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Helena Werneck
FERAS
Pensei que eu sabia escrever Mas na verdade eu não sei mais As palavras que antes pulavam hoje ficaram pra trás O tempo e a saudade já não me causam a angústia das sílabas rimadas Não bebo mais vinho na rua do homem que engolia espadas Hoje eu vivo num quarto branco num prédio cheio de escadas Hoje eu acredito em feras Antes eu acreditava em fadas
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MORTE
Trago a notícia bucólica O pecado que nos rodeia O meu coração dói de cólica E por isso o sangue não bombeia Pele fria molhada e clara Dormindo sobre o sereno As vezes a joia mais rara É também o pior veneno Como como quem tem fome Morro de amor todo dia Vivo por amar mais um dia Meu peito que nem batia Hoje batuca o seu nome
Helena Werneck
Cuiabana, formada em Secretariado no IFMT, e vencedora do prêmio de literatura de Mato Grosso de 2017 categoria revelação com a obra de título “Nu”.
O TEMPO NÃO PARA
Logo depois de despertar Abrir os olhos, ver o mundo Com a cabeça fresquinha Bate uma vontade de escrever
As escrituras, dessa hora Sai aos borbotões Uma frase atrás da outra Até a tosse, tosse, tosse De um antigo cigarro Faz-nos refletir Que não somos perenes…
– E o dia continua a correr.
PRIMEIRO DE JANEIRO
Anteriormente, anos atrás Todo primeiro de janeiro Provocava um novo poema Agora nem tanto
A juventude via o ano novo Com alegria, sem fastio Com uma certa ansiedade Um certo querer em consertar o mundo
O mundo, de lá pra cá, continuou o mesmo Mas com mais gentes e superpopulações de famintos
Com o passar do tempo acabei por descobrir Que não posso mudar muita coisa – Quase nada –Apenas, com muito esforço, o meu interior E as sequências das palavras no poema.