CASA MORENA

from Revista Destaque Decor Junho e Julho 2023

Bella Falconi e Lia Herrmann falam sobre construção de memórias na arquitetura

A leitura do tempo e os dilemas contemporâneos criam a relação entre o corpo e a morada na interpretação da casa que mimetiza uma veste. O ambiente de 152 metros quadrados envolve com linhas orgânicas e texturas naturais. Os solares evidenciam e sublinham as formas arredondadas do mobiliário em contraste com a elegante tonalidade acastanhada ao fundo, que lembra a cor da pele.

Um layout a ser descoberto de forma instintiva. “A Casa Morena personifica essa relação criada no espaço como um reflexo de autenticidade. Somos seres raros com individualidade e semelhanças. A morada não existe se nela não a habitarmos e para isso temos que envolver nosso corpo nessa veste que chamamos de lar. A casa como reflexo do nosso corpo com necessidades e responsabilidades”, explica o arquiteto. A morada envolve e veste com leveza, sensibilizando sobre delicadeza da vida.

Na sutileza dos elementos do espaço surge a identidade da representação e instiga os sentidos do corpo à percepção mais aflorada. A combinação costura sensações despertadas a partir da presença da originalidade e industrialização, traçando um elo do revestimento frio aplicado nas paredes em harmonia com a limpidez da madeira natural no piso. A moldura acolhe o mobiliário de traço modernista brasileiro e as criações de autoria do escritório nas tonalidades de terra vermelha.

Os espaços são integrados visualmente, mas bem demarcados pelas funções. A circulação propõe fluxos que não prejudicam o uso de cada elemento, sem perder a vista geral do ambiente e nem causar confusão. Uma configuração bastante intuitiva, quebrando regras e propondo novos trajetos rotineiros.

As obras de arte aprofundam o caráter subjetivo e trazem sentido para quem vive verdadeiramente o lar. As peças consagradas dos designers Sergio Rodrigues e Ricardo Fasanello, e ainda os lançamentos das mesas de centro, de jantar redonda e cadeiras da linha Alfi, desenhada pelo arquiteto, conectam a casa de forma inseparável. Um ambiente para renovar tudo que faz sentido na existência do ser e despertar saudade. A arquitetura contemporânea cria espaços que sugerem voltar a viver, como parar o tempo e retornar para o passado e para o encontro do ser humano com a pele e com a essência da alma. Um morar livre e despretensioso.