Zeitgeist Digital

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Vilém Flusser

Cada edição da sua ZEITGEIST terá um filósofo e suas teorias como referência para as matérias, para mostrar que a filosofia faz parte de vários assuntos diferentes e que ela está mais presente na sua vida do que você imagina. Nesta primeira edição você vai conhecer Vilém Flusser e começar a descobrir um nova forma de ver e entender filosofia.

Expediente Tipografias: Poly (2011) de José Nicolás Silva Schwarzer Kilogram (2009) do grupo KalleGraphics Metropolis (2012) por Josip Kelava Distractor (2013) de Simon Stratford Lintel (2011) de The Northern Block Blazer (2013) de Domenico Ruffo Cassanet (2011) de atipo Contra capas e Capa Tipográfica: trabalho tipográfico desenvolvido pelo grupo na Oficina Tipográfica. Capa de Ilustração desenvolvida por Rhaiza Fontes Galeria: fotos autorais Colaboradores: Meli-Melo Press Praça Olavo Bilac, 95 cj 26, São Paulo tel.: 55 11 36288890 www.milemelopress.com.br Design Debora Soares, Gabriela Sassi, Jefferson Cont, Júlio César Matsumoto, Karen Alves, Rhaiza Fontes 4º período, 01/2013, Universidade Anhembi Morumbi.

Olhando para fora de dentro


Introdução à Filosofia

“Se não houver design não existe arte” entrevista Marcos Beccari

Pensando em tipos

Graffiti

Design em Riso

Indica


Introdução

à Filosofia Quando a inquietação humana manifestou uma série de indagações sobre o que é a arte e fez surgir os conceitos estéticos que carregamos até hoje em nossa civilização?

Vilém Flusser costumava dizer que o homem é um animal inquieto e curioso. É comum nos perguntarmos de onde vem as coisas, como se deu a evolução da nossa maneira de pensar e interagir com o mundo sensível; nossa sociedade ocidental. E no campo do design e das artes esses questionamentos são ainda mais recorrentes, discutimos sobre tudo: o que é design, o que é o Belo, se a forma segue a função, e o ponto chave desse texto, se a filosofia tem algo a ver com design e arte. É certo que desde sua pré-história o homem tenta expressar e entender o mundo de maneira imagética e simbólica, mas foi a partir da grécia antiga que a civilização ocidental deu um salto na evolução intelectual. Lá surgiram os primeiros pensadores e as principais escolas do pensamento, também foi lar de grandes filósofos, como Sócrates. Mas foi o seu discípulo — também considerado, pelos adeptos das teorias da conspiração, seu

alterego — Platão (427–347 a.C.) que, em sua obra, A República, iniciou discussões filosóficas sobre a arte — ele se referia a pintura e a escultura — e sua função e legitimidade. Porém, infelizmente, em seu diálogo, o filósofo conclui que a arte é superflua e inferior a verdadeira beleza do mundo ideal platônico, do qual considera mais legítimo que a “realidade tangível”. Portanto, a arte seria um simulacro de outro simulacro (que é a vida “real”), logo, as sombras das sombras de um verdadeiro e puro Belo: o ideal. Depois de Platão não houve grandes contribuições filosóficas para a arte até Plotino (204–270 a.C.), que em Enéadas, escreve sobre a Beleza Inteligível, onde ele afirma que a alma deve passar por um grande processo cognitivo até conseguir enxergar uma realidade inteligível: a essência verdadeira da alma.


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Em sua filosofia, a noção do Belo se dá, e está, ligada a três níveis de realidade por ele estabelecido — o Intelecto, a Alma e o Uno — que vai além da técnica e das disciplinas artísticas. Por essa razão, percebe-se que Plotino dá à arte uma importância metafísica e espiritual, concedendo-a um estado poético, já que, mais à frente na história da humanidade, a arte é considerada mundana e ostentativa pela sociedade cristã da idade média: o belo, o bem e a beleza (estética) pertenciam somente a Deus e, os exercícios artísticos e pictóricos deveriam, essencialmente pertencer, à adoração religiosa. Somente no Renascimento se deu a ligação do Belo com a Arte, pois a natureza era considerada a mais bela arte, sendo assim submetida à representações da natureza. Dando um salto no tempo, temos a filosofia de Immanuel Kant (1724–1804 d.C.), que discute sobre a Experiência Estética, baseada na satisfação que os objetos proporcionam. Kant diz que o Belo, através das coisas, é propriedade da satisfação, para ele a arte não passa de um objeto dessa experiência estética, marcada pelo desinteresse e a contemplação. Também temos Hegel (1770–1831 d.C.), que tentou definir como se dá a percepeção da arte por intermédio das Concepções do Mundo.

Com essa teoria ele afirma que o Ideal se dá historicamente e produz três diferentes concepções artísticas: a simbólica, que apenas sugere uma representação, pois a ideia ainda não invadiu o mundo material por completo; a concepção clássica, onde a forma toma conta da matéria e assim se manifesta; e a última, romântica, onde a beleza se interioriza, a espiritualidade se impõe e o artista consegue se expressar buscando a realidade dentro si mesmo. Com a evolução das noções filosóficas acerca dos significados da Arte, podemos avançar ainda mais na história de nós mesmos e discutir de maneira produtiva o que está a nosso alcance historicamente. Continuar sendo um animal curioso é a chave para entendermos melhor o mundo imagético que nos cerca. Discutir o design e arte filosoficamente é o próximo passo para podermos, pós-historicamente, decodificar e codificar com plenitude os símbolos e noções estéticas, formando novas concepções de arte, transformando e renovando nossa realidade sensível. Para isso, não podemos nunca deixar de ser animais inquietos e curiosos, pois isso é o que nos faz homens. Isso é que nos faz designers.


entrevista com Marcos Beccari É paulistano, designer, com interesse em psicologia, comunicação, consumo e o principal: filosofia. Marcos Beccari, idealizador do blog filosofia do design, incentivador do estudo da filosofia não só por aqueles iniciados no tema, mas por todos aqueles que tenham questionamentos sobre assuntos que façam parte desse universo. Aqui ele expõe sua visão sobre filosofia e a cena atual do design e seu papel como incentivador do estudo e de uma nova forma de pensar filosofia. Você é conhecido como o precursor da Filosofia do Design (Philosophy of Design) no Brasil. De onde surgiu seu interesse sobre o assunto e qual a importância dele para o design brasileiro?

Meu interesse em Filosofia do Design surgiu quando eu comecei a perceber que, diante da crescente instrumentalização do conhecimento em design (promovida tanto no ambiente acadêmico quanto no mercado de atuação profissional), existe uma aparente contradição entre duas impressões recorrentes: a de que design cumpre um papel superficial e efêmero na sociedade, e a de que nunca antes o design foi tão valorizado por essa mesma sociedade. E embora os designers, em sua maioria, ainda não conheçam a leitura filosófica sobre design, também comecei a notar entre eles a emergência de inquietação e interesse em filosofia. Sinceramente ainda não sei qual seria efetivamente a importância dessa ponte entre design e filosofia, até porque “importância” geralmente é entendida como “utilidade social” (e filosofia nunca serviu para ser útil). Mas desconfio que essa importância, seja qual for, acaba se pautando na contingência de um contexto em que, como acontece no mercado brasileiro, a quantidade de designers sempre foi muito maior do que a real demanda por design. Algumas pessoas dizem que o designer aprende a desenhar na universidade mas não aprende a “pensar”. Você acha que falta discussão do tema Filosofia do Design nas universidades? Seria importante para desenvolver a visão dos estudantes sobre o design? A princípio, se estamos falando de “universidade” como a proposta renascentista anti-doutrinária do século XII, sim, falta discussão de filosofia do design nas universidades. Entretanto, evidentemente não é esse tipo de universidade que temos no Brasil. O que temos é um ambiente pré-formatado para sujeitar várias pessoas em relação a um suposto detentor do conhecimento, um lugar onde se produz e se propaga nossa obediência ao dogma do “necessário”: cumprir metas, fazer contatos, somar resultados, acumular pontos e ser bem-sucedido – ideias que sustentam políticas públicas, mercado de trabalho, família etc. Desta universidade, acho melhor manter a filosofia do design o mais longe possível. Por outro lado, este tema não apenas é importante para os estudantes de design, mas somente pode existir entre tais estudantes. Portanto, acredito que devemos discutir filosofia do design em algum lugar “escondido” da universidade (ou de qualquer lugar considerado “importante”), como nos corredores da faculdade, em grupos de estudos insignificantes para a maioria dos acadêmicos, em podcasts e vídeos no youtube. Não vejo como uma estratégia permanente, mas como única alternativa viável para se começar algo que possa fazer algum “efeito” na universidade e no mundo em geral.


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Segundo Flusser,’’O nosso universo é universo porque tudo nele é convertido em instrumento, inclusive o homem. Entretanto, este tipo de universalidade é de um tédio insuportável.’’ Se analisar o pensamento de Flusser, o que faria o homem como instrumento se tornar parte de uma universalidade tediosa e insuportável?

Pois é, diante da complexidade da concepção de liberdade para Flusser, sobretudo em suas obras sobre a “pós-história”, é recorrente a impressão de incompatibilidade entre ser humano e liberdade. Esta impressão não é apurada. Flusser propõe pensarmos o universo a partir da segunda lei da termodinâmica: se entendido como um sistema isolado termodinamicamente, ele existe numa condição entrópica. Entropia significa basicamente desinformação, ou seja, perder a forma. O ser humano, contudo, existe na contramão da entropia natural do universo, como se fosse um “bug” improvável de uma ordem entrópica e determinista. Ele tende a informar ao invés de desinformar, dar forma àquilo que tende a perder forma. Acontece que a forma que damos às coisas, em si mesma, é entrópica, pois ela tende a perder sua forma assim como todas as coisas previamente inscritas no “programa” do universo. Ou seja, quando pensamos estar manipulando livremente a forma das coisas, na verdade estamos sendo condicionados pelas possibilidades inscritas no universo. Ou seja, a princípio, é através de nosso próprio “ato livre” que estamos submetidos a uma universalidade tediosa e insuportável. Contudo, Flusser também concebe a possibilidade de liberdade sem contrariar o raciocínio anterior: não pela ação, mas pela escolha em si, que constitui uma circunstância de não-ação e, portanto, suspensa da entropia e da redundância. Escolha não no sentido de tomar decisões (isso seria uma ação), mas de enxergar algo além das opções existentes, algo que possa remanejar tais opções. Este é o sentido radical de “design” na concepção flusseriana: dar forma sem necessariamente fazer formas, somente tentando enxergar outras formas para si mesmo em relação ao universo – como a escolha de continuar vivendo mesmo sem haver mais motivo para continuar vivo, como quando entre o perigo e a chance, apostamos na chance. Isso é liberdade para Flusser, uma questão de escolhe sem precedentes.

O mundo de hoje é altamente visual e faz com que as pessoas não se interessem pelo que há por trás das imagens, como você acha que isso afeta o entendimento/visão das coisas hoje?

Creio que isso só aumenta e enriquece o entendimento/visão das pessoas. Afinal nunca houve absolutamente nada por trás das imagens, isso foi um tremendo mal-entendido iniciado por Platão e perpetuado como verdade absoluta até o século XIX. As imagens são autônomas, autossuficientes, e quero crer que estamos começando a entender essa dinâmica própria que delas advém e sobre a qual a realidade se funda.

Existe uma abordagem mais “racional” do design defendida por muitos, visto que é preciso considerar as necessidades dentro de um projeto. Mas também existe o lado artístico, onde o inconsciente vai aparecendo e um insight criativo pode definir todo o processo que a racionalidade falhou em resolver, assim, algumas vezes nem todo elemento em algo tem sua função explícita. Você vê uma ligação entre design e arte?

Vejo muitas ligações e muitas separações possíveis. Tanto a arte quanto o design são racionais, nada é completamente inconsciente, e sempre existem “necessidades” a serem sanadas. Enfim, eu não argumentaria por este caminho, tais parâmetros não servem para definir o que é uma coisa e o que deixa de ser outra coisa. Eu diria que a arte é a tentativa de gerar afeto imediato, ao passo que design é uma forma de mediar o afeto imediato. Entenda-se: “afeto” como aquilo que nos afeta de alguma forma e “imediato” como aquilo que não é mediado. Nenhuma mediação distingue o mictório de Duchamp do mictório de um banheiro público qualquer – exceto o contexto do “museu”, a assinatura falsa de “R. Mutt” e o título “A fonte”. Estes últimos elementos são manifestações de design, enquanto o afeto por eles mediados é manifestação da arte (em si mesma afectual, não mediável). A arte, portanto, quer ser um não-artifício paradoxalmente através de muitos artifícios, de modo que, se não houver design, não existe arte. Mas se não houver arte, o design continua existindo, firme e forte.

Acesse o site Filosofia do Design



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Baixe todas as fontes gratuitamente

Uma das tarefas de um designer gráfico é escolher qual tipografias usar em seus projetos, analisar quais características devem possuir para atender as necessidades levantadas, escolher uma fonte certa para determinado projeto já não é tarefa fácil mas desenhar uma família tipográfica é bem mais complexo, nem sempre paramos para pensar no design por trás de cada fonte e no processo de criação da mesma. Pensando nisso cada integrante da equipe Zeitgeist desenvolveu seu set tipográfico tendo como conceito a contemporaneidade. Desenhar letras é um trabalho interessante e complexo. Um modo de desenvolvê-las, e o que foi utilizado por nós nas letras ilustradas ao lado, é pensar nos módulos que serão utilizados. Os módulos garantem que todos os caracteres terão as mesmas características, ou seja, a família tipográfica terá uma identidade. Mas a criação dos módulos é só o começo, ao desenhar os caracteres, deve se considerar muitas regras como espacejamento, eixo, tamanho de X entre outras. Sem contar que o seu caractere provavelmente será corrigido várias vezes, não é a toa que muitos designers demoram anos pra criar uma família tipográfica. Mas o desenho não surge do nada, a pesquisa como sempre é a parte que define as principais ideias de um projeto. Quais os tipos de tipografias? Como essas foram desenhadas? Quais as mais utilizadas? Qual é a estrutura de um caractere? Perguntas vão surgindo e a pesquisa nos ajuda a respondê-las e ao mesmo tempo contribui no desenvolvimento de ideias, sem a pesquisa, difícilmente surgirá uma boa ideia. Apesar do pouco tempo de produção, a equipe Zeitgeist pode afirmar que desenvolver um set tipográfico é uma tarefa que requer dedicação e muita atenção, indicamos o exercício para aqueles que se interessam por tipografia. É uma boa forma de desenvolver o olhar sobre as formas tipográficas e aprender a valorizar cada fonte que escolhemos para nossos layouts, comprar uma família tipográfica bem projetada enriquece qualquer trabalho gráfico.


A R G

F F


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Ele caminha em cores por vias cinzas.

Provoca o olhar para a cidade.

Torna muros sociais visíveis.

I T I

F

Confira a galeria digital de graffitis da cidade de São Paulo

Ácido, metáfora, antítese. (autor desconhecido)

Pensar em e sobre São Paulo, visualizar a cidade, ao fazer cada uma dessas coisas não importa em que ordem isso aconteça você provavelmente irá pensar na Avenida Paulista, no trânsito, na ‘’terra da garoa’’ e em algum momento passará pela sua cabeça a arte que faz parte dela, o graffiti. Para muitos, até mesmo para você, graffiti pode não ser considerado uma forma de arte, mas será que você conhece o movimento do graffiti ? As ideias que são transmitidas através dos muros pintados pela cidade ? Será que conhece o pensamento por trás do graffiti ? O graffiti chegou ao Brasil em 1960, se tornou destaque pelos muros da cidade ao se tornar uma ferramenta política, sofrendo influência direta do movimento estudantil, influência que definiu sua estética, marcada pela agilidade na produção dos traços, -necessária para fugir da repressão-. Com o passar do tempo ele foi tomando espaço pela cidade, ocupando muros, construções públicas, paredes, viadutos e passou a ser visto como poluição pela população e membros do poder, fazendo com que sua imagem se tornasse negativa.

O graffiti quebrou essa imagem negativa ao se tornar uma marca da cidade quando suas intervenções passaram a dialogar com a dinâmica e a também renovar a imagem da cidade, se deslocando para espaços culturais, durante esse processo de renovação da sua imagem foi feita uma tentativa de mudança da grafia da palavra para o português, passando a se escrever grafite, o que gerou discussões imediatas com os grupos que trouxeram o movimento para o país, para eles o abrasileiramento da palavra descaracterizava, além de que o uso da palavra em sua grafia original era valorizado pelo mercado de arte e enfatizava seu lado artístico mantendo sua ligação com sua origem inglesa e com outros movimentos artístico.


Nas ruas suas obras são efêmeras, porém são capazes de transformar os espaços com suas cores que se destacam dentro do cinza da cidade, além de trazer questionamentos sobre a sociedade. E é ao dar voz a esses questionamentos e pensamentos que é possível perceber a ligação entre graffiti e filosofia, a liberdade de expressão presente no graffiti traz a liberdade do pensar e questionar presente na filosofia, essa relação entre dois mundos que para muitos não estariam ligados entre sí, mas hoje os graffitis espalhados pela cidade de São Paulo podem ser vistos como filósofos que espalham ideais que buscam instigar a cada pessoa que passa , fazendo com que participem, essa interação humaniza o espaço urbano, nos faz refletir a organização social, embeleza e alegra a cidade. Esses questionamentos visuais fazem com que o graffiti não só mantenha um diálogo com a cidade, mas também faça diferença dentro dela não só visualmente, mas nas pessoas que fazem São Paulo.

Mais do que uma forma de arte ou de expressão, o graffiti é uma forma de pensar, de se expor ideias, questionamentos, é uma forma de desenhar o pensamento.

imagens: Daniel Melim

’’O que se procura dizer aqui faz sentido não apenas para as imagens, mas também para a existência futura. Dito de modo sucinto: os novos meios, da maneira como funcionam hoje, transformam as imagens em verdadeiros modelos de comportamento e fazem dos homens meros objetos. Mas os meios podem funcionar de maneira diferente, a fim de transformar as imagens em portadoras e os homens em designers de significados. ‘’(FLUSSER, VILÉM, 2007, pág. 159).


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Um ensaio biográfico sobre vilém Flusser Desafortunados são aqueles que nunca conhecerão Vilém Flusser, um filósofo tcheco que veio expor suas ideias por essas terras tropicais e acabou se naturalizando brasileiro. Autoditada, Flusser escrevia seus textos em pelo menos quatro línguas: português, inglês, alemão e francês, pois se considerava um homem sem pátria, assumindo sua condição de eterno imigrante. Esse tipo de atitude possibilitou que ele publicasse suas obras de maneira completa e plena, adaptando seus termos de pesquisa nas várias língua conhecidas, como melhor lhe convinha. Sua obra focava em reflexões sobre comunicação, imagem (fotografia) e design. Em seu livro mais conhecido A Filosofia da Caixa Preta — título que o próprio autor escolheu ao traduzir a obra —, ele usa a fotografia para falar das imagens produzidas pela sociedade atual, que acaba se comunicando mais com elas do que com textos. Ele usa o termo fotografia ou imagem técnica — fruto da caixa preta, outro termo de Flusser, que seriam as máquinas de nossa sociedade industrializada e que produzem esse tipo de imagem — para articular sobre a imagem que se transforma em evento e se desprende da linearidade do tempo e independe dos fatos históricos, a esse fenômeno ele denomina pós-historicidade. Olhando para fora de dentro, podese ver a chuva e não se molhar. Os gregos chamavam esse tipo de visão de teoria, percepção sem perigo e sem experimentar nada.

Para Marcos Beccari — designer gráfico, mestre em Design pela UFPR, doutorando em Educação na USP e grande estudioso do autor —, Flusser confia no potencial de inteligência dos designers e por isso questiona muito e responde pouco, é um filósofo profético que elegeu o design enquanto objeto de análise e que, infelizmente, até hoje, permanece sem a atenção merecida por grande parte dos designers brasileiros. Apesar de seu tempo entre nós ter acabado, Flusser nunca deixará de ser mais que atemporal, sua filosofia se tornou pós-histórica — assim como em sua teoria — e sua obra provocativa e instigante nos deixou as portas abertas para uma verdadeira Filosofia do Design.

Imagine uma região qualquer. Agora, nessa região, você constrói uma máquina e essa máquna mergulha na história, tira parte dessa história e leva isso consigo a um nível transhistórico. Isto é uma fotografia.


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Nasceu em 1920 em Praga, Tchecoslováquia

Fugiu de sua terra natal em 1939, devido à invasão nazista

Em 1940 chega a São Paulo. Flusser naturalizou-se brasileiro Trabalhou em uma fábrica de sapatos para se manter

Mesmo sem ser mestre, lecionou na Universidade de SP em 1958

No Brasil, estudou filosofia por conta própria. Era autodidata

Seu primeiro livro “Língua e realidade” é publicado em 1963 Volta para a Europa em 1972 e começa a obter grande fama

Em 1981 lança seu mais conhecido livro, “A Filosofia da Caixa Preta”

Em 1991 morre em um acidente automobílistico em Praga

Assista ao teaser de “caixa preta”, um documentário sobre Vilém Flusser


A meli-melo é um estúdio de design de São Paulo, que possui diversos parceiros para a produção de pequenas publicações, além de ser uma plataforma criativa focada em impressões Risograph onde designers gráficos, ilustradores, artistas e autores podem realizar e imprimir seus projetos, desde pequenos livros até complexas peças gráficas.

Para conhecer melhor o processo de duplicação usada na meli-melo, visitamos o estúdio que fica na região central de São Paulo, próximo a estação Marechal Deodoro. As máquinas riso lembram máquinas de cópia do lado de fora, a diferença é que a impressão é feita em um sistema parecido com stencil, para cada cor usada na impressão, uma matriz diferente é criada. A duplicadora usada na meli-melo é a risograph rz 370, que possui qualidade similar a serigrafia e agilidade de offset porém com preços bem acessíveis. Por ser pouco utilizado no Brasil, a maioria das tintas precisam ser importadas, fazendo com que as impressões com cores adquiridas lá fora acabem ficando mais caras.


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Quando um material é rodado na riso é preciso usar uma matriz de cada vez e trabalhar com uma cor separada, assim o operador deve remover o tambor de tinta e adicionar um novo e executar todo o trabalho para a impressora novamente. A duplicação em Riso funciona bem para trabalhos com quantidade superior a 30 cópias, pois, conforme dito anteriormente para cada cor utilizada é preciso gravar uma matriz, sendo assim quanto mais cores o trabalho possui mais caro fica o processo de duplicação. A meli-melo é o único estúdio de design brasileiro a trabalhar com Risographic. Beto, um dos colaboradores e nosso contato, morou na Inglaterra, onde conheceu esse método de impressão. Por esse processo de trabalho ser bastante conhecido e muito utilizado por lá, ele decidiu trazer esta tecnologia para os projetos brasileiros.

Acesse a página da Meli-Melo Press


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Museu da Casa brasileira

Criado em 1970, o Museu da Casa Brasileira é o único do país especializado em design e arquitetura. Expõe mobiliário dos séculos XVII ao XXI e abre espaço para exposições temporárias do que se produz na atualidade em objetos e design, também possui um programa diversificado de debates, palestras, cursos, oficinas e lançamentos de livros.

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Endereço: Avenida Brigadeiro Faria Lima, 2705 - Jardim Paulistano De terça-feira a domingo, das 10h às 18h. Entrada R$ 4,00

2 Design das Periferias

“A necessidade é a mãe da invenção” nesta frase de A Republica de Platão podemos basear a exposição Design da Periferia, que reúne objetos, fotografias e vídeos fruto de pesquisas pelo Brasil sobre artefatos com design criativos. As peças são lições de design de baixo orçamento, são mais que soluções práticas para problemas do cotidiano, feitas fora do ambiente profissional revelam o Design como mais que um produto, como uma forma de pensar. Pav. das Culturas brasileiras Parque Ibirapuera Sex. (25): 11h às 14h. Ter. a dom.: 9h às 17h. Até 29/7. Grátis.

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Textos Clássicos do Design Gráfico Obra reúne textos históricos sobre descobertas e debates importantes para o desenvolvimento do Design Gráfico, que se transformou de arte comercial em atividade altamente profissional e respeitável. “Este livro é um autêntico ‘clássico instantâneo’. Textos clássicos do design gráfico atesta que os maiores designers da história também foram críticos e teóricos lúcidos de sua disciplina. Todos os estudantes de design deveriam ler este livro!” – ELLEN LUPTON, Departamento de design gráfico do Instituto Maryland, Faculdade de Artes De R$69,90 a R$79,90


imagens: divulgação

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4 Admirável Mundo Novo 5 Holy Motors (2012)

AC e DC, Iniciais para “Antes de Cristo” e “Depois de Cristo”, num futuro criado por Huxley existe o “Depois de Ford”, 632 df pra ser mais preciso. Um mundo totalmente distópico onde pessoas são précondicionadas biologicamente a viver em harmonia e são psicologicamente condicionados com auxilio de drogas, respeitando as regras sem questionar a sociedade em que vivem. Um mundo sombrio e dividido em castas serve como cenário para esse incrível clássico da ficção cientifica. Apesar de ter sido escrito há muito tempo atrás, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, nos faz refletir sobre a sociedade em que vivemos, um ótimo livro para exercitar a mente.

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Preço: R$ 14,30 a R$ 39,00 dependendo da edição.

Existem filmes que apenas com uma frase conseguimos explicar, não é o caso de Holy Motors, podese tirar centenas de reflexões desse filme, uns podem achar maluco e outros podem achar “cult” e inteligente. Ao tentar procurar um significado para o mesmo, menos você irá encontrar. Mas desde de quando Arte tem um só significado? Desta forma me atrevo a dizer que ao dirigir Holy Motors, Leos Carax fez arte. Holy Motors é um filme belo com uma impressionante interpretação de Denis Lavant. Muito conhecido por suas contorções e danças, Denis não deixa de mostrá-las, porém não se esquece de seu lado ator, o mesmo interpreta diversos personagens no filme e faz isso muito bem. Denis interpreta Oscar que sai pelas ruas realizando trabalhos com sua motorista, e em cada trabalho temos um novo personagem. O filme também conta com a participação de Kylie Minogue e Eva Mendes. De $9,99 a $33,52 em lojas online.

Assista ao trailer de holy motors



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