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Reencontro com o Passado
Joseph Gleber, psicografado por Angelina Sales
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Copyright © 2020 Angelina Mota Sales 1ª Edição - março de 2020 Projeto Editorial Instituto Editorial D’ Esperance Impresso no Brasil
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Joseph Gleber (Espírito). Reencontro com o Passado / [pelo espírito] Joseph Gleber; [psicografado por] Angelina Mota Sales -Contagem : Instituto Editorial D Esperance, 2020.
200 p.
1. Romance espírita. 2. Obras psicografadas. I. Sales, Angelina Mota. II. Título. CDD 133.9
É proibida a reprodução total ou parcial sem a prévia autorização do Instituto Editorial D’ Esperance. 4
Dedico estas palavras a todas as almas “Somente quando a consagração dos momentos circunscritos no espaço infinito, mas finito ao mesmo tempo, tiver compartilhada com a pura essência do Pai, poderemos construir a harmonia dentro de cada um de nós.” Haroldo
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Agradecimentos
Agradeço a Deus pela concessão da vida; aos meus genitores, por me oportunizar a sua renovação; ao meu esposo e aos meus filhos, pela paciência durante este transcurso de linhas; a todos os companheiros que cederam tempo para que esta obra viesse a se concretizar e, em especial, ao amigo Júlio, que percorreu esta bela estrada junto a mim.
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Índice Prefácio - 11
PARTE I - REVELAÇÕES - 13 1. O acordar - 15 2. De volta ao passado - 23 3. Zequinha - 33 4. O casamento - 51 5. O recomeço em São Paulo - 63 6. O reencontro - 77 7. A separação de Dolores dos filhos - 89 8. O assassinato de Dolores - 105 9. O julgamento - 117 10. O tormento de José - 123 Epílogo - 129 9
PARTE II - NO LIMIAR - 131 1. O Vale das Desilusões - 133 2. Passam-se os anos - 141 3. O cárcere - 153 4. O novo martírio de José - 165 5. Emereciana, Dolores e Joana - 171 6. O tribunal das sombras - 175 7. O resgate - 179 8. O amparo - 183 9. A terapia de reajuste emocional - 189 10. O despertar da consciência - 193 11. Esclarecimentos finais - 195 Epílogo - 199
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Prefácio “Reencontro com o Passado” é um livro onde as cenas são o cotidiano de uma vida que, apesar de alicerçada sobre oportunidades de aprendizado, foi marcada pelos passos falseados que experimentei. São dores sagradas, pois, só através das experiências sentidas e vividas, seremos capazes de avaliar realmente o que é positivo e negativo para o nosso crescimento íntimo. Jesus caminhou pelos montes da sabedoria, mostrando-nos que só através da conquista íntima atingiremos o limiar da criação perfeita do Pai. Maria, nossa mãe de exemplo e dedicação, gerou, através do afeto, Jesus que, em carne semelhante a nossa, calejou os pés, sofreu feridas e foi coroado por nós por que somente pregara amor, ciência do saber em uma mente consagrada. Jesus dedicou, segundo por segundo, sua existência a nós. E aqui estamos, buscando coroas de flores para mostrar ao mundo que as que usamos são efêmeras e inúteis. Por isso, leitor, leia com sabedoria. Que o aproveito de cada linha seja o meu alimento também, pois, se alimentar a sua alma, a minha também se alimentará. Que a bondade divina abençoe a todos que me ajudaram a chegar aonde cheguei. Paz José 11
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Parte I Revelações
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O acordar Nunca, em toda a minha existência, aprendera a agradecer pelo despertar e pelo abrir dos olhos, estas informações sincronizadas que o Pai permite que o cérebro mande para o corpo e que, no quotidiano, tornam-se como grande hábito de despertar. Mas agora pude perceber que os movimentos das pálpebras são movimentos semelhantes aos das ondas do mar, que no vaivém limpam e renovam o caminho dos peixes que embelezam e fortificam a estrutura do oceano. Como são os olhos o portal da visão, no oceano da vida consagrada pelo Pai, aqueles que, pelo processo natural dos resgates, não têm a condição da percepção da luz nos olhos são como um veleiro perdido na imensidão do mar à noite. E o Cristo conduz, sob mãos que amparam, a todos nós, veleiros sem rumo... Foi nos meados de uma primavera típica, quando o Pai abençoa a grandeza do resplendor da vida, que surgiu, diante de nós, uma pacata cidadezinha do interior do sul do Brasil. Bênção consagrada pelo Criador, tínhamos a oportunidade de deliciarmos com o amanhecer. Gotículas de neblina saudavam o despertar das árvores entrelaçadas, por onde os raios solares corriam fecundando o solo e, através desse envolvimento, todos cantos e recantos brindavam a algazarra dos pássaros num grande ato de limpeza coletiva, 15
removendo do ar a sonolência. Como tudo estava em perfeita harmonia! Conseguimos até a oportunidade de apreciarmos o cantar do despertador natural - um saudoso galo – um galinho garnisé, cujas penas foram pintadas por um grande pintor que, com perfeição, cedera às cores celestiais para que o quadro da vida pudesse estar completo pelos tons da criação. Era realmente encantador observar como todos os movimentos se encaixavam, sem nenhuma quebra da sequência perfeita. Naquele tempo, o ser humano ainda conseguia seguir o curso natural e também despertava-se neste contexto de equilíbrio. Sob esta forte sensação harmônica de perfeita canção matinal, desponta-nos um casebre – construção simples, com paredes seguras com barro rústico, telhado com telhas feitas à mão, uma janela mal-esquadrinhada e porta principal construída por um artesão. Mas a aparência não nos causava melancolia, dava-nos o aconchego de uma casa que confundia os raios solares com os raios de amor que jorravam através de toda sua estrutura. Era convidativa e aconchegante. Adentramos. No fogão, surgiam os primeiros quitutes matinais, o cheiro invadia toda a casa, fazendo-nos relembrar, quando em vida física, de que podíamos saciar o estômago com as delícias feitas por mãos delicadas... Com tanto amor que me envolvia, meus olhos marejavam porque me era concedido seguir de perto o envolvimento do qual, um dia, também fizera parte. Doía-me a alma saber que, enquanto em vida física, eu não pudera aproveitar, com sabedoria, o sabor da vida. Os quitutes saciavam os estômagos dos que despertavam para a vida. Pude observar que o alimento, quando 16
ingerido em prece, torna-se verdadeiro medicamento ao organismo. As células brindam, pois não se sentem agredidas em momento algum. Elas sentem o amor que é depositado pelas mãos dos que produzem os alimentos e pela boca e pensamentos dos que os ingerem. Naquele belo estuário de bênçãos, surge a nossa querida Joana – esposa dedicada e amorosa que cuida de tudo como se fosse um santuário sagrado de bênção constante. Apesar das mãos calejadas, dos pés rachados pelo tempo e das marcas do desgaste natural da vida, nunca de seus lábios saíra uma palavra de contrariedade com as oportunidades concedidas pelo Pai. Pedro, o esposo abnegado e compreensível, recolhia, no terreno ao lado, em um pequeno curral, o leite de uma malhada. E como é belo o animal que oferece ao homem, através de perfeita integração, o leite do sustento, fruto de se talhar com harmonia o dividir de um espaço concedido a todos para a vida. Podíamos sentir as vibrações de agradecimento de Pedro por ter a oportunidade de possuir uma vaquinha leiteira. Na casa, a porta se abre com certa dificuldade. Dedos pequenos e frágeis empurram a madeira rústica, em demasia, pesada para eles. A porta range com grande dificuldade. Com forte emoção, pude ver a beleza da menina, em frações de segundo estremeci até as entranhas de minha alma, pois a dor da revolta assolou o meu ser. O descompasso da recordação foi tão forte que tive que me recompor para poder voltar a passar, a todos vocês, leitores amigos, o que de mais real aconteceu. Pés ao chão, que mais se pareciam como dois pezinhos de boneca de louça, depararam na soleira. Uma camisolinha alva, com rendinhas que tocavam os tornozelos, cobria a nossa Maria Dolorez. De estatura baixa, com cabelos 17
encaracolados e dourados que emolduravam o rosto afinado, seus olhos eram como duas gotas azuladas que se confundiam com o azul da manhã de primavera. Com mãos ágeis, consegue buscar uma margarida que enfeitava a porta principal da casa. Com mãos de uma fada, leva-a até a mãe e a coloca nos seus cabelos, afagando-os como se soubesse que não poderia, para sempre, senti-los. Filha desejada e amada, enchia a casa com seu ar infantil, era para todos o aconchego da felicidade. Podíamos sentir, naquele momento, a bênção do Pai, pois a mãe lhe tocava com candura e amor. Maria Dolorez, menina vivaz e carinhosa, conquistava até os pássaros que saudavam o amanhecer na janela da cozinha, como que estivessem também abençoando a caminhada de todos daquela redondeza. Na altura da manhã, podíamos escutar a badalada do 1 sino da Igreja da cidade, que vibrava em grande harmonia. Era conduzida pelo Padre Agenor, senhor de meia-idade, sábio e experiente, que dominava aquela cidadezinha, com toda perspicácia. Deixamos o lar de Joana e fomos relembrar outros cantos da cidade para que pudéssemos tirar melhor proveito do ensinamento que nos era ofertado. Eu, naquela encarnação, era chamado de José da Cunha. Eram muito comuns os Josés naquela época, pois, como a colonização viera pelos portugueses, José era de bom tamanho. Mas nomes não importam... O meu companheiro que, por amor e amizade, divide estas páginas comigo, ficará até o final, dando-me a sustentação devida para que eu não fraqueje, outra vez, na caminhada. Chamaremos de Horácio, amigo protetor. A pedido do autor espiritual, as palavras Igreja e Irmão serão grafadas com letra maiúscula. 1
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Seguimos por um riacho que corria lentamente ao lado de uma estrada de ferro. Pude reparar o calor que já emanava dos trilhos, em contrapartida ao frescor de onde rolavam as gotas de água que brindavam os peixinhos, seres minúsculos aos olhos humanos, mas sagrados habitantes. Nas suas laterais, o capim estava verde, e a brisa que soprava balançava-o, convidando-nos a sentar por alguns momentos. Pude ver coisas que antes não me dera a oportunidade de perceber. No meio dos capinzinhos, existiam bichinhos que circulavam sem parar, buscando a sobrevivência. Como são belos e pequenos! Pude refletir, junto a Horácio, e ver que o Pai se projeta também nos irmãos pequeninos, alicerçando o contexto estrutural do ambiente em que estamos. Fico imaginando o que fazemos com a criação... Fui despertado deste encantamento sublime por um grito agudo e voraz. Olhei para cima e vi uma majestosa águia. Parecia que ela podia nos visualizar, pois não avistei nenhuma presa para saciá-la. Horácio explicou-me que as águias são grandes condutoras de caminho para aqueles que observam a natureza. Não queria sair dali, sentia-me amparado, em paz. Era como se o tempo naquele lugar não existisse, e podia ficar milênios sem sentir a pressão da minha mente. Em poucos minutos de contemplação e harmonia, era como se estivesse na totalidade com o Criador. Horácio compartilhou meu sentimento e, em atitude de amigo, envolveu-me e me ergueu para que pudesse voltar aos momentos reais experimentados que precisava revivenciar. 2 - Fugir, Irmão , é negar a existência e, por demais negar, perdemo-nos e estacionamos. Voltemos ao caminho 2
Idem.
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tomado, José, para cumprir o que nos propusemos diante dos superiores. Neste momento, as lágrimas rolaram no meu rosto e pedi que me deixasse orar ao Pai. Como sou um aprendiz, a minha prece é, ainda também, de um aprendiz que necessita de demonstrar, não só através das palavras, mas dos gestos, o meu sentimento. Ajoelhei-me, deixei-me envolver na natureza à minha volta e supliquei: Pai, sinto a tua presença em tudo que agora me concedes tocar com as minhas forças. Agradeço ao Irmão Horácio, que se desprende de tudo para me amparar, dando-me o amparo que só um pai pode dar. Se fraquejar, peço a Ti que me concedas a Tua luz e me envolva na Tua coragem e no Teu amor, pois assim estarei, Pai, cumprindo o que eu pedi como tarefa de amor. Obrigado, Senhor! Era como se uma chuva nos cobrisse, a mim e a Horácio. Assim, continuamos a nossa jornada. Chegamos à parte central dessa linda cidade. Havia um coreto onde algumas crianças já brincavam, correndo uma atrás da outra. De uma das laterais, surgiu uma senhora forte, determinada, pois não vacilava nos passos seguros. Ia em direção à Igreja buscar o apoio do Padre Agenor. Seu nome é Natália. Sua pele é avermelhada, porque trabalha no campo, cuidando do trigo que cerca a cidade. Subimos um pouco mais e pudemos ver a cidade por cima. A vista era de um verdadeiro presépio. Ao longe, avistamos os trabalhadores já cortando o trigo a ser levado à manufatura. Era um princípio árduo de plantação, mas de bela aprendizagem. Retornamos com os berros de Natália que pedia ao padre que interviesse junto aos trabalhadores, pois assim te20
riam força suficiente para poder reivindicar o salário justo. Sentiam-se prejudicados com toda a questão à volta. Agenor pisava em ovos nesta época, pois a política era bem cerceada e alicerçada pelos eleitos internos e externos da redondeza. Em gritos, ela continuava, para que todos pudessem escutar e se agrupar no coreto diante da Igreja, que fora construída, na época, pelos imigrantes europeus que possuíam força maior. Assistíamos ao quadro penalizados. Natália não conseguia despertar nos irmãos a importância de reivindicar; deixamos aqui sua fala para que todos tomem consciência da situação: — Trabalhadores, não podemos nos acomodar, pois o salário se tornou mísero e já não vivemos com dignidade como nosso patrão vive. No meu lar, e sei que no lar de todos os trabalhadores, falta o alimento necessário. Hoje ainda não pude comer nada, pois a farinha que restava só foi suficiente aos quatro filhos que, mesmo assim, não chegaram a ser saciados, porque farinha de mandioca com água só faz inchar a barriga e causar, depois de algumas horas, uma bela desorganização física. O que iremos comer logo mais? E nos dias seguintes? Olhem o padre que se julga emissário de Deus! Que Deus é o teu, Seu Agenor, que, sobre a tua mesa, frutas fartas rolam e, para aquecer o estômago, o café, aqui de fora, cheira forte? Que Deus é este, Seu Agenor, que, quando comes, não sentes remorsos pelos que não comem? Deus, se me escutas, põe na minha mesa também o alimento que pôs na mesa do Teu enviado, o Padre Agenor, mas não se esqueças da casa da Maria, da Clara, do Antenor viúvo e cansado de arar a terra para produzir o alimento sempre para os mesmos! 21
Neste momento, a ira de Natália já é, então, incontrolável. Entre as mãos, uma pedra, no intuito de ser jogada na cabeça do padre. Mãos carinhosas a seguram e, com ternura, falam-lhe ao coração. É a nossa Joana: — Natália, revoltar-te contra Deus é o mesmo que revoltar-te contra você mesma. Olha, mulher, na fonte, o teu reflexo. Como estás descabelada, suada e em grande desarmonia. Vem até a minha casa, onde poderás saciar o estômago com o pouco que temos, mas que, com certeza, irá se multiplicar e poderás levar aos teus filhos e ao esposo que se encontra acamado. Iremos conversar e encontraremos soluções para o teu desconforto. Apesar do quadro ter nos causado impacto imenso, pudemos todos nos recuperar pelas forças de Joana. Ao relento da tarde, aconchegamo-nos em conversações salutares. Eu e Horácio pudemos, juntos, agradecer a Deus pelos passos dados e pela conquista de poder compreender que, quando estamos presos ao veículo terrestre que o Pai nos concede para crescimento íntimo, esbarramos em dificuldades criadas pelas malhas dos pensamentos não concretizados na luz do Evangelho. Assim, deixamos a cidade que receberá o nome de Arraial do Monte Agreste.
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De volta ao passado Pude, ao longe, ver Josias se aproximar, um trabalhador incansável, que ara com harmonia o jardim do hospital que ampara os doentes desencarnados. Josias é um mestre em jardinagem. Das suas mãos, como das de um grande pintor, o quadro da harmonia natural é pincelado através da terra, embelezando os olhos dos irmãos que se encontram no leito da recuperação. Bem, a hora já avança, e Horácio me busca para mais um dia de reconquista. Recomeçamos, desde o início, em um berço de esperança que brinda sob a luz intensa das novas oportunidades concedidas a mim e que me renovam, na luz do Pai, em bênção no encontro com a vida. Joana, em prece constante no labor sagrado e incansável, solidificava o lar. Mãe zelosa, cuidava da parte da evangelização de sua filha. Acompanhada de Pedro, aos domingos, como era de hábito, principalmente de uma cidadezinha colonizada pelos europeus, iam todos à Igreja para receberem o alimento da alma. Maria Dolorez...
Fim da degustação 23
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