Revista ABPMA 2018

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05 EDITORIAL 06 MOGNO AFRICANO NO BRASIL 07 FLORESTA NO PARA 09 MAHOG PROJECT 20 ACAIACA 25 ABPMA NA COALIZAO BRASIL 26 A ARTE DE SER UM LUTHIER 29 O QUE E MADEIRA DE LEI? 32 ESCOLHENDO SEU SISTEMA DE COLHEITA FLORESTAL COMO DEVERA SER A COLHEITA DO MOGNO 34 AFRICANO? DE CRESCIMENTO PARA O MOGNO 36 SIMULADOR AFRICANO 38 DESBASTE: QUANDO E PORQUE FAZER? 40 TRAMONTINA APRESENTA AO MUNDO O MONGNO 43 ABPMA ABRE SUAS ASAS ATUAL E PRINCIPAL DESAFIO DO 44 MOMENTO MOGNO NO BRASIL 47 O SEU MOGNO PRECISA SER CERTIFICADO? 51 NOVAS REUNIOES 53 O MOGNO NAS MARIMBAS DE LEANDRO CESAR 57 MELHORAMENTO GENETICO 60 VISITA A FEIRA: CARREFOUR DE BOIS Patrícia A. Fonseca . Editora Chefe Dayane Dayse da Silva . Produtora


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Fazenda Matilde - Angelândia - MG - Plantio de Café com MOGNO


Caro leitor, Nossa última publicação foi em 2016, e de lá para cá poderão ver em nossas matérias quantas ações a ABPMA realizou de interesse para seus associados, e principalmente em favor do mogno africano. Tentamos dar um novo e charmoso destaque aos nossos projetos que utilizam o mogno africano voltado ao design, criando o Mahog Project. Estas ações especiais e o coletivo de designers parceiros mereciam um lugar privilegiado, descolado da parte técnica e burocrática da ABPMA. Com o Mahog Project pretendemos levar o mogno africano plantado no Brasil para terras distantes, mostrando de uma maneira especial a beleza da madeira e a inventividade dos nossos designers parceiros. Estamos em fase de modernização do nosso site: abpma.org.br. Nele poderão ler vários artigos técnicos, ver fotos lindas dos móveis de design em mogno africano e nos conhecer melhor. A maioria dos nossos associados está entrando em uma nova fase do plantio, na qual suas árvores já estão crescidinhas, mas não amadurecidas o bastante. Então já está na hora do primeiro desbaste. E o que fazer com esta madeira? Uma experiência "sentida na pele" por um de nossos associados e declarada aqui para o leitor. Já antecipando uma providência que nossos associados terão que tomar, saímos em busca de informações quanto ao preparo exigido para certificação de suas florestas. O mundo quer madeira limpa! E não podemos nos negar a atender o desejo do mercado e das futuras gerações de consumidores. Com muita alegria comunicamos que está em fase de concretização a ABPMA Regio nal Centro Oeste. Foi um prazer conhecer nossos novos associados! Agradeço a receptividade e a satisfação que demonstraram em fazer parte da ABPMA. Poderão ler nos artigos de nossos fiéis colaboradores matérias que buscam atender aos anseios de informação de todos os leitores, sejam eles os atuais ou futuros produtores. Convidamos o leitor a conhecer melhor a ABPMA, saber o que temos feito, saber da importância de se ter um grupo unido, aproveitando a experiência de quem já está anos à frente. Todas as ações rumam em busca de uma futura e bem sucedida comercialização do mogno africano. Que tenham uma boa leitura!

Saudações florestais! Patricia A. Fonseca Diretora Executiva da ABPMA 5


As primeiras sementes de mogno africano chegaram ao Brasil através de um cônsul da Costa do Marfim que presenteou aos pesquisadores da Embrapa, órgão de pesquisas florestais, no Pará, predizendo que seria o Ouro Verde do País. As primeiras árvores plantadas, deram origem a um vasto plantio, estimado hoje em mais de 10.000 hectares e com tendência a um crescimento vertiginoso. Por suas características de crescimento relativamente rápido em comparação com outras madeiras de lei, seu incremento de massa produtiva, e suas excelentes característi-

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cas físicomecânicas, o mogno africano Khaya Ivorensis tem se tornado a melhor opção para os plantadores de florestas do Brasil e para investidores nacionais e estrangeiros. Além de todos os fatores econômicos a madeira tem se mostrado de fácil manuseio e encantado à indústria moveleira, à indústria de pisos e de laminados. Vários testes estão sendo feitos com o mogno africano em toda a cadeia de aproveitamento já trilhado pelas mais nobres madeiras do mundo. Cada vez mais a excelência do mogno africano khaya Ivorensis, sua beleza incomparável quanto à cor e ao desenho natural vem evidenciando a preferência por esta espécie, mas acima de tudo é uma madeira limpa. Por ser uma madeira de espécie exótica no Brasil, sua procedência é sempre de florestas plantadas e que buscam ser certificadas.


Todos os testes de qualidade da madeira, a produção de alguns móveis e industrialização de laminados e pisos tem sido feitos com o mogno africano procedente de uma floresta no estado do Pará. Esta floresta com árvores de 18 anos de idade, teve corte autorizado pelo Governo federal do Brasil e pelos órgãos ambientais. É uma das mais antigas florestas plantada no país e seu proprietário, um imigrante japonês que acreditou que o solo e o clima brasileiro produziriam belas árvores, investiu no plantio das sementes. Hoje sua história pessoal faz parte da história do mogno africano no Brasil. Até que possamos dar início ao corte em grande escala dos jovens mognos africanos dos nossos associados, temos buscado antecipar ao mercado brasileiro a extensa utilização desta nobre madeira.

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ABPMA + MAHOG PROJECT Associação Brasileira dos Produtores de Mogno Africano apresenta MAHOG PROJECT ... Impulsionado pelo coletivo de designers, arquitetos e artistas, que abraçaram a ideia de explorar a diversidade do Mogno Africano (Khaya Ivorensis), nasce o MAHOG PROJECT. O propósito do projeto é de transformar espaços pelo mundo, aliando práticas artísticas, matérias primas, e a integração entre todos os envolvidos. A primeira experiência do MAHOG PROJECT é uma intervenção no galpão da IDA em colaboração com os nossos parceiros. Esse coletivo de artistas, do eixo Brasil-Itália, experimentou o convívio com o Mogno Africano para criar livremente peças exclusivas para o projeto, além de uma obra inédita assinada por Zanini de Zanine e Paulo Alves. A partir do que foi criado por cada um deles, é possível enxergar as diversas possibilidades de apresentação dessa madeira, de aspecto nobre, cor exótica e procedência limpa de florestas plantadas no Brasil.

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IDA / ART RIO 2015 Primeira participação

POLTRONA ESPECIES Zanini de Zanine

CHAISE AFRICA Hugo França

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Paulo Alves Giorgio Bonaguro

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CADEIRA MAHOG Juliana Vasconcellos e Matheus Barreto


Paulo Alves e Zanini de Zanine

Mauricio Azeredo

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Heloisa Crocco

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Díptico 180X090x004 Edição Limitada Série Aparas Madeiras de Manejo/mogno africano Heloísa Crocco

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Painel laminado de mogno africano Hermes Ebanesteria

Mesa 4mts, Hermes Ebanesteria

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Bancada e cadeiras Restaurante Balaio, SP Designer Paulo Alves

Suporte em mogno africano Escultura Armarinhos Teixeira

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IDA 2016 Instalação Thiago Barros Floresta Africana de Raco de Luca Raiz Hermes Ebanesteria

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Guitarra Mogno, Sanzio Brandao Casa Cor Minas/2017 Arquiteto Cรกssio Gontijo

CADEIRAS TRI Juliana Vasconcellos e Matheus Barreto

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O ARRANHA-CÉU DE BELO HORIZONTE “Próximo ao arraial do Tejuco (hoje a cidade de Diamantina) havia uma tribo de índios que viviam em constante luta com os tejuquenses, que, de vez em quando, invadiam o arraial. Perto da taba indígena, numa pequena elevação, havia um belo e frondoso cedro que os índios, na sua língua, chamavam “Acaiaca”. Contavam eles que, no começo do mundo, o rio Jequitinhonha e seus afluentes encheram-se tanto que transbordaram, inundando a terra. Os montes e as árvores mais altas ficaram cobertos e todos os índios morreram. Somente um casal escapou, subindo na Acaiaca. Quando as águas baixaram, eles desceram e começaram a povoar novamente a terra. Os índios tinham, portanto, muita veneração por essa árvore (...)” Essa é uma parte de uma lenda indígena que explica 20

a origem do nome do Edifício Acaiaca, um dos edifícios que se destaca entre os vários projetos arquitetônicos de Belo Horizonte. Inaugurado em 1943, o prédio possui 29 andares em estilo art déco e duas efígies de índios na fachada, esculpidas pelo engenheiro Luiz Pinto Coelho. Localizado em Belo Horizonte, entre a Avenida Afonso Pena e a Rua Espírito Santo, o prédio atinge 130 metros de altura. Foi construído na época da Segunda Guerra Mundial, período no qual possuía um abrigo antiaéreo para que as pessoas pudessem se defender de um ataque alemão, caso isso acontecesse. Esse abrigo é, atualmente, utilizado para carga e descarga. O primeiro arranha-céu da cidade possuía muitas lojas


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luxuosas com um salão para desfiles de moda. Nos anos 50, funcionava uma boate na sobreloja, frequentada somente pela alta sociedade. Existia também o famoso cinema Acaiaca, que formava grandes filas de espectadores. Entre os anos de 1955 e 1980, a TV Itacolomi, fundada por Assis Chateaubriand, funcionou no 23º e 24º andares do edifício. No último andar deste prédio histórico de Belo Horizonte foi realizada uma exposição de designers mineiros que apresentaram peças de mobiliário e decoração. Complementando esta exposição móveis retrô misturavam-se ao design contemporâneo mostrando que a memória do passado engrandece e proporciona estilo aos ambientes atuais. A valorização da história passa pela arquitetura, pelo mobiliário, pela moda e pelas matérias primas. O mogno africano foi o elemento contemporâneo usado por Juliana Vasconcellos e Matheus Barreto que tem suas assinaturas no desenho clássico e elegante de suas peças. Esta madeira nobre aparece como alternativa às clássicas madeiras usadas enobrecendo a criatividade e criando dife rencial. Igreja São José, vista do alto do Edifício

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Fotografias que retratam a estrutura arquitetônica do edifício


Cadeiras Tri em Exposição do Edifício Acaiaca Juliana Vasconcellos e Matheus Barreto

MESA Juliana Vasconcellos e Matheus Barreto

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A ABPMA é associada da Coalização Brasil. Estivemos presentes em alguns eventos, representada pelo nosso associado Milton Frank. Em iniciativa inédita no Brasil, empresários, produtores agrícolas, pecuaristas e organizações da sociedade civil se uniram na busca de soluções para as mudanças climáticas, apontando para um novo modelo de desenvolvimento, baseado na economia de baixo carbono. Trata-se da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, a primeira aliança multissetorial brasileira composta por participantes que outrora pouco dialogavam. Em torno da mesma mesa, mais de 150 empresas, entidades setoriais, organizações da sociedade civil e pesquisadores reúnem suas agendas na busca de consensos. Formada em dezembro de 2014 e lançada oficialmente em 24 de junho de 2015, a Coalizão Brasil se pauta por um documento de 17 propostas concretas, voltadas à redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e à economia descarbonizada. Elas foram elaboradas com base em estudos científicos, conhecimento prático e tecnologias

disponíveis no país. O CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) é um dos fundadores da Coalizão e auxilia na liderança dos esforços para a implementação das propostas. Com esse documento em mãos, a Coalizão Brasil mantém diálogos com o governo brasileiro e organismos internacionais, como a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura). Alguns exemplos das 17 propostas: fim do desmatamento e da exploração ilegal de madeira, restauração e reflorestamento de áreas degradadas, ordenamento fundiário, ampliação do sistema de integração lavoura-pecuária-floresta, estímulo à produção competitiva e sustentável de alimentos e produtos florestais, além do uso crescente de combustíveis alternativos. Alguns dos 150 associados: Klabin | Unilever | Natura | Imaflora Grupo Votorantim | Gerdau | Carrefour Cenibra | Suzano Papel e Celulose Grupo Boticário

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O luthier transforma a natureza e usa madeiras diferentes para criar instrumentos com sons incríveis. A guitarra é um instrumento moderno. Mas a paixão pela música, antiga. E, mais antiga ainda é a arte de trabalhar a madeira para se extrair música. Sânzio Brandão é músico, luthier e um amante das notas e das texturas encontradas nas melodias, nas harmonias –- a partir das árvores. 26

Logo no início, surgiu um problema: a madeira. Sânzio diz que quando começou nesta profissão, na primeira metade dos anos 2000, o uso mogno tinha acabado de ser proibido. “E mogno é uma madeira fundamental na luthiaria internacional. (...) Então, de cara, já pensei que, se a gente quisesse realmente seguir essa ideia, a gente teria de buscar alternativas.


Guitarra e Baixo de Mogno Africano Luthier Sânzio

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Como descreveria a profissão de luthier? E como você chegou a se tornar um? O luthier é acima de tudo um artista, um criador. Nossa missão é inventar, inovar, criar o belo e ajudar a vida dos músicos. Comecei por acaso, fabricando minha primeira guitarra por curiosidade, mas já, com muita paixão. Esse instrumento deu o que falar... Surgiram as primeiras encomendas e em 2003 a Kian Guitars já era uma realidade. Tradicionalmente quais madeiras são usadas na fabricação de instrumentos e qual o diferencial entre elas? Existe uma enorme gama de madeiras consagradas na fabricação de instrumentos. Algumas de clima temperado, como maple, ash, alder, outras tropicais, inclusive brasileiras, como mogno e jacarandá. Essas madeiras são muitas vezes difíceis de se obter, até porque, algumas são protegidas e de uso proibido. Assim, a busca de alternativas legais e mais disponíveis é uma necessidade. Já tendo trabalhado com tantas madeiras, o que achou da aparência e trabalhabilidade do mogno africano? Excelente. Fiquei bastante surpreso com a facilidade em trabalhar esta madeira. Ela tem uma densidade única, é muito bonita e dá um bom acabamento com muita facilidade. Qual comparação faria do mogno africano com estas outras madeiras que você já usou? A primeira e mais natural comparação é com o mogno brasileiro, consagrado no uso para instrumentos. Foi uma grata surpresa perceber que o Mogno Africano, embora com características e sonoridade diferentes, não perde em nada para o primo famoso. Como conheceu o projeto dos designers, o Mahog Project, da ABPMA? Fui convidado para participar do projeto pela própria ABPMA. Como temos este trabalho de pesquisa de madeiras alternativas na luthearia, topei na hora. Fiquei muito feliz e honrado com a oportunidade.

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Qual sua impressão sobre este trabalho de design desenvolvido no Mahog Project com o mogno africano? A ideia de experimentar a madeira nas varias vertentes da marcenaria, incluindo a luthearia, é honesta e corajosa. Afinal, estão colocando a madeira a prova, "dando a cara a tapa"! Penso que não existe forma mais eficiente de apresentar um "produto novo" ao mercado. Como foi o processo de produção? O que mais usou além do mogno africano? Fizemos dois instrumentos, um baixo e uma guitarra, modelos próprios, para chamar a atenção para todas as inovações envolvidas, incluindo o uso da madeira. O mogno entrou no corpo, parte central inteiriça, laterais e no tampo, com uma belíssima peça figurada. Somente na escala, optamos por uma madeira mais dura e escura, mais adequada a esta função, e para criar um contraste de tons. Usamos um verniz fosco P.U. para manter o visual da madeira o mais natural possível. O que resultou de instrumentos como produto final? E qual a qualidade dos mesmos em termos técnicos e de musicalidade? As questões mais importantes a serem analisadas eram a estabilidade e a sonoridade. Madeiras para instrumentos precisam trabalhar sob tensão, aguentando a tração das cordas, se mantendo firmes. E o som natural, acústico, tem que ser forte, com frequências equilibradas, boa ressonância, bom sustain. A parte eletrônica é apenas complementar em um bom instrumento. A prioridade é a estrutura que a combinação de madeiras propicia ao instrumento. Em ambos os quesitos o mogno se saiu espetacular. Qual o destino destes instrumentos produzidos? Os instrumentos despertaram o imediato interesse de clientes e foram comercializados. Em agosto estarão expostos na CASACOR 2017. Já temos novas encomendas em andamento, tal o sucesso que fizeram em meio a nossa clientela.


Madeira de Lei foi uma expressão que nasceu quando o Brasil era uma colônia de Portugal. “No início da exploração portuguesa, esse termo foi criado para classificar as madeiras que só podiam ser derrubadas se a Coroa portuguesa autorizasse – ou seja, o corte dependia da permissão por lei”. A primeira árvore a ser classificada como madeira de lei foi o pau-brasil, foi uma tentativa de impedir que ela fosse exportada ilegalmente, ou alvo de contrabando, por navios espanhóis, franceses e ingleses que viviam na costa do país. Com o passar do tempo, madeiras como jatobá e peroba também foram incluídos classificados desta forma. “Quando o país se tornou independente, as regras da Coroa portuguesa passaram a não ter validade, mas a expressão continuou a ser usada na nossa língua. Hoje, falar em madeira de lei significa falar sobre madeiras duras, resistentes e de alto valor comercial”. Então, desta forma, espécies como ipê, mogno, cedro e jacarandá passaram listar nesta categoria. Uma das características da durabilidade dessas árvores é que elas produzem em seu cerne substâncias químicas que protegem o tronco do ataque de fungos e insetos e é por isso

que uma espécie nobre pode sobreviver por centenas de anos e servir para diversas aplicações, da construção de casas ao desenvolvimento de instrumentos musicais, passando pela fabricação de móveis super-resistentes. Entretanto, o desmatamento desenfreado fez com que boa parte das madeiras de lei praticamente sumisse das matas do Brasil. Sua utilização ficou mais restrita – os móveis vendidos hoje como “padrão mogno”, por exemplo, são na verdade feitos com madeiras bem menos resistentes, apenas revestidos por uma fina camada da espécie nobre e isso ocorre porque o corte é controlado pela lei de crimes ambientais, o corte de madeira de lei sem a autorização do governo pode dar até dois anos de cadeia. O difícil é fazer cumprir a regra num país como o nosso. Não é novidade que as madeiras nobres continuam ficando mais raras por conta da derrubada ilegal. E o mogno africano é uma madeira de lei? O mogno africano é uma madeira exótica, ou seja, nativa de outro país, mas cultivada por aqui. Madeiras com um

alto valor agregado:

Milton Frank, Engenheiro Agronomo

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É um gênero equatorial botânico pertencente à família Meliaceae, é nativo da África. O gênero inclui as árvores produtoras das madeiras conhecidas comercialmente como Khaya.

IMBUIA Originária das florestas subtropicais do Paraná e de São Paulo, essa madeira tem cor escura por causa da ação de substâncias químicas que protegem o cerne do tronco contra infestações de insetos e fungos. Muito usada no passado para a fabricação de móveis finos, a imbuia também começou a rarear nas matas com o aumento da exploração, sobretudo no século 20.

JATOBÁ

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Uma das características mais apreciadas dessa espécie é a resistência ao entalhe — o artesão pode esculpir e trabalhar toda a madeira sem risco de o tronco se rachar ou lascar. Por isso, o jatobá foi muito utilizado para a fabricação de móveis. Hoje, a Amazônia e as unidades de conservação na mata atlântica guardam os últimos remanescentes da espécie.

PEROBA Quase tão dizimada quanto o pau-brasil, essa espécie pesada e resistente foi amplamente usada para construção de telhados, assoalhos, móveis e até carrocerias de caminhão. A espécie ainda é encontrada em florestas do interior de São Paulo e de Minas Gerais. Mas, como a maioria das árvores é jovem, os troncos são pequenos demais para serem utilizados pela indústria.


CEDRO Utilizado na fabricação de móveis e instrumentos musi cais, o cedro é uma madeira nobre rara por natureza. Nas florestas, uma árvore cresce muito afastada da outra — os cientistas suspeitam que as sementes de cedro não germinam se as outras plantas não deixarem. Hoje, é difícil encontrar mudas até para a pesquisa científica. Para piorar, os brotos cultivados sofrem com uma borboleta que impede o crescimento da planta e pode até matá-la.

PAU-BRASIL

JACARANDÁ

A primeira madeira de lei foi praticamente eliminada das matas na exploração colonial. O pau-brasil é muito bom para a construção de violinos, mas os portugueses estavam mais interessados em extrair dele a brasilina, um corante verme lho natural. Hoje, algumas ações de replantio em Pernambuco e no Rio de Janeiro ensaiam um lento renascimento da espécie. O esforço só deve frutificar daqui a algumas décadas, porque uma árvore demora até 30 anos para se tornar adulta..

Atualmente, essa espécie típica das matas da costa nor destina tornou-se tão rara que chega a ser comercializada a preço de ouro — pedaços pequenos da madeira são usados até como adorno de jóias. Antes da ameaça de extinção, o jacarandá foi muito procurado para a construção de móveis de luxo, peças decorativas e instrumentos musicais.

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Por Milton Frank Junior

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Até o final da década de 60 era pequena presença de máquinas na atividade de colheita florestal e quando existia eram equipamentos adaptados dos setores agrícolas e industriais. Na década de 70, ocorreu uma modernização mais intensa da ope ração. Chegaram as primeiras máquinas importadas e a indústria nacional começou a produzir maquinários de portes leves e médios, como motosserras pro fissionais, trator agrícola equipado com pinça hidráulica traseira ou mini skidder e os auto carregáveis. Na década de 90 houve um aumento expressivo na produtividade e redução dos custos da atividade. Tudo resultado da importação e do desenvolvimento de máquinas com design ergonômico, motosserras mais leves e com menores vibrações, máquinas com cabeçote de corte e acumulador (Feller-buncher) e máquinas com cabeçote de corte, acumulador e processador (Harvester) que passaram a ser utilizadas no Brasil em larga escala. Entre os fatores utilizados como parâmetro para de finir qual sistema de colheita é o ideal, está a topografi a do terreno, tipo de solo, clima, operador, rendimento volumétrico do povoamento, tipo de floresta, uso final da madeira, máquinas, equipamentos e recursos. A partir da análise do cenário, pode-se defi nir o sistema que será utilizado e que permita o fluxo constante de madeira, evitando gargalos na

produção e consequentemente a utilização máxima dos equipamentos. A colheita florestal caracteriza-se pelo conjunto de operações que visam preparar e levar a madeira até o local de destino a partir de padrões e técnicas pré-estabelecidas. É de finida pelas atividades de corte (derrubada, desgalha, processamento ou traçamento), descasque, baldeio (movimentar a madeira para a beira da estrada) e carregamento. Os equipamentos para derrubada podem ser classifi cados de forma manual, como o machado e serra de arco; semi mecanizado, como a motosse rra, e mecanizado como o Harvester, Feller-bun cher, Feller e Slingshot. A desgalha pode ser realizada de forma manual, utilizando-se machado, foice ou facão; de forma semi mecanizada, com o uso da motosserra; e mecanizada, com o Delimber e o Harvester. O processamento de forma manual pode ser feito com a serra de arco, machado ou traçador; de forma semi mecanizada com a motosserra; e mecanizada com o Harvester, garra traçadora, processador, Slingshot e Slasher. Em relação ao descasque, este pode ser realizado no campo com o uso de cavadeiras, facas, facões e machadinhas que caracterizam a atividade de forma


manual, e de forma mecanizada com o uso de descascadores móveis, Harvester e processadores; mas também na indústria, utilizando tambores rotativos. A operação de baldeio pode ser realizada com animais, tratores auto carregáveis Tratores de pneu com guincho TMO, calhas, skidder de cabo, pinça e pinça invertida (Clambunk); Forwarder, com cabos aéreos, helicóptero e balões. A FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) classi fica os sistemas de colheita em relação a forma da madeira na fase do baldeio, o local onde é realizado o processamento e o grau de mecanização. Os sistemas de colheita foram basicamente originários dos países escandinavos e dos países da América do Norte. O primeiro caracteriza-se pelo sistema de toras curtas (Cut-to-Length) onde basicamente o Harvester executa a derrubada, a desgalha e o traçamento, e em seguida o Forwarder realiza o baldeio até o local de

transporte ou para a beira da estrada. No segundo, o sistema tem por objetivo colher toras longas (Tree-Length) ou árvores inteiras (Full-Tree), onde o Feller-buncher executa a derrubada e a forma feixes de árvores. Em seguida o Skidder realiza o arraste da madeira até o local onde será carregada ou processada a madeira. Machado (1985) propôs a classi ficação em sistemas de toras curtas (Cut-to-Length), toras compridas (Tree-Length), árvores inteiras (Full-Tree), árvores completas (Whole-Tree) e transformar a madeira em cavacos (Chipping). Para a escolha de qual sistema utilizar e quais máquinas adquirir, devem ser realizados estudos detalhados sobre custos e rendimentos, infraestrutura de assistência técnica dos fornecedores e treinamento dos operadores, sendo a escolha mais adequada aquela que venha a atender aos requisitos técnicos, ergonômicos e ambientais. 33


Por Milton Frank Tendo em vista que o mogno africano é uma madeira nobre, a melhor opção de corte deverá ser a de árvore inteira para melhor aproveitamento da tora cortada. Falando estrategicamente, se a área comercial conseguir vender o mogno antes do corte, facilitará o planejamento desta atividade, propiciando o melhor sistema de colheita a ser definido. Manter o estoque de madeira em pé pode gerar uma economia significativa para o produtor. O mogno poderá ser cortado com motosserra ou processadores florestais como o “harvester” ou “feller buncher”. A tendência deverá ser o uso da motosserra, e digo isso porque o investimento em um processador florestal é alto, um bom processador está custando hoje cerca de U$500.000,00. É até possível o aluguel de um processador florestal e fazer ajustes no mesmo, pois a maioria dos processadores existentes no país é para pinus e eucalipto, e cortam árvores mais finas do que estará o mogno com 15 ou 18 anos. Outra preocupação que deveremos ter no ato do corte é na hora em que a madeira é cortada e cai no solo. Nesta hora corremos riscos de perda, ou por rachaduras ou porque a madeira pode se partir ao meio, e para evitar este dano existem técnicas de colheita florestal que impedem ou minimizam o problema. Neste caso a solução seria o corte 34

escorado, que é uma atividade muito realizada na Escandinávia, ou o corte direcionado, como é realizado no Brasil nas florestas de manejo do norte do país. O corte escorado é feito com o auxílio de um apoio e uma corda que escora a caída da árvore evitando o impacto desta no solo. Já o corte direcionado é feito determinando a parte da árvore que tocará o solo, e com certeza o risco de perda não é eliminado totalmente. Uma vez que a árvore esteja cortada, ela deverá ser levada para a beira da estrada e posicionada para o carregamento. O nome desta atividade é baldeio ou movimentação de madeira campo estrada, ou como era chamado na antiga Papel Simão, de MOVIMA. Existem vários tipos de baldeio. Quem optar por cortar árvore inteira, provavelmente usará um skkider, quem optar cortar toras de madeira provavelmente usará um forewarder. Quem não conseguir comprar ou alugar um desses equipamentos usará uma carretinha puxada por um trator e precisará ter ao lado desta uma garra para o carregamento da madeira. Embora eu veja como inviável o carregamento manual da madeira na carretinha, pois a madeira estará muito pesada com a idade de 15 ou 18 anos.


Uma vez que a madeira esteja posicionada para o carregamento na beira da estrada é necessário transportá-la para uma serraria ou depósito. Nesta hora o produtor necessitará de um caminhão próprio para transporte de madeira e uma garra florestal para carregar este caminhão. Estes dois equipamentos são mais fáceis de serem alugados, mas se o volume plantado do produtor for grande vale a pena o estudo de custo e benefício de investimento na compra destes equipamentos. A colheita florestal é uma atividade que exige um planejamento muito anterior à sua realização. Hoje com a modernização e o desenvolvimento das máquinas florestais existe uma série de métodos e formas de realizá-la. O importante é o produtor visitar várias feiras florestais, conhecer bem os métodos e equipamentos de colheita, e principalmente, contar com um engenheiro florestal ou mesmo um encarregado florestal que tenha vivenciado a experiência de colher uma floresta de madeira nobre. Colher pinus ou eucalipto é totalmente diferente de colher mogno. O eucalipto e o pinus como serão picados podem rachar ou se partir no processo, já o mogno não. A grossura de um pinus ou eucalipto é inferior ao que terá o mogno no ponto de colheita. A verdade é que os pequenos detalhes mudam toda história da forma de como se cortar e colher o mogno.

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A decisão para a implantação de uma floresta leva em consideração diversos aspectos, dentre estes, os de viabilidade econômica e técnica. Porém, para alcançar tais viabilidades há a necessidade de desenvolver modelos que forneçam estimativas do crescimento futuro do povoamento, a fim de compor um sistema de prognose para definir a idade ótima para corte e intervenções silviculturais, tais como poda e desbaste. Portanto, a modelagem do crescimento e produção é crucial para atender os objetivos e a lucratividade almejada pelos gestores florestais. Em parceria com a Embrapa Florestas, Universidade Federal do Piauí, Universidade Federal de Lavras e Instituto de Pesquisas Ecológicas, foi lançado recentemente o software de simulação de crescimento para o mogno africano – SisMogno. Os softwares denominados por “Sis” seguido pelo nome popular da espécie ou gênero (SisAraucaria, SisPinus, SisTeca, etc), descrevem como a floresta cresce e produz, conforme os regimes de manejo que o próprio usuário indica. Tais softwares são resultados de quase três décadas de pesquisa científica e foram construídos para atender à forte demanda de produtores florestais, cientes de que florestas conduzidas sem base científica seguramente levam a um grande desperdício de recursos econômicos e ambientais. Os dados para construção das equações utilizados no simulador (SisMogno) foram provenientes de plantios comerciais instalados em diferentes regiões brasileiras, majoritariamente no estado de Minas Gerais e da espécie Khaya ivorensis. Os plantios utilizam espaçamento variando de 4x5 a 12x12 36

metros, com idades de 1,1 até 15 anos, maioria com mensurações anuais iniciadas no ano de 2010. Sendo os resultados publicados na tese da primeira autora no ano de 2017, intitulada African mahogany plantations: modeling growth and yield in Brazil, na Universidade Federal de Lavras. Portanto, o objetivo do SisMogno é orientar o produtor rural com tecnologias adequadas para o manejo e planejamento florestal, fornecendo informações que permitam otimizar a produção e aumentar a renda. Os usuários podem testar, de forma simples e com uma interface amigável, todas as opções de manejo da floresta, realizando a prognose das produções presente e futura, além de permitir realizar análises econômicas com a ferramenta Planin e, assim, optar pelo melhor regime de manejo a ser replicado na realidade de campo. O software possui um ágil processo de entrada e integração de dados, permitindo a simulação de desbastes das florestas com previsão do crescimento e produção anual do povoamento e o sortimento de madeira por classe diamétrica para usos múltiplos das árvores provenientes dos desbastes e do corte final. Para mais informações sobre o SisMogno acesse: http://www.cnpf.embrapa.br/software/ Para leitura da tese acesse: http://repositorio.ufla.br/handle/1/12427?mode=full



O Grupo Khaya Woods está vivendo um momento pelo qual todo projeto de mogno africano irá passar um dia: a decisão de desbastar parte de sua floresta. Esta decisão é extremamente importante pois pode influenciar vários fatores no projeto: o aumento no crescimento anual médio das árvores remanescentes, a melhoria na qualidade das árvores que serão abatidas no corte final, dentre outros. Tudo isso impacta diretamente na geração de receita futura e consequentemente no valor do negócio no presente. Portanto, esta decisão deve ser tomada com base em fatos, dados e muita observação in loco. Antes de explicar porque decidimos iniciar o desbaste em nossas áreas, vale a pena destacar dois pontos de nosso plantio: foram plantadas em média 400 árvores por hectare e todas elas foram plantadas a partir de sementes. Este fato provoca uma grande variabilidade nas características de cada árvore, de forma que cerca de 15% das árvores, por natureza, não possuem características ótimas para a comercialização da madeira no futuro, sendo finas ou tortas demais. Além 38

disso, sempre aparecem alguns casos de quebra e/ou doença. Portanto, mesmo que nenhum desbaste fosse realizado, cerca de 15% de nossas árvores já seriam descartadas no futuro. A primeira indicação de que um desbaste era necessário em nosso projeto foram as taxas de crescimento obtidas em nosso inventário anual. Foi verificado que os plantios com mais de 8 anos estavam obtendo um ICA (Incremento Corrente Anual) decrescente nas últimas medições, de forma que a linha do ICA estava cruzando com a


linha do IMA (Incremento Médio Anual). Este é um dos indicativos de que um desbaste poderia ser necessário. O crescimento anual do DAP estava cada vez menor nas áreas mais antigas, indicando uma desaceleração no crescimento das árvores. Era preciso dar condições para que as melhores árvores ganhassem fôlego para continuar crescendo. Outro ponto observado foi que alguns talhões já possuíam copas de árvores que se se encontravam, mostrando claramente que estavam competindo por luz. Por fim, tínhamos algumas árvores com crescimento bem inferior às demais ou que tinham o fuste com uma tortuosidade exagerada, e que claramente não se tornariam uma árvore adulta com boas características para o mercado. Porém, mesmo que estas árvores não estejam em condições satisfatórias, elas continuam competindo por luz, água e nutrientes com aquelas que estão se desenvolvendo bem. Assim, decidimos que um desbaste era necessário. Estabelecemos um desbaste de 100 árvores por hectare, ou de 25% dos indivíduos de nossos talhões. Por meio de testes em parcelas já conhecidas, verificamos que o impacto no crescimento após o desbaste poderia ser muito significativo. É difícil definir o valor exato deste incremento, visto que existem muitas outras variáveis que impac tam no crescimento da árvore de um ano para outro. Creio que conseguiremos ter um valor mais preciso com o passar dos anos e com novas medições em outras parcelas. Outro ponto importante é tentar encontrar um mercado para o desbaste, pelo menos para pagar o custo da operação. É sabido que um mogno africano de 8 anos não possui as características e a qualidade de uma árvore madura de 16 a 18 anos de idade. Portanto, é necessário deixar isto bem claro para o potencial cliente do desbaste. Contudo, nos parece haver um mercado onde as características do mogno africano de 8 anos de idade poderiam ser satisfatórias. Estamos realizando testes com o nosso desbaste em algumas fábricas para produzir pequenas peças de madeira, que seriam utilizadas para

fabricação de utensílios domésticos (adornos, tábuas, carrinhos de chá, petisqueiras, etc) e até para alguns móveis, como cadeiras e mesas. Pelas visitas que tenho feito a estas fábricas, os Gerentes de Produção acreditam que o mogno africano de 8 anos possa ser aproveitado como matéria-prima. Um ponto importante: na visão de todos eles, a madeira precisará ser secada em estufa, para ficar com umidade final de 10% a 14%. Com isso a tábua ficaria mais estável durante a fabricação dos objetos. Nosso teste ainda está em andamento e devemos ter as primeiras conclusões até o fim de Setembro/17. Ainda não temos ideia dos valores que poderiam ser cobrados por este material de desbaste, mas caso ele sirva para a produção dos itens mencionados acima, o objetivo seria cobrar um preço similar ao valor pago pela matéria-prima que estas fábricas utilizam atualmente. Um exemplo dessas matérias-primas é o Lyptus, que dependendo da sua qualidade pode variar de R$ 1.300 a R$ 2.000 / m3 entregue na fábrica. Independentemente do resultado deste teste, decidimos realizar o desbaste de nossas áreas a fim de garantir um volume de madeira no corte final com a qualidade exigida pelo mercado de madeiras nobres. É claro que, se o mercado absorver a madeira de desbaste, mesmo que por um preço menor que a madeira do corte final, seria uma ótima notícia para todos os plantadores de mogno africano. Isto poderia inclusive influenciar a densidade de novos plantios, incentivando as pessoas a realizarem plantios mais adensados para selecionarem apenas árvores ótimas para o corte final.

Raphael Valle Cruz CEO KHAYA WOODS

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40


Fundação

Itens

Funcionários

Países atendidos

Estes números dizem tudo desta empresa que é um orgulho para o Brasil. Respeitada nos países onde atua, por sua inovação, design arrojado em seus produtos e principalmente respeito ao meio ambiente. Buscando sempre os melhores parceiros, a ABPMA iniciou seu contato com a Tramontina no ano de 2015. Por todos os números que representam esta empresa, queríamos muito que o mogno africano fosse usado como uma das matérias primas de seus produtos. Através de um amigo e sócio benemérito da ABPMA, sr Gilson Favarato, fomos apresentados ao Sr Antônio Pagliari, diretor da Tramontina Belém S/A há mais de vinte anos. As pessoas são a alma de uma empresa e nelas reside o principal motivo para que qualquer empreendimento seja bem sucedido. Com certeza sr Antônio é parte fundamental deste sucesso. Fizemos uma encomenda de alguns ítens do catálogo, com a especificação de que todas as peças fossem produzidas em mogno africano. Ficaram surpreendentemente bonitas, pela cor natural usada, pelos desenhos da madeira e pelo excelente acabamento que as peças recebem na fábrica. Assim o mogno africano foi testado na linha de produção e demonstrou que além de bonito tinha todas as qualidades exigidas pela Tramontina. Em entrevista exclusiva, sr Antônio fala porque o mogno africano foi inserido como matéria prima do Catálogo Premium da Tramontina.

Carro churrasco e tabua em Mogno Africano 41


[ABPMA] A Tramontina tem tradição em inovação de produtos, design e materiais. Como e porque o mogno africano entrou nesta lista de matérias primas da empresa? A aparência natural da madeira e o bom resultado nos testes realizados na madeira, a qual se mostrou apta para a maioria dos produtos que fabricamos. [A] Porque foi lançado como Produto Premium no catálogo? A aparência natural do mogno, as variações de tonalidades e veios da madeira se apresentaram como alternativas interessantes à madeiras nativas como a muiracatiara e também outras madeiras reflorestadas de alto valor como a teca, as quais já usamos em nossas Linhas Premium. [A] Para quantos países foram distribuídos estes catálogos e em quais continentes? Foram impressos 8.000 catálogos. Os catálogos são Distribuídos para todas as Unidades Tramontina do Exterior, que atendem os mais de 150 países em todos os continentes. No mercado interno também foram enviados para mais de 400 representantes comerciais que vendem utilidades domésticas e móveis do Grupo. [A] Como a madeira se comporta na industrialização? O mogno africano apresentou resultados satisfatórios na secagem, fresagem e colagem, fatores importantes para o tipo de produto que industrializamos. Além disso, demo nstrou boa estabilidade para móveis externos, que serão os próximos produtos a serem lançados. [A] Qual futuro enxerga para o mogno africano dentro da Tramontina e no mercado em geral? Pretendemos continuar ampliando o uso em utilidades domésticas e 42

móveis, futuramente também em cabos de cutelaria. Creio que o mercado em geral passará a usar mais assim que tiver regularidade de fornecimento, assim que iniciar o corte dos grandes plantios. [A] Como uma das indústrias de mais prestígio no Brasil, que conselhos dá aos produtores brasi leiros de mogno africano? Conhecemos vários plantios de pequeno porte no Estado do Pará, a maioria apresentou crescimento satisfatório, bem superior a outras espécies exóticas como a teca.

Também constatamos um alto rendimento. Florestas de 15 a 20 anos apresentaram resultado de 50% da torra para madeira serrada, superior a várias espécies nativas e bem superior a teca e ao eucalipto. Pelas suas características, o Mogno Africano será uma alternativa interessante às madeiras nativas, com infinitas aplicações. À medida que houver garantia de fornecimento ele passará a ser mais usado, consequentemente o preço de mercado também se elevará.


Encontro de produtores florestais no Sebrae, Goiânia

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E PRINCIPAL DESAFIO DO

Estima-se hoje que no Brasil já se tem plantado aproximadamente 28.000 hectares de floresta de Mogno Africano, da espécie Khaya Ivoresis. Esta estimativa baseia-se na capacidade de fornecimento de sementes das florestas adultas ao longo dos últimos 10 anos, além de algumas poucas importações de sementes e mudas clonadas. Em destaque estão os estados de Minas Gerais, Goiás, Pará e Mato Grosso, como principais reflorestadores. É importante deixar claro que existe a possibilidade de desvio da estimativa da área plantada no Brasil por causa da dificuldade em se obter informações, já que, alguns produtores não informam a área plantada; alguns viveiros não informam quantas mudas produziram; e fornecedores de semente não ter informam quantas sementes colheram. Mas sem dúvida de errar podemos dizer que o Mogno Africano já está presente em todos os estados da federação. Antes de situarmos o atual momento das florestas de Mogno Africano no Brasil, a título de contextualização, é importante conhecermos os principais ciclos que ocorreram com Mogno Africano nos últimos 40 anos. O primeiro ciclo, “Apresentação da Espécie”, ocorreu na segunda metade da década de 70, com o fornecimento das primeiras sementes oriundas da África. Quem as recebeu foi o ilustre Professor Ítalo Falesi, que de imediato produziu as primeiras 44 mudas e as plantou na Embrapa Oriental em Belém.

O segundo ciclo, “A Constatação”, período em que foi possível avaliar a adaptação e a produtividade da espécie no Brasil, anos 80 e inicio dos anos 90, porém ainda, a nível acadêmico. O terceiro ciclo, “Plantios Comerciais”, foi quando o mogno começou a ser plantado em fazendas, final dos anos 90, principalmente no estado do Pará. Inicialmente os plantios tinham objetivos de reserva de madeira, recomposição florestal ou consórcio com pimenta do reino. O quarto ciclo “A Popularização do Mogno Africano”, a partir de 2008 em todo o Brasil surgiram dois movimentos: A Poupança Verde e o Alerta de Apagão Florestal, onde as pessoas/empresas capitalizadas começaram a ver com bons olhos a possibilidade de investimentos de médio e longo prazo. Nessa época surgiram várias espécies florestais como opção, e o Mogno Africano foi uma delas. A partir deste período as áreas de reflorestamento com o mogno Africano se tornaram maiores, os investimentos também, muito conhecimento foi gerado e os primeiros desafios superados. Hoje considero que vivemos o quinto ciclo do Mogno Africano, “A Consolidação”, ou seja, momento de colocar em detalhes e de forma pública, informações importantes para a cadeia produtiva da atividade tais como: manejo correto, produtividades máximas e mínimas, custo / investimento, fornecedores, compradores, utilização da madeira, áreas com aptidão, entre outros.


A Constatação 1885 - 1995

1976 Apresentação da espécie

Popularização do Mogno 2008

1998 - 2000 Plantios Comerciais

Feita essa contextualização, podemos tratar do momento atual e o principal desafio para a atividade de reflorestamento com Mogno Africano no Brasil, que de certa forma é a continuação do ciclo de consolidação da atividade no Brasil. De fato, muito se vez desde a chegada das primeiras sementes. Evoluímos consideravelmente na forma de produção de mudas, no preparo de solo, nos tratos silviculturais. As áreas passaram de modestas florestas no norte do país, para médios e grandes projetos em todo o Brasil. Tudo muito louvável, especialmente o grande investimento de recursos financeiro e tempo na atividade. Nos dias de hoje, influenciado pelo desfavorável cenário econômico e político do Brasil, houve uma queda significativa na taxa de novos plantios de floresta. Isso fica claro quando se faz um levantamento da demanda por mudas nos principais viveiros de Mogno Africano do país, que sofreu queda significativa. Na contra mão da queda de novos plantios, temos acompanhado uma melhoria no manejo das florestas. Ou seja, apesar de se estar plantando menos floresta que há quatro anos, hoje o investidor cuida mais das áreas que já plantadas, com melhoras na fertilização do solo, limpeza do mato, limpeza de brotos, gestão de pessoas e infraestrutura da fazenda. No momento atual, temos como principal desafio a organização financeira, para que o projeto depois de implantado possa se manter. O recomendado para que se iniciem novos projetos, a pessoa/empresa, deve investir 25% do lucro liquido médio para os próximos 15 anos. Ou seja, antes da definição tamanho da sua floresta, deve ser feito um estudo da perspectiva de faturamento de outras atividades ( agrícolas ou não-agríco-

2015 A Consolidação

las ), que irão custear o projeto. A ABPMA está trabalhando junto aos principais agentes financeiros que coordenam recursos do BNDES, para que sejam abertas linhas de crédito para os produtores de Mogno Africano. Sem dúvida será uma avanço e um suporte para implantação de novos projetos. Hoje há opção dos consórcios com café, gado, fruticultura, pimenta do reino, entre outros. Dessa forma você financia parte da floresta e melhora a liquidez do projeto. Com relação aos consórcios sempre fica a sugestão da sinergia e simplificação, para que não haja desvio de foco e de finalidade do projeto. Em fim, o momento atual é desafiador e ao mesmo tempo estratégico para a jovem cadeia produtiva do Mogno Africano no Brasil. Ao mesmo tempo em que os novos plantios diminuíram o ritmo, os produtores respondem com melhores tratos culturais, consequentemente melhores produtividades. O desavio de aumentar a área plantada passa por uma expectativa de estabilidade macroeconômica e politica no país e uma melhor organização financeira de longo prazo por parte dos investidores.

João Emílio Duarte Matias Engº Agrônomo Consultor da BRASIL TERRA AGRONEGÓCIOS 45


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Texto de André Silveira Rosa - Engenheiro florestal com experiência em empresas de base florestal (plantações), Mestre em Engenharia Ambiental, Especialista em Gestão Ambiental, consultor em avaliações e auditorias de certificação desde o ano de 2008. Possui formação adicional em curso sobre ISO 19011 (Auditor Líder). Participação em aproximadamente 300 auditorias de Certificação Florestal FSC e Cerflor, de manejo florestal e de cadeia de custódia, em todas as regiões do Brasil.

Na mesma alegria em que recebi o convite para escrever sobre a Certificação Florestal para produtores florestais, convido-os para uma esclarecedora descrição de um processo sem volta! Dentre algumas certificações florestais existentes, tratarei sobre a Certificação FSC. O FSC é uma sigla em inglês de Forest Stewardship Council, que significa Conselho de Manejo Florestal. Fundado em 1993, como alternativa às práticas de desmatamento de florestas crescente na época, tem por objetivo desenvolver padrões reconhecidos mundialmente que garantam boas práticas de manejo florestal: ambientalmente adequadas, socialmente justas e economicamente viáveis. O FSC possui sua sede em Bonn, na Alemanha e possui representação em mais de 70 países. No Brasil possui o Conselho Brasileiro de Manejo Florestal, chamado de FSC Brasil, formalizado desde o ano de 2001. Para atender seus objetivos, o FSC, através de representantes das áreas ambientais, sociais e econômicas, desenvolvem as normas que deverão ser seguidas pelos empreendimentos que queiram estar associadas ao bom manejo florestal. Os seja, o FSC dita às regras e também credencia entidades, chamadas de certificadoras, que são os organismos que vão até os empreendimentos e fazem a avaliação das conformidades com os padrões do FSC através de auditorias.

Tipos de Certificação FSC Há dois tipos de Certificação FSC. E é importante

descrever esta informação, principalmente para os produtores florestais que pretendem industrializar sua madeira. Há a Certificação FSC de Manejo Florestal e há a Certificação FSC de Cadeia de Custódia. A Certificação de Manejo Florestal trata dos padrões de manejo lá na floresta. Hoje existe um padrão harmonizado para a certificação de florestas plantadas que contém 10 Princípios, 56 Critérios e 212 Indicadores, que abrangem itens de legalidade da atividade, questões fundiárias, sociais, ambientais e econômicas, desde a formação da floresta até sua colheita. O outro tipo de certificação é a de Cadeia de Custódia. Este tipo está relacionado à indústria. Qualquer tipo de transformação de fibras originadas da floresta seja virgem ou recuperada, que gera um produto de origem florestal, pode receber a certificação. No entanto o requisito básico para uma empresa vender um produto com a Certificação FSC é adquirir o insumo Certificado FSC. As normas da Cadeia de Custódia regem o sistema de controle adotado pela empresa para garantir a rastreabilidade do produto e não sua qualidade. Resumindo, para vender FSC, precisa comprar FSC. Os produtos de uma Certificação FSC de Manejo Florestal é a madeira em toras, toretes ou até mesmo a árvore em pé. Já os produtos de uma Certificação FSC de Cadeia de Custódia podem ser: madeira serrada, portas, pisos, janelas, chapas de MDF, chapas de compensados, móveis, celulose, papel, livros, etc. Por que um produtor florestal ou uma empresa devem se certificar? 47


A Certificação FSC no Brasil está completando duas décadas e o que ouvimos neste período é que a resposta para esta pergunta geralmente é: O cliente quer! O cliente exige! E esta resposta é verdadeira, pois como diz o nome da Certificação na indústria, “Cadeia de Custódia”, é uma cadeia de clientes e fornecedores, que sempre o elo da frente é quem exige, ou procura, por fornecedores certificados. Quando os clientes, e temos que nos incluir também como clientes, dão preferência a um produto FSC, afirmam que pretendem adquirir um produto que venha de: Origem legal e conhecida; onde direitos sociais foram preservados e que o meio ambiente foi respeitado. Para os produtores florestais que ingressam na certificação FSC há um salto de gestão do negócio florestal. Os ganhos de controle legal (questões ambientais e trabalhistas), melhorias sociais para trabalhadores e comunidades, controles de custos e de produtividade da floresta são exemplos verdadeiros que comprovam que quem entra na certificação, não tem vontade de sair. Índices de empreendimentos desistentes da certificação são perto de nulos. Tendo o FSC, a imagem do empreendimento é diferenciada em relação aos órgãos de fiscalização ambiental e trabalhista. Atualmente, há investidores que só aceitam entrar de parceiros ou financiadores de projetos florestais se a Certificação FSC estiver contida na cultura do empreendimento. No mercado interno, hoje as marcas FSC estão bem mais conhecidas graças aos produtos da indústria gráfica, como papéis, revistas e embalagens. Porém para a exportação de produtos de madeira como móveis, painéis, molduras e portas, para certos países, se não houver a Certificação FSC, não há espaço de colocação do produto no mercado. Então para finalizar a resposta do porque certificar, podemos dizer que é: para abrir mercado; ter um produto que leva a mensagem de cuidados com as questões sociais e ambientais; uma diferenciação de cultura do empreendimento; e para alguns casos, até um sobre preço do produto. Quais as exigências dos mercados quanto aos Insumos Certificados FSC? Principalmente países mais desenvolvidos, que já possuíram a experiência de esgotarem suas florestas, e através de políticas mais protecionistas para questão ambiental, são os mercados mais exigentes por produtos FSC. No entanto, quando cito no primeiro parágrafo deste artigo que é um caminho sem volta, me referia na consciência ambiental das novas gerações. Hoje ainda para a maioria dos consumidores a decisão de compra está em preço e qualidade. Mas produtos em condições idênticas de preço e qualidade com o bônus de serem produtos que foram produzidos através de 48

práticas socioambientais mais sustentáveis, com certeza terão melhores resultados em vendas. O que se percebe é que há mercado para Certificação FSC para todos os produtos de origem florestal. Há fornecedores e clientes para todos os tipos de produção FSC. Certificação FSC de Manejo Florestal para os Produtores Florestais do Mogno Africano. Tendo a possibilidade de conhecer um pouco do histórico dos plantios do Mogno Africano no Brasil e pelas etapas do manejo que se encontram estas florestas, é possível responder alguns questionamentos para quem já enxerga em seu horizonte, primeiramente a necessidade de certificar a floresta e, posteriormente, dependendo do nível de verticalização da industrialização da madeira, a certificação da indústria que beneficiará a madeira. Para ajudar no entendimento da aplicação da certificação FSC, segue algumas dúvidas e respostas: a)Quando certificar ou quando começar a preparação para a certificação? Não existe uma regra para o momento certo. O que se imagina é que anterior à colheita, a floresta já esteja certificada, para a madeira poder ser comercializada como tal. Para isso, se orienta que quanto antes começar a se preparar, se possível desde a implantação da floresta, já visando não incorrer em problemas que no futuro atrapalharão uma avaliação de certificação, melhor! Mas também é possível afirmar, que se iniciando uns dois ou três anos antes da colheita e que haja o empenho do empreendedor em definir seus procedimentos e implementar suas avaliações ambientais e sociais, é suficiente para certificar a floresta. b)Como fazer a certificação FSC? Geralmente é realizado um diagnóstico, ou pré-avaliação, em todas as áreas florestais do produtor para ver qual o nível de atendimento com os padrões FSC. Após isso, ou por ajuda de consultoria especializada, ou por esforços da equipe própria, se faz a preparação para garantir a conformidade com aqueles 212 indicadores da norma. Quando a equipe de gestão considerar que o empreendimento está apto para ser avaliado, é escolhida uma Certificadora (organismo credenciado junto ao FSC) que é quem faz a visita nas florestas, faz a análise de documentos, assim como entrevista partes interessadas. A Certificadora dando o parecer positivo sobre a gestão da floresta recomenda junto ao FSC que o empreendimento tem condições de ser considerado Certificado. Daí então este empreendimento receberá seu código de certificação que passará a identificar nas notas fiscais de venda. Sendo certificado também poderá fazer uso das marcas FSC nos produtos ou para fins promocionais. c)

Existe alguma dife- renciação para tamanho de


Fazenda Atlantica Agro, Pirapora - MG

áreas em relação ao Padrão FSC? Sim. Existe um Padrão de Certificação do FSC para o Manejo Florestal em Pequena Escala e de Baixa Intensidade, chamado de SLIMF. Produtores que possuírem área total de certificação inferior a 1000 hectares com até 400 hectares de plantios florestais pode se enquadrar nesta norma. Há uma diminuição no número de indicadores a serem cumpridos e condições de atendimentos proporcionais a menor escala. d) É possível fazer uma certificação em conjunto com outros produtores? Sim. Existe esta possibilidade também. É chamada de Certificação em Grupo. Esta certificação do grupo pode ser no padrão harmonizado ou no padrão SLIMF (pequenos). Este tipo de certificação tem questões positivas e algumas fragilidades. Quando um produtor florestal ou empresa, busca a certificação de modo individual tem a seguinte

situação: - Tomada de decisão sem consultar outros proprietários. Decide sozinho como conduzirá seu processo, quem contrata, quando passará por avaliações, quanto investirá... - Como Fragilidades: Tem a questão da viabilidade econômica, onde arcará com todos os custos de preparação e de auditorias sozinho. Hoje no Brasil há vários grupos de certificação, mas praticamente todos organizados como fornecedores de madeira de grandes empresas do ramo de celulose e papel. Existindo o procedimento claro da constituição do grupo e tendo o compromisso dos integrantes, esta opção pode ser bem interessante para os pequenos produtores. e)Que tipo de legislação é necessária cumprir para poder ser Certificado FSC? O Princípio 1 do FSC é a obediência às Leis, ou seja, deve ser cumprida a legislação de todas as esferas, como Federal, Estadual e Municipal, assim como Instruções normativas, normas reguladoras, tratados internacionais e demais 49


instrumentos legais existentes na região onde se localizam as florestas do produtor. f )Questões Judiciais Pendentes. Autuações ambientais, fiscais, trabalhistas impedem a Certificação? Neste caso é importante ter todo o acompanhamento dos processos para fornecer para a certificadora o status de cada situação. De posse destas informações e pela natureza e risco das pendências, a certificadora vai decidir pela conformidade ou não. g) É possível ter Fazendas de Mogno Certificadas FSC e outras Fazendas não certificadas? Sim. Existe essa possibilidade, porém o produtor deve informar para a certificadora o real motivo para não inclusão destas outras áreas no escopo de certificação. Atividades em desacordo com os Princípios e Critérios do FSC sendo realizada nestas áreas fora da certificação, podem impedir a certificação da totalidade das áreas. h) É possível Certificar uma Fazenda mesmo se a Propriedade da Terra não seja do produtor? Sim. O produtor Florestal deve garantir a posse da área e da floresta, mas não necessariamente o registro da área. Esta propriedade pode ser uma área arrendada ou parceria florestal. Como funciona a Certificação FSC?

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Para finalizar, é importante explicar como funciona a Certificação FSC. Após a decisão de ingressar na certificação e escolher a certificadora, há o contrato com o FSC e o agendamento da auditoria. O ciclo de certificação é de 5 anos, composto de uma auditoria de avaliação inicial, e após certificado, há uma auditoria de monitoramento anual nos próximos quatro anos. Os auditores fazem a verificação da conformidade do empreendimento em relação aos padrões FSC. Caso existam fragilidades, emitem “Não conformidades” que deverão ser corrigidas de acordo com sua gravidade. As normas do FSC são constantemente revistas, sempre em atendimento de demandas mundiais. Contudo os benefícios de obter e manter a certificação são muito grandes. A certificação é uma ótima oportunidade de disciplina e cuidado da floresta, pois pelo elevado tempo do ciclo de crescimento das árvores, muita coisa pode acontecer, e ações e tomadas de decisão por impulsividade, podem ter danos irreversíveis, principalmente com a perda de valor da floresta ou custos desnecessários.


A cada quadrimestre os associados da ABPMA se reúnem para buscar conhecimento, saber como andam os plantios, e para fortalecer os laços de amizade do grupo. Desde a fundação da ABPMA em 2011, as reuniões aconteceram na sede, em Belo Horizonte. Buscando melhorar nossos encontros e torná-los cada vez mais interessantes, mudamos as reuniões. A cada vez é sugerido um novo local para o próximo encontro, que por enquanto tem acontecido nas fazendas de um dos associados. O resultado desta mudança foi excelente em todos os sentidos. Aumentou significativamente o número de participantes, que estão tendo a oportunidade de ver no campo várias idades de mogno africano, em solos e climas diferentes e como cada produtor está lidando com as etapas de crescimento. São reuniões abertas com convidados interessados em plantar ou que já plantam mas não tinham conhecimento do trabalho da ABPMA, o que está resultando em um número maior de adesão de novos associados. São sempre dois dias de encontro na cidade da

Dia de campo no mogno consorciado com Café

fazenda escolhida, sendo a tarde do primeiro dia dedicada às palestras e à parte técnica, terminando em um animado jantar sertanejo. O dia seguinte acontece no campo, na fazenda do associado, onde temos sido acolhidos carinhosamente, de porteiras e mentes abertas. São muitas as perguntas respondidas pelos próprios proprietários e seus gerentes, que contam tudo sobre a lida do dia a dia. O encerramento acontece com um almoço típico da região e torna-se mais uma oportunidade de conversa informal e proveitosa. No dia 23 e 24 de março, com um número recorde de participantes, acontecerá a 18a Reunião. Será um encontro muito especial na fazenda Atlântica Agro, em Pirapora, MG, onde os associados terão a oportunidade de conhecer os designers brasileiros parceiros da ABPMA, que desde alguns anos tem encantado ao público brasileiro apresentando trabalhos geniais e premiados no Brasil, feitos com o mogno africano. Aguardem a próxima edição para melhores momentos deste encontro!

Serraria dos proprietários da fazenda

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1 (esquerda para direita). pesquisadora da UFES colhendo material para pesquisas 2 Julho/2017- Fazenda Meta Agropecuária, Grupo Khaya Woods, Janaúba, Minas Gerais 3 participantes 16a Reunião em Janaúba, MG 4 palestra Prof Andressa Ribeiro(PhD) em Janaúba, MG

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A ABPMA encomendou ao músico Leandro César a confecção de 4 marimbas em mogno africano e doou a um projeto social com oficinas de música e instrumentalização, no interior de Minas Gerais. [ABPMA] Como começou no mundo artístico e qual sua trajetória musical até hoje? [LEANDRO] Meus primeiros trabalhos começaram há 10 anos em coletivos musicais. Os grupos Urucum e Diapasão foram minhas principais escolas, nesse contexto gravei os meus dois primeiros discos e fiz shows em palcos no Brasil, Uruguai e México. Tenho formação como técnico em mecânica e trabalhei por alguns anos na área de ciências dos materiais o que foi fundamental pra desenvolver meu trabalho como construtor de instrumentos musicais. Nesse início também tomei conhecimento do trabalho do grupo UAKTI com quem vim a trabalhar entre 2010 e 2016 a convite do Marco Antônio Guimarães, quem considero meu maior mestre. Fui convidado a integrar o grupo Ilumiara, onde fiz a produção musical do seu primeiro álbum dedicado aos cantos de trabalho. Com o grupo tive a felicidade de viajar todos os estados brasileiros numa turnê por 110 cidades. No ano passado ainda lancei mais dois discos, Revoada, gravado em Portugal em parceria com a cantora Irene Bertachini com um repertório de canções e o quinto disco e primeiro solo MARIMBAIA onde o foco são as minhas músicas e minhas criações, principalmente as marimbas. [A] Porque escolheu as marimbas como instrumentos do seu trabalho? [L] Foi algo que aconteceu de forma muito natural. Quando fiz meu primeiro concerto, já faz alguns anos, eu tinha poucos instrumentos construídos, e muitos eram mais experimentais, então logo após a apresentação concluí que precisaria de um maior suporte melódico e harmônico para sustentar aquela música que eu pretendia fazer. Comecei uma pesquisa em materiais para desenvolver esses novos instrumentos e foquei completamente nas marimbas. Experimentando distintos materiais, formas, tessituras e extensões. Aos poucos 54

foi tomando forma o trabalho, nasceram as músicas e reuni os músicos para que colocássemos em prática essas ideias. [A] De que podem ser feitas as marimbas? E qual diferença sonora dos materiais? [L] A marimba tem sua origem na África, e o material é madeira. Mas em pesquisas diversas construtores de instrumentos ao longo da história foram experimentando novos materiais. O Alumínio por exemplo, deu origem ao "vibrafone" e ao "glockenspiel", instrumentos que se consolidaram no contexto musical contemporâneo. Mas outros experimentos com materiais como vidro, cerâmica, bambu e polímeros trouxeram uma gama de outros possíveis sons. A composição química e a densidade são os parâmetros que mais impactam no timbre, os metais em mais ressonância por exemplo, o vidro um som muito cristalino e as madeiras por sua baixa densidade em relação aos metais é mais fácil atingir notas mais graves com menores dimensões e peso. [A] Tradicionalmente quais madeiras são usadas na fabricação destes instrumentos e qual o diferencial sonoro entre elas? Inicialmente o xilofone e em seguida a marimba de orquestra se formataram como instrumentos ocidentais e integrados a orquestras e grupos de câmara sendo utilizados por compositores. Com isso alguns fabricantes foram se consolidando e fixaram o "Honduras Rosewood" como a madeira que apresentou melhores resultados. Atualmente essa madeira que é da família do Jacarandá é a mais cobiçada pelos construtores tradicionais de marimbas. Eu no entanto tenho um interesse em conhecer justamente as diferenças e comecei a experimentar outras madeiras como Roxinho, Pau Ferro, Jacarandá, Angelim dentre outras e por fim o Mogno Africano. As diferentes densidades e características de cada árvore traçam a personalidade sonora, concedendo mais ou menos, ressonância, volume e riqueza de harmônicos. Eu particularmente me interesso por todos os sons.


[A] Já tendo trabalhado com tantas madeiras, o que achou da aparência e trabalhabilidade do mogno africano? [L] O primeiro parâmetro que me impressionou foi o acabamento. Antes mesmo de terminar o primeiro instrumento, concluí que ficaria lindo. É uma madeira não tão dura quanto outras como Ipê ou Roxinho o que facilita bastante o processo de preparo das peças, cortes das teclas, afinação e acabamento. Se por um lado por ter uma dureza menor ela impossibilita explorar as regiões mais agudas da extensão do instrumento, ela responde muito bem à região que é o nosso foco, o que chamamos de "médios". Ao mesmo tempo não é macia, e

madeiras muito macias não são recomendadas para marimbas. [A] Qual comparação faria do mogno africano com estas outras madeiras que você já usou? [L] Minha tendência é sempre buscar a singularidade de cada material, a sua personalidade, acho que isso é parte fundamental do meu trabalho. De forma que não tenho um material "preferido" acho que cada um oferece algo que é único. Fiquei satisfeito e surpreso com o Mogno Africano pois nunca tinha trabalhado com ele, foi a primeira vez. Sendo assim considero os resultados ótimos, mas vejo que há um campo de pesquisa sobretudo com relação ao comportamento da madeira ao longo do tempo, é preciso observar ao longo dos anos como a madeira vai se comportar

antes de concluir algo, se o som vai se abrir, se consolidar, se manterá bem a afinação. O que posso dizer é que é uma madeira que oferece um belo acabamento, é bastante fácil de se trabalhar e traz uma sonoridade muito interessante. [A] A convite da ABPMA você produziu algumas marimbas em mogno africano para o Projeto Realizando Sonhos, no município de Buritizeiro, que atende 174 crianças e jovens carentes. Já havia recebido uma encomenda assim? O que achou? [L] Sim, já construí instrumentos para a Escola de Música de Itabira, para ONGs em Rubim e Belo Horizonte, dentre outras. É sempre uma experiência nova. Tomei conhecimento do "Projeto Realizando Sonhos" através dessa encomenda e fiquei muito feliz com o

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convite pois é também uma oportunidade de fazer instrumentos que vão promover uma mudança na realidade de crianças e jovens que carecem de referências e possibilidades de experiências novas que lhes abram portas para outras visões de mundo. Acho o contato e o ensino de música uma grande chave de transformação social, seja pela possibilidade profissional ou mesmo por entrar em contato com uma atividade que estimula a sensibilidade e criatividade das pessoas. [A] Como foi o processo de produção? O que mais usou além do mogno africano? [L] A primeira etapa é escolher muito bem as peças, cortar, aparelhar a madeira e começar a cortar as teclas das marimbas na dimensões mais próximas das finais. Aí se faz uma primeira afinação, que consiste em fazer um corte, em forma de arco na parte inferior da tecla afim de manter as suas dimensões mas diminuir sua massa, fazendo assim com que a peça atinja frequências mais graves. Após essa pré afinação já é possível ter uma visão clara se alguma tecla não está "soando bem" ou como deveria. Às vezes pode haver algum nó na madeira no meio da tecla, alguma trinca ou outros fatores que prejudiquem o desempenho sonoro do instrumento, nesse caso é preciso ser muito criterioso na escolha, pois é isso que irá garantir a qualidade do instrumento. Dessa seleção sai o teclado que segue para a afinação final e posteriormente o acabamento. Também usei o Mogno Africano para algumas partes estruturais das marimbas além, de compensado para as caixas acústicas e materiais diversos como espumas, acoplados, borrachas e

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outros detalhes da construção. [A] O que resultou de instrumentos como produto final em termos técnico e sonoro? [L] Esses foram instrumentos pensados para o ensino de música. Fiquei bastante satisfeito com o resultado pois as marimbas apresentaram uma sonoridade equilibrada ao longo de sua extensão, boa resposta entre graves e agudos, e resistência. Pretendo observar os instrumentos mas já concluo que são instrumentos que apresentam muitas possibilidades criativas pois atendem os parâmetros técnicos e sonoros fundamentais para uma experiência musical, prova disso foi a apresentação de final de ano em 2017 que colocou as marimbas em lugar de destaque na parte musical. [A] Hoje seu trabalho está inserido no Mahog Project, a parte artística, de design e social da ABPMA. O que poderia sugerir para o Mahog Project para fortalecer esta parceria com seu trabalho? [L] Penso que para se chegar a um caminho de instrumentos profissionais há muito o que se trilhar pois é um campo complexo de pesquisa e necessita de investimento de tempo e energia para chegar a conclusões mais sólidas. Eu me interesso muito por buscar melhores resultados a todo momento. Vejo com otimismo a possibilidade de que esses instrumentos sejam um caminho para a construção de um pensamento crítico e criativo dentro da nossa sociedade, assim creio que a continuidade da construção de marimbas e outros possíveis instrumentos a serem inventados é um campo necessário e promissor.


Prof Evandro Novaes Graduado em Engenharia Florestal pela Esalq da USP; Os ecossistemas brasileiros vêm sofrendo

mestrado em Genética e Melhoramento pela Universidade Federal de Viçosa, PhD em "Forest Resources and Conservation" pela University of Florida. Atualmente, Professor na Universidade Federal de Lavras, onde

forte degradação. O desmatamento ilegal e o corte seletivo de árvores de madeira nobre, com alto valor comercial são atividades que contribuem para esta situação. As espécies alvo dessa exploração predatória perdem grande parte de sua diversidade. Dentre as espécies mais valiosas e exploradas da Amazônia, destaca-se o mogno brasileiro (Swietenia macrophylla King) da família Meliaceae. A madeira do mogno brasileiro foi e ainda é altamente desejada nos mercados interno e europeu. Como resultado de sua exploração predatória, o mogno brasileiro vulnerável à extinção (IUCN, 2017). Uma das soluções vislumbradas para suprir essa demanda por madeiras de alto valor

sustentável. No entanto, pesquisas indicam que os planos de manejo sustentável na Amazônia podem não atingir os objetivos propostos, levando a uma forte erosão genética das espécies alvo do manejo nos locais de exploração (Richardson e Peres 2016). Dessa forma, o plantio de espécies de madeira nobre para serraria é urgente para suprir uma demanda que só deve crescer com o aumento populacional (FAO, 2009). Os plantios de espécies nativas muitas vezes esbarram na existência de predadores co-adaptados. Este é o caso dos monocultivos de mogno-brasileiro que, invariavelmente, são inviabilizados pelo ataque da broca do ponteiro (Hypsipyla grandella). Nesse sentido, o plantio de espécies arbóreas exóticas é uma alternativa interessante. Nos últimos anos, os plantios de mogno-africano (Khaya ivorensis) têm crescido de forma pela espécie ocorre em função de sua boa adaptação em diversas regiões do País, ao seu crescimento relativamente rápido e ao atual valor de sua madeira, que pode chegar a mais 57


de 900 euros/m3 no mercado europeu (RIBEIRO et al., 2017). Apesar de todo o entusiasmo e bom desempenho das primeiras florestas plantadas com a espécie no Brasil, é importante reconhecer que ainda existem diversos desafios a serem vencidos para garantir sustentabilidade e liderança nacional na produção de madeira de K. ivorensis em longo prazo. Os desafios para a produção de madeira de K. ivorensis vão desde a falta de conhecimento científico básico para plantio e manejo da espécie nas diversas condições ambientais presentes em território brasileiro, passando pela falta de linhas de financiamento adequados ao longo ciclo da cultura, até a necessidade de estabelecimento de mercados consumidores interno e externo para sua madeira. Por isso, há muito trabalho a ser feito para que a espécie seja uma importante fonte de madeira em substituição à exploração predatória de espécies nativas nobres. No campo da silvicultura e manejo, os desafios vão desde a escolha do melhor espaçamento, recomendações de irrigação e adubação, até a escolha do material genético a ser utilizado. Em termos de material genético, é importante reconhecer que as mudas de K. ivorensis atualmente plantadas no Brasil são praticamente selvagens, aparentemente sem nenhum histórico de domesticação. Isso não é necessariamente ruim, mas indica que a espécie tem um grande potencial para ser melhorada geneticamente. Essa constatação fica evidente ao lembrar que a produtividade de madeira do eucalipto saltou de 10-15 m3 ha-1 ano-1, na década de 70, para os atuais 40-50 m3 ha-1 ano-1. Esse salto se deve em grande parte ao melhoramento genético e a silvicultura intensiva clonal. As espécies perenes, com destaque para as florestais, possuem grande diversidade genética quando comparadas às anuais. Como o ganho de seleção é proporcional à diversidade genética, o melhoramento tem grande potencial de elevar a produtividade de madeira das espécies florestais. No entanto, existe uma preocupação com a diversidade genética dos materiais de K. ivorensis introduzidos no Brasil. Em razão da dificuldade de importação de sementes, grande parte dos plantios nacionais de K. ivorensis tem sido procedentes das poucas áreas de produção de sementes (duas a três) que possuem árvores em idade reprodutiva. Uma observação importante é que boa parte dessas florestas adultas são provenientes de somente cinco árvores - aquelas pioneiramente introduzidas no País e plantadas na Embrapa Amazônia Oriental. Esse fato têm despertado preocupação com relação

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à diversidade genética dos plantios. Pensando nisso, o Laboratório de Genética e Genômica de Plantas da Universidade Federal de Goiás realizou um trabalho, por meio de marcadores microssatélites em matrizes selecionadas de K. ivorensis. O objetivo era testar, entre outras coisas, se as progênies provenientes das cinco matrizes da Embrapa exibiam baixa diversidade genética. Entretanto, os resultados revelaram que a diversidade genética observada nestas árvores foi elevada (heterozigosidade esperada = 0,56) e muito próximo daquela observada em populações naturais de mogno na África. Maiores detalhes sobre esse trabalho podem ser consultados na dissertação de mestrado da Sabrina Delgado Soares, disponível para download em https://forgenetics.wordpress.com/. Mas como é possível tanta diversidade em progênies de somente cinco árvores? Em espécies diplóides (com dois complementos cromossômicos, um do pai e outro da mãe), como K. ivorensis, cinco indivíduos não aparentados podem conter até dez alelos diferentes para cada loco. A teoria genética diz que um organismo com 25 pares de cromossomos, como ocorre no gênero Khaya, pode gerar mais de 33 milhões de gametas diferentes. Isso desconsiderando as recombinações (ou crossing-overs) entre os cromossomos homólogos. Ao se considerar as recombinações e o encontro ao acaso entre os milhões de possíveis gametas, é imensurável o número de genótipos (árvores diferentes) possíveis a partir do


cruzamento entre duas árvores. A partir da análise da diversidade genética de K. ivorensis do País, foi iniciado em 2012 um trabalho de seleção das melhores árvores nas florestas brasileiras mais antigas. Essas florestas, localizadas no Estado do Pará, estavam com idades entre 12 e 18 anos na época. Esse trabalho foi desenvolvido em parceria com a Empresa Mudas Nobres. A partir da avaliação do diâmetro (DAP) e altura de todas as árvores dessas florestas, foram selecionadas as 55 melhores matrizes, sendo 22 originárias de sementes da Embrapa e 33 de outras duas origens: Costa do Marfim e Tanzânia. As matrizes selecionadas tinham DAP superior a 50 cm e altura comercial de no mínimo 9 m. Essas árvores de K. ivorensis foram clonadas e multiplicadas no viveiro da empresa Mudas Nobres. Esses clones foram escolhidos via seleção massal, somente com base em informação fenotípica (altura e diâmetro de árvores individuais). Dessa maneira, é fundamental que a superioridade genética desses clones seja comprovada com experimentação em diferentes locais. Atualmente, esses clones estão sendo avaliados em quatro diferentes testes clonais distribuídos pelo Brasil, sendo dois testes em Minas Gerais, um no Mato Grosso do Sul e um em São Paulo. Além disso, os clones também foram planta-

dos de forma comercial em São Paulo e Tocantins. Com isso, será possível analisar a interação dos clones com os ambientes de plantio, permitindo uma recomendação de clones mais adaptados para as diferentes condições ambientais avaliadas. O teste mais antigo, localizado no município de Engenheiro Navarro-MG, está completando três anos de idade, e foi avaliado nos dois primeiros anos. Os resultados iniciais são muito animadores, com todos os clones com crescimento superior à testemunha seminal. Esses resultados foram divulgados na forma de trabalhos de conclusão de curso de Rodrigo de Souza Oliveira e Rebecca Silva de Moura, da Engenharia Florestal da Universidade Federal de Goiás (UFG). Esses trabalhos também podem ser encontrados na página do nosso laboratório: https://forgenetics.wordpress.com/. Em conclusão, ressalta-se a importância de maiores investimentos em pesquisa florestal para que o Brasil seja líder mundial em produtividade de K. ivorensis, a exemplo do que ocorreu com a eucaliptocultura nacional. Os resultados iniciais de nossas pesquisas, na área de genética e melhoramento, demonstram que a K. ivorensis apresenta ampla diversidade genética e os clones inicialmente selecionados têm tido um excelente desempenho nos testes clonais. No entanto, dado o longo ciclo da espécie, é preciso que esses experimentos sejam avaliados em um prazo mais longo e que se aumente a abrangência dos locais avaliados. Com isso, será possível uma recomendação mais precisa sobre os clones mais produtivos e adaptados em cada região do País.

Referências: FAO. Global Demand for Wood Products. In State of the World’s Forests 2009; Food and Agriculture Organization of the United Nations, Ed.; Food and Agriculture Organization of the United Nations: Rome, Italy, 2009; pp 62–71. IUCN 2017. The IUCN Red List of Threatened Species. Version 2017-2. <http://www.iucnredlist.org>. Visualizado em 14 de setembro de 2017. Ribeiro, A.; Ferraz Filho, A. C.; Scolforo, J. R. S. O Cultivo Do Mogno Africano (Khaya Spp.) E O Crescimento Da Atividade No Brasil. Floresta e Ambient. 2017, 24. Richardson, V. A.; Peres, C. A. Temporal Decay in Timber Species Composition and Value in Amazonian Logging Concessions. PLoS One 2016, 11 (7), e0159035.

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Em Junho/16 tive a oportunidade de visitar a feira “Carrefour de Bois”, que é uma das maiores feiras de madeira do mundo e ocorre em Nantes, na França. Fui acompanhado do Gilson Favarato, da Cambury Representações Ltda. O Gilson participa desta feira há vários anos e conhece como ninguém o mercado mundial de madeiras nobres. Durante a visita pude fazer algumas observações e anotações, que seguem abaixo: Os expositores são produtores e comercializadores de madeira, que fornecem desde toras, madeira serrada e lâminas, à diversos produtos: pisos, decks, parquet, painéis, estruturas de madeira, móveis, etc. Vários Traders e Representantes de Venda de madeira também possuem stands na feira. A maioria dos expositores eram europeus. Havia poucos expositores da América do Norte e Ásia, que são dois grandes mercados consumidores/vendedores de madeira. A maior parte dos expositores vendiam pisos e decks. Estes produtos parecem ser os que apresentam maiores volumes e players no mercado. A maioria das empresas, além de possuírem serrarias e produzirem produtos específicos, também compram madeira e seus produtos de outros fornecedores para revender na Europa e no resto do mundo; Os volumes praticados por estas empresas são muito grandes. A Peltier Bois, um dos clientes do Gilson, possui um estoque de madeira no pátio de 100.000 m3 em apenas uma de suas 10 unidades espalhadas pela França. Todas as unidades da Peltier Bois vendem 2.000 m3 por dia. São comercializados inúmeros tipos de madeira do mundo, nativas e reflorestadas. O ipê é uma das espécies que possui maior demanda atualmente, principalmente por suas boas propriedades para produzir decks. O seu preço é um dos 60 mais valorizados (US$ 1.400 / m3 serrado), assim


como o mogno original sul-americano (Swietenia Macrophylla), que é o mogno brasileiro e que hoje é vendido pelo Peru e Honduras, por cerca de US$ 1.650 / m3 serrado.. Quase todos os fornecedores vendem madeiras de origem africana. Na França a espécie Khaya é chamada de Acajou d`Afrique. Existe uma outra espécie de mogno africano (madeira avermelhada de origem africana) chamada Sapelli, que é bastante comercializada e é muito parecida com a Khaya Ivorensis. Uma empresa que faz manejo florestal na África informou que a Khaya Ivorensis é mais valorizada do que a Khaya Senegalensis no mercado. Ele vende a Khaya Ivorensis em pranchas (tora sanduíche, cortada em camadas) por cerca de Euros $ 500 / m3 (FOB África) – madeira nativa. Outras empresas que comercializavam Khaya / Acajou na Europa estavam vendendo a madeira serrada por volta de Euros $ 800 / m3 (FOB) – (madeira nativa). Este preço está próximo ao informado nos Relatórios do ITTO (International Tropical Timber Organization)

Quando procurei saber na feira quanto pagariam pelo nosso mogno africano, em quase todas as vezes a resposta foi que eu deveria enviar um material de amostra para realização de testes (geralmente 1 container). Só assim poderiam afirmar se teriam interesse por nosso produto e fazer uma oferta com quantidade e preço. Praticamente todos os expositores possuíam algum tipo de certificado ambiental em seus produtos. A maioria era FSC, e outra grande parte possuía o PEFC. Todos me falaram que o FSC era mais reconhecido internacionalmente. Pude perceber que certificação ambiental está deixando de ser um item diferenciador para ser um item obrigatório para o comércio internacional de madeira. Por isso é importantíssimo possuírmos tal certificação. Hoje em dia não é tanta vantagem falar que possui FSC, mas é quase que um pré requisito para se vender a madeira. (pelo menos lá fora) VISITA À PELTIER BOIS A Peltier Bois é uma grande importadora e distribuidora de madeira, além de possuir serrarias para produzir diversos produtos de madeira; Possuem 10 unidades espalhadas pela França. Fomos 61


conhecer uma das unidades, que fica a 1,5 hora de Nantes; É um dos mais antigos e maiores clientes do Gilson Favarato, e por isso fomos conhecer a empresa; Segundo o Gilson, é um dos maiores importadores de mogno africano do mundo; A empresa compra toras, tábuas serradas, e até alguns produtos acabados de madeira para revenda, como decks e pisos; O estoque de madeira que eles possuem apenas na unidade visitada é de 100.000 m3. Atualmente, eles compram madeira serrada de Khaya (Acajou) e Sapelle de manejos florestais na África por Euros $ 800 /m3 (CIF) Raphael Valle Cruz CEO KHAYA WOODS

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Saiba tudo sobre essa parceria em abpma.org.br / patriciafonsecabh@gmail.com



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