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Caio Ribeiro
from Revista Pixé 20
contra a pedra esse atrito e eu entregando o que tenho de granito: esses sentimentos secos e sem caminho - pela pedra... passo e resisto, por acaso ela sobrevive à aridez que compartilho? nesta cadeira em que me sento sentam outros
madeira de árvore derrubada retirada de sua altura... do topo à raiz
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serve ao descanso de quadris em seu quadrado de pura dureza ainda assim anseio de caminhantes ir recebendo dela sua dureza
recém-chegados
o verniz cobriu teus veios mais antigos mas a mão pelo sentimento sente em teus galhos já extintos os pássaros que ali cantaram
levanto-me e já não sinto fluir a seiva mas guardado no oco silêncio estás ainda ereta e firme além de podada e subserviente
és um nada a se topar se não te quero és necessária quando me canso és cadeira de novo de repente
Caio Augusto Leite
Nasceu em São Paulo em 1993. Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo (USP) com dissertação sobre A Paixão segundo G.H., de Clarice Lispector. Integrou o Printemps Littéraire Brésilien 2018, na França e na Bélgica, a convite da Universidade Sorbonne. Teve textos publicados nas revistas digitais escamandro, A Bacana, mallarmargens, Vício velho, Lavoura, Subversa, Literatura & Fechadura e Alagunas É autor dos livros Samba no escuro (Scortecci, 2013), A repetição dos pães (7Letras, 2017) e Terra trêmula (Caiaponte, 2020), além de colunista da revista digital Ruído Manifesto.
Caio Augusto Ribeiro
É ator e diretor inscrito pelo DRT 0000651\MT. Começou os trabalhos como ator em 2009. Autor do livro “Porão da Alma” (clube de autores), Colecionador De Tempestades (Carlini&Caniato) e Manifesto da Manifesta (Carlini&Caniato), diretor do curta-metragem Réqueim Para Flores (2017). Fundador do coletivo de artes hibridas Coma A Fronteira. Atualmente desenvolve trabalhos levando poesias e processos criativos para as escolas e faculdades. Realiza oficinas voltadas para produção poética, arte urbana e teatro. Mas no fundo, prefere passar o dia no jardim olhando folhas e formigas.
TWO SEE
Para te mostrar Como eu vejo O quanto de desejo Eu carrego ao Olhar É preciso Um espelho a nação balbucia
Instalado na Retina Do seu caminhar
ver onde meu olho olha precisar o quanto minha íris molha só de se espalhar
Para te mostrar como eu vejo o quanto de segredo eu carrego ao tocar É preciso um martelo martelando as quatro paredes do terceiro andar
pra te avançar é preciso dar um passo e voltar
POETAGEM FUTURISTA III
descrer aquilo que descreve distanciar tanto o pensamento da língua pra trás.
o absurdo da bajulação não há carros não há vagas
todo espaço seja de transfigurar
expandir a língua ao ponto de mãe ser também filha
pronomes como formas de materialidade da alma
gênero como artificio do amanhecer
casa como cidade cidade como casa estética não estática
engenharia reversa no espírito para viagens mais aceleradas
medicina sonora por meio de fones de olvido.
o futuro é antiontem
MIRAGEM
Água turva, lua de sangue, sentimento de perda e, sobretudo, na contramão da felicidade
Na miragem ao longe, onde tanto olho a imagem sobre a névoa, fixo meus olhos cujas tuas pálpebras não abrem mais e nem de sabor amargo tem o fel
Hoje, na certeza, tua alma me chama, da qual me presenteia com tua presença e espera o meu regresso.
Carlos Silva
Nascido em Limoeiro, PE, sob o sol em Aquário, é professor, escritor e pesquisador. Um dos 109 selecionados no Prêmio Poesia Libertadora (2019), pela Absurtos Editora e participou da Antologia Ruínas (2020), da Editora Patuá.