Tenho um drag達o que mora comigo.
Lembro que, por vezes, fora dito em sala de aula que fotografia é um “desenho" feito de luz. Essa onda -‐ ou par?cula -‐ é o recurso que se pretendeu explorar neste editorial. Explorar no senBdo de procurar fontes de luz alternaBvas àquelas Bpicamente usadas em fotografia de moda. AlternaBvas e acessíveis, pode-‐se dizer. Desde de a luz do poste filtrada pelas grades da janela de casa à emiBda pela tela da tv Bpo tubo, as emissões de luz Bveram sua origem em algo um tanto corriqueiro. A decisão de procurar fontes alternaBvas de luz surgiu, para ser honesto, da indisponibilidade de recursos outros que Bnham efeito p r o fi s s i o n a l , N o e n t a n t o , e s t a parBcularidade, que, de início, era um obstáculo, uma fraqueza, foi tomada c o m o o p o r t u n i d a d e p a r a o desenvolvimento de trabalho criaBvo e relevante. Tal relevância, acredita-‐se,
está depositada no fato do ensaio representar uma experiência subjeBva com a arte de desenhar com a luz. Ao longo da narraBva que as fotos produzem, é possível idenBficar um discurso que quero chamar meta-‐ linguísBco. Um exemplar de Art as Experience, de John Dewey, é recorrente em algumas fotografias não à toa, mas com o objeBvo de contar que, mais que o produto final do fazer ar?sBco, a experiência desse processo é o que realmente vale. O argumento pode soar, a ouvidos menos familiares com a proposta de Dewey, como desculpa para um resultado medíocre. Não é o caso. Na verdade, buscar novas formas ou, neste caso em parBcular, novas luzes para um fazer ar?sBco não é sinônimo de mediocridade. Pelo contrário, são tais empreendimentos que promovem descobertas.
Vale deixar claro que não comparo o trabalho de achar luz entre fontes do coBdiano com as inovações, ainda hoje referências em fotografia, propostas p e l a s l u z e s d e C a r a v a g g i o o u Rembrandt. Na categoria de aprendiz em que me enquadro, minha busca é por uma luz pessoal, que apesar de referenciada na produção de grandes mestres como os já citados, carrega os traços da minha experiência e subjeBvidade criaBva. Mesmo a imaturidade técnica, observada em alguns aspectos do trabalho, não me envergonha. Ela deixa traços que t o r n a m a p r o d u ç ã o p e s s o a l e i n t r a n s f e r í v e l e m e p e r m i t e desenvolver um olhar e técnica que são sei meus. Um fotógrafo em construção fotografa um homem e seu dragão: a insônia. O storytelling por trás das fotos
acompanha uma noite insone de um jovem arBsta e suas estratégias para lidar com si mesmo durante aquela noite que parece infinita. Ele tentar ler, ver tv, mas nada parecer preencher o vazio da noite em claro. Os próprios d e v a n e i o s , o f a n t a s m a d a improduBvidade, as horas perdidas para a insônia, insistente e recorrente visitante noturna, o levam a quesBonar se será possível ver o sol novamente. De fato, o sol não aparece. A luz é arBficial. E talvez a própria existência do arBsta também seja. O ?tulo e toda a narraBva por trás das fotos foram inspirados por Caio Fernando Abreu. A ele devo muitas noite insones.
texto Davi Lopes
fotos, luz e direção Davi e Jorge Lopes