Moda e Figurino - a identidade do personagem em um ciclo de pesquisa, design e consumo.

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Moda e Figurino - a identidade do personagem em um ciclo de pesquisa, design e consumo Marilúcia Cardozo Neiva1

Material exclusivo do curso. É expressamente proibida a reprodução e divulgação na internet.

Glaúcia Centeno2

Resumo O desenvolvimento de figurino em dramaturgia é baseado no perfil do personagem, transformando-se posteriormente em fator gerador de consumo através da identificação dos telespectadores com esses papéis simbólicos e com a sensação de pertencimento a uma realidade social, cultural ou ainda a uma tribo. Perceber como determinadas peças do figurino de personagens de novelas se tornam sucesso de vendas como produtos de moda e a conseqüente identificação do consumidor com o perfil desses personagens são os desafios desse trabalho de pesquisa. Ao discutir o processo de criação do figurino de novelas, sua produção e seu impacto no mercado da moda, pretendemos destacar o figurino como gerador de modismos e avalanches de consumo e a importância da pesquisa de tendência para construção do mesmo Palavras-chave: Figurino. Consumo. Ciclo da moda. Identidade. Produto de moda.

1. Introdução O processo de criação do figurino se inicia com a imersão no texto dramatúrgico,

uma

sinopse

normalmente

seguida

da

apresentação

dos

personagens, seu universo, estilo, profissão, classe social, e a formação de núcleos de dramaturgia. Um núcleo é formado por personagens de uma realidade (profissão, local físico), uma família ou que tem um relacionamento mais próximo e constante. Normalmente uma novela possui em média 10 núcleos. Antecedendo ao trabalho de criação, existe a pesquisa, que, para uma obra de dramaturgia atual, contemporânea, começa em sites e portais de tendência e comportamento. Neste exato momento se inicia o ciclo: a pesquisa de tendências alimenta a criação do figurino, e o figurino, quando apresentado, se transforma em objeto de consumo e produto de moda, sendo ainda muito discutido na mídia. Todo o processo, enfim, é costurado por questões de identidade. Este tema é abordado por Diana Crane (2006), que reforça a relação do 1

Faculdade SENAI/CETIQT, Aluna do curso de Pós-graduação em Design de Moda. Email: mari.c.neiva@gmail.com 2

Faculdade SENAI/CETIQT, Mestre em Comunicação e Professora do curso de Pós-graduação em Design de Moda. Email: glauciacenteno@hotmail.com

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sujeito com o vestuário, quando se trata de construções identitárias: O vestuário, sendo uma das formas mais visíveis de consumo, desempenha um papel da maior importância na construção social da identidade. A escolha do vestuário propicia um excelente campo para estudar como as pessoas interpretam determinada forma de cultura para seu próprio uso, forma essa que inclui normas rigorosas sobre a aparência que se considera apropriada num determinado período (o que é conhecido como moda), bem como uma variedade de alternativas extraordinariamente rica. (...) As variações na escolha do vestuário constituem indicadores sutis de como são vivenciados os diferentes tipos de sociedade, assim como as diferentes posições dentro de uma mesma sociedade. (...) As roupas, como artefatos, criam comportamentos por sua capacidade de impor identidades sociais e permitir que as pessoas afirmem identidades sociais latentes. Por um lado, os estilos de roupa podem ser uma camisa de força, restringindo (literalmente) os movimentos e gestos dos indivíduos de forma mais ou menos voluntária. Por outro lado, as roupas podem ser vistas como um vasto reservatório de significados, passíveis de ser manipulados ou reconstruídos de forma a acentuar o senso pessoal de influência. Entrevistas realizadas por psicólogos da área social sugerem que as pessoas atribuem as suas roupas “preferidas” a capacidade de influenciar as suas formas de se expressar e de interagir com outras. (CRANE, 2006, p.21-22)

O objetivo deste artigo é desenhar o processo de criação de um figurino para novela e seu ciclo até se transformar em produto de moda a ser consumido pelo mercado. Como objeto de estudo será utilizada a novela Viver a Vida, de Manoel Carlos, em exibição na TV Globo de setembro de 2009 a maio de 2010.

Os

figurinistas responsáveis pela trama são Marie Salles e Antonio Medeiros.

2. O figurino e suas etapas: pesquisa, criação e construção O primeiro contato com o universo da novela se dá na sinopse, uma etapa ainda superficial, que apresenta os grandes temas e a atmosfera da novela. O trabalho de pesquisa e criação do figurino é baseado na apresentação do perfil dos personagens e tudo que envolve cada um. Neste momento, questões culturais, sociais, referências a tribos urbanas ou profissões que apareçam no roteiro são investigadas. Esse processo de pesquisa se desenvolve com a utilização dos mais variados recursos e ferramentas: sites de tendência e comportamento, blogs, livros, catálogos do mercado de moda, departamentos internos da própria TV Globo, como CEDOC, Memória da Produção, Pesquisa & Desenvolvimento da Criação de Ambientes e consultorias especializadas. A importância da visualização do perfil do personagem está associada ao trabalho do figurinista. Marco Sabino descreveu suas principais funções: Profissional responsável pela criação de roupas e acessórios, seguindo o perfil dos personagens, proposto pelo autor e/ou diretor, em filmes, óperas, balés, peças teatrais, novelas, seriados ou outros programas de televisão. Figurinistas de

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Hollywood como Adrian e Edith Head influenciaram no passado a moda com suas criações e, mais recentemente, o trabalho de Patrícia Field para o seriado americano Sex and the city inspirou a maneira de vestir de milhares de mulheres pelo mundo. No Brasil, a influência de figurinos de novelas no guarda-roupa das mulheres é notória. (SABINO, 2007, p.264)

Fator relevante para esse processo de identificação do telespectador com o personagem é a estrutura aberta da novela, sendo essa obra de dramaturgia construída quase em tempo real, sob influência da resposta do público e com grande alcance no país e no mundo. O aumento crescente das cenas externas, feitas na praia, na rua, em shoppings, leva o personagem até o cotidiano das pessoas e este aspecto reforça a proximidade do telespectador com o universo do personagem. Todo esse processo de troca, pertencimento e identificação vêm sendo reforçado pelo fenômeno da interatividade da internet. As enquetes e o acesso aos universos de bastidores das produções, matérias dos temas relevantes da trama, enfim, a mistura de realidade e ficção coloca esse telespectador dentro da história. O último fenômeno desse ciclo é a possibilidade de compra das peças e acessórios do figurino on line, fechando o processo que este trabalho se propõe a apresentar: o consumo do produto de moda. Esse mecanismo de venda, resultado do figurino, está apenas se estruturando e possui um grande potencial ainda pouco explorado. As etapas do figurino são bem definidas, mas se entrelaçam. O trabalho de pesquisa tem inicio com o levantamento de dados dos personagens e a definição de seu perfil. Esse trabalho de investigação acontece maciçamente nos dois meses anteriores ao início das gravações, chamado de pré-produção. Um personagem pode utilizar até 100 referências como base para sua construção, normalmente são referências iconográficas. Toda novela, em seus núcleos, apresenta personagens que criam a necessidade de pesquisas de universos profissionais distintos, por exemplo, médicos em Viver a Vida. Nesses casos, além de imagens, textos e artigos, visitas a hospitais e entrevistas com profissionais da área são utilizadas. Quando se trata de uma obra atual, além de toda a pesquisa psicológica e de comportamento para dar vida a esse personagem, são utilizadas pesquisas em sites como UseFashion e WGSN e pesquisas de novos materiais, catálogos de marcas e fornecedores de produtos de moda. O trabalho de pesquisa, inicialmente, tem um olhar conceitual e varia conforme a linha adotada pela equipe de figurino. Existem equipes que trabalham fortemente o processo criativo de desenvolvimento e construção da peça, com

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estruturação de modelagem e detalhamento de projeto. A existência de um setor, a fábrica de costura, para criação de modelagens com contra-mestras, alfaiates e costureiras para execução dessas peças dá base para esse trabalho com profissionalismo e excelência. Essa linha de trabalho se assemelha muito ao processo de desenvolvimento do estilo em marcas do mercado de moda, reforçando que desenvolvimento de produto de moda tem foco na venda e atendimento do desejo de compra do cliente, e desenvolvimento de design de moda para figurino tem foco em atender a criação de um personagem com um perfil estabelecido. Normalmente, os profissionais de figurino, quando estão envolvidos com um programa atual, construindo um personagem contemporâneo, se alimentam das pesquisas de tendência de mercado futuro, não se satisfazem com os produtos que já estão à venda para consumo, a busca de informação ocorre na abordagem das chamadas megatendências. Desenhos e croquis são produzidos com grande fidelidade e existe a necessidade de uso de matéria-prima diferenciada. A busca por pequenos ateliês e profissionais desconhecidos e inovadores é um caminho. Outra forma de trabalho é a de composição do figurino. Para tal, monta-se um grande e revelador retalho de peças, construindo um guarda-roupa para cada personagem. Usam-se peças prontas, de universos variados, normalmente a partir de pesquisas de mercado. Muitas vezes, inovam na forma de utilização dessas peças, e na composição, sem fazer criação e desenvolvimento de design de produto de moda, ficando muito próximos do produtor de moda – mas nunca se afastando do foco principal, que é construir o perfil do personagem através dessas escolhas e composições. Como para o figurino a busca é atender a uma obra de dramaturgia – no caso, novela – fatores da trama, necessidades dramáticas ou situações do roteiro determinam mudanças conceituais do figurino adotado por um determinado personagem. Com a pesquisa concluída são produzidos os anteprojetos de figurino, material gráfico impresso ou digital utilizado durante toda a novela como referência para construção e manutenção do figurino de cada personagem. Existe uma grande variedade de modelos de apresentação desses projetos, passando por uma simples colagem, com todas as imagens escolhidas, até o desenvolvimento de projetos em 3D, jogos interativos e filmes, na maioria das vezes, elaborados com o apoio de um designer. Com o decorrer da novela surgem novas situações e até personagens, podendo a equipe ter a necessidade de retornar a esse processo de composição de

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novos figurinos em alguns momentos. Toda a criação da caracterização é feita em parceria com o figurino. Esse anteprojeto é levado para aprovação da direção artística, juntamente com a apresentação das outras áreas, cenografia, produção de arte e caracterização. Depois de todos os ajustes conceituais começa a segunda fase, a produção e construção desse figurino, passando por etapas de compras, desenvolvimento de modelagens e confecção das roupas, escolha de calçados e acessórios. São também utilizadas peças do acervo da própria empresa, empréstimo e aluguel de acervos externos ou de lojas especializadas. No momento do desenvolvimento do figurino aparece a grande oportunidade de negócio dessa atividade. Se detectado a tempo e assertivamente, pode ocorrer investimento e parceria com empresas de produtos de moda para desenvolvimento de peças ícones desse personagem, para lançamento no mercado. É importante reforçar que essa oportunidade de negócio é ainda superficialmente aproveitada. As etapas seguintes são a prova de roupa nos atores, execução de ajustes e troca ou devolução das roupas não aproveitadas para o figurino. Começa, então, o processo de gravação com todas as questões logísticas e continuidade. Muitos figurinos criados para telenovelas brasileiras tornaram-se sucesso de vendas no mercado de moda. Os figurinos de novela são, de longe, os modelos mais pedidos pelas leitoras, segundo a revista Manequim Especial, edição histórica entitulada “Figurinos Inesquecíveis – 51 moldes de várias épocas para você se inspirar e criar looks atuais”. A revista que traz seções como “As Helenas”, “Vilãs Glamourosas”, “Figurinos marcantes”, “Festa de novela”, “Atrizes estilosas” e Lançadoras de Moda”, mostra detalhadamente o olhar que seus leitores têm do figurino. Uma das matérias apresenta as várias Helenas, personagem clássico do autor Manoel Carlos, todas com perfil em destaque, foto das novelas, looks, produção completa, além dos moldes das roupas. As “Helenas” representam mulheres fortes, que buscam felicidade e amor, trabalham fora, são de classe média e vivem no Rio de Janeiro e seus figurinos são sempre sucesso. É o caso da Helena interpretada por Thais Araujo em Viver a Vida.

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Fotografia 1. Figurino de ‘Helena” de “Viver a vida” – Revista Manequim Novela, p. 3

Na seção “Figurinos marcantes”, os figurinos das personagens Solange (Lídia Brondi), de Vale Tudo; Maria Eduarda (Débora Falabella), de Senhora do Destino; Vitória (Cláudia Abreu), de Belíssima; Sílvia (Alinne Moraes), de Duas Caras e Leona (Carolina Dieckmann), de Cobras e Lagartos são considerados looks que viraram febre em diferentes épocas e coincidem com informações do CAT (Central de Atendimento ao Telespectador) da TV Globo. A Central de Atendimento ao Telespectador (CAT) da Rede Globo foi criada para receber críticas e sugestões dos telespectadores da TV Globo, assim como tirar dúvidas sobre a

programação,

eventos, promoções e informações gerais sobre as produções. Se tornou uma fonte importante para o público que busca informações sobre as peças usadas no figurino dos personagens nos programas da TV Globo.

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Outros clássicos elementos de figurino que viraram produto de moda de sucesso são as meias de lurex de Júlia Matos (Sônia Braga) em Dancin’ Days, as meias compridas e as sainhas em xadrez usadas pela Lisa (Andréa Beltrão) em A Viagem, os tops/maiôs engana-mamãe de Bebel (Camila Pitanga) em Paraíso Tropical, as inconfundíveis micro-saias de Darlene (Deborah Secco) em Celebridade e o terninho branco da protagonista Maria Clara (Malu Mader) na mesma novela. Os figurinos são representações simbólicas de determinados perfis facilmente identificáveis, como a mulher rebelde e transgressora, a lutadora, a personagem de quadrinhos, a prostituta heroína com toda sua dualidade, a fada, as personalidades que representam a banalidade urbana dos subúrbios, chegando a básica mulher clássica. Os figurinos são representações de papéis sociais ou psicológicos e carregam a identidade de seus personagens. O produto de moda e a produção de conteúdo para televisão, mais especificamente a novela - que é um produto de dramaturgia, possuem um mesmo fio cíclico de repetições sistematizadas. No mercado de produtos de moda e de produção de conteúdo de televisão, o consumidor tem apresentado um desejo por renovação rápida, as coleções são lançadas em períodos cada vez mais curtos, e em termos de produtos para televisão existe uma tendência por programas mais curtos e de substituição sucessiva. Todo esse ciclo acontece dentro do consumo de massa, de fácil digestão e para utilização imediata, simples e direta.

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Esse sistema de representação da indústria cultural já foi apresentado por Gilles Lipovetsky, em O Império do Efêmero: A cultura industrial, como bem dizia Edgard Morin, realiza a síntese do original e do padrão, do individual e do estereótipo, de acordo, no fundo, com o sistema da moda enquanto aventura sem risco, variação sobre o estilo de uma época, lógica das pequenas diferenças. O produto apresenta sempre uma individualidade, mas enquadrada nos esquemas típicos. Ao invés da subversão vanguardista, a novidade no clichê, um misto de forma canônica e de inédito. Com certeza, certas obras conseguem sair dos caminhos trilhados e inovar, mas a regra geral está na variação mínima da ordem conhecida: cem westerns desenvolvem a mesma trama do forada-lei e do justiceiro, cem “policiais” colocam em cena os mesmos confrontos na cidade, a cada vez com pequenas diferenças determinando o sucesso ou o insucesso do produto. Dinastia retorna Dallas de maneira diferente: cada episódio de série policial ou de saga familiar é a exploração de um estilo reconhecível, de uma forma inalterada e repetitiva, definindo a imagem de marca da série. Como no vestuário ou na publicidade, a novidade é a lei, com a condição de não ferir frontalmente o público, de não perturbar os hábitos e as expectativas, de ser imediatamente legível e compreensível para a maioria. É preciso evitar o complexo, apresentar histórias e personagens imediatamente identificáveis, oferecer produtos de interpretação mínima. Hoje, as séries de televisão vão muito longe para obter uma compreensão máxima, sem esforço: os diálogos são elementares, os sentimentos são expressos-repetidos com o apoio da mímica dos rostos e da música de acompanhamento. A cultura de massa é uma cultura de consumo, inteiramente fabricada para o prazer imediato e a recreação do espírito, devendo-se sua sedução em parte à simplicidade que manifesta. (LIPOVETSKY, 1987, p.209)

O ritmo da produção televisiva se assemelha e se estrutura no mesmo conceito cadenciado e repetitivo de criação do produto de moda, ambos os processos são de consumo imediato. O produto novela vende, interage com seu consumidor na velocidade das mídias sociais e sempre apoiado por um site, blog, com caminho de troca em várias vias. Nesse processo estabelecido já não importa o ideal, a busca da perfeição sob qualquer aspecto, simplesmente a identificação com um perfil ou universo conhecido, exato, momentâneo e volátil, produto que será logo substituído.

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3. A Novela Viver a Vida O trabalho de pesquisa tem como meta a contextualização de um cenário cultural, social e psicológico do personagem, com pesquisas de tendências e comportamento, de época ou cultural, de um país, cidade, bairro, tribos urbanas e referências de representação do cotidiano – “o olhar da rua”. Ao analisarmos o universo da novela Viver a Vida podemos considerar as seguintes situações: Alguns registros fotográficos das pessoas do balneário de Búzios, do bairro carioca do Leblon e o backstage dos desfiles e do mundo das modelos marcaram o trabalho de pesquisa do figurino da novela. A sinopse foi entregue à equipe de criação com referências para iniciar o trabalho. Os personagens normalmente são apresentados nos seguintes núcleos: Helena (Helena,Oswaldo, Edite, Paulo, Sandra, Ronaldo,Benê e Glória), Marcos (Marcos,Tereza, Luciana,Isabel, Mia, Noêmia, Amélia, Paixão e Nice), Jorge e Miguel (Leandro, Ingrid, Jorge, Miguel, Renata, Regina e Raquel), Gustavo e Betina (Gustavo, Betina, Clarisse, Bernardo, Malu Trindade, Vera e Carú), amigas e examores de Helena (Alice, Ariane, Marcelo, Gabriel, Yolanda, Ellen, Ricardo, Tomie, Celeste, Léa, Laura e André), Búzios (Dora, Rafaela, Lucas, Onofre, Matilde, Flávio e Soraia) e aventureiros (Bruno, Sílvia, Felipe, Fanny e Anna). O perfil dos personagens é apresentado de forma resumida, inicialmente, mas a idéia é mostrar profissão, classe social, chegando a nuance de personalidade e questões da trama. No início, as informações são ainda superficiais e vão se detalhando durante o processo. A seguir, um exemplo de apresentação dos personagens à equipe de figurino: “Helena (Tais Araújo) Até 30 anos. Casada com Marcos. Faz sucesso como modelo. Seu hobby é fotografia e especializou-se em moda. Mora com o marido e a filha dele no Leblon. Tereza (Lilia Cabral) Menos de 50 anos. Foi modelo e desfilou com algum sucesso. Mora com as duas filhas na Barra Isabel e Luciana, legítimas, e Mia adotiva. Luciana (Aline Moraes) Jovem. Filha de Marcos e Tereza. Seu sonho é ser modelo de fama internacional, viajar pelo mundo, ter muitas aventuras. Tem um namorado Jorge. Betina (Letícia Spiller) Até 35 anos. Charmosíssima, interessante, sem ser uma beleza convencional.

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Durante o processo de pré- produção as informações vão chegando aos poucos. Começam as gravações e o personagem aparece com a riqueza de detalhes de um trabalho minucioso que envolve toda a equipe de figurino. Com a estréia da novela o personagem é apresentado ao telespectador, que conhece seu perfil e universo, não só pelas novelas, mas em sites, revistas, etc.

Quando a novela estréia, o site oficial da novela, da Globo.com, apresenta a foto do personagem com informações detalhadas e abrangentes de sua personalidade e fatos importantes da trama: Helena Taís Araújo

Top model de renome internacional, Helena está no auge da carreira aos quase 30 anos. Criada em Búzios, um famoso balneário do Rio de Janeiro, foi para a capital ainda na adolescência onde iniciou sua carreira. Como modelo, viajou o mundo, morou em vários países e conquistou estabilidade financeira. A maturidade precoce a colocou no centro da família. Teve dois romances marcantes, mas sempre colocou a carreira em primeiro plano. Durante um desfile em Búzios, conhece Marcos e se encanta com seu cavalheirismo. Mora em um simpático apartamento no Rio de janeiro com a amiga Ellen. (http://viveravida.globo.com/Novela/Viveravida /Personagens/0,,PS2494-17529,00.html)

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Luciana Alinne Moraes

Filha mais velha de Marcos e Tereza. Jovem mimada pelos pais, sonha com o glamour e o sucesso no mundo da moda, mas não tem o apoio da mãe, que conhece as desilusões que a profissão é capaz de causar. Quem também não gosta da carreira escolhida por ela é seu namorado, Jorge, que faz de tudo para que ela desista da ideia. Porém, Luciana é confiante e corre atrás de todas as oportunidades para ver sua carreira decolar. Muito apegada ao pai, ela conta com seu total apoio e torcida. (http://viveravida.globo.com/Novela/Viveravida/Personagens/0,,PS249417529,00.html)

Com as informações fornecidas pelo autor, a equipe de figurino fez pranchas com o conceito de cada personagem. Na matéria “Viver a vida fashion” no site da novela, a figurinista Marie Salles defende a ligação com a realidade, e reforça todos os laços do figurino com perfil psicológico do personagem, deixando claro que a tendência e o aspecto da modernidade são questões secundárias: Para Marie Salles, que assina o figurino da novela, o maior desafio de fazer Manoel Carlos é conceituar a maneira de vestir de personagens tão reais. “Dar uma cara verossímil aos personagens é, sem dúvida, a tarefa mais desafiadora. Minhas referências precisam ser críveis. Meu olhar precisa traduzir a alma de cada personagem”, afirma. Por isso, ela foi buscar em sua própria vida, nos amigos e nas ruas algumas referências e idéias. Marie também destaca as diferenças nos figurinos das modelos Helena e Luciana. “Elas têm personalidades completamente diferentes. Na hora da concepção dos figurinos, a modernidade é o que vem por último”, afirma. Helena é madura, centrada, responsável, viajada, internacional. Tudo isso se reflete no seu figurino, que faz um estilo contemporâneo. Sempre confortável, ela veste peças clássicas, mas arrisca usar umas calças saruel com camiseta. Sua adolescência no balneário também influencia o figurino da top model. Na cartela de cores, predominam as solares como o amarelo, laranja, bege, cáqui e dourado. “Tudo na Helena tem classe e leveza”, completa Marie. Já Luciana, personagem de Aline Moraes, é mais jovem, uma menina mimada, ainda começando na carreira fashion. Seu figurino é despojado, quase grunge, mais colorido e mais curto. ( http://viveravida.globo.com/Novela/ Viveravida /Bastidores /0,,AA1705393-17521,00.htm )

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3. O figurino da novela chega às ruas

Os sites “Manequim” da Editora Abril, “Portais da moda”, “Dicas de Comadre” e o portal de tendências “UseFashion” - que apresenta uma área chamada Moda de Novela, servem como referência para a discussão a respeito da reprodução do figurino pela mídia. As questões psicológicas, sociais e subjetivas são a mola propulsora do desejo de consumo de uma determinada peça de vestuário. Em outro site com o mesmo nome (“Moda de novela”), são vendidas peças de roupas “inspiradas’’ nas usadas em novelas. Esse site é um entre tantos que baseiam seu conteúdo nas novelas da TV Globo, não tendo vínculo nenhum com a empresa, nem com o site oficial das novelas (Globo.com) e apesar disso, produzem conteúdo, utilizam fotos, imagens dos atores chegando a vender produtos de moda baseados no figurino das novelas . Existe um apelo forte de venda dos produtos, cópias exatas de modelos do figurino, deixando um pouco de lado fatores importantes de direito autoral e utilizando imagens sem crédito. Todas as reportagens apresentam o perfil do personagem antes de falar da roupa ou de um determinado look de moda. Alguns chegam a definir emoções e status, tribos urbanas ou cultura, registrando o capítulo e a cena em que aquele personagem usou determinada roupa, fazendo assim uma clara ligação entre peça do vestuário escolhida e a sua representação como elemento de definição de classe, tribo pertencente e até grau de realização e sucesso alcançado na vida. Na matéria “Os looks de Viver a Vida”, no site “Manequim”, da Editora Abril, as personagens principais são apresentadas e o tom usado é sempre enfatizando o estilo de vida, a atitude e contextualizando o universo de cada personagem. Um pequeno currículo da figurinista é citado, a forma de pesquisa da equipe de figurino mencionada, Manoel Carlos, o autor da novela referenciado, mas o mergulho do texto é no universo dramático da novela. Cada personagem é detalhado em suas características e o leitor é levado para uma realidade paralela que quase explicita: vista-se assim e fará parte desse mundo.

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A seguir, alguns trechos da matéria: Os looks de Viver a Vida Helena - Taís Araújo A personagem de Taís Araújo é uma modelo de fama internacional. Seus looks são inspirados na moda safári, com peças cáqui e de alfaiataria. Sofisticada, ela adora cintura alta e saruel, além das cores alaranjadas. Luciana – Aline Moraes Vivida por Alinne Moraes, a também modelo Luciana gosta de peças atuais, como jeans claros e xadrez. Depois de sofrer um acidente e ficar paralítica, ainda no início da novela, ela passará a usar roupas de tricô e malha, que transmitem aconchego. O estilo grunge, bem suavizado, também influencia o figurino. “Modelagens soltas, jeans, camisetas e estampas xadrez são marcantes nos looks de Luciana”, diz. Já as cores que ela usa – azul-claro, lilás e roxo – remetem ao entardecer. Quando estiver de cadeira de rodas, a personagem vai aderir às peças de tricô e malha, que são confortáveis e aconchegantes. Tereza – Lilia Cabral Ex-modelo amargurada por ter largado a carreira para se dedicar ao casamento, ela é uma mulher chique e despojada. Seu guarda-roupa clássico é composto por peças de corte impecável e cores neutras. Vestidos tradicionais, roupas de linho, bermudas e camisas ajudam a compor o seu visual. Ariane – Christine Fernandes Uma das melhores amigas de Helena (Taís Araújo), ela é uma médica que se dedica a pacientes em estado terminal. Por isso, seu figurino passa a idéia de calma jeans e tons claros, assim como batas e rendas. ( http://manequim.abril.com.br/moda/figurinos-na-tv/as-producoes-de-viver-a-vida499902.shtml?page=page2 )

Na matéria “Figurino de Malu em Viver a Vida”, de Camila Cemin Rolon, da equipe de redação do “Portais da Moda”, o tema é o figurino da personagem Malu. No texto, o nome da atriz Camila Morgado, que a interpreta, é citado, seguido de detalhada apresentação: jornalista de sucesso, estilo definido como sofisticado e que agrada ao público. A matéria cita ainda o posicionamento politicamente correto da personagem na trama, onde sofre com o dilema de viver ou não um romance com o marido da prima Betina (Gustavo). As fãs são colocadas quase como cúmplices desse momento de traição ou amor verdadeiro. A matéria continua falando do estilo conservador, com toques de sensualidade, sem exageros, o que faz o personagem Gustavo aguçar seu interesse por Malu. É uma receita de como uma mulher deve se comportar e se vestir para conquistar seu amor. Só então chegamos à questão roupa, o modelo saia lápis com cintura alta é apresentado como ícone desse

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figurino. Para quebrar a seriedade da personalidade certinha da personagem, o uso de salto alto, decotes e cores vibrantes. Os modelos de vestidos, com cintura alta, de um ombro só, servem para sinalizar a personalidade da personagem, seriedade e confiança com afobação adolescente. A questão tendência aparece para avalizar esses looks. A matéria mostra uma tendência futura que vai ao encontro das cores e peças de vestuário usadas e ainda reforça a idéia de que não se pode deixar de lado a moda atemporal: Sofisticação clássica caracteriza o estilo de Malu, de Viver a Vida. Cores quentes e looks simples, no entanto, sempre muito sofisticados; definem o figurino da personagem de Camila Morgado que preza pelo corte elegante e atemporal de suas roupas. Para quem se identifica com a personalidade e o estilo de Malu, ou simplesmente já se apaixonou por suas bolsas, sapatos, saias e vestidos; vale à pena continuar conferindo às cenas engraçadas e românticas dessa jornalista que se faz de durona, mas têm agradado – e muito! – os espectadores que se divertem com suas trapalhadas. Afinal de contas, a figurinista Marie Salles promete surpreender e ditar algumas tendências no decorrer dos capítulos de mais uma novela da Globo que vêm lançando moda no território nacional! (http://www.portaisdamoda.com.br/noticiaInt~id~19965~n~figurino+de+malu+de+viv er+a+vida.htm)

Fotografia 4. Site “Moda de Novela” exibindo peças do figurino de Viver a Vida.

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No site “Moda de novela” existe um apelo claro de venda. O site é dividido em áreas com os nomes das novelas da TV Globo, é atualizado com informações diárias e mostra imagens do figurino apontando o capítulo em que a roupa foi usada. O site mostra fotos da cena da novela, frente, lateral e costas da personagem, seguido de um texto que apresenta uma versão da roupa inspirada no figurino da novela a venda. As fotos, também com frente, lateral e costas, mostram uma modelo vestindo uma cópia do modelo que é apresentado como texto da matéria: O macacão regatão Moda de Novela inspirado no modelo usado pela personagem Helena na novela Viver a Vida é confeccionado em malha viscolycra pura em diversas cores. O macacão regatão Moda de Novela está à venda na loja virtual Moda de Novela, com a segurança e facilidade de pagamento do sistema PagSeguro (boleto, débito e até 12x no cartão de crédito), a entrega é feita em todo o Brasil pelos Correios. O macacão regatão Moda de Novela em malha é uma peça leve, descontraída e extremamente confortável, a roupa ideal para o verão. Clique aqui e aproveite mais esta oportunidade para andar na moda (de novela) (http://www.modadenovela.com.br.htm)

Fotografia 4. Personagem Helena de Viver a Vida no blog “Moda de novela”.

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Fotografia 5. Roupa da personagem Helena de Viver a Vida no blog “Moda de novela”.

O estímulo ao consumo não se restringe a itens do vestuário, a questão principal parece ser o modo de vida, pois uma mesa de futebol de botão que decorava o escritório do personagem Jorge, representado por Mateus Solano, foi item de venda do site. Esta venda seria resultado de uma parceria com o portal Submarino e oferecia acessórios como times, por exemplo. Algumas matérias do site oficial “Globo.com” são trazidas para complementar o conteúdo do site “Moda de Novela”, gerando uma situação bastante confusa e misturando os universos ficção e realidade. Apesar da atitude questionável, utilizando conteúdo de propriedade alheia no portal, a promessa é de tranquilidade e total segurança na venda on line, certeza de entrega e a possibilidade de uso variado de cartões de crédito.

Para o mercado consumidor das classes C e D, por exemplo, é forte a importância e influência do figurino das novelas. Em uma matéria do portal G1, a gerente de estilo das Lojas Riachuelo afirma que “a novela é referência obrigatória para quem faz moda popular no Brasil”. Ela ainda reforça a importância de se trabalhar rapidamente, pois o processo é volátil, chamado pelo mercado de “fast fashion”: Outra referência obrigatória para os grandes magazines, que graças ao cartão de crédito e ao parcelamento “a perder de vista" têm boa parte de sua clientela concentrada na “classe C", definida pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) como o grupo que concentra os “consumidores emergentes", são as novelas. “É uma referência forte e relevante para essa classe social. São tendências que ajudam nas vendas", diz Karla Seabra, gerente da área de estilo da Lojas Marisa. Na Hering, a camisaria com referências orientais foi reforçada pela novela “Caminho das Índias", segundo a gerente de produtos da empresa, Fernanda Amaral. Para atender a esse tipo de “demanda imediata", Fernanda explica que a Hering faz seis

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coleções por ano, desenvolvendo linhas extras conforme a necessidade. “Com ‘Caminhos das Índias’, não tínhamos essa tendência, mas colocamos [nas lojas]. É o que se chama de ‘fast fashion’." A gerente de estilo da Riachuelo diz que a novela é referência obrigatória para quem faz moda popular no Brasil. Ela explica que, se as roupas de um determinado personagem não foram detectadas no radar do setor de estilo anteriormente, é necessário trabalhar rápido para fazer o produto chegar ao consumidor. "Sempre tiramos vantagem do nosso tempo de resposta. Temos as fábricas à nossa disposição. Isso nos dá agilidade", diz a executiva da Riachuelo. (“http://ww3.assintecal.org.br/page_noticias.php?title=Desfiles+de+NY+e+novela+da s+oito+ditam+a+moda+de+grandes+magazines+brasileiros&ckey=a0a65d14271a59 2d016a755b2104d26b&wts=MDAwMDAwNTk2OQ”)

As novela vem ditando tendências para a moda brasileira, principalmente nos grandes centros urbanos, com seus altos índices de audiência e com grande divulgação na mídia, principalmente com apoio da internet, verdadeira perceira nesse processo de estímulo ao consumo de produtos de moda. Esse processo de informação e venda on line reforça o formato que se estabelece na nossa sociedade por um consumo rápido, volátil e facilmente substituível de produtos de moda e conteúdo de informação e de entretenimento.

6. Conclusão

O figurino da novela, com a utilização de projetos de design de moda ou montado com peças de vestuário já existentes, desempenha papel importante na construção da identidade do consumidor de moda. O trabalho do figurinista é estruturado com olhar no mundo real. Os personagens, possuidores de uma variedade e pluralidade psicológica e física do ser humano, fazem parte do cotidiano ou do imaginário das pessoas, do palpável ou do desejável. O telespectador vivencia a história desses personagens, sofre com suas ansiedades e dores e compartilha de suas alegrias, sonhando com seu mundo glamoroso, projetando-se e vinculando-se a ele emocionalmente. As roupas que esse personagem veste são resultado da pesquisa de tendências, do desenvolvimento da modelagem ou de uma produção bem executada. Tudo acontece sem perder o foco no personagem, definindo e ilustrando uma personalidade em que o telespectador acredita, admira, deseja ou

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até repudia, mas que tem, sobretudo, o valor da verdade. O consumo, não mais motivado por necessidade, está apoiado no prazer, na construção de uma linguagem, na identificação ou distanciamento de uma personalidade ou perfil. No caso das novelas especificamente, estamos falando da construção de identidades através do consumo de produtos que carregam uma carga simbólica elevada, cujos códigos só podem ser interpretados por quem está inserido nesse mundo que mistura de forma muito eficiente realidade e ficção. Além de ser um produto de entretenimento dos mais valorizados, as novelas são a grande passarela da moda brasileira, onde desfilam objetos de desejo e parte da principal engrenagem do mercado de moda no país. O que chega às ruas por meio dos personagens de novelas quase sempre se transforma, se renova, criando novas referências que muitas vezes vão ser observadas por produtores e figurinistas. Captada nas ruas, a moda de gente comum pode se transformar em moda de celebridade, assim como a moda de celebridade se transforma, por meio das novelas, em moda de rua. Na relação moda e figurino, esse ciclo de criação - embora obedeça a um método sobre o qual nos reportamos nesse trabalho - parece não ter princípio e nem fim, podendo iniciar a qualquer momento. Para que isso aconteça, basta surgir algo novo, capaz de atrair os olhares atentos e saciar os desejos vorazes dos consumidores.

8. Referências Arruda, Lilian. Entre tramas, rendas e fuxicos. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2007. CRANE, Diana. A Moda e o seu papel social – Classe, gênero e identidade das roupas. São Paulo: Editora SENAC, 1992 LEITE, Adriana. Figurino uma experiência na televisão. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2002 LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero. São Paulo: Editora companhia das Letras, 1989 LURIE, Alison. A Linguagem das Roupas. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1992 SOUTO, Marcel Maior. Almanaque da TV Globo. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2006.

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SOUZA, Gilda de Mello. O Espírito das Roupas. São Paulo: Saraiva 1987

http://manequim.abril.com.br/moda/figurinos-na-tv/as-producoes-de-viver-a-vida499902.shtml?page=page2, acessado em 14/02/20010. http://www.modadenovela.com.br.htm, acessado em 20/02/20010. http://viveravida.globo.com/Novela/Viveravida/Personagens/0,,PS249417529,00.html, acessado em 13/02/2010 http://viveravida.globo.com, acessado em 15/02/2010. http://www.oficinadeestilo.com.br/blog/2008/07/02/truques-de-estilo-em-novelas/ acessado em 15/02/2010. http://www.portaisdamoda.com.br/noticiaInt~id~19965~n~figurino+de+malu+de+viver +a+vida.htm, acessado em 08/12/2009.

http://ww3.assintecal.org.br/page_noticias.php?title=Desfiles+de+NY+e+novela+das +oito+ditam+a+moda+de+grandes+magazines+brasileiros&ckey=a0a65d14271a592 d016a755b2104d26b&wts=MDAwMDAwNTk2OQ acessado em 15/02/2010.

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