Reportagem
A R E V I S TA D O C O M I T É O L Í M P I C O D E P O R T U G A L
Nº 134, Dezembro de 2012 Publicação mensal
FESTA OLÍMPICA No aniversário dos 103 anos do COP, dezenas de pessoas foram premiadas após um discurso do presidente da instituição.
Entrevista José Vicente Moura, presidente do COP, faz um balanço dos 15 anos à frente da instituição
Reportagem Um dia com... Rui Costa, atleta olímpico de ciclismo, entre ginásio e treinos de estrada
Opinião José Manuel Costa, Jurista e Membro da Comissão Instaladora Arbitral de Desporto
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Sumário
4 EDITORIAL 6 BREVES 10 TEMA DE CAPA CELEBRAÇÃO DOS 103 ANOS DO COP 14 ENTREVISTA JOSÉ VICENTE MOURA, PRESIDENTE DO COP 18 UM DIA COM… RUI COSTA, ATLETA OLÍMPICO DE CICLISMO 20 OPINIÃO JOSÉ MANUEL COSTA, JURISTA E MEMBRO DA COMISSÃO INSTALADORA DO TRIBUNAL ARBITRAL DE DESPORTO 22 PUBLIREPORTAGEM SAMSUNG
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TEMA DE CAPA ANIVERSÁRIO DO COP
Momentos de glória foram recordados na celebração dos 103 Anos do Comité Olímpico de Portugal (COP). Após um breve balanço dos últimos 30 anos por José Vicente Moura, presidente do COP, dezenas de pessoas foram premiadas.
Ficha Técnica
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ENTREVISTA
JOSÉ VICENTE MOURA
O presidente do COP, fala-nos dos 15 anos de actividade à frente do COP e do sentimento de dever cumprido. Reformou e modernizou o Comité e fê-lo passar de uma instituição dispensável e amadora à “maior instituição desportiva portuguesa”.
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UM DIA COM... RUI COSTA
A Olimpo foi acompanhar o dia de Rui Costa, Atleta Olímpico de ciclismo, o homem que acabou de bater pelos votos o futebolista Cristiano Ronaldo na conquista do título de Melhor Atleta Masculino de 2012.
Propriedade e Edição Comité Olímpico de Portugal, Travessa da Memória, 36 1300-403 LisboaTel.: 21 361 72 60 Fax: 21 363 69 67 Director José Vicente Moura Director Executivo Francisco Empis Textos Cunha Vaz & Associados Fotos Fernando Piçarra, Getty Images Projecto Gráfico e Paginação Cunha Vaz & Associados Impressão Sig, Sociedade IndustrialGráfica, Lda. Rua Pêro Escobar, 21, 2680-574 Camarate Lisboa Tiragem 2.500 exemplares Periodicidade Mensal Numero de Registo ICS 102203 Depósito Legal 9083/95 Distribuição gratuita
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Editorial
JOSÉ VICENTE MOURA Presidente do Comité Olímpico de Portugal
UM ESTUDO “IRRELEVANTE”?
“Os Jogos Olímpicos são o epítome da actividade não-politizada.” Michael Johnson
Baseado num conjunto de ensaios de hipóteses, foi apresentado durante este mês de Novembro um estudo sobre a avaliação do impacto do financiamento público, supostamente global, aos Ciclos Olímpicos e Paralímpicos 2001-2012. Definido um ponto de partida pela reputada PricewaterhouseCoopers, construíram-se regressões e estatísticas, diferenciaram-se análises, definiram-se instrumentos. Inversamente ao que seria expectável e cientificamente aceite, concluiu-se com a formulação de perguntas para o Governo, alegadamente com a estrutura do desporto nacional, definir prospectivamente a política desportiva. Através de um modelo e de indicadores importados, sem que se perceba a diferença entre normalização dos dados ou eliminação dos mesmos, formulando as perguntas
pertinentes, é predito ‘a posteriori’ que Portugal devia ter ganho 5 medalhas nos Jogos Olímpicos de Londres 2012? Terminados os Jogos, não podemos deixar de reter que 50% das medalhas em disputa foram conquistadas por um conjunto de 10 países. Essa razão leva-nos a duvidar sobre a aplicabilidade das mencionadas regressões ou correlações a países como Portugal. Não conseguimos compreender a previsão das 5 medalhas a Portugal. O número de praticante da modalidade é irrelevante enquanto variável explicativa dos resultados? Assim, e segundo a literatura que terá sido compulsada pela empresa autora, consideramos que deveriam ter sido considerados os resultados desportivos anteriores, em linha com as predições da Infostrada, USA Today ou SportsMyriad, entre outras. Deve-
ria ter-se em conta também a avaliação dos factores relacionados com o crescimento do envolvimento, considerados pela Goldman Sachs. Serão as 20 variáveis-chave indiscutíveis? Não seria de considerar as 17 variáveis que ficaram por avaliar? Talvez a resposta não esteja na dúvida inerente à avaliação, mas sim no entendimento sobre o viés em que o estudo poderá ter incorrido. No que respeita às recomendações e linhas orientadoras propostas pela PwC, cabe-nos sugerir uma leitura atenta às obrigações vertidas nos contratos-programa, anexos e relatórios de avaliação. Isto para que possam ser rectificadas no sentido de um efectivo contributo para o Desporto em Portugal. Que se façam mudanças, mas não para que tudo fique na mesma!
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Breves
RIO 2016 CONCURSO PARA SELECÇÃO DE MASCOTES DOS JOGOS
SAÚDE SEGURO DO PRATICANTE DE ALTO RENDIMENTO OFICIALIZADO O Seguro do Praticante de Alto Rendimento, previsto na legislação desde 1990, foi finalmente oficializado. O acto decorreu na Secretaria de Estado do Desporto e Juventude através da assinatura de contrato entre o Instituto Português do Desporto e Juventude e a seguradora Império Bonança. O seguro que terá o Estado como tomador pelo preço de 238 mil Euros abrange as coberturas de assistência hospitalar (15 767€), assistência ambulatória (1 577€), invalidez permanente absoluta (52 556€) e invalidez permanente parcial (52 556€), destinando-se a um universo de aproximadamente 450 atletas de modalidades olímpicas, paralímpicas e outras.
REMO
PEDRO FRAGA E NUNO MENDES CONQUISTAM PRATA NO EUROPEU A dupla portuguesa de remadores, Pedro Fraga e Nuno Mendes, conquistou a Medalha de Prata em LM2x no Campeonato da Europa de Remo, que decorreu no mês de Setembro em Varese, Itália. Os remadores portugueses concluíram a prova em 6.22,27 tendo ficado a apenas 0.0,29 da dupla campeã europeia, os gregos Panagiotis Magdanis e Spyridon Giannaros. O pódio ficou fechado com a dupla britânica, Chris Boddy e Michael Mottram, com a marca de 6.23,34. Recorde-se que Pedro Fraga e Nuno Mendes conquistaram nos Jogos Olímpicos de Londres o 5.º lugar, naquela que foi a melhor prestação de sempre de uma dupla portuguesa numa competição Olímpica.
FRANCISCO EMPIS
NOVO RESPONSÁVEL PELO MARKETING E COMUNICAÇÃO DO COP Francisco Empis é o novo director de marketing e comunicação do Comité Olímpico de Portugal (COP). A nomeação surge na continuidade da parceria entre o COP e a agência de comunicação Cunha Vaz & Associados. Francisco Empis veio substituir João Malha, que dirigiu o departamento durante os Jogos Olímpicos de Londres 2012. Francisco Empis, de 28 anos, é licenciado em Comunicação Social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio de Janeiro, no Brasil. Antes de assumir funções no COP, trabalhou como assessor de imprensa no Conselho da Europa, e em campanhas de integração de imigrantes em Portugal. Encontra-se actualmente a completar uma pós-graduação em Direito Europeu.
O
Comité Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio2016 lançou, em Novembro, um concurso para a escolha de uma mascote para os Jogos Olímpicos e para os Jogos Paralímpicos. As mascotes serão apresentadas ao público dois anos antes dos Jogos, no segundo semestre de 2014. As mascotes são um importante veículo de transmissão da mensagem do maior evento multidesportivo do planeta, especialmente para o público infanto-juvenil. O processo, que contará com a consultoria da empresa Anima Mundi, terá um prémio de 50 mil Reais (cerca de 19 mil Euros). No concurso apenas são admitidos profissionais e empresas brasileiras. Profissionais liberais também poderão participar, desde que associados a alguma empresa, tais como produtoras de animação, produtoras cinematográficas, agências de design, de publicidade e estúdios de ilustração. O objectivo é que a mascote olímpica e a mascote paralímpica estejam em linha com os pilares do Rio2016 e com os valores do movimento Olímpico e Paralímpico. O regulamento está disponível em http://www.rio2016.com/ comiteorganizador/bens-e-servicos
LIVRO GUSTAVO MARCOS LANÇA “KELFI E OS JOGOS OLÍMPICOS” O livro “Kelfi e os Jogos Olímpicos”, de Gustavo Marcos, foi lançado no mês de Outubro no auditório do Comité Olímpico de Portugal (COP). O livro, editado pelo Comité Olímpico de Portugal em colaboração com o Comité Paralímpico de Portugal (CPP), destina-se a crianças do ensino básico e pretende dar-lhes a conhecer o universo Olímpico. A obra aborda vários temas, como as origens das olimpíadas, as diferentes modalidades Olímpicas e as edições dos jogos modernos, e também temas didácticos como a importância do desporto para a saúde. O personagem principal, o
Kelfi, leva os leitores a conhecer estes temas com várias perguntas e actividades práticas ao longo da história.
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1980 Ano em que se realizaram pela primeira vez as Olimpiadas na Rússia.
ARQUITECTURA
VENCEDOR DO CONCURSO DA SEDE DO CAMPO OLÍMPICO DE GOLFE É ANUNCIADO O JOVEM arquiteto Pedro Évora, neto de um medalhista olímpico, vai assinar o projecto da sede do campo olímpico de Golfe. “Uma grande varanda”, que valoriza a paisagem tropical exuberante da Barra da Tijuca num ambiente de convivência e contacto com a natureza, com o espírito carioca, é a marca do projecto vencedor. Pedro Évora e Pedro Rivera, do Rio de Janeiro, são, respectivamente, autor e co-autor do projecto, que contaram com a colaboração de Carina Batista, José de Latorre, Thiago Tarsitano, Romulo Milanese e Mariana Vilallonga. Ao todo, 82 equipas de arquitectos e paisagistas, de diversas cidades do Brasil, foram a concurso, com um total de 57 projectos entregues. “Tínhamos o desejo de abrir as portas para a cultura brasileira e de dar esta oportunidade aos jovens arquitetos do nosso país. Eles apresentaram trabalhos que enobrecem e orgulham a arquitectura brasileira. Estou encantado com o resultado”, afirma Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comité organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio2016. O júri foi composto pelos arquitetos Gustavo Nascimento, gerente de Arquitectura e Design de Instalações Desportivas do Rio 2016™, e Michael Johnson, americano especialista em projetos de campos de golfe, como representantes do Rio 2016™, além de três arquitetos do IAB-RJ, Nivaldo Vieira de Andrade Junior, Eduardo Horta e Fernando Alencar.
INFRAESTRUTURAS REVITALIZAÇÃO DA REGIÃO DO PORTO DO RIO JÁ COMEÇOU As primeiras obras de infraestrutura que fazem parte do plano de revitalização da região do porto do Rio de Janeiro, intitulado “Porto Maravilha”, já começaram. Durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio2016, muitos espectadores irão desembarcar na cidade em navios transatlânticos, que ficarão atracados e servirão de hospedagem para os turistas. O objectivo é reintegrar a degradada região do porto à cidade, modernizando-a mas preservando a sua identidade. Um dos símbolos da nova fase será o Museu de Arte do Rio (MAR), que está a ser construído na região.
123 dias A sensivelmente um ano da chegada da Tocha Olímpica à Rússia, o Comité Organizador dos Jogos Olímpicos de Inverno Sochi2014 divulgou a rota que a Tocha Olímpica e os seus portadores percorrerão, que será a mais longa da história. Ao longo de 123 dias, a Chama Olímpica irá viajar mais de 65 000km a pé, de carro, de avião, de comboio e até mesmo de “troika”, um trenó tradicional russo. A Tocha será transportada por cerca de 14 mil portadores e irá visitar mais de 2 900 locais ao longo das 83 regiões da Rússia, desde Kaliningrado a Vladivostok, passando a uma hora de distância de 90% da população do país, ou seja, cerca de 130 milhões de pessoas poderão participar das celebrações. O percurso da Chama Olímpica começará em Moscovo antes de visitar várias áreas históricas, culturais e pitorescas da Rússia, incluindo Yasnaya Polyana, a parte russa de Curonian Spit, os vulcões de Avachinskiy e a Reserva de Kizhi, culminando na Cerimónia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno Sochi2014, no dia 7 de Fevereiro de 2014.
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Breves
CANDIDATURAS ORGANIZAÇÃO DOS JO JUVENTUDE 2018 As cidades de Buenos Aires (ARG), Glasgow (GBR), Guadalajara (MEX), Medellín (COL) e Roterdão (HOL) submeteram as suas candidaturas para colherem os Jogos Olímpicos Juventude 2018. As cidades finalistas serão anunciadas pelo Conselho Executivo do Comité Olímpico Internacional (COI) em Fevereiro de 2013, em Lausanne. Após uma avaliação mais profunda, os membros do COI irão eleger a cidade anfitriã. A eleição final está marcada para 4 de Julho do próximo ano.
TRIATLO JOÃO SILVA NO ‘TOP TEN’ MUNDIAL Um ano depois de se ter tornado em Yokohama o primeiro atleta masculino português a vencer uma etapa do Campeonato do Mundo de Triatlo, João Silva voltou a conquistar o primeiro lugar na prova nipónica, sétima e penúltima etapa do Campeonato do Mundo 2012, com o tempo de 01:48:44. O outro português em prova, João Pereira, terminou no 31.º lugar com a marca de 1:55.49. Graças a esta vitória e ao 21.º lugar na Grande Final do Mundial de triatlo em Auckland (Nova Zelândia), João Silva fecha o campeonato no Top10 com 2682 pontos. O triatleta que, pela terceira vez consecutiva, foi o melhor português na competição volta a integrar o ‘top ten’ da modalidade.
JANTAR-REUNIÃO COP RECEBE CONGÉNERE CHINÊS A delegação chinesa, chefiada pelo vice-presidente do Comité Olímpico Chinês e vice-ministro do Desporto, Sr. Xiao Tian, foi recebida pelo Presidente do COP, Comandante Vicente Moura, acompanhado pelo secretário-geral Eng.º Marques da Silva e pela Dr.ª Angelica Santos, Vogal da Comissão Executiva. No decorrer da reunião foi feito um convite para uma delegação do COP visitar, no próximo ano, o Comité Olímpico Chinês em Pequim, durante a qual será assinado um protocolo de entendimento entre as duas entidades em áreas desportivas
CONFERÊNCIA
“OLÍMPICOS 2012 DÁ O MELHOR DE TI”
O Pavilhão da Escola Professor Noronha Feio, em Queijas, foi palco no passado dia 20 de Novembro da Conferência “Olímpicos 2012 Dá o melhor de ti”. A conferência contou com a presença dos atletas David Rosa (Ciclismo) e Sara Carmo (Vela), que fizeram parte da Missão Londres 2012, bem como do Presidente da Comissão de Atletas Olímpicos (CAO) e Medalhado de Bronze nos Jogos Olímpicos de Atlanta 1996, Nuno Barreto (Vela). Os oradores enalteceram o papel do desporto na formação individual, através da sua experiência. O Comité Olímpico de Portugal (COP) esteve representado por Angélica Santos, membro da Comissão Executiva do COP. Nesta ocasião foi também premiada a Escola Professor Noronha Feio, que com o ‘slogan’ “Ganhar ou perder, com ‘fair-play’ é vencer” venceu o concurso lançado pela Câmara Municipal de Oeiras às Escolas do 2º, 3º Ciclos e Secundárias no âmbito do Programa Municipal de Promoção do Espírito Desportivo.
VELA
CLASSE RS:X MANTÉM-SE NO PROGRAMA DOS JOGOS OLÍMPICOS
A
classe de Vela RS:X continuará a figurar no programa dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016. A continuidade da classe ficou decidida no Congresso da Federação Internacional de Vela (ISAF), que decorreu na Irlanda no início de Novembro. Esta decisão vem revogar uma votação anterior que ditava a substituição
da classe RS:X pelo Kitesurf no programa dos próximos Jogos Olímpicos. Nos Jogos Olímpicos de Londres 2012, Portugal foi representado nesta classe pelo velejador João Rodrigues, que conta já com seis presenças em Jogos Olímpicos e que assim poderá almejar alcançar no Rio de Janeiro 2016 a sua sétima presença.
LIVRO 15ª CONFERÊNCIA MUNDIAL “SPORTS FOR ALL” A 15ª Conferência Mundial do COI, subordinada ao tema “Desporto para Todos”, terá
lugar em Lima (Perú) entre os dias 24 e 27 de Abril de 2013. O encontro, que terá como anfitriões o Governo Municipal de Miraflores e o Instituto
Peruano do Desporto, está a ser organizado pelo COI em conjunto com o Comité Olímpico do Perú e em colaboração com a SportAccord. De referir que a conferência mundial “Sport For All”, desde a sua primeira edição, em 1986, dedica-se a promover a saúde, o ‘fitness’ e o bem-estar e a incentivar um maior número de pessoas de todas as idades a participarem em actividades desportivas e a experimentarem os valores olímpicos. Inscrição através do sítio www.sportforall2013.org
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Tema de Capa
CELEBRAÇÃO DOS 103 ANOS DO COP
Foi com emoção e sentido de dever cumprido que dirigentes, atletas, treinadores e amantes do Desporto celebraram os 103 anos de existência do Comité Olímpico de Portugal (COP). Várias dezenas de pessoas foram premiadas após Vicente Moura, presidente do COP, ter feito um breve balanço dos últimos 30 anos que o ligam ao Movimento Olímpico português. Alexandre Mestre, o representante do Governo, desafiou ainda o líder do COP - que está em final de mandato - a colaborar no sentido de, com o seu saber, melhorar o paradigma do desporto nacional.
Fotos Fernando Piçarra
MOMENTOS DE GLÓRIA RECORDADOS EM FESTA OLÍMPICA
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DEZENAS DE GALARDOADOS COM PRÉMIOS DE MÉRITO OLÍMPICO Foram dezenas de atletas, treinadores, dirigente federativos, do Comité Olímpico e amantes do desporto os homenageados na festa do centésimo terceiro aniversário do COP. Pelo palco instalado no Pavilhão das Galeotas do Museu da Marinha passaram dirigentes olímpicos como Vasco Lince, Geraldes de Oliveira, Manuel da Silva Moura, Carlos Cardoso, Jorge Cruz, Mário Várias Cardoso, Miguel Nobre Ferreira ou José Manuel Fiadeiro, alguns deles companheiros de caminhada de José Vicente Moura no seu primeiro mandato à frente do COP.
Outros se seguiram no trabalho em prol do Movimento Olímpico e por isso tiveram honras de serem recordados: Victor Nogueira, Artur Lopes, Vítor Fonseca da Mota, João Correia, Norberto Rodrigues, Manuel Marques da Silva, Raúl Martins, João Matos, Alípio de Oliveira, José Vasques Osório, Mário Saldanha, António Feu e Nuno Simões; mas também António Roquette, António Aleixo, Manuel Boa de Jesus, Pedro Sousa Ribeiro e Maria João Vitorino ou Vicente Araújo e Celeste Gil (ausentes), Paulo Frischknecht, Susana Feitor, Florindo Morais, Nuno Fernandes e
Fotos Fernando Piçarra
// José Vicente Moura, presidente do COP, homenageia o secretário de Estado do Desporto e da Juventude com uma placa de gratidão e reconhecimento. Os remadores Emanuel Silva e Fernando Pimenta receberam a Medalha Olímpica do COP após terem conquistado a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Londres 2012
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Sílvio Rafael. Na leva mais recente de dirigentes do COP pontuam Carlos Lopes, José Luís Ferreira, Mário Santos, Angélica Santos, Pedro Sarmento, Sandra Monteiro, Rui Coelho, João Salgado da Silva e Nuno Barreto. Os prémios anuais do COP foram entregues ao velejador João Rodrigues (Prémio Especial COP), à judoca Ana Hormigo (Prémio Fair Play), ambos ausentes em viagem, e a Tomás Araújo, 13 anos, praticante de artes marciais chinesas (Prémio Juventude). A Medalha de Mérito foi entregue a Alda Corte-Real (Ginástica)
ais de duas centenas de dirigentes desportivos, atletas, treinadores e responsáveis políticos na área do desporto marcaram presença na cerimónia de comemoração dos 103 anos do Comité Olímpico de Portugal (COP) que se realizou no Pavilhão das Galeotas do Museu de Marinha, em Lisboa. O valor de uma instituição como o COP ficou vincado no rico descritivo histórico elencado pelo seu presidente e ainda pelas palavras proferidas pelo actual secretário de Estado do Desporto e Juventude, Alexandre Mestre: “Só instituições ímpares, com valia, enraizamento e prestígio junto dos cidadãos portugueses é que conseguem manter a chama acesa durante mais de cem anos. Neste caso a Chama Olímpica”, frisou. Foi com a voz embargada que o comandante José Vicente Moura anunciou aos convidados da festa do 103º aniversário a notícia do falecimento de Manuel Ribeiro da Silva, um ilustre cientista do Porto, praticante de basquetebol na juventude, que
e a Vítor Carvalho (C.P.C.C.R). A Medalha Olímpica coube à dupla Emanuel Silva e Fernando Pimenta (Canoagem) e a da Ordem Olímpica, o mais alto galardão do COP, a Miguel Nobre Ferreira (comissão jurídica). No final da cerimónia ainda houve lugar à entrega de prémios a Maria Helena Saraiva, colaboradora há mais de dez anos no COP; a Ricardo Florêncio, ‘Managing Partner’ da Desportímedia; a António Cunha Vaz, ‘Chairman’ da consultora em comunicação CV&A; e ao ContraAlmirante António Bossa Dionísio, director do Museu do Mar.
ao Movimento Olímpico deu o seu tempo e saber para a criação da Academia Olímpica de Portugal. Fez-se um sentido minuto de silêncio e de seguida o presidente fez a evocação dos momentos altos do passado recente do COP e do movimento olímpico português. O comandante Vicente Moura revelou como, em 1981, acabou, por mero acaso, eleito numa lista candidata aos órgãos sociais do COP. “Por imperativo estatutário, houve duas listas a sufrágio. Numa delas, a vencedora, liderada pelo engenheiro Lima Belo, figurava o meu nome, sem o meu conhecimento, sendo eu então secretário-geral da Federação Portuguesa de Natação. O presidente da minha federação inclui-me na lista de Lima Belo e este ganhou. Vi-me então, de um momento para o outro, catapultado para o convívio com grandes figuras do olimpismo português”, recordou, explicando assim como surgiu o seu contacto com a instituição máxima do olimpismo português. Dezembro 2012 . Olimpo . 11
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Tema de Capa
GOVERNO CONVIDA VICENTE MOURA A PARTILHAR SOLUÇÕES
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omo as instituições são uma emanação das pessoas que as criam e dinamizam, importa dar os parabéns a todos os dirigentes e funcionários que emprestaram o seu tempo e saber, décadas a fio e todos os atletas, treinadores e demais dirigentes desportivos, que trouxeram reconhecimento ao COP sempre em nome do País”. Foi desta forma que Alexandre Mestre, actual Secretário de Estado do Desporto e Juventude, felicitou todos os responsáveis pelo COP durante a cerimónia do seu 103º aniversário, que decorreu no Museu da Marinha, em Lisboa. Sabendo estar o presidente do COP em final de mandato, o governante com a tutela do Desporto criticou e lançou um repto à pessoa de José Vicente Moura, pedindo-lhe “um compromisso institucional e pessoal na remessa de contributos para o futuro programa desportivo 2012-2024, gizando connosco o futuro do desporto português em geral e do olimpismo português em particular”. Concordando com as premissas do presidente do COP em funções – que assumiu publicamente estar “o nosso modelo desportivo esgotadíssimo, obsoleto, ultrapassado, desarticulado e sem profundidade, precisando de mudar o paradigma” – desafiou o ainda responsável máximo pelo desporto olímpico a “partilhar soluções, experiências e a sua visão, como agente incontornável que é, no sistema desportivo nacional”. “Não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar este ‘knowhow’”, garantiu.
// Dois parceiros do COP foram homenageados em noite de festa. O director do Museu do Mar, o Contra-Almirante Bossa Dionísio e o presidente do Comité Paralímpico de Portugal, Humberto Santos Três anos mais tarde, em 1984, coube a José Vicente Moura chefiar a Missão Olímpica que levou 37 atletas até Los Angeles. “Obtivemos três medalhas, a histórica medalha de ouro de Carlos Lopes e duas de bronze, de Rosa Mota e do nosso saudoso António Leitão”, referiu, acrescentando a esse mandato os feitos olímpicos de Seul em 1988: “a participação culminou com a medalha de ouro de Rosa Mota, a maior maratonista de sempre”, disse-o, sendo interrompido pela audiência com uma enorme salva de palmas. Um ano depois, 1989, foi a vez de José Vicente Moura ser eleito pela primeira vez como presidente do COP. “Nesse mandato merece referência os esforços que envidámos para a criação da Fundação do Desporto, a criação da assembleia do desporto federado que deu origem à Confederação do Desporto e a participação intensíssima na primeira lei de bases do desporto”, recordou, explicando as razões pelas quais tomou, em 1993, a decisão de não se recandidatar: “o facto de em Barcelona não se ter
conquistado nenhuma medalha marcou negativamente a minha prestação enquanto presidente do COP, sem apoio visível não me recandidatei”. Quatro anos depois, Vicente Moura está de volta como cabeça de uma lista vencedora. É então que começa a verdadeira revolução que mudou o rosto do Comité Olímpico. “Alteraram-se os estatutos, nome e logótipo do COP por forma a modernizar a sua visibilidade. Tivemos uma boa participação nos Jogos de Sydney 2000, onde se obtiveram duas medalhas de bronze, Fernanda Ribeiro e Nuno Delgado”, relembrou. “Em 2001 voltei a ser reeleito. Criámos a Comissão de Atletas Olímpicos (a CAO) e colocámos de pé a ACOLOP. Nos Jogos Olímpicos de Atenas tivemos uma excelente participação: 3 medalhas, duas de prata, uma de Sérgio Paulinho e outra de Francis Obikwelu, e uma de bronze de Rui Silva”, salientou. Reeleita em 2005, a equipa liderada por Vicente Moura preparou a gestão do projecto dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008, criou os Jogos da Lusofonia, preparou um
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LANÇAMENTO DE LIVRO E DESCERRAMENTO DE PLACA COMEMORATIVA Antes do jantar, houve tempo para o lançamento do Livro Evocações Olímpicas, de David Sequerra, na sede do COP. Segundo o autor, o livro deixa aos leitores “testemunhos de historietas e situações especiais, entre emocionantes e caricatas, desde 1952 até aos dias de hoje.” O lançamento foi precedido do descerramento da placa comemorativa do feito alcançado por Emanuel Silva e Fernando Pimenta, que em Londres conquistaram a Medalha de Prata em Canoagem K2 1000m. Esta placa junta-se assim, no mural Fama Olímpica, às Medalhas Olímpicas conquistadas por Portugal.
// Rosa Mota foi ovacionada com uma enorme salva de palmas. O hino nacional interpretado pelo Coral Vértice emocionou os presentes que aproveitaram o momento para reencontrar e conviver com amigos de longa de data estudo de candidatura de Lisboa à realização dos Jogos Olímpicos que nunca passou do papel e reforçou as relações com o desporto paralímpico e universitário. Foi nessa época que se lançou o projecto de criação do Tribunal Arbitral Desportivo e mais tarde propos a criação de um Programa de Detecção de Talentos do Desporto. Em Pequim dois atletas regressaram medalhados, Nélson Évora com ouro e Vanessa Fernandes com prata; em Londres 2012 uma medalha de prata chegou a Portugal ao peito dos remadores Manuel Silva e Fernando Pimenta. “Esta será a minha última intervenção enquanto presidente do COP, na plenitude de funções”, confessou emocionado José Vicente Moura, relembrando que está “prestes a terminar um longo e trabalhoso período” da sua vida, agradecendo a oportunidade de “depois de uma longa carreira na Armada que muito me orgulha, ter vivido uma segunda vida ao serviço do Movimento Olímpico. Foi um longo período de tempo que vivi intensamente e fui muito feliz”, rematou. Dezembro 2012 . Olimpo . 13
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Entrevista
JOSÉ VICENTE MOURA
PRESIDENTE DO COMITÉ OLÍMPICO DE PORTUGAL (COP)
“As condições reais para medalhas em Londres eram escassas” Reformou e modernizou o Comité Olímpico de Portugal e fê-lo passar de uma instituição dispensável e amadora à “maior instituição desportiva portuguesa”. Sai do COP ao fim de 15 anos com sentido de dever cumprido. Frontal e directo, relembra que a crónica falta de política desportiva nacional terá reflexos negativos já nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Quinze anos a liderar o Comité Olímpico de Portugal, mais três como Chefe de Missão, qual é o balanço que faz do trabalho concretizado? O balanço tem que ser positivo. Quando assumi funções no Comité Olímpico, especialmente quando me tornei presidente, herdei uma instituição com dezenas de anos a trabalhar à margem do associativismo desportivo. Era uma instituição que não dava o mínimo contributo para o desenvolvimento do desporto português. Diria que estava mais interessada em se perpetuar a si própria do que propriamente intervir e contribuir para o desenvolvimento do desporto português. Introduzi alterações estatutárias e garanti a entrada, nas dinâmicas do comité, das federações, e com elas o dirigismo português. Transformei o Comité Olímpico de uma instituição dispensável na maior instituição desportiva portuguesa. Quer dizer que no COP não havia rumo, não havia objectivos, apenas a manutenção do status quo? Foi isso que encontrou quando aqui chegou? Sim. Havia um Comité Olímpico com dirigentes de elevado nível mas que não tinham nenhuma intervenção. Reuniam-se periodicamente. Era mais um grupo de amigos que se reunia, trocavam algumas impressões sobre a política desportiva do país e não intervinham em nenhum aspecto. De quatro em quatro anos faziam uma selecção dos atletas que iam às edições dos Jogos Olímpicos, pediam a cada federação que indicassem os atletas e preparavam a Missão. Faziam o trabalho com os atletas que aparecessem.
Pode-se então falar em amadorismo organizacional? Totalmente e duplamente amador. Ninguém recebia dinheiro, mas não havia responsabilidades. Respeito o amadorismo dos dirigentes que até punham dinheiro do seu próprio bolso. Como é que depois de toda esta lufada de ar fresco no Comité encara um sistema desportivo nacional obsoleto, como já afirmou. Como é que esta mudança conviveu com a falta de capacidade para captar novos atletas olímpicos? Esse é um dos problemas atávicos do nosso país. Logo a seguir ao 25 de Abril ainda houve uma fase em que o Estado percebeu que o desporto era importante, que pode ser motivador da auto-estima nacional, mas depois falhou porque não houve captação de jovens desportistas. É muito complicado termos atletas talentosos, não aparecem. O indivíduo que tem condições morfológicas por vezes não é captado para a modalidade correcta por falta de infraestruturas e de orientação. Tenho pena dos talentos que se perderam. Acha que é um problema de falta de orientadores ou apenas de má vontade política? É um problema de falta de vontade política porque as décadas passam e essas interrogações colocamse sempre e não há soluções políticas para os
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Entrevista problemas. Precisamos que os jovens pratiquem desporto. Ponto final. Para mim é indiferente o local onde o praticam. O pior é que o grau de prática é muito baixo.
Vicente Moura com planos para o futuro
Perante este cenário qual é o futuro do desporto olímpico em Portugal? É aquilo para o qual tenho vindo a alertar, se nada se alterar, menos atletas e menos modalidades já nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. É o futuro! Para irmos aos Jogos são sempre precisos incentivos mais altos e nós não estamos a chegar lá. O país não foi capaz e não fez uma política integrada de desenvolvimento desportivo como devia.
Aos 75 anos, José Vicente Moura, Capitão de Mar e Guerra na reserva, já planou o que vai fazer depois de Março de 2013, data em que passará o testemunho da liderança do Comité Olímpico de Portugal (COP). “Tenho alguns convites para várias coisas, até para dar aulas e fazer palestras sobre desporto”, adianta, estando na calha a hipótese de elaborar estudos sobre estratégias de captação de talentos e acompanhar o processo de implementação do Tribunal Arbitral do Desporto. Após 15 anos intercalados a comandar os destinos da maior instituição desportiva portuguesa, José Vicente Moura afirma que o seu único receio no dia seguinte à sua saída do COP será “a minha ocupação de tempo”, não querendo passar “do 100 para o zero”. “Estou habituado a trabalhar dez horas por dia e tenho 75 anos. Se estiver muito tempo parado arranjo qualquer coisa para fazer, nem que seja ir para a pesca”, garante o presidente, que tem como rotina levantar-se todos os dias às 7h15m e que várias vezes surge em eventos desportivos ao final da noite revelando uma energia contagiante.
Por muito que o COP faça o seu trabalho de definição de estratégia, de organização e que as coisas possam funcionar bem, há depois uma falta de ambição e de estratégia por parte dos decisores políticos que se reflecte no atletas e na falta de medalhas? Reflecte-se em tudo. Temos um modelo que está esgotado. Disse-o e está escrito em todos os lados. Andei a tentar encontrar caminhos e vias para ultrapassar isto. Em finais da década de 90 comecei a defender a candidatura de Portugal à realização de uns Jogos Olímpicos para daí a uma década: a ideia era juntar responsáveis políticos, federações, empresas, comunicação social e desenvolver o desporto em Portugal. Era uma cenoura à frente do nariz dos responsáveis políticos para transformarem o desporto. Quando foi assinado o protocolo de 2009, o Governo disponibilizou 14,6 milhões de euros e estabeleceu metas, disse quantas medalhas exigia? Não. O COP definiu os critérios para todas as modalidades, em comum acordo com todas as federações. O atleta que fizer aquele resultado entra no projecto. Se entra no projecto tem uma bolsa. Não tem resultados sai e perde a bolsa. Isto funcionou assim desde 2005 até agora. Este sistema passou pelo comité, o responsável pelo seu funcionamento sou eu. Daí que nos Jogos de Londres tenha vindo de imediato assumir todas as responsabilidades… O responsável sou eu. A única diferença é que para os Jogos de Pequim o Estado exigiu medalhas. Eram 4 ou 5 objectivos e um deles quantificava o número de medalhas. Eu consultei as federações e concluímos que poderíamos ganhar 3 ou 4 medalhas. O Estado ao assinar o contrato tinha-as passado para 4 a 5. Subiram a fasquia. Subiram. E eu, consciente de que era possível assinei. Por isso comecei a defender publicamente a conquista das quatro medalhas. Em Pequim não ganhámos. Não me enganei. Tivemos pouca sorte, o 4.º lugar de Gustavo Lima, a não qualificação de Naide Gomes, etc. Em Londres foi decido retirar o objectivo das medalhas porque se dizia que condicionava os atletas e lhes impunha uma grande carga psicológica. Agora defendem o contrário. Partiu então para Londres com elevado receio. Qual era a sua percepção quanto a medalhas?
Da mesma forma que parti para Pequim com a ideia de que havia condições para ganhar três ou quatro medalhas, sabia que as condições reais para Londres eram pouco optimistas. E disse-o várias vezes. Se em Pequim levava uma comitiva com doze campeões da Europa e do mundo com 72 medalhas ganhas nas suas modalidades numa perspectiva 30% de êxito dava as quatro medalhas. Para Londres levávamos uma campeã da Europa, a Telma Monteiro. Quanto muito íamos conseguir um terço de medalha. Logo as hipóteses eram muito baixas. Atletas de nível mundial estavam lesionados. Para mim, pelo esforço e dedicação desta missão, não ganharam uma medalha, ganharam dez. Estamos condenados à dimensão do país e ao facto de as federações não conseguirem captar jovens candidatos a talentos olímpicos? Acho que estamos à espera de um milagre. Já tivemos milagres no desporto em Portugal. O Ronaldo, por exemplo é um milagre. Tivemos em tempos o Joaquim Agostinho, o Carlos Lopes e a Rosa Mota. Todos foram milagres e nenhum deles foi resultado de uma política desportiva. Os grandes atletas da década de 80 foram quase de geração espontânea.
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Perante este cenário como vê então a participação de Portugal no Rio de Janeiro em 2016? Se nada mudar, e espero e faço votos que mude, teremos menos atletas e menos modalidades. Se não tivermos cuidados colectivos não conseguiremos ir a lado nenhum nem conseguir uma medalha que se veja. Foi aquilo que apelidou de participação irrelevante e residual no Rio? Sim, residual. Agora temos esta consciência de que todos os países estão a subir em termos qualitativos e nós temos que investir, trabalhar diferente e trabalhar melhor. Não basta por dinheiro em cima do problema. É preciso investir nos jovens. É a mudança de paradigma que falta? Exactamente. E isso demora dez anos a fazer. No Rio e por aí fora vamos ter dificuldades em ganhar medalhas, mas se aumentarmos a quantidade de jovens praticantes de modalidades aparecerá uma plêiade de jovens capazes de se baterem pelos lugares cimeiros olímpicos. Quando olha para as treze medalhas conquistadas sob o seu comando,
pensa que estão aqui mais de 50% das medalhas conquistadas em 103 anos por Portugal? Ficaram aquém dos seus objectivos? Ficaram muito aquém dos meus objectivos iniciais. Em todas as circunstâncias podíamos ter ganho mais medalhas. Acho que isso tem a ver com uma certa forma de ser dos portugueses: somos muito críticos de nós próprios e, em vez de procurarmos motivação para nos suplantarmos, assumimos um certo fatalismo e as coisas pioram. Temos que nos libertar disso, mesmo em relação a este ciclo económico. Foi isso que me faz sentir desapontado em relação às medalhas perdidas. Quando é que tomou a decisão de definitivamente não se candidatar ao COP? Eu na minha vida sei o que quero fazer e quando. Felizmente tenho tido sempre responsabilidades que me dão prazer. Tinha feito este trajecto e decidido que sairia nos Jogos de Pequim. Fiz a minha previsão: pensei que com quatro ou cinco medalhas e uma sede nova era adeus até à vista e vou-me embora. Infelizmente as coisas não correram assim, então quero sair pelo meu próprio pé a dizer obrigado e adeus. Saio bem comigo próprio. Dezembro 2012 . Olimpo . 17
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Reportagem
UM DIA COM...
RUI COSTA
ATLETA OLÍMPICO DE CICLISMO
Um brilho nos olhos, um sorriso na cara e a atenção na meta // Treino de estrada, idas ao ginásio e caminhadas fazem parte do trabalho diário de Rui Costa. A bateria é lazer total
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Fotos Ivo Pereira
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enho apenas 26 anos mas já sou muito rodado”. Esta frase, associada a um sorriso franco e genuíno estampado nos lábios, poderia, com toda a legitimidade, já ter sido proferida pela boca do maior ciclista português da actualidade. O homem – que acabou de bater pelos votos o futebolista Cristiano Ronaldo na conquista do título de Melhor Atleta Masculino de 2012 – é o ciclista Rui Costa, o rapaz da Póvoa de Varzim que vibra com “ritmos altos” e “boas sensações”, especialmente em provas duras de montanha. O mesmo atleta que, com essas mesmas “boas sensações” e muita “auto motivação”, se sagrou vencedor da Volta à Suíça em 2012, num dos percursos mais duros do World Tour, uma das muitas vitórias no ano em se catapultou para o 9.º lugar no ranking dos melhores ciclistas do mundo. A Olimpo aproveitou um interregno no intenso calendário das provas de competição internacional para conhecer os segredos que fazem deste jovem atleta em ascensão uma verdadeira “máquina” a galgar montanhas. O truque é simples, embora ele nunca o diga abertamente: disciplina. Senão vejamos, Rui Costa levanta-se todos os dias às 8h00 da manhã. Equipa-se para o treino e, entre olhadelas para as notícias na televisão, toma um calórico pequeno-almoço. Sobre a mesa não faltam o imprescindível pão, frutas secas, frutas da época, doce, iogurtes, um queijo da ilha de São Miguel que Rui não troca por nada deste mundo, ou o azeite Vila Flor gourmet, que o patrocina e com o qual muitas vezes barra o pão, e um café bem forte para estar sempre atento no meio do trânsito. Com o estômago relativamente cheio, eis que é chegada a hora do ciclista se fazer à estrada. E no caso dele o trajecto não é brin-
cadeira: todos os dias em que tem treino de recuperação, o ciclista português que compete profissionalmente com as cores da equipa espanhola Movistar, pedala uma média diária de seis horas, num total de quase 100 quilómetros de asfalto. Faça chuva ou faça sol. Sempre a pedalar e sempre com um sorriso nos lábios. Um sorriso, aliás, que já se tornou a sua imagem de marca dentro e fora de fronteiras. Apesar dos treinos intensivos de estrada que conjuga com idas semanais ao ginásio e caminhadas a pé para tonificar os músculos, especialmente os das pernas, Rui Costa reconhece não ter (nem procurar) margem de manobra para grandes programas fora da sua rotina. “Sou muito fiel ao meu descanso”, assegura, garantindo que além do equilíbrio em cima das duas rodas encontra “muita felicidade” na companhia da namorada Carla Coelho, a jovem jornalista que “raptou” há cinco anos à ilha da Madeira, e também em momentos de lazer em casa a ver televisão ou a tocar a sua bateria. O rapaz que aos 13 anos perdeu o medo de andar de bicicleta – esquecendo o susto de um quase atropelamento que sofrera dois anos antes – e venceu provas locais em cima da sua “bicla”, sabe que todo o esforço para ser o melhor ciclista de Portugal pode falhar com um simples deslize. “Quem está no ciclismo tem mesmo que gostar do que faz. Eu sei que tenho que trabalhar todos os dias. Sei que tenho que me esforçar. Sei que não posso parar. Sei também que se pode perder todo o trabalho de meses numa noite de copos com os amigos ou com a família e por isso procuro rodear-me de coisas e pessoas que me proporcionem boas sensações”, confessa, sempre a sorrir. Dezembro 2012 . Olimpo . 19
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Opinião
JOSÉ MANUEL COSTA
Jurista, Membro da Comissão Instaladora do Tribunal Arbitral de Desporto
CRIAÇÃO DO TRIBUNAL ARBITRAL DO DESPORTO SOB A ÉGIDE DO COMITÉ OLÍMPICO DE PORTUGAL Ao ter sido aprovado em Conselho de Ministros, a 3 de Maio deste ano, um anteprojeto de proposta de lei (PPL-84-GOV) que institui, sob a égide do Comité Olímpico de Portugal (COP), o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), foi cumprido o Programa do XIX Governo Constitucional, onde é defendida como medida de política para a área da Justiça a aposta no desenvolvimento da justiça arbitral. Esta medida refere que o Estado, os cidadãos e as empresas darão um passo importante se tiverem meios alternativos aos Tribunais do Estado, podendo entregar a resolução dos seus litígios aos Tribunais Arbitrais. Foi igualmente materializado um mecanismo estruturante para o Desporto, através do qual se pretende contribuir para uma melhor justiça desportiva, disponibilizando uma instância independente de arbitragem e recurso, aliviando deste modo a pressão sobre os órgãos próprios das Federações e a tentação de levar os litígios para os tribunais comuns. A referida proposta de lei identifica que
se trata de uma entidade jurisdicional independente, nomeadamente dos órgãos da administração pública do desporto, desgovernamentalizada e dispondo de autonomia administrativa e financeira, com a futura sede no COP, entidade idónea à qual incumbe promover a instalação e funcionamento do TAD. Esta aprovação constituiu o corolário do desígnio defendido pelo Presidente do COP, desde 2001, desenvolvido a partir de 2005 pela Comissão Instaladora do TAD, a qual viria a apresentar ao Ministro da Justiça, em 2007, uma proposta de criação de uma instância arbitral desportiva instruída com os respetivos Estatutos e Regulamentos. A referida apresentação ocorreu após aprovação unânime das Federações em Assembleia Plenária do COP, na sequência da harmonização dos Estatutos e Regulamentos em concertação com o Gabinete para a Resolução Alternativa de Litígios do mesmo Ministério. Em reação à iniciativa do Governo foi apresentado pelo Partido Socialista o Projeto de
Lei (PJL-236-PS), que na exposição de motivos tece considerações enviesadas, com o intuito de controverter a génese, natureza e percurso histórico do Tribunal Arbitral du Sport / Court of Arbitration for Sport (TAS/CAS). A argumentação expendida pretende estabelecer um nexo de causalidade entre o papel, alegadamente pernicioso, desempenhado pelo Comité Olímpico Internacional (COI) e pelo Comité português enquanto impulsionadores desta ideia de justiça ao serviço do Desporto. Insinua que características de “isenção e independência” não podem ser garantidas caso o COP — organização independente do Governo e alheia a quaisquer influências de natureza política e económica — assuma esta missão, de interesse público, de prover à instalação do TAD. Justifica-se, portanto, desmistificar a exposição de motivos do Projeto do Partido Socialista, inclusivamente porque contraria inúmeros exemplos incontestavelmente positivos, como são os casos de Espanha, França, Bélgica, Itália ou Luxemburgo.
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Na verdade, o TAS/CAS surge em 1984, sob autoridade administrativa e financeira do Conselho Internacional de Arbitragem em Matéria de Desporto, face à ausência de uma autoridade especializada independente na resolução de litígios desportivos. A ideia de uma jurisdição específica do desporto é atribuída ao então Presidente do COI, Juan Antonio Samaranch, tendo sido criado em 1981 um grupo de trabalho liderado pelo Juiz do Tribunal Internacional de Justiça de Haia, Kéba Mbaye, que culminou na criação de uma jurisdição arbitral com procedimentos rápidos, eficazes e pouco onerosos. O Estatuto do TAS/CAS de 1984 vigorou até 1990, ano em que foi ligeiramente modificado, sendo de referir que nesse período foi o COI que suportou as despesas de funcionamento, uma vez que os procedimentos arbitrais eram em princípio gratuitos. Em 1994 é operada uma reforma determinada pelo Tribunal Federal Suíço, com base no facto de o TAS/CAS ser financiado quase exclusivamente pelo COI, nomear uma percentagem significativa dos seus
membros e deter a competência para alterar o Estatuto, posição que era susceptível de colocar em causa a sua independência, mormente nos casos em que o COI fosse parte de um procedimento. Foi sob este prisma que o Tribunal Federal Suíço se pronunciou, no sentido de que era necessário garantir a independência do TAS/CAS relativamente ao COI. E é na sequência do “Arrêt Gundel” que é operada uma importante reforma no Tribunal Arbitral do Desporto de Lausanne, sendo criado um Conselho Internacional de Arbitragem que passou a assegurar a gestão e o seu funcionamento. A reforma atrás referida foi complementada com a adopção do Código de Arbitragem em Matéria de Desporto, que entrou em vigor a 22 de Novembro de 1994. Compulsada quer a Proposta de Lei do Governo quer o Projeto de Estatutos do TAD, este último apresentado por requerimento dirigido ao Ministro da Justiça em 2007, nenhuma similitude poderá ser estabelecida que sustente que o TAD, enquanto instância de recurso, não reveste caracterís-
ticas de isenção e independência devido a ter a sua sede no COP. É pertinente assinalar que o TAD deverá autofinanciar-se, não estando na dependência financeira do COP ou de qualquer outra entidade, pública ou privada, dispondo de autonomia administrativa e financeira, com receitas próprias. Fica salvaguardada, em todos os casos, a possibilidade de recurso para o Tribunal Constitucional e de impugnação da decisão com os fundamentos e nos termos previstos na Lei da Arbitragem Voluntária. A composição do Conselho de Arbitragem, o processo de designação da presidência e vice-presidência do TAD, a composição do Conselho Diretivo e o processo e requisitos de designação dos árbitros nenhuma similitude têm com o modelo que vigorou antes na reforma do TAS/CAS. Recapitulando, as reservas suscitadas no aludido Projeto PJL-236-PS não têm adesão à realidade, procurando apenas contrariar o Associativismo Desportivo com base num processo, de âmbito internacional, inserido num contexto evolutivo próprio. Dezembro 2012 . Olimpo . 21
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Publireportagem
SAMSUNG
30 ANOS A INOVAR EM PORTUGAL
Ao longo de três décadas, a Samsung Eletrónica Portuguesa tem vindo a inspirar Portugal e a vida dos consumidores, com uma forte ligação ao mundo do desporto e ao ideal Olímpico.
E
m 2012, a Samsung Electrónica Portuguesa celebra 30 anos de vida, que são 30 anos a criar, a inovar e a ser criativo. Hoje a Samsung assume-se como um projeto empresarial que ultrapassa, largamente, o estatuto de mera empresa tecnológica. No entanto não esquece todos aqueles que, desde 1982, abriram caminhos e rasgaram horizontes, rumo a uma realidade que tanto orgulha a empresa de origem sul-coreana. O sucesso de uma empresa é avaliado não só pelos seus feitos empresariais, mas também pelo modo como serve a comunidade e faz a diferença na vida das pessoas. A Samsung abraça a sua responsabilidade em contribuir como um bom cidadão, agindo a nível global para promover uma sociedade melhor. E é nesta filosofia que assenta a forte ligação da marca ao desporto. Nos últimos 20 anos, a marca envolveu-se, de diferentes formas, em várias modalidades desportivas. No futebol, por exemplo, considerado por muitos o “desporto-rei”, a empresa é patrocinadora de cinco clubes (Chelsea FC, FC Bayern Munich, Real Madrid, FC Internazionale Milano e FC Olympiakos) e de quatro iniciativas, em sete países do continente Europeu. Mas quando se fala em eventos desportivos, é quase inevitável não falar em Jogos
Olímpicos, o maior evento desportivo do mundo, com o qual a marca mantém uma relação duradoura. A Samsung deu início à estreita parceria com os Jogos Olímpicos como patrocinador local, na edição dos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988. A partir dos Jogos Olímpicos de Inverno de Nagano, no mesmo ano, a empresa engrandeceu o seu envolvimento e tornou-se Worldwide Olympic Partner, na categoria de Equipamentos de Comunicação Wireless. Estas inovadoras tecnologias de comunicação móvel vieram garantir, à Família Olímpica,
informação em tempo real nos serviços de comunicação. Este ano, nos Jogos Olímpicos de Londres 2012, a Samsung foi ainda mais longe e desenvolveu uma campanha mundial que nomeou os portadores da Tocha Olímpica. A atleta júnior, Filipa Ferreira, a presidente do Banco Alimentar Contra a Fome e da Entrajuda, Isabel Jonet e o Presidente da EISA, Jorge Gonçalves, foram as personalidades que, com orgulho, dignificaram o nome de Portugal e cumpriram a sua parte neste percurso com grande significado.
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OS GRANDES DESAFIOS CONTAM COM O APOIO DE UMA GRANDE REDE Patrocinadora Oficial do Comité Olímpico de Portugal para os Jogos Olímpicos de Londres 2012, a REN apoia Portugal e os atletas que representam o País com orgulho e distinção.
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