Amarelo Amor

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DAVI SABRY E THOMAZ FERNANDES



TEXTO: DAVI SABRY PROJETO GRÁFICO E ILUSTRAÇÕES: THOMAZ FERNANDES

2ª Edição


Quando chega a noite, a menina já endurece a cara e amarra o bico. O sol, que ela tanto ama, vai embora, deixando saudade e distância. A mãe já dissera: do outro lado do mundo é dia quando aqui é noite. E a menina não parava de pensar em um jeito de passar os dias aqui e as noites onde era dia por lá.



A mãe, para acabar com o enfado, tratava logo de contar a história da índia que era apaixonada pela lua. Mas a menina desconfiava: como alguém pode gostar de uma coisa tão sem graça, branca, parada, cercada de escuro? E afinal de contas, a lua também não era mulher?



Certo dia, logo quando o sol começou a mostrar seus primeiros raios, a menina correu até a janela e, em um passe rápido, esticou os braços e o confinou dentro de um aquário vazio. Desprevenido, o sol se apertou pelas bordas e acabou caindo na armadilha.




Que felicidade poder ter este amigo sempre perto. Os vizinhos reclamavam um pouco daquela luz t達o amarela que vinha do quarto da menina e incomodava o sono. Mas ela n達o dava ouvidos e passava todas as horas apreciando o amigo prisioneiro.


Mas com o tempo, o que começou de um jeito ficou de outro. As plantas murchavam com a falta do sol. As pessoas já não tinham mais a mesma cor, nem o mesmo humor. O próprio sol já não ensolarava mais como no céu. A menina lembrou dos pássaros do vizinho. No início não paravam de cantar, mas em pouco tempo já não se ouvia mais nada além do som de asas se chocando contra as grades. Pensou que a gaiola deles era mais que barras de ferro e madeira.




Foi então que ela percebeu que era impossível guardar toda a luz do sol para si. Porque sempre que fizesse isso, perdia justamente o que mais amava nele: a liberdade. A menina tomou coragem, pegou delicadamente o aquário solar, chegou à janela e, com um aperto no coração, lançou o sol pelo ar.


Todos puderam sorrir novamente. Menos a menina que jĂĄ nĂŁo tinha mais perto de si quem ela tanto admirava.


E passou a ficar os dias deitada sobre a grama do quintal, olhando para o c茅u, saudosa. O tempo seguiu seu curso e tudo ao redor mudava, s贸 a menina que continuava a olhar para o alto.


Depois de muito tempo já não se via mais a menina. Mas naquele lugar que ela costumava ficar, apareceu uma flor. Uma flor enorme, com o caule verde e grandes pétalas amarelas. Pessoas vinham de longe para ver esta nova flor que só tinha um propósito na vida: girar na direção do sol.



DAVI SABRY (85) 8803 3670 THOMAZ FERNANDES (85) 8812 6680



Foi da paix達o da menina que nasceu uma flor.


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