Andrea Amato Muner Orientadora: Profa. Dra. Karina Leitão Coorientadora: Profa. Dra. Catharina Lima Trabalho Final de Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo Agosto 2020
COCRIANÇA: EXPERIENCIAR A PAISAGEM PARA A AUTONOMIA DA CRIANÇA
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Catalogação na Publicação Serviço Técnico de Biblioteca Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo Muner, Andrea Amato COCRIANÇA: experienciar a paisagem para autonomia da criança / Andrea Amato Muner; orientadora Karina Oliveira Leitão. coorientador Catharina Pinheiro Cordeiro dos Santos Lima - São Paulo, 2020. 272 p. Trabalho Final de Graduação (Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. 1. Paisagem. 2. Crianças. 3. Autonomia. 4. Oficinas. I. Leitão, Karina Oliveira, orient. II. Lima, Catharina Pinheiro Cordeiro dos Santos, coorient. III. Título.
Elaborada eletronicamente através do formulário disponível em: <http://www.fau.usp.br/fichacatalografica/>
AGRADECIMENTOS Queria primeiro agradecer à todas as crianças dos CCAs, que nos acolheram desde o começo e abriram os seus braços para o CoCriança. Que nos ensinaram, durante esses anos, a cuidar do que é nosso e a sonhar juntos! Aos meus pais, Ilso e Lucia. À minha mãe, por ter me ensinado o poder que têm os pensamentos, as palavras e as ações em nossa formação enquanto ser humano, em nossas relações interpessoais e, principalmente, na transformação de realidades. E ao meu pai, por me ensinar a lutar e me posicionar concisamente pelo que acredito, mas, acima de tudo, a cuidar e defender o que amo. Hoje, cada vez mais, tenho certeza de que, se meus sonhos - entre eles o CoCriança - puderam acontecer, é porque tive a base, suporte e apoio dos dois. À minha irmã, Cati, que consegue extrapolar todos os sentidos da palavra irmã: pois além de minha cúmplice e companheira de vida, me apoia e é presente em cada momento de minha trajetória, questionando até essencialmente entender e,
assim, fazendo também parte. Agradeço por ser a irmã que,
tenha a força para continuar, a crença para seguir e o
quando juntas, somos muito mais.
sentimento para crescer cada vez mais. Obrigada por terem co-criado este projeto de vida comigo, se hoje ele existe, é
Agradeço à minha querida orientadora, Karina, por ter sido
graças a vocês:
completa em todos os sentidos da palavra professora, pois
À Bia, que sem ela nada disso seria possível. Sou eternamente
ensina, acima de tudo, pensando no humano e no ético,
grata por sua parceria, por todas as trocas e reuniões. Por
sem deixar de contribuir enormemente para o crescimento
me ensinar sempre a olhar com beleza para as coisas e a
técnico, prático, crítico e científico de seus alunos. A ela,
cuidar para poder crescer.
por sempre nos acolher entre tantas dúvidas e incertezas,
À Amanda, por toda a sua força, que sem ela, teríamos sido
dentro desta trajetória que foi a FAU e é a vida. Obrigada, Ka,
metade. Obrigada por ser um exemplo de determinação e
por todo o carinho, paixão e inspiração que traz ao ensinar.
lealdade, sabendo dar a devida importância ao que se faz necessário.
À Catharina, que me ensinou desde os primeiros dias de FAU
À Cami Audrey, por ser tão verdadeira que transborda com
a olhar com leveza e boniteza para a cidade e seus espaços,
um olhar. Agradeço por sua resiliência e convicção de ideais
a projetar com sentimento, sensações, e que projetar com o
que, hoje, sustentam e dão forma ao CoCriança.
outro faz muito mais sentido. Mas, agradeço, principalmente,
À Cami S, por ser muito e mais um pouco! Por toda a sua
por ter me ajudado a encontrar meu caminho nas belezas e
energia, que é sempre acompanhada de muito sentimento
responsabilidades que é ser uma paisagista.
e responsabilidade, se fazendo parte fundamental para todo o nosso projeto.
À Hulda, por ter me inspirado tanto. Por todas as palavras
E à minha amiga May, por todo o seu carinho, amor e
trocadas ao longo de seus textos e reuniões.
companheirismo, mas também, por me ensinar sempre a ouvir e a comunicar. Agradeço por todas as nossas conversas e
Às meninas do CoCriança por, primeiro, estarem sempre nos
realidades co-criadas, que transformam a minha vida.
cuidando umas das outras, fazendo com que este projeto
Às meninas que entraram e estão junto. Agradeço por também
investirem neste sonho compartilhado: à Yumy, por nos ensinar
longo deste importante setênio de nossas vidas.
a trabalhar com cautela, nos fazendo enxergar os muitos pontos de vista; à Gabi, por sua leveza no olhar e dedicação no atuar; e
Aos facilitadores do Programa Germinar, Márcia Andrade,
à Sil e à Ray por acreditar e co-criar.
Rafa Fueb, Márcia Alexandre e Nati Rocha, por todos os
Ao Lucas, por ter também participado e se dedicado a
ensinamentos, que transformam preenchendo o meu eu e
registrar os encontros, obrigada por sua parceria! E também
transbordando para os outros.
a todos que já passaram pela Equipe CoCriança: Ilana, Jayne, Aline, Ju Pedote, Natalie, André, Andresa, Julia López e Mafê.
Aos educadores dos CCAs - Irmã Clara, Bruno, Kelli, Nathani, Sandra, Mari e Irmã Renata - pelo compromisso e parceria;
Agradeço ao Jhun, por ser tudo de um companheiro, me
à Sueli, por ter nos ajudado tanto e por sua força de luta por
tranquilizando nos momentos de dúvidas, me incentivando
uma cidade mais justa e igual; ao Fetiche, por todo o apoio e
nos de certeza e me apoiando nos de fraqueza. A ele, por
cuidado em casa; à Tonko por também cuidar e acreditar em
ser tão verdadeiro e carinhoso, e por ter me ensinado
nós; à Helô e à Erica por toda a ajuda e dedicação; ao Pedro,
a aprimorar com cuidado e paciência, e dedicar ao que
pelos desenhos...
acredito com a devida atenção. E a todos que preencheram os nossos espíritos de força e À Mari e à Isinha, parceiras de toda a minha vida, por se
vontade a cada vez que ouviram falar do CoCriança, que
fazerem sempre presentes em todos os momentos, e que
acreditaram e acreditam, assim como nós, na esperança
me ensinam muito sobre confiança e acolhimento.
mobilizadora de sonhos que concretizou nosso projeto!
Às minhas amigas “lôras”: Tati, Tai e Ritinha, que tornaram todos esses anos de FAU muitíssimos mais leves! A elas e à Ba Muhle, Paulinha, Ju Piments e Olie, agradeço pelas altas gargalhadas, os acolhedores abraços e todas as celebrações que passamos ao
EQUIPE COCRIANÇA 2019 O CoCriança inicia no primeiro semestre de 2017
Amanda Scotton
com a equipe fundadora - seis primeiros nomes.
Andrea Muner
Com o passar dos anos, essa configuração foi se alterando, agregando muitos colaboradores, até o presente dia. 2017 Amanda Scotton Andrea Muner Beatriz Martinez Camila Audrey Ilana Mallak Mayte Albardía
Aline Silva
2018 Amanda Scotton Andrea Muner Beatriz Martinez Camila Audrey Ilana Mallak Mayte Albardía
Aline Silva
Camila Sawaia
Camila Sawaia
Jayne Andrade
Jayne Andrade Julia Lourenção Julia Pimenta Natalie Maia
2020 Andrea Muner Beatriz Martinez
Beatriz Martinez
Camila Audrey
Camila Audrey
Camila Sawaia
Camila Sawaia
Mayte Albardía
Mayte Albardía Ana Clara Muner Aline Silva
Ayumy Pompéia
André de Moura
Gabriela Viola
Andresa Reis
Rayza Miranda
Ayumy Pompéia Julia López Gabriela Viola Maria Fernanda Pugliesi Natalie Maia Rayza Miranda Silvia Di Eusanio
ABSTRACT
This final work of graduation reports the experience lived by the author over
her years of work in the academic extension group, CoCriança, at University of São Paulo’s School of Architecture and Urbanism. As the project is based on participatory methods with children, the narrative aims to get the reader closer to the universe of the Construction Workshops, which happened after the remodel of the public spaces Praça Livre Para As Crianças, in the district of Brasilândia, and Praça do Samba, in Perdizes. In these places, each group of children takes action and builds autonomously the project they created, leading the decision-making processes and the execution of the activities. They act as real agents of the urban transformation when also inviting the local community to collaborate. Each of these spaces - one in the north and the other in the west of São Paulo - had a great influence both on the construction processes themselves and on the children’s learning processes, guiding to a reflection of the different relations that each group experienced in their co-created reality. Understanding the landscape as the totality that happens from human expression, CoCriança encourages the free play and in the city, in a way that these children build beyond their individual formation their shared feelings, which are stimulated by the sensations caused by the landscape, increasing the relation of belonging to the environment in which they live in. In this way, when appropriating the tools of the process, critically analyzing and seeing themselves as citizens of rights and with effective actions in regard to territories, they build their autonomies.
RESUMO
Este trabalho final de graduação relata a experiência vivida pela autora ao
longo de seus anos de atuação no grupo de extensão universitária, o CoCriança, na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Sendo o projeto baseado na metodologia participativa com crianças, a narrativa busca aproximar o leitor do universo das Oficinas de Construção, que aconteceram após as reformas dos espaços públicos Praça Livre Para As Crianças, no distrito da Brasilândia, e Praça do Samba, em Perdizes. Nelas, cada grupo de crianças coloca a mão na massa e constrói de forma autônoma o projeto que criou, protagonizando os processos de decisão e execução das atividades, agindo como real agente da transformação urbana ao convidar, também, a comunidade local para colaborar. Cada um desses espaços – um na zona norte e outro na zona oeste de São Paulo – teve grande influência tanto nos processos de construção em si quanto nos de aprendizagem das crianças, guiando a uma reflexão das diferentes relações que cada grupo vivenciou em sua realidade co-criada. Entendendo a paisagem como a totalidade que acontece a partir da expressão humana, o CoCriança estimula o brincar livre e na cidade, a fim de que essas crianças construam, além de suas formações individuais, o sentimento compartilhado, que é estimulado pelas sensações provocadas pela paisagem, aumentando a relação de pertencimento ao ambiente em que vivem. E, desta forma, ao se apropriarem de ferramentas do processo, analisarem criticamente e se enxergarem como sujeitos de direitos e de ações efetivas sobre os territórios, constroem as suas autonomias.
“Eu quero falar que a nossa Praça é um lugar pra se divertir, onde as crianças vêm brincar, os adultos vêm fazer suas coisas, suas necessidades. Aqui é um lugar bom pra estudar, pra regar planta, trazer o seu animal para brincar... Trazer o seu filho para brincar, porque a Praça é importante pra gente. Porque se não fosse graças à Praça, quase nem todas as crianças desse mundo teriam algum lugar pra brincar.” (João. Oficina 04 de Construção - Elisa Maria, 2019).
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
13
2.O PROCESSO
19
2.1 OPÇÃO POR ATIVIDADES COM CRIANÇAS NA METODOLOGIA PARTICIPATIVA - Metodologia Participativa - Ser Criança Na Cidade
21
2.2 O COCRIANÇA - História - As Oficinas - Oficinas de Projeto - As Obras - Brincar e criar (n)o espaço - Algumas de nossas referências
24 24 31 35 37 42 43
2.3 AS OFICINAS DE CONSTRUÇÃO
46
21 22
2.4 A PESQUISA - Planejamento - Vivências - Organização dos registros - O processo de análise
3. OS ENCONTROS
51 52 54 57 60
65
3.1 A ESCOLHA DOS LUGARES
66
3.2 LINHA DO TEMPO
74
3.3 OS ENCONTROS COM AS CRIANÇAS
76
182 183 186 192
4.3 PERCEPÇÕES DE PAISAGEM - O que é paisagem? - O direito à paisagem - Educação e paisagem
196 196 200 202 205
4.4 CONQUISTAS DE AUTONOMIA - Sobre educação e experienciar - Sobre educação e a reflexão crítica sobre a prática - Sobre educação, rebeldia e criticidade - Sobre educação e ser sujeito no mundo
211
163 217
5. SOBRE O MEU E O NOSSO APRENDIZADO
4. RELATO DE MEUS SENTIDOS
4.1 ANÁLISE DO CONTEÚDO - Oficinas de Construção - Análise das tabelas
164 164 169
218
6.1 BIBLIOGRAFIA
220
6.2 LISTA DE IMAGENS
4.2 COMO O LUGAR INFLUENCIA NO PROCESSO
173
223
6. BIBLIOGRAFIA
7. ANEXOS
1 INTRODUÇÃO
“Não haveria criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos” (FREIRE, 2019, p. 33)
1. INTRODUÇÃO Quando optei pela graduação no curso de arquitetura e
alimentar formas de dominação racionalista da sociedade urbana.
urbanismo, uma de minhas maiores vontades era a de transformar a
Nesse momento, me encontrei sem esperança no curso que eu
cidade de São Paulo. Queria torná-la mais habitável, mais verde, mais
estava, em mim e em minha missão. A favor de quem e do que estava
artística, mais agradável. Mais do que isso, ainda queria que todos
estudando? Em seu livro, Pedagogia para Autonomia, Freire (2019) explica
tivessem esses direitos, de poder ser na cidade e vivenciá-la como uma
que somos todos seres da esperança que, por “n” razões, acabamos nos
experiência política, estética e formadora. Antes mesmo de entrar na
tornando desesperançados. Daí que uma das nossas brigas como seres
Universidade, então, me envolvi com grupos autogeridos e coletivos de
humanos deva ser dada no sentido de diminuir as razões objetivas para
intervenções urbanas, que atuavam livremente com a mesma finalidade:
a desesperança que nos imobiliza.
transformar a relação do indivíduo com a paisagem.
Então, em 2017, criamos o CoCriança. Somos um grupo de
Com o tempo, a urgência dessa vontade foi se perdendo,
extensão universitária que tem como base a metodologia participativa
à medida que, já no terceiro ano de FAU, a arquitetura se tornou um
com crianças. Através de dinâmicas e atividades lúdicas cooperativas,
“bicho de sete cabeças”. Isto porque, o leque do abrangente curso se
buscamos promover uma aprendizagem vivencial que valoriza suas vozes
abriu de tal maneira - encontrei tantas outras possibilidades, deveres e
na co-criação de espaços de brincar inovadores. Assim, incentivamos que
saberes dentro desses anos de graduação - que acabei me distanciando
elas reconheçam os seus direitos como cidadãs ativas, experienciem a
daquela primeira vontade que eu tinha.
paisagem e participem dos processos de decisão e transformação urbana
para uma maior autonomia como indivíduos e como grupo social.
Me questionava, então, qual era o real papel do arquiteto?
Se ele é capaz de projetar o sonho em realidade, sobre quais sonhos estaríamos falando? O de quem realmente vai usufruir do espaço, ou
“(...) já não foi possível existir sem assumir o direito e o
o do próprio arquiteto? Segundo Wehmann (2019), ao elaborar um
dever de optar, de decidir, de lutar, de fazer política. E tudo isso nos
sistema de significações não a partir das percebidas e vividas por aqueles
traz de novo à imperiosidade da prática formadora, de natureza
que habitam, mas a partir de sua própria interpretação do “habitar” a cidade, os arquitetos acabam por criar uma metalinguagem que passa a
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Imagem 02: Crianças do CCA Elisa Maria posam para foto coletiva na Praça Livre Para As Crianças, que se encontra em sua configuração inicial, ainda no ano de 2017 (Fonte: CoCriança).
Cae nessinv elicipsam quatiis quibus aut erio et desequas net eatias dolupti ntesece pratur?Vitius factastum actaremquem publice ritienam, nu ventra, nont? quiderfica di sedo, quem locchil iciemus at consulus se con Etratus cordint ienihilii con tratortuium P. Fui ina, dinatum patea videm se hocchus cus bont. Valium num is? que ac re nostrum horum, notem et facieme acrevit. Udem ducioris es addum is num pre dum vil capervivere, di eorume in tusquidius corionihilla teatro cor publia prita, consulo cciverentea ducerit. Oximularimil condam. Marena, confex sulartertem trioris; es! Ebuloste con rei se, vitius pulto et vatimur. Quam praribem stilibunum lat nihiliciam it L. Imei conunt graet quam inatatus re eti, ublis senimolia? Nos consciena, cus remqua deestrat, noculoc chumus; Cat. An vivertus bonestra, num opubliena, susserum tussolium ternit, ublia rei prox senit. Udero consum firisquit. Ecemeis quitiae deatuam popublicae cono. enenterit. Ihilin sigili scem iam sules audese nonsinam lare ta nonsist vidienatus, Catiaet ommordi entifex stred ficastus essi iam. Vatus suscri sciam te cotanti listre condace movehen atilium veret auciora vir ad inatum ipsere maximun tilicit. Nit? Andiu culicus ac re, diemqui ssendiessid dintrae, quam quo movervigna, Cate, omnit renihilium Palin pario cris, Catqui et fac tus humGiaestium que cus volor sunt mod et od ut erent.
Cae nessinv elicipsam quatiis quibus aut erio et desequas net eatias dolupti ntesece pratur?Vitius factastum actaremquem publice ritienam, nu ventra, nont? quiderfica di sedo, quem locchil iciemus at consulus se con Etratus cordint ienihilii con tratortuium P. Fui ina, dinatum patea videm se hocchus cus bont. Valium num is? que ac re nostrum horum, notem et facieme acrevit.
Cae nessinv elicipsam quatiis quibus aut erio et desequas net eatias dolupti ntesece pratur?
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eminentemente ética. E tudo isso nos traz de novo à radicalidade da esperança. Sei que as coisas podem até piorar, mas sei também que é possível intervir para melhorá-las” (FREIRE, 2019, p. 52. Grifo nosso).
Poder atuar na esfera da educação como prática formadora de pessoas que possam agir nas cidades, reconhecendo os seus direitos e também que a luta política faz parte da prática cidadã, era tudo que eu sonhava desde o começo. A esperança voltou a fazer parte de mim, ainda mais trabalhando com as crianças - que são seres de esperança. Eu estava, com elas, produzindo e lutando por formas de resistência aos obstáculos de nosso sonho. Sim, nosso, pois como veremos mais adiante, a infância como grupo social é excluída dos processos de decisão, da construção e do uso da cidade. Isto é, não há espaço para ser criança nas cidades, mesmo isto sendo um de seus direitos.
Neste trabalho, portanto, passarei pelas bases do CoCriança,
contextualizando o que foi - e é - este projeto de vida, a fim de entender a sua relevância para as cidades, mas, sobretudo, para as crianças. Sendo ele criado coletivamente, muito do que apresentarei é fruto das vivências, avaliações e reflexões feitas pelo grupo de facilitadoras do CoCriança e, Imagem 03: Crianças na Oficina Levantamento de Recursos na Praça Livre Para As Crianças, Jardim Elisa Maria, 2018; Imagem 04: Crianças na Oficina Conversando com Autoridades na Praça do Samba, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).
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por isso, usarei a primeira pessoa do plural para referi-las. Entretanto, com base na pesquisa qualitativa fenomenológica, buscarei também escrever os meus relatos sobre a experiência por nós vivida e, assim, ressaltar
INTRODUÇÃO
algumas de minhas percepções sobre o processo como um todo.
Maria, na Brasilândia, zona norte de São Paulo; e a Vila Anglo Brasileira,
Para este trabalho final de graduação, optei por focar nas Oficinas
em Perdizes, zona oeste. Cada um desses lugares possui particularidades
de Construção da metodologia CoCriança, que ocorrem após a concepção
intrínsecas aos processos de urbanização de São Paulo e que acabaram
do projeto co-criado, mas, principalmente, após a realização das obras,
tendo grande influência tanto na construção dos projetos paisagísticos,
que foram realizadas em parceria com o poder público. Ao longo dessas
quanto nos processos de aprendizagem das crianças.
oficinas, as crianças colocaram a mão na massa e construíram de forma
Entendo, também, que o brincar livre e na cidade constrói, além de
autônoma, protagonizando nos processos de decisão e execução das
sua formação individual, o sentimento compartilhado das crianças. E assim,
atividades, agindo como reais agentes da transformação urbana ao
no último capítulo, partindo de uma longa reflexão sobre a paisagem como
convidarem, também, a comunidade local para colaborar.
a totalidade que acontece a partir da expressão humana, e a cidade como
Desta maneira, o primeiro capítulo deste trabalho irá introduzir
tradução das manifestações, da criação e das impressões de cada indivíduo
ao leitor o que é a realização do CoCriança como um todo, passando
urbano (LIMA, 2017), vou discorrer sobre como estimular a percepção de
por sua história, metodologia, referências e relações construídas ao
sensações provocadas pela paisagem aumenta a relação de pertencimento
longo dos três anos de atuação. Para além do processo coletivo, buscarei
ao ambiente em que vivem. Sendo, desta maneira, um dos objetivos do
relatar também o passo a passo que usei para o desenvolvimento deste
CoCriança co-criar e construir esses ambientes - que costumam ser criados
TFG, que é composto por um longo detalhamento de análise em todo o
apenas por adultos - com as crianças, a fim de incentivar que mais relações
material de registro produzido durante as Oficinas de Construção.
se estabeleçam entre elas e o lugar em que vivem.
Composto por fotos, vídeos, transcrição de falas, registros
Isto é, a construção coletiva da paisagem contribui para a
pessoais e coletivos, avaliações e etc, utilizei este material para a escrita
formação de indivíduos politizados, pois, ao se enxergar como um sujeito
do segundo capítulo. Nele - que objetiva descrever o que foram todos os
de direitos e de ações efetivas sobre o território, a criança constrói a sua
encontros com as crianças - busco aproximar o leitor da realidade por nós
autonomia. Enquanto isso, o território em si influencia nessa construção
vivida, apresentando a linha do tempo do trabalho, os roteiros e relatos
sobre a criança, o que irei analisar também nos processos dos dois
de oficinas e uma breve descrição de cada um dos bairros: o Jardim Elisa
estudos de caso e pesquisa bibliográfica.
17
2 O PROCESSO
Este primeiro capítulo busca introduzir ao leitor qual a minha intenção, enquanto pesquisadora, ao analisar o que foram esses três longos anos de trabalho com o CoCriança. Dentro deste período, direcionarei a análise desta dissertação a um semestre específico, mas é de suma importância que o projeto como um todo seja introduzido, pois o segundo semestre de 2019 - período que irei me aprofundar - é resultado de tudo o que fizemos antes. O CoCriança, hoje, é composto por nove mulheres1 que se dedicam semanalmente ao projeto. Atuamos com base na metodologia participativa com crianças, com o objetivo de promover aprendizagem vivencial que valorize a sua voz na co-criação de espaços de brincar inovadores. Dessa maneira, para fim de aproximar o leitor a esse universo que se tornou cotidiano para mim, irei primeiro justificar a importância de que esse trabalho aconteça com crianças na metodologia participativa, afinal, as grandes protagonistas de tudo o que fizemos até agora são elas, que analisaram, discutiram e projetaram, até que planejassem e co-construíssem esses espaços que lhes foram concedidos a respeito do reconhecimento de seu direito como cidadãs. A infância nas cidades foi esquecida: em 1973, 75% das crianças brincavam na rua; em 2016 esse número caiu para o 15% (FREE RANGE KIDS, 2019). Imagine quantas brincam agora em 2020? A sociedade adultocêntrica escondeu as crianças. Elas devem ficar dentro de suas casas “em segurança”, e assim, as cidades seguem sem criar espaços 1
Ler equipe CoCriança na página 05 deste trabalho.
19
públicos estruturados de maneira que sejam receptivos a elas. Quem
de nossa metodologia e algumas de nossas bases teóricas, até o instante
ouve a voz dessas crianças? Quem busca atender aos seus desejos,
do foco deste trabalho: as Oficinas de Construção, que vou introduzir no
reconhecendo suas vontades como sujeitos no mundo de agora e,
terceiro momento deste capítulo.
também, o seu direito a ser criança nas cidades?
Vale lembrar que, apesar do CoCriança ser composto
É a partir desses questionamentos que surge o CoCriança. Por
coletivamente por mulheres, quem escreveu este trabalho fui eu e, logo,
meio de oficinas lúdicas e cooperativas, buscamos resgatar a voz e a vez
diz respeito aos meus processos. Dessa maneira, buscarei mencionar
das crianças para a co-criação de espaços públicos, reconhecendo seus
o trabalho coletivo quando necessário, ou até mesmo referenciar
direitos como cidadãs. Assim, no segundo momento deste capítulo irei
bibliograficamente as teses escritas pelas outras fundadoras2, para fim
apresentar um pouco do que é o CoCriança, expondo o funcionamento
de que as opiniões não se misturem. Não foi simples fazê-lo, pois estive imersa no processo do CoCriança como um todo também, mas espero ter conseguido. Portanto, no último momento deste capítulo irei detalhar o meu processo de pesquisa. Também passarei pelo método utilizado por nós, facilitadoras do CoCriança, até chegar ao meu posicionamento de análise perante as Oficinas de Construção, contribuindo para que fosse possível relatar os meus sentidos, que irei apresentar no último capítulo desta dissertação3.
Imagem 05: Crianças caminham pelas ruas do Jardim Elisa Maria na Oficina Desenhando os Sonhos, 2017 (Fonte: CoCriança).
20
2 Maria Teresa Albardia (2019) e Camila Sawaia (2019) também publicaram trabalhos acadêmicos referentes ao CoCriança. 3 Ler capítulo 4. Relato de Meus Sentidos.
O PROCESSO
2.1 OPÇÃO POR ATIVIDADES COM CRIANÇAS NA METODOLOGIA PARTICIPATIVA Metodologia Participativa
ela, nos aproximamos das problemáticas que vivem essas pessoas a fim de ter um entendimento verdadeiro de suas necessidades e não construir
Vivemos em uma sociedade extremamente desigual. O Brasil
em torno de especulações ou dogmas socialmente estabelecidos como
é o sétimo país com maior desigualdade do mundo , e a configuração
corretos e/ou errados.
das nossas cidades refletem essa problemática. Em São Paulo, a maior
parte dos investimentos financeiros, de infra-estrutura, transporte, lazer,
envolvidos que os aproxima a uma cidadania ativa. Segundo Leite
etc. são direcionados para o centro, aumentando o seu valor de uso
(2018), só aqueles que participam das questões da sociedade são
pela terra e empurrando as classes mais populares para as periferias.
considerados cidadãos ativos. Já a cidadania passiva considera cidadão
Da mesma forma, aqueles que fazem parte dos processos de decisão
aqueles que por questões legais estão incluídos na sociedade. Para
da cidade são os que detém maior poder aquisitivo e, portanto, vivem
este trabalho, estaremos o tempo todo objetivando uma cidadania
no centro. Ou seja, as cidades brasileiras são planejadas por poucos
ativa, principalmente por entender que desta maneira o sujeito cidadão
e construídas para poucos, gerando um ciclo em que os que estão no
consegue ter maior autonomia para lutar por seus direitos em via de
poder constroem segundo as suas prioridades, e os que estão na base da
uma sociedade mais justa e igual.
pirâmide econômica continuam excluídos das tomadas de decisão para a
construção do meio urbano.
série de princípios, a fim de alcançar um processo que seja mais:
Em contramão a esta lógica construtiva, que vem se perpetuando
“sensível à cultura envolvente; honesto e transparente em relação aos
ao longo dos séculos, o projeto participativo busca promover a
verdadeiros objetivos almejados; democráticos por basear-se no diálogo
participação ativa de todas as pessoas mobilizadas num processo de
e no compromisso; inclusivo por dar voz aos que são tradicionalmente
tomada de decisões nas áreas relevantes ao seu presente e futuro (LEITE,
marginalizados; sustentável pelo efeito multiplicativo capaz de gerar
2018, p. 18). Dessa maneira, ao construir-se com a população e não para
novas dinâmicas comunitárias” (LEITE, 2018, p. 19); e de efeito duradouro
1
A construção participativa é um passo dos agentes nela
Sendo assim, a metodologia participativa atua segundo uma
por envolver e sensibilizar a comunidade do local. 1
Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) - 2019.
Assim, o CoCriança surge como ferramenta participativa, que
21
busca reconhecer e instrumentalizar a voz dos cidadãos tradicionalmente
excluídos, a fim de contribuir para a formação de uma sociedade mais
como ativo e representativo de sua classe frente às tomadas de decisão,
inclusiva, justa e igual. Para que isso seja feito de maneira não impositiva
o projeto participativo busca instrumentalizar e contribuir para que
e de fato equilibrada, segundo Boff, em seu livro Como Trabalhar Com o
as pessoas internas ao processo possam “caminhar com as próprias
Povo, existem dois pontos muito importantes que devem ser levados em
pernas”. Isto é, o agente externo, como figura educativa, está fadado a ir
consideração quando se usa a metodologia participativa com camadas
desaparecendo, até se tornar de todos dispensável (BOFF, 1984).
populares, que no nosso caso, se aplica à co-construção de um espaço público:
Com o objetivo de incentivar o reconhecimento do cidadão
Sendo assim, o CoCriança se apresenta como uma metodologia participativa, uma vez que dois de seus objetivos são promover a participação das crianças nos processos de decisão e transformação
“Em primeiro lugar, o agente externo deve reconhecer sua
urbana, e reconhecer e instrumentalizar a voz das crianças para
situação de classe e o caráter de classe de seu pensar e agir (...). O que
autonomia. O que podemos introduzir como um projeto urbano-
importa sobretudo não é onde está, mas de que lado luta. O que conta
educacional que contribui para a formação de uma cidadania ativa dessas
não é a origem da classe, e nem a situação da classe, mas a posição,
crianças, que estarão se apropriando desde a infância de ferramentas
opção e prática da classe (...) de se situar ao seu lado na luta por uma
para a co-criação de suas cidades.
sociedade nova” (BOFF, 1984, p. 5).
Ser Criança Na Cidade
Esta lógica de inserção do agente externo em um lugar que não
Para tratarmos da relevância que tem o trabalho com crianças
é o seu é de extrema importância para o cuidado que se deve ter ao co-
na metodologia participativa do CoCriança, é válido lembrar o que
criar um projeto participativo. Ao reconhecer que a origem e situação do
diz Albardía (2019) sobre a designação às crianças como indivíduos
outro não é a mesma que a minha, há um reconhecimento da identidade
sem fala2, isto é, as infâncias consideradas sujeitos sem voz. E assim,
daquela pessoa, valorizando-a também como sujeito e, logo, cidadão de direitos.
22
2 “Infância” tem como origem infantia, do latim, onde o verbo fari , que significa falar; fan que significa falante; e in que constitui a negação do verbo em questão; dão
O PROCESSO
desconsideradas como agentes propositivas e apenas levadas em consideração quando direcionadas ao “futuro adulto”. A infância, como
Imagine, então, a importância de inserir as crianças das camadas
categoria social, só é válida de investimentos pois um dia se tornará um
populares no processo de transformação urbana. De repente, elas, que
adulto melhor; “o olhar para a criança pelo que representa e não pelo
socialmente representam o sujeito sem voz e que por isso devem ficar
que ela é, como indivíduo que, desde que nasce, tem a capacidade de
sentadas na escola, caladas, apenas recebendo e decorando informações,
Ser.” (ALBARDÍA, 2019, p. 31. Grifo nosso).
são perguntadas “qual o seu sonho para este lugar?”, “vamos transformar
A metodologia participativa, ao incentivar os agentes de
este lugar juntos?”.
transformação a poderem opinar sobre si, inclui aqueles que, normalmente,
Ainda sob esta lógica, o mundo adulto não permite às crianças,
estariam deixados à margem dos processos de decisão e inserção
como grupo social, de exercerem o seu papel como cidadãs. Isto porque,
urbana. Ao focarmos na criança como agente de transformação urbana,
além de serem consideradas sem voz, existe um medo que paira sobre
reconhecemos a sua voz e a sua importância como sujeito no mundo. As
as famílias das grandes cidades que considera a rua um lugar perigoso.
enxergamos no agora, e não no futuro, levando em consideração que elas
Portanto, lugar de criança não é na rua, é dentro de casa, protegida e em
são agora usuárias e propositivas em nossas cidades. Segundo Leite, a
segurança.
metodologia participativa atua em benefício de fornecer:
É por este e outros motivos, justamente, que podemos afirmar que uma cidade pensada para as crianças é uma cidade pensada
“Credibilidade dos cidadãos na sua importância perante
para todos, e isso se aplica não somente à segurança, mas também à
o Governo e nas suas capacidades técnicas e sociais capacitando-os
infraestrutura, lazer, transporte, cultura, etc. Portanto, uma cidade
para lidar com outros problemas que existam ou que possam surgir na
pensada pelas crianças é uma cidade ainda mais inclusiva, justa e
comunidade por iniciativa individual ou coletiva” (LEITE, 2018, p. 20).
igual. Quando propomos atuar com elas como cidadãs ativas, estamos
sentido ao conceito como um todo. Infans refere-se ao indivíduo que ainda não é capaz de falar; infans designa, então, àquele indivíduo sem fala - mesmo ele conseguindo biológica e racionalmente articular o seu discurso e as suas palavras desde criança.” (ALBARDÍA, 2019, p. 29).
imediatamente incluindo a todas as outras camadas da sociedade o direito à cidade, como argumenta Wendell:
23
2.2 O COCRIANÇA “[A Praça] É bom porque um monte de crianças pode brincar.
História
Mas nós não estamos expulsando os usuários de droga de onde eles
Visando co-construir uma cidade que seja habitada por todos,
moram. Eles podem ficar aqui, como eles quiserem, mas, também tem
o CoCriança consiste numa atuação coletiva que tem como premissa
que ter o direito da criança.” (Informação verbal, Wendell, Oficina 04
promover a aprendizagem vivencial de um projeto participativo e
de Construção - Elisa Maria, 2019).
paisagístico, onde se reconheça e valorize a voz da criança. Nascemos em 20171, de uma disciplina de Planejamento Urbano
As crianças já carregam em si a empatia. Wendell, nesta fala, não
e Paisagismo2 - na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo
pensa em expulsar os usuários de drogas da praça, todos têm direitos ao
(FAU-USP) - e éramos em seis idealizadoras, que tinham a intenção inicial
uso da cidade. No entanto, não se pode esquecer do direito da criança,
de atuar em parceria com o CCA Elisa Maria, localizado na Brasilândia,
onde elas brincam afinal?
zona norte de São Paulo. Isto porque, as professoras doutoras Catharina
É neste sentido que o CoCriança surge como uma ferramenta para
Pinheiro e Karina Leitão, orientadoras das duas disciplinas, apresentaram
que elas tenham suas vozes ouvidas e possam participar dos processos de
como ponto de partida para o projeto final de arquitetura, o contato com
decisão e transformação urbana como cidadãs ativas. Exercem, assim, o seu
algumas lideranças locais que nos apresentaram o distrito da Brasilândia.
direito civil, pois prevê a liberdade de expressão, de justiça, de lazer, entre
A disciplina propunha que seguíssemos os seguintes passos:
outros; o político, pois garante o direito a participar e ser representada; e o
primeiro um mapeamento, pesquisa e levantamento de alguns dados
social, abrangendo seu direito ao bem-estar, à segurança e à oportunidade
sobre a região. Depois, localizar problemáticas que fossem relevantes
de viver uma vida civilizada (LEITE, 2018, p. 31).
e tivessem potencial para o desenho de um projeto de intervenção
Neste trabalho, iremos analisar como as Oficinas de Construção
urbana. Este modelo de desenvolvimento de projeto, inclusive, é
que o CoCriança elaborou e realizou com as crianças, através do
aplicado em grande parte das propostas que os alunos da FAU aprendem:
processo participativo de construção da paisagem, contribuiu para que se tornassem mais conscientes de sua posição como cidadã ativas e, portanto, mais autônomas.
24
1 Para uma melhor situação do contexto, usar Linha do Tempo CoCriança no capítulo 3.2 deste trabalho. 2 As disciplinas Projeto da Paisagem (AUP0654) e Desenho Urbano e Projeto dos Espaços da Cidade (AUP0282), oferecidas no quarto ano da Faculdade, eram integradas.
O PROCESSO
pesquisa-levantamento, campo, desenho e projeto. O que é curioso para refletirmos sobre como ocorreu o desenvolvimento das oficinas do CoCriança, que veremos mais adiante. Apesar deste modelo ser o convencional na Faculdade, um procedimento excepcional, bastante relevante, oferecido pelas professoras, foi a opção por uma região onde já existisse esse contato inicial com moradores locais. Isto nos possibilitou a abertura de um canal de comunicação direto e aberto com o CCA Elisa Maria que foi de fundamental importância para o CoCriança como um todo. As crianças com as quais iniciamos o projeto tinham por volta de 9 a 12 anos na época, e buscando resgatar a sua voz como agentes propositivas de um projeto de co-construção urbana, nós do CoCriança iniciamos o nosso contato com elas por meio de uma oficina lúdica que tinha como objetivo principal conhecer as suas percepções sobre a própria realidade3. Segundo Albardía,
“A fim de resgatar a voz e a vez da criança, frequentemente ignorada, o CoCriança pretende constituir as condições para viabilizar um projeto colaborativo, que devolva o protagonismo das crianças 3 Oficina 01 de Projeto: Investigativa a partir de Jogos Cooperativos. Ler item 03 deste capítulo “Oficinas de Projeto”.
Imagem 06: Primeiro logo do CoCriança, criado em 2017 pelas fundadoras do grupo durante as disciplinas AUP0282 e AUP0654 (Fonte: CoCriança); Imagem 07: Atual logo do CoCriança, criado em 2020 pela designer Keila Akemi (Fonte: CoCriança).
25
como agentes, usuárias e possíveis transformadoras de todos os espaços que estão em volta delas” (ALBARDÍA, 2019, p. 113).
Esta última oficina, além de ter nos guiado para a escolha da praça de intervenção, nos aproximou muito dos desejos dessas crianças. Isto é, entendemos que nosso trabalho não poderia se encerrar em um
Por isso, o CoCriança fundamenta-se numa base teórica da pedagogia e da arquitetura paisagística, onde entendemos que as crianças são peças fundamentais para a estruturação de uma cidade mais justa, inclusiva e responsável. Entendemos também que elas, como qualquer outro cidadão de direitos, devem ser ouvidas, consideradas e inseridas nos processos de tomada de decisão. Percebemos que as oficinas seriam um canal de extrema
projeto pontual, nos aproximar dessas crianças, perguntar sobre os seus sonhos, conversar sobre possíveis criações de realidades, e irmos embora. Por isso, apesar do nosso trabalho para a disciplina ter sido entregue, decidimos seguir com o CoCriança. Nos inscrevemos para o Programa Unificado de Bolsas5 (PUB) da USP, e conseguimos que o CoCriança se tornasse um projeto de extensão universitária, viabilizando a sua continuidade e futura co-construção da praça.
relevância para que pudéssemos ouvir e entender o que as crianças do CCA Elisa Maria estavam querendo nos dizer. Por isso, em parceria
“Um dos saberes primeiros, indispensáveis a quem, chegando
com o educador da época, Bruno César, decidimos retornar com uma
a favelas ou a realidades marcadas pela traição a nosso direito de
segunda oficina , a qual teria como proposta conhecer presencialmente
ser, pretende que sua presença se vá tornando convivência, que seu
os espaços em potencial para uma possível intervenção. Além disso,
estar no contexto vá virando estar com ele, é o saber do futuro como
em cada um dos três espaços que visitamos, fizemos alguma atividade
problema e não como inexorabilidade. É o saber da história como
com as crianças, como, por exemplo, um primeiro desenho do que elas
possibilidade e não como determinação. O mundo não é. O mundo está
enxergavam, e outro com aquilo que gostariam que tivesse nesse lugar.
sendo. (...) meu papel no mundo não é só o de quem constata o que
4
ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências. 4 Oficina 02 de Projeto: Desenhando os Sonhos. Ler item 03 deste capítulo “Oficinas de Projeto”. Imagem 08: Projeto criado pelo grupo CoCriança, segundo os desejos das crianças, como apresentação final para a disciplina de Planejamento Urbano (AUP0282) e Paisagismo (AUP0654), 2017.
(...) No mundo da história, da cultura, da política, constato não para me adaptar, mas para mudar” (FREIRE, 2019, p. 74. Grifo nosso). 5 Hoje, em Julho de 2020, o CoCriança já foi contemplado com quatro anos de bolsas PUB.
27
com base freiriana, estamos nós, facilitadoras, aprendendo com elas.
Sobre esta passagem de Freire, posso dizer que, a partir do
momento em que nos tornamos um projeto de extensão universitária, abrindo a possibilidade para que pudéssemos atuar como sujeitos que intervém no mundo, ressoou dentro de mim uma potência de atuação perante a profissão do arquiteto. A extensão universitária nos possibilitou aprender além do que o ensino da FAU nos permite, pois estávamos de fato colocando à prova e à serviço da sociedade o que antes pertencia só à Universidade. Entretanto, executado à maneira de “um serviço que deve ser prestado sem arrogância e quase por implosão histórica. Antes de isso ser um título de glória ou mérito, é uma obrigação ética e uma missão social objetiva” (BOFF, 1984, p. 7). Ou seja, finalmente pudemos sair do tradicional modelo de aprendizado arquitetônico que se restringe apenas ao projeto, criado segundo as vontades do arquiteto, e irmos à campo. Sendo que, estar em campo é também um dos principais aprendizados que o CoCriança busca construir com suas crianças, para que elas possam experienciar a cidade como cidadão de direitos e como sujeitos ativos no mundo.
É curioso, então, o paralelo que vou traçar, ao longo desta
Entendemos que o CoCriança estava fazendo procedimentos de pesquisa-ação, pois o que estava sendo por nós pesquisado tinha a intenção de mudança. Segundo Severino (2007, p. 120) “ao mesmo tempo que [o pesquisador] realiza um diagnóstico e a análise de uma determinada situação, a pesquisa-ação propõe ao conjunto de sujeitos envolvidos mudanças que levem a um aprimoramento das práticas analisadas.” Afinal, estávamos aprendendo com as crianças e com a pesquisa, ao mesmo tempo que isso acontecia, íamos adaptando e criando os nossos encontros. O segundo aprendizado que o CoCriança viveu foi ao longo deste primeiro ano de bolsas fornecidas pelo PUB - 2º semestre de 2017 e 1º semestre de 2018. Precisávamos validar o projeto com as crianças e, portanto, criamos a nossa terceira oficina6, em que construímos todos juntos quatro maquetes diferentes que possibilitasse o melhor entendimento espacial das crianças. Todo esse processo foi de fundamental importância para alinharmos nossas expectativas a respeito do que seria de fato construído e conseguíssemos passar para a próxima etapa de pesquisa: o levantamento de recursos para a construção.
narrativa, entre os nossos aprendizados através do CoCriança, e os aprendizados das crianças. Pois, o tempo todo, como projeto educativo
28
6 Oficina 03 de Projeto: Co-criação do Espaço. Ler item 03 deste capítulo “Oficinas de Projeto”.
O PROCESSO
Nossa quarta oficina7 aconteceu no primeiro semestre de 2018. Nela, traçamos as mais variadas possibilidades de recursos que as crianças poderiam conhecer dentro do bairro, e que pudessem nos ajudar a viabilizar a praça. Nesse momento, começamos a exercitar com elas a importância de envolver a comunidade e recursos do local no processo de construção como um projeto coletivo e feito por e para todos. Assim, estávamos nós do CoCriança também pensando nas diferentes maneiras que poderíamos viabilizar a Praça, pois ainda não possuíamos materiais para a sua construção. Como nosso único financiamento até então era as bolsas de extensão, paralelamente às oficinas, começamos a nos inscrever em editais, participamos de alguns concursos, e buscamos contatar outros agentes que pudessem se interessar na construção do projeto das crianças. Estávamos traçando inúmeras possibilidades de algo que a FAU nunca nos ensinou: levantar recursos para uma obra de teor público, e precisávamos de argumentos concisos que sustentassem o investimento de algum financiador de nosso projeto. Percebendo a relevância deste movimento para a concretização de um projeto urbano, criamos a quinta e a sexta oficina8, que buscavam compartilhar de ferramentas 7 Oficina 04 de Projeto: Levantamento de Recursos. Ler item 03 deste capítulo “Oficinas de Projeto”. 8 Oficina 05 e 06 de Projeto: Argumentação Criativa e Conversando com as Autoridades. Ler item 03 deste capítulo “Oficinas de Projeto”.
Imagem 09: Crianças apresentam sua maquete representativa da praça da Rua Rosa Alboni, 2017 (Fonte: CoCriança); Imagem 10: Meninos criam os seus cartazes de divulgação para a festa na praça da Rua Rosa Alboni, 2018 (Fonte: CoCriança).
29
argumentativas com as crianças e exercitar o seu discurso a partir
buscava anunciar e celebrar a realização da praça, nomeada por votação
da afirmação de seus direitos, proporcionando experiências que as
durante a festa de Praça Livre Para As Crianças10.
colocassem em situações estimuladoras para a criatividade.
O financiamento do projeto veio através da parceria estabelecida
Este momento foi muito importante para a sustentação teórica
com o poder público: conseguimos direcionar a verba de uma emenda
do CoCriança e, para além do material coletivo que escrevíamos, Maria
parlamentar para a Subprefeitura da Brasilândia e fomos contempladas pelo
Teresa Albardía fundamentava as bases de nossa metodologia em seu
edital do Programa Aprender na Comunidade, da USP. Ao mesmo tempo,
trabalho de mestrado, como quando afirma:
nos foi oferecida a parceria com outra co-construção de uma praça na Vila Anglo Brasileira, no distrito de Perdizes, zona oeste de São Paulo. Na época,
“(...) o CoCriança se apresenta como uma ferramenta disponível para a comunidade, que consegue ajudá-la a pensar numa forma de atuação para a re-apropriação e ressignificação dos espaços da criança na sociedade” (ALBARDÍA, 2019, p. 114).
estávamos no início de 2019, e considerávamos a nossa primeira etapa da metodologia de projeto participativo infantil finalizada no Elisa Maria, tendo de esperar pelo início das obras para dar continuidade. Por isso, aceitamos. Iniciamos o contato com as crianças do CCA Sal da Terra, localizado próximo à nova praça de intervenção, em maio de 2019. Desta vez, as crianças eram um pouco mais velhas, tinham de 11 a 13 anos, e nós estávamos com
Ou seja, sendo um dos objetivos principais do CoCriança
nossa metodologia toda escrita e sistematizada passo a passo no mestrado
promover o senso de pertencimento, fortalecendo os vínculos da
já publicado de Albardía (2019). Por tanto, foi interessante perceber as
comunidade com os espaços públicos, no segundo semestre de 2018,
diferenças de se trabalhar com uma idade mais avançada, mas também em
conseguimos a confirmação da verba para a construção da praça. E,
relação a realização do projeto em um período mais curto de tempo, com
como este momento de celebração era importante de ser compartilhado
verba já pré-determinada e numa região mais central da cidade, ou seja,
em comunhão com as famílias das crianças, educadores do CCA e moradores do bairro, fizemos a nossa sétima oficina9 de projeto, que 9
30
Oficina 07 de Projeto: Convocando a Comunidade. Ler item 03 deste capítulo
“Oficinas de Projeto”. 10 Esta votação foi documentada para que o nome da Praça pudesse tramitar como projeto de lei, oficialmente denominada Praça Livre Para As Crianças em 20 de Junho de 2020 (ver anexo xxx).
O PROCESSO
com menos escassez de recursos urbanos e infraestrutura.
para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo.
Ao longo dos dois meses que tivemos com as crianças da Vila
Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ao
Anglo, confirmamos nossa metodologia, não como ponto final pois ela
anunciar a novidade” (FREIRE, 2019, p. 31).
sempre estará se adequando às características do lugar, mas de forma assertiva como processo educacional-urbano. Para tanto, tivemos também mais um trabalho acadêmico publicado a respeito desta primeira etapa de projeto, da Camila Sawaia (2019), que escreve sob a ótica da pedagogia, afirmando este olhar com o objetivo de:
Portanto, por mais que minha vontade fosse a de mostrar um
trabalho pronto, com um ponto final - o que não foi possível devido ao momento atual em que estamos vivendo11 - aqui, apresentarei os processos. São eles frutos de minhas indagações, pesquisas, algumas constatações, intervenções e aprendizados. Assim, os processos que
“(...) perceber a cidade enquanto sala de aula ampliada, isto é,
apresento neste trabalho são sobre as Oficinas de Construção que o
investigar as relações de aprendizagem entre a sala de aula e a cidade
CoCriança elaborou em conjunto com ambas as crianças dos CCAs, sendo
a partir da compreensão das diferentes culturas e do estabelecimento
elas no Elisa Maria e na Vila Anglo.
de uma nova relação com o urbano” (SAWAIA, 2019, p. 63).
As Oficinas
É interessante, então, pensar que o CoCriança não é, ele está
sendo e, por isso, estamos constantemente pesquisando, constatando e mudando o nosso projeto. Assim como afirma Freire:
Buscado estabelecer um diálogo constante e aberto com as
crianças, nossa metodologia acontece por meio de oficinas construídas coletivamente pelo o grupo, e que se estruturam através de atividades lúdicas que envolvem a cooperação. Segundo escreve Sawaia (2019, p. 66), têm “a finalidade de fazer as crianças sentirem-se à vontade para
“Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso
11 Este trabalho foi escrito no primeiro semestre de 2020, momento em que o mundo passava por uma longa fase de isolamento social, causada pelo vírus Covid-19. Por tanto, as atividades de construção de ambas as praças tiveram de ser interrompidas.
31
se expressar e auxiliá-las a desenvolver e organizar uma opinião crítica a respeito do espaço em que vivem, nos permitindo entender sua visão sobre esses espaços e sua percepção enquanto cidadãs”. Dessa forma, elas acontecem no CCA do grupo de crianças, ou no local onde irá acontecer a intervenção, a depender de seu objetivo pré-estabelecido.
Para tanto, o formato das oficinas é estruturado da seguinte maneira:
1. Aquecimento, 2. Atividade principal e 3. Reflexão. Assim, conseguimos fazer com que os encontros sejam aproveitados ao máximo. Isso porque, para além de um único objetivo, através dos outros dois momentos - o inicial e o final - costumamos introduzir outros elementos que possam contribuir para o maior aprendizado do grupo de crianças como um todo. O aquecimento costuma ser uma atividade de movimento, em que possa acontecer uma maior integração entre as crianças ou a introdução sobre o assunto da atividade principal. Para tanto, há vezes que o aquecimento não se trata de uma elevação da temperatura corporal, mas uma prévia sobre o próximo assunto, a fim de contribuir para uma futura imersão das crianças na oficina. Sendo assim, esse momento costuma ter de 15 a 30 minutos de atividade e, às vezes, é seguido por uma breve conversa sobre o que acabou de ser feito ou sobre o que veremos a seguir. A atividade principal diz respeito ao grande objetivo da oficina. Imagem 11: Crianças na Oficina de Argumentação Criativa, Jardim Elisa Maria, 2018 (Fonte: CoCriança); Imagem 12: Crianças na atividade de mapeamento afetivo durante a Oficina Investigativa, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).
32
Por exemplo, para uma oficina de Desenvolvendo o Planejamento, esse é o momento em que cada grupo de crianças vai se sentar e escrever no
O PROCESSO
Esqueletos de Oficinas12, a fim de elencar quais as necessidades para a
o tempo todo co-criando com as crianças. Para nós, não existe outra forma
execução da oficina seguinte, criada por elas mesmas. Esta é a parte prática
de se fazer isso se não for através do diálogo e da escuta, que acontece de
da oficina, que as crianças irão colocar a mão na massa e fazer acontecer,
maneira enriquecedora quando criamos um ambiente que estimule a fala das
contribuindo para uma maior aproximação da realização do projeto.
crianças. Essas falas dizem respeito não só à um olhar crítico sobre o processo
Tanto o primeiro quanto o segundo momento da oficina
como um todo - que é essencial para uma auto-avaliação do CoCriança em si
costumam ter abordagem lúdica, no qual o CoCriança desenvolve
-, mas sobre elas mesmas como indivíduos de vontades únicas, que sentem e
seus objetivos principais através de jogos, dinâmicas e co-criação. Há
verbalizam seus sentimentos de maneira diferente. “Se a ‘experiência ensina’,
vezes em que o último momento também se insere numa dinâmica de
importa ouvir e aprender as lições da experiência. E isso não é possível sem
movimentos, por exemplo, quando fazemos uma roda de ciranda ou uma
reflexão cuidadosa da própria experiência” (BOFF, 1984, p. 4).
brincadeira cultural. Entretanto, a última atividade da oficina, a reflexão,
Então, essas oficinas se baseiam em cinco valores que o
costuma acontecer em formato de conversa ou escrita, na qual o grupo
CoCriança elencou como fundamentais para a construção de uma ética
faz uma breve avaliação crítica sobre a prática do dia. Este momento é de
que possibilite às crianças o papel de usuárias, agentes e transformadoras
extrema importância para metodologia CoCriança, pois, segundo Freire:
urbana, logo, de sujeitos ativos no mundo. São eles: Diálogo, Cooperação, Educação Socioambiental, Autonomia e Liberdade. A partir desses
“O ideal é que, cedo ou tarde, se invente uma forma pela qual os educandos possam participar da avaliação. É que o trabalho do professor é o trabalho do professor com os alunos e não do professor consigo mesmo” (FREIRE, 2019, p. 63).
valores, criamos nossa primeira etapa de oficinas, que aconteceram até o início das obras de construção de ambas as praças.
Apesar deste trabalho tratar dos processos do CoCriança; sobre as
Oficinas de Projeto, vou apresentá-las já em seu formato final, sem discutir as alterações que foram feitas ao longo do tempo ou as avaliações em conjunto do grupo de facilitadoras. Lembrando que, apesar disso, para
12
O CoCriança, como projeto pedagógico-paisagístico, se propõe a estar
as Oficinas de Construção, irei discutí-las no capítulo 3.3 deste trabalho,
Sobre os Esqueletos de Oficinas ler capítulo 3.3 sobre as oficinas.
apontando toda a avaliação feita em grupo até a sua configuração final.
33
OFICINA 02 Desenhando os Sonhos
OFICINA 01 Investigativa Com o objetivo de conhecer a realidade das crianças, esta primeira oficina propõe atividades lúdicas que buscam ouvir o que elas têm a dizer sobre o seu bairro, sobre a cidade e os trajetos que costumam fazer, já pensando nos desafios e nas potencialidades de cada lugar. Assim, podemos nos aproximar de suas visões críticas sobre o espaço urbano e qual a relação que possuem com a paisagem local.
34
Esta é a primeira oficina que acontece no espaço público, pois busca estimular nas crianças a capacidade de observar, imaginar, criar e projetar a paisagem em que vivem. Nela, iremos observar quais os seus desejos e sonhos para o futuro espaço co-criado, considerando suas experiências como usuárias da cidade, estaremos atentas às suas falas e tomaremos notas para o futuro projeto.
Com o objetivo de incentivar o projeto participativo, cada grupo de crianças vai discutir sobre seus desejos para o espaço. Em seguida, vão avaliar sua relevância e co-construir um pequeno modelo, exercitando a projeção espacial e dinâmica em grupo.
OFICINA 03 Co-Criação do Espaço
OFICINA 04 Levantamento de Recursos
Esta oficina tem como objetivo mapear os recursos existentes dentro da comunidade local das crianças para a viabilização do projeto por elas desenhado. A fim de auxiliar o seu pensamento para além dos recursos econômicos, estendendo aos aspectos sociais, culturais, públicos, ambientais e humanos. Desta maneira elas começam a se aproximar da realidade que será a construção de seus sonhos.
OFICINAS DE PROJETO Oficinas de Projeto
OFICINA 06 Conversando com Autoridades
OFICINA 05 Argumentação Criativa Buscando instrumentalizar a voz das crianças para uma possível argumentação em defesa da realização de seu projeto, esta oficina compartilha alguns conceitos de direitos cidadão, seja ele da criança, político e de objetivos para um desenvolvimento sustentável (ODS). Fazemos isto por meio de atividades lúdicas que exercitam a sua argumentação frente possíveis agentes contrários à construção, pensando nas vantagens e desvantagens de reformar o seu espaço.
Apresentamos às crianças os processos de decisão urbana, buscando situá-las sobre a relevância da construção de seu espaço. Assim, iremos dialogar com autoridades locais a fim de ajustar todos os pontos necessários para o início da construção.
Com a confirmação da construção do espaço, esta oficina busca criar materiais de divulgação do início da intervenção, convidando os moradores locais a participarem do primeiro evento de celebração da realização do sonho.
OFICINA 07 Convocando a Comunidade
Celebração com os Moradores!
A fim de encerrar este ciclo de ideação e trajetos para a construção do projeto, realizase uma celebração no espaço de intervenção urbana, que una as crianças com as demais pessoas da comunidade. Nela, as crianças poderão apresentar todo o seu processo e aproximar-se dos moradores locais buscando também envolvê-los. Todas as imagens desta página são de autoria CoCriança.
35
As Obras A materialização do sonho em realidade é o meio pelo qual o
concedido através da emenda parlamentar não foi o suficiente para a
CoCriança consegue mostrar às crianças que ser sujeito no mundo, não
construção de todo o projeto desenhado pelas crianças, nós, equipe
se trata de apenas receber o ambiente em que vivemos, mas sermos
CoCriança, optamos por comprar os demais materiais via Programa
aptos a experienciar a paisagem em sua totalidade, pois: a observamos,
Aprender na Comunidade - que havíamos ganhado pela USP - e co-
refletimos, analisamos criticamente e, acima de tudo, a transformamos
construir durante as Oficinas de Construção.
de acordo com aquilo que nos faz sentido. É por este motivo que a obra
A Subprefeitura, então, ficou responsável pela obra de demolição
é uma fase muito importante na metodologia CoCriança, pois é por meio
e infraestrutura, e nós pelos acabamentos, áreas verdes, brinquedos
dela que a criança, tradicionalmente tida como “sem voz”, percebe que
e resíduos. Essa opção, apesar de ter sido tomada primeiramente
foi ouvida e que tem potência para tal.
devido às limitações financeiras, teve fundamento segundo os
Além disso, a obra é o primeiro passo da materialização de todo o
princípios pedagógicos do CoCriança, pois incentivou que as crianças se
trabalho que tivemos, onde as crianças podem validar o aprendizado das
responsabilizassem pelo planejamento e a construção dessa etapa final
Oficinas de Projeto, para se sentirem agentes propositivas da transformação
(como nas imagens 14 e 19 a seguir).
urbana. Por isso, é a partir daí, que iniciamos as Oficinas de Construção, onde
Isto é, todo esse processo aconteceu no segundo semestre de
quem cria as atividades é o próprio grupo de crianças que, já tendo passado
2019, período da história do CoCriança que este trabalho pretende analisar.
pela primeira etapa do projeto, passa a planejar cada novo elemento a ser
Durante ele, passamos pelo início e término das obras, além das Oficinas de
inserido na praça com muito mais liberdade e autonomia.
Construção, que contribuíram para promover a participação dessas crianças
A obra de infraestrutura do lugar da intervenção deve acontecer em parceria com alguma empresa ou entidade que tenha os
nos processos de transformação urbana, através de atividades lúdicas que incentivam suas conquistas de autonomia e ocupação da paisagem.
conhecimentos técnicos para tal. No caso do Elisa Maria e da Vila Anglo,
A fim de ilustrar o que foi a materialização deste processo, que
ambas as obras ocorreram em parceria com as Subprefeituras do bairro
antes pertencia apenas ao papel, apresento a seguir o projeto co-criado
após passar por um período de licitação, que seleciona a empreiteira
para ambas as praças: Praça Livre Para As Crianças, na Brasilândia e Praça
que apresentar a proposta com menor orçamento. Como o dinheiro
do Samba, em Perdizes.
Imagem 13: Meninas do CCA conversam com um dos pedreiros da obra de reforma da Praça Livre Para As Crianças, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança).
37
PROJETO: PRAÇA LIVRE PARA AS CRIANÇAS
9.
Este projeto foi construído em parceria com a Subprefeitura da Brasilândia e pelas próprias crianças, pois fizemos a compra de materiais através do Programa Aprender na Comunidade da USP.
7.
3.
4. 5.
MATERIAIS ADQUIRIDOS PELO PROGRAMA APRENDER NA COMUNIDADE 6. Terra de Canteiros 7. Materiais de Pintura 8. Parede de Escalada 9. Bancos e Mobiliário
1.
6.
N
2.
OBRA SUBPREFEITURA 1. Piso Intertravado 2. Escadas 3. Arquibancada 4. Escorregador 5. Canteiros de Jardim
8.
0
1
5m
Imagem 14: Planta de projeto executivo da Praça Livre Para As Crianças, 2019. (Autoria CoCriança).
Imagem 15: Praça Livre Para As Crianças no dia anterior ao início da reforma, Jardim Elisa Maria, 2019; Imagem 16: Praça Livre Para As Crianças durante a sua construção em parceria com a Subprefeitura da Brasilândia, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança).
Imagem 17: Praça Livre Para As Crianças já no final de sua reforma, Jardim Elisa Maria, 2019; Imagem 18: Instalação das agarras de escalada e plantio das mudas durante a Oficina 08 de Construção, Jardim Elisa Maria, 2019. (Fonte: CoCriança).
39
PROJETO: PRAÇA DO SAMBA Este projeto foi construído majoritariamente pela Subprefeitura da Lapa. As crianças, tiveram participação na pintura dos bancos da praça.
OBRA SUBPREFEITURA 1. Quadra Poliesportiva 2. Arquibancada 3. Corrimão da Escadaria 4. Novos Brinquedos de Parquinho 5. Novos Equipamentos de Ginástica 6. Mesas e Bancos 7. Banco Curvo 8. Pista de Corrida
6.
5.
MATERIAIS ADQUIRIDOS PELO PROGRAMA APRENDER NA COMUNIDADE 9. Materiais de Pintura
4.
3.
7. 2. 5.
N
8.
0
6
18m
Imagem 19: Planta de projeto executivo da Praça do Samba, 2019 (Autoria CoCriança).
1.
6. 9.
Imagem 20: Início da construção da quadra poliesportiva e arquibancada na Praça do Samba, Vila Anglo Brasileira, 2019; Imagem 21: Bancos, quadra e arquibancada quase prontos após a reforma da Praça do Samba, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).
Imagem 22: Início da reforma dos brinquedos na Praça do Samba, Vila Anglo Brasileira, 2019; Imagem 23: Mobiliário de brinquedos já prontos após a reforma em parceria com a Subprefeitura da Lapa, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).
41
Brincar e criar (n)o espaço
em meio urbano, saindo de dentro de suas casas e escolas, a fim de
“Seria a brincadeira um mero passatempo da infância, ou
devolver o seu lugar nas cidades. Dessa forma, ao poder usar do mundo
uma possibilidade para cada ser humano, em qualquer fase da vida,
real como espaço em potencial para sua criação, as crianças se afirmam
de intervir no mundo que habita?” (NASCIMENTO, 2009, p. 33. Grifo
como sujeito ativo e criativo nas cidades, se apropriando de seu direito
nosso).
como cidadãs. Para além disso, buscamos construir oportunidades onde elas
Ao brincar a criança interage com o mundo real. Sendo ela o sujeito da ação e o brinquedo a materialização, a brincadeira em si é a interlocução entre a criança e a materialidade. Segundo escreve Nascimento em sua tese, existiriam três realidades próprias do ser humano: a realidade psíquica, interna, o “eu” de cada sujeito; a realidade externa, objetiva, à qual corresponde o “mundo real”; e a realidade compartilhada, intermediária entre as duas primeiras, que aconteceria
possam se expressar livremente, com tempo e autonomia para criar a sua própria materialização do espaço. Dessa maneira, entendemos que é através da brincadeira e da criatividade que, expressando as suas individualidades, as crianças interagem com o seu exterior. Elas aprendem e ensinam enquanto brincam e, assim, vão criando as ferramentas necessárias para transformar o meio em que vivem de acordo com a sua realidade.
no espaço potencial, onde pertenceria o brincar e a criatividade (WINNICOTT, 1975, p. 152 apud NASCIMENTO, 2009, p. 34). Ou seja,
“Dar-se o direito a criar é extrapolar as rígidas fronteira dos
ao oferecer a oportunidade para que as crianças criem e brinquem (n)o
papéis sociais destinados a nós numa sociedade sempre mais regulada,
espaço, estamos contribuindo para que elas também consolidem o seu
é oportunidade de crescimento humano” (WEHMANN, 2019, p. 43.
espaço potencial, como forma de afirmação de suas existências como
Grifo nosso).
sujeitos no mundo. Buscando fortalecer o uso da cidade e sua ocupação pela criança, a metodologia CoCriança propõe atividades lúdicas que ocorram
42
Segundo Wehmann, no mundo adulto, ter o tempo para o
ócio, para parar, imaginar e criar, é uma oportunidade de resistência à
O PROCESSO
imposição da rotina alienante do dia a dia. Quando nos preocupamos
Algumas de nossas referências
com o processo de apropriação do espaço, entendemos a importância
do tempo de transformação desse lugar, assim como na produção de
CoCriança, gostaria de pontuar algumas das referências que utilizamos
uma obra de arte, ambos necessitam de espaço potencial para imaginar
para criar as Oficinas de Construção. Elas contribuíram não só para
e criar, sem a compressão do tempo de processo em prol do produto que
sua criação, como também para as reflexões que fizemos sobre nossos
seja vendável.
encontros com as crianças e, assim, para que pudéssemos nos aproximar
As crianças, durante suas brincadeiras, estão sempre criando.
Por fim, sobre a nossa formação ao longo desses anos de
de um resultado mais efetivo e condizente com os nossos objetivos.
O mundo da brincadeira, é um mundo da criação, é a exteriorização da
subjetividade do eu da criança com o ser/estar no espaço, no mundo.
itens anteriores a este capítulo, a primeira delas, que norteou nosso
Para além das referências que já foram apresentadas nos
Esse processo lhe possibilita desenvolver sua identidade, sua autoestima e estabilidade emocional (DIAS, 2017). Dessa forma, ao projetar com a criança “refere-se à ‘construção’ do espaço como ‘construção’ de si mesmo, tanto na criança, quanto no arquiteto” (NASCIMENTO, 2009, p. 35). Um espaço se transforma quando é apropriado através da brincadeira, gerando o elo de afetividade, pertencimento, e a sensação de segurança. Quando co-construímos um espaço das crianças em meio urbano, há uma identificação de todos, pois todos nós já fomos crianças. A metodologia CoCriança, assim, busca trabalhar com atividades lúdicas que possam conectar as crianças com a paisagem em que vivem. Dessa maneira, nossas atividades propõem o brincar como ação criadora e transformadora de realidades, em que a criança tenha o tempo e o espaço para tal.
Imagem 24: Meninos desenham a praça na Oficina Desenhando os Sonhos, 2019, Praça do Samba (Fonte: CoCriança).
43
trabalho desde as primeiras Oficinas de Projeto, é a comunicação.
cada pesquisa.
Albardía (2019), em sua tese de mestrado que discute o CoCriança,
apresenta pela primeira vez a Metodologia Comunicativa Crítica (MCC),
metodologias que têm como princípios o diálogo e a igualdade. Sendo
que passa a ser uma de nossas bases em todas as oficinas. Isto porque
que a MCC, segundo Albardía, busca superar as desigualdades sociais a
ela “se apresenta como uma metodologia de pesquisa social baseada
partir da reflexão, colocando ênfase nas interações sociais que acontecem
na intersubjetividade e na reflexão, dois pilares fundamentais para a
na vida social como chave para a transformação da realidade (GÓMEZ,
geração do conhecimento a partir de trocas humanas e das experiências
2006 apud ALBARDÍA, 2019, p.74).
e vivências de cada contexto” (GÓMEZ, 2006 apud ALBARDÍA, 2019, p. 72).
Podemos enxergar, então, um paralelo entre as duas
Assim, através da comunicação feita com a devida intenção de escuta empática, conseguimos projetar e construir junto com as
Tratando-se o CoCriança de uma pesquisa feita com pessoas e
crianças, de maneira que participem dos processos de tomadas de
que, portanto, acontece de maneira qualitativa, sob meu entendimento,
decisão. Para que pudéssemos fazer isto de maneira efetiva, o CoCriança
não há como ela acontecer sem diálogo. Afinal, nossa sociedade pode
buscou mais referências em metodologias de oficinas e facilitação que
ser definida a partir de vários pontos de vista, e é a partir do diálogo
já fossem aplicadas com esse objetivo - o de promover o diálogo - e que
que podemos encontrar um denominador em comum que construa um
incentivassem uma maior participação e abertura das crianças.
conhecimento em conjunto (ALBARDÍA, 2019).
A segunda de nossas principais referências é o Caderno de
É importante lembrar que o diálogo também é um dos princípios
metodologias participativas “Vamos ouvir as crianças?” do Projeto
que baseiam as metodologias participativas, pois é através dele que se
Criança em Foco (2013). Viemos usando-o desde o concebimento das
entende corretamente o “porquê?” de se construir - o objetivo do projeto
Oficinas de Projeto, pois, assim como o CoCriança, o Caderno foi escrito
- e o “para quem?” - verdadeiros beneficiários e interlocutores (LEITE,
a partir de um referencial “que considera as crianças capazes de agir
2018, p. 28). Dessa maneira, assim como as metodologias participativas,
e transformar o seu entorno, no momento presente de suas vidas”
a MCC objetiva uma sociedade mais igual, justa e inclusiva, levando em
(PROJETO CRIANÇA PEQUENA EM FOCO, 2013, p. 4).
consideração também o ponto de vista dos sujeitos protagonistas de
44
Algumas de nossas atividades no decorrer dos processos de
O PROCESSO
criação das oficinas foram inspiradas neste Caderno, como o Mapa
de transformação do lugar em que vivem, iniciando este processo dentro
Afetivo, a Linha do Tempo, o Passeio Fotográfico, Os Caminhos das
delas mesmas, o Germinar tem grande influência em nossa formação.
Crianças, etc. Para além desta inspiração, o Caderno sugere que o grupo
Tendo o CoCriança o objetivo de promover o senso de coletividade
seja formado pelos participantes - as crianças - e os facilitadores, que
do grupo de crianças com a afirmação das individualidades, muitas das
contribuem para formar um espaço de fala, troca e ação entre as pessoas
atividades por nós vivenciadas durante o Programa em facilitação, foram
presentes.
depois reproduzidas nos CCAs. Isto porque o Germinar, que se fundamenta
A facilitação de grupos de pessoas, viemos a entender ao longo
em uma visão antroposófica na educação e formação de indivíduos,
do CoCriança, como ferramenta fundamental para que nossa proposta
tem como um de seus princípios promover processos e vivências de
de ouvir as crianças ocorresse de maneira que interferíssemos o mínimo
autoconhecimento que ampliam a consciência dos indivíduos sobre si
possível em suas tomadas de decisão. Isto porque, a figura do facilitador
e os outros. Ou seja, atividades onde discutimos prática de feedback,
se apresenta como um mediador, que escuta e acolhe, a fim de transmitir
temperamentos quente e frios e mais algumas ferramentas reflexivas,
a segurança para que o outro possa se expressar. Portanto, em 2019,
foram inspiradas pelo Programa.
optamos por nos inscrever em um curso de formação de facilitadores, o Germinar.
Podemos perceber que todas as referências utilizadas por nós até agora usam como base fundamental a comunicação. Sendo
Nossa terceira grande referência, o Programa Germinar
esta estabelecida por meio do diálogo aberto entre as duas partes
é um programa que está sob a responsabilidade da cooperativa
participantes, os nossos momentos de reflexão em grupo, que
ConViver em parceria com o EcoSocial, e apresenta ferramentas para
aconteciam sempre aos finais de cada atividade, eram estruturados em
o desenvolvimento social, considerando a pessoa como o centro desta
cima de conteúdos e perguntas que ajudassem a criar um ambiente
transformação1. Dessa forma, pensando no CoCriança também como um
seguro e confortável para que todos pudessem se expressar livremente.
projeto que busca auxiliar pessoas no percurso de se tornarem agentes 1 O Programa Germinar estimula a vontade de trabalhar e aprender em grupo pela expressão das individualidades e o respeito à visão e ao comportamento das outras
pessoas, o que potencializa a transformação de cada um e do todo - ecosocial.com.br/ programa-germinar (acesso em 23/07/2020).
45
2.3 AS OFICINAS DE CONSTRUÇÃO
Como apresentado no capítulo anterior, a metodologia CoCriança
S: A gente planejou como é que a gente ia sair na rua. A
constitui em duas etapas de oficinas realizadas até agora. Este trabalho
gente dividiu o que cada um ia fazer, porque tinha o tempo… [tinha
vai retratar e se aprofundar na etapa das Oficinas de Construção que
que] gravar e entrevistar. Aí a gente anotou, e foi pra rua (Informação
fizemos com as crianças. Enquanto as Oficinas de Projeto serviram para
verbal, Stefani, Oficina 05 de Construção - Vila Anglo, 2019).
embasar nossa metodologia, trabalhar criativamente e exercitar nossa comunicação, pode-se dizer que a etapa das de Construção foi a fase de colocar em prática o planejado, refletir sobre nossas ações e assumir as responsabilidades.
Para fim de se ter um maior entendimento sobre os objetivos
desta etapa de oficinas, vou dividí-las em dois grupos principais: momento de planejamento e momento de intervenção. Sendo um dos objetivos principais do CoCriança reconhecer e instrumentalizar a voz das crianças para a autonomia, durante toda esta etapa, buscamos planejar - entender os recursos humanos, financeiros e materiais, atribuir as responsabilidades e estruturar uma intervenção - para depois agir com muito mais propriedade e deixando que as próprias crianças protagonizem, contribuindo para que um dia consigam realizar a mesma atividade sem o CoCriança, de forma autônoma.
Facilitadora: Quem é que pode contar [o que fizemos]? Da... última semana - mais fácil. Como é que foi?
46
No diálogo acima, a facilitadora pergunta às crianças o que é que foi feito na semana anterior, e Stefani responde que eles planejaram a atividade para sair na rua. Para isso, ela descreve quais foram as responsabilidades assumidas por cada um do grupo: controlar o tempo, gravar, entrevistar, anotar. Este momento corresponde ao planejamento, em que as crianças escrevem exatamente o que deve ser feito para que no momento da ação consigam atuar como um grupo coeso, contribuindo também para o desenvolvimento de suas habilidades coletivas. A fim de auxiliá-las a desenvolver o planejamento, o CoCriança criou o Esqueleto de Oficinas1, um formulário de atividades inspirado nos nossos roteiros de oficinas2 - que fazíamos para a nossa própria atuação como grupo - e nos “Gabaritos de Atividades” da ONG Internacional CISV3. No CISV, a partir dos 12 anos, os jovens são incentivados a criar, 1 Anexo III. 2 Ler capítulo 2.4 O processo de pesquisa - Planejamento. 3 O CISV (Children’s International Summer Villages) é uma organização internacional que educa por um mundo mais justo e pacífico: cisv-sp.org.br/sobre-o-cisv/quem-somos.
O PROCESSO 9. Pense e descreva aqui as atividades que vão acontecer na oficina. 10. Coloque quanto tempo será necessário para cada atividade - levando em consideração o tempo total da oficina, os ensinamentos que você quer passar e os materiais que quer produzir. 11. Tem algum produto esperado ao fim dessa oficina? (cartazes, maquete, lista do que foi decidido na oficina) 12. Descreva um passo a passo do que precisa ser feito antes da oficina acontecer. 13. Quais materiais vão ser necessários para a oficina? 14. Onde você pode conseguir esses materiais?
planejar e executar as suas próprias atividades “que priorizam a vontade do jovem, estimulando sua autonomia e sua capacidade de interação e As perguntas, que teriam de ser respondidas pelas crianças,
foram divididas em quatro grandes grupos, sendo o formato final o
BÁSICO
seguinte
1. 2. 3. 4.
CONTEÚDO
5. 6. 7.
8.
Pense em um nome legal para a sua oficina! Qual é a sua frente de trabalho? Qual data pode acontecer a oficina? Quantas crianças vão ser facilitadoras desta oficina e quantas vão participar? Qual é o objetivo da sua oficina? Qual conteúdo você precisa dominar para dar essa oficina? Quais princípios você quer abordar na sua oficina? - Diálogo - Liberdade - Educação Sócio-ambiental - Cooperação - Autonomia O que você já sabe sobre o assumto? O que você precisa aprender? Onde você acha que pode adquirir esses conhecimentos?
RECURSOS
PROCESSOS
negociação” (BROGGI, 2019, p. 31).
Este material contribuiu para estimular a discussão nos pequenos grupos de crianças que fosse conduzir a atividade. Nós, facilitadoras, participamos desses momentos atentas para que todos do grupo participassem e opinassem, assumindo a responsabilidade por ao menos uma tarefa no dia da execução da atividade. Como no exemplo a seguir:
47
A: Não, tem que ver os materiais necessários: tinta é... pincel, a bandeja… Facilitadora: E como é que a gente vai conseguir os materiais necessários? Então, pedir pra alguém do grupo trazer… A: Ou pedir pras pessoas que a gente entrevistou, pra ver se elas podem ajudar.
o resultado, a então materialização de todo o esforço, e experienciam uma nova relação com a paisagem, pois agem de forma autônoma e criativa para a sua transformação. De acordo com Lima, quanto maior a possibilidade de formular alternativas (utópicas ou não) ao presente, maior o grau de decisão autônoma, de consciência, maiores as possibilidades de desalienação do homem (LIMA, 2017, p. 306). E durante esta prática, as
G: A gente podia fazer algum cartaz pra pergunta se alguém poderia...
crianças formulam e executam suas alternativas de maneira consciente e
A: Eu posso perguntar pro meu tio que mora ali do lado. Porque
criativa, se apropriando das ferramentas de intervenção da paisagem:
o meu tio é marceneiro, ele pinta também, então… (Informação verbal, Angelina e Gabriela Gama, Oficina 05 de Construção - Vila Anglo, 2019).
“Ô gente, quem tá com o rolo, quando for usar, vocês tiram o excesso pra poder durar a tinta, viu? Porque se não, não vai dar”
No diálogo, Angelina e Gabriela discutem sobre todas as
(Informação verbal, Agatha, Oficina 06 de Construção - Elisa Maria, 2019).
ferramentas que seriam necessárias para pintarem a praça, indo além do material já fornecido pelo CoCriança e buscando mais alternativas que pudessem envolver os outros moradores do bairro. Durante as Oficinas de Construção foi de fundamental importância a articulação com as demais pessoas da comunidade, pois essas também ajudaram durante os momentos de intervenção. Os momentos de intervenção são de extrema riqueza, pois as crianças conseguem de fato assumir total protagonismo e “colher os
Na fala acima, Agatha explica aos demais colegas como é que eles deveriam fazer para pintar de forma correta, a fim de economizar a tinta (Imagem 25). Nesse momento, ela e mais algumas crianças assumem o papel de facilitadoras da intervenção de pintura e tentam organizar o processo de forma clara, explicando qual a maneira correta de se pintar, já que uma boa parte do grupo nunca tinha passado por isso.
frutos” de todo o processo de seu trabalho. Nesse momento, elas vêm
48
Imagem 25: Agatha assume a posição de facilitadora e explica aos colegas como fazer para pintar. Oficina 06 de Construção, 2019, Praça Livre Para As Crianças (Fonte: CoCriança).
Os momentos de intervenção contribuíram muito também para
graciosamente, assumindo a posição que o CoCriança os incentivou a
que o “pequeno caos” às vezes acontecesse. Isto porque, nós, grupo
ter: de agentes propositivos na co-criação da paisagem. Em sua resposta,
de facilitadoras, buscávamos interferir o mínimo possível na condução
Angelina assume a responsabilidade do processo como um todo, desde
e interpretação que as crianças tinham sobre as atividades que elas
o planejamento até a execução, percebendo a autonomia de sua ação
mesmas planejavam. Ou seja, por mais que o nosso julgamento viesse
quando reconhece que “não foram as outras pessoas”.
sobre o que estava acontecendo, deixávamos que elas assumissem o
Ainda a respeito da fala acima, Bianca complementa a resposta
protagonismo, pois o “caos” também seria material muito rico para a
quando diz que o que foi feito por eles vai ficar permanente, apontando
discussão nas atividades de reflexão, contribuindo para o aprendizado.
para uma nova relação que ela construiu com a paisagem, pois esta agora tem a “sua marca”.
C: A gente vai fazer umas perguntas sobre o que vocês acharam do projeto... a atividade [pintar os bancos]. É... Pra vocês quais são os pontos positivos e negativos? A: O positivo é que a gente que escolheu como é que a gente ia pintar e como é que a gente ia fazer. Tipo, não foram as outras pessoas, foi a gente. B: Foi legal ver que vai ficar permanente… (Informação verbal, Cássio, Angelina e Bianca, Oficina 07 de Construção - Vila Anglo, 2019).
Todo esse processo reflexivo para as Oficinas de Construção é de fundamental importância. É tão relevante que, enquanto planejam, as crianças também devem conceber esse espaço de avaliação, criado para que possam interiorizar os seus aprendizados. A reflexão crítica sobre a prática como forma de ferramenta para uma maior autonomia dessas crianças, irá ser discutida mais adiante no capítulo 4.3 deste trabalho. Em suma, focarei nas Oficinas de Construção pois elas contribuem para que as crianças vivenciem situações onde se posicionam como sujeitos ativos no mundo, que diz respeito aos seus processos nas conquistas de autonomia e às transformações de sua
O diálogo acima acontece entre as crianças no momento em
relação com o entorno. Assim, contribuem para o aprendizado de
que Cássio conduz a atividade fazendo perguntas que estimulassem a
um trabalho colaborativo dessas crianças, que experienciam assumir
reflexão do grupo sobre o processo de pintura. O que Angelina responde
responsabilidades para a co-construção da paisagem local.
50
O PROCESSO
2.4 A PESQUISA Como descrito no capítulo 2.2 deste trabalho, o processo de pesquisa, no início do CoCriança, acontecia de forma empírica.
postura nos encontros com as crianças, objetivando aprender as suas visões de mundo.
Isto porque estávamos desenvolvendo algo novo para todas nós na
A observação feita com base fenomenológica - que adotei
graduação, aprendendo aos poucos e sem ainda saber nomear ou
para análise deste trabalho final de graduação sobre os processos do
conceituar o que era. Entretanto, seguíamos atuando segundo nossos
CoCriança - enxerga o que chamamos de fenômeno como “a verdade da
princípios e sendo muito bem acompanhadas por nossas professoras
forma que se apresenta”. Isto é, os fatos como as coisas são, e não como
que nos orientavam sobre posturas a serem adotadas em campo e sobre
eu acredito que elas acontecem. Segundo Wehmann:
algumas metodologias de pesquisa complementares. Paralelo a isso, íamos lendo sobre o assunto, buscando e registrando tudo que podíamos para possíveis avaliações. Neste item de capítulo, irei apresentar quais foram essas posturas adotadas por nós - facilitadoras CoCriança - e que foram usadas durante todo o processo do projeto com as crianças do Elisa Maria e da Vila Anglo. Discorrerei sobre elas ao longo de quatro momentos, que nomeei de acordo com o uso e a função do material coletado: planejamento, vivências, organização dos registros e processo de análise. Para além disso, no decorrer deste ano, entendi também que
“A pesquisa qualitativa fenomenológica permite, por tanto, ir do concreto da situação vivida às estruturas invariantes, os comuns entre as experiências. Entretanto, seus resultados não são universais, pois os fenômenos são sempre situados (ou seja, influenciados pelo contexto em que se manifestam) e resultado de um diálogo entre dois interlocutores, nas quais aquele que pergunta é ativo, um facilitador que auxilia a trazer o fenômeno a tona justamente com o colaborador que responde” (WEHMANN, 2019, p. 155).
minha pesquisa se trata de uma pesquisa qualitativa, pois busca o entendimento de pontos subjetivos, focando no ser humano como agente
Neste caso, seríamos nós de fato as facilitadoras e as crianças
e levando em consideração atitudes que aconteçam, comportamentos e
as colaboradoras, e o que eu apresento neste trabalho é o resultado
motivações. E, para que uma melhor análise pudesse ser feita sob algum
deste diálogo estabelecido entre nós. Por mais ausente que eu tente me
rigor metodológico, decidi adotar a observação fenomenológica como
colocar ao reportar o que as crianças manifestaram ao longo das oficinas,
51
sempre haverá alguma interferência minha, pois é humanamente
O planejamento acontecia sempre. Ele era feito através dos
impossível se abster de nossa subjetividade. Ou seja, irei relatar aqui
roteiros de oficinas, indispensáveis para que conseguíssemos atuar de
a troca entre os sentidos vividos e significados por mim, percebidos
maneira coletiva e uniforme como um grupo de facilitadoras. Nele,
enquanto estava com as crianças. Para tanto, ao longo deste trabalho
inserimos primeiro o número da oficina, seu nome e quais facilitadoras
relatarei como aconteceram esses encontros, citarei algumas de suas
estariam presentes. Depois, as atividades em ordem de acontecimento,
falas, apresentarei imagens e vou descrever algumas de suas ações.
pontuando qual a facilitadora responsável, o horário de início, tempo
O material de registro e avaliação dos nossos encontros,
de duração, o local, quais seus objetivos, materiais necessários/
como já disse, organizei e dividi-os nos seguintes momentos:
necessidades e a descrição da atividade em si. Sobre os roteiros das
planejamento, vivências, organização dos registros e processo de
oficinas, irei retomá-los mais detalhadamente no capítulo 3.31 deste
análise, sendo a ocorrência deles não necessariamente nessa ordem,
trabalho, onde reescrevo todos eles já fazendo as possíveis correções ou
mas majoritariamente, sim. Por tanto, buscando compartilhar o que
ajustes que foram considerados relevantes por nós ou no decorrer dos
me foi mostrado pelas crianças durante as oficinas, e tentando trazer
encontros, ou no momento posterior e eles.
de forma sistêmica e explicativa o que foi feito por mim posteriormente
A criação destas atividades era feita coletivamente entre todas as
para organizar tais conteúdos, vou descrever o passo a passo dos nossos
integrantes do CoCriança que fossem responsáveis por estarem presentes
métodos de registros. Assim, poderei concluir este trabalho através de
no momento de suas realizações. Também seria muito relevante que,
uma análise que perpassou todo o material levantado por nós ao longo
antes disso, alguém relatasse como havia acontecido a oficina anterior,
do projeto, nossas avaliações coletivas, e meus questionamentos e
para que houvesse uma breve avaliação e possível correção de rumo.
pesquisas individuais.
Por esse motivo, quando os encontros terminavam, sempre fazíamos entre as facilitadoras, uma breve reflexão que trouxesse um pouco do que havíamos sentido e percebido, e assim poderíamos avaliar
Planejamento 1
52
Capítulo 3.3 - Os encontro com as crianças.
O PROCESSO CoCriança o que valia a pena repetir no outro CCA, ou o que deveríamos tentar de
Oficina 5: Desenvolvendo o Planejamento Dea, Cami A, Yumy e Rayza
outra maneira. Este método nos permitiu construir uma cronologia diferente em cada CCA. Isto, somada às diferentes disponibilidades de horário de cada turma, resultou no desenvolvimento de oficinas de construção que conversassem entre si, mesmo que as crianças de cada bairro não estivessem propriamente dialogando. Afinal, “é pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática” (FREIRE, 2019, p. 40). Considerando o que diz Freire sobre a importância
1) Introdução: trajeto(s) CCA - Praça Yumy 14h
Local: CCA Elisa Maria Objetivo: mapear afetivamente o trajeto entre o CCA e a praça com pontos que julguem importantes. Descrição da atividade: em dois ou três grupos, desenhar os trajetos entre a praça e o cca, com tudo que eles forem lembrando que existe (casas de gente conhecida, lojinhas, bares…). Marcar a direção de suas respectivas casas e escolas. Colocar também possíveis memórias mais sensitivas ou comentários sobre os trajetos. Tentar qualificar os trajetos, e compará-los. Por que gostamos mais de um trajeto que de outro? Como nos sentimos em cada um? Em diferentes horários do dia? *Necessidades - mapa de dois pontos iniciais: CCA e Praça
da reflexão crítica sobre a prática, para nós, a avaliação da oficina de segunda-feira (no Elisa Maria) para a construção da oficina de quinta-feira (na Vila Anglo), se tornou de extrema importância. Segundo Wehmann,
“Essa postura reforça a importância da aceitação de equívocos e oportunidades não-exploradas na análise posterior a cada entrevista [oficina], os quais auxiliaram a refinar os roteiros das entrevistas [oficinas] subsequentes (...)” (WEHMANN, 2019, p. 157).
Por isso, apesar de cada atividade de nossas oficinas ter um
[40 MIN]
2) Explicando o roteiro Dea 14h40 Local: CCA Elisa Maria Objetivo: praticar o planejamento Descrição da atividade: - Explicação do nosso roteiro - como funcionam os tempos, deslocamento - Sorteio de quem fica com qual atividade do roteiro (comunicação, planejamento, pintura e fechamento) *Necessidades - fazer um flip roteirão [20 MIN]
3) Planejando - Bia e Dea 15:00h
Local: CCA Elisa Maria Objetivo: praticar o planejamento teremos que bolar a próxima oficina, já prevendo os possíveis conflitos Descrição da atividade: Divididas em 4 frentes de trabalho, as crianças terão que planejar
objetivo2 previamente traçado como algo que acreditávamos fazer 2
Ler Roteiros de Oficinas em Capítulo 3.3 - Os encontro com as crianças.
Imagem 26: Exemplo de Roteiro de Oficina criado durante as reuniões de planejamentos entre a equipe de facilitadoras CoCriança (Fonte: CoCriança).
53
sentido no momento em que se encontravam as crianças, para que o
[deixamos] de enxergar a criança como o futuro da nossa sociedade, para
fenômeno - a realização das oficinas - pudesse ser observado em sua
olhar para ela também como o presente da nossa realidade”. E assim,
totalidade, nós não estávamos somente atentas às respostas verbais
fomos desenvolvendo métodos de escuta-ativa, diálogo e observação
das crianças, mas também àquelas respostas introjetadas aos níveis de
para entender mais o que elas estavam querendo nos dizer e quais os
envolvimento ou às suas expressões corporais. O que nos leva ao segundo
verdadeiros significados de cada manifestação.
passo de meu processo de pesquisa: as vivências com as crianças.
Nossa postura durante os encontros, portanto, era inicialmente propositiva. Afinal, como já mencionei, o CoCriança tem uma abordagem
Vivências Este projeto - o desenvolvimento constante deste trabalho com as crianças - foi, então, sempre muito ambíguo para mim. Isto, porque, ao mesmo tempo que buscávamos desenvolver oficinas de caráter propositivo, estávamos o tempo todo tentando nos manter ausentes de qualquer forma de intervenção ou influência nas decisões tomadas pelas crianças. Não é fácil, e muitas vezes nos pegamos discutindo ou inserindo algo no projeto que depois teríamos que voltar atrás, pois era uma vontade nossa, e não delas. Para tanto, por mais que soubéssemos quais os caminhos que deveríamos seguir, quem criava os resultados e manifestava os desejos, eram as crianças. Albardía (2019) fala sobre a importância da escuta na metodologia CoCriança, pois ao “escutar o que a criança quer hoje, (...)
54
de pesquisa-ação, uma vez que estávamos trabalhando com roteiros de oficinas que possuíam objetivos. Segundo Freire (2019), “ensinar exige compreender que educação é uma forma de intervenção no mundo”. Mas, ao mesmo tempo, “ensinar exige saber escutar” e “exige disponibilidade para o diálogo”. Ou seja, quando as crianças vinham com propostas diferentes das nossas, estávamos abertas para mudar o que havia sido planejado. Por esses motivos, tentávamos chegar da forma mais aberta e livre nas crianças, de maneira que saíssem respostas que não viriam, caso a pesquisa fosse feita de outra forma. E isso acontecia de tal maneira que, às vezes, precisávamos mudar o sentido do roteiro que estava preparado, pois percebíamos algo muito valioso que aparecia e que deveria ser levado em consideração. Segundo Wehmann,
O PROCESSO
“A noção de uma pesquisa que evolui à medida que avança não é incompatível com o rigor metodológico ou resultados relevantes” (WEHMANN, 2019, p. 167).
de oficinas. Para a nossa atuação em campo, então, por mais que tivéssemos o objetivo da oficina pré-estabelecido durante o seu planejamento, interpretei nosso posicionamento como observação fenomenológica.
Esta noção foi de grande aprendizado durante a pesquisa em campo. Enquanto íamos criando algo, que para nós já fazia parte de nossa metodologia, em campo os resultados eram outros, o que nos direcionava a novas maneiras de atuar com as crianças. A princípio, fomos até um pouco rígidas para começar a alterar o que havíamos feito no Elisa Maria pelas demandas que as crianças da Vila Anglo nos pediam. Mas, ainda quando estávamos fazendo as Oficinas de Projeto com elas, percebemos que não poderíamos permanecer do mesmo jeito e que sermos flexíveis, explorando as outras realidades das crianças, nos traria grandes oportunidades de aprendizados. Essa mudança de trajeto é fruto de nossa segunda postura, que é a de observar. Tentávamos, sempre, na medida do possível, apenas coletar as informações que nos eram fornecidas pelas crianças e anotar quais as suas vontades ou suas respostas ao que havíamos planejado. Essa coleta de dados costumava acontecer durante as atividades - enquanto algumas facilitavam atividades, outras anotavam, outras faziam registros audiovisuais - ou logo que voltávamos para casa, escrevendo os relatórios
Isto porque, esta forma de olhar, fenomenológica, nos fazia estar presentes ao máximo, observando cada pequena coisa como algo inédito. As crianças fazem isso, estão sempre atentas às pequenezas da vida. O que é que elas estão tentando nos dizer a cada vontade que surge durante a projeção da praça? Como é que fazemos para não inserir as nossas vontades na realização do projeto? Nós sabemos como caminhar, mas o trajeto todo, quem cria são as crianças. Segundo o documentário “Miradas” (2019)3, que o programa Território do Brincar propõe, o primeiro passo para a observação fenomenológica do brincar é o passo “Terra”, onde devo observar e descrever objetivamente o fenômeno, prestar atenção no movimento do corpo. Recomenda-se suspender os pré-conceitos, a fim de se alcançar uma compreensão empática, inclusiva e global do que está sendo relatado pelo interlocutor. Claro que isto é humanamente impossível, já que somos o que somos inclusive por nossas formações, mas há de se fazer um esforço para ouvir o que lhe é dito sem imediatamente ir 3 MIRADAS. Direção de Renata Meirelles e Sandra Eckschmidt. São Paulo: Território do Brincar/ALANA, 2019. Online: bit.ly/-miradas (acesso em 27/05/2020) (31 min.)
55
traçando paralelos em nosso imaginário cognitivo.
os outros usuários haviam jogado lixo. E era isso que fazíamos enquanto
monitoramento de nossos encontros, em forma de relatórios.
Para tanto, tomei nota de frases cruas ditas pelas crianças, fiz
uso de nossos registros audiovisuais e guardei o que por elas foi escrito.
O terceiro passo é o “Ar”: compartilhar em grupo as evidências,
Nesta fase de não julgamento, a escuta-ativa é de extrema importância,
sendo elas algo que antes eu não estava vendo, mas logo comecei a
pois estimula que façamos uma escuta em que tudo o que está sendo
ver. Descobrimos isso através da observação. Sobre esse passo, Renata
dito pelas crianças é colocado no mesmo lugar de relevância.
Meirelles fala que o percebe enquanto vê as crianças brincarem:
O segundo, o passo “Água”, consiste em observar e registrar as narrativas, a sucessão de acontecimentos, seu decorrer no tempo - ex: as crianças sempre se frustavam todas as vezes que retomávamos à praça e
“(...) que o brincar delas [crianças] era um trabalho corporal. Mas, o brincar, ele era o próprio esforço (...). E esse esforço, que acabei chamando de “um brincar com empenho”. Ali, eu pude ver as crianças tendo um exercício do empenho, que isso era o tudo para elas. (...) Isso se bastava para elas, era o começo, o meio e o fim do brincar” (MIRADAS, 2019. Grifo nosso).
Ainda sobre o exemplo dado no passo “Água”, um dia, nós pegamos nossas vassouras e pás e começamos a recolher todo o lixo com ajuda dos vizinhos. A partir desse dia, as crianças entenderam que a limpeza da praça poderia ser uma ação coletiva, que poderiam sempre trazer vassouras velhas de casa e “manter a praça limpa” passava a ser um constante empenho, que fazia parte do uso coletivo. .
Imagem 27: Crianças brincam livremente nos tocos de madeira (frame do Documentário MIRADAS).
56
Para a praça, há o constante empenho em construir. Cada
O PROCESSO
oficina que fazemos é um novo desafio a vencer; cavar a terra, buscar
de maneira contínua e constante, sendo feita por meio de gravações
material, pintar a parede, escalar o muro, plantar cada muda, varrer
audiovisuais, fotos, materiais escritos pelas crianças e facilitadoras,
constantemente, limpar com água… Cada dia que passamos naquele
roteiros e relatórios de oficinas, e as atas de cada reunião das facilitadoras.
espaço, coletivamente, estamos criando - brincando, com empenho - um
Para minha pesquisa, busquei primeiro registrar minhas cruas
símbolo delas dentro do mundo adulto. É uma forma de interlocução
percepções nos diários de oficinas, que escrevi no capítulo 3.3 deste
com o resto do mundo, por isso tanta paixão por esse lugar.
trabalho: “Os encontros com as crianças”. Neles, transcrevo algumas
O último passo dessa observação fenomenológica, o “Fogo”,
falas e menciono momentos que estavam frescos em minha cabeça
acontece dentro do observador, que vai mudando as suas perspectivas.
logo após o acontecimento de cada encontro. Fiz isso para conseguir
É um lugar de encontro, o lugar da transformação, de novas maneiras
contextualizar as situações que foram vivenciadas por mim de forma a
de ver o mundo. O fenômeno e o observador tornaram-se um só. E é
criar uma narrativa que aproxime o leitor do universo das oficinas, que
o que sempre acabamos aprendendo com o CoCriança: construir o
era muito rico em sentimentos.
espaço urbano sob a perspectiva da criança, é construir brincando, é ter
Os diários de oficinas formam, assim, minha primeira organização
constante esperança porque é ter empenho e dedicação ao fazê-lo. Esse
de registros. Enquanto eu relatava minhas percepções, também tentava,
exercício de observação é sem fim, pois fica o tempo todo nos revelando
segundo a observação fenomenológica, escrever tudo o que acontecia
novas formas de olhar, de ver e entender como é importante que as
e chamava a minha atenção, a fim de, após um tempo, poder criar esta
crianças criem seu direito à cidade, à paisagem e ao brincar, de forma
narrativa transcrita para este trabalho. Dessa maneira, fui anexando
autônoma e viva de esperança.
todos os materiais produzidos pelas crianças e os registros escritos pelo nosso grupo de facilitadoras.
O segundo passo na organização dos registros, foi mergulhar em
Organização dos registros De modo geral, a coleta dos registros deste trabalho aconteceu
todos os vídeos gravados ao longo das Oficinas de Construção, um dos mais ricos materiais que o CoCriança possui. Desta forma, pude revisitar os encontros com as crianças sob outro olhar, não mais como agente
57
propositiva daquele momento, mas apenas como espectadora. Eles
que conseguisse evidenciar minha pesquisa de forma organizada e clara,
foram de fundamental importância para que eu pudesse trazer à mostra
decidi me basear no método utilizado por Wehmann (2019), em que a
as preciosas falas das crianças, que são as principais protagonistas deste
autora explica sua operação de análise de pesquisa, que reinterpretei
trabalho, e é, através de suas vozes, que eu escrevo as minhas conclusões.
segundo os seguintes passos:
Durante as oficinas, um aspecto que facilitou que avaliássemos
Passo 01: passei por tudo o que coletamos, estando atenta à
o que estava sendo feito, como importante medidor de processo, foram
totalidade do que me era apresentado assim como à cada detalhe -
as atividades de reflexão que aconteciam ao final de cada encontro.
posicionamento semelhante ao descrito no passo “Terra”, na observação
Tentávamos nelas, sempre criar um espaço em que as crianças se
dos encontros.
sentissem confortáveis e acolhidas para poderem expressar o que
Passo 02: transcrevi as falas e diálogos dos vídeos, principalmente
sentiam e pensavam a respeito do que experienciaram ao longo do dia.
das crianças, como no exemplo abaixo. Chamei-as de “unidade de
Dessa maneira, conseguíamos incluí-las também na contínua avaliação
significado”, e fui selecionando as que considerava de maior relevância,
do processo que todos nós estávamos passando, sem especulações
com um olhar bem atento ao que poderia ser usado como evidência
criadas pelo grupo de facilitadoras, apenas perguntas que fossem
do que vou apresentar nas conclusões deste trabalho4, ou no que
respondidas pelas crianças. Todo este conteúdo era registrado por vídeo,
costumamos objetivar como grupo CoCriança5:
escrito a punho por elas mesmas ou por nós.
Nome
Vale lembrar que, por mais que estivéssemos sempre
registrando, nosso método era empírico. Portanto, este TFG contribuiu
Angelina e Bianca
para sistematizar o material que, no dia a dia, acabava não tendo uma organização de análise detalhada. Por serem também registros subjetivos, gravamos principalmente aquilo que nos toca, aquilo que enxergamos como processo de transformação em cada criança ou no grupo como um todo. Dessa forma, a fim de encontrar algum rigor metodológico
58
4 5
Unidade de Significado (Ang) - O positivo é que a gente que escolheu como é que a gente ia pintar e como é que a gente ia fazer. Tipo, não foi as outra pessoas, foi a gente. (Bianca) - Foi legar vê que vai ficar permanente...
Ler capítulo 4. Relato de meus sentidos. Ler tabela 01: Convergências e Objetivos CoCriança (p. 62).
O PROCESSO
Passo 04: Com a intenção de determinar uma estrutura geral Passo 03: escrevi o significado de cada transcrição, traduzindo
do fenômeno, como no passo “Água” descrito anteriormente, efetuei
em minhas palavras as intenções identificadas em cada fala. Em forma
a síntese de convergências de falas. Isto é, identifiquei significados
de narrativa, contextualizo o momento em que aconteceram a fim de
em comum em todas as falas e fui criando o que Wehmann chama de
aproximar o leitor do universo relatado. Este quadro chamei, ainda
convergências, buscando encontrar evidências sobre os objetivos de
segundo Wehmann, de “Discurso Articulado”:
atuação da metodologia CoCriança nas próprias falas das crianças:
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
(Dea) - Como cês acham que a praça vai ficar daqui a um ano? (Ang) - Se as pessoas cuida, bonita. (Layza) - É, com mais vida. Se as pessoas colabora, não sujarem e não jogarem lixo. (Dea) - Cês acham que cês vão tá indo na praça ainda? Ang e Layza) - Sim.
Quando Dea pergunta como as crianças acham que a praça vai estar em um ano, Angelina responde que bonita, e Layza diz que se as pessoas cuidarem, não jogarem lixo, a praça estará com mais vida. Por último as duas afirmam que estarão indo à praça ainda.
- A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade.
É... a gente decidiu fazer alguns vídeos lá na praça, postar no YouTube, Facebook, tirar foto dos cartazes, e o nome das redes sociais vai ser “Jornalzinho da Praça” - “Jornalzinho da PDS”. É isso.
Bianca explica o plano de comunicação: fazer fotos e vídeos, postar no Youtube e Facebook - que terão o nome de Jornalzinho da PDS - e tirar fotos dos cartazes.
- Crianças expressam a própria vontade - A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - A criação coletiva de alternativas ao problema
59
“Esta estrutura tem um caráter de generalização, pois acontece
aquilo que é efetivamente percebido, de tal forma que o fenômeno
a partir do agrupamento dos discursos que se repetiam” (WEHMANN,
ao se mostrar também não se mostra sempre do mesmo modo e pela
2019, p. 163). Para tanto, tive que escrever e reescrever cada uma delas,
mesma face” (WEHMANN, 2019, p. 153. Grifo nosso).
até que conversassem entre si e, dessa forma, pudessem dialogar com os objetivos do CoCriança6 e, consequentemente, em congruência com os Relatos de Meus Sentidos7.
As tabelas são um resultado, então, de todo o registro audiovisual
que temos feito durante as Oficinas de Construção. Temos inúmeras falas de extrema relevância para o projeto, que podem ser lidas ao final deste trabalho no item Anexo 3. As que eu considerei oportunas para dialogar com o texto do trabalho, transcrevi identificando a criança e o momento em que foi dita.
Por isso, devo dizer que, ao escrever minhas interpretações sobre o que por nós foi vivido ao longo de nossos encontros, estou por mais que tenha transcrito exatamente como ouvi - imediatamente trazendo o meu olhar sobre algo que por elas foi dito. Mas ainda assim, há muitas falas que dizem por si só e, por isso, fiz questão de transcrever todas e anexá-las ao final deste trabalho.
Vale lembrar mais uma vez, que é impossível observar estas falas e não me abster, assim como traz Wehmann em seu trabalho, onde analisa também entrevistas com moradores de comunidades em Fortaleza, por meio da observação fenomenológica:
O processo de análise Enquanto criava as convergências de todo o conteúdo que organizei por meio dessas tabelas, meu primeiro passo foi relacionálas aos objetivos que traçamos como os principais ao longo do projeto
“O fenômeno forma-se assim entre o olhar intencional e o que
CoCriança. São eles:
é olhado, não existindo em outras condições. Ou seja, o que é percebido é resultado de uma operação entre aquilo que é doado à percepção e
1. Promover o senso de coletividade do grupo com a afirmação das individualidades
6 7
60
Ler tabela 01: Convergências e Objetivos CoCriança (p. 63). Ler capítulo 4. Relato de meus sentidos.
2. Reconhecer e instrumentalizar a voz das crianças para a
O PROCESSO
autonomia
apareceram no decorrer da pesquisa, poderei aprofundar a discussão de
3. Promover a participação das crianças nos processos de decisão e transformação urbana
comparação dos dois lugares10 - que acabaram tendo grande influência nos processos de aprendizados de cada criança - e irei evidenciar a
4. Fortalecer o uso da cidade e sua ocupação pelas crianças
conclusão deste trabalho em seus três últimos itens de capítulos11.
5. Promover o senso de pertencimento, fortalecendo os vínculos da comunidade com os espaços públicos
No que tange meu processo de pesquisa, sobre o objetivo CoCriança de reconhecimento e instrumentalização da voz das crianças para sua autonomia, irei discutir principalmente no capítulo 4.4. “Conquistas de
8
Enquanto grupo, reconhecer esses passos como nossos objetivos
autonomia”, onde relaciono muitos dos momentos vividos ao longo do
principais, está sendo de extrema importância para conseguirmos analisar o
projeto, com o livro de Freire (2017) Pedagogia da Autonomia. Já o objetivo
CoCriança como um projeto urbano-pedagógico. Portanto, por mais que meu
fortalecer o uso da cidade e sua ocupação pela cidade, irei discutir mais a fundo
trabalho não vá percorrer detalhadamente por todos esses objetivos, ao elaborar
no capítulo 4.3. “Percepções de paisagem”, onde discorro sobre as diferentes
a Tabela de Convergências e Objetivos (p. 63), fiz questão de já relacioná-los,
leituras de paisagem, me aprofundando no texto de Wehmann (2019) e de
como forma de contribuição de minha pesquisa para o grupo CoCriança.
Lima (2017). Sobre este último capítulo, irei fundamentar a importância de
Nela, inseri também a quantidade de Unidades de Significado que transcrevi de cada grupo de crianças - Elisa Maria: 66, Vila Anglo: 51
se exercitar o direito à paisagem com as crianças, como ferramenta para sua interlocução com o espaço e consequente ocupação de uso na cidade.
- e o número de vezes e frequência que cada convergência aparece. Fiz
Apesar desses serem os dois objetivos do CoCriança que
isto a fim de balizar e de alguma maneira conseguir “medir” o conteúdo
fundamentam a discussão aqui neste TFG, durante todo o texto não
internalizado por cada grupo de crianças.
deixarei de passar pelos os outros também, para tanto, apresento algumas
Por meio desta tabela, irei apresentar algumas análises9 que me 8 A análise deste trabalho foi desenvolvida com assessoria voluntária da rede colaborativa Ventura - linkedin.com/company/ventura-monitoramentoeavaliacao. 9 Ler capítulo 4.1. Análise do conteúdo
conclusões a respeito deles no capítulo 4.1. “Análise do conteúdo”. 10 Capítulo 4.2. Como o lugar influencia no processo. 11 Ler capítulos 4.3. Percepções da paisagem, 4.4. Conquistas de autonomia e 5. Sobre o meu e o nosso aprendizado.
61
Tabela 01 - Convergências e Objetivos CoCriança
Frequência Elisa Maria Vila Anglo
Convergência
Objetivo
Demonstram uma relação afetiva com o projeto
4
6%
17,64%
9
A criação coletiva de alternativas ao problema
7
10,6%
17,64%
9
Verbalização de sentimentos
0
0%
21,56%
11
Crianças assumindo responsabilidades
10
15,1%
29,41%
15
Crianças expressam a própria vontade
14
21,21%
7,84%
4
A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema
17
25,75%
9,8%
5
Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto
5
7,57%
15,68%
8
Protagonismo no planejamento e na execução de atividades
28
42,42%
39,21%
20
Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade
13
19,69%
19,6%
10
Crianças tomando decisões sobre o processo
18
27,27%
25,49%
13
Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem
14
21,21%
3,92%
2
Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar
12
18,18%
9,8%
5
A paisagem como diferencial positivo
11
16,66%
13,72%
7
A praça como lugar de encontros e tempo livre
8
12,12%
5,88%
3
A paisagem como afeto e vínculo com o lugar
8
12,12%
13,72%
7
O entendimento da paisagem como espaço de construção
15
22,72%
27,45%
14
A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem
13
19,69%
3,92%
2
A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público
18
27,27%
15,68%
8
Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros
13
19,69%
1,96%
1
A importância de envolver a comunidade no processo
12
18,18%
21,56%
11
A praça como espaço de qualificação da comunidade
9
13,63%
13,72%
7
Total de Unidades Transcritas
66
100%
100%
51
Promover o senso de coletividade do grupo com a afirmação das individualidades
Reconhecer e instrumentalizar a voz das crianças para a autonomia
Promover a participação das crianças nos processos de decisão e transformação urbana
Fortalecer o uso da cidade e sua ocupação pela criança
Promover o senso de pertencimento, fortalecendo os vínculos da comunidade com os espaços públicos
3 OS ENCONTROS
Neste capítulo, iremos mergulhar no que foram todos esses
encontros com as crianças do CCA Elisa Maria e do Sal da Terra ao longo das Oficinas de Construção. Palavras são poucas para descrever a energia que preenche o nosso corpo ao ver o sorriso no rosto de cada criança, ao receber os seus beijos e abraços todas as vezes que entramos pela porta da sala de aula. É esta energia que me movimenta a seguir defendendo e argumentando a relevância que tem o CoCriança dentro de uma cidade tão segregada e desigual quanto São Paulo.
A fim de contextualizar de forma explícita e clara esta desigual
realidade que rege nossa atuação, no primeiro momento irei relatar um pouco sobre os processos que ocorreram para a escolha de ambos os lugares de intervenção: o primeiro no Jardim Elisa Maria, na Brasilândia, zona norte de São Paulo; e o segundo na Vila Anglo Brasileira, em Perdizes, zona oeste. A aproximação do CoCriança com cada um desses lugares se deu de maneira completamente diferente, que acabou tendo grande influência no processo de construção de cada lugar de intervenção.
Tudo isso aconteceu em uma ordem temporal que talvez não
fique muita clara apenas em um texto corrido como o que venho fazendo até então. Portanto, decidi imprimir uma linha do tempo que contextualize tanto o processo do CoCriança como um todo, quanto o processo apenas das Oficinas de Construção, que sugiro que o leitor retire do caderno - pois é destacável - e use-a para acompanhar a leitura
65
3.1 A ESCOLHA DOS LUGARES dos encontros com as crianças no terceiro momento deste capítulo.
Assim, espero que entenda ainda mais o CoCriança, e, sobretudo,
os desafios e alegrias que passamos ao longo de todos esses anos de
“Uma questão a ser considerada é que cada fenômeno está sempre vinculado ao contexto em que surge, ou seja, é sempre um fenômeno situado” (WEHMANN, 2019, p. 164).
trabalho com as crianças dos CCAs Elisa Maria e Sal da Terra. Ver um sonho que foi co-projetado materializar-se na sua frente após muito esforço, não há palavras que descrevam esse sentimento, ainda mais quando ele é compartilhado com tais “figurinhas” que são cada uma dessas crianças, que apresento a seguir.
Segundo a citação acima, não há, numa pesquisa feita através da observação fenomenológica, como fazer a análise do processo como um todo, sem antes situar o lugar onde o fenômeno do processo ocorre. Por tanto, neste capítulo irei descrever ao leitor a respeito de ambos os distritos em que realizamos os projetos. Primeiro, contarei um pouco da história da construção de nossa relação com cada CCA e, depois, apresentarei uma tabela criada por mim, que possibilite uma leitura dinâmica e comparativa das desigualdades vividas entre as crianças dos dois bairros. Isto irá contribuir para um melhor entendimento do Capítulo 4.2 deste trabalho, em que busco apresentar como o lugar influencia no processo das crianças. Como já dito anteriormente, o CoCriança é vinculado à Universidade de São Paulo, uma vez que se estabeleceu como grupo de extensão universitária, sendo consequência da disciplina de Planejamento Urbano com a de Paisagismo. No início, a proposta da disciplina era que os grupos de trabalho projetassem em alguma área da Brasilândia, e por isso, foi por meio dela o nosso primeiro contato
Imagem 28: Vista da janela do CCA Elisa Maria, na Brasilândia, zona norte de São Paulo, 2019 (Fonte: CoCriança).
66
estabelecido com o distrito.
OS ENCONTROS
A escolha do CCA Elisa Maria, ou seja, a proposta de trabalhar
há dois anos na busca de recursos, aceitamos, pois desta vez, o recurso
com crianças foi uma vontade que surgiu coletivamente pelo grupo de
destinado à reforma da nova Praça já existia e conseguimos, através dessa
alunas, em 2017. E, para além das professoras Catharina Pinheiro e
oportunidade, levantar o financiamento para a construção no Elisa Maria.
Karina Leitão, quem fez a nossa ponte com a diretoria do CCA foi a Ana
A oportunidade surgiu através de uma conversa com o Vereador
Sueli Ferreira, nossa parceira até hoje e uma das maiores lideranças e
Eliseu Gabriel, que nos apresentou algumas praças em São Paulo, as
mulheres de força daquela região.
quais ele já tinha a verba para a construção. Ele nos pediu que fizéssemos
Iniciamos, assim, o contato com as crianças. Elas tinham, na
o processo participativo para a concepção do projeto, e escolhemos a
época, de 9 a 11 anos, e já abordavam no CCA Elisa Maria, com o então
Praça Doutor Vicente Tramonte Garcia - carinhosamente apelidada pelos
educador Bruno César, diversas questões como direitos humanos,
moradores de “Praça do Samba” - na Vila Anglo Brasileira que, entre
violência contra mulher, diversidade, respeito, diálogo, etc. Fomos,
todas opções que nos foram apresentadas, era a que possuía menores
assim, ao longo de nossos encontros, aprofundando nossos laços e
índices de vulnerabilidade social.
nos desafiando como grupo para a construção da Praça Livre Para As
Vale destacar a relevância do percurso em que os fatos
Crianças. Entretanto, não havíamos recursos financeiros suficientes para
aconteceram ao longo de cada processo - não mais na ordem: 1. CCA, 2.
tal, apenas, a nossa determinação.
Escolha do lugar, 3. Projeto e 4. Verba, como no Elisa Maria; mas 1. Verba,
Nessa época, estávamos convictas que a proposta do CoCriança
2. Escolha do lugar, 3. CCA e 4. Projeto, na Vila Anglo. A diferença desses
era construir os espaços públicos sempre na periferia, já que iniciamos
processos culminaram em diversas questões que acabaram sendo muito
a pesquisa na Brasilândia, onde as próprias crianças nos indicaram
relevantes para esta pesquisa e para os aprendizados de todo o grupo.
quais eram os lugares em potencial para o projeto. Porém, à medida
Essas divergências serão apresentadas mais para frente no capítulo 4.2
que fomos precisando ir atrás de apoio financeiro para a construção da
Como o Lugar Influencia no Processo.
Praça Livre Para As Crianças, outra oportunidade nos foi dada de aplicar
Iniciamos, então, o contato com as crianças do CCA Sal da
a metodologia também para a construção de uma praça na Vila Anglo
Terra, na Vila Anglo, por intermédio de uma moradora do bairro. Ela
Brasileira, em Perdizes, zona oeste de São Paulo. E como já estávamos
representava uma organização de moradores do bairro, o Movimento
67
Amigos da Vila Anglo (MAVA), que teria dado o primeiro passo para
02, p. 69) de cada distrito. Nela inseri dados que fossem mais relevantes
conseguirem a destinação da emenda parlamentar à reforma da Praça
a este trabalho e destaquei os que apresentam maior discrepância entre
do Samba. Dessa maneira, o nosso contato com essa organização de
distritos, assim poderemos ter uma visão comparativa a respeito da
moradores permaneceu até que a reforma fosse concluída.
realidade de cada lugar, o que influenciou muito no desenvolvimento de
As crianças do CCA Sal da Terra tinham cerca de 11 a 13 anos
cada grupo de crianças ao longo do projeto.
quando iniciamos o projeto. A associação desenvolve, para além de trabalhos educativos, alguns religiosos, pois “em 2014 a fundadora e presidente, juntamente com toda a diretoria da Sal da Terra passou a administração da mesma para a Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Consolação, que desde então vem remodelando as formas de atendimento, promovendo eventos que fortaleçam os vínculos familiares e com a comunidade local”1. Este fator também contribuirá para nossa análise do capítulo 4.1 Análise de Conteúdo.
Assim se deram as escolhas de ambos os lugares de intervenção
do CoCriança: o CCA Elisa Maria, através do contato com as professoras da FAU e lideranças locais; e o CCA Sal da Terra, através do Vereador Eliseu Gabriel e por intermédio inicial do MAVA. A seguir, apresento primeiro um mapa (Imagem 29) com a localização de ambas as praças em seus respectivos distritos, e depois, a Tabela de Dados dos Distritos (Tabela 1 Texto retirado do site da Associação Sal da Terra: ccasaldaterra.blogspot. com/p/quem-somos.html (acesso em 15/07/2020).
68
Imagem 29: Localização da Praça Livre Para As Crianças no Distrito da Brasilândia e da Praça do Samba no Distrito de Perdizes.(Fonte: CoCriança).
OS ENCONTROS
Praça Livre Para As Crianças - CCA Elisa Maria
Praça do Samba - CCA Sal da Terra
• Bairro: Jardim Elisa Maria
• Bairro: Vila Anglo Brasileira
• Distrito: Brasilândia
• Distrito: Perdizes
• Subprefeitura: Freguesia do Ó/Brasilândia
• Subprefeitura: Lapa
Dados Físicos
Tabela 02 - Dados dos Distritos Índice
Brasilândia
Perdizes
Medida em
Área
21
6,3
km²
Favelas
29,6
0
número total de domicílios em favelas ÷ número total de domicílios x 100
Arborização viária
21
6,3
km²
Árvores contabilizadas no sistema viário por área do distrito
236,5
1.101,50
árvores / km²
Área verde por habitante
28,93
11,04
Equipamentos Públicos de Cultura
1,44
2,63
a cada 100.000 habitantes
Mapa da Desigualdade; SMC; IBGE; Seade - 2017
Equipamentos Públicos de Esporte
0,18
0,09
a cada 10.000 habitantes
Mapa da Desigualdade; SEME; IBGE; Seade - 2018
Observação
Fonte Site da Prefeitura de SP
Brasilândia: 2º maior número do município
Mapa da Desigualdade; SEHAB; HabitaSampa; IBGE 2018 Site da Prefeitura de SP
Brasilândia: 9º pior do município Perdizes: 12º melhor do município
Mapa da Desigualdade; SMDU; Geosampa
cobertura vegetal m² / pop. local A Brasilândia tem sua área norte destinada ao Parque Estadual da Cantareira
Mapa da Desigualdade; SVMA
69
População
70
Índice
Brasilândia
Perdizes
Medida em
População
281.977
114.778
pessoas
Densidade Demográfica
13.427
18.218
Habitantes/km² 2020
Brasilândia: 2º maior número do município
Seade 2020
Mulheres
146.941
62.180
pessoas
Brasilândia: 52,11% Perdizes: 54,1%
Seade 2020
Homens
135.035
52.608
pessoas
Brasilândia: 47,89% Perdizes: 45,8%
Seade 2020
Razão de sexos
91,9
84,81
número de homens para cada 100 mulheres
0 a 4 anos
22.878
4.976
pessoas
Brasilândia: 8,11% da população Perdizes: 4,33% da população
Seade 2020
5 a 9 anos
23.337
5.363
pessoas
Brasilândia: 8,27% da população Perdizes: 4,67% da população
Seade 2020
10 a 14 anos
18.211
4.827
pessoas
Brasilândia: 6,46% da população Perdizes: 4,2% da população
Seade 2020
População com Menos de 15 Anos
22,85
13,21
em %
Seade 2020
População com 60 Anos e Mais
11,31
24,97
em %
Seade 2020
População Preta e Parda
50,6
9,37
em %
IBGE 2010
Índice de Envelhecimento
48,48
189,01
em %
Seade 2020
IDH
0,769
0,957
0a1
O Estado de São Paulo 2016
Observação
Fonte Seade 2020
Seade 2020
Saúde
Índice
Brasilândia
Perdizes
Medida em
Observação
Fonte
Taxa de Natalidade
18,53
9,89
por mil habitantes
em 2014
Seade 2020
Taxa de Mortalidade na Infância
14,5
6,26
Por mil nascidos vivos até 15 anos
em 2014
Seade 2020
Idade média ao morrer
60,01
78
anos
Brasilândia: 9º distrito com idade mais baixa do município
Mapa da Desigualdade; SIM 2018
Nascidos Vivos de Mães com Menos de 19 Anos
14,29
0,54
%
Brasilândia: 4º maior número do município
Mapa da Desigualdade; SMS; SINASC
Mães que fizeram Sete e Mais Consultas de Pré-Natal
71,68
93,46
%
em 2014
Seade 2020
Nascimentos de Baixo Peso (menos de 2,5kg
10,03
8,45
%
em 2018
Mapa da Desigualdade; SMS; SINASC; CEInfo
Unidades Básicas de Saúde (UBS)
0,47
0,18
para cada 10.000 habitantes
Tempo de espera para consultas - clínico geral
62,46
48,62
tempo médio em dias de espera
Brasilândia: 2º lugar com tempo mais longo do município
Mapa da Desigualdade; SMS; SIGA Saúde 2018
Leitos hospitalares¹
0,011
1,49
Número total de leitos hospitalares ÷ População total x 1.000
Brasilândia: 2º mais baixo índice do município
Mapa da Desigualdade; CNES; SMS; SES; IBGE; Seade 2018
Violência contra a mulher
237,4
112,4
Número total de ocorrências de violência contra a mulher ÷ População feminina na faixa etária de 20 a 59 anos x 10.000
Mapa da Desigualdade; SSP; IBGE; Seade 2018
Homicídio Juvenil (15 a 29 anos)
45,25
0
mortes a cada 100.000 habitantes
Rede Nossa SP - 2016
Mapa da Desigualdade; SMS; IBGE; Seade 2018
1 A Portaria GM/MS n° 1101/2002 (vigente até outubro de 2015), estabelecia como ideais os valores de 2,5 a 3,0 leitos para cada mil habitantes.
71
Econômico Educação
72
Índice
Brasilândia
Perdizes
Medida em
Observação
Fonte
Renda per Capita
502,19
3.300,27
Em reais correntes
em 2010
Seade 2020
Domicílios Particulares com Renda per Capita até 1/4 do Salário Mínimo
11,22
4,23
%
em 2010
Seade 2020
Domicílios Particulares com Renda per Capita até 1/2 Salário Mínimo
27,61
5,42
%
em 2010
Seade 2020
Emprego formal
0,47
4,47
a cada 10 habitantes participantes da PIA (população em idade ativa) com idade igual ou superior a 15 anos
Brasilândia: 5º distrito com menor taxa do município
Mapa da Desigualdade; MTE; RAIS - Microdados; IBGE; Seade - 2017
Concluintes do Ensino Fundamental
3.441
781
pessoas
Concluintes do Ensino Fundamental - Rede Pública
3.371
228
pessoas
Brasilândia 98% Perdizes: 29,2%
Sebrae, MEC - 2011
Concluintes do Ensino Fundamental - Rede Particular
70
553
pessoas
Brasilândia 2% Perdizes: 70.8%
Sebrae, MEC - 2011
Concluintes do Ensino Médio
1.964
889
pessoas
Concluintes do Ensino Médio - Rede Pública
1.944
504
pessoas
Brasilândia: 99% Perdizes: 56,7%
Sebrae, MEC - 2011
Concluintes do Ensino Médio - Rede Particular
20
385
pessoas
Brasilândia: 1% Perdizes: 43,3%
Sebrae, MEC - 2011
Sebrae, MEC - 2011
Sebrae, MEC - 2011
Índice Paulista de Vulnerabilidade Social² (IPVS)
Índice
Brasilândia
Perdizes
Medida em
Observação
Fonte
IPVS grupo 1 - Vulnerabilidade Baixíssima
0
85,9
% da população exposta
em 2010
Seade 2020
IPVS grupo 2 - Vulnerabilidade Muito Baixa
25,1
10,9
% da população exposta
em 2010
Seade 2020
IPVS grupo 3 - Vulnerabilidade Baixa
26,5
3,1
% da população exposta
em 2010
Seade 2020
IPVS grupo 4 - Vulnerabilidades Média
18,6
0
% da população exposta
em 2010
Seade 2020
IPVS grupo 5 - Vulnerabilidades Alta
17,7
0
% da população exposta
em 2010
Seade 2020
IPVS grupo 6 - Vulnerabilidades Muito Alta
12
0
% da população exposta
em 2010
Seade 2020
2 O IPVS baseia-se em uma tipologia derivada da combinação de indicadores sintéticos das dimensões socioeconômica e demográfica, permitindo classificar os setores censitários em sete categorias, segundo o grau de vulnerabilidade social da população neles residente
73
3.2 LINHA DO TEMPO Este item de capítulo consiste na esquematização de duas linhas do tempo. A primeira, do início de 2017 ao final de 2019, refere-se a todo o período de trabalho do CoCriança, apresentando as oficinas em cada CCA, as premiações em editais e participações em concursos, as publicações de teses produzidas pelas integrantes do grupo, os processos de financiamento de obra, etc. A segunda, situada no segundo semestre de 2019, apresenta todo o processo das Oficinas de Construção, objeto principal de análise deste trabalho, a fim de esquematizar ao leitor qual oficina aconteceu antes da outra, pois isso teve grande influência nas tomadas de decisão e correção de percurso do CoCriança. Por tanto, esses dois materiais foram pensados de maneira que o leitor possa retirá-los do caderno de leitura e posicioná-los livremente enquanto lê o resto do trabalho. Caso a leitura aconteça de forma online, basta clicar no link “Linha do Tempo” ao lado, que abrirá um PDF anexado, criando, assim, uma melhor compreensão através do referenciamento temporal.
LINHA DO TEMPO cocrianรงa
3.3 OS ENCONTROS COM AS CRIANÇAS A partir do que foi situado na linha do tempo das Oficinas
projeto que trabalha com crianças de áreas que se identificam como
de Construção, este capítulo irá descrever todos os encontros com
comunidade, entendemos que avaliar os nossos processos é de extrema
as crianças que aconteceram no segundo semestre de 2019, desde o
relevância, tanto pela questão pedagógica - afinal, estamos o tempo
momento em que os projetos das praças passaram pelos seus devidos
todo aprendendo com as crianças -, quanto pela questão do trabalho
processos de licitação. Iremos mergulhar em cada oficina, passando
com a comunidade em si.
pelo seu roteiro, os ajustes necessários, comentários, descrição de meus
diários de campo, fotos, materiais produzidos pelas crianças, etc, a fim
Ficha técnica e roteiro e 2. Diário de campo com fotos e avaliações.
de entender como aconteceram e o que foram todos os processos de
aprendizados e pesquisa que o CoCriança passou.
queira desenvolver oficinas lúdicas de co-criação com crianças, a parte 1.
Dessa maneira, cada oficina será dividida em duas partes: 1. A fim de tornar este trabalho uma possível referência para quem
ficha técnica e roteiro terá todo o detalhamento das informações básicas “Não existem regras fixas de trabalhar com o povo. O que
e necessárias para a oficina acontecer: duração, número de crianças,
existem são apenas balizas, setas indicadoras. Cada um tem que
local, materiais necessários, objetivo geral da oficina, descrição das
assumir o risco, pois o risco faz parte de todo aprendizado que se funda
atividades em ordem cronológica, assim como o tempo e objetivo de
principalmente na experiência. (...) É impossível dar sempre certo. Em
cada uma.
nenhum lugar talvez mais do que aqui vale o dito de que é fazendo que
se aprende. Daí a importância do processo como tal“ (BOFF, 1984, p.
os processos de aprendizado do CoCriança, adicionei o item “alteração
4. Grifo nosso).
no roteiro”, que busca apontar o quanto da oficina aconteceu de acordo
Além disso, para o mesmo fim e com a intenção de demonstrar
com o que havíamos planejado. Dessa maneira, ao longo do próprio
Em sua citação, Boff explica a importância de se voltar para os
processos ao longo do trabalho com o povo . Sendo o CoCriança um 1
1 Para Boff, “povo” compreende ao termo do “conjunto das classes oprimidas ou subalternas. Entenderemos sempre “povo” não no sentido “clássico” (de “nação”), mas
76
roteiro, irei tachar o conteúdo não utilizado e escrever de cinza claro no sentido “classista” (de “classes populares”). De resto, é como “povo” que o pessoal costuma se autodenominar nos grupos de trabalho popular. Por vezes, “povo” quererá dizer simplesmente a comunidade popular com a qual se está trabalhando.” (BOFF, 1984, p. 4).
OS ENCONTROS
aquilo que foi adicionado em campo pela equipe de facilitadoras. A parte 2. diário de campo, fotos e avaliações busca aproximar o leitor das experiências vividas pelos agentes aos quais este trabalho se refere: às crianças e ao grupo CoCriança. Para tanto, transcrevi os diários de oficinas que escrevi no decorrer de nossos encontros, fazendo neles pouquíssimas alterações, com a intenção de criar uma narrativa agradável e fluída de ser lida. Paralelamente a isso, adicionei as fotos registradas pelo CoCriança ao longo do processo e os materiais produzidos pelas crianças - como Esqueletos de Oficinas, textos de reflexão, desenhos, etc. Esse material, o leitor verá, é de extrema riqueza para a pesquisa deste trabalho, assim como o registro de falas que acontecem ao longo das oficinas, que também entrarão neste capítulo como elementos ilustrativos de nossos encontros. Por meio deste vasto conteúdo, pude percorrer um longo trajeto de análise e avaliações, feitas sozinha ou junto com as outras facilitadoras. Por fim, vale dizer que os roteiros que vou transcrever neste trabalho, foram todos feitos coletivamente pelas facilitadoras do CoCriança, e reescritos agora por mim, de maneira que pudéssemos ter um material conciso, único e co-criado de todas as Oficinas de Construção. Imagem 30: Crianças também fazem o registro das oficinas na Praça Livre Para As Crianças, Jardim Elisa Maria, 2020 (Fonte: CoCriança); Imagem 31: Atividade de linha do tempo na Praça do Samba, Vila Anglo Brasileira, 2020 (Fonte: CoCriança).
77
JARDIM ELISA MARIA BRASILÂNDIA
Imagem 32: Em vermelho - Localização geoespacial do Distrito da Brasilândia no Município de São Paulo (Fonte: Google Maps e CoCriança).
24/09/2019 OFICINA 1: RETOMANDO O CONTATO Local: CCA Elisa Maria e Praça Livre Para As Crianças Duração: 2h 30min Número de crianças participantes: 24 Alteração no roteiro: Adaptação da segunda atividade.
Materiais Necessários fotos das oficinas anteriores fita adesiva
Objetivo geral: Restabelecer o contato com as crianças do CCA Elisa Maria. Para isso, a oficina consiste primeiro em um momento de integração entre o grupo de crianças e o de facilitadoras, seguido de atividades que contribuem para o resgate da memória sobre tudo o que já foi feito durante o projeto. Após uma conversa sobre o último ano, discutiremos quais seriam os próximos passos.
80
ROTEIRO
1. APRESENTAÇÃO / PIF-PAF DE NOMES
2. LINHA DO TEMPO
(30 minutos)
(45 minutos)
Objetivo Conhecer e estabelecer vínculo com as crianças. Descrição da atividade Primeiro, fazer uma rodada de no-
Objetivo Contribuir para que as crianças antigas e as novas
mes, onde cada criança fala o seu e faz um movimento preferido. Em seguida, todos da roda repetem. No Pif-Paf, as crianças ficam em uma roda e uma de nós no meio. A pessoa do meio aponta para uma criança aleatória e diz “pif!”. A criança apontada tem que abaixar o mais rápido possível e as duas do lado devem apontar uma para a outra e falar o nome da outra. Quem falar o nome mais rápido, vence. A criança que “perder”, fica sentada e vai fazendo a etiqueta do nome enquanto o jogo continua com as outras. Vamos repetir o jogo duas vezes. Na segunda vez, a criança que vencer da primeira vez, vai ser a pessoa que fica no meio.
3. RODA DE CONVERSA
participem em conjunto para relembrar as oficinas que foram feitas anteriormente. Descrição da atividade Esta atividade deve acontecer na Praça Livre Para as Criança. Primeiro, colocar no chão um craft com uma linha do tempo das oficinas realizadas na etapa de projeto (data e nome da atividade) e distribuir fotos dessas atividades para todas as crianças presentes. Juntas, elas têm que associar a foto à oficina correspondente para colar no craft em ordem na parede. A ideia é que as crianças novas tentem adivinhar as atividades e as antigas consigam relembrá-las. Em seguida, as crianças antigas podem contar como foi aquela atividade para as crianças novas.
4. CIRANDA
(20 minutos)
(20 minutos)
Objetivo Atualizar as crianças sobre o processo de reforma da
Objetivo Fazer uma atividade lúdica para o encerramento da
praça e refletir sobre os próximos passos. Descrição da atividade Em roda, conversar com as crianças perguntando como estão após as férias e se passaram na praça, contar o que foi feito até agora, sobre a festa de inauguração, fase de licitação - explicar como funciona -, falar sobre novas responsabilidades e como será essa etapa de oficinas, pois eles vão começar a criar as atividades.
oficina.
Descrição da atividade Realizar uma roda de ciranda e depois fazer uma brincadeira na qual cada pessoa dá um beijo na bochecha da pessoa que estiver ao lado dela. Quando chegar na pessoa que começou a rodada, o sentido se inverte e cada um dá um beijo na pessoa que estiver do seu outro lado.
81
DIÁRIO
AGATHA
Foi muito bom estar de volta no CCA Elisa Maria! As crianças ficaram
muito animadas, sempre muito sorridentes; muitos haviam esticado bastante de tamanho. Como estamos trabalhando lá fazem três anos, as turmas também tinham sido alteradas, mas as coordenadoras do CCA, muito fofas, fizeram um esforço para juntar as crianças que já estavam conosco na mesma sala, junto com a nossa nova educadora, a Sandra.
Primeiro, fizemos uma rápida atividade de integração - Pif-Paf - que
“Aconteceu que, depois qu e, tipo, que acabou a festa, aí vocês não cons eguiram vim mais. Ai, vocês pararam de vim . Ai, sempre que eu passav a lá perto da praça, aí os moradores de rua co meçaram a ir pra ficar lá e estragar tudo.” (Diário de Campo, Ofici
na 01 de Construção - Eli sa Maria, 2019).
nunca falha ao envolver as crianças. Depois, fomos para a Praça Livre Para as Crianças. Ela também está bem mudada… o trailer de Hambúrguer já não
existe mais, havia bastante lixo e alguns moradores iniciaram uma reforma que eliminou o patamar do meio, deixando-o no mesmo nível que a rua. Alguns usuários de drogas também estavam usando a Praça, por isso ficamos só na parte de cima; mas, como de costume, eles foram muito compreensíveis ao projeto e começaram logo a se mobilizar e recolher todo o lixo que estava acumulado. Um deles inclusive me chamou de canto e disse “ó, quando vocês voltarem aqui da próxima vez, isso aqui vai tá tudo limpo!”
Para a oficina, levamos algumas fotos impressas e
fomos, junto com as crianças, relembrando os momentos que vivemos nos últimos anos, a fim de construir uma linha do tempo na parede. Essa hora ficou um pouco desorganizada,
82
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
83
acho que faltou, de nossa parte, um pouco mais de detalhamento de
AGATHA
la, no escadão ali, tinha Eu lembro até que na vie u um monte de coisa lá um homem, tipo, ele pego e ao escadão e fez um do lixo que tava em frent o. barquinho de brinqued bastante potêncial Então eu acho que eles têm pra ajuda nóis. trução - Elisa Ma-
na 01 de Cons (Diário de Campo, Ofici ria, 2019).
como isso poderia ter sido feito. Mas, deu certo! No final, estávamos com uma linda linha do tempo, onde conseguimos relembrar um pouquinho dos momentos que dividimos.
De volta para o CCA, e as crianças com lanche em mãos,
tivemos uma conversa sobre como vão funcionar as coisas de agora em diante: que nós não iríamos mais chegar com as oficinas prontas. Nessa próxima fase são elas mesmas que propõe como as oficinas vão funcionar. Ou seja, a responsabilidade delas aumentou para a construção da Praça. Nós, o CoCriança, seremos apenas facilitadoras do processo que elas vão organizar.
Foi realmente emocionante ouvir das crianças um retorno
grande de responsabilidade e sugestões de como poderíamos fazer para, não só irmos atrás de meios para a construção, como inclusive, integrar os usuários da Praça à construção do projeto, porque “se eles participarem, eles não vão querer destruir uma coisa que eles mesmos ajudaram a fazer”.
MARQUINHO
Eu tive uma idei a de criar uma d inâmica que expl ique sobre aquil o que a gente tá fa zendo na Praça . Pras pessoas qu e moram lá pert o. (Diário de Campo
, Oficina 01 de Construção - Elisa Maria , 2019).
84
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
85
16/10/2019 OFICINA 2: COMO INFORMAR A COMUNIDADE? Local: CCA Elisa Maria e Praça Livre Para As Crianças Duração: 2h 30min Número de crianças participantes: 22 Alteração no roteiro: Pouca
Materiais Necessários instrumentos papéis A6 caneta
Objetivo
geral:
Refletir sobre as próximas ações necessárias para a construção da praça e bolar alternativas para contar aos moradores do bairro sobre a reforma, a fim de convidá-los a participar do projeto. Introduzir as crianças ao Maracatu como cultura popular e como possível ferramenta de divulgação na comunidade.
86
ROTEIRO
1. INTRODUÇÃO AO MARACATU (15 45 minutos)
Objetivo Explicar para as crianças como vai funcionar a dinâmica do dia e contar um pouco sobre o que é o maracatu. Descrição da atividade Perguntar às crianças sobre proposta de fazer uma apresentação de maracatu no domingo para as pessoas do entorno (isso nunca aconteceu), retomando a importância dos vizinhos estarem cientes e envolvidos no processo de construção e manutenção da praça. Conversar também sobre o que é o Maracatu e como será a oficina. * Ao final desse momento de introdução, dividir as crianças em dois grupos. A ideia é que cada um faça as duas atividades seguintes (atividades 2. e 3. ocorrem simultaneamente) separadamente devido à quantidade de instrumentos disponíveis para todas e, assim, podemos trabalhar com grupos menores.
2. OFICINA DE MARACATU (60 45 minutos)
Objetivo Tocar e se divertir! Descrição da atividade Na praça, em um primeiro momento, pegar o ritmo com o corpo. Depois, subdividi-las em grupos menores e cada criança escolhe o instrumento que quer aprender, alternando após um tempo.
3a. COMO INFORMAR A COMUNIDADE - 4X4X4
3b. LEVANTAMENTO DE RECURSOS
(30 minutos)
(30 15 minutos)
Objetivo Chuva de ideias para chegar em quatro principais! Descrição da atividade No CCA, dividir as crianças em 4
Objetivo Viabilizar as propostas a fim de convidar os morado-
subgrupos com no mínimo 4 integrantes cada. Nesse primeiro momento, cada uma delas deve pensar sozinha em 4 atividades para chamar a comunidade para ajudar na construção e colaboração da praça. É importante deixar claro que elas precisam fazer essas propostas sozinhas, sem a ajuda de outros amigos. Depois, dividir cada subgrupo em duplas, cada criança explica para a outra da dupla sobre as atividades que pensou e, juntas, elas escolhem 4 atividades que consideram mais efetivas para o objetivo. Ao final, os quartetos são formados novamente e cada um escolhe as 4 melhores ideias entre todas do seu grupo. Essas serão as propostas que eles vão colocar em prática. Ter uma facilitadora do CoCriança por cada 2 grupos! Que ajude no brainstorm das crianças nos âmbitos de divulgação: internet, meio físico, artístico - música, pintura -, conversas com organizações, eventos, etc.
res do bairro para contribuir na reforma da praça. Descrição da atividade Cada criança escolhe uma das 4 ideias que seu grupo elencou para ficar responsável. Ter um momento para cada quarteto falar as suas ideias, e as crianças responsáveis por cada atividade se agrupam novamente por semelhança de assunto.
4. ENCERRAMENTO (15 minutos)
Objetivo Momento de comunhão entre as crianças. Descrição da atividade Retomar a ciranda, dessa vez acompanhada do maracatu, fazendo duas rodas - uma dentro da outra.
87
DIÁRIO
Este relato foi baseado na experiência da facilitadora Beatriz Martinez.
movimento, por este motivo dei um tempo para que eles pudessem beber água e me contar como foi o Maracatu. Quando começamos a desenvolver a atividade eles entenderam mais facilmente o que deveria ser feito. Com o tempo muito mais curto, não foi possível terminar a oficina, e tive que pensar rapidamente em um fechamento, retomando as ideias gerais.
A oficina iniciou com atraso de trinta minutos porque as crianças
ainda não estavam na sala e o carro com os instrumentos também atrasou. Iniciei explicando como seria a atividade e a organização em dois grupos - um na Praça tocando maracatu e outro em sala realizando a atividade de ideias para divulgação. Enquanto aguardávamos os instrumentos chegarem, retomamos a música da ciranda e as crianças cantaram e se divertiram.
Quando o primeiro grupo foi para a Praça, fiquei em sala guiando
o mapeamento das ideias com o outro grupo que, apesar do tempo apertado, conseguiu escolher quatro delas para desenvolver e inscrever as crianças que atuariam em cada. Quando o segundo grupo chegou da Praça, estava muito agitado por estar em uma atividade de bastante
88
As ideias levantadas foram:
ram book e instag ce fa m u er z be - fa car no youtu lo co e tu ca ra al - gravar o ma repórter ou jorn - chamar um leta fletos de bicic n a p os ir u em ib - distr ncipalmente ri (p es z a rt ca lar - produzir e co ) outras praças forme heiro e outro in in d e d o d la - folheto com da praça ando carro anunci m u m co r a s s - pa s escolas - falar com a
Assim, com essa finalização apressada fomos para a
Praça dançar a ciranda. Encontramos o outro grupo finalizando a experiência com o maracatu e uma caixa com um som muito alto que o vizinho colocou. Provavelmente ele se incomodou com o som das alfaias. Por conta dessa música muito alta e pelo pequeno espaço na praça, foi um pouco difícil cantar e dançar a ciranda. As crianças por outro lado voltaram felizes para o CCA. Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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29/10/2019 OFICINA 3: CONSTRUINDO A COMUNICAÇÃO Local: CCA Elisa Maria e Bairro Duração: 2h 30min Número de crianças participantes: 22 Alteração no roteiro: Alta, não tivemos tempo para a atividade 4
Materiais Necessários papéis A6 lápis, borrachas e canetas papéis diversos, cartolinas sala de informática
Objetivo geral: Iremos dar continuidade ao que foi planejado na oficina anterior, a fim de incentivar as crianças a protagonizarem na divulgação do projeto que estão construindo, como convite para o envolvimento de toda a comunidade.
90
ROTEIRO
1. TELEFONE SEM FIO (45 minutos)
Objetivo Refletir com as crianças sobre a importância de estabelecer uma boa comunicação e saber passar o intencionado. Descrição da atividade Dividir em quatro grupos com uma facilitadora e cerca de cinco crianças cada um. Cada criança recebe o número de folhas A5 correspondente ao número de integrantes do grupo. A facilitadora fala no ouvido de cada criança uma frase relacionada à praça, e elas têm de desenhar a frase na folha de papel. Depois de 5 minutos, o montinho de papel na mão de cada uma gira para o lado, e a próxima criança interpreta o desenho que recebeu, passá-lo para trás do montinho, e escreve o que entendeu do desenho. Elas têm mais 5 minutos para o mesmo procedimento e o montinho é passado para o lado novamente. Dessa vez, elas recebem uma frase, que tenham que ler e fazem um desenho que corresponda à frase recebida. E assim por diante, até o montinho de folhas retornar à primeira criança. Quando retornar, cada criança apresenta o resultado do que lhes foi retornado. Ao final da atividade, fazer uma breve reflexão, sobre a importância de se saber transmitir uma mensagem que contenha a sua intenção.
2. DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃO
3. APRESENTAÇÕES E CONCLUSÕES
(50 80 minutos)
(15 minutos)
Objetivo Colocar em prática as ideias obtidas na última ofici-
Objetivo Compartilhar com todos o que foi feito e os encami-
na, desenvolvendo as estratégias ação. Descrição da atividade Primeiro, relembrar o que fizemos na última oficina, quais ideias de divulgação apareceram e que grupos de trabalho havíamos montado. Depois, explicar que a ideia é desenvolver ainda mais essas estratégias de comunicação, tentando obter alguns produtos. Repassar as ações de cada frente de trabalho (boca a boca, redes sociais e cartazes), não necessariamente precisamos repetir os grupos da última oficina. Abrir para que todos deem sugestões dos cartazes a serem produzidos. * Boca a boca: - Passar com um carro anunciando - Falar com as escolas - Falar com os moradores e com os amigos, preparar o que falar * Redes Sociais: - Criar e decidir um nome para as redes: Instagram, Facebook e Youtube. - Decidir e estruturar quais vão ser as primeiras postagens (quais vídeos e quais fotos) * Cartazes e panfletos: - Pensar, fazer e colar os cartazes de divulgação do projeto - Realizar panfletos para serem distribuídos para a família e os amigos.
nhamentos para os próximos dias. Descrição da atividade Em roda, cada grupo apresenta o que fez e conta como o que foi feito pode ser desenvolvido dali pra frente. Depois da apresentação de cada frente, abre-se para perguntas e sugestões do grupo todo, de modo a validar as propostas. Todos os materiais gráficos produzidos serão expostos e pensaremos conjuntamente onde colocar cada um.
4. ENCERRAMENTO: “CUIDANDO DO SENTIR DO GRUPO”
(20 minutos)
Objetivo Expandir o repertório de sentimentos das crianças e contribuir para sua identificação.
Descrição da atividade Levar um painel no qual vão estar descritos diversos sentimentos associados a cores. Em um primeiro momento, ler cada um deles e entender o seu significado. Depois, cada criança recebe adesivos em branco e devem pensar individualmente sobre como se sentiram durante as atividades desenvolvidas durante a oficina. Quando conseguirem identificar esses sentimentos, cada uma delas coloca três adesivos coloridos em cima do branco com a respectiva cor escrevendo o nome ao lado, e cola no painel. A ideia é que, ao final da atividade, consigamos visualizar como o grupo todo reagiu às atividades propostas.
91
DIÁRIO
Já havíamos feito a mesma atividade na Vila Anglo, então
isso seria importante na vida real, como se deve explicar bem o que está
estávamos mais certas da ordem das coisas e como explicar para as
querendo ser dito, e mostramos que, para a próxima atividade, iriam
crianças, principalmente porque a primeira atividade é um pouco mais
ter de comunicar aos vizinhos e comunidade, que a Praça está sendo
complicada, mas, deixando isso claro já na explicação, elas fizeram um
construída e que elas precisariam de ajuda.
esforço maior para entenderem. E deu certo! As dividimos em quatro
grupos de cinco e seis integrantes para depois jogarem o “telefone sem
acordo com o lugar que gostariam de estar: boca a boca e carro de som,
fio” que na verdade é por meio de desenho e frases. A atividade ocorreu
redes sociais, e cartazes e panfletos. Fiquei no grupo do boca a boca com
bem, todas estavam muito envolvidas, e cada uma de nós facilitadoras,
quatro meninos e quatro meninas.
ficou andando pelos grupos auxiliando quaisquer dúvidas que apareciam.
para conversar com os moradores: sair com nome, número e idade dos
A discussão após a atividade também foi muito boa, umas
três crianças apresentaram os seus resultados de “telefone sem fio” e
As crianças se distribuiram nas frentes que propusemos de
As meninas estavam concentradas em construir uma narrativa
“entrevistados”. E os meninos chegaram a escrever a narrativa (post it):
fizemos uma reflexão sobre o que foi bem feito e o que faltou para que a informação inicial conseguisse chegar até o final. Emendamos em como
“Boa tarde. Estamos ba tendo nas portas comunican do sobre a Praça Livre Para As Crianças, nas praças do Elisa Maria…”
ar para “... podemos te cham gente algum evento que a fizer na Praça?”
92
Saímos para a rua em dois grupos.
O primeiro contato foi com uma vizinha, dona de um comércio próximo ao CCA. Os meninos, a princípio, não sabiam muito bem como abordar, leram o texto que escreveram e pediram para a dona contribuir. Ela não entendeu muita coisa e até achou que eles estavam pedindo contribuição em dinheiro… Tive que intervir um pouco e falar para que eles explicassem mais sobre o que estamos fazendo na Praça, o para quê estávamos pedindo ajuda, etc. Ficou um pouco mais claro para a dona, depois disso, mas ela preferiu não passar o telefone.
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O próximo contato foi um vizinho que estava sentado num bar
e que trabalhava como gari - inclusive, ele já tinha contribuído com a revitalização da Praça Clara Nunes, junto com o Projeto Nossa Vila Limpa. Dessa vez, os meninos conseguiram explicar um pouquinho melhor para ele o projeto e o porquê de estarmos pedindo pelo número de telefone. Saíram muito mais satisfeitos com o novo contato e o número de telefone que conseguiram coletar. E foi assim por diante, fomos fazendo por um lado da rua e as meninas pelo o outro. Elas chegaram até a passar na UBS e na escola vizinha. Estavam os dois grupos muito empenhados, tentando contatar o maior número de pessoas possíveis. Subimos também para a rua da Praça, mas o tempo já estava apertado e tivemos que voltar… Ao final, conseguiram juntos 19 números para contato. Para terminar a oficina, cada grupo apresentou como tinha sido sua atividade, foi um momento bem importante para validar e valorizar o que havia sido feito. O grupo boca a boca conseguiu coletar muitos desejos dos moradores para a praça:
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AGATHA
o vão inação as pessoas nã m ilu s ai m m co ) ... “( tas coisa… Jardim, plan sa es , lá da ra er a is co fazer ea areia para brincar, ár de ço pa es , os ed qu in ções, br das [as pessoas] fala bi be de e qu os ui Q . de lazer.. s praças nças brincarem, mai ram. Coisa pras cria cício e aças, aparelho de exer porque tem poucas pr foodtruck.” ção - Elisa Oficina 03 de Constru , al rb ve ão aç rm fo (In Maria, 2019).
Também pude ver os lindos cartazes
que as crianças criaram, e soubemos que o grupo das redes sociais haviam produzido o seu primeiro vídeo para o canal do YouTube, que se chamaria “Praça é Nossa”, evidenciando a sensação de pertencimento construído, ao longo do projeto, entre as crianças e o lugar.
Grupo Redes Sociais: Nomes elencados para as redes: - Praça é show -> 1 voto - Praça de todos - Praça é nossa -> 5 vo tos - Praça livre - Praça sem raça -> 3 vo tos
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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11/11/2019 OFICINA 4: DIVISÃO DAS FRENTES DE TRABALHO Local: Praça Livre Para As Crianças e CCA Elisa Maria Duração: 2h 15min Número de crianças participantes: 20 Alteração no roteiro: Alta, a atividade 1 não foi só uma conversa; não fizemos a atividade 3.
Materiais Necessários cartaz explicativo de cada frente 4 esqueletos de oficinas impressos
Objetivo geral: Dividir as crianças em grupos por temas que têm como assunto as ações que faltam para concluirmos a reforma da praça. Nesses grupos, começar a trabalhar o planejamento com elas, introduzindo os esqueletos de oficinas e buscando criar soluções para as suas vontades.
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ROTEIRO * andar até a Praça (15 minutos)
1. CONVERSA (30 45 minutos)
Objetivo Apresentar às crianças o que foi aprovado e o que
falta ser feito na praça. Criar contato com os pedreiros e construtores e reconhecer o trabalho deles. Descrição da atividade Contar para as crianças o que vai ser feito pela construtora, o que não coube na verba da prefeitura e ainda precisa ser feito. Explicar as quatro frentes (brinquedos, arte e lixo, jardim e comunicação) e o que cada uma vai fazer. Sentar as crianças em roda e pedir para que escrevam o nome e a frente que desejam ficar num papelzinho. Se os grupos ficarem desiguais em número de integrantes, conversar com elas para tentar equilibrar e nenhuma frente ficar sobrecarregada. * voltar para o CCA
3. MONTANDO O CALENDÁRIO COLETIVO (25 minutos)
Objetivo Compartilhar o que foi feito em um calendário Descrição da atividade Cada frente escolhe uma criança para apresentar o que foi feito e quantas oficinas serão necessárias para a sua frente. Criar um calendário grande e, com uma criança de cada frente, ir preenchendo coletivamente com possíveis datas para as oficinas. Cada frente deve ter uma cor e ir colando adesivos coloridos nas datas das oficinas.
2. DIVISÃO DAS FRENTES DE TRABALHO (60 minutos)
Objetivo Cada grupo de trabalho deve começar a articular as ideias do que acham que falta para a finalização da praça e como fazê-lo através de oficinas. Descrição da atividade Nos grupos, as crianças repassam o que precisa ser feito, pensam nas possibilidades (ex: tinta, grafite, mosaico, etc), tentam levantar todos os pontos (tempo, número de oficinas, conteúdo necessário, etc) que elas achem necessários, e olham e preenchem os esqueletos (não precisamos terminar).
4. ENCERRAMENTO: FUNGA ALÁFIA AXÉ, AXÉ (15 minutos)
Objetivo Finalizar a atividade em comunhão. Descrição da atividade Cantar Funga Aláfia Axé, Axé (4x) seguindo a coreografia: mãos que saem da cabeça em direção ao outro (te dedico bons pensamentos), mãos que saem da boca (te ofereço boas palavras), mãos que saem do coração (te ofereço bons sentimentos) e mãos que passam pelos antebraços e se direcionam para o outro (veja, não escondo cartas nas mangas, podes confiar em mim).
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DIÁRIO
Em um primeiro momento, fomos até a Praça, pois muitas crianças
ainda não haviam visto como estava o andamento da obra que havia começado cerca de duas semanas atrás, e precisávamos contar a elas o que estava sendo feito pela prefeitura, e o que restava para ser construído por nós.
Foi um momento muito espontâneo, estavam em êxtase com
a construção! Os meninos que haviam ficado responsáveis pelas redes sociais, logo assumiram a câmera e começaram a filmar as entrevistas com os pedreiros, entre eles, com nós do CoCriança. E quando fomos ver, tinha cerca de quatro grupos de crianças, em cada canto da Praça, fazendo o registro de tudo com os nossos celulares também.
Falavam coisas maravilhosas para a câmera, super orgulhosas com o
processo, defendendo o direito das crianças de brincar e usar a rua, mostrando onde seria a nova arquibancada, o tobogã, o canteiro de plantas, etc. Deixamo-
ALYSSON
“E aqui vai ser aonde vai ser o escorregador... Aqui é onde nós vamos colocar as plantas.” (Diário de Campo, Oficina 04 de Construção - Elisa Maria, 2019).
A oficina na Brasilândia esse dia foi muito especial. Já havíamos
feito a mesma Oficina de Divisão de Frentes de Trabalho na Vila Anglo, na semana anterior, e estávamos indo com a expectativa meio baixa, pois esperávamos talvez sair, de novo, sem alguma coisa mais concreta do planejamento.
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as bem livres, os pedreiros estavam só observando, acredito que bem satisfeitos
acordo com o Marcus, já
com o trabalho que estavam fazendo, e elas pisando em cima de toda a obra,
entendendo o espírito da
pulando de uma mureta a outra, explorando cada novo canto daquela pequena
atividade (post it).
Praça.
Depois, houve um momento de concentração novamente, e a facilitadora
sarmos
tentou passar um pouco sobre as novas frentes de trabalho e as novas
começamos a preencher o
responsabilidades, comentando o que deveria ser feito e pensado, de agora
Esqueleto de Oficinas, que
em diante, por eles. Que eram:
ficou como na foto abaixo
Brinquedos or - escorregad gua - bomba d’á - balanço Arte e Lixo s ra xei - construir li - placas o ic a s mo - massa para ta - spray e tin
Jardim - elaborar canteiro - plantas penduradas - vasos de madeira pared e Comunicação - placas de avisos na pr aça - redes sociais - evento de inauguração da praça - fazer a divulgação de ofi cinas para o bairro
De volta ao CCA, pedimos para que cada um escrevesse em um pedaço
Depois de converum
pouquinho,
Marcus
“eu achei que essa seria a
frente em que eu mais poderia ap render alguma coisa” (Diário de Campo, Ofici na 04 de Construção - Elisa Maria , 2019).
muito bem escrito.
Sinto que, na Brasilândia, além de termos uma praça
de papel qual seria a frente que gostaria de ajudar a organizar, e dividimos
menor, as crianças tiveram mais facilidade para entender a ne-
cada grupo em uma sala. Como ninguém optou pela frente de brinquedos, a
cessidade de se estruturar uma atividade. Mas, também, pela
juntamos com a de arte, que acabou sendo o maior grupo.
quantidade de anos que já viemos trabalhando com elas e pela
escassez de quaquer manifestação do poder público.
O resultado no grupo de Jardim, que acompanhei, foi ótimo. Um casal
de crianças participou muito, mas também dava abertura aos outros dois, que se
manifestavam com menor frequência, mas eram bem instigados por mim. Os quatro
uma canção africana, que foi ótima para o fechamento do dia.
estavam na frente de Jardim porque já haviam plantado alguma coisinha, mas, de
Por último, puxamos uma atividade muito tranquila de
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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25/11/2019 OFICINA 5: DESENVOLVENDO O PLANEJAMENTO: PINTURA Local: CCA Elisa Maria Duração: 2h 20min Número de crianças participantes: 15 Alteração no roteiro: Pouquíssimo, apenas reajuste de perguntas na reflexão.
Materiais Necessários 4 mapas com os pontos: CCA e Praça canetas coloridas flip chart 4 esqueletos de oficinas impressos
Objetivo geral: Praticar com as crianças o planejamento de uma atividade mais curta para que elas se familiarizem com o Esqueleto de Oficinas. Para isso, pensar coletivamente quais são os principais momentos das oficinas, seu funcionamento e necessidades.
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ROTEIRO
1. INTRODUÇÃO: TRAJETO CCA - PRAÇA (40 minutos)
2. EXPLICANDO O ROTEIRO
Objetivo Mapear afetivamente o trajeto entre o CCA e a Praça
(20 minutos)
Livre Para As Crianças com os pontos que julguem importantes. Descrição da atividade Em grupos de até 5 crianças, desenhar o trajeto entre a Praça e o CCA com tudo que eles forem lembrando que existe (casas de gente conhecida, lojinhas, bares, etc): marcar a direção de suas respectivas casas, colocar também memórias mais sensitivas ou comentários. Pode ser através de imagem ou escrito.
Objetivo Pensar coletivamente quais são os principais mo-
3. PLANEJANDO (60 minutos)
Objetivo Praticar o planejamento enquanto criamos a próxima
oficina.
Descrição da atividade Dividir as crianças em 4 frentes de trabalho, que deve planejar uma das seguintes atividades enquanto preenchem os Esqueletos de Oficinas. Lembrar que cada atividade é parte de um todo, de modo que é importante que todas as atividades estejam alinhadas entre si. - introdução: atividade de aquecimento e contextualização do que vai acontecer [30 min] - planejamento: atividade para pensarem coletivamente como será dividido o espaço da parede [30 min] - pintura: terá de pensar na divisão de grupos, ordem de acontecimento das coisas [60 min] - fechamento: atividade que sintetize de alguma forma o que foi feito e que as pessoas falem como se sentiram ao longo do dia [30 min]
mentos de uma oficina, a fim de instruí-los a criar uma única oficina coletivamente. Descrição da atividade Explicar para as crianças como nós fazemos o roteiro de oficinas - como funcionam os tempos, deslocamento. Depois, definir qual grupo ficará responsável por qual atividade da próxima oficina, que será de pintura.
4. REFLEXÃO (20 minutos)
Objetivo Refletir sobre as dificuldades e facilidades de criar uma atividade em grupo. Descrição da atividade Em roda, cada criança escreve no papel às seguintes perguntas cada grupo vai contar como foi fazer o planejamento, guiados pelas seguintes perguntas: - O que eu senti durante a atividade? - Conseguimos chegar no objetivo? - Eu participei ativamente? Por que? - Vocês acharam difícil? - Vocês gostaram dessa atividade? Por que?
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DIÁRIO Nós já havíamos feito essa oficina na Vila Anglo na semana
as etapas da próxima oficina. Sendo assim, o grupo de Comunicação
anterior, então, a preparação foi mais fácil, mas a oficina não teve um
pensou na atividade de aquecimento; o grupo de arte - que era o maior
desenrolar semelhante. As crianças da Brasilândia, além de serem
de todos - foi pensar na logística da pintura; e o grupo de Jardim, que
mais novas e, por isso, um tanto mais dispersas, são ainda o dobro em
ficou comigo, pensou em uma atividade de encerramento.
quantidade, o que deixou as coisas um pouco mais difíceis.
No meu grupo tinha seis crianças, por isso, foi um tanto mais
A atividade dos mapas foi
fácil de criar uma atividade. Fomos
muito bem sucedida. Estávamos em
construindo o fechamento da oficina
quatro grupos e os mapas dos trajetos
que ficou muito bom, com uma pergunta
do CCA até a Praça Livre Para As Crianças
para cada membro do grupo fazer, todos
saíram completamente diferentes uns
estavam
dos outros. Teve grupo que pensou
atenção. Pensaram em fazer primeiro as
muito mais nos detalhes que viam na
perguntas depois puxar dois jogos - pif
rua, outros em cada casinha que ia
paf e coca cola. Conseguimos também
passando, outros se atentaram mais
decidir quem ficaria responsável por
aos cheiros - da coxinha da tia do
explicar cada atividade. Segue como ficou
salgado, do lixo, do coco do cachorro;
o roteiro em trinta minutos de atividade
foi muito interessante observar qual o
(post it rosa):
recorte que cada um decidiu dar para a paisagem local.
Depois, escrevendo no flip chart, fomos conversando e
relembrando como é que funcionam as oficinas que nós fazemos todas as vezes que vamos para lá. Esse foi um momento muito precioso em que as crianças sentaram todas viradas para mim e prestaram atenção, além de irem participando com respostas às perguntas que as facilitadoras faziam.
Divididas nos grupos da oficina anterior (arte, jardim,
comunicação), cada uma foi com uma facilitadora para pensar e organizar
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Ellen “Eu sugiro fazer um desenho assim, ai... tipo fazer, desenhar nossa praça, como que tá lá dentro. Desenhar assim as crianças brincando. Chamar a Cleo e o Joe, os grafiteiros“ (Diário de Campo, Oficina 05 de Construção - Elisa Maria, 2019).
concentrados
e
prestando
Depois de termos isso definido, fizemos uma roda em que cada grupo contou como havia sido a sua experiência em planejar a atividade, e que estavam confiantes para executá-la na semana seguinte.
5 min - perguntas: (Marquinhos explica): - o que vocês acharam de hoje? (Luiz) - o que vocês acharam de fazer/criar uma ati
vidade? (Caique) - o que você sentiu quando estava fazendo a pintura? (Anna) - o que você gostou de fazer? (David) - você achou que teve a cooperação de todos? (Marcus) 15 min - Pif Paf (Anna explica) 10 min - Coca Cola (David explica)
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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OFICINA 6: PINTANDO A PRAÇA !
02/12/2019
Local: CCA Elisa Maria e Praça Livre Para As Crianças Duração: 2h 30min Número de crianças participantes: 20 Alteração no roteiro: Alta, pois não tivemos a presença da grafiteira
Materiais Necessários lápis e papel latas de tinta pincéis bandejas de tinta rolinhos balde de água
Objetivo geral: Pintar a Praça de acordo com o que foi previamente planejado pelos crianças na última oficina e se divertir! Para tanto, oficina é baseado na Esqueleto de Oficinas escrito pelo próprias crianças.
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ROTEIRO
1. INTRODUÇÃO (30 minutos) - Alysson, Henrique, Anderson, João e Wendell¹
Objetivo Lembrar como a Praça era e como ela vai ficar. Descrição da atividade No CCA, fazer as seguintes perguntas para o resto da sala: - o que você achava da Praça antes? - o que você está achando da praça agora? - como você acha que a Praça vai ficar depois que ter minar a reforma? Depois, fazer a dinâmica em que as pessoas desenhem a Praça como querem que ela fique. E, por último, fazer filmagens, fotos e entrevistas.
3. PINTANDO
2. PLANEJANDO A PINTURA (20 minutos) - Tiffany, Gabriel, Maria Clara, Julia, Edgar, Denise, Renata, Evelin e Agatha² Objetivo Validar o que será pintado na parede. Descrição da atividade Explicar o que havia sido pensado para ser pintado na parede, mostrando os desenhos que foram feitos na última oficina. Perguntar sobre outras ideias e, junto com a grafiteira, tentar fazer um esqueleto coletivo do que de fato vai ser pintado lá. (Especificar aspectos como a diversidade das crianças representadas na pintura - isto foi feito na oficina 07 seguinte).
4. CONVERSA
melhor se organizar com as crianças e se tem alguma coisa que elas já possam ir pintando. Dividir as crianças em 4 grupos. Dois grupos estariam pintando, um grupo escrevendo as regras da praça que serão pintadas no muro; e o último grupo estaria detalhando o que mais poderia estar no muro. Caso a gente encontre madeiras para fazer placas, um ou mais grupos (dependendo de quantas crianças e quantas madeiras houverem) podem ir pintando placas estimulando o cuidado com a praça e avisando que “o trabalho está em andamento”.
(30 15 minutos) - Luiz, Caique, Anna, David, Marcus, Mary e Wagner¹ Objetivo Brincar e conversar. Descrição da atividade O primeiro momento da atividade será uma roda de conversa, onde serão feitas as seguintes perguntas: - o que vocês acharam de hoje? (Luiz) - o que vocês acharam de fazer uma atividade? (Caique) - o que você sentiu quando estava fazendo a pintura? (Anna) - o que você gostou de fazer? (David) - você achou que teve a cooperação de todos? (Marcus) Depois, jogar 15 minutos de Pif-Paf e quem explica é a Anna, e 5 minutos de Coco Cola, quem explica é o David.
1 O conteúdo escrito dessa atividade foi extraído do Esqueleto de Oficinas escrito pelo grupo de crianças na oficina anterior e reescrito segundo minha interpretação. Tentei deixar o mais fiel possível ao original.
2 Este grupo acabou não preenchendo o Esqueleto, o planejamento foi decidido oralmente.
(60 minutos) - Tiffany, Gabriel, Maria Clara, Julia, Edgar, Denise, Renata, Evelin e Agatha
Objetivo Pintar e se divertir ! Descrição da atividade Ver com a grafiteira como ela acha
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DIÁRIO
Essa oficina foi um tanto caótica. Chegamos um pouco atrasadas
A primeira atividade foi conduzida pelo grupo só de meninos.
com as tintas no carro, e essa seria a primeira vez que estaríamos
Eles são ótimos quando conseguem focar e fazer, - o que é difícil nessa
efetivamente fazendo a construção da praça junto com as crianças.
idade - são muito interessados e articulados Eles souberam puxar a oficina
Antes, ainda estávamos muito na teoria desse dia que viria, planejando
muito bem: explicaram, controlaram o tempo, e fizeram o fechamento
como seria, a fim de que as coisas saíssem menos bagunçadas dentro do
da atividade. Foi bem
possível. Mas, como sempre, não há muito controle sobre trinta crianças
curta,
livres em uma praça, ansiosas para pegar o pincel e sair pintando. Por
vinte minutos, pois já
isso, na medida da bagunça, a oficina foi um sucesso!
havíamos perdido muito
Outro fato que nos desestruturou um pouco, principalmente às
tempo tentando decidir
crianças que haviam planejado a atividade, foi que a grafiteira do bairro
o que faríamos sem a
não pode comparecer à oficina, e nos avisou quando já eram 14h30. Por
grafiteira.
isso, tivemos que rapidamente pensar em qual seria nosso plano B para a oficina do dia. As meninas do grupo foram ótimas. Elas “tomaram as rédeas” da sala e, enquanto o primeiro grupo fazia a primeira atividade, foram com uma das facilitadoras para o carro e para a Praça deixar as tintas preparadas. Decidimos, então, em conjunto, que o melhor seria apenas pintarmos a base da parede para depois vir o grafite.
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de
apenas
Anderson
“A gente vai en tregar um pape l pra vocês, pra você s desenha a pr a ça. Como vocês qu erem que ela fi ca.”
(Diário de Cam
po, Oficina 06 de Construção - Elisa Mar ia, 2019).
Depois, quando já eram cerca de 15h15, partimos para a Praça.
Lá, ainda ficamos na dúvida de como deveríamos prosseguir, pois além da parede, pensamos que seria uma boa ideia pintar as placas de avisos - essa ideia partiu das meninas. Ficou um tanto caótico, porque todo mundo queria opinar e não conseguimos tomar decisões; faltava suporte para os rolos, água, e algumas crianças foram buscar um cabo mais longo para conseguirem usar de extensão para o rolo e pintar a parte mais alta do muro.
Nesse momento, eu sai com mais quatro meninos para comprar
o suporte dos rolos e, quando voltei, a cor escolhida para a base da parede foi o azul. Depois de abrirmos a lata de tinta, em menos de vinte minutos a parede estava pronta! Teve ainda um momento bem importante, em que a Agatha pegou o rolo da mão de um dos meninos
AG
ATHA “E não é pra fi car brincando, porque tem gen não sabe, não te que tem maturida de pra pintar u de... fica tacan ma paredo tinta no ou tro, fica pintan Isso não é brin do o outro. cadeira não, en tão, pinta direi isso é pra vocês to. Que mesmos, não é pras tias. Que vão vir lá dos elas não cafundó dos Ju das pra pintar é vocês mesmos isso aqui . Então, vocês têm que valori zar e fazer direito.” (Diário de Cam
po, Oficina 06
de Construção - Elisa Maria, 2019).
que estava brincando e falou (post it): Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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No final, já estava no limite da hora do
lanche deles e tivemos que ir mandando pequenos grupos para o CCA pra já ir lavando as mãos e o material de pintura. Enquanto isso, as quatro meninas ficaram na Praça finalizando o recado escrito na parede: “Reservado para Graffite - CCA”.
Deitamos as placas pintadas de amarelo no
chão da sala de aula para secar e o último grupo fez a atividade de fechamento que eles haviam preparado e cada criança foi escrevendo a resposta numa folha de papel. No final, por falta de tempo, ficamos só nas perguntas sem os jogos preparados.
Esse fechamento foi ótimo,
nos trouxe o silêncio e concentração de volta e pudemos encerrar o dia muito satisfeitas com as crianças e com o resultado que tivemos.
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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14/12/2019 OFICINA 7: CONSTRUINDO COM A COMUNIDADE I Local: Praça Livre Para As Crianças Duração: 4h Número de crianças participantes: 10 Alteração no roteiro: Média. As atividades não tiveram uma ordem para acontecer, elas ocorreram simultaneamente. Materiais Necessários lápis e papel flip chart e canetões luvas de borracha sacos de lixo sprays de grafite latas de tinta pincéis bandejas de tinta rolinhos balde de água
Objetivo geral: Fazer uma conversa coletiva que integre as crianças do CCA e adultos do bairro a fim de problematizar a discussão sobre o descarte de lixo na Praça, a ocupação pelos usuários de drogas e a vontade de se construir uma praça que todos possam participar. Além disso, iremos limpá-la coletivamente e fazer o grafite que as crianças planejaram.
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ROTEIRO 1. PREPARAÇÃO Objetivo Organizar a praça para receber as pessoas com comidas e bebidas. Descrição da atividade Levar alguns bancos e mesas, e disponibilizar um lanche para que seja consumido em comunidade. Itens importantes para esta preparação: pão, mussarela, 3 galões de água 5L, bolo, pão de queijo, faca, toalha de mesa, copos eco CoCri, cadeiras e mesa.
2. RODA DE CONVERSA Objetivo Saber o que pensam os moradores do bairro sobre
a praça, ouvir os seus desejos para o lugar e discutir sobre as possíveis soluções que encontram para os seus desafios. Descrição da atividade Em roda, trazer algumas perguntas que instiguem a discussão. - O que você pensa da praça hoje? - Quais são os desafios da praça pra vocês? - Como podemos solucionar esses desafios ? - Podemos tirar algum responsável por algo? A partir das ideias, elaborar um plano de ação, tentando colocar alguns responsáveis pelas funções.
3. RECOLHENDO O LIXO Objetivo Aumentar o senso de comunidade ao fazer a limpeza conjunta da Praça.
Descrição da atividade Levar sacos de lixo e luvas de borracha para executar a limpeza da praça. Entretanto, esta etapa não foi muito bem planejada, pois também desejávamos criar uma atividade lúdica com as crianças para a coleta do lixo, o que acabou não acontecendo.
4. PINTANDO Objetivo Fazer o grafite da Praça e continuar a pintura. Descrição da atividade As crianças vão contar para o grafiteiro qual é o desenho que elas desejam. Depois, vamos ver com ele, como ele acha melhor se organizar com as crianças e se tem alguma coisa que elas já possam ir pintando. Além disso, vamos escrever as “ideias da praça”, terminar as placas e pintar a parede da escalada com as crianças que não estiverem engajadas com o grafite.
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DIÁRIO
Neste dia em especial, eu estava insegura. Essa seria a primeira
vez que estaríamos fazendo uma oficina neste formato: completamente aberto e dedicado à comunidade, pois apenas a festa do ano passado que havia sido um momento de compartilhar. Além disso, por motivos de agenda do final de ano, o CCA havia cancelado a oficina de segunda, dia 09, e estávamos apostando que as crianças poderiam vir por conta própria - já que era um sábado - e ainda que teriam distribuído os panfletos que preparamos aos vizinhos, a fim de convidá-los a participar da atividade de sábado. Havíamos planejado distribuir os panfletos ao longo da semana junto delas, mas, devido à chuva torrencial que caiu durante a semana toda, não conseguimos realizar essa atividade, que ficou, então, sob responsabilidade da educadora da turma, a Sandra.
Outro problema aconteceu antes dessa oficina: a grafiteira
desmarcou conosco mais uma vez um dia antes. Ou seja, tivemos que ir atrás de outro grafiteiro em menos de 24 horas. Mas, conseguimos. Combinamos às 10h na Praça. Eu e o novo grafiteiro chegamos e fomos organizando as coisas: mesa, lanche, bancos, latas de tintas, etc. Logo. chegou a Sandra com mais meninas - Ellen, Mary, Ágata, Julia e Tiffany. Foi muito gratificante ver que conseguiram e quiseram vir! Os usuários de drogas também estavam na Praça quando chegamos, e, como sempre, pedimos para que nos dessem licença para fazer a atividade com as crianças, e eles, muito educadamente, começaram a retirar seus “pertences” e limpar um pouco o espaço.
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Em seguida chegou o resto da equipe CoCriança e alguns
vizinhos começaram a se aproximar. Ainda não eram muitos, então sai com as crianças para chamar alguns e os que foram chegando foram chamando outros. No final, estávamos com cerca de uns dez adultos interessados em arrumar, construir e limpar a Praça conosco, sendo um deles o Anderson, nosso antigo amigo do trailer, que acabou se mudando com o passar dos anos.
Enquanto ouvíamos o que os vizinhos tinham para nos contar,
o grafiteiro foi conversando com as crianças e fazendo o desenho no papel, que logo viraria o nosso mural na parede. Elas queriam que ele fizesse crianças brincando na Praça, mas que fossem diversas, ou seja, que tivessem cegas, cadeirantes e, principalmente, meninas negras! Enquanto uma das facilitadoras ia conversando com os vizinhos que foram dando várias ideias do que poderia ser feito na Praça afim de ocupá-la, fui auxiliando as crianças e o grafiteiro na pintura da parede. Elas pintaram mais uma parede, de preto dessa vez, onde escreveram “Nossas Ideias”, que elencaram como:
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
ça limpa - manter a pra plantas - cuidar das dos - respeitar a to - não urinar brinquedos - preservar os imal zes do seu an - coletar as fe - divirta-se
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Do lado, pretendem colocar uma caixinha de giz, onde deixarão
espaço para “Suas Ideias”, em que os usuários da Praça possam escrever seus desejos para o lugar.
Além desse novo mural, novas crianças da vizinhança se
aproximaram para ajudar e pintaram um pouco do grafite já que o grafiteiro havia terminado o contorno. Um dos vizinhos, o Severino, nos ajudou muito trazendo mais pincéis, cabo de rolo de tinta e água. Fizemos também um grande mutirão de limpeza esse dia. Compramos luvas e fomos recolhendo todo o lixo da Praça e colocando em sacos plásticos. Teve outro momento muito significativo que o caminhão de lixo passou e retirou todo o lixo que costuma ficar acumulado em um dos postes que tem na calçada. Um dos planos dos vizinhos para o próximo mutirão é a construção de vasos de pneu, a fim de atribuir outro aspecto para aquele lugar “viciado”.
Algumas outras ideias que surgiram da conversa com os vizinhos
foram: - colocar plantas
- varrer todos os dias - organizar encontros - pneus com plantas - colocar câmera
- brinquedoteca
- academia
- estacionamento - coleta seletiva (contatar cooperativa) - organizar uma agenda cultural
- conversar com os usuários de drogas - ceia de natal com usuários de drogas
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Teve um momento em que estava pintando e um dos vizinhos
veio se despedir de mim, dizendo “ó, sábado que vem, 10h, estou aqui. Vamos fazer os pneus. Sábado que vem, 10h”.
Quando já estávamos próximos das 14h, ninguém mais tinha
forças pra nada. Alguns vizinhos ainda estavam por lá, mas era visível o cansaço das crianças que estavam sentadas. Então, resolvemos parar, pois, apesar do lanche - que foi um sucesso, não sobrou nada estávamos todos com fome de almoço. Organizamos as coisas e fomos embora, extremamente satisfeitas com o resultado do dia.
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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OFICINA 8: PLANTANDO!
16/12/2019
Local: Praça Livre Para As Crianças Duração: 4h Número de crianças participantes: 15 Alteração no roteiro: Altíssimo. Atividades 1 e 2 ocorreram simultaneamente, a última atividade não aconteceu e a oficina tomou 1h30 a mais do que o planejado. Materiais Necessários saco de composto ferramentas: pá, enxada, cavadeira articulada, picareta pás de jardim mudas de planta
Objetivo geral: Vivenciar o processo de plantio como forma de interlocução com a paisagem urbana, contribuindo para a apropriação desta ferramenta de construção.
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ROTEIRO 1. FALANDO SOBRE PLANTIO
3. CARTA PARA DAQUI A UM ANO
(20 minutos)
(40 minutos)
Objetivo Passar para as crianças alguns conceitos básicos so-
Objetivo Escrever uma carta reflexiva sobre o que foi este ano de atividades com o CoCriança na Praça Livre Para As Crianças e o CCA. Descrição da atividade Começar fechando todos os seus olhos e relembrando os fatos do mais recente para o mais distante, quais foram as atividades que fizemos ao longo do ano - cada pessoa que for lembrando, vai falando em ordem aleatória. Depois, individualmente elas vão escrever uma carta para elas mesmas lerem daqui a um ano. Nós, CoCriança, vamos ficar responsáveis por enviar esta carta para elas - ou por Whatsapp, ou por correio mesmo. Vamos pedir para que elas escrevam pautadas nas seguintes perguntas: - o que você diria para você mesma daqui a um ano? contar para vocês mesmas como foi o processo de construção da praça - escrever o que aprenderam neste período - como vocês imaginam que a praça vai estar daqui a um ano? - como vocês se imaginam usando a praça? - o que vocês esperam estar fazendo daqui a um ano?
bre como plantar.
Descrição da atividade Explicar a importância de um solo com terra e composto, os usos das ferramentas, quais plantas temos para usar e como se dá o processo de plantio. Qual o melhor lugar para se colocar as plantas que toleram ou não mais sol.
2. PLANTANDO! (60 240 minutos)
Objetivo Que as crianças vivenciem o processo de plantio, coloquem a mão na terra e se divirtam. Descrição da atividade Primeiro, vamos dispor cada muda de planta no lugar em que, coletivamente, achemos melhor para ficarem. Depois, organicamente, as crianças vão pegando as ferramentas e plantando a sua muda. Um outro grupo que tiver interesse, pode acompanhar a instalação das agarras de escalada na parede.
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DIÁRIO
Essa oficina foi bem atípica também! Apesar do roteiro, muita
Damasceno para pegar algumas ferramentas emprestadas - pá, enxada
coisa não saiu como planejado. Estávamos com cerca de 15 crianças, já
e cavadeira articulada. Conversamos um pouquinho com as crianças e
que estávamos no final do ano e, portanto, seria nossa última oficina.
fomos para a Praça.
Havíamos planejado fazer uma atividade de encerramento, como na Vila
Anglo, com as crianças escrevendo uma carta para daqui a um ano, mas
monte de lixo no chão, os usuários de drogas no mesmo lugar e o ponto
não tivemos tempo para isso. Acredito que um dos motivos dela ter sido
viciado próximo ao poste cheio de lixo de novo. Conversamos e pedimos
tão “espontânea”, tenha sido pela urgência que tínhamos em plantar as
para que dessem licença e, enquanto eles saiam, alguns vizinhos se
mudas doadas, pois a terra havia chegado havia uma semana, e só nesse
aproximaram.
pequeno espaço de tempo estava compactada e bem suja de urina e
outros resíduos. Por isso, também não conseguimos fazer uma atividade
um pouco do porquê precisávamos revirar a terra. Assim, usar a enxada
de planejamento antes com as crianças.
passou a ser uma das coisas mais divertidas de se fazer. O nosso amigo
Severino apareceu também e nos ajudou muito com água, vassoura, pá
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Chegamos ao CCA, depois de passar no Espaço Cultural Jardim
Quando chegamos, foi um tanto frustrante nos deparar com um
Comecei ensinando às crianças como usar as ferramentas e falei
e uma picareta que facilitou demais a escavação.
Logo chegou o carro
que estava com todas as mudas de plantas e fomos descarregando.
Havíamos
conseguido de doação:
- 1 Pitangueira ndras - Cerca de 20 Calia de Barba- Entre 50 mudas -de-serpente de Gra- Entre 100 mudas ma-amendoim
Renata
“A gente tá ajudando o tio a fazer a escalada. Ajudar a colocar os parafusos pra ele não demorar muito pra colocar, pra fazer.” (Diário de Campo, Oficina 08 de Construção - Elisa Maria, 2019).
Foi divertido explicar como seria o tamanho do
buraco para colocar a Caliandra, ou qual a distância entre uma muda e outra, quanto de composto que deveríamos acrescentar dentro do buraco… Tudo isso foi repetido por mim em pequenos grupos de crianças que se auto-dividiram: a maioria dos meninos ficou no patamar de baixo da praça, e a maioria das meninas nos canteiros próximos à escada. Também teve outro grupo que se juntou para cavar o maior buraco, onde plantamos a Pitangueira.
Na verdade, antes de começarmos a oficina, ainda
no CCA, perguntei para as crianças quem é que já tinha Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
plantado alguma vez na vida. A maioria respondeu que
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não, ou que “só o feijãozinho no algodão”. Por isso, foi muito transformador observar que, no decorrer da oficina, todas estavam plantando como se fizessem isso já há um bom tempo, carregando um enorme sorriso no rosto e gargalhando alto!
Outra atividade que aconteceu no
decorrer da oficina, além da limpeza da Praça, foi a instalação das agarras de escalada. Um dia antes da oficina, decidimos que seria bem mais divertido se as agarras fossem instaladas na presença das crianças. Por isso, teve outro grupo que ficou com o homem que estava executando o serviço de instalação.
Infelizmente, nosso tempo começou a
acabar, e ainda faltava bastante coisa a ser feita. Por isso, a educadora sugeriu ir para o CCA para, depois, aquelas que tivessem avisado seus pais, pudessem retornar para continuar plantando. Voltaram cerca de seis crianças ainda muito dispostas!
) - E você, o que “(homem escalada da? você acha da escala ho que é muito (Henrique) - Eu ac divertir um bom pras criança se o tempo delas com pouco, e nao perder m diferente!” pouca coisa. É... é be truOficina 08 de Cons (Diário de Campo, ). 19 20 ção - Elisa Maria,
Começamos a arrumar as coisas para ir embora um pouco antes das
18h. A praça estava com outro aspecto, era outro ambiente. Com a ajuda do Severino, elas puderam aguar um pouco as plantas e guardar as mudinhas que sobraram na casa dele. Ao final, tiramos uma fotos com aqueles que sobraram, e as crianças saíram correndo para estrear a parede de escalada.
120
JULIA
“Gente, olha o resultado: aqui ó, essas plantas ficou bem bonitinho. Aí ali tá ficando a escalada. (...) Aqui tem essas plantas. Aqui tem essas plantas também, que a gente plantou bastante planta.” (Diário de Campo, Oficina 08 de Construção - Elisa Maria, 2019).
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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21/12/2019 OFICINA 9: CONSTRUINDO COM A COMUNIDADE II Local: Praça Livre Para As Crianças Duração: 4h Número de crianças participantes: 7 Alteração no roteiro: Esta oficina não teve um roteiro escrito antes de acontecer, apenas um planejamento oral das facilitadoras. Materiais Necessários pneus velhos luvas de borracha sacos de lixo sprays de grafite latas de tinta pincéis bandejas de tinta rolinhos balde de água mudas de plantas
Objetivo geral: Limpar coletivamente a praça e fazer os vasos de pneus para ocupar o espaço de ponto viciado de lixo, além disso, envolver os usuários de drogas do espaço para nos ajudar com o grafite da praça.
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ROTEIRO 1. PREPARAÇÃO
- PINTANDO
Objetivo Organizar a praça para receber as pessoas com co-
Objetivo Pintar a parede do fundo da praça e os pneus para
midas e bebidas.
os vasos.
Descrição da atividade Levar alguns bancos e mesas, e dis-
Descrição da atividade Conversar com um dos usuários de
ponibilizar um lanche para que seja consumido em comunidade. Itens importantes para esta preparação: pão, mussarela, 3 galões de água 5L, bolo, pão de queijo, faca, toalha de mesa, copos eco CoCri, cadeiras e mesa.
drogas da praça que sabe grafitar, e pedir para que ele escreva na parede ao fundo: “Praça Livre Para As Crianças”, como elas mesmas haviam planejado. Enquanto isso acontece, as crianças vão pintando os pneus que foram doados pelos vizinhos, e que irão se transformar nos novos vasos da Praça que vão enfeitar o poste de energia da calçada, onde as pessoas costumam jogar o lixo.
- RECOLHENDO O LIXO Objetivo Aumentar o senso de comunidade ao fazer a limpeza conjunta da Praça.
Descrição da atividade Outra ação que deve acontecer nesse dia, como de costume, é a limpeza da Praça. Levar sacos de lixo e luvas de borracha e, a fim de envolver os vizinhos, pedir pás e vassouras emprestadas.
123
DIÁRIO
Esse dia não sairia como havíamos
planejado: um dia antes da oficina acontecer, conversei com a Sandra, educadora, que me disse que nenhuma das crianças do CCA poderia comparecer à oficina. Isto porque, na segunda feira, quando algumas delas voltaram para continuar plantando com nós na Praça, uma delas pediu para a responsável do CCA avisar a mãe que estaria conosco, sob responsabilidade do próprio CCA. Porém, a mãe dela ligou para o CCA no dia seguinte alegando que sua filha havia retornado para casa às 23h dizendo que estava conosco. Enfim, a diretora do CCA não permitiu mais que as crianças fossem para a Praça fora do horário de aula, pois não poderiam mais alegar que elas estariam sob sua responsabilidade. E nós ficamos sem crianças que pudessem estar
presentes na nossa última oficina do ano,
garrafas de água, flip chart, latas de tinta e pincéis, um vaso de Espada de São Jorge - que seria plantado
que aconteceu durante um sábado, pois
-, e mais algumas outras coisas pequenas. Eu estava nervosa desta vez, tinha medo que os adultos não
iriam, mais uma vez, construir junto com
aparecessem para fazer os vasos conosco, que o grafiteiro do bairro também não fosse, os vizinhos
os vizinhos.
estivessem viajando e que não tivéssemos nenhuma criança para participar da oficina.
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Um de nossos carros levou um monte de coisas: saco de composto, seis banquinhos, mesa,
Esse medo permaneceu ainda ao longo de uma hora, enquanto
duas de nós do CoCriança saíram para chamar alguns vizinhos, fui ao mercado próximo da praça para comprar o lanche - pão, mussarela, panetone e pão de queijo. Quando estava passando pelo caixa ouvi um “Dea!”, era o Wagner, uma das crianças do projeto, que estava com seu primo, o Caique. Foi ótimo, porque ele veio para a Praça ajudar e durante um tempo, também saiu atrás de alguns que moram por perto, mas sem sucesso. Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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Até mais ou menos 11h30 ficamos só nós, organizando as coisas e
recolhendo o lixo com os usuários de drogas - que já tinham deixado a Praça de ponta cabeça em apenas cinco dias. Nesse tempo, alguns dos poucos vizinhos que haviam se comprometido foram aparecendo, a Noemia - liderança comunitária do Jardim Damasceno - também veio com suas duas netinhas, o vizinho Severino e algumas crianças do entorno também apareceram.
Uma das usuárias de drogas, ficou lá conosco conversando até quase
13h, e ‘o Osmir que é grafiteiro também. Um dos vizinhos já havia falado com ele sobre pintar a Praça com a gente, então, quando apareceu, fui conversar com ele a fim de decidirmos onde e como seria o seu grafite. Para tanto, tivemos que passar primeiro uma demão de tinta branca, que o Wagner, o Caique e, principalmente, o Severino ajudaram muito! Enquanto isso o Osmir ia treinando em outro muro como é que faria a tipografia que escreveria “Praça Livre Para As Crianças”, ele mesmo já sabia o nome. Só que, quando deu umas 13h e tanto, ele saiu para buscar uma régua e não voltou mais… Então, quando terminamos a oficina, ficamos só com a parede em branco, pronta para o seu grafite. Paralelo a isso, as crianças que apareceram foram pintando os pneus que conseguimos de doação para montar os nossos vasos. Buscamos também mais dois sacos de terra no terreno dos vizinhos, e misturamos a isso o composto que trouxemos.
Nesse dia, entretanto, o caminhão de lixo só foi passar perto das 14h
para recolher todo o resíduo que fica acumulado próximo ao poste, onde iríamos colocar os vasos de pneu. Quando eles retiraram tudo, as crianças
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“atacaram” o poste com tinta, foi uma lambança que acabou se espalhando para o chão! Elas se divertiram muito.
Depois, montamos os vasos de pneus, colocamos tábuas de
madeira - que encontramos descartadas na rua - na base dos vasos, adicionamos entulhos até o segundo pneu de altura, no terceiro pneu colocamos a terra e, por fim, plantamos: três Agaves e uma Espada de São Jorge. Como havia sobrado Grama Amendoim e Barba de Serpente da última oficina, adicionamos algumas aos vasos e o máximo que pudemos aos canteiros da Praça.
Eram quase 16h, quando conseguimos terminar de arrumar tudo.
E, no final, acabamos construindo tudo com as crianças de novo, porém, as da vizinhança. Adicionamos, também, algumas placas pedindo para não jogarem lixo na base do poste, e fomos embora, exaustas e famintas, mas muito satisfeitas com o nosso trabalho.
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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VILA ANGLO BRASILEIRA PERDIZES
Imagem 33: Em vermelho - Localização geoespacial do Distrito de Perdizes no Município de São Paulo (Fonte: Google Maps e CoCriança).
17/10/2019 OFICINA 1: COMO INFORMAR A COMUNIDADE? Local: CCA Sal da Terra Duração: 2h 20min Número de crianças participantes: 14 Alteração no roteiro: Adaptação da última atividade Materiais Necessários caixinha de som papéis A6 caneta cartazes flip com sentimentos adesivos brancos adesivos coloridos
ROTEIRO 1. COREOGRAFIA DE NOMES (25 minutos)
Objetivo Integrar as crianças e as novas facilitadoras CoCriança, aquecendo também o corpo. Descrição da atividade Primeiro, em uma roda grande, cada um fala o seu nome e faz um movimento que te represente. Em seguida, todos da roda repetem os movimentos de cada um para memorizar. Depois, divididos em grupos menores, os participantes devem criar uma coreografia em conjunto que integre todos os movimentos dos integrantes. Ao final, cada grupo vai apresentar sua coreografia duas vezes, sendo a primeira falando os nomes, e a segunda sem falar os nomes e com uma música de fundo.
2. RODA DE CONVERSA (15 minutos)
Objetivo Atualizar as crianças sobre o processo de reforma da
Objetivo geral: Apresentar as novas facilitadoras do CoCriança e contar para as crianças o desenrolar da reforma da Praça. Após isso, pensar nas próximas ações necessárias e bolar alternativas para contar aos moradores do bairro sobre a reforma, a fim de convidá-los a participar das futuras oficinas de construção.
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praça e refletir sobre os próximos passos. Descrição da atividade Em roda, conversar com as crianças perguntando como estão após as férias e se passaram na Praça, contar o que foi feito até agora, sobre a festa de inauguração, fase de licitação - explicar como funciona -, falar sobre novas responsabilidades e como será essa etapa de oficinas, pois eles vão começar a criar as atividades.
3. COMO INFORMAR A COMUNIDADE - 4X4X4 (30 minutos)
Objetivo Chuva de ideias para chegar em quatro principais! Descrição da atividade Dividir as crianças em 4 subgrupos com no mínimo 4 integrantes cada. Nesse primeiro momento, cada uma delas deve pensar sozinha em 4 atividades para chamar a comunidade para ajudar na construção e colaboração da praça. É importante deixar claro que elas precisam fazer essas propostas sozinhas, sem a ajuda de outros amigos. Depois, dividir cada subgrupo em 2 duplas. Cada criança explica para a outra da dupla sobre as atividades que pensou e, juntas, elas escolhem 4 atividades que consideram mais efetivas para o objetivo. Ao final, os quartetos são formados novamente e cada um escolhe as 4 melhores ideias entre todas do seu grupo. Essas serão as propostas que eles vão colocar em prática
5. ENCERRAMENTO: “CUIDANDO DO SENTIR (20 minutos) DO GRUPO” Objetivo Expandir o repertório de sentimentos das crianças e
contribuir para sua identificação. Descrição da atividade Vamos levar um painel no qual vão estar descritos diversos sentimentos associados a cores. Em um primeiro momento, vamos ler cada um deles e entender o seu significado. Depois, cada criança vai receber adesivos em branco e elas devem pensar individualmente sobre como se sentiram durante as atividades desenvolvidas durante a oficina. Quando conseguirem identificar esses sentimentos, cada uma delas coloca um três adesivos coloridos em cima do branco com a respectiva cor escrevendo o nome ao lado, e cola no painel. A ideia é que, ao final da atividade, vamos conseguir visualizar como o grupo todo reagiu às atividades propostas. Essas serão as propostas que eles vão colocar em prática.
4. LEVANTAMENTO DE RECURSOS (40 minutos)
Objetivo Viabilizar as propostas a fim de convidar os moradores do bairro para contribuir na reforma da praça. Descrição da atividade Cada criança escolhe uma das 4 ideias que seu grupo elencou para ficar responsável. Ter um momento para cada quarteto falar as suas ideias, e as crianças responsáveis por cada atividade se agrupam novamente por semelhança de assunto.
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DIÁRIO
* cartazes (aparece 13 vezes)
crianças se desligaram do CCA nesse meio tempo. Mas as
- de inauguração da praça poder - colocar papel ao lado do cartaz para ar - saber o que as pessoas poderiam ajud ão - colar nas escolas da região e no port
que continuaram, estavam muito felizes em nos rever! Que
do CCA
Voltamos ao CCA Sal da Terra. Ficamos cerca de
três meses sem passar por lá e, infelizmente, algumas
saudades!
A princípio, na verdade, acho que o calor estava
desanimando a todos um pouco. Iniciamos o aquecimento com uma atividade de nomes, pois estávamos com três facilitadoras novas. A dinâmica envolvia um pouco de coreografia, e as crianças, mesmo não tão animadas a princípio, fizeram tudo direitinho e tivemos resultados divertidos.
Depois, sentamos em roda para conversar, relembrar
o que havíamos feito no semestre anterior, o que aconteceu nesse meio tempo de licitação de obra e qual era o novo resultado; algumas crianças já tinham passado pela Praça e visto o começo da reforma. O resultado, a confirmação da obra, as deixou mais animadas! E, nesse momento, também passamos pela conversa de responsabilidades para as próximas oficinas, pois elas que irão elaborar o que os colegas terão de fazer em cada atividade. No 4x4x4 as crianças foram bem dedicadas, sentaram em silêncio e pensaram em ótimas ideias - acho que elas se animaram com a concretização da reforma:
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* entregar folhetos nas casas (aparece 9 vezes) - colocar o projeto
* internet (apareceu 4 vezes)
* encontro/evento na praça para falar com pessoas (apareceu 3 vezes)
- pedir a ajuda de moradores “especia listas” - comidas, bebidas, dança, música, atividades, etc - inauguração da praça
* sair comunicando sobre o evento da
- postar no Facebook vezes) - página no Instagram (apareceu 2 s) - usar redes sociais (apareceu 6 veze vezes) - publicar fotos e vídeos (apareceu 4 - publicar projeto da praça
* falar na TV
praça (apareceu 3 vezes)
- falar para família e amigos
Após as ideias serem apresentadas, nós, facilitadoras, pensamos em três
agrupamentos que surgiram: Redes Sociais, Cartazes e Eventos. As crianças se dividiram por grupos de interesse e começamos a escrever nos cartazes o que seria necessário para cada uma dessas frentes. Essa etapa ainda foi um pouco confusa, pois é a primeira vez que lidam com planejamento de uma ação, então, os olhares sempre recorriam a nós, buscando aprovação e questionamentos sobre o que escrever. Minhas respostas, normalmente vinham sempre com perguntas: “o que a gente precisa para fazer um evento?”, “o que atrai pessoas para um evento?”, ou “quem teria uma caixa de som? como conseguimos obtê-la?”. A seguir, o que foi escrito por elas:
Eventos:
Cartazes:
ias, folhetos para am - Cartazes nas ru , ando para reuniões gos da escola cham aça inauguração da pr da rmações ter em ca - Pensar que info a desenho ou algum cartaz e se vai ter foto plo , dia 24: ter exem - Reunião quinta de cartazes
- Feira Cultural: Iremos falar sobre o projeto, apresentar as meninas da USP, faz er os cartazes antes de sábado - Quinta Feira, dia 24: Dividir o que cada um tem que fazer, o que cada um vai fala r - Evento de Ajuda: depois que a obra estiver pronta. Música (quem chamar), Som (do no do som?), Apresentação (qual?), Comida (paren tes, senhoras do MAVA) - Evento de Inauguração: depois que tudo estiver pronto - final de semana
Por fim, depois que cada
grupo apresentou seu plano de ação, fizemos uma atividade de avaliação. Dessa vez, trouxemos escritos cerca de trinta sentimentos nos cartazes e pedimos para que eles colocassem adesivos que correspondesse ao que sentiram durante o dia de oficina. Essa atividade foi muito bem sucedida. Aumentar o repertório das crianças buscando nomear o que passa dentro delas está sendo muito importante. Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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24/10/2019 OFICINA 2: CONSTRUINDO A COMUNICAÇÃO
ROTEIRO 1. TELEFONE SEM FIO (45 minutos)
Local: CCA Sal da Terra Duração: 2h 15min Número de crianças participantes: 14 Alteração no roteiro: Atividade 3 foi incompleta e não fizemos a atividade 4.
Materiais Necessários papéis A6 lápis, borrachas e canetas papéis diversos, cartolinas sala de informática
Objetivo geral: Dar continuidade ao que foi planejado na oficina anterior, a fim de incentivar as crianças a protagonizarem na divulgação do projeto que estão construindo, como convite para o envolvimento do resto da comunidade.
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Objetivo Refletir com as crianças sobre a importância de estabelecer uma boa comunicação e saber passar o intencionado.
Descrição da atividade Dividir em quatro grupos com uma facilitadora e cerca de cinco crianças cada um. Cada criança recebe o número de folhas A5 correspondente ao número de integrantes do grupo. A facilitadora fala no ouvido de cada criança uma frase relacionada à praça, e elas têm de desenhar a frase na folha de papel. Depois de 5 minutos, o montinho de papel na mão de cada uma gira para o lado, e a próxima criança interpreta o desenho que recebeu, passá-lo para trás do montinho, e escreve o que entendeu do desenho. Elas têm mais 5 minutos para o mesmo procedimento e o montinho é passado para o lado novamente. Dessa vez, elas recebem uma frase, que tenham que ler e fazem um desenho que corresponda à frase recebida. E assim por diante, até o montinho de folhas retornar à primeira criança. Quando retornar, cada criança apresenta o resultado do que lhes foi retornado. Ao final da atividade, fazer uma breve reflexão, sobre a importância de se saber transmitir uma mensagem que contenha a sua intenção.
2. DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃO
3. APRESENTAÇÕES E CONCLUSÕES
(50 80 minutos)
(15 minutos)
Objetivo Colocar em prática as ideias obtidas na última ofici-
Objetivo Compartilhar com todos o que foi feito e os encami-
na, desenvolvendo as estratégias ação. Descrição da atividade Primeiro, relembrar o que fizemos na última oficina, quais ideias de divulgação apareceram e que grupos de trabalho havíamos montado. Depois, explicar que a ideia é desenvolver ainda mais essas estratégias de comunicação, tentando obter alguns produtos para já serem apresentados na feira cultural, no sábado. Discutir o que eles acham legal de apresentar na feira cultural e tentar organizar a atividade com base nas prioridades que eles colocarem. Repassar as ações de cada frente de trabalho (eventos, redes sociais e cartazes), não necessariamente precisamos repetir os grupos da última oficina. Abrir para que todos deem sugestões dos cartazes a serem produzidos. Eventos: - Feira Cultural: pensar na apresentação - Evento de Divulgação Redes Sociais: - “Jornalzinho da PDS” (Praça do Samba): Instagram, Facebook e Youtube - Decidir e estruturar quais vão ser as primeiras posta gens (quais vídeos e quais fotos) Cartazes: - Pensar e fazer os cartazes de divulgação do projeto na feira cultural do CCA. - Realizar panfletos para serem distribuídos para a família e os amigos.
nhamentos para os próximos dias. Descrição da atividade Em roda, cada grupo apresenta o que fez e conta como o que foi feito pode ser desenvolvido dali pra frente. Depois da apresentação de cada frente, abre-se para perguntas e sugestões do grupo todo, de modo a validar as propostas. Expôr todos os materiais gráficos produzidos e pensar conjuntamente onde colocar cada um.
4. ENCERRAMENTO (15 minutos)
Objetivo Finalizar a oficina com um momento de comunhão. Descrição da atividade Sentar em roda e fazer um exercício de respiração. De olhos fechados, relembrar o que eles sentiram no fim da outra oficina e no fim dessa. Refletir se alguma coisa mudou. Fazer uma rodada onde cada um fala um sentimento ou palavra que defina o que está sentindo. Desafio: não repetir nenhum. Fim da oficina.
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DIÁRIO
Essa oficina não estava no nosso
cronograma. Ela surgiu como demanda da Oficina “Como Chamar a Comunidade?”, pois percebemos que seria melhor se estivéssemos com as crianças para a construção de tudo aquilo que havíamos elaborado na semana anterior. Além do que, ficamos sabendo que elas teriam uma Feira Cultural de apresentações do CCA e, construir com elas uma apresentação para os familiares de todo o trabalho que estamos fazendo, seria de extrema importância. Ou seja, esta oficina seria para colocarmos em ações tudo que havíamos elaborado na semana anterior.
A primeira atividade foi bem divertida!
Nesse dia, elas voltaram a se familiarizar com a gente, e a dinâmica do Telefone Sem Fio com desenho foi tão divertida que queriam jogar de novo! Nesse momento, trabalhamos com elas a importância de se passar uma boa mensagem, de colocar no papel aquilo que se quer que seja entendido, pois seria isso o que iríamos fazer no resto do dia.
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Distribuídas nas suas frentes de interesse
- Redes Sociais, Cartazes e Eventos - começaram as ações: o grupo de Redes Sociais, na sala de Informática, criou o Instagram da praça, o Facebook e o canal do Youtube; o grupo dos Eventos pensou em como seria a apresentação para a Feira Cultural, foi para a sala de informática escolher as fotos, e conversou com a equipe de Cartazes quais seriam as necessidades para o sábado de Feira Cultural; e, por sua vez, o grupo de Cartazes elaborou todos os cartazes que eles vão colocar no CCA para apresentar aos familiares no final de semana. Inclusive teve um grupo que se auto organizou e foi comigo para a Praça gravar o primeiro vídeo, completamente elaborado por elas mesmas, para poderem postar nas redes. Nesse ponto vamos contribuir apenas com a edição.
Nós havíamos até pensado em uma
dinâmica de encerramento, mas não tivemos tempo. O processo foi super orgânico e todas as crianças participaram e contribuíram com ideias para a divulgação. Elas saíram da atividade tão animadas, que tiveram algumas que até falaram
BIANCA, ANA E STEFANI
(Bianca) - E é isso, gente! Se inscrevam no canal. (Ana) - Deixem o seu like. (Ste) - Se vocês quiserem deixar alguma coisa nos comentários sobre o que vocês querem pra melhorar a praça, o que vocês querem saber é só deixar aqui em baixo que a gente responde.
(Diário de Campo, Oficina 02 de Construção - Vila Anglo, 2019).
em produzir mais coisas em casa. Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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06/11/2019 OFICINA 3: DIVISÃO DAS FRENTES DE TRABALHO
ROTEIRO
Local: Praça do Samba Duração: 2h 15min Número de crianças participantes: 9 Alteração no roteiro: Muito alta, atividades 2 e 4 foram adaptadas e não fizemos atividade 5
1. IDA À PRAÇA: CONDUÇÃO
Materiais Necessários 15 vendas de olhos cartaz explicativo de cada frente 4 esqueletos de oficinas impressos calendário dos meses de novembro e dezembro
Objetivo geral: Dividir as crianças em grupos por temas que têm como assunto as ações que faltam para concluirmos a reforma da praça. Nesses grupos, começar a trabalhar o planejamento com elas, introduzindo os esqueletos de oficinas e buscando criar soluções para as suas vontades.
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* Antes de sairmos para a Praça, passar o vídeo produzido por elas na última oficina.
(15 30 minutos)
Objetivo Sensibilizar as crianças através dos outros sentidos, que não a visão, em relação ao caminho do CCA até a praça. Trabalhar o cuidado e a confiança com o outro. Descrição da atividade Caminhar em duplas até a Praça sendo que uma delas deve estar vendada e a outra conduzindo. No meio do trajeto, elas devem alternar. Chegando à praça, fazer uma roda e conversar sobre o que sentiram no percurso. “O que você sentiu durante o percurso quando conduzido e quando condutor? Como foi confiar no outro, foi fácil? Você teve medo? Você reparou em coisas novas durante o percurso? Cheiros, sons, calor, frio.. Você achou o percurso mais longo ou curto?”
2. CONVERSA
3. DIVISÃO DAS FRENTES DE TRABALHO
(45 minutos)
(45 minutos)
Objetivo Apresentar às crianças o que foi aprovado e cons-
Objetivo Cada grupo de trabalho deve começar a articular as ideias do que acham que falta para a finalização da praça e, então, como fazê-lo através de oficinas. Descrição da atividade Nos grupos, repassar com as crianças o que precisa ser feito, pensar nas possibilidades (ex: tinta, grafite, mosaico, etc), tentar levantar todos os pontos (tempo, número de oficinas, conteúdo necessário, etc) que elas achem necessários, e olhar e preencher os esqueletos.
truído, e o que falta ser feito para finalizar o projeto da Praça, retomando as frentes de trabalho. Descrição da atividade Dar uma volta na Praça e ir mostrando às crianças o que está sendo feito, atualizá-las sobre como vai ficar e o que ainda falta ser feito, pois não coube na verba da Prefeitura. Depois, sentar em roda e explicar o que são as quatro frentes (brinquedos, arte, jardim e comunicação), em que eles serão divididos para começar a planejar as próximas oficinas de construção. Por último, pedir a eles que escrevam seu nome e a frente que deseja atuar em um papel. falem em nossos ouvidos qual a frente que gostariam de atuar.
4. MONTANDO O CALENDÁRIO COLETIVO (15 minutos)
Objetivo Compartilhar o que foi feito em um calendário. Descrição da atividade Cada frente escolhe uma criança para apresentar o que foi feito e quantas oficinas serão necessárias para a sua frente. Criar um calendário grandão e, com uma criança de cada frente, ir preenchendo coletivamente com possíveis datas para as oficinas. Cada frente terá uma cor e vai colar adesivos coloridos nas datas das oficinas.
5. ENCERRAMENTO: FUNGA ALÁFIA AXÉ, AXÉ (15 minutos)
Objetivo Finalizar a atividade em comunhão. Descrição da atividade Cantar Funga Aláfia Axé, Axé (4x) seguindo a coreografia: mãos que saem da cabeça em direção ao outro (te dedico bons pensamentos), mãos que saem da boca (te ofereço boas palavras), mãos que saem do coração (te ofereço bons sentimentos) e mãos que passam pelos antebraços e se direcionam para o outro (veja, não escondo cartas nas mangas, podes confiar em mim).
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DIÁRIO
A primeira atividade era de percepção do
percurso do CCA até a Praça do Samba. As crianças, em duplas, uma guiou a outra que estava com um pano tampando os olhos. Foi engraçado ver o quanto elas se divertiram no trajeto, mas, ao mesmo tempo, foi bem difícil que elas mantivessem a concentração
Brinquedos
(Angelina, Otávio, João, Cássio e Laysa) - tocos de escalada - balanços - caminho da floresta
focada ou o silêncio. Por isso, acho que a atividade não conseguir surtir tanto o efeito que gostaríamos: que elas conseguissem prestar atenção aos outros sentidos durante o trajeto. Mas, mesmo assim, a conversa que tivemos ao sentar em roda na Praça, teve um tanto de contribuição delas. Conseguimos passar por todos os pontos necessários.
A segunda atividade foi uma conversa.
Primeiro, perguntamos o que elas perceberam que
Arte
(Bianca, Ana, Stefanie e
Gabi) - mosaico no espelho das escadas - pintar as escadas - pintar bancos
havia mudado na Praça, já com a reforma quase no fim. Sem nem mesmo precisarmos caminhar ao redor, elas já foram apontando tudo, acho que já deviam ter visto
A Oficina na Vila Anglo foi bem fora
das minhas expectativas! Cheguei um tanto atrasada, então as outras facilitadoras já haviam passado o primeiro vídeo do Youtube que as próprias crianças produziram na nossa oficina anterior de Construção da Comunicação.
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antes. Depois, tentamos explicar mais uma vez como é que funcionariam as oficinas daqui em diante: que elas mesmas seriam responsáveis por criar e conduzir as atividades. Tiveram alguns olhares de dúvidas, eu achei, e elas também não estavam muito animadas... Mas seguimos explicando cada frente de trabalho que dividimos:
Comunicação
(Wesley, Vinícius e Ra quel) - placas de informes na praça - alimentar redes sociais - evento de inauguração da praça - fazer a divulgação de oficinas para o bairro
Jardim
- horta - composteira - desnível: pedras, terra e plantas
Pedimos para que elas contassem na nossa
orelha qual seria a frente escolhida, e, como ninguém escolheu Jardim, o juntamos com o grupo de Arte.
Essa parte, senti um pouco de dificuldade
nossa como facilitadora mesmo em direcionar o que deveria ser ou não pensado. Primeiro, no grupo em que estava, houve
Inviável. Tivemos que repensar como seria essa estrutura.
uma chuva de ideias de onde iríamos pintar, como, com o que - elas
pensaram em bastante coisas. Mas foi difícil de trazê-las para um plano
minutos que nos sobraram - em que cada grupo contou rapidamente o
real, principalmente no que dizia respeito à contabilização do tempo. Isso,
que havia pensado e tentamos conversar com eles sobre o calendário.
porque, depois fomos pensar, essas crianças nunca tiveram experiência
Mas também foi algo que passamos muito rápido, já que percebemos
em planejar qualquer tipo de atividade ou, ainda, só tiveram contato com
que o resultado da atividade anterior não foi o esperado.
Ainda teve um momento - que no final foram apenas dez
esse tipo de oficina com nós mesmas! Ou seja, não tinham referências o suficiente.
Por isso, tentamos estruturar melhor através do Esqueleto
conversa de avaliação da oficina e resolvemos reestruturar: a
de Oficinas que elaboramos, mas ainda assim, ficou algo vago, mas,
próxima atividade deveria ter um planejamento menor, quem sabe
especialmente, muito grande para elas fazerem: “quantas oficinas a gente
só uma atividade dentro de uma oficina mais extensa. As crianças,
precisa para pintar os bancos? umas três?”. E assim, o meu grupo, saiu
definitivamente, precisavam ainda se familiarizar mais, tanto com o
com quase 11 oficinas para concluir as atividades que estavam planejando.
Esqueleto, quanto com o planejamento em si.
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
Saímos, então, as cinco facilitadoras para a nossa típica
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14/11/2019 OFICINA 4: DESENVOLVENDO O PLANEJAMENTO: COMUNICAÇÃO Local: CCA Sal da Terra e Bairro Duração: 2h 15min Número de crianças participantes: 20 Alteração no roteiro: Baixa, só adaptação na atividade 3. Materiais Necessários 2 mapas com os pontos: CCA e Praça canetas coloridas 2 esqueletos de oficinas impressos 2 câmeras
Objetivo geral: Praticar com as crianças o planejamento de uma atividade mais curta para que elas se familiarizem com o Esqueleto de Oficinas. Esta atividade será de entrevista com os moradores do bairro, a fim de abrir um primeiro canal de comunicação entre eles.
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ROTEIRO 1. INTRODUÇÃO: TRAJETO CCA - PRAÇA
3. REFLEXÃO
(20 minutos)
(20 minutos)
Objetivo Mapear afetivamente o trajeto entre o CCA e a Pra-
Objetivo Refletir sobre o processo, a fim de analisar a importância de planejar e quais as diferenças entre ela e a prática. Descrição da atividade Em roda, pedir para as crianças responderem em um papel, individualmente, às seguintes perguntas: O que eu senti durante a atividade? Conseguimos chegar ao objetivo? Eu participei ativamente? Por que?. Em seguida, vamos refletir com elas sobre as dificuldades de planejar o que foi executado no momento do boca-a-boca.
ça do Samba com os pontos que julguem importantes. Descrição da atividade Em grupos de até 5 crianças, desenhar o trajeto entre a Praça e o CCA com tudo que eles forem lembrando que existe (casas de gente conhecida, lojinhas, bares, etc): marcar a direção de suas respectivas casas, colocar também memórias mais sensitivas ou comentários. Pode ser através de imagem ou escrito.
2. PLANEJANDO E EXECUTANDO O BOCA(90 minutos) A-BOCA Objetivo Praticar o planejamento de atividade simples e experienciar a comunicação interpessoal ao sair na rua para falar com os vizinhos. Descrição da atividade Divididas em 2 grupos de trabalho, preencher os esqueletos de oficinas a fim de planejar a interlocução com os moradores do bairro, lembrando de passar pelos seguintes pontos: - quem fica responsável pelo trajeto - quem fica responsável pelo tempo - quem filma - quem anota - quem conduz a entrevista Depois, sair pelo trajeto elaborado e pedir para conversar com as pessoas dos lugares que considerarem mais importantes, até acabar o tempo planejado por elas também.
- Alguém já tinha feito algo do tipo antes? - Foi importante ter passado pelos pontos do esqueleto? - O esqueleto ajudou? - Foi importante ter uma pessoa responsável por cada atividade? - O que foi planejado saiu como o esperado? - Como foi ter que administrar o tempo? - Algum desafio inesperado apareceu? - Como foi lidar com o desafio? Foi superado? Como?
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DIÁRIO
Como havíamos refletido na oficina anterior,
dessa vez, pensamos em uma atividade que fosse menor para que as crianças pudessem praticar o planejamento e se familiarizar com o Esqueleto de Oficinas.
Por isso, a primeira atividade foi bem tranquila.
Também, não havia muitas crianças esse dia, e pudemos dividí-las em dois grupos. Cada um recebeu uma folha A3 com o CCA em um canto e a Praça no outro, e pedimos para que elas fossem escrevendo e desenhando tudo o que lembrassem que existisse no trajeto. Eu não esperava que fossem sair mapas tão empenhados! Elas lembraram de cada detalhe e os resultados foram bem diferentes: em um mapa foram lembradas as pessoas do trajeto, no outro os detalhes.
Observação: - Do Sal da Terra até a Praça é mais movimentado - Muitas casas - Muitos cachorros - À noite dá medo de andar na rua - A rua Mundo Novo é muito escura e deserta.
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Essa atividade foi muito bem sucedida! O grupo das meninas
terminou de preencher o Esqueleto com muito mais agilidade - estavam bem menos dispersas que o outro grupo -, por isso, as chamei para a sala de informática, onde publicamos o primeiro vídeo no canal do Youtube. Esse foi o tempo do outro grupo se preparar e saímos.
Eu fiquei com o grupo das meninas e o Otávio, que ficou
responsável por cuidar do tempo, enquanto elas fariam as entrevistas. Por isso, fiquei responsável pela filmagem, já que o grupo tinha uma pessoa a menos que o outro. O desenvolvimento das entrevistas foi bem parecido com os do Elisa Maria, as crianças foram melhorando a cada entrevista que passava. Na primeira, elas sentiram que a entrevistada não estava dando tanta importância ao que estavam falando; já nas
Depois disso, seguimos com a segunda atividade, em que eu
expliquei como eles fariam para organizar o “Boca-a-Boca” para contar para os moradores do bairro sobre a reforma. Nessa hora, foi muito legal, que antes mesmo de eu terminar a explicação, as meninas já foram falando que teriam que criar perguntas, fazer uma entrevista e que gostariam de gravar para postar em seus canais de Youtube. Realmente, parece que elas estão entendendo muito bem o espírito da coisa! Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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próximas, conseguiram convidar os entrevistados para participar das atividades de mutirão e explicar que o projeto de construção era delas mesmas.
O tempo que tivemos de saída foram de 35 minutos, o que
acabou ficando um tanto apertado para conseguir mais de cinco entrevistas. Voltamos para o CCA e fizemos a discussão da atividade, que foi a melhor de todas as conversas que já tivemos com eles. Nesse momento, o grupo de facilitadoras improvisou, e usamos muito do que aprendemos no Germinar para engajá-los na discussão. Senti que todos tiveram seu lugar de fala respeitado e se sentiram acolhidos. Primeiro, pedimos para que eles escrevessem as seguintes reflexões no papel, que tiveram algumas dessas respostas:
Eu participei ativamente
? Por que?
ivo?
Conseguimos chegar ao objet
“Eu consegui gravar as entrevistas e a gente ntas como: você “Sim, fizemos outras pergu conseguiu os números de telefone e divulgamos quer ajudar?” o nosso Instagram e Yo os entrevistar, utube” “Sim, chegamos, conseguim “Sim, porque eu tinha qu ” e falar o tempo e eu conseguimos alguns números falei.” conta que eu “Na minha opinião não, por “Sim, participei ativam ente, fiquei ao lado da trevistado mais queria ter conseguido ter en apresentadora, e ajudand o a relembrar as coipessoas” sas.” seguimos falar “Só algumas coisas, não con “Não, pois gostaria de ter me expressado mais e com muitas pessoas.” ter ajudado.”
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Como exemplificado acima, as respostas foram muito
enriquecedoras para a discussão. Pudemos, inclusive, ter um momento de feedback muito positivo, em que uma das facilitadoras agiu muito bem ao tornar uma possível situação de conflito em apenas um retorno baseado no sentimento que um deles estava tendo em relação às meninas que, para ele, não responderam seu trabalho: falar as horas.
Para além da discussão de sentimentos, que é algo que
estamos tentando desenvolver desde o começo com esse grupo de crianças na Vila Anglo, o entendimento de como foi importante dividir tarefas, cuidar do tempo e experienciar uma atividade previamente planejada, atingiu o nosso objetivo!
O que eu senti durante
a atividade?
- “Eu achei algo bem inter essante, porque foi algo diferente que a gente não costuma fazer sempre, então eu go stei bastante” - “Na primeira entrevista eu senti vergonha, mas depois fui fic ando de boa.” - “Primeiro eu senti medo, mas depois meus amigos foram ajudando a entrevistar”
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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28/11/2019 OFICINA 5: DESENVOLVENDO O PLANEJAMENTO: PINTURA Local: CCA Sal da Terra Duração: 2H Número de crianças participantes: 10 Alteração no roteiro: Nenhuma
Materiais Necessários cartaz com comportamento frio cartaz com comportamento quente flip chart 2 esqueletos de oficinas impresso
Objetivo geral: Praticar com as crianças o planejamento de uma atividade mais curta para que elas se familiarizem com o Esqueleto de Oficinas. Para isso, pensar coletivamente quais são os principais momentos das oficinas, seu funcionamento e necessidades. Fazer, também, algumas atividades que aproximem mais as crianças da autoavaliação para a percepção de sentimentos.
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ROTEIRO
1. COMPORTAMENTOS QUENTES E FRIOS¹ (30 minutos)
Objetivo Ajudar as crianças a fazerem uma autoavaliação de
qual o tipo de comportamento que costumam ter em uma situação de conflitos - quente ou frio. Descrição da atividade Primeiro, ler todos juntos os dois cartazes com os comportamentos frios e com os comportamentos quentes, localizados um em cada extremo da sala. Depois, explicar que definem, no extremo, como cada um tende a se comportar em uma situação de conflito, e que, cada um, deverá andar pela sala enquanto reflete sobre as situações de conflito em que já passou na vida e quais foram os comportamentos que teve. Feita a reflexão, pedir para que se posicionem o mais próximo do cartaz que julga ser a sua maneira de agir, como se fosse um termômetro, sendo o meio da sala “neutro”. Haverá um momento para que os participantes fazem convites para os colegas experimentarem estar em outro lugar que julgue ser mais pertinente ao comportamento do outro. Em seguida, quentes e frios fazem pequenos grupos, sem mistura entre si e escrevem nos flip charts os recados que querem dar para o outro grupo.
1 Esta atividade foi adaptada do Programa Germinar: Desenvolvimento de Facilitadores, uma iniciativa da Associação ComViver e EcoSocial.
2. EXPLICANDO O ROTEIRO
4. INTRODUÇÃO E PRÁTICA DO FEEDBACK
(15 minutos)
(15 minutos)
Objetivo Pensar coletivamente quais são os principais mo-
Objetivo Aprender o que é um feedback, como dá-lo a outra
mentos de uma oficina, a fim de instruí-los a criar uma única oficina coletivamente. Descrição da atividade Explicar para as crianças como nós fazemos o roteiro de oficinas - como funcionam os tempos, deslocamento. Depois, definir qual grupo ficará responsável por qual atividade da próxima oficina, que será de pintura.
3. PLANEJANDO (15 minutos) Objetivo Praticar o planejamento enquanto criamos a próxima oficina. Descrição da atividade Dividir as crianças em 4 frentes de trabalho, que deve planejar uma das seguintes atividades enquanto preenchem os Esqueletos de Oficinas. Lembrar que cada atividade é parte de um todo, de modo que é importante que todas as atividades estejam alinhadas entre si. - introdução: atividade de aquecimento e contextualização do que vai acontecer [30 min] - planejamento: atividade para pensarem coletivamente como será dividido o espaço da parede [30 min] - pintura: terá de pensar na divisão de grupos, ordem de acontecimento das coisas [60 min] - fechamento: atividade que sintetize de alguma forma o que foi feito e que as pessoas falem como se sentiram ao longo do dia [30 min]
pessoa e como recebê-lo. Praticar o feedback nos pequenos grupos de planejamento Descrição da atividade Com uma folha grande explicar a teoria do feedback, salientando seus impactos, o caráter construtivo do “presente” que é recebê-lo de outra pessoa, e que ele só pode ser feito com base na ação de uma pessoa que causou um sentimento em você. Sentadas numa grande roda, cada criança deve dar um feedback com verdade e amor para um colega.
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DIÁRIO
Esta oficina foi reformulada muitas vezes
antes de acontecer. Isto, porque, no começo da semana, havíamos feito também uma oficina de planejamento de pintura no Elisa Maria, e entendemos a importância de trazê-la para a Vila Anglo. Porém, com base na última oficina da Vila Anglo, pudemos perceber o alto desempenho na elaboração de atividades das crianças, que planejaram muito bem, resultando em uma ótima roda de discussões.
Mas ainda precisávamos trabalhar um
pouco mais o “sentir” deste grupo de jovens e, principalmente, o “como dar feedbacks” uns aos outros, a fim de fomentar as discussões e aproximálos da importância de cuidar da Praça. Para tanto, usamos como base algumas das
“(Dea) - E ai, o que que vai acontecer, de é... Nessa parte aqui, que é a ativida relacionada à praça? (Cauã) - A gente vai pintar a praça. oé (Dea) - Só que precisa de pensar com que vai ser feito isso, né... (Cauã) - Organização?” strução -
(Diário de Campo, Oficina 05 de Con Vila Anglo, 2019).
atividades que havíamos aprendido no curso Germinar.
A primeira foi uma atividade de movimento, em que colocamos em
cada extremidade da sala de aula um cartaz com algumas das características de posicionamento de pessoas que agem de forma “fria” e de forma “quente” em conflitos (como na foto). Fomos fazendo perguntas reflexivas, pedindo para que se enxergassem em situações nas quais se depararam em um conflito e qual foi a forma que conscientemente agiram. Foi muito boa essa atividade, pois convidamos a Mari, educadora, a participar e ela esteve muito presente.
Por fim, descrevemos tudo no roteiro: tempo, materiais,
importância, divisão de grupos e responsabilidades. Teve um momento em que eu perguntei “pronto, posso deixar tudo com vocês? Vocês conseguem fazer sozinhos? Eu não vou fazer nada, hem!”. Eles responderam que sim e, em seguida, a outra facilitadora complementou “viram só? Isso é autonomia! Porque, quando a Dea diz que quem vai fazer tudo sozinho são vocês, ela está dando autonomia para vocês”. Imediatamente a expressão no rosto deles mudou! Lembro do Wesley abrir um grande sorriso e exclamar “que legal!”. Em seguida, a Gabi que estava escrevendo, pegou a caneta vermelha e circulou bem forte no esqueleto o pilar da “autonomia” que trabalhamos, e que eles tinham deixado passar, já que antes disso, não lhes fazia sentido.
amor e fa(Dea) - E se eu dou um feedback com ? lando a verdade para a outra pessoa (Layza) - Causa felicidade! tá o que aqui? (Dea) - Felicidade né? A pessoa ela Ela tá recebendo um... presente né? ra pessoa a (Gabi) - Ela está insentivando a out melhorar! ivo que você (Dea) Isso, exatamente! É um insent dá pra ela. strução - Vila Anglo,
(Diário de Campo, Oficina 05 de Con 2019).
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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LAYZA “(Layza) - Eu fiquei triste, quando a Gabi falou que não ficaria bonito pintar o negócio de malhar. (Yu) - Boa. É um ótimo feedback.” strução
(Diário de Campo, Oficina 05 de Con - Vila Anglo, 2019).
Preenchidos os esqueletos, voltamos para a lousa onde eu
expliquei um pouquinho, por meio de exemplos, qual a importância do feedback. Como fazemos para falar para o outro o que sentimos em relação a uma ação que ele fez. Ou seja, que sempre falamos um sentimento (meu) em relação a uma ação (de alguém).
Então, sentamos em roda no chão, e eu iniciei a nossa rodada
de feedback. Disse que havia ficado muito feliz quando a Angelina disse que traria um monte de material para a oficina seguinte e que consequentemente, participou ativamente da elaboração do roteiro.
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Em seguida, ela me trouxe um feedback muito positivo de volta também. E eles começaram a se expressar muito bem, inclusive a Mari, que estava fazendo um grande esforço para não colocar a impressão do sentimento dela sobre algum deles. Primeiro, fizemos de maneira espontânea e depois fomos passando para que cada um da roda fosse falando um. Lembro principalmente do Wesley falando “eu me senti distraído quando a [não me lembro quem] ficou me cutucando com a caneta”. Excelente!
MARI
“Eu quero falar de novo: eu me senti muito feliz, porque eu lembro quando tudo começou , essa história da praça é, lembro como que cada um fazia as coisas... foram entrando crianças, foram sai ndo crianças. E tá tudo sendo construido com muito esforço de vocês todos, de vocês todas, e tá ficando tud o muito legal, gente, sério. Obrigada por cês terem ficado com as crianças e brigada vocês [crianças] também, cês tão se esforçando muito.” (Diário de Campo, Oficina 05 de Con 2019).
strução - Vila Anglo,
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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OFICINA 6: PINTANDO A PRAÇA!
05/12/2019
Local: Praça do Samba Duração: 2h 30min Número de crianças participantes: 9 Alteração no roteiro: Alta, a última atividade não teve tempo para acontecer
Materiais Necessários latas de tinta pincéis bandejas de tinta rolinhos balde de água
Objetivo geral: Pintar a Praça de acordo com o que foi previamente planejado pelas crianças na última oficina e se divertir! Para tanto, esta oficina é baseada no Esqueleto de Oficinas escrito pelas próprias crianças.
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ROTEIRO 1. TRAJETO E BRINCANDO COM AS CORES (45 minutos) - João, Otávio, Stefani, Bianca, Ana Beatriz, Cássio¹ Objetivo Observar o ambiente e aquecer. Descrição da atividade Enquanto andamos para a Praça do Samba, João explica que todos devem ir reparando nas cores que aparecem no caminho. Depois, já na Praça, Stefani, Bianca e Ana delimitam um espaço para um jogo onde um ou dois pegadores ficam no meio e, de costas, falam alto o nome de uma cor. Os participantes devem passar de um lado para o outro da Praça pulando numa perna só. Apenas quem tiver no corpo a cor que foi dita pode passar andando normal. O objetivo é passar de um lado para o outro sem ser pego. Os que forem pegos, na próxima rodada, viram pegador.
3. CONVERSA (30 minutos) - João, Otávio, Stefani, Bianca, Ana Beatriz, Cássio¹ Objetivo Refletir sobre a pintura. Descrição da atividade Sentar em roda e o João e o Otávio conduzem a conversa sobre a pintura passando pelas seguintes perguntas: - você gostou de pintar? - quais foram os pontos positivos e os pontos negativos? - você sabe o que o outro fez? - o que poderia ter sido feito diferente? - você sabe porquê fez? - ficou bonito?
2. PINTANDO! (60 90 minutos) - Layza, Angelina, Gabriela S., Wesley, Vinícius, Gabriela G.¹ Objetivo Pintar e se divertir! Descrição da atividade Primeiro, dividir em três dois grupos com dois representantes de facilitadores em cada. Um grupo pinta o banco em formato de minhoca, outro os bancos perto da quadra, e o último, os em formato de lua. A criança facilitadora anota as ideias dos colegas enquanto eles criam coletivamente o que será pintado em cada banca. Com a ideia pronta, pintar! 1 O conteúdo escrito dessa atividade foi extraído do Esqueleto de Oficinas escrito pelo grupo de crianças na oficina anterior e reescrito segundo minha interpretação. Tentei deixar o mais fiel possível ao original.
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DIÁRIO
Chegamos esse dia e as crianças estavam muito animadas para
pintar. A Angelina logo veio me contando que trouxe o que tínhamos combinado: comprou com seu tio a bandeja para tinta. Tentamos dar uma organizada nos grupos, relembramos o roteiro e dividimos quem falaria o que de acordo com quem estava presente no dia.
Na hora de sair para a Praça, o João fez a introdução da atividade.
Parecia bem tímido, pois seu olhar e fala estavam baixos. Tentamos incentivar que explicasse, e as instruções foram: “no caminho para a Praça, vão reparando nas cores que aparecem”. Achei uma ideia bem bacana, já que o resto do dia seria com tintas.
Na Praça, foram as meninas - Stefani, Bianca e Ana - que
explicaram a primeira atividade que funcionava como um elefantinho colorido. Foi bem improvisado o jeito que elas explicaram, mas, entre eles, todos se entenderam e conseguiram jogar. Claro, ainda tiveram algumas dúvidas quando começaram, mas, em geral, funcionou muito bem como aquecimento de uma atividade que mexeria com pintura.
Tivemos que encurtar um pouco esse primeiro momento, pois já
estávamos atrasados com o horário, e tinha muita nuvem no céu, indicando que uma chuva bem pesada viria. Então, depois que a Layza e Angelina explicaram o que haviam pensado para a pintura, fomos todos buscar as tintas no carro. Houve um rápido replanejamento que tivemos que fazer em relação a quais bancos pintar, pois a ideia inicial do grupo era pintar três
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bancos, mas com apenas nove crianças, optamos por pintar só dois.
Outra mudança em relação ao roteiro foi o formato como os grupos
foram divididos. A ideia era fazer por números tendo ao menos uma dupla que planejou a atividade como responsável. Mas ao invés, eles se dividiram rapidamente por afinidade, ficando as meninas Gabi, Bianca, Ana e Stefani juntas com o banco menor e os outros com o banco maior.
Durante a pintura deu tudo certo, todos participaram, pois havia pincel
e rolo suficiente, e não houveram discussões. O grupo maior pintou só a base dos bancos, e as meninas conseguiram terminar o que planejaram. Quando estávamos terminando, tivemos que dar uma corrida pois a chuva parecia se aproximar cada vez mais. Então, todo mundo ajudou a levar um pouco de volta para o CCA, mas, não puderam ajudar a lavar as coisas, pois a chuva começara e já era horário de lanche.
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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OFICINA 7: REFLEXÃO
12/12/2019
Local: Praça do Samba e CCA Sal da Terra Duração: 2h 30min Número de crianças participantes: 9 Alteração no roteiro: Nenhuma
Materiais Necessários latas de tinta pincéis bandejas de tinta balde de água 10 envelopes 10 sulfites A4 canetas
Objetivo geral: Terminar de pintar os bancos da Praça, finalizar a oficina anterior com a reflexão planejada pelas crianças e fazer um encerramento retrospectivo e de despedida para até o ano que vem.
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ROTEIRO 1. FINALIZAR OS BANCOS
3. CARTA PARA DAQUI A UM ANO
(80 minutos)
(40 minutos)
Objetivo Terminar a pintura dos bancos. Descrição da atividade Encontrar as crianças já na praça, e
Objetivo Escrever uma carta reflexiva sobre o que foi este
(30 minutos) - João, Otávio, Stefani, Bianca, Ana Beatriz, Cássio¹ Objetivo Refletir sobre a pintura. Descrição da atividade Sentar em roda e o João e o Otávio Cássio conduzem a conversa sobre a pintura passando pelas seguintes perguntas: - você gostou de pintar? - quais foram os pontos positivos e os pontos negativos? - você sabe o que o outro fez? - o que poderia ter sido feito diferente? - você sabe porquê fez? - ficou bonito?
ano de atividades com o CoCriança no CCA. Descrição da atividade Começar fechando todos os seus olhos e relembrando os fatos do mais recente para o mais distante, quais foram as atividades que fizemos ao longo do ano - cada pessoa que for lembrando, vai falando em ordem aleatória. Depois, individualmente escrever uma carta para si mesmo ler daqui a um ano. Nós, CoCriança, nos responsabilizamos de enviar esta carta para as crianças - ou por Whatsapp, ou por correio mesmo. Pedir para que escrevam pautadas nas seguintes perguntas: - o que você diria para você mesma daqui a um ano? - contar para vocês mesmas como foi o processo de construção da praça - escrever o que aprenderam neste período - como vocês imaginam que a praça vai estar daqui a um ano? - como vocês se imaginam usando a praça? - o que vocês esperam estar fazendo daqui a um ano?
1 O conteúdo escrito dessa atividade foi extraído do Esqueleto de Oficinas escrito pelo grupo de crianças na oficina anterior e reescrito segundo minha interpretação. Tentei deixar o mais fiel possível ao original.
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cada uma termina de pintar um banco que faltou da semana anterior, podendo usar da sua livre criação.
2. CONVERSA
DIÁRIO
Este dia estávamos muito animadas para terminar os bancos da
Terminados os bancos, tiramos fotos e voltamos para o CCA.
Praça com as crianças e fazer o encerramento do ano. Na Praça, como
Ficamos na quadra externa e as crianças manifestavam estar desanimadas,
havia nove crianças, funcionou muito bem, pois tinha um banco para
sentadas todas apoiadas na parede. Começamos puxando uma roda de
que cada uma pintasse individualmente. Como já haviam feito a base
conversa, que foi rapidamente entregue ao João e ao Cássio, dois dos
da pintura na oficina anterior, era só finalizar por cima. A maioria delas
meninos que estavam co-organizando a atividade de encerramento. Eles
começou a pintar imediatamente fazendo linhas, bolas, triângulos ou só
timidamente foram fazendo as perguntas que haviam planejado.
mesmo jogando tinta, mas, conforme o desenho foi criando forma, o resultado não correspondia com o que estava na cabeça delas, e foi difícil lidar com as manifestações de frustração. Uma das meninas começou a chorar, de tão decepcionada que estava; outra decidiu abandonar o desenho… Nós auxiliamos da forma que conseguimos, ensinamos técnicas, ajudamos a pensar em novas soluções. Teve outro grupo que agiu de forma oposta, jogou um monte de tinta e começou a misturar tudo em cima do banco, só quis se divertir com as tintas. Foi curioso as diferentes reações, como algumas delas são muito mais desprendidas da avaliação alheia e do autojulgamento enquanto outras encaram a atividade muito mais rigidez estética.
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JOÃO, ANGELINA E GABI
idade? (João) - Cê sabe por quê fez essa ativ pro povo (Ang) - Pra praça ficar mais bonita, ça. parar de ir no pier. Pra volorizar a pra (Gabi) - Pra ter mais vida. ça. Pra (João) - Pra ficar mais bonita a pra vir mais pessoas. strução - Vila
(Diário de Campo, Oficina 07 de Con Anglo, 2019).
Em complemento a isso nós, facilitadoras, fomos adicionando
da chamada de atenção, foram se abrindo mais para as respostas e
algumas perguntas como “vocês acham que foi melhor pintar em grupo
demonstrando diferentes pontos de vista sobre a atividade.
ou sozinho?”, “teria sido melhor ter feito um rascunho antes de pintar?”.
E elas foram respondendo, mas bem lentamente, sem muito desejo de
olhos e fossem nos ajudando a lembrar o que foi que fizemos, desde o
elaborar a discussão. Nesse momento, demos um toque neles para que
momento em que nos encontrávamos, até o primeiro dia em que nos
nos dessem algum retorno, pois estavam todos desanimados. Depois
conhecemos, quando a Irmã Renata nos apresentou. Foi muito gostoso
Começamos a última atividade pedindo para que fechassem os
ir passando em ordem inversa por todas as oficinas… Percebi que houve um esforço da maioria deles para lembrar.
E, por último, deixamos um papel e caneta na frente de cada
um para que escrevessem uma carta para eles mesmo daqui um ano imaginando como estariam a Praça e contando como havia sido a experiência de construí-la durante esse ano, o que eles sentiram, o que estariam fazendo em um ano, se estariam ou não usando a Praça… E que sinalizassem se nos permitiam ler, para que pudéssemos usar em pesquisa. Eu e a educadora Mari escrevemos também.
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
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4 MEUS SENTIDOS RELATO DE
Sendo este trabalho final de graduação na área urbano-
paisagística da arquitetura, mas em articulação com o campo disciplinar educacional, chego, finalmente, às minhas conclusões sobre o processo do CoCriança como um todo.
Enquanto as avaliações e muito do que apresentei até agora foi
escrito coletivamente, neste último capítulo apresento as minhas reflexões sobre o CoCriança. Entendo, através dos outros materiais acadêmicos que já foram produzidos pelo grupo, a relevância deste trabalho nas variadas áreas, como a da comunicação e da pedagogia. Entretanto, o que eu proponho aqui é uma discussão sobre a formação de indivíduos que vão contribuir para a construção de uma cidade mais justa, igual e inclusiva. E que isso se torna uma verdade à partir do momento em que essas pessoas rompem a barreira da segregação e da fatalidade das coisas como elas estão, e passam a se enxergar como sujeitos ativos no mundo.
É muito importante, dessa forma, avaliarmos qual a realidade
em que estamos inseridos; se ela se encontra como está, o que podemos fazer para mudá-la? Segundo Freire: “A mudança do mundo implica a dialetização entre a denúncia da situação desumanizante e o anúncio de sua superação, no fundo, o nosso sonho” (FREIRE, 2019, p. 77. Grifo nosso).
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4.1 ANÁLISE DO CONTEÚDO
Dessa maneira, este capítulo contempla primeiro uma análise
Oficinas de Construção
com a intenção de denúncia das situações em que atuamos enquanto CoCriança, sendo uma delas na periferia da Cidade de São Paulo e outra
numa região mais central. E a partir do entendimento desta discrepância
e pudemos ler sobre os processos de cada uma delas, além de tê-
sócio-espacial e da influência que o lugar tem no processo é que iremos
las situado na Linha do Tempo, irei demonstrar qual a configuração
passar para a segunda etapa da discussão: como é que podemos superar
considerada ideal para a metodologia CoCriança (páginas 166 e 167).
a situação e partir para a construção de uma nova realidade, a qual se
Assim como foi feito com as Oficinas de Projeto na redação dos trabalhos
fundamenta na existência de experiências positivas e afetos com o lugar?
de Albardía (2019) e Sawaia (2019), o que escrevo a seguir é fruto de
longas reflexões, avaliações e revisões feitas coletivamente pelo grupo
Ter o direito de experienciar a paisagem em que vivemos através
de atividades que incentivem a liberdade e a criatividade nos constrói
Agora que já fomos introduzidos às Oficinas de Construção
de facilitadoras do CoCriança.
enquanto indivíduos que saibam usufruir da prática cidadã e da vida em comunidade. Indivíduos que percebem o seu lugar no mundo, afinal “a paisagem surge como um fenômeno que integra o homem ao seu espaço de vida” (WEHMANN, 2019, p. 205).
Portanto, através da uma formação pedagógica que caminha
para a autonomia daqueles que buscam o seu direito ao usufruto da cidade, no último momento deste capítulo iremos analisar como uma se relaciona à outra: ser sujeito no mundo é agir de forma autônoma. Isto pois, “exercer a autonomia está diretamente relacionado com o ato de construir relações saudáveis com o mundo e com os outros, permitindonos conectar ao mundo com liberdade e originalidade” (NASCIMENTO, 2009, p. 52).
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Imagem 34: Crianças do CCA Sal da Terra pintam o banco da Praça do Samba, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).
OFICINA 01 Como Articular com a Comunidade?
OFICINA 03 Desenvolvendo o Planejamento da Intervenção Após levantadas e planejadas as possibilidades de comunicação com a comunidade local, o grupo de crianças protagoniza na divulgação de seu projeto de co-construção do espaço. Assim, iniciam o primeiro passo para uma intervenção coletiva da paisagem: convidar os agentes locais.
Refletir sobre e planejar quais são as ações possíveis de serem feitas, dentro do grupo de crianças, para informar aos moradores do bairro sobre a reforma do espaço e sobre o início das oficinas participativas de construção, a fim de convidá-los a participar do processo. Além disso, pensar nas necessidades do grupo, articulando hipóteses sobre como as pessoas do bairro poderiam contribuir para a construção.
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Todas as imagens desta página são de autoria CoCriança.
OFICINA 02 Construindo a Comunicação
Levando em consideração os elementos restantes para que a construção do espaço seja concluída, inicia-se o processo de planejamento e intervenção. Sendo assim, a oficina que for co-criada pelas crianças nesse momento, será executada no próximo encontro no lugar da intervenção. Para isso, as crianças são divididas em grupos que ficam responsáveis por planejar ao menos uma atividade para a próxima oficina. Auxiliadas pelo Esqueleto de Oficinas, elas devem discutir sobre o conteúdo, material, tempo, responsabilidades e demais necessidades.
As oficinas 03 e 04 intercalam entre si, passando por todos os elementos previamente determinados pelo projeto, como pintura, brinquedos, plantio, etc, até que a construção do espaço esteja finalizada. Esta oficina acontece no espaço da co-construção. Após terem planejado as atividades que vão acontecer, as crianças experienciam assumir o papel de serem facilitadoras, protagonizando no processo da construção participativa e se responsabilizando pelas ações planejadas pelo grupo.
OFICINA 04 Oficina da Intervenção
OFICINAS DE CONSTRUÇÃO OFICINA 05 Planejando a Festa
Por fim, este é o último planejamento que as crianças fazem relacionado ao projeto. Com a construção do espaço terminada, elas discutem quais os seus desejos e necessidades para conseguir realizar uma festa de inauguração do mesmo. Para tanto, fazem uso dos meios de comunicação previamente desenvolvidos e articulam com a comunidade local, convidando-os à festa.
O último encontro do CoCriança acontece através de uma celebração em comunhão com os familiares, educadores e amigos das crianças, além de todos os demais moradores do bairro. Nesta festa, faz-se uma breve apresentação - preparada pelas crianças - do projeto desde o seu início, a fim de reconhecer o que fizeram e celebrar com os demais convidados presentes.
Celebração: Inauguração do Espaço
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Sendo esta a configuração final das Oficinas de Construção, vale
ficar responsável por uma oficina inteira - correspondente à oficina da
uma reflexão sobre os seguintes pontos:
sua frente. Entretanto, como esta seria a primeira vez que as crianças
A Oficina Retomando o Contato, que aconteceu na Brasilândia,
estariam lidando com um planejamento tão amplo e detalhado, não
permanece na Metodologia CoCriança, contanto que seja considerada
houve um reconhecimento da tarefa necessária, e tivemos que alterar
como “coringa”. Assim, em momentos que o grupo de facilitadoras e de
nossa rota.
crianças tenham passado algum período afastadas - como aconteceu na
O que o CoCriança fez, como já apresentado, foi pedir para
Oficina 01 no Elisa Maria e na Oficina 08 na Vila Anglo1 - faremos uso
que cada grupo de crianças se responsabilizasse apenas por uma das
dela. Ela se apresentou muito eficiente tanto em resgatar a memória das
atividades da Oficina de Intervenção. O que acabou funcionando muito
crianças já presentes no projeto, quanto em introduzir às novas todo o
bem, apresentando resultados surpreendentes descritos ao longo deste
trabalho já feito.
trabalho.
A Oficina Divisão das Frentes de Trabalho não entrará na
Por fim, vale dizer que as oficinas do Elisa Maria, Trabalhando com
Metodologia. As “frentes de trabalho” foram uma forma de dividir as
a Comunidade, aconteceram aos sábados, e foram extremamente
crianças ao longo das Oficinas de Projeto para conseguirem pensar
enriquecedoras para o processo de participação para a construção do
estrategicamente no levantamento de recursos dentro da comunidade.
projeto. Apesar disto, elas não apareceram na Metodologia como uma
“O objetivo foi estabelecer (...) equipes de trabalho que conseguissem
oficina em si, pois acreditamos que esta forma de agregar os moradores
desenvolver de forma autônoma propostas de intervenção específicas
do bairro nas Oficinas de Construção, deveria acontecer todas as vezes
para cada área” (SAWAIA, 2019, p. 158). Como apresentado no capítulo
que estivéssemos no momento da intervenção. Entretanto, isso não foi
anterior, foram elas: brinquedos, arte, jardim e comunicação.
o que aconteceu na Vila Anglo por falta de calendário compatível do
Na tentativa de retomar esse conteúdo para o planejamento de oficinas, o CoCriança pensava que cada grupo de crianças poderia 1 Esta oficina aconteceu em 2020 e, para fim de pesquisa, não entrou na análise geral deste trabalho. Ver anexo I - Vila Anglo, Oficina 08: Retomando o Contato.
168
CoCriança com o CCA Sal da Terra.
MEUS SENTIDOS
Análise das tabelas A tabela de Convergências e Objetivos CoCriança (p. 63) foi muito relevante para a escrita final deste trabalho, pois tirei algumas conclusões sobre a objetividade das Oficinas de Construção. Dessa forma, ao longo de todo este capítulo farei uma breve comparação na frequência com que as convergências apareceram em cada uma das tabelas de falas - do Elisa Maria e da Vila Anglo - a fim de compartilhar com o leitor algumas
educativos que elas convivem. Por esses motivos, nos dedicamos mais na Vila Anglo a trazer atividades que usavam de ferramentas que contribuíssem para uma avaliação individual, num sentido de reconhecer a sua pessoa como ser humano de sentimentos e de ações, sendo estas últimas a forma que se relaciona com os demais do grupo. Como, por exemplo a atividade de Comportamentos quentes e frios, ou a de Introdução e prática do
das observações que fiz. A exemplo do que pôde ser interpretado como resultado das tabelas de análise e que não era algo que eu imaginava encontrar, trago primeiro o número de vezes que as crianças “verbalizam seus
Convergência Verbalização de sentimentos
Elisa Maria 0
0%
Vila Anglo 21,56%
11
sentimentos”. Para nós do CoCriança, as crianças da Vila Anglo tinham uma dificuldade maior em verbalizar o que estavam sentindo, por
feedback2.
isso, acabavam sendo impacientes em suas ações umas com as outras.
Consequentemente, o número de vezes que as crianças da Vila
Partindo do senso comum de poder atribuir este fato à idade delas -
Anglo conseguiram verbalizar o que estavam sentindo é muito maior
11 aos 13 anos -, nós relacionamos esse comportamento à temática
do que no Elisa Maria, que, por falta de atenção nossa, acabaram
das atividades que o CCA Elisa Maria já faz com suas crianças, isto é,
verbalizando seus sentimentos com adjetivos, como no exemplo a seguir:
sentíamos as crianças do Elisa com o coração muito mais aberto para tratar de assuntos coletivos ou sobre as relações interpessoais. Isto porque, vale lembrar que as falas dessas crianças não transparecem apenas ao processo do CoCriança, mas sobre todos os demais ambientes
Homem da escalada: E você, como se sente tendo uma 2 Ver capítulo III. Encontro com as Crianças. Oficina 05 - Desenvolvendo o Planejamento: Pintura. Vila Anglo.
169
escalada dessa aqui?
que no Elisa Maria, a frequência de vezes que as crianças trazem esse
R: Muito legal, para ter mais brinquedo. Tinham poucos
assunto como algo relevante para elas é muito maior. Isso se deve,
brinquedos aqui também, agora tem que ter mais, porque do mesmo
provavelmente, à idade dessas crianças, que no Elisa são cerca de dois anos
jeito que tinham poucos brinquedos, tinha gente que se importava.
mais novas, mas que também não tiveram a oportunidade de conviver
(Informação verbal, Renata. Oficina 08 de construção - Elisa Maria, 2019).
com tantos brinquedos nos poucos espaços livres de seus bairros.
O fator idade, então, pode ser um fator determinante também
É provável que, quando indagada pelo instalador das agarras de
para o motivo pelo o qual as crianças da Vila Anglo assumem uma maior
escalada sobre o que sentia em relação ao novo brinquedo, Renata queria
responsabilidade de ações perante o desenvolvimento do projeto,
dizer que se sentia feliz ou alegre por terem pessoas que, como ela, se
mesmo apesar de este ser um fator que buscamos trabalhar em ambos
importavam com a presença de mais brinquedos na Praça. Entretanto,
os grupos da mesma forma, pois faz parte de nossa metodologia.
ela usa um adjetivo - legal - para tratar de sua emoção.
Convergência Convergência Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem
Elisa Maria 12
18,18%
Vila Anglo 9,80%
Crianças assumindo responsabilidades
Elisa Maria 10
15,10%
Vila Anglo 29,41%
15
5
Além disso, uma convergência que resolvi manter, mas que 13
19,69%
3,92%
2
poderia ter retirado, pois ela não diz respeito às falas das crianças, mas a de nós, educadoras, é a “facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto”. Isto porque, apesar de não sinalizarem quanto ao
Outra constatação que é possível fazer através da análise de
processo que acontece dentro das crianças, essa convergência diz respeito
convergências é a quantidade de vezes que elementos que representem o
à nossa metodologia, que tem como um dos pilares principais o diálogo e
brincar aparecem na fala dos dois grupos de crianças. Podemos perceber
a autonomia. Ou seja, entendemos que, por meio de um diálogo aberto
170
MEUS SENTIDOS
e verdadeiro, estabelecemos com nossas crianças um aprendizado mútuo
Uma outra convergência que achei bem relevante ter aparecido
baseado na confiança, contribuindo para que elas se sintam mais seguras
é a que diz respeito à “paisagem como afeto e vínculo com o lugar”.
e responsáveis para agir de maneira autônoma e consciente:
Como veremos no capítulo 4.3. deste trabalho, em que faremos uma longa reflexão sobre as diferentes percepções das crianças em relação à
Facilitadora: O que a gente tinha planejado pra hoje é: a gente
paisagem, esta convergência evidência a relevância do CoCriança como
vai pintar o grafite, como a gente decidir... E, aí, outra coisa que a gente
um projeto Paisagístico-Educacional. Isto porque, ao expressarem o
tinha pensado era em chamar o pessoal daqui - os vizinhos - para
cuidado que têm com o espaço, as crianças estão reconhecendo o seu
conversar sobre o lixo (...) E aí eu queria saber o quê vocês querem
direito à paisagem, pois valorizam e apreciam o lugar em que vivem, que
fazer (...).
passa a ser um lugar “bonito” e “bom”, assim como na fala de Agatha a
A: Eu acho que a gente podia, primeiro pintar... aí, se a gente
seguir:
terminar de pintar, a gente chama o pessoal pra falar sobre o lixo. “É, pros nossos pais também virem aqui, ficar conversando,
(Informação verbal, Agatha. Oficina 06 de Construção - Elisa Maria,
enquanto nós também podemos tirar nosso dia pra brincar, essas
2019).
coisas. E eu espero que dê tudo certo e que, dessa vez, não destruam
Nesse exemplo, a facilitadora explica a situação para as crianças,
a Praça.
contando que, apesar de terem planejado uma atividade, ela não
Vai ficar bem bonito, bem bom, bem trabalhado. E que dê
acontece exatamente como o esperado, e pergunta qual a opinião das
tudo certo.” (Informação verbal, Agatha. Oficina 04 de Construção -
crianças sobre isto. O que Agatha responde com muita propriedade,
Elisa Maria, 2019).
apontando a solução.
Convergência A paisagem como afeto e vínculo com o lugar
Elisa Maria 8
12,12%
Vila Anglo 13,72%
7
Esta fala de Agatha transparece muitos dos principais objetivos
das Oficinas de Construção. Agora que já passamos por sua conformação final, podemos perceber que, através das oficinas que buscam articular
171
com a comunidade e construir a comunicação do grupo de crianças,
estas passam a ter uma maior certeza na “importância de envolver a
com muito mais autonomia e segurança perante todo o processo de
comunidade no processo”. Mais do que isso, as crianças “reconhecem e
co-construção das praças. Como são elas que planejam e executam as
praticam o seu direito de fala na comunidade”, principalmente quando
atividades, passam a se apropriar muito mais das “tomadas de decisões
saem para fazer as entrevistas, fazendo convites aos demais moradores
sobre o processo” a cada Oficina de Planejamento, e “entendem a
a participarem do projeto que, para elas e para todos, entendem ser de
paisagem como um espaço a ser co-construído”, pois também passam a
grande importância.
se enxergar muito mais como sujeitos ativos no mundo a cada Oficina de
Estas oficinas contribuíram para que as crianças atuassem
Construção.
Convergência
Elisa Maria
Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade
12
18,18%
Crianças tomando decisões sobre o processo
18
27,27%
Vila Anglo 9,80%
25,49%
Convergência
5
Protagonismo no planejamento e na execução de atividades
15
A importância de envolver a comunidade no processo
12
22,72%
27,45%
42,42%
39,21%
20
14
E a última análise que faço sobre as convergências aqui neste
capítulo é a que fala do “protagonismo no planejamento e na execução de atividades” das crianças. É de grande relevância que esta seja a
18,18%
21,56%
11
convergência que mais aparece nas unidades de significado, pois ela é a essência de metodologia que trabalhamos com as Oficinas de Construção.
172
28
Vila Anglo
13
O entendimento da paisagem como espaço de construção
Elisa Maria
MEUS SENTIDOS
4.2 COMO O LUGAR INFLUENCIA NO PROCESSO “(...) que me faz certo desta coisa óbvia, que é a importância inegável que tem sobre nós o contorno ecológico, social e econômico em que vivemos. (...) que as condições materiais em que e sob que vivem os educandos lhes condicionam a compreensão do próprio mundo, sua capacidade de aprender, de responder aos desafios” (FREIRE, 2019, p. 134. Grifo nosso).
Esta citação de Freire faz alusão a exatamente o que será descrito neste capítulo: o contorno ecológico, social e econômico em que vivemos influencia - e muito - nos processos de aprendizados e na vida das crianças. Tratando ecologia como “ramo da biologia que estuda as relações entre os organismos vivos e entre os organismos e seus ambientes1”, percebemos ainda mais a relevância que tem uma análise comparativa deste princípio, para que possamos compreender como se desenvolvem as “percepções de paisagem” que as crianças estabelecem com o seu entorno no decorrer do projeto. Ainda baseado em Freire, veremos nos próximos dois capítulos como a experiência da paisagem, de fato, influencia muito na compreensão da criança ao próprio mundo, além de sua capacidade de aprender, responder aos desafios e se aproximar de uma maior 1 Dicionário Michaelis Online (michaelis.uol.com.br), acessado em 16 de julho de 2020.
Imagem 35: Vista da Praça do Samba, crianças do CCA Sal da Terra pedem aos vizinhos um pouco de água para pintar os bancos, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança). Imagem 36: Crianças do CCA Elisa Maria, caminham pelo o bairro para contatar os vizinhos na Oficinas 03 Contruindo a Comunicação, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança).
173
autonomia. Portanto, neste capítulo, iremos introduzir essas relações
definitiva para a sua reforma infraestrutural. Ou seja, ao longo desse
das crianças com o seu entorno, destacando as discrepâncias entre os
período, ganhamos e perdemos verbas mais de uma vez. Ninguém,
dois projetos como fruto da desigualdade sócio-espacial que rege São
nenhum político ou empresa tinha interesse em investir seu dinheiro
Paulo, a fim de entender como o lugar influenciou no processo como um
em um lugar desacreditado de mudança. Enquanto isso, a obra na Vila
todo, ao longo desses anos. Para isso, irei compreendê-la como território
Anglo foi iniciada já com a verba de emenda parlamentar concedida.
fragmentado caracterizado pela predominância da lógica capitalista na
Nós, o CoCriança, acabamos por atuar como ponte que conectava os
produção do espaço urbano.
interesses políticos do vereador e a população, uma vez que atuamos
No período dos encontros no Jardim Elisa Maria, na zona
com a metodologia de projetos participativos.
norte, e na Vila Anglo Brasileira, na zona oeste, fomos percebendo
Depois, quando a verba da emenda parlamentar de ambas
como a injustiça e a desigualdade social sistêmica ocorrem em uma
as praças já existia, e achávamos que não teríamos mais como perde-
base multidimensional. A criança enquanto grupo social já é minoria e
la, iniciou-se a fase de licitação. Inseridos na lógica de livre oferta, a
também oprimida, uma vez que todas as relações de poder e ação em
empresa que vier com a melhor proposta financeira para a obra, ganha
nosso contexto partem de uma estrutura adultocentrista. E, para além
a licitação de construção. Porém, o que não sabíamos, é que a Praça no
disso, a cidade é ainda menos possível para as crianças que vivem na
Elisa Maria corria o risco de não ter empresas interessadas. Teriam de ser
periferia, como é o caso do Elisa Maria. Isto é, enquadram-se múltiplos
no mínimo três, e, até o prazo concedido, tínhamos duas. Foi só depois
sistemas de opressão, que nos leva a pensar em distintos urbanos e
da prorrogação limite, que o projeto obteve uma terceira empreiteira e,
distintas infâncias, que, em sua relação, conformam espaços, dinâmicas
finalmente, a obra teve início.
e possibilidades sociais bastante diferentes.
Estamos inseridos em uma lógica de produção que terceiriza os
A primeira grande diferença com a qual nos deparamos foi a
serviços públicos, em que as empreiteiras que constroem no solo urbano,
dificuldade de conseguir verba para a reforma da Praça na zona norte.
agem de acordo com o único interesse do capital: o lucro. E não qualquer lucro,
Levando em consideração que iniciamos o nosso trabalho no Elisa Maria em 2017, foi só no começo de 2019 que conseguimos a verba
174
Imagem 37: Praça do Samba após a reforma da Subprefeitura. Crianças do CCA Sal da Terra terminam de pintar os bancos, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).
um altíssimo e desprendido de ética. Em seu doutorado, Wehmann explica
percebemos que o desinteresse do poder privado nas pequenas e distantes intervenções urbanas, nos impedia de exercer nosso
“(...) as críticas de Lefebvre e Certeau à cidade como espaço de exploração que submete as classes exploradas às estratégias estatais ainda fazem sentido? Com as devidas traduções, sim. Esses processos caracterizam a urbanização capitalista. À medida que determinados agentes
capitalistas
conseguem
direcionar
os
investimentos,
especialmente públicos, para setores de seus interesses, outras áreas da cidade não recebem ou recebem de forma deficiente, fragmentando a cidade em espaços atrativos e os espaços que restam, como resultado de planejamento urbano que não cumpre o papel democrático que lhe é atribuído” (2019, p. 57. Grifo nosso).
Qual seria, então, o papel do Estado? A ineficiência do poder público se alinha ao desinteresse das empresas e fortalece a maneira como a produção do espaço urbano é concebida. A consequência é que algumas regiões fiquem desprovidas da infraestrutura básica, ferindo direitos garantidos na Constituição. Ao final, são reproduzidos em solo urbano os interesses do capital e não os interesses Humanos. Permitindo que o dinheiro dite as regras da nossa cidade e não as reais necessidades de cada lugar.
176
Ao abrir o processo de licitação de ambas as obras,
papel como co-construtoras do espaço público. Não existem empresas interessadas em construir a Praça do Elisa Maria.
Ao mesmo tempo em que o valor de verba destinado
para a Praça da Vila Anglo foi bem maior que o do Elisa Maria, as suas necessidades eram distintas e, pode-se dizer, inversamente proporcionais. A Praça da zona norte exigia reformas infraestruturais: mudanças de nível, escoamento d’água, iluminação. Já a da zona oeste tratou-se de reforma voltada à qualidade da Praça, que já possuía a infraestrutura básica. Esses fatos nos parecem importantes uma vez que, por um lado, escancaram diferenças de investimento, possibilidades e disponibilidades do poder público, reforçando a dificuldade das ações no Elisa Maria e enquadrando-o enquanto periferia também nas prioridades governamentais; e, por outro, demonstra questões estruturais das diferentes condições urbanas nas distintas localizações da cidade.
Dessa maneira, ainda segundo a citação de Wehmann, a Vila
Anglo cumpre com o papel do espaço atrativo, recebendo investimentos de ambos os lados - público e privado -, enquanto o Elisa Maria se encaixa nos espaços que restam, carente de lugares que possivelmente possam
Imagem 38: Praça Livre Para As Crianças após a reforma da Subprefeitura. Crianças terminam de pintar os vasos, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança).
se tornar atrativos, pois não há espaços livres, e carente de qualquer
isso, seria importante que as oportunidades se dessem em todos os
investimento. Mesmo a Praça Livre Para As Crianças - por mais que
lugares de forma justa, mas, como vimos, não é o que acontece: o último
tivesse potencial para receber investimentos, pois carecia de qualquer
ponto a refletirmos sobre o processo de financiamento é justamente
infraestrutura que a tornasse atraente aos usuários - é uma praça com a
a oportunidade. Na Vila Anglo, o processo participativo de construção
área cerca de vinte vezes menor do que a Praça do Samba, na Vila Anglo
foi um pedido do poder público - representado na figura do vereador
e, portanto, não cabe receber uma boa quantidade de mobiliário urbano,
-, enquanto que no Elisa Maria, a sociedade civil teve de se auto-
brinquedos, vegetação ou mesmo uma quadra. Isto é, o espaço da Praça
organizar e “correr atrás” de algum agente que pudesse investir no lugar.
Livre Para As Crianças é compacto e não corresponde numericamente às
necessidades que o bairro de fato carece .
que a auto-organização aconteça, é preciso tempo-espaço para tal.
2
Da mesma maneira, para que haja oportunidades para
Entretanto, segundo as atividades em campo do CoCriança, não é
“É neste sentido que se defende aqui que a verdadeira
democratização da produção da cidade demanda o reconhecimento de “cidade oculta” não só como algo a ser mensurado para planejamento de demandas, mas aceito como uma obra coletiva” (WEHMANN, 2019, p. 212. Grifo nosso).
Assim como explica Wehmann, buscando construir uma cidade verdadeiramente democrática, é importante que seu planejamento seja participativo no sentido de se construir uma “obra coletiva”. E para 2 A exemplo do dado “árvores contabilizadas no sistema viário por área do distrito”, exposto no capítulo 3.1 Sobre a Escolha dos Lugares.
178
o que acontece numa cidade segregada como São Paulo: no bairro da zona oeste, diferentes coletivos auto-organizados se engajaram e participaram ativamente da construção coletiva do espaço. Por outro lado, no Elisa Maria encontramos bastante dificuldade de articulação com a comunidade e não pudemos contar com coletivos locais.
A falta do tempo-espaço para uma articulação da sociedade civil,
pode ser um dos motivos para essa menor estruturação dos coletivos locais. Mas a falta de crença na “palavra” ou no retorno do poder público, com certeza desestimula que as pessoas tentem correr atrás da mudança. É por esse desamparo, tanto do poder público, quanto da sociedade civil, que as crianças do Elisa Maria sentem uma maior necessidade da corresponsabilização do cuidado pelo espaço da Praça:
MEUS SENTIDOS
Convergência
Elisa Maria
A corresponsabilização do cuidado pelo espaço público
18
com
15,68%
Ou seja, em um ambiente seguro e propício para a “expulsão”
8
do opressor, a análise do contexto histórico-político-social das crianças contribui para a construção de uma maior autonomia delas. Isto é,
Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros
Consequentemente,
27,27%
Vila Anglo
13
19,69%
1,96%
estimula que exercitem a reflexão crítica sobre a sua realidade e criem um
1
número maior de alternativas ao problema, como podemos perceber: o
menor
envolvimento
da
comunidade local, a Praça Livre Para As Crianças acaba sendo ocupada por usuários de drogas, impedindo que elas possam brincar livremente.
Se tratarmos desta desigualdade urbana como elemento
pedagógico, conseguimos, através da experiência, ter uma discussão muito mais rica e contextualizada de elementos com as crianças do Elisa Maria. Tal processo, segundo Freire (2019)
Convergência A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema
Elisa Maria 17
25,75%
Vila Anglo 9,80%
5
Mais uma vez, nota-se que a frequência com que as crianças do Elisa surgem com “alternativas criativas e conscientes ao problema” é muito maior do que na Vila Anglo. O que me leva a pensar na quantidade de vezes que as crianças do Elisa têm que buscar e lutar para conseguirem
“(...) numa área de miséria só ganha sentido na dimensão
concretizar o que desejam. Não é fácil, inclusive é bastante frustrante,
humana se, com ela, se realiza uma espécie de psicanálise histórico-
voltar à pracinha e nos deparar com boa parte do que havíamos feito
político-social de que vá resultando a extrojeção da culpa indevida. A
destruído ou depredado. Entretanto, este fato nos faz refletir sobre o
isto corresponde a “expulsão” do opressor de “dentro” do oprimido,
que fizemos de errado e quais são então as outras possibilidades para
enquanto sombra invasora. Sombra que, expulsa pelo oprimido,
encararmos este “problema”. Fazemos isso coletivamente, estimulando
precisa ser substituída por sua autonomia e sua responsabilidade”
que as crianças também criem soluções - que as vezes são bem mais
(FREIRE, 2019, p. 81. Grifo nosso).
179
eficientes que as nossas - contribuindo para a expansão de um repertório criativo e eficiente das alternativas traçadas por elas, como quando dizem: “A gente colocou brinquedos - o que faltou. Ai, a gente colocou, tipo assim, a gente conversar com as pessoas do bairro pra ver se alguma dessas pessoas pode ajudar, sabe? Aí, a gente também colocou pra falar com a Prefeitura. (...) Também a gente colocou pra gente mesmo, tipo, pra trazer algo da nossa casa pra... reutilizar” (Informação verbal, Maria Clara. Oficina 10 de Construção - Elisa Maria, 2020).
Na informação verbal acima, Maria cita brinquedos, quando perguntada pela facilitadora sobre o que ela acha que falta na Praça. Em seguida cria alternativas variadas para que consigam ter o seu direito de brincar assegurado, refletindo em mais uma consequência da disparidade sócio-espacial: a Praça na Vila Anglo teve o mobiliário de brinquedos incluso no seu alto orçamento, a do Elisa Maria, não. Partindo da ideia de que o envolvimento com a cidade vai determinar a relação do indivíduo com o espaço urbano, percebemos que as crianças do Elisa Maria sentem-no enquanto um lugar no qual Imagem 39: Crianças brincam no mobiliário de brinquedos instalado na Praça do Samba pela Subprefeitura da Lapa, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança); Imagem 40: Crianças brincam no escorregador de concreto construído pela Subprefeitura da Brasilândia, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança).
180
gostariam de estar e vivem e usam muito mais a cidade do que as da Vila Anglo. Nem sempre ela se apresenta adequada a tal, mas as crianças
MEUS SENTIDOS
não a entendem como perigosa ou como um lugar que não deveria ser
criança, adulto, até animais. E a Praça é um lugar aonde a gente não
ocupado por elas e partilham o desejo de poder estar na cidade. Essa
pode destruir. É um lugar onde as crianças vem brincar, os adultos
relação fica bastante evidente em muitas das falas das crianças, como
fazem suas coisas... É bem importante a Praça pra gente.” (Informação
indica a tabela de convergências:
verbal, João. Oficina 04 de Construção - Elisa Maria, 2019. Grifo nosso).
Convergência Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem
Elisa Maria 14
21,21%
Vila Anglo 3,92%
2
As crianças do Elisa reconhecem que também devem ter o “direito à cidade e à paisagem”, ao contrário das crianças da Vila Anglo, que costumam ter esse direito assegurado. Por isso, partindo da vivência na zona norte, tivemos a percepção de que a criança na periferia se apropria mais das ruas e espaços públicos em seu bairro. É ali que acontece toda a sua infância e juventude, muitas vezes por não ter outra opção, a criança da periferia só vive o mundo do seu bairro, que na maioria das vezes é carente de espaços de brincar de qualidade para atendê-la e, assim, aprende a imaginar um mundo e se apropria de tudo a sua volta como uma forma de diversão.
Para essas crianças, a rua deixa de ser espaço estritamente de circulação e ganha maior dimensão, tornando-se espaço de convivência, trocas e enfrentamento de adversidades. É nesse contexto que as crianças, com autonomia, tornam-se protagonistas do seu cotidiano. Elas dominam as ruas que, por sua vez, não são e nunca foram projetadas para serem seguras para elas, mas que, segundo a fala de João, têm a sua devida importância. Partindo de uma necessidade por espaço de brincar, que é muito maior que a das crianças da Vila Anglo, o envolvimento das crianças do Elisa Maria se mostrou mais expressivo desde o início do projeto, uma vez que se apresentava enquanto uma luta por um direito que lhe estava sendo negado, por uma necessidade que, como apontamos, não é (ainda que também o seja legítimo) apenas para desfrutar, mas uma necessidade que vai além e incide nos direitos básicos e fundamentais da criança: o brincar, experienciando a paisagem enquanto relação de afeto. A que afeta e é afetada.
“E também, a Praça é um lugar público, aonde pode ter
181
4.3 PERCEPÇÕES DE PAISAGEM “... perceber uma paisagem não significa recebê-la passivamente, é vivê-la, recolhê-la, assimilá-la, reencontrar seu
os lugares de encontros, onde o coletivo transforma e as relações se estabelecem.
sentido” (LIMA, 2017, p. 300).
Ainda assim, não entendia o significado de paisagem em toda sua amplitude da palavra. Já me é de costume longas experiências de
Quando ingressei na FAU, meu sonho era o de envolver as
imersão na natureza, sou grande amante das plantas e seus processos,
pessoas no cuidado com o espaço público. Isso porque, desde criança,
mas a arquitetura da paisagem ainda ficava um pouco distante para mim,
me lembro de não entender como é que as pessoas poderiam ter medo
mal interpretada pelos paisagismos de revistas, pelos grandes parques,
de andar nas ruas, sujar o que é de todos ou criticar tanto o ambiente
ou na pura contemplação. Até que a Professora Catharina Lima me
em que vivem e serem passivas ao que recebem. A medida que cresci,
recomendou o seu artigo: “O direito ao (in)compressível: arte, cidade,
essa inquietação me fez ir para o campo da arquitetura e do urbanismo,
paisagem e transformação social”.
na esperança de que poderia ser uma pequena - entre tantas pessoas -
agente de transformação urbana.
que é paisagem, segundo as suas variadas interpretações, para que
Entretanto, conforme fui aprendendo, percebi que o
possamos entender a importância de instigar nossas crianças a percebê-
planejamento urbano tem muitos entraves, são muitas regras que
la e assimilá-la, a fim de reconhecê-la como um direito fundamental
deveriam ser cumpridas ou processos lentos de decisões que vão
no direito à cidade. Trarei algumas de suas percepções, que, enquanto
postergando e tornando nossas ações cada vez mais difíceis. O que
trabalhávamos com elas, busquei observar: “quais as diferentes
eu queria, na verdade, era trabalhar a cidade no campo dos afetos.
percepções que essas crianças criam em relação ao espaço?”. Porém,
Era poder transformá-la, engajar mais pessoas e, junto delas, sentir a
conforme o tempo foi passando, entendi que o quê buscava não era só
cidade através do cuidado, criar um vínculo, pois temos direito à poder
analisar as suas percepções espaciais, mas seus conhecimentos sobre
vivenciá-la de maneira positiva. Ou seja, o que eu queria era a pequena
a história, as verdades construídas, as sensações vividas em relação ao
modificação urbana, próxima, de maneira a transformar a paisagem
todo, e a capacidade de se reconhecerem como pertencentes e agentes
local. Para isso, não há melhor maneira de fazê-la do que trabalhando
de transformação desse todo. Por isso, conforme fui pesquisando e
182
Neste capítulo, portanto, irei discorrer um pouco sobre o
MEUS SENTIDOS
mencionei acima, entendi que, na verdade, o que eu teria que observar
da Arquitetura da Paisagem, como síntese estética e socioambiental
como fenômeno eram “quais as diferentes percepções das crianças em
(LIMA, 2017).
relação à paisagem”, a fim de reconhecer a sua importância para a
Porém, quando falamos em paisagem, além de nos remeter à apreciação dela, o uso do termo nos lembra jardins e espaços
educação.
cenograficamente belos. E, ainda, inseridas no imaginário urbano, essas
O que é paisagem?
são as mais populares entre os nossos parques, com elementos da natureza, ambientes calmos e verdejantes.
“O lugar oportuniza a experiência da paisagem, mas não é
Esta definição bucólica de paisagem, tem referência a partir do
idêntico a ela. A paisagem seria a experiência do lugar através dos
Renascimento, quando as cidades esfumaçadas sugeriam a paisagem
afetos, enquanto fenômeno que se forma entre o experienciador e o
campestre como antídoto. As composições de cena, no limite, eram
lugar” (WEHMANN, 2019, p. 105. Grifo nosso).
feitas artificialmente, a fim de que os pintores pudessem concluir a pintura imaginada. Assim, montava-se a “cenografia” das propriedades
Mas, afinal, o que é paisagem? Quando falamos essa palavra
com jardim e paisagens (LIMA, 2017, p. 299).
em alto som, qual a associação imagética que nossos pensamentos
Além disso, Wehmann (2019, p. 106) complementa que, ainda
fazem? Uma colina? Árvores, plantas, vento, talvez pássaros? Por que
nessa época, o conceito paisagem surge “no momento em que a
isso acontece?
humanidade, enquanto sujeito, dissocia-se da natureza, transformada
A paisagem, para Geoffrey Jellicoe (1985), conforma-se a partir
em objeto”. Por tanto, antes existia uma aproximação do ser humano
de variadas instâncias, tais como as características ambientais de um lugar
que, ao existir na natureza, encontrava a si mesmo e sentia-se no
(relevo, hidrografia, vegetação, etc), a sua história econômica e cultural,
mundo, através da contemplação da paisagem, pois identifica-se. Após
o pensar artístico em dado momento histórico, as correntes filosóficas
o Renascimento surge uma distância entre o “eu” e o “mundo”, ou o
da época e o conceito prevalente de natureza na esfera da cultura. Todas
homem e a natureza, que coloca a contemplação da paisagem como uma
essas condições prévias têm, igualmente, sua materialização no campo
maneira de esquecer-se de si e gozar do momento, não mais integrado
183
ao todo e sim, individualizado. Por tanto, ainda hoje, quando falamos em observação da paisagem, remetemos àquela contemplação desinteressada, em que a personagem se senta para apreciar e se desliga do contexto em que está inserida. Muitas vezes, ao nos sentarmos para contemplá-la em meio ao caos urbano, nos desligamos do automatismo apressado, da massificação de informações que nos rodeia, e anestesiamos nossas percepções. Wehmann ainda explica “A dissociação entre o mundo natural, abstratificado e objetificado, e o sujeito, individualizado em sua subjetividade, (...) exigiria a formação de um novo órgão para a percepção sensível. Assim, é a sensibilidade que vai assumir o papel de integração sensível do homem ao mundo que habita, porém em um domínio aonde não cabe a razão, senhora do conhecimento objetivo. A paisagem, nesse momento, assume o sentido de face do mundo, ponto de contato entre dois pólos bem definidos: a subjetividade humana (o homem interior) e o exterior do mundo (aquilo que se pode perceber do mundo) (WEHMANN, 2019, p. 110. Grifo nosso)
Ou seja, se a paisagem é, na verdade, o ponto de contato entre o Imagem 41: Texto de criança da Vila Anglo sobre como foi participar do projeto e como estará em um ano, Oficina Reflexão, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).
184
eu e o mundo exterior, podemos dizer que ela é a coexistência entre nós
MEUS SENTIDOS
e o mundo. E é neste sentido que busquei observar as percepções das
Anglo, no último dia de oficina de 2019, a construção da Praça aparece
crianças em relação à paisagem no decorrer do projeto das duas praças.
como tradução do que ela estava criando e expressando ao transformar
Pois, cada criança recebe e assimila o lugar em que vive de diferentes
a sua paisagem. O fato dela amar “ter feito a Praça”, é uma maneira de
maneiras, que acabam, também, por influenciá-las no modo em que vão
grafar no mundo a sua subjetividade, pois quem criou foi ela, através
interagir e atuar no mundo, dando a ele o seu sentido: pois o entregam o
da sua experiência da paisagem. E assim, reciprocamente, o mundo
seu sentir e o significam à sua maneira individual de cada uma.
“grafava” as crianças, pois elas estavam o tempo todo decodificando a
Este entendimento foi também o que transformou a minha
totalidade em que estavam inseridas: as histórias, ao conversar com os
relação com a palavra paisagem. Durante esses anos no CoCriança, me
moradores; a política, ao lutar pela permanência de uma lugar livre de
foi muito importante entender a amplitude que carrega o seu significado
brincar; o lazer, ao transformar o novo uso desse espaço; a sensação,
- que acontece à partir da relação sujeito-sujeito, onde um afeta o outro:
ao perceber cada nuance da nova ambientação; e a estética, ao pintar,
o mundo nos afeta e nós afetamos o mundo, e a paisagem é a totalidade
plantar e, constantemente, limpar, a fim de estarem em um lugar
que percebemos através da nossa expressão.
agradável. Segundo Lima,
Imagem 41: “Eu amei ter feito a Praça. O resultado.
“Dessa forma, a paisagem se oferece, generosamente, à
Eu imagino a Praça daqui um ano ainda legal e do jeito que
experiência estética da fruição desinteressada (para quem tem
“construímos”. E quero terminar de fazer a Praça ano que vem,
tempo livre para experienciá-la), mas, também na chave política
fazer o mosaico, pintar a parte de cima, as escadas e alguns
de uma leitura crítica de mundo, uma vez que as impressões do
lugares... E eu amei criar, fotografar as redes sociais e etc. Eu
homem sobre a terra, nela estão grafadas, por vezes sob camadas
amei a experiência de tudo” (Gabriela Gama, texto da autora,
que aguardam decodificação” (LIMA, 2017, p. 300. Grifo nosso).
Oficina 07 de Construção - Vila Anglo, 2019. Grifo nosso).
No texto acima escrito por Gabriela, uma das crianças da Vila
185
O direito à paisagem “O reconhecimento desse direito é o reconhecimento à cocriação da cidade. (...) é reconhecer a cidade como uma paisagem
“A assimilação da lógica de produção industrial pela sociedade tem seus reflexos nas formas de produzir e pensar a cidade, o mundo construído pelo e para o homem” (LIMA, 2017, p. 303).
habitada e o direito à paisagem, a ser assegurado como elemento fundamental dos processos de apropriação do espaço enquanto valor
O trecho acima evidencia a lógica de construção do espaço
de uso essencial em propostas democráticas de estruturação do espaço
urbano. Segundo Lima, estamos vivendo cidades, produzidas por nós
urbano” (WEHMANN. 2019, p. 33. Grifo nosso).
mesmos, que não nos propiciam o tempo livre. Isto porque, imersos no sistema capitalista, em que “tempo é dinheiro”, ter-se o direito ao tempo
Tomando como partida a paisagem como a totalidade que
livre é um grande privilégio, onde aqueles que conseguem pagar, são os
percebemos através de nossa expressão humana, quando estamos com
únicos que podem fazer uso do ócio. Wehmann (2019) completa quando
as crianças e propomos a experienciação do uso e a reestruturação do
diz que “sob o capitalismo, toda a liberdade será cerceada, inclusive a
espaço urbano através da co-criação, praticamos o direito à paisagem.
do tempo livre. Mesmo o tempo não dedicado ao trabalho deverá ser
Este direito não se dá de forma passiva, ele aparece quando há a
dedicado ao capital”.
participação do experienciador no espaço em que acontece sua vida.
É urgente que tratemos desse tema com nossas crianças, pois,
“É, nós precisamos de um lugar pra se divertir, pra ser mais
vivemos em uma cidade extremamente contraditória. A maioria da
livres. Porque também não é só nós que temos que usar esse lugar,
população vive em uma luta constante, na tentativa de ter seus direitos
pode ser muita gente” (Informação Verbal, Henrique, Oficina 04 de
básicos garantidos - à moradia, saneamento, abastecimento de água, etc.
Construção - Elisa Maria, 2019).
Isto é, a cidade é construída por poucos e para poucos. Nesse contexto, como é, então, que conseguimos assegurar uma relação saudável entre a criança e seu espaço de vida?
Nesse trecho, Henrique contesta seriamente sobre a necessidade do seu direito à ter o tempo livre para poder se divertir. Para as crianças, a lógica do “tempo é dinheiro” não existe; tempo para elas é diversão, é
186
MEUS SENTIDOS
brincadeira, e portanto, deve ser levado a sério. Coloco aqui uma provocação que Lima (CANDIDO, 2007 apud LIMA, 2017) faz em seu texto, quando contraria a frase de Benjamin Franklin de que “tempo é dinheiro”, nos lembrando que “na verdade o tempo é o tecido de nossas vidas”, e disso podemos dizer que as crianças entendem profundamente. Porém, quando inseridos na lógica capitalista, tentamos dar “função” a todo o nosso tempo, pois adultos têm que estar sempre produzindo, nos fazendo úteis, e isso acaba por podar uma de nossas maiores distinções humanas: a criatividade. Imagem 42: “(...) a gente decidiu pintar os bancos e fazer o jardim e o tobogã. Foi muito legal trabalhar com vocês a Praça ficou linda e sem a ajuda de vocês a Praça ia ficar sem vida” (Angelina, texto da autora, Oficina 07 de Construção - Vila Anglo, 2019. Grifo nosso).
Neste relato, conseguimos perceber a assimilação estética que
Angelina faz da Praça linda com a Praça antes sem vida. O que é essa (re)construção material e poética do espaço? Seria uma praça sem vida, uma lugar em que a criança não tivesse a oportunidade de fazer uso dela, de vivenciá-la de forma fruidora e livre? Angelina, por ter tempo para estar na Praça, pôde criá-la, estabelecendo, assim, uma conexão
Imagem 42: Texto de criança da Vila Anglo sobre como foi participar do projeto e como estará em um ano, Oficina Reflexão, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).
187
com o lugar que não é só contemplativa porque é linda, mas que passa a ter vida porque existe uma troca afetiva da criança com o lugar. Porém, como a produção das cidades está inserida na lógica capitalista, a construção criativa e coletiva dos espaços acaba sendo comprimida. Fica-se muito mais fácil e rápido, ao planejar o espaço urbano, homogeneizar as demandas construindo na lógica da produção em série. Todos os cidadãos são inseridos numa mesma “caixinha de desejos”, onde o habitar se resume a apartamentos de menor custo; o investimento na locomoção prioritária é o automóvel apenas para o transporte casa-trabalho, trabalho-casa; o atendimento de saúde “ao menos se tem”, ainda que sucateado; e, assim, o lazer acaba sendo reduzido, quando não, esquecido. “Com o repetitivo substituindo a unicidade, o espaço passa a representar o triunfo do factual e do sofisticado sobre o espontâneo e o natural, o triunfo do produto sobre a produção e finalmente o triunfo dos gestos e atitudes repetitivas que transformam o espaço urbano em produtos homogêneos que podem ser vendidos ou comprados. A diferença entre os espaços passa a se dar pela quantidade de dinheiro empregada, reinando a quantificação e a repetição” (LIMA, 2017, p. 303).
Imagem 43: Criança pára e desenha o que vê e o que gostaria que tivesse na Praça do Samba, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).
188
Essa repetitiva construção do espaço, do produto triunfando
sobre a produção, foi uma das nossas questões de projeto enquanto
MEUS SENTIDOS
atuávamos com o poder público, pois há um limite de opções disponíveis
direito dos habitantes a fruir e (re)criar cotidianamente seu espaço de
na restrita Tabela da EDIF1. A quadra deve ser padrão, o parquinho,
vida, parte integrante e essencial do direito à cidade, o direito à realização
padrão, o banco e as mesas, padrão. Que criança é padrão? Como é que
prático-sensível, à base morfológica que permita uma digna vida urbana”.
se desenvolve o lúdico, o brincar, o criar com crianças, quando se têm
Assim, sob a experiência dos afetos cotidianos, paisagem é experiência
sempre as mesmas opções?
estética e, por isso, leitura crítica de mundo, como na fala de Agatha:
Um grande problema que as cidades encontram em padronizar
seus espaços públicos de lazer, é a não apropriação da população do
“Eu acho que vai melhorar bastante a nossa Praça, vai ficar bem
entorno sobre esse lugar. Como a construção é feita numa lógica de cima
bonita. E que seja um espaço tanto pra nós quanto pros pais, pros adultos, pras
para baixo, e os moradores do entorno não participam do processo, o
crianças, pra todos ter um pouquinho de tempo pra brincar, pra se divertir”
espaço acaba por se transformar em um “lugar de ninguém”, pois não há a
(Informação verbal, Agatha, Oficina 04 de construção - Elisa Maria, 2019).
identificação das pessoas com aquele novo lugar que lhes foi “oferecido”.
Por esse motivo, o projeto participativo - tanto com adultos como
Percebemos como melhorar bastante aparece, na fala de Agatha,
com crianças - surge como uma alternativa à padronização mercantil dos
vinculado à bonita, que é um adjetivo estético, formando a sua avaliação do
espaços públicos. Quando trabalhamos coletivamente na construção de
lugar através de uma leitura estética e, portanto, crítica de mundo. Além disso,
um lugar, há um longo e gradual envolvimento da população, que vai
em sua fala, Agatha associa a melhora positiva da Praça com o fato de que
sendo aprofundado durante o processo. As pessoas, no decorrer dessa
mais pessoas poderão se divertir no espaço, lembrando que isso só é possível
criação coletiva, desenvolvem uma relação afetiva pelo espaço, que
se tiverem um pouquinho de tempo para fazê-lo. Isto é, o direito à paisagem,
acaba por trazer a sensação de pertencimento e de valorização.
também, remete ao lazer, que implica na existência do espaço-tempo para tal.
Segundo Wehmann (2019), “o direito à paisagem seria assim o 1 (Departamento de Edificações) Tabelas de Custos Data-Base Julho de 2019, usada para os projetos da Praça Livre Para as Crianças e Praça do Samba. https://www. prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/obras/tabelas_de_custos/?p=288573 (acesso em 28/05/2020).
Por trás dele, além da sua própria fruição e construção humana, estão também questões políticas de direitos trabalhistas, que asseguram a possibilidade do ócio. Ou, ainda, do direito ao brincar das crianças. Enquanto desenvolvíamos as oficinas com as crianças, sempre
189
soubemos da importância de estarem cada vez mais autonomamente se
sendo assim, deve-se construir relações afetivas com o lugar em que se
apropriando do espaço público que nunca lhes foi livre ou de estar. Que
habita, pois, elas formam nossas memórias e nos fazem sentir vivos e
direito à cidade é concebido a uma criança que tem medo de sair de casa?
pertencentes ao meio em que estamos, como na fala de Wendell:
Ou a uma criança que, para poder estar na rua, tem que “competir” com carros em alta velocidade ao procurar um pequeno espaço para brincar?
“Nós estamos na nossa Praça mostrando como que eles estão reformando. Nossa Praça está sendo reformada graças aos moços que
“[A Praça] é um lugar que as crianças podem brincar... Porque,
estão ajudando” (Diário de Campo, Wendell, Oficina 4 - Elisa Maria, 2019).
na rua, tipo, passa muito carro, então não dá pras crianças brincarem. Então, aí a Praça é pras crianças brincarem, se divertirem” (Informação Verbal, Tiffany, Oficina 4 - Elisa Maria, 2019).
Inúmeras vezes, quando fazem alusão à Praça, as crianças usam o pronome possessivo nossa, expressando essa sensação de pertencimento que foi desenvolvida ao longo de todo o projeto entre a
“É muito engraçado, hoje em dia vocês [adultos] falam que as
criança e o lugar em que habitam. Segundo Wehmann (2019), ao cuidar
crianças só ficam na internet, mas e nosso espaço para a gente brincar?
de um lugar, cultivá-lo, através da ação transformadora consciente,
Vocês não ajudam!” (Informação verbal, Edgar, Apresentação de teatro
estamos fixando-o como marco de paisagem. Essas experiências da
na festa - Elisa Maria, 2018).
paisagem, especialmente da infância, determinam nossas memórias espaciais e funcionam como parâmetros de valoração do lugar.
Na fala de Edgar - construída coletivamente pelo grupo da sala
As experiências da paisagem, para além de formarem a nossa relação com
para apresentação de teatro na Praça Livre Para as Crianças - existe o
o lugar em que vivemos, nos forma também como sujeitos no mundo. Isto é, elas são
tom de reivindicação quando ele contesta sobre o direito da criança a ter
uma série de marcos que vão constituindo a nossa identidade. Para tanto, é de extrema
um espaço livre que possam brincar. O direito à cidade, a poder usufruir
importância propiciar situações em que as crianças experienciem a paisagem, e sobre
do espaço público como cidadão, a poder permanecer em qualquer
isso, falaremos mais no capítulo 4.4 em “sobre educação e ser sujeito no mundo”.
um de seus bairros e se locomover entre eles, é um direito de todos. E
190
Imagem 44: Crianças plantam mudas durante a Oficina Plantando! na Praça Livre Para As Crianças, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança).
Educação e paisagem
dizer que o que viemos fazendo com essas crianças é também uma estratégia política. Política, pois as incentivamos a usar o espaço público
Este item de capítulo diz respeito a tudo o que foi até agora
de maneira a fruí-lo, não só por serem crianças, mas também porque
falado em relação ao direito à paisagem dessas crianças e sobre o que
esse é um dos direitos do cidadão; de maneira a criá-lo coletivamente
discutirei nas “conquistas de autonomia ” adquiridas por elas ao longo
e não a reproduzi-lo como se fosse um produto, já que para poder
do processo. Para tanto, transcrevo um parágrafo de Wehmann:
criar, é necessário também envolver-se e perceber a essência do lugar.
2
O fazemos através do “tempo livre”, com atividades lúdicas e artísticas, “(...) compreendo que o controle do tempo é parte da
que estimulam as crianças à autonomia e à criatividade. Ou seja, cada
estratégia de restrição da liberdade e controle das opções daqueles
vez mais, elas vão se desalienando da não-percepção da paisagem e
que não controlam o sistema. O tempo livre é o tempo da autonomia
caminhando para interpretá-la e, subjetiva e criativamente, concebê-la
e da criatividade, da des-alienação - é perigoso a um sistema para o
reconhecendo o seu direito e o dos outros, como quando dizem:
qual o inesperado representa uma ameaça ao lucro previsto. É nesse sentido que o uso do tempo para a experiência da paisagem é tão
“Eu acho que a gente podia conversar com eles [moradores
insurgente: uma decisão autônoma cujos resultados não são passíveis
de rua], porque eles, sabe, pegam o lixo, essas coisas e transformam
de mercantilização, e que fomentam a re-interpretação do espaço como
em bastante coisa. Então, acho que a gente podia pedir a ajuda deles
lugar, ponto de encontro entre estratégias e táticas” (WEHMANN,
também, pra eles ajudarem, a tipo, procurar as coisas pra gente
2019, p. 50. Grifo nosso).
reciclar e fazer, sabe, os brinquedos, os lixos... e eu acho que se eles participarem, eles não vão querer destruir uma coisa que eles ajudaram
Considerando que ter espaço para o tempo livre antecede ao que chamamos de ação criativa, e que a autonomia e a criatividade são
a fazer” (Informação verbal, Agatha, Oficina 01 de Construção - Elisa Maria, 2019. Grifo nosso).
imprescindíveis para a construção coletiva de um espaço público, posso 2
192
Ler capítulo 4.4 Conquistas de Autonomia.
Neste trecho, Agatha acredita que os moradores de rua podem
MEUS SENTIDOS
criar coisas também, a partir do lixo, o que possibilitaria a reciclagem,
trabalhar com elas que, como cidadãs, têm direito à paisagem, mais isso
a construção de brinquedos e de lixeiras. Ela sabe que, se houver o
se torna uma realidade e, assim, passam também a compartilhar o seu
envolvimento dos moradores de rua, eles irão cuidar também da Praça
espaço para que outros tenham direito a ele. Isto é o que Freire (2019, p.
que eles ajudaram a fazer, assim como aconteceu com ela. Ou seja,
124) chama de uma “ética universal do ser humano, pela qual devemos
nesta fala, a criança reproduz, autonomamente, os valores que foram
lutar bravamente se optamos, na verdade, por um mundo de gente”.
passados a ela. Ela sugere uma alternativa criativa e consciente ao
Wehmann (2019) escreve que as paisagens compartilhadas se
“problema” que é a ocupação da Praça pelos moradores de rua, com a
formam pelo afeto que os moradores do bairro estabelecem durante
intenção de envolvê-los também na construção do espaço coletivo, a fim
a “defesa” ou a “luta” destes lugares, que passam a ser espaços de
de desenvolver uma co-responsabilização de cuidados a partir de uma
identidade compartilhada pela a comunidade:
relação afetiva. A medida em que as crianças passam a se preocupar também
“(...) os lugares citados como paisagem da comunidade são
com os moradores de rua, pensando em meios de incluí-los - e não
objeto da ação política dos moradores, que se fazem ouvir por amor
os colocar à margem do projeto, como é costumeiramente feito pela
aos “seus espaços”. Ao permitir a expressão de si enquanto membro
sociedade - elas estão atuando politicamente. Isto, porque, ao “romper”
autônomo e ativo da comunidade, suscitam perguntas: Por que eu não
com o condicionamento pré-estabelecido do cidadão “marginal”, as
tenho direito à essa paisagem? Por que a prefeitura não nos consulta?
crianças estarão suscetíveis a questionar esta ordem desigual que rege
Por que eu não posso, mas o “bacana” pode?” (WEHMANN, 2019, p.
a sociedade.
2016. Grifo nosso).
A importância deste projeto, o CoCriança, consiste em educar as crianças para que atuem hoje e depois como cidadãos que rompam com
o que Wehmann (2019) chama de uma cidade segregada e desigual, pois
compartilhado e - através da metodologia CoCriança - compreendem que,
essa cidade expressa as relações de uma sociedade igualmente segregada
para que o seja e para que a mudança de fato aconteça, os moradores
e desigual. Nesse sentido, quanto mais nós, como educadoras, buscamos
do bairro devem também participar da sua construção. Por exemplo,
As crianças entendem que esse espaço deve ser um lugar de uso
193
quando perguntam a opinião dos vizinhos e a sua disponibilidade para
“A gente tá fazendo o cartaz... da Praça e, também, [estamos]
ajudar na construção da Praça, a fim de também envolvê-los, como
passando na rua, falando, assim, sobre a Praça, que a gente vai
aconteceu durante as entrevistas:
construir uma praça pras crianças. E que isso a gente tem que valorizar, não estragar essa Praça” (Informação verbal, Ana Clara, Oficina 03 de
S: Você conhece a Praça do Samba?
Construção - Elisa Maria, 2019).
Morador: Conheço. S: O que você acha do bairro? Você gosta de morar aqui?
Ana Clara, nesta fala, manifesta a importância que tem a Praça
Morador: Gosto muito. Moro há 24 anos.
Livre Para As Crianças no contexto em que está inserida, e que, portanto,
S: O que você acha que poderia mudar na Praça?
deve ser um espaço de cuidado e reconhecimento pelo valor que tem.
Morador: Só diversão pra criança. Sem negócio de samba, de bagunça. (...)
Criar a oportunidade para que, já na infância, essas crianças entendam a importância de atuar propositivamente na cidade, no meio
A: Tá, a gente queria... a gente tá chamando algumas pessoas
em que vivem, lhes dá ferramentas para uma convivência menos desigual e
pra ajudar nessa segunda parte da reforma, que é pintura, e a gente
segregada na cidade. Esta oportunidade acontece quando existe o tempo-
queria saber se você queria ajudar a gente.
espaço para as contínuas experiências de paisagem, que aos poucos,
Morador: Hoje não. Mas volta, pode passar, que eu ajudo!
facilita para que a criança se reconheça como sujeito ativo no mundo.
(Informação verbal, Stefani, Ana Beatriz e morador. Oficina 04 de
Sobretudo, como sujeito de direitos, indivíduo de opiniões e de ações,
Construção - Vila Anglo, 2019).
portanto, político. Contribuindo para a formação da sua autonomia. Por estes motivos, a construção da noção de direito à paisagem
Ou ainda, como explica Ana Clara ao espectador do vídeo criado
da criança caminha junto de uma educação para a autonomia. Afinal,
coletivamente pelas crianças, enquanto cria cartazes para divulgação no
“como ensinar, como formar sem estar aberto ao contorno geográfico,
bairro:
social, dos educandos?” (FREIRE, 2019).
194
Imagem 45: Crianças pintam os pneus que vão virar vasos na Oficina Construindo com a Comunidade II, Praça Livre Para As Crianças, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança).
4.4 CONQUISTAS DE AUTONOMIA “Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. (...) A
Ao brincar, as crianças dialogam com o mundo. Seu corpo é o
autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, é processo, é
interlocutor desse diálogo, e a paisagem a totalidade que acontece entre
vir a ser. (...) É neste sentido que uma pedagogia da autonomia tem
o experienciador - criança - e o mundo. Ao vivenciar, brincar e construir
de estar centrada em experiências estimuladoras da decisão e da
esta paisagem coletivamente, estamos incentivando nossas crianças a
responsabilidade, vale dizer, em experiências respeitosas de liberdade”
movimentar os seus corpos no espaço e buscarem a sua autonomia.
(FREIRE, 2019, p.105. Grifo nosso).
Segundo Harvey “ao produzirmos nossas cidades, estamos produzindo a nós mesmo” (HARVEY, 2004, p. 210), ao produzir nossa cidade enquanto
No decorrer de meu trabalho, enquanto estudava o direito
criança, começa-se o amadurecimento desse processo que é o de “se
à paisagem, sempre soube que meu objetivo seria contribuir para a
enxergar no mundo”, que vem através dessas experiências por elas
formação da autonomia dessas crianças. Isto, porque entendo que um
vivenciadas.
dia não estarei mais lá para ajudá-las a lutar pelo direito a se ter um
Neste capítulo, irei falar sobre essas experiências que tivemos
espaço livre e público de brincar. Por tanto, co-criando o caminho para
com nossas crianças durante o projeto, e que foram significativas para
tal, CoCriança e as crianças juntas, fomos construindo esse direito.
a contribuição de suas formações como sujeitos no mundo. Para tanto,
Na etapa de construção das oficinas, principalmente, tentamos
cada item deste capítulo dialoga com algumas das propostas que Freire
passar para elas todas as responsabilidades que se deve ter ao
traz em seu livro “Pedagogia da Autonomia”, que cruzam com as ações
reivindicar e construir coletivamente um espaço. Mas foi só depois de
e relações por nós vividas enquanto construíamos coletivamente cada
ler Paulo Freire, “Pedagogia da Autonomia”, que percebi que autonomia
uma das praças e que, portanto, cruzam com as experienciações da
e direito à paisagem devem caminhar juntas mesmo. Isto é, se queremos
paisagem.
contribuir para a formação de uma infância cada vez mais autônoma, pois se reconhece como sujeito ativo no mundo e, portanto, de direitos, devemos estimulá-las a experiências que proporcionem esta vivência de mundo - que como já vimos -, vivências da paisagem.
196
Sobre educação e experienciar “Os
espaços
onde
meus
interlocutores
relatam
as
MEUS SENTIDOS
experiências de paisagem são (...) aqueles conhecidos e re-conhecidos
João e seus colegas, nesta citação, fazem uso do pronome
pela continuidade das experiências. Cada novo aspecto experienciado
possessivo “nosso”, pois entendem não só o lugar - a Praça - como deles,
adiciona ali nova camada, aprofundando a relação entre o indivíduo e
mas também a criação do vídeo como um todo. Este é um momento da
o mundo (...).
oficina, que justamente entregamos nossos equipamentos de filmagem
É a partir dele que se estabelecem vocabulários estéticos e de entendimento do mundo, estabelecendo as diferenças e os limites
às crianças para que elas próprias protagonizem e experenciem como é que se registra um processo co-criado.
entre os “seus” espaços, que o identificam, e os demais, construindo
Essa experienciação que propomos às crianças acontece, então,
essas experiências como parte de si mesmo - parte da sua história
não só numa relação entre a criança e o lugar, mas também entre a
que se entrelaça e o ancora no mundo através do lugar.” (WEHMANN,
criança e os variados papéis que elas devem assumir durante a co-criação
2019, p. 215. Grifo nosso).
com a comunidade deste lugar, levando em consideração que este é um espaço público e que, portanto, quanto mais envolvimento tiver, mais
Segundo Wehmann, quanto maior a continuidade de
pessoas assumirão também a identidade com o mesmo.
experiências que vivemos em um lugar, mais aprofundada se estabelece
Isto porque, na metodologia CoCriança partimos da premissa de
a nossa relação com o mesmo. Por tanto, o longo processo do projeto
que a realidade, a paisagem em que vivemos, será transformada, pois
participativo é de fundamental relevância para a construção dessa
somos sujeitos ativos e de voz, e portanto, nós praticamos a mudança
identidade que acontece como resultado do entendimento que o
que queremos ver acontecer. Segundo Freire, o importante para esse
indivíduo cria nos espaços que estabelece como “seus”. Como na fala de
processo é trabalhar a autonomia do educando:
João, quando introduz o vídeo co-criado pelas próprias crianças:
“É preciso (...) que o formando, desde o princípio mesmo
“Esse é o nosso segundo vídeo do nosso canal da nossa Praça”
de sua experiência formadora, assumindo-se como sujeito também
(Informação verbal, João, Oficina 04 de Construção - Elisa Maria, 2019).
da produção do saber, se convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
197
produção ou a sua construção” (FREIRE, 2019. Pág, 24. Grifo nosso).
Quando, durante as Oficinas de Construção, as crianças se tornam responsáveis por criar as atividades e conduzi-las, estamos incentivando a possibilidade da construção de um saber que, ao ter de comunicar ao colega, a criança precisa fazer um esforço ainda maior para se apropriar do que antes foi passado a ela. Nós, facilitadoras, assumimos um papel de auxiliar, tentando sempre mostrar que o que é por elas trazido tem tanto valor quanto o que é trazido por nós. Tudo é recriado, repensado e reaprendido coletivamente, resultando numa validação por elas mesmas do que antes foi passado por nós. Nas palavras de Freire (2019, p. 117) elas se tornam capazes, como sujeitas cognoscentes, de inteligir e comunicar o inteligido: J: É... enquanto a gente vai andando até a Praça, vejam as cores das paredes, desenha... Pra gente ter umas ideias, pra quando for desenhar lá. Facilitadora: Pra ir observando as cores? J: É. [e fala baixinho] Que vergonha… (Informação verbal, João, Oficina 06 de Construção - Vila Anglo, 2019). Imagem 46: Meninos filmam e entrevistam os amigos durante a Oficina Construindo a Comunicação, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança); Imagem 47: Meninas pintam cada uma o seu banco na Praça do Samba durante Oficina de Reflexão, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).
198
Neste diálogo, João faz um esforço para comunicar às outras
MEUS SENTIDOS
crianças qual é a proposta da atividade que ele e seu grupo criaram.
também, que vão aprendendo. É importante que as deixemos livres para
Ele sente vergonha, pois está assumindo um papel que normalmente
que coloquem suas vontades no mundo e que aprendam não só pela
não lhe é concebido, logo, não se sente confortável em assumi-lo. Mas,
teoria, mas pela prática, que as vezes implica em errar.
mesmo assim, João faz o esforço de passar aos outros, pois essa foi a responsabilidade que ele combinou com o seu grupo.
Neste caso, ficaram tão entusiasmadas com tamanha liberdade e pintaram com tanta ansiedade que, o que haviam vislumbrado em
Esta troca de papéis nos permite construir juntas, educadoras e
suas cabeças não correspondia ao que viam esboçado em seus bancos.
crianças, a elaboração de um novo conhecimento, pois estimula que as
Uma delas chorou frustrada, outras duas fizeram que iriam abandonar
crianças passem pela experiência de exercer um papel que normalmente
a pintura.
não lhes é concedido: de produtoras do saber. Algumas delas estão tão
Há vezes que, se deparando numa situação dessas, tenhamos
desabituadas a estar nesse lugar que, quando simulamos que ali estejam,
vontade de pegar o pincel e terminar o desenho para a criança,
acabam se auto sabotando. Foi um caso na Praça do Samba, quando
“resolvendo o problema”. Mas, na verdade, se queremos contribuir para
estávamos terminando de pintar os bancos na Oficina de Reflexão:
a sua formação, a única maneira de ajudá-la é oferecendo materiais e auxílio para que ela mesma traga a solução, usando a sua inteligência, a
G: Bianca, eu não sei por onde começar... Bianca, o que é que eu faço agora?
fim de que se aproprie do conteúdo. Entendo que, neste caso, as crianças tiveram raiva do que
B: Eu não sei... É que a tinta não tá nem ficando preta, como
estavam criando, pois, na verdade, amavam e se identificam com aquela
eu pensei… (Informação verbal, Gabriela e Bianca, Oficina 07 de
criação que, no fim, não correspondia com o que haviam imaginado. Não
Construção - Vila Anglo, 2019).
é fácil, ao educando, assumir a radicalidade do seu eu. “Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador,
Apesar de as termos deixado livres para criação, as meninas
criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar”
não tinham repertório técnico para mexer nas tintas, afinal, elas nunca
(FREIRE, 2019, p. 42). Mas cabe a nós, educadoras, propiciar condições a
haviam pintado bancos de concreto antes. Mas é assim, experimentando
vivencias em que se assumam, olhando para seus erros e acertos durante
199
o aprendizado, como na reflexão que fizemos ao final desta oficina no dia:
Sobre educação e a reflexão crítica sobre a prática “A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da
Facilitadora: E pintar sozinho, foi fácil?
relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blá-blá-blá e
Todos: Não.
a prática, ativismo” (FREIRE, 2019, p. 24).
Facilitadora: É mais fácil sozinho ou em grupo? Todos: Em grupo!
A fim de relacionar tanto teoria quanto prática, o CoCriança
Facilitadora: Por que?
busca, como projeto educador, contribuir também para uma formação
J: Porque deu pra conversar.
crítica das crianças. Cada oficina na metodologia é planejada com três
S: É, tipo, sozinho demora mais pra você pensar a situação
atividades principais: 1. Aquecimento/integração; 2. Planejamento/
(Informação verbal, João e Stefani, Oficina 07 de Construção - Vila
mão na massa; 3. Reflexão/avaliação. Neste capítulo, refletiremos sobre
Anglo, 2019).
a importância deste terceira bloco, em que o que foi produzido pelas crianças tem um tempo para por elas ser profundamente sentido e
Aqui, podemos perceber como as crianças avaliam que teria sido
compreendido.
mais vantajoso fazer a pintura do banco se tivessem feito uma conversa antes disso, para criarem coletivamente. Portanto, ao convidá-las a
Facilitadora: Mas e depois? Acaba com uma atividade grande?
experienciar, sentir-se produtoras de saber e criadoras da materialização
S: Eu acho que depois a gente conversa sobre o que a gente
de espaços, devemos acolher a maneira que essas crianças lêem e lidam
fez. (Informação verbal, Stefani, Oficina 05 de Construção - Vila Anglo,
com o mundo. Para tanto, a experenciação deve sempre vir acompanhada
2019).
do exercício de reflexão crítica sobre a prática, a fim de fundamentar o conhecimento.
Neste diálogo, a facilitadora explica às crianças como é que funciona a estrutura das oficinas, pois este é um momento essencial para que elas mesmas possam planejar a delas. Stefani, já reflexiva sobre
200
MEUS SENTIDOS
o projeto, responde que sempre há uma conversa sobre o que foi feito
vive nos demais homens, e o que diferencia um homem dos demais é
durante o dia.
a forma como as ideias resplandecem em cada homem em particular.
Segundo Freire (2019, p. 38), todo entendimento implica,
(...) O pensar (...) não é individual como o são ter uma sensação ou
necessariamente, comunicabilidade. Ou seja, não há como digerirmos o
sentir (perceber). O pensar é universal e ganha o caráter individual
que foi trabalhado em oficina, se não sentarmos para ter esse precioso
em cada homem na relação que estabelece com os sentimentos e as
momento de reflexão, em que não só desafiamos cada criança a
sensações particulares” (MUTARELLI, 2014, p. 72. Grifo nosso).
verbalizar o que pensa sobre a atividade do dia, mas, principalmente, o que sente em relação a isso. Este gesto permite que elas elaborem as
Neste caso, entendemos o tamanho da importância dessas
suas próprias versões do que lhes foi ensinado, como faz Stefani:
discussões em grupo após cada atividade. É um momento de reflexão, em que todas as crianças já passaram pela observação ou experienciação
“Eu me senti muito feliz porque por mais que... Não, eu gostei que a gente conseguiu fazer o que a gente queria mesmo, o nosso objetivo, e é isso aí.” (Informação verbal, Stefani, Oficina 05 de Construção - Vila Anglo, 2019).
Muitas vezes, propomos ainda, que essas discussões ocorram em roda, para que cada criança tenha o desafio de comunicar o seu entendimento. Assim, deixamos de transferir o conhecimento e passamos a coparticipa-lo. É o que explica Rudolf Steiner, quando fala sobre a educação antroposófica “O mundo das ideias que está em meu íntimo é o mesmo que
Imagem 48: Momento final da oficina: roda de feedback, na Oficina de Planejamento: Pintura, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança).
201
e que as sensações - únicas - serão compartilhadas, apontando a
Dessa forma, quanto mais exercitamos a capacidade de indagar, de
individualidade de cada uma.
comparar, de refletir, de duvidar e de aferir, “mais crítico se pode fazer o
(...) bom-senso” (FREIRE, 2019, p. 61).
A prática então, segundo Mutarelli, é universal, pois ela se coloca
ao alcance de todas. Mas, a maneira que cada uma vai fazer a conexão daquilo que lhes foi oferecido com o seu interior, é único, e portanto, individual.
Sobre educação, rebeldia e criticidade “O necessário é que (...) o educando mantenha vivo em si o gosto
V: Eu me senti feliz, porque tipo, a gente tava trabalhando todo
da rebeldia que, aguçando sua curiosidade e estimulando sua capacidade
mundo junto, conversando, dialogando, daí a gente tava mais... como
de arriscar-se, de aventurar-se, de certa forma o “imuniza” contra o poder
que eu posso dizer? Mais junto, mais…
apassivador do ‘bancarismo’” (FREIRE, 2019, p. 27. Grifo nosso).
Facilitadora: Unido? É união é um sentimento também
Podemos entender a importância pela rebeldia a que Freire
(Informação verbal, Vinícius, Oficina 05 de Construção - Vila Anglo, 2019).
se refere, quando observamos as diferentes manifestações ao projeto
Nesta citação, Vinícius faz um esforço para conseguir verbalizar
que têm as crianças do Elisa Maria e as da Vila Anglo. Na Vila Anglo, a
aquilo que sentiu durante a prática coletiva de planejamento da atividade.
Praça está conservada e a população a mantém assim. Houve, inclusive,
Neste dia, todos fizeram o planejamento junto com o seu grupo, mas
no dia em que retornamos após as férias de janeiro1, um apontamento
apenas Vinícius verbalizou ter sentido uma união entre eles.
pelas crianças de que o aro da cesta de basquete estava quebrado, e
Essa transformação interna que ocorre durante a avaliação
que deveríamos consertar. Curiosamente, no mesmo dia, saindo da
crítica sobre a prática contribui para que cada criança vá desenvolvendo,
Praça, vimos um grupo de quatro homens grandes carregando um aro
ao longo do processo, o bom-senso. Pois, assim como exercitamos com
se dirigindo para lá. Perguntamos se eles estavam indo levá-lo para a
eles a técnica para uma construção coletiva, exercitamos também o reconhecimento daquilo que estão sentindo em relação às suas ações.
202
1
Oficina 08 - Retomando o Contato, 2020.
MEUS SENTIDOS
quadra e um deles respondeu: “nóis quebrou, nóis vai consertar”. Já no entorno da Praça Livre Para as Crianças, ainda não se
tals, ai acho que eles vão se tocar, vão ver” (Informação verbal, Agatha, Oficina 10 de Construção - Elisa Maria, 2020).
conseguiu colocar em prática essa consciência de bairro ou de cuidado pelo espaço público, o que se têm são apenas alguns indivíduos de
Um dos nossos desafios, enquanto educadoras, é estimular essa
resistência. Por isso, resta às crianças que se politizem com mais afinco,
rebeldia como ponto de partida para a mudança, mas estando atentas
reforçando sua insubmissão e crítica à realidade que lhes é condicionada,
para que essa postura rebelde não se estagne. Isto porque, rebeldia pura
como na fala de Agatha sobre a situação da Praça, no dia em que
e simples pode terminar em falta de respeito.
retomamos as atividades:
No caso das crianças do Elisa Maria, a rebeldia deve se alongar até termos uma postura revolucionária, como é a de Agatha na citação acima. Há
“Esse é o ruim, porque as pessoas reclamam, reclamam, que
uma leve limiar entre as duas, “a rebeldia é ponto de partida indispensável,
a gente não tem nada, não tem praça, não tem coisa pras crianças se
é deflagração da justa ira, mas não é suficiente” (FREIRE, 2019, p. 76). Como
divertirem... mas quando tem, eles vão lá e destróem!” (Informação
acontece nesta última fala de Agatha, que imediatamente aponta a solução
verbal, Agatha, Oficina 01 de Construção - Elisa Maria, 2019).
crítica e estratégica para aquilo que lhe é um desafio. Por tanto, precisamos estar atentas para construir com as crianças também esta posição crítica
São, constantemente, indignadas e frustradas pelo modo em que os adultos do entorno depredam a sua Praça. Isso gera nelas uma rebeldia contra a forma como as coisas se dão, que as estimula a tentar maneiras variadas de soluções a cada vez que uma das anteriores não funcionou:
sobre a realidade, anunciadora de nossos sonhos, capaz de transformar porque não aceita e revolucionária, pois anuncia a superação. Nos cabe, então, estimular essa inquietação, esta curiosidade e persistência para que, cada vez mais, elas sejam capazes de se emancipar da heteronomia e conquistarem a capacidade de intervir no mundo. Pois a
“E tem que ir lá né? Porque não adianta! Tem que ir, pra usar,
situação que se encontram não é “destino certo ou vontade de uma força
ai provavelmente vai ter que pintar tudo de novo, por as plantas lá
maior”, tampouco é uma fatalidade. Aproveitamos o descuidado do poder
de novo... (...) Se a gente ir lá quase todos os dias, lá brincar, ir lá e
público em investir na infraestrutura básica de seus bairros, para levantar
203
discussões de, por exemplo, motivos pelos quais as pessoas tendem a
“A boniteza de ser gente se acha, entre outras coisas, nessa
descartar o lixo na calçada, criando pontos de acúmulo de resíduos, os
possibilidade e nesse dever de brigar. Saber que devo respeito à
conhecidos “pontos viciados de lixo”. Ou, de por que este lixo acumulado
autonomia e à identidade do educando exige de mim uma prática em
contribui para que os nossos rios sejam todos poluídos? Ou ainda, como
tudo coerente com este saber” (FREIRE, 2019, p. 60).
a localização urbana de nossa praça implica nos interesses econômicos e políticos vigentes no lento processo de licitação do projeto?
Enxergar junto com as crianças essa possibilidade de brigar
pelo que a elas é de direito, realmente, é a maior boniteza na prática “(...) necessária e urgente se fazem a união e a rebelião das
da metodologia CoCriança. Assim, lutamos pelo direito dessas crianças,
gentes contra a ameaça que nos atinge, a da negação de nós mesmos
como cidadãs, por um espaço livre e público destinado a elas e por
como seres humanos, submetidos à fereza da ética do mercado”
elas construído, pois, mesmo crianças, também são seres de vontades
(FREIRE, 2019, p. 125).
e conhecimento. Como também, pelo direito à periferia da cidade de também ter e poder usufruir de um espaço digno de lazer.
Sobre este ponto, podemos entender a relevância que se tem
É por essa e outras razões que trabalhamos com a educação, com
em criar situações e oferecer ferramentas para que as crianças possam,
a transformação do espaço urbano e com a reivindicação do que é nosso e
ao longo do projeto CoCriança, lutar pelo seu direito à paisagem. Direito
das nossas crianças por direito. Juntos vamos desenvolvendo e entendendo
este que lhes proporciona não só a insubmissão às forças da ética do
que nossas ações no mundo não são passivas, pelo contrário, temos grande
mercado, pois nos proporciona à pausas na rotina, ao tempo-livre para
força mobilizadora dentro de cada um e, à medida que a reconhecemos,
apreciação estética e de lazer; mas também uma operação ativa na
temos maiores possibilidades de nos tornar sujeito da história.
constituição de si como indivíduo e dos seus lugares, de forma dialógica
e autônoma (WEHMANN, 2019 p. 221).
sendo esta, mas poderia ser outra. E é por isso que devemos lutar para
Quando Freire fala:
204
A realidade que vivemos não é imutável. A realidade está
transformá-la.
MEUS SENTIDOS Sobre educação e ser sujeito no mundo
Foi o que aconteceu na Oficina 05 - Construindo o Planejamento:
Qvortrup, em seu artigo “Nove teses sobre a infância como
Pintura, na Vila Anglo (imagem 49). Havíamos acabado de escrever tudo
um fenômeno social ”, apresenta e questiona os motivos pelos quais
no roteiro da oficina que as crianças iriam conduzir: tempo, materiais,
as crianças, como grupo social, não são levadas em consideração nas
importância, divisão de grupos e responsabilidades. Quando houve um
análises sociológicas a respeito de economia e política. Ou seja, na
momento em que perguntei “pronto, posso deixar tudo com vocês? Vocês
maioria das vezes, quando mencionadas as crianças, elas aparecem sob
conseguem fazer sozinhos? Eu não vou fazer nada!” Eles responderam
responsabilidade dos pais ou ainda como membros constituintes da
que sim e, em seguida, a Rayza, a outra facilitadora, complementou
família, mas não consideradas como sujeitos individuais, particulares
“viram só? Isso é autonomia! Porque, quando a Dea diz que vocês vão
e distintos. Porém, sabemos que as “crianças são criadoras, inventivas,
fazer tudo sozinhos, ela está contribuindo para a autonomia de vocês,
porque se envolvem em ações propositivas” (QVORTRUP, 2011, p. 207)
que não vão mais precisar dela”. Imediatamente a expressão no rosto
ou seja, são também sujeitos da história, e afirmar isto ao mundo é a
deles mudou. Lembro do Wesley abrir um grande sorriso e exclamar
missão do CoCriança.
“que legal!”. Em seguida, a Gabi que estava escrevendo, pegou a caneta
2
O problema, ainda segundo Qvortrup, é que o “mundo adulto”
vermelha e circulou bem forte no Esqueleto de Oficinas o pilar da
não as enxerga como autônomas o suficiente para também participarem
“autonomia” que trabalhamos, e que eles tinham deixado passar, já que
das decisões políticas, econômicas e urbanas. Por isso, por meio das
antes disso, não lhes fazia sentido.
oficinas que fazemos, proporcionamos situações em que se coloquem
Fazê-las entender que são sujeitos no mundo exige, na prática
como agentes de transformação, e assim comecem a assumir o papel de
educativa, também uma abertura a se expor ao risco. Colocá-las no
sujeito na produção do mundo, e não apenas de recebedor, entendendo
papel de planejador e criador da oficina ou no papel de agentes da
o real significado de autonomia.
transformação urbana, é incentivar que se desafiem a assumir estas posições que a sociedade adultocêntrica as privou de exercer. Como
2 Artigo publicado em Eurosocial Report Childhood as a Social Phenomenon: Lessons from an International Project, n. 47, 1993, p. 11 - 18. Tradução de Maria Letícia Nascimento. Norwegian University for Science and Technology, Trondheim, Norway.
no diálogo a seguir, quando Edgar e Denise explicam aos colegas o funcionamento da atividade que seu grupo organizou:
205
E: [A gente] Vai dividir em grupos, pra pintar. Aí vai ter o espaço pra colocar “suas regras”. Aí, que nem, vai fazer o desenho, aí nós vamos pintar nós brincando na Praça. D: A Cleo não veio hoje, mas a gente vai pintar o muro, todo mundo junto. Aí, quando a Cleo vir, ela vai desenhar pra gente aplicar a tinta no desenho (Informação verbal, Edgar e Denise, Oficina 06 de Construção - Elisa Maria, 2020).
No momento desse diálogo, enquanto vão falando, eles trocam olhares o tempo todo buscando um o apoio do outro (imagem 50), evidenciando o desafio que é para eles assumir esse lugar. Edgar e Denise, então, se colocam na posição de sujeitos ativos quando, não só criam a atividade, mas comunicam o que criaram para o resto do grupo. Nesse dia, a grafiteira Cleo não pode comparecer à atividade, e nos avisou em cima da hora. Por isso, as crianças tiveram que readaptar o que haviam planejado e o fizeram muito bem. Como quando Denise explica a solução aos outros dizendo que, como a grafiteira não poderia pintar naquele dia, teriam que fazê-lo todos juntos. Sua fala evidencia não só uma solução criativa e coletiva ao problema, como também o Imagem 49: Planejando a Oficina de Pintura, Vila Anglo Brasileira, 2019 (Fonte: CoCriança); Imagem 50: Crianças explicam o funcionamento da atividade de pintura, Jardim Elisa Maria, 2019 (Fonte: CoCriança).
206
entendimento de que quando assumimos a posição de sujeitos, teremos de construir, reconstruir e constatar para mudar o que propomos. Esta
MEUS SENTIDOS
não é uma tarefa fácil, mas que estimula a passagem da heteronomia
e sem as devidas finalizações. As crianças notaram - Oficina 10, ano de
para a autonomia.
2020 (imagem 48) - e apontaram que os bancos não estavam chumbados
Assumindo tais responsabilidades, as crianças deixam de
e o escorregador não estava finalizado.
depender de um agente externo - a grafiteira - para que a ação de pintura
Elas perceberam também, que ainda faltava a instalação dos
na Praça seja realizada. Assim, no decorrer do projeto CoCriança, nosso
brinquedos, as plantas precisavam ser replantadas, e a Praça carecia
objetivo é que elas se apropriem dessas ferramentas que viemos usando
de mais limpeza. Essa situação nos permitiu, mais uma vez, agir como
para co-criar um espaço coletivo, e possam também assumir esse lugar
sujeitos: não íamos permitir que nos oprimissem e deixassem nossa
de sujeitos no mundo. Como quando Freire diz:
Praça daquela maneira.
“Um esforço sempre presente à prática (...) [é] o de persuadir
“A gente escreveu ‘faltam brinquedos’, ai aqui nós colocamos
ou convencer a liberdade de que vá construindo consigo mesmo, em si
construir, procurar ajuda, comprar materiais, customizar e reutilizar”
mesma, com materiais que, embora vindos de fora de si, reelaborados
(Informação verbal, Julia, Oficina 10 de Construção - Elisa Maria, 2020).
por ela, a sua autonomia. É com ela, a autonomia, penosamente construindo-se, que a liberdade vai preenchendo o “espaço” antes
“Limpeza. Nós colocamos que precisa de mais um dia. Aí nós
“habitados” por sua dependência. Sua autonomia que se funda na sua
podemos fazer um dia pra gente trazer, por exemplo, coisas de casa
responsabilidade, que vai sendo assumida” (FREIRE, 2019, p. 91).
- a gente traz das nossas casas mesmo - pra gente fazer a limpeza na Praça. Tipo, uma vassoura a gente pode trazer de casa mesmo, uns
Sobre isso, posso relatar outra situação que tivemos que contornar durante nosso projeto na Brasilândia, que foi a incapacidade
produtos” (Informação verbal, Tiffany, Oficina 10 de Construção - Elisa Maria, 2020).
da empreiteira contratada de terminar a obra. Como tiveram problemas com a logística de entrega de materiais e alguns furtos dos mesmos,
Nas falas de Julia e Tiffany acima, podemos perceber como elas
acabaram dando por terminada a Praça muito depois do prazo previsto
apontam o que ainda carecia de cuidado na Praça, e logo trazem soluções
207
208
criativas ao problema, agindo como protagonistas desta solução. Juntas, então, começamos a elencar quais as nossas possibilidades, dentro do contexto que nos encontrávamos, para lidar com esses problemas, e as crianças também trouxeram o nome de três pedreiros conhecidos ou familiares que poderiam nos ajudar. São as crianças que trazem as soluções. Elas, que se sentem responsáveis pelo estado em que a Praça se encontra a cada vez que voltamos para lá, já sabem o que devem fazer. O que estamos construindo com elas é justamente esse trajeto para que, um dia, elas possam agir de forma autônoma, livre e responsável. “Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não apenas objeto, mas sujeito também da história” (FREIRE, 2019, p. 53. Grifo nosso).
Imagem 51: Crianças refletem sobre como arrumar os últimos detalhes da Praça Livre Para As Crianças, na Oficina Perspectivas 2020, Jardim Elisa Maria, 2020 (Fonte: CoCriança).
5 NOSSO APRENDIZADO
SOBRE O MEU E O
“Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 2019, p. 25)
O meu processo de aprendizado durante a prática do CoCriança
política-pedagógica.
na minha vida, por hora, tem sido o maior de todos. A oportunidade
que tive de poder usufruir desta Universidade pública que é a FAU-USP
Autonomia”, de Freire, que fundamentei este aprendizado. Seguindo a
deveria ser efetivamente um direito público no sentido literal da palavra,
linha freireana, inconclusa que sou como ser humano, continuo sempre
em que todos pudessem ter a mesma oportunidade de experienciar o
aprendendo e, agora, compreendo um pouco melhor. Em suas palavras,
que é poder fazer pesquisa, extensão e ensino como tríplice educativa e
“o[s] educador[es] (...) podem demonstrar que é possível mudar. E
de qualidade que a Universidade nos proporciona.
isso reforça nele[s] ou nela[s] a importância de sua tarefa político-
Veja, não estou aqui para enaltecer a USP. Reconheço, inclusive,
pedagógica.” (FREIRE, 2019, p. 110). Afinal, os objetivos do CoCriança
os tantos defeitos discriminatórios, meritocráticos, financeiros, entre
são fundamentados na mudança, na mudança urbana, paisagística, da
outros, que ela tem. Mas, devo reconhecer também, que é por meio
criança, do bairro e dos educadores.
dela que temos a oportunidade de vivenciar a educação exercendo um
dos seus maiores deveres que é o de politizar pedagogicamente.
aprendendo como discente - tudo que já tive o prazer em apresentar nos
Lembro quando este TFG era apenas uma ideia, e eu o discutia
capítulos anteriores -, e tive também a oportunidade de aprender como
com a Karina: eu queria falar de educação, do CoCriança, mas queria
integrante do meio em que estava inserida. Aprendi politizando-me na
me ausentar de qualquer intervenção que nós, como educadoras e
luta estudantil, contra o sistema extremamente meritocrata e excludente
facilitadoras, poderíamos ter sobre as crianças. Isso porque, o CoCriança
que é o seu processo seletivo e de permanência na universidade, na
para mim sempre foi um processo, como já disse, muito empírico de
formação feminista, e na luta dentro do que é a extensão universitária e
conhecimento, em que, eu sabia os motivos pelos quais estava lutando
todo o seu dever de responsabilidade com a sociedade.
- éticos e de direitos à cidade, à paisagem e humanos. Mas, o que eu
não sabia - embora a Karina naquela época já me avisara - era que
corpo estudantil, por completo. Pois estava praticando a pesquisa,
nossa metodologia não era apenas uma facilitação ao processo de
o ensino e a extensão, mas, principalmente, por ter professoras-
desenvolvimento-criativo das crianças, mas sempre foi uma formação
orientadoras que me estimulavam a curiosidade e o diálogo o tempo
212
Mas é claro que sim! Foi lendo o livro “Pedagogia da
Voltando em relação à USP, tive, então, a oportunidade de ir
Durante a extensão do CoCriança, pude aprender a ser discente,
NOSSO APRENDIZADO
todo, criando a troca didática que Freire tanto fala entre professor e
conseguimos ou não alcançar nossos objetivos. Mas, é importante
aluno. Pude, também, aprender a ser integrante, porque não só éramos
constatar que também sempre fazemos esse monitoramento entre
um coletivo da faculdade atuando fora dela, mas também porque
nós da equipe educadora. De tempos em tempos, nos reunimos para
éramos um coletivo em si. E trabalhar em grupo nos traz os maiores
avaliar como cada uma se sente dentro do nosso coletivo. Conversamos,
aprendizados, pois precisamos aprender a nos comunicar, a ouvir e
expomos sentimentos, medos e desejos, e avaliamos o que deve se
saber escutar e a respeitar.
manter e como podemos mudar, buscando ouvir cada uma por igual.
Trabalhando em coletivo no CoCriança, aprendi que todas
Foi assim, trabalhando no coletivo, que aprendi que precisamos
precisam se sentir respeitadas, amadas e essenciais ao propósito que
juntas construir um ambiente que seja propício para quem tem o que
tem o CoCriança para cada uma. E que, para tanto, precisamos saber nos
dizer tenha gosto em expressá-lo.
comunicar e saber escutar.
E por fim, durante o meu processo com as crianças, pude
vivenciar o terceiro dos meus aprendizados dentro do CoCriança: o de “Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo,
experienciar ser docente. Sobre este aprendizado, gostaria de transcrever um parágrafo que Freire traz em seu livro sobre ser professor:
como se fôssemos os portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é escutando que aprendemos
“Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor
a falar com eles. Somente quem escuta paciente e criticamente o
que, por não poder ser neutra, minha prática exige de mim uma
outro, fala com ele (...) (FREIRE, 2019, p. 111. Grifo nosso).
definição. (...) Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a favor de não importa o quê. [1] (...) Sou professor a favor da decência
Sempre buscamos também construir com as crianças o diálogo
contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da
através da escuta-ativa, afinal, é ele um dos pilares do CoCriança. Era
autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de
um exercício constante, em que nos monitorávamos o tempo inteiro,
direita ou de esquerda. Sou professor a favor da luta constante contra
fazendo avaliações pós-oficinas - como as relatadas - e discutindo se
qualquer forma de discriminação, contra a dominação econômica dos
213
indivíduos ou das classes sociais. [2] Sou professor contra a ordem
mas a consciência de sua inconclusão é que gerou a educabilidade.
capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na fartura.
É também na inconclusão de que nos tornamos conscientes e que
Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo. [3]
nos inserta no movimento permanente de procura que se alicerça a
Sou professor contra o desengano que me consome e imobiliza. Sou
esperança” (FREIRE, 2019, p. 57. Grifo nosso).
professor a favor da boniteza de minha própria prática (...)” (FREIRE, 2019, p. 100. Grifo do autor).
Certo dia, ainda este ano, quando retornei ao CCA para conversar
com a Nathani, uma das coordenadoras, passei pela Praça Livre Para As Neste único parágrafo de Freire, resgato um dos meus maiores
Crianças. Foi decepcionante, durante apenas o mês de janeiro, período
aprendizados como professora, que quem me trouxe foi a Karina [1], de
de férias, era como se a Praça tivesse retornado à estaca zero: todas
que não estou apenas facilitando a luta por direito dessas crianças. Estou
as plantas haviam morrido, a pintura das crianças já estava coberta de
contribuindo também para que elas se formem crítica e politicamente,
grafites e tinha lixo por toda a parte.
inseridas no bairro em que estão, se assumindo como seres de direitos
Enquanto falava com a Nathani, foi difícil não esconder o meu
sociais, cidadãos, paisagístico e etários. E que, se contribuo para isso,
desânimo, “será que nunca vamos conseguir? Será que a Praça vai ficar
elas, o tempo todo, contribuem para a minha formação também, quando
assim para sempre mesmo?”, pensava. Conversamos por cerca de trinta
me trazem as suas dores e angústias que, juntas, decidimos lutar [2].
minutos e fui à sala das crianças, ver como estavam. Qual foi a minha
Acima de tudo, aprendi que jamais devemos perder a esperança
surpresa com a felicidade delas! O sorriso no rosto de cada uma, outras
enquanto seres inconclusos, enquantos temos certeza de que o mundo
que vieram me abraçar veemente, todas carregadas com a esperança de
se transforma e não é uma fatalidade que a periferia seja como está
que, se eu havia voltado, nossa luta pela Praça ainda não tinha terminado.
enquanto que os bairros centrais usufruem de toda a infraestrutura e
E assim, apenas nesses cinco minutinhos de energia que estive com elas,
serviços [3].
me enchi de esperança de novo! “Vamos sim, vamos dar um jeito, pintar tudo de novo, limpar tudo de novo, vamos consertar nossa Praça!” “Não foi a educação que fez mulheres e homens educáveis,
214
Qual o sentido em ser professora se desacreditamos que as
NOSSO APRENDIZADO
coisas possam mudar? Como podemos mudar se não temos esperança? A beleza de nossa prática está realmente na construção deste sonho. Em acreditar que, cada dia que passa, estamos cada vez mais perto de concretizá-lo. Se tem uma coisa que aprendi com as crianças do CoCriança, foi isso. Me emociona pensar que ao ser professora, como aqui transparece, tenho a possibilidade de poder compartilhar todos os ideais de minha ética. E que, ao ser professora no CoCriança, posso intervir no mundo e compartilhar com as crianças o que, para mim, é ético como estudante, como arquiteta, urbanista e paisagista, como mulher e como ser humano. “A boniteza da prática docente se compõe do anseio vivo de competência do docente e dos discente e de seu sonho ético” (FREIRE, 2019, p. 92).
Imagem 52: Equipe CoCriança no concurso Mobiliza Breton, Aline, Mayte, Dea, Jayne, Camila Audrey, Camila Sawaia e Amanda (esq. para direita), 2018 (Fonte: CoCriança); Imagem 53: Debate sobre metodologias participativas, Dea e Bia apresentam o CoCriança, IAB São Paulo, 2019 (Fonte: CoCriança).
215
6 BIBLIOGRAFIA
217
6.1 BIBLIOGRAFIA ALBARDÍA, Maria Teresa Santos. Protagonismo infantil na américa latina:
HARVEY, D. A globalização contemporânea: espaços de esperança. Rio
metodologias participativas na vida das crianças das classes populares.
de Janeiro. Loyola: 2004.
Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação Interunidades em Integração da América Latina. Orientadora Marilene Proença Rebello de
JELLICOE, Geoffrey. The Landscape of man. Ed. Thames and Hudson.
Souza. - São Paulo, 2019.
London: 1985.
BOFF, Clodovis. Como Trabalhar Com o Povo. 7ª Edição. Arquivo
LEITE, Edmilson Madre Deus. O processo participativo e a sua expressão
PDF, disponível em: servicioskoinonia.org/biblioteca/pastoral/
na arquitetura africana: algumas experiências. Tese (mestrado) -
BoffClodovComoTrabalharPovo.pdf. 1984.
Faculdade de Arquitetura e Artes da Universidade Lusíada de Lisboa. Orientado por Miguel Ângelo Soares Pinto da Silva. - Lisboa, 2018.
BROGGI, Anna. A Educomunicação e suas Práticas - Um Estudo de Caso da ONG CISV. (Graduação em Licenciatura Educomunicação) - Escola de
LIMA, Catharina P. C. S.; ALBUQUERQUE; Elaine M. de; LIMA, Gabriel C.
Comunicações e Arte da Universidade de São Paulo. Orientação: Profa.
dos Santos, WEHMANN, Hulda Erna. O direito ao (in)compressível: arte,
Dra. Cláudia Lago. São Paulo, 2019.
cidade, paisagem e transformação social. In: RUA [online]. nº. 23. Volume 2, p. 291 – 309 – e-ISSN 2179-9911 - Novembro/2017. Consultada no
DIAS, Marina Simone. Brincando na cidade, crescendo em cidadania:
Portal Labeurb – Revista do Laboratório de Estudos Urbanos do Núcleo
um estudo sobre os parques infantis de Barcelona, Espanha. In: Oculum
de Desenvolvimento da Criatividade, 2017.
Ensaios, vol. 14, núm. 3, 2017. Pontifícia Universidade Católica de Campinas.
MUTARELLI, Sandra Regina Kuka. O querer, o sentir e o pensar de Rudolf Steiner na literatura para crianças e jovens: os atos da vontade.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
educativa. 60ª ed. Rio de Janeiro/ São Paulo: Paz e Terra, 2019
da Universidade de São Paulo. Orientadora Maria dos Prazeres Santos
218
BIBLIOGRAFIA
Mendes. – São Paulo, 2014.
V., Lima, C.Fenomenologia e Paisagem: espaços de transitividade em intervenções associadas ao paisagismo e arte contemporâneos.
NASCIMENTO, Andréa Zemp Santana do. A criança e o arquiteto: quem
Pesquisa realizada com apoio da FAPESP-2012- 2014 – proc. no 01735-1
aprende com quem?. Tese (Mestrado) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Orientadora Vera Pallamin. -
PROJETO CRIANÇA PEQUENA EM FOCO. Vamos ouvir as crianças?
São Paulo, 2009.
Caderno de metodologias participativas. Arquivo digital PDF. Realização CECIP e Bernard van Leer Foundation. Rio de Janeiro, 2013.
QVORTRUP, Jens. Nove teses sobre a infância como um fenômeno social. Artigo publicado em Eurosocial Report Childhood as a Social
WEHMANN, Hulda Erna. O direito a habitar a cidade: o reconhecimento
Phenomenon: Lessons from an International Project, n. 47, 1993, p. 11
da experiência estética como direito à cidade. Tese (Doutorado) -
- 18. Tradução de Maria Letícia Nascimento. Norwegian University for
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
Science and Technology, Trondheim, Norway
Orientadora Catharina Pinheiro Cordeiro dos Santos Lima. - São Paulo, 2019.
SAWAIA, Camila Pinto de Souza. A cidade como lugar educativo: contribuições do protagonismo e do olhar infantil. (Graduação em Pedagogia) - Instituto Superior de Educação de São Paulo – Singularidades.
Filmes:
Orientação: Prof.a Me.Tatiana Schunck. São Paulo, 2019. MIRADAS. Direção de Renata Meirelles e Sandra Eckschmidt. São Paulo: SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São
Território do Brincar/ALANA, 2019. Online: bit.ly/-miradas (acesso em
Paulo: Cortez Editora, 2010.
27/05/2020) (31 min.)
PALLAMIN, V. (pesquisadora responsável), ARANHA, C., BARTALINI,
219
6.2 LISTA DE IMAGENS Imagens Imagem 01 - Foto da Praça Livre Para As Crianças em seu último dia de
P. 8
oficina de 2019 (Fonte: CoCriança).
Desenhos Desenho 01 - Introdução. Autor: David, 2019 (Fonte: CoCriança).
P. 12
Desenho 02 - O Processo. Autora: Dayane, 2018 (Fonte: CoCriança).
P. 18
Desenho 03 - Os Encontros. Autor desconhecido, 2018 (Fonte:
P. 64
CoCriança).
Desenho 04 - Meus Sentidos. Autor deseconhecido, 2019 (Fonte:
CoCriança).
Desenho 05 - Nosso Aprendizado. Autora: Maryane, 2019 (Fonte:
P. 162 P. 210
CoCriança).
Desenho 06 - Bibliografia. Autor: Marcus, 2018 (Fonte: CoCriança).
P. 216
Desenho 07 - Anexos. Autor: Marcus, 2019 (Fonte: CoCriança).
P. 222
Ícones Todos os ícones, das linhas do tempo e dos roteiros de oficinas, foram cocriados por Andrea Muner e Camila Audrey.
220
P. 75 a 161
BIBLIOGRAFIA
221
7 ANEXOS
223
7.1 ANEXO I OFICINAS OFICINA 10: PERSPECTIVAS 2020
10/03/2020
Local: CCA Elisa Maria e Praça Livre Para As Crianças Duração: 2h 30min Número de crianças participantes: 18 Alteração no roteiro: Baixa Materiais Necessários 10 cartões verdes 10 cartões vermelhos fita crepe canetas
Objetivo geral: Ouvir o que as crianças têm a dizer sobre a atual situação da Praça. Elencar o que pode ser considerado como pronto por elas e o que temos que nos dedicar ainda para construir. Elencado o que falta, elaborar coletivamente possibilidades de soluções.
ROTEIRO 1. AQUECIMENTO: SI MAMA KAA (15 minutos)
Objetivo Movimentar o corpo e brincar. Descrição da atividade Ensinar a letra e a coreografia da
224
música africana Si Mama Kaa às crianças. É uma atividade de movimentos e entrosamento.
2. RODA DE CONVERSA
(20 minutos) Objetivo Conversar sobre as férias, como se encontra a Praça e o que entendemos como desafios. Descrição da atividade Discutir com as crianças sobre a atual situação da Praça, afirmando que não desistimos de deixá-la como sonhamos que seja. Para isso, iniciaremos perguntando quem é que já foi visitá-la, sobre o ponto viciado de lixo, sobre os usuários de drogas, sobre os nossos desafios e elencar quais atividades podem ser feitas semanalmente na Praça.
4. CARTÕES VERDE E VERMELHO
(60 minutos) Objetivo Ouvir das crianças o que ainda deve ser feito na Praça e o que consideram como pronto. Descrição da atividade Primeiro, pedir que as crianças fechem os olhos e pensem sozinhas o que está mais pronto na Praça e o que está menos pronto, ou seja, o que é que ainda nos demanda bastante trabalho para terminar. Depois, em duplas, cada uma recebe um cartão verde e outro vermelho onde terão de posicioná-los da seguinte maneira: o verde onde consideram como pronto e o vermelho onde consideram o lugar menos pronto do projeto - nós também podemos colocar os nossos cartões (colocar em lugares que elas não pensaram). Quando terminarem, analisar por um momento a distribuição dos cartões na Praça, a ver se as respostas foram homogêneas ou não. A proposta é que, pensando nos lugares em que ainda temos coisas para fazer, cada criança vá para um outro cartão vermelho, que não o seu, e ali proponha um encaminhamento/solução para o que pode ser feito. Repetiremos isso três vezes de modo a obtermos três propostas de encaminhamento por lugar escolhido.
3. BRINCADEIRA
(15 minutos) Objetivo Brincar pensando nas potencialidades dos espaços da Praça. Descrição da atividade Na Praça, pedir para que elas corram até um lugar que tenham as características abaixo. Enquanto isso, facilitadoras devem anotar seus movimentos. Elas só devem ir até o lugar, quando dissermos a frase “Seu Mestre mandou ir até…” - Um lugar alto - Um lugar baixo- Um lugar de brincar - Um lugar fresco (sombra) - Um lugar para descansar - Um lugar quente - Um lugar bonito
5. EXPLORANDO AS SOLUÇÕES
(30 minutos) Objetivo Ler as propostas para todo o grupo e levantar se mais alguém tem algo a acrescentar. Descrição da atividade De volta ao CCA, a criança pega os cartões concentrados em um lugar e lê em voz alta. Abrimos para o restante do grupo dar cada dupla vai falar as suas opiniões sobre as propostas e sobre os encaminhamentos pensados juntos. Lembrar de perguntar se alguém tem como contribuir de alguma forma com essas propostas (algum conhecido ou familiar que se disponha a ajudar, etc.).
6. BRINCADEIRA SI MAMA KAA
(15 minutos) Objetivo Finalizar a oficina brincando um pouco. Descrição da atividade Repetir a primeira brincadeira para ver se as crianças entenderam.
225
DIÁRIO
Este relato foi baseado na experiência da facilitadora Gabriela Viola.
Dois meses após nosso último encontro, esta oficina começou
um banner com mensagens dos alunos para sensibilizar os moradores
agitada, pois as crianças estavam muito felizes em nos ver novamente,
do entorno a não jogarem lixo. A Agatha disse que as crianças tem que
e nós, de revê-las! Estavam todas maiores e falando ao mesmo tempo,
ir lá mais vezes para os usuários verem que a Praça é usada por eles e
querendo contar histórias e saber como estávamos, por isso, foi muito
também que devemos pintar de novo as paredes que foram grafitadas.
bom começar a oficina com a brincadeira de Si Mama Kaa que criou um clima descontraído na sala.
Quando sentaram, perguntei a elas sobre as férias e se tinham
ido na Praça. Um bom número respondeu que sim e comentou da sujeira, do cheiro de xixi e dos grafites que foram feitos em cima das pinturas que elas haviam feito, demonstravam bastante frustração. A Renata chegou a contar que tinha ido brincar com os irmãos nas férias em um momento que os usuários de drogas não estavam lá. Elas já começaram
RENATA
a gente colocou, “Os negócios que sujo. Também as a escada, tá tudo locamos tá tudo planta que nós co , a gente desenhou pisada, e também m m por cima... E te lá, eles desenhara lá dentro.” um monte de lixo
a dar ideias para limpar a Praça e a Daiane, a nova educadora, sugeriu fazer
JOÃO
“(Dea) - Então a gente tem que limpar tudo de novo! Sim! Não! Sim! Sim! [respostas variadas terminadas em sim!] ão uç tr (João) - Mas eles sempre vão bagunOficina 10 de Cons (Diário de Campo, ). 20 20 , - Brasilândia ça! [quase chorando]” (Diário de Campo, Oficina 10 de Construção - Brasilândia, 2020).
226
Depois, fomos para a Praça e fizemos a atividade
“meu mestre mandou”, indicando lugares que elas deveriam identificar no espaço como “lugar alto”, “lugar baixo”, etc, e se posicionar neles. A maior dificuldade delas foi encontrar o “lugar bonito”, que acabou sendo associado à professora deles e algumas crianças se posicionaram perto das árvores.
escalada e no escorregador e uma das duplas colocou nos bancos que ficam no nível superior e nas escadas novas, identificando que o projeto infraestrutural tinha sido feito. Já os cartões vermelhos foram colocados nos lugares onde falta limpeza, outros brinquedos e novas plantas.
Quando voltamos para o CCA, pedimos para pensarem em
soluções para esses itens que ainda precisam ser resolvidos e várias ideias surgiram! Elas sugeriram:
No caminho até lá, fomos conversando com a Daiane que nos
contou que as crianças mais novas do CCA não têm um lugar para atividades externas porque a praça mais próxima com quadra fica a 15 minutos andando e é muito longe pra ir com os pequenos. As educadoras já tentaram levar essas turmas na nossa Praça mas não conseguiram ficar lá por causa da sujeira/mal cheiro. Precisamos pensar em formas de permitir que essas visitas possam acontecer porque existe essa demanda e esse interesse por parte do CCA.
Na atividade seguinte, pedimos para elas pensarem no que
estava pronto e o que faltava na Praça e colocarem cartões verdes itens prontos - e cartões vermelhos - itens a fazer - nos locais que elas pensaram. Elas colocaram a maioria dos cartões verdes na parede de Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
- Pedir ajuda para os moradores do entorno para limpeza - Pegar material de limpeza (balde, vassoura, produtos) nas próprias casas e fazer um mutirão para limpar - Fazer uma vaquinha para comprar mais tinta para pintar de novo a parede grafitada - Usar garrafas PET cortadas para fazer vasos para as plantas - Fazer um balanço e/ou uma gangorra com pneu e madeira (quando explicamos sobre a limitação do espaço para um balanço, elas disseram que poderia ser um de uma pessoa só) - Pedir ajuda financeira para a prefeitura - Pedir ajuda para o projeto Vila Limpa
227
- O David falou que o pai dele tem madeira sobrando em casa e poderia ver com ele de doar para o projeto - Possíveis pedreiros que podem ajudar: tio e avô da irmã da Renata (ela vai falar com o tio) e padrasto do João - A Anna sugeriu de colocar o brinquedo que é uma escada entre o escorregador/escada e a parede de escalada para criar um circuito com os brinquedos - Falar com pessoas do bairro que saibam colocar os brinquedos na praça.
228
No final, fizemos a brincadeira Si Mama Kaa mais uma vez e
encerramos a oficina. No geral, foi muito produtivo e deu pra ver que ainda vamos precisar de energia e força para terminar a Praça mas as crianças estão empenhadas e envolvidas!
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
229
09/03/2020 OFICINA 8: RETOMANDO O CONTATO Local: Praça do Samba Duração: 2h 10min Número de crianças participantes: 28 Alteração no roteiro: Baixa
Materiais Necessários fotos das oficinas anteriores 15 cartões verdes 15 cartões vermelhos fita crepe canetas
Objetivo geral: Ouvir o que as crianças têm a dizer sobre a atual situação da Praça e receber as novas. Elencar o que pode ser considerado como pronto por elas, e o que temos que nos dedicar ainda para construir. Elencado o que falta, elaborar coletivamente possibilidades de soluções.
230
ROTEIRO 1. RODA DE CONVERSA E APRESENTAÇÕES (15 minutos)
Objetivo Se apresentar e conhecer os novos alunos, retomar o contato com as crianças. Descrição da atividade Fazer uma rodada de apresentações, perguntando sobre algo legal que cada um fez nas férias. Perguntar se alguém foi na Praça alguma vez nos últimos tempos; pedir para as crianças antigas contarem para as novas o que foi feito até agora.
3. LINHA DO TEMPO (45 minutos)
Objetivo Integrar as novas crianças ao projeto enquanto as
mais velhas contam à medida que lembram o que já vivemos ao longo do ano passado. Descrição da atividade Dividir as crianças em sete grupos com 4 pessoas em cada um. Cada grupo terá, necessariamente, uma das crianças mais antigas no projeto. Elas recebem 4 fotos numeradas de acordo com a ordem das oficinas do ano passado e, juntos, Com fotos de todas as nossas oficinas impressas, pedir que as crianças posicionem essas fotos numa linha do tempo. Relembrar o que fizemos, contando para os alunos novos.
2. AQUECIMENTO: PIF-PAF (20 minutos)
Objetivo Conhecer e estabelecer vínculo com as crianças. Descrição da atividade Em uma roda, com uma das facilitadoras no meio, ela aponta para uma criança aleatória e diz “pif!”. A criança apontada tem que abaixar o mais rápido possível e as duas do lado devem apontar uma para a outra e falar o nome da outra. Quem falar o nome mais rápido, vence. A criança que “perder” senta e aguarda. Repetir o jogo duas vezes. Na segunda vez, a criança que vencer da primeira vez, vai ser a pessoa que fica no meio.
4. CARTÕES VERDE E VERMELHO (45 minutos)
Objetivo Ouvir das crianças o que ainda deve ser feito na Praça e o que consideram como pronto. Descrição da atividade Cada grupo recebe um cartão verde e outro vermelho onde terão de posicioná-los da seguinte maneira: o verde onde consideram como pronto e o vermelho onde consideram o lugar menos pronto do projeto - nós também vamos colocar os nossos cartões (colocar em lugares que elas não pensaram). Quando terminarem, analisar por um momento a distribuição dos cartões na Praça, a ver se as respostas foram homogêneas ou não. A proposta é que, pensando nos lugares em que ainda temos coisas para fazer, cada criança proponha um encaminhamento/solução para o que pode ser feito.
231
DIÁRIO
Este dia estávamos bem animadas, pois era nossa primeira
oficina com as crianças da Vila Anglo. Além disso, conseguimos o contato de algumas das meninas que tiveram que sair do CCA pois completaram 14 anos, a Raquel, a Bianca e a Ana Beatriz, e elas foram super solícitas e vieram para a atividade também. A educadora Mari, em particular, ficou muito feliz em revê-las, pois não sabia que isso aconteceria.
Chegamos e elas já estavam todas sentadas na garagem prontas
para sair. Eram cerca de trinta crianças, e esse é o número que vamos trabalhar a partir de agora até a finalização do projeto na Vila Anglo. Isto porque, o nível 3, que sempre trabalhamos, está apenas com nove alunos a tarde. Conversando com a Irmã Renata, decidimos que seria uma boa ideia integrar o nível 2 também ao projeto - as crianças do nível 2 têm de 9 a 12 anos.
Já cientes desta nova configuração de turma, nós do CoCriança
pensamos em adequar as atividades de maneira que o nível 3 seja
adoraram, e fomos para a terceira atividade dentro da quadra. Tínhamos
responsável por planejar e coordenar as futuras oficinas. Estamos muito
sete crianças que haviam participado do projeto ano passado, uma boa
animadas com este formato, pois acreditamos que isto incentivará as
quantidade para dividi-las em grupos menores de quatro. Cada grupo
crianças mais velhas a responsabilizar-se cada vez mais pelo projeto, de
recebeu quatro fotos e nós fomos montando a linha do tempo. Essa
maneira mais autônoma.
atividade ocorreu melhor do que esperava! A maioria delas estava
Nossa primeira atividade foi uma breve apresentação de quem éramos,
prestando muita atenção às imagens e às explicações das que estavam
e o que estávamos fazendo. Na rodada de nomes, lembro que uma das
conosco ano passado. As oficinas do começo foram mais difíceis de
crianças do nível 2, a Duda, disse que nas férias tinha vindo brincar na
lembrar, mas mesmo assim conseguiram. Enquanto contavam, as
Praça, e depois essa fala se repetiu mais umas duas vezes.
menores faziam perguntas e, as vezes nós, facilitadoras, fazíamos
algumas intervenções para explicar os porquês daquelas atividades
232
Em seguida, jogamos Pif-Paf, que foi bem divertido, elas
terem acontecido de tais maneiras. Vale ressaltar que pude perceber todas as crianças do projeto antigo participando ao acrescentar alguma de suas lembranças aos menores.
A última atividade tinha o objetivo de incentivá-los a
trazer a percepção do grupo sobre o que para eles estava pronto e o que faltava ser feito na Praça. Eles seguiram nos mesmo grupos, então tinha um representante do antigo projeto por grupo. Pude reparar que essas crianças fizeram descrições às outras a fim de explicar o porquê de estar ou não prontos os lugares escolhidos.
Segue abaixo o que nos foi ouvido sobre o que falta, e
suas devidas observações:
- gira-gira: arrumar a concretagem que está quase saindo - desnível: fazer o tobogã - gol e cesta de basquete: arrumar e falar com o vizinho que disse que tinha rede disponível - floresta: arrumar o caminho - mesa de pic-nic: está quebrada (está é uma mesa de madeira antiga) - jardim de chuva: falta fazer - escada da arquibancada: para subir para o parquinho
Ao final, quando estávamos voltando para o CCA, aconteceu
uma cena muito curiosa que nos deixou muito felizes: vimos um grupo de homens jovens carregando um aro de cesta de basquete e andando em direção para a Praça do Samba. Perguntamos a eles se estavam indo levar o aro para lá mesmo, só para confirmar, e um deles nos respondeu “sim, nóis quebrou, nóis vai consertar”.
Todas as fotos desta oficina são de autoria do CoCriança.
233
7.2 ANEXO II JUSTIFICATIVA PRAÇA LIVRE PARA AS CRIANÇAS
Secretaria Geral Parlamentar Secretaria de Documentação Equipe de Documentação do Legislativo
JUSTIFICATIVA - PL 0325/2019 A escolha do nome da praça partiu do desejo das crianças do CCA Elisa Maria em dar um novo significado à praça. Foi então que, organizadas pelo Co-Criança que atua com as crianças do bairro há dois anos, escolheram desde o local que seria reformado até a convocação da comunidade para participar ativamente da apropriação e reforma da praça. O objetivo do projeto é fortalecer o território da criança na cidade através da ressignificação dos espaços livres e de lazer, tendo como premissa o resgate do protagonismo das crianças, enquanto agentes e usuárias dos espaços urbanos. A oficina de escolha de nomes foi realizada a partir do levantamento de questões relevantes para o cotidiano das crianças. As crianças então foram divididas em grupos e convidadas a pensar no bairro Elisa Maria com base em uma brincadeira de "stop" com temas como meio ambiente, sentimentos, personalidades locais e no que é ser criança no bairro e, ao final, cada grupo escolhe seus nomes para serem colocados em votação. Foi organizada uma festa na praça com o objetivo de povoar aquele espaço, mostrar sua capacidade de vitalidade e também de convocar comunidade, com as crianças no papel central as quais, a todo momento, demonstravam o desejo de que a reforma fosse concretizada. Houve então a votação com os nomes escolhidos pelas crianças e o resultado foi "Praça livre para as crianças", revelando o desejo de um espaço ao qual elas querem realmente pertencer. Assim, a justificativa do nome se dá em virtude da escolha das crianças, da legitimação e apoio que a comunidade dos arredores vem demonstrando e da consolidação do significado da reforma da praça.
234
O "projeto Co-Criança" foi idealizado pelo grupo de disciplinas obrigatórias da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, na matéria de Desenho Urbano e Projeto dos Espaços da Cidade e Projeto da Paisagem, sob a orientação da Profa. Dra. Karina Leitão e Profa. Dra. Catharina P. C. dos Santos Lima e realizado petas alunas Amanda Scotton, Andréa Muner, Beatriz Martinez, Camila Ferrara, Ilana Mallak e Mayte Albardía e tem, como principal objetivo, estabelecer uma parceria entre o corpo discente da Universidade com a comunidade local através do dialogo, alinhado com os movimentos sociais
O objetivo do projeto é fortalecer o território da criança na cidade através da ressignificação dos espaços livres e de lazer, tendo como premissa o resgate do protagonismo das crianças, enquanto agentes e usuárias dos espaços urbanos. A oficina de escolha de nomes foi realizada a partir do levantamento de questões relevantes para o cotidiano das crianças. As crianças então foram divididas em grupos e convidadas a pensar no bairro Elisa Maria com base em uma brincadeira de "stop" com temas como meio ambiente, sentimentos, personalidades locais e no que é ser criança no bairro e, ao final, cada grupo escolhe seus nomes para serem colocados em votação. Foi organizada uma festa na praça com o objetivo de povoar aquele espaço, mostrar sua capacidade de vitalidade e também de convocar comunidade, com as crianças no papel central as quais, a todo momento, demonstravam o desejo de que a reforma fosse concretizada. Houve então a votação com os nomes escolhidos pelas crianças e o resultado foi "Praça livre para as crianças", revelando o desejo de um espaço ao qual elas querem realmente pertencer. Assim, a justificativa do nome se dá em virtude da escolha das crianças, da legitimação e apoio que a comunidade dos arredores vem demonstrando e da consolidação do significado da reforma da praça. O "projeto Co-Criança" foi idealizado pelo grupo de disciplinas obrigatórias da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, na matéria de Desenho Urbano e Projeto dos Espaços da Cidade e Projeto da Paisagem, sob a orientação da Profa. Dra. Karina Leitão e Profa. Dra. Catharina P. C. dos Santos Lima e realizado petas alunas Amanda Scotton, Andréa Muner, Beatriz Martinez, Camila Ferrara, Ilana Mallak e Mayte Albardía e tem, como principal objetivo, estabelecer uma parceria entre o corpo discente da Universidade com a comunidade local através do dialogo, alinhado com os movimentos sociais e com as necessidades daquela população. O projeto Co-Criança teve início no Jardim Elisa Maria, na Brasilândia, em conjunto com as crianças que habitam o bairro e são muitas vezes levadas a ocupar espaços insalubres. Foi adotada uma metodologia de diálogo e jogos participativos com a crianças, e a posteriori a tradução dos seus desejos em um projeto que leva em consideração a pesquisa e as especificidades do local, chegando à concretização dos mesmos em conjunto com as crianças e com a comunidade. Com o apoio do Programa Unificado de Bolsas (PUB), foi possível dar continuidade ao projeto ao longo de 2017, 2018 e 2019. Diante da tamanha importância do presente projeto, conto com o apoio dos meus nobres pares para a sua aprovação.
235
CoCriança Como preparar oficinas?
7.3 ANEXO III ESQUELETO DE OFICINAS
Pense em um nome legal para a sua oficina!
Qual é a sua frente de trabalho?
Qual data pode acontecer a oficina?
Quantas crianças vão ser facilitadoras desta oficina e quantas vão participar?
Qual é o objetivo da sua oficina?
Qual conteúdo você precisa dominar para dar essa oficina?
Quais princípios você quer abordar na sua oficina?
liberdade
educação sócio- ambiental diálogo cooperação
autonomia
O que você já sabe sobre o assunto? O que você precisa aprender sobre o assunto? Onde você acha que pode adquirir esses conhecimentos?
Tem algum produto esperado ao fim dessa oficina? (cartazes, maquete, lista do que foi decidido na oficina)
Descreva um passo a passo do que precisa ser feito antes da oficina acontecer.
Pense e descreva aqui as atividades que vão acontecer na oficina.
Quais materiais vão ser necessários para a oficina?
Onde você pode conseguir esses materiais?
Coloque quanto tempo será necessário para cada atividade - levando em consideração o tempo total da oficina, os ensinamentos que você quer passar e os materiais que quer produzir.
7.4 ANEXO IV Tabela de Análise de Falas - Elisa Maria Nome
Unidade de Significado
Julia
Tia, tem gente morando nessa praça aqui, os moradores de rua.
Agatha
Aconteceu que, depois que, tipo, que acabou a festa, aí vocês não conseguiram vim mais. Ai, vocês pararam de vim. Ai, sempre que eu passava lá perto da praça, aí os moradores de rua começaram a ir pra ficar lá e estragar tudo.
Agatha relaciona a nossa ausência (CoCriança) ao CCA com a ocupação dos moradores de rua na praça. Ela passava na praça e observava que os moradores de rua não cuidavam do espaço.
- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.
Bia
(Bia): Antigamente vocês eram mais crianças. faz dois anos que a gente começou a fazer isso, e aí, agora, o assunto é mais sério: a gente vai planejar a oficina, junto com vocês. A gente não vai mais trazer o que a gente vai fazer. Vocês vão ajudar a gente a construir isso. Entenderam? (Crianças) - Sim !! (Bia): Com muita responsabilidade, porque, pra gente poder brincar na praça, a gente tem que ser responsável, certo?
Bia explica às crianças que elas serão as novas responsáveis por criar/planejar as oficinas. Ela enfatiza que essa é uma tarefa que exige responsabilidade.
- Crianças assumindo responsabilidades - Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto.
Agatha
Eu acho que a gente podia conversar com eles [moradores de rua], porque eles, sabe, pega lixo, essas coisas e transforma em bastante coisas. Então, acho que a gente podia pedir a ajuda deles também, pra eles ajuda, a tipo, procura as coisa pra gente recicla e fazer, sabe, os brinquedos, os lixos... e eu acho que se eles participarem, eles não vão querer destruir uma coisa que eles ajudaram a fazer.
Agatha acredita que os moradores de rua podem criar coisas também, a partir do lixo. Que eles poderiam ajudar na reciclagem, na construção de brinquedos, na construção das lixeiras. Ela sabe que se houver o envolvimento dos moradores de rua, eles irão cuidar também da praça que eles ajudaram a fazer.
- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A importância de envolver a comunidade no processo
238
Discurso Articulado Oficina 1: Retomando o Contato Julia constasta que tem outras pessoas, além delas, usando a praça. Essas pessoas são moradores de rua.
Convergência - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Agatha
Esse é o ruim, porque as pessoa reclama, reclama, que a gente não tem nada, não tem praça, não tem coisa pras criança se diverti... mas quando tem, eles vai lá e destrói.
Agatha constata que, apesar das pessoas reclamarem sempre da falta de espaços públicos, não há um cuidado coletivo pelos poucos que se tem.
- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público
Agatha
Eu lembro até que na viela, no escadão ali, tinha um homem, tipo, ele pegou um monte de coisa lá do lixo que tava em frente ao escadão e fez um barquinho de brinquedo. Então eu acho que eles têm bastante potêncial pra ajuda nós.
Agatha relata que viu um dos moradores de rua transformando o lixo em objetos criativos e, por isso, percebe o potêncial dos moradores em poder também ajudar na construção criativa.
- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema. - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público. - A importância de envolver a comunidade no processo.
Agatha
Eu acho que quando a gente termina de fazer assim, já tivé quase tudo pronto, a gente podia também, as vezes, prepara alguma coisa assim, pra fazer alguma apresentação na praça, pra insentivar eles a não bagunçarem as coisas.
Agatha reflete sobre a finalização da praça, que seria uma boa ideia fazer uma apresentação que mostre às pessoas o trabalho todo feito, a fim de sensibilizá-las a não destruir o trabalho feito.
- Crianças expressam a própria vontade. - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades. - A importância de envolver a comunidade no processo.
Marquinho
Eu tive uma ideia de criar uma dinâmica que explique sobre aquilo que a gente tá fazendo na praça. Pras pessoas que moram lá perto.
Marquinho têm a ideia de criar uma dinâmica que explique sobre o processo de construção da praça à comunidade
- Crianças expressam a própria vontade. - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades. - A importância de envolver a comunidade no processo.
Julia
Ai tem gente que pegou, tem gente que destruiu o escorregador... ai tem moradores de rua que começaram a ir pra lá, né. ai, tipo, quando cê passa lá... quando cê passa de noite, tem gente dormindo em cima [da praça] e em baixo.
Julia associa a falta de uso e o vandalismo aos brinquedos praça com o aumento de moradores de rua, que eles ocupam a praça inteira para dormir.
- A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.
Marquinho
A parte que era a parte de alimentação lá virou praticamente um estacionamento.
Marquinho constata que o que era antes uma praça de alimentação, virou um estacionamento.
- Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.
239
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Oficina 3: Construindo a Comunicação Gabriel
- como você pode ajudar nas praças? (vendedor)- não jogando lixo - o senhor gostaria de ir ao evento da praça? (vendedor) - sim.
Em entrevista Gabriel pergunta como vendedor poderia ajudar na praça. O homem responde que “não jogando lixo”. Depois, se o vendedor gostaria de ir ao evento da praça, e ele responde que sim.
- A importância de envolver a comunidade no processo. - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.
Agatha
Com mais iluminação as pessoas não vão fazer coisa errada lá, essas coisa... jardim, plantações, brinquedos, espaço de areia pra brincar, área de lazer... quiosque de bebidas falaram, coisa pras criança brinca, mais praças porque tem poucas praças, aparelho de exercício e foodtruck.
Quando descrevendo o que os moradores relataram que gostariam que tivesse na praça, Agatha entende que com mais iluminação, mais difícil das pessoas fazerem coisas ilegais
- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema. - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros. - A praça como espaço de qualificação da comunidade.
João
Eu só quero pedir pra vocês se inscreverem, “meterem” o gostei, porque esse vídeo é muito importante para o nosso CCA. (...) iremos começar falando dos cartazes, que a gente iremos fazer.
João pede aos espectadores que curtam o vídeo deles no YouTube, pois o vídeo é muito importante para o CCA. criam uma narrativa para o vídeo e apresentam os cartazes que eles então fazendo.
- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - A importância de envolver a comunidade no processo
Ana Clara
A gente tá fazendo o cartaz... da praça e, também, passa na rua, falando, assim, sobre a praça, que a gente vai construir uma praça pras crianças. E que isso a gente tem que valorizar, não estragar essa praça.
Ana Clara apresenta os cartazes que estão construindo e pede aos espectadores que valorizem o projeto e trabalho que estão fazendo.
- Crianças assumindo responsabilidades - A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - A importância de envolver a comunidade no processo - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade
240
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Vitor e Professora
- oh, a gente sabe que você não tem conhecimento com o projeto que a gente tá fazendo que é chamado CoCriança. Oh, o que você diz, que a gente fazer esse projeto pra ajudar a praça, pra cada aluno do CCA ir lá, brincar e fazer um monte de brincadeiras? (professora) - eu acho interessante, porque é um lugar que a gente não tem espaço pras criança do CCA pode tá brincando, né? E a gente poder sair um pouco desse espaço aqui [do CCA]. Que aqui a gente não tem uma quadra, não tem um parque descente... E eu acho interessante porque não vai ser aberto apenas para as crianças do CCA, no caso seria também pra comunidade inteira, certo? No caso das crianças da comunidade, eu acho que é uma coisa legal, onde pode haver espaço pra elas tá ali se conhecendo, brincando, cuidando também, né? Ensinar a cuidar e a ter espaço que não seja só o CCA, o refeitório, já que a gente não tem uma quadra tão interessante, a gente tem a praça que vocês estão ajudando a reformar e a revitalizar.
Vitor pergunta à professora sobre o que ela acha do projeto que estão fazendo na praça. Ele quer saber a opinião dela em relação aos alunos do CCA poderem usar a praça e poderem criar brincadeiras. A professora responde que acha o projeto interessante pois eles não têm um espaço no CCA apropriado para isso. Que, então, seria ótimo poderem sair do CCA, pois não têm uma quadra. Lembra que não têm parques no bairro. Ela fala que seria ótimo para que a comunidade inteira possa usufruir do espaço, a praça como lugar de encontros, de cuidados. Usar da educação para cuidar do que é público.
- Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - A paisagem como diferencial positivo - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade.
João
Esse é o nosso segundo vídeo do nosso canal da nossa praça.
Oficina 4: Divisão das Frentes de Trabalho
- Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade.
Wendell
Nós tamos na nossa praça mostrando como que eles estão reformando. Nossa praça está sendo reformada graças aos moços que tão ajudando.
João apresenta o vídeo que as crianças estão produzindo coletivamente para apresentar a praça que assumem como delas. Wendell apresenta a praça que está sendo reformada e reconhece a importância de ter ajuda dos funcionários públicos.
- Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - Crianças assumindo responsabilidades - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.
241
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Wendell
É bom porque um monte de criança pode brincar, mas nós não estamos expulsando os usuários de droga de onde eles moram. Eles podem ficar aqui, como eles quiserem, mas, também tem que ter o direito da criança. Por isso que existe o ENCA.
Wendell comenta que a praça é boa porque as crianças podem brincar e que, apesar disso, os usuários de dorgas podem co-existir no mesmo espaço que eles, desde que respeitem o direito da criança. Por este motivo que existe o ENCA.
- Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - A paisagem como diferencial positivo - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.
Wendell
A gente nem podia vir aqui por causa dos usuários de droga.
Wendell realata que não podiam usar a praça por receio em relação aos usuários de drogas.
- Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.
Agatha
Eu acho que vai melhorar bastante a nossa praça, vai ficar bem bonita. E que seja um espaço tanto pra nós quanto pros pais, pros adultos, pras crianças, pra todos ter um pouquinho de tempo pra brincar, pra se diveritir.
Agatha acredita que a praça vai ficar bem bonita após a reforma, sendo melhor do que está hoje. Ela pespera que a praça se torne um espaço tanto para as crianças, quanto para adultos. Para que todos tenham um pouco de tempo livre.
- Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A praça como lugar de encontros e tempo livre A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem - A praça como espaço de qualificação da comunidade
Agatha
É, pros nossos pais também vim aqui, ficar conversando, enquanto nós também pode tirar nosso dia pra brincar, essas coisas. E eu espero que dê tudo certo e que, dessa vez, não destruam a praça. (...) vai ficar bem bonito, bem bom, bem trabalhado. E que dê tudo certo.
Agatha pensa que a praça é para os adultos também usarem, além das crianças, que podem tirar o dia para brincar. Ela espera que, dessa vez, não destruam o que elas construiram, pois acha que vai fica muito bonita a praça, muito bem feita.
- Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem - A praça como espaço de qualificação da comunidade.
242
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
João
Eu quero falar que a nossa praça é um lugar pra se divertir, onde as crianças vem brincar, os adultos vêm fazer suas coisas, suas necessidade. Aqui é um lugar bom pra estudar, pra regar planta, trazer o seu animal para brincar. TRAZER O SEU FILHO PARA BRINCAR, porque a praça é importante pra gente. Porque se não fosse graças à praça, quase nem todas as crianças desse mundo teria algum lugar pra brincar.
João trata com seriedade da importância da praça como um lugar para se divertir, brincar e encontros. Um lugar bom para passear, estudar, cuidar da natureza e passar o tempo livre. Mais do que isso, é um lugar para se passar tempo em família, porque a praça é um lugar importante para as crianças, especialmente pois elas podem brincar em seu espaço.
- Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade.
Henrique
É, nós precisamos de um lugar pra se divertir, pra ser mais livres. Porque também não é só nós que tem que usar esse lugar, pode ser muita gentes.
Henrique fala não só da importância das crianças terem um espaço livre para brincar, mas todas as pessoas.
- Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A praça como espaço de qualificação da comunidade.
Tiffany
É um lugar que as crianças pode brincar... Porque, na rua, tipo, passa muito carro, então não dá pras crianças brincarem. Então, ai a praça é pras crianças brincarem se divertirem.
Tiffany constata que, já que na rua têm muitos carros e não há espaço para as crianças, a praça é um ótimo lugar para elas brincarem e se divertirem
- Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem.
João
E também, a praça é um lugar público, aonde pode ter criança, adulto, até animais. E a praça é um lugar aonde a gente não pode destruir. É um lugar onde as crianças vem brincar, os adultos fazerem suas coisas... É bem importante a praça pra gente.
João constata que a praça é um lugar público e que, portanto, todos podem usar e devem cuidar. Além disso, ele menciona os diferentes usos da praça pelos seus usuários, pontuando que é um lugar muito importante para eles.
- Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade”
243
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Agatha
Aqui vai ser aonde vai ter as planta também, que é - que eu acho que o lugar fica mais bonito quando tem plantação, árvore, essas coisa.
Agatha apresenta, no vídeo, os elementos que compõe a nova praça. E que, para ela, quando tem vegetação, o lugar fica mais bonito.
- Crianças expressam a própria vontade - A paisagem como diferencial positivo.
Alysson
E aqui vai ser aonde vai ser o escorregador... Aqui é onde nóis vai coloca as planta.
Alysson apresenta, para o vídeo, os novos elementos que compõe a praça.
- Crianças tomando decisões sobre o processo - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - O entendimento da paisagem como espaço de construção.
Dea
Agora, o que a gente vai fazer, é contar um pouquinho pra vocês como é que a gente faz as oficinas, tá? Porque hoje, nesses grupos que a gente tava, cada grupo vai pensar numa atividade que, semana que vem, a gente vai pra praça e a gente vai pintar.
Dea
Ellen e Yumy
244
Oficina 5: Desenvolvendo o Planejamento: Pintura Dea explica como é que se planeja as oficinas: cada grupo irá pensar em uma atividade porque, na semana seguinte, as crianças vão para a praça para pintar!
- Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto - Planejamento e execução das ações organizadas pelas crianças - O entendimento da paisagem como espaço de construção.
Então agora, todo mundo já sabe que semana que vem a gente vai mexer com tinta, que a gente vai pintar a nossa praça. (...) então a gente [as educadoras] não vai trazer, a gente não vai falar pra vocês o que a gente vai fazer, porque quem vai decidir isso hoje são vocês.
Dea explica com transparência que as crianças irão pintar a praça na próxima oficina. E que, a partir de então, elas que irão decidir o que será feito.
- Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto - Planejamento e execução das ações organizadas pelas crianças - Crianças tomando decisões sobre o processo.
(Yu) - Mas então, o que vocês acham, a gente já tinha visto algumas coisas, lembra que vocês tinham escrito que era legal ter as regras da praça... E o que mais cês achavam bom ter naquele muro de desenho? (Ellen) - O que mais pode ter? Então, como nóis tinha dito, em cima da escalada: o céu.
Yumy pergunta a opinião das crianças em relação ao que elas gostariam que tivesse de pintura na praça, para isso, ela resgata algumas ideias anteriores já ditas por elas. Ellen responde que em cima da pintura da escalada poderia ter o céu.
- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças expressam a própria vontade Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo.
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Alysson
Na hora que nóis for pintar, nóis pode fazer na parede, tipo, umas crianças brincando.
Alysson sugere de pintar a parede da praça com a representação de crianças brincando.
- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar.
Alysson e Yumy
(Yu) - E toda oficina, ela também tem que ser registrada. Olha, o Lucas tá aqui registrando essa oficina que a gente tá dando. E vocês têm que ficar responsáveis por tirar foto e pensar, tipo, “ah, vai ter alguém responsável por filmar a oficina”. Essas coisas também, vocês podem pensar. (Alysson) - Então, nóis pode pesquisar nessa parte como é que nóis pode pintar nossa praça. (Yu) - É, dá pra trazer referências de como vocês podem pintar a praça. Isso é bem legal para uma atividade de aquecimento, por exemplo.
Yumy explica como será a oficina de planejamento exemplificando uma das responsabilidades que as crianças poderiam exercer, por exemplo, de registrar a oficina por audiovisual. Em seguida, Alysson sugere que eles poderiam fazer uma pesquisa de maneira de pintar a praça. E Yumy confirma que trazer referências de pinturas é uma ótima ideia, inclusive para uma atividade de aquecimento.
-Crianças assumindo responsabilidades - Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto - A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - O entendimento da paisagem como espaço de construção.
Ellen
Eu sugiro fazê um desenho assim, ai... tipo fazê, desenhar nossa praça, como que tá lá dentro. Desenhar assim as crianças brincando... Dá pra desenhar, pra mim, assim... Chama o Joe, tipo a Cleo e o Joe, os grafiteiro.
Ellen explica como ela gostaria que fosse a nova pintura na praça: um desenho da própria praça com crianças brincando. Ela ainda sugere que deveríamos chamar os dois grafiteiros locais: Cleo e Joe.
- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Crianças expressam a própria vontade - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar -O entendimento da paisagem como espaço de construção.
(Julia) - Tipo assim, eu to falando, tipo assim: é duas e quarenta e cinco, o A e o B começa a pintar. (Yu) - Ah! Dois grupos pintando ao mesmo tempo? (Ellen) - É, o A e o B vai pintar ao mesmo tempo, tipo, meia hora. E o D e o C vai pintar depois, tipo, meia hora. Entendeu?
Julia explica à Yumy detalhadamente como será a atividade por elas planejada: primeiro pinta o grupo A e B. E Ellen complementa que o grupo C e D pintam depois de meia hora.
- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças expressam a própria vontade - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo.
Julia, Yumy e Ellen
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Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Julia
Tia, deixa eu explicar, assim, que eu e a tia tava pensando aqui. Assim, não tem onde que eles vão escrever? Então, a gente vai ter formas assim. Ai, dentro dessas formas a gente deixa pra eles escreverem e, em baixo, a gente pede pra eles colocarem o nome deles, de tinta. A gente escreve a palavra “nome” de tinta. Ai, sabe aqui, perto das coisas? A gente vai revesando, de um e um mês. Ai, tipo, nesse mês, ai a gente vai e vê as ideias que tem. As ideias que tem, a gente pega, a água e passa, que vai ser fácil de tirar. Ai, a gente escreve no papel pra ver depois, no final do ano, quantas crianças escreveram regra, essas coisas.
Julia explica sua ideia para o grupo enquanto criam a atividade: haverão formas para que outras crianças que usem a praça escrevam a opinião delas em relação à praça e, a tinta, escrevam seus nomes. Depois disso, as crianças do CCA deverão ir se revezando para, de mês em mês, recolher as ideias que forem surgindo, apagando os nomes, e lendo as novas sugestões como se fossem “regras” novas de uso da praça.
- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Crianças expressam a própria vontade - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A importância de envolver a comunidade no processo.
Julia
O nosso deu certo, e a gente fez também algumas coisas, como se fala, algumas gincanas... É, tipo isso, e também a gente fez, a gente falou o que a gente queria colocar na praça, o que a gente não queria. E eu achei que foi fácil.
Julia fala o que achou da atividade que acabou de acontecer: para ela foi fácil, o grupo dela criou algumas gincanas e falaram o que gostariam que tivesse ou não na praça.
- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças expressam a própria vontade - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - O entendimento da paisagem como espaço de construção.
Oficina 6: Pintando a Praça! Edgar e Denise
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(Edgar) - Vai dividir em grupos, pra pintar. Aí vai ter o espaço pra colocar “suas regras”. Aí, que nem, vai fazer os desenho, aí nóis vai pintar nóis brincando na praça. (Denise) - A Cleo não veio hoje, mas a gente vamos pintar o muro, todo mundo junto. Aí, quando a Cleo vim, ela vai desenhar pra gente aplicar a tinta no desenho.
Edgar explica a atividade de pintura: terá um espaço direcionado para as crianças escreverem as “suas regras”, outro espaço com o desenho das crianças brincando na praça. E Denise complementa que, como a grafiteira não veio para pintar no dia, todos irão pintar o muro todos juntos.
- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
João, Mari e Renata
(João) - Eu vou fazer uma pergunta e, uma pergunta sobre a praça, eu quero pergunta como é que vocês achavam que era a praça antes? (Todos) - Bem ruim. (João) - E agora? (Mari) - A gente tá reformando ela e tals, e espero que fique melhor. (João) - Como vocês acham que vai ficar depois? (Todos) - Melhor. (Renata) - Não tão melhor... Porque não é todas as pessoas que vão querer cuidar.
João conduz a conversa antes da primeira atividade que ele e o grupo planejaram. Primeiro, ele quer saber como os outros achavam que a praça era antes, depois como a praça está agora. As crianças respondem que antes era bem ruim e que agora esperam que, com a reforma, fique melhor. João faz sua última pergunta: como acham que vai ficar depois, no que a maioria responde com um “melhor”. Porém, Renata expressa alguma dúvida em relação a isso, pois entende que todos devem cuidar da praça para que o melhor aconteça.
- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - A paisagem como diferencial positivo - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.
Anderson
A gente vai entregar um papel pra vocês, pra vocês desenha a praça. Como vocês querem que ela fica.
Anderson explica a atividade que ele e o grupo criaram: cada criança terá de desenhar como gostariam que a praça ficasse.
- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades.
Agatha
O Edgar, a Denise e a Renata é do nosso grupo. Aí eles falaram que eles quer pintar a parede, então a gente falou assim: “então como cês quer pintar a parede, vocês ajuda eles também, falando as coisa.” Porque se eles são do nosso grupo, eles têm que saber também as coisas.
Agatha conta a uma das educadoras do CoCriança que se o Edgar, a Denise e a Renata são da equipe delas, então, eles também deveriam assumir as responsabilidades de explicar a atividade também.
- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades.
Agatha
E não é pra ficar brincando, porque tem gente que não sabe, não tem maturidade pra pintar uma parede... fica tacando tinta no outro, fica pintando o outro. Isso não é brincadeira não, então, pinta direito. Que isso é pra vocês mesmos, não é pras tias. Que elas não vão vir lá dos cafundó dos Judas pra pintar isso aqui - é vocês mesmos. Então, vocês têm que valorizar e fazer direito.
Agatha dá uma bronca nos meninos que estavam atrapalhando a atividade que ela conduzia, alegando que não é para pintar um ao outro e sim, a parede. Ela explica a eles que não é um trabalho fácil para as facilitadoras do CoCriança vir de longe e ajudá-las com a praça, e que, portanto, isso deveria ser valorizado por eles, já que o CoCriança faz isso por eles.
- Crianças expressam a própria vontade - Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - O entendimento da paisagem como espaço de construção.
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Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Agatha
O gente, quem tá com o rolo, quando for usar, vocês tiram o excesso pra poder durar a tinta, viu? Porque se não, não vai dar.
Agatha explica às outras crianças como é que se usa o rolo de tinta: tirando o excesso para economizar.
Convergência - Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades.
Oficina 7: Construindo com a Comunidade Ellen, Julia e Agatha
(Ellen) - Nóis queria um monte de criança brincando no parque. (Julia) - Mas tipo, não precisa ser só crianças, pode ser crianças cegas, mudas, essas coisa... (Agatha) - É, crianças de todo tipo pra... (Ellen) - Negras. É, pode ser aquelas criança que usa cadeira de roda... Brincando no parque que nóis vamo criar.
As meninas explicam ao grafiteiro que gostariam de crianças com diferentes características, que não fossem apenas braco-normativas, brincando no parque que elas iriam criam com o desenho.
- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças expressam a própria vontade - Crianças tomando decisões sobre o processo - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem.
Dea e Ellen
(Dea) - E o quê que vai ter no parque? (Ellen) - Escorregador, escalada, balanço... A bomba de água.
Dea pergunta o que elas gostariam que tivesse no parque do desenho do grafite. Ellen responde com elementos que, para ela, representam a praça.
- Crianças expressam a própria vontade - Crianças tomando decisões sobre o processo - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar.
Bia e Agatha
(Bia) - O que a gente tinha planejado pra hoje é: a gente vai pintar o grafite, como a gente decidir... E, aí, outra coisa que a gente tinha pensado era em chamar o pessoal daqui - os vizinhos - pra conversar sobre o lixo (...) E aí eu queria saber o quê que vocês querem fazer. (...) (Agatha) - Eu acho que a gente podia, primeiro pintar... aí, se a gente terminar de pintar, a gente chama o pessoal pra falar sobre o lixo.
Bia esclarece às crianças qual era o plano do dia perguntando o que elas preferiam: pintar o grafite como decidirem, ou chamar os vizinhos para converçar sobre o lixo. Agatha coloca sua opinião quando diz que poderiam primeiro pintar para depois, quando terminarem, chamar os vizinhos.
- Crianças expressam a própria vontade - Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo.
João
Fala galera! Hoje a gente vai aqui na praça, e vamos entrevistar as pessoas que tão colocando plantas. Bora lá!
João introduz o vídeo que ele e as outras crianças gravam, dizendo que vai entrevistar as pessoas plantando na praça.
Oficina 8: Plantando!
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- Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade.
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
João
Eu sou o João, e eu quero apresentar uma coisa: hoje nós tá aqui na praça, pra entrevistar as pessoas que tão plantando, vamo lá! Aqui, a Julia e a professora Dea estão cavando, colocando árvores. Aqui é o escorregador de cimento. Ali, o homem tá fazendo uma escalada. Vamos lá entrevista ele!
João apresenta as ações na praça para o vídeo criado por ele e as outras crianças. Ele mostra algumas crianças plantando, o escorregador de cimento e o homem que está fazendo a parede de escalada.
- Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - O entendimento da paisagem como espaço de construção.
João e homem da escalada
(João) - Como o senhor se sente fazendo esses brinquedos para as crianças? (homem da escalada) - Eu me sinto muito bem! Feliz né, pode trazer um pouco de brincadeira e animação pra vocês né? E você, como você se sente poder ter uma escalada dessa pra vocês? (João) - Bem também, pra nós poder brincar porque, de todas as reformas que teve aqui na pracinha, nunca teve esse brinquedo.
João entrevista o homem que instala a parede de escalada na praça perguntando como ele se sente em instalar o brinquedo para as crianças. O homem responde que está feliz por poder trazer um pouco de brincadeira e animação a eles. Depois, o homem faz a mesma pergunta a João, que responde que está bem também, pra eles poderem brincar, pois essa é a primeira vez que uma reforma instala um brinquedo desses.
- Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem.
Renata e homem da escalada
(homem escalada) - E você, como cê se sente tendo uma escalada dessa aqui? (Renata) - Muito legal, pra ter mais brinquedo. Tinha pouco brinquedos aqui também, agora tem que ter mais, porque do mesmo jeito tinha poucos brinquedos, mas tinha gente que se importava.
O homem que instala a parede de escalada pergunta como Renata se sente em relação ao novo brinquedo. E ela responde que acha muito legal para terem mais brinquedos, porque antes tinham poucos brinquedos, mas mesmo assim, tinha gente que se importava com a praça.
- Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem.
Julia
Gente, olha o resultado: aqui ó, essas plantas ficou bem bonitinho. Aí ali tá ficando a escalada. (...) Aqui tem essas plantas. Aqui tem essas plantas também, que a gente plantou bastante planta.
Julia apresenta o resultado da oficina, muitas plantas que ficaram bonitas e a parede de escalada.
- O entendimento da paisagem como espaço de construção - A paisagem como diferencial positivo
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Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Henrique e homem da escalada
(homem escalada) - E você, o que você acha da escalada? (Henrique) - Eu acho que é muito bom pras criança se divertir um pouco, e nao perder o tempo delas com pouca coisa. É... é bem diferente!
O homem que instala a parede de escalada pergunta a opinião de Henrique sobre o brinquedo, e ele responde que acha muito bom para as crianças poderem se divertir, usarem o tempo delas com uma brincadeira diferente.
- Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem.
Renata
A gente tá ajudando o tio a fazer a escalada. Ajudar a colocar os parafusos pra ele não demorar muito pra colocar, pra fazer.
Renata explica que as crianças estão ajudando o homem da parede de escalada a instalar as peças, colocando os parafusos.
- Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem.
Renata
Os negócios que a gente colocou, a escada, tá tudo sujo. Também as planta que nós colocamos tá tudo pisada, e também, a gente desenhou lá, eles desenharam por cima... E tem um monte de lixo lá dentro.
Oficina 10: Perspectivas 2020
- O entendimento da paisagem como espaço de construção - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.
Agatha
E também, tá muito cheiro de mijo lá. E também, tem um monte de lixo lá, que os moradores deixaram, né, pros lixeiros pegarem, e ai, tipo, eles deixam um monte de cheiro de mijo, e junto com o cheiro de lixo que já tem perto... Aí, num dá nem pra passar lá perto.
Agatha reclama do cheiro de urina e de lixo que tem a praça, isso devido ao acúmulo de sacos que os moradores depositam até que passe o caminhão de lixo.
- Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.
Renata
Eu aproveitei pra brincar quando eles [os moradores de rua] não tavam lá não.
Renata conta de uma vez que brincou na praça quando não havia mais ninguém usando.
- A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.
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Renata relata a atual situação da praça, que está suja, com as plantas pisadas e o desenhos pintados por cima.
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Dea e João
(Dea) - Então a gente tem que limpar tudo de novo! - Sim! Não! Sim! Sim! [respostas variadas terminadas em sim!] (João) - Mas eles sempre vão bagunça! [quase chorando].
Dea sugere que o grupo limpe a praça de novo e recebe respostas variadas entre sim e não, que terminam em sim. João, descontente com a situação, argumenta que as pessoas sempre vão desarrumar.
- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.
Agatha
E tem que ir lá né? Porque não adianta! Tem que ir, pra usar, ai provavelmente vai ter que pintar tudo de novo, por as plantas lá de novo... (...) Se a gente ir lá quase todos os dias, lá brincar, ir lá e tals, ai acho que eles vão se tocar, vão ver.
Agatha fala sobre a ocupação da praça, que as crianças devem ir lá e usar, brincar, pintar, colocar as plantas de novo. Que só desse as pessoas vão ver que a pracinha é importante para eles.
- Crianças expressam a própria vontade - A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros.
Dea e Evelin
(Dea) - E por que que tem mais papel verde na escalada? (Evelin) - Porque esse foi o único brinquedo que sobrou, que a gente colocou aqui.
Durante a atividade, Dea pergunta por que as crianças indicaram a parede de escalada como finalizada. Evelin responde que porque esse foi o único brinquedo que sobrou.
- Crianças tomando decisões sobre o processo.
Ana Clara
Aqui, no papel em vermelho, a gente colocou limpeza, muitos brinquedos e mais plantas. Ai limpezas: pedir ajuda para os moradores; brinquedos: colocar mais brinquedos novos; plantas: fazer mais plantações.
Durante a atividade, Ana Clara indica ter notado que faltava arrumar na praça a limpeza, mais brinquedos e plantas. E como solução, para limpeza, pedir ajuda para os moradores; os brinquedos, instalar novos; e para plantas, plantar mais!
- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - A importância de envolver a comunidade no processo.
Julia e Agatha
A gente escreveu “falta brinquedos”, ai aqui nós colocou construir, procurar ajuda, comprar materiais, costumizar e reutilizar.
Agatha e Julia, durante a atividade, explicam que faltam brinquedos na praça. E como solução, pensaram em contruir, procurar ajuda, comprar materiais, customizar e reunitilizar.
- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - A importância de envolver a comunidade no processo.
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Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Tiffany
Limpeza. Nós colocamo que precisa de mais um dia. Ai nós podemos fazer um dia pra gente trazer, por exemplo, coisas de casa - a gente traz das nossas casas mesmo - pra gente fazer a limpeza na praça. Tipo, uma vassoura a gente pode trazer de casa mesmo, uns produtos.
Tiffany e sua dupla acham que o que falta para a praça ficar pronta é limpeza. Como solução, eles pensaram em tirar um dia para cada criança trazer da sua casa produtos de higiêne e vassouras para limpar.
- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo.
Edgar e Tiffany
(Edgar) - Na planta também, nós podemos cortar as garrafas assim, coloca. (Tiffany) - Tipo, nós fazer um dia pra gente planta algumas coisas.
Como solução para as plantas que faltam na praça, Edgar sugere que plantemos em garrafas e Tiffany sugere um dia só para isso.
- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo.
Denise
Brinquedo. Tipo, balanço, dá pra gente fazer balanço de pneu. Gira-gira.
Denise aponta como solução para os brinquedos da praça fazer balanço de pneu e colocar gira-gira.
- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo.
Maria Clara
A gente colocou brinquedos - o que falto. Ai, a gente colocou, tipo assim, a gente conversar com as pessoas do bairro pra ver se algumas dessas pessoas pode ajudar, sabe? Ai, a gente também colocou pra falar com a Prefeitura. (...) Também a gente colocou pra gente mesmo, tipo, pra trazer algo da nossa casa pra... reutilizar.
Maria Clara acha que faltam brinquedos para finalizar a praça e, como solução, ela acha que podem conversar com moradores do bairro para pedir ajuda, falar com a Prefeitura, e as próprias crianças poderiam reunitilizar o que têm nas suas casas.
- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo. - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A importância de envolver a comunidade no processo
Evelyn
Limpeza. E também, eu coloquei “chamando o grupo de pessoas pra limpa” é, lá a praça. E falar pras pessoas trazer essas coisas, vassoura, balde, porque aí com tudo isso a gente vai limpar melhor e conseguir limpar mais rápido.
Evelyn acha que falta a limpeza para terminar a praça. Como solução ela acredita que chamar um grupo de pessoas para ajudar, que possam trazer baldes, vassouras, vai ser mais rápido de limpar.
- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo. - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A importância de envolver a comunidade no processo
252
Tabela de Análise de Falas - Vila Anglo Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Oficina 1: Como Informar a Comunidade? Yu e Bianca
(Yu) - E o que vocês decidiram? É que eu não sei, eu cheguei agora, e não to sabendo de nada... (Bianca) - A gente decidiu colocar umas plantinhas em volta da pracinha (...) É... brinquedos.
No começo da oficina, Yumy pergunta o que é que foi decidido em relação à reforma da praça, pois ela não estava no ano anterior. Bianca responde que elas decidiram colocar brinquedos e plantas em volta da praça.
- Crianças tomando decisões sobre o processo. - O entendimento da paisagem como espaço de construção.
Stefani
A gente pensou em divulgar pra feira cultural... e, eu e o João, a gente vai ficar responsáveis. Nas redes sociais vai ser a Gabi e o Cauã que vai ficar responsáveis. E nos panfletos vai ser a Gabriela. E a gente pensou em fazer um encontro na praça, depois que a gente sair divulgando, a gente pensou em passar na casa das pessoas que a gente conhece, marcar um dia pra gente ir na praça, pra gente conversar com essas pessoas, sobre o que a gente vai fazer, e aí todo mundo vai ajudar.
Stefani explica o plano pensado por eles para divulgação da reforma da praça: ela e o João vão ficar responsáveis pela divulgação na feira cultural. A Gabi e o Cauã responsáveis pelas redes sociais, e a Gabriela responsável pelos planfetos. Eles também pensaram em fazer um encontro na praça, sair divulgando na casa das pessoas que eles conhecem, marcar um dia para irem à praça para conversar com as pessoas sobre o que será feito.
- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A importância de envolver a comunidade no processo - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.
Bianca
A gente separou o que a gente precisa pra feira cultural: a gente vai precisar de vocês do grupo dos cartazes pra sábado, pra semana que vem. A gente pensou, pra feira cultural, a gente pensou em apresentar o projeto pras pessoas, apresentar vocês [CoCriança] e só. (...) E a gente dividiu dois evento, que é o evento de ajuda, que vai ser pra gente pedir ajuda pras pessoas, que vai acontecer depois que a obra pesada tiver pronta. E o evento de inauguração, que vai ser depois que tudo tiver pronto.
Stefani explica o plano para a divulgação dos eventos: vão precisar do grupo dos cartazes para a semana seguinte, e pensaram em apresentar o projeto e o CoCriança na feira cultural do CCA. Além disso, decidiram dois eventos, um para pedir a colaboração das pessoas depois que a reforma da subprefeitura estivesse pronta, e outro de inauguração quando tudo estivesse pronto.
- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças expressam a própria vontade - A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - A importância de envolver a comunidade no processo.
253
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Raquel e Layza
(Raquel) - Nossas ideias, a gente fez, tipo, espalhar folhetos e cartazes pelas ruas do bairro mesmo. (Layza) - A gente vai querer também criar uma página no Instagram e divulgar. E, também, vai ter hashtah, vai ter foto pra divulgar. (Raquel) - A gente sair por ai pra falar com os nossos amigos, pessoas próximas, a gente falar o que é a praça. Ah, a gente fez um exemplo de cartaz de folheto, que é esse [mostra o cartaz]. E o último é, é inauguração, fazê... tipo uma inauguração, um evento quando terminar a reforma de praça, que aí vai ter comida, bebida, música, atividades. Quando, com todo mundo que ajudou, a gente faz tipo um evento pra comemorar a inauguração da praça.
Raquel e Layza explicam o plano de comunicação delas: vão espalhar planfetos e cartazes pelas ruas do bairro, criar uma página no Instagram para divulgar através de hashtags e fotos, sair para falar com amigos próximos, explicar o que é a praça, e fazer um evento de inauguração quando terminar a reforma da praça, com comida, bebida, música e atividades.
- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A importância de envolver a comunidade no processo - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.
Bianca
(...) vai ser em forma de foto e vídeo, e as responsáveis sou eu e a Ana Beatriz.
Bianca explica o formato da divulgação: foto e vídeo, e as responsáveis, ela mesma e Ana.
- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades.
Bianca
É... a gente decidiu fazer alguns vídeos lá na praça, postar no YouTube, Facebook, tirar foto dos cartazes, e o nome das redes sociais vai ser “Jornalzinho da Praça” - “Jornalzinho da PDS”. É isso.
Bianca explica o plano de comunicação: fazer fotos e vídeos, postar no Youtube e Facebook - que terão o nome de Jornalzinho da PDS - e tirar fotos dos cartazes.
- Crianças expressam a própria vontade - A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - A criação coletiva de alternativas ao problema
Ana
Gente, aqui vai ter um tobogã porque a gente tem muita dificuldade pra subir, então com o tobogã vai ser mais fácil e com as escadas também.
Ana sobe um barranco enquanto explica que, no futuro, será um tobogã e escada, para facilitar na subida.
- A paisagem como diferencial positivo - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A praça como espaço de qualificação da comunidade.
254
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Oficina 2: Construindo a Comunicação Stefani
Então, gente, a reforma começou pelo corrimão que, pra começar nem tinha, e agora tem até lá em cima.
Stefani explica a reforma da praça apresentando o novo corrimão da escada.
- O entendimento da paisagem como espaço de construção.
Ana e Bianca
(Ana) - E agora a gente vai mostrar a quadra pra vocês. Já tá quase pronta, já tá com as grades, com a estrutura. (Bianca) - Sim, gente, a gente escolheu colocar a arquibancada, porque, tipo, tem pessoas que querem assistir o jogo e tals, e eu acho legal também.
Ana e Bianca apresentam a nova quadra e arquibancada da praça, que estão quase prontas. Bianca explica também o porquê da escolha de colocar a arquibancada.
- Crianças tomando decisões sobre o processo - A paisagem como diferencial positivo - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A praça como lugar de encontros e tempo livre - A praça como espaço de qualificação da comunidade.
Gabi
(Gabi) - E aqui, antes era pedra, e agora a gente tá reformando e vai ter um jardim também.
Gabi explica que no espaço do playground onde antes era pedra, será transformado em jardim também.
- O entendimento da paisagem como espaço de construção.
Ana, Bianca e Dea
(Bianca) - E essa é a Dea, ela é da USP, e ela tá ajudando a gente na arquitetura da praça. (Ana) - Ce quer explicar mais um pouquinho do projeto? (Dea) - Sim, é eu faço parte do Coletivo CoCriança, e a gente tá fazendo o projeto da praça na verdade junto com eles, porque quem pensou, e elaborou e planejou foram vocês, né? (Todos) - Sim.
Bianca apresenta a Dea para aqueles que estiverem assistindo ao vídeo, dizendo que ela ajudou na arquitetura da praça. Ana pede pra Dea explicar um pouco sobre o projeto. Dea explica que faz parte do CoCriança, que está fazendo o projeto da praça junto com as crianças, porque quem pensou, elaborou e planejou foram elas próprias, e crianças concordam.
- Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade.
Stefani, Ana e Bianca
(Bianca) - E é isso, gente! Se inscrevam no canal. (Ana) - Deixem o seu like. (Ste) - Se vocês quiserem deixar alguma coisa nos comentários sobre o que vocês querem pra melhorar a praça, o que vocês querem saber é só deixar aqui em baixo que a gente responde.
Bianca e Ana, no final do vídeo pedem para os espectadores se inscreverem no canal da praça, e Stefani pede para que deixem comentários e perguntas sobre o que as pessoas gostariam que melhorasse na praça, que elas responderiam.
- Crianças assumindo responsabilidades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - A importância de envolver a comunidade no processo.
255
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Oficina 4: Desenvolvendo o Planejamento: Comunicação Angelina
(Angelina) - Qual é o seu nome? - Hilary (Ang.) - É, a gente tá num projero da Praça do Samba. Você conhece a Praça do Samba? E a gente quer saber, se você pode ajudar a gente a construir as reformas da Praça? É, as reformas são: arte, pintura, brinquedo... É, se você pode colaborar pra limpeza da praça. - Dependendo do dia, posso.
Angelina entrevista uma das moradoras do bairro e explica sobre o projeto que estão fazendo na Praça do Samba. Ela convida a moradora a participar do cuidado e reforma da praça, de arte, pintura, brinquedo e limpeza.
- Crianças assumindo responsabilidades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A importância de envolver a comunidade no processo - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.
Angelina
(Ang.) - Você conhece a Praça do Samba? - Aquela ali né? Sei. (Ang.) - É, a gente tá fazendo um projeto pra meio que construir a praça, e ai, a gente precisa saber se você pode ajudar a gente em alguns materiais, ou divulgando pras outras pessoas, ou trabalhando na praça. - É, tem que ser trabalhando? Pra dar dinheiro num pode? Tem que,ser, por exemplo, pra dar o que? (Ang.) - Não. Materiais. - Qualquer material? Tipo, um saco de cimento. E como é que faz? Tem que levar lá? (Ang.) - Não, aí você fala pra gente. Cê comunica pra gente. - Ah entendi, eu dou. Saco de cimento eu dou.
Angelina entrevista um morador do bairro, explicando sobre o prajeto da Praça e convidando-o a ajudar na construção coletiva. Ela assume a responsabilidade de receber os materiais que o homem quer doar para o projeto.
- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A importância de envolver a comunidade no processo - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.
Stefani
(Ste) - Você conhece a praça do samba? - Conheço. (Ste) - O que você acha do bairro? - Eu acho bom de morar, tranquilo.
Stefani entrevista uma moradora do bairro. A moradora um lugar tranquilo e gostoso de morar. Ao responder sobre o que poderia mu-
- Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade
256
Nome
Stefani e Ana
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
(Ste) - O que você acha que poderia mudar na praça? - Ah, acho que já foi mudada, a quadra que vai ser bem útil né, pras crianças tá brincando. E mais limpa também né, os donos dos cachorros deixa lá tudo cheio de cocô. (Ste) - Você acha necessária essa reforma? Por que? - Eu acho! Acho, não, tenho certeza! Justamente por esse que eu tô te falando, os brinquedos também tão bem escasso, bem sujo... (Ste) - E a última pergunta, você já foi alguma vez lá ou costuma ir? - Vou todos os dias com meu filho.
dar na praça, a moradora afirma que a reforma já ajudou muito, pois as crianças terão um espaço para brincar, mas que, apesar disso, ela poderia ser mais limpa. Por último, a moradora afima ir à praça todos os dias com seu filho.
- Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A importância de envolver a comunidade no processo - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público.
(Ste) - Você conhece a praça do samba? - Conheço. (Ste) - O que você acha do bairro? Você gosta de morar aqui? - Gosto muito. Moro há 24 anos. (Ste) - O que você acha que poderia mudar na praça? - Só diversão pra criança. Sem negócio de samba, de bagunça. (Ana) - Você gostou o que mudou na praça? - Maravilha! Ainda hoje eu tava lá. É coisa pra adulto, pra idosos. Tem mesa de tijolos, tem tudo! Ficou muito bonito. (Ste) - Você acha necessária essa reforma? Por que? - Sim, sem dúvida! Deixar limpa, tem uma pessoa pra limpar agora. (Ana) - Tá, a gente queria, a gente tá chamando algumas pessoas pra ajudar nessa segunda parte da reforma, que é pintura, e a gente queria saber se você queria ajudar a gente. - Hoje não. Mas volta, pode passa, que eu ajudo!
Stefani e Ana entrevistam um morador que afirma gostar muito de morar no bairro. Ao responder sobre o que poderia mudar na praça, ele diz que poderia ter mais diversão para criança, mas que, com a reforma, a praça está uma maravilha, um lugar que todos possam usar. Apesar disso, ainda é preciso limpeza no espaço. Por último, ele se disponibiliza a ajudar na reforma.
- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - O entendimento da paisagem como espaço de construção - A paisagem como diferencial positivo - A importância de envolver a comunidade no processo - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade.
257
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Stefani e Ana
(Ste) - O que você acha do bairro? Você gosta de morar aqui? - O bairro é bom. Gosto. (Ste) - O que você acha que poderia mudar na praça? - Ó, o que poderia mudar já foi feito lá né, alguma coisa lá né. É, poderia ter mais insentivo aqui né, pras crianças, pra brincar lá né. (Ste) - Você acha necessária essa reforma? Por que? - Sim. Ah, porque tava abandonada ali já né, há muito tempo. O pessoal fica usando droga ali já né, num é bom. (Ana) - A gente queria saber se você quer ajudar a gente com a parte de pintura, essas coisas? - Sim.
Stefani e Ana entrevista um morador que afirma gostar de morar no bairro. Ele acha que a reforma já melhorou muito a praça, mas que poderia ter mais insentivos que as crianças pudessem brincar. Antes da reforma, ele achava a praça abandonada e relaciona à frequencia de usuários de drogas. Por fim, ele se disponibiliza a ajudar com a pintura.
- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A paisagem como diferencial positivo - Relação da falta de uso da praça com a predominancia de ocupação por outros - A importância de envolver a comunidade no processo - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade.
Oficina 5: Desenvolvendo o Planejamento: Pintura Yumy e Stefani
(Yu) - Quem é que pode contar? Da última semana, mais fácil. É como é que foi? (Ste) - A gente planejou como é que a gente ia sair na rua. A gente dividiu o que cada um ia fazer, porque tinha o tempo, gravar e entrevistar. Aí a gente anotou, e foi pra rua.
Yumy pergunta às crianças o que é que foi feito na semana anterior, e Stefani responde que eles planejaram a atividade para sair na rua. Para isso, se dividiram em responsabilidades tempo, gravar, entrevistar, anotar.
- Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades.
Dea e Cauã
(Dea) - E ai, o que que vai acontecer, é... Nessa parte aqui, que é a atividade relacionada à praça? (Cauã) - A gente vai pintar a praça. (Dea) - Só que precisa de pensar como é que vai ser feito isso, né... (Cauã) - Organização?
Dea explica como é que se organiza a atividade ralacionada à praça, e Cauã entende que eles irão então pintar a praça.
- Crianças assumindo responsabilidades - Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades.
258
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Yumy e Gabi
(Yu) - E como é que é? A gente chega aqui, toda vez, e como é que a gente faz? Como é a ordem das coisas que a gente faz? (Gabi) - Vocês se organizam, com o horário...
Yumy pergunta às crianças o que é que as facilitadoras costumam fazer toda vez que chegam ao CCA, e Gabi responde que elas se organizam, observam o horário.
- Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto.
Yumy, Layza e Dea
(Yu) - E o que a gente fez na semana passada? A primeira atividade? (Layza) - A gente escreveu no papel o que que tem no caminho até a praça. (Yu) - Isso. E a outra a gente foi vendado até a praça. (Dea) - Não é? A gente chama isso de “atividade de aquecimento”. (Yu) - É. E ela sempre tem a ver com o resto da oficina, assim. Mas é uma coisa pra começar, pra vocês acordarem assim. (Layza) - Um estímulo!
Dea e Yumy explicam às crianças como é que funcionam as oficinas, exemplificando a atividade de aquecimento, como funciona, e Layza compreende que é um estímulo para as próximas atividades.
- Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto.
Angelina, Gabi e Dea
(Ang.) - Não, tem que ver os materiais necessários: tinta é... pincel, a bandeija... (Dea) - E como é que a gente vai conseguir os materiais necessários? Então, pedir pra alguém do grupo trazer... (Ang.) - Ou pedir pras pessoas que a gente entrevistou, pra ver se elas podem ajudar. (Gabi) - A gente podia fazer algum cartaz pra pergunta se alguém poderia... (Ang.) - Eu posso perguntar pro meu tio que mora ali do lado. Porque o meu tio é marceneiro, ele pinta também, entaõ...
Dea discute com Angelina e Gabi como é que elas vão planejar a oficina. Angelina diz que primeiro teriam que ver quais os materiais necessários e depois sugere de pedir emprestado para as pessoas entrevistadas na oficina anterior. Gabi também sugere de fazer cartazes pedindo ajuda, e Angelina lembra do tio que mora próximo à praça e é marceneiro, que, portanto, poderia ajudar na pintura.
- Crianças assumindo responsabilidades - A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades Crianças tomando decisões sobre o processo - A importância de envolver a comunidade no processo.
Yumy e Stefani
(Yu) - Mas e depois? Acaba com uma atividade grande? (Ste) - Eu acho que depois a gente conversa sobre o que a gente fez.
Yumy pergunta sobre o que é a última atividade da oficina, e Stefani responde que nolmalmente é feita uma conversa sobre.
- Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto.
259
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Dea, Layza e Gabi
(Dea) - E se eu dou um feedback com amor e falando a verdade para a outra pessoa? (Layza) - Causa felicidade! (Dea) - Felicidade né? A pessoa ela tá o que aqui? Ela tá recebendo um... presente né? (Gabi) - Ela está insentivando a outra pessoa a melhorar! (Dea) Isso, exatamente! É um insentivo que você dá pra ela.
Enquanto explica sobre como dar feedback, Dea pergunta qual o efeito de fazê-lo com amor e falando a verdade, e Layza responde que causa felicidade! Depois, Gabi ainda complementa o entendimento dizendo que isso é um insentivo para que a outra pessoa melhore.
- Verbalização de sentimentos
Dea e Angelina
- (Dea) - Eu vou dar um [feedback]. Eu vou falar pra Angelina, que eu fiquei muito feliz, quando a gente tava no final da atividade, e você começou a dar várias ideias e pegou muitas responsabilidades pra você, e eu senti que o grupo andou assim, caminhou. (Ang.) - Dea, posso dar um pra você? Eu também me senti feliz, porque você também seria feliz por ajudar a gente a construir as coisas que ninguém quase tinha.
Durante a roda de feedbacks, Dea diz para Angelina que ficou muito feliz, porque Angelina deu varias sugestões e assumiu responsabilidades, contribuindo para o grupo. Angelina decide dar um feedback para Dea também, dizendo que ficou feliz com a ação da Dea que ajudou o grupo a encontrar materiais que não sabiam que tinham.
-Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Verbalização de sentimentos - Crianças assumindo responsabilidades.
Layza e Yumy
(Layza) - Eu fiquei triste, quando a Gabi falou que não ficaria bonito pintar o negócio de malhar. (Yu) - Boa. É um ótimo feedback.
Layza dá um feedback para Gabi dizendo que ficou triste com a fala dela, de que não ficaria bonito pintar o equipamento de exercício.
- Verbalização de sentimentos - Reconhecimento e prática do seu direito de fala.
Mari
(Mari) - Eu quero falar de novo: eu me senti muito feliz, porque eu lembro quando tudo começou, essa história da praça é, lembro como que cada um fazia as coisas... foram entrando crianças, foram saindo crianças. E tá tudo sendo construido com muito esforço de vocês todos, de vocês todas, e tá ficando tudo muito legal, gente, sério. Obrigada por cês terem ficado com as crianças e brigada vocês [crianças] também, cês tão se esforçando muito.
Mari dá um feedback geral ao projeto CoCriança, relembrando quando tudo começou, que foram entrando e saindo crianças, e como tudo está sendo construido com o esforço coletivo, tanto das facilitadoras, quanto das crianças que estão se esforçando muito.
- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Verbalização de sentimentos.
260
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Dea
(Dea) - Eu me senti também um tanto desrrespeitada e frustada, quando eu tava sentada nesse grupo e eu tive que chamar a atenção, muitas vezes, né. Do grupo em geral. Então, vai pra todos do grupo.
Dea dá um feedback para o grupo que trabalhou junto, dizendo que se sentiu desrrespeitada e ficou frustada porque teve de chamar a atenção de todos muitas vezes.
- Verbalização de sentimentos - Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto.
Mari e Dea
“(Mari) - Eu to bolando uma aqui na minha cabeça, mas eu to... é porque a minha eu acho que ela interfere meio que no sentimento de outras pessoas que eu tinha observado dali. Então, vamo vê se vocês me ajudam: eu me senti envergonhada com algumas falas da Gabriela Sudario enquanto ela demonstrava despreso no que as pessoas falavam. Então o que eu senti, foi vergonha alheia. Mas é um sentimento próprio isso? (Dea) - É. Mas o cuidado aí é na Gabi demonstrar o despreso, porque, na verdade, o que ela tava fazendo era alguma ação, que você entendia como desprezo. Mas não necessáriamente pra ela era isso. Então, tem que ver qual foi a ação que ela fez, então: “”eu me senti envergonhada quando a Gabi, é... Falou, ou não falou, ou não prestou atenção, no que os outros tavam falando””. Aí isso pra você remete ao desprezo, mas não necessáriamente isso foi um desprezo pra ela. Cês entenderam essa parte? Porque eu não posso colocar no outro, isso, uma coisa que não é uma ação né? Da gabi. Um sentimento de desprezo, porque o desprezo é um sentimento.”
A professora Mari tenta formar um feedback para Gabi dizendo que se sentiu envergonhada com algumas falas da aluna, enquanto ela demonstrava desprezo pelas pessoas de seu grupo. Mari sentiu vergonha alheia. Dea, então, explica que, ao falar que a Gabi demonstrou desprezo, Mari está colocando um sentimento na ação de Gabi - o de desprezo -, o que não se pode saber. Por tanto, para que o feedback ficasse correto, Mari teria que dizer que Gabi, por exemplo, falou junto com os outros.
- Verbalização de sentimentos Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto.
Vinícius e Yumy
(Vini) - Eu me senti feliz, porque tipo, a gente tava trabalhando todo mundo junto, conversando, dialogando, daí a gente tava mais... como que eu posso dizer? Mais junto, mais... (Yu) - Unido? É união é um sentimento também.
Vinícius dá um feedback de como se sentiu em relação ao planejamento em grupo e disse que ficou feliz, pois todo mundo estava conversando, dialogando, e Yumy complementa com unido, pois união é um sentimento também.
- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - A criação coletiva de alternativas ao problema - Verbalização de sentimentos
261
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Stefani
(Ste) - Eu me senti muito feliz porque por mais que... não, eu gostei que a gente conseguiu fazer o que a gente queria mesmo, o nosso objetivo, e é isso ai.
Stefani dá um feedback de ficou feliz durante a atividade, pois seu grupo conseguiu chegar ao objetivo.
- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Verbalização de sentimentos
Angelina
(Ang.) - Eu me senti feliz, mesmo não prestando atenção. Mas mesmo assim eu consegui sentir feliz, porque o meu grupo, ele reuniu e decidiu quem ia fazer qualquer coisa pra saber quem é que ia fazer aquilo. Então, mesmo eu não prestando atenção eu consegui mesmo pensar o que eu queria fazer com o meu grupo.
Angelina diz ao grupo que se sentiu feliz durante a atividade de planejamento, porque o grupo dela estava unido e puderam decidir as devidas responsabilidades de cada um. Assim, mesmo que ela estivesse desatenta, ela conseguiu tomar decisões com o grupo.
- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - A criação coletiva de alternativas ao problema - Verbalização de sentimentos
Oficina 6: Pintando a Praça! João e Dea
(João) - É... enquanto a gente vai andando até a praça, vê as cores das paredes, desenha... Pra gente ter umas ideias, pra quando for desenhar lá. (Dea) - Pra ir observando as cores? (João) - É. [e fala baixinho] Que vergonha...
João explica a atividade de aquecimento planejada por seu grupo: enquanto andam até a praça, todos devem ir observando as cores, a fim de terem ideias para pintar.
- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem.
Gabi
Então, a gente vai fazer o negócio né, de pintar. E a gente vai separar vocês em grupos, 1, 2 e 3. E é, a gente vai pintar.
Gabi explica a atividade de pintura planejada por seu grupo, onde os participantes serão divididos em 3 grupos para pintar.
- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades.
Layza
Isso! Tipo assim, ó: vamos pintar de azul, amarelo, verde. Azul, amarelo e verde.
Layza explica qual cores quer usar para pintar os bancos da praça.
- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades.
262
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Oficina 7: Reflexão Bianca e Gabi
(Gabi) - Bianca, eu não sei por onde começar... Bianca, o que é que eu faço agora? (Bianca) - Eu não sei... É que a tinta não tá nem ficando preta, como eu pensei...
Enquanto pintam, Bianca e Gabi dialogam sobre como pintar o banco e ambas não sabem o que fazer.
- Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar
Cássio
A gente vai fazê umas perguntas sobre o que vocês acharam do projeto... a atividade [pintar os bancos]. É... Pra vocês quais são os pontos positivos e negativos?
Cássio faz as perguntas que foram elaboradas por seu grupo de planejamento: ele quer saber o que as outras crianças acharam da atividade, quais foram os pontos positivos e os negativos..
- Crianças assumindo responsabilidades - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - A brincadeira como forma de interlocução com a paisagem.
Angelina e Bianca
- (Ang) - O positivo é que a gente que escolheu como é que a gente ia pintar e como é que a gente ia fazer. Tipo, não foi as outra pessoas, foi a gente. (Bianca) - Foi legar vê que vai ficar permanente...
Angelina responde que, para ela, um ponto positivo da atividade foi que eles mesmos escolheram como iriam pintar, não as outras pessoas. E Bianca acha que um ponto positivo foi ver que vai ficar pintado permanentemente.
- Crianças expressam a própria vontade - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - O entendimento da paisagem como espaço de construção.
Dea, Bia, João e Ste
(Dea) - E pintar sozinho, foi fácil? (Todos) - Não. (Bia) - É mais fácil sozinho ou em grupo? (Todos) - Em grupo! (Bia) - Por que? (João) - Porque deu pra conversar. (Ste) - É, tipo, sozinho demora mais pra você pensar a situação.
Na reflexão sobre a atividade, Dea e Bia perguntam se foi mais fácil pintar sozinho ou em grupo. As crianças respondem que em grupo, porque podem conversar e porque sozinho demora-se mais para pensar.
- A criação coletiva de alternativas ao problema
Mari
Eu queria agradecer vocês, pelo carinho com as crianças, pelas oficinas muito bem elaboradas. Foi tudo muito bom, muito maravilhoso. Teve uma evolução muito grande deles e vocês fizeram parte disso, então, muito obrigada.
Na última atividade do ano, Mari, a educadora, agradece ao CoCriança pelo carinho com as crianças, pelas oficinas elaboradas, mas, principalmente, pela evolução que ela pode ver nas crianças.
- Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Verbalização de sentimentos - Facilitadoras fazem uso de conversas transparentes sobre o projeto.
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Nome
Unidade de Significado
Bia, Layza e Dea
(Bia) - Mas ces acham que a atividade do jeito que foi tava perfeita. Ces acham que nada podia ter sido diferente? (Layza) - Não, o Vinicius, ele deu uma ideia semana passada de fazer várias bolinhas e todo mundo concordou. Só que aí, chegou hoje e a gente fez outras coisas (Dea) - Então, no final das contas cada um fez o seu né? E, como a Bia tava falando, ninguém conversou pra desenhar...
Bia pergunta se as crianças acham que a atividade criada por elas poderia ter sido feita diferente, e Layza lembra que na semana anterior eles haviam planejado coletivamente de pintar umas bolinhas nos bancos, só que isso não aconteceu, pois cada um acabou pintando do seu jeito. Bia complementa, então, que faltou conversar sobre o desenho.
- A criação coletiva de alternativas ao problema - Crianças tomando decisões sobre o processo
João, Angelina e Gabi
(João) - Cê sabe por quê fez essa atividade? (Ang) - Pra praça ficar mais bonita, pro povo parar de ir no pier. Pra volorizar a praça. (Gabi) - Pra ter mais vida. (João) - Pra ficar mais bonita a praça. Pra vir mais pessoas.
João pergunta ao grupo se eles sabem o porquê de terem feito a atividade. Angelina responde que foi para a praça ficar mais bonitas, pras pessoas usarem e para valorizá-la. Gabi diz que é para a praça ter mais vida, e João complementa que é para a praça ficar mais bonita e vir mais pessoas usá-la.
- A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A praça como espaço de qualificação da comunidade.
Bia, João e Ste
(Bia) - E dessa vez vocês sentiram que todo mundo foi escutado? (João) - Eu acho que não. (Ste) - Ela falou do que eles queriam fazer [bolinhas no banco]. Talvez seja porque eles realmente não tenham lembrado, mas assim, eles podiam ter conversado com a gente, ter dado a ideia, a gente podia ter dado mais sugestão... Podia ter sido mais, assim... (Bia) - Conversado?
Bia pergunta se da vez que pintaram o banco, individualmente, as crianças sentiram que todos foram escutados. João responde que não, e Stefani complementa que talvez a ideia de pintar com bolinhas realmente não surgiu porque foi esquecida, mas que, se tivessem lembrado, eles poderiam ter conversado entre si para discutir a ideia.
- A criação coletiva de alternativas ao problema - Verbalização de sentimentos - Crianças assumindo responsabilidades - Reconhecimento e prática do seu direito de fala.
Angelina
A gente decidiu o quê que a gente queria na praça!
Relembrando a trajetória do projeto, Angelina fala da vez que eles escolheram o que teria na praça.
- Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - Crianças tomando decisões sobre o processo - O entendimento da paisagem como espaço de construção.
264
Discurso Articulado
Convergência
Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Angelina, Layza e Dea
(Dea) - Como cês acham que a praça vai ficar daqui a um ano? (Ang) - Se as pessoas cuida, bonita. (Layza) - É, com mais vida. Se as pessoas colabora, não sujarem e não jogarem lixo. (Dea) - Cês acham que cês vão tá indo na praça ainda? Ang e Layza) - Sim.
Quando Dea pergunta como as crianças acham que a praça vai estar em um ano, Angelina responde que bonita, e Layza diz que se as pessoas cuidarem, não jogarem lixo, a praça estará com mais vida. Por último as duas afirmam que estarão indo à praça ainda.
- A paisagem como diferencial positivo - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - A co-responsabilização do cuidado pelo espaço público - A praça como espaço de qualificação da comunidade.
Oficina 7: Reflexão (material escrito pelas crianças) Gabi
Eu amei ter feito a praça. O resultado. Eu imagino a praça daqui 1 ano ainda legal e do jeito que “construimos”. E quero terminar de fazer a praça ano que vem, fazer o mosaico, pintar a parte de cimas, as escadas e alguns lugares... E eu amei criar, fotografar as redes sociais e etc. Eu amei a experiência de tudo.
Gabi relata que amou ter feito a praça e o resultado alcançado. Em 1 ano, ela imagina que a praça vai estar ainda do jeito que construíram, e que, antes disso, gostaria de terminá-la, fazer o mosaico, pintar mais lugares que faltaram. Ela relata ter amado criar, e aprender a fotografar e divulgar. Isto é, Gabi amou toda a experiência.
- O entendimento da paisagem como espaço de construção - Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Crianças tomando decisões sobre o processo - A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema.
Angelina
Olá, durante todos os dias que a gente começou a planejar a praça foi bem legal. No começo quando vocês falaram da praça achei bem legal ai quando vocês falaram que a gente ia se ver depois das férias, achei que vocês não iam voltar, mas quando vocês voltaram, eu fiquei mais feliz ainda. Ai depois que a praça começou a colocar corrimão, quadra, comecei a ficar mais feliz. Ai eu achava que a oficina tinha acabado mais não porque a gente decidiu pintar os bancos e fazer o jardim e o tobogã. Mas foi muito legal trabalhar com vocês. A praça ficou linda e sem a ajuda de vocês a praça ia ficar sem vida. Não sei se ano que vem estarei aqui, mas adorei!!!!
Angelina escreve que gostou de planejar a praça. Ela comenta que, apesar de ter gostado do projeto, tinha medo que a equipe do CoCriança não retornasse após as férias, mas que, como retornamos, ficou muito feliz. Ela ficou muito feliz também quando começaram a instalar os elementos na praça - corrimão, quadra... Ela imaginava que o projeto terminaria por aí, na obra, mas não foi o que aconteceu, pois as crianças decidiram pintar os bancos, fazer o jardim e tobogã. Ela achou muito legal fazer o projeto com o CoCriança. Para ela, a praça ficou linda e sem nosso projeto, estaria sem vida.
- O entendimento da paisagem como espaço de construção - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - Percepção da paisagem como diferencial positivo - Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Crianças tomando decisões sobre o processo - Protagonismo no planejamento e na execussão de atividades - A praça como espaço de qualificação da comunidade.
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Nome
Unidade de Significado
Discurso Articulado
Convergência
Gabi Vieira
Eu gostei de participar da reforma e eu gostei do que eu fiz na praça. Gostei de ter ajudado a pintar os bancos, de ajudar a escolher os brinquedos, de ajudar e de fazer as maquetes, conversar e das coisas. E no primeiro dia eu achei que não ia dar em nada, mas agora eu percebo que era verdade. E eu achei bem legal reconstruir a praça e de toda a praça.
Gabi escreve que gostou de participar da reforma e do que fez na praça: pintado os bancos, ajudado a escolher os brinquedos, ajudado a ter feito as maquetes e conversar. No início, ela não achava que o projeto realmente aconteceria, mas agora ela vê que é real. Por fim, ela achou muito legal o processo e o resultado final.
- O entendimento da paisagem como espaço de construção - A paisagem como afeto e vínculo com o lugar - Demonstram uma relação afetiva com o projeto - Crianças tomando decisões sobre o processo.
Oficina 8: Retomada Duda
O nosso é no gira-gira também que, ele tá bom, mas o ruim dele porque tem criança quando vai girar é, tem vez que criança cai ali. E tá ruim porque também tá bambo e machuca.
Duda menciona o gira-gira da praça como elemento não finalizado, pois, apesar de bom, quando a criança vai girar tem perigo de cair, já que está bambo.
- Reconhecimento e prática do seu direito de fala na comunidade - Reconhecimento do direito da criança à cidade e paisagem - Vontade de transformar o espaço com elementos que representam o brincar.
Duda, Bianca e Dea
(Duda) - Tem dois lugares que a gente colocou, né. Porque lá tá sem o aro de basquete e aqui tá toda rasgada a rede de futebol. (Bianca) - A gente pode falar com aquele moço lá, lembra? Que falou que tinha rede, rede pro gol. (Dea) - Ah, verdade! Um que a gente conheceu na rua, né?
Duda fala da falta do aro de basquete e do problema na rede de futebol rasgada. Como solução, Bianca lembra que poderiam pedir ajuda a um dos moradores que se disponibilizou durante as entrevistas.
- A criação de alternativas criativas e conscientes ao problema - Crianças tomando decisões sobre o processo - A importância de envolver a comunidade no processo.
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