Lume 34

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lume Mato Grosso

Stonewall Inn

Revista nº. 34 • Ano 5 • Julho/2019

50 Anos. Pag. 36

ENTREVISTA ESPECIAL: CARLOS ALBERTO ALVES DA ROCHA BARBATIMÃO – A ÁRVORE QUE APERTA RAMIRO NORONHA NA CASA BARÃO IHGMT PROMOVE EXPOSIÇÃO JARUDORE: ESTAMOS VOLTANDO ELEIÇÃO NA AML PAULO LEMINSKI

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ANTIGA GRÁFICA PEPE, NO CENTRO HISTÓRICO DE CUIABÁ, BEM ARQUITETÔNICO TOMBADO PELO ESTADO E PELO IPHAN À ESPERA DE UMA SOLUÇÃO PARA SUA RESTAURAÇÃO.



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C A RTA D O E D I TO R

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stamos às voltas com catástrofes mundiais, muitas das quais fenômenos que Chico relatou a seus amigos, ainda em vida, e que já estão acontecendo. Profecias estão no imaginário da vida humana há milênios. Algumas ganham seguidores fervorosos e utilizam fatos cotidianos para comprovarem sua execução, outros mais céticos acreditam que elas possam acontecer, mas precisam de provas mais concretas. Talvez a principal mensagem da data limite de Chico Xavier, foi a de apontar que esse momento tão atual para nós, é de muita reflexão. As previsões insistem na ideia de provação da nossa civilização perante Deus, e é bem possível que o médium tenha visto a confusão que 2019 nos proporciona. Estejamos atentos neste 2019. Isto posto informo que um alento nessa edição é um recorte sobre Tianinha, uma criança adorável. Ainda nessa linha de pensamentos indicamos leitura sobre artigo de Emanuelle Cálgaro: A Personali-

JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral

dade Congênita e a Depressão, problemas que afetam, e muito, nossas vidas. Sempre lembrando que a depressão é uma doença e tem cura. É só procurar um bom especialista e pronto. Em nossa reportagem especial nos rendemos mais uma vez ao talento de Paul Clemence, com uma matéria sobre Stonewall, o bar nova-iorquino que foi sede de uma revolução cultural há cinquenta anos atrás. São de Clemence as fotos e o texto exclusivo sobre essa comemoração cinquentenária que gerou todas as passeatas mundo afora em defesa da questão da ideologia de gênero. Buscando sempre informar sobre assuntos relacionados às questões dos povos indígenas, de forma em geral, oferecemos aos nossos leitores farto material sobre esse tema. Iniciamos com o experiente Mário Friedlander, fotógrafo celebrado e premiado que participa diretamente de um projeto denominado Vivência Indígena, no Planalto dos Parecis, onde pessoas de todas as idades e lugares po-

dem conviver por três dias com o povo indígena Paresí, que ocupa áreas em reservas onde se localizam paraísos ecológicos e naturais, além de pontos históricos e sagrados para esse ancestral povo. Mais à frente um artigo sobre o indigenista Ramiro Noronha, escrito pela historiadora Elizabeth Madureira Siqueira, nos indica que a Casa Barão de Melgaço possui substancial acervo de seus arquivos pessoais e de campanha. É uma joia rara a ser conhecida pela sociedade e pesquisadores de forma geral. Para fechar os temas indígenas abordamos, de forma sucinta, o caso Jarudore, no qual a justiça federal devolve aos bororo significativa área de terras devidamente demarcada, mas que, por conta de má gestão política do Estado, estava em mãos de não índios. Infelizmente, esses não índios, que ocupam essa área de terras no município de Poxoréo há dezenas de anos terão problemas. Um abraço e ótima leitura, João Carlos Vicente Ferreira


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EXPEDIENTE

lume Mato Grosso

PESCUMA MORAIS Diretor de Expansão e de Projetos Especiais ELEONOR CRISTINA FERREIRA Diretora Comercial JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral MARIA RITA UEMURA Jornalista Responsável JOÃO GUILHERME O. V. FERREIRA Revisão AMÉRICO CORRÊA, ANA CAROLINA H. BRAGANÇA, ANNA MARIA RIBEIRO, ANTÔNIO P. PACHECO, BENEDITO PEDRO DORILEO, BETH MADUREIRA, CARLOS FERREIRA, CECÍLIA KAWALL, DANIELLE TAVARES, DIEGO DA SILVA BARROS, DILVA FRAZÃO, EDUARDO MAHON, ELIETH GRIPP, ENIEL GOCHETTE, EVELYN RIBEIRO, FELIPE CHAVES, JOSANE SALLES, JOSÉ EDUCARDO RIBEIRO, JULIANA RODRIGUES, LUCIENE CARVALHO, MARCO POLO DANTAS, MILTON PEREIRA DE PINHO - GUAPO, NIGEL BUCKMASTER, PAULO PITALUGA COSTA E SILVA, RAFAEL LIRA, , ROSE DOMINGUES, VALÉRIA CARVALHO, WLADIMIR TADEU BAPTISTA SOARES, YAN CARLOS NOGUEIRA, WELLER MARCOS DA SILVA, UBIRATÃ NASCENTES ALVES Colaboradores ANDREY ROMEU, ANTÔNIO CARLOS FERREIRA (BANAVITA), CECÍLIA KAWALL, CHICO VALDINEI, EDUARDO ANDRADE,

HEITOR MAGNO, HENRIQUE SANTIAN, JOSÉ MEDEIROS, JOYCE CORRÊA, JÚLIO ROCHA, LUIS ALVES, LUIS GOMES, MAIKE BUENO, MARCELA BONFIM, MARCOS BERGAMASCO, MARCOS LOPES, MÁRIO FRIEDLANDER, RAI REIS Fotos OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES. LUME - MATO GROSSO é uma publicação mensal da EDITORA MEMÓRIA BRASILEIRA Distribuição Exclusiva no Brasil RUA PROFESSORA AMÉLIA MUNIZ, 107, CIDADE ALTA, CUIABÁ, MT, 78.030-445 (65) 3054-1847 | 36371774 99284-0228 | 9925-8248 Contato WWW.FACEBOOK.COM/REVISTALUMEMT Lume-line REVISTALUMEMT@GMAIL.COM Cartas, matérias e sugestões de pauta MEMORIABRASILEIRA13@GMAIL.COM Para anunciar ROSELI MENDES CARNAÍBA Projeto Gráfico/Diagramação “STONEWALL” FOTO: PAUL CLEMENCE Capa


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SUMÁRIO

8.

PERSONALIDADE

16. TURSMO

20. MEMÓRIA

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22. CIDADES

28. ECONOMIA


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30. ARTIGO

48. 46. 50. ARTIGO

RETRATO EM PRETO E BRANCO

ARTIGO

62. AMERICANIDADE

66. ÚLTIMA PÁGINA

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PERSONALIDADE

Tianinha

Alma de princesa POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA

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antigo blog: “Garotas podem sonhar em ser princesas. Eu, por exemplo, gostava da She-Ra, princesa do poder”, acrescentando: “Mulheres crescidas parecem manter essa fantasia de infância. Basta olhar para a pompa e circunstância que cercam o casamento real e intermináveis conversas sobre a princesa Kate”. De certa forma ela profetizou sobre si mesma. Assim é Tianinha em suas andanças e reflexões debaixo de sombras, a brincar de casinha, só, ou em companhia de seu irmão menor. Ela raramente se desgruda de sua boneca e de seu pequeno mobiliário imaginário, que pode ser de pedras, paus ou tijolos. Onde quer que esteja, sempre improvisa. Sua inteligência e sagacidade foi medida nos três primeiros anos de vida quando sozinha aprendeu a escrever o seu nome, hoje lê e escreve e faz boas contas de cabeça. Há cerca de três anos, ou pouco mais, Tianinha surpreendeu a todos de seu círculo familiar e de amizades com um feito para lá de convencional. De pais convertidos à religião evangélica, passou a frequentar a igreja estimulada pela família. Nessa época Tianinha apresentava um quadro de diabetes tendo, inclusive, emagrecido bastante por conta de um regime ali-

mentar, sem as costumeiras guloseimas que estava habituada: doces, balinhas, biscoitos e sorvetes. Isso a entristecia muito, tornando-a introspectiva e sem brilho no olhar. Porém, ela tem uma força interior que transcende, que vem desde o ventre materno; algo muito seu e peculiar. Em certa noite, durante o culto semanal do templo, essa garotinha pediu licença e subiu ao púlpito. Ali ela fez um pedido direto a Deus para que a curasse de sua doença, a diabetes, pois estava infeliz, não podia mais comer doces. Essa atitude surpreendeu a todos que ali estavam e, creiam, foram feitos exames médicos posteriormente e o quadro de diabetes não existe mais. Essa garotinha nos leva às análises mais profundas sobre o mundo em que vivemos, afinal de contas, estamos num momento histórico de nossa vivência, uma fase em que nos afastamos cada vez mais da natureza e nos confinamos a espaços fechados e isolados, o que traz consequências, em muitos casos trágicas, notadamente sobre a educação de nossas crianças e forma de encarar o mundo contemporâneo. Com seu jeito de ser e de viver a sua infância Tianinha nos leva à realidade de outros tempos e espaços.

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nossa personalidade desta edição é a garotinha Tianinha, de apenas oito anos, vividos no interior do município de Santo Antônio de Leverger, junto aos seus pais e irmãos numa pequena propriedade rural no entorno do Morro de Santo Antônio. Ali essa menina foi gerada, nasceu e cresceu, cercada de árvores frutíferas e de boa área de cerrado, ainda preservado, com seus matizes e surpresas coloridas nas suas floradas. Os sons da mata Tianinha conhece, a quase todos, pássaros e bichos, pois anda muito. Sobe em árvores e disputa corridas com seu irmãozinho menor por trilhas e caminhos diversos, sempre descalços. Sapatos e botinas os tem, mas preferem o chão bruto do cascalho de canga ao forro de botinhas ou tênis. Tristeza? Só quando acorda pela madrugada e se prepara ir à escola, que fica no distrito de Varginha, e o ônibus escolar não passa para levá-la às aulas. Quando se auto coroou com sua tiara de princesa, a mesma que cobria o colorido o bolo de seus oito anos de vida, Tianinha reafirmou-se uma sonhadora. A norte americana Meghan Markle, que se casou com o príncipe Harry, da Inglaterra, escreveu sobre o sonho de ser princesa em seu

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E N T R E V I S TA ESPECIAL

Dinamismo e Abertura ao Diálogo Marcam Gestão do Judiciário de Mato Grosso 10

DA REDAÇÃO FOTOS TJMT


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E N T R E V I S TA ESPECIAL

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Poder Judiciário de Mato Grosso iniciou uma nova gestão em 2019, com foco na entrega de uma justiça acessível, célere e eficiente ao cidadão. Logo, nos primeiros meses à frente da administração da Justiça Estadual, o desembargador Carlos Alberto Alves da Rocha já conseguiu imprimir o estilo de trabalho na instituição: dinâmico, aberto ao diálogo e empenhado em buscar soluções conjuntas. Com isso, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso figura no patamar dos mais modernos do país. Confira as principais ações que foram desenvolvidas no início do biênio 2019/2020 nesta entrevista exclusiva com o presidente do TJMT.


FALANDO EM PJE, COMO ESTÁ ESSE PROCESSO DE INFORMATIZAÇÃO DA JUSTIÇA ESTADUAL? »»Carlos Alberto Alves da Rocha - Até o final da nossa gestão, em dezembro de 2020, todas as unidades judiciárias vão trabalhar com o Processo Judicial Eletrônico, nenhum novo processo vai tramitar em papel. Boa parte dos processos antigos, com exceção daqueles que já estejam caminhando para o final, serão digitalizados. Para se ter ideia, a evolução do Poder Judiciário de Mato Grosso na implantação do PJe é tamanha que serviu de referência para outros Estados e até mesmo para o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Membros de diversos tribunais e do próprio Conselho já consultaram o desenvolvimento da plataforma aqui, no nosso tribunal. Desde 2011, o PJe já foi implantado em mais de 70% das unidades ativas no Estado e o plano de expansão para alcançarmos os 100% já está elaborado, com projeção de conclusão até o fim da gestão.

COMO SERÁ FEITA A DIGITALIZAÇÃO DE TANTOS PROCESSOS? QUAL É O VOLUME TOTAL DE PROCESSOS QUE TRAMITAM DE FORMA FÍSICA, ATUALMENTE? »»Carlos Alberto Alves da Rocha - Nossa estimativa é que esse volume seja de 700 mil processos, o equivalente a 70% de todo o acervo processual da Justiça estadual. Os demais já tramitam pelo PJe. Para digitalizar os processos físicos, nós desenvolvemos um sistema tecnológico em um ambiente controlado chamado DPF, onde é possível testar a ferramenta nos procedimentos de digitalização, indexação e distribuição das ações, na plataforma do PJe. O trabalho foi iniciado em julho deste ano na 1ª Vara Especializada de Família e Sucessões de Cuiabá, com a digitalização de 317 processos físicos no sistema, ou 100% dos processos que tramitam na vara. Outra unidade que já conta com 100% dos processos digitalizados é a 2ª Vara Especializada de Direito Bancário, que possui acervo de 534 processos. AINDA NESSA LINHA DE INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS, HOUVE UM GRANDE MOVIMENTO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA EM TORNO DE UM SISTEMA ESPECÍFICO PARA A EXECUÇÃO PENAL. COMO SE DEU ESSE TRABALHO? »»Carlos Alberto Alves da Rocha - Em janeiro deste ano, recebemos um grande desafio do Conselho Nacional de Justiça: ser um dos estados pioneiros na implantação do Sistema Eletrônico de Execução Unificado, o SEEU, em um prazo de pouco mais de dois meses. Nós criamos uma verdadeira operação de guerra. Em um curto período de tempo, com equipe reduzida, foi necessário buscar todos os processos de execução penal que tramitavam nas 79 Comarcas, garantir a segurança desse transporte, digitalizar, lançar os dados em um sistema, conferir várias vezes cada informação. O susto diante do gigantismo dessa tarefa deu lugar à união de forças entre Presidência e Corregedoria-Geral da Justiça, com servidores, estagiários, diretoria-geral, coordenadores, juízes auxiliares e demais magistrados traba-

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QUAL É A FEIÇÃO DA ATUAL GESTÃO DO PODER JUDICIÁRIO DE MATO GROSSO? »»Carlos Alberto Alves da Rocha - A sociedade de hoje vive na velocidade da internet e tem pressa na solução dos conflitos. E temos que acompanhar essa evolução. O Poder Judiciário está trabalhando de forma intensa para dar respostas às demandas da sociedade dentro de um tempo de tramitação do processo considerado aceitável. O desafio é gigante, considerando que a cada ano quase 40 mil novos processos aportam no Judiciário, em especial nos juizados especiais. O Judiciário de Mato Grosso tem usado a criatividade para fazer mais, com menos recursos. A estrutura é praticamente a mesma de dez anos atrás, enquanto que o acervo de processos beira a um milhão de ações judiciais. A solução foi apertar o cinto em algumas áreas, para poder investir em outras, voltadas para os maiores anseios da sociedade, como a ampliação do Processo Judicial Eletrônico, o PJe, para dar mais agilidade ao trâmite dos processos.

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E N T R E V I S TA ESPECIAL lhando inclusive nos finais de semana. Chegamos a uma intervenção de mais de 200 pessoas. Valeu o esforço. Hoje, todas as informações sobre qualquer reeducando do Estado se encontram ao alcance de alguns cliques, sem burocracia, sem demora, com acesso para todas as partes envolvidas. OUTRA NOVIDADE QUE CAUSOU BASTANTE REPERCUSSÃO FOI A INTIMAÇÃO POR WHATSAPP, QUE JÁ ESTÁ REGULAMENTADA NO JUDICIÁRIO MATO-GROSSENSE. »»Carlos Alberto Alves da Rocha - Levando em consideração as novas tecnologias em meios de comunicação via internet, cada vez mais acessíveis à população, e a necessidade de adequação do setor público a essa nova realidade, instituímos o procedimento de intimação de partes mediante a utilização do aplicativo de mensagem WhatsApp. Essa é uma medida recente, adotada por diversos tribunais do país, que tem a única finalidade de facilitar a vida do cidadão, e não ser um empecilho. Aquelas pessoas que tiverem interesse em receber intimações pelo aplicativo vão preencher um formulário de adesão para aquele processo específico e tomar ciência do processo a poucos cliques no celular. Estamos adquirindo todos os equipamentos necessários e dentro de poucas semanas essa nova forma de comunicação vai funcionar nos Juizados Especiais Cíveis e Criminais de todo o Estado, nos Juizados da Fazenda Pública e na Turma Recursal Única.

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ALÉM DOS SERVIÇOS TECNOLÓGICOS QUE ESTÃO SENDO APRIMORADOS, HOUVE A CRIAÇÃO DE ALGUM PROJETO VOLTADO PARA OS SERVIÇOS QUE A JUSTIÇA PRESTA AO CIDADÃO? »»Carlos Alberto Alves da Rocha - Sim, criamos o ‘Judiciário em Movimento’, que é um projeto que visa levar serviços ao cidadão, nos bairros e praças públicas dos principais polos do Judiciário. São serviços oferecidos diariamente nos fóruns de todo o Estado, mas que muitas vezes a população não sabe como ter acesso. Para melhor atender as demandas sociais, temos buscado parce-

ria com outras instituições e Poderes, que levam serviços de saúde, cidadania, informação e esclarecimento aos moradores dessas regiões. A primeira edição foi realizada na Comarca de Rondonópolis, em abril deste ano, com mais de 10 mil atendimentos; e a segunda edição ocorreu em junho, no polo de Cuiabá, no bairro São João Del Rey, com 16 mil atendimentos. O próximo será realizado em Sinop, em agosto. Além do ‘Judiciário em Movimento’, também temos o Ribeirinho Cidadão, que já é uma marca registrada do Poder Judiciário, realizado há mais de 12 anos. Este ano, foi um sucesso total, com alguns recordes: mais de 41 mil atendimentos, em 46 comunidades, com etapas por via terrestre e fluvial. Foram firmadas parcerias com mais de 50 entidades públicas e privadas para atender comunidades isoladas de Barão de Melgaço, Poconé, Santo Antônio de Leverger e Juscimeira. Levamos serviços de justiça, cidadania, saúde e, principalmente, atenção e carinho a crianças e adultos carentes. É um trabalho muito gratificante e que mostra um outro lado do Judiciário que muitas pessoas desconhecem. Uma novidade é que este ano lançamos a expedição ‘Araguaia Cidadão’, nos mesmos moldes do Ribeirinho, mas que será ofertado à população do Vale do Araguaia neste mês de agosto. O projeto passará por vários municípios, como Alto Araguaia, Araguainha, Ponte Branca, Ribeirãozinho, Torixoréu e Pontal do Araguaia, que juntos somam aproximadamente 45 mil habitantes. Queremos repetir o sucesso que o Ribeirinho tem feito ao longo dos anos, levando acesso à justiça, à saúde, à cidadania e consciência ambiental à população. AGORA FALANDO UM POUCO SOBRE SUSTENTABILIDADE, QUE É UMA PREOCUPAÇÃO CADA VEZ MAIS LATENTE DA GESTÃO PÚBLICA E DA PRÓPRIA SOCIEDADE. O QUE O PODER JUDICIÁRIO DE MATO GROSSO TEM FEITO NESSE SENTIDO? »»Carlos Alberto Alves da Rocha - Uma exigência do Conselho Nacional de Justiça, a sustentabilidade é palavra de ordem, tam-


E PARA FINALIZAR, DESEMBARGADOR, UMA ÚLTIMA PERGUNTA. O SENHOR PODERIA DESTACAR UMA AÇÃO QUE TROUXE RESULTADOS SIGNIFICATIVOS PARA A POPULAÇÃO, EM ESPECIAL PARA OS ADVOGADOS? »»Carlos Alberto Alves da Rocha – Apesar de apenas poucos meses de gestão, temos inúmeras frentes de trabalho e fica até difícil selecionar apenas uma. Mas, uma iniciativa que reputo interessante e que tem apresentado impacto bastante positivo é o aplicativo ‘PJMT Serviços’. Você já imaginou um aplicativo que permita ao advogado e às partes consultar as movimentações de um processo, emitir certidão de indisponibilidade de sistema e que te oferece acesso a variados serviços em poucos segundos? Isso já é realidade por meio desse aplicativo, que pode ser acessado pelo celular, tablet, IPad ou pelo computador. O PJMT Serviços facilitou a vida de todo mundo, ampliando o acesso à Justiça. Ali está disponibilizado o PJe, é possível imprimir certidão de indisponibilidade, o advogado pode consultar informações sobre os mandados expedidos, acompanhar pautas de julgamento e audiências. Enfim, é uma iniciativa que deu certo e que será continuamente aprimorada.

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bém, no Poder Judiciário de Mato Grosso. Diversos projetos estão em andamento nessa seara, que contam com total apoio da Presidência. Nos setores de administração não utilizamos mais copos descartáveis e nem garrafas pequenas de plástico, com exceção dos eventos, para atender visitantes. Nós também adotamos o uso de papel reciclado nos processos, as impressoras são automatizadas para contabilizar o custo de cada impressão e restringir as impressões somente àquilo que é estritamente necessário. Também estamos com uma gincana em andamento, na qual as comarcas desenvolvem uma saudável competição entre si, para ver quem economiza mais energia, papel, tinta, combustível e gasto com telefone, mantendo a mesma produtividade. No final do ano daremos certificados às comarcas que mais economizarem. Outra bandeira importante sobre sustentabilidade e responsabilidade social é o Projeto Verde Novo, que nasceu no Poder Judiciário como um presente para o tricentenário de Cuiabá. A iniciativa floresceu com o trabalho da equipe do Juizado Volante Ambiental (Juvam), juntamente com várias instituições parceiras, promovendo mais de 150 ações de conscientização ambiental, de plantio e de doação de mais de 50 mil mudas de árvores nativas e frutíferas.

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TURISMO

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SALTO UTIARITI

Vivência Indígena 17


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TURISMO

SALTO BELO

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Workshop Fotográfico (1ª Etapa) com Mario Friedlander e Jeanne Martins em Campo Novo do Parecis - MT

s fotógrafos Mario Friedlander e Jeanne Martins promovem o evento WORKSHOP FOTOGRÁFICO (1ª Etapa), em parceria com a CNP-Agencia de Turismo de Campo Novo dos Parecis, empresa dirigida pelo turismólogo João Ricardo Bispo. Campo Novo está encravada na região oeste de Mato Grosso, na Bacia Amazônica, e é rica em belezas naturais, com rios de águas cristalinas e florestas fluviais e campos com visual esplêndido. No entanto, o que atrai cada vez mais pessoas à região são a realidade e a busca pelo conhecimento, pela história e vivência do povo indígena Paresí Haliti, que ocupa espaços múltiplos nesse planalto há milênios. A CNP, que é uma empresa com experiência nessa área,

aliou-se ao consagrado fotógrafo Mario Friedlander e à exímia artista das lentes Jeanne Martins e oferecem ao público um roteiro de turismo de experiência indígena imperdível. O projeto será desenvolvido em três dias, a partir de 20 de setembro, nas aldeias Wazare, Quatro Cachoeiras, Utiariti e Salto Belo. A ideia é fazer com que os participantes do Workshop façam completa interação com essa gente e sua tradicional cultura, com momentos de celebrações, danças, cantos, banhos de rio, prática de arco e flecha e até mesmo vestir os belos trajes indígenas confeccionados artesanalmente. O roteiro é para toda família e grupo de amigos que buscam aventura, contato com a natureza, conhecer lugares repletos de mistérios e uma cultura incrível.


22/09 ALDEIA UTIARITI E ALDEIA SALTO BELO

localizada a 68km da cidade de Campo Novo do Parecis, sendo 40km de asfalto e 28km de estrada de chão. Início das atividades culturais, conversa com o Cacique e com outros indígenas, trilha ecológica apresentando algumas plantas medicinais, caminhada para conhecer a aldeia, casa tradicional, escola, entre outras partes das aldeias. Banho na linda praia do rio Verde, ao lado da Aldeia. »»12h: Almoço juntamente com os indígenas »»13h: As atividades, como banho de rio, arco e flecha, entre outras atividades dependendo do tempo. No final da tarde, pintura corporal, vestimenta de trajes indígenas (opcional). »»19h: Jantar juntamente com os indígenas, mais a noite haverá um mini lual, com a contação de histórias míticas na fogueira, e pequena amostra de apresentação cultural. »»22h: Pernoite em forma de camping ou dentro da casa tradicional.

a 130km da cidade sendo 50km de asfalto e 80km de estrada de chão. »»9h: Chegada na Aldeia Utiariti, trilha para contemplação da cachoeira e início das atividades do workshop. »»11h: Lanche »»12h: Saída para Cachoeira Salto Belo »»12h30: Contemplação da cachoeira; »»14h30: Retorno para Cuiabá »»21h: Chegada em Cuiabá

21/09 ALDEIA WAZARE E ALDEIA QUATRO CACHOEIRAS »»6h: Fotografia no nascer do sol para aproveitarmos a melhor luz do dia »»09h: Café da manhã »»9h30: Produção de fotografias com a participação dos indígenas, mostrando seu estilo de vida »»11h: Almoço »»12h30: Saída para Aldeia Quatro Cachoeiras »»14h: Chegada na Aldeia Quatro Cachoeiras »»15h: Atividades culturais e trilhas para cachoeira. »»17h: Produção de fotografias no final do dia, para aproveitamos a “hora mágica” da luz natural. »»18h30 Ida para Cidade de Campo Novo e entrada em hotel.

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20/09 ALDEIA WAZARE

»»5h: Saída de Cuiabá »»6h30: Café da manhã »»10h: Chegada na Aldeia Indigena Wazare, »»7h15: Saída para Aldeia Utiariti localizada

NÃO ESQUECER: »»Protetor solar e chapéu; »»Já ir com roupa de banho; »»Repelente; »»Máquina fotográfica. PACOTE INCLUI: »»Entrada nas aldeias indígenas Wazare, Quatro Cachoeiras, Utiariti e Salto Belo; »»Pernoite na Aldeia Wazare em forma de camping na casa tradicional com barraca para duas pessoas, colchão inflável; »»01 pernoite em Hotel em CNP (APTO DBL); »»Refeições nas aldeias, frutas e água a vontade; »»Transporte para os passeios e seguro de turismo para 03 dias de passeio saída a partir de Cuiabá; »»Condutor Cultural e dupla de fotógrafos especializados em natureza e cultura. VALOR DO INVESTIMENTO: »»R$ 1.500,00 FORMA DE PAGAMENTO: »»Entrada de 30% para a reserva e o restante parcelado »»no boleto até 3 dias antes do evento. Ou 1 entrada e mais duas parcelas no cartão.

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MEMÓRIA

Um Pouco da História do 1º Pronto Socorro de Cuiabá

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POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA

cidade de Cuiabá sempre teve deficiência de atendimento na área de saúde, desde os seus primórdios, especialmente por ser polo convergente e ser, para muitos casos e pessoas, uma espécie de tábua de salvação. Para cá confluem-se doentes de todos os tipos de moléstias e situações, sendo o Pronto Socorro de Cuiabá e a Santa Casa de Misericórdia as principais referências nesse quesito. A unidade hospitalar que fez, e faz história, em Cuiabá, de forma pioneira foi a Santa Casa de Misericórdia, fundada em 1817, e que, contemporaneamente, passa por problemas de gestão e financeiro, neste 2019. O Pronto Socorro, de história mais recente, foi criado originalmente pelo prefeito Bento Machado Lobo (15/03/1969 – 11/01/1971).

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Bento Lobo foi escolhido prefeito de Cuiabá pelo governador Pedro Pedrossian para comemorar condignamente os 250 anos da capital de Mato Grosso. Lobo não era um político de carreira, titubeou, mas aceitou diante da afirmativa feita pelo governador que caso ele não aceitasse nomearia um estranho para preparar os festejos comemorativos aos 250 anos de Cuiabá (08/04/1969). Bento tornouse, então, um político hábil e de bastante visão. Compensava sua baixa estatura (1,60m) e tipo franzino com discursos memoráveis, com voz bem colocada num português irretocável. No período em que esteve à frente da prefeitura o país estava no auge do governo militar sob o governo do Marechal Costa e Silva. Iniciavam-se os projetos nacionais de incentivo a abertura de áreas

para implantação de projetos agropecuários em Mato Grosso. Nessa época iniciaram-se os trabalhos de implantação da Universidade Federal de Mato Grosso. As comemorações dos 250 anos de Cuiabá foram belíssimas, graças ao planejamento do Bento Machado Lobo e sua equipe, chefiada pelo José Rabelo Leite. No entanto, pesava contra a capital mato-grossense a deficiência na área da saúde. Segundo o próprio prefeito Lobo, “não era possível que uma cidade com 250 anos não tivesse um Pronto Socorro em funcionamento”. Por conta disso Bento Lobo se uniu a um grupo de médicos amigos: Benedito Vieira de Figueiredo, Luiz Gonzaga de Figueiredo e José Vaz Curvo Neto e deu a eles toda a cobertura financeira e de infraestrutura para que o Pronto Socorro se tornasse reali-


dade. No dia 27 de dezembro de 1969, no período vespertino, como parte integrante das comemorações dos 250 anos, o Prefeito Bento Machado Lobo entregou ao povo cuiabano aquele que foi o primeiro Pronto Socorro de Cuiabá, localizado na área central da cidade. Algum tempo depois, com o galopante aumento populacional de Cuiabá, verificou-se deficiências no atendimento na área de saúde, graças à demanda aumentada. Era o período do chamado “Milagre Econômico Brasileiro”, na década de 1970. O presidente da República era Garrastazu Médici, o estado era governado por Garcia Neto e a capital de Mato Grosso tinha por prefeito o advogado Manoel Rodrigues Palma (15/03/1975 – 15/03/1979). Nesse clima de progresso para todos a cidade de Cuiabá passou a ser o receptáculo de milhares de famílias migrantes para o

interior do estado. Primeiro vinham para Cuiabá, depois seguiam suas viagens. Alguns ficaram, alguns vinham depois, com filhos para estudar. Com isso a população aumentava vertiginosamente e a infraestrutura da capital não suportava a demanda socioeconômica que se apresentava. Em função disso foi preciso fazer uma verdadeira revolução administrativa na capital, contribuindo facilitando para que Cuiabá tivesse grandes obras urbanas e de infraestrutura. A saúde foi vista com prioridade e pensou-se em uma solução construindo um novo Pronto Socorro em Cuiabá. As obras do Pronto Socorro da capital, localizado na avenida General Valle, que tanto serviu à sociedade cuiabana, foram iniciadas em sua gestão de prefeito e entregue na gestão posterior. A administração do prefeito Gustavo Arruda (15/03/1979 – 15/03/1983)

concluiu a obra do Pronto Socorro de Cuiabá. Quando foi prefeito de Cuiabá desenvolveu notável trabalho. Atuava no Departamento de Obras Públicas do Estado, e foi escolhido para o cargo de Prefeito pelo governador Frederico Campos, pela competência no trabalho, a escolha foi técnica e não política. Graças a sua visão foram construídos em Cuiabá, várias obras, além da conclusão do Pronto Socorro, como a Rodoviária urbana, abertura definitiva e implantação da Avenida Mato Grosso, propiciou os acessos ao Parque de Exposição, promoveu a gestão para que a sede da Prefeitura Municipal de Cuiabá deixasse o Edifício Irene, passando a ocupar, em definitivo, o Palácio Alencastro, promoveu o lançamento e início das obras de duplicação da Av. Fernando Corrêa da Costa, a partir do Areão.

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TCUI D RA I SDME O S

JUIZ LUÍS GERALDO LANFREDI, DO CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, ELOGIA ATUAÇÃO DO TJMT NA IMPLANTAÇÃO DO SEEU

Boas Práticas Cadastro de 100% dos processo de execução penal no SEEU foi decisão corajosa, avalia juíz do CNJ FOTOS E TEXTO COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO

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pós cinco meses de trabalho, todos os 37.723 processos das Varas de Execução Penal que tramitam em Mato Grosso estão cadastrados no

Sistema Eletrônico de Execução Unificado (SEEU), módulo disponibilizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para uma gestão qualificada da tramitação dos processos.


“Isso nos dá segurança de que estamos apresentando à sociedade uma prestação jurisdicional confiável e certeza que agora estamos no caminho certo”, avaliou. Lanfredi integrou a comitiva do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministro Dias Toffoli, que esteve no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) nos dias 18 e 19 de julho. Ele participou do encontro entre os presidentes de tribunais de justiça de todo o Brasil com Toffoli e aproveitou para apresentar aos desembargadores o programa “Justiça Presente”, iniciativa do CNJ em conjunto com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que reúne 19 iniciativas entre elas a qualificação profissional dos reeducandos. “Não é mais possível convivermos com uma situação de superpopulação, esta que faz com que percamos a guerra para o crime organizado dentro das unidades prisionais. Precisamos apostar mais seriamente no tratamento pós-penitenciário para a reintegração deles à sociedade”, resume. De acordo com o coordenador do DMF, o programa foi desenvolvido pela gestão do ministro Dias Toffoli para enfrentar o “Estado de Coisas Inconstitucional” no sistema penitenciário brasileiro, declarado pelo STF, em decisão de 2015,

reconhecendo violações a direitos fundamentais da população carcerária pelos poderes públicos. A proposta do CNJ busca enfrentar a crise permanente do sistema prisional, atuando sobre questões como o encarceramento excessivo, a falta de informações e estatísticas confiáveis, a perda do controle das prisões e a falta de oportunidades para os egressos do sistema. Uma das soluções que estão sendo apresentadas pelo CNJ aos Tribunais é exatamente o SEEU, que permite o controle informatizado da execução penal e das informações relacionadas ao sistema carcerário brasileiro em todo o território nacional. Entre as funcionalidades do SEEU está a possibilidade de os juízes de execução penal receberem, automaticamente, avisos em relação aos prazos para concessão dos benefícios a que os sentenciados têm direito, de acordo com a legislação penal. Os presos, portanto, podem ter a progressão de regime quase em tempo real. “Outra ação de vanguarda desta gestão, a biometrização destes presos, possibilita a identificação de cada uma dessas pessoas, para que possamos subsidiar documentos mínimos para que possam se habilitar ao trabalho, possam se habilitar a um serviço educacional ou a uma educação profissionalizante.”

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O fato de 100% das Varas de Execução Penal mato-grossenses estarem integradas ao sistema foi apontado como exemplo de boas práticas pelo coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário (DMF) e do Sistema Socioeducativo do CNJ, juiz Luís Geraldo Lanfredi. “Corajosamente a gestão do desembargador Carlos Alberto Alves da Rocha foi uma das primeiras a investir na solução de uma plataforma única de execução penal”, salientou o magistrado, que é juiz auxiliar da Presidência do CNJ. “Nós tínhamos uma realidade no Estado de Mato Grosso de Varas de Execução Penal abarrotadas de processos físicos. Para minha felicidade, hoje, encontramos as varas higienizadas, limpas sem processos na mesa, a não ser dentro dos sistemas e com o controle absoluto do tramitar processual”, comparou. O coordenador do DMF explica que o SEEU é o módulo da Execução Penal do Processo Judicial Eletrônico (PJE). “O sistema criminal eletrônico caminha a passos largos no Estado de Mato Grosso para ter integração completa, permitindo uma solução que vai desde o inquérito policial até a execução formal”, completou. Na avaliação do juiz auxiliar do CNJ, o SEEU proporciona qualidade à jurisdição.

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P L A N TA S MEDICINAIS

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Barbatimão A árvore que aperta

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DA REDAÇÃO

barbatimão é uma planta que prolifera na região do cerrado brasileiro e tem o nome científico de Stryphnodendron barbatimam Mart., podendo ser comprada, inclusive, em lojas de produtos naturais. Além disso, esta planta pode ser utilizada da confecção de pomadas, sabonetes ou cremes, em farmácias de manipulação.

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P L A N TA S MEDICINAIS

O povo indígena tupi a denominou “ybá timõ”: árvore que aperta. O “apertar” no dizer tupi é remetido aos banhos de assento usado por mulheres para tratar doenças das partes íntimas. No entanto, aprender com os indígenas não era simples assim, que o diga o príncipe e naturalista alemão do século XIX Maximilian zu Wied-Neuwied: “Não é fácil conhecer os remédios que usam porque disso, mesmo entre si, fazem segredo. Quando se lhes pergunta como pode ser tratada esta ou aquela doença, respondem: ‘Venha conosco à mata, haveremos de experimentar’”, relatou sobre os botocudos em seu livro Viagem ao Brasil, de 1820. Em 1812, o médico e botânico português Bernardino Antonio Gomes registrou os predicados do barbatimão, com destaque para sua riqueza em taninos e por ser fortemente adstringente. Já naquela

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época era bastante empregada como cicatrizante e na ajuda para tratamento de doenças venéreas, que se proliferava entre a população masculina. Segundo Gomes: “Em todo o tempo tem sido famosa no Brasil pelo uso familiar, que dela costumam fazer as prostituídas para reparar a relaxação dos órgãos genitais, que induz a devassidão, e para fingirem possuir o que os seus primeiros desacertos lhes fez perder para sempre”. A sabedoria popular creditou à a casca do barbatimão a suposta capacidade de devolver a virgindade às mulheres. Isso não é realidade, no máximo provoca a contração vaginal por ser adstringente: crendices populares. Mas o barbatimão, como as demais plantas medicinais brasileiras, passa pelo que pesquisadores chamam de erosão cultural, ou a degradação do saber tradicional. Usos, receitas e as próprias plantas desaparecem mais depressa do que a capacidade de registrar e identificar quais, dentre eles, representam mais que tradição e funcionam de verdade. A erosão cultural não poupa nem nada e ninguém, primeiro, porque os chamados “raizeiros” deixam cada vez menos sucessores por falta de interesse das novas gerações. Quando morrem, levam junto todo o saber de séculos de tradição. Depois, as próprias plantas desaparecerem, haja visto o que ocorreu com a Mata Atlântica, que foi arrasada e, infelizmente, o Cerrado segue pelo mesmo caminho. Erosão total. Erosão de saberes e de biodiversidade.


lumeMatoGrosso PARA QUE SERVE O BARBATIMÃO: »»É muito usada para ajudar a tratar úlceras, doenças e infecções da pele, pressão alta, diarreia, hemorragia e feridas com hemorragias, hérnia, malária, câncer, problemas no fígado ou nos rins, inchaço e hematomas na pele, queimaduras na pele, dores de garganta, diabetes, conjuntivite e gastrite. Essa planta é muito usada para tratar a dor, generalizada ou localizada, podendo diminuir a sensibilidade e o desconforto. Esta planta também é muito utilizada para a saúde da mulher, sendo útil para combater inflamações do útero e ovários, combater hemorragias, gonorreia, além de reduzir o corrimento vaginal. Além disso, a pomada de barbatimão é uma promessa para o tratamento do HPV, tendo bons resultados em estudos, e pode ser uma cura para esta infecção. PROPRIEDADES DO BARBATIMÃO: »»As propriedades dessa planta incluem uma ação cicatrizante sobre a pele e mucosas, anti-inflamatória, antimicrobiana, antibacteriana, antioxidante, analgésica, antihipertensivo, antiparasitária, tônica, desinfetante, antidiabética, diurética e coagulante. Além disso, o barbatimão também tem uma ação que para hemorragias, que diminui a sensação da dor, que reduz o inchaço e os hematomas na pele e que ajuda a eliminar toxinas do organismo. COMO USAR O BARBATIMÃO:

»»Pode ser usado para aplicar diretamen-

te na pele ou pode ser usado para preparar chá, usando as folhas e a casca

do caule da planta. O chá de Barbatimão pode ser preparado do seguinte modo: Ingredientes:

»»20 g da casca ou de folhas de Barbatimão; Modo de preparo: »»a um litro de água fervente adicionar as cascas de Barbatimão ou as folhas, e deixar repousar durante 5 a 10 minutos. Coar antes de beber. Este chá deve ser bebido ao longo do dia, 3 a 4 vezes por dia. Também pode ser utilizado em banhos de assento para tratar doenças das partes íntimas. O princípio ativo do barbatimão também pode ser encontrado em produtos cosméticos, como cremes e sabonetes, que podem atuar na pele, com efeito cicatrizante e anti-inflamatório. QUEM NÃO DEVE USAR O BARBATIMÃO: »»O barbatimão está contraindicado para mulheres grávidas e para mulheres amamentando. Além disso, também está contraindicado para pacientes com problemas graves no estômago, como úlceras ou câncer no estômago. POSSÍVEIS EFEITOS COLATERAIS DO BARBATIMÃO: »»O Barbatimão pode causar alguns efeitos colaterais como irritação no estômago, ou em casos mais graves, pode provocar aborto. Além disso, esta planta não deve ser ingerida em excesso, pois pode causar envenenamento, e por isso só deve ser usado segundo orientação de médico ou de fitoterapeuta.

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ECONOMIA

Começando a Florada do

Pequi

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TEXTO JOHNNY GORDEZZA FOTO JOÃO VICENTE

pequi é uma fruta nativa do cerrado brasileiro, cujo nome científico é Caryocar brasiliense camb. Ocorre mais frequentemente nos estados que compõem o bioma cerrado brasileiro e seu nome vem do tupi, significando “pele espinhenta”. O pequizeiro é uma árvore frondosa e alta, de 15 m a 20 m. Suas folhas são grandes, cada uma composta por três grandes folíolos, cobertos por uma penugem e com as pontas entrecortadas. Já seu fruto possui o tamanho aproximado de uma maçã e uma casca verde. No seu interior, existe um caroço revestido por uma polpa comestível macia e amarela. Embaixo da polpa há uma camada de espinhos muito finos, por isso ao roer o pequi cozido, é preciso ter cuidado. Por baixo dos espinhos há uma amêndoa macia e muito saborosa. A época de produção dos frutos é de outubro a janeiro. A germinação do pequi pode demorar até um ano, mas menos da metade dos caroços germinam. De todos os frutos nativos do Cerrado, o pequi é o mais consumido e comercializado, e também o melhor estudado nos aspectos nutricional, ecológico e econômico. Muito utilizado na culinária regional em deliciosos

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pratos como o arroz com pequi, em conserva e como matéria-prima para a produção de licores, sorvetes e ração para animais, o pequi é um fruto muito versátil. Sua polpa tem o dobro de vitamina C de uma laranja e é rico também em vitaminas A e E. Tais fatores tornam o fruto um aliado no combate ao envelhecimento e na prevenção às doenças associadas à visão. Mas os benefícios vão além: sua amêndoa é utilizada na fabricação de um rico óleo que possui ação anti-inflamatória, cicatrizante e gastroprotetora. De uso bem menos difundido que a polpa, a castanha do pequi apresenta também grande potencial em diferentes usos. Pode ser apreciada in natura, torrada, com sal ou caramelizada. Seu óleo é aromático e pode ser utilizado para produção de cosméticos. Da castanha também se fabrica licor, bem mais claro que o da polpa. Outras partes do pequizeiro, no entanto, também são úteis, como por exemplo: a madeira é de boa durabilidade, sendo utilizada na construção de casas e cercas; as flores servem de alimento para os animais; a casca produz corante de ótima qualidade; as folhas e o óleo da polpa têm diversos usos medicinais; a árvore, além de grande beleza, é ornamental.


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ARTIGO

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EMANUELLE CALGARO É Psicoterapeuta Reencarnacionista formada pela Associação Brasileira de Psicoterapia Reencarnacionista – ABPR. Contato: (65) 981162359 /99607-6177/www.emanuellecalgaro.com.br

A Personalidade Congênita e A Depressão

A

POR EMANUELLE CALGARO

s pessoas depressivas atribuem a sua depressão aos eventos tristes de suas vidas desde a infância, mas não pensam por que reagiram/reagem com depressão a esses fatos. Preferem culpar alguém, vitimizar-se, buscar explicações e justificativas para o fato de serem depressivos. A explicação é simples: eles reagem com depressão porque reencarnaram com uma tendência a reagir com depressão às dificuldades e aos obstáculos da vida terrena. E o que precisam entender é que isso é justamente a sua meta pré-reencarnatória, a sua Missão, e as situações aparentemente dificultosas e obstaculizantes irão se suceder em sua vida até que eles curem essa tendência. Parte inferior do formulário Mas foram seus pais ou marido, ou situação financeira, etc., que geraram a depressão? Não, essa tendência já estava lá, ao reencarnar, na sua Personalidade Congênita. Então, precisam mudar essa tendência que vêm trazendo há muitas encarnações, e as pessoas ou situações que as fizeram/ fazem manifestar-se não são prejudiciais para a sua evolução, pelo contrário, estão lhes mostrando o que vieram curar em si. São potencialmente benéficas, mas dão a impressão de serem prejudiciais. Depende de quem analisa o fato, se o seu Eu Superior ou o seu Eu temporário. Devemos nos libertar das ilusões e assumir mais firmemente a alta responsabilidade com o nosso objetivo de progresso. Não de-

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vemos perder tempo culpando os outros e os fatos da vida, e sim entender que somos seres imperfeitos em busca da perfeição e, então, tudo que houver em nós que seja inferior, deve ser melhorado ou curado. Podemos acelerar nossa evolução se aplicarmos esse raciocínio em nossa vida encarnada, pois não nos esqueçamos que se deixarmos para perceber esses fatos somente mais tarde, no período interencarnações, quando encarnarmos novamente eles ficarão ocultos, esquecidos, e provavelmente continuaremos errando e nos enganando, e culpando os outros. A repetição de um padrão comportamental é o que mais acontece, ou seja, vida após vida as pessoas permanecem atuando de forma semelhante. Assim sendo, seguem reencontrando-se também com o objetivo de se harmonizarem. A família nesse contexto, é o grupo espiritual formado na terra que tem o objetivo de unir nossas maiores metas de harmonização. A família é a união de espíritos unidos por laços Kármicos e também de afinidades. Na família está presentes nossas maiores necessidades de resgates, de redenção, perdão, aceitação e paciência. Mas também é na família, que muitas vezes se fazem grandes conexões de afinidades e amor. Se a Terra é uma escola, certamente a família é a nossa sala de aula. Somos precisamente atraídos energeticamente a reencarnar na família que vai poder promover os aprendizados específicos necessários para o planejamento de evolução de cada um de nós.

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MEMÓRIA

Acervo Histórico Ramiro Noronha

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POR ELIZABETH MADUREIRA SIQUEIRA

amiro Noronha nasceu em Minas Gerais, possivelmente em Juiz de Fora, aos 31 de dezembro de 1885, e ingressou, aos 17 anos, no curso preparatório junto à Escola Militar de Porto Alegre, diplomando-se pela Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Incorporou-se ainda muito jovem aos trabalhos de abertura dos Postos Indígenas, a convite de Rondon, os quais se situavam no território dos atuais estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia, cujos espaços geográficos constituíam o grande Mato Grosso uno.


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MEMÓRIA

Essa atividade, extremamente trabalhosa e que exigiu muita disciplina e habilidade, visto estabelecer estreita relação com diversas etnias indígenas no intuito de inseri-las à comunidade nacional e garantindo-lhes a posse da terra que habitavam, foi desenvolvida entre 1920 e 1940. Naquela ocasião, Ramiro Noronha conheceu e palmilhou um vasto território, incluindo o reconhecimento dos rios Paraguai, São Lourenço, Paranatinga e Culuene; conheceu e manteve relações com diversos grupos indígenas, moradores ancestrais daquelas terras, os quais aderiram e se incorporaram aos trabalhos da Comissão Rondon, a exemplo dos Postos Indígenas Bacairi e Camaiurá, de Simões Lopes; dos

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Barbado, Umutima e Caiabi-Apiacá, no Posto Fraternidade Indígena; e do Rio Vermelho, Posto do Córrego Grande, com os Bororo, dentre tantos outros. Em cada Posto Indígena foram desenvolvidos trabalhos de abertura de estradas, construção de pontes e de edifícios para acolher a administração, para residência do pessoal de apoio e também oficinas, escolas e enfermarias. Esse conjunto de esforços propiciou o reconhecimento da parte interiorana do Brasil e seus habitantes, apresentando-se enquanto campo fértil de aprendizado, haja vista a imbricação entre o saber nativo e o saber técnico-científico da Comissão Rondon, um movimento, nessa medida, de mão dupla.No interior da Comissão Ron-


don, Ramiro Noronha atuou junto ao Serviço Nacional de Proteção aos Índios e Trabalhadores Nacionais - SNPITN, prestando relevantes serviços. Fez editar no interior da Comissão Rondon o seguinte relatório Exploração e levantamento do rio Culuene, principal formador do Xingu: reconhecimento de verificação ao divisor Arinos-Paranatinga, escrito em 1920 e publicado no ano de 1952. Ramiro Noronha participou diretamente dessa empreitada, visto ter sido o grande líder e companheiro de Rondon no SNPITN ao longo do extenso território do então Mato Grosso indiviso, ajudando na abertura de estradas, construção de pontes e montagem e gerenciamento dos Postos Indígenas. Além dos trabalhos junto à Comissão Rondon, Ra-

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miro Noronha foi convidado, pelo presidente Getúlio Vargas, para governar o território de Ponta Porã, no ano de 1934, tendo sido diretor de Material Bélico do Exército Brasileiro e também da Fábrica de Pólvora de Juiz de Fora-MG. Veio a falecer no Rio de Janeiro, em 1º de dezembro de 1955, tendo, ao longo de suas atividades como militar e grande responsável pelos trabalhos do SNPITN, acumulado um precioso acervo documental e bibliográfico que permaneceu, por décadas, intocado, até que, na primeira década do ano de 2000, a família resolveu depositá-lo no Arquivo da Casa Barão de Melgaço. O acervo Ramiro Noronha, raro e precioso, reconstitui, através de fotografias, manuscritos, jornais e material impresso, o conjunto dos trabalhos desenvolvidos na abertura dos Postos Indígenas, carro-chefe das proposituras do SPITN. Mergulhar nesse acervo faz com que o pesquisador vivencie momentos determinantes da missão rondoniana, seja na formação de novos núcleos de povoamento, ou pela integração das populações indígenas aos trabalhos da Comissão e, consequentemente, à nacionalidade brasileira. O conjunto documental reunido por Ramiro Noronha é composto de 21 Cadernetas de Campo, através das quais se consegue reconstituir o cotidiano dos trabalhos dos Postos; de uma série de correspondências trocadas pelo titular com autoridades ligadas ao SNPITN, entre 1926 e 1955; uma coleção de periódicos nacionais e estrangeiros que registraram as ações rondonianas em suas diversas atividades; um álbum fotográfico, composto de 517 imagens, muitas delas inéditas, relativas aos trabalhos do SPI, acompanhadas de explicações manuscritas de autoria de Ramiro Noronha; e ainda 49 imagens avulsas sobre a mesma temática; além de 42 mapas e plantas relativos exclusivamente às projeções e edificações dos Postos Indígenas abertos entre 1920 e 1950. O conjunto documental se encontra catalogado, podendo ser acessado pelo sítio: <www//casabarao.com.br> (acervos privados).

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Stonewall Inn: 50 Anos TEXTO E FOTOS DE PAUL CLEMENCE

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PAUL CLEMENCE É fotógrafo e flimmaker, cujo trabalho explora a conexão entre o mundo da arte e arquitetura.

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maior ato político da história, aquele que consegue colocar cada vez mais milhões de pessoas nas ruas, espalhadas por centenas de países, anualmente, é a Parada Gay. É, sem dúvida, a maior manifestação política do mundo desde o final dos anos 1960 até meados de 2019. A revista LUME MT publica nesta edição, com texto e fotos exclusivas de Paul Clemence, nosso colaborador e articulista nova-iorquino, um resumo histórico do começo de tudo isso: Stonewall Inn, um bar no bairro do Greenwich Vil-

lage, na cidade de Nova York. Paul relata, inclusive, sobre as esculturas situadas no Christopher Park, em frente ao bar, onde estão dois pares gays: homens gays em pé e duas lésbicas sentadas. Sabe-se que o ativismo gay não começou naquela noite, no entanto, tudo mudou depois de Stonewall. O fato é que depois daquela noite homens e mulheres passaram a aparecer em público como homossexuais, e, o mais importante, exigindo respeito, premissa fundamental de qualquer sociedade justa que preza pelo direito das pessoas serem o que quiserem ser.

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O Stonewall Inn era um bar simples, informal, mas no final dos anos 1960 era um dos poucos lugares em Nova Iorque onde quem era ou se sentia “diferente” podia ir, se divertir e por alguns instantes não se sentir isolado na sua individualidade peculiar. Na época era o maior estabelecimento gay no EUA, e o único onde se permitia a comunidade gay dançar um com os outros (ou só dançar?). Mas o que sedimentou o estabelecimento na história dos direitos civis (e humanos) foi a luta que se travou do lado de fora durante uma batida policial ao estabelecimento em 28 de junho de 1969. Cansados da perseguição, das frequentes batidas policiais abusivas, e da discriminação, os frequentadores do bar dessa vez reagiram, e, estando os policiais em menor número, a situação rapidamente se intensificou, com outros rebeldes aderindo ao conflito. Vale lembrar que o Village (área de Nova Iorque onde fica o Stonewall) era na época o centro da contracultura americana e do pensamento de vanguarda, da política as artes, e o final dos anos 1960 uma época marcada por levantes sociais intensos, como o maio de 1968 em Paris e os tumultos em Chicago e outras cidades americanas

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após o assassinato de Martin Luther King, Jr. Ou seja, o espirito de rebelião ante as injustiças estava no ar. Com ajuda de reforços, a polícia conseguiu ao final, controlar o levante. Mas que um grupo tão discriminado, condenado a viver as margens da sociedade (a homossexualidade e até o cross-dressing eram considerados crimes de lei), considerado, preconceituosamente, “fraco”, conseguiu enfrentar o poder e resistir. Foi uma vitória que teria um efeito duradouro no movimento gay (ou como mais tarde ficou conhecido, LGBT). A energia da revolta inspirou no ano seguinte a primeira parada orgulho gay em Nova Iorque, um evento que aos poucos se espalharia pelo mundo todo, das cidades mais remotas do Brasil, a Europa, onde na Alemanha e Suíça o evento foi batizado como Christopher Street Day numa alusão e homenagem a rua do Stonewall Inn. Atualmente a área em torno do bar é tombada pelo patrimônio histórico e foi declarada como Monumento Nacional Stonewall, atraindo turistas, curiosos e visitantes do mundo inteiro. Parte importante do monumento são as esculturas “Gay Liberation”, do famoso artista americano George Segal. Situado no Christopher Park, em fren-


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te ao bar, as esculturas mostram dois pares gays: homens gays em pé e duas lésbicas sentadas, ambos como se casualmente conversando no parque. Leslie Cohen, que com sua esposa Beth Suskin, foram as modelos das estátuas femininas, comentando sobre a experiência disse: ‘Posar para essa escultura acabou sendo um dos grandes destaques de nossos 42 anos juntos, pois foi uma experiencia que abrange tudo o que era e é importante para nós - visibilidade lésbica e gay, arte e, acima de tudo, nosso profundo amor uma pela outra’. Salientando o aspecto humano e espiritual, um lado geralmente ignorado pelos preconceitos (sobretudo religiosos), ela afirma: ‘É importante que os outros saibam que um amor como o nosso não é apenas possível, mas uma dádiva que vem de cima’. Esse ano, cinquentenário do Stonewall ‘riots’, as comemorações mostram como evoluiu o pensamento geral em relação ao tema. O prefeito da cidade fez discursos, ampla cobertura da mídia, negócios espalhados por toda a cidade com bandeiras gay nas vitrines , grandes corporações como Fedex, Bank of América, e várias linhas aéreas com carros alegóricos na parada (mostrando que se não o estilo

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de vida, ao menos o capital gay sem dúvida é muito bem-vindo), celebridades como Madonna, Lady Gaga, e Donatella Versace marcando presença, e mais de 5 milhões de pessoas, incluindo milhares de famílias e crianças se juntaram para celebrar aquele evento único e transformador. Mas mesmo com tantas conquistas a comemorar, é importante não perder a perspectiva do momento político mundial que vivemos, em que a polemica dos direitos LGBT é usado para gerar conflito e estimular iniciativas pseudo-moralizadores pelos conservadores, deixando claro que a causa dessa comunidade ainda tem muito chão pela frente. Em meio as animadas e justas celebrações, essa é também uma boa hora para lembrar as palavras que supostamente a drag queen e ativista Marsha P. Johnson (veterana do Stonewall, falecida em 1992 e tema de um documentário da Netflix) proferiu após as estatuas “Gay Liberation” serem instaladas no parque: “Quantas pessoas morreram para essas duas pequenas estátuas serem colocadas no parque para reconhecer os gays? Quantos anos levaram, levarão para as pessoas perceberem que somos todos irmãos e irmãs da raça humana? Estamos todos nessa luta da vida juntos “.


lumeMatoGrosso PAUL CLEMENCE

»»O artista Paul Clemence é um premiado

fotógrafo e flimmaker, cujo trabalho explora a conexão entre o mundo da arte e arquitetura. Com seu forma abstrata de expressar a arquitetura, ele exibe seu trabalho regularmente no circuito internacional de artes plásticas, com fotos em formatos tradicionais em preto e branco ou intervenções arquitetônicas e murais fotográfico de grande escala, participando em eventos culturais importantes, como a Bienal de Arquitetura de Veneza, ArtBasel / Design Miami e Fuorisalone de Milão. Seu trabalho faz parte de coleções públicas e privadas ao redor do mundo. Seu livro “Mies van der Rohe’s Farnsworth House” permanece até hoje a foto documentação mais completa desse projeto icônico do mestre alemão da arquitetura moderna e uma seleção dessas fotos é parte dos Mies van der Rohe Arquivos alojados pelo MoMa-NY. Quer sejam suas fotos ou seus textos, ele é publicado com frequência por revistas e sites de arte, arquitetura, viagem e lifestyles, como Archdaily, Architizer, Metropolis, Modern Magazine e Casa Vogue Brasil. Seu photo-blog no Facebook, “ARCHI-PHOTO”, rapidamente se tornou um grande sucesso e hoje é uma plataforma e comunidade global com perto de um milhão seguidores aficionados por fotografia, arquitetura, design e arte. Nascido nos EUA, mas criado em Niterói, ele hoje vive e trabalha em Nova Iorque. www.nybg.org/event/the-living-art-of-robertoburle-marx-2/

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A Onça Pintada no Convento POR JOÃO ELOY DE SOUZA NEVES

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ouve uma época em que muitas pessoas da alta sociedade cuiabana, quando se apresentavam “fraca dos pulmões”, como se dizia na época referindo-se a portadores de tuberculose pulmonar e bronquite crônica, mudavam-se para cidades com climas mais amenos, como o da serra-acima. Acreditava-se que assim obteriam cura para seus males.


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JOÃO ELOY É cantor, compositor, historiador e poeta, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, médico aposentado e ex-professor da UFMT. E-mail:joaoeloycantor@hotmail.com.

Um caso mais conhecido em Chapada foi o de três irmãs que para lá se transferiram, com o citado objetivo. Elas eram muito ricas e, como a maioria das residências naquele tempo era feita de sapé e pau a pique, adquiriram um terreno próximo à Igreja de Sant’Ana, onde fizeram construir um grande casarão com amplas dependências para a criadagem. Ali residiram por muitos anos, até recuperarem a saúde e regressarem para Cuiabá. O casarão veio posteriormente a ser adquirido pelas freiras franciscanas que o adaptaram para funcionar como convento e internato para moças. As freiras, de origem alemã, logo se habituaram ao modo simples de vida da região. No porão do casarão estocavam alimentos em enormes tambores: carne frita, banha de porco, toucinho defumado, rapadura, farinha, etc.. Contam os antigos moradores que, em um inverno chapadense bastante rigoroso, uma onça pintada ali se abrigou, em busca de alimento. E quando uma das moradoras desceu no depósito subterrâneo procuranFOTOS DIVULGAÇÃO

do mantimentos para a próxima refeição, foi surpreendida pelo esturro violento da fera, que avançou sobre ela, rasgando-lhe os trajes. Por muita sorte a religiosa escapou ilesa, pois seus gritos também assustaram a onça. Foi um grande escândalo no convento, então todo o povoado logo ficou sabendo do acontecido: havia uma feroz onça pintada no porão do convento das freiras. Os homens formaram um pequeno exército armado, dispostos a tudo para protegerem as apavoradas freiras. Fizeram um círculo em frente à entrada do porão, com seus cães farejadores que latiam sem cessar. Nesse ínterim, as mulheres e as crianças foram proibidas de saírem de casa, até que pudessem dar fim ao terrível animal. Afinal, todos corriam grande perigo se o majestoso animal escapasse vivo. Cada caçador estava munido de várias armas: espingardas de dois canos, revólveres calibre 38 e 22, punhais e facões. Atiçando os cães, logo conseguiram descobrir o canto onde estava atocaiada a fera. Esta, esturrava tão alto, que fazia tremer janelas, portas e telhas do antigo casarão.

Naquela luta titânica com a onça, de vez em quando um cachorro vinha de lá de dentro desesperado, ferido pelos dentes e patas da onça, ganindo sem parar. O embate durou muito tempo até que o felino, já cansado e machucado pelas mordidas dos cães em várias partes de seu corpo, foi abatido pelos corajosos e improvisados caçadores. Após alguns minutos de silêncio, conseguiram disparar suas armas, alvejando o animal e trazendo-o para o lado de fora. Para ter certeza de que ela estava realmente morta, um deles cravou seu punhal no coração da onça, de onde jorrou abundantemente um sangue morno, freneticamente consumido pelos cães, que deglutiam os grandes coágulos, sem mastigar. O passo seguinte foi retirar toda a pele da fera, que foi esticada com taquaras, para posterior curtimento e transformação em tapete, exposto na sala de visitas do convento. E quando as freiras recebiam visitas, relatavam essa história hilariante e inesquecível, assunto de longo tempo em todas as rodas de conversas.

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R E T R ATO E M PRETO E BRANCO

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Estevão Torquato da Silva

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stevão Torquato da Silva nasceu em Cuiabá a 2 de agosto de 1923. Filho de antiga família mato-grossense, era conhecido no meio social e político pelo apelido de Coronel Torquato. Passou por diversas instituições militares e civis, onde imprimiu a marca da austeridade e a disposição de servir. Faleceu a 24 de agosto de 2006. Foi casado por longas décadas com dona Bertolina Nascimento da Silva. Ainda jovem frequentou o curso de contabilidade da Escola Técnica de Comércio de Cuiabá e mais tarde tornou-se cirurgiãodentista pela Faculdade Fluminense de Medicina e oficial-dentista pela Escola de Saúde do Exército. Estudou economia na Faculdade de Ciências Econômicas de Mato Grosso e fez estágio na Universidade de San Diego. Dirigiu a Escola Técnica Federal de Mato Grosso e foi diretor financeiro das Centrais Elétricas Mato-grossenses (CEMAT). Foi eleito vereador em Cuiabá e deputado estadual em 1979/1983, foi também presidente do Mixto Esporte Clube, seu time de futebol do cora-

ção. Afeito à política, no entanto, com reservas, devido à sua forma austera de pensar e de agir, foi eleito vice-prefeito de Cuiabá em 1985, assumiu o cargo titular em 19861987 quando Dante de Oliveira (PMDB), o prefeito de Cuiabá, ocupou o Ministério da Reforma Agrária no governo José Sarney (antes de 1986 os prefeitos de capitais brasileiras e de cidades consideradas estratégicas eram indicados pelo governo federal). Se o número de cargos públicos pode dar a dimensão do homem público que os ocupou, Estevão Torquato representa um marco na política mato-grossense. Ele não só ocupou diversos e importantes cargos — prefeito, diretor de escola, presidente de clube de futebol, dentista, entre outros —, mas o fez com a naturalidade de quem recebe um presente desejado, mas já esperado. Assim se deu com o homem que tinha como meta executar com fervor cada trabalho a que se propunha fazer. “Sempre leal aos seus princípios e amigos”, nas palavras de Aecim Tocan-

tins, Torquato também já foi: presidente do Lions Clube (unidade Centro) e fundador do Lions Clube Cuiabá Norte; diretor-tesoureiro do Clube Náutico; professor de Ciências Contábeis da UFMT; membro do Conselho Diretor do Abrigo Bom Jesus; 2º vice-diretor da Santa Casa de Misericórdia; membro do Conselho da Fundação Dom Aquino Corrêa; e, cargo que ainda ocupa, tesoureiro da Pia União de Santo Antônio, entidade filantrópica de ajuda a famílias pobres. Durante o seu mandato de vice-prefeito, o Coronel Torquato assumiu por 13 meses a prefeitura, a notícia de que teria que assumir a prefeitura de uma hora para outra pegou Torquato de surpresa. No entanto, deu conta do recado e da responsabilidade que lhe foi confiada. Muito religioso, já com a idade avançada, acordava cedo todos os dias para ir à Igreja da Boa Morte, onde rezava o terço e espera a missa das 6h. Nessa empreitada ia dirigindo o próprio carro, ocasião em que afirmara: “É o único horário que dirijo, pois, o trânsito é mais tranquilo”.

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HISTÓRIA

O Que Fica Para A História

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itius, Altius, Fortius, o lema adotado por Pierre de Coubertin para os Jogos Olímpicos, que significa “mais rápido, mais alto, mais forte”, incentivava mais à superação do que à vitória. Coubertin fazia questão de o complementar sempre com “o mais importante não é vencer, mas participar”. Mas todos querem ganhar. Ser o primeiro, medalha de ouro. Ninguém quer a prata, muito menos a conso-

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POR NUNO ARTUR SILVA

lação do bronze. O pódio é para os melhores de todos, naquele objetivo. Mas ser o segundo é ser o primeiro derrotado, e ser o terceiro é ser derrotado por dois. Ninguém luta para ser o terceiro melhor em qualquer coisa, há sempre um sabor a derrota. Como a história daquele tipo que era o segundo melhor guitarrista de jazz do mundo, a seguir ao Django Reinhardt. A sociedade global em que vivemos e o seu mode-

lo capitalista dominante defendem e estimulam a competição, a vida por objetivos. O mundo é dominado pelos vencedores. A história é dominada pelos vencedores, escrita por eles. A versão dos vencedores apaga a dos vencidos, é a que fica para a história. Admiro, como toda a gente, muitos vencedores, no desporto ou na vida em geral. Mas, mais do que os vencedores, o que me interessa são os que têm a melhor história.


Talvez seja deformação profissional, mas o que realmente me interessa e aquilo que mais valorizo é a história por detrás daquele feito, o que se jogava ali, as diversas personagens envolvidas. E acontece muitas vezes descobrir que a melhor história não é a do vencedor, mas sim a do derrotado. Ou perceber que o derrotado é um vencedor maior se o olharmos doutro ponto de vista. Não é desvalorizar os ven-

É tempo de pôr em causa, começa a haver cada vez mais gente a dizê-lo, o modelo capitalista global. Tal como aconteceu com o comunismo, que gerou terríveis monstruosidades, também o capitalismo desregulado - e o seu modelo predador de exploração desenfreada de recursos e especulação financeira abstrata e autista, sem ter minimamente em conta o bem comum está a destruir todo o esforço de paz e o equilíbrio da vida comunitária global e do próprio planeta. Não poderemos deixar de falar da necessidade permanente de crescimento econômico e passar a falar antes da necessidade urgente de sustentabilidade? Para que precisamos de crescer mais? Não é possível conciliar o desenvolvimento econômico e tecnológico com um ambiente de cooperação em vez de competição? Só num contexto de guerra ou competição é que há progresso técnico e científico? De que adianta esse progresso se a qualidade de vida global retrocede? Não precisamos de ser mais ricos, precisamos de ser menos pobres. Precisamos de mais equilíbrio, de sustentabilidade. Não precisamos de uma sociedade de vencedores. Precisamos de uma sociedade vencedora. A ficar para a história com melhor história, com melhores histórias.

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cedores, é pô-los em perspectiva. Sobretudo pôr em perspectiva uma sociedade estruturada por objetivos. Da gestão à política, a prática de agir em função de objetivos sempre me pareceu não só limitada, mas sobretudo contrária ao que de melhor pode haver na experiência de cada um com o trabalho que escolha fazer: a possibilidade de haver muito mais aprendizagem, realização e felicidade para além dos objetivos traçados, naquilo que o percurso revelará e à partida ainda não se conhece. A lógica dos vencedores só deveria prevalecer em contextos muito circunscritos, como o desporto ou jogos e competições diversas de objetivos lúdicos. Em arte não há vencedores nem vencidos (a não ser no combate de cada artista consigo próprio). Na vida também não. Pelo menos nunca da maneira simplista como muitas vezes a narrativa dominante leva a crer. Chegamos finalmente a um tempo em que toda a história mundial está a ser revista e acrescentada de outras visões, para lá da visão dos vencedores. As cruzadas vistas pelos árabes, ou os descobrimentos vistos pelos indígenas americanos, por exemplo. Este enriquecimento de visões diferentes e contraditórias sobre o que aconteceu traznos uma capacidade maior para enfrentar os perigos do nosso mundo global atual.

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Exposição no IHGMT 53


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HISTÓRIA

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inda em comemoração aos 100 anos do Instituto Histórico e Geográfico de MT e aos 300 anos de Cuiabá, a instituição ofereceu à sociedade mato-grossense, no mês de agosto, uma exposição que buscou através dos olhares entrecruzados de três artistas, uma leitura de lugares e identidades culturais de Cuiabá no passado e contemporaneidade. As fotografias, desenhos e esboços que integraram a exposição compõem acervo produzido no Projeto “Carto(grafia) Cultural dos Municípios pertencentes à Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá”, executado pelo NPGA do IFMT – Campus Cuiabá. As poesias foram selecionadas por profissionais da área de linguagem e turismo, com o objetivo de

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demonstrar como a cidade, o cotidiano e a cultura são percebidos pelos poetas. Tratou-se de uma exposição coletiva que possui como objetivo apresentar, por meio de um recorte espacial, as diversas carto(grafias) da cidade de Cuiabá por meio da representação simbólica do patrimônio material e imaterial, objetos geográficos, marcos da identidade cultural cuiabana, captados pelos diferentes olhares provenientes das artes, da fotografia e da literatura. A carto(grafia) proposta representou muito mais do que uma indicação da localização dos fenômenos no mapa convencional, mas uma cartografia pautada na experiência cotidiana em que a linguagem cartográfica simbólica, polifônica e plurissignificativa das artes, da fotografia e da li-

teratura, são representativas para exprimir as diferentes representações da realidade geográfica. Recortes Identitários da Região do Vale do Rio Cuiabá Entrecruzam-se fragmentos do modus vivendi do povo cuiabano, com suas práticas culturais e cotidianas. O conhecimento ecológico, os saberes e fazeres transmitidos ao longo das gerações pela oralidade, os laços prevalecentes de parentesco, as festas típicas, a gastronomia modesta e saborosa, somados a um imaginário popular permeado de signos e símbolos provenientes do rio e da forte religiosidade, são características que se interpenetram, formando o rico e diversificado perfil das comunidades ribeirinhas e cuiabana e que se encontram representadas em cada cena desta mostra cultural.


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HISTÓRIA

OS ARTISTAS:

»»Antônio Alexandrino Siqueira é um fotó-

grafo autodidata, cuiabano de “tchapa e cruz”, mas mora em Rosário Oeste desde os primeiros anos de vida. O olhar do fotógrafo Antonio Siqueira é de uma riqueza incomensurável à medida que ultrapassa o registro fotográfico como um mero produto da técnica e capta a essência da cultura e da identidade do povo cuiabano. A sua trajetória de vida em Rosário Oeste, município que faz parte da região denominada tradicionalmente de “Baixada Cuiabana”, possibilitou-o vivenciar a efervescência das festas populares profanas e religiosas, o sotaque marcante do povo cuiabano e um cotidiano marcado por práticas sociais do homem relacionadas com o rio Cuiabá, cenário que passa a ser fonte de inspiração e marca de identificação do seu trabalho. O seu interesse por registros de cunho cultural e documental fez com que desenvolvesse no ano de

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2017 um projeto denominado “Santos da Baixada”. Atualmente é colaborador do projeto de pesquisa denominado “Carto(grafia) cultural dos municípios pertencentes à Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá”, desenvolvido pelo grupo de Pesquisa NPGA – do IFMT, Campus Cuiabá.

»»Kleber Roberto Lopes Corbalan é natural de Itambé (PR) e radicado em Mato Grosso desde o ano de 1986. Trabalha como professor de História no IFMT Campus Cuiabá. Doutor em História pela FFLCH-USP, possui como temática de pesquisa estudos sobre a Igreja Católica e seu clero no período Colonial no Estado de Mato Grosso. No campo artístico, Kleber Corbalan é um artista nato, autodidata, e seu interesse pela pintura iniciou-se aos 10 anos de idade, quando foram introduzidas as primeiras noções artísticas. Na fase adulta, sua formação como historiador e a vivência religiosa possibilita-


lumeMatoGrosso ram que trilhasse pelo caminho das artes por meio de pesquisas pessoais em história da arte e técnicas de pintura, criando um estilo próprio de manifestação artística intimamente ligada ao sagrado. Nas horas de folga, mergulha no universo da arte sacra, fazendo pinturas nas igrejas de Cuiabá. Dentre os trabalhos realizados destacam-se “ a Via Sacra da Igreja do Rosário e São Benedito”, a “Via Sacra da Igreja Senhor dos Passos” e “da Capela de Nossa Senhora da Conceição do CPA”. Seja através da arte sacra ou de outras intervenções artísticas, o artista deixa a singularidade expressa em suas obras, como pode ser observado no trabalho aqui exposto. Além de suas habilidades artísticas, é pesquisador e membro do projeto de pesquisa denominado “Carto(grafia) cultural dos municípios pertencentes à Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá”, desenvolvido pelo grupo de Pesquisa NPGA – do IFMT, Campus Cuiabá. FOTOS DIVULGAÇÃO

»»Joyce de Arruda Aquino, 19 anos, é na-

tural de Cuiabá, ex-aluna do ensino médio do Curso de Edificações do IFMT - Campus Cuiabá e atualmente aluna do Curso de Arquitetura da UFMT. Autodidata, iniciou seus primeiros esboços aos 5 anos de idade e aos 11 anos fez um curso básico de pintura, o que possibilitou realizar o seu trabalho de maneira autônoma. Artista por vocação, possui uma capacidade de (re)criar cenários a partir de pesquisa bibliográfica e/ou produzir paisagens a partir do seu processo imaginativo. A sua obra, neste trabalho, busca resgatar do imaginário social cenas que marcaram o cotidiano pretérito da cidade de Cuiabá. Como aluna do IFMT, deixou registro do seu trabalho em murais internos do campus. Também participa do projeto de pesquisa “Carto(grafia) cultural dos municípios pertencentes à Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá, desenvolvido pelo grupo de Pesquisa NPGA – do IFMT, Campus Cuiabá

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ANTROPOLOGIA

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Jarudore

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povo indígena bororo teve reconhecido, pela Justiça, o direito à posse e usufruto da Terra Indígena Jarudore, no município de Poxoréo, com área de 4706 há e determinou a desocupação da área. A sentença não abrange a sede urbana do Distrito de Jarudore. Essa área indígena foi demarcada em 1912, a mando do então coronel Cândido Rondon, e era denominada São João do JaFOTO ARQUIVO NACIONAL

Estamos voltando rudóri, em área a 100 mil hectares. O desinteresse do Estado na demarcação e o desejo de ocupação por não índios não permitiu a guarda de documentos na forma devida. O próprio governo estadual provocou a redução da área para 4706 hectares. Com o tempo essa área foi ocupada por famílias advindas do nordeste brasileiro, especialmente nas a partir da década de 1930, tornandose distrito de Poxoréo. Contemporaneamente

a ocupação indígena restringese a uma área de 772 hectares, o que é insuficiente para o desenvolvimento de ancestrais práticas econômicas, sociais e culturais do povo bororo. A desocupação da TI Jarudore deverá ser realizada em duas etapas. A primeira, referente a área com 1.930 hectares, localizada nas porções Oeste e Nordeste da terra. E a segunda etapa, com área de aproximadamente 1.730 hectares, na porção sul.

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A Cadeira 37

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cademia Mato-Grossense de Letras realizou, no dia 20/07, uma das eleições mais concorridas da sua história quase centenária. Nunca tantos candidatos se dispuseram a disputa por uma única vaga. Vários intelectuais procuraram a direção da entidade fazendo consultas e demostrando interesse em conhecer o processo eleitoral acadêmico e, ao final, oito candidatos se inscreveram. O Presidente, professor Sebastião Carlos Gomes de Carvalho, comemorou com entu-

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COM PORTAL ROSA CHOQUE

siasmo, pois, segundo ele, “não apenas a quantidade, mas particularmente a alta qualificação dos candidatos demonstra a presença e o respeito que a nossa quase centenária instituição vem mantendo perante a sociedade e a intelectualidade mato-grossense”. A Cadeira disputada foi a 37, cujo Patrono é o jornalista Antônio Vieira de Almeida, nascido em Cuiabá, em 1873, e falecido no Rio de Janeiro, em 1916, e cujo último ocupante foi o advogado e cineasta Bernardo Elias Lahdo. Foram candidatos: André

Araújo Molina, cuiabano, magistrado e professor da Escola Superior da Magistratura Trabalhista de MT. É Doutor em Filosofia do Direito pela PUC/SP. Publicou, entre outros, “Teoria dos Princípios Trabalhistas” e “Os Direitos Fundamentais na Pós Modernidade”. Antônio Hernani Pedroso Calháo, cuiabano, graduado em Direito e Economia, é Advogado e professor Assistente na Universidade Presbiteriana Mackenzie – SP. É Doutor em Direito pela PUC/SP. E pós Doutor em Direito na Universidade de Coimbra – Portugal. É membro da Academia Pau-


“João Eloy por inteiro” e “Broto d’Água”[poesias]. Autor de várias composições musicais. Lindinalva Correia Rodrigues, de Campo Grande / MS. Promotora de Justiça em Cuiabá. Realizou o Mestrado em Direitos Humanos e Fundamentais, na UFMT. Publicou, entre outros: “Constituição, democracia e desenvolvimento, com direitos humanos e justiça”, “Direitos Humanos das Mulheres”. Martim Affonso Santa Lucci, cuiabano, engenheiro civil. Realizou Mestrado em Transportes, no Instituto Militar de Engenharia, no RJ. Publicou: “Um italiano em Corumbá” e “Tarifação Ferroviária”. Neila Maria Souza Barreto, cuiabana, graduada em Letras e Jornalismo. Professora. Realizou Mestrado em História – UFMT. Pertence ao Institu-

to Histórico e Geográfico de MT. Publicou, entre outros: “Sarita Baracat – Vida e Trajetória Política”. Tem ainda vários artigos em revistas e jornais, abordando temas históricos de Cuiabá. Foi eleita a Promotora Pública e escritora Lindinalva Correia Rodrigues. O presidente da AML, Sebastião Carlos Gomes de Carvalho designou uma Comissão de acadêmicos para comunicar oficialmente a eleição da novel acadêmica composta por Flávio Ferreira, Olga Castrilon e Amini Haddad. A posse deverá ser agendada em breve, tendo um prazo legal, segundo o estatuto da instituição, de seis meses para tornar-se oficialmente membro da Academia Mato-Grossense de Letras.

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lista de Letras Jurídicas. Publicou, dentre outros: “Direitos Humanos e Poder Judiciário: a humanidade como narrativa central em questão” e “O zunzun do rio” [contos]. Antônio Veloso Peleja Junior, goiano, magistrado em Cuiabá e professor na UFMT. É Doutor em Direito Processual Civil pela PUC/SP. Publicou, entre outros, “Inovações no Direito Eleitoral” e “Sentenças Aditivas e Jurisdição Constitucional”. Helena Maria Bezerra Ramos, cuiabana, Desembargadora. Publicou: “100 anos da família Bezerra em Mato Grosso” e “Contrato de Arrendamento Rural: Teoria e Prática”. João Eloy de Souza Neves, de Chapada dos Guimarães, médico e músico. É membro do Instituto Histórico e Geográfico de MT. Publicou, entre outros:

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A MLEI TR EI CR A N T UI DRAAD E

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Americanidade A Busca Pelo Intercâmbio Cultural Entre Os Povos Da América Do Sul:

Charly García

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A MLEI TR EI CR A N T UI DRAAD E

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harly García é um dos mais importantes nomes do rock argentino, tendo nascido no dia 23 de outubro de 1951, na cidade de Buenos Aires. É músico instrumentista, cantor, intérprete, compositor e produtor. Seu nome de batismo é Carlos Alberto García Moreno e desde cedo desenvolveu seu gosto e habilidade musical, o primeiro instrumento que aprendeu a tocar foi o piano. Ele começou sua carreira musical e aos doze anos já havia recebido seu diploma de concertista de música clássica, o que explica seu rápido progresso na música. Aos catorze anos passa a integrar a banda, To Walk Spanish, onde tocava versões do The Beatles e The Rolling Stones. Mais tarde, ele formou Sui Generis, junto com Nito Mestre e Carlos Piegari. Naquela época, ele lançou seu primeiro álbum, Vida (1972). Posteriormente ele lançou: Winter Confessions (1973) e Institutions (1974). No ano seguinte, por várias razões, o grupo foi dissolvido. Por sua personalidade incessante e inatingível, além de seu gosto pela música, ele formou PorSuiGieco, um grupo de existência efêmera com o qual ele não conseguiu editar nenhum álbum. E depois, ele tentou com outra nova banda, The Bird Making Machine, com este grupo, ele produziu dois álbuns: The Bird Making Machine (1976) e Movies (1977). De 1978 a 1982, Charly gravou cinco álbuns e nesse período também formou outra banda: Serú Girán. Então ele começou a trabalhar com o renomado Andrés Calamaro. Com esta nova banda, ele alcançou o reconhecimento que ele ansiava, especialmente após a edição de ir da cama para a sala de estar. Naquela época, ele testemunhou a Guerra das Malvinas. As novas músicas foram apresentadas no West Railway Stadium, para vinte e cinco mil pessoas. Charly García decidiu substituir Calamaro por Fito Páes nos teclados. O primeiro trabalho de gravação desta nova formação foi Modern Clicks, que foi seguido por Piano Bar (1984). Pouco tempo depois, a carreira musical de Garcia muda. Ele gravou seu próximo álbum, Tango, com a colaboração de seu parceiro Serú Girán e Pedro Aznar. Mais tarde, decidiu começar uma estrada solo, e o resultado desse trabalho foi o elepê: Parte da religião (1987). Depois disso, Charly foi encarregado de editar várias músicas que foram criadas, mas que não foram reveladas. Anos depois, ele recebeu a colaboração de Pedro Aznar, gravou o Tango 4. Em 1992, os membros do Serú Girán se encontraram e, como resultado, o Serú Girán 92 foi formado. Em 1994, ele compôs uma ópera-rock chamada The Daughter of Tears. Um ano depois, atingiu o público quando eu estava em chamas quando fui dormir e, naquele mesmo ano, gravei um desligamento da MTV. Devemos indicar que, há uma nova etapa na vida musical do argentino. Para o ano de 1996 ele publica Say no more, que foi lançado depois que Charly criou FOTOS DIVULGAÇÃO


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sua própria gravadora, também chamada Say no more. García realizou um projeto chamado Constant Concept, no qual Mercedes Sosa cantou suas músicas. Em 2004, ele recebeu o Latin Honor Award da Academia Argentina de Música. No final de 2006, Kill Gill, o novo álbum de Charly, circulou online. Portanto, ele teve um grande problema com a gravadora, uma vez que não publicou todo o material a ser baixado. Sua atitude em muitas ocasiões foi motivo de problemas, em 2008 ele foi preso na cidade de Mendoza, por danificar vários objetos de um hotel. Então, sua saúde diminuiu por causa da pneumonia. Posteriormente, ele foi internado em um instituto neuropsiquiátrico, onde iniciou um tratamento para a excitação psicomotora. Em 2009, Charlie anunciou seu retorno, com um novo tema e uma turnê que culminaria em Velez, em seu aniversário. O ponto culminante da turnê foi um show espetacular que muitos argentinos deixaram gravado em sua memória. Além disso, foi gravado em alta definição e editado em DVD, com o título O concerto subaquático, acima, porque uma chuva torrencial caiu. Um ano depois, Kill Gil foi reeditado, com 11 faixas e um DVD com animações das pinturas feitas à mão por Charly. Sabe-se que o problema deste importante cantor latino-americano com drogas o afetou desde os anos 1980. Palito Ortega colaborou muito na recuperação de Charly, também sua família. A imprensa e a população argentina, em geral, ficaram surpresas ao ver imagens de Charly. Eu perdi 15 quilos. Após um período de tratamento, sua saúde melhorou. Ele comemorou seus 57 anos acompanhado de amigos e pessoas próximas. Leon Gieco e seu ex-representante estavam entre eles, entre outros. Além da música, outra de suas paixões é o River Plate (time do qual ele é fã). Em 9 de junho de 2012, foi declarado “cidadão ilustre de Córdoba” enquanto executava o piano nesta cerimônia desbotada. O músico foi transferido para o Model Cardiology Institute, e lá os médicos disseram que ele sofreu uma crise de hipertensão. García foi finalmente dispensado e sugeriu-se um período de descanso em Córdoba. No ano seguinte ele foi hospitalizado novamente para o mesmo, desta vez em seu show «Linhas Paralelas (Impossible Artifice)» em Bogotá. Em 2014 ele também teve vários problemas de saúde. Em 21 de julho de 2015, o ídolo nacional do rock foi cirurgicamente operado para uma fissura no quadril no Instituto Argentino de Diagnóstico e Tratamento, o tratamento culminou com sucesso em outra intervenção em 7 de março de 2016. Atualmente, a vida de Charly está calma, no entanto, a luta é para sua saúde não recair. Seu nome, apesar de estar longe da mídia, ainda é visto e lembrado como um ícone do rock latino-americano.

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Ú LT I M A P Á G I N A

Suprassumo da quintessência

O papel é curto. Viver é comprido. Oculto ou ambíguo, tudo o que eu digo tem ultrassentido. Se rio de mim, me levem a sério. Ironia estéril? Vai nesse ínterim, meu inframistério

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