Coordenação Almerinda Chaves Textos Kiko Bloc Boris Ethel de Paual
OS MUNDOS De JOTA
OS MUNDOS DE JOTA
Coordenação Almerinda Chaves Textos Kiko Bloc Boris Ethel de Paual
Almerinda Chaves Coordenação Kiko Bloc Boris Ethel de Paual Textos e entrevistas Dedê Oliveira Projeto Gráfico e Direção de Arte Mamut Design Diagramação e Finalização Jota Chaves Fotografia Evelucia Apoio
Ăƒ Jefferson Chaves Barbosa e Syomara Chaves Barbosa, ao meu esposo Geraldo Barbosa, aos professores, aos primos, especialmente Glauder e Glauber, aos amigos e amigas e a todos que fizeram parte dessa historia de emoçþes, arte e aventuras. Almerinda Chaves
ÍNDICE
A publicação a seguir não pretende ser um livro biográfico e sim divulgar a sua arte fotográfica, pois como ele mesmo dizia: “fotografia é a minha vida”. É na verdade uma extenssao do projeto Fotografia Poesia da Alma que vem realizando anualmente exposições fotográficas, que tem como objetivo não apenas a apresentação de fotos, mas despertar nos jovens a relização de sonhos e o prazer de fotografar. São detalhes acalentadores sobre a intensa, embora muito breve vida do Jefferson Chaves, o mesmo Jota Chaves como é mais intimamente conhecido por vários afetos que ele compôs em seus bem vivenciados poucos 26 anos! O bem querer, a admiração amplificada, as saudades muitas e mais do que qualquer outra motivação, pelo AMOR incondicional e sem fim de uma dedicada mãezona, a Dona Almerinda Chaves, esse memorial afetivo de envolvimentos se torna realidade. Entre fotos dele e outras feitas pelo próprio Jota, os dizeres maternais e relatos de outros familiares, colegas de cursos, dos amigos em movimentos nas artes, estudos e parcerias de VIDA enfim, nos chegam por essas páginas, que também não pretendem finalizar mais lembranças nem resumir outros encantamentos porvir. Pontuam sim, um novo início de celebrações da grandeza do Jota, que permanece e vigorará entre todos aqueles que tiveram o privilégio da convivência ou até mesmo, naqueles que através dessas linhas e imagens se envolvam nos universos habitados pelo tão querido menino homem que tanto criou e nos presenteia com tamanhas boas lembranças!
Muito Bem Vindos aos MUNDOS DO JOTA
ÁLBUM DE FAMÍLIA
MELA MELA NO ICARAÍ “O Jefferson era uma pessoa bastante extrovertida, mas somente com quem já tinha alguma intimidade. Quando nos conhecemos no ambiente familiar, pequenos ainda, cultivamos uma amizade nossa com o passar dos anos, e ele sempre foi bastante brincalhão com a gente. Ele gostava de vir passar os finais de semanas na nossa casa, onde conversávamos bastante, jogávamos videogame, falávamos sobre todo tipo de coisa. Sempre que podíamos íamos também pra casa de praia em Iparana, e ele sempre frisava que só iria se nós (os primos) fôssemos também. Enfim, nós sempre nos demos muito bem! Uma história engraçada que aconteceu conosco foi no Carnaval. Nós estávamos na faixa dos 16-17 anos, e fomos para o Icaraí. Ao chegar lá, todo mundo estava no ‘mela-mela’, dançando e a gente não sabia dançar nada (risos). Daí, o meu irmão Glauber falou: ‘rapaz, vamos ficar parados não, e saiu rodando e ‘dançando’. Então, eu e o Jefferson fomos também nesse mesmo embalo, rodando pra lá e pra cá feito uns loucos, e ficávamos rindo de nós mesmos (mais risos). Foi bem legal esse dia, nos divertimos bastante, bons tempos!”.
Glauder da Silva PRIMO
PRIMOS IRMÃOS “Tentar dizer o que sinto pelo meu querido primo Jefferson Chaves em poucas linhas torna a tarefa muito difícil, poderia dizer até mesmo inviável. Ele sempre tratou a minha família com muito respeito, principalmente aos meus irmãos e a mim. Começamos a manter um maior contato na minha adolescência, quando eu tinha uns 16 anos em diante. Quase todo final de semana, a partir da sexta-feira, eu ia com meu irmão ao apartamento dele para posteriormente irmos com o Jefferson à casa de praia da sua família em Iparana. A tia Almerinda sempre brincava, dizendo que ele só queria ir à praia quando íamos juntos. Isso me deixava muito feliz, pois mostrava o quanto éramos importantes para o Jefferson. No apartamento, à noite, ficávamos na internet ou brincando no videogame até tarde. Evitávamos ir ao shopping, já que ele sabia que quase sempre não tínhamos dinheiro algum. Mesmo com a dificuldade financeira da minha parte, ele nunca me tratou com indiferença, muito pelo contrário. Eu ficava bastante à vontade ao lado dele, e brincávamos sempre com meu irmão. A minha irmã, por ser ainda pequena, só vez ou outra ia também. Ele demonstrou uma afinidade única conosco, comigo e o meu irmão Glauder, que durará eternamente. Jamais esquecerei os momentos passados juntos ao meu estimado primo Jefferson Chaves, sempre brincalhão, atencioso e muito inteligente! Quando estava com ele, eu até me esquecia das dificuldades que passava na época, haja vista que sempre nos tratou igual, pura e simplesmente como primos. Vivemos muitas histórias interessantes na praia quando jovens, muitas travessuras, mas isso é conversa para outro livro. Infelizmente tivemos de crescer, acabamos seguindo um destino diferente e nos afastamos um pouco, pois ao chegarmos à fase adulta da vida perdemos muita coisa importante dessa convivência inocente, devido às novas responsabilidades. Isso me deixa sempre com saudades da época juntos. Mas o importante é que os momentos vividos ao lado do meu primo e do meu irmão serão eternos e foram essenciais ao desenvolvimento do adulto que hoje sou. Um dia poderemos nos reencontrar juntos ao ‘Altíssimo’ e, quem sabe, fazermos as nossas brincadeiras daqueles finais de semana maravilhosos ao seu lado.”
Glauber da Silva Chaves PRIMO
Um eterno aprendiz
NESCAUZINHO E GALAK “O Jefferson sempre teve uma personalidade muito forte e foi muito intenso nas relações dele. Era muito curioso como ele se apaixonava perdidamente por alguma garota, que era o amor da vida dele, e na semana seguinte ele já tinha outra paixão. Sempre brincávamos com isso. Ele também levava essa intensidade aos relacionamentos com os amigos. Era capaz de se entregar totalmente a uma amizade, mas acabava se frustrando intensamente quando se decepcionava. Em 2001 quando nos tornamos amigos, nós inventamos de formar uma banda para tocar na festa de final de ano no colégio Master, na Aula da Saudade, mas o Jeff não tinha muita habilidade com nenhum instrumento, porém tinha que estar na banda! Éramos os ‘Sortidos’, cada um tinha um apelido relacionado a chocolate. Ele era o Nescauzinhu (com u mesmo), e eu o Galak. Ensaiamos sem ele ter nenhum instrumento e no dia da apresentação conseguimos uma pandeirola para ele. No final das contas, acho que deu certo a nossa ‘banda’, pois foi bastante elogiada na única apresentação! Poderia lembrar-me de muitas histórias com o Jefferson, mas a minha memória me prega algumas peças sobre o tempo em que convivemos. Sem dúvida, a que tem maior influência em minha vida se refere a um momento em que ele demonstrou o quanto sabia o que fazer quando alguém precisava dele. Ao final de 2001, eu havia passado na primeira fase do vestibular da UFC para Medicina. Estava confiante para a segunda fase, mas não fui aprovado. No dia em que saiu o resultado, fiquei arrasado. Mas recebi uma ligação dele, que não me disse nada, apenas colocou o telefone ao lado da caixa de som do computador dele enquanto tocava ‘Tente Outra Vez’, do Raul Seixas. É um momento que tem um significado imenso em minha vida e na minha perseverança para continuar seguindo em frente. Sinto muita falta de ter podido conviver mais com o Jeff, mas algumas circunstâncias nos afastaram. Se pudesse voltar atrás, eu sei que ambos teríamos feito diferente, mas há esses momentos na vida que sempre serão marcados por um ‘e se eu pudesse voltar no tempo sabendo o que sei hoje?’”...
José Maria Santiago Amigo do colégio Master
PARCERIA E AMIZADE “Conheci o Jefferson durante um momento muito legal pra mim, que foi a ocupação da Reitoria da UNIFOR quando fomos protestar contra o aumento das mensalidades. Acho que foi no final de 2002 ou 2003. Ficamos cerca de duas semanas dormindo e vivendo dentro da Reitoria e conheci o Jefferson lá, sempre muito prestativo nas funções que tínhamos para manter a ocupação. Depois, dentro do movimento estudantil, eu e outras pessoas nos organizamos para montar uma chapa do DCE, que o Jefferson não fez parte como membro, mas foi apoiador e lá passamos algum tempo juntos. Era um cara divertido, apesar de bastante introspectivo. Nos interessamos pela fotografia na faculdade, mais ou menos nessa mesma época, mas não chegamos a realizar nenhum trabalho ou projetos juntos. A parceria com ele era mais na amizade e na troca de ideias mesmo. Sempre achei o Jefferson um cara muito só, com um bom coração, mas que não tinha muitos amigos (pelo menos era isso que eu percebia) e acabei lhe chamando pra sair algumas vezes, junto com outros amigos. Eu gostava dele de verdade. No entanto, ele foi se afastando com o tempo... Lembro que tinha esse site, em que você fazia a sua conta e podia postar fotos, o DeviantArt, e o Jefferson se envolveu bastante no mundo virtual, tinha mais amigos na Internet que na vida real, e lá ele se sentia bem, se sentia mais querido, podia ser uma pessoa diferente do que era na vida real, mais extrovertido. De novo, tudo isso é percepção minha, do que eu via na época. Algum tempo depois, por volta de 2006, ele se afastou de vez e começou a se envolver com outras coisas, como o Zouk e tal, pois gostava de dançar. Daí realmente perdemos o contato. Fiquei sabendo do falecimento dele por meio de outros amigos e pensei que, se tivesse insistido mais na amizade, quem sabe ele não teria alguém pra conversar melhor né? Sei lá... A gente fica pensando nessas coisas. Por mais que não praticássemos mais a amizade em si, ele era uma pessoa pela qual eu torcia bastante”.
RAPHAEL VILLAR Amigo pessoal e colega no Campus da UNIFOR
detalhista e sensível “O J. Chaves era de longe uma pessoa muito especial. Não convivi tanto com ele, mas, nos poucos momentos em que passamos juntos, ele era muito atencioso, apesar de tímido. Era do tipo de pessoa que gostava de cultivar as amizades com bastante cuidado e carinho, isso fazia com que me sentisse querida. Sem contar que ele tinha um olhar apurado para situações do dia-a-dia. Era muito detalhista, sensível e passava tudo isso para as suas fotografias. Na época da UNIFOR, eu também dançava balé clássico e o J. Chaves era fascinado pela dança. Essa admiração, inclusive, fez com que ele voltasse o olhar para essa arte e, assim, fotografou vários festivais, como ensaios em estúdios com essa temática. Eu tive o prazer de ser fotografada por ele. Uma vez, no estúdio da UNIFOR, ele entendeu bem a ideia de um trabalho que eu estava fazendo para uma cadeira de jornalismo. Se não me engano, minha equipe queria desconstruir a imagem de uma bailarina e ele simplesmente deu um show! Com pouca explicação, o J. Chaves mergulhou na nossa ideia e trouxe à tona uma bailarina que, antes, a gente jamais tinha visto. Foi incrível para mim! As fotografias eram a pura sensibilidade do artista. Foi uma experiência linda que vou guardar na minha memória!”.
TAÍS LOPES Colega do curso de Comunicação da UNIFOR
encontros no banco “A minha amizade com o Jota Chaves se iniciou quando ele ingressou no curso de Jornalismo da UNIFOR. Ele ainda era calouro, e nós que éramos já estudantes fizemos um trote com os novatos: eu entrava na sala de aula me passando por professor para ministrar de cara um trabalho monstruoso à turma nova. Até que entrava o resto do pessoal veterano com tintas e tudo, revelando a brincadeira da recepção aos novos alunos. Logo eu e ele trocamos idéias sobre alguns assuntos em comum, e no decorrer do semestre fomos travando uma amizade muito forte. Embora não fizéssemos disciplinas juntos, na hora dos intervalos das aulas sempre encontrávamos o Jota sentado no mesmo banco, onde um grupo passou então a se encontrar mais, tendo eu, o Lucas e o João Pedro como parceiros mais constantes nos papos com ele. Quando o Jota se apaixonou por uma menina da faculdade, e não foi correspondido, dei uns conselhos para ele, conversamos bastante e a partir disso desenvolvemos uma amizade mais chegada. Durante esse ano letivo sempre nos reuníamos, menos no período das férias, pois não éramos tão amigos para sairmos fora da faculdade. Mas nessa convivência diária na UNIFOR sempre papeávamos sobre várias afinidades nossas, como o gosto pelas tatuagens, das fotos de meninas tatuadas, sobre o site Suicide Girls - que ele até usava sempre uma camisa com a estampa do site, e compartilhávamos acerca do trabalho deles que eu também curtia muito -, além de discutirmos sobre as técnicas fotográficas, o que era super legal. Acabamos por nos distanciar mais na mesma época em que o Jota começou a dançar Zouk e teve outros interesses, ao se envolver na academia de dança que ele montou ou era sócio. Com isso já não nos víamos mais tanto na faculdade, até que soube por outro amigo em comum, o Felipe, do falecimento do Jota, por quem sempre tive muito carinho. Mesmo nessa curta convivência, pude admirá-lo por ser muito determinado, uma pessoa verdadeiramente apaixonada pelo que fazia, seja na Fotografia como na Dança, mas principalmente no que lhe movia como fotógrafo, tendo até me ensinado técnicas. Afora a grande amizade, ele era um profissional incrível... Uma pena ter nos deixado tão cedo!”.
MATEUS LIMA Amigo do curso de Comunicação da UNIFOR
fotografia da alma
fotografava tudo, muito e muitas coisas “Eu conheci o Jefferson no curso de Fotografia da Casa Amarela, fui professor dele já na minha primeira turma de alunos, em 2005. Ele sempre demonstrou muito interesse pelo assunto e vontade em aprender, tendo planos, inclusive, de dar continuidade aos estudos após findar esse curso. Ele fez parte de uma turma boa, também com o mesmo perfil de interesse pelo aprendizado e pela fotografia como linguagem. Depois de findar o curso, a gente formou um grupo com algumas pessoas e circulamos durante um tempo fotografando, tanto por Fortaleza, onde fomos até para uma expedição pelo Rio Cocó, organizada pelo fotógrafo Celso Oliveira, mas viajamos também a Canindé, Quixeramobim, entre outras localidades para fotografarmos. Em algum momento, o Jefferson me perguntou quais eram os grandes países no mundo para se aprender fotografia, ao que referendei a França pela Fotografia ter começado por lá e ainda ter uma tradição muito forte, assim como pela Europa. Então ele começou até a estudar francês, pois queria seguir estudos da fotografia por lá. Embora isso não tenha sido possível de realizar, me lembro do seu empenho já de início ao aprender a língua francesa para tentar seguir os estudos por lá. Mas ele acabou decidindo ficar por aqui mesmo, e pelo que me consta fez vestibular para Jornalismo na UNIFOR, passou e se matriculou, continuando assim os aprendizados na fotografia, através das disciplinas ofertadas pelo curso, como também se engajou no núcleo de produção fotográfica da Universidade.
Mesmo depois da morte do Jefferson, quando tive mais acesso aos trabalhos dele, observando as fotos que ele produzira, me lembrei que sempre me chamou muita atenção, ele logo no início dos aprendizados já ter o hábito de andar sempre carregando a câmera e de fazer da fotografia a linguagem diária do seu cotidiano. Fotografava tudo, muito e muitas coisas... Desde pessoas - mesmo sem que todas percebessem, pois ele era bem tímido e tinha menos facilidade em chegar até estranhos, devia fotografar principalmente os amigos, mas talvez fotografasse os desconhecidos à distância -, e nessa atenção em fazer coberturas fotográficas diariamente, compôs um amplo registro das atividades no tempo da faculdade. O grupo de fotografia que compomos foi se encontrando menos, se dispersou e, como acontece na vida, o Jefferson também deu uma sumida. Soube que esteve envolvido com Dança, mas pelo nosso afastamento, não sabia até que ponto nem em qual medida incluía ou deixou mais de lado a fotografia nessa área. Mas apesar de não ter acompanhado tão de perto, o Jefferson voltou a fotografar, dando continuidade dentro desse universo ao processo dele na fotografia de palco e de espetáculos de dança. Vi que ele fez muitas imagens disso, inclusive me chamando atenção o envolvimento dele pela fotografia também nesse aspecto. Até que de repente fui surpreendido pela notícia da morte dele. Por estarmos mais distanciados, e na ocasião eu inclusive nem estava por Fortaleza, nem entendi o que se deu e levou a tal, mas como todos os envolvidos com ele, também levei um grande susto por essa perda...”.
FERNANDO JORGE Professor no curso de Fotografia na Casa Amarela
Um fotógrafo promissor “A minha relação com o Jefferson foi muito bacana. Ele chegou a mim por intermédio do fotógrafo José Albano, que também era amigo da mãe dele, D. Almerinda Chaves. O Zé Albano me pediu para que eu fizesse uns testes com ele e visse alguns trabalhos de fotografia em que pudesse lhe dar ajudas. Logo ao se apresentar, vi que o Jefferson era um menino tranquilo, bacana, calmo. Vimos então quais eram os seus interesses realmente na fotografia, e ele me disse querer ser fotógrafo e das atenções às artes. Dois dias depois, o Jefferson chegou aqui no estúdio pontualmente, bem cedo como eu tinha pedido. Já tinha um trabalho marcado, saímos para fazê-lo e vi que ele prestava muita atenção, querendo aprender. Gostava muito de perguntar os porquês disso e aquilo, o que me foi muito motivador pelo meu gosto também em ensinar. Vi que pelo seu grande interesse, demonstrava que teria futuro como fotógrafo. Mesmo tendo ficado muito pouco tempo no estágio, em torno de um mês, nessa temporada restrita tivemos uma história bem engraçada e ilustrativa. Quando o Jefferson foi fazer umas fotos de fachada comigo, que seriam de manhã bem cedo, ele me indagou porque teria de ser umas cinco horas da manhã, ao que lhe expliquei ser para podermos driblar os reflexos da luz na fachada, que tinha vidro, e tal... Então fomos ao local do trabalho, montamos o tripé e esperamos sair um pouco mais de sol para iluminar a fachada. Tinha chovido na madrugada e ainda havia muita água e lama na coxia. Daí um ônibus veio do outro lado da rua, o motorista até nos viu, mas resolveu passar bem ao lado da calçada em que estávamos, nos dando aquele banho, molhando eu, ele, a máquina, tanto que tivemos de voltar em casa para trocarmos de roupa e continuarmos o serviço. Ele me disse admirado: ‘Rapaz, Falcão, o que é isso?’, e eu frisei que eram coisas que acontecem aos fotógrafos no dia a dia da profissão, seja no estúdio ou em externas, temos que estar atentos sempre que aconteçam intempéries para sabermos como lidar e contornar para resolvê-las. Desse modo foram em outras atuações quando saíamos para fotografar juntos, o Jefferson sempre atento e a perguntar para poder aprender mais, ‘o que é isso? ... Porque não fazer a foto de cima? E desse ângulo, mais pra cá?’... e já envolvido com as técnicas, me sondava se poderia também ser feito de outra forma tal, ao que eu ia lhe explicando e, pela tamanha empolgação dele, às vezes quando me dava uns toques, conseguíamos testar fotografar da forma como ele me sugeria. Ele era uma pessoa muito bacana mesmo, muito atencioso. Sei que ele gostava de estar perto e tinha muita consideração por mim. E eu realmente também gostava muito dele”.
FERNANDO JORGE Fotógrafo e um dos mentores do Jefferson Chaves na Fotografia
Uma certeza é que hoje quando me perguntam o que faço no meu tempo livre a resposta com certeza não é “vou a praia” o que seria mais natural, já que sou habitante de uma cidade costeira, Fortaleza no Ceará. A minha resposta é que prefiro ir a uma floresta, nos cantos escuros da casa e/ou no jardim da casa de meu pai procurar insetos pra fotografar. J. Chaves
da fotografia à dança “Conheci o Jefferson Chaves por volta de 2008. Ele era aluno da Pedagogia na Universidade de Fortaleza (UNIFOR), mas cursou uma disciplina de Fotografia que eu ministrava já como professor da Comunicação, disciplina essa que alunos de outros cursos podiam fazê-la como optativa. Como sempre faço no primeiro dia de aula, pedi aos alunos para se apresentarem e o Jefferson já me chamou atenção por estar ali fazendo essa cadeira de Fotografia, mesmo sendo de outro curso. Ele ficava sempre na dele, muito caladão, como era o seu jeito, mas aos poucos, além de ser o professor, fui desenvolvendo uma amizade forte com ele. Quando lhe falei de uma célula de estágio em Fotografia que eu coordenava no período da tarde na UNIFOR - hoje chamada de Foto Nic, mas que na época era a Central de Fotografia -, o Jefferson me indagou se poderia participar. Disse-lhe que me levasse o seu portfólio fotográfico para avaliar e ele foi selecionado para o estágio comigo, junto a outros alunos dos cursos de Comunicação, Publicidade e Jornalismo. A partir disso, o Jefferson decidiu que mudaria para o curso de Jornalismo, mesmo já quase terminando Pedagogia, faltando-lhe apenas o TCC. Fiquei muito feliz de alguma forma ter participado dessa decisão dele. Ele já se tornava um grande amigo, uma pessoa com quem eu falava diariamente, afinal convivíamos todas as tardes. Conversávamos muito sobre Fotografia, tanto que passei a vê-lo como um colega de profissão também ao convidá-lo para ser o meu assistente de fotografia em trabalhos externos à Universidade. Eu lhe dissera que às vezes, aos sábados e domingos, eu desenvolvia ensaios fotográficos, trabalhos de moda e para algumas lojas, e ele pediu para me acompanhar nessas atividades. Mas o Jefferson passou a ser mesmo o meu assistente de fotografia oficial, àquela pessoa a quem eu ligava primeiro para todos os trabalhos, lhe sondando, por exemplo, que ‘esse sábado tem um trabalho lá no Pecém, teremos de estar lá 5h30 da manhã, posso contar com você?...”. O Jefferson se tornou o meu braço direito como assistente, além de ser aluno na Universidade, de já fazer uma outra disciplina de Fotografia comigo e de ser meu estagiário na Central de Fotografia. Então convivíamos na semana inteira, como ainda em quase todos os sábados e domingos. O Jefferson começou a investir na própria carreira como fotógrafo, e a sua mãe, Dona Almerinda sempre solícita aquele tipo de mãe que aposta muito nos ideais do filho. Me lembro dela ter comprado para ele uma câmera e uma lente caras, investiu muito, o que empolgou demais ao Jefferson.
Mas, de repente, o Jefferson começou a se envolver em outra disciplina aqui do curso de Comunicação na UNIFOR - o que é extremamente natural entre os alunos, pois quando conhecem um meio como o da Fotografia acabam se apaixonando, mas depois fazem cadeira de Televisão, Rádio, vão se encantando pelos aprendizados e deixando mais de lado as paixões anteriores. Isso levou a nos afastar um pouco. Não deixei de ser seu amigo, nem professor, mas como ele se envolveu em outras disciplinas, foi se encantando por essas outras questões do Jornalismo. Daí o Jefferson conheceu a Dança, através de um curso que fez, e das fotografias que começou a fazer nesse âmbito; passou a ser sócio dessa escola de dança. Ele veio me comunicar que estava largando a Fotografia para se dedicar totalmente à dança, o que estranhei devido a sua extrema empolgação em fotografar. Enquanto professores, nós estamos aqui para conduzir e apoiar aos alunos, então lhe dei todo o meu apoio para seguir o novo rumo, desejando-lhe que tudo desse certo e que contasse comigo no que precisasse! Foi por isso que, naturalmente, fomos nos afastando mais um pouco, embora nos encontrássemos pelos corredores da Universidade, pois certamente ele seguia um novo caminho. Aqui e acolá, ele ainda até me mostrava uma ou outra de suas fotos, mas já não era mais o mesmo Jefferson tão apaixonado pela Fotografia, pelo menos não tinha o mesmo ritmo em fotografar como no passado recente, exatamente por estar mais ligado à dança. Até que, infelizmente, soube do seu falecimento, o que me foi um susto enorme, pois perdi um grande amigo, a quem conheci bem, como também à família dele. O Jefferson era uma pessoa a quem tive e mantenho uma grande admiração. Até hoje, sempre me lembro dele, fico pensativo, um pouco triste, mas me conforta saber que também faz parte da vida – inclusive como professor - esse ganhar e perder. Portanto fico muito feliz em ver o empenho da mãe dele, Dona Almerinda, em manter acessa essa chama da sensibilidade dele. E mais satisfeito ainda de poder participar novamente da vida do Jefferson com um depoimento sobre essa história que vivenciamos juntos.”.
LUCIA CAMINHA Amiga do Jota, que participou ativamente com ele do movimento Zouk em Fortaleza.
o movimento ĂŠ zouk
LÍDER E COMPANHEIRO “Conheci o Jefferson Chaves em setembro de 2008, quando ele nos apresentou à namorada do meu filho, Natália Máximo. Estávamos na Academia Obará Danças em Fortaleza, e logo houve empatia entre nós que amavámos o Zouk, ritmo que nos uniu num projeto para divulgação da dança, ainda pouco conhecida na capital alencarina. Aconteceu tudo muito rápido, o Jota era muito criativo e trabalhou no projeto de divulgação do Zouk Móvel Fortaleza, que se destinava a levar a dança a espaços públicos, clubes, praças, barracas de praia... Com ele à frente do projeto realizamos três edições do Zouk Móvel Fortaleza e o primeiro grande evento, um verdadeiro congresso com profissionais do ritmo com reconhecimento nacional e internacional, que foi o Zouk Total, em fevereiro de 2009. Jota Chaves, fotógrafo, DJ, empresário - pois sim, ele também foi dono da Academia de dança de salão DJ King -, era uma pessoa sensível e ética, transparente nas ações. Sentíamos muita segurança em embarcar nos seus projetos porque sabíamos que ele estaria conosco, à frente, como um amigo, líder e companheiro em todas as ações implementadas. Sentimos muito a sua partida prematura, ele foi um marco na história do Zouk em nossa capital e todos zoukeiros devem a ele o desenvolvimento da dança nesta cidade.”.
LUCIA CAMINHA Amiga do Jota, que participou ativamente com ele do movimento Zouk em Fortaleza.
PARCEIRO DE DANÇA “Em 2008, me iniciei no mundo da dança, conhecendo ritmos, academias de dança, profissionais. Foi quando conheci o Jota. Minha sogra, Lúcia Caminha, quem me apresentou a esse mundo incrível da dança e fez nascer em mim a curiosidade em conhecer os diversos ritmos. Conheci o Jota no mesmo período em que comecei a frequentar a Obará Danças e praticar aulas de Zouk. De cara me apaixonei pelo ritmo. Lembro muito bem do dia em que o Jota me convidou para ser sua parceira de dança. Inicialmente achei tudo uma loucura, pois para mim parceria era algo muito profissional, mas logo descobri que seria diferente com ele, mais uma cooperação entre amigos em prol do nosso aperfeiçoamento pessoal no Zouk. Ele acabara de chegar do 3º Congresso Internacional de Zouk em Brasília, apaixonado pelo ritmo. Quando topei essa nossa parceria, quase todas as tardes nós treinávamos, tendo como bases os vídeos que ele próprio produziu no congresso e o acervo completo que ele tinha das aulas ministradas. Ele era realmente muito dedicado e me contagiou com o seu entusiasmo, fazendo eu me apaixonar cada dia mais pelo Zouk. Em meio aos treinos e estudos nos conhecemos mais, nos tornamos amigos e nos divertíamos muito! Ele sempre tinha mil e uma ideias para impulsionar o Zouk na nossa cidade. Um apaixonado! Na época, não havia festas exclusivamente desse ritmo, que pouco tocava nos bailes. O mundo da dança em Fortaleza fervia com bailes de Salsa, Tango, Forró, Samba, Bolero... Mas o Zouk ainda dava os primeiros passos, e quem contribuiu imensamente para o grande salto do Zouk na nossa cidade, digo sem medo de errar, foi o meu amigo Jota Chaves. Esse impulso começou com o projeto Zouk Móvel, idealizado por ele com o objetivo de divulgar o ritmo ao levá-lo para diversos espaços públicos da capital cearense. O projeto já exis-
tia e dava muito certo em outras capitais do Brasil, até que ele trouxe essa brilhante idéia, investindo duro no projeto, desenhou uma logo bem bacana e, juntos, organizamos o primeiro Zouk Móvel, em 16 de novembro de 2008, realizado no SESC Iparana. Éramos apenas sete pessoas na organização, que conheciam e tinham afinidade com o Zouk. No início sentimos resistência do público em se aventurar na nova dança, mas logo havia muita gente dançando com a gente, perguntando sobre o ritmo e onde fazer aulas. Foi demais! Deu tão certo que no dia 21 de novembro daquele ano, já estávamos com um grupo bem maior realizando o 2º Zouk Móvel, na Barraca Açaí do Jojó, na Praia do Futuro. Dessa vez já contávamos com a participação de muita gente da dança de salão e foi maravilhoso! O Jota mais empolgado à frente do projeto; organizava com dedicação e o ajudamos a realizar o 3º Zouk Móvel Fortaleza, em dezembro de 2008, na proposta de continuar a divulgação e confraternizar com os amigos zoukeiros. Nesse último, o público foi ainda maior. Estava dando muito certo! Tanto que ele decidiu trazer de forma totalmente inovadora o primeiro congresso a Fortaleza, o Zouk Total, em fevereiro de 2009. Contamos com a participação de profissionais renomados de todo o Brasil. Foram dias de muita energia positiva. Todos tinham muito carinho sempre pelo nosso Jota. E foi assim, de uma forma intensa e audaz que o nosso Jota deixou a sua contribuição para a dança de salão, em especial ao Zouk em Fortaleza. Por toda a sua coragem e dedicação ele merece ser lembrado na história da dança da nossa cidade! Sempre tive muita admiração por ele e trago lembranças e lições maravilhosas dos tempos da nossa linda parceria!”.
NATÁLIA MÁXIMO Amiga e parceira de dança.
verdadeiro e impulsivo “Na minha relação com o Jota Chaves destaco a personalidade verdadeira dele, muito, demais da conta até, do tipo ‘sincericida’ (risos), e a sua natureza humana muito impulsiva, o que era muito bom porque o que pensava, ele falava. O que eu levava de ideias pra ele, já dizia ‘vamos fazer’; e no que lhe ensinava, avisava logo ‘isso eu gosto, isso não...’. Era tudo muito verdadeiro e impulsivo, mas com alegria e um jeito engraçado e até fofo de ser! Ah! Tivemos tantas histórias juntos... Quando comecei a dar aulas de dança para ele, e o Jota aprendia alguma coisa com outra pessoa, assinalava de imediato o que gostara ou não, o que estaria ou não certo, enquanto eu ficava sempre mediando e amenizando essa intensidade, ao argumentar sobre visões diferentes que nem sempre eram incorreções. Depois de viajar pela primeira vez para ir dançar, em Brasília, ele voltou com a carga toda para também podermos melhorar e ampliar a divulgação do Zouk em Fortaleza. Era muito divertido! Ele foi uma pessoa que me ajudou demais a colocar em prática muitas coisas, exatamente por essas características tão ímpares da sua personalidade genuína e impetuosa natureza. Também lembro de uma vez, que ele me defendeu de um negócio estranho acontecido um dia antes com outra pessoa. Estávamos nós dois conversando, daí chega essa criatura que tinha feito essa parada comigo, e entrou no papo, dando pitaco em algo que o Jefferson estava fazendo. Logo o Jota se indignou e disse para essa pessoa: ‘É o que? Logo tu quem largou ontem à amiga (eu), vem agora dizer isso comigo, aterriza!’ (risos). Lógico que não exatamente com essas palavras, mas com esse sentido de me proteger e de indignação com o outro. Fiquei sem saber onde enterrar a minha cara, e como sempre sou a amenizadora, disse para eles não brigarem por minha causa por tão pouco, mas fiquei super satisfeita com a atitude do Jota. Outra vez, quando decidimos juntos à equipe de envolvidos fazer o primeiro evento Zouk Móvel Fortaleza, ele era tão impulsivo,
que nem pôde esperar eu voltar de uma viagem em que fui competir (gargalhadas)! Mas contornamos, pois sabendo da sua inquietude, lhe disse ‘faz, faz que já eu chego e acompanho!’ (mais risos). Era típico dele, aparecer do nada com tudo. Como em outro momento, em que me chegou com a idéia de um encontro nacional de Zouk em Fortaleza, já decidido a trazer quatro casais para participar. Eu me surpreendi, achando uma loucura pois não estávamos preparados para fazer algo tão grande, mas ele me convencia sempre e topei ajudar, claro. Era assim, impulsivo! ‘Vamos lá, Ruana, comigo para Porto Seguro...!’. E quando me informou: ‘Ruana, na minha academia de dança (a Obará) você vai abrir sua primeira turma de aulas de Zouk lá!’, pois a ideia era se ter aulas do ritmo todos os dias, comigo e outros professores. E eu ‘ãh?’, mas só tinha mesmo que dizer ‘tá bom’ (risos)... Enfim, só posso dizer mais do meu carinho e gratidão imensa por ele, a quem deixo beijos, e lógico também para Dona Almerinda, que sempre me tratou tão bem!”.
RUANA VASQUEZ Professora de dança e parceira em projetos.
galeria de momentos incrĂveis do
jota