Zine - Cidade e Patrimônio

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Raízes da

cidade


Jogando meu corpo no mundo Andando por todos os cantos E pela lei natural dos encontros Eu deixo e recebo um tanto

novos baianos

zine por: a our a m r o déb

Rua, beco, viela Passo por cima dos canos Toda vida no teu encalço

guardia nova


idade

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VOCÊ SABIA QUE VOCÊ PODE USAR OS ESPAÇOS PÚBLICOS DA SUA CIDADE?

SE NÃO SABIA, AGORA SABE! Assim que essa pandemia acabar, te convido a usar os espaços públicos: praças, centro, avenidas, paradas, etc. para você usar. Quer almoçar ao ar livre? Vai pra aquela pracinha perto de onde você tá! Tá afim de um encontro com crush? Esquece o shopping, ocupa a cidade! Quer fazer uma festinha com amigues? Chama pra CIDADE! Leva o cachorro, o isopor, o som, banquinho, churrasqueira, e VAI USAR O QUE É SEU POR DIREITO! Conto com você, pra ocupar a cidade e fazer dela um lugar melhor para viver e ocupar!


m Teresina... No ano de 2014, estudantes de arquitetura de Teresina, se juntaram para a busca de ocupar praças e locais públicos da cidade, em busca de momentos de lazer. O produto tido foi muito especial para quem participou. Foram várias praças ocupadas, pessoas de todas as idades, de todos os cantos. Foi algo que trouxe lazer, encontro e trocas.

Também DEVEMOS lembrar também do coletivo Salve Rainha, que ocupou vários espaços públicos e esquecidos da cidade, um pouco de arte, discussão, venda de produtos artesanais, música, etc. Um espaço livre, para se divertir e ocupar a cidade!


^ Uma planta sem raiz não tem sustentação, nem alimentação... E uma cidade sem patrimônio?

É UMA CIDADE MORTA Italo Calvino, em seu livro As Cidades Invisíveis, nos traz a história da cidade Leônia, onde tudo é novo e tudo que é velho é jogado fora. Seja algo que foi novo hoje, amanhã já é velho e será jogado fora. Será que essa é realmente uma cidade utópica, como as retratadas no livro ou estamos vivendo algo assim? Nossas cidades não querem saber dos patrimônios, tanto materiais como imateriais, e queremos jogar fora, para dar espaço ao novo. Uma cidade sem patrimônio, sem história, sem memória, é como uma planta que não tem raízes. Não consegue se fixar e fica instável, não consegue se alimentar para produzir o que é necessário. Relacionando esses dois temas, a cidade de Leõnia e uma planta, onde chegamos? Em uma cidade cheia de lixo e uma cidade instável, para quem vive nela.


manifesto do coração da cidade (ou do meu?)

Mas se tem uma coisa que existe, independente da nossa ação, é o patrimônio. Todos os dias nós escutamos histórias sobre situações que se passaram em tal lugar de tal cidade, ou de certos "rituais" que aconteciam e as vezes ainda acontecem, cotidianamente, numa cidade. Temos as fotos, temos as raízes dos nossos costumes e hábitos. Não tem como escapar do passado. Não tem como demolir um patrimônio imaterial. Não tem como destruir uma história. Sempre guardaremos nossas memórias, nossas histórias, nossos patrimônios, dentro do nosso cotidiano inconsciente, dentro da nossa troca de afeto ou da nossa falta desse. Guardaremos os locais nas fotos, por trás das fotos de família, por trás das selfies... Hoje é algo que podemos dizer. Nossa cidade tem memória, porque nós fazemos essa memória. O que ainda nos falta é guardar a memória material dessa cidade. Sabe aquele relógio antigo de família? Por que você não consegue se desfazer? Não pelo valor material, mas por ter feito parte das gerações, por ter história por trás dele. Por que então precisamos tanto nos desfazer das edificações da nossa cidade, que muitas vezes retratam parte da nossa história e de outros milhares de habitantes da cidade?


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Esse negócio de vazios urbanos, são aqueles lugares, que nascem de edificações que são patrimônios, em sua maioria, e que estão abandonados, sem uso e ninguém sabe o que fazer naquele lugar (ou não tá interessado em saber). Muitas vezes, estão nos centros das metrópoles, que aos poucos estão sendo desocupados. Muitos governos já tentaram "revitalizar" esses centros, juntamente com esses locais, mas nós podemos voltar para Harvey mais uma vez: a cidade só cresce de acordo com o capital. E aí, entra o comércio, o turismo, o valor do lugar fica caro, não existe mais tranquilidade e as pessoas vão saindo pouco a pouco daquele lugar e deixando buracos e vazios, que nem esses quadradinhos do lado dessa página. E aí, me diz, o que que a gente faz pra melhorar isso? Um bocado de gente sem ter onde morar e um monte de vazio urbano por aí... E um monte de história pra ser vivida, e sendo deixada no esquecimento. Que que tu acha?

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Se não ouviu, agora tá ouvindo e quando a amizade vier com papo mais intelectual e querendo falar disso, tu já vai saber. Lê isso aqui direitinho, que no final vou te botar pra pensar!

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VAZIOS URBANOS


Meu nome é Jane Jacobs. Eu dei um rolê pela cidade e olhei pra ela com olhar de urbanista, mas também de afeto. Vou falar um pouquinho pra vocês porque deve ter prédio antigo dentro das cidades. Prestenção rapidinho! Morte e Vida de Grandes Cidades

Primeiro, Jane, vem nos falar não dos prédios antigos que estão em ótimo estado. Fala daqueles simples mesmo, meio velhos, que você olha e se sente até convidado pra entrar, sem medo de ser barrado por estar de chinelo. Daí você se pergunta, mas por que Jane, você acha que tem que ter esses prédios caindo aos pedaços? Se eu te disser, em nome da Jane, que isso gira em torno da economia e do modo de vida das pessoas, tu acredita? Pois bem. Jacobs explicou no livro dela (o nome tá bem ali embaixo da foto), que quando se tem prédios antigos e simples, é mais fácil de um empreendedor iniciante, ou pequeno, ou médio, fazer ali seu comércio. Porque o povo que mora ali, é um povo que se tivesse condição, não estaria ali ou já teria feito reformas nas sua casa. Então, condiz com a realidade desse empreendedor que a gente tá falando.


"Os prédios antigos serão ainda necessários quando os prédios novos de hoje forem velhos." (Jacobs, 1961) Não entendeu? Vou explicar. É necessário pensar do ponto de vista do sistema econômico que nós vivemos, no caso, o capitalismo. Aquele prédio antigo, já vai tá todo pago, independente de valores de construção e manutenção. E os prédios novos que estiverem ficando velhos, ainda vão estar em seu momento de busca de manutenção e em meios de construção. Então, ainda não vai ter "se pagado" ele próprio. Então, sabe aquele mercadinho do seu Zé, que você vai lá comprar sua coca e cerveja de domingo e umas coisinhas que estão faltando antes de ir pro supermercado do mês? Pois é. Dona Jane, quer falar com tudo isso é que na cidade é necessário ter espaço pra essa mercearia. É necessário ter esses prédios antigos já pagos, pra que o seu Zé possa ter lugar pro seu comércio, com o pouco dinheiro que ele tem (comparado com o dono do Carrefour). Por que se o seu Zé for atrás de um lugar popular, com um monte de shopping e restaurante chique, ele vai conseguir alguma coisa? Nem manter a mercearia (por causa dos valores cobrados nesses locais) e nem clientela.


PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS CIDADES Por fim, o que Jane quis nos dizer é que é necessário abrigarmos no nosso peito e no peito da nossa cidade, a diversidade de todas as formas. Ela pauta na diversidade econômica, mas também nos mostra a diversidade das pessoas, a diversidade de intervenções que acontecem nas cidades e que precisamos dar meios para que essas diversidades apareçam. Como a mercearia vai abrir em uma cidade como Leônia, que eu falei mais acima, em que tudo é novo. Será que todos nessa cidade tem condições para sempre manter o novo? Então, chegamos ao fim com o nosso título. Quais são as raízes das nossas cidades? Eu, Débora, consigo ver as raízes da cidade nas pessoas. Consigo ver as raízes no falar. Consigo ver as raízes no abraço. Consigo ver as raízes no centro. Consigo ver as raízes na diversidade. Consigo ver as raízes no movimento da cidade. Consigo ver as raízes, nas pessoas que vivem mundos diferentes do meu. Consigo ver as raízes na pessoa pedindo esmola no sinal. Consigo ver as raízes no prédio abandonado no centro da cidade e fechado com trancas. Consigo ver as raízes na minha casa. Consigo ver as raízes no raiar do sol, iluminando os rios. E por fim, consigo ver as raízes, nos antepassados. Pessoas, lugares, coisas e no abstrato.


As cidades, como os sonhos, são construídas por desejos e medos, ainda que o fio condutor de seu discurso seja secreto, que as suas regras sejam absurdas, as suas perspectivas enganosas, e que todas as coisas escondam uma outra coisa. As cidades invisíveis - Italo Calvino


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