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JULIANA FREITAS
referência “vintage” - é mais relacionado à dança, passeio, etc. O aggressive não é muito visto em termos comerciais, mas tenho esperança que isso mude quando as marcas perceberem o potencial dessa comunidade e quantas patinadoras incríveis estão por aí dando o sangue porque são apaixonadas pelo esporte. Incentivo é fundamental.
Quais foram os desafios que você enfrentou ao longo da sua jornada como atleta de patins feminino, e como você os superou?
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Acho que é importante fazer alguns recortes aqui para salientar que existem corres e corres. Precisei correr atrás para ter um patins de qualidade razoável, e isso não foi fácil, mas sempre tive a meu favor condições favoráveis para poder correr atrás. Sou uma mulher branca de classe média que teve tempo/disponibilidade para se dedicar, possibilidade de locomoção, companhias para me incentivar e acesso a lugares com uma mínima infraestrutura (principalmente considerando que no Brasil tem muito lugar precário). Meus desafios estão mais relacionados a ter começado um esporte aos quase 30 anos com praticamente nenhum histórico de atividade física, então isso, além de ter incluído lesões por falta de ter um mínimo preparo físico e orientação, incluiu muitas inseguranças e incertezas se o caminho que estava/estou tomando é prudente e responsável. Volta e meia me pergunto "será que isso aqui não é doideira demais? Eita, o que eu tô fazendo da vida?" Mas acredito que essas são as dúvidas que a maioria de nós temos, independentemente do que estamos fazendo, né rs. Sabemos que muitas vezes a pressão social e as expectativas podem afetar os atletas. Como você lida com a pressão e o estresse em sua carreira no patins?
No geral, lido bem, até porque eu não tenho marca ou empresário para me representar. Sou autônoma, meu negócio é dar aula, e minhas questões têm mais a ver com cobranças internas e o quanto eu quero aprender para também poder entregar para os alunos e comunidade. Geralmente, quando eu sinto que existe alguma expectativa alheia em relação ao meu desempenho ou performance, procuro já falar que também estou aprendendo, erro e caio muito no processo. Acho que no começo a gente se cobra mais porque não entende que o aprendizado não é gradual e altos e baixos são normais. Conseguir administrar essas inconsistências, abraçar a humildade e entender que o aprendizado é permanente é a grande parada.
Quais são seus maiores objetivos no patins para o futuro próximo e a longo prazo? Existe algum sonho ou conquista específica que você deseja alcançar?
Procuro ser realista. Não me vejo ganhando campeonatos ou sendo rosto-propaganda de marcas. Estou cursando meu caminho com calma (confesso que talvez calma até demais rs) e buscando fazer o melhor que posso para contribuir com a comunidade. Atualmente, dou aulas particulares, ou para duplas e trios. Estou começando com meu amigo patinador de street @cai0inline um projeto de aulão gratuito para introduzir patinadores em skateparks. Minha vontade é dar aulas em grupo, formar turmas, organizar oficinas, enfim, repassar tudo que sei e aprendo na marra com técnica, segurança e método. Um grande sonho seria conseguir viajar e aprender com os gringos que têm mais bagagem e experiência, e conseguir trazer para diferentes partes do Brasil esse conhecimento de uma forma acessível.
O patins pode ser uma atividade inclusiva e divertida para pessoas de todas as idades. Quais são os conselhos que você daria para aquelas mulheres que desejam começar a praticar patins, independentemente da idade?
Ain gente, venham e venham muito! Uma das coisas que mais me animou a entrar pro mundinho quad é por ser justamente uma comunidade formada majoritariamente por mulheres e pela comunidade LGBTQIA+. Só nós sabemos o quão intimidador é estar no espaço com muitos homens. Mas independente disso, o que eu recomendo, para além de começar com proteções e orientação, é buscar trocar e compartilhar esses momentos de aprendizado com outras pessoas, tendo em mente que pessoas aprendem em ritmos diferentes por diversas razões, então não se compare. Também sou absolutamente adepta da patinação solitária, nada como ouvir música e entrar no vortex do hiperfoco patinístico ou curtir uma vibe de boas apreciando a própria companhia, mas a troca e diversão com outras pessoas apaixonadas pelo esporte não têm preço. Conheci pessoas de diversas idades que começaram a patinar com 20, 30, 40, 50, 60 anos e tiveram sua autoestima e dinâmica de sociabilidade completamente transformadas depois de começar a patinar. Se joga, confia e vem!
Como sua família tem apoiado sua jornada como atleta de patins? Eles sempre te apoiaram nessa escolha ou enfrentaram algum tipo de resistência no início?
Meus pais ficam preocupados com o risco de lesão, mas me apoiam muito. Ficam felizes de eu ter saído do sedentarismo e encontrado um esporte que me traz tantos benefícios. Por fim, como você acredita que o patins pode impactar positivamente a vida das mulheres e quais benefícios você pessoalmente obteve com a prática do esporte?
Além de movimentar o corpo trabalhando resistência, força, coordenação, equilíbrio, reflexo e etc. de uma forma lúdica e divertida, patinar me ajuda a ser mais gentil comigo mesma, por mais que às vezes eu seja contraditória com os lapsos de autocobrança. Me ajuda com minha autoestima quando consigo desenvolver algum movimento ou manobra, mas também me ajuda quando me sinto bonita fazendo um movimento simples que já me é confortável. É bem doido porque patinar é sentir um misto de alegria, medo, adrenalina, paz e eventualmente uma dorzinha de tombo para construir caráter e se manter humilde rs. Mas sem dúvida nenhuma o mais incrível tem sido compartilhar essa paixão com tantas pessoas diversas e especiais, de lugares e com histórias de vida completamente diferentes. Conheci e fiz amizades com pessoas que genuinamente quero levar pro resto da vida, independentemente se elas vão continuar patinando ou não. Isso é muito especial, e mal posso esperar para ver até que lugares e pessoas o patins vai me levar.
Como você começou sua jornada no patins? Existe alguma história específica que tenha te inspirado a começar? Sim! Em 2012, eu e minha família fomos à terra natal do meu pai, Mato Grosso do Sul. Ficamos alguns dias, e o irmão do meu pai sugeriu que fôssemos ao Paraguai passear. Fui e, como era final do ano, meu tio resolveu me dar R$50,00 para comprar o que eu quisesse. Como meu pai sempre me incentivou a praticar esportes desde a infância (eu já estava com 12 anos na época), fui a uma loja e dei de cara com um patins quad de couro vermelho e rodas de led. Fiquei impressionada e comprei instantaneamente. De primeira, quando voltei do Paraguai, quebrei todas as paredes da varanda porque chutava tudo ao redor hahahahaha. Meu pai pediu para eu parar e eu andava pouquíssimas vezes. Quase um ano depois, peguei minhas coisas e lembrei daqueles patins. Fui para a Cidade Administrativa de Minas Gerais, que era puro asfalto e ladeiras, e me aventurei sozinha. Lá, conheci outros patinadores e assim fui trocando de patins e crescendo. Já fui goleira de um time de hóquei, o Vipers, e participei de competições. Já pratiquei downhill e hoje treino a modalidade vertical e street. Já são 10 anos sendo patinadora, com muitos desafios. Hoje, tenho a oportunidade de ser instrutora em uma escola infantil, também particular, e criadora de conteúdo nas redes sociais, contando minhas histórias de patinação por aí!
Sabemos que a motivação é uma peça fundamental para se destacar em qualquer esporte. Quais são suas principais motivações para continuar praticando patins?
A minha principal motivação é me desafiar e inspirar pessoas. O patins é um esporte no qual você enfrenta medos e se supera a cada dia. Cada um tem seu tempo de evoluir conforme suas condições, não só no patins, mas em todos os âmbitos da vida. Você se torna feliz com o que você faz, com as metas que você se compromete a cumprir.
Além do patins, quais são suas principais paixões ou interesses na vida pessoal? Como você equilibra suas atividades fora do esporte com o treinamento e competições?
Meus interesses na minha vida pessoal são desenhar, pintar e ser criativa. Eu faço tudo isso utilizando minhas redes sociais e mostrando tudo para os meus seguidores. Viajar e se conectar com pessoas é algo que me faz muito feliz!
O cenário feminino no patins tem evoluído nos últimos anos. Como você vê essa evolução e quais são as maiores conquistas alcançadas pelas atletas femininas até agora?
Nós mulheres temos tomado espaço com muita dedicação e treino. Alcançamos resultados e somos vistas por nós mostrarmos aptidão para fazer o que realmente amamos. Hoje vejo muitas meninas quebrarem o tabu em relação ao esporte e colecionarem medalhas!
A representação das mulheres no esporte é de extrema importância. Como as marcas têm apoiado o cenário feminino no patins e quais ações você acredita que ainda precisam ser tomadas?
O cenário feminino do Patins no Brasil é algo que precisa ser trabalhado todos os dias. Infelizmente, é muito difícil tomar espaço, e eu mesma sofro muito machismo por conta disso. Precisamos ter voz nas pistas, mais incentivo em campeonatos, e entenderem que, apesar de mulheres, temos aptidão para treinarmos com igualdade.
Sarah Gon Alves
FOTÓGRAFA: FRED - @FREDPACO
MANOBRA: AÉREO NO VERTICAL DE GRAB
Quais foram os desafios que você enfrentou ao longo da sua jornada como atleta de patins feminino e como você os superou? O principal desafio que estou enfrentando é na modalidade Vertical. Estou praticando há um ano e já ouvi que devo desistir por demorar tanto a desbloquear alguma manobra, ou que não sou forte o suficiente para estar naquela modalidade. Me deixei abalar, mas me lembrei que estou nesse esporte porque quero desafiar o meu eu.
Sabemos que muitas vezes a pressão social e as expectativas podem afetar os atletas. Como você lida com a pressão e o estresse em sua carreira no patins?
Querer ser atleta é um sonho recente, e admito que nem sempre lido bem com isso. Exigimos muito de nós mesmos e ficamos desapontados por não conquistar um objetivo. Eu agradeço por ter um treinador físico que me apoia e me dá todo o suporte para eu lidar bem com todas as situações.
Quais são seus maiores objetivos no patins para o futuro próximo e a longo prazo? Existe algum sonho ou conquista específica que você deseja alcançar?
Ser Atleta Profissional é um sonho. Eu estou no primeiro degrau, e por várias vezes já me disseram que não sou capaz de tal feito. O que mais admiro em mim é sempre correr atrás do que eu mais quero e nunca desistir, por mais que demore, mas um dia eu estarei lá!
O patins pode ser uma atividade inclusiva e divertida para pessoas de todas as idades. Quais são os conselhos que você daria para aquelas mulheres que desejam começar a praticar patins, independentemente da idade?
Foque em você. A evolução é pessoal. O mais importante é se sentir bem com o que você está fazendo dentro dos seus limites, mas se você é capaz de mais, tente, porque para ter o que nunca teve, tem que fazer o que nunca fez!
Como sua família tem apoiado sua jornada como atleta de patins? Eles sempre te apoiaram nessa escolha ou enfrentaram algum tipo de resistência no início?
Eles aceitaram a pouco tempo. Já teve época na adolescência que eles esconderam por meses meu patins. A visão que eles tinham era de que não há futuro no esporte, mas eu provei o contrário. Hoje, vivo do esporte e estou realizada.
Por fim, como você acredita que o patins pode impactar positivamente a vida das mulheres e quais benefícios você pessoalmente obteve com a prática do esporte?
Acredito que o patins pode impactar positivamente a vida das mulheres de diversas maneiras. Primeiramente, proporciona uma atividade física divertida e estimulante, que ajuda a melhorar a saúde e a forma física. Além disso, o patins é um esporte que encoraja o empoderamento feminino, quebrando estereótipos de gênero e mostrando que as mulheres podem se destacar em qualquer esporte.
Para mim, a prática do patins trouxe muitos benefícios. Além de me manter fisicamente ativa e saudável, o esporte me ensinou a enfrentar desafios e a superar obstáculos. Através do patins, eu desenvolvi minha autoconfiança e minha determinação em correr atrás dos meus objetivos. Também tive a oportunidade de conhecer outras mulheres incríveis no esporte, formando uma rede de apoio e amizade.
Em suma, o patins é muito mais do que um esporte para mim. É uma paixão que me inspira, me motiva e me faz crescer como pessoa. E acredito que, para qualquer mulher que deseje começar a praticar patins, essa jornada pode ser igualmente transformadora, trazendo mais alegria, autoestima e empoderamento para suas vidas.