de cães selvagens correndo pelo campo. Rezei para houvessem mesas de desenho cobertas de plantas e montes de livros nas mesas. Rezei para que tivesse me enganado, pqra graduar-me no dia seguinte e para que o futuro sonhado se revelasse ante mim como um dondiego (nota: flor peruana que se abre ao receber a luz solar) ao sol ... Apoiei as mãos no peitoril para ver melhor e juntei colei meu nariz na janela. No quarto, havia, em uma cama estreita, uma menina: uma gaze ensanguentada cobria seu abdômen, tinha o cabelo emaranhados e os braços amarrados com correias de couro. Perto dela havia outra menina, cujo enorme ventre sobressaia quase um metro enquanto que veias de cor roxa sulcavam sua pele, extraordinariamente fina,. A garota abriu os olhos de cor verde escuro e me olhou um instante; logo os fechou. Era Sofia, a aluna que tinha pronunciado o discurso de final de curso fazia três anos e queria ser médica. Tapei a boca para reprimir um grito. Havia filas de catres onde repousavam outras jovens que, em sua maioria, se notava um ventre imenso por baixo da roupa de cama. Várias delas tinham a cintura enfaixada, e em uma menina se percebia cicatrizes – inchadas e rosadas que serpenteavam pelo lado do corpo. Ao fundo da sala, outra menina gritava de dor enquanto tentava soltar seus pulsos; abria a boca e gritava algo que não consegui ouvir de onde estava. Nesse momento entraram as enfermeiras pelas portas que se alinhavam ao longo do quarto, semelhante a uma fábrica. Atrás dela apareceu também a Dra. Hertz, cujo cabelo branco desgrenhado era inconfundível. Era ela que nos receitava as vitaminas que devíamos tomar diariamente e nos fazia exames mensais; a que nos deitava em uma mesa e nos picava com instrumentos frios, sem jamais responder nossas perguntas ou nos olhar no rosto.

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Anna Carey – EVE – Dark Knight A garota moveu a cabeça de um lado para o outro quando a doutora se aproximou e lhe pôs a sobre a testa. Como continuava gritando, diversas pacientes adormecidas acordaram e tentaram soltar-se das correias que as prendiam, chorando e formando um patético choro quase inaudível. Imediatamente, em um rápido movimento, a doutora cravo uma agulha no braço da jovem, que ficou horrivelmente quieta; Rapidamente mostrou a agulha para as demais- uma ameaça -, e os gritos cessaram. Minhas mãos escorregaram do peitoril da janela e cai para traz, arrastando o balde comigo. Rolei no chão, sentindo minhas entranhas arder. Agora tudo fazia sentido: as injeções que nos aplicava a doutora Hertz e que nos provocavam náuseas, irritabilidade e dor; as palmadinhas da professora, acariciando meu cabelo, enquanto eu tomava as vitaminas; o olhar vazio da professora Agnes quando começa a falar de meu futuro como pintora. Não havia profissão, nem cidade, em apartamento com cama de casal e uma janela para a rua; não comeríamos em restaurantes cobertos de prata e toalhas impecáveis. Unicamente nos esperava este quarto, o cheiro podre dos berços usados, a pele esticada até se romper; só haveria criaturas arrancadas de meu ventre, roubadas de meus braços e levadas para algum lugar fora daqueles muros. Choraria, sangraria, estaria só e depois mergulharia no torpor provocado pelas drogas. Me levantei fazendo um esforço e me dirigi ao lago. A noite era mais escura, o ar mais frio e o lago maior e mais profundo que antes. No entanto, não desviei o olhar. Devia me afastar daquele lugar, daquele quarto, daquelas meninas de olhar morto.

Tinha que fugir.

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Três Quando regressei ao colégio, estava ensopada e com as mãos sangrando, pois havia me cortado e estava enrolando o machucado enquanto atravessava o lago novamente. Preocupava-me tanto em diminuir a distancia entre o edifício e eu que não me preocupava com os espinhos que arranhavam minha pele, estava insensível a dor, sem perder de vista a janela de meu dormitório. Ao dirigir ao deposito da parte de trás de minha casa, sai da água; a camisola estava ensopada. Aonde havia algumas tochas acessas, no jardim reinava a escuridão e eu ouvi as corujas, como lideres de torcidas animadas, o que me fez me apressar a sair das arvores. Nunca havia quebrado uma norma até esta noite, ocupada com meu site antes de começar a aula e tinha os livros também, estudava por horas a mais de noite, e inclusive trocava a comida com muito cuidado, como haviam nos ensinado, pressionando as costas da faca com ao meu dedo indicador. Porem naquele momento eu só me importava com uma regra, “Não ultrapassar o muro jamais” havia advertido a professora Agnes no seminário sobre “Perigos de meninos e homens” para explicar a violação, ela nos fitou com aqueles olhos vermelhos e fortes, até repetirmos “Não ultrapassar o muro jamais”. Mas um bando de homens ou uma manada de lobos famintos que haviam atravessado o muro seria pior que o destino que me esperava. No exterior havia uma esperança, por mais perigoso e terrível que fosse ao todo, ao menos poderia decidir o que iria comer ou aonde ir, e o sol aqueceria minha pele. Talvez tivesse a possibilidade de esgueirar-me pelo portão, como Arden havia feito. Esperaria pelo dia que chegaria a ultima remessa de comida para a festa. Escapar por uma janela seria mais difícil, a da biblioteca estava junto ao muro, mas se encontrava a quinze metros do solo, e necessitaria de uma corda, um plano, algum modo para descer... Uma vez dentro do colégio corri para a escada indo pelas sombras, procurando não fazer nenhum ruído. Parecia-me impossível salvar todas as minhas companheiras, mas tinha que ir ao meu dormitório e acordar a Pip, talvez Ruby também pudesse nos acompanhar. Não havia muito tempo para explicações, mas conseguiríamos uma bolsa e colocaríamos roupas, figos e os caramelos que ficavam em uma embalagem dourada que Pip gostava tanto. Nós sairíamos essa mesma noite para sempre. Não havia como voltar atrás.

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Anna Carey – EVE – Dark Knight Subi a saltos até o primeiro andar e caminhando, deixando as habitações em que as meninas dormiam tão felizes em suas camas. Através de uma porta via a Violet encolhida e sorridente, alvejando o que esperaria no dia seguinte. Estava a ponto de chegar a meu dormitório quando uma luz fantasmagórica iluminou o corredor. -Quem está aí?- perguntou uma voz rouca. Virei-me lentamente, o sangue havia gelado em minas veias. A professora Florence estava ao final do corredor com uma lâmpada de querosene nas mãos que projetava sombras negras, ameaçadoras, na parede do fundo. -Es... Estava... - vacilei. A parte de baixo da camisola gotejava água, formando uma poça ao redor de meus pés. A professora se aproximou seu rosto salpicado de rugas, expressando raiva. -Havia cruzado o lago e havia visto as formandas. - afirmou Confirmei, lembrei de Sophia, estendida na cama do hospital, a quem se parecia os olhos afundados em orelhas, assim como as marcas em seus pulsos e seus tornozelos provocados pelas algemas de couro. A pressão crescia em meu interior como uma chaleira a ponto de explodir. Queria gritar, acordar a todas, agarrar aquela frágil mulher pelos ombros e afundar meus dedos em seus braços até que entendesse a dor, o pânico e a confusão que sofria em aqueles momentos. Em síntese, a traição. Mas depois de tantos anos de sentar-me em silencio, entrelaçando as mãos sobre o colo, escutando e falando unicamente quando me perguntavam me reduzindo a pura obediência aprendida. E se gritasse em qualquer momento, em pleno silêncio noturno? Não poderia decidir nada que convencesse as demais. Jamais acreditariam que as carreiras prometedoras eram mentira. Pensariam que havia ficado louca, Eve, a menina se desequilibrou por causa do estresse da formatura, Eve, a maluca que devia desaparecer sobre as formandas grávidas. Formandas grávidas! Você ria. E enviaram a aquele edifício um dia antes que as outras me obrigassem a permanecer sempre em silêncio. -Eu sinto- lamentei- Eu... - E as lagrimas começaram. A professora Florence pegou minha mão entre as suas e deslizo o dedo sobre as rachaduras que havia acumulando sangue seco.

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Anna Carey – EVE – Dark Knight -Não posso permitir que abandone o recinto assim.- Seus ásperos cabelos cinzas grisalhos rasparam em meu queixo cheio de furos. -Eu sei. Eu sinto. Voltarei pra cama e... -Não. - disse em voz baixa. Ela olhou para cima: tinha os olhos vidrados - Não deve sozinha nesse estado. - Tirou um lenço do bolso de seu roupão e me deu na mão- Posso ajudar, mas é necessário que se limpe. Rápido. Se a diretora souber, trancará nós duas. Recolha suas coisas e se reúna comigo lá em baixo. Eu queria abraça-la, mas ela me empurrou para a porta de meu quarto. Quando estava a ponto de entrar no dormitório, disposta a acordar Pip e Ruby, me chamou e disse em um sussurro: -Eve, vá sozinha, não diga nada a ninguém. - Protestei, mas se manteve firme- Não há mais remédio- disse muito séria, e iluminou o corredor com medo de alguém estivesse vindo. Andei pelo quarto no escuro e guardei minhas coisas sem fazer um ruído na única mochila que possuía. Pip estava imóvel em sua cama. “Você vai sozinha”, a ordem ressoava em meus ouvidos. Mas havia passado a vida toda fazendo o que me mandaram, e no fim haviam me enganado, Despertaria a Pip e pediria que a professora nos ajudasse. E se Pip não acreditasse? E se ela acordasse as demais? E se a professora Florence decidisse que não podia ajudar a ambas, por que nunca conseguiríamos sair sem que nós víssemos? Então estaria tudo perdido para ela e para mim. E para sempre. Fechei o zíper da mochila, eu gostaria de ter mais tempo. Pip afundou o rosto pálido no travesseiro e, para respirar, seus lábios faziam um assobio. Uma vez na biblioteca li um dos livros anteriores à epidemia que foi o testemunho do amor, cuidar de outra pessoa ou dizer algo tão simples como “Sua vida vale a pena”. Sim era certo, nunca havia amado nada como a Pip, ninguém havia me amado como ela me amava, estava ao meu lado quando eu torci o pulso plantando bananeira no jardim, me consolou quando perdi meu broche azul favorito, que havia pertencido a minha mão, e era a única que cantava comigo no banho canções que havíamos descoberto em velhos discos dos arquivos. Let it be, let it be! Zumbindo com voz sempre desafinada enquanto espuma deslizava riscando seu rosto. Whisper words of wisdom, let it beeee. Caminhei indo para porta, à olhei pela ultima vez. Quando me vejo lembrando da minha primeira noite que passei no colégio, se acostumando a minha cama e me convidou para colocar meu rosto no seu pescoço, depois,

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Anna Carey – EVE – Dark Knight apontando para o teto, me disse que nossas mães nos viam no céu e que nos amariam mesmo estando lá. -Vou voltar para te buscar –sussurrei, quase me afogando com as palavras- Eu prometo. – insisti. Se eu não saísse nesse momento, eu nunca sairia, atravessei o corredor, descendo as escadas e fui para o consultório médico onde eu esperava a professora com um saco cheio de comida. Arrancou os espinhos de minha mão com uma pinça de depilação e as enfaixou, sem deixar de observar a venda que dava voltas e mais voltas. Demorou alguns instantes antes de falar. -Comecei a trabalhar com especialistas em fertilidade- explicou- O rei acreditava que a ciência era a chave para reabastecer a terra rápida e eficazmente, sem os inconvenientes comportamentos das famílias, do casamento, e do amor. E acreditava que vocês, as meninas, tem medo dos homens, preferiria criar crianças sem eles. E quando as primeiras turmas entraram nesse edifício, alguns deles fizeram isso. Mas o processo é às vezes muito duro, e surgem complicações e me preocupa que isso piore ainda mais. Fazendo uma observação rápida a gaveta da doutora Hertz guardava nossas injeções semanais, as que nos irritava o tórax e criava muitas dores. Sobre a mesa havia frascos de cristal com vitaminas, distribuídas em compartilhamentos por dias. As tomadas de manhã, tarde e noite, como um doce veneno colorido. -Então, você sempre soube... Das graduadas?- perguntei. Ela olhou para fora através das persianas. Quando se certificou que as guardas haviam passado, me indico que seguisse pela porta de trás, por lá que saímos. Uns cachorros selvagens uivaram ao longe, e acelerou meu coração. Corremos ao muro, até que a professora virou se para assegurar que estávamos longe o suficiente para que a guarda não nós visse. Quando respondeu a minha pergunta, seu tom era mais baixo do que antes: -Primeiro quando a epidemia ocorreu, e posteriormente a vacina agravou isso. O mundo estava consumido pela morte, Eve não havia ordem, as pessoas ficaram confusas, aterrorizadas. O rei assumiu o poder, e tinha que escolher: continuar ou vagar pelas florestas estando sozinho. Falava sem alarmar se, mas vi que as lagrimas cresciam em seus olhos. Lembrando-se dos discursos anuais quando nos reuniam na sala de jantar e ouvia o único à nossa disposição rádio, colocado sobre a mesa da

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Anna Carey – EVE – Dark Knight diretora. O rei, nosso grande líder, o único homem merecedor de respeito se dirigia a nós através de aqueles autofalantes velhos e nos falava do progresso da Cidade de Areia, dos arranha-céus que estavam construindo, do muro que nós protegíamos do exercito, os vírus e as ameaças externas. A Nova América começava ali, aonde não era mais uma ideia de reconstrução, e nos assegurava que estaríamos a salvo. -Resolvi continuar, Eve –continuou dizendo Florence- Tinha cinquenta anos, e minha família havia morrido. Não me restava outra opção, não podia sobreviver sozinha. Mas você tem a oportunidade que eu não tive. Chegamos a uma macieira seus ramos junto ao muro. Pip e eu havíamos sentado embaixo dele muitas vezes: comíamos maçãs e dávamos as podres para os esquilos. -E para onde vou? – Perguntei com a voz temendo. -Se continuar reto por três quilômetros, chegara a uma estrada. –Ao falar, movia lentamente os finos lábios com pele raspada e áspera. – Será perigoso. Busque os sinais que indiquem o número 80, e vá ao oeste. Não ande muito longe da estrada, mas não ande muito próximo a ela. -E depois o que?- Buscou algo em seu bolso do roupão e pegou uma chave que acariciou com suas mãos murchas. -Se seguir caminhando, chegará ao mar. Ao outro lado da ponte vermelha, há um acampamento. Acredito que se chama Califa. Se conseguir chegar ali, eles te protegerão. -E o que acontece na Cidade de areia? – quis saber, enquanto ela tateava o muro. Dei-me conta que a conversa havia trocado seu fim e as perguntas pulavam em minha mente. –O que acontece com os recémnascidos? Quem cuida deles? Eles conseguirão sair alguma vez se formados? -Levam as crianças a cidade, e quando se formam... –Abaixou a cabeça, sem se separar do muro. –Estão a serviço do rei. Se ele decide sair no momento que estiverem livres, quando nascem crianças suficientes. Atrás de uns ramos havia um buraco tão pequeno que apenas se não distinguia mesmo a luz do dia. A professora Florence introduziu a chave, e o muro de pedra se deslocou e deixou a vista uma estreita porta. Olhando para trás, em direção ao recinto, explicou: -Acredita se que é uma saída de incêndio.

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Anna Carey – EVE – Dark Knight O bosque cujo limite iluminado pela perfeita e resplandecente lua estava diante de mim. Ali estava: o lugar de onde vim e aonde iria, meu passado e meu futuro. Desejava fazer mais perguntas a professora sobre aquele estranho acampamento chamado Califa e sobre os perigos da estrada, mas nesse momento surgiu uma luz de lanterna de uma guarda ao dobrar a esquina dos dormitórios. A professora Florence me empurrou -Vá logo!- insistiu- Marchando! A porta se fechou atrás de mim tão rapidamente como havia se aberto, me deixando sozinha em meio à noite fria sem estrela.

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Quatro A primeira coisa que vi ao abrir meus olhos foi o céu: algo azul e infinito, muito maior do que eu havia imaginado. Durante os doze anos que vivi em um colégio, só havia visto um pedaço de céu que se estendia entre aqueles altos muros. Mas agora estava embaixo dele, percebendo as pinceladas de roxo e amarelo daquele gigantesco guarda-chuva, visível na luz do amanhecer. Aterrorizada demais para parar, na noite anterior me afastei tão rápida quanto foi possível, caminhei por baixo de pontes em ruínas e caminhei em ravinas até que vi a maravilhosa placa que indicava o numero 80 iluminada pela lua. Descansei então em uma valeta, pois minhas pernas estavam esgotas de tanto que me sustentaram. Tinha a bunda da calça coberta de terra e a garganta seca. Subi sobre um destaque do terreno, mais alto e plano, e contemplei a manhã, a ladeira estava coberta de um espesso gramado com flores, o capim crescia em um verde deslumbrante, e as árvores se torciam em posições incríveis. Serpenteando para dentro e para fora, umas ao redor de outras. Não pude reprimir o riso quando lembrei as imagens que havia visto do mundo antes da epidemia: fotografias de puros campos de capim cuidadosamente aparados, e fileiras de casas em ruas pavimentadas, cujas coberturas formavam quadrados perfeitos. Aquilo não se parecia nada com essas fotos. No horizonte vi um cervo correndo por um antigo posto de gasolina. Antes da epidemia, aquilo tudo funcionava graças ao petróleo, mas as refinarias fecharam não sobrou ninguém para trabalhar nelas, atualmente o governo utiliza o petróleo e reparte uma parte em cada escola. O cervo parou para comer o capim que crescia em direção ao céu, enquanto a luz brilhante da manhã rasgava suas assas. Nisso tropecei e, ao cair, senti que havia batido contra uma saliência dura. Dois centímetros e meio de musgo cobriam a estrada. -Olá!- gritou alguém- Olá? Morta de medo ao ouvir a voz de um homem, olhei ao redor para ver quem falava, recordava-me das historias dos bosques e dos bandos de renegados que vagam por ele e vivam entre as árvores. Meus olhos param em uma cabana em pedaços, a alguns metros, coberta de hera, a porta estava aberta. Rastejei até ela para me esconder.

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Anna Carey – EVE – Dark Knight -Feche!- exclamou a voz. Fiquei imóvel. No colégio não nos permitiam falar assim. Se considerava algo de “má educação”, e tais expressões conhecíamos, pois apareciam nos livros. -Feche!- gritou a voz de novo em algum lugar acima de mim. Olhei para o céu: havia um grande papagaio vermelho no teto da casa, observando-me com a cabeça inclinada. -Ring, ring! Ring, ring! Quem é? - Bicou algo no telhado. Havia visto um papagaio em um conto infantil, sobre um pirata que roubava tesouros. Pip e eu havíamos lido nos arquivos, passando os dedos sobre as ilustrações já descoloridas. Pip... Há quilômetros de distancia acabara de descobrir minha cama vazia, com os lençóis desarmados e frios. Com certeza a formatura mudaria. Certamente, Ruby e Pip pensariam que eu teria sido sequestrada e não as ocorreria que eu teria sido capaz de fugir por vontade própria. Talvez Amélia – a ambiciosa da segunda classe- designada para falar o discurso de abertura da formatura, pronunciaria também o meu e guiaria as demais pela ponte. Quando compreenderiam a verdade? Talvez quando pisassem na costa vazia do outro lado? Ou quando abrissem as portas dublas e se encontrassem na sala de cimento? Aproximei-me do papagaio, mas voltei. -Como se chama?- Perguntei assustada com minha própria voz. O papagaio me olhou com seus olhos negros, parecidos com brilhantes gotas de água. -Peter! Onde está, Peter?- disse dando saltos sobre o telhado. -Peter era seu dono?- perguntei. O papagaio abriu as assas como uma garra. – De onde vocês são?- Supus que Peter havia morrido há muito tempo durante a epidemia, ele havia abandonado o papagaio no caos que se seguiu. Contudo o papagaio havia sobrevivido por uma década. Esse detalhe me deu esperanças. Queria perguntar mais coisas, mas a ave levantou voo e se converteu em uma mancha vermelha no céu azul, eu segui com a vista seu curso até desaparecer na distancia. Reparei então nas silhuetas que havia descendo o bosque dirigindo-se a estrada. Onde estava a sessenta metros, distingui as armas que carregavam nos ombros.

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Anna Carey – EVE – Dark Knight No momento não sabia como reagir sobre aqueles seres estranhos e alienígenas. Eram muito mais altos e forte que as mulheres, e inclusive seu modo de andar era distinto, mais desajeitado, como se fosse difícil andar. Todos usavam calças e botas, e alguns deles iam sem camisa exibindo o tronco moreno e bronzeado. Avançavam em grupo, até que um deles levantou a escopeta e matou o cervo que estava comendo entre as ruínas do posto de gasolina. O animal caiu ao primeiro disparo, agitando as patas por causa da dor. O pânico se apossou de mim: eu estava na floresta, sobre a luz impiedosa do dia e havia um grupo de assassinos a menos de trinta metros. Eu lutei com a porta da cabana, arrancando as heras, até que encontrei a fechadura enferrujada. O grupo se aproximou. Continuei mexendo a porta, puxando ela e golpeando com a mão para tentar quebrar ela. “Abri-implorei- Abri, por favor,” Eu dei outro olhar para a esquina da cabana e vi os homens sob o toldo do posto de gasolina. Rodeavam o cervo. Um dos indivíduos cortou a garganta dele como se fosse um pedaço de fruta. O cervo estremeceu, se retorceu: ainda estava vivo. Eu dei um puxão na porta, desejando que a diretora aparecesse de repente na estrada e que os guardas me aproximadamente em uma estrada de governo. Voltaríamos pelo caminho que haviam vindo e os homens ira fugir até que virassem pontos negros no horizonte, até que estivessem a salvo. Mas minha fantasia sumiu, como a neblina consumida pelo sol da manhã. A diretora não me protegeria, e o colégio não era mais um lugar seguro. Não havia lugar seguro. A fechadura cedeu no fim, e quase cai de bruços na obscura cabana. Joguei a mochila lá dentro, fechei a porta e caminhei por um estreito corredor que levava a um quarto grande. Sobre as janelas cobertas de sujeira, as videiras estavam entrelaçadas de tal forma que não se via nada. Avancei procurei e comecei a perceber que não era uma cabine, mas uma grande casa ao lado da colina e medo enterrada na grama. Continuei me deslocando tateando pelas paredes. As paredes, enferrujadas e velhas, pareciam de pedra. As vozes estranhas estavam se aproximando -Raff, coloque a pele na bolsa e vamos de uma só vez.

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Anna Carey – EVE – Dark Knight -Você começa imbecil de merda- respondeu outro homem. A voz grave e rouca faltava nelas o tom cuidadoso que nos foi ensinado na escola. Depois de assistir as aulas de “Perigos por causa de meninos e homens” durante um ano inteiro, aprendi todos os pontos fracos de uma mulher perante o sexo oposto. A primeira lição era intitulada “Manipulação e Sofrimento”. Para compreender ela, líamos detalhes de Romeo e Julieta e analisamos o modo que Romeu havia seduzido a jovem para acabar arrastando à morte. A professora Mildred nos deu uma palestra sobre a relação que havia mantido antes da epidemia, e como as alegrias em seguida se converteu em amargas depressões, impregnadas de raiva. Chorou a contar que seu “amor” há havia abandonado depois de sua primeira filha, uma menina que viveu por pouco tempo por consequência da epidemia. Ele havia se escondido atrás de algo chamado “confusão”. Na lição de “Escravidão Domestica” vimos antigos anúncios de mulheres que usavam avental. Mas a lição sobre “Mentalidade de pilhagem” foi a mais terrível de todas. A professora Agnes nos mostrou imagens ocultas capturadas por câmeras de segurança instaladas em uma parede. Eram embaçadas, mas se distinguiam três figuras: três homens. Encurralando um individuo por todos os cantos, roubaram as provisões que levava e o mataram com um tiro. Durante semanas eu acordava no meio da noite, banhada de suor, pois seguia vendo a chama branca do disparo e o corpo sem vida do homem cair no chão, com as pernas encolhidas. -Não será mais preciso assassino asqueroso- gritou outra voz. Entrei mais fundo na casa, pegando em uma parede áspera e instável. O ambiente era sufocante e denso: cheirava a mofo e algo mais penetrante, alguma substancia química. Cobri o rosto com a camisa para que os homens não me ouvissem respirar. Estavam muito pertos. Ouvi seus passos quebrando galhos caídos e produzindo cliques inquietantes. Alguém parou diante da casa, e ouvi o som de alguém tossindo. -O que está fazendo?- perguntou um deles. A voz soava distante, mas acima, talvez na estrada. O que tossiu estava mais próximo, e o terror se apoderou de mim. Agarrei a parede e fechei os olhos, tentando me tranquilizar. “Vá, por favor, vá” pensei. -A fechadura esta solta! Vamos fazer uma busca.

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Anna Carey – EVE – Dark Knight Retrocedi quanto pude, desejando que as paredes frias cedessem, o que poderia me permitir desaparecer por sua superfície cheia de buracos. Eles haviam nos dado muitas aulas sobre o que nos esperava além dos muros: a professora Helena nos mostrou fotografias de uma mulher que um cão raivoso havia arrancado metade de seu rosto. Mas não nos havíamos sugerido apenas uma coisa caso estivéssemos fora. Não nos ensinaram técnicas de sobrevivência. Eu não sabia fazer fogo, nem caçar, nem era capaz de enfrentar aqueles homens. “Voltem- a professora havia nos dito- Faça o que for preciso para voltar ao colégio.” A porta se abriu em um golpe. Supus que o homem entraria e me tiraria de lá a força, gritando. Mas quando a luz iluminou a casa, deixaram de se importar com o grupo que estava na estrada, às imagens das aulas ou a intenção dos homens que estavam a virar a esquina, apenas a seis metros de mim, desde que revelou que havia paredes de pedra bruta, sendo formadas por centenas de crânios, cuja os olhos negros e vazios me encaravam. Tapei a boca para abafar um grito. -Não é nada mais que um depósito de cadáveres- grito o homem, fechando a porta ao sair e me deixando na escuridão com os esqueletos. Eu fiquei lá por horas, tremendo, até que tivesse a certeza que todos foram embora.

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Cinco No oitavo dia as minhas pernas doíam e minha garganta estava seca. Caminhava lentamente entre a extensa mata que acompanhava a estrada, afastando a folhagem de uma árvore com um galho usando-o como bastão. Tratei de me convencer que chegaria a Califia, dizendo a mim mesma que logo estaria a salvo, e que enquanto permanece nos arbustos, onde nada podia me ver, estaria a salvo. Mas havia dias que minha garrafa de água havia acabado, fadiga me vencia. Andei indo para oeste, como a professora Florence havia me dito em direção ao sol poente. Mas pela noite, quando a temperatura abaixava dormia em armários de casas abandonadas ou em garagens, junto a armações de caros velhos. Encontrava-se um lugar seguro, ficava ali por um tempo comendo as maçãs que a professora havia me dado e pensando no colégio. Não poderia passar a noite sem pensar, o que poderia acontecido se isso tivesse sido diferente, e se poderia ter salvado a Pip também. Talvez tivesse que ter decidido arriscar. Talvez tivesse sido melhor desperta-la. Ao menos deveria ter tentado. Meu coração encolheu ao imaginar ela amarrada a uma cama, sozinha e assustada, perguntando-se por que eu a havia abandonado. Não demorou a ficar sem comida. Os armários das casas estavam vazios, pois as supervisões haviam saqueado depois da epidemia. Resolvi comer amoras, mas uns punhados não eram suficientes para acalmar as dores do meu estômago. Assim que fiquei doente: cada vez caminhava mais e mais devagar, até que andei um quilômetro sem descansar. Sentei-me ao pé de uma árvore, apoiada em suas raízes retorcidas enquanto contemplava os veados pularam entre a grama alta. Às vezes, pouco antes do sol se pôr, puxo as coisas da minha mochila para observá-las. Sempre buscava a pulseira, tão pequena que apenas cabia em três dedos. Eu era órfã, como todas as alunas do colégio, aonde havia chegado depois que minha mãe se contagiou com a epidemia. Não conheci meu pai. Aqueles objetos eram a única coisa guardada de meu passado, além de algumas memórias –mais sentimentos- minha mãe desenrolando o cabelo molhado e cheiroso enquanto eu o desenrolava. Em certa ocasião li curiosidades sobre pessoas as que haviam amputado algum membro: os braços continuavam doendo e as pernas que não tinham, eles chamavam de membros fantasmas. Sempre me pareceu a melhor forma de descrever meus

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Anna Carey – EVE – Dark Knight sentimentos sobre minha mãe, que havia se convertido em dor por algo que uma vez tive e que perdi. Continuei meu caminho, me apoiando cada vez mais nos galhos. A longe eu vi uma piscina de plástico cheia de água da chuva, um brilhante Oasis turquesa rodeado de ervas daninhas. Pisquei imaginando se não seria uma ilusão causada pelo calor. Corri até ela e me joguei no chão com meus lábios tocando a água fria. Questionei-me quanto tempo ficaria ali e se essa água seria própria para consumo, mas minha garganta seca ficou tão grata que bebi sem parar ate que meu estomago se revirasse. Quando me virei, vi um reflexo na superfície da água: há a alguns metros havia uma casa, e uma luz no seu interior. Eu olhei para o brilho que a luz emitia, enquanto o sol descia pelas copas das árvores. Não sabia quem morava naquela casa nem se me ajudariam, mas tinha q verificar. No jardim havia uma área de recreação de madeira muito danificada. As videiras envolviam a oxidada cadeira de balanço, e se inclinava em direção ao solo. Eu deslizei sob a lâmina quebrada, eu fui a uma janela entreaberta e observei o interior. A sala não era pequena: só se distinguia uma poltrona bamba e varias fotografias amassadas na parede. Também vi uma figura encapuzada cochilando em frente a uma lareira. A fumaça chegava ao teto e saía, seduzindo meu olfato com a promessa de boa comida. A figura pegou um pé de coelho e o devorou por inteiro, e minha boca se encheu de água imaginando o doce sabor que deveria ter. Eu já os tinha visto antes, vagando fora do muro do colégio, na área da janela da biblioteca. Essas pessoas não pertenciam a nenhum grupo nem ao do rei, acho que eram como marginais que viviam em estado selvagem. Haviam-nos dito que eram perigosos, mas o que vi era uma figura de uma esbelta mulher que acalmou meus temores. -Olá!- gritei pela janela- Ajude-me, por favor! A figura se endireitou em um salto e recuou para a parede brandindo uma faca. -Vá para a luz!- A figura era grande e cobria o rosto, mas o brilho do fogo permitia que se vissem delicados lábios com pedaços de carne. -Certo tudo bem. - eu disse levantando as mãos. Ao empurrar à cortina, as dobradiças rangeram, e por pouco não caí por causa do susto. Ao

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Anna Carey – EVE – Dark Knight fim entrei e esticando as mãos para que as figuras às vissem. – Estou ficando sem comida. Ela continuou apontando a faca. Vestia um uniforme de batalha verde escuro, como os outros trabalhadores do governo, e um suéter negro com capuz muito grande. Não lhe vi os olhos. Quando baixei as mãos, reparei em uma mochila aberta que continha um uniforme de colégio. As cores vermelho e azul do escudo da Nova América me deslumbrou. Retrocedi e então reparei nas negras botas de combate, na estrutura elevada, a graciosa marca sobre o lábio daquela pessoa... -Arden! Tirou o capuz. Os curtos cabelos negros estavam cheios de sujeira e tinha a pele pálida queimada pelo sol, de modo que ela descascava ate a ponta de seu nariz. Abracei-a com força, como se fosse à única que me mantivesse de pé, e respirei fundo, sem me importar que ambas estavam com roupas suadas. Arden estava ali. Viva. Comigo. -Que diabos está fazendo?- perguntou, afastando-se- Como chegou até aqui?- A ira deformou o rosto, e de repente, lembrei que me odiava. Sentei-me no chão, atordoada. -Escapei. Você estava certa. Eu também vi as meninas da sala de cimento- Arden ia de um lado a outro, na frente da chaminé, sem soltar a faca- Segui a placa que indicava oitenta... - Me calei ao me dar conta que ela, certamente, havia feito o mesmo, mas acrescentei- Califia deve estar a uma semana de caminhada, não demoraremos a encontrar a ponte vermelha... Arden acertava a lamina da faca na perna ao andar. -Não pode ficar comigo... Não posso permitir, eu sinto, mas terá que... -Não, não. - Pensei em ratos gigantes correndo pelas minhas pernas nas noites, nas minhas tentativas frustradas de caçar um coelho. - Não pode fazer isso, Ardem. Você não me abandonaria. Arranhando a lamina da faca na perna, produzindo um som irregular que me fez estremecer.

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Anna Carey – EVE – Dark Knight -Isso não é um jogo, Eve, nem são umas breves férias do colégio – Aguçando a voz- Aí fora á homens, cachorros e vários animais selvagens, e todos querem nos matar. Não será capaz de suportar. Eu... Eu não posso me arriscar. É melhor que vá sozinha. Inclinei-me contra as mãos trêmulas, afundando as mãos no chão enquanto assistia a crueldade de minha companheira. Embora eu tivesse encontrada uma aluna nova na selva que teve a perna partida pela metade, não havia abandonado-a... Não poderia fazer, porque seria equivalente a uma sentença de morte. -Eu sei que não é um jogo. Por isso devemos continuar juntas. - Eu precisava de Arden, mas não conseguiria convencê-la de que ela precisava de mim. Contudo, tentei recorrer a alguma ideia e apelar a seu aspecto mais frio e calculista. - Posso te ajudar. Sentou em uma velha poltrona, cuja almofada estava rasgada torcida e cheia de ferrugem. -Como?- Tirando um besouro morto do cabelo embaralhado e o jogou ao fogo. Dando um riso baixo. -Sou esperta. Entendo de mapas e bussolas. E seria bom dispor de outra pessoa para manter a guarda. -Não há mapas, nem bussolas Eve- respondeu- E sua inteligência é de livros- apontando um dedo- Isso não vale nada aqui. Sabe pescar? Sabe caçar? Mataria alguém se tirasse a minha vida ou a vida de outros? Engoli saliva, a resposta era “não”. Claro que não. Jamais havia matado a uma lagarta. Eu julgava a professora das meninas que torturavam esses bichos por puro prazer de vê-los retorcendo-se. Mas queria mostrar a Arden que todos aqueles anos que havia passado na biblioteca, enquanto ela arremessava ferraduras no jardim, realmente havia valido a pena. -A diretora me concedeu uma medalha de aplicação... Ela levou a cabeça para trás e soltou um riso. -Que graça dela! Mas estou bem sozinha. Contudo, você... Abaixei o olhar, olhando ela como ela me olhava: um galho havia rasgado a camisa do uniforme, tinha as mãos cheias de sangue seco e os braços nus, apesar de fazer frio. Sentia-me fraca, nunca havia me sentido assim no colégio, sem comida, nem agua, nem a menor perspectiva de sustento. As lágrimas começaram a inundar meus olhos.

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Anna Carey – EVE – Dark Knight -Você não entende... Tem pais, um lugar para ir. Não sabe o que é estar sozinha. Coloquei o rosto entre as mãos e solucei. Não queria apodrecer sozinha na floresta. Não queria morrer ou que um homem me capturasse. Não queria morrer! Paso um momento até que me dei conta que Arden havia se levantado da poltrona e estava assando outro pedaço de coelho. -Deixe de se comportar como uma criança- disse me dando a carne inserindo em um bastão. Devorei-a sem me importar que a gordura empapasse minhas mãos e deslizasse para baixo do queixo, esquecendo-me por um momento dos bons modos- Não pode perder mais tempo. Certamente, meus pais já sabem que fugi da escola... E talvez estejam me procurando- ela acrescentou quando acabou de comer. Estava a ponto de começar a chorar, mas me controlei. Mesmo assim, em meio ao nada, seguia pressupondo de seus pais. Acabaria falando da casa de quarto andares que viviam e que dormiam em camas de casal desde o casamento até a mais terna infância, de quão difícil foi para ela desperdiçar tudo aquilo, embora fosse só por alguns anos... Perdeu as empregadas, as centenas de pratos de porcelana, seus pais que há levavam para o teatro e deseixavam que apoiasse o queixo no palco para ver melhor o espetáculo. -Esta noite pode ficar. Então vamos ver. – Concedido lançando um cobertor cinza imundo. Coloquei o cobertor sobre os ombros, enquanto o fogo consumia e deixava um monte de cinzas fumegantes. -Obrigado. -Não há de que. –Aconchegando-se na poltrona com vários cobertores que a envolviam como um gigantesco ninho de pássaros. –Aí encontrei um esqueleto a alguns quilômetros daqui. –Soltando uma risada. Tirei o cobertor com nojo e recostei-me em um canto Não me importava em tremer de frio, como na noite anterior. A luz do luar me deixou ver as fotografias em sua parede: uma família jovem posava diante de uma casa. Sorriam, entrelaçando os braços, tão ignorante de seu futuro como o meu.

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Seis No dia seguinte caminhei com Arden por um campo de girassóis, afastando os monstros gigantes de olhos negros do meu rosto, Apenas conversamos, exceto durante o café da manhã a base de coelho assado, e me pareceu um bom sinal. Temi acordar sem comida, sem cobertas e sem a própria Arden. Mas não tinha ido e gostaria de saber se seu silêncio significava que permaneceríamos juntas. Eu assim desejava, embora fosse beneficio de meu estomago. Ambas percorremos a casa coberta de erva daninha de uma favela abandonada. As casas estavam com o teto afundando e várias cestas de basquete estavam quebradas ao longo do caminho, transformadas pelas videiras em folhas verdes e floridas como arte de topiaria. Vimos também restos de carros velhos, cujo para-brisa estavam em mil pedaços e as portas enferrujadas e no caminho, oculto pelo matagal, vimos dois caixões podres: um de um adulto e outro de uma criança. Quando minha mãe estava morrendo, eu jogava sozinha, fora de casa, porque não me havia deixado deitar perto dela por medo de me infectar. Eu deitava sobre meu pulso no leito da janela e preparava as pomadas de lama e folhas esmagadas. “Você vai se recuperar-dizia para ela, enquanto lamentava ouvindo minha mãe pela janela aberta- Mas agora está muito ocupada.” -Era um pouco mórbida, certo?- disse Arden, tomando-me pelo braço. Havia me prendido ante de madeira do caixão vermelho. -Me desculpe. – Continuei caminhando e procurei retirar a melancolia. Mas me sentia pior, inclusive mais sozinha, ao me dar conta que minha companheira não entendia. Colhi algumas flores silvestres e acariciei o colorido buquê. -Decidi que vamos juntas para Califa- anuncio Arden, andando pela grama- Mas depois será só você. Penso em parar por lá e descansar para logo partir e tentar localizar meus pais na cidade. -Sério?- Minha tristeza se converteu em alegria- Oh Ardem eu...! Ela se virou, abaixando os olhos para evitar o sol, e advertiu: -Não se alegre. Mas, posso mudar de ideia... Caminhamos por um momento em silêncio. Meus pensamentos se retornaram ao colégio, à noite em que fugia, aos rumores que Arden teria

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Anna Carey – EVE – Dark Knight nadado no lago. E não me parecia tão incrível comer a carne que ela cozinhou, carne esfolada e cozida. -Tem certeza que sabe nadar?- Ousei perguntar. -Quem te disse isso?- Tirando o moletom preto, deixando descobertos os braços pálidos. Tinha os ombros salpicados com sardas. -Viram você- Mas não expliquei que havia levado uma hora pra cruzar o lago segurando em ramos cheio de espinhos. Ela sorriu como se estivesse lembrando-se de algo engraçado e disse: -Eu aprendi sozinha. A você nunca se preocuparam, certo dona Fosforita? Não a ignorei. -Não tinha medo que te descobrissem?- Um coelho cinza correu pela estrada. -Geralmente as guardiãs não ficam nos jardim depois da meia noite, a menos que tenham uma guarda especial. A maioria das noites são muito tranquilas no colégio- Encaminhou-se até o coelho, com a faca em mãos. O animal parecia imóvel, enquanto ela se aproximava. Não conseguia tirar da minha cabeça o dia em que havia nadado. Nunca tinha visto alguém fazer o mesmo. Se havia entrado na água sem mais, movendo os braços? Se apoiando em algo como um galho ou corda? -E não tinha medo de se afogar? Ao ouvir minha voz, o coelho fugiu entre a mata de um jardim abandonado. -Muito bem, Eve- bufo, e colocou a faca no cinto- Eu adoraria que um ser divino ou humano acreditasse em mim, mas tenho que pegar o jantar. – Entrou entre as casas, sem dificuldade de voltar à vista. -Vou buscar a janta!- gritou ela- Eles se hospedaram na casa? Não respondi. Segui caminhando, me afastando das casas e me dirigi a uma zona que tinha ruinas. A grama cobria um restaurante, entre as e o musgo se distinguia um gigantesco EME amarelo. Ao fundo da maçã havia um enorme edifício, cuja fachada estava apagada, e o letreiro havia perdido algumas letras. Dizia: WAL MA T. Alguém havia escrito spray sobre as

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Anna Carey – EVE – Dark Knight janelas quebradas da frente às palavras: “ZONA DE QUARENTENA. SE ENTRAR, ENFRENTE AS CONSEQUÊNCIAS” Quando o caminhão cruzou as barricadas para evacuar as crianças saudáveis remanescentes, minha mãe pediu que me levassem. Corri para o ônibus e agarrei-me ao poste de madeira, determinada a ficar. Foi inútil. Minha mãe saiu pela porta, com o nariz sangrando, quando me colocaram na parte de trás do caminhão. Tinha os olhos afundados, com cor de ameixa podre, e o peito sobressaltando com um laço. Permanecendo na porta, se despendido com a mão, e me lançou um beijo. Ao visitar a cidade abandonada, tentei não olhar as enormes cruzes de madeira do estacionamento nem as pilhas de ossos que haviam embaixo cobertas de musgo. Mas todos os lugares tinham sinais de morte. Na rua havia uma casa abandonada, a imobiliária do norte da Califórnia, as janelas estavam tampadas. Os caixões se amontoavam em um local chamado Manicure Suzy. Acabava de ver os X vermelhos pintados na lateral de um recipiente quando algo se moveu diante de mim: um filhote saiu do caminho, com um passo tranquilo, e me observou. Em seguido volto a dedicar toda sua atenção a uma lata enferrujada de comida que pretendia abrir com as garras. Imediatamente pensei no Ursinho Pooh, o livro que a professora Florence lia para nós quando éramos crianças sobre um urso e seu bom amigo Christopher Robin. Dizendo-nos que os ursos não seriam tão simpáticos, mas aquele urso era muito pequeno para ser algum perigo. Perguntei-me se o animal estaria comendo açúcar, ou se era um detalhe curioso da historia. Estendi a mão, procurando não o assustar. O urso cheirou meu braço com o focinho úmido, e quando acariciei o suave pelo castanho, me deu uma agradável sensação de arranhar minha mão. -Sim, é igual ao Pooh- afirmei. Desviou a cabeça do caminho e cheirou outras latas. Não sabia se Arden deixaria leva-lo para casa. Talvez poderíamos ficar com ele por um tempo, eu nunca tinha tido um mascote. Estendi a mão mais uma vez, mas a retirei imediatamente quando ouvi um rugido ameaçador: uma ursa enorme se levantou pelas patas traseiras junto à estrada, me pareceu uma autentica torre. O urso se aproximou dela, e a ursa abriu a boca, mostrando os dentes. Endireitei-me, estava arrepiada e com as mãos tremendo. A mãe se jogou contra mim, com a cabeça baixa e levantei os braços em um gesto patético. Preparava-me para o ataque quando algo golpeou a pelas costas.

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Anna Carey – EVE – Dark Knight Uma pedra. Enquanto o animal rugia, outra pedra golpeou a cabeça, caindo para trás, e seu imenso traseiro se chocou contra a estrada. Ao dar a volta, vi um garoto coberto de poeira, cujo peito musculoso estava sujo de barro e pele muito morena – de um castanho avermelhadoque montava em um cavalo negro e levava uma bala na mão. -Será melhor que monte- sugeriu guardando a bala no bolso traseiro da calça- Não acabou. Olhei novamente para ursa, que sacudia a cabeça, momentaneamente atordoada. Não sabia o que era pior: morrer entre as garras de um animal feroz ou fugir com um selvagem Neandertal a cavalo. Ele estendeu a mão, tinha as unhas negras de sujeira. -Vamos!- insistiu. Dei-lhe a mão, e me puxou. Sentei-me atrás dele, na garupa do cavalo. O garoto fedia a suor e a fumaça. Com um “arre!” zarpamos em marcha pela estrada coberta de musgo. Coloquei meu braço em volta do peito musculoso do garoto e me voltei a olhar mais uma vez a ursa. Se havia levantado e corria atrás de nós, mas seu gigantesco corpo castanho estremecia pelo esforço. Meu salvador agarrou-se as rédeas cortadas de couro, desviando o cavalo da estrada principal para conduzi-lo entre o denso bosque. A ursa se aproximou e mordeu a cauda do cavalo. -Mais rápido! Tem de ir mais rápido!- gritei. O cavalo acelerou, mas a ursa nos seguia muito perto sem mostrar o menor sinal de cansaço. Minhas pernas, empapadas de suor, escorregavam. Segurei-me ao garoto, cravando as unhas em sua pele. Ele se inclinou para frente, e o vento rugia sobre nós. A ursa voltou a abrir sua boca feroz. Olhando por cima do ombro do garoto, vi na nossa frente uma ravina de metros de largura, que parecia um antigo canal de agua irregular, deveria ter uns cinco metros de profundidade. -Cuidado!- exclamei, mas ele continuou, mais rápido que antes. -Por que não me deixa manusear o cavalo?- gritou virando a cabeça para mim. Atrás de nós a ursa corria com todas suas forças, sem separar os olhos das coxas do cavalo.

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Anna Carey – EVE – Dark Knight -Nããoo!- sussurrei quando percebei que ele corria em direção ao riacho. Se não conseguíssemos o animal nos devoraria vivos e estaríamos aprisionados no fundo do canal sem a possibilidade de nos escondermos. – Não, por favor. Mas o cavalo levantando as patas dianteiras estava a ponto de sair disparado do outro lado da ravina. Meu estomago afundou. Durante o momento senti que voava, e logo senti um duro impacto dos cascos contra o solo. Contemplei o campo de cravos que nos rodeava. Havíamos saltado. Virei minha cabeça uma ultima vez, tremendo que a ursa se nos atacasse, mas escorregou na borda do precipício. A última coisa que ouvi foi um rugido furioso enquanto afundava pelo íngreme precipício e aterrissou, com um golpe surdo, no fundo lamacento do riacho.

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