lume Mato Grosso
LGBT
Revista nº. 6 • Ano 2 • Agosto/2016 ISSN 2447-6838
Leis, Direitos e Preconceito. Pag. 24
................. R$13,00
BENeDITO PEDRO DORILEO OURO ÉTICO AGOSTO - MÊS DO SELO agostos de nossa história POR QUE NÓS FINANCIAMOS A ESCRAVIDÃo Percy Harrison Fawcett
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Editorial
JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral
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a edição de LUME MATO GROSSO de agosto trazemos em destaque um assunto que pretendemos ser analisado, discutido e seu resultado divulgação à exaustão: LGBT - Leis, Direitos e Preconceito. Este tema nos leva a perguntas que são respondidas pelo brilhante texto produzido por Yan Carlos Nogueira, nos permitindo chegar em pontos de esclarecimentos jurídicos que traz à luz muitos horizontes por vezes de difícil interpretação. Neste agosto de Olimpíadas na cidade do Rio de Janeiro, onde os jogos estão sendo disputados, outro jogo é negociado, desta feita no Planalto Central, onde o escore é antecipadamente conhecido: sai Dilma, fica Temer, mesmo diante de deleções e caóticas dissensões políticas. Ainda neste agosto, cheio de superstições, não discutimos infortúnios e nem números e datas funestas, preferimos eleger o Selo Postal como a mais importante das comemorações do mês, pelo menos para LUME, onde a história de um filatelista cuiabano nos é mostrada pelas mãos da antropóloga e historiadora Anna Maria Ribeiro, discípula de Rú-
ben Fábio Ferreira, memorialista e divulgador do colecionismo. No caminho que trilhamos à divulgação de temas singulares, fomos buscar na escravidão do século XXI, em pesquisa e texto feito por Loyuá Ribeiro da Costa, a indagação que nos devemos fazer “você sabe quem produziu a sua roupa, ou o brinquedo de seu filho?”. Logicamente que raramente essa resposta será afirmativa, pois milhares de crianças e pessoas adultas das mais diferentes nacionalidades se revezam em árduas jornadas de trabalho com a triste missão de se tornarem estatísticas em pesquisas sobre escravidão humana na contemporaneidade. Ainda no firme propósito de fomentarmos discussões e abrirmos janelas sempre fechadas, trazemos à lume uma entrevista sobre o ouro ético, tema incomum, mas que passará a fazer parte do nosso cotidiano, pois a Metamat está agindo para que esta seja uma realidade mato-grossense. É conferir o que nos diz o geólogo Marcos Vinícius Paes de Barros, um “craque” nesse assunto. Além, óbvio, das editorias e diversidade jornalística oferecida pelo nosso corpo editorial. Tenham uma ótima leitura!
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expediente
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ELEONOR CRISTINA FERREIRA Diretora Financeira João carlos vicente ferreira Editor Geral Maria rita uemura Jornalista Responsável Beatriz Saturnino e alline Marques Redação AFRÂNIO CORRÊA, ANNA MARIA RIBEIRO COSTA, CARLOS FERREIRA, CECÍLIA KAWALL, EDUARDO MAHON, ELIZABETH MADUREIRA SIQUEIRA, FELIZBERTO SAMOEL DA CRUZ, HENRIQUE SANTIAN, LOYUÁ RIBEIRO DA COSTA, LUÍS ANTONIO P. DO VALLE, MAISA FRANÇA TEIXEIRA, MALU DE SOUZA, MARIA ANGÉLICA DE MORAES, MAURÍCIO VIEIRA, PRISCILA SAMPAIO, RAMON CARLINI, SÔNIA REGINA ROMANCINI, VIVALDO LOPES, WILLIAN GAMA, YAN CARLOS NOGUEIRA Colaboradores ANDREY ROMEU, ANTÔNIO CARLOS FERREIRA (BANAVITA) BRUNA OBDOWISKI, CECÍLIA KAWALL, CHICO VALDINEI, HENRIQUE SANTIAN, JANA PESSOA, JOSÉ MEDEIROS, JOYCE CORRÊA, JÚLIO ROCHA, LAÉRCIO MIRANDA, LUIS ALVES, LUZO REIS, MAIKE BUENO, MARCOS
BERGAMASCO, MARCOS LOPES, MARIA CAROL, MÁRIO FRIEDLANDER, RAFAELA ZANOL, fablício rodrigues Fotos LUME - Mato Grosso é uma publicação mensal da editora memória Brasileira Distribuição Exclusiva no Brasil Rua Professora Amélia Muniz, 107, Cidade Alta, Cuiabá, MT, 78.030-445 (65) 3054-1847 | 3637-1774 9284-0228 | 9925-8248 www.facebook.com/revistalumemt Lume-line revistalumemt@gmail.com Cartas, matérias e sugestões de pauta memoriabrasileira13@gmail.com Para anunciar DESIGN DOS GUIMARÃES Projeto Gráfico SÍMBOLO LGBT: MÃO ERGUIDA, COM AS CORES DO ARCO-ÍRIS, EM SINAL DE PROTESTO FOTO: DIVULGAÇÃO Capa
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sumário
16. 30. 40. 32. fotografia
notas
memória
caravana da alegria
36.
para quando você for
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48. cultura popular
54. 56. segredos da floresta
artes visuais
58. 60. literatura
agenda
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Benedito Pedro Dorileo Por Elizabeth Madureira Siqueira e João Carlos Vicente FERREIRA
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rata-se da uma das mais importantes personalidades da vida cultural e acadêmica do Estado. De tradicional família mato-grossense, o ex-Reitor da UFMT, Benedito Pedro Dorileo nasceu em Cuiabá a 10 de dezembro de 1934, e é casado com Marlene Garcia Dorileo. É filho de Pedro Gratidiano Dorileo e Joaquina Maria de Almeida e, desde sempre foi do magistério.
rio particular, arcando com custeio de aluguel, servidor e material de expediente – sem nenhum ressarcimento, como era para todos os seus membros. Foi membro do Conselho Superior do Membro titular do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras – CRUB –, depois honorário. Reitor honorário do Fórum Nacional de ex-reitores. Realizou o curso de Escola Superior de Guerra, através da Associação dos Diplomados, ADESG, no qual foi dirigente e relator de grupo de trabalho. Na justiça Desportiva foi, em 1968, membro do Tribunal, junto à Federação Matogrossense de Desportos. Membro fundador da Associação Matogrossense do Ministério Público como o seu primeiro Secretário. A sede da AMMP, também, funcionou, inicialmente, no escritório particular, que mantinha com colegas. Foi patrono e paraninfo de diversas turmas de formandos (Colégios) e de graduandos. Recebeu concessões e títulos honoríficos universitários e outros. Foi presidente de honra da Associação Matogrossense de Professores do Estado, em 1970. Editou livros nas áreas de Literatura, História e Direito Educacional, como Miçanga, Egéria Cuia-bana, Cholo, Universidade – O Fazejamento, Pensar para Fazer, Centenário da Egéria, Nomeação de Rei-
tor e Ensino Superior em Mato Grosso. Seu último livro é a reedição de Zulmira Canavarros - a Egéria Cuiabana (2016). Publicou trabalhos sobre a Língua Portuguesa, História e Direito, em jornais e revistas, inclusive para a revista Universidade, que fundou. É membro efetivo da Academia Mato-Grossense de Letras (Cadeira nº 26), do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso, da Academia Paulistana da História e da Ordem Nacional dos Bandeirantes - São Paulo. Foi membro do Conselho Deliberativo da Fundação Cultural de Mato Grosso. Exerceu atividades jornalísticas, como redator do jornal Tribuna Acadêmica, diretor-secretário do jornal O Social Democrata. Colaborou com os periódicos: A Cruz, Mato Grosso em Revista, Folha Matogrossense e O Estado de Mato Grosso. Integrou grupos para programas acadêmicos nas rádios Cultura, Bom Jesus e A Voz d’Oeste. E, no início da TV Centro América, no programa: Nossa Gente, nossos Valores, atuando em equipe. Nas atividades universitárias, como especialista em direito educacional, organizou cursos e dirigiu simpósios e seminários, proferiu palestras, incluindo a Universidade de Campo Grande, hoje, federal de Mato Grosso do Sul, onde foi membro do Conselho Universitário.
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Advogado, político, professor, reitor da UMT, historiador e escritor, ainda adolescente, reunia crianças e adultos para aulas de alfabetização, à noite, com luz elétrica ou de lampião. Moço, torna-se professor do Centro de Instrução, no curso de formação de Oficiais da Polícia Militar. Conquistando aprovação perante a CADES-MEC, com professores do Colégio Dom Pedro II, RJ, lecionou Língua Portuguesa no Colégio Salesiano São Gonçalo e no Ginásio Dom Aquino. Admitido na Escola Técnica Federal – MT, mediante concurso público. Em 1968, torna-se professor fundador do Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá, em nível superior, onde foi Chefe do Departamento de Letras e, após, eleito pelo Conselho Administrativo, o seu Presidente. Antes, em 1962, já bacharel em Direito, foi eleito vereador da Câmara Municipal de Cuiabá, por estímulo de estudantes e de professores. Foi secretário, vice-presidente e presidente, na vacância da presidenta. Bastou-lhe a experiência de um mandato. Exercendo a advocacia, ingressa no Ministério Público por meio de dois concursos públicos, para defensor público e promotor de justiça, sendo em ambos aprovado. Prefere a Defensoria Pública, órgão, também, do MP, na época, instalando-a em seu escritó-
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Ouro Ético
Você já ouviu falar disso? Por joão carlos vicente ferreira
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ato Grosso nasceu sob o signo do ouro, e a ética, na atividade garimpeira, é um tema que nos remete às profundas reflexões sobre seu verdadeiro significado nesse universo de complexa análise. O termo ética, foco desta entrevista de LUME MATO GROSSO, com o geólogo Marcos Vinicius Paes de Barros, diretor técnico da Metamat, é sobre uma nova abordagem que busca-se à extração desse minério em Mato Grosso. Essa ética é inspirada na “humanização” que ocorre com o diamante, na África, que quer livrar-se do estereótipo dos “diamantes de sangue”. Por conta disso, busca-se a mesma prática com o ouro, que é tradicionalmente associado a danos ao meio ambiente por mercúrio, à invasão de terras indígenas e, principalmente, à evasão de divisas por ineficiência na cobrança de tributos desse metal. É sempre bom lembrar que o Brasil negocia anualmente 50 toneladas de ouro, tendo como clientes, principalmente, o Reino Unido, Suíça, Emirados Árabes, Estados Unidos e Canadá. Desse ouro todo, pelo menos 12% vem de garimpos espalhados por todo território nacional, com significativa participação mato-grossense. O restante da produção advém de empresas como a Kinross, AngloGold Ashanti, Yamana Gold e Jaguar Mining.
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A EXTRAÇÃO DE OURO EM MATO GROSSO É ORGANIZADA? QUEM A PRATICA? QUAL É A QUANTIDADE DE OURO OFICIALMENTE PRODUZIDA MENSALMENTE NO ESTADO? »»Podemos dizer que a extração do ouro em Mato Grosso se encontra em processo de regularização, fruto das restrições ambientais e das cobranças da sociedade e da necessidade da legalização da atividade junto aos órgãos fiscalizadores objetivando a comercialização da produção. Todos esses aspectos se referem ao atendimento aos preceitos da viabilidade econômica dos empreendimentos, da sua sustentabilidade ambiental e social.
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A mineração do ouro em nosso estado é praticada basicamente por cooperativas de garimpeiros, pequenos é médios mineradores. Oficialmente a produção de ouro gira em torno de 10 toneladas anuais, sendo que cerca de 60% dessa produção provém dos garimpos. O QUE É OURO ÉTICO, EXISTE ESSA PRÁTICA EM MATO GROSSO? »»O ouro ético foi a denominação dada ao ouro produzido em comunidades de produtores artesanais e de pequena escala na América Latina. Patrocinada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pela Aliança
para a Mineração Sustentável (ARM). Objetiva estabelecer padrões sustentáveis para o setor, apoiando e facilitando a certificação dos processos de venda de metais e minerais (“Certificação Fairmined”),através do denominado “sistema de comércio justo”. Oficialmente teve seu inicio com o Projeto “Desenvolvimento de Incentivo de Mercado e Formalização na Mineração Artesanal e de Pequena Escala (MAPE) na Bolívia, Colômbia e Peru.” Uma das ações implementadas foi o fornecimento do ouro para confecção das medalhas entregues aos ganhadores do prêmio Nobel de 2016. Em Mato Grosso o pro-
O PROCEDIMENTO DO OURO ÉTICO É VIÁVEL EM MATO GROSSO? »»O Projeto Ouro Ético é perfeitamente viável. Mato Grosso, principalmente devidos aos depósitos auríferos do estado serem em sua maioria representados por pequenos é médios depósitos para os quais as grande mineradoras não tem interesse direto abramse boas perspectivas sua implantação . Além do mais o processo de regularização da atividade se encontra em estágio mais avançado em relação a outros estados do Brasil. O QUE A METAMAT ESTÁ FAZENDO PARA QUE ESSE PROCESSO SEJA IMPLANTADO E QUAIS AS FORMAS DE RESPONSABILIDADES UTILIZADAS E COMPARTILHADAS? »»A METAMAT e os técnicos do CETEM realizaram em conjunto um trabalho de visitas as principais zonas auríferas do estado: Peixoto
de Azevedo, Alta Floresta, Guaporé e Baixada Cuiabana. Neles atuam os pequenos e médios mineradores e cooperativas as quais a METAMAT fornece suporte técnico e institucional. A partir destas visitas e do diagnóstico do nível de organização destes núcleos de produtores foram escolhidas as cooperativas de Peixoto de Azevedo (COOGAVEP) e de Pontes e Lacerda (COOPROPOL), como as que mais se encaixam nos objetivos do projeto. O SENHOR ACREDITA QUE O PROJETO DE OURO ÉTICO TENHA ÊXITO EM MATO GROSSO? »»Sim. Perfeitamente. Nós temos a experiência técnica, condições institucionais e o interesse dos pequenos e médios produtores em se tornarem modelos de produção sustentável, com visibilidade social e ambiental. COMO AS EMPRESAS E GARIMPEIROS ESTÃO ANALISANDO ESSA FORMA DE EXTRAÇÃO DO OURO? »»Tanto as pequenas e médias empresas de mineração como os garimpeiros, estão cientes da necessidade de se enquadrarem num ambiente global de comércio legal e justo, e da mesma maneira que caminha o processo de certificação do diamante (Certificação Kimberley), esta é uma realidade para o mercado futuro do ouro. Por outro lado, as vantagens comparativas como
os bônus de produção, e o acesso preferencial ao mercado joalheiro internacional entre outros, justificam a adesão a essas regras.
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cesso teve seu início com a assinatura do Termo de Cooperação Técnica com o Centro de Tecnologia Mineral – CETEM, vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, responsável pelo desenvolvimento do projeto no Brasil. A METAMAT foi escolhida como parceira tendo em vista seu “expertise” no trabalho com a pequena e média mineração e com as Cooperativas de Garimpeiros.
A ÁFRICA ESTÁ BUSCANDO SE ORGANIZAR PARA PRODUZIR O OURO ÉTICO, MINIMIZANDO O SACRIFÍCIO DE CRIANÇAS. EM MATO GROSSO, DEVIDO À CONTAMINAÇÃO POR MERCÚRIO, A EXTRAÇÃO DE OURO AINDA OFERECE RISCOS AOS TRABALHADORES E AO MEIO AMBIENTE? »»A utilização de mercúrio é cada vez menor na produção de ouro de Mato Grosso. Sua aplicação hoje é feita no fim do processo de concentração e separação do minério, utilizando retortas em ambiente fechado. Quanto ao trabalho infantil esta não é uma atividade que demanda este tipo de mão-de-obra, principalmente pelo fato de ser, hoje em dia, praticamente toda mecanizada. A COLOMBIA PRODUZIU O OURO ÉTICO EMPREGADO NA CONFECÇÃO DO TROFÉU DO PRÊMIO NOBEL DE 2015. ESSE FATO GEROU ORGULHO AOS MINERADORES COLOMBIANOS QUE NÃO IMAGINAVAM OUTRA FORMA DE EXTRAÇÃO DESSE MINÉRIO. O SENHOR ACREDITA QUE ISSO OCORRA EM MAO GROSSO ALGUM DIA? »»Sim. Este é um caminho e objetivo a ser perseguido por nossos técnicos e instituição.
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NOTAS
COMBATE AO MOSQUITO
»»A Secretaria de Estado de Saúde refor-
ça alerta para combater mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya. Este ano Mato Grosso registrou 25.963 casos de dengue, 23.588 casos suspeitos de zika vírus e a febre chikungunya tem 1.275 casos suspeitos, o que representa uma incidência de 38 casos para cada grupo de 100 mil habitantes. Três municípios estão classificados com alto risco da doença (Campo Novo dos Parecis, Mirassol d´Oeste e Querência).
INSTITUTO HISTÓRICO EM POXORÉO
»»Foi criado o Instituto Histórico e Geográ-
fico de Poxoréo, sendo eleito presidente o historiador Gaudencio Filho Rosa de Amorim, que ainda tem na diretoria Alan Pereira da Silva, João de Souza, Maria Luiza Pio dos Reis e IzaiasResplandes de Souza. A Presidente de Honra e Jane Maria Sanches Lopes Rocha.
MEIO AMBIENTE
»»Projeto de lei de autoria do deputado
estadual José Domingos Fraga (PSD) pretende estabelecer regras a revendedores e distribuidores de agrotóxicos. O objetivo do parlamentar é que ocorra mais critério na instalação de depósitos de revenda de agrotóxicos e congeneres.
INCENTIVO À CULTURA deputado Guilherme Maluf, presidente da AL, apresentou Projeto de Lei (nº 305/2016) que propõe meia-entrada aos profissionais de segurança pública de MT. O objetivo é contribuir para a redução do estresse da categoria e possibilitar melhor qualidade de vida a todos.
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STATUS »»O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) obteve status consultivo especial no Conselho Eco-nômico e Social (ECOSOC) das Nações Unidas, o que permitirá que a entidade contribua com os trabalhos da ONU na temática indígena, especialmente em relação à situação brasileira. Com a entrada do CIMI, 22 organizações brasileiras passam a ter status consultivo especial no ECOSOC
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AGROFÓRUM
»»A Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP) concedeu apoio institucional ao 1º AgroFórum da CPLP, organizado pela Câmara Agrícola Lusófona (CAL), em parceria com a Confederação Empresarial da CPLP (CE-CPLP), Fundação AIP e a Feira Internacional de Lisboa (FIL). O evento realiza-se no dia 28 de outubro de 2016, no Grande Auditório do Parque das Nações, em Lisboa. A mãe DO CELULAR »»A atriz Hedy Lammar, nascida em Viena, em 1914, com extensa filmografia e por tempos considerada a mulher mais bonita do mundo, possuía conhecimentos científicos que lhe permitiram desenvolver, na época da 2ª Guerra Mundial, um sistema de detecção de torpedos tele-dirigidos, inspirados num princípio musical, que atualmente acelera as comunicações de satélite ao redor do mundo e foi usado para criar a telefonia celular. Sua beleza inspirou Walt Disney a desenhar a Branca de Neve, em 1937, mas não a impediu de ter uma vida completamente desordenada, de faustos e miséria, levando-a, em algumas ocasiões, a praticar pequenos furtos. Em sua homenagem o 9 de novembro foi instituído, na Áustria, Suiça e Alemanha, como o Dia do Inventor.
NA PAREDE “A gente avisa que vai cansar. A gente avisa que está cansando. A gente avisa, avisa, avisa até que se cansa de avisar e vai viver outra coisa que não nos canse tanto...”. Post no Instagram, no dia 04 de agosto da primeira-dama de Cuiabá, Virgínia Mendes, em tom de “basta”, sobre reeleição do marido Mauro Mendes. DESISTÊNCIA DE MENDES “Teremos um candidato com chances reais de ganhar”. Frase dita pelo governador Pedro Taques e publicada pelo site MIDIANEWS, às 16h,26 do dia 04 de agosto
SOBRE POLÍTICOS “Quem pensa pouco, erra muito”. Leonardo da Vinci SOBRE BRASÍLIA “Em tempos de embustes universais, dizer a verdade se torna um ato revolucionário”. George Orwell “Nada inspira mais coragem ao medroso do que o medo alheio”. Umberto Eco
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Mês do Selo Homenagem a Rúben Fábio Ferreira
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Por Anna Maria Ribeiro F. M. Costa
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ilatelia em festa! No dia 1º de Agosto, comemora-se o “Dia do Selo” em alusão ao primeiro dia de circulação do selo postal nº01 do Brasil: Olho de Boi. A filatelia, arte de colecionar selos postais, conta com mais de 40 milhões de adeptos do mundo inteiro. Uma atividade que tem séculos de existência, os tempos pretérito e presente se unem a favor dos colecionadores, pois graças à Internet tornase possível obter preciosas peças. Para se ter uma ideia, o Google oferta para a palavra filatelia mais de 2,6
milhões de sítios, dos quais, 205 mil são em língua portuguesa. Colecionar não significa apenas adquirir e guardar selos em classificadores, mas em organizar de forma criativa e artística, seguindo critérios específicos que podem valorizar ainda mais as peças coloridas de papéis tão pequeninos. Desde o século XIX até hoje, milhares de selos foram impressos pelos Correios do Brasil. São estampas de formas, cores, aromas, texturas e temáticas diversificadas que contam de forma peculiar a História do Brasil e do mundo.
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UM POUCO DE HISTÓRIA Foi no ano de 1663, no embalo das ondas do mar -oceano, que os correios nasceram no Brasil. Naquela época, o Correio da Capitania do Rio de Janeiro possibilitou a troca de cartas entre a Metrópole e sua Colônia. Nos primórdios da atividade postal brasileira o serviço se limitou ao trânsito pelo mar. Mas, em 1808, com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, quando Napoleão assombrava a Europa, surgiram as primeiras normas postais específicas para o interior. Anos depois, com a Independência, que não se pode esquecer – provocada por uma carta endereçada a Dom Pedro I – é que o correio ganhou o lugar merecido. Em 1829, o imperador organizou os serviços telegráficos do Brasil e estabeleceu tarifas e outras determinações aos serviços postais, bem como a criação de uma Administração de Correios em todas as capitanias das províncias. Por determinação de Dom Pedro II, o Brasil também passou a ser lembrado como a segunda nação a emitir selos postais, logo atrás da Inglaterra, com o Penny Black, de 1840. O primeiro selo a circular no Brasil data de 1º de Agosto de 1843 e foi impresso em três valores: 30, 60 e 90 réis. Conhecido como Olho de Boi, consiste em uma série peças filatélicas muito cobiçadas por colecionadores.
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Rúben Fábio Ferreira
A designação Olho de Boi nada tem a ver com o olho do boi e sim com a semelhança do formato ovalado da imagem com a semente do cipó mucuna urens, popularmente conhecida por Olho de Boi. Às sementes são atribuídas supostas virtudes sobrenaturais que, como amuleto, combate a negatividade. Em seus 173 anos, o selo Olho de Boi poderia se tornar um amuleto de todos os brasileiros e representar a rica pluralidade cultural do país. Hoje, os instrumentos de comunicação tornaram-se diversificados e complexos. Mensagens sonoras, escritas, audiovisuais, multimídias e hipermídias chegam com ligeireza extrema a destinatários até mesmo desconhecidos. Mas, o carteiro, que pode também ser uma mulher, continua a percorrer quilômetros de distância a pé, de bicicleta ou de motocicleta para fazer entregar cartas de tantos lugares.
CLUBE FILATÉLICO, NUMISMÁTICO E AFINS DE CUIABÁ Mato Grosso é privilegiado porque tem em sua capital o Clube Filatélico, Numismático e Afins de Cuiabá, criado em 1982, associado à Federação Brasileira de Filatelia. Sob a presidência do Sr. Rúben Fábio Ferreira, conta com um número expressivo de 200 filatelistas que participam de exposições em âmbito nacional. Cada um dos colecionadores, a maioria do sexo masculino, escolhe uma temática a ser percorrida. No clube, dentre os aficionados por selos, estão inclusas algumas crianças e jovens: Enzo Barzsina Stellatocom a temática “Bola no Pé”, Mariana Giolo, com “Mundo Encantado de Walt Disney”, os irmãos Bruno Renato Teixeira Duarte, “Dinossauros” e Rafael Teixeira Duarte, “Fauna Marinha”, Enzo Rodrigues “Automobilismo”e Celina Alencastro, “Olimpíadas”.
res passaram a povoar sua imaginação. Hoje, a lembrar desse período, Rúben afirma que nessa época não colecionava selos, mas “juntava selos” e guardava-os cuidadosamente em caixinhas de fósforos. Mais tarde, na condição de filatelista, direcionou sua atenção aos selos que retratam as grandes navegações/ os navegadores portugueses. Em 1957, Rúben chegou ao Brasil, primeiramente em São Paulo, com seus vinte e poucos anos. Na bagagem, sua coleção de selos.Dois anos depois casou-se por procuração com Maria Eliza de Caires Baptista Ferreira, moça dos tempos de infância. Em meio ao colecionismo de selos, ocupou o cargo de
sócio-diretor da Soldicorte - Indústria e Comércio de Materiais Para Soldagem entre os anos de 19611962. Ainda em São Paulo, trabalhou em uma empresa de material para indústria, especialmente soldas. Nesse mesmo tempo, em Caldas, Minas Gerais, junto a um sócio-conterrâneo, foi proprietário de uma granja para criar aves. A produção de ovos obteve tanto sucesso que conseguiu, sozinha, abastecer a cidade vizinha de Poços de Caldas. Ainda na capital, também trabalhou no Departamento de Vendas da Ágata Paulista, empresa sueca fornecedora de oxigênio para produtos medicinais e hospitalares. Chegou em Mato Grosso em 1972,
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Foi em Portugal, na Ilha da Madeira, Santo Antonio, sua terra natal, que o menino Rúben, lá pelos seus nove anos de idade,se interessou por selos. Tudo começou com a África, na década de 1950. Sua tia materna, residindo no Congo Belga,com regularidade enviava cartas à irmã para dar notícias da vida envolta no trabalho do marido na construção da estrada de ferro. As pequenas estampas congolesas fixadas nos envelopes chamaram-lhe a atenção e, a partir daí, passou a ser um colecionador de selos. Depois as peças filatélicas de Moçambique, Curaçao, no Mar do Caribe, nas Antilhas Holandesas, juntaram-se às do Congo e histórias desses lugafoto: divulgação
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dor quanto à escolha de uma temática filatélica. Para além da série original do Olho de Boi, Rúben possui infinidade de selos. Só em classificadores, somam mais de 30.000. São peças de países dos cinco continentes. Da América do Sul, tem coleções completas de praticamente todos os treze países. A filatelia lhe deu várias medalhas, placas, menções honrosas. Em 1982, em Cuiabá, foi agraciado com o Grande Prêmio da Exposição Filatélica, promovida por Maria Teresa Carrión Carracedo, Antonio Humberto, Gonçalo Duarte, Idelson Duarte e Waldirson Coelho, com a coleção “Escritores da Língua Portuguesa”. Não me lembro mais de quando conheci Rúben. Mas acho que, neste caso, a temporalidade é o que menos importa. Em Cuiabá, nos idos dos anos de 1990, comecei a frequentar, mesmo que com pouca assiduidade, as reuniões filatélicas promovidas pelos filatelistas de Cuiabá, na Agência Filatélica dos Correios, na Praça da República. Eram poucas pessoas ao redor de uma mesa, todos homens adultos, com suas lupas a investigar cada detalhe de tão pequenas imagens impressas em papéis seguros por uma pinça. À época, Theo, meu filho, com 6 anos, me acompanhava às reuniões semanais, acho que aos sábados. Queria, por tudo, transformá-lo em um filatelista.
Nesse tempo, não sabia colecionar selos. Eu juntava selos, como costuma dizer Rúben sobre àqueles que saem sem rumo a comprar selos e classificá-los em álbuns de forma aleatória. Theo não se tornou um filatelista, mas viu que colecionar selos é uma arte e um caminho para conhecer o mundo. Eu, como discípula de Rúben, encontrei um caminho dentro do colecionismo de selos com a temática “O índio nas Américas”. Consegui arregimentar mais membros para o Clube Filatélico, Numismático e Afins de Cuiabá: Loyuá, minha filha caçula, com a coleção “Nu Artístico”, Carla Barzsina Moreira da Costa, minha norinha, com “Via Láctea”, nome inspirado no poema homônimo, de Olavo Bilac, e Enzo Barzsina Stellato, seu sobrinho, com “Bola no Pé”. Em agosto, o Clube Filatélico, Numismático e Afins de Cuiabá, Correios, Museu Histórico/MT e IHGMT apresentam a exposição “Mês do Selo”. Na área interna do museu, belamente decorada com coleções filatélicas de colecionadores de Mato Grosso e Rondônia, são ofertadas às crianças, sob a coordenação de Sirlei Silva do Couto, oficinas para despertar a curiosidade pela arte da filatelia que conduz à história do Brasil, à história mundial. Um jeito diferente de estudar História, Geografia, Astronomia, Artes Plásticas, Literatura, Botânica, Zoologia,dentre outras ciências.
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quando trabalhou no ramo de representação de confecções para cama, mesa e banho. À época, seus sogros eram proprietários de uma fábrica de confecções com bordados da Ilha da Madeira, com muita aceitação no Brasil, principalmente para enxovais de casamentos. Da ilha portuguesa chegavam peças belíssimas, uma tradição do século XIX, conhecidas mundialmente pelo primoroso trabalho manual. E, no ramo da filatelia, continuou Rúben. De 1973 a 1980, foi proprietário da Loja Filatélica Bandeirantes, localizada na Galeria GG, na movimentada Treze de Junho. Rúben marcou presença no Clube Feminino, de 19981999, e no Palácio da Instrução, hoje Pavilhão das Artes, de 1999-2001, na organização de exposições, assessoria e comercialização de selos postais e produtos filatélicos. Nos anos de 2012, 2013 e 2014, aos sábados, expôs, comercializou produtos e prestou assessoria filatélica em um stand do Shopping da Construção. De 1975 até os dias de hoje, todas as tardes, de segunda a sexta, Rúben presta assessoria filatélica na Agência Filatélica dos Correios, na Praça da República. Na companhia de Sirlei Silva do Couto, Gerente da Agência Filatélica, disponibiliza aos interessados uma grande variedade de selos e outros produtos filatélicos e orienta o novo coleciona-
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LGBT Leis, Direitos e Preconceito
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Por Yan Carlos Nogueira
uando falamos na comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) pensamos em alegria, liberdade, preconceito e violência. Durante muito tempo, a sexualidade humana não foi alvo de estudos, permanecendo em uma ilha cercada por um mar de ignorância. O indivíduo que fugia do padrão heterossexual e do gênero homem/mulher era considerado louco ou doente e deveria submeter-se a uma terapia que foi chamada de “reorientação da sexualidade”, também conhecida como “cura gay”. O fato de se sentir atraído pelo mesmo sexo foi encarado como perversão e atualmente é visto como opção de vida. Mas, será que alguém detém do poder de escolha do seu desejo sexual?
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Em 1973 a Associação Americana de Psiquiatria retirou a homossexualidade da lista de transtornos mentais. Nesse mesmo percurso, no ano de 1975, a Associação Americana de Psicologia fez o mesmo. Antes disso, a homossexualidade era chamada de homossexualismo, sendo o sufixo “ismo” usado também para designar doenças. A OMS (Organização Mundial da Saúde), no dia 17 de maio de 1990, declarou o termo impróprio, excluindo-o da CID (Classificação Internacional de Doenças). A data foi adotada para simbolizar o “Dia Internacional da Luta Contra Homofobia”. A sexualidade humana caracteriza-se por uma gama de orientações, comportamentos e características físicas distintas. A bissexualidade, transexualidade,
pansexualidade, polisexualidade, assexualidade, demisexualidade e a intersexualidade/intersexo são estudadas por sexólogos, médicos especializados e sociólogos. Não cabe aqui exemplificar cada uma das orientações e gêneros, mas esclarecer quais são os direitos e as leis reconhecidas pelo Estado brasileiro. O Brasil é um dos países que mais avançou em jurisprudências para a diversidade sexual. Todavia, a luta ainda é grande e é marcada por diversos conflitos. Dentre as principais reivindicações estão os direitos de casamento igualitário reconhecido por lei, combate a LGBTfobia e certificação da existência de pessoas “T” (travestis, transexuais e transgêneros). A solicitação de pessoas “T” diz respeito ao processo transexualizador e mudança de sexo e nome.
As cirurgias de redesignação sexual no Brasil puderam ser feitas legalmente a partir da resolução nº 1.482/1997 do CFM (Conselho Federal de Medicina). No texto somente hospitais universitários estavam autorizados a realizar o processo. Em 2008, o Ministério da Saúde publicou a portaria n° 1.707, possibilitando o SUS (Sistema Único de Saúde) a efetivar a cirurgia apenas de MtF (Male to Female), isto é, de masculino para feminino. A resolução n°1.955/2010 do CFM, em seu Art. 4º, ressalva que “a seleção dos pacientes para cirurgia de transgenitalismo obedecerá à avaliação de equipe multidisciplinar constituída por médico psiquiatra, cirurgião, endocrinologista, psicólogo e assistente social”, dependendo de um laudo destes profissionais para se efetivar.
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Existem em tramitação no Brasil dois projetos de lei fundamentais na Câmara e Senado Federal. O PLC 5002/2013, intitulado Lei João W. Nery, o primeiro FtM (Female to Male) a passar pela cirurgia no Brasil, que “dispõe sobre o direito à identidade de gênero”. O PLS 658/2011 “reconhece os direitos à identidade de gênero e à troca de nome e sexo nos documentos de identidade de transexuais”. Em abril, a presidente afastada, Dilma Rousseff, assinou o decreto n° 8.727/2016, que concebe “o uso do nome social e o reconhecimento da identidade de gênero de pessoas travestis e transexuais no âmbito da administração pública federal direta, autárquica e fundacional”. A atitude
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foi muito comemorada pelos setores de ativismo trans. Não há ainda em território nacional uma lei que especifique o casamento homoafetivo. Todavia, isso não significa que casais compostos por pessoas do mesmo sexo não possam constituir família e terem seus direitos e deveres assegurados. Em maio de 2011, o STF (Supremo Tribunal Federal) reconheceu a união civil homoafetiva, em maio de 2013 a resolução n° 175 do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) visou dar efetividade a decisão do STF. Lê-se no Art. 1°: “é vedada às autoridades competentes a recusa de habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre pessoas
de mesmo sexo”. Caso algum cartório se recuse, a atitude “implicará a imediata comunicação ao respectivo juiz corregedor para as providências cabíveis”. Um assunto que gera polêmica nos mais diversos setores da sociedade é a adoção por parte de casais compostos por pessoas do mesmo sexo. Em 05 de março de 2015, a Ministra do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia Antunes Rocha, autorizou o direito de adoção a um casal formado por dois homens. O ato proporcionou que casais homoafetivos de todo o Brasil se encorajassem à adoção. O processo é acompanhado por psicólogos e assistentes sociais capacitados e depende da autorização de um juiz,
No ano de 2013, Cuiabá ficou em primeiro lugar dentre as capitais no índice de assassinatos com cerca de 20 homicídios para quase 570 mil habitantes, todos vítimas de intolerância. O antropólogo da Universidade Federal da Bahia, Luiz Mott, responsável pela pesquisa, diz que os números são levantados apenas a partir de notícias de jornais, internet e informações enviadas por outras entidades. Isso porque no Brasil a homofobia não é crime e, assim, fica limitado o banco de dados para a pesquisa. Sabe-se que o número é maior, pois nem todos os casos são disponibilizados pela mídia. O PLC 122/2006, Lei Anti-Homofobia, tinha por objetivo criminalizar atos de violência de cunho discriminatório por orientação sexual, mas foi arquivado após oito anos tramitando. O projeto visava equiparar à homofobia a lei do racismo n° 7.716/1989. A Constituição Federal de 1988 declara no Art. 5º que “todos são iguais perante a lei,
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sem distinção de qualquer natureza” e que é inviolável o direito à vida, segurança, liberdade e a igualdade. Contudo, as leis e jurisprudências para a comunidade LGBT só vieram muito depois da Carta Magna, pois as pessoas ainda tratam LGBTs com desigualdade e violência. Os movimentos que visam à conquista de direitos LGBT estão conseguindo ganhar um espaço na sociedade. Isso porque a pressão feita pelas organizações fizeram com que o poder público pudesse observar e estabelecer uma resposta.
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como qualquer outro casal. Na época, muito se especulou. Foram levantados muitos argumentos contra o direito, um deles foi que a criança adotada poderia se tornar homossexual. Há uma imensa ideologia que as pessoas podem escolher sua orientação sexual. Estudos médicos recentes derrubam este argumento com teorias científicas. Entretanto, não é preciso analisar muito para ter uma conclusão como esta, algumas perguntas nos fazem obter o mesmo resultado, quando você se tornou heterossexual? Por qual razão alguém escolheria ser homossexual? Diante de todos os preconceitos, direitos negados e não aceitação da própria família fica difícil acreditar que alguém pudesse escolher por livre e espontânea vontade tal conduta. Estima-se que em 76 países a homossexualidade é advertida de alguma forma e pelo menos 13 prevêem pena de morte. O Brasil não é um desses. Em 1830 a homossexualidade foi descriminalizada, porém nosso país é um dos que mais matam pessoas LGBTs. No dia 5 de julho deste ano, o jornal New York Times declarou que o Brasil é um dos países mais perigosos para a diversidade sexual. Os dados do GGB (Grupo Gay da Bahia) indica que mais de 1.600 mortes motivadas exclusivamente por discriminação ocorreram nos últimos cinco anos.
Yan Carlos Nogueira é graduando do 2º Semestre do Curso de Serviço Social do Univag Centro Universitário de Várzea Grande. Na mesma instituição de ensino, é integrante do projeto de Iniciação Científica intitulado “Estudo para despertar o respeito aos índios, afro-descendentes e homo-afetivos.
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O Corpo em uma ExperiĂŞncia Atemporal
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lumeMatoGrosso as duas Fotos selecionadas para o Festival de Fotografia em BalnEário camburiú - Santa CAtarina
Uma analogia sobre o nu como arte
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sse projeto surgiu gradativamente, como forma de documentar performances teatrais de artistas nas escadarias da Lapa e becos de Santa Teresa, Rio de Janeiro. As produções tiveram início em meados de 2008, mas foi em 2009 que o projeto tomou corpo de fato, quando passou a construir uma proposta artística nas produções. A partir de então se ampliaram os limites territoriais, incluindo produções em outros estados como Mato Grosso, (Chapada dos Guimarães e parte da me-
Por HENRIQUE SANTIAN
sorregião do norte matogrossense), e também no Paraná (Curitiba, região da Serra do Mar e todo litoral). O objetivo principal dessa iniciativa é mostrar com liberdade o tema usando abordagens sutis em várias perspectivas, documentando e preservando nossa diversidade estética e a natureza de cada um. As produções fotográficas são efêmeras e ganham novos significados por meio de interações improvisadas e espontâneas. A interação é realizada em diferentes perspectivas, cada paisagem e lugar traz uma sensibilidade
ótica de produzir em harmonia com o convidado. O projeto visa agora abrir uma oportunidade para participações de artistas e demais interessados para a realização de exposição conjunta em novas localidades, promovendo a integração artística e ampliando a visão temática do projeto. O projeto já está em seu 9º ano de produção, e conta com um grande acervo que ainda inédito para um lançamento oficial no aniversário de 10 anos. acompanhe em: santianproject.tumblr.com
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Lençóis Maranhenses Um lugar incrível, lindo e quase selvagem! É assim que tento descrever esse lugar
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Por CECÍLIA KAWALL
iteralmente de se deitar e rolar... Ah! Lençóis! Brancos, alvos ou coloridos com a luz do sol, os Lençóis Maranhenses são deslumbrantes. As cores iam mudando, uma luz mais linda que a outra, com sol alto, no fim de tarde, a areia alva, amarela, os oásis, os bichos, as águas, um espetáculo sem fim. Que lugar!
Sabem que eu gosto de amplitude, horizontes alongados e iluminados, coloridos de aquarela ou óleo, fortes ou suaves. Muitas coisas me agradam, sou ‘facinha’, me distraio com manchetes de revistas nas bancas, com novela das seis, adoro uma paisagem na janela, telhados na varanda ao amanhecer, uma rede preguiçosa e gosto também de muito tra-
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jóia de pessoas maravilhosas, dunas e águas por todos os lados. Abril ainda é época das chuvas e os rios e lagoas estão na plenitude assim como as ruas. A cidade fica a um metro do nível do mar e quando chove (todos os dias!) as ruas se transformam em rios. Os veículos só passam porque são equipados com ‘snorkel’ e para chegar até aqui veja só como fizemos: a viagem de 36 km levou 7 horas! Pura areia e água, uma lagoa maior que a outra. No começo seguimos uma “Toyota” que faz o transporte das pessoas, tipo ônibus local. A primeira “poça” tinha uns cem metros de extensão, ela passou e... Ficamos. Avaliamos, descemos do carro, medimos a profundidade... Que medo! Nosso guia se foi estrada afora e nós ali, indecisos. A perspectiva era assombrosa, mas se ele passou nós também haveremos de passar, coragem! Sim, foi! Só que adiante, mais alguns metros outra lagoa, e outra, mais uma... Bem, lá se foram as sete horas! E na entrada da cidadezinha tem que pegar uma balsa, de um carro só, à vara. E no portão da casa uma poça. E outra. A cidade vive em regime de água da chuva. Muitas casas estão assentadas sobre uma sapata e ao redor é... Água! Tipo fosso... Bem, pode imaginar a quantidade de insetos também? Claro que o paraíso não existe e a prova é aqui. Junto com a des-
lumbrante e doce existência deste deserto branco também vive o desconforto e falta de tudo. No meio do feriado falta gás... As apresentações foram as mais iluminadas de toda turnê. Ora na praça, ora transportando o circo numa canoa para alcançar as escolas rurais. A vila vive de pesca e agora um pouco do turismo. O transporte é quase todo via canoas e balsas. Nos apresentamos em quase todas as escolas da região e na folga íamos direto prás lagoas. Simples assim. Estes dias foram como sonhar acordados. Um dos lugares mais belos do planeta, se me perguntam. Onde vi as crianças flutuarem. De tanta alegria pareciam anti gravitacionais. E a estrada é certeira e está na hora de voltar. Seguir adiante sempre, buscando os melhores caminhos. E para aproveitar o tom azul e branco, que tal uma passadinha em Galápagos??? Não, não é logo ali, mas vale a pena! Abraços viajantes
Cecilia Kawall, guia de turismo regional, técnica em acupuntura, reiki master, instrutora de oki do yoga e shiatsu, produtora, fotógrafa, bailarina e mãe.
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balho, produções intensas, horário, desafio, propostas, estratégias. Minhas pérolas são um pouco disto tudo, detalhes e amplidão, variedade, movimento. Vida, meus amores. Os Lençóis Maranhenses eram um destino muito aguardado na rota. E prá chegar lá... Uma verdadeira saga! Mas como desafio pouco é bobagem, vamos lá! A estrada de Belém a São Luis é pura plantação de babaçú e dendê, tem balsa, tem colhereiro vermelho colorindo a mata. São Luis do Maranhão, Patrimônio Histórico. A pousada é bem no centro e é como estarmos num filme, os casarões de azulejos, alguns restaurados e outros tantos abandonados, entupidos de tijolos, lixo e plantas. O conjunto todo tem um ar de mistério misturado com gringos europeus e negros, e danças, muitas danças por todo lado. Ou seja, uma salada tropical colorida e bem sortida, bem brasileira! Tem cheiro de Amazônia com mar, tem luz de floresta e praia, um luxo. Próximo de lá tem a cidade Barreirinhas onde você pode encontrar estrutura de turismo, mesmo que precária. Mas nosso destino era Santo Amaro, onde conseguimos hospedagem na casa do vice-prefeito! Era Páscoa de 2011. SANTO AMARO, cidade portal do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, pérola sem igual, uma
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pa r a q ua n d o v o ce f o r
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PRAIAS DO ARAGUAIA Umas maiores riquezas naturais de Mato Grosso são as praias araguaianas, espalhadas desde a nascente do Rio Araguaia até entrar em território dos estados
de Tocantins e Pará. Dos muitos municípios que usufruem de seus encantos, se destacam os de Barra do Garças, São Félix do Araguaia e Luciara, em função da promoção de festivais e
eventos que enaltecem as belezas desses lugares. Localização: Leste e noroeste de MT Funcionamento: Ano todo, exceto nas cheias Informações: Prefeituras locais
POCONÉ Município localizado na porção centro-sul de Mato Grosso, conhecido por sua tradição na pecuária, distribuída em colossais fazendas de gado, notadamente em terras pantaneiras. Rico em tradições culturais, em seu folclore se destaca a Dança dos Mascarados, atípico folguedo da cultura popular brasileira, com rara peculiaridade nas vestimentas, ritmos e por ser dançado por homens que usam roupas femininas. Quando ocorre: Notadamente nas festas de São Benedito e Espírito Santo, mas também é possível assistir em eventos culturais locais e em outras localidades. Informações: Fone: (65)3345-1952 / E-mail: prefeitura@pocone.com.br. foto: divulgação
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POUSADA DO RIO MUTUM Encravada entre as cercanias do Distrito de Mimoso e o Rio Cuiabá, no Alto Pantanal de Mato Grosso, se encontra a Pousada do Mutum, com ótima infraestrutura para receber hóspedes que queiram conhecer o Pantanal mato-grossense. Uma das maiores atrações do lugar é o passeio de barco pelas baías de Siá-Mariana e Chacororé, de tantas histórias e lendas. Localização: Município de Barão de Melgaço/Santo Antônio de Leverger Funcionamento: Ininterrupto Informações: pousadamutum@ pousadamutm.com.br - +55-65-3052-7022
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roseli mendes carnáiba A Rose da Casa di Rose
Casa di Rose O
brasileiro está pouco familiarizado com o conceito de hostel. Quem se hospeda em um hostel pode dividir o quarto com uma pessoa que não conhece. Compartilha o banheiro e a cozinha. Lava a sua própia louça e organiza o seu quarto. O Hostel Casa di Rose acaba de completar um ano. A festa de aniversário teve direito a bolo, parabéns, banda e exposição de artes - escultura, fotografia e artes plásticas. Já recebeu oficina de fotografia e está na programação oficina de estêncil e festival cinema.
Hostel + Design Nesse um ano já recebeu brasileiros do país todo, além de ingleses, franceses, americanos, espanhóis, alemães, japoneses, portugueses, italianos, australianos, e neozelandeses. A Chapada dos Guimarães, realmente, atrai pessoas do mundo todo, pelas suas belezas naturais. Além dos 5 quartos para hóspedes, a casa possui uma pequena galeria de arte, estação de trabalho, sala de tv, área para fogueira, lounge e casa de bonecas. Sim, as crianças são bem-vindas. Também empresta bicicletas e dá dicas de passeios.
Funciona ainda um escritório de design gráfico, que atende Chapada e região. E, em breve, um café bike bar. O mascote do hostel é o Bilbo, um cachorrinho da raça dashund, de 7 anos, companheiro da Rose. “Algumas pessoas fazem reserva para conhecê-lo.” “A ideia é oferecer a outros viajantes um lar temporário enquanto visitam esta maravilha de lugar”, comenta Rose. SERVIÇO: Rua 6, 105, esquina com a Rua Dr. Penn Gomes, Bom Clima, Chapada dos Guimarães, (65) 3301-2808
fotos: Henrique santian
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agostos de nossa história DIA 01
»»1922.
Morre Alexander Graham Bell, inventor do telefone. »»1943. Nasce Manoel Antônio Rodrigues Palma, advogado, professor e político. »»1952. Nasce Valter Albano da Silva, economista, Conselheiro do TCE/MT.
»»1941. Nasce Moisés Mendes Martins, dentista, compositor e poeta, da AML. DIA 07 »»1942. Nasce Caetano Veloso, expoente do Movimento Tropicalista. »»1996. A NASA encontra evidências de vida primitiva em Marte. DIA 08 »»1864. Criação da Cruz Vermelha. »»1922. Morre Leovegildo Martins de Mello, professor, advogado e escritor, da AML.
DIA 02 »»1840. Nasce José Estêvão Corrêa, professore político, patrono da Cadeira nº 20, da AML. DIA 03 »»1914. Começa a 1ª Guerra Mundial. DIA 04 »»1964. Estados Unidos começam a bombardear o Vietnã do Norte. »»1971. Nasce Rodinei Barbosa, dançarino e professor de dança, em Cuiabá. DIA 06 »»1928. Nasce Andy Warhol, pintor e cineasta norte-americano.
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DIA 10 »»1912. Nasce Jorge Amado, escritor brasileiro. DIA 11 »»1991. Falece Benedito Sant´Ana da Silva Freire, jornalista e poeta, da AML.
DIA 15 »»1769. Nasce Napoleão Bonaparte, Imperador da França. »»1815. Nasce Dom Bosco, santo italiano, fundador Ordem dos salesianos. DIA 16 »»1746. Nasce de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. »»1977. O Rei do Rock, Elvis Presley é encontrado morto no seu quarto, aos 42 anos. DIA 18 »»1832. Nasce o pintor brasileiro Vítor Meireles. »»1910. Nasce Ernesto Pereira Borges, jornalista e escritor cuiabano, da AML. DIA 19 »»1936. O poeta Federico García Lorca é assassinado durante a Guerra Civil Espanhola.
DIA 12 »»1892. Morre José Barnabé de Mesquita (Sênior), Patrono da cadeira nº 27, da AML. DIA 13 »»1899. Nasce Alfred Hitchcock, cineasta britânico. »»1926. Nasce Fidel Castro, presidente de Cuba. »»1961. Começa a construção do Muro de Berlim. DIA 14 »»1914. Nasce Rachid José Mamed, deputado em MT e prefeito de Poxoréo. »»1988. Morre Enzo Ferrari, construtor italiano de carros esportivos e para corridas.
DIA 20 »»1940. O revolucionário Leon Trotsky é assassinado no México por agentes de Josef Stalin. DIA 21 »»1989. Morre, aos 44 anos, o cantor brasileiro Raul Santos Seixas. DIA 22 »»1893. Nasce a escrito-
DIA 23 »»1953. Nasce o músico Roberto Lucialdo, o Rei do Rasqueado. DIA 24 »»1954. O presidente brasileiro Getúlio Vargas se suicida.
DIA 25 »»1961. O mato-grossense Jânio da Silva Quadros, renuncia ao cargo de Presidente do Brasil. DIA 27 »»1910. Nasce Agnes Gonxha “Madre Teresa de Calcutá”, religiosa albanesa, Nobel da Paz de 1979. DIA 28 »»2001. Falece Ronaldo Arruda de Castro, poeta e jornalista, da AML. DIA 29 »»1903. Nasce Fernando Corrêa da Costa, médico e governador de MT, da UDN. DIA 31 »»1844. Nasce Antônio Gonçalves de Carvalho, patrono da Cadeira nº 23, da AML.
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ra norte-americana Dorothy Parker. »»1861. Nasce Antônio Francisco de Azeredo, notável político e escritor mato-grossense.
O PERSONAGEM
TRINTA E TRÊS ANOS SEM RUBENS DE MENDONÇA RUBENS DE MENDONÇA
»»03-08-1983. Foi um dos
grandes expoentes da poesia e da historiografia mato-grossense. Publicou dezenas de livro e teve no pai, Estevão de Mendonça, a grande inspiração para as letras. Como jornalista contribuiu para os jornais: Correio da Semana, A Batalha, O Social Democrata, O Estado de Mato Grosso, Correio da Imprensa e o Diário de Cuiabá. Neste último escreveu ao longo dos anos artigos denominados “Sermão aos Peixes”. Mendonça deixou pelo menos 19 títulos inéditos, que certamente serão publicados oportunamente. Pertenceu ao IHGMT e AML, de ambas as instituições recebeu o título de Secretário Perpétuo, graças a sua brilhante atuação na Casa Barão de Melgaço. É nome de uma das mais importantes vias de Cuiabá, a Avenida Rubens de Mendonça.
O ACONTECIMENTO
CENTO E OITENTA E DOIS ANOS DO COMEÇO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DE MATO GROSSO ALMT
»»12-08-1834.
O Poder Legislativo matogrossense tem início com a Lei nº 16, de 12 de agosto de 1834, mais conhecida como Ato Adicional que substituiu os Conselhos Gerais das Províncias pelas Assembléias Legislativas Provinciais. A primeira eleição de deputados mato-grossenses foi realizada a 3 de maio de 1835. A primeira Legislatura, instalada a 3 de julho do ano de 1835, foi muito comemorada na cidade, com pompa e requinte. Estavam presentes, o presidente da província António Pedro de Alencastro, o bispo D. José Antonio dos Reis, o comandante das Armas, coronel J.J.de Almeida e os 20 deputados que formavam a Assembléia.
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segurança memória
A Novena de Nossa Senhora do Bom Despacho Por Sônia Regina Romancini
Senhora do Bom Despacho, desta cidade, Excelsa Padroeira. Abri vosso doce manto, sobre nós todos, Desta cidade inteira. Aqui estão vossos devotos, cheios de fé incendida, de conforto e de esperança. Oh Senhora do Bom Despacho... (Domínio público)
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foto: divulgação
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s igrejas de Cuiabá se destacam como patrimônio cultural, estando algumas delas situadas em privilegiadas colinas que permitem aos transeuntes vislumbrá-las, no centro principal da cidade. A origem das igrejas se confunde com a da própria cidade. No Plano da Vila do Cuyabá na Capitania de Mato Grosso, 1770/1780, são destacados como formadores da então vila de Cuiabá a matriz, a capela de Nossa Senhora do Bom Despacho e a capela do Rosário. Segundo registros históricos, quando foi construído o Seminário da Conceição, em 1858, por Dom José Antônio dos Reis, primeiro Bispo Diocesano de Cuiabá, já existia no Morro do Bom Despacho a pequena capela do Bom Despacho, que foi substituída por um novo templo. A Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho, com estilo neogótico, foi idealizada pelo francês Frei Ambrósio Daydé, sendo o seu construtor o engenheiro francês Léon Joseph Louis Mousnier, que edificou vários templos na América do Sul. A pedra fundamental foi lançada em 8 de setembro de 1918, pelo Arcebispo Dom Carlos Luís D’Amour. A obra teve alguns períodos de interrupção. Em 1923 chegaram a Cuiabá, provenientes da Bélgica, as telhas para a cobertura e zinco para as calhas e canaletes. Em setembro
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de 1924 o templo foi tijolado e coberto, com a capelamor e as duas capelas laterais terminadas. Entre 1955 e 1956, Dom Antônio Campelo de Aragão, Bispo Auxiliar de Dom Aquino Corrêa, deu continuidade ao projeto para concluir a obra. No ano de 1977, a Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho e o Seminário da Conceição foram tombados como patrimônio público estadual. Posteriormente, pela Lei n. 3265 de 11 de janeiro de 1994, a Igreja de Nossa Senhora do Bom Despacho foi declarada como “Símbolo Cuiabano de Tradição e Cultura” do Município de Cuiabá. Com o apoio do Governo de Mato Grosso, através da Secretaria de Estado de Cultura, a Igreja do Bom Despacho foi restaurada, com recursos doados por uma empresa do sistema financeiro, e reaberta em 30 de agosto de 2004. Na contemporaneidade, a igreja foi elevada à categoria de Santuário Eucarístico, recebendo os fiéis todos os dias para os ofícios sagrados pertinentes a um santuário. Como destaque para o templo como espaço sagrado, em 2010, o Santuário Eucarístico Nossa Senhora do Bom Despacho foi agraciado, pelo Papa Bento XVI, com a Indulgência Plenária, por um período de sete anos. Nossa Senhora do Bom Despacho é co-padroeira de Cuiabá, juntamen-
te com o Senhor Bom Jesus de Cuiabá. No período de 30 de agosto a 8 de setembro, no Santuário Eucarístico Nossa Senhora do Bom Despacho, acontece a Festa e Novena de Nossa Senhora do Bom Despacho, em homenagem à padroeira do templo, pois no dia oito se comemora o aniversário natalício de Nossa Senhora, uma vez que bom despacho significa bom nascimento. Velai por nossas famílias, Pela infância desvalida, Pelo povo cuiabano. Oh Senhora do Bom Despacho... (Domínio público) O livreto da Novena de Nossa Senhora do Bom Despacho de 2013, apresenta um texto elaborado por Dom Bonifácio Piccinini – SDB, Arcebispo Emérito de Cuiabá: “A devoção a Nossa Senhora do Bom Despacho faz parte da história do povo católico de Cuiabá [...] Nos anos 60 do século passado, os fiéis católicos, ajudados pelas irmãs Salesianas que trabalhavam no DASA (atual CEMA) e com o entusiasmo de Dom Orlando Chaves e do Padre Pedro Cometti, iniciaram a novena da penitência em preparação da festa da Natividade de Nossa Senhora – festa de Nossa Senhora do Bom Despacho no dia 8 de setembro.”
Senhora do Bom Despacho e meditando sobre os mistérios do rosário. A procissão é precedida por um acólito que leva nas mãos um pequeno crucifixo, seguido pelo Arcebispo Emérito de Cuiabá, Dom Bonifácio Piccinini, pelo Reitor do Santuário, Pe. Kleberson Paes e por outros sacerdotes. Muitos homens e mulheres que têm devoção em Nossa Senhora do Bom Despacho acompanham a procissão, que retorna ao Santuário onde é celebrada a Santa Missa e há atendimento de confissões. Após a missa, é rezada a oração de Nossa Senhora do Bom Despacho. Em anos recentes, no pátio da igreja, uma barraca oferece o café da manhã a preços módicos. Nos últimos anos, tem sido organizado um pequeno livro com as orações, liturgia e cânticos que contemplam todos os dias da novena. Há também um folder com as principais informações sobre a novena e, no verso, as especificações sobre o trajeto de cada dia. No dia 7 de setembro, nono dia da novena, a imagem de Nossa Senhora do Bom Despacho é levada, em procissão para a Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. No dia 8 de setembro os fiéis acompanham a procissão com velas acesas para reconduzir a imagem de Nossa Senhora ao San-
tuário, onde acontece a Celebração Eucarística solene em honra à padroeira. O Santuário Eucarístico Nossa Senhora do Bom Despacho constitui importante referencial na paisagem urbana, um lugar de memória, onde o novo e o moderno convivem com formas e práticas sociais e religiosas antigas, herdadas de outras gerações. Um lugar onde as cerimônias religiosas são renovadas e ganham novos significados. A novena de Nossa Senhora do Bom Despacho propicia um período de penitência e de oração, levando à reconciliação do homem consigo mesmo e com Deus Pai, tendo Nossa Senhora como uma poderosa intercessora. A festividade denominada Natividade de Nossa Senhora, comemorada no dia 8 de setembro, caracteriza-se pela celebração solene, mantendo o espírito de oração cultivado durante a novena.
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Todas as manhãs, às 5h00 sai a procissão percorrendo as ruas próximas ao Santuário, rezando e cantando os louvores de Nossa Senhora do Bom Despacho. Quando cheguei a Cuiabá, logo em 1976, continuei a belíssima tradição que com a graça de Deus, continua sendo uma grande benção para o povo católico de Cuiabá. A novena e a festa do dia 8 de setembro sempre se caracterizaram pela penitência, pelas confissões, pela Santa Missa e pelas orações em pleno recolhimento, com muita simplicidade (NOVENA, 2013, p. 6). Em entrevista concedida, Dom Bonifácio Piccinini falou com entusiasmo sobre a jornada de realizar a novena por quatro décadas, uma novena que se caracteriza pelo despojamento. Entre as poucas modificações que aconteceram nos últimos anos destacou que, anteriormente, quem levava o crucifixo à frente da procissão eram senhoras representantes das comunidades da paróquia. Atualmente, quem realiza esta função é um acólito. A novena começa no interior do Santuário, quando Dom Bonifácio Piccinini faz a oração inicial, de autoria de Dom Bosco, que foi introduzida por ele nesta cerimônia. Em seguida, a procissão percorre as ruas do entorno do Santuário, entoando o cântico à Nossa
Oh Mãe terna e estremecida, Protegei a nossa Pátria. Oh Senhora do Bom Despacho... (Domínio público) Sônia Regina Romancini
é Professora Associada IV da UFMT e membro titular do IHGMT Contato: romancini.ufmt@gmail.com
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sociedade
Porque nรณs Financiamos a Escravidรฃo? O trabalho anรกlogo ao escravo e o que temos a ver com isso
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Por Loyuรก Ribeiro F. M. da Costa
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escravidão sempre foi um instrumento globalmente utilizado pelo interesse econômico de muitos. Primeiramente, era fortemente marcada pela cor de pele negra. Os escravos eram procedentes de guerras e incursões que objetivavam o cultivo de terras dos chamados senhores feudais e a busca por matéria prima em alguns países quando eram colônias. Mesmo após sua abolição e instituição de diversos direitos humanos abordados por Convenções In-
de como o interesse econômico permeia as relações sociais, refletindo, inclusive, no âmbito laboral. Quando da ocorrência do trabalho análogo ao escravo, há a coisificação do homem pelo homem, tornando-o uma espécie de propriedade. Instrumentos normativos internacionais o consideram crime comparável aos maiores genocídios da história mundial. Isso porque a pessoa submetida ao trabalho análogo ao escravo não perde somente o controle sobre o seu labor, mas a autonomia sobre sua personalidade e dignidade. Não apenas sua força de trabalho é vista como uma mercadoria, mas também o seu ser. De uma forma geral, as vítimas do trabalho análogo ao escravo se encontram nas indústrias relacionadas à agricultura, pesca, construção, confecção têxtil, mineração, serviços e trabalho doméstico. É comum a escravidão por descendência, servidão por dívida, trabalho doméstico forçado, tráfico de pessoas, confinamento, prisão ou cárcere privado, coação psicológica ou física, não pagamento de salários, retenção de documentos ou pertences do trabalhador. O 50 freedom, movimento global liderado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), em seu site oficial (http://50forfreedom.org/ pt/um-tratado-para-mudar21-milhoes-de-vidas/)aponta que, na atualidade, há mais
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ternacionais que servem de parâmetro à elaboração de leis pelos países, o trabalho escravo contemporâneo é demasiadamente presente, conforme se mostrará. O trabalho escravo contemporâneo não distingue cor e apropria-se de pessoas mundialmente vulneráveis. Fortalece-se no mercado orientado pelo lucro e, como se verá, nossas ações também contribuem à sua existência. O desemprego, a desarticulação entre os países, as migrações, a má distribuição de renda em si, são estratégias políticas e econômicas para sujeitar pessoas aos interesses do mercado que propiciam o desenvolvimento econômico dos países. Portanto, a escravidão contemporânea veio somar à antiga, pois tratam-se da exploração de mão de obra com fins político-econômicos, agora mascarada para atender às novas facetas globais. Os países raramente assumem o aumento da desigualdade para além de um problema de ordem financeira. Adotam como indicador de progresso social a renda média de seus membros e não o nível de desigualdade dos salários ou a distribuição da riqueza.As pessoas que decidem pelas ações que resultam em efeitos prejudiciais, como o trabalho análogo ao escravo, não são as mesmas que os sofrem. Nesse sentido, há uma evidente percepção
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sociedade
pessoas em situação de escravidão do que em qualquer outro momento da história do mundo. Em âmbito global, a estimativa é de 21.000.000 de pessoas. Isso significa que a cada 1.000 pessoas no mundo, três encontramse em condições análogas à escravidão. Se reunissem todas em uma única cidade, esta seria uma das mais populosas das Américas. O número de pessoas em condições análogas à de escravo nas maiores capitais dispõe da seguinte ordem: Tóquio (aproximadamente 40.000.000); Xangai, Cidade do México, São Paulo e Mumbai (acima de 20.000.000); Nova Iorque e Cairo (aproximadamente 20.000.000); Lagos e Paris (acima de 10.000.000); Londres (cerca de 10.000.000). Como se vê, a prática não existe somente nos países em desenvolvimento. Aliás, o lucro anual por vítima é maior nos países desenvolvidos e na União Europeia do que aos demais países do globo. Os dados estimam em 1.500.000 pessoas sob essas condições na Europa,
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lor equivale à soma dos lucros das quatro mais rentáveis empresas mundiais. Os dados alarmantes aqui trazidos demonstram que o trabalho análogo ao escravo está presente em países desenvolvidos e subdesenvolvidos, tratando-se de um instrumento político e econômico utilizado por países que possuem sociedades orientadas ao lucro desordenado. Diante disso, uma pergunta mostra-se pertinente: O que nós, cidadãos,temos a ver com isso? To d o s sabemos que existem produtos mais baratos por terem sido confeccionados por países com leis trabalhistas frafoto: divulgação cas, que utilizam-se O trabalho análogo ao de trabalho desumano.Em escravo garante não só ele- âmbito global, são comuns vados lucros, em razão da roupas de lojas de vareextensiva carga horária de jo, empresas de chocolate, trabalho, mas também em carvão, pornografia, bolsas razão dos baixos, por vezes falsificadas, produtos com inexistentes, custos e salá- óleo de palma e borracha, rios. Estima-se em US$ 32 terem sido produzidas por bilhões de dólares anuais mão de obra análoga à esos lucros obtidos por tra- cravidão e, não raras as vebalhos forçados. Em 2014, zes, são produtos preseno número aumentou para tes em nossos guarda-rouUS$ 150 bilhões. Esse va- pas, quarto, casa, trabalho. América do Norte, Japão e Austrália. Os maiores lucros encontram-se, respectivamente, na Ásia-Pacífico (US$ 51,8 bilhões), países desenvolvidos e União Europeia (US$ 46,9 bilhões), Europa Central e do Sudeste e Comunidade dos Estados Independentes (US$ 18 bilhões), América Latina (US$ 13,1 bilhões), África (US$ 12 bilhões) e Oriente Médio (US$ 8,5 bilhões).
lumeMatoGrosso Diante dessas explanações, resta claro que existe uma esperança em nós, cidadãos, pois embora habitemos o Brasil, nossas ações mostram ter reflexos globais.Nossa conscientização e postura crítica, como verdadeiros praticantes da cidadania, além de contribuir para uma governança voltada a critérios consumeiristas éticos, poderá resultar em maior amparo aos invisibilizados dentro e fora de nosso país. Isso porque, dessa forma, além do Brasil não financiar indiretamente trabalhos análogo ao escravo, é possível o aumento de empregos por meio do desenvolvimento de mi-
cro e pequenas empresas dentro de nosso país. Nossa vida não se resume em assistirmos aos índices, dados, análises acerca do trabalho análogo ao escravo, como se não fizéssemos parte do mundo em que ocorre. Não podemos usufruir do mercado e confiar que o Brasil está a adotar uma postura ética ao permitir que empresas em nosso território vendam produtos confeccionados em outros países que utilizam-se de trabalho desumano. De que adianta o Brasil possuir normativas de proteção ao trabalhador,para a erradicação do trabalho análogo ao escravo, se corrobora à sua
existência em outros países, como na China e outros países da Ásia? Estamos falando de políticas governamentais mundialmente adotadas e de países dominados pelos interesses do mercado. Estamos falando de interesses que nos usam para invisibilizar pessoas que precisam de nossa conscientização e atitude. A escravidão ainda não acabou. Ela se manifesta em todos os países de diversas formas. Já pensamos sobre isso? Pensamos na dimensão de nossos atos? E então... pretendemos continuar financiando indiretamente o trabalho escravo? “Fique esperto!”
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C ULTURA POPULAR
fotos: divulgação
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O Boià-Serra em Santo Antônio de Leverger Ritmos, linguagens e representações culturais
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por Maisa França Teixeira
estado de Mato Grosso denota uma variedade de manifestações, festas e rituais. Nele, vários exemplos de festas e danças revelam a influência do período colonial e da mineração nas práticas culturais do estado. Grando (2002), em Cultura e dança em Mato Grosso, ressalta como exemplo a Folia de Reis, São Gonçalo e as festas em geral.
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O Boi-à-Serra¹, em Mato Grosso, especialmente em Santo Antônio de Leverger, é uma festividade cujo folguedo é variante de outros estados brasileiros. Os grupos fomentam apresentações únicas, como desfiles na época do Carnaval, e/ou conjuntamente com outras manifestações da cultura local, como o siriri. Consoante Loureiro (2006), há relatos de ocorrência do Boi-à-Serra em 1900, em Rosário Oeste, nos escritos de Max Schmidt, e em outras cidades do Vale do Rio Cuiabá, como Santo Antônio de Leverger, Engenho Velho, Bom Sucesso, Varginha, entre outros. Assis (1982) complementa que o Boi-à-Serra foi um folguedo bastante difundido no Mato Grosso, mormente na região do Rio -Abaixo, onde os engenhos eram a atividade econômica predominante. Loureiro (2006) acrescenta que “a dança do Boi-à-Serra consegue, ainda hoje, manter suas características originais no município de Santo Antônio de Leverger”. O boi, principal personagem da festa, é montado por uma estrutura de madeira (taquara) flexível e leve, coberto normalmente por um pano de chita estampada ou por um cobertor tipo “seca-poço”. A seda também é utilizada, raras vezes, para enfeitar o animal construído. A cabeça é feita da caveira do boi. Ela é pintada com tons
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semelhantes às cores dos animais e dos panos escolhidos, formando a estrutura do corpo do brinquedo. A estrutura recebe arranjos nos olhos e o rabo do animal também é enfeitado. Atualmente, devido à constante presença de crianças no folguedo, faz-se a cabeça de isopor, por ser um material leve e flexível para ser transportado. A festa inicia-se quando todos os brincantes “vestem-se” da estrutura e saem brincando. Logo, ao carregá-la, dá-se vida ao boi — que brinca com os visitantes/turistas ou com os próprios colegas. A brincadeira ocorre quando o boi avança, como se fosse chifrar os que observam, além de amedrontar as crianças pequenas, etapa que também faz parte da brincadeira. Afora os personagens que integram o grupo ou bloco, como o bico-de-brasa, a mãedo-morro, o mascarado, a ema, o toureiro e a cabeça-de-apá, há outros animais, como aranhas, borboletas e outros que serão retratados posteriormente. Essas figuras lendárias variam de acordo com o grupo do Boi-à-Serra. Loureiro (2006) enuncia que essas figuras estão “todas ligadas aos costumes, mitos e lendas regionais e ao ambiente rural”, o que se aplica ao Boi-à-Serra, folguedo composto por diversas territorialidades decorrentes de processos que garantem suas dimensões
simbólicas e culturais inseridas no território matogrossense. As figuras lendárias e o boi inserem-se na cidade de Santo Antônio desde o período canavieiro (séc. XIX). Posteriormente aos anos de 1980, conforme relato do morador V. S. (47 anos), ocorre uma revitalização do Boi-à-Serra em Santo Antônio de Leverger: “O boi sempre existiu, mas estava fraquinho, ninguém dava atenção. Então essa galerinha que era tudo criançada pequena hoje já estão casados, tem filhos e eles já estão aqui. Eu conheci o boi quando eu era muito pequeno ainda em Bom Sucesso em Várzea Grande. E, quando eu vim curtir o carnaval aqui em Santo Antônio com meus parentes, ouvia falar da história do boi, acabei me interessando. E também tem que o Sr. Mamedi chegou a ser meu vizinho. Ele era responsável pelo Boi-à-Serra aqui na cidade, porém depois de um tempo, parou, estava cansado, com muita idade. O boi de antes com o de agora é muito diferente, e com diferenças radicais, porque antes o boi era feito de uma forma mais sem compromisso, de brincadeira mesmo. As crianças iam e cortavam lá o mel de pomba, as madeirinhas e montavam a carcaça do boi, pegava a carcaça da cabeça do boi e cobria com um cobertor e saía pelas ruas. Sabe, uma coisa simples
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assim. Não se tinha nem o cuidado de forrar a carcaça da cabeça do boi, cobria assim, com um lençol. E a outra diferença é que os adultos faziam a história, as letras das músicas conforme a história da vida do dia a dia deles para o boi. Então a relação deles com o boi era uma coisa bem real, sabe? Era uma relação de trabalho, de vida. A gente analisando por esse prisma, a gente via que o boi tem uma importância muito grande, pois eram através do boi que eles contavam as mágoas, as coisas, as dificuldades deles. Nossa cultura é dinâmica, não tem como querermos uma coisa fixa, ela não é assim. A arte que é cíclica, que movimenta por si só, é a vida deles, então eles crescem e movimentam como a vida deles. Isso é o que garante a permanência do Boi-à-Serra em Santo Antônio de Leverger e dá sentido para a cidade, uma cultura específica, única desse lugar (13/3/2014).” De acordo com o morador V.S. (47 anos), o nome Boi-àSerra justifica-se pela permanência dos bois nos pastos, caracterizados como serras, por isso o boi vai à serra, tornando-se Boi-à-Serra. Maisa França Teixeira é doutora em Geografia pela UFPR. Professora da FACEG (Faculdade Evangelica de Goianésia) e UEG (Universidade Estadual de Goiás).
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r e t r ato e m preto e branco
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amoso arqueólogo e explorador britânico nascido em Torquay, em 1867, que desapareceu ao organizar uma expedição para procurar por uma civilização perdida, em 1925, em Mato Grosso, na Serra do Roncador. Em 1886 entrou para a Royal Artillery e acabou escalado para trabalhar no Ceilão, onde conheceu sua esposa. Depois trabalhou como agente secreto britânico na África Meridional e aprendeu técnicas de sobrevivência na selva. Fawcett era também um agente do serviço secreto inglês, o MI6 e estava como agente duplo servindo a organização secreta The Seven Circle, recrutado pelo controvertido Spymaster, o mágico MaskMelin, desde que esteve no Ceilão e tomou contato com os sábios que decodificaram a estatueta que lhe fora presenteada pelo escritor H. Rider Haggard. Era também amigo do escritor Arthur Conan Doyle, que mais tarde utilizaram suas histórias como base para escreverem a obra “Lost World”. Suas histórias também serviram de inspiração supostamente para a criação de aventuras envolvendo o personagem Indiana Jones. A primeira expedição de Fawcett na América do Sul ocorreu em 1906 quando ele viajou ao Brasil para mapear a amazônia em um trabalho organizado pela Royal Geographical Society. Ele atravessou a selva, chegando em La Paz, na Bolívia em junho desse mesmo ano. Ele tinha a habilidade de conquistar os povos que habitavam os locais explorados dando-lhes presentes. Ele retornou a Inglaterra para servir ao exército britânico durante a Primei-
ra Guerra Mundial, mas logo após o fim da guerra retornou ao Brasil para estudar a fauna e arqueologia local. Depois de passar para a reserva militar, em 1910, empreendeu viagens de descobertas. Em 1925, convidou seu filho mais velho, Jack Fawcett, para acompanhá-lo em uma missão em busca de uma cidade perdida, a qual ele tinha chamado de “Z”. Após tomar conhecimentos de lendas antigas e estudar registros históricos, Fawcett estava convencido que essa cidade realmente existia e se situava em algum lugar de Mato Grosso, mais precisamente na Serra do Roncador. Há quem diga que pretendia encontrar um elo de ligação com os povos incas. Curiosamente antes de partir ele deixou uma nota dizendo que, caso não retornasse, nenhuma expedição deveria ser organizada para resgatá-lo. O seu último registro se deu em 29 de maio de 1925, quando Fawcett telegrafou uma mensagem a sua esposa dizendo que estava prestes a entrar em um território inexplorado acompanhado somente de seu filho e um amigo de Jack, chamado Raleigh Rimmell. Eles então partiram para atravessar a região do Alto Xingu, e nunca mais voltaram. Muitos presumiram que eles foram mortos pelos índios selvagens locais. Porém não se sabe o que aconteceu. Os índios Kalapalos foram os últimos a relatar terem visto o trio. Não se sabe se foram realmente assassinados, se sucumbiram a alguma doença ou se foram atacados por algum animal selvagem.
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Percy Harrison Fawcett F
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segredos da f lo r e s ta
Povos Indígenas Os isolados e os ressurgidos por João Carlos Vicente Ferreira
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entro das reservas, áreas ou terras indígenas, demarcadas ou não, mas que estão sendo ocupadas pelas mais diferentes etnias, dos mais variados troncos linguísticos, temos um fenômeno que é denominado de índio isolado e o ressurgido.
foto: divulgação
São frações de povos indígenas que ainda hoje resistem ao avanço predatório e desordenado do grande capital sobre as últimas áreas virgens da Amazônia mato-grossense, e que se separaram em função de cisões internas ou dispersões inesperadas causadas pelas constantes fugas e guerras. Habitantes de territórios ambicionados pelo grande capital, ou vítimas de invasões contínuas das grandes levas de incautos sem-terra, empurrados pelo
grande latifúndio para as regiões mais inóspitas, estes grupos indígenas sobrevivem hoje em situações críticas, a cada dia agravadas pelo recrudescimento contínuo das tensões e conflitos fundiários que se alastram pelas últimas áreas verdes do Estado. Refere-se à raça, cultura, língua, mentalidade e visão de mundo. Se falarmos de cultura, por exemplo, e aplicamos o parâmetro da origem pré-colombiana, quer dizer que permane-
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ceu ou que teve origem antes da chegada dos invasores? Esse critério não se sustenta nem após pouco tempo de contato. Acontece que as culturas (crenças, costumes, organização do trabalho) já não são as mesmas que eram desde a chegada dos europeus. Muitas comunidades indígenas adotaram a religião, as roupas, as ferramentas, a língua do branco. O mesmo vale para o aspecto biológico. Temos hoje índios de cor negra, índios com sangue de outras etnias. As raízes ficaram e o tronco está brotando de novo. Como vai ser essa árvore? Pode ser que para sobreviver precise de enxerto. Não vai ser a árvore de seus antepassados e nem a árvore da sociedade externa. É sim um nascimento, é sim um emergir do que estava escondido, é sim o brotar novo da semente que ficou escondida, desconhecida por anos ou por séculos. É uma planta que procura espaço, que procura chuva e sol, para dar seus frutos para si e para a humanidade. Os povos ressurgidos são espelhos dos povos indígenas do futuro, povos que a partir do passado e da realidade que enfrentam reconstroem e reafirmam seu projeto de vida negando-se a serem reduzidos e assimilados a uma sociedade que os negou. Nesse sentido não vão construir o seu sonho sozinhos, porque no mundo que eles sonham há espaço para todos os povos.
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artes visuais
Babu78 A
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Profundidade Por Willian Gama
rte no centro, que quebra a barreira do isolamento social da periferia da cidade - isso é o GRAFITE. Amplamente conhecido pela voracidade crítica, sua origem remete à época do Império Roma-
no, mas popularizou-se em nosso tempo, no século passado, em Nova York no final dos anos 60, ligado aos movimentos de rua e às tribos urbanas que demarcavam seus territórios e faziam suas denúncias em muros e metrôs, por meio dessa arte. No Brasil, fezse popular já nos anos 70 com estilos e técnicas reelaborados pelos brasileiros.
lumeMatoGrosso foto: divulgação
Contestador e de coração urbano cheio de atitude, Babu78 carrega consigo sua obraprotesto que, consciente e politizada, reflexiona a realidade cotidiana de uma sociedade aquém do centro, denúncias postas em muros, telas, papéis ou qualquer suporte que possa sustentar o grito-manifesto de quem vive à periferia da sorte e de seus direitos. O grafite produzido pelo artista situa, questiona e abre diálogo com a comunidade por meio de sua obra cujo fundo é muito distante da superfície. O tema, nem sempre explícito, requer do espectador atenção não só para a figuração posta, mas para o assunto que pede socorro. Babu78 cita: “por mais barco de papel que eu seja, o mar não vai me engolir”. Olha-se e investiga a própria pintura. De re-
pente se depara com a palavra PROFUNDIDADE e descobre que, mais para lá do significado, estar além do tema sempre foi uma constante em seu trabalho. Começa aí a exploração das maiores profundezas conhecidas pelo artista: o mar, o espaço e o coração. Se a “arte é o exercício experimental da liberdade”, pode-se dizer que existe hoje, em Mato Grosso, o libertário Babu78. Sua obra transpõe a tela e o muro; na cinzenta Cuiabá é paz em meio ao caos; seu grafite genuinamente brasileiro é como o Manifesto Pau-Brasil de Oswald de Andrade, “a contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.” Assim é o trabalho produzido pelo artista, somos nós, é o retrato cotidiano do nosso Brasil.
Willian Gama Curador de Arte; Produtor Cultural; Diretor/Fundador da Galeria Mirante das Artes; Estudante da Faculdade de Direito do Centro Universitário de Várzea Grande; Diretor Executivo da AMA - Associação Mirante das Artes. Contato: willian@mirantedasartes. com.br
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l i t e r at u r a
foto: divulgação
Mahon Lança 0 Segundo Romance em Realidade Fantástica
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escritor Eduardo Mahon lançará, no próximo dia 13 de setembro, o segundo romance intitulado “O Fantástico Encontro de Paul Zimmermann”, pela editora Carlini e Caniato. O livro contra a história de um banqueiro que se vê pelas câmeras de segurança da mansão até surgir o que ele pensa ser um outro, uma réplica de si mesmo. Mahon já tinha incursionado no mundo da literatura do fantástico no romance anterior, “O Cambista”, ele nos apresentava um
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mundo onde segredos eram negociados e, em “Doutor Funéreo”, tratou das muitas formas de morte de forma sucinta e bem-humorada. Esse é o 9o livro de Eduardo Mahon que é titular da Cadeira 11 da Academia Matogrossense de Letras e sócio correspondente da Academia de Letras de Mato Grosso do Sul. O autor é um dos campeões de vendagem no Estado, de acordo com Ramon Carlini, dono da editora: “numa única noite, ele pode vender 500 livros, o que é um fenômeno editorial em qual-
quer lugar do Brasil”. Essa trajetória é acompanhada de perto pela intelectual Marília Beatriz de Figueiredo Leite, amiga, colega de AML e atual presidente da instituição literária. Como os outros livros de Mahon, a orelha do livro é de responsabilidade dela. O poeta Aclyse Mattos, um dos mais respeitados escritores mato-grossenses, escreveu um dos posfácios. Ele analisa: “a prosa de Mahon (também um fantástico poeta) incute algo de inovador. A rapidez, a velocidade, a imaterialidade (aspectos valori-
ZULMIRA CANAVARROS A EGÉRIA CUIABANA
de Mahon, concluindo: “a formalidade, a frieza, a segurança dos gestos e movimentos de Paul Zimmermann são um conjunto de terra arrasada do legítimo perdedor. Aquele que perdeu o domínio da realidade – do controle da realidade – e esse talvez seja o maior medo de todos nós; das pessoas – cuja marca é o rompimento do romance com Elissa e finalmente o domínio do território da casa. Não basta desligar os aparelhos. O Outro já era uma coisa palpável, real. Digo desencontro porque nós-outros não queremos a vitória da reali-
»» Este livro, de Benedito Pedro Dorileo, celebra os 120 anos do seu nascimento, ocorrido em 14 de novembro de 1895. Há enriquecimento de longo testemunho a complementar o primeiro. Desde o começo nenhuma referência precedente havia, nada escrito existia. O que se lavrou foi o ato de ver em tempo real, conviver, sentir, compartilhar – nas tertúlias ou nas rodas da varanda e nas de cadeiras na calçada de casa –, adicionando ainda depoimentos de companheiros e amigos da época, os quais já deixaram a existência. Aparecem, além da biografia enriquecida, a campanha pela edificação do Teatro Municipal Zulmira Canavarros, os 80 anos do Mixto Esporte Clube, os 75 anos da Rádio A Voz d’Oeste, o Teatro-Revista, o Teatro Zulmira Canavarros no espaço da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, Alma de Gato – grupo vocal de canto “a capella”. E ainda registro de imagens do lançamento de Egéria Cuiabana na Universidade Federal – UFMT,
dade virtual. Sou contra a vitória do Outro. Quando HAL 9000 quer dominar a nave Discovery, em “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, o astronauta David Bowman entra nas suas entranhas e o desliga e nos dá a certeza que o homem não será superado pela máquina. Paul Zimmermann ao criar um reflexo tangível de si mesmo, nos tira essa certeza”.
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zados por Ítalo Calvino em Seis propostas para o próximo milênio). Por isso a linguagem cinematográfica nos dá uma pista. Quem vencerá: o introspectivo, cuidadoso, obsessivo e paranoico Zimmermann real que nos relata a história, ou o ágil, leve e solto Zimmermann captado na câmera nove que se mostra e age quase sem reflexão? Sem dúvida uma alegoria deste milênio em que mostrar-se é mais importante do que ser”. Já o jornalista especializado em cultura e escritor João Bosquo, reflete sobre a obra
SERVIÇO: “O Fantástico Encontro de Paul Zimmermann” Dia: 13/09/2016, às 20h Local: A Casa do Parque
em momento de elevada criatividade da sua organização. Precisamos de Zulmira sempre, principalmente nesta época em que pisamos a soleira dos 300 anos de Cuiabá, em 8 de abril de 2019. Pouco tempo nos sobra, sendo necessário reviver o entusiasmo do passado. Obstáculos existem, pois a sociedade está sobressaltada pela política do embuste, açodada pela velocidade das horas, tumultuada pela mudança brusca dos valores. Pelos séculos, a Egéria será sempre fanal de crença, idealidade artística e projeção cultural de um povo.
SERVIÇO:
»»Valor de venda: R$ 50,00
Entrelinhas Editora Av. Senador Metello 3773 - Jardim Cuiabá Cep. 78.030-005 – Cuiabá, MT, Brasil 55 (65) 3624 5294 | (65) 3624 8711 | (65) 3052 8711 editora@entrelinhaseditora.com.br
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agenda
03/08
06/08, às 20h
Exposição fotográfica Os Cinco Elementos do Cerrado, de Tchélo Figueiredo. Aberta à visitação até 31 de agosto, de terça a domingo, das 8h às 18h, com entrada gratuita.
O grupo Flor Ribeirinha leva para o palco do CTC o espetáculo de dança Nandaia, com participação de dançarinas do Ópera Ballet e da cantora Ana Rafaela.
04/08, às 20h
07/08, às 19h
De Carlos Ferreira, Homem do Barranco é um poema dramático que conta histórias de um povoado ribeirinho que constrói suas vidas a partir do barro e da cerâmica, remonta as vivências cotidianas e, por meio da narrativa, expõe suas crenças, mitos, lembranças e paixões. Entrada: 2 kg de alimentos que podem ser trocados na bilheteria do CTC a partir das 14h.
Com poesias de Marilza Ribeiro, a Confraria dos Atores apresenta “As aves e os poetas ainda cantam”;. 10/08, às 20h Dois personagens famintos passam seu tempo fazendo planos para gastar os “milhões” em dinheiro que terão quando ganharem na loteria. Este é o mote de Cidade dos Outros, que a Cia. Pessoal de Teatro leva para a programação.
05/08, às 20h A dupla de humoristas Nico e Lau apresenta Perdeu Playboy. Piadas, músicas, performances e interatividade estão garantidos.
11/08, às 19h A contadora de histórias Alicce Oliveira apresenta Contos de Princesas Africanas, uma homenagem às princesas negras, heroínas africanas que vivem aventuras em reinos distantes.
Cia. de Teatro Fato. A superprodução voltada para o público infantil também agrada aos espectadores adultos.
13/08, às 20h Sandro Lucose dá vida a 14 personagens em Peer Gynt – O imperador de si mesmo, clássico teatral norueguês de Henrik Ibsen que conta a história de um homem aventureiro e sonhador. 19 a 21/08, às 20h Concertos da Orquestra do Estado de Mato Grosso.
23/08, às 19h As peripécias de dois palhaços que celebram a vida acreditando que todos nasceram para a felicidade e fazem disso uma grande aventura. Palhaçando, do Grupo Tibanaré, promete encantar e divertir crianças e adultos.
12/08, às 20h
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Simba é o protagonista de O Rei Leão, encenado pela fotos: divulgação
lumeMatoGrosso MOSTRA DO SALÃO JOVEM ARTE A exposição do 25º Salão Jovem Arte Mato-Grossense reúne conjunto de obras de 40 artistas selecionados e fica em cartaz até 07 de agosto.
Os horários de visitação são: de terça a sexta-feira, das 8h às 17h e sábados, domingos e feriados, das 9h às 17h. Endereço: Palácio da Instrução, praça da República, centro, Cuiabá-MT.
ULTRAMACHO 3ª ETAPA Entre os dias 3 e 4 de setembro Tangará da Serra recebe a terceira etapa do CIRCUITO ULTRAMACHO. Esta é a segunda vez que a cidade se transforma na capital da aventura. São
sete provas para crianças, adolescentes e adutos. Provas multiesportivas solo e dupla, corrida em trilha solo e maratona de mountain bike. Inscrições: www. ultramacho.com.br
CERRADO, PANTANAL E FLORESTA AMAZÔNICA A artista plástica Tania Pardo, que possui técnica singular em sua forma de pintar, expõe na Casa do Parque a mostra Extremos da Riqueza Mato-grossense: Cerrado, Pantanal e Floresta Amazônica. Ao todo, 20 obras podem ser visitadas gratuitamente. A exposição pode ser visitada até o dia 22 de agosto na Casa do Parque, que fica na Rua Marechal Severiano de Queiroz, no bairro Duque de Caxias, em Cuiabá. A entrada é gratuita.
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ARTIGO
Cristo Modelo do Padre Diocesano
A
Por Padre Felisberto Samoel da Cruz - Diocesano de Cuiabá
lguém pode dizer que estou sendo egoísta, em dar este titulo a este artigo, mas vou tentar esclarecer em poucas palavras o que todos já estão cansados de saber;“Cristo é o médico dos médicos”. Pensar em Jesus como médico leva-nos a considerar como o próprio Deus que se relaciona com o nosso sofrimento, pois Jesus é encarnação do Deus vivo. Nos evangelhos, Jesus se opôs à enfermidade e ao sofrimento, se identificou com aquele que sofre. No início do Seu ministério, Ele anunciou que a cura de doenças era um dos Seus principais objetivos. “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor” (Lucas 4:18-19). Longe de mim, menosprezar os padres das diversas congregações. É pra introduzir o assunto, em que o padre diocesano ou secular deve estar no meio do mundo, como um “Cristo”, atento a toda necessidade humana e não somente isso, como também, procurar dar uma resposta às suas necessidades. Entre os médicos, vejo o padre diocesano como a figu-
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ra do clinico geral, que analisa todo o corpo do cristão e o encaminha para as devidas especialidades. Podemos esclarecer que o padre diocesano pertence a uma diocese (região) e está sob a jurisdição de um bispo ou arcebispo. O bispo ou arcebispo dá a ele toda autonomia em uma paróquia (região), onde vai estar a serviço daquele povo. Isto é, sendo um represente do Cristo junto a este povo. São João Maria Vianney: “Oh como é grande o padre! […] Se lhe fosse dado compreender-se a si mesmo, morreria. […] Deus obedecelhe: ele pronuncia duas palavras e, à sua voz, Nosso Senhor desce do Céu e encerraSe numa pequena hóstia”. É considerado o patrono do clero diocesano e porque não dizer dos párocos. Assim é definido pela hierarquia da Igreja. O padre diocesano, professa os votos de obediência, castidade e pobreza. Como propósito de dedicar toda sua vida, em favor do povo a ele confiado. Espelhado na figura do Cristo Bom Pastor, aquele que é capaz de dar a sua vida pelas suas ovelhas. O padre diocesano não pode e nem deve viver alheio às situações que envolvem o seu povo. Ele é o que deve ser a voz que clama no deserto. Defensor de suas ovelhas fracas e desgarradas, das mãos
dos lobos que as trucidam; a luz que ilumina os caminhos que levam as verdes pastagens e dar a própria vida, em troca da vida dos seus. Este deve ser merecedor do pão de cada dia, pelo trabalho que realiza junto aos que a ele foi confiado. São Paulo nos diz: “O operário é merecedor do seu salário” . O padre Diocesano torna-se um com o povo, a serviço do povo e pelo povo. O altar é o ápice do seu trabalho. A escuta das mais diversas dificuldades dos seus paroquianos e o acompanhamento diuturno das suas ovelhas por todos os lugares. Acompanhar, orientar, proteger, defender, instruir, escutar, fornir de instrumentos para que se defendam e protejam de tudo que é maléfico a si e a toda comunidade. Ele é um formador de opinião junto ao seu povo, segundo as diretrizes da Arquidiocese, que também é orientada pela diretrizes do Regional O2 (oeste 2) e a do Brasil pela CNBB (Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil). Em nossa Arquidiocese temos 27 (vinte e sete) paróquias e 37 padres incardinados na Arquidiocese de Cuiabá. Em algumas paróquias estão conduzidas por padres religiosos pertencente a uma congregação. Faço um convite para você conhecer um padre diocesano ou conheça o seu pároco e saiba mais sobre ele.