Processo de criação através de Yohji Yamamoto Creation process by Yohji Yamamoto Ana Paula Lima de Carvalho Docente e Gestora Técnica do Curso de Pós Graduação em Design de Moda do SENAI/ CETIQT
Carla Mendonça Moura Fernandes Pós-Graduada em Design de Moda no SENAI/CETIQT (2010)
Resumo A proposta deste artigo é de verificar e interpretar o processo criativo de Yohji Yamamoto, a partir do documentário intitulado “Identidade de nós mesmos”, do cineasta alemão Win Wenders, bem como das pesquisas etinográficas, bibliograficas e filmográficas e ainda apresentar referências ao design em estudo. Palavras-chave: Yohji Yamamoto. Processo de Criação. Design de Moda. Abstract The purpose of this article is to verify and interpret the creative process from the Yohji Yamamoto documentary entitled "Identity ourselves" of the German filmmaker Wim Wenders, as well as research etinográficas, filmográficas and bibliographical references and still present in the study design. Keywords: Yohji Yamamoto. Creation Process. Fashion Design. INTRODUÇÃO Se perguntarmos o que é moda, certamente teremos vários conceitos sobre o tema. O que leva a constatação que o campo da moda é multifacetado e engloba uma diversidade de caminhos. Isso significa que a moda tornou-se um sistema complexo, capaz de criar identificações com acontecimentos e grupos sociais, ou mesmo ir ao encontro destes. Percorrendo esses caminhos complexos da moda, deparamos com processos de moda interessantes, estes que podem inclusive transitar na contramão de suas regras tradicionais, e que acabam nos envolvendo e levando-nos a uma nova análise conceitual no campo criativo da moda. Este artigo pretende seguir do lado oposto do contexto tradicional da moda, buscando seus desdobramentos, no caso, a criação aliada ao “fazer da moda”. A intenção é também propor um questionamento quanto ao que é moda comercial - feita para vender e consumir fácil - em contraponto a moda conceitual - que conta www.cetiqt.senai.br/redige
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uma história, passa uma mensagem, agrega algum valor àquele que se apropria dela e segue seu rumo. A partir da descoberta do documentário de Win Wenders sobre o processo criativo de Yohji Yamamoto, desvendando que na contramão dos estilistas mais conceituados no mercado, Yamamoto revelou-se um “artista da roupa”, um inovador na moda. No caso, “contramão é a direção oposta àquela que está determinada” (MICHAELIS, 2002, p. 202) e contramão na moda, seria àquela que vai ao oposto do que é a tendência, contrário àquilo que está estipulado como moda naquele momento. O foco principal dessa pesquisa é a investigação do processo de criação de Yamamoto na moda, desvendado em parte por Win Wenders em seu documentário “Identidade de nós mesmos” (1989), no qual o estilista mostra para o mundo que não existe regra para a criação, cada um deve expressar e fazer aquilo que acredita ser o certo. Sua experiência de vida, suas bagagens culturais e estéticas, e as vivências são levadas para as suas criações, acrescentando vida e beleza às suas peças. De certo modo, o documentário irá embasar alguns pontos desse artigo, tornando-se assim um referencial devido à escassez de material teórico conceitual específico sobre o estilista Yohji Yamamoto. Desse modo, desenvolveremos um subtema denominado “Yohji Yamamoto: o poeta negro”, para traçar uma breve biografia e compreender o quanto as interferências na história da sua vida lhe permitiram carregar um processo criativo inovador. Yamamoto trouxe uma proposta de moda, voltada a um público irreverente, criativo e não às “vítimas da moda”, conforme seu comentário “se a moda é a roupa, ela não é indispensável. E se a moda é uma maneira de perceber nosso cotidiano, então ela é muito mais importante”.(YAMAMOTO apud BAUDOT, 2000a, p.12). Insere-se no mundo da moda, juntando seu talento e o neo-minimalismo-japonês (do qual participam Rei Kawabuco e Issey Miyake), entre formas geométricas, poucas curvas, cores escuras e uma proposta de conforto aliado à estética, lembrando que o minimalismo exclui os excessos em busca da forma limpa, dos elementos reduzidos como se observa na obra de artistas como Sol Lewit.
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Assim, a proposta deste trabalho será de demonstrar o processo de criação de moda, elaborado por Yohji Yamamoto, e interpretar os aspectos contidos em sua linguagem, a busca por detalhes, mensagens e símbolos, inscritos nas roupas desse criador. Pode-se dizer que a moda tornou-se um elemento fundamental nos dias de hoje, em meio à sociedade do espetáculo e da comunicação de massas, constitui uma espécie de tecido de ligação social. Apesar disso, ela é cercada de contradições, uns a consideram como uma espécie de escravidão e outros afirmam, pelo contrário, que a moda permite a expressão da individualidade. De qualquer modo Lipovetsky (1997, p.266) comenta que: [...] O comportamento orientado pela moda é fenômeno do comportamento humano e está presente na sua interação com o mundo, fundamentada na reivindicação da individualidade e na legitimidade da singularidade [...].
Ainda sobre a mesma abordagem, Kathia Castilho (2004, p.85) afirma que, moda é antes de tudo uma entidade abstrata, capaz de configurar o corpo e suas questões, assim ela sustenta que existem: [...] maneiras de o sujeito materializar-se como presença; propõe continuidades e rupturas; inaugura, recupera e antecipa tendências e perspectivas. Como todas as instituições, dita modos, que, na aparência, são oferecidos como propostas. Esse sistema complexo da Moda, coercitivo por natureza, pode ser apreendido no processo, nas construções realizadas para a concretização do discurso dessa entidade abstrata, que é justamente de onde se originam os movimentos da moda, (...) a moda vestimenta do corpo, entendida como o conjunto formado “pelos” trajes, adornos e acessórios [...].
Elizabeth Wilson (1989, p.14) reconhece no traje, o elemento fundamental da moda, quando afirma que: [...] a moda é o traje, no qual a característica fundamental é a mudança rápida e constante de estilos. A moda, num certo sentido é mudança, e nas sociedades ocidentais modernas não existe roupa fora de moda; a moda estabelece os termos de todos os comportamentos em relação ao modo de vestir. [...] No entanto são menos diferentes do que elas pensam, porque a sua maneira de vestir é inevitavelmente determinada pela moda [...]
Com essas considerações, entende-se que a moda é um fenômeno complexo que vai além da pura noção de equilíbrio entre tecidos, cores e padronagens que constituem as roupas no dia a dia. Antes de mais nada, a moda pode ser comparada a fenômenos socioculturais e, como tal, impregnada de valores simbólicos e míticos www.cetiqt.senai.br/redige
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que resistem a uma interpretação em um só sentido, sobretudo no que diz respeito ao processo da criação, onde emergem aspectos subjetivos, como o imaginário do estilista, sua bagagem cultural e estética aliada ao processo criativo.
1. REGISTROS DA CRIAÇÃO: IDENTIDADES DE NÓS MESMOS O documentário Identidade de nós mesmos (1989), dirigido por Wim Wenders, desvenda partes da criação de Yamamoto, desde a inspiração até o desfile, em Paris. O processo criativo é exposto de maneira delicada e silenciosa. O telespectador e o documentarista são praticamente testemunhas de um momento especial que Yamamoto entrega-lhes, na medida em que desvenda suas criações em meio a reflexões sobre a moda e o mundo, Yamamoto demonstra que tudo pode servir de inspiração em seu processo, desde fatos cotidianos, históricos, objetos, imagens (arte, fotos), entre outros. Sua coleção outono/inverno de 1989, por exemplo, mostrada nesse documentário, foi inspirada em fotos antigas do fotógrafo alemão August Sander, editadas no livro Mans of 20 century, com “fotos de pessoas de verdade” como ele mesmo diz, pessoas vestidas com roupas de trabalho, de casamento ou de luto, ostentando semblantes de pobreza ou fome (análises de Yamamoto captadas por Win Wenders neste documentário). Yohji Yamamoto revela no filme suas inspirações para essa coleção de 1989, nas fotografias de August Sander, onde estão identificados “tipos” alemães e a relação entre a imagem e suas profissões. Yamamoto vê nessas fotos, elementos que despertam sua curiosidade, por exemplo: as expressões e as roupas usadas pelas pessoas dizem muito sobre suas profissões e suas vidas, elas parecem carregar uma história, sensação esta que o estilista sente não existir mais. Pode-se dizer que, o estilista caminha entre formas dramáticas e assimétricas que configuram seu estilo, no decorrer do filme informa que, “a simetria perfeita é feia”, para ele, o ser humano não é simétrico em suas emoções, pensamentos e até em seu corpo, e ainda: “precisamos quebrar, desconstruir um pouco”. Desconstruindo
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linhas, construindo sonhos que transcendem a moda em si, assim desenvolve Yamamoto. Em outra passagem do documentário comenta que “as pessoas, hoje, nas cidades, parecem todas iguais, não dá para distinguir as suas profissões”. As pessoas de hoje, para ele não se vestem mais de acordo com o seu trabalho e sua história de vida. “A expressão facial dessas pessoas (fotos do livro de Sander) combinam perfeitamente com a roupa que elas estão usando, quase como se tivessem sido feitas para elas”, conclui o estilista. A foto preferida de Yamamoto, no livro de fotos de August Sander, é a do jovem cigano (Figura1), não só pela roupa, mas pela expressão de seus olhos e também a valorização pela expressão gestual, a maneira pela qual ele coloca suas mãos no bolso. Seu interesse é pelo aspecto utilitário da roupa. São seres humanos “vestindo a relidade”.
Figura 1: Cigano Fonte: August Sander. 2002.
Outros retratos lembram-nos a questão dos uniformes (Figuras 2 e 3), uma antimoda por excelência, que não tem compromisso com o novo, apenas com a tradição. Os uniformes têm a função de distinguir um certo grupo, de caracterizá-lo e diferenciá-lo dos outros. Através dele, é possível identificar a profissão de alguém, seu status social, o lugar que o indivíduo ocupa na sociedade.
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Figura 2: Trabalhadores Fonte: August Sander. 2002.
Figura 3: Trabalhador de uniforme Fonte: August Sander. 2002.
Ao mesmo tempo em que se iguala, também se diferencia. Os códigos contidos nos uniformes são autorreferentes, seus símbolos são facilmentes internalizados. “Ao contrário da maioria da roupa civil, o uniforme é, com frequência, consciente e deliberadamente simbólico. Identifica aquele que o veste, como membro de algum grupo” (LURIE, 1997, p.34). Os passos de Yamamoto para a criação da coleção de 1989 foi mostrado no documentário e desvenda parte de seus segredos, conforme ele menciona: “meu processo de criação começa com a escolha do material, como uma segunda pele”, Isso vem explicar o fato de só criar com a utilização do preto (cor-ausência de cor) que para ele traz emoções mais condensadas, sobretudo pela junção de todas as cores, a partir disso é que ele escolhe a matiz que será feita a peça. Sua paleta usada na coleção, mostrada no filme, possui poucas cores, geralmente preto, algum branco e toques de vermelho. Yamamoto finaliza as peças, no corpo das modelos que desfilam para ele, usando o método da moulage (Figura 4), a criação é praticamente em cima do corpo da modelo e quando se acredita que a peça já está pronta, ele finaliza a roupa com o seu toque particular, podendo rasgar a bainha, a manga ou o que acreditar que o seu senso de estética considere ser o “perfeito”. Na verdade, é o processo criativo a todo vapor no desenvolvimento de suas coleções.
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No aspecto da modelagem, vale considerar suas experimentações com as técnicas de moulage, que permitem um caimento especial, o design e a execução impecável de suas peças. Conforme nos esclarece a docente do SENAI/CETIQT, Rosa Marly Cavalhero (2011): “Draping ou moulage é uma técnica de construção do vestuário de forma tridimensional, utilizando manequim próprio, tecido, alfinetes e finalizando no manequim a modelagem projetada ou em moldes no papel. Esta técnica estimula a visão espacial, melhora a percepção da forma e torna a modelagem mais concreta que a modelagem plana, ou seja, bidimensional.”. O processo de criação para a coleção que Yamamoto está preparando é desenvolvido a partir das fotografias de Sanders e a cada imagem que o estilista emociona-se ou identifica uma forma diferenciada, que pode ser uma gola antiga, uma manga puída, uma bainha rasgada ou mesmo uma roupa surrada, são influências e inspirações para criações.
Figura 4: Yamamoto finaliza a peça no corpo, técnica de moulage. Fonte: 21tradenet.com
2. YOHJI YAMAMOTO: O POETA NEGRO Apesar de sua atuação no campo da moda, Yamamoto trafega na direção oposta do mundo fashion, das tendências e misturas do fashion street (moda de rua). Com um gestual silencioso, modos sóbrios e diálogos pontuados por longos silêncios de reflexão, até que ponto inaugura uma nova proposta de moda, tão silenciosa e delicada quanto excêntrica e poética? www.cetiqt.senai.br/redige
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Nascido em Tóquio, em 1943, formou-se em Direito, abandona a profissão para cursar moda na Bunko School of Fashion. Mais tarde se estabelece, em Paris. Em 1972, de volta a Tóquio, abriu seu próprio negócio onde poderia expressar melhor suas originais ideias sobre o vestir, fundando a Y’s Company Ltd, com sua primeira coleção de prêt-à-porter. Em 1981, com o chamado japonesismo, (movimento cultural na moda no início dos anos 1980) Yohji Yamamoto apresenta-se em Paris, simultaneamente com Rei Kawakubo, mostrando roupas totalmente contrastantes com as tendências do mercado o qual ditava pele dourada e cores chamativas, enquanto as modelos de Yamamoto aparecem na passarela com a pele pálida, ruge e clássicos vestidos. Desde então, sua forma é também conhecida no cenário da moda como “Hiroshima chic” e sua coleção anterior de “explosão nuclear”. (YAMAMOTO apud BAUDOT, 2000a, p.11). Yamamoto tornou-se familiar para os consumidores quando lança sua moda masculina e como colaborador de outras marcas de moda, incluindo a Adidas, através da marca Y-3. A letra Y de Yamamoto e o número 3 indicando as três linhas da
marca
Adidas.
Fez
parceria
com
as
marcas:
Hermès,
Mikimoto
e
Mandarina Duck, além de trabalhar com artistas de gêneros diferentes, tais como Sir Elton John, Placebo, Takeshi Kitano, Pina Bausch e Heiner Müller. Vale considerar também sua passagem pelo cinema, como protagonista e figurinista. Em 1989, participou do documentário de Win Wenders, Identidade de nós mesmos, que utilizamos como fonte documental para apresentar seu processo de criação em meio a profundas indagações sobre moda. Assim também criou figurinos para os filmes Brother (2000), Dolls (2002), Zatoichi (2003), Takeshis (2005) e The Man with the suit case (2009). [...] As mulheres que desfilam para ele desde 1981 parecem vindas de um mundo longínquo e sombrio. Nem japonesas, nem europeias mas quem sabe poetisas procedentes de uma remota estrelas [...] cobertas com várias capas, amplas e escuras com se precisassem se proteger de algo [...]. (SEELING, 2000, p. 511)
Nas criações de Yamamoto, observa-se que em suas roupas, a mulher aparece sempre muito verticalizada (Figura 5), com o colo e o rosto destacados. Yamamoto www.cetiqt.senai.br/redige
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significa “ao pé da montanha”, talvez seja assim que se coloque: aos pés dessa mulher, trabalhadora, executiva, guerreira. Mulheres como sua mãe, que o criou com dificuldades depois da morte de seu pai, na segunda Guerra Mundial. Aliás, mantem-se em sua vida quando afirma que “a guerra ainda não acabou dentro de mim.” Em seu contexto estético, as silhuetas podem ser esculturais ou fluidas (Figura 6) e as roupas possivelmente “metáforas”, construídas na intenção de uma segunda pele ou de oferecer espaço para o movimento ou a performance, nesse viés seus desfiles vêm se tornando cada vez mais encenações poéticas.
Figura 5: Mulheres verticalizadas Fonte: www.clubk.com.br
Figura 6: silhuetas esculturais ou fluidas Fonte: missosology.info
Por outro lado, como avaliar a obra e o estilo de Yamamoto diante do mercado consumidor da moda? Existe uma discussão dentro do mercado da moda equivalente ao nicho Europa e EUA, no que se refere a Yamamoto, se este seria um estilista de valor conceitual, ou se suas roupas e criações seriam de valor comercial. No contexto do mercado de moda, pode-se dizer que a criação de uma coleção tem como meta o varejo, a comercialização, o lucro e consequentemente a massificação, considerando-se que o lucro como finalidade vital pode até eliminar a exclusividade. Não restam dúvidas sobre o valor mercantilista da história da indumentária e suas interseções com a sociedade, a tecnologia e a industrialização. De acordo com Lipovetsky, a moda contemporânea está incorporada ao consumo, ao desejo, à busca constante pela novidade, “a moda é nossa lei porque toda cultura sacraliza o novo e consagra a dignidade do presente”. (LIPOVETSKY, 1997, p.269) www.cetiqt.senai.br/redige
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É preciso entender que não apenas a roupa é envolvida pela dinâmica da moda, mas também a aparência, filmes, livros, gestuais, músicas, culinárias etc, até porque tanto a moda como a roupa e mesmo os objetos acomodam necessidades. Apesar de que, na sociedade contemporânea o consumo vem se impondo à necessidade, consome-se tudo, consome-se vida e objetos sem distinção, pois o consumista só quer o que ainda não tem, mesmo que já tenha muito. Lipovetsky (1997, p.173) acrescenta que “o consumo, no essencial não é mais uma atividade regrada pela busca do reconhecimento social: manifesta-se, isso sim, em vista do bem-estar, da funcionalidade, do prazer para si mesmo”, ou seja, o importante agora seria desenvolver seu estilo pessoal, comprometido com o bem-estar e ao mesmo tempo diferenciar o efêmero do permanente. Em outras palavras, Yamamoto vai sobrepor criação à comercialização e pelo menos parece romper com a ditadura do consumo, “felicidade seria obrigar as pessoas a viverem de forma simples e sem comprar”, menciona o estilista. Apesar disso, o poder de seu estilo é mensurável nas páginas das revistas especializadas de moda. Contrário à ditadura do consumo, ele segue um caminho paralelo à proposta do mercado, deixando a comercialização acontecer naturalmente, mesmo em sua marca do seguimento Prêt-à-porter. Em um movimento oposto, verificamos a presença cada vez mais comercial e de massificação das tendências, Yamamoto escapa da vulgarização agressiva, mantendo-se num universo de delicadeza e mistério, quando declara no documentário: “Não gosto de mostrar o corpo ostensivamente. Prefiro sonhar, imaginar”.
3. PROCESSO DE CRIAÇÃO DA MODA EM YAMAMOTO Entende-se que o estilista e designer de moda, inicia seu processo de criação e desenvolvimento de coleção a partir de um ponto, uma inspiração ou de um “start” – uma ideia nova que surgiu. O importante é o modo como cada um desenvolve sua forma, estilo e linguagem, ou seja, cada criador vai encontrar seu processo particular, próprio de criação, e desse modo fundamentar sua “obra”, seus produtos, www.cetiqt.senai.br/redige
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coleções, estilo, a assinatura que o diferencia, assim como o próprio Yamamoto que traz seu processo de criação específico, particular e ainda, finaliza suas peças no corpo da própria modelo, rasgando o tecido, trazendo o detalhe da assimetria e transformando a roupa em peça única; portanto, exclusiva. Desse modo, nenhuma criação de Yamamoto será igual à outra. Ana Maria P. Barreira, com o texto Atavios Bizarros (2006, p.163), traduz um pouco o que seria o processo de criação na moda, quando afirma que: [...] Se você pergunta a cada um dos criadores de moda, qual é o modelo absoluto na sua criação, ele vai responder cada um à sua maneira, que é o que ele faz atualmente: o fruto de suas pesquisas e de anos de trabalho de criação e de invenção [...].
Yamamoto, como os demais criadores contemporâneos, rejeita qualquer parâmetro ou modelo de processo de criação imposto, ele caminha sozinho com suas referências, materiais e procedimentos. Não se apega ao sistema tradicional da moda para desenvolver suas criações, bem como não se baseia em tendências nem tampouco se espelha em modelos já confeccionados de outros estilistas. Sendo assim, o foco do trabalho de Yamamoto está centrado no seu processo particular de criação, que o diferencia de outros estilistas, conforme seu depoimento no vídeo Maratona do Estilo Yohji Yamamoto (2011): “quero criar roupas a partir de todos os ângulos, de todas as partes [...] tentar encontrar minha beleza, própria e favorita”. Desse modo, seu método de criação inicia-se a partir da escolha do material, deste primeiro passo segue em busca das formas – da criação das formas. “Começo pelo tecido, pelo material, por tocá-lo. Depois, passo a forma. Para mim, é o toque que conta primeiro. Em seguida, quando começo a trabalhar o material, eu me transporto em pensamento para a forma que ele deve assumir” (YAMAMOTO apud BAUDOT, 2000, p.13). A forma seria então a criação mais profunda desse estilista, que em seu ato de entrega à obra, dedica horas aos detalhes, até chegar a “perfeição”, que para ele, é a assimetria, o desforme, o desigual, pois assim como os sentimentos das pessoas, nada é igual. Percebe-se que a característica básica do processo de criação de Yamamoto é a utilização das possibilidades técnicas fundamentais e simples para a execução de www.cetiqt.senai.br/redige
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um produto de moda (modelagem, corte, matéria-prima, confecção, desenho, refinamento, acabamento, a possibilidade de peça única e a qualidade), mas agregadas com criatividade, poéticas, sentimento e o olhar estético do criador, desde a escolha dos tecidos (tecnológicos, rasgados, retingidos e estruturados) até a finalização daquela roupa no corpo da modelo, simplesmente costurada artesanalmente, na busca constante de um acabamento perfeito. A criação de Yamamoto engloba diversos elementos e possivelmente dialoga com eles. Cada etapa do processo é importante, apesar do destaque para o tecido (matéria-prima) e a modelagem. Quanto ao tecido, Yamamoto comenta no documentário de Wenders (IDENTIDADE..., 1989), que é a matéria-prima por excelência de suas criações e trata-o como uma segunda pele. Nesse sentido, Yohji desenvolveu um impecável trabalho de modelagem, que prioriza o corte dos tecidos e os acabamentos em favor de peças mais dramáticas e experimentais, formas geométricas e materiais inusitados. Outro elemento é a cor, segmento importante dentro do universo da moda, sempre em constante mutação, dependendo da época, pode ser o traço e marca do criador, por exemplo, a maior característica de Yamamoto é o uso da cor preta. Ainda no filme Identidade de nós mesmos (1989), declara que utilizar muitas cores polui, esconde e ofusca a forma da roupa, o que justifica o uso de poucas cores em suas coleções, geralmente usa muito preto, às vezes usa o branco e nuances de vermelho. Entende que certas formas pedem certos materiais e estes pedem uma determinada forma, por isso só desenvolve suas coleções com o uso da cor preta (Figura 7), pois não influencia na criação das formas.
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Figura 7: Yamamoto, observando as formas de suas criações, peças elaboradas em preto Fonte: historyofourworld.wordpress.com
Fayga Ostrower (1994, p.55) observa que o processo de criação é inerente ao ser humano, engloba o impulso inconsciente e toda a bagagem cultural vivida que cada ser carrega, e diz que: [...] além dos impulsos do inconsciente, entram nos processos criativos tudo o que o homem sabe: os conhecimentos, as conjecturas, as propostas, as dúvidas, tudo o que ele pensa e imagina. Utilizando seu saber, o homem fica apto a examinar o trabalho e fazer novas opções [...].
Diante disso, passa-se a entender que o processo de criação, nada mais é que levar a sensibilidade que cada criador tem para sua obra, sua particularidade, suas vivências e experiências, aplicadas àquilo que acredita ser verdade. Yamamoto, não tem medo de arriscar, aplicando em suas criações as influências que carrega, cuja particularidade constitui parte do movimento do japonesismo, aliado à possibilidade de surpreender e a um design de moda que propõe o conforto, a elegância, a forma e a cor. O japonesismo do qual Yamamoto faz parte, surgiu durante a década de 1980 com uma nova geração de estilistas japoneses, tornando-se peça importante no contexto da moda internacional, assim, “Rei Kawakubo e Yohji Yamamoto juntamente com o já estabelecido Issey Miyake, formaram uma nova escola de vanguarda (...) enquanto rompiam as fronteiras da moda”. (MENDES; LA HAVE, 2003, p.237).
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Lipovetsky (1997, p.111) também observou sobre esse movimento que “os criadores japoneses provocaram uma reviravolta na estrutura tradicional dos trajes”. Tais estilistas entraram no mercado europeu pela porta da frente, apesar do Prêt-à-porter parisiense e da imprensa pouco preparada para compreender a originalidade das criações desses novos designers. “Os críticos compreendiam que os japoneses haviam iniciado uma revolução pacífica que oferecia uma alternativa à descoberta do corpo” (SEELING, 2000, p.511). Entre padrões inovadores e coleções paradoxais, elaboradas conceitualmente, eles enfrentaram sérias dificuldades, sobretudo do grupo fechado e exclusivo da alta costura europeia. Ao contrário da proposta ocidental de mostrar o corpo feminino, os asiáticos exibem uma estética do oculto que se orienta pelas formas geométricas (referência ao quimono). Enquanto no mundo ocidental, o corte é pensado a partir da silhueta do corpo, os japoneses pensam nas linhas do tecido, desenvolvendo novas proporções que alteram ou reconstroem o corpo, distanciando-o da realidade. Quanto ao estilo de Yamamoto, é neutro e minimalista, pontuado por formas amplas e referências que podem passar pela moda clássica, arte, estética das vestes japonesas e ainda pelos trabalhadores fotografados pelo alemão August Sander. A partir dessa questão a respeito do minimalismo, pode-se dizer que este movimento artístico influenciou a moda, tanto nas características de estilo como nas modelagens amplas (fora do padrão), retas e geométricas, e mesmo em outros elementos, como formas e cartela de cores. A relação do minimalismo com a moda deve-se, sobretudo, aos criadores japoneses. No caso do processo de criação de Yamamoto, identifica-se claramente essa fusão, tanto que o estilista é conhecido como o primeiro a inserir o minimalismo em suas obras, no estilo de suas roupas (Figura 8) ou no vestido de madeira e dobradiças apresentado em 1991 (Figura 9). Fayga Ostrower (1994, p.9), esclarece que o processo de criação é basicamente criar a forma, quando afirma: [...] Criar é, basicamente formar. É poder dar uma forma a algo novo. Em qualquer que seja o campo de atividade, trata-se, nesse “novo”, de novas coerências que se estabelecem para a mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e compreendidos em termos novos. O ato www.cetiqt.senai.br/redige
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criador abrange; portanto, a capacidade de compreender; e esta, por sua vez, a de relacionar, ordenar configurar, significar [...].
Figura 8: Estilo minimalista aplicado nas roupas de Yohji Fonte: bugingangasecia.blogspot.com.br
Figura 9: Yamamoto: vestido de madeira Fonte: yuminakagawa.blogspot.com.br
Diante desta constatação, elaboramos a seguinte questão: Até que ponto a vestimenta inclui um processo simbólico? Para Yohji Yamamoto (2011), a vestimenta é carregada de significados simbólicos, o que transparece em seu comentário sobre o vestido de noiva, no programa GNT Maratona de Estilo, “o vestido de noiva existe em um espaço entre a vida real e os sonhos. Certas vezes, deixa de ser uma roupa ou vestido, pode ser uma fantasia”. Assim, suas peças de roupa são conceituais, transgressoras e sofisticadas (Figura 10), no documentário de Win Wenders (IDENTIDADE..., 1989), ele diz: "as www.cetiqt.senai.br/redige
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vestimentas precisam ser convidativas, pois gostaria que as pessoas ‘morassem’ nelas e se identificassem a tal ponto que, se alguém visse o casaco de outro jogado no chão, não diria ‘é o casaco do fulano’, mas sim “é o fulano”.
Figura 10: Vestido de noiva apresentado no desfile outono/inverno1999 – Paris Fonte: strawberige.blogspot.com
No contexto da criação, Yamamoto não segue tendências. Suas roupas trilham um caminho próprio, diferenciadas dos padrões da moda (aquilo que seria oficial, correto, padronizado dentro da moda), não apenas pelo rigor de sua qualidade de execução técnica, mas também pela sua relação com o perfil diferenciado do seu público exclusivo, selecionado não apenas pelo poder aquisitivo, mas, sobretudo, pela apreciação de sua filosofia, como o próprio cineasta Win Wenders e a bailarina Pina Bauch os quais são seguidores de seu estilo. Suas criações são para aqueles que respeitam e reverenciam o corpo em sua constante e consciente mutação e transformação. A produção do estilista inclui Alta-Costura, Pret-à-porter e os produtos esportivos desenvolvidos para sua marca Y3 em parceria com Adidas. Cada coleção possui uma proposta conceitual e uma estética própria que parecem se aproximar da categoria de obra de arte, pelas formas vestimentais e as apresentações performáticas de seus desfiles-espetáculo. Afirma Lipovetsky (1997, p.272), que, na contemporaneidade, assiste-se a uma consistente integração entre moda e arte, “o fosso entre a criação de moda e a criação de arte não cessa de reduzir-se: enquanto
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os artistas não conseguem mais provocar escândalos, os desfiles de moda pretendem-se ser cada vez mais criativos”. Nesse viés, vale observar a coleção de Yamamoto para outono/inverno de 1989 (Figura 11) e 2002 (Figura 12). Na primeira, arte e design estão aliados em formas, cortes retos, deixando os detalhes para as golas armadas em uma atmosfera sofisticada. Os modelos pareciam demonstrar mistério e sofisticação em meio a performances e roupas estruturadas. Os looks da coleção de 2002 foram baseados em sobreposições (Figura 12), compostos de peças que se diferenciavam da simplicidade conferida pelas coleções casuais da atualidade. A silhueta geral é solta e leve ao andar, mas com corte impecável, isto é, uma modelagem perfeita.
Figura 11: Coleção outono/inverno 1989 Fonte: flyprints.co.uk/blog
Figura 12: Coleção outono/inverno 2002 Fonte: www.clubk.com.br
Na coleção de 2009, além do uso da cor preta, presente principalmente nos vestidos e nas longas chemises, os casacos apresentaram colarinhos assimétricos (um apontando para baixo e outro para cima), destacaram-se pelo diferencial elegante da barra, que ao invés de ser reta, ganhou pontas assimétricas (Figura 13). Em nuances de pinceladas de cores (vermelho) e peças que podiam ser vistas em branco.
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Figura 13: Coleção outono/inverno 2009 Fonte: aboutfashion.com.br
Na coleção verão 2011, o estilista abre concessão para formas orgânicas e experimentações com tecidos bem fluidos (Figura 14). Há espaço também para estampas psicodélicas coloridas (Figura 15), que aparecem em saias longas e calças, usadas sob vestidos e lenços. O resultado são vestidos com formas “rebeldes e transgressoras”, usados com coturnos pesados. As modelos com a pele completamente branca e os cabelos desgrenhados e texturizados, que parecem não se preocuparem tanto com o que usam, mas pela exposição das formas assimétricas que representam um dos elementos constitutivos do processo criativo de Yamamoto – a assimetria.
Figura 14: Coleção Verão 2011 Fonte: www.vogue.es
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Figura 15: Coleção Verão 2011 Fonte: multiplefashiondisorder.wordpress.com
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CONCLUSÃO Esse artigo teve como objetivo interpretar o processo criativo de Yohji Yamamoto, que nos faz repensar como designers da moda a busca constante para a obtenção de um trabalho completo a partir de uma análise projectual, que prima pela forma, acabamento e elaboração do processo de moda contínuo cuja responsabilidade do designer é de explorar a flor da pele e absorver a referência proveniente do sentido tátil, que permite fluir a criatividade, assim contribuindo para o desenvolvimento da moda. Hoje Yamamoto é um criador de moda de grande influência para os designers atuais de moda, através das suas criações, suas peças diferenciadas e pelo seu processo de criação particular, gerando curiosidade, despertando seguidores e críticos ao seu trabalho. Ele se diferencia dos outros designers de moda e consequentemente acaba fugindo do nicho comercial, apresentando uma moda diferente, inovadora. Cria suas roupas partindo de todos os ângulos, de todas as partes, tentando encontrar sua beleza, própria e favorita. Yohji desenvolveu um impecável trabalho de modelagem, que prioriza o corte assimétrico dos tecidos e os acabamentos em favor de peças, através de um design seguido de formas geométricas e materiais diferentes além de finalizar suas peças no corpo das modelos, usando o método da moulage, um trabalho artesanal, meticuloso, quase uma obra de arte, um ritual. A pesquisa sobre Yamamoto e seu processo de criação apontaram outras possibilidades da criação e desenvolvimento no design de moda, considerando-se que a dinâmica da moda em sua incessante busca pelo novo, abre espaço para a experimentação constante, tanto dos materiais, como das formas, performances e estéticas. De certa forma, o processo de Yamamoto, de seu fazer da moda, é também um estimulo ao aprofundamento de nosso processo particular de criação, lembrando que a moda é um laboratório experimental incessante e, nesse espaço, cada um pode construir sua linguagem, sua identidade e seu processo próprio de criação.
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Para esse criador, é a forma que conquista a supremacia da roupa e nada pode interferir nessa opção, nem a cor, por isso a predominância do preto, pois em sua concepção mesmo o cinza interfere. O fio com que tece seu trabalho, obra, criação, está em constante alinhavo, sempre identificando com a sua própria personalidade, ou melhor, com sua aparente tranquilidade oriental. Seu trabalho flui através de um intenso processo, que segue um ciclo pontuado pelo design, a arte e certamente por suas vivências e bagagens culturais. Assim, seu processo de criação não pode ser resumido a um método, diagrama, regras ou esquemas, ele vai além, pois é subjetivo e flui a partir de sua sensibilidade, inspiração e insights. Desse modo, Yamamoto trouxe novos paradigmas ao design de moda, especialmente
quanto às
questões
que envolvem
valores
de
criação
e
comercialização. Observou-se também que seu trabalho está fundamentado em um intenso processo e não em expectativas comerciais. Conclui-se que essa experiência com Yohji Yamamoto fez-nos repensar como profissionais do design da moda, levando-nos a indagar que como a assimetria, a desigualdade e a imperfeição das formas de uma roupa, podem vir a valorizar o corpo e a imagem de quem as veste? No caso de Yamamoto, a busca da perfeição no design de seu trabalho está no acabamento e nos tecidos cortados a partir do toque e da sensibilidade desse designer, deixando a cor por último, quase um acessório. As inspirações para as formas surgiram dos toques e manuseios dos tecidos que levaram Yohji a viajar nas formas dos objetos e situações da vida, absorvendo como referência e transpassando para as sua criações, e ainda finalizando no próprio corpo de quem a veste, propondo uma estética e uma beleza com a assimetria. Este é Yohji Yamamoto, único, um poeta das formas.
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Currículo Resumido do(s) Autor(es) Ana Paula Lima de Carvalho Mestre em Design (2001), Licenciada e Bacharel em História (1989), pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Pós-graduada em Docência do Ensino Superior (UNIGRANRIO). Linha de pesquisa: moda, história e cultura. Qualificação acadêmica: conhecimento de metodologia de pesquisa científica e experiência na elaboração de artigos técnicos e científicos. Experiência no Ensino Superior: Docente na faculdade SENAICETIQT no curso de bacharelado em Design: Habilitação Moda desde 2009 e Gestora Técnica do Curso de Pós Graduação em Design de Moda tanto presencial quanto EAD. Atua também como orientadora de TCC (Graduação e Pós-graduação) e avaliadora em bancas examinadoras. Faz parte do Núcleo Docente Estruturante (NDE). Na UERJ: participação em bancas examinadoras e palestrante em disciplinas de graduação junto ao curso de Educação e Artes (1994-1998). Carla Mendonça Moura Fernandes Graduada em Direito (Universidade Estácio de Sá (2000) Pós-Graduada em Design de Moda no SENAI/CETIQT (2010) Atua como pesquisadora no campo acadêmico de moda, com ênfase no processo de criação, atuando também como designer e empresária de moda, desenvolvendo produtos de vestuário para a sua própria marca CherryLove.
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