Lume#3

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lume Mato Grosso

Revista nº. 3 • Ano 2 • Fevereiro/Março 2016

O astro internacional de TV, Leonardo Rocha, é loiro, tem olhos azuis e se autodenomina índio Yawalapiti. Pag. 72

Dom Pedro Casaldáliga Plá ENTREVISTA: José Eduardo Moreira da Costa A RESSOCIALIZAÇÃO E O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE SEGURANÇA NAS OLIMPÍADAS DE 2016 ROCK - A CENA VIVE ILUSTRES INQUILINOS IVAN BELÉM

ISSN 2447-6838

Segredos da Floresta

................. R$13,00

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Tons de Mato Grosso

MIRANTE DO CENTRO GEODÉSICO chapada dos guimarães foto HENRIQUE SANTIAN


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Editorial

JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral

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entro do propósito de trazer a luz temas interessantes e muitas vezes inéditos, buscamos compreender, pelo menos um pouco, da milenar riqueza cultural dos povos que habitaram, ancestralmente, a região que abarca o Planalto dos Parecis e sobe, ladeira acima, pelos Andes, até o Altiplano, notadamente o povo chiquitano. Para elucidar fatos, lembrar mitos e trazer a tona a possibilidade da existência de um grande corredor cultural entre o que hoje é Mato Grosso e o povo inca, LUME entrevistou o indigenista José Eduardo Ribeiro, da Funai, especialista em povos indígenas da fronteira oeste. Nesta editoria lembramos que a história de Mato Grosso é algo mais que a simples narração, profusamente documentada de nomes e datas, das investidas das Bandeiras, não sendo, portanto, tão somente, uma conquista lusa, pois nesta terra existem muito mais histórias a serem contadas pelos povos que habitaram por milênios esta porção territorial, no entanto, muito disso foi sepultado, e esse féretro ainda acontece, até os dias de hoje. Infelizmente. Nesta primeira edição de 2016, para produzir a matéria de capa, a revista LUME subiu a serra da Chapada e foi conhecer de perto a intrigante história de Leonardo Rocha, um índio Yawalapiti de cabelos loiros e olhos azuis. Léo Rocha possui habilidades únicas, obtidas em vivência nas florestas

do Alto Xingu, conhecimentos sobre plantas e outros segredos da floresta, dentre os quais, a fabricação do mítico Arco Preto. Por conta de ter aprendido a sobreviver em ambientes hostis, Léo se tornou conhecido no mundo todo através da série de TV “Desafio em Dose Dupla”, produzido pela Discovery Channel. Fizemos também uma viagem na história buscando mostrar, mesmo que de forma sintética, a importância dos inquilinos famosos que residiram na Residência dos Governadores, palacete construído no centro de Cuiabá e tombado pelo Patrimônio Histórico. Ali viveram 13 governadores e suas famílias, entre os anos de 1941 até 1986, num ambiente carregado de acordos e decisões que marcaram, de forma indelével, a nossa história. Não poderíamos deixar de homenagear Jejé de Oyá, um ícone da cultura cuiabana, em emocionante texto produzido pelo intelectual Waldir Bertúlio. Outro tema que merece destaque é a ressocialização de presos, em ótimo trabalho desenvolvido pelo Dr. Geraldo Fernandes Fidélis Neto, juiz da Vara de Execuções Criminais de Cuiabá. Ademais curtam nossas conversas culturais com Ivan Belém, Pedro Casaldáliga, Eduardo Mahon e outras editorias, nas quais buscamos satisfazer nossos leitores, ávidos de boas novas.


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expediente

lume Mato Grosso

ELEONOR CRISTINA FERREIRA Direção/Revisão Geral João carlos vicente ferreira Editor Geral marlene renck Diretora Financeira Maria rita uemura Jornalista Responsável Beatriz Saturnino e alline Marques Redação Maria Angélica de Moraes, Maurício Vieira, Malu de Souza, Carlos Ferreira, Daniel Scaravelli, Paulo de Tarso, Ana Maria Ribeiro, Eduardo Mahon, Cecília Kawall, Loyuá Ribeiro Letícia Baeta, Pe. Felizberto Samoel da Cruz, Daniel Scaravalli, Willian Gama, Luiz Antônio Peixoto Valle, Vera Capilé, Waldir Bertúlio E Wanderlei Magalhães Colaboradores André Romeu, Rai Reis, Júlio Rocha, José Medeiros, Laércio Miranda, Marcos Bergamasco, Mário Friedlander, Marcos Lopes, Bruna

Obadowski, Maria Carol, José Maurício, Luis Alves, Joyce Corrêa, Cecília Kawall, Jâna Pessoa Fotos LUME - Mato Grosso é uma publicação mensal da editora memória Brasileira Distribuição Exclusiva no Brasil Rua Professora Amélia Muniz, 107, Cidade Alta, Cuiabá, MT, 78.030-445 (65) 3054-1847 | 3637-1774 9284-0228 | 9925-8248 www.facebook.com/revistalumemt Lume-line revistalumemt@gmail.com Cartas, matérias e sugestões de pauta memoriabrasileira13@gmail.com Para anunciar DESIGN DOS GUIMARÃES Projeto Gráfico leo rocha foto mário friedlander Capa


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sumรกrio

28.

desenvolvimento regional

20. notas

34. economia

36. 40. sustentabilidade

turismo


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66.

42.

MARÇOS DE NOSSA HISTÓRIA

turismo

70. 80. 102. 84. MEMÓRIA

raízes

literatura

culinária


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C ARTAS

Nazismo

Parabéns pela reportagem sobre “Ladrilhos do Nazismo”, esclarecedora. A humanidade não pode repetir os graves erros que quase a levaram à destruição, causando muito sofrimento ao longo da história. Para edificarmos uma realidade de paz sólida, segura e perene temos que abolir o radicalismo.

A matéria de capa pede um momento de reflexão a toda sociedade para rever e coibir o crescimento de movimentos nazistas e de intolerância étnica, religiosa e social, advinda de maneira sutil e em mensagens subliminares. Rui Pereira do Nascimento Cuiabá-MT

Nair Gimenez Hass Colíder - MT

Escreva para a LUME Rua Professora Amélia Muniz, 107, Cidade Alta, Cuiabá, MT, 78.030-445 revistalumemt@gmail.com

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/revistalumemt


lumeMatoGrosso Soja O cultivo de grãos em Mato Grosso contribui para a consolidação do desenvolvimento econômico da Nação. É necessária uma expansão sustentável das terras de plantio, para isso sugiro que a Revista LUME aborde esse tema, em reportagem aprofundada nas questões econômica, social, cultural e histórica. Márcio Torres Campo Verde - MT

pouca gente conhece de Mato Grosso, que sua riqueza mineral é muito maior do que se imagina. Marco Aurélio Dantas Cáceres - MT Design Gostei do projeto gráfico e das editorias da LUME. Franciele de Arruda Cuiabá - MT

Metamat Quero parabenizar esta revista pela forma com que foi conduzida a entrevista com Elias dos Santos. Ele soube mostrar a importância da instituição para o Estado e deu dicas necessárias sobre a nossa riqueza mineral. Gustavo Moura Machado Cuiabá – MT

Loucura e espiritismo A matéria “As relações entre a loucura e o espiritismo” publicada na edição de dezembro da revista LUME, é um passo importante no sentido de mostrar a angústia vivida pelas pessoas que estão envolvidas com doentes mentais. Desnudar estigmas é uma tarefa difícil e ousada. Alfredo Cesar Rizzo Várzea Grande-MT

Gostei da entrevista, pois mostrou um lado que

Zika Sugiro que a revista

produza reportagem especial sobre o mosquito transmissor da dengue, zika e shikungunya. Certamente será ótima contribuição. Roberto Azevedo Cuiabá - MT Roaming Parabéns por abordar o assunto que, por vezes silencioso, tramita no Senado. Falo da reportagem sobre o fim do “roaming”, que agora só falta entrar em operacionalidade. André Bezerra Albuquerque Cáceres - MT Câncer Tendo em vista milhares de pessoas que sofrem com tal doença, venho através deste elogiar o artigo escrito sobre esse tema, publicado na última página da edição de novembro/2015 Jorge Uemura Cuiabá - MT

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personalidade

Dom Pedro Casaldáliga Plá

Bispo, escritor, poeta, humanista e indianista

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Catalão nascido na localidade de Balsanery, na Espanha, a 16 de fevereiro de 1928, Dom Pedro CasaldáligaPlá, completa 88 anos de idade, neste fevereiro de 2016.O religioso desenvolve seu trabalho

junto à Prelazia de São Félix do Araguaia desde a década de 1970, ocasião que passou a demonstrar seu apego às coisas do lugar, literalmente traduzido em textos poéticos, estudos teológicos e denúncias sobre abusos políticos e sociais.


va dizer que sua obra seria propriedade da Igreja dos Pobres, do Povo e da Terra. Por sua importância cultural o Estado, através da Secretaria de Cultura, promoveu o tombamento desses painéis. Em 2003, Dom Pedro Casaldáliga passou a integrar o seleto grupo de bispos aposentados. Em 1º de maio de 2005, foi substituído em suas funções de bispo por Dom Leonardo Steiner, no entanto, por vontade própria, continuou residindo na mesma casa em São Félix do Araguaia. Seu amor e apego àquela região é imensurável. Mesmo com a saúde debilitada e podendo optar por centros maiores, com mais recursos e infraestrutura adequada para tratamento necessário, preferiu mesmo é permanecer em São Félix, ás margens do portentoso Araguaia e da Ilha do Bananal, ponto de morada de povos das matas. Por sua sabedoria e liderança incontestáveis, sua residência em São Félix do Araguaia vive abarrotada de pessoas à procura de conforto espiritual e material, onde sempre são atendidas. Sob sua orientação foi constituída uma biblioteca que possui mais de 4.000 volumes e mais de 280.000 documentos catalogados. Verdadeiras relíquias estão arquivadas nessa biblioteca, que vão

desde depoimentos gravados sobre invasões de terras e suas conseqüências, até gravações em vídeo sobre fatos históricos,constituindo-se em um imenso banco de imagens. A biblioteca foi criada e é mantida sob parceria com o governo da Catalunha (Espanha) e com a Fundação Conim, também espanhola. O trabalho de catalogação foi feito pelos “Arquivistas sem Fronteiras”, uma ONG que se propõe a desenvolver esse tipo de trabalho em vários países do mundo. O diretor de teatro Flávio Ferreira, cuiabano que está à frente do Grupo Cena 11, produziu no início da primeira década do séc. XXI, uma peça dedicada a Dom Pedro Casaldáliga, com o título de Fica Pedro, que obteve bastante sucesso nos palcos de Cuiabá. Entre os anos de 2012 e 2014, mesmo estando com a saúde comprometida, Dom Pedro se colocou ao lado do povo indígena xavánte, da região nordeste, notadamente os que estavam em litígio com fazendeiros e o governo, tendo como questão a posse da Terra Indígena Maraiwátséde. Nesse período ocorreram sérias ameaças de morte ao valente bispo, que não se intimidou e reforçou seu ponto de vista, no entanto, tomando cuidado por onde andava e com quem andava.

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Pedro, como gosta de ser chamado pelos fiéis e amigos, há décadas se destaca como um aguerrido e combativo líder espiritual de povos indígenas e semterras da região nordeste matogrossense. Tem publicados vários livros e ensaios, comoClamor Elemental, publicado em 1971 e, ainda, Cantares de laEntera Liberdade e Águas do Tempo. Numa parceria com Milton Nascimento, Pedro Tierra e Martins Coplas produziu Missa da Terra sem Males e Missa dos Quilombos. Por compreender a importância cultural regional e as agruras pelo qual passavam as pessoas naquelas difíceis décadas de 1970/1980, Dom Pedro convidou o artista plástico espanhol Cerezzo, também conhecido por Mino, para produzir murais em igrejas da região nordeste matogrossense. O trabalho foi realizado nas cidades de São Félix do Araguaia, Ribeirão Cascalheira, Luciara, Santa Terezinha e adjacências. Nesse período o Vale do Araguaia vivia uma ambiência hostil em função do período da ditadura militar. Com estilo próprio e inconfundível o pintor buscou sempre retratar em seus painéis os rostos das pessoas sofridas que estavam à sua volta, que faziam parte de seu convívio. Despojado de vaidade costuma-

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JosĂŠ Eduardo Fernandes Moreira da Costa

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A Mítica Fronteira Oeste do Brasil

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Por JOAO CARLOS VICENTE FERREIRA

e hoje vivemos de costas para os países da América do Sul, outro panorama se verificava antes da conquista e ocupação do oeste brasileiro, pelos paulistas e portugueses. As fronteiras fixas entre povos e idiomas não existiam, podendo se observar até um sustentável intercâmbio. Segundo relatos tratava-se de um corredor cultural, utilizado pelos povos que habitavam terras de Mato Grosso, desde o imenso Planalto dos Parecis chegando até o Altiplano boliviano. Possivelmente funcionava nos moldes do “Caminho de Peabiru”, estrada interoceânica, de vários ramais, construída pelo povo inca em parceria com outras nações, em solo brasileiro. Para falar sobre este assunto que envolve de forma direta os povos indíge-

nas, espaços sagrados, projetos estruturantes e, também, a política contemporânea, convidamos o professor José Eduardo Fernandes Moreira da Costa, indigenista lotado na Funai, geógrafo com especialização em Antropologia Social e mestre em Geografia Cultural. EM SEU LIVRO “A COROA DO MUNDO”, PUBLICADO EM 2006, VOCÊ ABORDA TEMAS DA MITOLOGIA INDÍGENA REGIONAL ISSO TEVE INFLUÊNCIA NA OCUPAÇÃO DA REGIÃO OESTE BRASILEIRA, TANTO POR ESPANHÓIS, QUANTO PORTUGUESES, A PARTIR DO SÉCULOXVI? Sim, mas não os mitos indígenas e sim aqueles criados pelos europeus. São dois os mitos que impulsionaram o andar de viajantes e exploradores espanhóis e portugue-

ses nos primeiros tempos de ocupação na América do Sul e, consequentemente, na região que hoje compõe o território de Mato Grosso. Primeiro é o mito Ilha Brasil, advinda dos escritos de Jaime Cortesão. Trata-se da trajetória oblíqua dos rios Guaporé e Paraguai, se fechando num continente e contribuindo para a formação das bacias hidrográficas da Amazônia e do Prata: são dois pantanais enormes, que formam, por dádiva divina, quase um continente. E, no meio disso tudo, no telhado do mundo, que compreende território de Rondônia e Mato Grosso, na Serra do Norte, temos a ocupação de inúmeros povos indígenas, dos mais diferentes idiomas, inclusive o tupi, um dos mais antigos do continente, visto que a língua tupi não é concentrada numa única região.

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O segundo mito é o Eldorado, que é a eterna busca por enormes riquezas fáceis, que atrai e impulsiona pessoas até os dias de hoje. Num primeiro momento o mito Eldorado foi decantado através do Caminho de Peabiru, sendo que pelos índios carijó e guarani descobriu-se, ainda no século XVII, muita prata e ouro. Peabiru era um caminho interoceânico que ia dar nos Andes, lá nos nossos irmãos do frio. Os espanhóis se valeram dessa trilha milenar, subiram o Rio Paraguai e vieram atrás do ouro que teria na nossa região. Registram-se, ainda, outros dois mitos fortes: os Martírios, na região do Planalto Central e Orucumacuam, na divisa do atual estado de Rondônia, nos dois lados do Rio Guaporé. Santa Cruz de la Sierra nasce neste ímpeto. O COMEÇO DA CONQUISTA DO ESTE BRASILEIRO DEUSE POR CUIABÁ, COM O PROPÓSITO DE CAPTURAR ÍNDIOS PARA ESCRAVIZÁLOS. VOCÊ ACREDITA QUE A PREIA INDÍGENA, NO OESTE, TINHA OS MESMOS PROPÓSITOS SOROCABANOS? Os bandeirantes se locomoviam em demandas homéricas atrás do ouro. Aqui na região centro oeste o negócio não era e nunca foi a preia indígena para negociar na feira de Sorocaba, que abastecia os mercados das Minas Gerais e do nordeste, com plantações de cana. A

preia era apenas o mote oficial. Era impensável aprisionar indígenas na região de Cuiabá e levá-los, aos milhares, em toscas embarcações, sem víveres necessários e sem equipamentos e equipes de segurança e de infraestrutura. O grande negócio sempre foi o ouro e o alargamento de fronteiras. Então, todo esse sentimento de brasilidade que possuímos foi construído pela ocupação do interior da nação. Por conta disso cito Vila Bela, Ouro Preto e a Serra Dourada, de Goiás, como pontos importantes para fortalecer esse sentimento de brasilidade. Eram os tropeiros, as comidas e o modo de vida interiorana. QUAL SUA OPINIÃO SOBRE A FORMAÇÃO DA FRONTEIRA OESTE BRASILEIRA? A partir de Mato Grosso é que se desenhou a fronteira oeste da nação. A nossa brasilidade se mistura com a própria história de Mato Grosso. A identidade se dá através do outro, de sinais diacríticos. Qual a diferença do brasileiro com o boliviano? Isso só vai se dar através das fronteiras. Mato Grosso tem uma contribuição enorme para esse sentimento de ocupação. COMO SE DESENHOU ESSE MAPA E A SUA GEOGRAFIA? Vila Bela da Santíssima Trindade é a chave do sertão. É o colchete, porque é ali que se fecha a porteira da imen-

sa região centro oeste brasileira. Vila Bela é fantástica, porque está na cabeceira dos dois grandes divisores de água das Américas, a Platina e a Amazônica. É a porta de entrada do sul americanismo. Os Andes funcionam como um paredão. Uma grande muralha. É pelas frestas deste grande muro que se atravessa os Andes. Então são rotas de migrações naturais, desde os tempos dos grandes impérios e no início da colonização espanhola. Os aimarás, do império incaico, desciam até a região do Guaporé. SE ELES DESCIAM, OS POVOS INDÍGENAS DE MATO GROSSO SUBIAM? EXISTIU UM CORREDOR CULTURAL ENTRE O PLANALTO DOS PARECIS E OS ANDES? Certamente. Um índio pareci, Daniel Cabixi, me falou com bastante propriedade, advinda de conhecimentos ancestrais, dentro da oralidade, da existência desse corredor cultural entre povos daqui e do Altiplano. Encontramos povos muito próximos dos aimarás e quéchuas, até na região que divide Brasil e Bolívia, atualmente. O próprio pareci, se você observar, o idioma é muito parecido com dos saraveca, que fazem parte dos chiquitanos nos dias de hoje. Esse povo vivia na região de fronteira, tanto em solo matogrossense quanto boliviano. Os pareci eram a continuida-


EXISTEM FORMAS DE IDENTIFICAR A EXISTÊNCIA DESSE CORREDOR CULTURAL? Futuras escavações arqueológicas poderão elucidar à luz científica tais afirmações, de que existiu sim, um corredor cultural entre os povos que ocupavam a região de Tiwanaku, no altiplano boliviano (sítio arqueológico dos mais antigos das Américas) até o Planalto dos Parecis. Não existe (ainda) um estudo e nem pesquisa nesse sentido. A quem interessa saber se existiu esse corredor cultural? Acredito que num primeiro momento somente para a sociedade acadêmica e certos segmentos da sociedade. A questão é que informações importantes às vezes não são socializadas e, a cada dia que passa, estamos buscando mais sentidos em nossas vidas. Certamente esse corredor cultural pode ser estudado e os re-

sultados aplicados em projetos estruturantes com amplas possibilidades de êxito na área sócio econômica entre o Brasil e países andinos. Entre os parecis existe o jogo de futebol de cabeça, que também é praticado por diversos povos desse possível corredor cultural. Os próprios chiquitanos tinham um jogo de futebol de cabeça, ainda conservado por alguns grupos na Bolívia. OS CHIQUITANOS ERAM PARTE DESSE CORREDOR CULTURAL? Sim, sempre fizeram parte das atividades de intercâmbio entre os povos que habitavam essa imensa territorialidade. Atualmente os chiquitanos são aproximadamente 150 comunidades, com aproximadamente 60 mil falantes na Bolívia e culturalmente muito próximo de nós. Em território brasileiro temos mais de 4 mil chiquitanos distribuídos em áreas dos municípios de Vila Bela, Porto Esperidião e Pontes e Lacerda. Hoje vivemos com as costas viradas para esse mundo chiquitano. As pessoas comentam que os chiquitanos são bolivianos, no entanto, a franja dessa história está dentro do território que se convencionou chamar de Mato Grosso. O centro nacional de arqueologia procedeu escavações em pontos da divisa Brasil/ Bolívia, com objetivo de determinar datação de ocupação dos chiquitanos. Muitos

não entendem como a ciência pode ajudar nesse propósito, mas existem muitos sítios arqueológicos, muito antigos, notadamente na região do Portal do Encantado, que comprova a antiguidade de sua ocupação. Não foram recolhidos, ainda, materiais para serem pesquisados sob resultados do Carbono 14, mas a equipe que trabalhou nessa operação é experiente e fizeram crer na real antiguidade da ocupação dos chiquitanos nesta vasta região do oeste matogrossense. O QUE É O PORTAL DO ENCANTADO? Trata-se de ponto histórico e sagrado para os chiquitanos, fisicamente é semelhante aos portais reverenciados pelos povos incaicos, a exemplo do Portal do Sol, de Tiwanaku. O Portal do Encantado, localizado na Serra de Santa Bárbara, noroeste matogrossense, é um conjunto harmônico de pedras, como se fosse construído pela mão do homem, no entanto, é de pedra natural. O Portal do Encantado também dá nome à área indígena do povo chiquitano, em terras de Mato Grosso. Esse corredor cultural, antes largamente utilizado pelos povos ancestrais, e hoje apenas imaginário, passa por este ponto. Esta imensa região também é área de tensão ecológica, de recursos genéticos e de sementes, possuindo patrimônio incalcu-

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de desse povo, os saraveca. E, certamente, por uma língua tão próxima, quase irmã, é que nos leva a essa conclusão. Dados historiográficos de personalidades como Paul Rivet comprovam essa proximidade, visto que as línguas aruaques são semelhantes. Pareci é aruaque. Saraveca é aruaque. Paiconecas, mochos e diversos outros povos são aruaques, daí você caminha para consolidar esse corredor cultural ancestral através da língua, do idioma, que é o maior patrimônio de um povo.

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“Portal do Sol”, em Tiwanaku, em gravura alemã do século XIX.

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lável. Culturalmente é muito interessante, visto ser área de movimentação mais antiga que a ocupação lusitana matogrossense. Esse portal não fica distante da Missão de São Rafael, e se mostra como área com imenso potencial turístico. O portal, em determinada hora do dia e de acordo com o posicionamento do sol, se projeta no paredão da montanha em forma de uma grande porta, sendo ponto sagrado e de grande respeito ao povo chiquitano. A exemplo do povo inca, que tinha bastante respeito pela natureza, desenha-se a historicidade dos chiquitanos nessa região do Portal do Encantado, graças a sua beleza e forma natural.

AS MISSÕES JESUÍTICAS ESPANHOLAS INFLUENCIARAM A CONCEPÇÃO DE CRENÇA ESPIRITUAL DOS CHIQUITANOS? A tríade Pai, Filho e Espírito Santo, na concepção da cosmovisão cristã não imputa sua propriedade, visto que esta composição será encontrada em outras culturas americanas, dentre elas a dos chiquitanos. Os nomes são diferentes, mas as funções são semelhantes, ou seja, Pai, Filho e Espírito Santo. De acordo com o padre Caballero, em depoimento no ano de 1706, foi registrado a existência de uma deusa entre os chiquitanos que tinha a

mesma representação de uma Nossa Senhora para os católicos: a deusa Quipozi. No entanto, não se tratava de uma imagem e sim de uma mulher casta e especialmente preparada para aquela função, que dentre outras coisas promovia a interlocução entre os chiquitanos e o Filho de Deus, correlato a Jesus. A Nossa Senhora dos chiquitanos é diferente. Interagia, cantava, falava. Existiam casas, espaços somente para isso. Ocorria a incorporação mediúnica. Registra-se que esta prática é anterior a ocupação jesuítica. É pré-colombiana. Importante explicar que a denominação chiquitano en-


O CHIQUITANO SE SENTE UM ESTRANHO EM SEU TERRITÓRIO DE ORIGEM, NO CASO O OESTE DE MATO GROSSO? Não. Não se sente como um estranho, mas com medo, especialmente pela rejeição. Todos possuem documentos, votam, são cidadãos, mas sentem-se inseguros. Era comum sofrerem, serem perseguidos e serem surrados na região de fronteira. Apanhavam e serviam de mão de obra escrava em abertura de fazendas, não somente por serem chiquitanos, mas por serem os donos originais dessas terras. Uma eterna briga fundiária, pois enquanto a terra não tinha valor pecuniário tudo estava bem, mas quando se iniciou o processo de valorização e busca por espaços para criação de gado a coisa mudou completamente. Tradicionalmente os índios sempre foram taxados de imundos, bandidos, ladrões, especialmente quando ocupam regiões fronteiriças. PORQUE VOCÊ DIZ QUE OS CHIQUITANOS SÃO INVISÍVEIS? Por não quase não serem referência bibliográfica em arquivos e livros. Afirmo que são invisíveis porque não se encontra muita coisa sobre esse povo nos livros de história. Especialmente no sé-

culo XX, período áureo da época da seringa, ocasião em que chiquitanos foram recrutados ou escravizados para trabalharem na coleta do látex. É estranho o pouco que se fala deles. É por isso que os chamo, eventualmente de invisíveis (notadamente em livros de história). QUAL A RELAÇÃO DOS CHIQUITANOS COM A CIDADE DE VILA BELA? A cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade - a Chave do Sertão - tem esse nome graças à genialidade dos portugueses, mestres em geopolítica. Até pouco tempo atrás a cidade era um espaço eminentemente negro, desde o êxodo de brancos que se deu por conta da queda do poder político e financeiro de Vila Bela. Na verdade, os chiquitanos sempre estiveram por ali, especialmente na margem esquerda do Guaporé, hoje Bairro Aeroporto, ou em chácaras, afastadas da cidade. Eles se concentram neste bairro que é ocupado por não índios e índios, mas com presença marcante de chiquitanos, congregando 150 famílias em torno de uma associação organizada de moradores. EXISTEM ÁREAS CHIQUITANAS DEMARCADAS? Não existe nenhuma área indígena chiquitana demarcada, muito menos homologada. A demarcação é etapa de um processo. Primei-

ramente vem o reconhecimento étnico, que já aconteceu, com dados e informações do período pré-colombiano. Posteriormente vem o processo de identificação, que é feito por um grupo de técnicos e estudiosos que se debruçam em cima de evidências e emitem pareceres. De três projetos de demarcação, apenas um chegou ao processo de identificação, que é o Portal do Encantado, com área delimitada, as outras ainda não foram. Depois de todas as etapas abre-se um processo administrativo para verificação de contestações. Nesse caso, o próprio Estado contestou, o que eu considero um paradoxo, porque a identificação ocorreu com recursos do Prodeagro. Então, o próprio Estado, compõe um grupo técnico, onde existe uma programação contratual, com um banco de dados, e existia a proposta de regularização da terra chiquitana. Um contrato de caráter internacional, se compromissando a identificar essas terras indígenas em Mato Grosso. Financiado e pago isso com recursos do Prodeagro e nem foi dinheiro da Funai, e depois o Estado entrou, quando acabou o interesse político e cessou o recurso financeiro, com a contestação da demarcação. Então note-se que não é sério. O Estado não é sério. Inclusive o atual governador Pedro Taques, enquanto Procurador da República, na época, há mais de dez anos, em 2003, nos ajudou mui-

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volve vários grupos, com dialetos semelhantes. Um amálgama cultural.

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to nisso. Taques como Procurador Federal beneficiou muito o povo chiquitano. Espero que o governador, pelo seu histórico, possa resolver essa situação, ou contribuir para sua resolução. Não se justifica duas posturas. Como é que o governo do Estado assume um compromisso internacional e depois, por questões políticas, muda a regra do jogo. QUAL É A SITUAÇÃO DE LEGALIDADE DA T. I. PORTAL DO ENCANTADO? A Terra Indígena Portal do Encantado é declarada, mas não demarcada. A maior parte dessas terras (T.I.) pertencem à União. São terras com títulos dominiais e não terras devolutas. No entanto, mesmo sendo pertencente à União corre o risco de serem griladas pelos fazendeiros, pois no governo do presidente Lula foi produzida a famosa “MP do Grilo”, que depois virou lei e que por ser em área de fronteira, de interesse nacional, inicialmente iriam ser destinados os espaços às estradas e ao aparelhamento de segurança. Essa MP dava possibilidade de transformar essas terras em propriedades privadas. Num segundo momento às terras indígenas e quilombolas e, posteriormente, à particulares. Aí é que mora o perigo. Existe hoje no Ministério Público Federal projetos que visam resguardar esse patrimônio em benefício dos índios, visto que é área fronteiriça ao Parque Estadual de

Santa Bárbara, uma região espetacular e dos pontos mais altos do Planalto Central, naquilo que denominamos de “colchete”, entre as divisas dos municípios de Vila Bela, Porto Esperidião e Pontes e Lacerda. Os conflitos fundiários que vivemos no país são por falta de seriedade e postura de Estado, não de governo. Tem muito mais postura de poder e de governo do que de Estado. EXISTE IDENTIFICAÇÃO CULTURAL DE CHIQUITANOS E A SOCIEDADE QUE HABITA A REGIÃO DE FRONTEIRA, ALÉM DO IDIOMA ARUAQUE, DOS PARECIS? No começo do ano 2000, eu estava pesquisando na Bolívia, região de fronteira e, em certa ocasião estava sentado num banco, numa aldeiazinha chiquitana, numa festa de casamento e se ouvia música regional boliviana. Muitos convidados se faziam presentes, mas todos estavam acomodados, sentados, somente ouvindo a música, de repente, ouviu-se no salão o rasqueado cuiabano. Foi o suficiente para todos se levantarem e passassem a dançar aquela música, aliás, muito apreciada naquela região fronteiriça. Ali vi a identificação daquela gente com Mato Grosso. Naquele “limpa banco”. E parece que isso não é reconhecido, me parece discriminação, que vem apenas de uma elite.

É POSSÍVEL DEFINIR ESSE SENTIMENTO DE DISCRIMINAÇÃO? Sobre essa discriminação é difícil definir. O governo de Mato Grosso já se valeu dessa gente em várias ocasiões, lembremo-nos da fundação de Cáceres. Também no período da borracha foi mão de obra farta. Ocorre que os chiquitanos são uma população pendular, com parentes do lado de cá e do lado de lá (da fronteira). Depende das políticas de perseguição adotada, por um ou outro país, aí ela pendula (a sociedade chiquitana). Por ser fronteira existe a discriminação. Nasceu no Brasil é brasileiro, mas se casa na Bolívia e daí? Antes de serem bolivianos eles são chiquitanos. Aí voltam para o Brasil, mas não podem. Oras, temos que perder essa mania de que a fronteira divide. ENTÃO A FRONTEIRA NÃO DIVIDE? Fizemos um grande trabalho para eliminar essa segregação. O movimento que essa sociedade possui é o de caminhar. O caminhar deles é tão necessário como respirar. Então temos que rever conceitos, a Bolívia é, na verdade, a nossa grande porta de entrada cultural e econômica. No entanto, não a utilizamos. Pensemos numa cidade com 2 milhões de habitantes (Santa Cruz de la Sierra e entorno), com acesso quase todo asfaltado, há poucas centenas de quilômetros de distância e enor-


COMO O PORTAL DO ENCANTADO, EXISTEM OUTROS PONTOS SAGRADOS? Sim, vários, de povos que habitam o oeste matogrossense, a exemplo dos nambiquára. O povo nambiquára é o mais antigo na imensa região oeste, com aproximadamente 14 mil anos de ocupação deste espaço. São dados científicos, confirmados por notáveis arqueólogos (Aguedon, Müller), em escavações, ao longo das últimas décadas. Muito ainda está por ser descoberto, pois grande parte de seu território sagrado está intocado e guardado pelos nambiquára. Vamos chegar até os dias atuais e abrir o leque da história e abordar os pontos sagrados das cavernas nambiquáras, representado pelo “Abrigo do Sol” que é único nas Américas. Eles têm uma visão daquilo de forma metafísica. Para os nambiquára esse abrigo guarda os espíritos mais antigos da humanidade, visto que eles se consideram os seres humanos mais antigos do nosso atual ciclo de vida. Se para nós,

maioria de cristãos, o mundo já acabou com o dilúvio, para os nambiquára isso já ocorreu em três ocasiões. O primeiro foi na Escuridão, o segundo o Céu desabou e o terceiro foi pelo Dilúvio. APESAR DA RIQUEZA CULTURAL OS POVOS INDÍGENAS AINDA SÃO DESRESPEITADOS EM SEUS DIREITOS? Em muitos casos sim. Tem uma coisa que nós aprendemos com os povos indígenas: conhecer para respeitar. Tudo que se desconhece, se tem medo, é do nosso próprio instinto de sobrevivência. Narciso acha feio o que não é espelho. Mas, se conhecer, vai dissipar esse medo. E a própria questão de justiça, em relação à terra, ela vem naturalmente, vem por gravidade. Vou dar um exemplo: Estamos promovendo nova identificação da Terra Indígena Tereza Cristina, do povo bororo. Isso se dá pelo fato do rito processual ter sido contestado por não índios que ocupam parte daquelas terras, dizendo, inclusive, que não observamos a lei. Paramos tudo o que estávamos fazendo. Sabemos que vi-

vemos hoje sob o manto da justiça. Graças a Deus. Daí o reestudo, vamos colocar os pingos nos “is”. Em 1909, essa reserva convivia com uma colônia militar. Essa área teve demarcação posterior, com ajuda do SPI, mas naquela época oferecia, através de recursos governamentais ferramentas, roupas e cachaça. O uso da cachaça era para “quebrar” a rotina, falar que isso não ocorreu é negação à história. Com fatos como esses percebe-se que o governo não é sério. Recentemente descobrimos um documento da década de 1960, lembrando que naquele período era o Estado quem demarcava a terra, atribuição atual da União. Nesse documento o governador de Mato Grosso, o qual não acho necessário citar o nome, promove, por Decreto, a troca de 35 mil hectares de terras, pertencentes à Área Indígena Tereza Cristina, por um trator, algumas ferramentas e poucas cabeças de gado, destinados aos índios daquela reserva. Os 35 mil hectares foram destinados aos fazendeiros que se avizinhavam da área indígena. Isso não é falta de respeito?

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me mercado consumidor. E nós não temos negócios com essa gente! Estamos de costas viradas para esse enorme potencial econômico e cultural. Isso deveria ser prioridade, mas não é. Não se pode abrir mão de um patrimônio desses, o que eu sinto é que Mato Grosso não possui projetos estruturantes. Deveria ter, mas não tem.

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NOTAS

CPF DA CULTURA Mato Grosso foi contemplado com um pacote de leis que beneficia em muito o setor cultural. São ao todo quatro propostas que contemplam o Plano Estadual de Cultura, o Sistema Estadual de Cultura, o Fundo Estadual de Fomento à cultura e o Conselho Estadual de Cultura. O conjunto, resultado de uma serie de debates feitos com a participação da sociedade, se traduz em um novo marco legal para a cultura em Mato Grosso.

DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS O TCE-MT, renomeou a Escola Superior de Contas, que foi batizada de Conselheiro Oscar da

Secretário de Cultura Leandro Carvalho, mentor do CPF

Costa Ribeiro, para Silva Freire, em homenagem ao professor, advogado e poeta Benedito Santana da Silva Freire, um ícone da cultura matogrossense, falecido em 1991. A renomeação deu-se por cumprimento à lei nº 12.781, de 10 de Janeiro de 2013, que dispõe sobre a proibição de atribuir nome de pessoa viva à denominação de

logradouros, obras, serviços e monumentos públicos. Ocorre que Oscar Ribeiro está vivo, o que contraria a lei. Até aí tudo bem, o TCE apenas cumpriu a lei. Mas o que dizer de ginásio de esportes, avenidas e ruas com nomes de ilustres matogrossenses, que estão vivos, ainda neste fevereiro de 2016? Com a palavra a justiça de Mato Grosso.

Berçário em Mato Grosso dá à luz 300 mil tartarugas-da-amazônia O Governo de Mato Grosso e o Ibama são parceiros no projeto instalado na área estadual Refúgio de Vida Silvestre. Além de tirar a tartaruga-da-amazônia da lista de extinção, o Refúgio se tornou um berçário de várias espécies de bichos e plantas. As possibilidades são muitas e as opções, as mais variadas.

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JAYME CAMPOS O político e empresário Jayme Campos, de Várzea Grande, analisa possibilidades de sua volta ao Senado Federal, em 2018.


lumeMatoGrosso ASSEDIO SEXUAL Denúncias gravadas de assédio sexual no trabalho foram divulgadas por Sheena Shirani, apresentadora de TV no Irã, nas redes sociais. A conversa, que está estimulando mulheres

iranianas a quebrar o silêncio, foi ouvida mais de 120 mil vezes na página da apresentadora no Facebook e em um site iraniano de notícias baseado fora do país. Sheena é divorciada, tem um filho, e é

apresentadora da Press TV, desde 2007, canal estatal com notícias em inglês. Após o incidente de assédio, ela pediu demissão e deixou o país, para, em seguida, publicar o áudio na internet.

CONSTITUIÇÃO A Assembleia Legislativa deve promover reformas nos textos da Constituição de Mato Grosso ao longo de 2016. O ato foi publicado no Diário Oficial. O deputado estadual Emanuel Pinheiro (PR) é um dos integrantes da Comissão Técnica Administrativa do Poder Legislativo, que irá promover essa atualização (...)”O instrumento jurídico tem a função de reunir as normas que organizam os elementos constitutivos do Estado”, lembra o parlamentar, que é advogado e professor de Direito Constitucional.

ULTRAMACHO A 2ª Edição da Toroari Night Race está com inscrições abertas. Corrida noturna em estradão com provas de 12k (solo) e 21k (solo e dupla) no entorno do Morro de Santo Antônio. Com muito rock n’roll e cerveja gelada. Tudo sob a luz da lua cheia. Data da Prova: 7 de maio

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A Ressocialização e o Princípio da Dignidade Humana

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Por JOAO CARLOS VICENTE FERREIRA

sistema prisional matogrossense enfrenta certa dificuldade na ressocialização do preso. Existem alternativas para o sistema carcerário, sendo muitas delas previstas na própria legislação, mas falta comprometimento de todos para que sejam postas em prática ações que procurem reduzir os níveis de violência e auxiliem na recuperação do detento.A participação da sociedade na reintegração do preso ao convívio social é um fator essencial para que a ressocialização surta efeitos positivos.Os obstáculos enfrentados pelos detentos após adquirirem liberdade ainda são muitos. Infelizmen-

te, vê-se que a sociedade, diante da violência e criminalidade, se deixa levar pelo sensacionalismo e preconceito criado pelos meios de comunicação e acaba adotando uma postura nada humanista em relação aqueles que acabaram de sair das prisões e procuram seguir uma vida longe do crime. Convidamos o Dr. Geraldo Fernandes Fidélis Neto, juiz da Vara de Execuções Criminais de Cuiabá, para falar sobre a reinserção do apenado à sociedade. O Dr. Fidélis é paulistano, tem 47 anos e é filho de Walter Fernandes Fidélis,ex-prefeito de Cáceres e deputado estadual na 10ª Legislatura, de 1983 a 1987.


as pessoas do sistema penitenciário de Mato Grosso e do Brasil, todas, sem exceção, vão um dia ganhar liberdade, aí eu te pergunto: Que tipo de pessoa nós queremos vivendo conosco? Bichos enfurecidos? Não, pessoas melhoradas. Para isso acontecer precisamos investir. Há que se investir no sistema penitenciário, porque é lá que tem problema. Ali é uma bomba relógio que pode estourar lá na frente. São crimes que estão programados para acontecer daqui a pouco e nos cabe desmantelar esse propósito. A resposta é essa: Acredito em resultados positivos, desde que haja investimentos. ESSES INVESTIMENTOS DEPENDEM DE VONTADE POLÍTICA? É tudo isso. Mas quero falar de cerca de três anos para cá, que é quando acompanho mais de perto. Acredito que o ponto alto do governo anterior, tão criticado, foi a criação de um projeto de ressocialização, com a vinda das tornozeleiras eletrônicas a Mato Grosso. Existem três formas de regimepenitenciário: fechado, semi -aberto e aberto. Regime fechado se cumpre nas penitenciárias. O semi-aberto é nas colônias penais, o aberto é nas casas de albergados. Em Mato Grosso não existe colônia penal. Até setembro de 2014, as pessoas ganhavam a progressão de regime, do fechado para o

semi-aberto e entravam num regime de “quase teatro”. Tinham 100 vagas na Casa do Albergado, em Cuiabá, para uma demanda de mais de 1.500 pessoas. Era um “faz de contas”. Ao iniciarmos o uso da tornozeleira eletrônica tivemos como aferir quem estava cumprindo corretamente a pena. Quem não está cumprindo, dorme na cadeia. Mas quem está cumprindo, hoje estimado em 80% das pessoas, merecem respeito, vamos investir nessas pessoas para melhorá-las, para capacitá-las. A TORNOZELEIRA ELETRÔNICA É UM BOM INSTRUMENTO DE FISCALIZAÇÃO DO APENADO? Sim, antes a reincidência de crimes era de 70%, em Mato Grosso, e na média nacional 82%, com o uso contínuo de tornozeleiras, este número baixou para 20% apenas aqui no Estado. Estamos tendo problemas de estoque de tornozeleiras, atualmente, mas o Secretário de Justiça, Dr. Luís Fabrício, já está trabalhando para garantir mais tornozeleiras. No sistema norte americano a reincidência é de 50%, e lá tem a fama de prenderem mesmo. Infelizmente, em Mato Grosso, esses 20% é que saem na mídia. Fazem o barulho, pois quando a pessoa “cai” na rua, vem logo o comentário de que usa a tornozeleira. Em alguns casos a tornozeleira leva à prisão, é bom também, se foi pre-

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COMO O SENHOR VÊ A RESSOCIALIZAÇÃO NO ESTADO DE MATO GROSSO? TEM RESULTADOS POSITIVOS? Nós podemos avançar nesse campo. Os nossos presídios são antiquados, nossas penitenciárias estão defasadas, estão superlotadas. Não há como falar de resultado positivo, quando se colocam pessoas para ficarem umas em cima de outras, a exemplo do antigo Paschoal Ramos, a PCE, com pouco mais de 800 vagas, mas com mais de 2.000 pessoas lá dentro. A mesma coisa ocorre no Centro de Ressocialização de Cuiabá, antigo Carumbé, possui 380 vagas para aproximadamente 800 pessoas lá dentro. Então, diante disso, imagine pegar uma pessoa qualquer, colocar no meio de outras ali dentro, essa pessoa vai ter que aprender a se enfurecer para poder sobreviver naquele espaço. É meio de sobrevivência. Estamos falando de um outro mundo. Ali é um mundo paralelo, infelizmente. Pergunte se eles querem trabalhar? Só querem. Eles são vagabundos, não querem fazer nada da vida? Não, de jeito nenhum. O Estado tem que dar condições para que essas pessoas paguem suas penas com firmeza, pelos crimes que cometeram, mas com humanidade também, buscando capacitar essas pessoas, para que possam continuar vivendo sem praticar crimes. Todas

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Dr. Geraldo Fidelis

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ESTE SISTEMA DE MONITORAMENTO TEM BONS RESULTADOS? O resultado é excelente, no entanto, deixo bem claro que é paliativo. Para ser cumprida a pena, tem que ter Colônia Penal. O regime semi-aberto não é com tornozeleira, o correto é ser cumprido em ColôniaPenal, que é uma cadeia onde o apenado chega por volta das 20h para dormir. Ali existe a possibilidade do preso trabalhar, diminuir sua pena e se humanizar, todavia, não existe esse tipo de ferramenta em Mato Grosso. Eu ouvi do Secretário Luís Fabrício que serão construídas Colô-

nias nos principais pólos do Estado, Cuiabá, Rondonópolis, Sinop e Barra do Garças. Isso vai ser muito importante, porque daí as tornozeleiras ficarão apenas para o regime aberto. No entanto, são planejamentos. Existe projeto para construção de CPP - Centro de Pena Provisória, em Várzea Grande, para aproximadamente 1.000 pessoas. Isso é ótimo, vai aliviar e desafogar o sistema. EXISTEM PROJETOS DE REINSERÇÃO PARA O PRESO QUANDO EM LIBERDADE? Existe a Fundação Nova Chance. É um trabalho muito bonito e eficaz que eles fazem. A direção oferece oportunidades de empregos e agencia escolas e estabelece parcerias com o Sistema “S”, para poder ensinar a prática de marcenaria, mecânica dentre outras atividades. Esses encaminhamentos são feitos, geralmente, após audiências de conciliação. Existe também o benefício de a cada 3 dias trabalhados a redução de 1 dia de pena. Acaba sendo um ótimo negócio aprender uma profissão, pois além de tudo a possibilidade de liberdade é antecipada. Outra vantagem de se trabalhar na Fundação é que lá eles não sofrem preconceito algum da sociedade. O SENHOR É CONHECIDO NO MEIO JURÍDICO COMO O JUÍZ DA PAZ. A VARA DA QUAL O SE-

NHOR É JUÍZ NÃO ACUMULA PROCESSOS EM CIMA DE BALCÕES E OS ADVOGADOS ELOGIAM A AGILIDADE E A FORMA COM QUE OS PROCESSOS TÊM ANDADO, A QUE O SENHOR ATRIBUI ESSE EXITO? Muito obrigado por eles. Eu só faço o que acho correto, faço aquilo que aprendi com meu pai, que é advogado e me ensinou a importância do diálogo. Não se deve bater de frente. Conversar bastante e não ficar indeferindo processos por nada, é a minha tônica. Indefiro sim, mas depois de muito estudo, pois é fácil falar “indeferido”, mas dói. As pessoas têm que ser tratadas com carinho, respeito e dignidade. Olho no olho, as pessoas que erram sabem disso. Mas não querem ser humilhados, feridos e nem terem suas dignidades feridas. Exatamente nesse ponto que eu faço o contrário, evitando que haja indeferimento. Eu tenho experiência na área advocatícia, pois trabalhei como advogado por sete anos, sou filho e irmão de advogado, e dois filhos advogados. Então, não é com soberba e empáfia que vamos buscar algo melhor. Nossas respostas não estão dentro do gabinete. Aqui temos que ser ágeis e encaminhar processos, mas a resposta está lá fora. O problema nosso é meramente social. São pessoas que não passaram no teste, lá na sua família, na sua escola e depois foram reprovados pela

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so é porque praticou algum tipo de crime. Ao “cair”, dá notícia, mas infelizmente, não se fala dos 80% que estão sendo recuperados, pois são pessoas que poderiam estar voltadas para o crime, mas não estão. A tornozeleira inibe, mas vários fatores levam a esses 20%, inclusive a grave crise financeira pela qual estamos passando. O fato desses 20% voltarem para o crime, acaba gerando preconceito para os outros 80%. Ninguém contrata pessoas que vieram desse regime, tem receio. No entanto, as pessoas controladas são as mais eficientes, tem hora para chegar e sair, não desobedecem porque tem que cumprir ordens. São as pessoas mais corretas que temos e a sociedade tem que saber disso.

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sociedade. Ás vezes aos 18 anos já saem para uma situação de prisão. Nem tiveram tempo de viver ainda, então nós temos que resgatar a possibilidade de vida dessas pessoas. O SENHOR RECEBE DIARIAMENTE FAMILIARES DE DETENTOS COM OS MAIS DIFERENTES PROBLEMAS, COMO CONSEGUE DAR CONTA DE OUVI -LOS E COLOCAR OS PROCESSOS EM ORDEM? Os familiares, a exemplo de suas pessoas queridas que estão presas, são carentes de um bom tratamento, com bastante atenção, pois estão vulneráveis. Normalmente querem ouvir apenas uma palavra, mas tem que ser da boca do juiz, ter certeza que o processo de seu ente não será esquecido, ficará sem respostas. Nós buscamos, com nossa assessoria toda funcionando, esse contato pessoal com eles, gostaria de falar com todas as pessoas, mas as vezes, por conta do tempo, não é possível.

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PODEMOS DIZER QUE TEMOS UM SISTEMA PENAL RESSOCIALIZADOR? Está voltado a isso. As cabeças estão mudando, ocorreu uma modificação muito drástica de 2013/2014 para os dias atuais. São policiais, pessoas vocacionadas para atividades especificas do sistema prisional. Vivemos numa sociedade que tem seus defeitos, e que, quando caem em erro, merecem uma nova chance. Vejo que a Fundação Nova Chance tem que ter suas atividades alastradas para o interior de Mato Grosso. Essa visão de conduta processual é uma conduta de operações que me leva a responder positivamente a sua pergunta. Sim, temos um sistema voltado à ressocialização de pessoas. O QUE O SENHOR ESPERA DE NOVIDADES PARA O SISTEMA PRISIONAL EM 2016? Eu quero mais vagas. Mais tornozeleiras. Quero que as oportunidades de trabalho na Fundação Nova Chance.

Quero discutir mais com a sociedade. A nossa grande meta neste ano é colocar em prática vários projetos estruturantes. Vamos conversar com o Hemocentro, sobre o que é necessário para que os apenados possam doar sangue. Muitas pessoas lá querem ser doadoras, querem colaborar. Vejo que uma ação dessa contribui para humanização dos apenados, que são bastante sensíveis e humanitários sobre doação de sangue. O QUE SAI MAIS BARATO, COLOCAR A TORNOZELEIRA NO APENADO OU MANTÊ -LO EM COLÔNIAS PENAIS? Colocar tornozeleiras, sem dúvidas. No entanto, a lei determina que se tenha colônias. Pessoas vítimas de recuperando os querem cumprindo toda a pena. É importante que ocorra o cumprimento da pena, nos três regimes. A tornozeleira não é para suprir vagas não. Hoje é um paliativo em função da ausência de colônias penais em Mato Grosso. COMO EVITAR ENTRADA DE DROGAS E CELULARES NOS PRESÍDIOS? Esse material todo errado entra através das pessoas que têm acesso aos presos. Quem são? Familiares sim, agentes penitenciários sim, advogados sim. Nós temos que evitar esse acesso. Como? É conversando, de maneira polida, para não se ter acesso a esse tipo de material.


lumeMatoGrosso Se for necessário tem que cortar na pele, muita gente neste governo foi exonerada por agir de forma irregular. Em relação aos familiares tem que ter uma posição mais firme na entrada, não com revista vexatória, quando a mulher tira a roupa, inclusive as íntimas e procede agachamento. Isso não. Mas através de uma revista feita por equipamento eletrônico, o Body Scan um scanner pessoal. Esse equipamento faz uma varredura, inclusive interna. É eficaz mas custa muito caro. Não temos ainda em Mato Grosso, mas determinei que fosse comprado, estamos em vias de licitação. PODEMOS AFIRMAR QUE A RESSOCIALIZAÇÃO DE APE-

NADOS É SEU OBJETIVO? Não há pessoa alguma, nenhum de nós que nunca errou ou que nunca errará na vida. Toda pessoa tem o direito de uma segunda chance. É preciso reconhecer que errou e não o cometer novamente. Problemas que essas pessoas tiveram, muitas em suas casas, por ter sido abandonadas por seus pais, em alguns casos indo parar nas ruas. A maioria dessas pessoas são vítimas e tiveram poucas oportunidades na vida, inclusive sem acesso à educação digna. Na adolescência iniciamse nas drogas, a exemplo da maconha e depois passam para a pasta base, crack, um furtinho aqui, outro ali, de repente um homicídio daí pronto, aca-

bou com a vida da pessoa. Essa pessoa tem algum tipo de direito? Tem. Temos que oferecer condições para que ela possa recuperar-se, pois se a sociedade virar as costas para essa pessoa, poderemos estar colhendo, no futuro, o fruto daquilo que plantamos, em tempos atrás. É um problema meramente social. Esses documentos aqui, esses papéis (disse referindo-se a enorme pilha de processos) tem que ser resolvidos, a questão é de ordem social. Se baterem à nossa porta e tiverem seus pedidos negados, vão ter que sobreviver, de uma maneira ou de outra. Eu luto combatendo o crime com inteligência. Essa é nossa função. Esse é nosso Objetivo.

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Diamantes e O estado de Mato Grosso tem potencial para se destacar no cenário nacional como um dos principais produtores de bens minerais, notadamente o diamante, além de pedras coradas

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amor do ser humano pelos diamantes e pedras preciosas começou na Índia, onde os diamantes eram garimpados em rios e nascentes. Alguns historiadores acreditam que os diamantes eram comercializados na Índia desde o ano 4 a. C. Os diamantes brasileiros foram inicialmente encontrados nas peneiras dos garimpeiros de ouro que os prospectavam em pequenos rios e riachos. Com uma produção cres-

cente, o Brasil dominou o mercado de diamantes por mais de 150 anos. Com a mudança das fontes de suprimento o mercado de diamantes também evoluiu. A história da indústria de diamantes moderna realmente começa no continente Africano, com a descoberta, em 1866, de diamantes em Kimberley, na África do Sul. Vinte e dois anos depois destas descobertas o empreendedor Cecil Rhodes criou a De Beers Consolidated Mines Limited.


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Pedras Coradas SIGNO DA FORTUNA A descoberta do ouro na Vila de Cuiabá, por várias levas de paulistas, liderados por Pascoal Moreira Cabral, a partir de 1719, marcou o inicio da atividade mineral no Estado, não demorou e muito diamante foi encontrado em Alto Paraguai Diamantino. Em diferentes ciclos, a atividade mineral vem contribuindo sobremaneira para o desenvolvimento social e econômico de várias cidades matogrossenses. No começo do século XX ocorreram investidas no leste, sul, centro norte e centro sul de Mato Grosso. Na região de Paranatinga foram encontradas gemas de alto

valor e qualidade nas primeiras décadas do século XX. O feito é atribuído à garimpeiros que ampliaram seus raios de ação na região de Chapada dos Guimarães, onde ricos monchões foram explorados ainda no século XVIII. Paranatinga é uma cidade que pode-se afirmar nasceu sob o signo do diamante, tendo sua gente histórias fantásticas sobre o tema, envolvendo personagens que ainda nos dias de hoje são lembrados e quase alçados ao posto de mitos. Contemporaneamente novas lavras e garimpeiros estão atuando em antigos depósitos aluvionais remexidos e cheios de histórias. Uma das regiões geográ-

ficas mais importantes de Mato Grosso sobre extração e comércio de diamantes é o leste, que abrange extensa área, indo de Barra do Garças até Alto Araguaia, passando pelos garimpos de Poxoréo, Dom Aquino, Tesouro, Guiratinga e Itiquira. Nesse imenso quadrilátero muitas famílias ainda vivem da cata de diamantes, atividade herdada de seus ancestrais, mormente baianos ou maranhenses, quando não goianos e mineiros. Muita história existe prá contar os feitos e agruras de muita gente que ali fincou raízes ainda nos primeiros dias do século XX. Tem muito garimpeiro que ainda se lembra das refregas

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TESOUROS OCULTOS Além do ouro e diamantes, há no Estado, outras preciosidades denominadas “Pedras Coradas”. Muitas dessas pedras são de alto valor comercial, mas não são vistas como prioridade, até porque muita gente, tanto na área empresarial, quanto de governo, nem sabe que as mesmas existem, aos borbotões, em solo matogrossense. Pedras coradas como a granada, o zircão, o diopsídio, o cristal de rocha, o quartzo rutilado, o quartzo fumê, o quartzo fumê opa-

co, com característica de ônix, o quartzo esverdeado com características de prasiolita, a ametista, o quartzo rosa, a ágata, a turmalina, a opala e outras, ocorrem em várias regiões do Estado. A granada, o zircão e o diopsídio, em geral, são encontrados associados ao diamante, nos aluviões que drenam os corpos kimberliticos nas regiões de Paranatinga e de Juína. O cristal de rocha e o quartzo rutilado são encontrados e extraídos em inúmeras frentes de lavra, em coberturas elúvio/coluvionares, associadas às alterações de veios de quartzo primários, em vários municípios da Baixada Cuiabana. Secundariamente, registra-se a ocorrência de quartzo fumê no município de Nova Brasilândia, além de cristais de rocha encaixados nos metassedimentos do Grupo Cuiabá. O quartzo de coloração fumê opaco,

com características de ônix, ocorrem associados à zona de falha conhecida como São Manuel, no Município de Planalto da Serra. Na região noroeste do Estado estão as ametistas, que ocorrem sob a forma de druzas, em veios hidrotermais, cortando rochas graníticas, no município de Aripuanã e nas proximidades da Vila Novo Horizonte, no município de Castanheira. No extremo nordeste do Estado, no município de Vila Rica, ocorrem druzas de ametista associadas a veios pegmatíticos. A ametista também é encontrada nos metassedimentos cisalhados e silicificados da Formação Morro Cristalino, no município de Pontes e Lacerda. Nas proximidades da sede do município Rondolândia ocorrem depósitos de quartzo rosa encaixado em rochas graníticas.

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ocorridas entre Morbeck e Carvalhinho, uma história a ser contada de forma mais clara, pois os personagens clamam por essa justiça. Enfim, Mato Grosso das muitas histórias tem no diamante uma de suas fatias mais gloriosas de nossa historiografia. É importante que gerações de matogrossenses conheçam melhor esse recorte de nossa história e passe a valorizar mais nossos feitos executados por pessoas que na ânsia de encontrar riquezas nas gemas contribuíram para fazer um Mato Grosso fantástico e maravilhoso do século XXI. Posteriormente, inúmeros novos corpos kimberliticos encaixados em falhas paralelas ao lineamento de azimute 125º foram descobertos cortando os sedimentos da Bacia Sedimentar dos Parecis na região de Juína e na região de Paranatinga.

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d e s e n v o lv i m e n t o regional As ágatas são comuns em aluviões recentes e terraços diamantíferos, principalmente nas regiões do Araguaia, leste e sudeste do Estado. As turmalinas são encontradas nas proximidades da Vila Nova União, município de Cotriguaçu, em veios pegmatíticos encaixado no Granito São Pedro.

As opalas da região noroeste do Estado, estão associadas a zona de venulação, em fraturas de cizalhamento, que interceptam tufos, ou sedimentos tufáceos, pertencentes ao Grupo Roosevelt. A identificação dessas jazidas e sua consequente catalogação é feita com maestria e competência

por geólogos e técnicos da Metamat, instituição governamental que há anos é responsável pelo setor, possuindo o conhecimento técnico necessário para oferecer ao próprio governo de Mato Grosso opções que, devidamente organizadas e estruturadas, se transformem em rendimentos econômicos.

Produção Oficial de Diamantes em Mato Grosso e no Brasil Período 2010/2013 (em quilates)

2010

2011

2012

2013

BR

24.760,00

45.526,09

49.234,00

49.166,23

MT

11.909,56

35.510,35

45.787,62

43.266,28

48,10%

78,10%

93,00%

88,00%

60.000,00 50.000,00 40.000,00 BR

30.000,00

MT 20.000,00 10.000,00 0,00 2010

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2011

2012

Fonte: DNPM - Adaptação METAMAT

2013


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Fonte: DNPM - Adaptação METAMAT

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ec o n o m i a

Produtividade

Genética + Nutrição + Sanidade + Manejo Por paulo de tarso FOTOS Nick Sarbacker

PAULO DE TARSO Zootecnista pela UFSM-RS, especialista em produção e nutrição de ruminantes pela UFMT, premiado pelo CRMV-Z /MT “Zootecnista do Ano” em 2010 e 2012. Coordenador no programa MT Regional, instrutor no SENAR-MT, gestor técnico/ comercial de empresas de nutrição e diretor da PlannerZoot, empresa de genética animal (SEMEX DO Brasil) e de nutrição de plantas (PRIME AGRO). Contato: zootpaulodetarso@gmail. com (65) 3682-1346 | 9604-8162

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de tempo (ano),é o resultado de uma grande equação: a soma do uso de genética adequada;a soma do fornecimento quantitativo e qualitativo de alimentos (volumoso, minerais, concentrados protéicos e energéticos, água, vitaminas e minerais); a soma de prevenção de doenças (vacinas, cura de umbigo, uso de pro bióticos aos recém-nascidos, limpeza de úbere, etc.) e a soma de manejo do rebanho com o foco na categoria e aptidão (produção de carne ou leite). Com o acelerado melhoramento genético dos bovinos, os níveis de produtividade têm se elevado continuamente. Em razão disso, nós, os profissionais da área de produção e nutrição animal, estamos colocando à disposição dos produto

restecnologias e assistência técnica na nutrição, na genética, na saúde e no manejo do rebanho, buscando uma melhor conversão alimentar, o desenvolvimento saudável dos animais, a máxima produção de leite e a saúde do rebanho, antecipando o abate no gado de corte, estabelecendo condições corporais ideais para a fase de cobertura e possibilitando uma melhor seleção de animais para reposição ou para venda. Aí recebo um informe técnico da Semex, onde falam sobre a Gigi EX-94. Uma vaca com 9 anos de idade, que supera a média de 92 kg de leite por dia. É a recordista mundial de produção de leite. Fantástica marca! É, este início de ano me surpreendeu.

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E

m conversa com um produtor, sediado na região oeste do Mato Grosso, ele comentava que produzia leite de vaca, somente à pasto e com mineral. Tudo bem, até ele dizer que usava uma formulação com 80g de fósforo para todo o rebanho, “de mamando a caducando”. E sua produção média era de 7kg de leite por vaca/dia. Senti um aperto no peito e pensei: como nos dias atuais um produtor de leite ainda comete falhas básicas no seu sistema de produção, levando a resultados econômicos pífios e à consequente desmotivação do empreendedor rural pela atividade. A produtividade, que significa o quanto o produtor realiza pela unidade de área (hectare) na unidade

A campeã Gigi EX-94

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s u s t e n ta b i l i da d e

Desastres Ambientais A responsabilidade penal da pessoa jurídica

S

por LOYUÁ RIBEIRO FERNANDES MOREIRA DA COSTA

ão muitos os desastres ecológicos causados pelo homem em nosso planeta. No Brasil, podem ser citados o incêndio na Vila Socó (1984), a contaminação pelo material radioativo Césio 137,em Goiânia (1987), o vazamento de óleo em Araucária (2000), o rompimento da barragem em Mirai (2007), o incêndio no Terminal Alemoa (2015), o rompimento da barragem em Mariana (2015). A lista é

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extensa e trágica e os danos não se resumem aos ocasionados nos acidentes em si. Isso porque eles atingem direta e indiretamente o meio ambiente, resultando em recorrentes desastres naturais e mudanças climáticas. Portanto, os danos são muitos e podem atingir todo o mundo. Diante de uma catástrofe ambiental decorrente de ação ou omissão de uma ou mais pessoas jurídicas,é comum a respon-

sabilização civil e administrativa, como a condenação ao pagamento de indenizações às vítimas e de multas ambientais. No entanto, uma indagação mostra-se pertinente: pode a pessoa jurídica também ser condenada penalmente por danos decorridos de desastres ambientais? Quando fala-se em responsabilidade penal, o que vem à mente são penas privativas de liberdade. Nesse sentido, a conclusão que se


um ente coletivo é incapaz de delinquir, dentre outros motivos, porque não possui vontade e ação, por ser um ser abstrato, cuja existência se funda em decisões de representantes, pessoas naturais. Dessa forma, a falta de vontade própria impossibilitaria a culpabilidade e individualização da pena, princípios estes essenciais à imputação de um crime. Ainda assim, o entendimento majoritário é de que a pessoa jurídica não é mera ficção, embora possua realidade peculiar diversa das pessoas físicas. Como se posicionam nossos tribunais? Ambas as últimas instâncias entendem pela responsabilidade penal da pessoa jurídica. Os julgados do STJ (Superior Tribunal de Justiça), entretanto,utilizaramse da teoria da dupla imputação, o que significa que para que a pessoa jurídica seja condenada, é necessária a concomitante condenação de pessoa natural que atua em nome ou em benefício do ente coletivo. O STF (Supremo Tribunal Federal) possui julgados no mesmo sentido. No entanto, o último deles a esse respeito (RE nº 548.181/PR, acerca do vazamento de óleo em Araucária ocorrido em 2000, envolvendo a Petrobras, julgado em 06/08/2013), considerou a teoria utilizada pelo STJ inconstitucional. Isso porque o art. 225, §3º da CF/88, não condiciona a

responsabilização da pessoa jurídica à condenação de uma pessoa natural. Caso esse entendimento do STF venha a ser consolidado, será um avanço no combate aos crimes contra o meio ambiente, uma vez que a teoria aplicada pelo STJ dificulta a responsabilização penal ambiental das pessoas jurídicas. Isso se mostra de suma importância, pois o crime ambiental é principalmente corporativo, podendo repercutir, inclusive, no combate a crimes de ordem econômica, financeira e tributária. O planeta Terra chegou a uma situação em que toda pegada humana sobre ela gera consequências devastadoras e transfronteiriças. A Carta Magna reflete essa preocupação ao aderir diversos tratados internacionais que versam sobre o tema.Todo meio de conscientização da humanidade quanto à necessidade de uso racional e harmônico dos recursos naturais, não os esgotando nem lhe causando danos, mostra-se primordial à sobrevivência intra e intergeracional. A responsabilização da pessoa jurídica em âmbito penal a obriga a atuar dentro desses limites, observando sua função socioambiental. As ações de nossa sociedade devem condizer a um meio ambiente sadio e justo,de forma que nos atentemos aos sinais da natureza, como cidadãos de um único mundo.

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chega é que um ente coletivo não pode vir a ser “preso” e que, portanto, não poderia responsabilizar-se nessa seara. No entanto, é importante esclarecer que existem outras modalidades de sanção além da acima citada, como a restritiva de direitos, multas e prestação de serviços à comunidade, todas de natureza penal. A maioria dos países adota a responsabilidade penal da pessoa jurídica. No Brasil também é possível. Segundo o art. 225, §3º da Constituição Federal, de 1988: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.” A Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais) dispõe que: “As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. “ Embora a legislação brasileira possibilite a responsabilização penal ambiental da pessoa jurídica, trazendo, inclusive, as penas a ela aplicáveis (arts. 21 a 24 da Lei nº 9.605/98), existem divergências doutrinárias. Muitas delas afirmam que

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turismo

Turismo Arqueológico

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que é turismo arqueológico ou arqueoturismo? Essas expressões soam estranhas à maioria da população matogrossense e brasileira, pois não se constitui em prática comum por estas bandas de nosso continente. O turismo arqueológico está inserido dentro do turismo cultural e mostra a possibilidade de visitações aos sítios arqueo-

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lógicos. Em cada ruína ou inscrição há uma história de civilizações e povos a resgatar. Em locais como Machu Picchu, Coliseu, Muralhas da China e as Pirâmides do Egito é freqüente o turismo arqueológico. Os sítios arqueoturísticos permitem a instrução pública “in loco”, possibilitando ao indivíduo observar as etapas de um passado remoto dentro do seu contexto


original e ao mesmo tempo, essa atividade turística dinamiza esses espaços anteriormente restritos aos arqueólogos e pesquisadores afins. Em Mato Grosso temos estrutura para a prática de turismo arqueoló-

nal Fathom Five, mais de 10 mil mergulhadores por ano têm à sua disposição mais de 25 embarcações naufragadas. Desta forma essa modalidade de turismo credencia-se como a que mais cresce na indústria de viagem, não se limitando mais essa atividade a locais como a Grécia, Egito, países ibéricos e do Mar Adriático. É neste contexto que o turismo arqueológico pode se destacar, aparecendo como instrumento capaz de proteger, promover e potencializar o Patrimônio Arqueológico, além de despertar o fator econômico. Atualmente Mato Grosso não apresenta prática consolidada no arqueoturismo. Falamos aqui apenas de “potencial”. O arqueoturismo, ao ser implantado em nosso Estado tornar-se-á instrumento de compreensão entre povos, permitindo que culturas milenares sejam conhecidas pela sociedade que hoje habita esta terra, contribuindo para o enriquecimento da visão de mundo e facilitando a identificação das pessoas com seu passado. A materialização dessa prática na sociedade matogrossense, enfatizando a dinâmica e os impactos decorrentes da relação entre turismo e patrimônio, a partir da utilização de parâmetros da sustentabilidade, ampliará a oferta de produtos turísticos.

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gico ou arqueoturismo? Não, não temos. Sítios arqueológicos existem aos borbotões em Mato Grosso, como forma de testemunho de ocupação deste imenso território, por inúmeros povos, há milhares de anos. Há que se voltar os olhos para essa possibilidade e investir. Só isso. Seriam os nossos sítios arqueológicos locais adequados para visitação turística? (...)”se significa alguma coisa, é uma prática aventureira que deve ser levada a cabo no Egito ou em qualquer outro lugar, mas não no Brasil, já que nos faltam pirâmides e outras ruínas interessantes” Funari (1994, p.24). Ledo engano do pesquisador, ainda que nossos sítios arqueológicos não tenham a grandiosidade nem as características monumentais da Antiguidade clássica, temos testemunhos que demonstram nossa diversidade cultural de sociedades remotas que têm sido permanente objeto de pesquisa de arqueólogos e estudiosos da vida de civilizações anteriores. Os benefícios do turismo arqueológico ou arqueoturismo vêm em dados internacionais concretos. As visitações nas ruínas maias de Xunantunich, em Belize, receberam no ano de 2009, quase 30 mil turistas, em excursões de um dia. No Canadá, no Parque Nacio-

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pa r a q ua n d o v o ce f o r

PARQUE ESTADUAL DE ÁGUAS QUENTES Unidade de conservação estadual, abrange 1.487 ha. Nesta área encontra-se um dos mais aprazíveis hotéis de MT, com chalés construídos em pedra e piscinas de água quentes naturais, com mais de 40º, fácil acesso e bom atendimento. Localização: Serra de São Vicente, município S. A. Leverger Como chegar: Rodovia BR-364, KM 77. Informações: 65 - 3614 7500 (hotel Mato Grosso Águas Quentes)

SÃO FRANCISCO XAVIER Cidade fantasma, do século XVIII, no topo da Serra da Borda. O lugar é exuberante, mas encontrase em ruínas. Possui valor histórico impressionante. Na década de 1980, foi chamada de “Machu Pichu Brasileira”, pelo arqueólogo

Paulo Zanetini, numa alusão a cidade inca, plantada nos Andes peruanos. Mato Grosso desconhece este ponto importante de sua história, que corre o risco de desaparecer. O motivo é estar em área de prospecção de alta intensidade de

SALTO AUGUSTO Espetacular queda d’água no Rio Juruena, passeio indicado aos apreciadores do turismo de aventura.. Nome do salto é homenagem ao governador de MT, João Carlos Augusto D’Oeynhausen e Gravenberg, por apoiar comércio, pelo Juruena, com o Pará, no começo do século XIX. Dica de hospedagem: Pousada Juruena, na Ilha do Estirão. Localização: Região noroeste/norte, entre Apiacás e Cotriguaçu. Informações: 66 - 8402 0963 e 8126 4072 (telefone da pousada).

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minério aurífero e com acesso restrito. Localização: Sudoeste de MT, entre Vila Bela SS Trindade e Pontes e Lacerda. Como chegar: Através da Rodovia BR - 174 e MT - 473. Importante: É proibida visitação sem prévia autorização.

SÍTIO COCAIS Indicado para o turismo histórico. Antiga propriedade rural, hoje em ruínas, que ficou relegada à própria sorte. Nesta casa nasceu o pai do poeta Manoel de Barros e, no começo do séc. XIX, hospedou membros da Expedição Langsdorff. O Sítio Cocais possuía gado e escravos, além de usina de produção de cachaça, açúcar e álcool, da qual ruínas entremeadas à cipós e raízes de árvores testemunham sua antiga existência. Localização: Município de N. Sª do Livramento. Como chegar: Estrada velha para Várzea Grande Informações: 65 - 3351 1200

AVOADEIRA Antiga povoação do leste matogrossense. Neste lugar Rondon implantou estação telegráfica na década de 1890, que por força e dedicação dessa comunidade se encontra de pé e bem conservado. É famosa a Festa do Caju, comemorada todo ano com grande júbilo. Localização: Zona rural de Barra do Garças. Informações: 66 - 3402 2000


DANÇA DO CHORADO Quando for a Vila Bela da SS Trindade, se tiver oportunidade não deixe de ver a Dança do

Chorado, existente somente nesta cidade. Esta dança surgiu no período colonial, quando escravos fugitivos ou transgressores eram aprisionados

matogrossenses autóctones, devido ao equilíbrio das garrafas na cabeça das dançarinas, as quais cantam e dançam um tema próprio.

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e castigados pelos senhores e seus entes queridos solicitavam seu perdão e liberdade dançando o Chorado, e em muitas vezes eram atendidos. Com o tempo passou a ser realizada ao final da festa de São Benedito pelas mulheres que trabalharam na cozinha. A coreografia tem um ponto diferente de outras danças

Localização: Município de Vila Bela SS Trindade. Como chegar: Através da BR 174 e MT 473. Informações: 65 - 3376 4200 (prefeitura municipal).

IGREJA N. S. DO BOM DESPACHO Igreja em estilo gótico que lembra a Notre Dame, de Paris. Idealizada pelo frei Ambrósio Daydé, teve sua pedra fundamental lançada a 8/09/1918. É bem tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual, Portaria nº 47/1977. Ideal para o turismo religioso, se avizinha do Museu de Arte Sacra. Localização: Morro do Seminário, zona central de Cuiabá. Informações: 65 - 3055 1315 (secretaria da igreja).

FAZENDA JACOBINA Patrimônio histórico tombado. É uma das mais antigas propriedades rurais de Mato Grosso. Fundada em 1772, por Leonardo Soares de Souza, em 1813, a filha do casal, Maria Josefa, casou-se com João Pereira Leite, que, com a morte dos sogros, passou a comandar a fazenda e fez dela um autêntico império em extensão. No século XIX, Jacobina era o maior estabelecimento agropastoril de MT. Ali habitavam mais de 250 pessoas, entre familiares, empregados, escravos e agregados. Localização: Município de Cáceres. Como chegar: Através da Rodovia BR-364. Informações: 65 - 3223 1500 (prefeitura municipal).

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E SPORT E

Desafiando o Rio Paraguai O histórico rio Paraguai, que nasce na região das Sete Lagoas, entre os municípios de Alto Paraguai e Diamantino, foi palco de extremado desafio feito por três argentinos: Manuel Rois, 32 anos, Manuel Sottemini, 26 anos, ambos de Rosario e Franco Cacciola, de Baia Blanca, de 24 anos

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s três subiram o Paraguai em três caiaques, rio acima, remando, desde a cidade de Rosario, de onde saíram no dia 6 de maio de 2015, chegando a Diamantino, em Mato Grosso, a 4 de dezembro, do mesmo ano. Faltaram apenas dois dias para que o trajeto fosse feito em sete meses. “Remávamos em torno de oito horas por dia”, afirmou Manuel Roes, sendo que o restante era reservado à preparação de comida e a conseguir um bom lugar para dormir. “Gostávamos de praias, mas nem sempre tinha uma à mão, para nosso descanso”, lembrou Sottemini. O grupo sempre que pode se valeu de espaços oferecidos por ribeirinhos, mormente acompanhados de inesquecíveis pratos típicos, cada um de acordo com as muitas regiões pelas quais navegavam. “Comemos muito peixe e carne, base de alimentação dessa gente”, disse Roes, lembrando que cada qual trazia seus pertences dentro dos próprios caiaques, a exemplo de roupas, tênis, repelentes e uma maleta de pequenos socorros.


lumeMatoGrosso Por viajarem distantes uns dos outros, em certa ocasião se desgarraram e passaram por agruras até se reencontrarem. Apesar de amigos tinham seus próprios métodos e meios para conduzir seus destinos, mesmo em situações adversas. Foi uma grande viagem, passaram por regiões de culturas diferentes e de muita representatividade histórica. No Paraguai cruzaram por vários pontos que lembram a tristemen-

te famosa guerra daquele país com a Tríplice Aliança, em 1865/1870, a exemplo de Humaitá, Assunción e outros lugares. Na Bolívia, apesar da pouca área que margeia sua divisa, foram muito bem recepcionados pelos ribeirinhos locais. Do Brasil trazem ótimas recordações de Corumbá, Ladário, Forte Coimbra, região das lagoas Gaíva e Uberaba, das fazendas históricas que margeiam o rio Paraguai, nas imedia-

ções do Pantanal de Cáceres e, lógico da área em que o portentoso rio nasce. Estiveram por Cuiabá até poucos dias atrás, estudando a nova carta de navegação que pretendem cumprir, ir de Vila Bela da Santíssima Trindade até as praias do Oceano Pacífico, cruzando os mais intrépidos rios e pântanos desconhecidos. É ou não é ou desafio e tanto, encrespar as águas do rio Paraguai?

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segurança

Terrorismo e Segurança nas Olimpíadas de 2016

O Brasil encontra-se inserido num mundo altamente competitivo e complexo, onde os riscos estratégicos multiplicaram-se de uma forma inédita. Certamente em nenhum momento anterior tivemos que lidar com tal variedade de fatores com tamanho poder ofensivo

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Por Luiz Antonio Peixoto Valle


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O crime organizado, representado principalmente pelo narcotráfico e contrabando, tem avançado em sofisticação e ousadia, entrando nas entranhas do aparato público promovendo a corrupção ativa e a conivência. O terrorismo mostra a cada dia mais sofisticação e recursos, confrontando as agências de inteligência dos países onde estão seus alvos. Neste cenário sediar grandes eventos internacionais virou um grande desafio. Inseridos neste contexto desafiador estamos às vésperas de sediar o maior evento esportivo do mundo: as Olimpíadas. É um evento bem maior que a Copa do Mundo e mui-

trado nenhum atentado terrorista desta natureza em uma Copa do Mundo. Alguns fatores contribuem para esta diferença de abordagem terrorista entre estes dois eventos esportivos, dentre os quais vale citar a dimensão, e a diversidade de participação; ou seja, quantidade e qualidade. Como já demonstramos às Olimpíadas são um evento bem maior que atinge o planeta de uma forma mais ampla, em virtude do número de países envolvidos, sendo visibilidade um pré-requisito importante no ato terrorista. O segundo fator é a diversidade, pois das Olimpíadas participam muitos países que possuem atuação relevante no jogo mundial, tendo uma pluralidade de alvos como facilitador do planejamento do atentado. Para exemplificar, países como Israel e outros atores importantes do Oriente Médio, não atuam frequentemente nas Copas do Mundo, o que não acontece nas Olimpíadas. Logo, não parece crível alegar que o fato de não ter havido nenhum atentado na última Copa do Mundo realizada no Brasil seja um forte indicativo a ensejar relativa tranquilidade no quesito segurança. Não só o evento tem características distintas, assim como o cenário mundial mudou significativamente. Em 2014, não tínhamos uma conflagração exacer-

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to mais complexo. Mesmo acontecendo numa só cidade sua magnitude ultrapassa relevantemente a Copa do Mundo. Para embasar esta alegação podemos citar esta declaração, contida no site da BBC Brasil em 21 de novembro de 2015, feita por Andrei Augusto Passos Rodrigues, secretário extraordinário para grandes eventos do Ministério da Justiça: “Na Copa eram 32 países, nos jogos serão mais de 200. Em 2014, eram 800 atletas e agora serão mais de 10 mil. Então são números absolutamente distintos. São 42 campeonatos mundiais acontecendo simultaneamente, no caso dos jogos, em 17 dias”. Além de sua magnitude, o que chama a atenção nas Olimpíadas, quando falamos de segurança, é seu histórico. Os Jogos Olímpicos de Munique (1972) e Atlanta (1996) foram alvos de atentados terroristas. Em Munique, na Alemanha, 8 terroristas do grupo autointitulado Setembro Negro invadiram a Vila Olímpica e fizeram 11 atletas da delegação de Israel reféns. Durante a operação policial, todos os atletas acabaram mortos pelos terroristas. Em Atlanta, nos EUA, uma bomba explodiu no Centennial Olympic Park, bem próximo da Vila Olímpica, o que ocasionou a morte de duas pessoas e feriu outras 112. Em contraste não foi regis-

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bada, e tão polarizada, como hoje temos no Oriente Médio, notadamente na Síria, onde as grandes potências mundiais tem apoiado lados contrários numa guerra por procuração. A formação de um novo panorama mundial com blocos bipolarizados, com EUA, Israel e UE de um lado e Rússia, Irã e China do outro, tornaram a análise geopolítica mais complexa. Diversas nacionalidades já foram arrastadas para este conflito na Síria e no Iêmen, colocando em lados opostos ideologias e interesses poderosos. Este envolvimento de países poderosos, armando e treinando seus “aliados”, levou certos grupos ditos “terroristas” a desenvolver habilidades e a alcançar uma capacidade bélica, que antes não possuíam. Num cenário com estas características, com os grupos em conflagração, um atentado de falsa bandeira pode ser extremamente conveniente para obter um pretexto adequado.

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Alegar que o Brasil não é um alvo preferencial porque é um país neutro, amante da paz, etc ...., não faz muito sentido, porque o alvo deles não é o Brasil, mas os países que participarão das Olimpíadas. Ademais, numa extrapolação de conceitos, e considerando a mente dos terroristas mais radicais, para eles o Rio de Janeiro é uma cidade libertina, onde as mulheres mostram seus corpos na praia, para não falar do carnaval, e apreciam o sexo. Somado a isso temos o Cristo Redentor, símbolo mundial da Cristandade, um alvo extraordinário. Cabe ainda ressaltar que o Brasil, na reunião do G20, condenou os atentados em Paris e seus autores, solidarizando-se com os países que criaram uma frente de combate ao terrorismo. Estes fatores já poderiam encorajar os terroristas mais ideológicos ou com maior fervor religioso a “punir” o Brasil. Entretanto, creio que o alvo principal deles sempre

será atingir prioritariamente os atletas de países relevantes envolvidos nos conflitos mundiais, tais como: EUA, Rússia, China, Reino Unido, França, Israel, Turquia, Arábia Saudita, Irã, Jordânia; dentre outros. Temos ainda a ação dos “ratos solitários”, fanáticos destemidos que simpatizam com alguma causa e agem isoladamente, sendo apenas apoiados por alguma organização. Cabe aqui notar, que mesmo países como os EUA e França, não foram capazes de evitar atos terroristas em seus territórios. Se países como Estados Unidos e França, com um aparato de inteligência anos à frente do Brasil, foram vitimas do terror, como o Brasil pode considerar o risco de ocorrência de um ato terrorista baixo, como alegam algumas autoridades brasileiras? Como podem dar declarações dizendo que o Brasil está bem preparado? Só podemos imaginar que esta seja uma estratégia para acalmar as pessoas, pois não corresponde nem de perto à realidade atual. Vejamos alguns aspectos a considerar. Numa breve análise podemos citar como fatores passíveis de melhoria o controle precário nos aeroportos e portos, a vulnerabilidade das fronteiras, a inexistência de controle eficaz sobre o espaço aéreo, a falta de uma legislação específica para lidar com o terrorismo e a ausência de inte-


lumeMatoGrosso gração e coordenação entre os vários órgãos de inteligência brasileira. Se organizações terroristas quiserem entrar no país com grandes quantidades de explosivos e armamentos certamente não precisarão passar pelos portos e aeroportos. Nossas fronteiras terrestres são uma verdadeira peneira por onde passa de tudo, onde tem ficado cabalmente demonstrado a vulnerabilidade e incapacidade de controlar o que entra e sai do país. Existe ainda a questão do controle do espaço aéreo. À partir de pequenas pistas de pouso em fazendas do outro lado da fronteira partem pequenos aviões trazendo todo tipo de bagagem e/ou passageiros, que pousam em pistas similares em fazendas do lado brasileiro, notadamente em Mato Grosso. A lei do abate jamais foi realmente implementada

de forma eficaz. É mais um “buraco” na nossa fronteira. Depois de entrar no Brasil com tudo que quiserem, entre material e recursos humanos, outra dificuldade que as autoridades brasileiras encontrariam seria o de rastreamento destas pessoas e materiais, devido à extensão do território e as dificuldades apresentadas pelos órgãos de inteligência para coordenar uma ação eficaz. E mesmo que todas estas dificuldades fossem superadas e os meliantes detidos, teríamos ainda a questão da falta de uma legislação específica em vigor para tratar do terrorismo, o que causa enormes entraves para a ação investigativa e repressiva, criando dificuldades inclusive para tipificar o crime. Provavelmente os transgressores, no caso em tela, e dependendo das circuns-

tâncias no ato da prisão, seriam liberados para responder em liberdade, pois no Código Penal não há previsão do crime de terrorismo que esteja em vigor no presente momento em que é redigido este artigo. Em 24 de fevereiro deste ano, após muita pressão nacional e internacional, foi aprovada na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 2016/15, que tipifica o crime de terrorismo, indo agora para a sanção presidencial. Mal o PL foi aprovado na Câmara e certas ONGs já estão pedindo à presidente que vete parte do texto, argumentando que o projeto de lei antiterrorismo poderá criminalizar movimentos sociais e manifestações populares. A Anistia Internacional, o Greenpeace e o MST já se posicionaram contra a nova legislação, pedindo que a presidente rejei-

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te integralmente o texto. O Escritório para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos também emitiu uma opinião onde esboça preocupação com a Lei Antiterrorismo. Segundo o site da Câmara dos Deputados, “para o enquadramento como terrorismo, com a finalidade explicitada, o projeto define atos terroristas o uso ou a ameaça de usar explosivos, seu transporte, guarda ou porte. Isso se aplica ainda a gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa”. A Anistia Internacional argumenta que “O projeto de lei aprovado é demasiadamente amplo, vago e não cumpre o requisito básico de qualquer lei penal de ser específica em sua tipificação, estando sujeito a uma interpretação subjetiva por parte do sistema de Justiç”. Não bastasse isto, o PT emitiu nota no dia 26/02/16, reforçando o coro daqueles que pedem à presidente a rejeição total do texto. Em nota o PT diz: “Como o texto da lei é vago em muitos momentos, deixa para os delegados, promotores e juízes a interpretação daquilo que se enquadra como terrorismo. Nós sabemos que esses segmentos possuem no Brasil uma cultura extremamente punitivista e criminalizam a todo

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o momento os movimentos sociais, a juventude, os trabalhadores, os camponeses etc., que são os que mais podem sofrer com essas medidas”, diz a nota. Assim, aparentemente a futura lei já nasceu morta, a depender da postura da presidente. Até que as divergências sejam superadas e haja a sanção presidencial, se houver, continuamos no Brasil sem uma lei que tipifique o crime de terrorismo e que permita, principalmente, coibir os “atos preparatórios”, fundamental na prevenção e desmonte prematuro do atentado terrorista. Se tudo isto não bastasse, sabemos que células terroristas já atuam no Brasil há décadas. É bem conhecido dos especialistas da área de inteligência, pelo menos de uns vinte anos para cá, que já existem diversas células de organizações terroristas funcionando na Tríplice Fronteira pelo lado brasileiro, e disseminando-se pelos estados do Sul do Brasil e São Paulo. Sabe-se que em 1995, o próprio Bin Laden, esteve em Foz do Iguaçu. Já existem diversos radicais muçulmanos operando organizadamente com captação de recursos financeiros, desenvolvimento de controle cibernético e planejamento operacional em solo brasileiro. Vários relatórios da CIA, FBI e Departamento do Tesouro Americano vêm alertan-

do as autoridades brasileiras para o agravamento deste quadro, e a incapacidade por parte das autoridades brasileiras de neutralizar ou subtrair estas ameaças vem preocupando vários órgãos de inteligência internacionais. Organizações como a Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Jihad Islâmica e Hamas já possuem células bem estruturadas e operacionais em nosso país. Junte-se a este quadro a vulnerabilidade e fragilidade do aparato de segurança e inteligência brasileira e teremos um cenário com potencial de ocorrência desfavorável bastante considerável. É mesmo na área de Inteligência Estratégica e Segurança Pública onde as perspectivas se tornam mais preocupantes em função da falta de integração, coordenação e cooperação entre as atividades de inteligência das forças policiais, e o momento especialmente delicado por que passa a AI - Área de Inteligência, em nível federal (Abin, Policia Federal e Forças Armadas, em particular). A título de exemplo pode-se citar o fato de não existir, até o presente momento, um banco de dados a nível nacional capaz de fornecer informações adequadas para subsidiar uma análise criteriosa e confiável, ao qual tenham acesso igualitário todas as forças de segurança. Adicionalmente é verificado que ferramentas importan-


giliza a cadeia de comando. A leniência da alta administração do país com questões tão sérias, engolfada como está pela crise política e econômica, somadas a todas as deficiências já apontadas, colocam a situação global de segurança do Brasil em ponto bastante sensível e perigoso, passível de grande aprimoramento. Aparentemente todos os elementos para a materialização de um cenário adverso estão presentes: omissão das autoridades, uso político da estrutura de AI, um conjunto grave de vulnerabilidades na área de segurança, a falta de formação de um aparato adequado na área de inteligência, situação conflitante de grupos internacionais e a ocorrência de evento de importância mundial

que concentrará a atenção do globo terrestre. Todos sabem que na cartilha dos terroristas a prioridade é realizar atentados de grande vulto em momentos que possam atrair a mais completa visibilidade. Não vislumbramos outro momento em nossa história em que o Brasil precisou tanto, e com tanta urgência, de aprimorar ao máximo a eficiência de seus organismos de segurança e inteligência e onde o preço por não fazê-lo poderá ser tão caro. Todavia, o tempo passou e agora não parece haver muita margem de manobra, pois estamos a pouco mais de 5 meses para as Olimpíadas. Basta que um único ato terrorista tenha sucesso, e ninguém mais se lembrará do Brasil por seus predicados durante um bom tempo.

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tes, como a Análise Criminal - AC, é pouco utilizada. As desavenças entre a Abin, a Policia Federal e as Forças Armadas são bem conhecidas, antigas e profundas, para não falar nas dificuldades entre a Policia Militar e a Policia Judiciária Civil nos Estados, que já chegaram a trocar tiros. O nível de coordenação e integração entre todas estas esferas é mínimo. Não há linha de comando e nem órgãos de resolução de controvérsias com funcionamento eficaz, para serem um facilitador de demandas, aglutinar talentos e otimizar recursos.Como disse André Wolszyn a Humberto Trezzi, do jornal Zero Hora, “o Brasil não está de modo nenhum preparado para o antiterrorismo”. A crise política é outro fator a considerar, pois fra-

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A Cena Vive! Cuiabá é uma das capitais do Sertanejo no Brasil! Ok. Todos estão cansados de repetir isso. A música tradicional, cultural, cuiabana é o cururu, o rasqueado, o lambadão. Também já sabemos disso. Porém, Cuiabá também é Rock’n Roll! Por Daniel Scaravelli

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FOTOS André Romeu

ara evitar injustiças, não abordaremos o passado roqueiro da capital, que é importante e fundamental para a cena e para os artistas atuais. Também não faremos listas imensas, com todas as bandas e artistas locais. Conversaremos mais sobre os principais espaços e eventos que se dedicam ao gênero e de alguns artistas, dentre tantos tão talentosos quanto, que se destacam na atualidade em nossa região.

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M Ú SI C A

O rock é um dos ritmos musicais mais ouvidos no mundo, porém, quem gosta deste tipo de música em Cuiabá precisa buscar informações para curtir “all night long”. Em nossa capital as opções são poucas, se comparadas com a infinidade de casas sertanejas, porém, a cena Rock tem esquentado ultimamente e cada alternativa tem a sua peculiaridade e atende um público específico. Shows de bandas consagradas nacionalmente ocorrem quase que mensalmente em Cuiabá, às vezes, em locais abertos, mas, atualmente, a maioria dos eventos tem se dado no Centro de Eventos do Pantanal, que é um local com excelente estacionamento e amplo espaço, mas com ambiente muito quente e de qualidade acústica terrível, e na Musiva, casa de shows de qualidade impecável e referência nacional, em praticamente todos os aspectos. Alguns produtores artísticos têm atuado neste segmento, destacando-se a MR Produções, que tem como foco principal atrações de rock e produziu com excelência no último ano, shows de algumas das maiores

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bandas de Rock Nacional, como Biquíni Cavadão, Paralamas do Sucesso, Capital Inicial e Jota Quest. Shows internacionais de bandas de rock de médio e grande porte em Cuiabá? Isto, ainda, é apenas um sonho. Em 2015, Cuiabá presenciou o nascimento do Cerrado Music Festival, um evento que contou com bandas autorais locais e uma headline nacional, Cachorro Grande, quebrando o ostracismo em que vivíamos há alguns anos, sem festivais de médio porte por aqui. Resta esperar uma eventual segunda edição deste festival e o surgimento de outros, que incentivem a produção autoral. A Cena agradece! Contudo, a pessoa que tem o rock na veia não se contenta em curtir o som somente uma vez por mês, ela quer “rock and roll all night and party everyday”! Para esse público, e até mesmo pra galera que quer somente uma farra efêmera e esporádica, existem pub´s e bares em Cuiabá que saciam muito bem a sede por rock. Quem gosta de conforto, ambiente climatizado e decorado, variedade de cer-


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No sentido horรกrio: Kid Vinil, Banda Fรกbrica, Raphael Koury, o produtor Daniel Scaravelli, Henrique Miranda e a Banda Ponto Seis.


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M Ú SI C A

Bruno e Coelho Biquini Cavadão

vejas, lanches artesanais, qualidade de som e variedades de bandas, por um preço honesto, a opção, sem dúvida, sempre é pelo Malcom Pub. Um Pub dentro de containers, que começou pequeno, mas rapidamente ampliou a sua capacidade e tem recebido shows de consagrados artistas nacionais, como Bruno e Coelho, Biquíni Cavadão, Kiko Zambianchi, Maskavo, Kid Vinil, Detonator, Velhas Virgens, entre outros. A rotatividade de bandas locais e nacionais que a casa promove é interessante e contempla inúmeras vertentes do rock, indo do pop ao metal, tanto autoral quanto cover e de forma demo-crática. Vale a pena ficar ligado na agenda semanal do Pub. Uma das bandas que se destacam na programação do Malcom é a Ponto Seis, que arrasta um bom público quando fazem o “Especial Charlie Brown Jr.”, homenageando a extinta banda. Apesar disso, a prioridade da banda são suas músicas autorais, que sempre rolam nos shows. A Ponto Seis está em processo de gravação do seu primeiro disco autoral, que

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terá 12 faixas, reunindo algumas canções mais antigas e outras recentes. A música de trabalho deste primeiro álbum vai ser gravada no mês de fevereiro de 2016, no emblemático estúdio Midas Music, do renomado produtor Rick Bonadio (Charlie Brown Jr., Mamonas Assassinas, Fresno, Ira!, NX Zero...) em uma coletânea de novos artistas chamada “Midas #NewActs” que contará com aproximadamente 12 bandas novas e será distribuído em nível nacional, em praticamente todas as plataformas digitais disponíveis. Esta seleção reuniu quatro mil bandas e a Ponto Seis foi a segunda selecionada. Voltando aos bares, a galera alternativa, que gosta de sons mais pesados e autorais é público cativo do Cavernas Bar, uma casa underground no centro da cidade, com estrutura simples, preços bem em conta e que lembra muito os bares existentes na Rua Augusta, em São Paulo. Tocado há anos pelo emblemático produtor cultural Cachorrão, que sempre recebe todos bem, é a opção preferida do “metaleiro”, “rockeiro

de raiz”, ou o “rockeiro xiita”, intolerante com certos gêneros do rock. Também, temos o Clube de Esquina, um ambiente controverso, que ou se ama, ou se odeia. Por muito tempo, foi o único local de Cuiabá a abrir espaço para as bandas de rock, e isto é digno de todo o respeito, contudo, não houve evolução significativa em sua estrutura e a programação é inerte, dominada por poucas bandas que tocam covers. O Clube tem o seu público cativo e os preços são camaradas. A programação não é exclusiva do Rock´n Roll, às vezes rolam jogos de futebol nos telões e até mesmo um rasqueadão por lá, tem que ficar ligado na programação pra não errar o pulo. Presença garantida semanalmente no Clube, destacamos a Fábrica, banda formada em 2000, especializada em cover´s e que também toca em outras casas e eventos da cidade. Dentre o público que curte Rock, a Fábrica é conhecida pela qualidade dos equipamentos e instrumentos utilizados, o que, aliados ao profissionalismo e respeito para com o público, lhe ga-


lumeMatoGrosso Kiko Zambianchi

rante impressionante fidelidade aos timbres e arranjos originais das músicas. A banda tem um vasto repertório, talvez o maior dentre as bandas da Capital, e faz shows inteiros dedicados exclusivamente a um único artista, como U2, Coldplay, Pearl Jam, Bom Jovi, o que sempre agrada os fãs. Há quem goste de beber e petiscar sentado em bares como o Ditado Popular, Azeitona, Mundaréo, Salomé, Bar da Bud e ouvir pop rock. Ocorre que estes estabelecimentos são dominados pelo ritmo sertanejo. Porém, alguns artistas estão quebrando esta máxima e trazendo a energia e a empolgação das bandas em palcos para os bares. Neste cenário, destaca-se Henrique Miranda, o “rei dos barzinhos”, como é chamado pelos amigos e contratantes, figura cativa nos principais bares de Cuiabá. Em 2105, foram 363 apresentações, tanto na capital como no interior do Estado, algumas com banda, mas a imensa maioria com o seu projeto acústico. Henrique trata o seu trabalho como uma empresa, adotando planilhas e traçando metas em

sua organização profissional, o que, aliado ao seu carisma e qualidade nas apresentações, oportuniza-lhe fazer até dez shows em uma semana. Segundo o músico, as pessoas saem para serem felizes, para ouvirem músicas que marcaram certos momentos da vida, e é isso que ele busca proporcionar ao selecionar o seu repertório e atender aos pedidos feitos durante as apresentações. Em 2016, o músico promete retornar aos palcos à frente da sua antiga banda, Mr. Lola, com músicas autorais e covers. Com a alta do rock, outros cenários apresentamse favoráveis e alternativas para o público curtir e os músicos se apresentarem. Eventos finos, como festas de casamento, formaturas e aniversários tem incluído em suas programações musicais o bom e velho rock. O badalado músico Raphael Koury, conhecido há anos por agitar bares e baladas rock de Cuiabá, é unanimidade neste tipo de evento. Em parceria com a Cia Sinfônica, produtora musical bastante conhecida e de qualidade indiscutível, Raphael lide-

ra projetos refinados e bem animados, criados especialmente para eventos elegantes, com a inclusão de instrumentos não muito habituais para o Rock´n Roll, como violinos e sax. Com a agenda praticamente lotada até o final do ano, o músico demonstra-se muito animado com o crescimento da procura por rock neste segmento e sempre busca atualizar o seu repertório para agradar quem gosta de algo popular, bem arranjado e mais audível para pessoas não acostumadas com guitarras e distorção. Feito este simplório e superficial panorama, percebe-se como Cuiabá, se comparado a outros segmentos musicais, ainda é carente quando o assunto é Rock´n Roll e casas que investem no gênero, entretanto, existe uma cena crescente, que se amplia com o surgimento de novas bandas, autorais e covers, pub´s, bares, espaços, eventos e a entrada do estilo em locais antes dominados por gêneros mais populares, o que enche de esperança o público e anima os empresários. Em terra sertaneja, parafraseamos Neil Youg: “Rock and roll can never die!”

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H IST Ó RIA

Ilustres Inquilinos Residência Oficial dos Governadores de Mato Grosso

Em 45 Anos de Existência Muitas Decisões e Fatos Políticos Sobre a História de Mato Grosso Aconteceram Dentro Deste Casarão

D

Por João Carlos Vicente Ferreira

e 1941 até 1986, o Palacete construído no governo de JúlioStrubing Müller, localizado na Rua Barão de Melgaço, área central de Cuiabá, serviu de residência oficial para as famílias de treze governadores de Mato Grosso. Após o governo de Júlio José de Campos, seu último ocupante, em 1986, foi transformado em museu para abrigar a história dos governantes de Mato Grosso. A idéia foi ótima, afinal de contas, iria abrigar móveis, pratarias, obras de arte e presentes oficiais e objetos de uso pessoal dos governantes, desde os Capitães Generais. No entanto, o museu foi desativado no governo

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posterior, com seu acervo sendo transferido para o Museu Histórico de Mato Grosso.O imóvel, que é tombado pelo Patrimônio Artístico e Histórico de Mato Grosso através do Decreto Governamental nº 2.012, de 6 de maio de 1986, também serviu de sede da Secretaria Estadual de Cultura, da MT Fomento e, por último, do Museu de Artes de Mato Grosso, inaugurado em 2014. Novos planos para a sua ocupação estão em andamento por parte do governo estadual, no entanto, nosso objetivo, com esta reportagem, é mostrar os nomese um pouco dos feitos de seus ocupantes, ao longo de quatro décadas e meia de sua história.


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H IST Ó RIA GOVERNO JÚLIO STRUBING MÜLLER Júlio Müller, sua esposa Maria de Arruda Müller e familiares, foram os primeiros moradores da Residência dos Governadores, tendo governado de 13/09/1937 até 29/10/1945. Nesse períodoregistrou-se notável fase de progresso e observou-se período de paz. A imprensa não sofria censura e recebia apoio do governo.Müller centralizou a administração na Secretaria Geral, ponto onde se desenrolavam as ações políticas, econômicas e administrativas, verificando-se melhoria de receita e diminuição de despesas. A economia girava em torno da pecuária, erva-mate, borracha, castanha e madeira em estado bruto. O principal comprador no Brasil era São Paulo e no exterior a Argentina, Alemanha e Inglaterra.Seu governo se destacou na educação e cultura de Mato Grosso. Reaparelhou o sistema, criando noJúlio Strumbing Müller

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vas unidades educacionais ou reformando as já existentes.Foi um governo que construiu importantes obras, a exemplo da Residência Oficial dos Governadores(em 1941), Clube Feminino (em 1941), Secretaria Geral (em 1942), Tribunal de Justiça (em 1942),Cine Teatro Cuiabá (1942), Estação de Tratamento de Água (1942), Abrigo Bom Jesus (1942), Colégio Estadual de Mato Grosso (1944), Usina de Pasteurização de Leite (1944) e Hospital Geral (em 1944).Müller também se destacou como propulsor do progresso em todo o interior, construindo escolas, abrindo estradas, organizando a Saúde Pública, enfim, inaugurando obras de infraestrutura.No governo Müller, através do Decreto Federal, nº 5.812, de 13 de setembro de 1943, foram criados os territórios federais de Ponta Porã e Guaporé (hoje Estado de Rondônia). A 18 de outubro de 1946, o território federal de Ponta Porã voltou a fazer parte do Estado de Mato Grosso.

dos Governadores, ao tomar posse como Chefe de Estado, proferiu interessante discurso, sendo que parte dele serviu de manchete do jornal O Estado de Mato Grosso,no dia seguinte, onde se lia em letras garrafais: “Governarei equidistante dos Partidos, os olhos fitos na lei, no direito e na justiça”.

GOVERNO OLEGÁRIO MOREIRA DE BARROS Não afeito às lides políticas, mas homem de pulso firme e determinado, o desembargador Olegário Moreira de Barros esteve à frente do governo, como Interventor Federal, de 30/10/1945 até 06/08/1946. Administrou obras pré-existentes e as finanças públicas de forma honrada.O segundo morador oficial da Residência

GOVERNO ARNALDO ESTEVÃO DE FIGUEIREDO Arnaldo Estevão, do PSD, tomou posse em 08/04/1947, e teve como principal mérito o começo do desenvolvimento da região norte do Estado. Desbravar as terras férteis tornou-se seu grande objetivo. Onde eram matas virgens nasceram sítios, fazendas, cidades. Governou com acerto e honestidade. Promoveu a extinção progressi-

GOVERNO JOSÉ MARCELO MOREIRA O terceiro ocupante da Residência dos Governadores foi nomeado pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra. O Interventor José Marcelo Moreira governou de 19/08/1946 até 08/04/1947. Foi um período curto para grandes procedimentos administrativos, não lhe sendo permitindo alçar vôos maiores. A exemplo de seu antecessor buscou cuidar das finanças e preparar o governo para o próximo governador, eleito pelo voto direto e com perspectivas de governar de forma constitucional. José Marcelo Moreira foi o último Interventor Federal em Mato Grosso.


Arnaldo Estevão de Figueiredo

va dos latifúndios, para condicionar o uso da propriedade ao bem-estar social.A par desta assistência o Estado procedeu no levantamento de todas as áreas reservadas à colonização, demarcou lotes e prosseguiu distribuindo terras de acordo com o grau de ocupação que elas apresentavam. No setor educacional de 236 escolas isoladas, em 1947, subiram para 705, em 1950. Aumentou o corpo docente primário de 479 vagas, em 1947, para 1.136, no começo de 1950. O Ensino Secundário também mereceu atenção especial, assim como o Ensino Normal. Criou a Comissão de Estradas e Rodagens, dando nova vida ao transporte e comunicação, ligando cidades com mais fluidez e rapidez. Na saúde verificou-se aumento de todos os serviços, com novos postos de saúde nos municípios e serviço ambulante de assistência médica à população rural.Renunciou ao governo em 02/07/1950, para disputar o Senado Federal.

Jary Gomes

e, por conta disso, desistiu da política logo cedo, apesar de ter muito prestígio e possuir imensa liderança, optando pela família e pela vida literária. Jary Gomes governou Mato Grosso por 7 meses, de 2 de julho de 1950 até 31 de janeiro de 1951. GOVERNO FERNANDO CORRÊA DA COSTA (1º) Fernando Corrêa da Costa foi eleito pela UDN, em eleiçõesdiretas. Em seu primeiro mandato prosseguiu a po-

lítica de colonização iniciada no governo de seu antecessor. Instalou a Secretaria de Educação, Cultura e Saúde. Idealizou a Conferência dos governadores dos estados da Bacia do Rio Paraná. Criou a Faculdade de Direito de Cuiabá. Construiu a Usina Hidrelétrica nº 2 do Rio da Casca, inaugurada a 12/12/1954. Fundou o Tribunal de Contas do Estado e o Bemat. Além de rodovias que estimulavam ainda mais a circulação de passageiros e mercadorias no estado, estão também entre suas obras a construção dos edifícios dos colégios estaduais de Corumbá e Campo Grande. Criou também o Serviço de Assistência Rural, uma Usina de Pasteurização de Leite e produtos derivados.Em 1952, foi realizada uma excursão à Vila Bela da Santíssima Trindade, para comemorar os seus 200 anos de fundação.Em mensagem à Assembleia Legislativa, na abertura da sessão legislativa de 1951, Corrêa da Costa afirmou que o setor de ensino público requeria imediata estruturação, pela decadência em que jazia, especialmente pela ausência de diretrizes pedagógicas.Corrêa da Costa administrou de 31/01/1951 até 30/01/1956. GOVERNO JOÃO PONCE DE ARRUDA João Ponce de Arruda governou Mato Grosso de 31/01/1956 até 30/01/1961. Seu governo se alicerçou em três pontos capitais: Estra-

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GOVERNO JARY GOMES Com a renúncia de Arnaldo Estevão, assumiu o governo o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Jary Gomes, de acordo com o artigo 2º das Disposições Constitucionais Transitórias da Carta Magna de 1947, que autorizava o presidente do legislativo assumir o governo, pois de acordo com este artigo, não haveria vice-governador. Jary Gomes era médico, poeta e político nascido em Corumbá. Não era um amante da política

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H IST Ó RIA 30 escolas reunidas, 7 cursos de admissão, 722 escolas rurais mistas, 2 cursos científicos noturnos, 1 escola técnica de comércio e uma Faculdade de Direito.Com relação à saúde, reformou todos os serviços, em todos os escalões, desde a Diretoria Geral até os Distritos Sanitários, Postos e Ambulatórios. Criou a CEMAT - Centrais Elétricas de Mato Grosso e promoveu a construção da Hidrelétrica do Mimoso.É de seu governo a proposta de demolição do antigo Palácio Alencastro e construção de um prédio para abrigar a sede do governo estadual, hoje prefeitura de Cuiabá. João Ponce de Arruda

das, Escolas e Energia. Deu atenção à manutenção e abertura de estradas, inclusive as federais. Executou planos de demarcações e assentamento de colonos em várias regiões, pondo fim às disputas entre eles próprios. Criou os seguintes núcleos de colonização: Rio Taquari, em Coxim (hoje MS); Jamacá, em Chapada dos Guimarães; Ribeirão da Ponte, em Cuiabá; Couto Magalhães, em Ponte Branca e Mutum, em Poxoréo.Fez construir 4.600 km de novas rodovias; 1.401 metros lineares de pontes; no setor educacional foram inaugurados 8 colégios estaduais, 2 escolas normais, 15 grupos escolares, 2 escolas modelos,

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GOVERNO FERNANDO CORRÊA DA COSTA (2º) Fernando Corrêa da Costa, da UDN, assumiu mandato de governador em 30/01/1961, tendo como vice o engenheiro civil, José Garcia Neto, indo até 31/01/1966. Seu governo continuou de forma intensa a política de valorização agrícola, a ponto de já no 4º ano de governo ter distribuído 3.000 títulos de terras, medidos e demarcados, realizando profundas transformações no setor agrícola matogrossense. Fundou a Casemat. Multiplicaram-se as colônias agrícolas em Porto XV, Aquidauana, Ponta Porã, Cáceres, Poconé, Jaciara e, em outras cidades.Segundo dados oficiais o governodestinava 33% da renda tributária à educação. Des-

pendeu grandes preocupações tocante à energia elétrica, com enormes investimentos no setor. Criou o Ipemat, no sentido de assegurar a Previdência Social e de saúde do funcionário público estadual. GOVERNO PEDRO PEDROSSIAN Pedrossian teve como vice Lenine Póvoas e governou de 31/01/1966 até 30/01/1971. Para dar agilidade à administração desdobrou o número de secretarias estaduais, criando o projeto NOVO MATO GROSSO. Enfrentou processo de impecheament, liderado pela política tradicional. Venceu obstáculos e fez um dos melhores governos que Mato Grosso assistiu. Criou a Sanemat e deu impulso à política de habitação construindo 1818 casas em diversos pontos do estado. No setor de saúde fez construir 52 hospitais, entre 1966 e 1970. Promoveu concurso público na área da educação. Construiu a “nova’ ponte Júlio Müller, sobre o Rio Cuiabá; uma moderna estação para abastecimento d´água; reaparelhou os hospitais dos tuberculosos e o Adauto Botelho; ampliou a produção de energia elétrica; criou o Centro Educacional de Cuiabá; reorganizou o Corpo de Bombeiros; construiu o Laboratório de Solo; criou a Escola para Recuperação de Crianças Excepcionais; prosseguiu com a construção da Usina Hidrelétrica nº


Pedro Pedrossian

3 do Rio da Casca; urbanizou a Praça do Rosário; concluiu o prédio da maternidade do Hospital Geral; iniciou a abertura da Avenida Prainha; deu subvenções para construção da Catedral de Cuiabá, Santa Casa de Misericórdia e Abrigo dos Velhos; construiu o Palácio Filinto Müller; criou a Rádio Patrulha e modernizou a PM; fez o Cais Flutuante; criou o Instituto de Ciências e Letras Faculdade de Filosofia,em Cuiabá, além de centenas de obras no interior. Durante seu governo foi criada a UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso. GOVERNO JOSÉ MANOEL FONTANILHAS FRAGELLI Sendo vice o médico cuiabano José Monteiro de Figueiredo, o governador Fragelli buscou promover a recuperação financeira do estado. Implantou plano de implantação de rodovias vicinais, construindo estradas

nas zonas de produção agrícola. Em Cuiabá construiu a Escola Presidente Médici e o Ginásio Polivalente e muitas unidades de ensino no interior. Idealizou e iniciou a construção do Centro Político e Administrativo - CPA, uma das obras mais importantes das últimas décadas. É utilizado de forma eficaz até os dias de hoje, no entanto, quase nenhum funcionário público estadual que ali trabalha sabe que foi o idealizador daquele complexo. Fragelli também fez José Manoel Fontanilhas Fragelli

GOVERNO JOSÉ GARCIA NETO Tendo como vice Cássio Leite de Barros, Garcia Neto governou de 13/03/1975 até 14/08/1978, quando renunciou para disputar o Senado Federal. Foi um governo de grandes realizações, imprimindo-se um sentido social, multiplicando-se os postos de saúde e melhorando o sistema de água tratada, sem contar investimentos na área educacional. Ocorreu nesse período a criação do Estado de Mato Grosso do Sul. Esse fato ocorreu à sua revelia, tendo sido iniciativa do governo Geisel. Garcia Neto promoveu intensos investimentos na área de saúde. No setor educacional ampliou o número de salas de aula. Instalou curso de Agronomia, em Dourados e construiu o hospital universitário, em Cuiabá. Na área da cultura criou a Fundação Cultural, fazendo funcionar o Ateliê Livre e o Salão Jo-

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construir o Estádio do Verdão, depois desnecessariamente derrubado para compor novo estádio. A partir de 1973, efetuou trabalho de recuperação do patrimônio e documentos históricos. Apoiou programa de pesquisas arqueológicas, com descoberta dos seguintes sítios: Barranco Vermelho, Fazenda Murtinho, Fazenda Santo Antônio, João Quirino e Morro do Meio. Em seu governo foi criado a FEBEMAT - Fundação do Bem Estar do Menor.

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H IST Ó RIA

José Garcia Neto

vem Arte. Promoveu publicação de obras literárias e exibição de peças teatrais. Tombou o prédio do Seminário da Conceição e Igreja NS do Bom Despacho. Instalou o Museu de História Natural. Criou a PROSOL, para assistência social em geral e, através desta instituição foram criadas a “Casa do Artesão” em Cuiabá, Corumbá, Dourados, Rondonópolis e Campo Grande. Também foi criada o CEPROMAT, dando maior agilidade e eficiência aos cálculos orçamentários do governo. Foi um dos governos que mais se preocupou com a cultura matogrossense. GOVERNO CÁSSIO LEITE DE BARROS Leite de Barros governou de 14/08/1978 até 15/03/1979. Com a situação do Estado agravada pela divisão territorial o governante fez o possível para conduzir da melhor forma possível a máquina administrativa. Ao

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final de seu curto mandato, assim se expressou nas páginas do jornal O Estado de Mato Grosso (...) “Ao me despedir de Mato Grosso, espero que o Tribunal da história se lembre da boa intenção do seu governador em luta pelos direitos do povo matogrossense, permitindo superar os obstáculos provenientes do desmembramento do estado”. Cássio Leite de Barros governou sob clima de expectativa das novas experiências que já haviam sido plantadas no germe da divisão de Mato Grosso. Esse fato foi sem dúvida um divisor de águas, mas foi a partir dessa data que uma nova história de Mato Grosso passou a ser construída em nossa terra. GOVERNO FREDERICO CAMPOS Frederico Campos governou, junto com seu vice, José Vilanova Torres, de 15/03/1979 até 15/03/1983. Campos se propôs governar preservando a memória matogrossense e, ao mesmo tempo, implantar notável desenvolvi-

mento tecnológico, convivendo lado a lado, em harmonia, respeitando os valores éticos de nossa cultura. Conseguiu. Intensificou projetos de implantação de rodovias nas zonas rurais para escoamento de produção. Levou imagem de TV para quase todas as localidades. Intensificou programas e projetos de saneamento básico. Criou a Secretaria de Promoção Social (centros sociais urbanos, centros comunitários, módulos esportivos e centros sociais rurais) e deu continuidade à PROSOL, no campo da assistência social. Seu programa de habitação foi um sucesso, com total de 12.402 habitações construídas. Criou-se 20 novos municípios. Levou o sistema de telefonia DDD e DDI a várias localidades. Melhorou a qualidade do ensino, fez construir 99 unidades escolares, criando 114.720 novas vagas. Implantou o Prodasec, para populações carentes e o Pronasec, com finalidade de integrar educação, trabalho e cultura. Implan-

Frederico Campos


lumeMatoGrosso Júlio José de Campos

tou o projeto Carga Pesada (pavimentação de rodovias alimentadoras); Integração (construção de 80 pontes) e Nova Fronteira (integração da região centro ao norte/noroeste, por rodovia de 1.012km). Deu continuidade aos projetos hidrelétricos e estabeleceu programas de mini-usinas e usinas hidrelétricas. GOVERNO JÚLIO JOSÉ DE CAMPOS Com Wilmar Peres de Faria na vice, Júlio Campos governou Mato Grosso de 15/03/1983 até 15/05/1986. Foram prioridade em seu governo três pontos estruturais: Energia, Estradas e Educação. No setor de energia conseguiu recursos para o Linhão Cachoeira Dourada, sendo construídas 23 subestações de transmissões. Deu início à construção das usinas de Prima-

vera do Leste, Braço Norte, Juína, Aripuanã, Apiacás e Caiabis. Construiu a Usina de Culuene, inaugurou Usina São Domingos, em Torixoréu. No setor educacional construiu-se 618 salas de aula, reformou 504 e outras 147 foram ampliadas. Efetivou através de concurso público 8.563 professores. No setor de estradas pavimentou 2.544 km de rodovias; construiu 1.400 km de estradas vicinais pelo Polonoroeste; implantou o Programa Nova Fronteira da Rodovia, com 1.025 km de extensão, na região norte e noroeste. Pelo programa Carga Pesada concluiu 800 km dos 1.215 km previstos. Deixou em construção pontes de concreto e aço, pelo Projeto Integração, que totalizou 4.462 metros de pontes definitivas. Construiu o edifício do Dermat, no CPA. Duplicou a Avenida Fernando Corrêa,

em Cuiabá e também a Ponte Júlio Müller. Construiu o Trevo do Lagarto, o contorno rodoviário Cuiabá - Várzea Grande e parte do sistema viário do CPA. Criou a Secom - Secretaria de Comunicação Social e o Fundepan, para preservação do Pantanal. Buscou preservar a memória histórica através de inúmeros tombamentos de imóveis, formação de cursos e grupos folclóricos. Criou o Balcão do Povo, espécie de repositório das reivindicações, sugestões e críticas ao governo. Criou o Pró -Município e diversos outros programas especiais, visando promover o municipalismo. Um dos últimos projetos de sua gestão foi o tombamento da Residência dos Governadores, transformando-a em Museu. Com este ato, Júlio Campos passou a ser o último governador a morar na residência oficial.

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F E V E R E IROS d e nossa história DIA 01/1862

»» Nesta data o presidente

da Província de MT, Antônio Pedro de Alencastro, deixa o poder. Seu maior mérito foi trazer consigo, como secretário, o capitão Deodoro da Fonseca, nosso 1º presidente da República.

DIA 01/1942

»» Data de nascimento de Acimar Arlindo Monteiro da Silva, agrônomo, professor e prefeito de Livramento, em 1970.

DIA 02/1867

»» Data da posse do

presidente da Província de MT, de José Vieira Couto de Magalhães. Advogado, militar, político e escritor, é autor de “O Selvagem”, sucesso editorial publicado em vários países.

Philogônio de Paula Corrêa, José Estevão Corrêa, Pedro Gardés e outros.

DIA 04/1842

»» Nasce Manuel Peixoto Corsino do Amarante, em Cuiabá. Destacouse por feitos heróicos na Guerra do Paraguai.

DIA 04/1886

»» Nasce em Cuiabá o médico e político Mário Corrêa da Costa. Pacificou conflitos garimpeiros no leste e, quando governador, lançou a pedra fundamental de Mariópolis, em 14/07/1927, possível futura capital de MT.

DIA 04/1999

»» Falece Luis-Philippe Pereira Leite, advogado, político, cartorário, historiador e escritor. Presidiu o IHGMT por 20 anos.

DIA 05/1857

»» Nasce em Cuiabá o

engenheiro, empresário e político Antônio Corrêa da Costa. É patrono da Cadeira nº 29, da AML.

DIA 06/1952

José Vieira Couto de Magalhães

DIA 03/1875

»» Data da instalação da primeira Escola Normal de MT. Ocorreu declínio, mas ressurgiu em 1879, tendo como professores

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»» Nasce em Cuiabá, Dante de Oliveira, Ministro de Estado, prefeito de Cuiabá e governador de MT. Quando deputado federal foi autor da épica emenda constitucional “Diretas Já”, década de 1980. Dante de Oliveira

DIA 08/1891

»» Falece no Rio de Janeiro o militar político Hermes da Fonseca, herói da Guerra do Paraguai.

DIA 09/1928

»» Filho de Maria Dimpina, o padre e escritor Firmo Pinto Duarte Filho nasceu nesta data. Era membro da AML. Em 1995, passou a liderar novena perpétua de N. Sª Auxiliadora, com ocorrência de milhares de fiéis.

DIA 10/1925

»» Morre no Rio de Janeiro Caetano de Faria e Albuquerque. Foi deputado federal e governou MT. Deposto, protagonizou a Caetanada, em 1916, movimento político de oposição que lhe apeou do poder.

DIA 13/1983

»» Nasce Domingos Briante, em Bento de Abreu/SP. Empresário, é o fundador e colonizador de São José do Rio Claro, através da Imcol. Está sepultado no jazigo da família no cemitério São Bom Jesus, em Cuiabá.

DIA 15/1983

»» Morre o francês Georges Pommot. Era engenheiro e exímio violonista clássico, tendo atuado em sessões lítero-musicais na AML e IHGMT, a partir da década de 1940.

DIA 16/1828

»» O padre Ernesto Camilo Barreto nasce nesta data, na


de futebol José da Silva Oliveira, o “Bife”, ídolo do Mixto, Operário VG e União de Rondonópolis.

DIA 17/1900

»» Nasce D. Orlando Chaves, arcebispo de Cuiabá. Iniciou construção do Seminário Cristo Rei, em 1958. Instalou a Rádio Difusora. Em 1966, em sua gestão, deu ordem de serviço para a demolição da catedral de Cuiabá.

DIA 17/1787

»» Nasce em Portugal Luís D´Alincourt, militar, cronista e historiador. É patrono da cadeira nº 8, da AML.

DIA 18/1909

»» Falece Rufino Enéas Gustavo Galvão, o Visconde de Maracaju. Herói da Guerra do Paraguai, presidiu a província de MT. Criou o Liceu Cuiabano

»» Morre em Cuiabá o saxofonista Ivonildo Gomes de Oliveira, o “Mestre China”, que fez sucesso na noite cuiabana.

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cidade de Cachoeira/BA. Foi literato, atuou na política e na educação. Por dissidência política acabou preso, no dia 26/06/1861, celebrando missa na catedral.

DIA 26/1926

»» Falece Antônio Cesário de Figueiredo, pecuarista que governou MT, de 17/09/1897 a 19/11/1897.

DIA 28/1910

»» Nasce Benedito de Figueiredo, notável professor da língua portuguesa, em Cuiabá. Falece em 2013.

DIA 28/1941 Nasce Gilson de Barros, em Cuiabá. Foi advogado, militar, servidor público, jornalista, político, professor e apresentador de TV. Era um formador de opiniões.

DIA 19/1881

»» Falece em Corumbá Nicolau Fragelli, médico, jornalista, professor e político. Foi o primeiro ocupante da cadeira nº 33, da AML.

»» Nasce na Itália Antônio Colbacchini, missionário salesiano e pesquisador. Junto com o religioso César Albiseti, escreveu incríveis e necessários livros sobre o povo bororo.

DIA 16/1992

DIA 19/1955

DIA 16/1949

»» Falece o ex-presidente da

República e matogrossense, Jânio da Silva Quadros, que entrou para a história por ter renunciado à presidência, em 25 de agosto de 1961.

DIA 16/2007

»» Morre de falência múltipla dos órgãos o jogador

»» Falece no Rio de Janeiro o violonista e compositor matogrossense Levino Albano Conceição. Cego aos 7 anos, ainda é considerado um dos melhores violonistas, de todos os tempos, no Brasil.

DIA 21/1929

Gilson de Barros

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MARÇOS d e nossa história DIA 01/1870

»» Morre em batalha final

da Guerra do Paraguai, Francisco Solano López, presidente do Paraguai. Proferiu a seguinte frase antes de ser morto por um soldado brasileiro, trespassado por uma lança de guerra: “no mi rindo, muero com mi patria y con mi espada en la mano”.

de 1937 a 1945. Restaurou finanças do Estado; fundou o abrigo Bom Jesus; organizou serviços de saúde, construiu obras estruturantes em Cuiabá.

DIA 6/1969

»» Falece em Cuiabá o poeta e magistrado Oscarino Ramos. Ocupou a Cadeira nº 26 da AML.

DIA 6/2010

»» Falece Domingos Valério Iglésias, engenheiro civil que ofertou os melhores dias de sua vida à MT. Foi membro do IHGMT.

DIA 8/1880

Francisco Solano López

DIA 02/1881

»» Nasce Estevão Alves

Corrêa, médico, político e literato. Governou MT e presidiu a Constituinte de 1935. Publicou Herança e Consangüinidade. Pertenceu ao IHGMT.

DIA 4/1977

»» Falece Júlio Strubing Müller, governador de MT

»» Nasce o padre salesiano João Fuchs. Cientista, dedicou sua vida à formação espiritual de índios brasileiros em MT. Faleceu em missão, tragicamente golpeado por uma borduna xavánte.

DIA 8/1881

»» Falece em Corumbá o poeta, advogado, comerciante e jornalista Amâncio Pulquério de França. É patrono da Cadeira nº 25 da AML.

DIA 8/2009

»» Falece Jamil Boutros Nadaf, nascido na Síria. Empresário, representante comercial, corretor de imóveis e empreendedor.

DIA 10/1892

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Júlio Strubing Müller

»» Nasce José Barnabé de Mesquita, presidente fundador da AML. Escritor, jornalista, advogado e

professor, é um dos mais profícuos escritores de MT. Presidiu o TJMT por 10 anos.

DIA 11/1983

»» Fundação do Museu Histórico de MT, no centro de Cuiabá.

DIA 11/1985

»» Falece Edgar Vieira, uma das pessoas mais queridas pela sociedade cuiabana devido à sua dedicação às melhorias urbanas entre as décadas de 1940 e 1970.

DIA 12/1709

»» Nasce em Portugal, o capitão general Antônio Rolim de Moura, fundador de Vila Bela da SS Trindade. Durante os seus 13 anos de administração, muito fez pela capitania de MT.

DIA 14/1882

»» Fundação do Clube Literário, em Cuiabá, com objetivo de promoção de palestras e publicação de revistas literárias.

DIA 15/1995

»» Falece Demósthenes Martins, advogado, servidor público, político, historiador e escritor. Fez carreira política e literária baseada em Campo Grande. Membro da AML e ASML.

DIA 17/1941

»» Nasce em Cuiabá o poeta e jornalista Ronaldo de Arruda Castro, ocupante da Cadeira nº12, da AML, faleceu a 28/08/2001. Publicou Cuiabanália, em 1989.


DIA 22/1956

»» Falece Dom Francisco de Aquino Corrêa. Sepultado na Catedral de Cuiabá. Fundou o IHGMT e a AML e pertenceu à ABL. Presidente de MT em 1917.

pintor, aquarelista, escritor e historiador. Nasceu em Nice/ França, em 1804. Participou da Expedição Langsdorff.

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com nome de rua em Cuiabá - Rua João Bento.

Vila Bela da Santíssima Trindade Hércules Romuald Florence

DIA 19/1752

»» Fundação de Vila Bela da SS Trindade, primeira capital de MT.

DIA 19/1904

»» Nasce Laurinda Lacerda Cintra, em Poconé. Líder espiritual, passou à história como “Doninha do Tanque Novo”. Ficou famosa por seus dons místicos e de cura. Questões políticas levaram-se à prisão donde, em momentos de ira, lançou proféticas e sombrias previsões aos seus detratores.

DIA 21/1751

»» Por Carta Régia foi criada a Casa de Fundição de Cuiabá, estabelecimento onde era fundido e reduzido em barras todo o ouro produzido em Mato Grosso.

DIA 21/1880

»» Nasce João Bento Rodrigues de Lima, líder operário, barbeiro e propagandista de Getúlio Vargas. Morreu de forma misteriosa. Foi homenageado

DIA 27/1930

Dom Francisco de Aquino Corrêa

DIA 23/1931

»» Nasce João Alberto Novis Gomes Monteiro. Médico, poeta, historiador, escritor, biógrafo e contista. Membro do IHGMT, presidiu a AML.

DIA 25/1899

»» Nasce José Raul Vilá,

poeta e prosador. Foi o primeiro ocupante da Cadeira nº 25 da AML.

DIA 27/1867

»» Ocorre o Tratado de Ayacucho, de Amizade, Limites, Navegação, Comércio e Extradição, entre o Brasil e a Bolívia, com interesses matogrossenses.

DIA 27/1879

»» Morre Antoine Hércules Romuald Florence, fotógrafo, tipógrafo, desenhista,

»» Falece o ilustre papabanana Ciríaco Félix de Toledo. Foi destacado empresário e político. Era descendente de bandeirantes paulistas, ajudou a criar a Nhecolândia.

DIA 29/2000

»» Criação do município de Ipiranga do Norte.

DIA 30/1996

»» Falece o padre jesuíta Adalberto Holanda Pereira. Trabalhou com índios em MT desde 1956. Deixou obras sobre diversas nações indígenas, onde era respeitado Xamã.

DIA 31/1893

»» Nasce em Cuiabá o diplomata João Carlos Muniz. Chanceler brasileiro em Nova Iorque e Cônsul em Chicago/USA. Atuou em Londres e Varsóvia. Em 1939, era Ministro Plenipotenciário em Washington e, em 1941, em Havana.

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r e t r ato e m preto e branco

Sinjão Capilé O

foto JOSÉ MEDEIROS

matogrossense João Augusto Capilé Júnior, o Sinjão, foi o que podemos chamar de um homem obcecado pela vida, e por tudo que dela poderíamos extrair de melhor. Otimista por natureza, pautou sua vida por atos de perenes lisuras, mergulhando seus olhos no futuro, sempre atuou participando dos sentimentos de outrem por suas atividades so-

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ciais, culturais e humanitárias. Foi um homem de muitos dias, de cabelos nevados e, na idade madura, vibrava ao ver o primeiro raio de luz da manhã e admirava o cair da noite lenta, povoada de mistérios. Sempre rodeado pela família e amigos, gostava de lembrar-se de quantas noites, sob a luz das estrelas arranhou seu violão em busca da melhor sonoridade aos seus cânticos.


anos, foram morar e estudar na cidade do Rio de Janeiro. Estabeleceram-se na rua São Clemente, nº 82, no bairro de Botafogo, fato que influenciou Sinjão a torcer pelo time da Estrela Solitária. Os irmãos trabalharam no jornal “A Cruz”, e na Casa 3 Irmãos, na Rua do Ouvidor, no centro do Rio. Sinjão voltou a Dourados em 1935, passando a morar na Fazenda Novilho, com seus pais. Nesse ano, numa festa da padroeira da cidade de Dourados, Nossa Senhora da Conceição, conheceu Roma, a mulher com quem se casaria dez anos depois. Naquele tempo ele tinha 19 e ela 10 anos. De 1939 a 1941 viajou bastante, foi a Cuiabá, conheceu e passou a conviver com Maria Muller, Isác Póvoas, Lélia Póvoas, Firmo Rodrigues, Dunga Rodrigues, família Dorileo do Coxipó, Carmindo de Campos, Mário Spinelli e outros ícones da cuiabania. Em 1943, ocorre sua entrada para a vida pública e política, foi professor em Caarapó e, no ano seguinte, em 1944, com a criação do território de Ponta Porã, foi nomeado prefeito de Dourados. Desse período até 1958, Sinjão Capilé disputou eleições e enfrentou os prós e contras da vida política. Com a ascensão de Fernando Corrêa da Costa, Sinjão aceita convite do governador e se muda com sua família para Cuiabá, a qual bem conhecia e amava. Em Cuiabá foi nomeado

diretor do núcleo de analises e pesquisas da CPP Comissão de Planejamento e Produção e, no ano seguinte, o seu presidente. Capilé participou da fundação do BEMAT, da criação e instalação da Usina de Açúcar de Jaciara, de colônias agrícolas em Poconé, Cáceres e Corumbá, do IPEMAT e da CASEMAT. Na década de 1960, fundou núcleos de povoamento que se transformaram em prósperos municípios, a exemplo de Salto do Céu, Rio Branco e Lambari D´Oeste. Essa foi a primeira frente de colonização no então município de Cáceres, que abarcava os vales dos rios Jauru, Cabaçal, Branco e extensa área que se localiza na faixa da margem direita do Rio Paraguai. Milhares de agricultores se mudaram para essa região, “fazendo” suas vidas e de suas famílias. Era verdadeiramente o “Eldorado” para essas pessoas, muitas delas testemunhas vivas do empenho de Sinjão Capilé em proporcionar o melhor resultado para aquele projeto. Depois de muito bem servir Mato Grosso, que lhe hipoteca profundo reconhecimento e sua eterna gratidão por seus feitos e ações penetrados de amor e dívidas de gratidão, Sinjão Capilé buscou em sua família e nos amigos, sempre presentes, a motivação e o atiçamento preciso até seus quase cem anos de vida, quando passou para outro plano, em 2 de junho de 2015.

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Filho do “Mato Grosso Uno”, cedo ainda participou da vida política de seu Estado, deixando enorme legado de seus feitos, registrados nos anais de nossa história. Pela força de seu trabalho cidades foram criadas, estradas foram abertas e vidas ganharam esperanças. Por conta de seu dedicado trabalho na Cia de Desenvolvimento, Sinjão Capilé apreciava lembrar-se das tardes modorrentas e quentes em que trespassou cerrados e florestas buscando o melhor lugar para ser desbravado e que foi transformado nesse novo Mato Grosso. Nascido a 23 de março de 1916, em Rio Brilhante, hoje Mato Grosso do Sul, aos dois anos se muda com sua família para Dourados. Foi alfabetizado aos 5 anos pelo mestre Lázaro Godoy, no povoado de Santa Luzia, num rancho de pau a pique, ao sabor do vento e som de pássaros. Aos 10 anos se muda com a família para Ponta Porã, passando a conhecer e conviver com a cultura paraguaia. Foram tempos que marcaram de forma indelével Sinjão Capilé, nesse período duas paixões de sua vida tiveram rumos diferentes: perdeu sua querida irmã Geni, que o fez sentir dor infindável, mas aprendeu a tocar violão, instrumento que o acompanhou até o fim de seus gloriosos dias. Em 1930, conclui o curso de Admissão e dois anos depois, junto com seu irmão Júlio, de apenas 14

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memória

Jejé de Oyá A passagem de um ícone popular

H

Por Waldir Bertúlio

abita outro plano, Jejé de Oyá. Você, figura proeminente em nossa sociedade, que sonhou com uma família, achando força na espiritualidade e na contenda com os reflexos da escravidão e na sua ancestralidade. Esta que foi tão dura aqui na baixada cuiabana, e que levou negros a serem jogados tal qual buchas de canhões ao morticínio da Guerra do Paraguai, com a promessa de libertação. Você, que condoia com o sofrimento da escravidão negra nas minas do Sutil. Como primeiro colunista social da nossa cidade, saudado e bajulado pelas elites da terra na fotogenia narcísica dos demandantes no desfile das colunas sociais. Mais do que isto, guia espiritual até de curas, de reencontros, de amores clandestinos guardados a chaves possíveis nas intempéries das falsas e reais relações amorosas, que levou tantos para

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terreiros, a conhecer um pouco da crença na religiosidade afro. Que construiu em terreno fértil a poética da resistência, do enfrentamento ostensivo das diferenças, do conservadorismo e da intolerância. Enfrentou de peito aberto, nunca recuando no orgulho à dignidade e na conquista dos seus desejos. Menino que nasceu na síndrome da fome, no velho sertão de Rosário Oeste. Acolhido e apoiado em pequeno, pela família Cuiabano. Que foi estudar Artes e Ofícios desde o primário no Colégio São Gonçalo, já encantado com a arte da costura, que continuou na antiga Escola Artífice. Jejé sempre se postou como um príncipe negro, incorporando como marca em seu talento, criatividade, a estética e o vestuário afro. Estudou, pesquisou, desde os trabalhos como alfaiate (dizia costureiro), até a de colunista social badalado nas hostes ditas “chiques”.


doso Mestre Batista, que culminou com contendas e o encerramento da festa naquela noite. Quando podia, “dava bananas” ao racismo e machismo da cidade, com o desprezo e elegância de sempre, ele, que enfrentou centenas de hostilidades desta natureza. Também produziu na rádio Difusora o programa deno-

minado “ Uma Rosa para uma Dama Triste”. Jejé de Oyá foi fortemente identitário, pioneiro e verdadeiro no seu pertencimento cultural, racial, no gênero e na orientação sexual. Em tempos dificílimos. Sempre ancorado na religiosidade e no sincretismo. Jejé de Oyá é história, memória e orgulho da nossa terra!

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Nunca deixou de lado as referências das famílias pobres e tradicionais em seus textos. Sobretudo, sarcástico com as incoerências das superficialidades que marcam um tipo de colunismo servil, mercantil e vazio. Tinha uma visão crítica sensata e ‘finória’ da alta sociedade, sabendo que acumulou poder e força através deste ofício, vendo isto como um instrumento de resistência em sua ligação sincrética com o catolicismo e a religiosidade afro. Foi amigo desde Dom Aquino, outras referências católicas em Cuiabá, até os núcleos de Candomblé, Umbanda e Espiritismo. Referências como Dandi, Pai Edésio, Joãozinho do Axé, Jojô, Robson e Seo Arlindo. Certa feita, em Brasília (levado por Isabel Campos, amizade forte), foi recepcionado com honras de Chefe de Estado, confundido com o Rei da Nigéria, que ainda não tinha chegado. Sua indumentária afro era componente da sua arte e estética. Carnavalesco, sua presença era marcante, o povo aplaudia em delírios, as crianças adoravam suas performances nos velhos carnavais e batalhas de rua. Assinava ponto nas madrugadas em bares e espaços como Choppão e Sayonara, passando por clubes como Operário, o Dandi, Náutico, Grêmio Antonio João, além dos clubes Feminino e Dom Bosco. Sua entrada foi vetada no Dom Bosco em uma comitiva dirigida pelo sau-

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Segredos da Floresta

Leonardo Rocha é loiro, tem olhos azuis e se autodenomina índio. Índio Yawalapiti, com vivência e experiência xinguana. Desde criança mora em Chapada dos Guimarães, uma cidade mística e bastante visitada por suas belezas naturais e clima ameno fotos mario friedlander

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A

habilidade e conhecimento com as plantas, adquiridos desde sua infância com o povo Yawalapiti, no Alto Xingu, além do amor e encantamento pelos segredos da floresta, fizeram de Leo Rocha um homem conhecido mundo afora, através da série de TV “ Desafio em Dose Dupla Brasil”, produzida pela Discovery Channel. Esse programa, de grande audiência mundial, mostra as técnicas que Leo Rocha e o Coronel Leite, também especialista em sobrevivência em ambientes selvagens, desenvolveram para protagonizar tal empreitada.

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O DESAFIO DO XINGU Leo Rocha tinha onze anos de idade quando conheceu os Yawalapiti, em 1987, no I Encontro de Pajés, realizado na cidade de Chapada dos Guimarães, onde morava com sua família. (...) “Menino branco, coração índio, vai com nós”. Com estas palavras, o Pajé Tacumã, comunicou

dona Avani, mãe de Leo, que levaria seu filho para o Parque Indígena do Xingu. Ainda menino Leo aprenderia a ser índio. Tacumã, um dos pajés mais importantes de todos os tempos, ficou tão intrigado com o menino branco que, tão jovem, já sabia tanto sobre plantas, que o convidou para voltar com eles para a aldeia. Dona Avani deixou, mas se não tivesse deixado, ele iria mesmo assim. Durante seis meses, Leo conheceu técnicas indígenas e os segredos dos remédios do mato. Recebeu ensinamentos a respeito das histórias dos povos indígenas, das plantas, dos bichos e, principalmente, da complexidade das relações que existem na natureza. Ele aprendeu a respeitar a natureza, sem medo. Nessa época, em 1987, o cacique dos Yawalapiti do Alto Xingu era Paru, um renomado raizeiro, falecido em 2015. Ao ver Leonardo, Paru adotou-o como seu filho. Aritana, contemporaneamente o maior re-

presentante indígena entre os brancos, em todos os níveis, é filho de Paru. Paru, como a ele se refere Leonardo, pois era esse o nome que usava quando o adotou, ficou conhecido por Kanato, que representa evolução de seu pai, Índio Paru. No Alto Xingu, adotam-se vários nomes durante a vida: e outros podem vir como títulos de reconhecimento de seu desenvolvimento como pajé, líder, guerreiro, guerreiro cantador, contador de histórias e outras especialidades indígenas. Em 1993, aos dezessete anos, Leo Rocha voltou ao Alto Xingu para mais uma temporada de aprendizado, sendo recepcionado por seu pai, Cacique Paru, que ordenou a Muraika Waura, a ensinar o jovem Leo a fabricar o mítico arco preto. Muraika, já falecido, era grande arqueiro, um dos poucos que detinha o milenar conhecimento de fazer o arco preto. O ARCO PRETO O arco preto, que faz parte da vida de Leo Ro-


sistência e arma de defesa. Tal arma possibilitou que esses povos habitassem essa região desde os tempos mais remotos, pois pra eles o mito da criação do mundo é no Xingu. Contemporaneamente Léo Rocha é um dos poucos Yawalapiti que ainda detém o conhecimento de confeccionar o arco preto. Talvez o único. OPÇÃO DE VIDA É comum deparar-se em Chapada dos Guimarães com Leo Rocha, afinal de contas é ali que ele mora. Sua casa é atípica, customizada com enorme bloco de pedra canga e árvores do cerrado em sua sala de visitas. Uma enorme clarabóia joga luz solar e água de chuva nas árvores e plantas que vicejam ao seu derredor. As janelas, as portas, os vitrais e a luz de velas, sempre acesas em vários pontos daquele espaço mágico leva paz e harmonia aos seus moradores e aos seus amigos e convidados. Sempre de pés descalços e trabalhando em atividades que remetem aos povos da floresta, busca socializar seus dividendos com seus irmãos índios, por entender que essa é uma forma de retribuir e fortalecer a cultura e conhecimentos adquiridos nas matas xinguanas. Em 2014, voltou ao Xingu, e ali ficou por trinta dias. Esteve com os Yawalapiti e buscou madeira para confeccionar o arco

preto. Buscou na floresta e encontrou uma árvore já morta num incêndio, caída na mata. Achou a madeira sozinho. Tirou 14 lascas de mais de 2 m de comprimento. Deixou 12 lascas na mata, e, trouxe duas pra fazer os arcos na cidade de Chapada dos Guimarães. Dentre suas inúmeras atividades profissionais se destaca a de realizar vivências na natureza para pessoas interessadas em aprender técnicas básicas e conhecer os recursos que essa experiência oferece. Participam dessas experiências pessoas das mais diferentes profissões e lugares, que tem vontade de conhecer os segredos que a floresta apresenta. Em fevereiro de 2015, inaugurou em Chapada dos Guimarães a “Leo Rocha Arte Indígena”, uma loja dedicada a divulgar e resgatar a cultura dos povos nativos do Brasil. Nesta mesma linha de atividade comercial vai funcionar sua loja no Aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande. O encontro consigo mesmo, sua aceitação como menino índio, mesmo sendo branco e de olhos azuis, fez de Leo Rocha um homem diferente, capaz de fabricar o mítico arco preto. Sobre esta fase de sua vida, com os Yawalapiti, entre os onze e dezessete anos, no Xingu, a jornalista Letícia Baeta produziu espetacular texto, com o título de “O menino branco e o arco preto”, como podemos ver na sequência.

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cha, é uma arma lendária, procurada por índios de várias culturas. Faz-se o arco preto valendo-se de técnica milenar, com madeira retirada de árvore rara e somente encontrada no Alto Xingu. É conhecida pelos Mehinako por Muiapitana. Trata-se de madeira de cor vermelho escuro e suas fibras lembram músculos. Apresenta cerne muito duro, com densidade muito alta, de aproximadamente 1.200 km/m³, pesada, que afunda na água. Uma pequena lasca de aproximadamente 2 m de comprimento pesa até 200 kg. Ancestralmente era feito a partir de machadinha, lasca de pedra, dente de animais e fogo. Por isso uma peça levava meses, as vezes até o ano todo para se concluir o processo de sua confecção. Mas o retorno era um arco com uma espécie de garantia vitalícia, que dura gerações, passando de pai pra filho, neto, bisneto e não se acaba. Por isso é muito valioso. É uma das peças que possui maior valor de troca no Alto Xingu, com os povos que os procuram É usado, inclusive, como pagamento de dotes de casamento. É um arco que transmite a força do guerreiro com precisão e força incríveis. É o arco de maior potência entre os arcos nativos brasileiros. Ao longo dos tempos fez muita diferença na sobrevivência dos índios desta região, sendo fundamental como ferramenta de sub-

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O menino branco e o arco preto POR LETÍCIA BAETA

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“Quando ele completou dezessete anos, voltou pro Xingu. Ele tinha aprendido muita coisa quando foi pela primeira vez, aos onze anos. Na meninice ficou seis meses. Seis meses quase todo em reclusão. Não totalmente fechado, um sistema semi aberto. Às vezes pescava, saía pro rio, brincava. Mas a maior parte do tempo ficou dentro da grande casa, fechadinho no escuro e no silêncio da reclusão. Paru Cacique e índios de várias aldeias, algumas a mais de 500 km de distância, vinham de barco e a pé, prá contar suas histórias pros meninos da reclusão. Essas histórias nunca lhe saíram da cabeça. Pelo contrário. Ele quase ouvia suas vozes quando, agora grande, entrava no mato: “Aquela planta, menino, vai procurar aquela planta que eu te ensi-nei”. Reconhecia árvores, folhas, galhos que só conhecia nas histórias em cada trilha, caminho, passagem que andava. Descalço, sempre descalço no seu mato. Ele até sonhava na língua. E voltar ao Xingu agora era uma grande honra para ele. Leonardo percebia essa oportunidade. Estava radiante de felicidade, sentia o Xingu inflamando no peito. E Paru pai sabia, sentia e via Leonardo inquieto. Ele também não queria perder um tiquinho de Leonardo sequer. Paru então pediu a Muraika Waurá que ensinasse Leonardo a fazer o arco preto. Muraika não gostou muito da missão.

Paru sabia dos dons de Leonardo desde que ele veio, menino. Paru estava preparando Leonardo. E era chegada a hora de fazer arco preto. Não só a hora dele, do menino, mas o momento da aldeia. Poucos sabiam fazer tão importante peça. Um pouco mais de tempo... um pouco menos de tradição e o conhecimento de tal raridade estaria extinto. Paru sabia, Paru temia. Então Muraika deu o pior de seus facões a Leonardo e saíram na pior hora da tarde a procura da madeira. Andaram por horas na mata, com pouca comida. O mestre tentava desanimar Leonardo. Pensava que o menino branco desistiria fácil da missão. Muraika não acreditava em Leonardo. Mas, como Paru pediu, o velho chegou até a grande árvore. Rachar a madeira com machado, tirar o brancal, deixar só o cerne e levar a lasca para a aldeia. O mestre ensinou e foi embora. O menino ficou. Sozinho no mato. Leonardo pegou o machado e começou a cortar a árvore. Bateu, bateu, bateu. Leonardo cansado, Leonardo suado. Por quase sessenta dias o menino branco trabalhou no mato e percorreu o mesmo caminho até conseguir levar toda a madeira até a aldeia. Um caminho de pântano. Teve um índio que passou por ali e foi atacado por uma sucuri, e viam sempre pegada de onça. Quando o dia nas-


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O menino branco não sabia se chorava ou se ria. Se corava ou se sumia. Mas todos olharam para ele e mexeram suas cabeças em sinal de entendimento. Mas no fundo, lá no fundo, Leonardo branco sentiu. Acima do seu orgulho de bom arqueiro que era, ele se sentiu enganado. Não gostou. A mentira lhe feriu como uma flecha que fura e sangra. Foi pra beira do rio. Ficou. Por um bom tempo o menino branco ficou parado, olhando a água se mexendo sabiamente. Voltou pra aldeia, chamou Muraika, encarando-o de outra forma, um pouco mais de igual pra igual e o intimou com todo respeito: “amanhã quando o sol ainda estiver nascendo você vai me levar no mato de novo. Vai me mostrar a madeira certa!” Não sei se o velho entendeu as palavras ditas em português, mas ele captou o recado e acenou afirmativamente. Conforme combinado, os dois arqueiros saíram no escuro da madrugada e trombaram com o sol nascendo pelo caminho, onde estava madeira certa do arco preto. Árvore grande, tronco grosso. Leonardo caminhava decidido. Pés certeiros no chão, olho semicerrado a procura dos detalhes na mata. Facão na mão, pele queimada, mãos calejadas. O branco mudava de cor, virava índio! Da madeira certa, Leonardo Rocha não tirou apenas uma lasca para fazer o arco, tirou nove. Recomeçou o trabalho de dois meses, com o mesmo empenho. Alguns dias antes de terminar o trabalho, várias casas da aldeia pegaram fogo, inclusive a sua. Leonardo perdeu tudo: arco, rede, documento, dinheiro pra voltar pra cidade. (...) “Eu perdi tudo. Fiquei só com três lascas que estavam dentro do rio, e a minha bagagem passou a ser a roupa que eu tinha no corpo e o facão que eu estava na mão. Mas ai eu vi o tanto que eu era da tribo. Porque no outro dia eu tinha rede, eu tinha cobertor, eu tinha roupa, comida. Eu tinha a mesma coisa que todo mundo tinha e a mesma falta que todo mundo tinha. Ai eu vi o quanto eu estava sendo aceito completamente na tribo”.

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cia e o menino branco acordava, atravessava o pântano e ia prá sua árvore trabalhar as lascas. As vezes nem comia, esquecia. E trabalhava, trabalhava. O menino branco do arco preto. No meio da manhã voltava prá aldeia e ia mexer com as lascas que já estavam guardadas no rio, escondidas pra nenhum índio achar. As vezes escondia e nem achava mais... depois procurava até achar... esconderijo de índio... loca de bicho. Na beira do rio trabalhava com o facão, faca pequena, caco de vidro pra raspar e lixa. Depois de três a quatro meses de dedicação a peça enfim ficou pronta. Leonardo branco não acreditava. Estava satisfeito, estava orgulhoso. Muraika chamou então Leonardo para o último processo. O velho ainda não acreditava em Leonardo. O menino não havia desistido por nada! Muraika então acendeu uma pequena fogueira, pegou arco de Leonardo e colocou perto do fogo. Aqueceu um lado, virou do outro. Parecia que o mestre assava um peixe. Todo arco preto passa por esse último processo. Se um mínimo corte errado na madeira, logo no começo do trabalho, tivesse sido feito, agora, no fogo, a madeira racharia de fora a fora, como um vidro estilhaçado. O fogo esquentava a cara de Leonardo, olhando fixo e, de perto, seu arco, enquanto Muraika esperava pela rachadura. Muraika esperou, mas ela não veio. O mestre então olhou para Leonardo branco. Muraika entendeu Leonardo. Muraika entendeu Paru. No dia seguinte o velho chamou alguns homens no centro da aldeia. Chamou o menino branco e levou o arco preto. Ele falava e pedia para um índio mais jovem traduzir para o português de Leonardo. “Muraika não queria ensinar arco preto pra Leonardo. Muraika pensava Leonardo não conseguir. Muraika não podia desrespeitar madeira, desrespeitar arco. Então Muraika deu madeira errada para Leonardo. Madeira pequena. Pensava, Leonardo não vai conseguir. Mas Muraika está muito feliz. Leonardo conseguiu. Mesmo madeira pequena. Leonardo bom. Muito bom.”

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O

Por MAURÍCIO VIEIRA

carnaval é sem dúvida uma das maiores manifestações culturais típicas do povo brasileiro que somam elementos importantes para o entendimento de sua constituição social e possui aspectos culturais, políticos e econômicos. Esta festividade transita nas diversas classes e grupos sociais e é reconhecido como produto social típico de determinada classe ou grupo. Com cores, brilhos, formas e ritmos concerne esta manifestação como expressão da pluralidade cultural que forma o povo brasileiro. O samba move o ritmo que contagia e impulsiona o folião. Grandes compositores negros, que somam uma lista considerável, contribuíram e as Escolas de Samba e os tradicionais blocos nas suas inúmeras formas jocosas são resultado da influencia do movimento das comunidades negras que se espalharam Brasil afora, inclusive em Cuiabá, sendo ressignificado com uma desempenho tipicamente regional. Ao tratar dos enredos das Escolas de Samba, é curioso que estes são veículos para preservar e fomentar valores de determinados grupos étnicos sociais quase sem-

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Ancestralidade e Encantamento fotos Luís Alves

pre discriminados, mas que neste momento festivo ganham visibilidade. Este envolvimento de determinadas classes, como ocorre representa um modo de preservar e difundir a cultura afro brasileira, considerando que a letra expressa, um certo alcance ao universo afro. De tempos em tempos é possível perceber nos sambas enredos uma reverencia as Religiões Brasileiras de Matrizes Africana. O Axé (força vital) presente na festividade contagia a todos, pois esta energia esta concentrada nas matrizes afro brasileiras. A sonoridade do batuque dos Sagrados Terreiros invadem as passarelas do samba, fazendo ecoar o som que cotidianamente é abafado, porém neste período foliões de todos os cantos caem na folia e se dobram ao ritmo contagiante que provoca euforia, alegria e contentamento. Por meio destas manifestações, é possibilitado ao povo falar e agir conforme pensa e sente, porém por serem manifestações culturais, não são encaradas como atos políticos apesar da estar presente de maneira “latente”. Poucos ainda são os estudos que versam sobre

este assunto, principalmente quando analisados através de uma perspectiva social. É necessário o entendimento deste universo que geralmente está sendo deixado de lado, mas que de forma bastante consistente povoa o cotidiano de grande parte da população brasileira. A dimensão promovida neste tempo festivo que é o carnaval não pode ser ofuscada pelos desencontros dados aos excessos de uns e outros. A força da Ancestralidade brilha como sinal sagrado nos acordes sonoros da alegria envolvida. Deixar perder, ou até mesmo enfraquecer este momento cultural é sem duvida possibilitar o desfalecer o realce no rosto do brasileiro que entre as suas alegrias estão à capoeira, o carnaval e o futebol. Trata-se de uma festa onde entra para brincar quem tem condições para tal. O Carnaval é assim, sem fronteiras, sem diferenças, muita energia e multiplicidade de cores e formas. É como o mundo deveria ser não somente nestes dias de festa e sim necessariamente todos os dias. Como seria bom se fossemos eternos foliões! Axé!

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agenda

EMERSON NOGUEIRA NA MUSIVA Conhecido por sua inconfundível voz rouca, Emmerson Nogueira e sua elegante banda prometem levar o público a momentos de muita emoção e diversão com uma performance impecável pra fazer todo mundo cantar. Abertura da Casa: 22h

PEDRO DORILEO LANÇA LIVRO O escritor e membro da Academia Mato-Grossense de Letras, Benedito Pedro Dorileo, lança o livro Zulmira Canavarros: a Egéria Cuiabana. O evento ocorre a 8/03/2016, Dia Internacional da Mulher, no Teatro do Cerrado Zulmira Canavarros, na Assembleia Legislativa de Mato Grosso. A obra tem quase 400 páginas, a edição é da Editora Entrelinhas.

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Ingressos: Meia: R$ 40.00 Inteira: R$ 80.00 Cadeiras Individuais: Meia: R$ 50.00 Inteira: R$ 100.00 Camarotes: R$ 1.500,00 (8 pessoas) Mesas Setor A: R$ 1.200,00 (6 pessoas) Mesas Setor B: R$ 1.000,00 (6 pessoas) Mesas Setor C: R$ 900,00 (6 pessoas)


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AS VERDADES DE IRIGARAY Clovis Irigaray se revela ainda mais ousado nesta exposição. “Se há uma grande herança que deixei para a arte mato-grossense, é o empenho no realismo. Porque ele denuncia sem desmistificar. Por meio dele, você transmite a verdade do que você acha, de todas as coisas que você é”, disse. O grande destaque da exposição é a Sala Vermelha, com visitação limitada à idade de maiores de 16 anos: “Vai ver índios, freiras e pessoas comuns em situações abertas. Estou cobrando a honestidade da fisiologia humana. Já estamos perfeitos e feitos para amar e ser amados”, e, para ele, isso pode traduzir-se como toda forma de amar. Local: Palácio da Instrução - Cuiabá - MT

SALÃO JOVEM ARTE Estão abertas as inscrições para a 25ª edição do Salão Jovem Arte Matogrossense. Serão aceitas inscrições de artistas em 9 categorias artísticas até o dia 20 de março. A exposição acontecerá no Palácio da Instrução, entre

De: 28.01.16 a 24.04.16, de terça-feira a sexta-feira, das 8h00 às 20h00 Sábados, domingos e feriados, das 9h00 às 18h00 os dias 19 de maio e 07 de agosto. A promoção é da Secretaria de Estado de Cultura (SEC) e Associação das Artes, Comunicação e Cultura de Mato Grosso (Acênica). Serão concedidos prêmios nos valores de R$ 10 mil, R$ 8 mil, R$ 6 mil e R$ 3 mil totalizando R$ 33 mil. OUTROS CARNAVAIS A exposição do fotógrafo Rai Reis, começou dia 06/02 no Espaço Cultural Casa Azul, em Chapada dos Guimarães. Estão expostas cerca de 20 fotografias, sendo dez delas do carnaval de Guiratinga (340km de Cuiabá), e ainda outras dos carnavais de Cuiabá e Chapada. As fotos ficarão expostas até dia 06 de março, das 14h às 18h, todos os dias. A entrada é franca. www.raireis.com.br

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culinária

FOTOS LAÉRCIO MIRANDA

Edna Lara é gastrônoma e culinarista, formada pela Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro. Autora de duas edições do livro “Diversidade da Gastronomia”. A segunda nas versões português e inglês

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A

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Carne Picadinha com Maxixe

Junto com os termos Cotxipó e ca -dju, dentre outras nomenclaturas que formam expressões históricas e que identificam o jeito e o modo de falar cuiabano, está o maxixe, relacionado, por exemplo, à frase “(...) fui no Cotxipó da Ponte comer petche co maxixe”. O maxixe, que faz parte da culinária da região do

Vale do Rio Cuiabá, é originário da África, vindo ao continente sul-americano pelas mãos de escravos africanos, em tempos de colonização lusitana. Chegou a Cuiabá através de bandeirantes paulistas e negros escravos. Se você adora a idéia de poder preparar suas próprias receitas, mas não se sente confiante o bastante para fazê-lo, esta receita de

carne picadinha com maxixe vai cair como uma luva. Este fruto de baga carnosa possui sabor peculiar e caiu no gosto e paladar do povo matogrossense, ao longo dos séculos, podendo ser preparado de diversas formas. Esta sugestão da “Chef” certamente irá agradar a todos, especialmente aos paladares mais aguçados.

Receita de Edna Lara Ingredientes

»» 1/2 quilo de carne »» 1 quilo de maxixe raspado e cortado em quatro pedaços

»» 1 cebola média picadinha »» 1 maço de cheiro-verde picadinho »» 1 tomate picado, sem sementes »» 1 pimentão picado, sem sementes »» 3 colheres (de sopa) de óleo »» 2 xícaras (de chá) de água »» 4 dentes de alho »» sal e pimenta-do-reino a gosto COMO FAZER

»» Corte a carne em tiras finas e depois

em cubinhos. Tempere-a com alho, sal, pimenta-do-reino e deixe repousar por alguns

minutos. Leve ao fogo uma panela com óleo e frite a carne, pingando água aos poucos para dourar e cozinhar até ficar macia e da cor de ferrugem. Retire o excesso de óleo. Acrescente a cebola, o tomate, o pimentão e refogue-os bem. Acrescente o maxixe cortado e tampe a panela. Deixe abafar por alguns minutos. Cubra com água e deixe cozinhar até que os maxixes estejam macios. Desligue o fogo, salpique o cheiro-verde e sirva imediatamente.

SUGESTÕES:

»» Proceda da mesma forma descrita acima para preparar Picadinho com batata-inglesa. Picadinho com mandioca ou Picadinho com cenoura.

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Ivan Belém Lume na cena contemporânea

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Por carlos ferreira

uz na cena teatral matogrossense com o ator Ivan Belém, “cuiabano” de Barão de Melgaço – MT, funcionário da Secretaria Municipal de Cultura de Cuiabá, doutor em Educação pela UFMT e empreendedor cultural na cidade de Chapada dos Guimarães – MT. IVAN BELÉM, É VERDADE QUE VOCÊ NÃO É CUIABANO? Eu sou um cuiabano que não nasceu em Cuiabá. Fruto dos constantes deslocamentos humanos, nasci às margens do Rio Cuiabá, no município de Barão de Melgaço, mas me mudei para Cuiabá após um mês de nascido. Meus pais haviam recém construído uma casa no bairro Lixeira. Portanto essa casa, na qual

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fotos joyce corrêa

ainda habitamos, tem a minha idade. Sou filho de um cuiabano e uma pantaneira do Rio Mutum. Pelo lado materno, sou quinta geração de pantaneiros; e pelo lado paterno, minhas origens são de Livramento. Com um histórico desse só posso dizer que sou cuiabano, não é mesmo? FALE UM POUCO DA SUA RELAÇÃO COM A PAISAGEM PANTANEIRA, ONDE VOCÊ NASCEU. Tenho pouca vivência no ambiente pantaneiro. Mas retomei minhas origens recentemente, durante o mestrado, quando fui estudar a história da Baía de Siá Mariana. Que, na verdade, conta a história de meus bisavós, Miquelina Maria da Luz e Augusto Le-

verger Corrêa da Costa, que viveram uma linda história de amor nessa região. MAS ENTÃO, O SEU PROJETO DE MESTRADO É UMA APROXIMAÇÃO DO UNIVERSO PANTANEIRO? Sim. E não foi uma escolha minha esse tema, mas também não foi obra do acaso, pois não acredito em acaso. Atribuo isso à força da ancestralidade. Foi essa energia que me aproximou de Michèle Sato, minha orientadora, que, mesmo sem saber da minha história familiar, me sugeriu o tema. Além disso, nesse período, vivi algum tempo em Varginha, distrito de Santo Antonio de Leverger, que entendo também como parte desse indispensável mergulho no universo pantaneiro.


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ISSO SIGNIFICA ENTÃO QUE, ALÉM DE ATOR VOCÊ ABRAÇA AGORA O EMPREENDEDORISMO CULTURAL ? QUAL SERÁ A PERSPECTIVA DA CASA AZUL PARA A CULTURA NO MUNICÍPIO DE CHAPADA DOS GUIMARÃES? A Casa Azul é uma oportunidade pra agitarmos culturalmente o município, contribuir com a sua população e também criar um espaço de convivência. Somos irrequietos por natureza. Poderíamos estar vivendo em Chapada, conforme o sonho de todo mundo, ou seja, descansando, balançando em uma rede. Chapada, aliás, pede isso. Mas queremos mais. Chapada é linda e naturalmente exuberante, porém, carente de programações culturais que atendam sua população.

Não queremos que a Casa Azul seja um mero espaço para eventos, mas pretendemos criar ali ações que tragam algum retorno para a comunidade, como oficinas, palestras, cursos, exibições de filmes, etc. Temos feito tudo com os nossos próprios esforços, sem patrocínio ou apoio do poder público ou empresarial, mas temos buscado apoios e parcerias. COMO FOI A SUA TRAJETÓRIA ARTÍSTICA NO TEATRO EM CUIABÁ? A minha trajetória artística completará 40 anos em 2017. Refletindo sobre a minha trajetória no tea-tro, sinto-me orgulhoso. Afinal, fazer teatro em Cuiabá, naquele período, era uma atividade quase marginal. Pais nenhum queriam ter filhos artistas. Lutei contra tudo e todos. O que me orgulha muito é certificarme, hoje, o quanto foi importante a nossa atuação, não apenas no nível artístico quanto nos níveis cultural, político e social. Éramos jovens artistas que fizemos a diferença em nossa sociedade. Comecei fazendo teatro aos 17 anos no Grupo Teatral do SESI, sob a direção de Camilo Ramos dos Santos, em cujo grupo conheci Liu Arruda, que logo depois se mudou para o Rio de Janeiro. Quando deixei esse grupo, alguns anos mais tarde, montei o Grupo Gambiarra com meu irmão Rubinho e

alguns vizinhos, todos da mesma faixa etária. Nosso foco era o teatro infantil. Esse grupo se desfez e eu me senti sem tribo durante algum tempo, dedicando-me a fazer cursos, sendo que o mais marcante foi com Amir Haddad, fundador do grupo de teatro carioca “Tá na rua”, com o qual fiz três cursos. Foi fundamental à minha carreira.

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HOJE, VOCÊ E O SEU IRMÃO RUBENS BELÉM, RESIDEM EM CHAPADA DOS GUIMARÃES, COMO SE DEU ESSA ESCOLHA E MUDANÇA? Após esse mergulho profundo nas minhas origens, fui emergir em Chapada dos Guimarães. Há cerca de um ano tenho um pé em Cuiabá e outro lá. Aliás, frequento a Chapada desde a minha adolescência. Tenho muitos amigos nesse lugar, sempre gostei da Chapada. Por isso, digo que estou retornando. Inclusive eu e meu irmão, o Rubinho, criamos lá o Espaço Cultural Casa Azul.

E COMO FOI A SUA RETOMADA NA CENA TEATRAL? Depois desse pequeno hiato, tomei contato com as teorias do Teatro do Oprimido, desenvolvidas por Augusto Boal. Somente nos anos 1980 fui achar a minha tribo. Quando então dois artistas cuiabanos retornaram à esta terrinha: Liu Arruda e Meire Pedroso. Juntamonos e nossas vidas ficaram seladas para sempre. MAS A RETOMADA DO GRUPO GAMBIARRA CONTAVA COM OUTROS INTEGRANTES, QUAIS ERAM? Uniram-se a nós, também Mara Ferraz, Claudete Jaudy, Vital Siqueira, Wagton Douglas, Augusto Prócoro, dentre outros, que constituíram a segunda formação do Grupo Gambiarra, agora se dedicando ao teatro de rua. Éramos todos cuiabanos, mas não éramos um gueto, pois também partici -pavam atores não cuiabanos, como Maria Tereza Prá e Roberto Villas Boas.

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IVAN, QUAL ERA O FOCO PRINCIPAL DESSA NOVA FORMAÇÃO TEATRAL DO GRUPO GAMBIARRA? Atuamos fortemente nas questões políticas e sociais daquele momento. O Grupo se extinguiu e formei dupla com Liu Arruda, por muitos anos, criando um gênero de comédia mato-grossense. Dos autores e diretores mato-grossenses com os quais mais trabalhamos foram Luiz Carlos Ribeiro e Chico Amorim, que foram imprescindíveis à construção desse gênero cuiabano de se fazer humor e crítica social. Pela primeira vez o teatro da casa passa a fazer sucesso comercialmente, abrindo espaço para outros artistas locais, tornando-se ainda hoje uma referência. RECENTEMENTE VOCÊ

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ESTREOU UMA COMÉDIA, COMO FOI ESSA EXPERIÊNCIA E A SUA PARCERIA COM DOIS OUTROS ATORES CUIABANOS DE SUCESSO? Sim, ano passado remontamos “A Virgindade Contestada”, texto de Luiz Carlos Ribeiro, adaptado da obra de Tereza Albues. Contracenei com Vital Siqueira, velho parceiro dos tempos do Gambiarra, com quem tenho atuado mais frequentemente; e com Romeu Benedicto, com quem já havia contracenado algumas vezes. São dois grandes comediantes e a experiência foi bastante enriquecedora. Deu pra bater um bolão com eles. COM ESSA TRAJETÓRIA DE SUCESSO, VOCÊ SE SENTE ENTÃO, REALIZADO? Isso não quer dizer que eu esteja realizado. Quero dar

um outro enfoque à minha carreira artística. Sinto que estou me repetindo, me copiando. Pretendo fazer algo novo, talvez diferentemente da comédia. Aliás, ao contrário de Liu Arruda, que era um comediante por natureza, não me sinto comediante. Sinto-me um ator. Um ator que também faz comédia. Por isso desejo buscar outras possibilidades. COMO VOCÊ SE SENTE NESTE MOMENTO NA CENA CONTEMPORÂNEA E O QUE A MORTE DO ATOR LIU ARRUDA CAUSOU NA SUA CARREIRA ARTÍSTICA? Quando Liu morreu fiquei sem parceiro de cena, com quem eu tinha uma grande química em cena. A gente se divertia muito contracenando. Aí fui fazer outras coisas. Voltei à estu-


QUAIS PERSPECTIVAS ACENAM PARA UM NOVO PENSAR NA SUA VIDA CULTURAL? A crise, seja estética ou de público, sempre fez parte da história do teatro e o teatro sempre sobreviveu. Sobreviveu, inclusive, à ditadura. O que acho muito salutar é que o teatro em Cuiabá goza de uma diversidade de gênero impressionante. Defendo a diversidade, pois ela nos enriquece sobremaneira. Independente das políticas culturais ou da ausência delas, sempre produzimos. Continuamos tocando o barco, mesmo que às vezes tenhamos a sensação de estarmos remando contra a maré. No campo pessoal preparome para lançar brevemente o meu livro que traz a minha tese, que é justamente sobre Liu Arruda e o Grupo

Gambiarra, tendo como título “Liu Arruda: a travessia de um bufão”. E novamente Michèle Sato me orientando e me inspirando, uma parceria para a vida toda. Esse livro, tenho certeza, será um presente para Cuiabá, um presente meu à esta terra que amo e que tantos presentes já me deu... Tenho uma dívida impagável com Cuiabá! FALE UM POUCO DA SUA VISÃO SOBRE O TEATRO EM CUIABÁ, NA CONTEMPORANEIDADE, E O QUE ESSA LINGUAGEM PODE ESPERAR DOS GESTORES PÚBLICOS DAS ÁREAS AFINS. Eu vejo com bons olhos. Sou otimista. Cuiabá tem uma vocação para o teatro, assim como para as artes plásticas. Claro que existem coisas pavorosas na cena, faz parte. Ninguém nasce sabendo. As pessoas crescem e se transformam. Temos alguns bons atores e atrizes, e também alguns bons grupos de teatro. Mas é preciso dar o salto, para além das contribuições pretéritas. Os órgãos públicos ainda não deram uma contribuição efetiva às artes em Mato Grosso, em nenhum governo. São ações tímidas. Sobrevivemos graças aos nossos esforços individuais ou de grupos. Tomara que essa situação mude. Se os nossos gestores ousarem e peitarem essa situação, certamente terão um lugar de destaque na história deste Estado.

PROJETO

CABEÇA

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dar. Conclui um mestrado e no ano passado conclui um doutorado. Tudo isso paralelamente aos palcos, que nunca abandonei de fato e nem pretendo. O teatro é o meu lugar. Mas o que percebo é que a plateia está esvaziada. Eu sou um ator que circula com desenvoltura na cena teatral, mas percebo que se o ator não conta com uma emissora de TV por trás dele dificilmente lotará um teatro. Ou seja, o teatro continua sendo uma arte elitista. Quem conhece Ivan Belém é um público que não se deixa orientar pela televisão, é um público que frequenta teatro.

ARTE SUSTENTÁVEL

Raízes, afrobrasilidade e tabus em uma arte reciclável e sofisticada. Retratos do cotidiano, dos jogos e do imaginário. Identidade brasileira registrada com a sensibilidade do artista universal.

Escultura “Os palhaços”

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Anderson Moura www.facebook.com/projetocabeca 65 9941 9323


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C ULTURA

Caravana da Alegria 2ª Edição

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Por CECÍLIA KAWALL

o vermelho de ferro e fogo da Chapada dos Guimarães vamos direto para o azul gelado dos glaciares patagônicos. Contrastes que nos acordam para a vida, bom dia pra quem é de bom dia. E boa noite com lua aquariana e nada mais nada menos do que outros cinco planetas em alinhamento! Que ano novo mais intenso.

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C ULTURA

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Tanto quanto viagens de mais de trinta mil quilômentros de uma vez só. Seis meses numa volta olímpica de carro, por toda América do Sul apresentando teatro na rua, subindo montanha, nadando em Galápagos, atravessando a Colômbia... A partir das raízes que plantei aqui no centro geodésico do nosso continente cada direção aponta e leva a uma nova aventura. A imagem das árvores é muito presente em mim e a lição que elas ensinam me alimentam a cada dia e noite. Como uma pequenina semente, na escuridão do solo, com um pouco de água e nutrientes, desabrocha, cresce e se torna um gigante. Forte e maleável, firme e ao mesmo tempo que dança com a brisa. Falando em brisa, vamos logo prá Patagônia, nosso destino de hoje. Lá venta muito, muito. São milhares de quilômetros de planícies varridas por ventos fortíssimos que chegam a balançar paredes... certa noite, enquanto descia pela Ruta 3 em direção ao Ushuaia, a notícia era de ventos de 120 km/hora... que brisa não?!! Estava em Rio Gallegos em busca dos pinguins e baleias... As baleias orca vem se alimentar dos leões marinhos que descansam inocentemente a beira mar... ainda vi por ali guanacos, papagaios endêmicos das estepes patagônicas, pinguins e até tatús! Da costa para o interior rumo aos glaciares que eu

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nem sabia que existiam, foi uma surpresa enorme avistá-los. Chegando em El Calafate encontra-se uma cidade toda aconchegante e voltada para o turismo de aventura, trilhas, montanhas e claro, o mestre Perito Moreno. A energia daquelas montanhas de gelo azul é incrível, sua majestade, sua imponência. Passei o dia todo mirando sem cansar. Dia seguinte podia ir visitar algum outro ponto mas escolhi voltar ao mesmo lugar e ficar mais tempo perto dele. O gelo vem das montanhas e vai derretendo e quebrando onde encontra temperaturas mais amenas... o lago que se forma, e os rios que rasgam as planícies são de uma cor azul leitosa que parecem tinta. Parece um outro planeta, um outro material. Pelas trilhas ao redor se tem mais noção do todo e de barco pelo lago é possível chegar mais perto e a perspectiva os torna gigantes. De repente um estalo e já vai uma torre ou ponta por água abaixo. A brincadeira é ficar imaginando formas como fazemos quando olhamos para as nuvens, “olha um gnomo ali”! Prá mim viajar de carro pela Patagônia foi como estar num filme, me lembrava dos filmes de faroeste. Ao mesmo tempo a lembrança do “meu” Velho Oeste matogrossense era muito presente. As estradas sem fim, as planícies, a terra, o vento e a poeira. Viajar de carro nos permi-

te adentrar aos poucos, conquistar cada kilômetro, ter tempo de se adaptar, tempo de conhecer melhor as pessoas que encontramos. A Argentina foi uma grata surpresa com suas boas estradas, gente hospitaleira, hostels e campings super bem estruturados e limpos, os restaurantes e os filés de salmão fresco, os vinhos, as frutas, o combustível, tudo muito bom. Eu viajava com um carro pequeno ano 1991 e muita bagagem. Tinha equipamento para neve, barraca, fogareiro, panelas, comida, roupas e uma bolsa de água quente que foi a salvação dos dias de montanha. E tinha também o mesmo “kit” para praia, além das ferramentas, cordas, pá, facão e ... um CIRCO! Sim, ainda tinha um espetáculo de circo com cenário, figurinos e uma bike arrematando tudo. Chegava nas cidades e fazia apresentação nas escolas, hospitais, parques, presídios... onde tivesse público natural pois não tinha tempo de fazer divulgação ou produção. Este foi outro fator que trouxe sucesso para esta aventura, a atração que as crianças sentiam ao conhecer o carro, os personagens, ouvir a música e o inesperado do teatro em plena praça, sem aviso, sem grandes equipamentos ou equipes. No capô do carro um mapa da América do Sul atraía os curiosos e gerava intermináveis conversas e trocas de conhecimentos sobre


lumeMatoGrosso as diferentes culturas. Logo surgia uma aula sobre geografia, medindo as distâncias entre os países, “mi casa y su casa”. Logo queriam saber como era minha casa, se eu tinha filhos, com quem estavam, o que comíamos. E uma nova surpresa para mim foi escutar das crianças as perguntas sobre como o nosso presidente governava o país, se eu gostava, se eu votava... mesmo pequenos de cinco ou oito anos já

tinham consciência política! Quanta diferença! De volta para estrada, para o deserto gelado rasgado pelo vento. De novo as planícies, as cidades de canteiros de lavanda crescendo como mato crescendo na calçada. Roseiras, cerejas e os índios mapuches e tehuelques me soprando os sonhos, me embalando prá lá e prá cá. E assim vamos prá próxima aventura. Oiapoque BR!

Cecilia Kawall, guia de turismo regional, técnica em acupuntura, reiki master, instrutora de oki do yoga e shiatsu, produtora, fotógrafa, bailarina e mãe.

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Bovinocultura Humberto Espindola, 50 Anos da Sociedade do Boi Por willian gama fotos JANA PESSÔA/rai reis

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ma obra que vai muito além do temário, Humberto Espindola ganha amplitude em sua arte por retratar com crueza, às vezes visceral, um Brasil “interiorano” cheio de contradições, em busca de ascensão. Mariza Bertoli, crítica de arte, destaca que “quanto mais se afirma a regionalidade na densidade expressiva da obra, mais ela se investe de universalidade porque o território cultural não se contém nos limites da geopolítica, os códigos culturais avançam. Criando sobreposições enriquecedoras, miscigenando-se”.

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Pintor, desenhista e objetista, com um trabalho nascido em meio à ditadura militar brasileira da década de 60, mas que com o final dessa não perdeu seu senso crítico e provocativo, as obras de Humberto, continuam nos incitando reflexões existências. Mais de 50 anos depois da primeira apreciação crítica do seu trabalho, Humberto traz consigo os mais importantes prêmios nacionais e sua participação nos principais eventos universais de arte. Sendo alguns destes: 10ª Bienal Internacional de São Paulo e da 11ª, na qual obtém Prêmio Bolsa de Estudos

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no Exterior (1969/71); 2ª Bienal de Medellín (Colômbia, 1972); 36ª Bienal de Veneza (Itália, 1972); 1ª Bienal Ibero -americana de Pintura (México, 1978); 1ª Bienal de Havana (Cuba, 1984); 2ª Bienal de Cuenca (Equador, 1989); Pintura Contemporânea de Brasil, Casa Rômulo Gallegos (Caracas, Venezuela, 1990); Viva Brasil, Museu de Arte Contemporânea da Universidade do Chile (Santiago, 1996); Seis Artistas Brasileiros: Dimensões do Ser e do Tempo, Museu de Arte de Cochabamba, Museu de Arte de La Paz (Bolívia, 1988), Kingsman Foundation (Quito, Equador) e Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (1997). Segundo a professora e críti-

ca de arte Aline Figueiredo em seu livro A Propósito do Boi, “Espindola transmitiu, também, com a imagem do boi, a capacidade dual que o homem lhe impõe, isto é, o terno animal dos pastos também será besta satânica. Com as patas expressa o massacre, com os chifres a opressão e com o corpo o poder. Humaniza o boi para traduzir a força sócio-política e econômica. Associa-o ao Minotauro, símbolo da dualidade onde o homem e o animal se confundem. Assim, minotauros de hoje, famélicos senhores bovinos transitam engalanados de uniforme, estrelas, dragonas e esporas, enquanto devoram uma sociedade marginalizada em seus mordazes labirintos”. Ainda segundo Aline, vale ressaltar que “Humberto am-


De tempos em tempos é possível perceber nos sambas enredos uma reverencia as Religiões Brasileiras de Matrizes Africana. O Axé (força vital) presente na festividade contagia a todos, pois esta energia esta concentrada nas matrizes afro brasileiras. A sonoridade do batuque dos Sagrados Terreiros invadem as passarelas do samba, fazendo ecoar o som que cotidianamente é abafado, porém neste período foliões de todos os cantos caem na folia e se dobram ao ritmo contagiante que provoca euforia, alegria e contentamento. Por meio destas manifestações, é possibilitado ao povo falar e agir conforme pensa e sente, porém por serem manifestações culturais, não são encaradas como atos políticos apesar da estar presente de maneira “latente”. Poucos ainda são os estudos que versam sobre este assunto, principalmente quando analisados através de uma perspectiva social. É necessário o entendimento deste universo que geralmente está sendo deixado de lado, mas que de forma bastante consistente povoa o cotidiano de grande parte da população brasileira. A dimensão promovida neste tempo festivo que é o carnaval não pode ser ofuscada pelos desencontros dados aos excessos de uns e outros. A força da Ancestralidade brilha como sinal sagrado nos acordes sonoros da alegria envolvida.

Deixar perder, ou até mesmo enfraquecer este momento cultural é sem duvida possibilitar o desfalecer o realce no rosto do brasileiro que entre as suas alegrias estão à capoeira, o carnaval e o futebol. Trata-se de uma festa onde entra para brincar quem tem condições para tal. O Carnaval é assim, sem fronteiras, sem diferenças, muita energia e multiplicidade de cores e formas. É como o mundo deveria ser não somente nestes dias de festa e sim necessariamente todos os dias. Como seria bom se fossemos eternos foliões! Axé!

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pliou o seu fazer artístico até ao artista-ação, contribuidor pessoal e direto, um agente de mudança na inércia do panorama cultural desta vasta região brasileira”, ao lado de Aline Figueiredo fundou a Associação Mato-grossense de Arte – AMA (1967), o Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT em Cuiabá– MACP (1973), sendo o primeiro diretor da instituição (1973/1982), Fundação Cultural de Mato Grosso em Cuiabá em 1975, anos depois a fundação se tornaria Secretaria Estadual de Cultura de Mato Grosso, foi o primeiro secretário estadual de Cultura de Mato Grosso do Sul (1987/1990) e de 2002 a 2005 dirigiu o Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul – MARCO. É de extrema importância que haja sensibilidade por parte do expectador, para compreender que a obra do artista vai muito além do boi, o tema é comum para o homem que habita o Brasil central, mas reflexiona através dessa pintura uma verdade geopolítica e socioeconômica existente desde os primórdios civilizatórios da humanidade. Um assunto que nos é comum, tratado e executado em diversas plataformas, sendo uma mais singular que a outra, isso é luz em nossas vidas, e nos aponta a sagacidade e genialidade de um mestre brilhante, sensível e atento as nossas necessidades sociais e intelectuais. Salve Humberto Espindola!

William Gama Curador de Arte; Estudante da Faculdade de Direito no Centro Universitário de Várzea Grande; Membro titular da Organização Internacional de Filosofia Nova Acrópole; Produtor Cultural; Diretor/Fundador da Galeria Mirante das Artes; Conselheiro da Associação de Amigos do Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT - MACP. Contato: mirantedasartes.com.br

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Encosto Luxúria

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m qualquer terreiro ou mesa branca, a mulher era persona non grata. É que, à noite, a solitária médium entregava-se aos prazeres da carne com as tentações dos espíritos. Das muitas almas com as quais conversava frequentemente, apaixonara-se perdidamente por Alfredo e Henrique, teimando na infidelidade de um para com o outro. Alfredo era um homem alto e magro, um médico de meia idade que desencarnara há mais de oitenta anos. Henrique, ao contrário, havia três anos que se espatifara num poste em alta velocidade com a moto, num racha com o melhor amigo. Bonitão, vestia-se de jaqueta de couro, calça desbotada e levava um brinco de ouro na orelha esquerda. Estava dividida. Alfredo era o amor seguro, a conversa prazenteira, a companhia serena e o sexo tranquilo. Cheio de

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Por Eduardo Mahon

dedos, avisava com antecedência que iria chegar, oferecendo um calafrio na mulher que o esperava enquanto lavava a louça do jantar. Os pelos eriçados faziam a médium sorrir, sentindo o bigode roçar no pescoço, quando Alfredo agarrava-a por trás. Fechava a água da pia, tomava um banho morno, punha para rodar um disco de bolero e deitavase nua na cama, a fim de sentir o corpo gelado do parceiro. De olhos fechados, suspirando baixo, sentia o beijo calmo nos seios, as mãos nos cabelos, o membro teso a penetrar-lhe com delicadeza, em movimentos tão lentos quanto compassados. Gozava assim, amando. Henrique chegava pela manhã. Sem aviso, quando o outro inquilino já havia sumido. Enfiava-se nu com ela, no chuveiro. E, quando menos esperava, a mulher já estava sendo comida pelo rapagão, quase

sempre por trás em estocadas vigorosas. De olhos abertos e dentes cravados nos lábios, gritava com o desconforto inicial causado pelo macho viril que lhe apertava os mamilos e enfiava um ou dois dedos por trás. Tremia com a língua enterrada na bunda, uma das muitas saliências de Henrique responsáveis por instigar a mulher ao sabor do proibido. Segura pelos cabelos, a médium sentia as ondas quentes do orgasmo escorrendo pelas pernas trêmulas e, depois, era abandonada sem mais nem menos. Quando descobriram que a sensitiva abusava dos espíritos que rogavam orientação, ela foi proscrita do meio. Afinal de contas, Alfredo era casado. Era, mas não é mais, protestava. De mais a mais, o homem havia morrido e, provavelmente, a mulher também já havia passado desta pra melhor. Não adiantou a objeção.


Para os caretas, gente viva não se dava com gente morta. E ponto final. Esses cabrestos éticos que atacavam a comunidade espírita não a acometiam, todavia. Foi apontada como imoral, irresponsável, demente. Nada disso afastava o chamego com Alfredo, nem tampouco com Henrique; do sexo amoroso com o primeiro e da trepada tórrida com o segundo – bigamia atípica na vida, que dirá na morte. O caso desfez-se de supetão. Depois de dormir feliz nos braços de Alfredo à noite e, pela manhã, cavalgar Henrique, foi surpreendida com outro espírito a perambular pela casa. Já pron-

ta para o trabalho, tomou o café amargo que fazia, comeu meio pão francês, deixou ração para o cachorro, sentiu um perfume conhecido e estremeceu. Olhou em volta de si e não viu nada. Procurou aquela presença opressora na cozinha, no banheiro, na sala e, vasculhada a casa, partiu para o quarto. Sobre a cama já feita, estava lá o ex-marido nu, masturbando-se freneticamente, sorrindo para ela. Meu bem, morri há três semanas, disse o encosto. Sentindo-se usada, parou para pensar no que diziam dela, no além. Aos prantos, saiu correndo de casa e converteu-se numa igreja evangélica.

Eduardo Mahon

Dicas de Leitura A Defensoria Pública rumo ao novo paradigma de acesso à Justiça Ambiental (2015) Márcio Frederico de Oliveira Dorilêo

»» A obra apresenta investigações sobre o tema, analisa os instrumentos de tutela do meio ambiente no direito brasileiro e propõe soluções concretas à atuação da Defensoria Pública na proteção do meio ambiente, sem o qual não é possível garantir o direito à vida e à saúde. A orientação jurídica da Defensoria Pública deve oferecer à população não só a formação de consciência cidadã acerca de temas ambientais, mas fortalecer e viabilizar os meios judiciais e extrajudiciais de participação e acesso à justiça ambiental.

De moto pelas Américas... na contramão... (2014) John Coningham

»» O livro é um relato bem tecido e detalhado das viagens do autor pelas Américas durante a década de 1960. Neste trabalho John Coningham relembra as suas dificuldades com recursos financeiros para efetuar seu desejo de viajar pelo território americano. Cita questões relacionadas com desvalorização da moeda, durante a construção de Brasília e a satisfação de conhecer muitas pessoas pelos lugares que passou: “enfim, a alma das nossa nações vizinhas e irmãs com suas características. Isso me permitiu uma proximidade e compreensão mormente inatingíveis através do isolamento turístico.”

Editora TantaTinta | Carlini & Caniato www.carliniecaniato.com.br • comercial@tantatinta.com.br


lumeMatoGrosso

ARTIGO

Vida Casta

Vida consagrada “masculina e feminina”

A

Por Pe. Felisberto Samoel da Cruz

pessoa consagrada é alguém que foi admitida à intimidade pessoal com Deus Trindade, permitindo ser transformada por dentro e reservada para uma missão especial. Dizer que tem vocação é uma iniciativa gratuita e amorosa de Deus. A resposta deve ser livre e cheia de amor; e deixandose sem reservas ser possuído por Ele para o envio. Configurarse com Cristo e sua ação santificadora, no seu discipulado. Envolvido do sentimento de pertença a Deus que unge e consagra, sem reduzir a renuncia daquilo que a pessoa tem ou faz, mas é consagrada para amar e ser amada, neste ato de manter castamente na sociedade. Tendo como fonte do seu dinamismo profundo a experiência de Deus vivenciada no cotidiano da vida e missão. “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir” “Jr. 20,7”. Deus nos “CON-VOCA” e coloca nossos pés nas pegadas de Jesus. Ele conquista nosso coração com um amor

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apaixonado: “Agora sou Eu que vou seduzi-la (o), vou levá-la (o) ao deserto e conquistar seu coração” (Os 2,16). “Chamou a si para que ficassem com Ele”. Os Apóstolos, e a homens e mulheres, para experimentar o seguimento na vida, na intimidade, na contemplação e testemunhar com a vida, o AMOR TERNO e SEDUTOR de Deus Pai. O Papa Francisco nos convida e revermos nossa vida, de forma integral, diante da rotina e sem novidade, das certezas incertas, das respostas vazias, desgastadas e renovar o ardor espiritual e missionário, aquecer o coração no fogo do Amor Trinitário. Ter a espiritualidade o FIO DE OURO que costura todas as dimensões de nossa vida; o sentido mais profundo da existência, da fé, do amor, da entrega. Vivenciar a espiritualidade cristã, no Ministério Santo de Deus Trindade – “visto, ouvido e tocado” (1Jo 1,3), na intimidade do coração contemplamos a trama do cotidiano

com seus conflitos, desafios, alegrias, surpresas e dores. A Espiritualidade é a chama que “arde sem se consumir” (Ex 3,3), pervaga todos os espaços de nossa corporeidade, afetividade, consciência, missão e relação. Pois nossa vida, cada irmão e irmã, a natureza, o pobre é terra santa, onde brota o grito de Deus: “Eu vi, a miséria do meu povo, ouvi seu clamor...” (Ex 3,7). Manter a Espiritualidade é manter acesa a chama do primeiro amor que alimenta o encanto por Jesus, pelo seu projeto missionário e a audácia profética. Ele é o itinerário espiritual de cada pessoa e ao mesmo tempo sacia nossa sede, mergulhando-nos no manancial: Deus Uno e Trino. Manter uma vida casta significa “maturidade de Cristo”, que exige: esvaziamento, kenosis, renúncia, obediência amorosa, entrega e escuta atenta da Palavra e do coração. Isso não se aprende na escola de teologia, mas na “Escola de Jesus”, seguindo seus passos e entrando no seu discipulado.


NOSSA CULTURA e A NOSSA MAIOR RIQUEZA

Resgatar o que há de mais autêntico na cultura indígena brasileira através de um comércio justo. De um lado, fomentar riqueza e autonomia a essas comunidades; do outro, mostrar ao mundo a nossa cultura. Esse é o objetivo da LEO ROCHA ARTE INDÍGENA, que abre suas portas para um mergulho no universo indígena oferecendo peças de mais de vinte etnias brasileiras, dentre cerâmicas, cestos trançados com palha e algodão nativo, arcos, flechas, instrumentos musicais, adornos corporais e etc. Um comércio estratégico, que pretende te pegar e te engajar na causa indígena.

Rua Cipriano Curvo, 269, Centro Chapada dos Guimarães, MT, Brasil 55 65 3301-1438 leorochabrasil.com.br


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