Revista Lume

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lume Mato Grosso

Rastros do Nazismo A suástica em ladrilhos hidráulicos cuiabanos Pag. 62

ENTREVISTA: MARCELO NASCIMENTO DA ROCHA METAMAT PRIMÓRDIOS DO BEISEBOL EM MATO GROSSO CARAVANA DA ALEGRIA AS RELAÇÕES ENTRE A LOUCURA E O ESPIRITISMO

ISSN 2447-6838

Revista nº. 2 • Ano 1 • Dezembro/2015

................. R$13,00

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EDITORIAL

JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral

Pela Preservação de Nossa Memória

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ão sabemos o que nos reserva o futuro, em termos de evolução da humanidade, mas uma coisa parece certa: temos que trabalhar para preservar a memória histórica de nossos antepassados, de todos os tempos e de todas as instâncias, caso contrário, as futuras gerações não saberão dizer a que vieram. E o que é pior, perderão parâmetros. Nós seres humanos temos como referência em nosso passado aquilo que convencionamos chamar de patrimônio cultural, que é o conjunto de bens materiais e imateriais reconhecido como legado histórico à nossa sociedade. Há aproximadamente quarenta anos o estado de Mato Grosso vem descuidando da preservação de seu patrimônio histórico e arquitetônico. Felizmente agora ocorreu um despertar das autoridades, que buscam revitalizar o que sobrou dos escombros de nossa história arquitetônica, que tem como triste marco a derrubada, na década de 1960, do Palácio Alencastro e da Catedral de Cuiabá. Obras estão acontecendo e outras devem vir a partir de 2016. Nunca é tarde lembrar da importância dos recursos culturais para fins turísticos,

pois além da valorização da memória histórica vem junto o desenvolvimento econômico e social. A Alemanha tem investido altos recursos na recuperação de seu patrimônio cultural, com um cuidado especial pelas cidades históricas, no período pós-guerra de 1945. Entre estas citamos Dresden, com população semelhante à Cuiabá, e que recebe anualmente cerca de 8 milhões de visitantes, sendo 14% estrangeiros. A revista Lume traz nesta edição uma reportagem sobre esse tema. Um bom motivo para reflexão. Mas fomos também atrás de fatos interessantes nessa mesma linha, agora no centro histórico cuiabano e nos deparamos com ladrilhos hidráulicos com desenhos da suástica nazista, assentados na década de 1930. Esta é inclusive matéria de capa. Por conta de trazermos ao nosso leitor sempre matérias interessantes, destacamos novos personagens e reportagens especiais em nossas editorias e acrescentamos temas polêmicos, como a espiritualidade e loucura e, ainda, artigo especial sobre o candomblé, além da cura de doenças através das plantas. Curtam a nossa revista!


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EXPEDIENTE

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ELEONOR CRISTINA FERREIRA Direção/Revisão Geral JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA Editor Geral MARLENE RENCK Diretora Financeira MARIA RITA UEMURA Jornalista Responsável BEATRIZ SATURNINO E ALLINE MARQUES Redação MARIA ANGÉLICA DE MORAES, MAURÍCIO VIEIRA, MALU DE SOUZA, CARLOS FERREIRA, PAULO DE TARSO, ANA MARIA RIBEIRO, CECÍLIA KAWALL, RAONI RICCI, E LOYUA RIBEIRO Colaboradores ANDRÉ ROMEU, BEATRIZ SATURNINO, JÚLIO ROCHA, LAÉRCIO MIRANDA, MARCOS BERGAMASCO, MÁRIO FRIEDLANDER, MARCOS LOPES, BRUNA OBADOWSKI, FABIO SATORU SASAKI, MARIA CAROL E JOSÉ MAURÍCIO Fotos

LUME - Mato Grosso é uma publicação mensal da EDITORA MEMÓRIA BRASILEIRA Distribuição Exclusiva no Brasil RUA PROFESSORA AMÉLIA MUNIZ, 107, CIDADE ALTA, CUIABÁ, MT, 78.030-445 (65) 3054-1847 | 3637-1774 9284-0228 | 9925-8248 WWW.FACEBOOK.COM/REVISTALUME Lume-line REVISTALUMEMT@GMAIL.COM Cartas, matérias e sugestões de pauta MEMORIABRASILEIRA13@GMAIL.COM Para anunciar DESIGN DOS GUIMARÃES Projeto Gráfico MINIATURA DE ADOLF HITLER, EM CHUMBO FUNDIDO, SOBRE LADRÍLHOS HIDRÁULICOS CUIABANOS Capa


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SUMÁRIO

22. NOTAS

10. PERSONALIDADE

34. ECONOMIA

38.

SUSTENTABILIDADE

40. BEM ESTAR


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48. 58. CIDADES

TURISMO

72. CULINÁRIA

79.

CULTURA

98. RETRATO EM PERETO E BRANCO


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C A RTA S

A matéria de capa pede um momento de reflexão a toda comunidade matogrossense, para rever, com muita urgência, a necessidade de preservação do patrimônio histórico estadual. O caso da usina Maravilha, que ilustra a capa deste periódico, serve vejamos nossas "ruínas" com olhar mais complacente a nossa história, tão maltratada e pouco divulgada. MOACYR FREITAS - CUIABÁ/MT

Recebi a primeira edição da revista Lume Mato Grosso, a mais nova criação do historiador, escritor e multimídia João Carlos Vicente Ferreira. Materializada por um time de craques do texto e da imagem, proporciona um olhar apurado sobre história, arte, cultura, saúde, bem-estar, entretenimento e muito mais. Recomendo! EDUARDO ALEXANDRE RICCI - CUIABÁ/MT

Surge LUME Mato Grosso. Evidencia bem o seu espírito irrequieto e guerreiro. Não se abate, signo dos homens fortes. Parabéns, periódico sem recheio leviano, todavia científico com linguagem acessível, histórica e artística. Também obra literária digna da mesa de intelectuais e povo. PEDRO BENEDITO DORILEO - CUIABÁ/MT

Gostaria de parabenizar LUME Mato Grosso pelas matérias que retratam o esporte amador e de aventuras. Sou adepta do ciclismo e achei as reportagens muito boas. Parabéns. JANE MARIA DE JESUS - CHAPADA DOS GUIMARÃES

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Parabéns pela revista LUME Mato Grosso: "Para iluminar o nosso olhar

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Quero parabenizar esta revista pela forma com que foi conduzida a entrevista com a Dra Telma Preza. Mais uma vez é sempre bom lembrar da função da Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá na história da medicina em Mato Grosso, especialmente das pessoas que se dedicam às causas sociais a exemplo do que é feito pela Dra Telma, neste últimos anos. Parabéns!

JESUS DORILEO - CUIABÁ/MT

Adorei o projeto gráfico da LUME Mato Grosso. Como publicitária, achei o formato moderno e prático. Parabéns, o excelente conteúdo tem uma embalagem à altura. CÍNTIA ROCHA - CURITIBA/PR

TOMIO UEMURA -CHAPADA DOS GUIMARÃES - MT

Excelente a matéria sobre a fosfoetanolamina e seus efeitos para a cura do câncer. Ótimo texto e de extrema importância para a saúde nacional, que pode se valer de remédios com custo baixo e resultado satisfatório. Restam, portanto, os testes definitivos para sua aprovação pelos órgãos competentes e sua conseqüente distribuição. Salve a ciência Brasileira. Parabéns! OLÍVIO BELTRÃO - CUIABÁ/MT

Congratulo-me com a Revista LUME pela oportuna matéria, relembrando, para Mato Grosso e o Brasil, alguns fatos da Guerra do Paraguai que nos remetem às reflexões sobre as barbaridades ocorridas em campos de batalha. Parabéns pela abordagem. AMARO DIAS - CÁCERES

Parabéns ao Amigo João Carlos Vicente Ferreira pela novíssima Revista de variedades de cunho Histórico Cultural. Publicação de primeira classe tanto em aspecto gráfico quanto editorial. Um orgulho para Mato Grosso! JOSÉ PAULO MOTA TRAVEN - CUIABÁ/MT

Parabéns pela revista LUME Mato Grosso. LUÍZ CARLOS RIBEIRO SANTO ANTÔNIO DE LEVERGER

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PERSONALIDADE

Flávio José Ferreira é advogado, professor universitário e de artes, escritor, autor, dramaturgo e diretor de teatro.

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Flávio Ferreira

Ciente da influência decisiva da arte e das ações sociais no processo de formação e transformação de indivíduos e comunidades, Flávio Ferreira, criado na região do coxipó da ponte, em Cuiabá, divide seu cronometrado tempo entre sua família, seu escritório de trabalho e ainda se dedica às áreas social e cultural

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ascido em Cuiabá em 29 de novembro de 1960, tem expressiva contribuição ao teatro matogrossense. Fundou a Companhia de Teatro Cena Onze, no começo da década de 1990 e não parou de colecionar sucessos. Em setembro de 2004 o grupo apresentou no teatro do Sesc Arsenal a peça Você, muito bem aceita pela crítica e público. Ferreira atuou como diretor em A Caravana, em 1975, como ator em O mistério do pavão, em 1976, como dramaturgo em Saudades, Silva Freire, e em inúmeras peças como diretor e ainda escreveu li-

vros infantis e poesias. Acrescentam-se ao seu trabalho inúmeras outras peças teatrais desse último período até o ano de 2014, incluindo-se as peças sacras Paixão de Cristo e Auto de Natal, onde Ferreira dirigiu atores matogrossenses e também um expressivo número de atores de reconhecido talento nacional. No ano de 2014, Flávio Ferreira passou a administrar, através de organização social, o Museu Histórico de MT e, desde o começo de 2015 está à frente dos projetos sociais, em parceria com a prefeitura de Cuiabá, denominados Nosso Lar e Casa da Criança Cuiabana.

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PERSONALIDADE

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O ADVOGADO E PROFESSOR Flávio Ferreira atua como professor universitário de Prática Forense há mais de 30 anos, sendo que a grande maioria dos advogados que atua em Mato Grosso, tanto na vida pública quanto na privada, passou por seus ensinamentos, de que muito se orgulham e se valem. A sua abnegação cotidiana também é transportada para sua atividade comercial, a advocacia, onde tem atendido, sempre que possível, casos de pessoas que não possuem recursos pecuniários para pagar um advogado. Correu as redes sociais, em junho de 2013, um caso de um jovem acusado de roubar um botijão de gás, e que sem dinheiro para pagar advogado, teve Flávio Ferreira, nomeado por um juiz, defendendo-o. Nessa ocasião o advogado Ferreira produziu um documento, onde se mostra indignado com a condução da educação em nosso país. É um texto digno de ser lido por todos os cidadãos Brasileiros, e que foi reproduzido no blog do jornalista Enock Cavalcanti. SOCIAL Há tempos Flávio Ferreira se dedica às causas sociais, sendo o seu trabalho reconhecido pela sociedade e por autoridades municipais e estaduais que atuam nessa área. Para ficarmos apenas nos trabalhos sociais contemporâneos, sob Flávio Ferreira e sua esposa GrazieleGirardelo Ferreira, que é psicóloga e atriz, vamos abordar atividades nos espaços “Nosso Lar” e “Casa da Criança Cuiabana”, desenvolvidos em parceria com a Prefeitura de Cuiabá, que utiliza recursos do erário público para tal empreendimento. Atitude extremamente louvável e humana. Nosso Lar é uma casa de acolhimento que abriga meninas entre 12 e 18 anos, em situação de vulnerabilidade social. A casa é ampla e possui salas de estudos, informática, televisão e toda infraestrutura necessária para que as meninas se sintam como se estivessem em seu próprio lar. O propósito é que seja uma casa de passagem. O tempo su-

ficiente para que recuperem a autoestima e que sejam reintegradas às suas famílias originais ou serem adotadas. Para que isso se efetive na casa trabalham, duas cozinheiras, um motorista, quatro cuidadoras, uma psicóloga e uma assistente social. É aí que entra o brilhante trabalho de Flávio Ferreira e sua “troupe”, com orientações educacionais e de lazer, além de outras atividades inerentes ao bem-estar dessas jovens. A Casa da Criança Cuiabana, a exemplo do Nosso Lar, é uma casa que abriga crianças, mas com idade entre 0 e 12 anos, de ambos os sexos que, por determinação da Justiça, foram retiradas do convívio familiar devido a maus tratos, abandono, negligência, violência doméstica ou abuso sexual. Também se pensou em oferecer um ambiente em que as crianças tivessem uma experiência mais próxima de uma família, com o tratamento mais individualizado. São 14 cômodos, entre berçário, quartos distintos de meninos e meninas, ampla área de lazer com parquinho, campinho de futebol, sala de TV e sala de brinquedos, além de cozinha industrial, área administrativa e espaço para atendimento psicossocial das crianças e das famílias.

Casa da Criança Cuiabana


lumeMatoGrosso Posse na AML

MUSEU HISTÓRICO Desde maio de 2014, o Museu Histórico de Mato Grosso, localizado na Praça da República, no centro histórico de Cuiabá é administrado por organização social sob direção de Flávio Ferreira. O prédio do museu é tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Estadual, desde 11 de março de 1983. Foi inaugurado em 1898 e construído para abrigar o Thesouro do Estado e outras repartições públicas ao longo de sua história.Assentado em pedra canga lavrada, possui alvenaria em tijolos de barro queimado com o piso em mezanelas. O museu absorveu o acervo do Museu da Residência dos Governadores, incorporando-o ao do Estado, em exposição e parcialmente empacotado. A realidade atual do museu é outra, com excelente trabalho desenvolvido para catalogação e digitalização dos acervos e também tornando o espaço mais popular, com exposições de artes, lançamentos de livros e inúmeras atividades culturais inerentes àquele espaço histórico. Sem dúvida alguma a dinâmica administrativa do museu, implantada por Flávio Ferreira e sua competente equipe, trouxe um novo alento ao centro histórico cuiabano, tão maltratado ao longo dos tempos. ACADEMIA DE LETRAS O escritor Flávio Ferreira tem produção esmerada na literatura e na dramaturgia matogrossense. No percurso de sua trajetória na

FOTO ACERVO AML

história das letras, aspirou a uma cadeira na Academia Mato-Grossense de Letras, uma das mais antigas instituições culturais do estado, sendo criada em 1921. A 11 de junho de 2015 toma posse na Cadeira nº 35, sendo patrono Joaquim Pereira Ferreira Mendes. Ao receber em seus ombros a Pelerine, cobertura em fino tecido com as cores de Mato Grosso e bordada com o brasão do estado, e que distingue os acadêmicos das demais pessoas, tornando-se imortal por seus feitos culturais e literários, se emocionou e jurou empenho em prol dos propósitos da Casa Barão de Melgaço, que é o repositório da historiografia matogrossense. OAB Em 27 de novembro de 2015 o advogado militante Flávio Ferreira se elegeu vice presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, secção Mato Grosso. Numa campanha tida como a mais competitiva de todas na OAB, o presidente da chapa, Leonardo Campos, reconheceu que a ida de Flávio Ferreira ao pleito teve um peso especial para a vitória de sua chapa. Por sua retidão e por gozar de imenso prestígio profissional e por também gostar de desafios é que Ferreira se prontificou à disputa. Ao par de atividades inerentes ao seu cargo na Ordem, quer reforçar e implantar na OAB trabalhos voltados às causas sociais, isso por entender que a entidade possui condições de contribuir com propósitos extremamente humanitários.

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Marcelo Nascimento da Rocha, Ousado e Atrevido nos Negócios Um homem com inteligência rara, que vive uma nova fase de sua vida que já foi cheia de peripécias e aventuras. Uma pessoa que enxerga oportunidades onde todos vêem dificuldades. Um homem que prefere se arrepender de ter errado a não ter tentado fazer, e é aí que mora a sua diferença em relação às outras pessoas

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FOTOS ANDRÉ ROMEO

arcelo Rocha não se incomoda de falar sobre seu passado. Apesar de sua vida ter sido pauta para a produção de muitos livros, nossa conversa girou apenas em torno de suas atividades no mundo dos negócios e da música, assunto que Marcelo domina com facilidade e no qual está se reinventando, com segurança e bastante profissionalismo. Sua experiência de vida o levou nos últi-

mos tempos às agendas lotadas em palestras de persuasão e técnicas de vendas, treinamentos para líderes de equipes, além de ensinar como empresários podem se livrar das mais diferentes formas de fraudes fiscais. Nessa entrevista registramos nosso agradecimento especial ao juiz da 2ª Vara Criminal, Geraldo Fidélis, por atender gentilmente os pedidos para entrevistas feitas a Marcelo Rocha.


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QUAL A SUA ATIVIDADE COMERCIAL? »»Faço palestras sobre o poder da persuasão. Também tenho uma produtora de eventos, a MR Produções, onde trabalho na linha do rock, pop rock e clássicos, preferencialmente. Dentre as inúmeras atividades que exerço possuo uma empresa, em sociedade, que vende asfalto ensacado, uma fórmula moderna, originária dos Estados Unidos, com produção em série para tapar buracos em vias públicas e rodovias. Com a empresa de asfalto atuo em diversos setores, com exclusividade de mercado, notadamente com empresas de saneamento e prefeituras nos estados de Mato Grosso, Rondônia e Mato Grosso do Sul.

DENTRO DESSAS ATIVIDADES COMERCIAIS, QUAL MAIS LHE ATRAI? »»As duas me dão muita satisfação em trabalhar. São áreas distintas. Gosto muito de trabalhar com asfalto. Viajo muito para fazer demonstração do produto, fechar vendas e aprecio ver a aplicação de nosso produto, da forma correta e eficaz, para garantir os investimentos feitos, tanto do cliente quanto de nossa empresa. Os shows que produzo me dão muita satisfação, muito prazer pelos resultados. É diferente do outro negócio, pois um show começa com um enorme prejuízo, pois se começa algo do “zero’. Primeiramente imagina-se o nome do artista a ser trabalhado. Por

exemplo, cito um show que produzi em novembro, os “Paralamas do Sucesso”. Computam-se os custos do cachê, passagens aéreas, logística de transporte, hospedagens, Ecad, impostos, dentre outras situações. Ou seja, trabalhar com evento é começar uma coisa já sabendo que você tem um prejuízo, tendo que trabalhar para reverter aquilo em lucro. VOCÊ FEZ MUITOS SHOWS EM CUIABÁ? »»Sim, tive a oportunidade de trazer grandes shows para Cuiabá. O nome da minha produtora está se tornando referência pela extrema qualidade dos shows. Não basta ser apenas um show de um bom artista, de renome.

Marcelo Rocha e Biquini Cavadão

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caríssimo, ninguém vai ver Capital Inicial, no entanto, foi um recorde de bilheteria na casa onde foi realizado. Depois disso trouxemos Biquini Cavadão, onde fomos criticados pelo fato do grupo não estar em mídia. O show foi sucesso. VOCÊ ACHA CUIABÁ UMA CIDADE COM TENDÊNCIA PARA A MÚSICA SERTANEJA? »»Pode ser. O povo aprendeu a gostar do que é bom. Gosta de sertanejo? Gosta, mas também aprecia e gosta muito do rock, pop rock. Exemplo disso é o bar que abriu em Cuiabá, o Malcon Pub, que é voltado exclusivamente para o público de rock e pop rock e o bar lota de quarta a sábado. Hoje com a ampliação de seus espaços vieram ao Malcon Pub, sob minha produção nomes nacionais, a exemplo do Kid Vinil, com seus clássicos dos anos 1980. Também trouxe o Bruno, guitarrista do Biquini Cavadão. Outro nome bacana foi de Kiko Zambianchi, que fez um show antológico. Estamos negociando a vinda do Leone. São músicos para produzir shows intimistas, de boa qualidade e num lugar agradável. Impressionante. Não é sertanejo. Estamos acostumados a ver muitas casas, a exemplo do Woods, Jerônimo, que lotam com público sertanejo. Então se você olhar por esse lado sim,

Cuiabá tem muito gosto pelo sertanejo. Mas existe também uma quantia expressiva de público para outros gêneros, especialmente o rock e pop rock.

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Temos que oferecer uma segurança bem preparada para o evento, tratando a todos com respeito devido, para que vejam que aquele show foi feito de uma forma diferente. Certo dia me perguntaram porque eu não fazia evento open bar. Respondi que não trabalho com esse formato porque em tais eventos, percebe-se a falta de respeito com os clientes. É comum em eventos open bar o início ser as 10:00h, e as 11:00h já terminar a cerveja, ou então só tem cerveja quente. Se quiser gelada tem que pagar. É assim que funciona, no entanto, acho isso feio. Hoje o Brasileiro, na atual crise pela qual estamos passando, não está com disponibilidade financeira para ir em todo os shows. Ah, nessa semana tem um show, semana que vem também. As pessoas estão selecionando seu entretenimento. Aí a grande sacada é você trabalhar certo, respeitando o seu consumidor final, porque você vai ter um show de qualidade, um cliente de qualidade que vai assistir ao seu show e não terá problemas com as pessoas falando mal do evento ao seu final. Já produzi grandes shows em Cuiabá. Só para citar alguns, fiz parte da produção de um show do Capital Inicial, com um amigo e as pessoas diziam que éramos loucos. É um show

QUAL SUA OPINIÃO SOBRE O SERTANEJO UNIVERSITÁRIO? »»Campo Grande é a capital do sertanejo universitário. É difícil você imaginar que daqui a 10 ou 15 anos uma música como “eu quero tchu, eu quero tchá” e outras que vem por aí, dentro da linha do sertanejo universitário vão perdurar e ficar tocando. Na verdade, o sertanejo universitário, pelo que eu vejo, nas produções de CDs, DVDs, os artistas procuram sempre estar renovando as músicas para estar tocando nas rádios e tvs. Se não tem música nova o artista não toca. Nós temos exemplos, como Fernando e Sorocaba, que antes eram megashows e hoje em dia as agendas não são tão fortes. O motivo é que já não tem mais aquele apelo, aquela música que não virou. Passa rápido demais. SERIAM OS SERTANEJOS UNIVERSITÁRIOS BONS COMPOSITORES? »»A grande maioria dos artistas do sertanejo universitário não escrevem suas músicas. A grande maioria compra as letras e músicas. Existem compositores espalhados pelo Brasil afora. Em Cuiabá exis-

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tem grandes nomes de compositores. São pessoas extremamente desconhecidas que vivem de escrever músicas para cantores sertanejos universitário. São músicas que geralmente não possuem letras muito significativas. Trabalham mais o ritmo e refrões. Os grupos, duplas e cantores solos estão sempre atrás de uma grande música. Uma de trabalho. Apenas uma é o suficiente, ás vezes, para alçar vôos bem altos. Tanto que o Sorocaba, da dupla Fernando e Sorocaba durante anos foi o maior arrecadador de direitos autorais. Ele também compõe, mas compra o direito dessas músicas, assim como outros compram. As pessoas compram mesmo as músicas para abastecerem esse mercado do sertanejo universitário. Ainda nesse mercado do sertanejo, vemos o Zezé de Camargo gravar músicas do compositor Cesar Augusto. ENTÃO TEM VALIDO A PENA COMPOR PARA O SERTANEJO UNIVERSITÁRIO? »»Esses compositores ficam felizes com seus ganhos e com os êxitos de suas canções. Uma música que promete não é vendida, atualmente, por menos de R$ 10 mil. Existem casos de dez, vinte vezes mais que esse preço. Depende das possibilidades. Se a música estou-

rar o compositor vai receber pelos direitos autorais ad eternun, ou pelo menos enquanto a música tocar. O QUE O MOTIVA A PRODUZIR SHOWS DE ROCK E POP ROCK? »»Primeiro porque gosto bastante. Eu tenho uma amizade muito grande com os meninos do Biquini Cavadão, o Gouveia, o Miguel, o Birita, enfim. Todas as vezes que eu vou ao Rio de Janeiro, ou em outras ocasiões nos encontramos em São Paulo. Almoçamos ou jantamos juntos. E sempre que nós conversamos sobre música a gente imagina isso, como é bom produzir bons shows, com qualidade. A exemplo de motivação lembro que temos em Cuiabá uma rádio que o slogan dela é “a rádio que desperta emoções”. Porque ela desperta emoções? Nem todo mundo sabe, mas cito a música “love hurts’ da histórica banda musical Nazaré, sucesso da década de 1970. As pessoas conhecem a música, porém, grande parte das pessoas não sabem que aquela música se chama “love hurts” e que o intérprete da música é a Banda Nazaré. Porque o despertar da emoção? Justamente por isso, a música toca a lembrança da pessoa em alguma época de sua vida. Lógico para pessoas de mais idade, mas com extremo bom gosto, também. Ao ouvirem

a música do Nazaré se expressam: Nossa, gosto dessa música. A pessoa até cantarola a música, portanto, essa rádio, desperta emoções. Tem um público extremamente conhecedor de música. Considero os inventores desta rádio os caras mais corajosos em termos de empreendedorismo em Mato Grosso, pois tiveram coragem de fazer um rádio 100% izzi, numa cidade 99% sertaneja. Fugindo totalmente à regra. Eu me espelho muito no que eles fizeram, porque eu faço shows de rock numa cidade sertaneja. Quando fizemos o show do Biquini Cavadão o Bruno, da banda, perguntou ao público presente: “quem está vindo pela primeira vez num show de nossa banda”, quase que a casa de show inteira levantou a mão, ou seja, são pessoas novas, aprendendo a gostar do que já não é novo, porém com respeito e admiração. Bandas da geração de Engenheiros do Hawaii, Capital Inicial, Titãs. Quem curtiu aquela época dessas bandas sabe o que é bom. A QUALIDADE DAS LETRAS DE MÚSICA? »»Em alguns segmentos do mercado está ocorrendo banalização de letras de músicas no país. Insinuando e tratando a mulher como um objeto, o homem como um sem vergonha. Isso ocorre no sertanejo universitário, no for-


TEM CONSEGUIDO CONCILIAR SUA AGENDA EMPRESARIAL, DE PRODUTOR MUSICAL E DE CONSULTOR? »»Como disse, a empresa de asfalto me toma mais tempo. Os shows são trabalhados sempre de 2 em 2 meses. Eu tenho tempo para colocar as coisas da pavimentação em ordem, tenho meu sócio que hoje (01/12/2015, quando a entrevista foi realizada) está em Alta Floresta, norte de Mato Grosso, negociando. Então quando eu não pos-

so ir, ele vai. Na empresa de shows não tenho sócio e cuido pessoalmente das questões. As duas atividades são extremamente prazerosas. De igual forma. Com relação às palestras eu tenho uma agenda intensa para o ano de 2016. QUAL É O FOCO DE SUAS PALESTRAS? »»Treinamento para empresas. Temos três focos de palestras, aí vai do cliente. A primeira é para empresas com demanda para treinamento de vendedores é um tipo de palestra. A segunda é de persuasão e técnicas para venda, eu aplico essas palestras justamente para as pessoas verem como devem proceder. O foco da terceira palestra é sobre fraude empresarial no sistema financeiro. Meus clientes são bancos, empresas que lidam diretamente com crédito, dentre outras. É um tipo de palestra mais restrita e única. Eu preparo as empresas para

se resguardarem quanto a possíveis fraudes, tanto no sentido de desvio de verba dentro da empresa, desperdício de mercadorias. Existe também a questão de fraude em licitações, em sonegação de impostos. Consigo resguardar o cliente de como não acontecer isso dentro da empresa. Tenho feito também palestras sobre marketing, em universidades. É um trabalho diferenciado. A empresa que se interessa entra em contato com a minha agência que vê se eu posso fazer alguma coisa naquele segmento. Eu não tenho tempo na agenda para atender todas as pessoas que gostaria.

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ró, no axé, no funk. A gente não acha isso muito no rock. Os roqueiros que fizeram letras com esse tipo de fundamento já foram banidos. Não fazem mais sucesso. Eu, graças a Deus, tenho um filho de 16 anos, que não escuta esse tipo de música. Gosta de rock, enfim. Não partiu para esse lado. Tenho uma filha, que é minha enteada, que é como se fosse minha filha que gosta de alguns tipos de música nesse lado do sertanejo universitário. O Brasil é um país de miscigenação. Na música não poderia ser diferente. Não trabalho com o sertanejo porque acredito que já tem muita gente fazendo isso. Assim como espero também que essas pessoas não tentem migrar para o rock. Brincadeiras a parte, é cada um no seu quadrado. De certa forma explorando aquilo que conhece bem.

QUAL É A MÉDIA DE PÚBLICO DE SUAS PALESTRAS? »»De maneira geral, fiz palestras para grandes e pequenas platéias. Já conduzi palestras para 200, 300, 400 pessoas. A 74E, que é a agencia que me empresaria, tem um projeto de

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palestra no HSBC, de São Paulo, para mais de 1000 pessoas, no primeiro trimestre de 2016. QUANDO FOI A ÚLTIMA PALESTRA QUE VOCÊ FEZ? »»Ontem (30/11/2015), num presídio feminino. Uma palestra voluntária, sem custos. Me agrada fazer isso. Procuro atender sempre, desde que tenha tempo para isso.

Eu acho que a minha diferença é que onde as pessoas vêem dificuldades eu vejo oportunidades. Eu tento enxergar sempre o lado positivo das coisas.

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ENTÃO VOCÊ NÃO É MERCANTILISTA? »»Não, muito pelo contrário, sou desapegado. Eu ganho bem, tanto com uma empresa quanto com outra. Tenho uma vida extremamente confortável com minha família. No entanto sou uma pessoa que não tenho apego ao dinheiro. Gosto, mas não tenho fixação. AO TÉRMINO DE SUAS PALESTRAS AS PESSOAS TE ABORDAM? SENTEM CURIOSIDADE DE SABER DE SUA VIDA E DE SEUS FEITOS TRANSPORTADOS PARA PÁGINAS DE LIVRO E TELAS DE CINEMA? »»As pessoas têm muita curiosidade. Isso não é apenas nas palestras. Isso é no meu dia-a-dia. Acontece a toda hora. Eu busco me resguardar, antes não gostava de falar muito disso. Hoje as pessoas me procuram e eu falo com elas, gostaria de dar mais atenção, mas não é possível. Em aeroportos, lugar que frequento bastante, é ponto de abordagem.

Dias desses, no aeroporto do Rio de Janeiro, uma senhora ficou me olhando, não demorou e sentouse ao meu lado e disse: “você é o Marcelo do filme VIPS?” Respondi que sim. Ela disse: - “nossa, eu queria te encontrar, sou sua fã”. Ela fez inúmeras perguntas, mas chegou a hora do meu embarque e falei que nossa conversa iria ficar para a próxima. Não tenho mesmo o tempo que gostaria de ter para conversar com cada uma dessas pessoas. Tiro fotos, em casa de shows, em shoppings. VOCÊ RECEBE MUITOS CONVITES PARA FESTAS? COMO LIDA COM ISSO? »»Dia desses aconteceu uma coisa interessante. Tem um artista daqui, um cantor de pop rock que gerencio a carreira dele. Ele quis que fosse até a sua casa para um churrasco, pois os seus amigos queriam me conhecer. Disse que nunca atendia a convites desta natureza, mas fui. Disse que ele iria ver que eu não iria gostar de ter ido. Ele respondeu que ninguém iria ficar me perguntando nada. Quando eu sentei, no churrasco, as pessoas foram extremamente agradáveis. Tinha uma mulher que estava com as bochechas inchadas, não se aguentou e disse: - “gente, eu vou quebrar o gelo” e emendou: - “quem foi a gostosa que você pegou?”. Aí começaram as perguntas. Eu levei tudo na brincadeira. Depois de cer-


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to tempo levantei-me e disse ao amigo que precisava ir embora e vi que ele havia compreendido meu comentário anterior. AGENDA LOTADA E A FAMÍLIA? »»Eu adoro fazer coisas que antes eu não fazia. Gosto de pegar a minha enteada e minha esposa, que está grávida de 5 meses e sair em mercados, fazer compras. Gosto muito disso. Adoro ver minha filha fazendo as coisas que ela quer, minha esposa fazendo as compras de casa. Então, o máximo de tempo possível que eu tenho aproveito ao lado da minha família. A minha irmã, Cíntia, que mora em Curitiba, e por vezes vem à Chapada dos Guimarães, a trabalho, eu não consigo ver. Não consigo parar para conversar com ela. Uma lástima. No entanto, a agenda não permite mais o tempo que a gente ficava juntos. COMO VOCÊ SE DEFINE? »»Sou uma pessoa que foi por muito tem-

po ousado e atrevido. Hoje eu sou ousado e atrevido nos negócios. Eu acho assim, a minha diferença com algumas pessoas, não é na inteligência, apesar de alguns testes dizerem o contrário. Apesar de uma revista nacional bastante conceituada dizer o contrário, eu não me considero uma inteligência anormal. Não. O que eu faço qualquer um pode fazer. Eu acho que a minha diferença é que onde as pessoas vêem dificuldades eu vejo oportunidades. Eu tento enxergar sempre o lado positivo das coisas. Adoro o desafio de fazer, gosto de um bom combate. Se você apresenta uma dificuldade e pergunta como isso poderia melhorar, eu digo que pode ser dessa forma, dessa forma, dessa forma. Boto a mão na massa e vamos fazer. Eu acho que a minha diferença está aí. Eu tenho um dinamismo maior do que outras pessoas. Não vejo dificuldades em absolutamente nada. Prefiro me arrepender por ter errado, do que não ter tentado fazer. Minha diferença talvez seja isso.

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PRESIDENTE DO TCE-MT RECEBE HOMENAGEM ESPECIAL DA ATRICON O presidente eleito do TCE-MT, conselheiro Antonio Joaquim, recebeu homenagem especial da Associação dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon) durante a realização do XXVIII Congresso Nacional da entidade. Realizado na cidade de Recife (PE), de 1 a 4 de dezembro, o evento contou com a presença de mais de 400 inscritos, representando as 34 Cortes de Contas Brasileiras. A láurea foi concedida em reconhecimento ao grande trabalho do conselheiro matogrossense em prol do aperfeiçoamento do controle externo Brasileiro. Ex-presidente da Atricon no período de 2012-2013, o conselheiro Antonio Joaquim foi celebrado como o líder que idealizou, elaborou e lançou o programa de qualidade e agilidade de Tribunais de Contas. O programa resultou no Marco de Medição de Desempenho (MMD) a que 33 dos 34 órgãos Tribunais de Contas se submeteram este ano. O procedimento foi inspirado em programa de avaliação da Intosai, entidade que reúne Cortes de Contas de mais de 100 países. Em 2013, em ação preliminar, a

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Atricon produziu o primeiro diagnóstico dos Tribunais de Contas, atividade que contou com a adesão de 28 instituições. O diagnóstico evoluiu para o procedimento de avaliação de desempenho, O MMD-TC foi aplicado de junho a outubro, em processo de autoavaliação de mais de 500 quesitos. A etapa de resposta aos questionamentos foi sucedida por visitas de checagem/confirmação realizadas por equipes de conselheiros e técnicos enviadas pela Atricon. Segundo o presidente da Atricon, conselheiro Valdecir Pascoal, sob a direção de Antonio Joaquim a entidade, que tem natureza classista, assumiu um papel mais institucional e voltado para a melhoria do Sistema de Tribunais de Contas. Esse papel um dia será ocupado pelo Conselho Nacional de TCs, a exemplo do CNJ, no Judiciário, e do CNMP, no Ministério Público. Tramita no Congresso Nacional a PEC 28/2007 prevendo a criação do CNTC. Em rápidas palavras, o conselheiro Antonio Joaquim compartilhou com a diretoria da gestão 2012-2013 da Atricon a homenagem e disse que “a luta para elevar todos os Tribunais de Contas a um patamar mínimo de qualidade tem que prosseguir”.


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NOVA MESA NO TCE O conselheiro Antonio Joaquim é o novo presidente do Tribunal de Contas de Mato Grosso para o biênio 20162017. É seu vice-presidente o conselheiro Valter Albano e corregedor geral o conselheiro José Carlos Novelli. A 53ª Mesa Diretora terá como missão conduzir um novo ciclo de planejamento estratégico para o período de 2016 a 2021.

VERDE QUE TE QUERO VERDE Bastante inclinado à preservação de matas e florestas, o governador Pedro Taques tem destacado em seus discursos o apoio às causas ambientais e ao propósito do desmatamento zero até o ano de 2021. Tem repetido isso exaustivamente, inclusive na Reunião de Paris.

PODE SER QUE SIM, PODE SER QUE NÃO O advogado Eduardo Mahon estuda convites de partidos políticos que o querem disputando o Palácio Alencastro, em 2016, por suas legendas. Ponderado, quer analisar propostas e consultar a família e experimentadas personalidades do mundo da política antes de aceitar qualquer proposta.

UFMT A Universidade Federal de Mato Grosso completou 45 anos de história em 10/12/2015. A UFMT busca fortalecer a pesquisa científica em todas as áreas do conhecimento, tendo em vista a qualidade socioambiental, a ciência e a tecnologia, com atenção ao regional sem perder de vista o universal. Fizeram história nesta instituição de ensino os reitores Gabriel Novis e Pedro Dorileo.

IHGMT Neste dezembro foi entregue o certificado do curso de extensão Panorama da História, Geografia e Cultura de MT, organizado pelo Instituto Histórico e Geográfico de MT e o Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional - NDIHR/UFMT, sob Nileide Dourado e Elizabeth Madureira Siqueira. Êxito total.

NÃO À EXTINÇÃO O presidente da Metamat, Elias Santos, do PSDB, trabalha de forma intensa e inteligente para que os projetos e propósitos da instituição que preside saiam do papel e cheguem às mesas das pessoas certas, especialmente a do governador Pedro Taques.

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N OTA S

GUERRA DOS NÚMEROS Os casos de microcefalia chamam a atenção de todas autoridades da saúde no país. O problema é que alguns números estão sendo mascarados, além de governo e prefeitura não se entenderem. Em Mato Grosso, o Estado divulgou que 76 casos foram registrados, sendo 67 só em Rondonópolis. O município discorda.

CONSCIÊNCIA CIDADÃ Só que o cidadão também precisa fazer sua parte e atuar não só no controle da limpeza de seus quintais, mas na fiscalização dos vizinhos para evitar a proliferação do mosquito. Para tentar controlar a situação, até mesmo as Forças Armadas foram acionadas e a situação chama atenção de especialistas no mundo, que já começam vir para o Brasil estudar a relação entre a zika e a microcefalia.

TÁ LIBERADO GUERRA DOS NÚMEROS II É bom os gestores saberem que neste momento os números já se tornaram menos importantes. O que precisa mesmo são de ações efetivas no combate ao mosquito aedes aegypti que transmite a dengue, chikungunya e a zika, que tem causado a microcefalia.

Acabou a infidelidade partidária. Isto porque o Senado aprovou a PEC 113/2015 que possibilita aos detentores de mandatos eletivos mudarem de partidos sem perder o mandato, nos 30 dias seguintes à promulgação da lei. Agora com tudo liberado, com certeza será um troca-troca de partido. Era a oportunidade que muitos esperavam.

OPINIÃO DIVERSA

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E a bancada de Mato Grosso, em sua maioria, defende o impeachment, dentre eles, Fábio Garcia (PSB), Adilton Sachetti (PSB), Victório Galli (PSC), Nilson Leitão (PSDB), José Medeiros (PPS) e até mesmo Blairo Maggi (PR) que até

então seria da base da presidente Dilma Rousseff (PT). Wellington Fagundes (PR) e Ságuas Moraes (PT) são os que saíram abertamente em defesa da petista. Já Ezequiel Fonseca (PP), Carlos Bezerra (PMDB) e Valtenir Pereira (PMB) não se posicionaram.


A dupla de advogados Leonardo Campos e Flávio Ferreira, vencedores do pleito de 27 de novembro último, irão comandar os destinos da OAB a partir de 2016.

As previsões das maiores empresas de consultoria não são nada boas para 2016. A tendência é que a crise econômica se agrave ainda mais, e agora com a abertura do processo de impeachment deve piorar, pois a instabilidade política não ajuda em nada, causa ainda mais insegurança no mercado e evita investimento, retraindo ainda mais a economia.

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CRISE AGRAVADA

ALMT O ano na Assembleia Legislativa foi marcado por várias mudanças. Primeiro na descentralização do poder, onde o atual presidente da Casa de Leis, Guilherme Maluf, distribuiu funções aos demais membros da Mesa Diretora e outros deputados, fazendo com que o Legislativo se torne mais harmônico. Segundo na atitude inédita em Mato Grosso da Assembleia Legislativa devolver R$ 20 milhões para o Governo do Estado para a aquisição de 150 ambulâncias que serão destinadas aos 141 municípios e realização de mutirão para a redução das filas do Sistema Único de Saúde (SUS). O recurso foi devolvido graças ao choque de gestão implementado por Maluf assim que assumiu o comando do Legislativo. O aumento dos debates na Assembleia Legislativa também ficou evidente em 2015. Muitos se assustaram e questionaram que

os deputados só vivem em clima de “guerra” no parlamento. A verdade é que o Poder Legislativo, sob a liderança de Guilherme Maluf, recuperou uma prerrogativa constitucional que é do parlar, debater exaustivamente os projetos e assuntos pertinentes ao Estado. Ponto para a democracia. As três Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) em andamento na Assembleia Legislativa também mostram o interesse dos deputados em investigar as possíveis irregularidades do passado. Sem dúvida, as apurações sobre as Obras da Copa, Incentivos Fiscais e Orga-

nizações Sociais de Saúde (OSS) já tiveram resultados significativos para o Estado. As comissões são presididas por Oscar Bezerra (PSB), José Carlos do Pátio (SD) e Leonardo Albuquerque (PDT), respectivamente. O próximo ano promete ser ainda mais intenso na Assembleia Legislativa, quando os deputados começam a investigar as cartas de crédito emitidas pelo Ministério Público Estadual. Também tem outras investigações que estão sendo propostas pelos deputados, já que as CPIs em andamento devem encerrar os trabalhos até março.

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D E S E N V O LV I M E N T O REGIONAL

METAMAT

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Os desafios e perspectivas da expansão da produção mineral em Mato Grosso

ara refletirmos sobre como andará a mineração matogrossense nos próximos anos devemos levar em conta uma série de fatores, não apenas econômicos, mas também de política nacional e de Mato Grosso, sem nos esquecermos das questões sócio ambientais. LUME convidou o presidente da Com-

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panhia Matogrossense de Mineração - Metamat, Elias Santos para uma entrevista sobre desenvolvimento regional e o futuro dessa empresa, que é vinculada a SICME, e que pode deixar de ser uma companhia de mineração e passar a atuar como empresa de serviços geológicos, a exemplo do que acontece, com sucesso, em outros estados.


HOJE, QUAL A MAIOR DIFICULDADE DAS EMPRESAS

MINERADORAS QUE ATUAM EM MATO GROSSO. QUAIS OS MAIORES EMPECILHOS EM RELAÇÃO À MINERAÇÃO E À EXPLORAÇÃO DOS SEUS RECURSOS MINERAIS? Consideramos que as maiores dificuldades estão relacionadas ao nível das informações geológicas disponíveis (mapeamentos geológicos), ao ambiente de negócios que encontram no Estado, notadamente as normas burocráticas. No entanto, a maior dificuldade para exportação dos grandes depósitos minerais existentes no Estado é sem dúvida a deficiência na logística de transporte, principalmente ferroviária e hidroviária. O QUE, NA OPINIÃO DO SENHOR, PRECISARIA SER APRIMORADO NA ATIVIDADE MINERADORA EM MATO GROSSO? O ESTADO IMPORTA TECNOLOGIA NA ÁREA DA MINERAÇÃO? A atividade mineradora é caracterizada pela necessidade de vultosos investimentos e longo prazo de maturação dos projetos. No caso das grandes empresas, que possuem grande capacidade técnica e financeira e alcance global, seus investimentos dependem do estado na fase de implantação, na infraestrutura logística e energética e na simplificação tributária. No caso das pequenas e médias empresas de mineração, devido à falta de tradição no setor e ausência de uma política de incentivos governamentais,

estas acabam por tornar o setor dependente da oscilação do mercado, da oferta e procura imediata destes bens. Porém, o estágio atual da indústria mineral não exige, ainda, uma tecnologia de ponta. O QUE O SENHOR SUGERE COMO ALTERNATIVA À EXPORTAÇÃO DE RECURSOS MINERAIS “IN NATURA” DO ESTADO? QUAIS SÃO AS PERSPECTIVAS DO MERCADO MUNDIAL EM RELAÇÃO AOS MINÉRIOS PRODUZIDOS AQUI? Em alguns casos, como a jazida de poli metálicos da Votorantim em Aripuanã, a opção de agregar valor ao minério no estado está na dependência da infraestrutura logística e energética ou da localização das unidades industriais dessas empresas. No caso do ouro, pedras coradas e parte dos diamantes aqui produzidos, a menor dependência da logística, o maior valor agregado e a disponibilidade de tecnologias possibilitariam o seu beneficiamento no próprio estado, através da metalurgia do ouro e da indústria joalheira. A nossa exportação está pautada no ouro e diamante. No entanto, sobre o mercado, tanto o ouro quanto o diamante e, ainda, os polimetálicos possuem a garantia de sua comercialização nas bolsas internacionais como a London Metal Exchange (LME) e estão sujeitas a oscilações de pre-

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DIANTE DOS RESULTADOS DA COP 21, DE PARIS, COM A PARTICIPAÇÃO DO GOVERNADOR PEDRO TAQUES, QUE ADERIU AOS PROPÓSITOS DOS GRANDES LÍDERES MUNDIAIS NA PRESERVAÇÃO DO PLANETA, É POSSÍVEL VISLUMBRAR UM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA EXTRAÇÃO DE MINÉRIOS EM MATO GROSSO? Sim, certamente. No entanto, lembro que a mineração de forma em geral é submetida a uma série de regulamentações, seja através do governo federal, estadual ou municipal. No federal temos MMA, MME e ANA, no Estado temos a Sema que libera licenças ambientais e alguns casos específicos são os municípios que respondem pela autorização. Para que ocorra desenvolvimento sustentável é necessário dar continuidade aos trabalhos que vem sendo desenvolvidos no sentido da regularização da atividade, através de ações como o Processo Kimberley de diamantes e o Processo Ouro Ético na comercialização do ouro. A partir daí, prosseguirmos com a orientação técnica às Associações e Cooperativas de pequenos e médios produtores de bens minerais desenvolvida em todo o Estado, no sentido da implementação de ações de sustentabilidade econômica, melhoramento tecnológico e cuidados sócio ambientais.

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D E S E N V O LV I M E N T O REGIONAL

Equipe de campo do Projeto Ouro Apiacás, região do Rio Matrinchã, norte de Mato Grosso. Em primeiro plano, agachado, o geólogo Gercíno Domingos da Silva.

ços por elas ditadas. Sendo assim, a formação de um mercado interno para uma parte desses bens seria uma maneira de amortecer eventuais quedas no preço dessas commodities no mercado externo. O SENHOR ACREDITA QUE A FERROVIA TRANSCONTINENTAL, PLANEJADA PARA TER APROXIMADAMENTE 4.400 KM DE EXTENSÃO EM SOLO BRASILEIRO, COMO PARTE DA LIGAÇÃO ENTRE OS OCEANOS ATLÂNTICO, NO BRASIL, E PACÍFICO, NO PERU, FOCA SEU TRAJETO MATOGROSSENSE APENAS NA PRODUÇÃO DE GRÃOS? NÃO FALTARIAM INFORMAÇÕES SOBRE A POTENCIALIDADE DOS MINÉRIOS PRODUZIDOS EM MATO GROSSO? Certamente. A maioria das consultorias realiza-

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das sobre esse empreendimento também considera isso. Segundo o Presidente para a América Latina da UIC (UNIÃO INTERNACIONAL DE CARGAS), Gustavo Quintella, o transporte de grãos pela BIOCEÂNICA por si só não traria viabilidade a sua construção. Seriam necessários estudos adicionais de cargas que possam ser transportadas por esse modal, citando nesse caso especificamente os minérios. Não temo dizer que esta ferrovia viabilizaria os grandes depósitos de manganês existentes em Juína e em Juana, além do depósito de ferro de Cocalinho, de rochas ornamentais além de outros polimetálicos que ocorrem na região norte matogrossense. Também a mina de níquel de Comodoro estaria entre essas opções.

QUAL É, NA OPINIÃO DO SENHOR, O MODELO IDEAL DE GESTÃO PARA O SETOR MINERAL DO ESTADO, CONSIDERANDO-SE OS MODELOS EM FUNCIONAMENTO EM ESTADOS COM A MESMA VOCAÇÃO MINERAL? A comparação de modelo de gestão com outros estados com a mesma vocação mineral é por si só complexa, visto que cada estado tem a sua própria geodiversidade. No entanto existem casos exitosos. Verificou-se que no Brasil, no começo da década de 1970, foram criadas companhias de mineração, em alguns estados, sendo a Metamat criada em 1971. Ainda hoje a nossa companhia se mantém praticamente na mesma estrutura de sua criação. Verifica-se que em alguns estados da federação, dos úl-


lumeMatoGrosso timos cinco anos para cá, algumas companhias mudaram a sua forma e estrutura de atuação, deixando de ser uma companhia de mineração e passando a atuarem como empresas de serviços geológicos. Nessa linha de ação os estados que mais avançaram foram o Paraná, Bahia, Minas Gerais, com ótimos resultados. O nosso governo, com ideais de avanços na área do desenvolvimento regional, liderado pelo governador Pedro Taques, quer promover mudanças, sendo possível que a Metamat deixe de ser uma companhia de mineração e passe a ser uma empresa de serviços geológicos de Mato Grosso. QUAL TEM SIDO A RELAÇÃO DA MINERAÇÃO COM O AGRONEGÓCIO EM MATO GROSSO? QUAIS

OS PONTOS DE CONVERGÊNCIA E INTERESSE COMUM, E COMO O ASSUNTO TEM SIDO TRATADO? A mineração, em especial a indústria de pó corretivo, tem contribuído sobremaneira com o agronegócio, pois o Estado é primeiro produtor no ranking nacional, com uma produção estimada em mais de 6,5 milhões de toneladas, segundo dados oficiais. No entanto, pelas informações que possuímos, parece que o agronegócio e o setor mineral não tem conversado muito. Sabemos que a produção de grãos em Mato Grosso depende muito de insumos minerais, como o potássio e o fosfato. Há necessidade de ter uma relação mais aprofundada entre esses dois segmentos, porque com sua união ficará mais fácil viabilizarmos a Transoceânica, que em determinado momento pode

parecer um sonho, mas com a junção da mineração e do agronegócio, certamente iremos contribuir para viabilizarmos esse propósito. A importância desses segmentos estarem conversando, trocando idéias, pode ter como motivação principal a riqueza do subsolo de Mato Grosso, notadamente em minérios que vêm atender a grande demanda da produção agrícola do agronegócio. Nesse sentido vejo que os dois segmentos sairão fortalecidos, pois defenderão interesses comuns e todos serão beneficiados. Cito como exemplo o calcáreo, ainda na década de 1970, com atividade pioneira da Metamat em sua exploração. Hoje temos uma produção média anual estimada em mais de 9 milhões de toneladas de calcáreo, além do que somos o maior consumidor desse produto no país, visto que

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D E S E N V O LV I M E N T O REGIONAL por conta de atividades no agronegócio, somos o campeão nacional em produção de grãos e carne. O QUE A METAMAT TEM FEITO PELO DESENVOLVIMENTO DAS REGIÕES COM VOCAÇÃO MINEIRA NO ESTADO, LOCALIZADAS EM REGIÕES COM FRANCA DECADÊNCIA ECONÔMICA, COMO A BAIXADA CUIABANA, O VALE DO ARAGUAIA E O EXTREMO NORTE DO ESTADO? As cidades do entorno de Cuiabá, e algumas cidades que tiveram um grande boom na área de mineração, a exemplo de Poconé, mas também Peixoto de Azeve-

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do, norte do Estado. A Metamat desenvolveu um bom trabalho com as cooperativas de garimpeiros em várias regiões. Recordemos que a cooperativa de Peixoto de Azevedo possuía em torno de quatro mil associados. Registra-se que a Metamat não somente contribuiu para conseguir um “acordo” entre as empresas mineradoras, donas das áreas, para que pudessem ceder ao menos uma pequena parte para a exploração manual do ouro, como também ajudou na indicação da forma correta da retirada desse minério do subsolo, buscando causar o menor impacto possível na natureza.

Especificamente na Baixada Cuiabana temos a mineração de cascalho e areia, na qual a Metamat busca colaborar com essas pequenas empresas através de sua “expertise”. Para que possamos desenvolver um trabalho à altura dessas necessidades precisamos apenas que tenhamos estrutura e condições de atendimento, visto que conhecimento desse tema nosso corpo técnico o possui. Cito ainda um exemplo de Chapada dos Guimarães, onde temos 2 mil km de estradas vicinais, sendo necessário todo ano de ser feito trabalho de encascalhamento dessas vias e o próprio município não tem conhecimento de onde ficam as suas jazidas minerais, informações que poderiam ser obtidas na Metamat, que como disse, possui tais informações. QUAL A ATUAÇÃO DA METAMAT NO GARIMPO DA SERRA DO CALDEIRÃO, NO MUNICÍPIO DE PONTES E LACERDA? Na região de Pontes e Lacerda, que ocorreu intensa ocupação de garimpeiros em busca de ouro, destacamos uma equipe para acompanhar de perto toda a movimentação. Eu mesmo, na condição de presidente fui até a região e verifiquei “in loco” a situação. Providenciamos um relatório para a Casa Civil do governo estadual indicando possíveis posições que poderiam ser tomadas para resolução da-


Poconé, com ações de reconhecimento nacional. QUAIS ENCAMINHAMENTOS DA METAMAT SOBRE O “OURO ÉTICO” EM MATO GROSSO, A EXEMPLO DO QUE É PRODUZIDO NA COLÔMBIA, COM O QUAL FORAM PRODUZIDAS AS MEDALHAS DOS GANHADORES DO NOBEL DA PAZ, NA NORUEGA, EM 2015? Estamos buscando esse caminho. O CETEM - Centro de Tecnologia Mineral, quer promover contrato de parceria com a Metamat para certificação do ouro produzido em Peixoto de Azevedo, que é comprovadamente retirado de maneira sustentável, sem degradação do meio ambiente, pois existe o compromisso de deixar a área trabalhada exatamente como estava, antes do procedimento de garimpagem. Da mesma forma temos que atuar com o diamante, visto que a sua produção em Mato Grosso, no ano de 2013, atingiu 93% da produção média nacional. De Mato Grosso saíram 45.787,62 quilates, contra 49.234,00 obtidos em todo o restante do Brasil, segundo o sistema de certificação do Processo de Kimberley - SCPK (lei nº 10.743 de 9/10/2003), relativo à exportação e à importação de diamantes brutos. O QUE A METAMAT, QUE É A INSTITUIÇÃO OFICIAL QUE ATUA EM PESQUISA NO SUPORTE EXPLORAÇÃO E NO DESENVOLVI-

MENTO DO SETOR MINERAL PODE FAZER PELO ESTADO DE MATO GROSSO? Dentro da nova concepção de governo, acredito que de acordo com as diretrizes do Governador Pedro Taques e do Secretário Seneri Paludo, além da mineração, poderíamos atuar, através de parcerias, em várias das áreas demandadas pelo estado. Para isso contamos com profissionais qualificados e experimentados em Recursos Hídricos, Estudos de Meio-Físico, Desastres Naturais (Processos Erosivos e Sismos), Planejamento Urbano, Estudos Hidrográficos e Levantamentos Paleontológicos, Arqueológicos e Espeleológicos. O QUE A METAMAT, QUE CONTRIBUI PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO DE MATO GROSSO JUNTO À INDÚSTRIA MINERAL, GERANDO DADOS E INFORMAÇÕES GEOLÓGICAS, BÁSICAS E TEMÁTICAS, APLICÁVEIS AO PLANEJAMENTO E GESTÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO MEIO FÍSICO, PODE ESPERAR DO GOVERNO, PARA MELHOR APROVEITAMENTO DE SEUS INÚMEROS PROJETOS? Dentro da concepção e propósitos de governo, esperamos que o estado defina o papel institucional da Empresa e que nesse contexto possa oferecer a ela as condições necessárias para a plena consecução dos seus objetivos e as demandas da sociedade.

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quelas pendências. Entendíamos que não adiantaria a polícia ir até lá e arrancar os garimpeiros daquela lida, pois mais cedo ou mais tarde eles voltariam às atividades de cata do ouro, como de fato já voltaram, aos milhares. Qual é o caminho que a Metamat já está fazendo? Primeiro caminho é a articulação junto ao DNPM para acelerar o resultado das pesquisas até recentemente não conseguidas pelas empresas detentoras de autorização de lavras, visto que lá ( Garimpo da Serra do Caldeirão) é uma área de assentamento e o processo já dura 21 anos, sem solução, ainda. Em contrapartida, sugere-se que a Mineradora que fez o requerimento da área, discuta com a cooperativa de garimpeiros para trabalharem parte da área, notadamente a de superfície, sendo que a mais profunda somente a mineradora, com equipamentos adequados é que poderá explorar. Imagino que os garimpeiros usarão apenas entre 1% a 2% da área requerida. O governo já discute com a Mineradora Santa Elina, detentora de requerimento de lavra de pelo menos 6 mil hectares de terras naquela região de conflito. Nesse período ocorrem reuniões sistemáticas entre o governo estadual, federal e partes interessadas na resolução da questão. Ressaltase que esse tipo de “solução de crise” advém da experiência de décadas da Metamat, notadamente em Peixoto e

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ECONOMIA

O PIB Verde

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Através do pib verde será possível acompanhar o crescimento da economia e monitorar o desenvolvimento social e a preservação do meio ambiente

oi aprovado em novembro último, pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle do Senado, o projeto de lei que prevê a criação e divulgação do chamado PIB Verde, que é um indicador de crescimento econômico que leva em conta as consequências ambientais do crescimento econômico medido pelo PIB padrão. O projeto propõe que a metodologia de cálculo do PIB Verde deve ser debatida em conjunto pela sociedade, governo e pelo Congresso Nacional antes de se

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tornar um índice oficialmente adotado no Brasil. Este projeto de lei indica o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), para divulgar também o PIB Verde. Alguns congressistas acreditam que o tradicional PIB, com método criado na década de 1930, está obsoleto e necessita de um novo indicador, que pode ser, de forma definitiva o PIB Verde. Para se medir a importância do método, registrase que em 2004, o primeiroministro chinês, Wen Jiabao, anunciou o uso do PIB Verde como um indicador eco-

nômico para seu país. O primeiro relatório foi publicado em 2006. No ano de 2012, a ONU aprovou uma padronização metodológica do sistema de cálculo dos recursos ambientais dos países. O novo índice terá que considerar as consequências ambientais do crescimento econômico e os aspectos da biodiversidade, da fauna e da flora. A adoção de um novo modelo para medir a riqueza e o desenvolvimento no país está em discussão no Senado desde a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a Rio+20, que ocorreu em 2012.


No Brasil o minuto do celular é um dos mais caros do mundo. Por isso o Senado aprovou lei que extingue cobrança de consumidor que está fora da área para a qual o aparelho foi habilitado

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Fim do Roaming

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projeto de lei (PLS 85/2013) de autoria do senador Valdir Raupp (PMDB-RO) que extingue a cobrança do roaming em ligações realizadas nos locais atendidos pelas mesmas redes de operadoras de telefonia celular foi aprovado, no dia 11 deste mês, em caráter terminativo na Comissão de Infraestrutura do Senado Federal. O projeto foi relatado pelo senador Walter Pinheiro (PT/BA). O valor, pago pelo consumidor quando ele está fora da área para a qual o aparelho foi habilitado, também é chamado de tarifa de deslocamento. O projeto já tramitou em outras Comissões e foi aprovado na CI em caráter terminativo e segue direto para a Câmara dos Deputados. A aprovação deste projeto objetiva o barateamento das tarifas telefônicas no Brasil, onde existem mais de 270 milhões de celulares, sendo que desse total 80% são pré-pagos, com o minuto mais caro. Ao aprovarem essa matéria os senadores entram e acompanham um debate mundial com propósitos de redução de custos e tarifas e simplificação das ligações telefônicas contratadas por consumidores. Essa extinção tarifária também vem de encontro a uma discussão entre algumas operadoras e da própria Anatel, como forma de estimular a redução de preços praticados.

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ECONOMIA

Inseminação Artificial IA e IATF, ferramentas para altíssimo desempenho

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POR PAULO DE TARSO

inseminação artificial (IA) - seja com observação de cio ou em tempo fixo (IATF) é uma ferramenta que traz inúmeras vantagens ao empresário rural: • Melhor controle zootécnico; • Permite realizar diferentes cruzamentos; • Favorece a seleção e o melhoramento genético; • Permite a escolha da data do parto; • Facilita a organização dos manejos; • Possibilita melhor retorno financeiro.

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O uso da IATF permite, ainda, eliminar a observação de cio, diminuindo riscos com falhas de observação, além de concentrar ainda mais as concepções. Na criação de bovinos, os usuários de botijões de nitrogênio líquido para armazenamento de sêmen zebuíno ou taurino cresceu 6,4% de 2013 para 2014 (pouco mais de 7.400 unidades para 7.900, segundo ASBIA – Associação Brasileira de Inseminação Artificial). Mato Grosso é o maior criador de gado


do setor de comercialização de sêmen bovino, a respeito do cenário da IA e da IATF para 2016: “em linhas gerais, numa visão macro, devemos continuar com crescimento, tendo em vista a premente necessidade de reposição de fêmeas zebuínas e a necessidade de animais de altíssimo desempenho zootécnico, vindos dos cruzamentos de taurinos e zebuínos, para atender inclusive ao mercado externo”, dando atenção aos países que reabrem suas portas para o Brasil, como foi o caso dos EUA, país que é reconhecido pela severa restrição ao ingresso de produtos no seu mercado doméstico, e que paga preço justo para produtos de altíssima qualidade. Por conta disso, é indicado aos empresários da pecuária de corte que produzam com muita qualidade, e para isso, a IA ou a IATF, estão aí para serem bem usadas a seu favor, a favor da economia de Mato Grosso e do Brasil.

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do país, com 28,5 milhões de cabeças.É também a unidade da federação que mais usou sêmen de bovino de corte (somando taurinos e zebuínos) 19%, seguido de Mato Grosso do Sul com 18%, Goiás com 11%, Pará e Rio Grande do Sul com 10%. Os demais estados representaram 32 % do total de sêmen comercializado no Brasil.Já no uso de sêmen de bovinos especializados na produção de leite, nosso Estado fica atrás de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Goiás, mostrando que tem muito a crescer no desempenho do setor leiteiro. Do total de sêmen comercializado no país, 13.609.311 doses em 2014, algo em torno de 41% é de touros de raças especializadas na produção de leite e 59% é de touros de raças especializadas na produção de carne (ASBIA). Em recente conversa com o médico veterinário Caio Tristão, alto executivo da Semex do Brasil, uma das maiores empresas

TOP 5 em vendas de sêmen de touros especializados na produção de carne PAULO DE TARSO Zootecnista pela UFSM-RS, especialista em produção e nutrição de ruminantes pela UFMT, premiado pelo CRMV-Z /MT “Zootecnista do Ano” em 2010 e 2012. Coordenador no programa MT Regional, instrutor no SENAR-MT, gestor técnico/ comercial de empresas de nutrição e diretor da PlannerZoot, empresa de genética animal (SEMEX DO Brasil) e de nutrição de plantas (PRIME AGRO). Contato: zootpaulodetarso@gmail. com (65) 3682-1346 | 9604-8162

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ECONOMIA

Riqueza Mineral

A exploração do minério de fosfato em território matogrossense poderá tornar o estado ainda mais competitivo nos mercados nacional e internacional na produção de grãos e carne

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Estado de Mato Grosso é uma região brasileira privilegiada em vários aspectos e segmentos, notadamente em minérios, visto que originouse do ouro dos Martírios e de Cuiabá. Campeão nacional na produção de grãos e de carne o Estado importa milhares de toneladas de Fosfato e adquire outras tantas no mercado nacional para ser usado como adubo na fórmula NPK. Ocorre que o subsolo matogrossense é rico em fosfato, mas sem exploração industrial desse produto, o que acarretaria benefícios na área industrial, comercial e social.


área de 67 km², com espessura média de 35 m e teores de fosfato de até 9,5%. Nos anos subsequentes, em 2011 e 2012, os trabalhos foram feitos de acordo com as normas do Conselho de Defesa Nacional, tanto a sondagem quando definições de mercado consumidor de fertilizantes fosfatados. Contemporaneamente o país ainda se encontra na dependência do suprimento do Fosfato, o que traz certo incômodo ao setor agrícola. Concluindo registra-se a importância da descoberta do geólogo Gercino Domingos da Silva. Que este trabalho científico seja efetivamente exitoso, e não sofra mais atrasos. O objetivo é transformar os sedimentos rochosos pesquisados em Mirassol D´Oeste em Fosfato nacional a ser comercializado em terras de Mato Grosso e outros estados, suprindo o déficit histórico deste componente NPK, com a palavra as autoridades competentes e empresas que disputam a primazia da exploração e comercialização do Fosfato Mato Grosso.

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O histórico dos fatos relacionados ao descobrimento de rochas fosfatadas vem de maio de 2006, com a descoberta e coleta para análise de amostras de fácies ritmitos(*), por ação do geólogo Gercino Domingos da Silva, funcionário da Metamat e pós graduado em impactos ambientais e mestre em recursos minerais, na região da Serra do Caetés. O resultado das análises constatou enorme depósito de fosfato na região pesquisada. Entre agosto e novembro de 2009 ocorreram fatos significativos para a consolidação do Projeto Fosfato Mato Grosso, nome dado por deferência ao potencial de exploração desse minério no Estado. Em agosto foi assinado um convênio de apoio técnico entre a SICME e a CPRM, com vistas à execução do projeto nas áreas Araras e Planalto da Serra. No mês de outubro foram realizados estudos de campo em Mirassol D´Oeste, confirmando a pesquisa feita pelo geólogo Gercino, em 2006, sobre a ocorrência de Fosfato. Na sequência, em novembro de 2009, em virtude da constatação de ocorrência de Fosfato verificou-se aumento de trabalhos geológicos na área, sempre confirmando pesquisas anteriores. Num relatório encaminhado à Sicme, em agosto de 2010, constatou-se ocorrências da rocha mineralizada (Ritmito), em

Ocorre que o subsolo matogrossense é rico em fosfato, mas sem exploração industrial desse produto, o que acarretaria benefícios na área industrial, comercial e social

(*) As fácies (conjunto de caracteres de uma rocha, sob o de vista de sua formação) rítmicos (caráter rítmico é emprestado pela própria fácies em laminação horizontal)

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S U S T E N TA B I L I DA D E

Bicho da Farinha Favorece Reciclagem de Lixo O besouro conhecido como bicho da farinha, existente em várias partes do mundo, pode ser a solução futura para problema do lixo, pois descobriu-se que microorganismos presentes no sistema digestivo das larvas são capazes de biodegradar o plástico em seu processo digestivo

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POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA


tas perguntas sobre a destinação das milhões de toneladas de lixo produzidas diariamente em todo o mundo. Os cientistas trabalham para isolar a enzima existente no estômago no bicho da farinha, buscando fórmulas de se criar um processo de baixo custo para reciclar plástico. É positivo imaginarmos que essa é uma maneira inovadora de se enfrentar tal problema, além da clara mudança de percepção do que fazer com tantos isopores e detritos plásticos, tão úteis em nossas vidas, mas que são despejados em aterros sanitários e espalhados em nossos rios, terrenos baldios e fundos de quintais, com baixíssimos índices de reciclagem. Estudos científicos dão conta de que o poliestireno leva mais de 150 anos para se decompor na natureza e, ao mesmo tempo que o bicho da farinha é um alento, também preocupa não sabermos, ainda, através de pesquisas, os efeitos nas cadeias alimentares de outros animais que venham a consumir essas larvas. É lícito termos esperança na larva bicho da farinha, cujo intestino nos revela destinos inusitados para os resíduos plásticos que permeiam o meio ambiente.

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mportante estudo científico realizado pelo engenheiro Wei-Min Wu do departamento de engenharia civil e ambiental da Universidade de Stanford, nos EUA, em conjunto com Jun Yang e outros pesquisadores da Universidade de Beihang, na China e publicado pela Environmental Science and Technology, indica que a larva do pequeno besouro Tenebrio molitor, popularmente conhecido como bicho da farinha, se alimenta de isopor ou poliestireno expandido, uma espécie de plástico não biodegradável. Isso deve-se a uma enzima existente no estômago do bicho-da-farinha que converte o plástico em dióxido de carbono, permitindo que os excrementos do Tenebrio se transformem em resíduos biodegradáveis, podendo até ser utilizados em forma de adubo para plantas. A descoberta foi recebida com surpresa e entusiasmo. “Nossas descobertas abriram uma nova porta para resolver o problema global com a poluição de plásticos”, afirmou o engenheiro Wei-Min Wu, para o Stanford News Service, órgão de imprensa da Universidade de Stanford. As pesquisas estão em permanente evolução, buscando respostas para tan-

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B E M E S TA R

Bio saúde

A cura através das plantas O padre jesuíta Renato Roque Barth, lotado na Paróquia do Rosário, em Cuiabá, após décadas de dedicação à medicina natural, à base de chá, jejum, dieta e urinoterapia, comemora, pelo método bio saúde, expressivos números ao redor do mundo de atendimentos e bons resultados para se curar qualquer tipo de doença.

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os 76 anos de idade o padre Renato Roque Barth, que chegou em Mato Grosso durante o ano de 1962, demonstra muita disposição e vitalidade ao pedalar, sistematicamente, por quilômetros em sua bicicleta, na busca de plantas curativas diariamente, quando não está em viagem por conta de palestras e encontros sobre medicina natural. Sobe facilmente a escada em caracol que

leva aos dois cômodos de pouco mais de 20m² cada um, de onde comanda, junto com um grupo de nove pessoas, entre funcionários e dirigentes, o propósito de cura através de plantas medicinais em 43 países, nos continentes americano e africano, com números expressivos de atendimentos exitosos em mais de 2 milhões de pessoas. Descendente de alemães e nascido no município catarinense de Itapiran-


O teste com o O-Ring Test é uma técnica de investigação clínica não invasiva, que tem como base o fenômeno do enfraquecimento muscular provocado pela ressonância entre duas substâncias idênticas. O teste é realizado utilizando-se a musculatura dos dedos em forma de anel.

ga, vislumbrou no sacerdócio o seu futuro. Seu interesse pela medicina natural tem origem nos ensinamentos maternos e, quando cursava teologia e filosofia, achou tempo para cursar ciências naturais, fator que contribuiu para sua melhor compreensão sobre a importância da fitoterapia na cura de várias doenças. Ordenado sacerdote em 1971, teve seu conhecimento sobre a medicina natural mais apurado na Nicarágua, país da América Central, no qual permaneceu por longo tempo como missionário. Em Léon, em 1990, participou pela primeira vez de um curso da Bio Saúde, ministrado pelo médico Áton Ínoue, que havia tido contato com Yoshiaki Omura, que descobriu e patenteou o método.

COMO SURGIU A BIO SAÚDE O Dr. Yoshiaki Omura, físico e médico nipo-americano é o criador e sistematizador desse método, tendo se baseado em conhecimentos da medicina oriental e na fitoterapia. Trata-se de um dos mais renomados e respeitados nomes dentro da comunidade científica mundial, tendo recebido o raro título de “science doctor”. Entre os anos de 1976 e 1978, Omura determinou as bases do que se convencionou chamar de “O-Ring-Test”, que é um teste onde se rompe o anel, formado pelos dedos polegar e indicador. Para avaliar o estado de saúde de um paciente foram estabelecidos três momentos: • Fazer a verificação em quais órgãos a energia está bloqueada; • Encontrar a causa;

O MÉTODO BIOENERGÉTICO DE TRATAMENTO NATURAL Há que se registrar que não existe nenhum envolvimento ou segmentação religiosa no sistema de cura através das plantas oferecido pelo método difundido pelo padre Renato, que mantém um centro de atendimento no Bairro Jardim Paraíso, em Cuiabá, de onde difunde o seu Método Bioenergético de Tratamento Natural, o Bio-Saúde, que é amplamente aceito, tendo sido implantado em diversos países, com resultados altamente satisfatórios. O processo de atendimento, ou consulta, procedida aos pacientes, é feito pelo próprio padre e assistentes, de segunda a sexta, em revezamento estampado na parede da ampla mas bem modesta recepção. Possivelmente o que mais atrai as pessoas que procuram a Bio Saúde, além de resultados satisfatórios

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• Obter a resposta do organismo e levantar a energia vital, buscando o restabelecimento da saúde plena. Isto posto e realizado, é o organismo do doente que vai oferecer indícios do que necessita para ser curado. Tal situação e fatos altera completamente os parâmetros de indicação de medicamentos e de terapias, contrariando o sistema industrial e convencional na qual a medicina está alicerçada, criando dissidências e contrariando interesses.

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B E M E S TA R

e rápidos, amplamente disseminados pelos consulentes, é o baixo custo do tratamento, algo em torno de R$ 40,00 apenas, por pessoa, mais os custos de ervas e folhas indicadas para cada tipo de doença, sempre a valores irrisórios. O sistema Bio-Saúde oferece orientação sobre as formas adequadas de alimentação e hábitos saudáveis de vida com a ingestão de chás indicados pelos fitoterápicos. LIVROS E DEPOIMENTOS Para melhor compreensão do Método Bioenergético de Tratamento Natural o padre Renato Barth escreveu e publicou três livros: “BioSaúde - Método Bioenergético de Tratamento Natural”, com sete edições a par-

Euza Maria de Araújo Rodrigues em depoimento espontâneo afirma ter sido curada de osteoporose na coluna cervical, utilizando o método Bio Saúde, do Padre Renato Barth.

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tir de 1999; “Cura Natural Nascemos sadios. Porque adoecemos? Como curarse? Como manter a saúde”, com três edições a partir do ano de 2001; “Infecções e Doenças - Cura Global”, com duas edições a partir de 2007. Segundo o religioso em breve será publicado um novo livro, ampliando horizontes e conhecimentos sobre seus propósitos de cura de doenças através das plantas medicinais. Em todas as publicações padre Renato Barth enfatiza os bons resultados do método apresentado: - “Tenho certeza de que o futuro será da medicina natural” - afirma, citando casos de curas em várias cidades Brasileiras e do exterior, a exemplo da cura de cegueira de mais de 9 anos, em região do sul do país e, também da cura de um câncer maligno na cidade de Maputo, em Moçambique, fato atestado pelo Arcebispo da capital daquele país africano, Francisco Chimoyo, além de muitos outros casos de cura real. Por acreditar em seu método e buscar sua disseminação, padre Renato não deixa de “cutucar” a indústria farmacêutica, que existe de forma organizada há aproximadamente 150 anos, taxando-a de “falida”, por ser morosa e infringir “muitos sofrimentos inúteis aos doentes”. Em Cuiabá existem inúmeros casos de tratamentos exitosos à base dos chás e da reeducação alimentar

proposta pelo Método Bioenergético de Tratamento Natural. Um desses casos vem de Euza Maria de Araújo Rodrigues, líder comunitária do Jardim Vitória e professora aposentada da rede pública estadual, afirma conhecer pessoas que foram curadas de várias doenças, inclusive câncer. Ela mesma era portadora de uma osteoporose na coluna cervical e viuse curada com o método do padre Renato. Euza afirma que consumiu durante muito tempo remédio conseguido na farmácia de alto custo, do governo estadual, e que quando passou a fazer o tratamento pelo Método Bioenergético de Tratamento Natural notou certa diferença. Certo dia recebeu telefonema sobre o último exame que havia feito (densiometria óssea) com resultado altamente satisfatório, visto que não foram encontradas evidências da osteoporose em sua coluna. INTEGRAÇÃO DA MEDICINA ALTERNATIVA E SUS Em setembro de 2015, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso, criou a Frente Parlamentar em Defesa das Práticas Integrativas em Saúde - Frente Holística, sob a condução do deputado Wancley Carvalho (PV). A Frente se propõe acompanhar, propor e analisar projetos e programas no campo das terapias integrativas, sendo que para o deputado Wancley esta é uma proposta de quebra de para-


TEMPOS DIFÍCEIS O jeito jesuíta de ser do padre Renato demonstra um ser resignado, mesmo com os revezes vividos nos últimos cinco anos, por conta de dividir conhecimentos fitoterápicos e promover, segundo seu próprio depoimento, a cura de doenças de todas as espécies, através de seu método, inclusive da Aids e do Câncer. Ao contrariar o sistema, imposto subjetivamente às sociedades pelo capitalismo, o padre Renato Barth e a Bio Saúde tornaram-se manchetes na mídia em 2010, ocasião em que, tanto o religioso, quanto a instituição

foram achincalhados e acusados de charlatanismo e de prática de medicina ilegal pelo CRM - Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso, que foi à justiça. Na época inúmeras pessoas e instituições se posicionaram em defesa da Bio Saúde e padre Renato Barth. Parte da mídia regional imputou a interesses de laboratórios farmacêuticos de multinacionais em patentear o método do padre Renato, obtendo lucro fácil, rápido e com eficiência. A ação judicial tramitou no Juízo Criminal de Cuiabá e foram realizadas audiências em 25 de fevereiro de 2011 e em 20 de setembro de 2012, onde o Judiciário não viu nenhuma ilegalidade nas atividades desenvolvidas sob a liderança do padre Renato. Em documento apresentado pelo próprio sacerdote, no último dia 18 de novembro de 2015, textualmente o juíz Dr. Mário Roberto Kono de Oliveira disse o seguinte: “Eu não condeno o Padre Renato e a Bio Saúde, pois eu aqui não vejo crime algum”. A última audiência deveria ter sido em 17 de novembro de 2015, no entanto, foi adiada para o mês de fevereiro de 2016, em data a ser confirmada. O padre Renato está otimista com o resultado da audiência definitiva e afirma que pretende tomar as medidas judiciais cabíveis, dentro da legalidade, para ser ressarcido pelas injúrias a ele imputadas.

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digmas, pois valoriza sobremaneira a medicina complementar e integrativa. A frente parlamentar é composta pelos deputados Wancley Carvalho (PV), Emanuel Pinheiro (PR), Pery Taborelli (PV), Saturnino Masson (PSDB) e Nininho (PR). Pretende-se direcionamento para que todas as câmaras municipais de MT também desenvolvam trabalhos semelhantes. A integração proposta é inédita por ser formada numa frente suprapartidária, no entanto, outros estados da federação, através de suas áreas de saúde, a exemplo do Rio Grande do Sul, Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, já desenvolvem integração com o SUS, sem nenhum tipo de prejuízo financeiro para o estado.

Yoshiaki Omura, físico e médico nipo-americano que fez a primeira descrição do método, cuja patente foi requerida em 1983.

Detalhe de folhas de diversas procedências, separadas em saquinhos, prontas para infusão.

SERVIÇO: Endereço: Av. Clóvis Pompeu de Barros, 622, Paraíso, Cuiabá, MT Telefone: (65) 3641-6532

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ESPORTE

Primórdios do Beisebol em Mato Grosso

A história da colonização japonesa e a do beisebol, no estado de Mato Grosso, tem a mesma origem nos primeiros migrantes que aqui se estabeleceram no início da década de 1950

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FOTOS, ARQUIVO E TEXTO FÁBIO SATORU SASAKI

m 1953 chegaram a primeiras levas, vindos inicialmente do interior do estado de São Paulo e, posteriormente, diretamente do Japão. Chegaram à região do Rio Ferro, distante cerca de 500 km de Cuiabá, ao norte, quase chegando no estado do Amazonas, vislumbraram a densa vegetação e pensaram, aqui é terra fértil !

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As estradas praticamente não haviam, tiveram que abri-las, atravessar rios sobre balsas, improvisaram pontes, desmataram com as “mãos”, utilizando no início machado, marretas e serras. Construíram suas casas com essa madeira, os telhados eram uma atração a parte, feitos de tábuas de madeira, mas todos unidos em um sonho: o de ganhar dinheiro e retornar a terra natal.


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ESPORTE

A terra na verdade era muito ácida, e dali não produzia o necessário para sua subsistência “não dava arroz, feijão, legumes”, criávamos galinhas e porcos, alimentando-os com feijão guandu, única coisa que dava naquele solo. Nós também comíamos esse feijão; a mesma coisa que os animais comiam nós também tivemos que comer, além de termos que comer animais silvestres, a exemplo de macacos, sapos, minhocas e ratos. Quem não conseguiu comer, foram os primeiros a morrer de fome de desnutrição. A distância até Cuiabá era um empecilho, apenas uma vez por mês o caminhão da empresa ia buscar mantimentos, gastamos todo o dinheiro fazendo compras, pois da terra nada tirávamos.

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A plantação de seringueira foi bem, mas para obter lucros com a colheita levava cerca de sete, oito anos para a primeira sangria e dez para ter retorno comercial. Experimentaram o plantio da pimenta do reino e conseguiram uma boa colheita, no entanto, devido a super produção dos países asiáticos, ocorreu desvalorização do produto e um saco de pimenta do reino não valia mais nada. Ainda tinha o custo de levá-la até o porto de Santos, não compensava. Preferiram queimar. Por causa a falta de conhecimento do solo, da distância, as dificuldades com as doenças tropicais, a resistência foi sendo minada e a esperança se acabou. Os imigrantes que vieram para nosso estado deixaram um grande legado: abriram es-

tradas onde até então não havia nada. Desses locais surgiram cidades como Sinop e Feliz Natal. Hoje a culinária japonesa é muito bem representada nos restaurantes japoneses com seus Sushis e outros pratos. Nas feiras de gastronomia com o Yakisoba, nos esportes com o Judô, o Karatê, o Karaokê e o Beisebol. PRIMEIRAS TACADAS Falando sobre o beisebol, esta modalidade esportiva chegou a Mato Grosso com estes imigrantes. Se tornou popular, pois naqueles tempos, em fins de semana, os trabalhadores da roça vinham para a sede (Kaikan) praticar os mais variados esportes, dentre eles o beisebol. Era forma de descontrair dos longos períodos de servi-


lumeMatoGrosso ço pesado a se que impunham os desbravadores. Em meados de 1955, com o pátio da sede pronta, foram realizavam as primeiras partidas de beisebol em solo matogrossense, como forma de reunir as famílias, naquele longínquo sertão. Segundo as entrevistas feitas aos descendentes, as primeiras partidas entre as localidades seriam do inicio da década de 1960. Disputaram torneios as cidades de Cuiabá, Cáceres, Jurigue e Rio Ferro, tendo o registro em foto de um torneio de 1964. Os anos seguintes foram comuns estes torneios, geralmente acontecendo de uma a duas vezes ao ano, até no início da década de 1990, onde com a era “dekassegui”. Nessa ocasião muitos seguiram o caminho inverso de seus antepassados, indo

trabalhar no Japão. Não só em Mato Grosso como em outras regiões do país, as associações de beisebol perderam membros e algumas até pararam por completo suas atividades. Com a estagnação da economia japonesa em meados do ano 2000, sucessivas crises econômicas, fizeram que uma grande leva desses emigrantes retornassem ao país, reiniciando as atividades nas suas associações. Nos dias atuais a Associação Nipo de Cuiabá e Várzea Grande, possui diversas atividades não somente voltadas aos membros da associação, mas aberta a comunidade Brasileira, visto que hoje os praticantes de Beisebol, Kendô, Taiko, possuem grande quantidade de não descendentes.

O beisebol, com o apoio da Federação Mato-grossense de beisebol e softbol, desenvolve com apoio do Governo japonês, a prática desse esporte com aulas gratuitas. Existe um voluntário japonês enviado somente para ensinar a prática do beisebol aos Brasileiros.

SERVIÇO: As aulas não são cobradas e, quem se interessar, deverá procurar a associação de Várzea Grande, situada na Rua Castro Alves, esquina com Castelo Branco, no Bairro Cristo Rei, levando apenas um par de tênis e boné, pois o restante dos materiais são fornecidos pela própria instituição.

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CIDADES

Poconé

Num canto de seu território e atento ao presente dos céus está o povo poconeano, observando, examinando detidamente e consagrando sua atenção nas águas, terras e ares pantaneiros.

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FOTOS MÁRIO FRIEDLANDER / MARCOS BERGAMASCO


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município de Poconé faz parte da região de planejamento Vale do Rio Cuiabá e da Amazônia Legal e foi criado em 25 de outubro de 1831, com área proveniente do município de Cuiabá. É formado pelos distritos Sede, Cangas e Fazenda de Cima. Trata-se de uma das cidades com maior potencial turístico do estado de Mato Grosso, dispondo de boa

HISTÓRIA O núcleo inicial de povoamento, do qual originou-se o atual município de Poconé surgiu por volta de 1777, devido à descoberta de ricos veios auríferos aluvionais. Ao povoado que se formou em torno das lavras garimpeiras deram o nome de Beripoconé, numa referência ao povo boróro que habitava esta região desde tempos imemoriais. Apesar da precariedade de comunicação da época, a abundância de ouro atraiu muita gente à região. A descoberta das lavras de Ana Vaz, Tanque do Padre, Tanque do Arinos, Lavra do Meio, Tereza Botas e outras, provocou desenfreada corrida ao ouro vil. O primeiro nome da ci-

dade foi São Pedro d´El Rey, numa homenagem a Dom Pedro III, Rei de Portugal, oferecido pelo capitão general Luiz de Albuquerque Pereira e Cáceres, fundador de Poconé. Com o passar dos tempos ocorreu certa decadência na produção aurífera, ocasionando debandada de garimpeiros para outras paragens, alguns dedicando-se, inclusive à cata de diamantes. RESSURGIMENTO DA GARIMPAGEM DE OURO Uma situação alarmante para as pessoas que realmente tem preocupação ambiental é a frenética retomada da mineração aurífera na cidade de Poconé. O município surgiu sob os auspícios da lida garimpeira, no entanto, os tempos e os valores são outros. A redescoberta de ricos veios auríferos no final da década de 1980, fez ressurgir a efervescência garimpeira aos moldes do tempo em que surgiu Beripoconé, no século XVIII. Neste contexto, muita gente passou a buscar na garimpagem do ouro um meio de sobrevivência, objetivando melhores condições de vida, porém estão exercendo a atividade na margem da rodovia que dá acesso ao Pantanal. Até parece brincadeira, mas não é. Mobilizaram-se nesta lida os peões e vaqueiros, que deixaram o trabalho no campo pela aventura garimpeira, sem contar empresá-

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infraestrutura de apoio a estas atividades, possuindo, ainda economia fortalecida pela pecuária e agricultura. O encanto e a magia do Pantanal poconeano residem na exuberância de sua paisagem aberta, de grandes espaços, emoldurando o espetáculo da natureza. As águas refletindo o céu azul e as nuvens claras, as aves em revoada à cata de alimento, em repouso ou em cismas indevassáveis, os bichos cuidando da vida, passeando ou descansando convidam à contemplação. Observar a paisagem pantaneira é sempre comovente, comunicando incrível sensação de paz e plenitude.

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CIDADES

rios, políticos e fazendeiros que passaram a capitalizar lucros mais significativos na produção aurífera. Desta forma, qualquer pessoa que queira ganhar dinheiro, basta simplesmente arrendar um garimpo em atividade na cidade e faturar milhares de dólares diariamente, visto que é atividade pouco ou quase nada controlada pelos organismos oficiais do Estado e da União. O PANTANAL DE POCONÉ O Pantanal é considerado a maior reserva ecológica do Mundo, manifestado pelo título de Patrimônio da Humanidade, dado pela UNESCO. Este verdadeiro patrimônio ecológico, habitado por incontáveis espécies de mamíferos e répteis, de aves e peixes, tem uma vegetação exuberante e é traduzido em movimento de formas, cores e sons, sendo um dos mais belos espetáculos da Terra. Em qualquer época o Pantanal de Mato Grosso é interessante, no entanto, se divide em dois momentos bem distintos, a época da cheia e a da seca: Período de Cheias: de dezembro a março. O período começa com o transbordar das águas dos rios pantaneiros, obrigando os animais a buscar as áreas mais elevadas do terreno, as cordilheiras. Esta é a melhor época do ano para se ver a plenitude do Pantanal com vastos campos totalmente alagados, onde se destaca

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toda a beleza da flora pantaneira. Nesta época podem ser avistadas as mesmas espécies de animais que se veem na época da seca só que em grupos menores e mais espalhados. Período da Seca: de junho a novembro. O período se inicia quando as águas baixam retornando aos leitos dos rios deixando os campos secos. A planície volta a ter o leito de seus rios definidos e várias lagoas aparecem e que com o passar dos dias podem secar totalmente. Durante este período, nestas lagoas encontramos uma grande concentração de animais se alimentando e se reproduzindo. TRANSPANTANEIRA Anualmente milhares de turistas de todas as partes do mundo visitam Poconé e se encantam com sua flora e fauna, além de certas peculiaridades como a estrada Transpantaneira e suas incontáveis pontes. É verdadeiramente emocionante o espetáculo natural e a magia que esse caminho proporciona. Durante a seca, milhares de animais se concentram nas laterais alagadas da pista, onde podem ser vistos, bem de perto, jacarés, cobras, gaviões, tuiuiús, tucanos e araras, e se o turistas tiver sorte pode até avistar o imponente cervo do pantanal. A rodovia Transpantaneira possui extensão de 145,3 quilômetros. Esta via atravessa o Pantanal matogrossen-

se a partir de Poconé e termina em Porto Jofre, na divisa com Mato Grosso do Sul. A Transpantaneira, MT-060, foi idealizada como representação de progresso e expansão do Estado de Mato Grosso. O engenheiro Gabriel Müller foi um dos mais entusiastas em prol da construção da rodovia, tendo sido seu dirigente. O objetivo era transformar Poconé num centro irradiador de economia, já que o projeto inicial da rodovia previa sua extensão até a cidade de Corumbá, no Estado de Mato Grosso do Sul, permitindo escoamento de safras de todo estado matogrossense, possibilitando o transporte fluvial, via Rio Paraguai. Mas, registros históricos nos dão conta de que as coisas não saíram exatamente como foi idealizado. Consta que o projeto de construção da rodovia Transpantaneira foi realizado através de projeto técnico científico adequado. No entanto, cortar o Pantanal através de uma rodovia poderia ser traduzido em prejuízo incalculável ao ecossistema regional e ao homem pantaneiro. Ainda nos dias de hoje, há quem deseje retomar o projeto de término da rodovia Transpantaneira, indo até as fraldas do Morro de Urucum. O fato é que a Transpantaneira é um dos pontos turísticos mais procurados no município, pois em qualquer período do ano é possível observar pássa-


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CIDADES

ros e animais que cruzam a rodovia como se estivessem (e estão) no quintal de suas casas. Falta mais interesse por parte das autoridades constituídas em realmente transformar a rodovia, que foi criada como Rodovia Parque, numa “Rodovia Parque de Verdade”. O CAVALO PANTANEIRO O Cavalo Pantaneiro possui características próprias adquiridas ao longo de quatro séculos, quando da sua chegada ao Pantanal e posterior aclimatação ao meio complexo e hostil em que se desenvolveu. O

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cavalo Pantaneiro é um mosaico racial, originariamente resultante de dois troncos primitivos étnicos: “EquusCaballusAsiáticus” e o “EquusCaballusAfricanus”. O Cavalo Pantaneiro é um patrimônio histórico que cooperou na fixação do homem no Pantanal e em todo território matogrossense, e é também um fator econômico-social, porque a totalidade da população que habita o Pantanal, tem nele importante meio de transporte, sobretudo nas cheias, e sua mais importante função econômica se faz sentir junto à bovinocultura.

CENTRO HISTÓRICO O Centro Histórico de Poconé possui área tombada de aproximadamente 17 mil metros quadrados e uma área de preservação de entorno, de aproximadamente 28 mil metros quadrados. A importância do Centro Histórico está relacionada à forte presença do homem pantaneiro e sua preservação propiciará a propagação para futuras gerações dos costumes e da cultura do homem pantaneiro. A sua preservação é dever de todos, assim como sua valorização é obrigação do poder público local, não devendo, portanto, ser esquecido, e sim conservar as características arquitetônicas do seu casario do período colonial. CASARÃO DE COTIA Trata-se de um dos mais importantes imóveis do período colonial em Poconé, localizado na rodovia que liga a cidade à N. S. do Livramento. Ao longe, da estrada, já se destaca o casarão pela exuberância da construção datada de 1800. As paredes foram feitas de adobe, barro socado e capim ondeos detalhes da arquitetura revelam os traços da cultura portuguesa. As circunferências, portas e janelas largas feitas com madeira nobre resistem ao tempo. Tudo levantado pelo trabalho escravo. O casarão foi construído no caminho para o garimpo. Por isso recebia muitos via-


lumeMatoGrosso jantes que dormiam em sua área externa. Outra curiosidade é que o local também serviu de ponto de abastecimento de alimentos para os soldados que participaram da Guerra do Paraguai entre 1865 e 1870. Na capela Nossa Senhora Abadia ao lado do casarão eram realizados os batizados e casamentos da época. Anos mais tarde, o local passou a ser usado para projetos sociais. CULTURA As tradições culturais estão vivas no município de Poconé. Existe desejo por parte da sociedade em conservar as características originais de festas,

danças, comidas típicas e das manifestações de fé. As manifestações folclóricas ocorrem durante as festas de São Benedito e de Nossa Senhora do Rosário, que é padroeira da cidade, porém podem ser vistas também em outras oportunidades. As comemorações dos festejos folclóricos são realizadas com missas, churrascos, bailes, danças, comidas típicas e quermesses. Como parte de divulgação e preservação da cultura popular são cultivadas as danças do cururu, siriri, dos mascarados e cavalhada. Dentre outras atividades culturais se destacam os trabalhos artesa-

nais feitos com os ramos de tecelagem, urubamba, madeira, couro e chifre, crochê e tricô, além do fabrico de doces e vinhos e da música poconeana. DANÇA DOS MASCARADOS É dança típica do município de Poconé, mescla de contra-dançaeuropéia, danças indígenas e ritmos afros. Sua grande peculiaridade é ser dançada exclusivamente por homens, sendo que metade deles usa trajes masculinos e a outra metade porta indumentária feminina. Os dançarinos cobrem seus rostos com máscaras coloridas, assim como são vivamente vibrantes as cores

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CIDADES

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semelha a qualquer dança encenada no Brasil, sendo misteriosa sua origem. Por estar bastante difundida, a Dança dos Mascarados é referência não apenas em Mato Grosso, mas no Brasil, permitindo que seus dançarinos e músicos se apresentem em feiras estaduais e nacionais onde recebem convites especiais para sua apresentação. CAVALHADA Trata-se de um dos maiores eventos culturais do estado de Mato Grosso, que acontece todos os anos nas primeiras semanas de junho, durante as festividades alusivas ao glorioso São Benedito. O evento é realizado na pista oficial, localizada na

parte alta da cidade, no clube Cidade Rosa, que durante o evento torna-se um grande campo de batalha entre cavaleiros Mouros e Cristãos que preservam a continuidade de uma tradição que ocorre há vários anos sendo praticada desde a origem de Poconé. A Cavalhada é uma batalha fictícia travada entre mouros e cristãos. Para que seja realizada, são utilizados dezenas de cavalos e cavaleiros, que se engalfinham, com o principal objetivo de salvar uma princesa, que está presa numa torre de castelo, permanentemente vigiada. Esta tradição vem sendo mantida através dos tempos, apesar de inúmeras dificuldades encontradas.

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de suas vestimentas, usando chapéus com plumas, espelhos e outros enfeites, desempenhando função de damas e de galãs. O Bando ou Mascarados é composto por um marcante, doze pares e três balizas (três galãs na frente do grupo de mascarado carregando o mastro). A apresentação se divide em 12 partes: cavalinho é a entrada, depois se seguem a primeira e a segunda quadrilha, trança-fita e Joaquina, Arpejada, caradura, Maxixe de Humberto (assim denominada porque foi inventada pelo músico Humberto, da Banda dos Mascarados), carango, lundu e, por fim, a retirada. A Dança dos Mascarados de Poconé não se as-

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CIDADES

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TURISMO A cidade de Poconé é o Portal de Entrada do Pantanal de Mato Grosso. Quem visita o Pantanal compreende a necessidade de conservar e proteger esse patrimônio inigualável, que a natureza reservou ao homem. A planície pantaneira é composta basicamente de campos e áreas inundáveis que abrigam, entre outros animais, jacarés, capivaras, antas e várias espécies de aves, incluindo o tuiuiú, pássaro símbolo da região. A presença de lagoas de água salgada gera especulações e explicações. Arqueólogos e geólogos discutem a possibilidade desta região ter sido coberta pelo mar, há milhões de anos, ou ainda, pode-se dizer que as águas salgadas podem ser

consequência da concentração de sais minerais presentes na água depois da evaporação, no período da seca. Durante as vazantes ou nas baías, os jacarés dominam a paisagem. Quase invisíveis no meio dos aguapés, eles ficam de tocaia durante horas à espera de uma garça, de um socó ou de uma jaçanã, para variar o cardápio que comumente se constitui de peixes. Uma das atividades turísticas mais desenvolvidas no Pantanal é a focagem noturna de jacarés, feita em barcos pelos inúmeros rios. O Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense, com área de 135.000 ha, localiza-se no extremo sudoeste de Mato Grosso, na confluência dos rios Paraguai e Cuiabá, pertencendo ao município de Poconé. É a região mais selvagem do Pantanal, oferecendo o espetáculo de sua fauna com jacarés, onças, capivaras, jaguatiricas, tucanos, garças, tuiuiús, além de inúmeros peixes. A flora também é muito rica. O acesso ao parque só é feito de barco, e o Centro de Visitantes fica em Poconé. TURISMO DE AVENTURA O conceito de turismo de aventura fundamenta-se em aspectos que se referem à atividade turística e ao território em relação à motivação do turista, pressupondo o respeito nas relações institucionais, de mercado, entre os pra-

ticantes e com o ambiente. Como estes esportes envolvem emoções e riscos controlados, o uso de técnicas e equipamentos específicos, a adoção de procedimentos para garantir a segurança pessoal e de terceiros e o respeito ao patrimônio ambiental e sócio-cultural são exigências do mercado. Exatamente neste contexto se encaixou o projeto ULTRA MACHO, que em novembro último levou milhares de pessoas à Poconé, para participar de uma aventura multiesportiva no Pantanal. Foi o encerramento de um circuito de provas extremamente competitivas que ocorreu no ano de 2015, que os atletas participantes classificaram como o melhor de todos os eventos realizados pela empresa que criou o projeto, há cerca de 5 anos, em Mato Grosso, e dirigida por Maria Rita e Tomio Uemura, empresários do setor de esporte e turismo de aventura no estado.

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FESTA DO SENHOR DIVINO A devoção ao Divino Espírito Santo no Brasil tem raízes lusitanas e foi trazida ao solo Brasileiro pelos colonizadores. E Poconé é uma das poucas cidades Brasileiras que pode se orgulhar de manter esta tradição. A festa do Divino é caracterizada pela novena, que antecede ao festejo, tendo duração de uma semana, que é recheada de muito barulho, com show pirotécnico, alvorada festiva, shows populares, cantos, visitas da bandeira aos lares das famílias poconeanas, e é considerada como uma benção de confraternização, acima de tudo, de devoção e fé.

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TURISMO

Setor Hoteleiro Registra Queda em Produção

Os principais hotéis de Cuiabá indicaram que no ano passado, a ocupação foi de 63% em se tratando de uma diária média de R$ 234,00

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POR MALU SOUZA


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s números fechados até o outubro de 2015, preocuparam os hoteleiros, que registraram uma ocupação de 55%, com diária de R$ 186,00, além dos meses de novembro e dezembro, que não atenderam as perspectivas. Em relação as despesas, alguns fatores estão influenciando como o alto custo da energia elétrica, com o aumento de 27% nas tarifas, e os gastos fixos como a folha de pagamento, na ordem de 12%. O gerente geral do Intercity, que também é membro da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira, Carlos Peldiak, informou que 80% dos hóspedes que vem a Mato Grosso, geralmente vem a turismo de negócio, participar de reuniões ou congressos. Ele explicou ainda que diante da crise financeira, as em-

presas diminuíram custos com diárias e restringiram a permanência de funcionários em apenas dois dias, o que antes era de quatro a cinco dias de hospedagem em Cuiabá. “Estamos tentando atrair pessoas do interior do estado, que geralmente vem á Cuiabá para participar de shows, eventos, como também aqueles que vem para tratamento de saúde, ou para estudos. Quem vem de outros estados para conhecer o Pantanal por exemplo, não fica na capital, é um turista de passagem por aqui” observou. Como uma das alternativas para manter a ocupação, o setor hoteleiro busca parcerias com as entidades que fomentam o turismo e que trabalham na captação de eventos. A meta é unir forças para o crescimento do setor. O presidente do Conse-

lho Nacional de Turismo-CNTUR/MT, Jaime Okamura, e organizador da Feira Internacional de Turismo do Pantanal-FIT, ressaltou que o evento vai movimentar todos os segmentos e atrair muitos turistas para Mato Grosso. As lideranças do trade turístico analisaram que o impacto da Copa do Mundo frustrou expectativas no desempenho do setor hoteleiro, que teve picos de ocupação apenas em junho, com retração no mês de julho, pois Cuiabá recebeu apenas jogos da primeira fase do Mundial. Outro aspecto é a oferta de leitos, com a inauguração de novos hotéis, além de reforma e ampliação de outros. Nos últimos anos, entraram em operação 16 novos hotéis em Cuiabá, com a previsão de abertura de mais três, até Junho de 2016.

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PA R A Q UA N D O VOCE FOR

BARÃO DE MELGAÇO A mais pantaneira das cidades de Mato Grosso, localizada no Alto Pantanal e de fácil acesso, tanto por estrada asfaltada, como por via fluvial, através do Rio Cuiabá. Cidade de história antiga e povo hospitaleiro que tem na pesca e no turismo uma de suas principais atividades comerciais. Vale a pena curtir Barão de Melgaço e saborear um peixe às margens do Rio Cuiabá, no centro antigo da cidade,

que tem esse nome em homenagem ao francês Antônio Leverger, militar, político e historiador com muito serviço prestado à Mato Grosso. Importante conferir lista de pousadas que circundam as baías de Siá Mariana e Chacororé e conhecer de perto as belezas do Pantanal de Mato Grosso. Como chegar: Fica a 100 km de Cuiabá, através da Rodovia MT040 /Palmiro Paes de Barros

SALTO UTIARITI Fenomenal queda d’água de 80 m de altura no Rio Papagaio, localizado no município de Campo Novo do Parecis, em território de reserva indígena. Segundo dados históricos a denominação Salto Utiariti foi dado por Cândido Rondon, em referência a um fato ocorrido em 1911, com o tenente Amarante, da Comissão Rondon, que apontou sua arma para abater um gavião, no que foi prontamente proibido pelo comandante, que atendeu ao pedido de um indígena, que afirmava ser o gavião uma espécie de totem da tribo e por isso deveria ser preservado. Trata-se de um dos mais belos cartões postais de Mato Grosso, digno de ser visitado. Endereço: Reserva Indígena Utiariti, Município de Campo Novo do Parecis Obs: Deve-se obter prévia permissão da Funai para adentrar à reserva indígena Como chegar: xx

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TOROARI É o nome bororo para o Morro de Santo Antônio, município de Santo Antônio de Leverger, centro sul de MT. Na língua bororo o termo Toroari significa Morro do Gavião. Este morro é sagrado para o povo bororo, que acredita ter sido neste monte o ressurgimento da grande nação indígena bororo, após devastador dilúvio, ocorrido em tempos ancestrais. Endereço: Distrito de Morrinhos, Município de Santo Antônio de Leverger Como chegar: Rodovia Palmiro Paes de Barros, entre Cuiabá e Santo Antonio de Leverger


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EUBIOSE Localizado na cidade de Nova Xavantina, região nordeste de Mato Grosso, o templo da Sociedade Brasileira de Eubiose chama a atenção por sua concepção arquitetônica clássica helênica. Ali eubióticos se reúnem sistematicamente, em busca do aperfeiçoamento de suas vidas. Templos semelhantes existem no Brasil em outros estado e são os centros nevrálgicos do movimento eubiótico. Eubiose é um desafio, um caminho para a aquisição de uma nova forma de ver a vida e vivê-la. Para conhecer melhor a Sociedade Brasileira de Eubiose, você pode entrar em contato diretamente com um dos Departamentos,

abrindo-se para diálogo e reflexão. Os Departamentos assumem a função de verdadeiros colégios iniciáticos, em que é possível debater e confrontar idéias. Como chegar: BR-158, entre os municípios de Água Boa e Barra do Garças

LUCAS DO RIO VERDE O município de Lucas é uma das mais importantes referências no chamado “turismo tecnológico”, por fazer parte dos municípios que mais produzem grãos no estado de Mato Grosso. É altamente compensatória uma visita à essa cidade, que foi fundada na década de 1970, às margens do Rio Verde, originalmente por agricultores vindos de Ronda Alta/ RS, para conhecer de perto a magia de se promover o turismo tecnológico, possuir um time de futebol na série B do campeonato Brasileiro e, ainda, colecionar títulos nacionais na área da educação, apresentando um dos melhores índices de desenvolvimento humano do país. Endereço: Município de Lucas do Rio Verde Como chegar: Rodovia BR-163, norte MT

ESTIVADO Ponto turístico na localidade de Bom Jardim, município de Nobres, Vale do Rio Cuiabá. Trata-se de um lugar onde a natureza privilegia o ser humano por sua beleza e esplendor, com a formação de um lago repleto de peixes, a exemplo de piraputangas, piaus, dourados e outras espécimes da Bacia do Prata, aliado à formidável flora ornamentada por rica folhagem natural tendo como base principal enormes buritis e sarãs. É ponto de visitação obrigatória para quem vai àquela localidade. Por ser propriedade particular é cobrada taxa de visitação e é proibida a pesca. Como chegar: BR-158, Distrito de Bom Jardim, município de Nobres

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R E P O RTAG E M ESPECIAL

Rastros do Nazismo A suástica em ladrilhos hidráulicos cuiabanos

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POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA

ladrilhos fabricados em Cuiabá na década de 1930, e assentados em algumas residências, na área central da capital de Mato Grosso, seriam traços de simpatia ao nazismo ou simples objetos decorativos? Cuiabá, no período do Estado Novo, que coincidiu com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, tendo os germânicos como protagonistas, ocorreram fatos correlatos com os feitos bélicos do Eixo, formado pela Alemanha de Hitler, pelo Japão de Hiroito e pela Itália de Mussolini, que tinham contra si todos os exércitos do mundo, na época. Como o ocorrido com a Guerra do Paraguai, ocasião em que Mato Grosso se destacou por atos de heroísmo e patriotismo notabilizados pelos Voluntários da Pátria, não foi diferente o chamamento havido para compor o quadro de Pracinhas Brasileiros em campos de guerra na Itália, na década de 1940. Porém, numa demonstração de simpatia aos propósitos políticos do nazismo e pela liderança exercida por Adolf Hitler, pessoas encomendaram a fabricação de ladrilhos hidráulicos, com desenhos que caracterizavam, de forma disfarçada, a suástica, símbolo maior do nazismo, que sempre esteve associada às questões de racismo e propósitos de supremacia da raça alemã, a ariana, sobre outras. A encomenda dos ladrilhos foi feita à uma indústria cuiabana de cerâmica, naqueles conturbados anos 1930, sendo imediatamente assentados os ladrilhos em muitas casas, notadamente no hoje chamado de centro histórico de Cuiabá. Não se tem o número exato de casas em que foram assentados os ladrilhos hidráulicos com motivos da suástica, no entanto, atesto que existem, ainda em 2015, algumas residências ou casas de comércio que não esconderam ou retiraram tais pisos nazistas.


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R E P O RTAG E M ESPECIAL

O LIVRE ARBÍTRIO Não se deve julgar com a realidade de hoje fatos ocorridos há tempos atrás. Isso vale para muitas situações, inclusive para tratarmos desse tema. Os ladrilhos nazistas são apenas testemunha de uma fase da história mundial e servem para induzir à reflexão sobre os fatos que envergonham e repugnam a humanidade em vista dos resultados apresentados em

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números, pela destruição e matança indiscriminada de pessoas. No entanto, naquele período, ainda no começo da intensa propaganda política promovida por Goebells, o Ministro da Propaganda de Hitler, o nazismo se apresentava como a forma de redenção do povo alemão, com propósitos de soerguimento de sua economia e honra, especialmente pela derrota sofrida na Pri-

meira Guerra Mundial (19141918) e os efeitos humilhantes obtidos com o Tratado de Versalhes, em 1919. A euforia que tomou conta de alemães e simpatizantes do nazismo, cuja ascensão ocorreu em 1933, após acontecimentos catastróficos mundo afora, a exemplo da crise da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 1929, tinha motivação ideológica, de esperança de melhor fu-


lumeMatoGrosso turo. Nesse período não somente alemães admiravam a auspiciosa recuperação alemã. No Brasil ocorreram movimentos organizados em apoio ao nazi-facismo, como a Ação Integralista Brasileira, que vicejou entre os anos de 1932 e 1937, tendo em Plínio Salgado seu mais importante nome. Não deve-se, portanto, condenar absolutamente ninguém por admirar regi-

mes exitosos. O que ocorreu posteriormente, com o regime nazista e os desvarios de Hitler é imperdoável, como a morte de milhões de judeus em fornos crematórios e outras barbaridades, visto que tais propostas não estavam descritas nos panfletos e cartazes distribuídos à sociedade e imprensa mundiais. Pode-se concluir que ocorreu o que hoje chama-

mos de propaganda enganosa com a maioria das pessoas, inclusive com o povo alemão, pois parte dos germânicos reprovaram os excessos do Füherer. Portanto, as famílias cuiabanas que admiravam o nazismo e seu símbolo maior, a suástica, não devem ser julgados na contemporaneidade. Devemos apenas analisar a situação e tirarmos nossas próprias conclusões.

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R E P O RTAG E M ESPECIAL

Está lá, para quem quiser ver e experimentar sentir o que pensavam os homens que os fabricaram e os assentaram em corredores e com eles decoraram salas, quartos e cozinhas de suas casas

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A MESMA PRÁTICA, EM OUTRAS PLAGAS Há que se registrar que em outras cidades, em outros estados Brasileiros, ocorreram fatos semelhantes, a exemplo de Paulínia, município paulista, onde o italiano Amadeu Galmacci, nascido em 1897 e falecido no Brasil em 1982, protagonizou histórico fato relacionado a esse tema. Galmacci exerceu importantes cargos públicos em Paulínia, tendo sido vereador e presidente da Sociedade Italiana. Por questões de interesses empresariais fundou uma indústria de fabricação de artefatos de cimento e, por sua grande admiração ao nazismo deu início à produção de ladrilhos hidráulicos com desenho da suástica, inclusive assentando-os em sua residência. Ainda no estado de São Paulo, de espírito arraigado, naqueles tempos, pelo Integralismo de Plínio Salgado, foram assentados ladrilhos hidráulicos com desenhos da suástica na sede da Fazenda Cruzeiro do Sul, em Paranapanema, sudoeste paulista. A constatação da existência dos ladrilhos com motivação nazista foi descoberta em 1990, de forma acidental, pelo novo dono do lugar, José Ricardo Rosa, conhecido por Tatão. Da mesma maneira com os fatos ocorridos em Cuiabá em Mato Grosso, Paulínia e Paranapanema em São Paulo e em vários outros pontos do país, vamos citar apenas

mais um ponto de assentamento de ladrilhos hidráulicos, desta feita no histórico bairro da Lapa, no Estado do Rio de Janeiro. Trata-se de prédio construído em arquitetura art décor e que abrigou, por anos, um hotel localizado na Rua do Riachuelo, nas imediações dos Arcos da Lapa. Nesse prédio, que atualmente é de caráter residencial, foram assentados em seus corredores ladrilhos hidráulicos com desenhos da suástica. Está lá, para quem quiser ver e experimentar sentir o que pensavam os homens que os fabricaram e os assentaram em corredores e com eles decoraram salas, quartos e cozinhas de suas casas. CAMPO MINADO DE GERVANE DE PAULA Importante contextualizar ações desenvolvidas pela sociedade cuiabana no caso dos ladrilhos hidráulicos com desenhos da suástica encontrados em várias casas na capital. No ano de 2005, o genial artista plástico Gervane de Paula, promoveu mostra individual de seu trabalho, em Cuiabá, à qual chamou de “Campo Minado - Reflexões de um Artista”. Sempre generoso, contou com a participação de colegas artistas e buscou, com suas idéias, questionamentos e angústias, fazer o público encontrar sentimentos de estranheza, surpresa, conexão e sintonia. Certamente Gervane conseguiu seu intento com a


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bre o seu “Campo Minado’ de 2005, exatamente há dez anos atrás, Gervane disse que esse tema ainda é um tabu e que pouca gente, ou quase ninguém, ousa entrar nessa seara e pesquisar, bem a fundo, o porque dos ladrilhos hidráulicos com desenhos da suástica proliferam em Cuiabá na década de 1930. Quem estava por detrás de tudo isso? - se pergunta o artista. A resposta não é tão difícil assim, mas certamente o campo é bastante minado. A SUÁSTICA Em 1920, foi criado o Partido Nacional-Socialista alemão e, por indicação do poeta Guido von List, o emblema do partido passou a ser a suástica solar. Com a ascensão do nazismo ao poder a suástica tornou-se o símbolo máximo daqueles que defendiam identidade ariana ou a raça pura. Tomados por conhecimentos e pesquisas em busca de poderes cósmicos, os nazistas alteraram a posição original do símbolo, fazendo com uma das pontas se direcionasse para baixo, e que, em termos de magia negra, poderiam obter êxito em qualquer empreitada. Tais conhecimentos, ou falta deles, promoveram intensas movimentações de alemães em várias partes do mundo, em busca de poderes subjetivos. Por conta disso tudo os nazistas puseram-se, na-

queles tempos de guerra, também em busca do Santo Graal e da Arca da Aliança, em diversos pontos da Europa, Ásia, África e América do Sul. O cientista alemão Ludwig Müller afirmava que a suástica representava a suprema divindade durante o período da Idade do Ferro. Na Idade Média, a interpretação mais geral de sua simbologia estava relacionada com o movimento e com o poder do Sol. A trajetória da suástica merecia melhor sorte, visto que não foi criada pelos nazistas, que mancharam sua história, que vem de tempos remotos e encontrada em culturas do período neolítico e considerada símbolo religioso. Registra-se que a suástica foi encontrada em túmulos cristãos no Oriente Médio e em regiões da Bretanha, Irlanda, Micenas e Gasgonha. Também entre os etruscos, hindus, celtas, gregos e germânicos. Ainda na Ásia Central e entre os povos americanos mais desenvolvidos, a exemplo dos astecas, maias, incas e toltecas. Com o fim da Segunda Guerra, em 1945, o símbolo foi oficialmente aposentado, mas continua sendo usado por grupos neo-nazistas. Contemporaneamente o nazismo ou neo-nazismo está vivo no coração de muita gente e cheio de simpatizantes mundo afora, notadamente na Europa.

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contextualização das peças produzidas e apresentadas. Com imensa dedicação ao projeto, que gestou a partir do ano 2000, Gervane induziu o visitante a um campo minado, com 100 bombas distribuídas por seis metros. Deu estocadas na obra de Picasso e Matisse, com as figuras de pênis enormes e fez referências críticas à violência urbana, desmatamento e ao uso indiscriminado de drogas. Define-se a mostra toda como impactante. Porém, causou choque na mostra, a obra de Gervane intitulada “Ladrilho Nazista”, onde o artista, com a parceria do fotógrafo José Maurício, desnuda uma série de ladrilhos hidráulicos cuiabanos, produzidos por admiradores do nazismo, com desenho disfarçado e assentados em antiga residência do centro histórico da capital, deixando-os à mostra com contornos em cores verde e amarelo. Nesse trabalho Gervane se lança ao chão para exercer seu papel de artista e depois passeia pelas lentes de José Maurício pisoteando a suástica, em protesto à disseminação do nazismo em terras cuiabanas. Nesse período Gervane de Paula levou a sociedade contemporânea à reflexão sobre os horrores que o nazismo implantou em muitos países e seus catastróficos resultados, sob a égide de intolerância religiosa, de raça e de gênero. Tecendo comentários so-

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DEZEMBROS DE NOSSA HISTÓRIA DIA 02/1903

»» Nasce em Bragança

Paulista o contabilista, garimpeiro, revolucionário, seringalista, empresário, pecuarista, político e poeta Mário Spinelli. Foi deputado estadual e presidiu a ALMT.

Cáceres em 1948, atuou junto a Carlos Marighella e teve intensa militância, tanto no Brasil quanto no exterior.

DIA 07/1848

DIA 02/1945

DIA 10/1970 Criada a UFMT, através da Lei Federal nº 5.647.

DIA 12/1913 Início da Expedição Roosevelt-Rondon, feito histórico e científico memorável, encabeçada por Theodore Roosevelt, ex-presidente do USA (1904-1908) e o Marechal Cândido Rondon.

DIA 12/1916

»» Eurico Gaspar Dutra é eleito por voto popular presidente do Brasil. DIA 4/1943 A Expedição RoncadorXingu, chefiada pelo coronel Vanique, partiu de Barra do Garças em direção à região do Xingu, com propósitos de reconhecimento e ocupação da região nordeste de MT.

DIA 06/1868 Ocorre a Batalha de Itororó, na Guerra do Paraguai.

DIA 06/1951 Getúlio Vargas envia ao Congresso o projeto que cria a Petrobras.

DIA 06/1974 Morre no Chile a cientista social e militante política, Jane Vanini. Nascida em

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Nasce em Cuiabá, Joaquim Duarte Murtinho, médico homeopata, engenheiro civil, professor, financista, político e estadista.

Nasce em Cuiabá LuisPhilippe Pereira Leite, advogado, político, cartorário, historiador e escritor. Presidiu o IHGMT por 20 anos.

DIA 12/1998

DIA 08/1912 Morre na cidade do Rio de Janeiro a cuiabana Ludovina de Albuquerque Portocarrero, heroína nacional da Guerra do Paraguai, por seus feitos no Forte de Coimbra, na invasão paraguaia.

DIA 08/1913 O literato e acadêmico padre Raimundo Pombo Moreira da Cruz nasce em Cuiabá. Em 1982 disputou e perdeu eleição para o governo de MT. Faleceu em 1989.

DIA 9/1882 Através do D. I. n.º 81.799, o industrial Thomás Laranjeira conseguiu licença para explorar extensas áreas de terras com ervais nativos (ilex paraguariensis).

Homologação da Terra Indígena Marãiwatsede, de índios xavánte, com área de 230 mil ha, localizada nos municípios de Alto Boa Vista e São Félix do Araguaia, nordeste de MT.

DIA 13/1920 Nasce em Madalena/RJ, Nilza Pipino, esposa do colonizador Ênio Pipino, morre em acidente aéreo, em Maringá/PR, em 1984.

DIA 14/1968 O presidente Costa e Silva assina o AI-5, que deu a ele poderes absolutos


posteriormente, mortos e com sinais de tortura.

DIA 15/1851

DIA 20/1886

Nasce em Cuiabá, Antônio Paes de Barros - Totó Paes. Ao fundar a usina do Itayci tornou-se “Pai da Indústria de MT”. Faleceu em 1906, vítima de emboscada na fábrica de pólvora, no Coxipó.

Nasce em Cuiabá Philogônio de Paula Corrêa, professor, jornalista, historiador, literato e político. Foi chamado por Barnabé de Mesquita de “Cavaleiro da Instrução e Paladino da Cultura”.

DIA 15/1953

DIA 20/1979

Criado o município de Chapada dos Guimarães, fundado em 1751.

É criado o município de São José do Rio Claro, fundado pelo colonizador Domingos Briante.

DIA 17/1869 Nasce o jornalista, militar e político Avelino Antonio de Siqueira, que foi prefeito de Cuiabá e escreveu em inúmeros jornais da capital.

DIA 21/1912

DIA 17/1980

DIA 24/1926

Nasce em Livramento o jornalista, empresário e agitador cultural Cilo Torres Seixas.

É morto em combate contra a Coluna Prestes, em Córrego Seco, região do Sangradouro, o tenente Nestelau Brachtel Dewullsky.

retomada em 13 de junho de 1867, sob liderança de Antônio Maria Coelho.

DIA 26/1979

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e suspendeu garantias constitucionais.

Criado o município de Água Boa, nordeste MT, margens da BR-158.

DIA 28/1977 Morre César Albisetti, missionário salesiano e pesquisador da etnia do bororo, região leste MT. Recebeu o título Boe Imigera, distintivo plumário de cabeça.

DIA 30/1938 Morre Feliciano Galdino de Barros, nascido em Barranco Branco, em N S do Livramento. Escreveu Sombra, Lendas Matogrossenses e Perigo Yankee. Foi ferrenho defensor dos direitos humanos e negros do quilombo de Mata Cavalos.

DIA 31/1925

DIA 25/336 A primeira celebração de Natal no dia 25 de dezembro ocorre em Roma.

DIA 25/1883 O presidente João Figueiredo sanciona a lei que considera crime a reprodução ilegal de obras literárias, artísticas, científicas e fonográficas.

DIA 17/1986 Embates entre posseiros e o dono da Fazenda Mirassol, em Jauru, oeste de MT. Vários posseiros desapareceram e alguns foram encontrados,

Criada a Sociedade Abolicionista de MT, com o objetivo de defender os direitos dos negros escravos e incentivar a abolição da escravatura na Província.

É realizada em São Paulo a primeira corrida de São Silvestre.

DIA 26/1864

DIA 31/1943

Invasão paraguaia em Corumbá e Forte de Coimbra, liderada por Vicente Barrios. A cidade foi

Criado o município de Aripuanã, noroeste de MT, com sua sede a 200 km de distância da atual.

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CULINÁRIA

Galinha Caipira Com Pequi

A chef de cozinha Edna Lara oferece, para a edição de dezembro da LUME Mato Grosso, a receita de Galinha Caipira com Pequi, um prato tipicamente regional, fácil de ser feito e bastante apreciado em restaurantes e lares de Mato Grosso

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dica vem especial. Também utilizado na fabricação de licores, o pequi apresenta-se carnudo e sua polpa é de coloração amarelo intenso, revelando-se no miolo do fruto um número excessivo de espinhos. O pequizeiro é da família das Caryocaraceae, espécie C. Brasiliense. Tem tronco tortuoso e pode chegar a até 10 m de altura. Prolifera em região do cerrado e suas flores são grandes, com botões rosados, que ao se abrirem deixam ver estames numerosos maiores do que as pétalas. O pequi está atrelado a um ditado popular utilizado, difundido há tempos, pelas pessoas do Vale do Rio Cuiabá: Pequi-Roído. É referência a indivíduo de vil comportamento. É compreensível, pois no pequi após ser comido, ou roído, como se diz, permanecem apenas espinhos.

Receita de Edna Lara INGREDIENTES

»» 01 galinha caipira »» 01 cebola média picadinha »» 06 dentes de alho socados »» 02 tomates picados, sem sementes »» 01 pimentão picado, sem sementes »» 01 folha de louro »» 1/2 xícara (chá) de vinagre ou vinho branco seco (opcional) »» 12 pequis »» Sal e pimenta-do-reino a gosto »» 01 limão »» 01 maço de cheiro-verde picadinho

COMO FAZER

»» Em uma panela, coloque a água e o sal. Acrescente

»»

o pequi e deixe cozinhar até ficarem macios. Reserve. Tempere a galinha com sal, alho, pimenta-do-reino, folha de louro, limão, vinagre ou vinho branco seco. Deixe repousar por duas horas. Em uma panela grande com óleo, frite os pedaços de galinha e reserve. Retire o excesso de óleo e, na mesma panela, coloque a cebola, os tomates, o pimentão e a folha de louro. Refogue-os bem. Coloque os pedaços fritos na panela e deixe-os cozinhar em fogo brando. Coloque os pequis e deixe cozinhar mais um pouco. Desligue o fogo. Salpique cheiro-verde. A fruta nunca pode ser mordida, pois contém espinhos que podem causar graves ferimentos na cavidade bucal. Deve-se raspá-lo entre os dentes ou com uma faca.


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FOTOS LAÉRCIO MIRANDA

Edna Lara é gastrônoma e culinarista, formada pela Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro. Autora de duas edições do livro “Diversidade da Gastronomia”. A segunda nas versões português e inglês

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Patrimônio Arquitetônico Centro histórico cuiabano e o PAC das cidades históricas

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POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA

s antigas ruas de Cuiabá, cobertas de paralelepípedos, que dividiam suas histórias com os imensos casarões dos períodos colonial e imperial, podem ter de volta parte de seu resplendor e se tornar efervescentes cartões postais de Mato Grosso. Os casarões do centro histórico de Cuiabá, que exalam história, cultura e arte foram construídos em taipa e adobe, do barro e cascalho das encostas dos morros que circundam o ribeirão da prainha, que já deu muito peixe e ouro à gente cuiabana. A antiga Cuiabá de ruas

tortuosas não teve plano prévio arquitetônico para sua implantação, a exemplo do que ocorreu com vila bela da santíssima trindade, a primeira capital de Mato Grosso. A questão é que Cuiabá não teve ocupação planejada, mas serviu aos propósitos lusitanos de posse e domínio territorial que lhes permitiram o alargamento das fronteiras do Brasil. Para o arquiteto e historiador Moacyr Freitas, que fez acurado trabalho sobre os primórdios cuiabanos, nos primeiros tempos as construções eram paupérrimas e foram, com o tempo, assimilando o estilo colonial

português - “seus primeiros povoadores construíam de modo definitivo, usando o modelo construtivo que os bandeirantes paulistas trouxeram. Assim, tiveram as primeiras casas e capelas construídas de pau-a-pique, cobertas de palha ou capim e, depois, de grossas paredes de taipa de pilão e adobes.” - Afirmou. Comparando a arquitetura colonial cuiabana com a de cidades mineiras diz - “os cuiabanos não desenvolveram a arquitetura barroca”, - referindo-se a São João Del Rey, tiradentes e ouro preto, e continuando finaliza -”ficando na simplicida-

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de apenas dos casarões senhoriais e sobrados.” Com esses propósitos arquitetônicos Cuiabá adentrou ao século xix com tendências ao neoclássico, inspirados em modelos europeus. Na década de 1930 a cidade do rio de janeiro passou por intensa transformação em seu estilo arquitetônico, influenciando de forma visceral a capital de Mato Grosso, refletido nas obras particulares e públicas, do governo de Júlio Müller, após o ano de 1939. Infelizmente, pouquíssimos exemplares do patrimônio arquitetônico original de Cuiabá sobrou. A grande maioria foi posta abaixo, em nome do progresso de plantão e da vontade de ganhar dinheiro com o mercado imobiliário. A devassa começou com a derrubada do primeiro palácio dos capitães generais, no antigo canto do sebo, ou praça da mandioca, ainda no começo do século xx. Era um casarão simples, mas era históri-

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co. Coisas assim aconteceram porque, segundo Moacyr Freitas - “o velho não resistiu a essa tendência do novo que condenava o arcaico, tido como sinônimo de feio”. Só para refrescarmos a nossa memória registra-se que o antigo palácio alencastro, localizado onde hoje é a prefeitura de Cuiabá, foi derrubado desnecessariamente, em fins da década de 1950, para dar lugar à modernidade. O mesmo aconteceu com a catedral de Cuiabá, uma jóia rara que deveria ter sido preservada, mas foi colocada ao chão sob a ação de dinamite, fato este aplaudido por uma minoria com noção distorcida do que realmente é cultura e preservação de nossos valores. Uma triste página para a história de Mato Grosso. O TOMBAMENTO O processo de tombamento do centro histórico de Cuiabá feito pelo IPHAN - instituto do patrimônio histórico e artístico nacional, na década de 1970, freou o ímpe-

to dos proprietários de imóveis que preferiam derrubar os antigos casarões e construir em seu lugar novos prédios residenciais e comerciais ou estacionamentos. Alguns driblaram a lei e conseguiram levar adiante seus torpes propósitos, infelizmente. Posteriormente novas e severas leis de preservação, e com apoio municipal e estadual, a movimentação foi benéfica em direção da conservação do que sobrou do antigo patrimônio arquitetônico cuiabano. Cabe ao IPHAN a tarefa de orientar e fiscalizar os mais de 600 imóveis tombados no centro histórico de Cuiabá. Dentro desse perímetro existem imóveis que pertencem à união, ao estado, ao município, à cúria metropolitana, às famílias e comerciantes locais. É comum as pessoas não entenderem o que é um bem tombado. Simplesmente não compreendem a dinâmica do processo, que de certa forma é simples, mas necessita de esclarecimen-


RECUPERANDO CASARÕES O IPHAN, através do PAC das cidades históricas desenvolve projetos de recuperação de alguns casarões em Cuiabá. As obras já começaram em muitos pontos, devendo ser concluídas, a sua maioria, no ano de 2016. No entanto, quando se trata de trabalhos de recuperação de patrimônio arquitetônico, numa cidade como Cuiabá, podem acontecer fatos inesperados, com necessidade de acuradas pesquisas arqueológicas em visto de achados ou de situações inesperadas ou inusitadas. Tal fato deu-se no casarão da antiga casa PROCON, localizado na rua de cima, ou rua pedro celestino, a 50 m da praça alencastro. Foi encontrado pela empresa archaios, que ganhou a licitação para tal empreita, um poço de 2,45 m de abertura, revestido de pedra canga lavrada, em bom estado de conservação. O poço está parcialmente soterrado e vai ser analisado por técnicos e especialistas indicados pelo IPHAN. Segundo o goiano adão rodrigues, técnico em restauração, com larga experiência na área e responsável pela obra, o poço estava coberto por madeira e ferro, além de

um piso cimentado com cerâmica. Não se pode emitir nenhum parecer oficial, mas estima-se que o poço deva ter a mesma idade da casa, bem mais de 2 séculos. A mesma casa apresenta outras curiosidades, a exemplo de quatro tipos de pisos superpostos, sendo o primeiro um piso sextavado, o segundo pintado, o terceiro em pastilhas e o último em cerâmica moderna. Outro trabalho que está sob a tutela de adão rodrigues é a restauração da antiga assembleia legislativa, na esquina das ruas campo grande e pedro celestino. Nesse lugar ele trabalha com o auxílio de quatro haitianos que desempenham muito bem o trabalho de pedreiro e auxiliares. Rodrigues se mostrou impressionado com a largura das paredes do lugar e com a conservação do madeiramento do telhado, que é original, especialmente com a viga da cumeeira, de 10,5 m, em uma só peça de madeira, com espessura de 25x25 cm. Outra informação digna de nota é que, apesar do prédio ser muito antigo, só apresenta uma pequena fissura em suas paredes, de pequena detecção, além de possuir intrigante tesoura invertida em seu madeiramento de telhado, um sistema incomum, mas de boa qualidade e garantia até os dias de hoje. O PAC EM CUIABÁ É BOM, MAS É POUCO Implantado em 2007, o PAC-programa de aceleração

do crescimento, para execução de grandes obras de infraestrutura social, urbana, logística e energética no Brasil, passou, a partir de 2013, a contemplar a recuperação e revitalização do patrimônio histórico e arquitetônico nacional. Este investimento dá-se através do PAC - das cidades históricas com o IPHAN firmando convênio com a prefeitura dos municípios. Em Cuiabá foram contemplados 10 casarões. Importante registrar que a prefeitura de Cuiabá, através da Secretaria de Cultura do Município, procedeu à produção dos projetos arquitetônicos e executivos dos imóveis que recebem a intervenção, tanto os casarões, quanto as praças, cumprindo, desta forma, a sua parte neste empreendimento. A previsão de investimentos em Cuiabá é da ordem de R$ 10,49 milhões na capital e dentre os imóveis selecionados estão a casa de bem-bem, a Casa Barão de Melgaço, o casarão da Irmã Dulce, o casarão do alferes, a casa PROCON, a primeira sede da Assembleia Legislativa de MT, o largo da mandioca, a praça caetano de albuquerque, o entorno do casarão do beco alto, dentre outros prédios. Classificar o PAC cidades históricas em Cuiabá de “pouco”, não é com o intuito de diminuir o tamanho do esforço feito pela superintendência do IPHAN de Mato Grosso, que foi reconhecidamente significa-

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tos. Felizmente existem cidadãos que são proprietários de imóveis, que se preocupam com a recuperação e preservação das antigas casas cuiabanas.

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tivo. É simplesmente para lembrar a importância que este estado tem em relação a historicidade Brasileira, ao seu papel no alargamento da fronteira nacional, merecendo mais recursos, isso se compa-rarmos com os investimentos feitos em algumas das outras cidades distribuídas em 20 estados da fede-ração. O valor total dos recursos é da ordem de 1,6 bilhões de reais divididos em 425 obras em edifícios e espaços públicos Brasil afora, sendo que os 10,49 milhões de reais investidos em Mato Grosso representam apenas 0,655625% do valor total a ser aplicado. PORQUE É POUCO? O projeto original contemplava recursos muito maiores daqueles que foram efetivados. Era realmente alentadora a notícia que recebemos para a recuperação e restauração de prédios históricos, tanto para os públicos, quanto para os privados. Importante lembrar que não temos apenas imóveis públicos a serem conservados. Os particulares estão em muito maior número e precisam de socorro urgente. No “pacote” de recursos anunciados entre os 1,6 bilhão de reais, existem mais 300 milhões de reais disponibilizados para financiar obras em imóveis particulares a serem divididos em 105 cidades que possuem tombamento pelo IPHAN. Estes recursos não são a

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fundo perdido, mas sim financiamentos, com juros subsidiados e prazos especiais de pagamentos. É uma boa iniciativa, mas ainda assim é pouco. Importante registrar que nesta fase, apenas os imóveis em área de tombamento pelo IPHAN, ou em seu entorno, é que são contemplados com o PAC das cidades históricas. No entanto, temos que lembrar das centenas de imóveis distribuídos em áreas rurais e em cidades do chamado velho Mato Grosso, sendo que grande parte deles estão em escombros, destruídos pela ação do tempo e pela desatenção dos poderes constituídos. O que dizer da casa do ribeirão cocais, em Nossa Senhora do Livramento, que serviu de abrigo para membros da expedição Langsdorff, local em que nasceu o pai do poeta Manoel de Barros? O que falar das antigas usinas do rio abaixo, a exemplo de itaici e maravilha, que ainda estão de pé, faltando apenas um “olhar” mais acurado para serem transformadas em ponto de visitação turística. Registra-se que temos belos exemplares arquitetônicos em todas as cidades do rio acima e rio abaixo.Não se deve esquecer do antigo arraial de São Francisco Xavier, localizado no topo da serra da borda, que possui belíssimos exemplares de casas e igreja de construção em pedra lavrada. Esse antigo arraial mereceu do ar-

queólogo Zanettini, quando visitou o local na década de 1980, o apelido de “Machu Pichu Brasileira”, dado a beleza arquitetônica do lugar. Também estão na lista de imóveis históricos as cidades de Cáceres, Vila Bela da Santíssima Trindade, Alto Paraguai, Diamantino, Nova Xavantina, Barra do Garças, Poxoréu, Guiratinga, Tesouro, Alto Araguaia e tantos outros lugares. Vale aqui relembrar o lema “Mato Grosso tem história”, e como tem. NOVO ALENTO Soa como música aos ouvidos da sociedade cuiabana e matogrossense o programa a ser criado a partir de 2016 e anos subsequentes, pelo governo de Mato Grosso, através da secretaria de estado de cultura, para implantação de corredores culturais, com programas de revitalização de ruas e espaços alternativos no centro histórico da capital. A idéia é valorizar o centro histórico cuiabano e dar mais vida ao lugar onde se iniciou a história de Mato Grosso. Muitos projetos estão sendo preparados, a exemplo do museu da saúde, da Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá, a ser implantado na Rua Pedro Celestino, a pouco mais de 50 m da Praça Alencastro. De certa forma a transformação do palácio da instrução em museu de arte de Mato Grosso, já é o primeiro passo deste propósito. Aguardemos, portanto, as boas novas que virão.


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Dj Taba

DJ Taba da Silva é um dos fundadores da CUFA-Central Única das Favelas, tendo militado por tempos ao lado de Linha Dura. Desligou-se da Central para articular a FAVELATIVA, que é um instrumento de formação política e cultural, seu foco principal, pois não basta que os jovens sejam cantores ou músicos apenas, é necessário e fundamental a politização dessa juventude, costuma afirmar Taba. Taba da Silva que é liderança comunitária no Jardim Vitória, em Cuiabá, acaba de produzir o CD Pedagogia de Rua, com apoio financeiro da Petrobras, um prêmio recebido através do Instituto Cadom e Fundação Palmares, administrado pela Integrar - Associa-

ção de Turismo, Cultura e Meio Ambiente. No disco,Taba da Silva permite que Luciene de Carvalho, poeta que encanta pelo apurado texto que produz em seus poemas, se enverede pelo mundo da música, compondo cinco canções nas quais se entrega, de corpo e alma aos propósitos de disseminar nos movimentos sociais o forte sentimento de Brasilidade e africanidade. Neste trabalho, na definição da professora Maria Luzenira Braz, “a pedagogia de rua no movimento social hip hop motiva e fortalece as juventudes, constrói culturas, socializa saberes. Promove relações pessoais humanizadas a partir da organização coletiva dos jovens”.

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A Nova Fortaleza do Samba MatoGrossense

“Samba, agoniza, mas não morre. Alguém sempre te socorre, antes do suspiro derradeiro”. A música de Nelson Sargento é a trilha sonora perfeita para o momento do samba em Mato Grosso. Das tradicionais rodas de choro e samba do bar Choros e Serestas, o popular Chorinho, jovens talentos se multiplicaram nos últimos anos, fortalecendo uma improvável cena do samba no coração do Brasil

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POR RAONI RICCI FOTOS MARCOS LOPES


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safra é boa. São cantores e cantoras, instrumentistas e compositores de uma nova geração que chegou sob a batuta da velha guarda e empunhou a bandeira do samba em Mato Grosso. Talentos como a Cantora Lorena Ly, que representou nosso estado no programa The Voice Brasil, da Rede Globo, em terras pantaneiras sempre acompanhada do seu marido Joelson Conceição, violonista de mão cheia. A voz de Lorena ecoou pelos quatro cantos do Brasil e traz para nos-

so estado um olhar mais atento do mercado fonográfico Brasileiro. A safra local mistura talento e dedicação, e agora busca a profissionalização dos trabalhos. Isso parte tanto dos grupos de samba e choro como dos cantores e compositores. A organização do segmento é o ponto de partida para vôos maiores, especialmente em um estado onde a tendência é a predominância da música sertaneja. Os resultados são show mais elaborados, contextualizados, produções novas e um horizonte animador.

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CONVERSA DE BOTEQUIM O grupo nasceu das rodas de samba do Chorinho, a partir da idéia do percussionista Rodrigo Rocha e da maestrina e cavaquinista Andrea Rosa. Também integram a trupe o cantor Raoni Ricci e a cantora e percussionista Juliane Grisólia. No repertório, o samba raiz, clássico, mas com um diferencial importante que é a união de duas vozes masculinas com duas vozes femininas. O efeito para o público é contagiante. GRUPO SOSSEGO É o pioneiro do samba da nova geração. Em 2015 completou a maioridade ainda com a formação original. O grupo é basicamente formado por policias militares, com o compositor e arranjador Andrew Moraes, o cavaquinista Clau Simpatia Neves, o violonista Alex Melo, os percussionistas Marquito e Mestre Nego. Simplicidade e educação musical são as marcas dessa turma, que também tem no vocal Marcelo Fernandes. ERIELSON MARQUES Cantor e compositor, Erielson é partideiro nato e puxador de escola de samba. Talento puro aliado a velha malandragem típica do samba carioca. Gravou recentemente seu primeiro CD, que contou com a participação do compositor Toninho Gerais, e dos cantores Vadinho Freire, da Mangueira, e Renato Milagres, sobrinho de Zeca Pagodinho.

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O SAMBA, A BOSSA E AS NOVAS O projeto reúne em uma só mesa cinco cantores da terra. A formação é recente e conta com Raul Fortes, Raoni Ricci, Rodrigo Mendes, Larissa Padilha e o experiente Marcelo Fernandes. Cinco vozes diferentes com uma única paixão: o samba. O quinteto tem se apresentando em vários eventos de casas noturnas da cidade. Em dezembro, estarão todas as sextas no Garden Nuun, na Rua 24 de outubro, a partir das 20 horas. ORQUESTRA DE BUTECO O grupo é um dos maiores sucessos do samba cuiabano. Por lá já passaram Raul Fortes e Lorena Ly, mas hoje a voz que comanda a banda é de Marcelo Fernandes. Junto com ele Joelson Conceição, o experiente e irreverente Joari Madalena, além de um dos grandes percussionistas da terra, Renato Brow. RAUL FORTES Músico cuiabano, neto do saudoso Mestre China, que desenvolve carreira solo, porém está a frente de vários projetos que unem vários cantores e músicos da cena local. Com seu Big Bando, que implementa instrumentos de sopro aliados aos tradicionais violão, cavaquinho, surdo e pandeiro, vem se destacando no mercado matogrossense.

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Artes Cênicas Festival Nacional Zé Bolo Flor de Teatro de Rua POR CARLOS FERREIRA

FOTOS BRUNA OBADOWSKI

Idealizado e produzido pelo Grupo Tibanaré de Teatro e com parceira da Secretaria de Estado de Cultura, o “Festival Nacional Zé Bolo Flor de Teatro de Rua” teve as suas apresentações concentradas no centro histórico e comercial da capital mato-grossense, onde a Praça Ipiranga, Praça da República, Praça Alencastro e a Arena Pantanal, foram habitadas como palco e picadeiro por quatro produções nacionais e seis produções do estado.

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segunda edição do “Festival Nacional Zé Bolo Flor de Teatro de Rua” foi realizada no período de 01 a 06 de dezembro de 2015, confirmando-o como um espaço de referência e contribuição para o enriquecimento e difusão da produção nacional de Teatro de Rua em diálogo com a produção local, fortalecendo a discussão, a pesquisa e o estímulo para a criação de novos trabalhos, na perspectiva de ampliar e potencializar a produção local e o

acesso gratuito e democrático do público às produções. Como produção local, foi possível conferir e confirmar em quatro espetáculos da capital, um da cidade de Várzea Grande e um da cidade de Nova Olímpia, a qualidade dos trabalhos de seis companhias matogrossenses que vem atuado no universo circense, com o Teatro de Bonecos e com o Teatro de Rua, investindo na pesquisa e na proposta de linguagens que também valoriza a cultura popular local.

Carlos Ferreira é Mestre em Estudos de Cultura Contemporânea pela UFMT, Professor de arte da rede pública de ensino, Ator e Diretor Teatral.

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O espetáculo “Voadeira no Circo”, produzida pelo Grupo Teatro de Brinquedo, de Cuiabá – MT, contou a história de “Narcisa”, a dona de um Circo, herdado de seu falecido marido, “Malafaias” que deu vida a dois bonecos que animavam e sustentavam o circo. Como os bonecos aprenderam a amar e odiar, acabam por atrapalhar os planos de Narcisa, dando adeus às suas produções, por falta de platéia. “Estórias de Jardim” é uma comovente apresentação do Circo Leite de Pedras, de Cuiabá – MT, baseada na prosa de Oscar Wild e na dramaturgia de Ilo Krugler. A livre adaptação de Júlio Carcará mescla Teatro de Bonecos com a Arte Circense e o Teatro de Rua, onde os personagens: o Gigante; o Anão; o Rouxinol e a Princesa Infanta saem de três contos e, paralelamente, contam suas próprias estórias: educando crianças, sensibilizando adultos e encantando toda a platéia. O Grupo Atos 2 de Teatro, também da capital mato-grossense

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nos mostrou em “A Mala d’1 Circo” a história de um palhaço viajante chamado Tetéko, que com sua mala leva de cidade em cidade a diversão, magia e alegria peculiares ao circo. Tetéko surpreende o público, retirando da sua mala, objetos que fazem parte da arte circense, interagindo com o público, numa diversão mútua e coletiva, cujos desafios colocam o público diante de reflexões cotidianas. O Grupo Vostraz de Teatro, da vizinha cidade de Várzea Grande – MT trouxe um espetáculo com perfil musical que por meio da técnica da contação de histórias, faz uma costura entre textos poéticos, músicas, cantigas, rezas e causos, numa colcha de retalhos da cultura popular mato-grossense que acaba por imprimir uma teatralidade envolvente, onde um público das mais variadas idades ri, se emociona e aplaude. Nessa edição tivemos também o “Passeio Noturno”, com o Grupo da capital mato-grossense, Tibanaré, que em um ônibus cenografado ao


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modo de um vagão de trem espanhol, percorre o centro histórico de Cuiabá. Nele, um coringa conta histórias antigas, lendas urbanas que fazem das ruelas e becos da capital, um cenário arquitetônico que recheia a memória coletiva do espectador, de grandes lembranças, evidenciando mistérios e suspenses com a história da Mulher de Branco. Da cidade de Nova Olímpia – MT o Festival recebeu o Grupo Nó de Teatro, com o “Cortejo: A Busca”. Uma instalação ambulante, um palco-máquina sobre rodas “invade” a cidade, transformando-a em um grande centro de batalha. Uma batalha cênicoteatral onde “Minotauros em guerra”, “Poseidons e

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seus mares e terremotos”, “Zeus e seus deuses olímpicos” se unem para o cortejo do fogo sob a ordem de “Héstia”, para fazer iluminar, cotidianamente, os lares gregos, simbolizando a luz e a paz na cidade. O Festival contou também com a presença iluminada de quatro espetáculos nacionais, sendo três de São Paulo e um de Santa Catarina. O viajado Grupo Rosa dos Ventos (SP) veio com o espetáculo “Saltimbembe”, uma festa popular em que os palhaços se apresentam como artistas saltimbancos, formando uma roda na praça para exibir suas habilidades, músicas e divertir as pessoas. É um espetáculo brincante

que representa a essência da linguagem desenvolvida pelo Rosa dos Ventos, com interpretação livre de artistas cômicos populares e verborrágicos, improvisadores por opção. “La Scarpeta”, do Grupo Lume de Teatro (SP) contagiou o público com números de magia, equilíbrio, contorcionismo, música e acrobacias com ovos, provocando e surpreendendo a platéia que vê surgir diante de si o caos. Com grande vivacidade, o jogo do palhaço Teotônio, “pau-pratoda-obra” é contagiante, fazendo da alegria uma potência anárquica. Uma demonstração do potencial das atrapalhadas do palhaço com seu subversivo poder de transformação.


lumeMatoGrosso A Companhia Cirquinho do Revirado de Santa Catarina nos deu o prazer de conhecer “Júlia” uma mulher das ruas sobre uma carroça cênica que representa tudo o que sobrou de um circo incendiado. Palheta, seu fiel escudeiro, é quem a conduz. Esta dupla errante gira o mundo ou é o mundo quem os gira? Excluídos pelos excluídos, os personagens Júlia e Palheta se viram ao ponto de fazer, mesmo sem pernas, Júlia dançar. O espetáculo carrega em si, indagações sociais, contagiando a platéia sobre reflexões ao preconceito marginal, deficiente, mendigo e social. Não é fácil ter pernas! Ainda de São Paulo, veio “jogar” na Arena Pan-

tanal, o Grupo Lona Preta com o mágico e musical espetáculo “Concerto da Lona Preta”, inspirado na tradição circense e em músicas que fazem parte do imaginário popular. Cinco músicos, ou melhor, cinco “palhaços” tentam, de forma divertida, executar um concerto musical com variado e divertido repertório que vai das canções popularescas, aos ritos populares e às musicas eruditas. Assim foi encerrada mais uma etapa da eterna luta na construção de política pública de cultura para Mato Grosso, por meio do “Festival Nacional Zé Bolo Flor de Teatro de Rua” magistralmente coordenado pelo competente Grupo Tibanaré de Teatro. Grupo lo-

cal que tem investido sensivelmente na construção de dias melhores para a arte cênica em nosso Estado. Aos idealizadores e produtores: Jéferson Jarcem e Fernanda Gandes e a toda a sua trupe de empreiteiros, os agradecimentos dos artistas matogrossenses de teatro. Àqueles que, investidos de coragem na luta incessante por uma política pública de cultura que nos repre-sente, deixo aqui uma reflexão de Bertold Brecht: Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons, mas há os que lutam por toda a vida, estes são imprescindíveis.

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Caravana da Alegria 1ª Edição

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POR CECÍLIA KAWALL

ue vá direto ao coração, que mexa comigo? Chapada dos Guimarães é claro, o “coração do mundo” ! De onde parti para todas as aventuras e caminhos e para onde volto, sempre. A Chapada mexe com o sangue da gente, emociona, tira o fôlego. Aqui conheci e vivi grandes amores, desiludi, parti e voltei.

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A primeira vez que vim foi de táxi aéreo com a família, no meio das férias na fazenda do vô, lá se ia o ano 1976. A emoção de sobrevoar os paredões já era uma aventura e tanto, e me marcou definitivamente a coloração avermelhada da terra rasgando o verde vibrante da vegetação do cerrado, tudo sob o céu de cristal azul. Cores! Os contrastes. Dez anos depois minha mãe comprou uma casa naquela “aldeia”, encontrou uma pérola naquele mar de dentro. Eu vivia em São Paulo bem enredada na vida asfáltica, trabalhando e estudando e ela me convidou para uma visita. Me lembro como se fosse hoje que eu respondi bem altiva (quanta soberba…) “o que EU vou fazer no meio do mato???” Foi a primeira grande guinada quando resolvi vir pelo menos para agradá-la… fiz uma viagem de ônibus de quase 30 ho-

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ras e a chegada aqui ainda era na frente da Igreja. Passei duas horas, acreditem, caminhando e procurando a casa dela, dentro da cidade, hahaha! O endereço era assim: desce do ônibus, sobe a avenida umas duas quadras e dobra na ruazinha à esquerda. Fiz todos os roteiros possíveis acompanhada de uma senhora que queria ajudar mas não me deixava ultrapassar aquelas duas quadras porque dizia que depois dali “é o fim do mundo minha filha, não tem mais nada lá”. A Chapada tinha 4mil habitantes então e por causa de sua localização muito próxima dos paredões, para as pessoas mais simples daqui tudo ao redor era o fim! Bem, depois de muito insistir que ela me deixasse descansar num hotel para continuar no dia seguinte, me sentei numa calçada e esperei não mais do que 5

minutos e já vieram me resgatar. Minha mãe sabia que eu estava chegando e como eu não aparecia ela saiu andando e me encontrou. Sua casa era exatamente uns passos além do limite da iluminação pública da época, no “nada”, no escuro, no fim! Hoje é no Centro, hehe, a uma quadra da rodoviária! Só um detalhe: estamos sim no centro da cidade mas ao mesmo tempo no campo. Minha área é vizinha da APA da Quineira, uma área de proteção permanente que abriga uma das mais importantes nascentes de água potável da cidade. Detalhe este de relevância crucial nos tempos de hoje! Aproveitando já deixo aqui este alerta, ajudem, sempre que possível, lutem pelas nascentes, pela nossa água. Pelo poder do cerrado como berço das águas, protejam, venham conhecer, passear e desfrutar.


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de sentimentos controversos, fortes emoções. Arroz integral, meditação e bife na chapa. De emoção em emoção alcanço meus “cinquentanos” que comemoro e compartilho aqui com a maior alegria. Pela Graça da Natureza, Gratidão! Deixo com vocês imagens que me curam, minha verdadeira face. E a partir de agora abrem-se as cortinas da caravana mais animada deste Centro Oeste, um verdadeiro espetáculo de lugares fantásticos e sorrisos iluminados. Desejando tudo de bom aqueles que nos lêem, estão todos convidados a me acompanhar na próxima viagem, rumo a Patagônia!

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E, de visita passei a moradora. De moradora a proprietária. De proprietária a contribuinte, cidadã, colaboradora e amante apaixonada. Cada vez que dirijo ou caminho por estas trilhas me emociono um pouco mais, me vem um suspiro no peito, um leve sorriso nos lábios. Ui! Foram muitas as idas e vindas, cada vez com uma estória. Eu ia e vinha mas não decidia nada, parecia que a Chapada escolhia quando eu ia ou vinha. Acolhia e ainda acolhe. Ainda me admiro como se fosse aquela primeira vez com as cores, com os contrastes, com as dificuldades e maravilhas. A vida nas asas das borboletas azuis no meio da mata, os rios cristalinos entre as rochas de arenito e ferro, a dramaticidade da vegetação e a doçura das flores. Uns dizem magnetismo, outros astral, outros ainda energia, karma… a gente hoje brinca que quem vai embora teve “alta” do hospício, hehe. A Chapada é deslumbrante para os olhos sim mas te cobra tudo isto a cada respiração. Ai. Nada é muito fácil, tudo tem que ser conquistado, guerreado. Todos os tipos de movimentos tem espaço por aqui, o povo índio dono de tudo, o povo das estrelas, dos intra-terrenos, dos elementais, das máquinas gigantes do agro-negócio, mono culturas sem fim, dinheiro, garimpo, ouro, diamantes e madeira. É macro produção versus preservação, civilização, dignidade de vida e chuva ácida…um caldeirão

Cecilia Kawall, guia de turismo regional, técnica em acupuntura, reiki master, instrutora de oki do yoga e shiatsu, produtora, fotógrafa e bailarina.

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A G E N D A C U LT U R A L

e componentes da banda, Dado e Marcelo, chamaram alguns amigos e produzirão esse maravilhoso e imperdível show. Estarão no palco os músicos Lucas Vasconcellos, na segunda guitarra, no baixo Mauro Berman, nos teclados Roberto Pollo e nos vocais André Frateschi.

LEGIÃO URBANA Boa dica para os fãs do Legião Urbana é o show que Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, farão em Cuiabá para apresentar o projeto “Legião Urbana – 30 anos”. O evento será

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no Centro de Eventos do Pantanal no dia 19 de dezembro, e os ingressos estão à venda. A emblemática Legião Urbana acabou em 1996, com a morte de Renato Russo, mas os amigos

Legião Urbana 30 anos Data: 19 de dezembro Local: Centro de Eventos do Pantanal Ingressos: R$ 100 camarote Espaço Premium: R$ 60 inteira e R$ 30 meia


DAVI E MORAES MOREIRA O lendário Moraes Moreira, do grupo Novos Baianos, que fez sucesso imenso na década de 1970, junto com Baby Consuelo, Pepeu Gomes e outros ícones da MPB, apresenta em Cuiabá,

VEM PRA ARENA Clima de Natal toma conta da última edição de 2015 do Vem Pra Arena, projeto consolidado como um dos eventos do calendário cultural de Cuiabá. São cinco dias de evento com programação variada de cultura, entretenimento e lazer. 16/12: Apresentação do Auto de Natal, com a participação de 47 atores da Cia. de Teatro Cena Onze e mais 30 animais no palco. Para encerrar a primeira noite haverá a apresentação do espetáculo O Quebra-Nozes, da Companhia de Dança Ballet de Mato Grosso/Cidarta. 17/12: Apresentação do Projeto Flauta Mágica. Depois da apresentação do Auto de Natal, o humorista Totó Bodega encanta o público infantil

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junto com seu filho, o músico Davi, o show Nossa Parceria, projeto que une música afro, samba, choro, bossa nova e frevo. O show surgiu da seleção pública do Petrobrás Cultural, que contemplava uma série de apresentações e a produção de um CD com músicas inéditas. Nossa Parceria – Moraes e Davi Moreira Data: 12 de dezembro Local: Musiva Ingressos: R$ 60 (meia) e R$ 120 (inteira) Cadeiras numeradas – R$ 160 inteira; R$ 80 meia Mesas - R$ 1.200 a R$2.000 (6 pessoas) Camarote: R$ 1.400 (8 pessoas)

com a sua Caixa de Brinquedos. 18/12: Apresentação da Fanfarra do Liceu Cuiabano, que abre a lista de atrações seguido pelo Coral do Pantanal, e pelo espetáculo Frozen, da animadora Tia Hanna. Neste mesmo dia, após a apresentação do Auto de Natal é a vez do musical As Bruxas de Oz, do grupo Pessoal do Ânima. Inspirado no livro O Maravilhoso Mágico de Oz, de L. Frank Baum, foi adaptado para a região de Cuiabá com músicas originais compostas especialmente para o espetáculo. 19/12: A programação começa com a Orquestra Popular Homens do Mato, da PMMT e, em seguida, apresentação do Coral da Arquidiocese de Cuiabá. Depois do Auto de Natal vêm as atrações musicais: Marcela Mangabeira, acompanhada dos músicos Ivo Senra, Pedro Franco e Wallace Cardozo. Em seguida vem as cantoras do Empório Feminino, formado por Larissa Padilha, Karola Nunes, Viviane Cantarella, Queilinha, Sarah e Lívia, Cris Chaves e Sthefani Theto. O show nacional é de Almir Sater. 20/12: Encerramento com intervenções artísticas, encenação do Auto de Natal e a visita da Cara-vana de Natal Coca-Cola

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R E T R ATO E M PRETO E BRANCO

Mário Spinelli

Contabilista, garimpeiro, revolucionário, seringalista, empresário, pecuarista, político e poeta “Onde haviam cerrados intransponíveis, hoje vemos rodovias em tráfego; onde haviam matas virgens, hoje vemos feitorias e estabelecimentos gerando riquezas; onde jamais o homem civilizado havia posto o pé vemos modernos campos de aviação.” Mário Spinelli

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pois disso, Mário e Renato compraram uma grande fazenda na localidade que mais tarde se tornaria a localidade de Coité, em território atualmente pertencente ao município de Poxoréo, na região sul de Mato Grosso. Nesta época, também passaram a fazer relevos topográficos. Registra-se ainda que, descendo pelo Rio Teles Pires, de águas cintilantes e espumosas, Mário e Rodrigo Spinelli fundaram, às suas margens, os primeiros setores de seringueiras, extraindo látex ao longo dos rios Tartaruga, Ferro, Irmandade e Cristalino. Tornaram-se inseparáveis, Mário e Renato, até a morte deste último, em acidente de automóvel. Depois do golpe ocorrido com o falecimento daquele que era mais que seu irmão, Mário decidiu se dedicar mais intensamente ao movimento político partidário e disputar eleições. Foi deputado estadual eleito pelo PSP, partido que criou em 1952, chegando à presidência da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, no período 1955/1956. Posteriormente dedicou-se à vida empresarial e contribuiu para entrada de seu filho Tom Spinelli à vida política que, seguindo os caminhos de seu pai chegou à presidência do legislativo estadual, dentre outras funções públicas, como Secretário de Estado e Conselheiro do TCE/MT. Ciente da importância de que informações históricas registradas poderão ajudar a compor a bela e impressionante história de Mato Grosso, Mário Spinelli escreveu, numa plaqueta, em 1964, parte de suas atividades e relacionamento com os povos indígenas de porção territorial na região norte do estado: “Nós somos fundadores há cerca de vinte anos de uma fazenda chamada Rio Novo, no extremo Norte, que já é conhecida no Estado e um pouco na América do Norte. Apenas vinte anos passados aquilo era um sertão bruto. Entramos lá com poucos recursos e sem nenhuma assistência do governo. Nossos vizinhos eram os índios Bacaerys, que conosco, mansa e pacificamente, se civilizaram e junto com estes índios nasceram nossos filhos. Eram terras sem dono à espera de homens sem terras. Ainda existem destas áreas, além daquelas serras longínquas, acenando ao desbravador riquezas ocultas”.

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a fibra e o empreendedorismo eram as principais características de Mário Spinelli, um homem que sonhou Mato Grosso! “Descrever a obra de desbravamento dos seringueiros e seringalistas da Amazônia constitui tarefa de pulso, de vários volumes. Além de constituir interesse do ponto de vista romântico, pois nela existem verdadeiros lances de romance épico e trágico, seria de caráter eminentemente didático, apto a esclarecer nossa geração escolar sobre a completa geografia da vasta região da Amazônia.” O trecho acima foi escrito por Mario Spinelli, no livro “Problemas da Amazônia Matogrossense”, publicado em 1948. Na obra, Mário mostra-se um estudioso das potencialidades de Mato Grosso, apontando soluções para problemas vigentes, como os relativos à exploração extrativista, em declínio por causa da concorrência imposta pela Malásia, que passou a cultivar com sucesso seringueiras pirateadas do Brasil e ainda tece comentários sobre lendas e mitos da região. Mário Spinelli teve a maior parte de sua vida dedicada às causas de Mato Grosso. Nascido em Bragança Paulista/SP, no dia 02 de dezembro de 1903, faleceu em Cuiabá/MT, a 19 de junho de 1979. Filho de mãe matogrossense e pai italiano, deixou seu nome cravado na história de Mato Grosso ao encabeçar um projeto de produção de borracha através da extração de látex de seringueira na região norte de Mato Grosso. Com seus irmãos Marcos e Renato se dispuseram a aventurar em Mato Grosso na década de 1920. O trio fez de tudo um pouco: trabalharam como artistas em palcos improvisados, nos garimpos, no seringais e em fazendas de produção. Intrépidos idealistas e aventureiros ingressaram nas fileiras da Coluna Prestes, quando esta cruzou o chão de Mato Grosso em sua épica marcha, em meados de 1926, sob a liderança de Siqueira Campos. Empreendedores e visionários, os irmãos Spinelli foram para o Garimpo de São Pedro, em Poxoréo, onde ganharam bastante dinheiro e, com o lucro obtido adquiriram os primeiros 50 mil ha de terras em Mato Grosso. De-

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De Médicos e Médiuns: As Relações entre Loucura e o Espiritismo

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“Nós ainda não fechamos o livro da história. As coisas andam, não acabaram ainda. Por onde você passa vê pessoas dormindo nas marquises e ninguém toma uma atitude. Como é que se pode passar em frente de uma família com dificuldades e ignorar? Falta amor navida das pessoas.” Uribatan de Magalhães Barbalho


bá, existem vários doentes crônicos abandonados pelas famílias que não os querem mais. Pelo menos a metade deles poderiam ser tratado por métodos espíritas, mas isso não é consentido. EVOLUÇÃO No Brasil muitos nomes se destacaram na busca do conhecimento espiritual e na compreensão de seus benefícios em tratamentos de doentes mentais obsidiados. O médico psiquiatra Brasileiro, Inácio Ferreira, foi o primeiro do mundo a associar a doença mental com a espiritualidade. Esse médico foi convidado por Maria Modesto Cravo, de Uberaba, a “dona” Modesta, na década de 1930, a dirigir o Sanatório Espírita de Uberaba. O psiquiatra Inácio não era espírita, mas envolveu-se com os movimentos espíritas, que eram fortes e organizados na cidade de Uberaba, naquele período. Com isso passou a trazer para dentro do hospital a metodologia de leitura, da oração, da água fluidificada, do ensino da doutrina, influenciando outros dirigentes e pessoas ligadas ao hospital a conhecerem e se aprofundarem no espiritismo. Começou a fazer trabalhos mediúnicos com todos os pacientes para verificar quem era lesado orgânico e quem não era. Apesar de todos passarem pelo sistema de eletroconvulsoterapia, Inácio Ferreira provou que 50% eram lesados orgânicos e esquizofrênicos para a vida toda, mas

os outros 50% eram dramas da obsessão. Os primeiros eram caracterizados como doentes mentais e o restante eram psíquicos, que muitos acham que é coisa fora da matéria. Como se o espiritual não fosse matéria e sim uma coisa etérea. Só no Brasil é que existiu esse trabalho estatístico, em nenhum outro lugar do mundo foi feito estudo semelhante. MATO GROSSO Com uma população de mais de 3 milhões de habitantes, somos pelo menos 10% de doentes mentais. Trata-se de uma média universal, que em alguns pontos pode chegar até 13%. Alguns lugares têm endemias atribuídas à esquizofrenia, isso não significa que todos têm doença mental. Anualmente, dos aproximadamente 300 mil doentes mentais de Mato Grosso, pelo menos 6% irão desencadear algum tipo de distúrbio, podendo ser ou não internados. Desses 18 mil doentes que irão apresentar sintomas graves, muitos irão requerer atenção especial. Desta quantia, pelo menos 2%, ou seja, 360 pessoas irão surtar, literalmente. Esses 360 indivíduos, sem dúvida alguma irão requerer internação, remédios e outros cuidados especiais com profissionais capacitados. Infelizmente os aparelhos estatais não são suficientes para atender essa demanda histórica. Aí poderia entrar o trabalho feito pelos espíritas, mas não existe apoio formal para tal empreita.

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França foi o primeiro lugar do mundo em que se construíram hospitais psiquiátricos. Philipe Pinéu, um psiquiatra francês fez um trabalho revolucionário com doentes mentais. Ele mandava dar banhos nos doentes. Cortava seus cabelos. Mandou que tirassem as correntes que os amarravam nos porões e os colocava para tomar sol. Naquele período os doentes mentais sofriam tratamento desumanos, com dentes arrancados e tratados como rejeitados e animais. Em seus relatórios Pinéu descrevia avanços dos doentes por seus procedimentos, a exemplo do banho de sol. A melhora foi acentuada. Muitos deles ainda mantinham a razão. A França que foi a mãe do Iluminismo, também foi a pátria-mãe de Alan Kardek, o Decodificador do espiritismo. Porém, depois da Primeira Guerra Mundial não avançou mais nos estudos espíritas kardecistas, e hoje está muito materialista. A Europa avançou muito na economia, na antropologia e em outras áreas, mas retrocedeu nas questões da espiritualidade. Ainda existe um certo preconceito nas práticas espíritas no tratamento dos transtornos mentais no Brasil, e em Mato Grosso não é diferente. Carecemos de avançar neste terreno ainda pouco divulgado e estudado, discutir o papel do espiritismo nos ataques de loucura. No Hospital Adauto Botelho, em Cuia-

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SAÚDE

Eu não alimento a minha horta de ignorânica mais que a minha horta de sabedoria, sou espírita de alma e corpo. UBIRATAN DE MAGALHÃES BARBALHO

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O PSIQUIATRA Para compreender melhor as questões que envolvem espiritualidade e tratamento para doenças mentais convidamos o médico psiquiatra Dr. Ubiratan, que está lotado no Hospital Adauto Botelho, em Cuiabá, para falar sobre esse tema em forma de perguntas e respostas. O médico psiquiatra Dr. Ubiratan possui larga experiência na área, sendo adepto dos trabalhos de Inácio Ferreira, o psiquiatra inovador, estudioso e ousado que decodificou estatísticas da espiritualidade e é referência sobre seus feitos eficazes e duradouros na área do tratamento de doentes mentais. Vamos às perguntas! COMO SE DEU SUA ENTRADA PARA O ESPIRITISMO? »»Sou espírita de alma e corpo, pois nem preciso acreditar. Nasci no meio católico, mas minha alma já era espírita. Eu já sabia disso desde os 7 anos de idade, pois tinha um raciocínio acima da média. Por conta disso sempre fiquei calado. Nunca tive oportunidade discutir esse tema, pois não tive forças do plano espiritual para me envolver com os espíritas, porque eu tinha uma coisa para fazer. Fiz tudo para ficar no meio dos espíritas, mas sempre me empurraram para o lado dos doentes mentais. Sei que estou na terra por méritos e desgraças que fiz no passado. Tenho consciência disso e tenho que apaziguar o meu ra-

ciocínio, pois tenho tendências perversas, pois eu nasci na terra, logo sou impuro. A minha vontade é jogar bombas, é fuzilar, mas isso a minha consciência já sabe que é imoral, é ilegal. Então eu não alimento a minha horta de ignorância mais do que a minha horta de sabedoria. Hoje eu tenho a camisa do espiritismo, de Nosso Senhor Jesus Cristo, por isso falo com transparência, não vou mais para o caminho do meio. Eu sei qual é o caminho, não digo que é o das sombras, do mal, mas pelo meu livre arbítrio, que eu tenho direito, resolvi não retardar mais o meu processo de evolução. Cansei. Eu senti isso, não sei de onde veio, mas sinto que é da minha maturidade espiritual. Posso errar, pecar, cair em tentação, posso. Eu tenho essa consciência, por isso tenho que estar vigilante. Eu sou obreiro, mas não sou hipócrita, posso não discutir, mas trabalho numa casa espírita duas vezes por semana, dou passes, além de atuar também em finais de semana, nas obras sociais do Auta de Souza. COMO SE DEU A OPÇÃO DE ESTUDAR MEDICINA PSIQUIÁTRICA? »»Não fui eu que escolhi ser psiquiatra. Me escolheram. Eu sabia que ia ser psiquiatra sem saber que para isso tinha que estudar medicina, porque todo meu estudo original foi em cima de disciplinas de elétrica e telecomuni-


ATUALMENTE O SENHOR NÃO ESTÁ CLINICANDO, PORQUE? »»Não sou mais médico, me processaram por tráfico de drogas. Quem armou isso foi a polícia. Veio de dentro da secretaria de saúde, porque eu tinha projetos plantados lá dentro para captar recursos para a saúde mental, e a máfia que está lá há mais de 30 anos não deixou, e por conta disso a polícia armou para mim dentro

do meu consultório. Eles fizeram isso para me intimidar. A sorte minha é que eu sou pobre, se eu fosse rico a coisa estava feia, e os advogados que me assistem são todos irmãos, porque eu não tenho dinheiro para pagar. Estou descapitalizado, pois só recebo o salário básico, tinha melhor renda no meu consultório, onde minha receita era o dobro do que ganho no serviço público. Não posso clinicar, me caçaram (o diploma de médico) para que eu possa responder ao processo. O CRM me caçou o direito de clinicar, não posso exercer a medicina. O SENHOR É UM PROFISSIONAL DEDICADO À SUA PROFISSÃO? »»Sou um psiquiatra muito conhecido, fruto do trabalho que fiz na rede pública. A lei manda você atender 16 pessoas, aparece 30 como é que faz? Atendo a todos, nunca deixei nenhum prá fora. Minto, deixei uma mulher sem atendimento e pago até hoje esse remorso. Isso foi há 10 anos, no Coxipó. Estava esgotado. Havia atendido 34 pessoas, estava esgotado. Eu fechei a porta na cara dela, que veio correndo e pediu pelo “Amor de Deus”, mas não atendi. Ela poderia ter corrido por detrás do prédio e me cercado, mas não conseguiu, pois eu saí correndo, entrei no carro, sendo mais rápido que ela. Ela deixou escrito um texto enorme, sem me condenar, passando um

fax para a direção, que me entregou o escrito alegando falta de humildade da minha parte. Isso me machucou bastante. Estava cansado mas poderia ter deixado ela entrar e ter saído com ela pela porta da frente. Os pequenos remorsos juntados eu nunca esqueci.

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cações, no colégio em que estudei, na cidade mineira de Governador Valadares. O meu primeiro vestibular foi engenharia eletrônica, mas não sei porque eu cheguei para o meu pai e disse: Pai, vou fazer medicina. Ele se assustou e disse que esse curso era para quem estudava desde cedo, e eu sempre fui do esporte, do basquete. Convenci meu pai e fui para BH, onde fiquei em um quartinho com amigos, estudando bastante para o vestibular. Passei. Acredito que “alguém” me dirigiu para estudar medicina e, da mesma forma, na psiquiatria percebi a intuição. Graças a Deus hoje me considero um psiquiatra mediano, pois não gosto de autopromoção, já que nossa doutrina não permite esse tipo de avaliação. Por conta disso pretendo ser mais humilde que um inseto. Isso não custa nada. Chico Xavier se considerava um cisco. É como Emanuel fala: “menos, um verme está bom”.

O QUE É ELETROCONVULSOTERAPIA? »»É um tratamento oferecido aos doentes mentais. Tratase de um sistema altamente científico, verdadeiro e eficaz para a depressão grave. É tratamento injustamente associado à cadeira elétrica e à tortura, mas a eletroconvulsoterapia é considerada atualmente o melhor tratamento para a remissão dos sintomas depressivos graves. A eletroconvulsoterapia não causa dano cerebral e pode ser aplicada até em mulheres grávidas, sem qualquer risco.

DISCORRA SOBRE O HOSPITAL ADAUTO BOTELHO, EM CUIABÁ. »»Esse hospital merecia muitas energias espirituais. Porque é muita maldade em cima desse hospital. O povo de Mato Grosso precisa dar uma atenção melhor para os seus doentes mentais. Um estado riquíssimo como esse merecia equipes de médicos e técnicos de saúde mental em todas as regiões. Para se lidar com o doente mental com dignidade, inclusive com seus funcionários públi-

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SAÚDE

Allan Kardec cos, sendo que grande parte deles estão doentes. Da mesma forma todos os escalões políticos e de serviços que estão adoentados pelo mundo do consumo. Fui convidado para trabalhar num processo de readequação do hospital Adauto Botelho, que está há 10 anos não contratando, não fazendo concurso público e diminuindo a quantidade de vagas. Temos 60 pacientes, mas a capacidade é para um número bem maior. Hoje temos 40 homens e 20 mulheres internadas. O Adauto Botelho não autoriza trabalhos espirituais em pacientes. Não se pode oferecer um passe espiritual ou mesmo atividade de entidades religiosas. Eu acho um absurdo e ignorância, pois seria benéfico demais. Com trabalhos espirituais poder-se-ia amenizar crises. Os doentes estão morrendo no interior do estado, porque aqui fecharam as portas para o doente mental, obrigando-os a assumirem suas consequências, como se isso fosse apenas um problema das famílias, que

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sofrem demais. A maldade que se faz com o doente mental no interior é a morte, porque aqui em Mato Grosso eles morrem. Nós servidores da área psíquica e psiquiátrica acabamos sendo coniventes com essa situação, porque não somos capazes de abrandar esse sofrimento (do doente mental) das famílias. Na constituição fala-se que o Estado tem a obrigatoriedade de dar atenção e assistência e serviços. O Adauto Botelho chegou ao ponto de faltar remédio para doente mental. Oras, os doentes mentais já são rejeitados pelos municípios e em grande parte das vezes por suas famílias. Por conta disso ficamos rezando para que algum paciente do hospital seja mandado embora. Porque quando fica hospitalizado muito tempo passa a ter surtos dentro do hospital. O doente precisa estar em contato com a família, precisa de alternativas. COMO O ESTADO VEM TRABALHANDO ESTE PROBLEMA? »»As autoridades pretendiam diminuir vagas alegando que construíram no interior CAPS-Centro de Assistência Psico-Social. Realmente foram criadas, o governo paga R$20 mil para cada CAPS, para que se constitua uma equipe de um médico, uma enfermeira, um (a) assistente, perfazendo equipe mínima de 6 membros. Não há necessidade de ser psiquiatra, pode ser um clínico trei-

nado. Deve ter algo em torno de 30 a 40 unidades atualmente no interior do estado. Só que os médicos que estavam fazendo formação psiquiátrica desistiram por causa dos assédios excessivos em cidades do interior. Veja bem, o clínico geral aprendeu a clinicar, mas não aprendeu a lidar com o vereador, com a primeira dama e isso quebra todo o organograma: senhas, quantidades de consulta, a padronização, que é uma consulta por mês. Depois que a pessoa sai da crise tem direito a uma consulta por mês, vai ao CAPS pegar remédio, bater um papo. Só que a demanda é 200 vezes maior que a capacidade. Em Cuiabá no setor público quase não se contrata psiquiatra. O contrato é desestimulante. O profissional vai para a iniciativa privada, onde tem menos incômodos e mais ganho. ALÉM DO ADAUTO BOTELHO, EXISTEM OUTROS HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS EM MT? »»Na cidade de Rondonópolis existe o hospital Paulo de Tarso, que é bem amparado pela sociedade e sempre tem recursos advindos, notadamente dos adeptos do espiritismo. Por conta disso o estado há 4 ou 5 anos vem diminuindo as suas responsabilidades, reduzindo aportes financeiros. QUEM RESPONDE PELO DOENTE MENTAL? »»A família é responsável di-


EXISTEM MÉDICOS PSIQUIATRAS SUFICIENTES PARA A DEMANDA MATOGROSSENSE? »»Temos aproximadamente entre 35 a 40 médicos psiquiatras em Mato Grosso. A grande maioria clinica em consultórios particulares, porque o estado não oferece condições atraentes de trabalho. O estado paga mal e cobra política de resultados. O governo federal e até algum tempo atrás, o próprio estado imaginavam que os médicos psiquiatras eram pais-de-santo, que resolvem as questões dos doentes mentais em terreiros de candomblé. NESSE MEIO EXISTE INTOLERÂNCIA RELIGIOSA? »»No Adauto Botelho não

se trata o doente com questões religiosas. No entanto, fora dali eu faço sempre. Um doente mental nunca me pediu para dar um passe para ele na casa dele. Estamos vivendo uma onda de intolerância religiosa. Está aí, todos os lugares que existem terreiros de candomblé estão tratando muito mal as Mãesde-Santo. Notadamente os mais velhos, porque os jovens são mais raçudos e não admitem esse tipo de comportamento. Tudo é falta de consciência religiosa. Eu não falo nem da fé, simplesmente do princípio da intolerância, da cultura, da antropologia, da sociologia. Teríamos que fazer como na Europa, não formar simplesmente por formar, mas sim formarmos cidadãos. Engenheiros e médicos com responsabilidade cristã. Temos que citar casos emblemáticos de desprezo pelos seres humanos a exemplo do edifício Palace II, construído pela Construtora Sersan, de Sérgio Naya. Se fosse nos EUA até pedreiro tinha sido preso, pois sabiam que a areia era do mar, que era proibido. Ninguém foi preso. O ESPIRITISMO ESCLARECE OS PROBLEMAS MENTAIS? »»Chico Xavier nos ensinou a saber quem fomos em vidas passadas através da observância de quem somos agora. Então se eu sei quem eu sou na atualidade posso ter melhor embasamento para autoanálise de vidas passadas. No mínimo sei que

fui um leitor de Alan Kardek, pois nada vem do nada, tudo é continuação, queiram ou não. O cosmo é muito grande para se alterar um átomo. Temos o livre arbítrio, mas para entendermos o que é isso temos que estudar. Não venham me dizer que os pobres de espírito terão o reino do céu, pois terão muitas dificuldades. Não sabemos porque pessoas nascem retardadas mentais, pode ser porque abusou de sua inteligência. Do mesmo jeito que sua ascensão é monitorada, no mérito, a sua queda também o é. A sua queda pode vir em muitas vidas, 10 ou 20, talvez. Você vai guardando na sua memória psíquica essa queda. Para o retardado mental só existe o abismo, imagine você saber que existe, mas não tem consciência. Até o macaco está tendo consciência, assim como o cachorro e uma série de animais que começam a ter consciência. Jesus falou:- “no dia que pararem de escutar a voz de meu Pai, até as pedras falarão”.

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reta pelo doente mental. A doença pode ser manifestada na adolescência, através de drogas ilícitas e do álcool. O adolescente não sabe que vai desencadear a doença e acaba por desenvolver a psicose e inadequações sociais. Acaba desencadeando loucuras e esquizofrenia, mormente é internado e nisso a família, após algumas tentativas de reintegração social, percebem que ocorreram mudanças, pois a psicose, somada com drogas, desorganizaram a sua cognição e o indivíduo não consegue mais voltar em ao convívio em sociedade de forma normal. Por conta disso o doente acaba sendo abandonado dentro do hospital.

Chico Xavier

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RAĂ?ZES

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Religião

A Brasilidade em questão: uma visão do candomblé e a umbanda na sociedade POR MAURÍCIO VIEIRA

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FOTOS MARIA CAROL

rande parte das pessoas no Brasil simpatiza com o samba, carnaval, feijoada, acarajé, roda de capoeira e tantas outras expressões que contribuem com os traços que compõem a identidade do povo Brasileiro. Essas expressões demonstram a riqueza e a beleza, presentes em nossa diversidade cultural, que se originam das práticas ancestrais dos africanos que chegaram ao Brasil na condição de escravos. Hoje, estes traços culturais são conservados pelos Sagrados Terreiros de Candomblé e Umbanda que, em sua maioria, são formados por pessoas de variadas classes sociais; tanto homens quanto mulheres são os guardiões das expressões que compõem a pujança da cultura Brasileira.

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RAÍZES Vários Terreiros têm sido alvo de depredação e violência por pessoas que anonimamente invadem o espaço sagrado onde se pratica o culto e se cultiva a memória da nossa ancestralidade. O que leva tais pessoas a agirem desta forma? Uma resposta é possível: a falta de informação tem levado muitos ao erro. Outra pergunta pode ser feita sobre estas questões: o que representa um terreiro de Candomblé e/ou Umbanda e as manifestações das sagradas matrizes africanas? Já se passaram mais de dez anos da implementação da Lei Federal nº 10.639/03 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, obrigando a escola a inserir os conteúdos referentes à história e cultura africana e afro Brasileira. Ainda assim com o advento da Lei nº 10639/03, ao tratar questões referentes às religiões de matriz africana, imediatamente se constrói no imaginário coletivo situações diversas e inusitadas, que provocam a negação da possibilidade de aproximação destas religiões. Candomblé e Umbanda são religiões que trazem consigo sinais de ancestralidade e herança africana que reforçam o caráter religioso, e por esta herança africana são discriminadas da mesma maneira que ocorre no plano do preconceito racial. É necessário olhar o Terreiro como espaço educativo, considerando o conjunto de indivíduos, autônomos e independentes, que por uma série de ideais partilhados, por vontade própria obrigam-

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se a aprender e trabalhar juntos, comprometendo-se e influenciando-se uns aos outros dentro de um processo de troca de conhecimento, sendo tudo conduzido de forma simples e dinâmica, porém através de uma beleza transcendental. As sagradas matrizes africanas são incompreendidas na sua forma litúrgica, que inclui a dança, comidas e suas vestes sagradas. O sagrado nas religiões de matriz africana se manifesta em espaços ecológicos que dão a dimensão da força da natureza presente no rito, sendo aquela representada pelos orixás: Iemanjá, Ogum, Exú, Oxum, Oxossi, Ossaim, Iansã, Xangô, Oxalá Oxumaré, Omulu entre outros. Tanto o sagrado feminino como também o sagrado masculino são representados e utilizam como campo energético mares, cachoeiras, matas e rios. O que temos acompanhado nas redes sociais e nos meios de imprensa sobre questões de “intolerância”, que prefiro denominar como violência contra Candomblé e Umbanda, é fruto de muitos anos de indiferença e invisibilidade. Hoje pessoas são impulsionadas a agirem de forma agressiva contra adeptos de religião de matriz africana, pelo simples fato de estarem na rua usando suas guias e sua roupa branca. Atitudes como estas revelam o perigo que há por trás de discursos ultraconservadores que pregam a existência de uma única verdade, violando a dignidade

da pessoa humana cujo direito à liberdade como princípio deveria ser garantido por um estado laico. É importante compreender que as diferenças, longe de serem motivos para discriminação e exclusão, devem ser motivos de riqueza, de aprendizagem de novos saberes, de troca de experiência que conduzem cada vez mais para a abertura e o acolhimento do ‘desconhecido’, do diferente, eliminando assim as barreiras que nos tornam intolerantes, que nos levam a ver no diferente um (a) inimigo (a) contra o (a) qual se deve lutar e manter distância. A lei nº 10.639/03 vem com a função de introduzir as reflexões em torno da história da cultura africana e afro Brasileira, tem como principal objetivo combater práticas racistas e discriminatórias também em relação às religiões de matriz africana, e este processo começa na escola, pois é ali que se começa a conhecer as noções de mundo e a partir daí compreender e respeitar a diversidade presente na sociedade. O encontro de religiões e de culturas é na verdade o encontro de pessoas religiosas que possuem saberes e culturas diferentes. Permitir o acolhimento do outro e da outra na sua alteridade, na sua diferença, faz acontecer um mundo onde os preconceitos e a discriminação sejam erradicados, na certeza de que ‘um outro mundo é possível’.


lumeMatoGrosso Imagens retiradas da Exposição “Oralidade, a História entre os lábios da Diáspora Afro-Brasileira no Cerrado.”

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RAÍZES

De Silvícolas a Indígenas Os índios na Constituição Federal de 1988 POR LOYUÁ RIBEIRO FERNANDES MOREIRA DA COSTA

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Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, apelidada de Carta Cidadã, sem dúvida, trouxe um considerável avanço na garantia de direitos dos povos indígenas. Quando se faz um percurso pelas Constituições Federais do Brasil, inclusa a de 1824, a Constituição Política do Império do Brasil, e as de 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988, as republicanas, verificamse posicionamento ao reconhecimento dos povos indígenas como integrantes da sociedade nacional. Nas duas primeiras, 1824 e 1891, diante ao poder público, os índios permaneceram na invisibilidade. A de 1934, a de menor duração, clamou pela incorporação dos silvícolas à comunhão nacional e respeitou a posse de suas terras.


bre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. Pela primeira vez na história das Constituições Federais, a União não determina incorporação dos índios à comunhão nacional. Não há dúvida de que a Constituição de 1988 está à frente das cartas constitucionais anteriores tanto em artigos reservados aos indígenas quanto em número de vezes que as palavras “índios” e “indígenas” inscrevem-se no referido instrumento normativo. Mais do que isso, percebe-se que, ao contrário aos objetivos do Serviço de Proteção ao Índio e da Fundação Nacional do Índio que determinaram integração do índio à sociedade Brasileira, reconhece os índios como integrantes na nação, respeitando sua autodeterminação. Outro ponto a ser destacado: a palavra “silvícola”, presente nas Constituições de 1934, 1937, 1946 e 1967foi substituída por “índios” e “indígenas”. No dicionário da língua portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda, no verbete “silvícola”, lê-se: “que nasce ou vive nas selvas, selvagem, selvático”. Muito a refletir... É certo que a Constituição Federal de 1988 proporcionou significativo avanço aos direitos dos povos indígenas. Contudo, ainda existe um longo caminho a ser percorrido. Torna-se necessário fazer valer o respeito

aos direitos conquistados pelos indígenas, uma tarefa de todos os cidadãos. Não se pode esquecer que interesses econômicos, antagônicos às práticas socioculturais indígenas, atingem territórios, aldeias e comunidades, quando desconsideram a existência do diferente. Não se pode esquecer das PEC (Proposta de Emenda Constitucional) e das PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A exemplo, da PEC 215 que pode paralisar a regularização de territórios indígenas e quilombolas ao dar a palavra ao Congresso Nacional. Como desabafou um indígena da etnia Xerente, de Tocantins: “É PAC para um lado e PEC para outro, tá difícil para os povos indígenas”. Sem dúvida, a Constituição Cidadã trouxe um novo paradigma na relação do Estado, sociedades indígenas e sociedade não indígena. Por força do texto constitucional, os índios nascidos no Brasil são considerados cidadãos Brasileiros como todos os demais; são titulares de direitos e deveres inerentes à cidadania. Portanto, de “silvícola” a “índios” e “indígenas”, um reconhecimento que deve ser levado em consideração. Mas, todo cuidado é pouco porque Constituições Federais podem ser “emendadas”.

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Em 1937, chegou uma nova Carta Magna, apelidada de “polaca”, inspirada no ideário fascista. Nela, determinou-se respeito aos “silvícolas”e a posse permanente de suas terras. Na Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946, a União continuou com o propósito de incorporar os “silvícolas” à comunhão nacional, respeitando a posse das terras onde se achavam permanentemente localizados, sem que tivessem direito à transferência a outros. De caráter ditatorial, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, deu aos “silvícolas” três artigos que não trouxeram avanços, se comparada às anteriores. Já a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, é a que mais reserva artigos aos indígenas. São, ao todo, 16 vezes que as palavras “índios” e “indígenas” aparecem na Carta Magna. Como as anteriores, a União, que deve legislar sobre as populações indígenas, reconhece “as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios” e tem o Congresso Nacional competência para autorizar a “exploração e o aproveitamento de recursos hídricos e a pesquisa e lavra de riquezas minerais”. Em termos de reconhecimento de um país pluriétnico, são os Artigos 231e 232 e respectivos parágrafos que reconhecem “aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários so-

Loyuá Ribeiro Fernandes Moreira da Costa é graduada em Direito pelo Univag Centro Universitário

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MITOLOGIA

Munduruku Quando mandavam as mulheres

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UNDURUKÚ Tronco linguístico tupi. Terra Indígena Apiaká-Kayabí. Cada povo vive uma cultura própria, com especificação de língua, costumes, organização militar, estrutura política, cosmovisão, religião. Em tempos que vão longe, as mulheres habitavam a Casa-dos-Homens, e os homens estavam alojados em vasta casa coletiva. Os homens tinham de fazer todo o trabalho para as mulheres: caçar, plantar, buscar lenha, desenterrar a mandioca, espremer e fornear a farinha. Essas eram suas tarefas. E, como se isso não bastasse, também iam buscar água no rio. Foi nessas priscas eras que três mulheres - Ianiubêri, cacique do povo munduruku, Taiumburu e Parauerê, acharam três flautas chamadas caduqué. Encontraram-nas num riacho e três peixinhos as tiraram da água. As mulheres as experimentaram. — Que som bonito! disseram elas.

Então passaram a tocá-las na mata, todos os dias. E para isso saíam de casa, às escondidas. Os homens começaram a desconfiar. — Aonde irão sempre as mulheres? Acabaram por esconderse a fim de melhor espreitá-las. E as encontraram tocando as suas flautas. — Que devemos fazer? - perguntaram-se. Mas os irmãos mais novos de Ianiubêri, que se chamavam Marimaberê e Mariburubê, propuseram: — Tiremo-lhes as flautas! Elas nem sequer vão à caça e nós temos de fazer todos os serviços! Aceita a proposta, furtaram-lhe as flautas. E também as experimentaram. — Que som bonito! disseram eles. E passaram a tocá-las. As mulheres ficaram muito tristes porque já não dispunham de suas flautas. Soluçando, entraram na grande casa. Assim, os homes se apossaram da casa coletiva, que ficou sendo a Casa-dos-Homens.

Texto recolhido pelo historiador, militar e político Couto de Magalhães, publicado no livro “O Selvagem”, reeditado pela Companhia Editora Nacional, Coleção Brasiliana.

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Etnopoesia

de José Angelo Nambiquara

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POR ANNA MARIA RIBEIRO

tnopoesia, na esteira de Jerome Rothenberg, poeta, ensaísta, tradutor e antologista norte-americano, nascido em 1931, para além da trajetória que une antropologia e poesia, significa mudanças de paradigmas. A etnopoesia de José Angelo Nambiquara, em tal sentido, em tempos de dias lamacentos e sangrentos, pode ensinar que a ambição desmedida de riquezas, de poder, de autoritarismo que se espalha pelo mundo já se arrasta por séculos, causando o extermínio sem piedade. Este trabalho apresenta-se em momento oportuno, quando assistimos a morte do Rio Doce, dos descendentes de Luzia, os índios Botocudos. Curso d´água que Dom João VI arrancou dos Botocudos por Carta Régia, de 1808, assim que chegou ao Brasil, fugido das tropas napoleônicas. José Angelo Nambiquara, indígena, da aldeia Três Jacu, Terra Indígena Tirecatinga, Sapezal, Mato Grosso, escreveu, em 2001,“Minha Comparação”, quando venceu o 1º Concurso Literário e o 1º Concurso Categoria Ensino Médio. Sua etnopoesia é um caminho para novos paradigmas, como fez Neruda, o “poeta do mundo”, em seu poema “Os índios”, em “Canto Geral”.

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Minha terra é a primeira, Primeira é minha nação. Roubaste a minha terra no ato da invasão. O ato da invasão se chamou descobrimento. E esqueceste deste povo que já estava há tanto tempo. Sendo isso o início de um grande sofrimento. De um grande sofrimento o que digo não é lamento. Só eu posso dizer como é a vida deste momento. Da vida deste momento veja só o quanto durou. Abra os olhos e agora veja você nada preservou. Quase nada preservou e ainda não pagou. As aves, a caça e a mata que quase exterminou. Você quase exterminou com a vida que geraste. Como pode garantir o futuro que plantaste? O filho que geraste como vai sobreviver. Num solo tão degradado que você mesmo devorou? Você mesmo devorou a riqueza que possuía. E isso lhe fará falta por hoje e o resto do dia. Por hoje o resto do dia entenda do jeito que quer. Só sei que a verdade tu próprio nunca requer. Entenda do jeito que quer em poesia vou recitar A minha comparação que você vai escutar. Você me chama de índio isso é puro engano seu. Sou filho bem Brasileiro e este país é meu. O país que ainda é meu você nunca respeitou. A maior parte do chão você já o explorou. Você já as explorou e eu sempre as defendi Vou falar de ambas as parte e aqui tudo escrevi... Nossas matas são mais belas E o verdor se prende a elas. As aves que você tem já não cantam como aquelas. Nossas aves são mais livres. Cantam alegres noite e dia. As aves que tu possuis Já não têm mais companhia. Nossos rios têm cachoeiras De águas claras, cristalinas. O mais puro é o ar misturado com neblina Nossos campos têm mais vidas Várias vidas em cor e raça, sem campos estão vários Não vejo a menor graça. Nossas águas são incolores. Preciosa e nos dão vidas. Não sei o que queres Porque as suas estão poluídas. Nossas vidas são mais vidas em perfeita harmonia. O dinheiro compra tudo Só não compra alegria. Na tua cidade rica só vejo periferia. Vejo periferia e começo a imaginar Onde foi a produção que gerou economia. Hoje se fala mais alto a nova tecnologia Mas você ainda desconhece o valor da tua própria família.

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O Que é Que a Cariobana Tem? Tem irreverência, a palavra, a cadeira nº 2 da AML, 74 anos e muita história, feitos para contar e fazer, Marília Beatriz tem como ninguém

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ntre vários copos d’agua, em busca de amenizar o calor da tarde de Cuiabá, matando a sede,o café ainda quente, feito por volta das 9h, pela estagiária Maria Luiza, queali apreciava seu suco de manga com proteína isolada, a entrevista com a “cariobana” Marília Beatriz rendeu risos, vontade de choro engasgado, boas lembranças que pareciam serem projetadas no ar quando vinha o olhar de Marília Beatriz Figueiredo Leite a lembrar. Sua inquietude era nítida após quase duas horas de garimpagem de sua vida, no andar de um lado para o outro a contar sobre as várias formas de arte que presen-

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ciou com amigos e família. Isso era 16h mais ou menos, na sala de reunião do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso (IHGMT), localizado na Casa de Barão de Melgaço, onde também abriga a Academia Mato-grossense de Letras (AML). Tudo em meio a reforma do bicentenário casarão cuiabano. Pressa? Não! Apenas o jeito de agir em cima do pensamento rico que borbulha na mente da professora aposentada da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), que começou no Direito e terminou nas Artes, e é mestre em Comunicação e Semiótica, pelaPontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.


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CARIOBANA? Sim. É assim que ela se define pelo fato dos pais cuiabanos a terem levado para nascer no Rio de Janeiro, por conta da satisfação da mãe, em ter uma filha carioca. No Rio de Janeiro onde nasceu, em 03 de setembro de 1941, ás 23h59, morou no Leblon, Ipanema e Copacabana, dos sete anos de idade aos poucos mais de 30. Em bairros considerados mais nobres e charmosos, na época, e que não perdeu a elegância e a pompa até hoje. Mas vinha para Cuiabá brincar o Carnaval. Eram duas vezes por ano suas visitas, que acontecia também em junho. “Quer dizer, eu sou uma mulher noturna. Por isso eu gosto mesmo é da noite, horário que eu nasci e até gosto da ideia de me sentir cariobana. Tudo meu atualmente é cuiabano. Eu amo este Estado e esta cidade, que é uma terra agarrativa e linda, bem o que hoje determina o que eu sou. Que é o título do livro do meu pai, “Cuiabá Terra Agarrativa”, comemorativo de aniversário da cidade”, descreve. Em Cuiabá morou com a família numa casa na rua de baixo, no calçadão da Galdino Pimentel, de número 200, em que na frente era o escritório de advocacia do pai, e no fundo vinha a moradia com o quintal de bananeiras que Marília muito apreciava. Marília Beatriz é uma mulher sensível e ao mesmo tempo forte, características

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adotadas um tanto da mãe e o outro do pai. Muito exigente com ela mesma, que está verificado aos 74 anos de idade, tem uma certa ingenuidade, porque aprecia a vida pelo cair da chuva, pelas asas da borboleta. Aprecia pelo lado mais colorido e sofre por ela, pelo lugar onde falta ternura. Sofre pela deselegância que vê existente. Ela é uma mulher, que tanto é flor como lâmina. Que tanto é pedra, quanto água. E por isso acredita e quer a Marília que flui e frui, para correr e para andar. É uma mulher que nasceu num berço muito intrigante. Por que? Filha de um pai de família extre-mamente pobre, que é a Leite, do pai Gervásio, e sua mãe Nilce de Figueiredo, parente de dona Maria Benedita, mãe do ex-governador Dante de Oliveira, ou seja, da burguesia cuiabana. DE PAI PARA FILHA Não tem como falar de Marília sem que ela cite o seu pai. Dele vem a irreverência, o gosto pelos estudos, onde fez também Direito e trabalhou com ele no escritório de advocacia. Lá ela teve momentos que jamais esqueceu. Em um deles ela conta,balbuciando, e quase a chorar, sobre a atitude de um cliente, que ela ganhou a causa. Ele não tinha dinheiro para pagar pelo trabalho de Marília e meses após o mesmo apareceu com uma lata grande cheio de moedas para honrar com a dívida, que nem precisava ser paga. Foi

por isso e outros motivos que Marília decidiu deixar a profissão de advogada. “Não mais advogo, pois me desiludi. O Direito que deveria ser uma arte da Justiça e da equidade se tornou algo comercial. Os advogados hoje querem ganhar dinheiro e não advogar”, se emociona. “A minha relação com meu pai era complicada, mas era de admiração, de ver aquela força dele, o jeito de receber a vida e lutar por tudo.Chamava ele de pai e ás vezes de papai. Ele falava inglês, alemão, italiano, francês e começou o japonês, mas não concluiu. Lembro de ele me chamar de elefante dançante, enquanto eu arrumava os ingressos do projeto Pixinguinha com os colegas na antiga Fundação Cultural, ele entrou na salase expressando e disse em bom tom e bem sorridente: “theflyingelephant”, conta sorrindo. Apaixonada pelo pai, para falar dela teve que desvendar o senhor Gervásio, que mesmo tendo um olho de vidro, que perdeu numa brincadeira de criança na rua, onde um garoto acertou-lhe uma laranja, além de ser mulato e pobre foi casar com uma mulher branca. “Imagine o que isso causou em Cuiabá? Só que ele era um homembrilhante. Escutou de sua sogra que sua mulher não nasceu para ser servil, nasceu para se aparecer, pois não sabia fazer nada. Se casaram e meu pai aprendeu a dançar tango, depois ensinou a minha mãe, e davam show nos bailes do Grande Hotel, prédio


parado pelo PSD (Partido Social Democrático). O GOSTO PELA ARTE E da mãe, por incrível que pareça, Marília herdou a timidez, que para quem bem conhece ou já viu ela no púlpito a homenagear uma personalidade com seus textos sabe que isso já foi superado. “Quando chegava alguém em casa eu me escondia. E, preocupada com a minha timidez, aos sete anos fui levada para estudar no Rio de Janeiro, também me colocou num curso de declamação, onde eu era obrigada a aparecer em público. No primeiro mês eu queria morrer e matar a minha mãe, mas hoje eu agradeço”, se recorda com carinho. E foi dona Nilce quem ensinou Marília as coisas mais refinadas e de que hoje ela gosta. O primeiro concerto de música clássica que viu e ouviu foi por meio de sua mãe,

que a levou no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Assim conheceu Fernanda Montenegro, Maria Fernanda, filha da grande poeta Cecília Meireles e Sérgio Brito. Também participou desta história a irmã caçula e cuiabana, Moema, e a sobrinha Andrea. Então sempre em junho, num dos períodos do ano em que Marília vinha do Rio a passeio a família fazia recital, ou no auditório do colégio São Gonçalo, ou no Cine Teatro Cuiabá e a platéia lotava para vê-los. As artes e a cultura a encantavam, de um modo geral, que a levou além dos estudos em Direito. E o que fez? Marília Viajou por várias áreas do conhecimento. Nos Estados Unidos teve a oportunidade de conhecer e degustar a música jazzista. Viu shows em Nova Iorque, onde conheceu Ray Charles. De lá foi para o berço do jazz, em Nova Orleans, onde con-

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onde foi a Secretaria de Cultura, ali na avenida Getúlio Vargas”, descreve MB. O excêntrico pai da cariobana sempre sabia o que estava fazendo. Perseverante, tudo o que buscava obtinha sucesso. Tanto que quando se candidatou a deputado tinha uma marchinha de Carnaval no Brasil e a oposição, a UDN (União Democrática Nacional) cantava a música para poder debochar e diminuir Gervásio. Era mais ou menos assim: “Eu sou candidato (porque ele andava durinho, explica Marília), do olho de vidro (por que ele usava uma prótese de vidro no lugar do olho) e da cara de mau (que de mal não tinha nada. Era uma pessoa tão a frente do seu tempo que, numa aposta, na frente da prefeitura, teve que ficar nu no chafariz)”. O que aconteceu foi ao contrário da intenção da UDN e ele ganhou em dis-

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feriu, andando nas ruas, artistas se apresentando. Sem nem saber quem era, só sabia que era um ritmo legal e dançava ali mesmo. Quando estava em Nova Iorque fez um curso no Museu de História de Arte Moderna, o Moma. E quando retornou de sua peregrinação afora, para o Brasil foi direto para a chefia do Departamento de Artes da UFMT, onde tinha a Banda Sinfônica, que na verdade era o embrião da Orquestra Sinfônica que existe lá. Na ocasião o regente da Banda era o alemão Konrad Wimmer, nome que Marília fez questão de citar. Na mesma ocasião estavam instalando o Coral da UFMT, que era regido por Peter Ens e Marília coordenou todas as atividades culturais, que incluía o Museu de Arte e Cultura Popular (MACP), o Museu do Índio, o Ateliê Livre e o Cine Clube Coxiponés, entre os anos 80 e 90. Foi nesta época que a pro-

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fessora publicou seu primeiro livro, “O Mágico e o olho que vê”, datilografado, xerocado e colado, pela editora da universidade. A capa foi feita por uma aluna de lá. Sua paixão pelo teatro a enveredou em escrever peças e ganhou um prêmio com “A Palavra: o homem e o objeto”, uma adaptação e direção de Marília, baseada num poema de Afonso Romano, um dos maiores poetas Brasileiros. Tudo isso na UFMT, onde também conheceu Wlademir Dias-Pino que lançou a ideia de 365 exposições diferentes por dia, em cada canto da Universidade Federal, junto com Clovis Rezende Matos. E este ousado projeto foi muito bem aceito que repercutiu na comunicação nacional. Já pensou o trabalho que isso deu? Levada pela colega Martha Arruda foi fazer Comunicação e Semiótica na PUC de São Paulo. Uma época riquíssima em sua vida, em

todos os sentidos, entre os anos de 90 e 95. Foi onde teve um grande amor, pessoas interessantes que conheceu e a importante visão com o poema “concreto”, que enriqueceu e marcou sua trajetória. Em 1996 publicou “Designação: Arquigrafia do prazer”, pela editora Annablume. Livro lançado na Bienal do Livro, em São Paulo, e no Rio de Janeiro, na Livraria da Gávea. Fez vários cursos na cidade da garoa, em análises e mitologia, de mitoterapia e na FAAP - Fundação Armando Alvares Penteado o curso de História da Arte. TEM GRAÇA COMO NINGUÉM Com um currículo extenso e uma experiência de vida que faz jus ás suas conquistas, havia chegado a hora de imortalizar sua obra e seus feitos. Pode parecer engraçado, mas a ideia de ir para a AML aconteceu com a insistência do acadêmico Avelino


de Mendonça, que eu convivi. Eu quero só contribuir com a sociedade”, explica. Quando foi se inscrever uma pessoa a questionou o por que de se inscrever na cadeira do pai dela, de número 2, e então ela respondeu numa simples e curta frase: “Mas é essa mesma que eu quero”. “Aí quando eu cheguei em casa, onde fui incomodada com aquilo na cabeça, eu me deparei com o anuário da AML, do ano de 40, aberto na mesa com o nome do meu pai. Então tive a certe-

za e lembrei das várias vezes que Avelino me disse sobre o assunto”, recorda-se. Marília Beatriz Figueiredo Leite então foi eleita em 15 de agosto de 2013 e em 11 de setembro de 2015 já é presidente da AML. O que temos para dezembro? Neste mês tem apenas a reforma da Casa Barão de Melgaço, que irá e estender entre quatro a seis meses. E enquanto isso a Academia será itinerante, levando autores e crônicos para ampliarem conhecimento em municípios da Baixada Cuiabana.

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Tavares por meio de recados de uma podóloga que cuidava dos dois. “E até que um dia ele me ligou. Avelino é espírita e disse que sonhou com meu pai e que eu precisava entrar para a Academia. Eu achava a Academia Antiquada. Depois eu resolvi entrar até para comprovar e se fosse assim eu ia querer mexer. Enfim, era importante para meu pai como é hoje para mim. Eu não quero ser imortal, longe da vaidade que era um traço muito nítido em meu pai e Rubens

Dicas de Leitura ROTA DE FUGA (2015) MAURÍCIO MUNHOZ

O CAMBISTA (2014) EDUARDO MAHON

Chiado Editora www.chiadoeditora.com originais@chiadoeditora.com

Editora TantaTinta | Carlini & Caniato www.carliniecaniato.com.br comercial@tantatinta.com.br

»» A história de Andreas Spinger, um alemão de Munique, se confunde com o surgimento e a chegada ao poder dos nazistas. Sua participação na formação da SS, a temível tropa de proteção do Führer, e na condução de um serviço ultrassecreto, de espionagem e contraespionagem, de conhecimento exclusivo de Hitler, que acompanhava a vida dos ministros e líderes militares e paramilitares do reich, inclusive da SS como Himmler, o levaram a conduzir um plano para que o nazismo sobrevivesse, mesmo após a derrota na segunda guerra mundial.

»» Erick Plum vive numa sociedade onde os segredos são vendidos e penhorados em empresas: o cliente chega e conta um segredo que terá o valor avaliado. Então acontece como em uma penhora normal, se o cliente não pagar os juros, o segredo se torna posse da empresa. Podem ter pouco ou muito, muito valor em uma comercialização, que desse modo a empresa está livre para fazê-la. É numa empresa assim que Erick trabalha, como “Cambista”, mas um segredo o envolvendo é penhorado e ele tem que lidar com a situação de tentar resgatá-lo sem trazer danos à mesma.

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Preservação do Planeta

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POR JOÃO CARLOS VICENTE FERREIRA

inesperado aconteceu na COP 21, reunião que juntou 195 países em torno do ideal de despoluir nosso planeta. Foi firmado um histórico acordo com ações de desmatamento zero e energia renovável para todos. O acordo de Paris define a etapa definitiva para diminuir a pobreza, fortalecer a paz e garantir uma vida de dignidade e oportunidade para todos. Ao fechar esse acordo, as nações do mundo mostraram o que união, ambição e perseverança podem fazer. Tais palavras foram exaustivamente repetidas por Ban Kimoon, secretário-geral da ONU e David Cameron, primeiro-ministro britânico, dentre outras autoridades mundiais, neste dezembro de 2015, numa cidade que ainda junta os cacos dos atentados terroristas de novembro último. Uma das vozes que se fez ouvir na COP 21 foi a do governador Pedro Taques, que acompanhou os principais debates e mostrou projetos e propostas de Mato Grosso para inibir o avanço intolerável do desmatamento e das recorrentes queimadas. Perguntado por um repórter espanhol sobre quais iniciativas o estado apresentava em Paris, exatamente o maior produtor de grãos e de gado do país, disse que estas iniciativas seriam alçar estratégias de produzir e trabalhar pela coesão social, buscando a melhoria das condições

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de vida dos trabalhadores. Também falou com propriedade e conhecimento de números de áreas plantadas em lavouras e em pastagens. “Em regulação do meio ambiente, queremos recuperar também um milhão de hectares de Área de Preservação Permanente e 1,9 milhão de Reserva Legal. No total, temos como objetivo reduzir nossas emissões em seis gigatoneladas entre 2015 e 2030” - disse. Sempre otimista em relação ao resultado da COP 21, Taques se comprometeu a acabar com a derrubada ilegal de árvores até 2020, antes de viajar à Paris, antecipando em 10 anos a meta nacional de desmatamento ilegal, que é de 2030. Para que os resultados sejam eficientes e alcançados, o estado atuará com rigorosa fiscalização nesses próximos anos, esperando contar com apoio financeiro da União e de investidores internacionais públicos e privados. Um fator preocupante para Mato Grosso, com o estabelecimento desta meta de 2020 é que, pelo acordo do COP 21, está incluído o compromisso de países ricos de garantirem um financiamento de ao menos US$ 100 bilhões por ano para combater a mudança climática em nações desenvolvidas somente a partir de 2020. Certamente os argumentos do governador Taques serão convincentes o suficiente para permitir que o projeto de

acabar com a derrubada ilegal de árvores até 2020 seja exitoso. Certamente conseguirá os recursos necessários, isso porque o mundo quer formular um acordo global para corte das emissões de gases do efeito estufa e implementação de políticas de adaptação ao aquecimento global. Por isso o momento é o mais adequado possível e a ida de Pedro Taques a Paris foi mais do que oportuna, foi fundamental. Nesta mesma linha de ação, recentemente, foi realizado em Sinop o I Congresso Florestal de Mato Grosso, evento organizado pela Coordenação do curso de graduação em Engenharia Florestal e do Centro Acadêmico de Engenharia Florestal da UFMT, campus Sinop. Na ocasião foi anunciado que mais de 116 mil toneladas de carbono foram recuperadas da atmosfera entre 1999 e 2014, através do projeto Poço de Carbono Floresta, desenvolvido pela Peugeot em parceria com a ONF (Office National dês Fôrets), na fazenda São Nicolau, uma área de 10 mil hectares em Cotriguaçu, no Noroeste de Mato Grosso. Tais números são equivalentes a emissão de gases de efeito estufa produzidos por automóveis numa cidade de mais de 300 mil habitantes. Mato Grosso trilha pelo caminho correto da sustentabilidade e da preservação de seu meio ambiente.



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