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Adilson Vagner de Oliveira

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Marli Wakler

Marli Wakler

VERBO NARRAR

Eu lírico Tu cômico Ela dramática Nós trágicos Vós bucólicos Eles satíricos

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Ninguém épico Todos encomiásticos

Aclyse Mattos

É escritor, poeta e professor da Faculdade de Comunicação e Artes da UFMT. Livros publicados: Motosblim: a incrível enfermaria de bicicletas (infantil – 2019) O sexofonista (contos - 2018), Sabiapoca – Canção do Exílio sem Sair de Casa (infantil – 2018), Festa (poesia – 2012), Quem muito olha a lua fica louco (poesia – 2000).

MÃE DE MIM

Um dia encontrei-me cansada da maternidade, Disseram-me que a beleza dos infantes superaria tudo, Mas esgotou-me o espírito altruísta do amor ilimitado Surgiu forte e encantador,

Desejo o silêncio companheiro da solidão solteira

Gritos de mãe ecoam por meus ouvidos até no sono, enlouquecem-me os combates fraternos intermináveis, a Távola Redonda em minha própria cozinha triste, a decidir-se entre cavaleiros juntos e injustos As manhãs de sol intenso sobre o piso, Pude admirá-lo em momentos de silêncios de vida.

Os filhos dominaram todo o meu tempo lindo de mulher, ocuparam-me as horas como um filme tediosamente longo, sou incapaz de provar intervalos comerciais na mente, escapismo deixou de ser recurso de um romântico fugitivo

Se choram, suplico por emudecimentos diurnos de paz, Turvou-se por conta própria,

desenho estradas de fronteiras em minha mente cansada, rotas alternativas de distanciamento da condição de mãe, deixei de me arrepender em pranto das escolhas pretéritas

Pensamentos egoístas não me deixam menos mãe, mas me alimentam o futuro só meu novamente, perdi parte do meu próprio espetáculo adulto, de conhecimento histórico e de aprendizagem prática,

ganhei plateia que briga e chora ferozmente

Por vezes, só quero um tempo conjugado no singular, uma cama sem criança em saltos sobre a gente, um banho amoral sem torcida lutando à porta

SOBRE AMORES E LIMOEIROS

Por entre a fresta do piso e da parede, De uma beleza enganadora, Os espinhos já despontavam rígidos, Enfim, teria um limoeiro no chão de casa

O suficiente para lhe dar força e confiança, Cultivado com dedicação doméstica e sentimental, O limoeiro tornou-se parte de minhas paisagens, Junto ao cimento, edificou-se charmosamente,

O encanto era real, a beleza era evidente, Ele era o que sempre foi, sem enganos. Minha visão carente de obra-prima Por desejo há muito acumulado, Queria um limoeiro na minha terra.

Alertado por amigos e denunciado pelo radar materno, creio que sofro de uma maternidade sufocante

de vivências saborosas e de enganos cítricos, Ela anunciou “não é pé de limão” “É mato”.

Adilson Vagner de Oliveira

É professor na área de Linguagens do Instituto Federal de Mato Grosso, Campus Avançado Tangará da Serra, fez mestrado em Estudos Literários pela UNEMAT e doutorado em Ciência Política pela UFPE.

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