ÁGUAS URBANAS. sistema de espaços livres em ribeirão preto

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ÁGUAS URBANAS

sistema de espaços livres em ribeirão preto



“[...] felizmente, de todas as obras de arte da humanidade, a cidade é a principal obra de arte; e felizmente é uma obra de arte aberta e inconclusa. Então, a difícil arte de construção do espaço público, que é coletivo, passa por esse reconhecimento, por essa crítica, de nós nos reinventarmos cotidianamente.” (Alexandre Delijaicov, 2009)


instituto de arquitetura e urbanismo universidade de são paulo cap | coordenação de acompanhamento permanente

david moreno sperling francisco sales t. filho lucia zanin shimbo luciana bongiovanni m. schenk coordenador do grupo de trabalho

renato luiz s. anelli


ÁGUAS URBANAS

sistema de espaços livres em ribeirão preto

trabalho de graduação integrado | tgi i

debora c. dalbó do nascimento

são carlos | junho de 2015



SUMÁRIO

inquietações inspirações os rios e as cidades o lugar estratégias tipologias proposta

8 16 22 30 64 70 74

índice de imagens 89 referências 92



inquietações


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inquietações Este trabalho surgiu da reflexão a partir das questões que circundam a conjuntura das cidades contemporâneas, com enfoque na realidade das cidades brasileiras, principalmente no que diz respeito ao uso e constituição dos espaços públicos como espaços de sociabilidade. De início, a ideia era questionar o atual modelo de crescimento das cidades, que tem por marcas de caracterização o espraiamento, a fragmentação e a segregação, seja ela induzida ou do tipo autossegregação. A ideia de segregação induzida vem dos processos de gentrificação causados pela especulação imobiliária, que, ainda que superficialmente, explicam as constantes migrações da parcela mais carente da população para periferias, áreas cada vez mais distantes do núcleo/centro urbano e carentes de infraestrutura. O processo de autossegregação, ao contrário, como a própria denominação indica, acontece por opção e envolve a migração de classes mais abastadas para lugares que são alegadamente mais seguros. Dentre esses espaços, estão os já famosos condomínios fechados e shopping centers. É fato que, através do processo de crescimento descontrolado que leva a processos de migração urbana que fragmentam a cidade e segregam a população, o que se pode observar é a descaracterização da cidade, e principalmente dos espaços públicos, como lugar de vivência e confraternização da população. O “desencontro cidadão metrópole” (CARLOS, 2003, p.88) é consequência do modelo de produção do espaço que leva ao esvaziamento dos espaços públicos, limitando a percepção de identidade do cidadão, agora entre os limites do sistema de mercadorias e da sociedade de ‘consumo de espaço’ (LEFEBVRE cf. CARLOS, 2003, p.87), impondo transformações no uso e condições de acesso a lugares por intermédio do mercado, alterando o sentido nas relações espaciais e sociais. (ROSA, 2011)

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inquietações

qual é a cidade em que vivemos? quem são os seus usuários? o que falta para que as pessoas sejam atraídas a não só passar por ela, mas também vivê-la? 13


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Dentro dessa lógica da cidade fragmentada e com crescimento espraiado surge um maior interesse por aqueles espaços que, ainda que submetidos ao mesmo cenário do restante do ambiente urbano, não participam desse processo da mesma forma e acabam ficando à margem da dinâmica citadina; os chamados vazios urbanos. Meneguello (2009, p.127) afirma que “[...] o vazio urbano não é o oposto, nem o outro, do espaço urbano. Espaço e vazio são contínuos, indissociáveis e incompreensíveis um sem o outro.” De fato, a complexidade da cidade contemporânea foge da relação entre o que é e o que não é ocupado. Os vazios urbanos podem ter ainda duas naturezas distintas: o vazio que vem da ausência, o desocupado; ou pode ser o vazio programado, o respiro, a pausa na narrativa urbana. Em ambas, porém, o vazio compõe a paisagem tanto quanto o construído. A reflexão construída nesse trabalho tem a pretensão de dialogar com os dois tipos. Dificilmente as lógicas das economias e dos usos deixa espaço para as dimensões da memória e da rememoração. Mais ainda: dificilmente essas lógicas do espaço ‘positivado’ podem aceitar a necessidade do vazio, a necessidade do indefinido, da fratura e do desconfortável dentro da cidade. (MENEGUELLO, 2009, p.131)

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inquietações Apesar de terem sido peça fundamental e decisiva no início da ocupação de muitas cidades brasileiras, os rios permanecem como parte obscura na paisagem urbana e só recebem destaque quando transbordam e marcam sua presença, podendo ser apontados, dessa forma, como exemplos de vazios urbanos. Ao mesmo tempo em que historicamente assumem a posição de vazios na perspectiva de espaços residuais, obstáculos na conformação urbana, os rios têm um papel fundamental na paisagem das cidades, pois são partes formantes da sua história além de sua importância ambiental. Nesse sentido, a intenção é resgatar a importância dos corpos d’água na cidade e transformá-los num espaço de qualidade ambiental e social, além de compor sua requalificação com um sistema de espaços livres que, distribuídos pelas áreas adjacentes aos rios e córregos façam, em conjunto com eles, a função de drenagem das águas urbanas. Visando resolver os problemas de enchentes que assolam nossas cidades, o olhar se volta não só para os próprios rios, mas também para as contribuições de uma cidade cada vez mais impermeabilizada que deixa escorrer grandes volumes de água que deveriam ser captados antes de retornarem aos cursos d’água. Além disso é fundamental compreender que os nossos rios passam, naturalmente, por um processo de cheias e que lidar com isso é o meio mais eficiente de buscar um equilíbrio entre sua natureza e o local que ele ocupa em nossas cidades. Portanto, o objetivo é encontrar uma forma de propor um projeto com qualidades urbanísticas que também atenda necessidades infraestruturais e socioambientais. Contudo, ainda permanece a preocupação com os processos que podem surgir da proposta de planos de requalificação em áreas degradadas, tais como os já citados processos de segregação e fragmentação da cidade, e as melhores formas de amenizar esses processos. 15



inspirações


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VAZIOS DE ÁGUA. são paulo

imagem 1. diagrama: o correto caminho para as águas e o adequado espaço para as casas.

imagem 2. colagem realizada pelo escritório MMBB com fotos de Nelson Kon. Reservatórios de retenção de águas pluviais, os piscinões, na cidade de São Paulo.

imagem 3

“[...] porque não transformar grandes investimentos, de uma infraestrutura necessária, em uma oportunidade de desenhar urbanidade?” (Marta Moreira, 2012) 18


inspirações

WATER SQUARES. rotterdam

imagem 4

imagens 5 a 7. condição regular; condição em aproximadamente 30 vezes ao ano; condição em, no máximo, uma vez ao ano.

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imagens 8 e 9

BUFFALO BAYOU PROMENADE. houston

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inspirações

CHEONGGYECHEON. seoul

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os rios e as cidades


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os rios e as cidades

“As cidades, quase sempre, têm sua origem junto a cursos d’água. Quando a relação entre cidade e água passa a ser conflituosa? Existem três momentos fundamentais na história das cidades, nesse sentido. Durante o período medieval, os centros urbanos atingem uma densidade demográfica que leva a um descontrole no saneamento e na saúde pública. Os rios começam a ter problemas seriíssimos de contaminação, tornando-se lugares a serem evitados. Depois, com a ideia do urbanismo sanitarista, que começa a se configurar no século 18 e toma força no século 19, o rio passa a ser visto como elemento estruturador das cidades e a receber melhorias, no sentido de um embelezamento: parques, bulevares e passeios públicos são criados nas orlas fluviais e marítimas. Mas, ao mesmo tempo, acontece um aumento aceleradíssimo da industrialização. É nessa época que surgem as ferrovias, implantadas ao longo dos leitos dos rios, criando uma barreira entre eles e as cidades. As indústrias também se instalam no fundo dos vales, dando origem a diversos problemas, como a poluição das águas. Mas a coisa piora muito no começo do século 20, especialmente a partir dos anos de 1920, quando aparece o veículo autônomo - aquele que não corre sobre trilhos. O automóvel sacramentou o problema dos rios, quando rodovias urbanas foram instaladas, mais uma vez, ao longo de suas margens. O mais grave de todos os problemas, quando falamos da relação entre cidades e rios, é a visão mercantilista do solo urbano. No Brasil, o começo do fim foi a promulgação da Lei de Terras, em 1850, que acabou com o regime de concessão e transformou o solo em mercadoria. Com isso, os leitos maiores de todos os rios hoje urbanos foram invadidos, loteados e vendidos. Esse urbanismo mercantilista, voraz e inconsequente foi mais tarde reforçado por um urbanismo extremamente rodoviarista, gerando cidades desenhadas para os automóveis e não para as pessoas, os pedestres.” (Alexandre Delijaicov, 2013) 25


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Eles que foram fundamentais na escolha do território a ser ocupado, hoje são apenas obstáculos a serem vencidos. Pouca gente se dá conta que o rio está tão próximo. Isso só acontece quando chove e ele transborda.

O homem moldou o rio a seu modo, colocou-o dentro de um cano e escondeu debaixo da terra para não se ver em meio a sujeira, mas isso não mudou a natureza do rio. Quando a chuva cai é pra lá que a água vai e se não tiver espaço, ela toma o que for necessário. (FERRAZ in ENTRE RIOS, 2009)

O rio ainda é visto por muitos apenas como canal de escoamento de água e esgoto. As águas poluídas e o distanciamento que se cria desses corpos d’água são as causas principais do desinteresse e esquecimento. Enclausurados entre avenidas de circulação rápida ou tamponados abaixo das ruas, na maioria das vezes, os rios somem da vista e do debate acerca das cidades. A pauta de discussão muitas vezes gira em torno de como resolver o problema das enchentes e o rio se resume a isso. Como resolver o problema do rio que transborda e invade a vizinhança? O que falta perceber é que não é o rio que toma área da cidade, mas a cidade que tomou área do rio. A urbanização acelerada da área urbana é que conformou uma ocupação irregular do solo. Como disse Seabra (in ENTRE RIOS, 2009, grifo nosso) “a enchente é produto da urbanização”. 26


os rios e as cidades

Faz parte da natureza dos rios passar por momentos de cheias e outros de seca e essa mudança na sua vazão é amortecida no chamado leito maior ou várzea de inundação periódica dos rios. Mesmo quando essas áreas passaram a ser ocupadas, muitas vezes com avenidas, e a impermeabilização das regiões adjacentes aumentaram, o rio continuou o mesmo, mas sem espaço. “O espaço das águas se transformou no espaço dos carros” (FERRAZ in ENTRE RIOS, 2009) A resistência em torno das intervenções junto aos corpos d’água ainda representam um desafio no debate das cidades contemporâneas, pois essa discussão está diretamente relacionada ao problema de mobilidade e ainda hoje prevalece a lógica de expansão das vias de circulação como solução para esse problema. Hoje, do jeito que está, se você deixar a administração pública, na situação crônica que ela está, de dívidas e refém dos empreiteiros e desse urbanismo rodoviarista, nós vamos cada vez mais pela lógica, que é a lógica mais ultrapassada que pode existir, de abrir mais estradas, mais avenidas. (DELIJAICOV in ENTRE RIOS, 2009)

Ao invés de investir em transportes coletivos, como metrô e ônibus, ou mesmo em transportes individuais sustentáveis, como a bicicleta, os investimentos sempre são direcionados à infraestrutura para o transporte individual; segundo Marco Antônio Sávio (in ENTRE RIOS, 2009) “a fragilidade institucional do Brasil leva à uma proeminência do privado sobre o público. Existe uma área pública? Entrega-se a área pública para o privado [...]” 27



os rios e as cidades

“O tráfego é como água, vai onde é possível ir. E quando não pode ir a lugar algum, para.” (Jan Gehl, 2015, tradução nossa) 29



o lugar



o lugar

ribeir達o preto | s達o paulo 33



o lugar

Banhada por vários córregos e ribeirões, a cidade de Ribeirão Preto é uma entre tantas cidades brasileiras que sofrem com as constantes inundações de seus cursos d’água. A cidade convive com essa realidade desde o início do século XX, com sua primeira enchente em 1929. 35



o lugar

Falta de planejamento e controle na ocupação do solo em áreas mais críticas e, consequentemente, mais suscetíveis a sofrer os efeitos da degradação ambiental, são grandes problemas também nessa cidade no interior paulista. Depois que a ocupação da cidade já se concretizou, os processos e projetos de recuperação dessas áreas se tornam ainda mais problemáticos. Segundo dados do IBGE de 2011, Ribeirão Preto possui 612.339 habitantes. A maior parte dessas pessoas sofre direta ou indiretamente com as enchentes constantes na cidade. Enquanto o poder público exalta obras em que altas quantias foram investidas para tentar resolver o problema, os eventos de inundações permanecem. O desafio maior se constitui em aproximar a população dos corpos d’água para que eles despertem interesse pelas discussões em torno das questões em debate e sejam capazes de se conscientizarem de que medidas paliativas não serão suficientes para resolver o problema das enchentes na cidade. 37


imagem 10

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o lugar

As questões de preservação e preocupação ambiental estão presentes já no Plano Diretor elaborado pelo engenheiro José de Oliveira Reis em 1945 para a cidade, cujo título original é “Observações e Notas Explicativas do Plano Diretor de Ribeirão Preto”.

No estudo apresentado pelo Plano, o tema da “Cintura Verde e espaço livre”, tem uma conotação fundamental. Pela visão de Oliveira Reis, toda a estruturação urbana, através de um planejamento ordenado, em que o zoneamento e o sistema viário são os mecanismos dessa ação sobre o espaço urbano, deve apresentar sua complementaridade através dos espaços livres e áreas de vegetação. [...] Continuando a análise das propostas sobre as áreas verdes, duas são de grande importância, sobretudo para a qualidade ambiental da cidade: uma delas, a criação de Parkways, implantadas ao longo dos Rios Retiro, Ribeirão Preto, Tanquinho e República. Pela proposta do plano, a função das Parkways estão ligadas, não só à questão da circulação viária, mas também, para o estabelecimento de centros esportivos e de recreação. A outra diz respeito a ampliação do Bosque Municipal, que atualmente se encontra com a metade do que foi proposto pelo Plano Diretor de 1945, fruto do processo de especulação do capital imobiliário. [...] As propostas de Oliveira Reis para Ribeirão Preto, se colocadas em prática pelo Poder Público Municipal, promoveriam uma transformação profunda na cidade, em relação, sobretudo ao sistema viário através da ocupação de fundos de vale, atualmente degradados por uma ocupação intensa que se originou ainda no início do século XX. Várias áreas de fundo de vale sem um devido tratamento paisagístico, total impermeabilização do solo, entre tantas outras complicações que contribuem com problemas, por exemplo, de enchentes na cidade. (FARIA)

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mapa de hierarquia de vias da cidade.

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o lugar

mapa de demarcação das áreas verdes.

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hidrografia.

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hidrografia e topografia. primeira aproximação com as linhas naturais de drenagem do terreno.

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trechos selecionados.

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imagem 11. altimetria e hidrografia do município de Ribeirão Preto.

Dentre todos os corpos d’água presentes na cidade, a escolha por voltar maior atenção ao Ribeirão Preto e ao Córrego do Retiro Saudoso vem de diversos fatores, mas principalmente por seu significado na cidade de Ribeirão Preto. Além de sua importância histórica, pois foi às suas margens que nasceu a cidade e ainda hoje eles tem sua presença relacionada a eixos muito importantes no cenário citadino, estes são dois constantes reincidentes nas notícias sobre enchentes. Considerando estes pontos de alagamento frequentes, além da própria conformação do terreno que favorece o direcionamento do grande volume de água que escorre para o leito dos corpos d’água nessa região, por se encontrarem na área central da cidade, que é bastante ocupada, a taxa de impermeabilização do solo é muito alta, com pouco espaços livres verdejados que possam contribuir para a captação da água em eventos chuvosos. 45


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imagem 12. classes de cobertura arb贸reas.

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o lugar

imagens 13. mapa de macrozoneamento.

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trecho II

trecho I trecho III

divisรฃo dos trechos de anรกlise.

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o lugar

A fim de visualizar qual a situação em que estes corpos d’água se encontram, a busca por um levantamento fotográfico e também de usos e fluxos para cada um dos trechos escolhidos foi de grande importância para compreender a dinâmica que envolve a água e a cidade. 49


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levantamento fotogrรกfico.

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o lugar

trecho I.

av. álvaro de lima av. jerônimo gonçalves av. fábio barreto 51


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levantamento de usos do solo.

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o lugar

levantamento de hierarquia de vias.

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levantamento fotogrรกfico.

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o lugar

trecho II.

via francisco maggioni via expressa norte | av. eduardo andrĂŠia matarazzo

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levantamento de usos do solo.

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o lugar

levantamento de hierarquia de vias.

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levantamento fotogrรกfico.

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o lugar

trecho III.

av. dr. cĂŠlso charuri av. maurĂ­lio biagi av. dr. francisco junqueira

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levantamento de usos do solo.

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o lugar

levantamento de hierarquia de vias.

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bacia hidrográfica do rio pardo

imagens 14 e 15. posição geográfica da bacia do rio pardo no aquífero guarani; posição geográfica do município de ribeirão preto na UGRHI 4 - unidade de gerenciamento de recursos hídricos.

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o lugar

bacia hidrográfica do ribeirão preto e sub-bacias

imagens 16 a 18. bacias higrográficas do município de ribeirão preto; sub-bacias com hidrografia; sub-bacias com topografica.

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estratĂŠgias



estratégias

A fim de solucionar o problema das constantes enchentes na cidade, o primeiro passo foi compreender que nenhuma intervenção pontual seria capaz de pôr fim a estes eventos. A complexidade das dinâmicas ambientais envolve toda a área da cidade, principalmente no que diz respeito aos rios, pois os seus pontos de alagamentos não são definidos apenas pela contribuição local/microrregional, mas dependem das contribuições que este corpo d’água recebeu ao longo de todo seu percurso, além do seu próprio volume a que se somam essas contribuições. A ideia, portanto, é distribuir pontos de captação de águas pluviais por toda a cidade, para que o volume que contribui diretamente no corpo d’água seja menor e chegue a ele com velocidade reduzida, reduzindo sua capacidade de erosão superficial, que poderia contribuir para a diminuição dos conhecidos processos de assoreamento dos próprios corpos d’água. À essa necessidade infraestrutural, soma-se a possibilidade de utilizar desse momento de planejamento para pensar nesses espaços como pontos onde se combine a função ambiental com a função social, fazendo deles espaços públicos de qualidade, outra carência das cidades contemporâneas. Do ponto de vista técnico é importante que estes pontos de coleta de águas pluviais sejam pensados de forma que seja possível tratar essa água antes de reinseri-la no ciclo hidrológico. A primeira porção de chuva, conhecida como first flush, é a parte com mais contaminantes no volume pluvial, pois é ela que carrega a camada superficial de poluentes depositados sobre o solo, sendo a parte que merece especial atenção. 67


tgi | águas urbanas

Combinado às intervenções distribuídas pela malha urbana, existe a necessidade de intervir também junto ao próprio corpo d’água. Se a sua inundação é inevitável, até certo ponto, por sua própria natureza, que essas inundações sejam bem administradas e aceitas como parte do cenário urbano. Mais uma vez, essa necessidade combinada com um bom planejamento, pode resultar em espaços com grandes qualidades urbanísticas. Propor a despoluição dos corpos d’água e a preservação máxima da vegetação existente próxima às nascentes, incluindo áreas maiores que as regulamentadas, são duas diretrizes de grande importância também, uma vez que o máximo esforço objetiva a preservação dessas águas ao mesmo tempo em que busca aproximar a população delas. Para pensar nessas ações é necessário conquistar espaço físico para que elas sejam possíveis. Nesse contexto, ressurge a discussão acerca da mobilidade urbana e até que ponto o deslocamento está necessariamente relacionado ao transporte individual. Portanto, desenvolver propostas como estas necessita do estabelecimento de diretrizes para além do próprio projeto, como o incentivo ao transporte coletivo público. 68


estratégias

É necessário também que a população se sinta convidada a participar desse processo de revitalização dos rios e passe a utilizar esses espaços, pois é apenas com a frequência de usuários que um espaço se torna atrativo à população; a sensação de segurança vem da presença de outras pessoas. Nesse sentido, a importância de se favorecer os pedestres e ciclistas em tais locais é fundamental. É interessante ter em mente também que as pessoas já frequentam estas regiões, de uma forma ou de outra, por alguns atrativos que estes lugares apresentam. Dessa forma, uma possibilidade é utilizar-se dessas relações já estabelecidas com o espaço para criar aproximações com estes potenciais usuários. Manter equipamentos de saúde e escolas, por exemplo, garantem a manutenção de uma relação já estabelecida entre os usuários e o espaço e ao mesmo tempo permite o estímulo e interesse em relação a sua nova configuração e proposta. Por fim, é importante que a legislação da cidade seja firme com relação às ocupações em áreas de risco e mais vulneráveis e também indique o adensamento, porque quanto menor o número de áreas impermeabilizadas, melhor para a saúde dos rios e da cidade também. 69



tipologias


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imagens 21 e 22.

imagens 19 e 20.

biovaleta e canteiro pluvial


tipologias

imagens 25 e 26.

imagens 23 e 24.

jardim de chuva e lagoa pluvial

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proposta


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mapa do trecho III. รกreas livres com estudo das linhas de drenagem naturais favorecidas pela topografia.

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proposta

A partir da análise e planejamento de um dos trechos analisados, o objetivo é estabelecer um parâmetro de atuação a ser reproduzido em todo a área urbana. Seguindo as diretrizes indicadas, a ideia é multiplicar espaços públicos de qualidade que combinem além de sua função social, as funções infraestrutural e ambiental. 77


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plano geral da intervenção.

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proposta

รกreas desapropriadas.

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proposta

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imagens 27 a 31.


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imagens 32 a 34.


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imagens 35 a 41.



ÍNDICE DE IMAGENS

1 a 3. FRANCO, Fernando de Mello; MOREIRA, Marta; BRAGA, Milton. Vazios de Água. Ensaio Publicado na Revista Eletrônica de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Judas Tadeu. Disponível em: <http://www.mmbb.com.br/public/uploads/files/ files/1296571790.pdf>; 4 a 7. Disponíveis em: <http://www.urbanisten.nl/wp/?portfolio=waterpleinen>; 8 e 9. Disponíveis em: <http://www.swagroup.com/project/buffalo-bayou-promenade. html>; 10. Disponível em: <http://espacoeconomia.revues.org/181>; 11. Altimetria e hidrografia da cidade de Ribeirão Preto. Disponível em: <http://tede. unaerp.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=194>; 12 e 13. Mapas de Arborização e Macrozoneamento, correspondentemente, da cidade de Ribeirão Preto. Disponíveis em: <http://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/principal.php>; 14 e 15. Imagens de localização da cidade de Ribeirão Preto na Bacia Hidrográfica do Rio Pardo e a localização desta no Aquífero Guarani. Disponíveis em: <http://www.sigrh.sp.gov.br/cbhpardo/apresentacao> ; <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-45222010000200008> ; 16 a 18. Imagens das bacias e sub-bacias da cidade de Ribeirão Preto. Disponíveis em: <https://www.baraodemaua.br/comunicacao/publicacoes/dialogus/2006/pdf/bacia_ hidrografica_como_unidade_territorial_2006.pdf>;


19, 21, 23 e 25. CORMIER, Nathaniel S.; PELLEGRINO, Paulo Renato Mesquita. InfraEstrutura Verde: Uma estratégia paisagística para a água urbana. Paisagem Ambiente: ensaios, São Paulo, nº25, p.125-142, 2008. 20, 22, 24 e 26. Imagens ilustrativas das tipologias: biovaleta, canteiro pluvial, jardim de chuva e lagoa pluvial. Disponíveis em: <http://www.spur.org/blog/2013-05-23/restoring-san-francisco-s-urban-watersheds>; <https://twitter.com/slowottawa/status/579397449384513536>; <http://www.reformafacil.com.br/wp-content/uploads/2011/06/Jardim-de-chuva-dabiblioteca-Maple-Valley-Washington-EUA.-Foto-Nathaniel-S.-Cormier.jpg>; <https://vimeo.com/55777334>; 27 a 29. Projeto: Velenje City Center Pedestrian Zone Promenada (open competition, first prize 2012). ENOTA. Local: Velenje, Slovenia. 2014. Disponíveis em: <http://www. landezine.com/index.php/2015/06/velenje-city-center-pedestrian-zone-promenada-byenota/>; 30. Projeto: Terrace of Ukmerge (Landscape design competition for the mound park, second prize). PUPA (Public Urbanism Personal Architecture). Local: Ukmerge, Lithuania. 2010. Disponível em: <http://pu-pa.eu/mound-park-in-ukmerge/>; 31. Projeto: Waller Creek. Michael Van Valkenburgh Associates. Local: Austin, TX. 2012 Disponível em: <http://www.mvvainc.com/project.php?id=99&c=urban_design>; 32. Projeto: Singapore Watershed. Atelier Dreiseitl. Disponível em: <https://vimeo. com/55777334>; 33. Projeto: Wetland el Burro (Student Project). Natalia Vergara Forero. Local: Bogota – Colombia. 2013. Disponível em: <http://worldlandscapearchitect.com/student-projectwetland-el-burro-natalia-vergara-forero/>;


34. Projeto: Let it Flood/ Let it Grow. Disponível em: <http://www.asla.org/2013studentawards/images/largescale/128_13.jpg>; 35. Projeto: Watersquare Benthemplein. DE URBANISTEN. Local: Rotterdam. 2013. Disponível em: < http://www.urbanisten.nl/wp/?portfolio=waterplein-benthemplein >; 36. Projeto: Water squares. DE URBANISTEN. Local: Rotterdam. 2010. Disponível em: <http://www.urbanisten.nl/wp/?portfolio=waterpleinen>; 37. Projeto: Open air theater and rain water collector. Paisajes Emergentes estudio de arquitectura y paisaje. Disponível em: <http://thomortiz.tumblr.com/post/16464679470/nastassiaxv-open-air-theater-and-rainwater>; 38. Projeto: Diana, Princess of Wales Memorial Fountain. Gustafson Porter. Local: Hyde Park, London, UK. 2004. Disponível em: <http://www.landezine.com/index.php/2014/11/diana-princess-of-wales-memorialfountain-by-gustafson-porter-landscape-architecture/> ; 39. Projeto: Asnières Residential Park. Espace Libre Paysage et urbanisme. Local: Asnières-sur-Seine, Paris, France. 2012. Disponível em: <http://landarchs.com/ansieres-residential-park-reinforcing-a-social-bond-throughlandscape-architecture/>; 40. Projeto: Simons Center for Geometry and Physics. David Kamp, FASLA, LF, NA. Local: Stony Brook, New York. 2010. Disponível em: <http://www.landezine.com/index.php/2015/04/geometrical-designed-corporate-parkroof-garden-landscape-architecture/>; 41. Disponível em: <http://www.fotothing.com/fhelsing/photo/20a7bec5eb9faf1c3668cae7086d6b37/>;


CORMIER, Nathaniel S.; PELLEGRINO, Paulo Renato Mesquita. Infra-Estrutura Verde: Uma estratégia paisagística para a água urbana. Paisagem Ambiente: ensaios, São Paulo, nº25, p.125-142, 2008. DELIJAICOV, Alexandre. Alexandre Delijaicov conta como seria uma cidade estruturada pelos cursos d’água, set 2013. Entrevista concedida à revista AU. Disponível em: < http://au.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/234/infraestrutura-das-mentalidades-ahistoria-da-relacao-entre-as-296121-1.aspx>. ENTRE RIOS. Direção: Caio Silva Ferraz. Produção: Joana Scarpelini. 2009. Documentário, 25’16’’. Disponível em: < https://vimeo.com/14770270>. ENTRE PAREDES DE CONCRETO. Documentário, 9’55’’. 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=l9GF0qpOhOY>. FARIA, Rodrigo Santos. Desenhando uma nova cidade: Parkways, Neighborhood Unit e Zoning no Plano Urbanístico de Ribeirão Preto do Engenheiro José de Oliveira Reis (1945-1955). Disponível em: <http://www.docomomo.org.br/seminario%205%20pdfs/140R.pdf>.


REFERÊNCIAS

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