SALVADOR, SÁBADO, 21 DE JUNHO DE 2014
Olha a chuva
Estalo de dia, chuvinha de noite: os fogos são a brincadeira de São João. Só é preciso ter bastante cuidado
(de fogos)! Modo de usar
DARLAN CAIRES
N
a porta de casa, a fogueira está acesa. O cheiro de fumaça avisa: é São João. Junto com o milho, o amendoim cozido e o bolo de fubá vem a brincadeira. Na próxima segunda-feira (23), em casa ou na rua, ouvir o barulho dos fogos de artifício e ver o jogo de luzes coloridas no céu é tradição. João Vítor Andrade, 8, é um dos que aproveitam a época para soltar fogos. Ele guardou em casa os que restaram da comemoração passada. “Eu me acho estranho. Não gosto de fogos, mas, no São João, eu brinco com eles”, contou. Sem perceber, João responde o motivo da estranheza. “Prefiro aqueles que voam e os que têm luzes. Apesar de só soltar alguns com um adulto do lado”. Todo ano, Ayla Costa, 7, vai para o sítio da família passar a temporada junina. “Lá, eu ando de charrete, brinco na lama e solto chuvinha e traques”. Sobre os explosivos mais perigosos, Ayla lembrou: “Uma vez, uma dessas abelhinhas voou no cabelo de minha mãe e eu percebi que alguns não podem ser usados por crianças sozinhas”. Rodrigo Oliveira, 10, vai brincar na casa da avó e gosta de soltar traques de massa
[ escolha o seu ] No Nordeste, os fogos mudam de nome quando mudam de Estado. Listamos os mais conhecidos para você se divertir neste São João
Seja um barulhinho ou um barulhão, há fogos de artifício que só podem ser usados com um responsável. A partir do som emitido, dá para saber o nível de perigo. É que quanto maior o estrondo, mais pólvora. Para controlar isso e não deixar que acidentes aconteçam, eles são divididos em quatro classes: A, B, C e D. Os fogos de classe A podem ser vendidos para você, como, por exemplo, os traques de massa, que parecem palitos (A). Já as bombinhas, com uma quantidade maior de pólvora (B), só para maiores de 16 anos. Os das classes C e D só podem ser vendidos a pessoas acima de 18 anos. A embalagem indica onde soltar e se é necessário autorização policial para usar. A regra é seguir a instrução escrita na caixa e com um adulto junto. Jamais carregue bombinhas no bolso ou acenda junto ao rosto.
Fogueiras pelo país
De onde vem Acender fogueiras na porta de casa é lembrar do menino São João Batista. Foi o que a mãe dele, Isabel, fez para avisar que o bebê ia nascer, explicou o pesquisador de festas populares e professor da Universidade Estadual da Bahia Jânio Roque Castro, contando a versão que está na Bíblia. Outros estudiosos defendem que as festas juninas foram trazidas para o Brasil pelos europeus, que celebravam os solstícios de verão na Europa. O solstício é o momento que marca a chegada do verão de um lado da Terra quando do outro é inverno. Além de ser também o início dos ciclos das colheitas. Aqui, em junho, é solstício de inverno e o período de colher milho e amendoim. O pesquisador brasileiro Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) ensinou que nossas festas juninas são recriações das europeias junto com tradições familiares, de religiões e da comunidade.
No Sul e Sudeste do país, a prática de acender fogueiras é desconhecida e causa estranheza. É que essa é uma tradição do Nordeste. Na Bahia, apesar de o costume ser mais forte no interior do que em Salvador, elas também são acesas. “Elas iluminam as frentes das casas e as ruas. Era comum sair de um lugar para outro provando licor e comidas típicas e falando: ‘São João passou por aí?’”, lembrou o pesquisador Jânio Roque Castro. A comemoração também afeta o período das férias. Ao contrário das outras regiões, por causa da festa, a temporada no Nordeste é em junho em vez de julho.
4e5
Olhos ameaçados O que provoca o estouro dos fogos de artifício é a pólvora. Nela, uma substância chamada nitrato de potássio causa o efeito de explosão. Por ser um material perigoso, a fabricação exige cuidado. Em Santo Antônio de Jesus, na Bahia, já houve denúncias de fábricas ilegais desses produtos. “Os gases que saem dessas produções prejudicam o cristalino, parte da frente do olho”, alertou a química Zenis Novais.
Por que é colorido? Rodrigo Oliveira, 10, vai brincar na casa da avó. “Gosto de ver as cores dos fogos. Eles são bons porque não fazem barulho. Dos que fazem, prefiro os traques de massa. São bombinhas fraquinhas” . A química Zenis Novais explicou como são formadas as cores de que Rodrigo tanto gosta: se a gente colocar o sal de cozinha (cloreto de sódio) na chama do fogo, aparece a cor amarela. Se o sal for o cloreto de lítio, a cor fica vermelha. Com o potássio, fica violeta. “Essas substâncias produzem energias, e o que enxergamos são elas na forma de uma cor”. Mas, atenção: nada disso é feito em casa (não tente!) e, sim, em fábricas especializadas.
João Vítor Andrade, 8, tem ajuda para acender uma borboletinha
[ vá lá ] Feira de Fogos da Paralela Bancadas de madeira foram montadas na Avenida Paralela para vender fogos juninos. Por causa da Copa do Mundo, os fogos vieram nas cores verde e amarela. Até o final do Mundial, dá tempo de ir lá e fazer as compras para esta temporada. Onde: Av Luiz Viana Filho, s/n Quando: 11/6 a 12/7 Horário: das 8h às 23h, todos os dias
VULCÃO
ESTALO
Se olhar bem, ele parece uma gota. Quando jogado ao chão, produz um… estalo!
CHUVINHA
Não faz barulho. Mas o efeito é como se você controlasse uma chuva de faíscas de prata.
COBRINHAS
São muito pequenas e, quando acesas, ficam “endoidecidas”. Saem por aí, como uma cobra, arrastando-se pelo chão. Algumas até voam.
TRAQUE-BEBÉ
Parece palito de fósforo e, quando aceso, emite o barulho de uma bombinha. CLASSE A: podem ser vendidos para qualquer pessoa e soltados na rua, sem perigo
CLASSE B: são vendido só para maiores de 16 anos e é proibido soltar na rua
CLASSE C: só para maiores de 18 anos
Em forma de cone, ele é colocado no chão e, quando aceso, lança um jato forte com faíscas de fogo de baixo para cima. Só adultos podem soltar.
CORDÃO-CHEIROSO
Tem formato de cordão e, depois de aceso, exala um aroma nada cheiroso. CLASSE D: para maiores de 18 anos e precisa de licença para soltar
BORBOLETINHAS
Depois de acesas, elas voam como borboletas. Na hora de soltar, não pode segurar com a mão. É botar fogo e deixar o bichinho de pólvora solto no chão.
Fotos de Fernando Vivas (Ag. A TARDE) com interferência e ilustrações de Aziz