Artigo de Design Emocional

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ARTIGO CIÊNTIFICO

Titulo Design emocional e de sensibilidade

Autor: Delmar Ângelo Lopes de Almeida Escola Superior de Tecnologia – Instituto Politécnico do Cavado e do Ave 3º ano, 2º semestre, ano lectivo 2009/2010 Data: 15/04/10


Biografia

Nome: Delmar Ângelo Lopes de Almeida Nascimento: 10/11/86 Naturalidade: Braga Nacionalidade: Portuguesa

Escolaridade: Terminou o 12º ano na Escola Secundária Carlos Amarante na área de ArtesTécnologico/design. Terminou curso de Licenciatura em Design Industrial do Instituto Politécnico do Cavado e do Ave em 2010.

Gostos pessoais Filosofia, o pensamento filosófico, ilustrações, artes, design, física, ensinar/explicar, solucionar problemas, apreciar arte corporal, exercício físico, karaté, capoeira, jogos de vídeo, contos de terror, escrever histórias, narrar histórias, trabalhar em grupo, apreciar o desenvolvimento tecnológico, apreciar a interacção humana e suas reacções, e muitos outros.

Gostos profissionais Desenvolver vários projetos de ramos distintos tais como: saúde, acessibilidade a deficiências, desenvolvimento tecnológico-digital, empenho emocional e racional no trabalho, uso de energias renováveis, estudos de aplicações de materiais, ambientes e estética tridimensional, ferramentas de trabalho, interação com utilizador, etc.

Contactos E-mail: angelusdelmar@hotmail.com


Resumo Este artigo visa a compreensão da emoção e sensibilidade na vida do ser humano e o seu comportamento em relação a produtos projectados com significado emocional. O meu objectivo principal é localizar estas emoções e o que elas causam ao utilizador durante a interacção com um produto especificando os seus efeitos e sensações implementadas no utilizador, tornandoas numa ferramenta para o design emocional e de sensibilidade. Com isto é possível estudar o comportamento humano e como as suas memórias são accionadas (estimuladas) para que nós designers consigamos criar um mecanismo interactivo, embutido no produto, apto a intensificar e dar uso aos sentidos humanos, instinto e intuição, da forma necessária para uma acção ou trabalho especifico.

Abstract This paper work focus the understanding of emotion and sensibility in human’s lives and their behaviour towards products designed with emotional meaning. My primary objective is to pinpoint this emotions and what they do to the user during product interaction and specify their effects and added feelings and turn them into a tool for emotional design and sensibility. With them it’s possible to study human behaviour and how memories are triggered, so we designers can make an attempt to create interactive mechanisms, within the product, capable of intensify and make use of human’s sense, instinct and intuition, the way it’s necessary for a specify action or work.

Introdução Todos os dias somos alvos de mecanismos, físicos ou mentais, que servem como gatilho para gerar em nós sensações e emoções diferentes consoante o ambiente onde nos encontramos, pessoas com quem estamos, situações com que nos deparamos, na utilização de produtos, na realização de diferentes e variadas tarefas, e muitos outros casos. A emoção faz parte das nossas vidas, é algo impossível de evitar, de não ter ou sentir, pois são respostas mentais para os sinais que os nossos sentidos enviam ao nosso cérebro. Desde o pensar em sair à rua, o cheirar o ar fresco, passar a mão em metal molhado, ouvir o barulho de vidro a quebrar, ver a expressão de quem vai dar um espirro até ao saborear um gelado novo ou de sabor desconhecido nestas alturas o nosso cérebro processa essa informação e tradu-la em sensações, e estas, por si só, vão accionar memórias, ideias e estados emocionais variados na pessoa. O nosso estado emocional não permanece igual todo o tempo, cada acção e acontecimento faz com que este seja alterado afectando desta forma todas as tarefas que iremos efectuar no nosso dia a dia, podendo isto ser algo positivo ou até mesmo negativo, pois até mesmo o desempenho nas tarefas mais simples é alterado de acordo com o que sentimos. Um praticante de pugilismo irritado poderá tomar decisões menos correctas e apresentar


incoerência nos seus actos, enquanto um apreciador de música clássica, calmo e relaxado, escreve um extenso texto teórico para a sua tese consciente do que afirma.

As emoções afectam a nossa forma de agir perante uma certa situação, o nosso diálogo, as nossas escolhas, a nossa aceitação de um produto, a facilidade com que resolvemos um problema, ou seja, estamos constantemente numa alteração emocional. Mas estes estados de emoção podem ser alterados ou controlados através dos produtos que nós designers projectamos jogando com os sentidos que o ser humano possui.

Interacção Homem-Objecto Para começarmos o estudo sobre as sensações e emoções devemos definir alguns pontos: definição de emoção; como ela surge; e o que a acciona. Como já foi referido, constantemente somos atacados por mecanismos que afectam os nossos sentidos levando ao surgimento de emoções, por vezes em forma de ideias e/ou memórias. Segundo a definição filosófica, um objecto é algo físico ou mental criado pelo homem ou pela natureza que fornece experiência ao ser humano e a todo o meio que o rodeia. Desde o aparecimento do Homem que ele estuda e analisa todos esses objectos, primeiramente fornecidos pela natureza, que contém uma imensidão de seres e aspectos naturais a serem estudados, pois sem eles não haveria a física, a química, nem mesmo a matemática e agora na actualidade temos imensos objectos de estudo feitos pelo Homem que nos fornece conhecimentos ou seja experiência. O ser Humano por natureza agarra-se a um objecto e tenta extrair todo o conhecimento possível dele, isto de acordo com as suas capacidades intelectuais, uma criança de três anos, por exemplo, mesmo que saiba ler não tem noções suficientes de física para absorver experiencia possível sobre o assunto. Neste conceito de objectos de estudo devemos incluir tudo o que existe no mundo, poderá ser um manuscrito, uma ideia, uma simples folha de arvore, um animal, o ar, uma história que nos contam, um livro sobre culinária, ciência, um romance, ou um produto artificialmente concebido pelo homem, como um utensílio do dia a dia. O contacto com esses objectos e com a experiencia que deles retiramos geram-nos sensações, ideias, emoções e memórias.

Artefactos, uso e função na sensibilidade humana Nesta interacção o homem recebe sempre algo em troca (conhecimento) e nele surge algo diferente por cada experiência (emoção/sensação), no entanto há algo que aparece no momento da interacção que são os chamados artefactos. Estes artefactos são mecanismos físicos e mentais que ajudam na resolução e compreensão de problemas, são instrumentos úteis que favorecem nessa mesma interacção explicando como utilizar ou fazer uma determinada tarefa, tal como alguém nos explica a ler ou a comer e a agir em determinados momentos ou situações, também os artefactos o fazem jogando com as sensações e emoções da pessoa de forma a torna-la capaz de interpretar com clareza o que deve fazer ao certo.


Relativamente aos produtos de design, estes artefactos tem um papel fundamental pois influenciam bastante na aceitação e escolha da pessoa, são então uma ferramenta excelente para o designer pois fornece dados relevantes para a projecção e escolha de um produto a desenvolver para um respectivo público-alvo. Numa empresa, um trabalhador que não goste ou cujo trabalho o desanima (quer pela monotonia ou pelas longas horas de trabalho) não fará a sua parte da melhor forma produtiva para a sua empresa e em outros casos que são necessárias equipas de trabalho (obras, indústrias, fabricas de produção, entre outros) é preciso um empenho mutuo entre os trabalhadores, pois vão sempre existir conflitos de interesse monetário, todos ganham o mesmo mas um é desleixado, outro desmotivado, alguns não trabalham à mesma velocidade, e acabam por criar atrito entre eles e por vezes entre a empresa empregadora. Estes prémios acabam por ser artefactos pois servem para motivar o trabalhador, transmitindo emoções de alegria e esperança pela possibilidade de ganharem um extra no seu salário. Resumidamente os artefactos ajudam: 

Na

percepção

do

funcionamento

ou

procedimento

correcto

de

alguma

actividade/tarefa; 

Alteram a aceitação e apreciação de um certo produto;

Impulsionam a pessoa a explorar, manipular e investigar;

E ajudam no controlo emocional durante o uso.

De forma a tirar proveito das emoções que os artefactos despoletam sobre as pessoas devemos levar o nosso estudo ainda mais longe dissecando-os em dois grupos: os artefactos cognitivos e os artefactos afectivos. Tal como define Edwin Hutchins, professor e antigo chefe de departamento de ciência cognitiva na Universidade de Califórnia (University of Califórnia, San Diego), “os artefactos cognitivos são objectos físicos criados pelos seres Humanos com o propósito de ajudar, aumentar, ou melhor a compreenção”- citando Frank Spillers em “Emotion as a Cognitive Artifact and Implications for Products That are Perceived As Pleasurable”. Artefactos cognitivos não são naturais, são ferramentas de controlo para auxiliar o utilizador em determinadas tarefas e objectivos. Mediante os estados emocionais alteram o empenho do trabalho e a ocorrência de erros. Imaginemos numa central nuclear, quando é accionado o alarme de perigo eminente, os encarregados de reverter o processo e retomar o estado normal da central estão sobre uma grande carga de stress o que muda a sua capacidade de raciocínio e por vezes fá-los bloquear e não saber como agir ou o que fazer. Um caso que podemos verificar nos computadores é o antivírus “avast” que quando detecta uma ameaça abre automaticamente uma janela no meio do nosso monitor, interrompendo todas as nossas tarefas com um som ensurdecedor e alarmante que assusta e por vezes cria um certo pânico os utilizadores, até nos utilizadores que já estão habituados.


As saídas de emergência se não tivessem sido projectadas a pensar no estado emocional das pessoas nunca seriam funcionais e por esse motivo são um bom exemplo. Em primeiro lugar as saídas estão localizadas, o ícone simboliza um homenzinho virado para a saída (a verdadeira saída) o que facilita a sua identificação caso as pessoas estejam num estado alarmado ou de pânico. Um produto deve apresentar artefactos cognitivos a pensar no nível emocional da pessoa: euforia, alegria, tristeza, apatia, medo, pavor, pânico, etc. Uma pessoa eufórica, por exemplo, não deve manusear uma serra eléctrica havendo a possibilidade de causar algum acidente ou de não compreender o perigo que ela representa.

Enquanto o artefacto cognitivo é identificado durante a interacção pelo uso e observação de um produto relacionando a sua forma e função, o artefacto afectivo transmite emoções pela sensibilidade, pelo agrado estético, cromático e também a nível de gosto pessoal. Ele ajuda na aceitação e agrado do produto para o consumidor, tornando-o mais aceitável para o seu uso. Seguindo o exemplo anterior das saídas de emergência, a cor utilizada na sinalização afecta a pessoa, pois é uma cor fria, suficientemente visível para uma pessoa alarmada não ter problemas em se orientar, diminuindo a probabilidade de o pânico aumentar.

Exemplo:

Artefacto cognitivo Temos uma faca de cozinha embainhada, nesta forma apenas vemos um pequeno bloco de madeira, não conseguimos reconhecer a faca. O artefacto cognitivo irá dar a entender o uso ou funcionalidade para o utilizador, então este retira e verifica que é uma faca por ter uma lâmina longa e afiada, mas que tipo de faca é? Ao identificar o tamanho, e o tipo de serra que a lâmina tem o utilizador identifica qual a função da faca (cortar pão, carne, etc). Devo lembrar que a própria lâmina é um artefacto cognitivo, mediante o conhecimento que temos sobre cortar alimentos podemos identificar os vários tipos de lâminas e sua funcionalidade.

Artefacto afectivo A faca foi projectada para uma cozinheira jovem, então apresenta cores mais chamativas e frescas (amarelo-esverdeado, azul-marinho, rosa, etc). O vermelho é usado muito para definir alguns produtos de mulher, mas neste caso o vermelho não é apropriado para a função estabelecida, instintivamente o cérebro humano iria reduzir a aceitação do produto associando as palavras faca, mão, sangue (vermelho). A pega se for feita num material suave e confortável, ao invés de um que magoe durante a utilização e que cause irritação ou stress, assim incentiva a sua utilização não como necessidade de uso mas sim para agrado próprio, diversão pessoal, fuga da monotonia ou explorar algo desconhecido.


Sensibilidade, aceitação e gosto Como já foi mencionado, os nossos estados emocionais variam conforme as acções e acontecimentos do nosso dia-a-dia, estamos constantemente a alternar aquilo que sentimos ou pensamos em relação a algo. A sensação é diferente de pessoa para pessoa, tal como uns gostam de sapatilhas e outros gostam de botas, tem a ver com as experiências vividas e adquiridas, tudo aquilo com que entraram em contacto afecta no presente todas as escolhas e sensações sobre toda a existência, seja ela humana, animal, física, mental, pessoal, etc. Quando interagimos com um produto, usamos os nossos sentidos para o analisar e compreender antes de o manusear, mas antes avaliamo-lo não só em termos de funcionalidade mas em estética e gosto pessoal. Mesmo que um produto seja o melhor em relação aos outros, nós temos tendência a escolher o que mais se identifica connosco, não é o ir pelo mais bonito, ou pelo que mais atenção chama, mas sim por um que reflecte a nossa personalidade, o nosso gosto próprio. É uma forma de mostrar que somos únicos, que temos gosto, que somos diferentes e que não temos medo daquilo que somos. Já podemos ver produtos cada vez mais indicados para diferentes grupos sociais, desde o estilo mais gótico até ao estilo regular/casual, há uma infinidade de produtos mas agora que estes estilos estão a ser moldados ou modificados pelas novas descobertas, novas musicas, novas tecnologias, também o design está a seguir o mesmo rumo, tentando antecipar e implementar no presente as tendências do futuro.

Sensibilidade nos cinco sentidos Os produtos têm características próprias e cada uma delas afecta um dos diferentes sentidos do ser humano.

Ligação entre características e o respectivo sentido que afecta: Função: audição e toque (Gera efeitos psicológicos através de aspectos físicos e transforma a natureza da função) fácil e de uso agradável Forma: visão e toque (estabelece uma mensagem informadora e apelativa para o utilizador) Cor: visão (a cor escolhe e influencia a idade, sexo, profissão, grupo social, educação, entre outros. Transmite emoção e qualidade, é o aspecto que mais influência tem sobre a selecção de um produto, mesmo tendo um produto funcional e necessário somos capazes de não o adquirir por causa da cor, devido ao preconceito humano) Material: Visão e toque (O material utilizado afecta quando produz maior sensibilidade ao toque e à visão

Um sentido bastante relevante que não se tem dado muita importância para o design e que não consta neste conjunto de características é o olfacto. O olfacto é o sentido menos explorado e com mais aptidões para criar um produto realmente inovador, interactivo e emocional, pois é o sentido que mais emoções nos traz. Inconscientemente é o sentido mais apurado e que mais usamos sem sabermos, é a nossa capacidade de captar odores e de os identificar no meio de


muitos outros o que faz com que ao mínimo cheiro nos deixe alarmados ou atentos a algo, induzindo receio, medo, alegria, calma, dor, entre outras sensações. Acaba por ser um dos sentidos com reacção mais rápida em relação a todos os outros e sem grande necessidade de treino pois estamos a utiliza-lo diariamente. Durante a execução de um produto que desenvolvi, houve comentários e apreciações sobre ele que não eram esperadas, o efeito que causou nos meus colegas não foi propositado, não fazia parte do planeamento do projecto. O meu produto era uma pequena caixa para conter um livro, o seu formato era muito semelhante ao de um baú, mas nada esteticamente especial, apenas modelado em madeira (Tola) e esta madeira mostrou-se uma característica especial para nesse produto pois, ao ser lixada e depois exposta ao ar fresco começou a emanar um cheiro muito característico e distinto que se notava quando era utilizado. Segundo quase todos os meus colegas de turma, esse cheiro assemelhava-se ao do ketchup da Heins que sentiam quando comiam no McDonald’s. E por outro acaso, o tampo do meu produto parecia uma caixa onde são postos os hambúrguers da mesma empresa. Ou seja, o que aconteceu foi que acidentalmente inseri um artefacto afectivo (o odor da madeira e a forma da caixa) que estimulou a memória dos meus colegas através do olfacto e visão, e isto manipulou o cérebro deles a fazer uma associação das sensações que obtiveram ao observar o produto e as sensações que tinham quando iam ao McDonald’s. A nível emocional alguns deles ficaram com fome, e sentiram-se atraídos pela vontade de ir lá naquele preciso momento. Portanto a sensibilidade é uma forma de controlo, auxiliando ou aumentando as emoções.

Conclusão O design emocional também pode ser utilizado em conjunto com o design de sensibilidade, jogando com a forma, cor, material e função de modo a criar algo diferente no mercado de forma a lutar contra a concorrência. No entanto o design emocional exerce um maior encargo do que combater a concorrência, com ele podemos ganhar qualidades de resolução de problemas a um nível mais minucioso e perspicaz. Referente à pesquisa efectuada sobre o sentido olfactivo, creio que seja ainda um terreno pouco apalpado mas muito útil para o design emocional devido ao lado instintivo e à mecânica que ele exerce sobre o nosso cérebro e pode ser útil não só para pessoas saudáveis mas também para invisuais. O olfacto acaba por ser uma linguagem universal que evolve todos os seres humanos e pode ser explorada no campo da interactividade, emoção, sensação e no design universal.


Referências bibliográfica

KIM, Dongha, and BORADKAR, Prasad, Sensibility Design, Arizona State University

DESMET, Pieter, Designing Emotions

SPILLERS, Frank,Emotion as a Congnitive Artifact and the Design Implications for Products That are Preceived as Pleasurable

NORMAN, Don, Emotiona Design


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