Lume#4

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lume Mato Grosso

Revista nº. 4 • Ano 2 • Junho/2016

O início de uma nova história. Pag. 34

elizabeth madureira siqueira LUIZ CARLOS RIBEIRO VIOLÊNCIA DOMÉSTICA ALINE FIGUEIREDO Las Casas, Anchieta, Casaldáliga e os Índios O NEGRO NA CONQUISTA DO OESTE

ISSN 2447-6838

Fabinho

................. R$13,00

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Tons de Mato Grosso

pÔR DO SOL PANTANAL MATO-GROSSENSE foto valdeci queiroz


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Editorial

JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral

N

os reportamos aos nossos leitores justificando que somos um veículo de comunicação em constante mutação, buscando em editorias diversas o melhor para quem folheia nossa revista. Aos poucos vamos nos aproximando do ideal de atuarmos nas áreas da história, cultura e antropologia, permitindo que os habitues de LUME MATO GROSSO tenham satisfação ao lê-la. Para o sucesso da realização desta empreitada, contamos com mais um motivo de orgulho para esta edição e futuras também, alguns artigos e textos de autores responsáveis por algumas editorias, frutos dos resultados das pesquisas acadêmicas realizadas por historiadores, advogadas, antropólogas e professores que possibilitam compartilhar com o público leitor um pouco da diversidade temática e do diálogo interdisciplinar que tem caracterizado as abordagens dos trabalhos aqui publicados. Dentro do propósito de mostrar nossos ícones da área cultural, em grandes reportagens, trazemos nesta edição o notável Luiz Carlos Ribeiro, ator de primeira grandeza e referência nas artes cênicas de Mato Grosso. Sua entrevista foi le-

vada a efeito pelo também ator e diretor Carlos Ferreira, consagrado nos palcos mato-grossenses. Na área da antropologia que buscamos destacar sempre, um artigo produzido por Anna Maria Ribeiro nos leva a refletir sobre fatos históricos do Haiti, ainda em época de primaz independência, sob a ótica do religioso espanhol Bartolomé de las Casas, ainda no século XVIII, chegando até nossos dias, através das ações do também espanhol e religioso, Dom Pedro Casaldáliga, ambos defensores da causa indígena mundial. Nessa linha continuamos com a presença de Leo Rocha, profundo conhecedor das histórias e das causas dos povos indígenas do Xingu, dos quais obteve conhecimentos suficientes para interagir entre esse povo e a sociedade dos não-índios, com uma autêntica loja de produtos indígenas em Chapada dos Guimarães. Dentre as várias editorias, uma se destaca pela importância de sua personagem, a professora Elizabeth Madureira Siqueira, de quem subtraímos informações sobre a sua trajetória de vida e as repassamos aos nossos leitores. Tenham todos uma ótima leitura.


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expediente

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ELEONOR CRISTINA FERREIRA Diretora Financeira João carlos vicente ferreira Editor Geral Maria rita uemura Jornalista Responsável Beatriz Saturnino e alline Marques Redação AFRÂNIO CORRÊA, ANNA MARIA RIBEIRO, CARLOS FERREIRA, EDUARDO MAHON, FELIZBERTO SAMOEL DA CRUZ, FLÁVIA SCHEEL, LETÍCIA BAETA, LOYUÁ RIBEIRO DA COSTA, MARIA ANGÉLICA DE MORAES, MALU DE SOUZA, MAURÍCIO VIEIRA, PAULO DE TARSO, RAMON CARLINI, WILLIAN GAMA, WILSON PIRES DE ANDRADE Colaboradores ANDREY ROMEU, ANTÔNIO CARLOS FERREIRA (BANAVITA) BRUNA OBDOWISKI, CECÍLIA KAWALL, CHICO VALDINEI, HENRIQUE SANTIAN, JANA PESSOA, JOSÉ MEDEIROS, JOYCE CORRÊA, JÚLIO ROCHA, LAÉRCIO MIRANDA, LUIS ALVES, LUZO REIS, MAIKE BUENO, MARCOS BERGAMASCO,

MARCOS LOPES, MARIA CAROL, MÁRIO FRIEDLANDER, RAFAELA ZANOL Fotos LUME - Mato Grosso é uma publicação mensal da editora memória Brasileira Distribuição Exclusiva no Brasil Rua Professora Amélia Muniz, 107, Cidade Alta, Cuiabá, MT, 78.030-445 (65) 3054-1847 | 3637-1774 9284-0228 | 9925-8248 www.facebook.com/revistalumemt Lume-line revistalumemt@gmail.com Cartas, matérias e sugestões de pauta memoriabrasileira13@gmail.com Para anunciar DESIGN DOS GUIMARÃES Projeto Gráfico O CANTOR FABINHO, EM PALCO foto assessoria Capa


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sumário

30. 26. 32. 48. 52. 54. FOTOGRAFIA

cultura

para quando você for

cotidiano

retrato em preto e branco

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JUNHOS DE NOSSA história


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56. 59.

CULINÁRIA

DICAS DE LEITURA

60.

AGENDA

62. ARTIGO

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C ARTAS

LUME EM BARRA

Recebi a revista LUME em Barra e gostei do que vi. Parabéns, pois a cultura e história mato-grossense merecem mesmo um veículo sério que as divulgue. Divino Arbués - Barra do Garças/MT

RIO 2016

Desejo congratular a equipe da revista pelo equilíbrio, lucidez e coragem em publicar a reportagem sobre as possibilidades de terrorismo nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, em agosto deste ano. Ezequiel Fonseca - Brasília/DF

CORREDOR CULTURAL

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Parabéns à revista e ao professor José Eduardo Moreira da

Costa, indigenista e geógrafo que nos deu uma aula de história sobre a existência de um corredor cultural entre nossos povos ancestrais matogrossenses e os andinos. As fronteiras fixas, entre povos e idiomas, não existiam, podendo se observar um sustentável intercâmbio. Esse assunto deve ser mais divulgado e estudado, mas não parece estar no topo das prioridades de nossas autoridades.

José Ricardo Sales

Martins - Cuiabá/MT

RELIGIÕES AFRICANAS

Congratulo-me com a LUME através dos artigos de Maurício Vieira, que

escreve sobre as religiões afros, tema pouco divulgado em nossa terra. Letícia Freire - Cuiabá/MT

PATAGÔNIA

Antes de mais nada, gostaria de agradecer a matéria publicada no mês de fevereiro intitulada “Caravana da Alegria” pela riqueza de detalhes e das fotos acrescidas ao texto retratando a Patagônia. Anna Maria Silva Teles - Cuiabá - MT

HISTÓRIA

Sou fã da parte que trata das datas históricas, legal que acham pessoas interessantes que eu mesmo nem sabia que existiram e que foram importantes.

Glacy Corrêa da Costa - Cuiabá/MT


SOBRE GREVE DO FUNCIONALISMO PÚBLICO EM MT “Preocupação com desgaste, com certeza, não é nossa prioridade, porque senão o governador Pedro Taques não estaria tomando as medidas que tem tomado”. Paulo Taques, Secretário de Estado da Casa Civil (site Midianews, 04/06/2016).

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F RAS E S

“Não encontramos justificativa nenhuma para o Estado não conceder a RGA. Acho que é uma questão de birra”. Edmundo César Leite, presidente do SINPAIG (site Midianews, 04/06/2016).

CULTURA DIVULGADA

Acho muito importante a publicação desta revista pelo foco que é dado ao tema cultura mato-grossense. Nós precisamos de um veículo com este perfil. Parabéns pela iniciativa. Marília Beatriz de Figueiredo Leite - Cuiabá/MT

Escreva para a LUME Rua Professora Amélia Muniz, 107, Cidade Alta, Cuiabá, MT, 78.030-445 revistalumemt@gmail.com /revistalumemt

VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES “Nós temos casos de mulheres arrastadas pelo cabelo porque se negam à prática sexual daquela forma, e naquele dia, e naquele momento que o companheiro deseja. Num dado momento elas denunciam, mas denunciam quando não aguentam mais a inserção de legumes, objetos, coisas que elas não aceitam, na vagina, no ânus, coisas assim que não fazem parte daquilo que elas aceitam como natural. Já tivemos casos de mulheres que se negam a ter relação sexual com o marido que tiveram parte do rosto arrancada a dentadas”. Lindinalva Rodrigues Dalla Costa, promotora de justiça (site Olhardireto, 04/06/2016). CONTEMPORANEIDADE “Políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos pelo mesmo motivo”. Eça de Queiróz, escritor português (1845-1900), autor de O Primo Basílio. REALIDADE “Ninguém pode ser sábio de estômago vazio”. George Eliot, pseudônimo da novelista inglesa Mary Ann Evans (1819-1880).

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personalidade

Elizabeth

Madureira Siqueira 10

Os amigos gostam de chamá-la de Beth, mas passou à história contemporânea da educação mato-grossense conhecida como Professora Elizabeth, sinônimo de ensino e guarda da história e memória de Mato Grosso


da pela qualidade de suas obras e dedicação à causa da preservação da memória histórica mato-grossense. Ocupou diversos cargos de Diretoria na AML, inclusive o de vice-presidente na gestão 2013/2015. Foi eleita presidente do IHGMT, de 1998 a 2002 e de 2010 até 2012. É a Editora-Chefe da Revista do IHGMT, periódico que circula no Estado desde 1919. A professora Elizabeth é a Curadora da Casa Barão de Melgaço desde a década de 1990, onde desenvolve profícuo trabalho de recebimento, catalogação, conservação e guarda de documentos históricos de famílias mato-grossenses. Seu trabalho é reconhecido e a sociedade tem pela professora Elizabeth um profundo respeito e admiração por sua dedicação à causa da preservação de nossa memória. Por conta disso, ao longo de sua carreira recebeu inúmeros títulos e comendas, dentre as quais Memória do Legislativo, troféu Mulher Cultura “Maria de Arruda Müller”, ambos no ano de 2000. No ano seguinte recebeu a Comenda Mérito Mato Grosso, outorgado pelo governo estadual. Em 2010, foi Personalidade homenageada nos 40 anos da UFMT, Universidade Federal de Mato Grosso e, no ano de 2014, recebeu a Medalha do Cinquentenário, do Corpo de Bombeiros militar de Mato Grosso.

É autora de diversos livros, dentre os quais: O Processo Histórico de Mato Grosso (1990); Revi-vendo Mato Grosso (1996); Subsídios para a História do Rio Cuiabá Abaixo (1997); Luzes e Sombras: Modernidade e Educação Pública em Mato Grosso (2000) e História de Mato Grosso - da Ancestralidade aos dias atuais (2001). Foi responsável pelo verbete “Padre Ernesto Camilo Barreto”, no Dicionário de Educadores do Brasil (da colônia aos dias atuais - 2002), CD-rom Arquivo da Casa Barão de Melgaço, (2004), CD-rom Patrimônio Vivo de Firmo e Dunga Rodrigues (2005) e Trajetória do Tribunal de Justiça de Mato Grosso – 130 anos (2005). Também publicou: Evolução Histórica da Justiça Eleitoral Mato-Grossense (1932-2012), em 2012; Tributo de Cuiabá a Edgar Vieira, também em 2012; Universidade Federal de Mato Grosso: 40 anos História (1970-2010) em coautoria com Dourado e Silva, em 2011; Ministério Público do Estado de Mato Grosso: trajetória histórica, em coautoria com Paião, em 2009; Lembranças de professores e alunos mato-grossenses: 1930-1950, em coautoria com Palhares Sá e Gonçalves, em 2007; Cuiabá: de vila a metrópole nascente, em coautoria com outros autores, em 2006, dentre inúmeros outros títulos.

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A

historiadora e pesquisadora Elizabeth Madureira nasceu na cidade paulista de Franca e veio para Mato Grosso na década de 1970. Filha dos professores João Madureira e Norma Mussi Madureira, fez os primeiros estudos em sua cidade natal. Ali graduou-se em Licenciatura Plena em História, pela UNESP. Mais tarde tornou-se mestre em História pela USP-SP e doutora em Educação pela UFMT Instituto de Educação. Foi professora do Departamento de História da UFMT por 27 anos. Em 2005 foi nomeada pelo reitor da UFMT para o cargo de coordenadora da Editora da UFMT. Contemporaneamente é uma das mais importantes pesquisadoras que Mato Grosso possui, tendo atuado junto ao Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional da UFMT. Por sua expertise, assessorou os trabalhos de microfilmagem da Cúria Metropolitana de Cuiabá e desenvolveu pesquisas junto ao Arquivo Público de Mato Grosso. Sua história com a Casa Barão de Melgaço, que é sede do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e da Academia Mato-Grossense de Letras, vem desde os primeiros tempos de sua chegada à Mato Grosso. É membro efetivo das duas instituições, onde é reconheci-

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Lume na Cena Contemporânea Luz, fogo e vida na cena teatral mato-grossense com o ator mais pantaneiro do mar de Xaraés, Luiz Carlos Ribeiro. Advogado de formação, ator, arte/educador, escritor, diretor, e pesquisador; um filho de Santo Antônio de Leverger em Mato Grosso, para o mundo das artes Por CARLOS ROBERTO FERREIRA* fotos fablício rodrigues

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*Mestre em Estudos de Cultura Contemporânea pela UFMT, ator e diretor teatral e professor efetivo de arte da rede pública de ensino de Mato Grosso. robertoferreira.cultura@gmail.com


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Luiz Carlos Ribeiro é possível descrever o seu rebento na arte teatral em algumas poucas linhas, onde tudo começou? Eu devia ter 6 para 7 anos de idade quando comecei o meu processo de alfabetização na escola pública, em Santo Antônio de Leverger – MT, com a professora Maria Lacerda, uma educadora avançada para o seu tempo. Já quase encerrando o ano letivo, ela nos convidou para assistir a uma peça de teatro. Ficamos curiosos para saber o que era, pois nunca tínhamos assistido a uma peça. Ela tentou nos explicar o ato da representação teatral, mas as dúvidas permaneciam. O espetáculo foi encenado no salão da Câmara Municipal. Quando entramos no recinto, ha-

via cadeiras para a platéia e ao fundo, um palco improvisado, tendo como coxias, lençóis brancos dependurados do teto. A iluminação era feita por lampiões Petromax, - época em que, não havia energia elétrica na cidade - que davam um toque mágico, projetando uma luz azulada em todo o ambiente. Após o terceiro toque de uma sineta, deu-se início à representação. Lembro-me que a trama cênica desenrolava em torno de uma empregada doméstica – interpretada pela nossa professora - acusada de ter roubado de sua patroa, um vidro de perfume, da marca Coty. Quando a peça terminou, falei comigo mesmo: quando eu crescer, vou fazer isso. Foi o meu primeiro alumbramento com o teatro. Aqui estou!

Já morando na Capital mato-grossense, como você se projetou no teatro em Cuiabá, nacionalmente e para o mundo? De 1967 a 1969 exerci o magistério, na cadeira de língua portuguesa, na Escola Normal Regional Dr. Hermes Rodrigues de Alcântara. Junto com outros professores e alunos, criamos o primeiro grupo de danças folclóricas mato-grossenses, que participou de alguns festivais nacionais nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Goiânia e Mato Grosso do Sul. Em meados de 1.977, codirigi o Teatro Experimental de Cuiabá – TEC, juntamente com o diretor Ariel de Campos. Realizamos juntos dois circuitos estudantis de teatro, percorremos vários municípios do Estado, com a peça Arena Canta Zumbi, de Jean Francesco Guarnieri e Edu Lobo (anuário do teatro brasileiro (pg. 1983/1984). Com esse mesmo diretor, trabalhei como ator na peça “Quadro do Tempo”, inspirada em poemas do saudoso poeta Durval de França. No mesmo ano, fomos à Brasília, participar do Encontro Nacional de Teatro aonde veio o convite da FENATA Federação Nacional de Teatro Amador -, para reestruturar o movimento de teatro em Mato Grosso. Nos anos de 1977/1978, criamos a Federação de Teatro Amador do Estado de Mato Grosso, tendo sido eleito por aclama-


Você sempre se dedicou à dramaturgia, qual o seu primeiro registro como dramaturgo e como prosseguiu seu trabalho autoral? A minha primeira escritura cênica aconteceu com a peça: A Juventude se Escondeu de Mim (anuário do

teatro brasileiro 1977, pg.83), protagonizada pelos atores Hugo Taques e Laura Lucena. Na década de 80 escrevi duas peças teatrais: No tempo de Bento e Tomázia em comemoração ao bicentenário da cidade de Poconé MT e, A Canção de Mãe Maria, encenada em um Congresso Internacional do Rotary Clube. Em 1983/1984 encenei dois Autos Natalinos Pantaneiros, a convite de Jaime Okamura, então diretor da Turimat. Em 1984, escrevi e dirigi a peça, Gudibai Meu Boizinho. Em 1986, a convite da Supervisora do Teatro Universitário, Glória Albuês, encenei, no Campus da Universidade Federal de Mato Grosso, Auto Natalino Latino Americano. Nesse mesmo ano, na companhia da atriz Lúcia Palma, dirigi, às margens do Rio Cuiabá, a interferência cênica, Rio Que te Quero Vivo, com poemas da nossa autoria. Em 1989, escrevi em parceria com o ator e diretor Carlos Ferreira, o espetáculo cênico musical, Poema Caboclo, onde atuei também como ator. Na década de 1990, escrevi dois textos teatrais, gênero teatro do absurdo, que foram encenados pelos atores Liu Arruda e Ivan Belém: A Virgindade Contestada e Vespa Sete, inspirados em contos de Tereza Albuês. Especialmente para o ator Liu Arruda, escrevi: Pelos Cotovelos, nosso grande sucesso; espetáculo encenado até a sua “passagem”. Em 2001, através do projeto, Tom do Panta-

nal (Fundação Roberto Marinho) participei como co-autor do texto temático: O Pantanal e Sua Cultura Regional, veiculado pela TV Cultura. Em 2002, sob a coordenação da professora Dra. Michele Sato (UFMT), publicamos: Sentidos Pantaneiros, pela KCM Editora. Em 2004, em comemoração aos 80º ano da imigração japonesa em Mato Grosso, escrevi e dirigi em parceria com o ator e diretor Carlos Ferreira, Uma Noite no Japão, a convite da Associação Nipônica do Estado de Mato Grosso. De 2008 a 2013, coloquei na cena mato-grossense, o espetáculo lúdico musical, A Mala de Fugir e Outras Histórias, onde também atuei como ator, sob a direção de Júlio Camargo. A sua produção na dramaturgia, tem volume significativo para a história do teatro mato-grossense, a que você atribui esse estímulo? O que me estimulou a escrever textos foi a dificuldade que tínhamos em encontrar textos teatrais que falasse sócio culturalmente da nossa região, do eco sistema e da realidade cultural mato-grossense. Foi a partir da peça Rio Abaixo, Rio Acima, de Maria da Gloria Albuês, que essa realidade dramatúrgica nos instigou a criar textos, onde as histórias aconteciam dentro do nosso universo geográfico cultural. Gloria Albuês é a precurso-

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ção, seu primeiro Presidente. Participei também como membro federado da transformação da FENATA e da CONFENATA - Confederação Nacional de Teatro Amador -, da qual fui seu tesoureiro, na gestão do dramaturgo maranhense, Tácito Freire Borralho. A minha maior atuação foi na peça teatral Rio Abaixo, Rio Acima ou Ergue o Mocho e Vamos Palestrar (1978 - 1984), de Maria da Glória Albuês, que viajou várias capitais brasileiras e representou Mato Grosso, no ano de 1980, no Projeto Mambembão. Internacionalmente, participei da apresentação de Rio Abaixo, Rio Acima, em Quijaro, na Bolívia, (1981); Performance e interferência cênica realizada nos 450 anos de Anchieta em Coimbra, no Colégio das Artes, da Universidade de Coimbra, em Portugal, por ocasião da Comunicação: Anchieta em Mato Grosso: Autos da pregação universal, (1998); participação em apresentação do Grupo Musical de Sarã em Havana, (1990) e ainda, no espetáculo co-produzido com Almary Tangará, no Festival de Palmela – Portugal, (2000).

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ra da criação de uma dramaturgia eminentemente mato-grossense. Aprendi muito com ela. Uma Mestra! Você é autor de vários contos, eles já foram publicados e que universo cênico imagético aparecem no seu contexto? Reuni grande parte dos meus contos, no meu primeiro livro publicado em 2006, A Mala de Fugir e Outros Contos, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, publicado pela Carlini & Caniato. O meu espaço geográfico é o pantanal mato-grossense. A minha memória lúdico-imagética são os chapadões da baixada cuiabana, a vegetação retorcida do nosso cerrado. O meu índice iconográfico, desde a minha vinda a este planeta é o Morro de Santo Antônio. Os contos, histórias, as minhas peças teatrais, na sua maioria, são ambientadas dentro de um reino mágico, encantado, que se chama: Morená - Morada do Sol e da Lua - espaço mítico dos povos Kamaiurá. Morená, que por analogia mítica é o pantanal mato-grossense, com suas imensas baias, com seus bandos de pássaros, com seus encantos e mistérios. Morada de Siá Mariana, nossa Yara pantaneira, dos deuses subaquáticos, emoldurados por uma flora de aguapés e camalotes. Daí a minha obrigação de contar e cantar em primeiro lugar, a minha “aldeia”.

Você tem presença significativa na área da arte/educação. Como é a sua atuação como arte/educador e que projetos têm desenvolvido? Participei do projeto: Terra, Uma Proposta de Interação Escola Comunidade (1982 1984 MEC/FUNARTE), realizada pelo Grupo Terra de Teatro, nas comunidades de Sucuri e São Gonçalo Beira Rio. Essa experiência encontra-se registrada no vídeo, A Morada da Juruti, produzido pela FUNARTE, onde relata toda a experiência lúdica pedagógica do projeto. No primeiro ano, o projeto foi coordenado pela teatróloga e cineasta, Maria da Gloria Albuês; depois passei a coordená-lo, até a sua conclusão. A nossa equipe era formada pelos atores e arte/educadores: Wagton Douglas Fonseca, Marcio Aurélio Silva Santos, Gilberto Fraga de Melo, Magda Cintra, pela pedagoga Ana Maria Lopes e pelos Professores Elzira Cavalcante da Silva Celso. Junto aos povos indígenas, ministrei oficina de teatro em terras Paresi e Umutina (2006). O projeto Roda de Saberes foi realizado em terras Paresi, onde inclui uma oficina de teatro para 40 jovens indígenas de várias etnias. Em 2006/2007 ministrei uma oficina teatral em terras Umutina, quando fui convidado para ser consultor voluntário do grupo teatral Nação Nativa, na mon-

tagem da peça Haikapu – Criador do Mundo, dirigida por Naine Terena. Não posso esquecerme do Projeto: UNESTADO, da Universidade Federal de Mato Grosso, sob a coordenação do Professor Abílio Camilo Fernandes, na década de 1990. Durante os dois anos, aproximadamente, de existência do projeto, ministrei oficinas de arte/ educação para professores, alunos e pessoas das comunidades visitadas. Levei para a sala de aula a experiência vivenciada nas comunidades de Sucuri e de São Gonçalo Beira Rio. Esteve na cena teatral na capital, de sua autoria, a peça Fica, Pedro!, que chamou a atenção de vários olhares conceituados, para a obra, inclusive, por Dom Pedro Casaldáliga e pela escritora Marilza Ribeiro. Como se deu a produção dessa dramaturgia e de que ela trata? Escrevi a peça Fica, Pedro!, em 2008 que, ao ser conhecida por Dom Pedro Casaldáliga, foi por ele alcunhada de libelo dramático, dizendo ser a minha mais inédita obra dramática e ainda, tem sido acolhida pela crítica como obra singular em que, desde a perspectiva da História Cultural e da Literatura Regional, mescla fatos e ficções e fazem dela, um signo de testemunho. A peça trata


sucesso de público e aval do próprio Dom Pedro Casaldáliga que, ao ler o texto, disse que dele não excluiria nada. Como se deu a sua parceria com a Companhia de Teatro Cena Onze? Em 2009, o dramaturgo Flávio Ferreira solicitou-me um texto inédito, então lhe falei sobre Fica, Pedro! Porém, a obra se encontrava inacabada, faltava alguns da-

dos mais concretos sobre a vida e a obra de Dom Pedro. Era preciso entrevista-lo. Na época encontrava-me impossibilitado de visitá-lo. Foi aí que entrou a parceria textual com o dramaturgo Flavio Ferreira, que o visitou em São Felix do Araguaia, fez a entrevista e escreveu as cenas que faltavam. Dividi com muito orgulho a parceria do texto com ele, meu amigo, irmão companheiro de longos janeiros.

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da denúncia social polifônica, que dá voz àqueles semterra, indígenas, negros e injustiçados, e exalta de maneira inigualável a luta de Dom Pedro Casaldáliga, bispo espanhol, natural da Catalunha, ameaçado de morte várias vezes durante regime militar, por posicionar-se em favor dos oprimidos. A escritora Marilza Ribeiro, registrou em sua crítica para o jornal, A Notícia MT, de 17/09/2009, sobre a montagem cênica da peça, o seguinte fragmento: A voz do anjo trapezista pendurado no ar, ante nossos olhos, vai desembrulhando desde o início a memória de uma triste história – a jornada heróica de um Pastor religioso em sua luta pela vida dos marginalizados. Ali no palco, a cena de um frágil senhor iluminado pela extrema coragem e solidão como réu do arrogante poder inquisidor da sua igreja. O anjo circense é portador da rigorosa narração, acendendo em nós – o público – o interesse, a emoção, a perplexidade – onde atores e atrizes encarnam a dança, as vozes, o canto e a crueza do drama coletivo dos excluídos da terra mato-grossense [...] resgata a selvageria das emoções e o dilaceramento na loucura dos limites extremos do amor, da dor, do ódio e da agonia humana. Ainda em 2009, a peça Ficou em cartaz por três meses consecutivos no teatro da TV Centro América, com

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O que te levou a escrever uma peça teatral, sobre um Bispo com tantas polêmicas sobre sua luta em favor dos miseráveis e ainda, jurado de morte? Fica, Pedro! É libelo dramático que escrevi em solidariedade a Dom Pedro Casaldáliga, escritor, poeta, dramaturgo, Bispo Emérito da Prelazia de São Felix do Araguaia em Mato Grosso. Trata-se de uma homenagem ao seu apostolado, pelos seus serviços sociais e humanitários prestados ao nosso País, ao povo do Araguaia, por mais de meio século. É um texto provocador porque é engajado nas causas sociais, de maneira que traz a carga do mal e da injustiça na personagem do Inquisidor que acusa Dom Pedro Casaldáliga de incitar o povo contra a ordem religiosa e social. Traz nas vozes de outras personagens o tom de denúncia quando exaltam artigos da Constituição Brasileira em favor da liberdade de ir e vir, do direito de igualdade e de propriedade. Apesar de ser um texto ficcional, contudo é mesclado de muitas verdades e fatos históricos que contam a vida e a luta deste homem de Deus. Pelo que vemos, a sua produção artística, no momento, está em constante movimento. O que você tem na “manga” para o próximo biênio? Desde 2015, participo com

a Professora Marília Beatriz de Figueiredo Leite, presidente da AML, coadjuvado pelo grupo Os Crônicos, formado pelos atores Carlos Ferreira, Ivan Belém, Wagton Douglas, Claudete Jaudy, Lucia Palma, Mauricio de Moraes, J. Astrevo Aguiar, Vital Siqueira, Moema Leite e Wanda Marchetti. Tratase de um experimento teatral que tem como foco, promover intervenções cênicas em espaços não convencionais à representação teatral. A partir de abril passado, participo como ator convidado na peça: Homem do Barranco, de autoria e interpretação do ator, diretor e dramaturgo Carlos Ferreira, sob a direção de J. Astrevo Aguiar. Para o próximo biênio tenho três projetos na manga. Ainda este ano, entre os meses de maio a junho, estamos lançando a obra Fica, Pedro!, escrita em parceria com Flavio Ferreira, edição bilíngue, português/espanhol, tradução de Silvana Teixeira e revisão de Marcial Izquierdo, publicada

pela Entrelinhas. O lançamento será em São Felix do Araguaia, com a presença de Dom Pedro e leitura dramatizada de algumas cenas da peça. Ainda neste ano, a convite da Professora, Dra. Michele Sato, da UFMT, irei ministrar uma oficina de teatro para alunos dos cursos de graduação, mestrado e doutorado. No próximo ano, a Companhia de Teatro Cena Onze irá reencenar a peça, Fica, Pedro!, com textos interpretados em português e espanhol. O terceiro projeto é a oficina: A Geometria Sagrada do Rito, uma imersão antropológica em nossa cultura popular e indígena. Depois estou pensando em me aposentar, pegar minha Mala de Fugir e sair andando mundo afora, me transformar em um griot na acepção lata e estrito senso da palavra. Vou sair tocando o meu tambor e contando histórias dos nossos heróis míticos Kamaiurá, dos nossos mitos amazônicos e pantaneiros. Oficio que amo de paixão!


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NOTAS

NOVO SECRETÁRIO

Nºs DO FACEBOOK

A Secretaria de Comunicação Social da Assembleia Legislativa de Mato Grosso está sob o comando do jornalista Raoni Ricci, que assumiu o posto no dia 01 de junho.

Só para se ter ideia dos fabulosos números estatísticos do Facebook, sem contar outras redes, no mundo são mais de 1,6 bilhões de usuários ativos mensais, no Brasil são mais de 90 milhões e, em Cuiabá e Várzea Grande, algo em torno de 540 mil usuários ativos mensais.

ÁREAS ÚMIDAS A UFMT sedia o III Congresso Brasileiro de Áreas Úmidas (Conbrau), de 22 e 24 de junho, no Instituto Nacional de Pesquisas do Pantanal (INPP), Campus de Cuiabá. O tema central é “As Áreas Úmidas Brasileiras: estado da arte do conhecimento, valoração, riscos e situação jurídica.

BIOgraph Ainda na UFMT, entre 17 e 20 de junho, acontece o VII Congresso Internacional de Pesquisa (Auto) Biográfica.

TESTE DA MÃEZINHA Projeto de Lei que prevê a realização gratuita do Teste da Mãezinha na rede pública do Estado foi apresentado pelo deputado estadual Guilherme Maluf. O Teste da Mãezinha é um exame laboratorial de sangue, que tem como objetivo detectar e prevenir as hemoglobinopatias, como a Anemia Falciforme e a Talassemia Major.

CUIABANINHOS Em entrevista ao Jornal da Capital, programa de rádio, líder de audiência, comandado por Antero Paes de Barros, o vereador Ricardo Saad, do PSDB, afirmou, no dia 03 de junho, que a maioria dos partos de mulheres varzeagrandenses, são feitos em hospitais de Cuiabá, e que fatos como estes é que comprometem o atendimento de qualidade aos moradores da Capital.

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c o m p o rta m e n to

Violência Doméstica

Estaria o homem desamparado quando vítima de agressões de sua companheira? Esclarecimentos acerca da Lei Maria da Penha

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Por LOYUÁ RIBEIRO FERNANDES MOREIRA DA COSTA


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Lei Maria da Penha, Lei nº 11.340, em vigor desde 2006, estabelece mecanismos para prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. O termo violência, em seu contexto legal, trata-se de qualquer ação ou omissão baseada no gênero que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico. Incluem-se também possíveis danos patrimoniais

no âmbito doméstico, familiar ou de relação afetiva que caracterize a discriminação do gênero feminino.Portanto, pode tratar-se de violência direcionada à mãe, filha, irmã, namorada, noiva, esposa, companheira, amante, neta, sogra, avó, empregadas domésticas, tutelada, curatelada, etc. Também poderão ser vítimas da violência doméstica: lésbicas e transexuais, já que estes tipos de relações também

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configuram entidade familiar. O cerne comum consiste na violência praticada em âmbito doméstico, independentemente de coabitação, quer a união exista ou não à época da violência, advindo de vínculo afetivo ou familiar. Diante desse panorama, especialistas e leigos no assunto frequentemente criticam a Lei Maria da Penha, apontando-a como uma desproporcionalidade adotada pelo poder legislativo e aplicada pelo judiciário e executivo. Afirmam, ainda, que o tratamento especial dado à mulher, conferindolhe lei específica, a coloca em patamar de desigualdade com relação ao homem. Afinal, seriam estas afirmações substanciais? Qual a relevância social em se criar uma lei voltada exclusivamente ao amparo da mulher quando vítima de violência doméstica? Isso faz com que o homem fique desamparado ou em situação de desigualdade quando vítima de violência doméstica?Seria a Lei Maria da Penha “injusta” ou primordial ao progresso de nossa sociedade? Foram vários os fatores que levaram o judiciário, em 2006, a sancionar uma lei de maior amparo à mulher violentada. A necessidade de submissão da mulher ao homem, em razão de uma suposta vulnerabilidade do sexo feminino,por séculos foi usada como respaldo para opressões psicológicas, violências físicas, sexuais, para afastá-la do meio

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c o m p o rta m e n to

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social, político, profissional e privá-la de condições igualitárias. Apesar de ser uma prática antiga, ainda é recorrente na sociedade contemporânea, inclusive, possuindo em alguns países, respaldo legal e religioso. Portanto, a Lei Maria da Penha veio para combater não apenas casos de violência à mulher, mas um paradigma por anos enraizado, expressado de formas diretas ou sutis. A violência contra a mulher é uma problemática patriarcal presente na cultura de diversos países. Um país reconhece a necessidade de lidar com isso ao aderir a tratados internacionais referente ao tema. Os tratados trazem um novo paradigma, orientando e exigindo posturas do país que o assina. São exemplos de tratado referente ao tema da violência contra a mulher: a Convenção de Viena, importante tratado que reconheceu a violência de gênero como violação dos direitos humanos;a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Doméstica, também chamada de Convenção Belém do Pará. O índice alarmante de casos brasileiros de violência contra a mulher mostra-se desproporcional com relação aos homens. Isso porque o sexo masculino não carrega o preconceito histórico de desigualdade de gênero como o perpe-


Lei Maria da Penha, o que implica no aumento da pena em 1/3 (um terço). Outro mecanismo normativo é a Lei nº 10.455, de 2002, que alterou o parágrafo único do artigo 69 da Lei nº 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais), que passou a dispor que:“[...] Em caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.”. Portanto, o juiz, quando diante de um caso de violência doméstica, poderá determinar mecanismos de proteção, a fim de proteger a vítima. Esse artigo assegura proteção a homens e mulheres. Lembrando que a criação da lei específica de combate à violência doméstica praticada contra a mulher, a Lei Maria da Penha, objetiva melhor eficácia de inibição do crime a e traz a mudança de um pensamento abissal de cultura social patriarcal. Daí a aplicação correta do princí-

pio da igualdade pelo legislador, ao proporcionar proteção aos homens e mulheres vítimas da violência doméstica, na medida da desigualdade em que se encontram. Com o advento da Lei Maria da Penha, houve discrepante redução nos índices de agressão às mulheres. Assim sendo, a lei atingiu sua finalidade como mecanismo eficaz à sociedade e foi reconhecida sua constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal. Diante disso, indaga-se: Por que existem críticos, incluindo renomados doutrinadores, que insistem na suposta necessidade de retirá-la do ordenamento jurídico brasileiro? O legislador conseguiu atingir seu objetivo quando da elaboração da lei, corroborando para uma sociedade mais justa e igualitária e a inserção de um novo paradigma a ser aceito por todos, até pelos que assim não o entendem ou o acham desnecessário. A sociedade está em progresso!

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tuado contra a mulher. Essa é a razão primordial à necessidade de maior proteção à mulher e a emergência de uma nova consciência social, a fim de que se contenham ações violentas direcionadas à mulher, sejam elas físicas ou psicológicas. Diante da maior vulnerabilidade à violência, criou-se uma lei específica de proteção à mulher.A lei traz mecanismos de proteção e a criação de varas especializadas na mulher pelo judiciário, a fim de dar celeridade à resolução de casos de violência. Dessa forma, contribui à diminuição do número de homicídios, de reincidência da violência e, por fazer-se exemplo de lei rigorosa e de efetividade jurídico-penal, inibe casos. O fato da Lei Maria da Penha ter como sujeito passivo necessariamente o sexo feminino, não significa dizer que os homens estão legalmente desprotegidos quando vítimas de violência doméstica. Isso porque são amparados pelo artigo 129 do Código Penal. O referido artigo dispõe sobre lesão corporal ou à saúde e se aplica tanto aos homens quanto às mulheres. Isso porque a violência trazida pelo artigo independe de relação familiar ou afetiva, podendo, portanto, tratar-se de lesão direcionada a qualquer pessoa. No entanto, quando a lesão ocorre em razão de desigualdade de gênero direcionada contra a mulher, aplica-se a

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ProbiĂłtico no Desempenho de Animais DomĂŠsticos 24

Por paulo de tarso


AVES DE CORTE E POSTURA Atua como promotor do crescimento, melhorando a conversão alimentar, diminuindo a mortalidade, eliminando o risco da presença de antibióticos na carcaça e diminuindo a resistência aos antibióticos. SUÍNOS Equilibra a flora gastrointestinal e o aparelho urogeni-

tal, garantindo mais saúde e produtividade. É a melhor forma de garantir o desenvolvimento rápido e saudável dos animais de forma natural, o que resulta em mais qualidade de carne e maior lucratividade, sem causar danos à saúde dos animais e do homem, nem tampouco agredindo o ambiente. BOVINOS DE CORTE E LEITE Otimiza o ambiente ruminal, aumenta a produção de leite, melhora ganho de peso, aumenta a digestão de fibras, estimula o crescimento de bactérias, fungos e protozoários do rúmem, consome o oxigênio presente no rúmen, diminui a acidose ruminal, aumenta a ingestão de matéria seca, estimula o sistema imunológico e a saúde intestinal, diminuição do estresse calórico, redução de CCS (células somáticas) e aumento de gordura no leite. ANIMAIS RECÉM NASCIDOS Ao nascer, o intestino do animal é estéril e passa a colonizar-se neste momento, com a flora com que o animal tiver contato. A colonização se completa aos 5 dias de vida. Se entrarmos com cepasprobióticas (raça de um determinado microrganismo), originárias de intestinos estaremos garantindo uma colonização saudável e a necessá-

ria proteção à mucosa intestinal, obtendo benefícios como colonizar o intestino dos animais recém nascidos com bactérias saudáveis, prevenir diarréias bacterianas dos recém nascidos, curar as diarréias bacterianas e melhorar a conversão alimentar. Aconselha-se ao produtor procurar um técnico para escolher o melhor Probiótico para usar em sua empresa rural, aquele que possui concentração e cepas que irão trazer os melhores resultados econômicos à sua atividade produtiva.

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objeto da zootecnia é o animal doméstico, ou seja, o animal que pertence a uma espécie criada e reproduzida pelo homem, dotado de mansidão hereditária e que proporcione algum proveito ao homem. Por tanto: frango, galinha, leitão, cavalo, boi, vaca, cabra, ovelha, peixes, búfalo, entre outros,são animais domesticados, que possibilitam recursos a espécie humana como alimentos (ovos, leite e carne), vestuário (lã, pele e plumas), ferramentas (laço, cordas) ... Probiótico é um aditivo alimentar constituído de microrganismos vivos, que mantêm o equilíbrio das microbiotas ruminal e intestinais, favorecendo a digestão e a absorção de nutrientes, proporcionando assim, aumento na produtividade dos animais. Vejam as ações do Probiótico em algumas espécies:

PAULO DE TARSO Zootecnista pela UFSMRS, especialista em produção e nutrição de ruminantes pela UFMT, premiado pelo CRMV-Z/MT “Zootecnista do Ano” em 2010 e 2012, coordenador no programa MT Regional, instrutor do SENAR-MT, gestor técnico/comercial de empresas de nutrição e diretor da PlannerZoot. Contato: paulo.planner@gmail.com (65) 99604-8162

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Caravana da Alegria 3ª edição

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Por CECÍLIA KAWALL

lá sou Cecília Kawall, a Ciça, uma artista circense, guia de turismo, mestre-cuca de alimentos naturais e terapeuta holística, não nesta ordem necessariamente (!), que ama e vive em Chapada dos Guimarães. A proposta deste espaço é compartilhar um pouco

sobre as minhas andanças pelo Brasil, que me levaram a conhecer quase todos os Estados Brasileiros na companhia dos meus filhos, e mais uns 14 países por aí... além disto, e acima de tudo levava um circo. Um espetáculo de palhaço, dança, música e muita alegria. Tem assunto prá muita Lume!

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Neste capítulo quero contar sobre o Oaipoque, um dos lugares mais inusitados de toda a minha jornada. Localizado no extremo norte do nosso país, no Amapá, na fronteira com a França, (o mais próximo que o Brasil está da Europa!), chegar a essa região foi uma aventura cheia de descobertas surpreendentes! E eu digo inusitado porque prá chegar lá tem chão, e não é dos mais fáceis. De Belém do Pará você deve tomar um vôo até Macapá, a Capital do Amapá, lá onde o rio Amazonas deságua no Atlântico. Macapá é uma cidade simples e ao mesmo tempo diversa. Quente, movimentada, portuária, regida pela maré cheia e a vazante. Em uma das fotos é possível ver a dimensão da tempestade que vem vindo engolindo os navios, transformando o dia em noite em questão de minutos. As proporções são

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realmente Amazônicas. Um dos pontos fortes da região é a fortaleza de São José que data de 1782 (mesmo período da construção da Igreja de Santana, aqui de Chapada!!!) e tinha missão de proteger a nossa fronteira mais longínqua. De Macapá ainda são 800 quilômetros até a cidade do Oiapoque, mas o trajeto é tranquilo, já asfaltaram 80% deste trecho. No caminho, temos o privilégio de ter como companhia a Floresta Amazônica! Tudo tem a cara da floresta, a paisagem também parece um cenário dos filmes do cineasta alemão, Rainer Fassbinder, com uma atmosfera meio desoladora.... Árvores caídas intercaladas com buracos que ocupam uns cinquenta por cento da pista. No caminho uma parada em Tartarugalzinho ‘pruma’ hidratação e mais cenas inusitadas: um bando de avestruzes invadem o parquinho

das crianças! Nesta altura da viagem elas já adotaram parâmetros próprios para avaliar as cidades. Tipo, se tem casa de madeira é pequena, se tem casa de tijolo é grande. E por aquelas bandas do Macapá só tinha casa de madeira... O “restaurant” já anuncia a proximidade com a Guiana Francesa. Parada certeira onde as dimensões já são outras, tudo é tamanho ‘plus size’ para acomodar os caminhões também, com todo tipo de carga. Aqui já começam surgir as áreas indígenas, dos povos Yanomani, demarcadas pelo Governo Federal e proibidas de serem acessadas pelos turistas. Faltavam apenas uns 20 quilômetros para a cidade do Oiapoque e surgiu o asfalto novamente, mágica! E agora o objetivo era encontrar um pouso para o descanso da família. Um conforto, afinal foram dois dias


trangeira Francesa! O posto de combustível fica na beira do rio e atende os barcos e os carros ao mesmo tempo! Apresentação, circo, movimento, intensidade, forças da fronteira e um pouco de medo também. As pessoas falam prá você: “segure as suas crianças” e você é capaz de sentir a tensão por toda parte. Também há a beleza e o poder da floresta, a nossa selva. A grandeza da natureza e a força de um rio, de uma fronteira de duas nações. Ao cruzar o rio de voadeira, em minutos você desembarca em uma cidade de arquitetura francesa, com rostos franceses, de sons e mercearias francesas onde é possível comprar desde aparelhos eletrônicos até manteiga, vinho ou champagne (francês!). E mesmo na loucura de um carnaval miscigenado aconteceu uma apresentação daqueles “malucos” brasileiros, a nossa família que viajava e levava arte e alegria por onde passava. E, além de viajar toda América do Sul e todo Brasil de carro, com a família e um circo, carregava também uma exposição de fotos formatada para estrada, fácil de carregar, montar e desmontar. Amo o tecido e as impressões nele, ainda mais a possibilidade de intervir com canetas e outras técnicas sobre ele. É neste pano que montava a minha expo-

sição de fotos pelas cidades que passamos! No Oiapoque as fotos tem tom de Pátria Amada, as cores são fortes. Nos tons do brasileiro cor de terra, índios, negros e europeus vivendo e dando vida a uma região das mais remotas. Durante as outras viagens pelo Brasil mostrei imagens da Argentina, Chile, Perú, e Equador, enquanto levava as fotos do Brasil para resto do mundo. Já me apresentei na Europa (França e Alemanha), Estados Unidos e Japão. E assim, mais arquivos e troca de imagens... As próximas cenas que vou compartilhar com vocês será da Amazônia Andina! Por enquanto é “só” amigo, mas mês que vem tem mais, muito mais. Vamos dar uma passadinha logo ali em Machu Picchu?

Cecilia Kawall, guia de turismo regional, técnica em acupuntura, reiki master, instrutora de oki do yoga e shiatsu, produtora, fotógrafa, bailarina e mãe.

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na estrada rodando pela floresta desde Macapá. Um hotel me chamou a atenção, pois tinha o mesmo nome do condomínio onde morei em São Paulo, o Colibri. Apesar do vigia bêbado e do cheiro de mofo milenar, uma área externa gramada e o estacionamento privativo já são o suficiente para decidirmos ficar. As outras opções pareciam mais casa das mulheres da “vida”, muito mais comuns do que hotéis turísticos por essas bandas do Brasil... Todos acomodados - o dia seguinte seria de exploração - fomos comer e descansar. De fato rendeu. Apresentações e hospedagens arranjadas, aviso na rádio local e mudança. O capitão responsável pela Vila Militar nos propôs a hospedagem por dez dias em troca de apresentação para os soldados e suas famílias. Hotel de trânsito na beira do rio Oaipoque, almoço de marmita, lençóis do Exército Brasileiro e dias dentro de outro cenário de filme: os soldados passavam no treinamento diário de montar e desmontar armas, preparar acampamentos na selva enquanto as esposas se reuniam na praia do rio com as crianças. Segurança afinal, podía respirar um pouco mais aliviada por uns dias. Lazer e estranheza dentro de uma região inóspita. Margem de cá do rio, Brasil. Do lado de lá a Legião Es-

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Fotografia Artesanal

A simplicidade do olhar e suas perspectivas A forma de expressão artística nas câmeras primitivas do pinhole

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Por HENRIQUE SANTIAN


O QUE É PINHOLE A foto na lata conhecida como Pinhole significa “Buraco de Agulha” é uma câmera estenopeica utilizada

na fotografia artesanal (analógica). Trata-se de uma lata que tem apenas um pequeno furo (de agulha) que funciona como lente e diafragma fixo no lugar de uma objetiva, um compartimento todo fechado onde não existe luz, um pequeno orifício onde a luz entra e projeta a imagem que é gravada em papel fotográfico ou filme. O Pinhole nos facilita compreender o processo de formação da imagem no olho, além dos conceitos de matemática, física e química envolvidos na construção das câmeras, no processo de revelação, formação da imagem no papel ou na película. Dentro da lata, se forma uma imagem que é pro-

jetada e gravada no papel fotográfico, passando por um processo de revelação no laboratório. As imagens são reveladas em preto e branco, em forma de negativo depois conseguida através da inversão de cores. Na construção da câmera fotográfica são utilizados materiais de baixo custo, trazendo uma experiência laboratorial que está cada vez mais difícil de ser praticada. O Pinhole é a fórmula essencial da fotografia que vem sendo resgatada em oficinas e exposições no mundo todo. O efeito das imagens lembra pintura e retratos antigos. É a contramão da alta resolução das máquinas digitais

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universo digital na fotografia em nosso cotidiano nos traz muitas discussões e reflexões. As imagens digitais dominarão o mundo trazendo varias consequências, os sistemas digitais incorporados a telefones e dispositivos trazem cada vez mais qualidade, permitindo cada vez mais este avanço. A fotografia analógica e sua arte perdem espaço e se torna extinta e banalizada no mundo moderno.

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pa r a q ua n d o v o ce f o r

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flávia scheel Chef de Cozinha da Pomodori

Chapada dos Guimarães Na Pomodori a Melhor Empada de Mato Grosso

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egundo a chef Flávia Scheel, da Pomodori, a idéia inicial, há cerca de oito anos atrás, era para ser uma Rotisseria, pois sabia-se da necessidade deste serviço em Chapada dos Guimarães. Assim nasceu a Pomodori, um lugar bem aconchegante, com detalhes em todos os cantos do ambiente, com produtos de ótima qualidade. Isso fez com que a Pomodori se tornasse um ponto onde as pessoas queriam ficar, bem localizada e um ambiente agradável. Com o permanente afluxo de clientes, Flávia Scheel teve a ideia de colocar as famosas Empadas, que inicialmente eram produzidas com apenas dois tipos de recheios, num patamar mais ousado, variando para doze os tipos de recheios, advindos de receita por ela mesmo desen-

volvida, segundo a famosa chef, “feita meio “a olho” e que logo teve que se padronizar”. Essa padronização deu-se graças à imensa procura pelas Empadas, que se tornaram o carro chefe da casa, atraindo o público pela qualidade da massa e matéria prima de primeira linha utilizadas nos recheios, os mais variados, indo de Frango com Pequi, Carne Seca com Banana da Terra até Carne com Jiló, dentre outras opções. Com a permanência destes clientes o projeto Rotisseria foi ficando abandonado e, assim, a Pomodori se tornou uma Trattoria com um cardápio variado desde massas, carnes, bacalhau e peixe além de uma carta de vinhos e cervejas artesanais bem atrativas. A Pomodori é tratada com muito carinho, cada canto, cada decoração é

feita por Flávia Scheel, que sabe que os detalhes fazem toda a diferença, ficando com aspecto artesanal e aconchegante. Atualmente a Pomodori conta com a colaboração de 30 funcionários e tem projetos de expansão para várias partes de Mato Grosso, notadamente a Capital. SERVIÇO: Município e endereço: Centro da cidade de Chapada dos Guimarães, próximo à Igreja Matriz

Como chegar: Fica a 70 km de Cuiabá, através da Rodovia Emanuel Pinheiro

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lumeMatoGrosso por Beatriz Saturnino

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ão tem jeito! Quando está na alma, no coração, e o talento é nato, pode-se passar anos que a natureza vem à tona, a oportunidade se faz e tudo acontece. O sertanejo romântico de Fabinho já é sucesso garantido por onde passa. Consolidado no Estado de Mato Grosso, em um ano de trabalho, ele está com o lançamento de um Demo composto por três músicas. Deste material o grande sucesso é a música autoral “Entrego a você”, já tocada nas principais rádios mato-grossenses.

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terpretação feita pelo padre Marcelo Rossi. Mas Fabinho sempre foi apaixonado pela música, exclusivamente a sertaneja, a qual lhe encantou os ouvidos e se apaixonou a partir da música “Fio de Cabelo”, da dupla Chitãozinho e Xororó, quando tinha apenas seis anos de idade. Essa história ele gosta de contar. Ele estava com o pai num posto de gasolina, em Primavera do Leste, isso no começo da década de 1980, época que se mudou de Cambuci, cidade do interior do Rio de Janeiro, para Mato Grosso. De sotaque carioca não tem nada, nem a família. Na verdade, Fabinho tem todo aquele jeito do interior daqui de Mato Grosso. Porém, vindo de uma família muito simples, sem apoio para entrar no mundo da música, foi ensinado a trabalhar desde pequeno. Aos 12 anos de idade era engraxate dos donos da fazenda onde o pai trabalhava. E aos 17 se tornou empresário do segmento gráfico com uma empresa de clicheria, de impressão de desenhos e logomarcas. “Em função do trabalho eu nunca tive espaço para a música. Eu me satisfazia por meio dos amigos artistas, cantando em rodas de viola e também algumas participações em shows. Isso desde a adolescência e assim foi a minha vida toda”, conta.

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Seus shows são para grandes públicos, em exposições agropecuárias e aniversários de cidade no estado de Mato Grosso. Casado, filho caçula, de uma família de sete irmãos, utiliza da música para contar sobre os amores que permeiam a vida, até a espiritual, com um repertório diversificado e emocionante. O cantor começou a carreira, de forma oficial, em maio de 2015, como Fábio Martins. “A ideia do nome Fábio Martins foi para não induzir as pessoas a pensarem que eu estava entrando na música como um hobby, ou pelo fato de ser empresário e ter condições de colocar o projeto em prática”, comenta. E acontece que a estratégia do nome deu certo, pois as pessoas gostaram de sua voz e se apaixonaram pela música dele. “Então a partir desta aprovação eu voltei com o meu nome, Fabinho, pois é assim que todos me conhecem. Que tem a música na alma, canta de verdade, e não quer brincar com isso”, destaca. “Dois Amores” é o título que utiliza como a marca de sua carreira e canções, pois fala tanto do amor do homem, quanto de Deus. Devoto de Nossa Senhora de Fátima, em seus shows ele sempre encerra com as músicas “Noites Traiçoeiras”, e “Segura na mão de Deus”, conhecidas pela in-

Em função do trabalho eu nunca tive espaço para a música. Eu me satisfazia por meio dos amigos artistas, cantando em rodas de viola e também algumas participações em shows. Isso desde a adolescência e assim foi a minha vida toda

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sica “Naquela mesa”, de autoria da própria dupla. E a terceira música é de João Lucas e Marcelo, que estourou com o hit TchuTchaTcha, com a música “Foi só engano”. Com uma presença de palco marcante, Fabinho não canta somente para o mercado, ele faz aquilo que gosta, que é a linha romântica. Nas músicas que interpreta não tem duplo sentido e nem expressões fortes da vida cotidiana. É pura poesia. Faz aula de canto constantemente e aconselha os amigos a estudarem, independente do artista. “É maravilhoso ter a colocação da voz, de você usar a garganta como um instrumento de passagem. É muito legal. Hoje tenho segurança em cantar a qualquer momento e em qualquer lugar, em função desta disciplina”, ressalta. Ele não se revelou como um músico ou cantor, ele sempre foi tudo isso e só precisava parar e focar no seu destino. E o futuro? Fabinho espera fazer sucesso nacional, o que é um pensamento natural de qualquer músico. Um cara humilde, alegre, otimista, empreendedor, que se preocupa com o próximo, um homem de fé e apaixonado pela música sertaneja, este é o Fabinho Dois Amores.

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Fabinho foi empresário de várias duplas sertanejas e agora decidiu investir em seu próprio destino, que é cantar. Encontrou o incentivo que faltava para assumir o seu projeto musical e de vida com a esposa, Priscila Hauer. E, a partir de 2015, o projeto começou a assumir corpo, forma, com o propósito de fazer uma carreira sólida, já com estrutura de show nacional: com banda completa, backing vocal, cenário com painel de Led, uma grande produção de luz e efeitos especiais,um ônibus equipado e tudo o que possibilite um espetáculo por onde se apresenta. É um show de arrepiar o público. No seu repertório leva músicas de vários artistas consagrados e que são suas referências, como Zezé Di Camargo e Luciano, Leandro e Leonardo, Chitãozinho e Xororó, Cristiano Araújo, entre vários outros que vieram desde a infância, numa fazenda onde se criou, próxima ao município de Primavera do Leste. O seu grande sucesso, “Entrego a você” é a primeira música do disco Demo, uma autoral com participação de Max Davini na composição. A segunda música já vem com uma participação especial de Zé Neto e Cristiano cantando junto a mú-

É maravilhoso ter a colocação da voz, de você usar a garganta como um instrumento de passagem. É muito legal. Hoje tenho segurança em cantar a qualquer momento e em qualquer lugar, em função desta disciplina

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Aline Figueiredo

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por WILLIAN GAMA foto rai reis

esde muito cedo desenvolvi o gosto em apreciar obras de arte, aos doze anos comprei minha primeira obra do artista e saudoso amigo João Sebastião Costa. Cresci entre obras e livros sobre arte da biblioteca de minha casa, entre eles uma autora me chamava atenção, a crítica de arte Aline Figueiredo. Comecei a mergulhar

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em cada livro e um mundo novo emergia “Artes Plásticas no Centro-Oeste” - edições UFMT/MACP/Cuiabá/1979 - (Prêmio Gonzaga Duque - Associação Brasileira de Críticos de Arte - Rio de Janeiro - RJ, 1980); “Arte Aqui é Mato” - edições UFMT/ MACP/Cuiabá, 1990; “A Propósito do Boi” - EDUFMT/Cuiabá, 1994 – (Prêmio Alejandro José Cabassa - União Brasileira de


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Escritores - Rio de Janeiro - RJ, 1996); “Dalva de Barros - Garimpos da Memória” - editora Entrelinhas, Cuiabá, 2001 – (Prêmio Sérgio Milliet - Associação Brasileira de Críticos de Arte, São Paulo - SP, 2002), e ainda com Humberto Espindola organizou “Catalogo MACP” - Animação Cultural e Inventário do Acervo do Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT - edições UFMT e Entrelinhas, 2010. Descobri por meio da leitura coisas incríveis e a importância da produção artística mato-grossense para o mundo, Aline Figueiredo e Humberto Espindola animaram todo o centro-oeste brasileiro, mostraram a nível nacional e internacional o potencial de uma arte cabocla produzida neste sertão do Brasil, toda riqueza incutida em cada pintura produzida por ex-mecânicos, vigias noturnos, jovens da periferia da cidade e outros, todos animados por um trabalho extremamente sensível e desenvolvido, principalmente através da então recém-criada Universidade Federal de Mato Grosso, a Universidade da Selva local onde a comunidade tinha voz e espaço. Aline Figueiredo, uma jovem mulher, genuinamente pantaneira e nascida em Corumbá-MS, quando criança não pensava em outra coisa senão tornar-se fazendeira e cuidar de seus cavalos, até o dia em que

numa de suas férias escolares na fazenda, uma amiga de sua irmã lhe presenteou com o livro Moulin Rouge que conta a história do célebre artista Toulouse -Lautrec, fundamental para seu amadurecimento pessoal, no outro ano Aline já estava em São Paulo, estudando História da Arte. Depois de concluir os estudos voltou a Mato Grosso e organizou a Primeira Exposição de Pintura dos Artistas Mato-Grossenses (1966) em Campo Grande – MS. A animação cultural produzida em Mato Grosso começa a despertar a atenção do Brasil e, em 1969, Humberto Espindola com a sua ‘environmental art’, participa da 10ª e 11ª Bienal Internacional de São Paulo, na qual obtém Prêmio Bolsa de Estudos no Exterior (1969/71). Humberto Espindola e Aline Figueiredo tornaramse, respectivamente, artista ‘carro-chefe’ da arte matogrossense e acrítica de arte, ambos orientavam e animavam o coletivo de artistas que começava a crescer no Estado. Juntos fundaram o

Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT em Cuiabá- MT (1974), bem como, a Fundação Cultural de Mato Grosso (1975), atual Secretária Estadual de Cultura, a Pinacoteca Estadual e os promissores Ateliê Livre e Salão Jovem Arte Mato-Grossense(1976), dentre outras contribuições. Hoje aos 70 anos de idade, Aline continua trabalhando árdua e incansavelmente em defesa dos artistas, dos museus e da arte brasileira. Desde 1970 a crítica vem ministrando cursos de História da Arte em diversos locais e regiões do Brasil, alcançando com este trabalho uma gama ‘incontável’ de jovens, curiosos e pesquisadores, mantendo-os despertos para as suas necessidades locais, educando e introduzindo novos expectadores para arte. Eu mesmo sou mais um dos frutos desta animação e tenha profunda gratidão por isso! Juntos, Aline e Humberto são grandes guardiões da cultura brasileira, especialmente do Centro-Oeste. Salve Aline Figueiredo! Salve Humberto Espindola!

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s eHgIST u rÓaRIA nça

Las Casas, Anchieta, Casaldáliga e os Índios

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m 1492, ao comando da frota Santa Maria, Pinta e Niña e de noventa homens, Cristóvão Colombo, sob as ordens dos reis de Espanha, pensou ter encontrado terras ao extremo oriente, onde estavam os cobiçados e preciosos metais e especiarias: as Índias. Colombo instalouse em territórios de domínio dos povos indígenas, dentre eles, os Tainos, que organizavam em cacicados, unidades administrativas. Após os primeiros contatos amis-

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por Anna Maria Ribeiro

tosos com os povos autóctones, o genovês, que equilibrou um ovo de pé sobre a mesa, se fez senhor daquelas terras. Nessa época, estudos de Marcelo Grondin, cientista social, apresentam estimativas de 300 e 500 mil habitantes autóctones. Durou pouco a cordialidade entre índios e espanhóis. Logo após ancorar em Guanahani, ilha que passou a chamar São Salvador, em nome dos reis espanhóis, as âncoras das caravelas foram levantadas e, em explo-

ração, Colombo e sua tripulação aportaram em um lugar que denominou de Hispaniola, quando tomaram suas terras. Nela foi erguido um forte, La Navidad, uma casa rodeada por paliçada, construída com mão de obra indígena e madeiras da Santa Maria, nau destruída na colisão dos recifes. Os índios, ao perceberem a tristeza do navegante diante ao naufrágio, trouxeram o remédio para fazê-lo feliz: o ouro. Em 1493, ao retornar à Espanha, o navegador ge-


lumeMatoGrosso REVOLUÇÃO HAITIANA, óleo sobre tela de Auguste Raffet

novês deixou o forte sob o comando de Arana, uns poucos homens, sementes e provisões. De volta à ilha, na segunda viagem à América, encontrou o forte Navidad destruído e a tropa aniquilada pelos indígenas. Os dias de confraternização e doações de quinquilharias aos índios foram substituídos por dias de opressão. Os colonizadores fizeram dos índios seus escravos quando, a menos de um século, levaram quase toda sua totalidade à extinção diante aos trabalhos forçados, doenças infectocontagiosas e extrema violência. O contato dos espanhóis com os indígenas das ilhas do Caribe é consi-

derado um dos maiores genocídios da história. Colombo deu ao reino espanhol o poder que nenhum outro reino europeu conheceu: metais preciosos, terras e povos escravizados. Em oposição ao novo modelo imposto no Caribe, nasceu a resistência indígena. Líderes indígenas do tronco linguístico Aruaque se rebelaram contra os espanhóis. Hatuey, por exemplo, partiu do Haiti para Cuba com o intuito de alertar sobre a crueldade e as armaduras de ferro dos espanhóis. A indígena Anacaona, líder Taino do Haiti, tentou negociar a paz, mas foi assassinada pelos espanhóis e por seu neto, Enriquillo, criado por religio-

sos em São Domingos. Para substituir a mão-de -obra indígena, os colonizadores trouxeram negros que já estavam na Espanha e que, anteriormente, integraram a tripulação de Colombo em sua primeira viagem ao “Novo Mundo”. Com o aumento da presença dos negros, a ilha ganhou uma nova paisagem cultural: Tainos e negros se encontraram. Ambos na condição de escravos, na mira do olhar etnocêntrico da Europa. Dez anos depois da chegada de Santa Maria, Pinta e Nina, entre os anos de 1502 e 1518, centenas de africanos, nominados por “ladinos”, foram levados à Hispaniola e demais ilhas vizi-

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s eHgIST u rÓaRIA nça

nhas para trabalhar nas minas, em regime de escravidão, junto aos indígenas. Em meio aos Tainos e espanhóis estava Bartolomé de Las Casas (1474-1566), que deixou a Espanha, sua terra natal, em 1502, e partiu para Hispaniolae República Dominicana. Fez-se senhor de terras e de indígenas. Mas, em 1510, quando a Ordem Dominicana dos Pregadores chegou à ilha para pregar sobre os malefícios do sistema de escravidão, Las Casas fez-se padre e, anos mais tarde, recebeu da realeza espanhola o título de “protetor dos índios”. Primeiro religioso a celebrar missa entre os nativos da ilha, testemunhou incontáveis massacres de povos autóctones. Agraciado com poemas de Pablo Neruda e José Marti, Bartolomé de Las Casas cruzou o Atlântico muito mais vezes que Colombo, a buscar leis que dessem fim às atrocidades contra os índios. Escreveu, aos noventa anos, sua última defesa em prol dos indígenas, com base no direito de propriedade pessoal. Figura po-

lêmica, morreu sem ter vivenciado a independência dos nativos pelo mandato de bona fide, norma jurídica romana que regia relações obrigacionais, tuteladas por juízos de boa fé. Bartolomé de Las Casasdeixou escritos sobre sua vida junto aos indígenas – Brevíssima relação da destruição das Índias, obra mais polêmica do dominicano, e História de Las Índias,considerado um documento histórico de mais importância. Seus escritos registram seus esforços na defesa indígena, a denunciar sua vida trágica. Combinou aspectos do Cristianismo aos atos da dizimação, ameaça e destruição adotados pelos conquistadores espanhóis. Os Tainos não estão mais no Haiti. Eles não conseguiram sobreviver à ganância espanhola. A paisagem do Haiti passou a ser composta por descendentes de africanos, dominantes em muitas das nações do Caribe. Em 1604, os indígenas não eram mais citados nos documentos, quando peças arqueológicas restaram como reANCHIETA

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gistros de povos que milernamente habitaram as ilhas caribenhas.Como proferiu Clécius Monestine, historiador haitiano que atualmente vive em Cuiabá, “não há mais índios no Haiti”. No Brasil, José de Anchieta (1534-1597) e Pedro Casaldáliga (1929-) foram para os indígenas tão expressivos como Las Casas, ainda que operando em momentos históricos bastante distintos.Dispondo de métodos diferentes de lidar com os povos indígenas, os três religiosos católicos se aproximam ao combinar dogmas do Cristianismo aos propósitos da dizimação eda violência seguidos pelos “ismos”, a citar: colonialismo, imperialismo e capitalismo. Las Casas, Anchieta e Casaldáliga, ao criarem estratégias inovadoras para suas épocas, operaramcom modelos de adaptações litúrgicas e, algumas vezes, recorreram à liberdades doutrinárias opostas ao poder temporal. No entendimento de Aldo Vannucchi (2010), a “obra catequética de Anchieta moldou o cristianismo


DOM PEDRO CASALDÁLIGA

de milhares de índios sacrificados pelos impérios cristãos da Espanha e de Portugal. Na “Missa Ameríndia” dos dois Pedros – o Casaldáliga e o Tierra –, celebrada para “todos os povos indígenas e para todo o povo desta América, sempre à procura de uma outra Terra, de uma Terra sem males, de uma outra sociedade, de um mundo diferente, novo, que se parecesse ao mundo indígena, em harmonia com a natureza, em harmonia com os irmãos, compartilhando da vida sem lucros, sem cobiças, sem pressas”.Casaldáliga fez cantar ao Senhor: “mártires indefesos/ pelo reino de Deus feito Império/pelo Evangelho feito decreto de Conquista/Vítimas dos massacres que ficaram em nome glorioso/ na mal contada História/na mal vivida Igreja...” Hoje, no Haiti, ao contrário dos indígenas, os negros trazidos da África, ainda que transformados em escravos, conseguiram sobreviver, a duras penas, às agruras da escravidão, ao

domínio francês, aos governos ditatoriais, ao imperialismo estadunidense, ao terremoto. O Haiti, país que iniciou a era das revoluções nas colônias do Sul, consagrou a primeira república negra do mundo, quando negros e escravos se rebelaram contra o domínio dos brancos proprietários das plantações. No Brasil, os quase 900 mil indígenas, 0,47% da população total do país, compõem a paisagem cultural das aldeias e das cidades. Ainda são vítimas de violência e preconceito sem tamanho.Contudo, cada vez mais, vem crescendo o fenômeno do protagonismo indígena que indica novos espaços de atuação política. Em tempos diferentes dos de hoje e cada um ao seu modo, Las Casas, Anchieta e Casaldáliga se engajaram em uma complexa tarefa: a de transmitir conceitos abstratos do monoteísmo cristão, quando elementos da cosmogonia indígena uniram-se aos da liturgia que trata das cerimônias e dos ritos da igreja católica

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no Brasil colônia, mediante a transliteração da mitologia tupi num evangelho mestiço, que não apenas facilitava a integração dos nativos no rebanho da igreja, mas, muito mais que isso, apontou o caminho da aculturação inteligente e respeitosa da população original do País”. Radicado no Brasil desde 1968, Casaldáliga é bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia. Nesse município, em vários momentos, diante à sua postura em oposição à ditadura civil-militar, foi obrigado a se afastar da cidade por receber incessantes ameaças de morte. Defensor incondicional dos povos indígenas das Américas, exaltou a diversidade das culturas indígenas e combateu veemente o extermínio levado a cabo pelos conquistadores, enquanto os sobreviventes eram reduzidos à categoria anônima de “índios”. Casaldáliga é também lembrado no “Ano dos Mártires” da causa indígena, em 1978, na celebração dos 350 anos da morte de três missionários jesuítas e

BARTOLOMÉ DE LAS CASAS

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O Negro na Conquista do Oeste*

O

por Afrânio Corrêa Foto Albert Henschel (1870)

negro, escravo e miserável, teve uma função de relevo na grande obra de colonização do Oeste. Foi o braço forte que suportou a carga de todos os serviços pesados. Marchando com a bandeira, preso a um serviço duríssimo, deu a sua vida na histórica marcha para o Oeste. Elemento servil, fora levado de S. Paulo, desde os primeiros desbravadores, para conduzir a pesada bagagem da bandeira. Só o negro suportava tal mister, porque era de fato um forte. Remando, enquanto navegavam; condu-

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zindo, por terra, sobre as costas, nas longas caminhadas, as dezenas de arrobas do equipamento material da bandeira; pegando em armas, nos combates, para defender os senhores contra o gentio paiaguá e guató – o negro foi o braço forte da penosa marcha para o Oeste, e sempre açoitado, espancado e chumbado como um animal rebelde. Importado e vendido como mercadoria, e, como tal, pagando impostos, o negro viveu em todas as épocas da conquista do Oeste como elemento precioso de trabalho.


pela pneumonia, porque dormia ao tempo, sob o vento frio que inesperadamente soprava por sobre os planaltos. Morria sofrendo e lamentava-se apenas a perda da mercadoria que se estragara ao tempo. E, quando, no desespero da sua dor, fugia das mãos do senhor, buscando um tratamento humano entre os seus de raça, no refúgio dos quilombos, eis que o negro – pobre negro! – iria viver sob ainda mais terrível tortura, escravizado pelos próprios chefes negros, da mais baixa brutalidade. Pela ordem régia de 7 de Março de 1741, era ordenado que o negro que fugisse do senhor fosse marcado a ferro com um “F” sobre uma das espáduas, cortando-lhe a orelha, “sem mais processo”, quando reincidisse. Ainda assim, porém, o negro fugia. Para onde? Quariteré, depois Vila Carlota, foi um célebre quilombo no Oeste, destruído à bala por Souza Coutinho, em 1779, e, finalmente, arrasado no governo de João de Albuquerque. Para ali, fugiram centenas de negros miseráveis, em busca de uma vida melhor. Mas, em Quariteré, mandava Teresa a Rainha-Negra. Na ocasião, essa “negra amazona” foi presa e tentaram levá-la para Vila Bela, mas, segundo cronistas, “morreu enfurecida, como Cleópatra.” Passam-se anos, e o cli-

ma de Vila Bela começa a hostilizar a população. O número dos que sucumbem cresce. Entre estes, dois capitães-generais morrem pela insalubridade da região. As vítimas aumentam. Mas, e os negros? São imunes. Resistem. E a população começa a diminuir, de ano para ano, enquanto os negros proliferam. E o tempo passa. Um século. Quase dois séculos. A Vila Bela de hoje, é uma pequena vila, quase todos negros, alguns brancos. Transitam e passeiam pelas ruas da antiga capital, entre as ruínas das suas igrejas, pelos solares dos seus feitores. Todos morreram ou se foram. E o negro lá ficou – livre, cidadão, eleitor, pobre, embora, porém livre, tendo como sua, só de negros, a pitoresca Vila Bela dos Capitães-Generais e fidalgos – símbolo do poderio português no Oeste, baluarte longínquo de um império fantástico, ruína memorável de uma época de açoites, torturas e enforcamentos. Destino...quem te entende?

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Nos trabalhos das lavras, o negro foi o braço que balançou a bateia, atento ao brilhar do ouro, rodante sobre a baeta. De tangas, ao relento tropical, trabalhando de sol a sol, fazia à noite os outros serviços de seu senhor, carregando-lhe água, buscando gêneros, conduzindo cargas, embarcando ouro! E, quando se cansava, era açoitado e espancado até um dia morrer magro e faminto, devorado pela tuberculose – mártir anônimo da conquista do Brasil. A revolta do negro contra os maus tratos teve a mais dura repressão. Rodrigo César, visitando Cuiabá no período em que começava a assinalar-se a sua decadência, ordenava o enforcamento de negros em praça pública a fim de intimidá-los a diminuir as fugas que, de dia para dia, aumentavam os quilombos. Desnutrido e miserável, mártir de todos os dias, o negro pagou com a dor, com o sangue, com a vida, com sofrimentos bárbaros, com as mais torpes torturas, os seus inestimáveis e imprescindíveis serviços prestados ao paulista e ao português. Foi o homem do trabalho, o braço que fez. No distrito de Matto Grosso, nos elevados planaltos dos Parecis, onde se situam os arraiais de São Francisco Xavier e Santana da Chapada, o negro morria ao desabrigo, vitimado

(*) Texto retirado do livro “O Paredão de Ouro”, de Afrânio Corrêa, escrito em 1943, de acordo com a visão e conhecimento histórico do autor, à época. Neste período a cidade de Vila Bela SS Trindade chamavase Matto Grosso.

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Compromisso com o Resgate da Cultura Tribal

L

eo Rocha e sua esposa Flávia tinham acabado de abrir as portas do pequeno comércio de arte indígena quando souberam do encontro de lideranças de diversas aldeias que acontecia em Cuiabá, há exatamente um ano atrás. Sem saber ao certo como chegar e o que dizer, procuraram alguns indígenas, talvez antigos conhecidos, para falar: “abrimos uma loja e gostaríamos muito de comprar de vocês”.”Mas, do que vocês precisam?” - perguntou o curumim de etnia Mehinako. “Daquilo que vocês não fazem mais” - Leo Rocha respondeu. O curu-

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POR LETÍCIA BAETA

mim fez cara de bravo e deu um leve recuar. Como assim? O que não se faz mais, não existe mais! - curumim pensou na língua aruak. Então Leo arriscou: pau de fazer o fogo, você tem? Sem nada dizer, curumim respondeu negativa-mente com a cabeça. Depois disse que só dois senhores de muita idade ainda sabiam fazê-lo e, portanto, daquilo quase não se via na aldeia. - Então eu quero bastante desse - falou Leo Rocha.O curumim desconfiou. Era novo, não chegou a conhecer Leo na aldeia, mas o reconheceu da televisão. Depois de mais de um mês curumim voltou. Trazia

a encomenda. Loja pequena, ainda com pouco dinheiro, mas o casal comprou todos os 50 paus de fazer fogo que o curumim trouxe. Curumim aprendeu a fazer o que só dois velhinhos sabiam fazer. Curumim aprendeu para sempre o que só dois velhinhos sabiam fazer. Leo abriu um modesto sorriso e fechou os olhos. Consegui - pensou em silêncio, na língua aruak talvez. Sentiu que começava a retribuir por tudo o que viveu no Xingu. Naquele momento nascia Leo Rocha Arte Indígena.


as plantas do quintal, ela faz parte da história que ela mesma conta. Conversa sobre Leo Rocha, sobre os índios e nos apresenta todo esse universo tribal. UM COMPROMISSO COM O XINGU Na hora em que o curumim girou o corpo curvado de tanto peso nas costas, o saco cheio de pau de fazer fogo caiu e fez um estrondo seco no chão da loja. Pof - Uma leve poeira levantou. Quando isso aconteceu, estranho, Leonardo sentiu que dele saia também um peso das costas. Desde que começou, no final de 2011, as gravações da Discovery Chanel para o programa Desafio em Dose Dupla Brasil, Leo Rocha só pensava numa maneira de retribuir para os índios tudo o que com eles aprendera. A grande sacada, a bola da vez agora mostrada em rede mundial eram as técnicas de sobrevivência de conhecimentos indígenas. Raízes que curam, folhas e frutos silvestres comestíveis, construção de abrigos, fazer o fogo da maneira mais primitiva. Um conhecimento adquirido a partir de duas temporadas que Léo Rocha passou no Xingu - uma aos 11 anos e outra aos 17. E ele sentia

agora, mais do nunca, no compromisso de devolver e agradecer. Sim. Ele sentia, porque Leonardo é sentimento – no trabalho, no mato, com as pessoas, com as plantas, com a madeira. Não foi por acaso que eu fui parar no Xingu – ele pensava a todo momento. E como aquilo fez tanto sentido na sua vida, na sua criação, nos seus ofícios e saberes, no seu íntimo. Ate que ele foi pela terceira vez ao Xingu, em 2014 e, ao visitar os parentes, caiu no inevitável: “Leonardo, compra de mim”, “Leonardo compra minha esteira”, “Leonardo compra isso e aquilo”. Porque todo mundo queria ver aquele menino branco que morou ali quando pequeno. Todo mundo queria um pedacinho dele. E, não conseguindo dizer não pra um, não pra outro, voltou pra casa com um bocado de arte indígena. Comprar era o que ele podia fazer naquela hora, pra dar uma força. Mas, comprar assim não dava mais. Só havia uma alternativa pra continuar e poder um dia nunca dizer não: vender.

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UM PASSEIO PELA CULTURA INDÍGENA A Leo Rocha Arte Indígena se apresenta como um espaço cultural. Guarda um acervo de peças autênticas de mais de vinte etnias brasileiras. Remos, arcos, cestas, cabaças e bancos a beça. Sem contar os colares de caramujo, as pulseiras de tucum, as tiaras de algodão nativo, além de peças de coleção, como os colares de criança EnaweneNawe, feitos de tucum sextavado ou as perneiras femininas de látex. Um museu disfarçado. Uma aula de história, sem se cansar. Cada peça do acervo apresenta não só uma etiqueta com toda a sua referência: etnia, artesão, região, mas traz também histórias de índio e informações de cunho antropológico. “A ideia é que esse peça que sai hoje daqui vá para a casa de alguém que vai zelar pela nossa cultura material. Como se cada um abrigasse peças de um grande museu.Pode ser que amanha não se produza mais peças iguais a essas. Ao comprar a pessoa esta fazendo uma ação em favor da cultua indígena”, explica o casal.É nesse sentido que a loja pretende divulgar a arte dos povos tradicionais – mostrando, tocando, encantando - para engajar o branco nessa causa de índio: Resgatar a cultura. Avani, mãe do Leo, é quem nos recebe no espaço. Ela conhece as peças,

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CASA TRADICIONAL REFORMADA POR LÉO ROCHA Distante uns 100 metros do vuco-vuco da praça, é preciso explorar e descobrir esse espaço que abriga a Léo Rocha Arte Indígena. Uma casinha antiga de adobe, estreita e cumprida. De telhado baixinho, de barro também. Casinha de caboclo, sem corredor, onde um cômodo da no outro, que da no outro, que da no outro, ate que chega, enfim, num tradicional quintal de Chapada, farto de bananas, abacates, um pé de anis, inhames e um pé de mamão caipira daqueles vermelhos, de mais de vinte anos, alguns plantados por Léo ou pelos antigos donos.

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As janelas são feitas de Aroeira - madeira de reaproveitamento. Madeira dura, raramente usada para trabalhos como esses. As portas, pivotantes, sem dobradiça, são feitas de Teca. Nos caixilhos, entalhes de madrepérola, marchetaria e ate pó de ouro nos buraquinhos e falhas da madeira antiga– “defeitos especiais”, como Leo Rocha costuma dizer. Na porta de entrada, uma borboleta de concha em tons de rosa incrustada na madeira. Uma marcenaria diferente de tudo! “Eu aprendi a ser marceneiro brincando, fazendo meus brinquedos. Quando eu era criança minha mãe falou: você quer caminhãozinho? Então eu

vou levar você no cara que faz e você vai varrer a oficina dele e ajudar ele no que ele precisar, observar ele trabalhar pra aprender. E nessa de observar pra aprender e ela me estimulando, eu fui me interessado mais pela marcenaria. Quando tinha alguém que sabia, eu colava nele e aprendia aquilo ai outro e outro. Aprendi como funciona estrutura de telhado, duma casa e as relações da física na prática – vivendo, pegando, quebrando”, explica Leonardo. Leo Rocha possui uma relação muito intima no trabalho com a madeira. Ele é capaz de caminhar com você num assoalho de madeira e te dizer a idade que aquelas peças


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Ubaldo Monteiro da Silva O Historiador Maior de Várzea Grande

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por Wilson Pires de Andrade

á cerca de 100 anos nascia Ubaldo Monteiro da Silva, o maior historiador de Várzea Grande. Poeta, jornalista, escritor, intelectual e coronel da Polícia Militar. O imortal Ubaldo Monteiro da Silva nasceu em 16 de maio de 1916, em Várzea Grande e faleceu aos 88 anos de idade, em 23 de maio de 2004. Deixou de ser simples cidadão matogrossense para fazer parte da história de Várzea Grande. Admirado por alguns, respeitado por todos, Ubaldo Monteiro foi uma espécie de Olavo Bilac pós-moderno, guardadas as devidas proporções, segundo definição do então poeta e historiador cuiabano Lenine Póvoas. Cada fato, por mais insignificante que pudesse parecer, era sempre anotado cuidadosamente em um caderno pelo historiador, assim foi pautado o seu cotidiano. Ubaldo Monteiro se orgulhava de conhecer, com uma incrível riqueza de detalhes, quase toda a história de Várzea Gran-

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de. “Um povo e uma cidade têm que ter história”, costumava dizer aos amigos, ao lembrar cada data marcante vivida pela população várzea-grandense. Jeito simples, olhar curioso, voz firme, com uma fome voraz de aprendizado, ele sempre estava descobrindo fatos novos sobre a Cidade Industrial. Foi um dos poucos, por exemplo, que registrou fatos da Igreja Nossa Senhora da Guia, uma das mais antigas de Mato Grosso e maior patrimônio religioso, histórico e cultural do município. Inesgotável fonte de saber para os jovens, Monteiro lamentava o desinteresse dos estudantes pela pesquisa da história. Nascido de família humilde, Ubaldo era filho de Alfredo Monteiro da Silva e Ana Emília da Silva. Casado com Neuza Ribeiro Monteiro da Silva, teve quatro filhos. Suas maiores paixões sempre foram a família, a literatura e a história. Intelectual nato, ele era descendente das antigas gerações dos Montei-


VIDA PÚBLICA Em 1957, Ubaldo Monteiro se licencia da PM para se candidatar a deputado estadual. Ciente de que seria útil trabalhando por Várzea Grande e pela Baixada Cuiabana. Enfrentou o poderio econômico dos políticos de Campo Grande e de toda região Sul do Mato Grosso (hoje MS). Venceu. Foi sexto deputado estadual mais votado. Nas eleições de 1962, em sua reeleição, ficou como primeiro suplente e, um ano depois, assumiu mais vez a cadeira de deputado estadual. Querido em Várzea Grande e admirado em Cuiabá, cumpriu o seu segundo mandato até 1966. Desiludido com a política, principalmente por causa do sistema de governo implantado pelo presidente Castello Branco, deixou a política e, apesar dos apelos dos correligionários, não se candidatou à reeleição. Decidiu que havia chegado o momento de dedicar-se à família e à sua maior paixão: a literatura. Ainda na política, a sua esposa, Neuza Ribeiro Monteiro e seus filhos Afrânio e Afonso, foram vereadores por Várzea Grande. Como deputado, lutou por melhores salários para os policiais militares, conseguindo aprovar projetos em benefício da causa pública e dos policiais militares, como o dos Estatutos e o da Lei de Inatividade de Oficiais e Praças da PM. Retornando ao cotidiano da caserna, passou para a reserva como Chefe do Estado Maior da PM.

Sondado para ser candidato a prefeito de Várzea Grande, por duas vezes, não aceitou. Primeiro, para servir no Departamento Penitenciário, onde exerceu o cargo de diretor de duas penitenciárias. Depois, para se dedicar à literatura e à historiação. LITERATURA Ubaldo Monteiro ocupou a Cadeira nº 27, da AML, sendo membro ativo do IHGMT. Como escritor se revelou um dos mais ferrenhos defensores das tradições matogrossenses. Suas obras têm sempre um toque refinado de sentimento nativista. “Tem que escrever com a alma”, definia. Dedicado à literatura, Monteiro escreveu: “No Portal da Amazônia” – contando a história do primeiro século de Várzea Grande; “Cuiabaninhos” – Contos; “Meus Varzeanos” – versos; “Flashes dos 250 anos de Cuiabá”; “A Polícia Militar de Mato Grosso” – histórias; “Flor de Pequi” – romance regional; “Poesiprosa” – poesias; “Os Varzeanos” e “Meus Varzeanos II” – romances inéditos; “No Portal da Amazônia” – história; “Senzalas Mato-grossenses” – contos; e “Várzea Grande: passado e presente, confrontos”. Compositor de várias músicas, de sua obra destaca-se “A Marcha do Centenário” e o “Hino Oficial de Várzea Grande”. Gostava de festas, de tomar uns whiskys de vez em quando e era frequentador assíduo do Bar e restaurante Kavú. No esporte, participava apaixonadamente na vida do Clube Esportivo Operário Várzea-grandense, indo sempre aos estádios para acompanhar os jogos. Foi presidente da Casa da Cultura de Várzea Grande e da Biblioteca Municipal. Quando alguém necessitava de informações históricas da cidade de Várzea Grande, não tinha dúvida, buscava o socorro providencial de Ubaldo Monteiro. Tamanho conceito rendeu a Ubaldo grandes homenagens. Entre as honrarias recebidas estão a Ordem de Mérito de Mato Grosso e a Ordem do Mérito Legislativo de Mato Grosso. Assim era Ubaldo Monteiro, poeta, jornalista, escritor, historiador, coronel da Polícia Militar, amigo de todas as horas e imortal!

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ro e Pompeo de Campos, oriundos de Livramento, dos tempos dos bandeirantes. Ubaldo passou a sua juventude em Cuiabá. Cursou o primário e bacharelou-se em Ciências e Letras na Escola Liceu Cuiabano. Depois, serviu o Exército. Gostou da vida militar, o que o levou a cursar a Escola de Formação de Oficiais da PMRJ. Já formado, retornou para Cuiabá, em 1943, para ser oficial da PMMT. Exerceu vários cargos, como o de Diretor Geral do DETRAN. Sempre inovador, em 1951 fundou o Curso de Formação de Oficiais da PMMT. Dirigiu a Academia até 1956. Foi mestre em quatro disciplinas. Respeitado. Admirado. Obedecido.

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J UN H OS d e nossa história DIA 01

DIA 11

poeta e trovador. Cadeira nº 18, da AML e nº 30, da ASML.

Luiz D´Amour, arcebispo de Cuiabá. Membro do IHGB. Contribuiu para criação do IHGMT.

»» 1912. Nasce Hélio Serejo,

DIA 02

»» 1831. Nasce Rufino Enéas Gustavo Falcão - Barão de Maracaju. Presidente da província de MT, de 05/12/1879 a 02/05/1881.

DIA 04

»» 1837. Nasce D. Carlos

DIA 12

»» 1917. Nasce Ênio Pipino, empresário e colonizador. Fundou várias cidades, dentre

as quais Sinop, em MT.

»» 1992. Líderes de 180 nações iniciam a ECO 92, no Rio de Janeiro.

DIA 07

»» 1494. Espanha e Portugal assinam o Tratado de Tordesilhas, fixando uma nova linha divisória para os descobrimentos de novas terras.

»» 1903. Nasce Mário Spinelli, contabilista, garimpeiro, revolucionário, seringalista, empresário, pecuarista, político e poeta em MT.

DIA 14

»» 1928. Nasce Ernesto

“Che” Guevara, revolucionário cubano de origem argentina.

DIA 09

»» 2013. Morre Marcos

Barbosa Coutinho, músico e jornalista, pioneiro do jornalismo digital em MT.

DIA 15

»» 1924. Os “20 poemas de amor e uma canção desesperada”, de Pablo Neruda, é publicado. »» 1996. Morre Ella Fitzgerald, cantora norteamericana de jazz.

DIA 16

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DIA 20

»» 1887. Nasce Georges Pommot, engenheiro, professor de desenho no Liceu Cuiabano.

DIA 21

DIA 08

»» 632. Morre Maomé, fundador e profeta do Islamismo.

»» 1888. Nasce César Albisetti, missionário salesiano italiano. Por décadas pesquisou e historiou o povo indígena bororo, no sul e leste de MT. »» 1923. Nasce Newton Alfredo de Aguiar, servidor público, radialista, teatrólogo, poeta e trovador. Ocupou Cadeira nº 35, da AML. Pioneiro na rádio novela em MT.

DIA 19

DIA 05

»» 1920. Nasce Haroldo Widal de Pinho, em Cáceres, professor, físico, matemático. Da família Pinho, que chegou em MT em 1725.

DIA 18

»» 1902. Morre Dormevil José dos Santos Malhado, médico, militar, político. »» 2012. Morre Ernandy Maurício Baracat de Arruda, deputado estadual por Várzea Grande.

»» 1881. Nasce Aníbal Benício de Toledo, jurista, deputado federal entre 1912/1929, governador de MT, em 1930. »» 2004. Morre Leonel Brizola morre, aos 82 anos, no Rio de Janeiro vítima de uma infecção pulmonar.


»» 1527. Morre Nicolau

Maquiavel, o autor de O Príncipe, o texto que consagra o nascimento do Estado Moderno. »» 1826. Zarpa de Porto Feliz/SP, a épica Expedição Langsdorff, com destino a MT.

DIA 23

»» 1973. Morre Laurinda Lacerda Cintra, líder espiritual, conhecida como Doninha do Tanque Novo, em Poconé.

DIA 26

»» 1904. Nasce Carlos Vandoni de Barros, engenheiro civil, político, literato e historiador. Foi sócio efetivo do IHGMT. »» 1790. Nasce João Poupino Caldas, militar e político. Um dos protagonistas da Rusga, morreu assassinado, pelas costas, com uma bala de prata.

DIA 29

»» 1873. Nasce João Celestino Cardoso. Dono da Usina Conceição, político de escol e líder da UDN. »» 1969. Morre Frei Salvador Rouquette, professor, engenheiro químico, sacerdote e benfeitor.

DIA 30

»» 1972. Morre Ulysses

Azuil de Almeida, advogado, jornalista, literato, poeta e bisneto do engenheiro Ricardo Franco de Almeida Serra.

O PERSONAGEM

CEM ANOS DO NASCIMENTO DE GERVÁSIO LEITE

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DIA 22

GERVÁSIO LEITE

»» 19-06-1916. Neste mês de junho é comemorado o centenário do nascimento do advogado, professor, jornalista e político Gervásio Leite. Foi Desembargador, Corregedor-Geral de Justiça, Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso. Atuou de forma eficaz na política, sendo deputado constituinte em 1947. Presidiu a OAB/MT. Foi membro do IHGMT e presidiu a AML. Fundou, com Rubens de Mendonça, a revista modernista Pindorama. Foi líder do movimento Graça Aranha.. Escreveu inúmeros livros e usava, em algumas ocasiões, o pseudônimo Joel Corrêa Júnior. É de sua lavra: Leão XIII e o mundo moderno, de 1941; Aspecto matogrossense do ensino rural, de 1941; O gado na economia matogrossense, de 1942; O avião da vingança, de 1943; Roteiro de uma personalidade, de 1944; Cuiabá - Terra Agarrativa e Linda, de 1969, e tantas outras.

O ACONTECIMENTO

CENTO E QUARENTA E NOVE ANOS DE HERÓICO FEITO CUIABANO RETOMADA DE CORUMBÁ

»» 13-06-1867. Por ocasião da Guerra do Paraguai, em janeiro de 1865, Corumbá foi tomada por tropas paraguaias. Muitas vidas foram ceifadas, e ocorreu fuga em massa. Em 1867, pretendeu-se, por cuiabanos, a retomada de Corumbá. Os preparativos militares e estratégias de operações, ficaram sob o comando do tenente-coronel Antônio Maria Coelho. A 15 de maio ocorreu a partida das tropas do porto de Cuiabá. A 13 de junho, pela madrugada, a tropa toma rumo norte e caminha, margeando o Rio Paraguai, até Corumbá. Às 14 horas, iniciam-se ataques em vários fronts, que duraram até às 18 horas. As tropas brasileiras, perderam 9 homens. Foram aprisionados 27 paraguaios, do total de uma tropa de 200 homens, que guarneciam Corumbá. Com a retomada, além do resgate moral do povo mato-grossense, deu-se a expulsão definitiva das tropas paraguaias do solo de MT.

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culinária

Costela Bovina com Mandioca

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rata-se de um prato bastante tradicional na cozinha matogrossense. É a famosa “costela co mandioca”, saboreada na sombra dos mangueiras, que vicejam nos quintais de nossa

terra. Em outros tempos, era feita em “tacuru” e servia muita gente. É tradição por conta de nossa rica pecuária, nossos pantanais e nossa gente habituada a apreciar a boa carne bovina. Por outro lado

a mandioca é uma herança indígena, disseminada por todo o território brasileiro. Juntar os dois ingredientes, adicionando temperos que só tem a contribuir, o resultado não poderia ser outro: uma delícia.

Receita de Edna Lara Ingredientes

»» 2 quilos de costela cortada, »» »» »» »» »» »» »» »» »» »» »» »»

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mais ou menos em 5 cm 5 dentes de alho socados 1 cebola média picadinha 1 pimentão verde picadinho, sem sementes 1/2 copo de vinho branco seco (opcional) Sal e pimenta-do-reino a gosto Cheiro-verde e cebolinha a gosto 1 folha de louro 1 limão 4 tomates picados, sem sementes 1 quilo de mandioca 2 colheres (sopa) de vinagre Óleo

COMO FAZER

»» Corte a mandioca em pedaços pequenos e reserve. Corte também a costela em pedaços pequenos, lave bem e tempere com sal, alho, pimenta-do-reino, vinagre, folha de louro, limão, vinho branco seco (opcional) e deixe descansar por 2 horas. Adicione o óleo em uma panela bem grande, frite a costela até dourar. Retire o excesso de óleo e vá pingando água quente até a carne ficar macia. Acrescente a cebola, os tomates, o pimentão e refogue-os bem. Feito isso, coloque 1 copo de água e deixe cozinhar. Corrija o sal. Quando a mandioca estiver macia e o caldo grosso, desligue o fogo, salpique o cheiro-verde. Misture e sirva.


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FOTOS LAÉRCIO MIRANDA

Edna Lara é gastrônoma e culinarista, formada pela Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro. Autora de duas edições do livro “Diversidade da Gastronomia”. A segunda nas versões português e inglês

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l i t e r at u r a

O Hóspede

C

omo o carteiro não ouviu resposta às palmas que batia diante do portãozinho baixo, achou por bem meter a carta por debaixo da porta, mesmo correndo o risco de levar uma carreira do vira-lata. A filha mais nova saiu de casa de madrugada para trabalhar como assistente de enfermagem no hospital público do outro lado da cidade e acabou nem vendo o envelope branco que estava jogado no chão. Nem o pai que tomou o café habitual com a mulher, nem a mulher que arrumava a casa depois do marido sair. Ficou incumbido de encontrar a carta o filho mais novo, bacharel em direito, que dormia todos os dias até a hora do almoço. Tomada pela emoção, a mulher ligou para a repartição em que trabalhava o marido. Que é? Não te conto. Conta, agora que ligaste, agora conta! Sabes quem vem nos visitar por uns dias? Não faço ideia. Teu primo. Quem? Teu primo, ele mesmo, único primo que tens. No duro? Duríssimo! O engenheiro desligou o telefone, pediu para sair mais cedo, ajeitou as canetas no bolso e rumou para a casa antes da noite. Queria ver por ele mesmo a carta. Leu, releu, reconheceu a letra do primo – ele vem mesmo, ora essa. Somente à noite, vencidos dois coletivos de volta pra casa, a filha tomou

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Por Eduardo Mahon

conhecimento da novidade. Cética, foi reconfortada pela mãe: dormes comigo no teu quarto e teu pai fica com teu irmão no quarto dele; deixamos a suíte para o hóspede. O hóspede em questão era um primo bacana que o sujeito tinha. Casaram-se às escondidas, sob guarida do primo que, escolhido padrinho, presenteou o novo casal com uma geladeira importada, artigo de luxo para a época. Passados vinte e cinco anos, a geladeira azul estava lá, sem um arranhão. A maçaneta rangia e o compressor dava mostras de cansaço engasgando de vez em quando, mas gelava perfeitamente. Surpresos com a notícia da primeira visita que receberiam do padrinho, trataram de comprar uma geladeira nova, orgulhosos demais para dar o braço a torcer. Sem miséria, sem miséria, repetia o chefe da família ao autorizar a esposa a enfiar-se no crediário. Ela comprou jogo de pratos, talheres, copos, lençóis e toalhas felpudas. De posse do alvará para a gastança, deuse ao luxo de comprar também batedeira, aspirador de pó e um televisor para a sala. Enfim, chegou o dia. Um táxi largou o primo na calçada com duas malas. Foi recebido como autoridade. No cardápio, frutos do mar, vinho branco e sobremesa, mais um duro golpe no orçamento do-

méstico. Ajeitou-se no quarto cedido, abriu as malas, pendurou algumas camisas, ligou o condicionador de ar – não suporto o calor, como sabem; vocês não se importam? Os anfitriões foram incapazes de retrucar. O que é uma semana, afinal?, pensavam. No outro dia, o primo contou as novidades, viagens, aventuras, casos amorosos, tudo daquela vida de bom vivant. Passado o lanche, almoço, jantar e ceia, revelou que ficaria por uma semana apenas, tempo suficiente para resolver uns negócios na cidade. O visitante usava largamente o telefone. Fazia uma boquinha entre uma refeição e outra, deixando ligado o condicionador de ar o dia todo. Foi assim, passando bem na sombra e água fresca, que se passaram duas semanas além do prazo estipulado. Daí, dilatouse a estadia por dois meses. Burocracias de cartório, dizia o primo.Com o orgulho ferido, obrigado a despejar da própria casa o padrinho de casamento, desincumbiu-se do ultimatum o dono da casa. Com uma penca de razões decoradas na ponta da língua, fez sua introdução – gostaria de um dedo de prosa – mas estacou ao ser indagado – primo, estou me lembrando agora: o que fizeram daquela geladeira azul que foi meu presente de casamento?


Dicas de Leitura AGNUS DEI - MAR DE ÁGUA DOCE (2015) RUI MATOS

Sobre O autor

último verso (2015) Stéfanie MedeiroS

liu Arruda – A travessia de um Bufão (2014) ivan belém

»» Trata-se de romance épico, que resgata encantos da paixão num cenário de tirar o fôlego. Agnus Dei - No Mar de Água Doce - poderia ser mais uma saga apimentada por beijos cheios de desejo, sexo tendo o céu como cobertor, intrigas apaixonantes e uma trama de mexer com a libido até dos mais tímidos. É mais do que isso! A obra, com ilustrações de Flávia Scheel, lança o jornalista Rui Matos como romancista que extravasa sentimentos campestres.

»» O último verso costura a trajetória de um escritor já idoso, dócil e de grande talento em meio aos conflitos das relações familiares e sua vontade férrea de não deixar a poesia de lado.Trata-se de Edmundo Mesquita, que nunca foi um homem prático. Desde jovem, sempre gostou de escrever poeticamente. Aos 85 anos de idade, com a ajuda de sua esposa, Soraia, conseguiu conquistar o conforto necessário para se dedicar à Literatura, sem desfocar sua atenção com outras preocupações. E é assim que passa seus dias: levanta cedo, toma o café da manhã com a família e se tranca em seu escritório, no segundo andar da casa, para “fabricar” seus poemas. Até que o inesperado estoura, de repente, a bolha de sabão em que vive.

»» Rui Matos, 49 anos, é Jornalista com especialização em Filosofia e Marketing. Em 2015 teve o seu primeiro romance, ‘Agnus Dei – No Mar de Água Doce’, selecionado como obra inédita no Prêmio Mato Grosso de Literatura. Em 2010, foi vencedor do Prêmio Jornalistas & Cia -HSBC de Imprensa e Sustentabilidade e também finalista do 10º GP Ayrton Senna de Jornalismo. Em 2012 e 2014 foi vencedor do Prêmio Sebrae de Jornalismo. Em junho, lança ‘No Mar de Água Doce’, em Cuiabá (MT), onde mora desde 1990. Nasceu em Rondonópolis, cidade localizada na porção sul de Mato Grosso.

»» O ator Ivan Belém, hoje um historiador, nos relata com emoção e singularidade, a rica trajetória cênica do Grupo Gambiarra de Teatro, precursor do teatro de rua da cidade de Cuiabá, Mato Grosso, que celebrou uma parceria com o ator Liu Arruda, abandonando os espaços convencionais e buscando os bares, as ruas e praças para as suas experimentações cênicas. Adotaram como gênero de linguagem a irreverência, a paródia, o deboche, a cizânia, a “tgira cuiabana”, para a escritura de sua própria dramaturgia.

Editora TantaTinta | Carlini & Caniato www.carliniecaniato.com.br • comercial@tantatinta.com.br


agenda PEDAGOGIA DALCROZE O SESC Arsenal oferece curso que abordará a pedagogia Dalcroze, sua filosofia, os elementos da Rítmica Dalcroze, além da prática pedagógica, com aplicação de estratégias pedagógicas em diferentes níveis de ensino musical. O Curso será ministrado por Iramar Rodrigues, professor de música do Instituto Dalcroze em Genebra (Suiça). O professor tem divulgado a Rítmica Dalcroze em diversos países, dentre esses, Argentina, Uruguay, EUA, França e Brasil. Endereço: SESC Arsenal, em Cuiabá, de 23/06 a 26/06. Dias 23 e 24 das 18hs às 22hs dias 25 e 26 das 16hs às 22hs | Salão Social.

A VEZ E A VOZ DE GERVÁSIO LEITE Evento festivo e literário, promovido pela família de Gervásio Leite, que ocorre no dia 21/06, no Teatro da Universidade Federal de Mato Grosso, em homenagem ao Centenário de Nascimento do ilustre literato e historiador, ícone da cultura cuiabana e mato-grossense. Gervásio Leite foi presidente da AML e pertenceu a inúmeras instituições culturais e jurídicas. Endereço: Teatro da UFMT, às 20h:00.

ESCULTURAS EM ARGILA Curso intensivo de artesanato regional de São Gonçalo Beira Rio, ministrado por Dona Domingas. Neste curso serão apresentadas técnicas de como modelar peças e personagem regionais da pioneira comunidade de São Gonçalo. A partir dos 16 anos | 20 vagas. Inscrições e informações: 3616-6921. Endereço: SESC Arsenal, em Cuiabá, de 14/06 a 18/06 | Terça a Sexta das 18h às 22h e Sábado das 14h às 18h | Caldeirão de imagens | Gratuito.

Os Segredos de Almerinda – Vou de Taques, no Dia dos Namorados O cenário da peça é composto por Almerinda George Lowsbi, um analista e um divã. Com esses três elementos o ator discorre sobre Os Segredos de Almerinda que fazem o público se esgotar de rir durante os sessenta minutos de espetáculo, enquanto aguardam a grande revelação. Dia 12 de junho, ás 20h. No Teatro da Assembleia Legislativa - Cerrado Zulmira Canavarros. Local com Estacionamento Duração de 1 hora. Não recomendado para menos de 12 anos de idade. Compra de entrada no site Ingressos MT, no valor

de R$ 30 e R$ 15, meia entrada. Mais informações: (65) 3925-5757.


MATO GROSSO: HISTÓRIA, MEMÓRIA E ARTE Obras de Moacyr de Freitas e Humberto Espíndola prestam uma homenagem ao Estado. Mato Grosso: História, Memória e Arte é a nova exposição aberta na Galeria Lava Pés, sede da Secretaria de Estado de Cultura (SEC). A mostra fica em cartaz até o dia 26 de agosto, com entrada gratuita. Endereço: Avenida José Monteiro de Figueiredo (antiga Lava Pés), 510, Bairro Duque de Caxias, aberta de segunda a sexta, das 8h às 18h. MOSTRA DO SALÃO JOVEM ARTE A exposição do 25º Salão Jovem Arte MatoGrossense reúne conjunto de obras de 40 artistas selecionados e fica em cartaz até 07 de agosto. Os horários de visitação são: de terça a sexta-feira, das 8h às 17h e sábados, domingos e feriados, das 09h às 17h. Endereço: Palácio da Instrução, praça da República, centro, Cuiabá-MT.

Manú Paiva canta Jackson Five Um tributo da ex The Voice Kids, Manú Paiva, que conseguiu em menos de 10 segundos virar as cadeiras dos jurados cantando uma música do Jackson Five. O show marca a gravação do primeiro DVD da cantora. Dia 11 de junho, às 20h30

No Teatro da Assembleia Legislativa - Cerrado Zulmira Canavarros Local com Estacionamento Duração de 1 hora. Censura Livre. Compra de entrada no site Ingressos MT, no valor de R$ 30 e R$ 15, meia entrada. Mais informações: (65) 3925-5757.


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ARTIGO

Nas Pegadas de Jesus

A

Por Padre Felizberto Samoel da Cruz

lém de procurar viver uma vida de castidade por Amor ao Reino, se aprende a não ser obcecado pelos valores materiais e temporais. Quando o vocacionado, no seguimento de Jesus, se apega aos valores materiais, o coração se fecha, a inteligência se reduz meramente ao poder de adquirir para si, de forma egoísta e materialista, os bens do mundo presente. Pois viver a pobreza é manter-se inclinado sobre os fracos, solitários e rejeitados. Não há bem que antes não tenha sido recebido da providencia divina. Por mais que temos um laço familiar ou comunitário, na ótica do dom, nada do que se recebe gratuitamente pode ser retido em beneficio próprio. Tudo que recebemos, começando pela vida, os talen-

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tos pessoais, a capacidade de trabalho e seus frutos, os recursos materiais e outros, devem estar a servidos dos demais. Dessa forma, a avidez, o consumismo e o acúmulo desonram aquele que se consagra a Jesus. Assim como a irresponsabilidade, o comodismo e a preguiça a envergonham. Assumir a pobreza como projeto de vida, ao seguimento de Jesus, se exprime na generosidade da entrega, na gratuidade do serviço, na compaixão ativa os menos favorecidos, na disposição continua de dar e receber, sem exigências desmesuradas. É na comunidade que a pobreza evangélica se traduz em estilo de vida simples e sóbrio, na renuncia de si mesmo, de tudo que supérfluo, na resistência continua ao aburguesamento que nos distancia do

comum das pessoas, no uso consciencioso e transparente dos bens, na partilha das responsabilidades, na solicitude reciproca, na igualdade fundamental entre todos os membros da sociedade. A mística da pobreza suscita uma atitude espiritual de primeira grandeza, aquela que possibilita à pessoa colocar-se diante de Deus com as mãos vazias, como pobre que se reconhece dependente e necessitado de sua graça, que dele tudo espera, abandonando toda falsa segurança e confiando firmemente em seu amor (Lc, 18, 9-14). Por outro lado a busca sôfrega de comodidade e bens sufoca a disponibilidade missionária, ofusca o olhar contemplativo, insensibiliza diante dos pobre, impede uma autentica vida de comunhão




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