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Networking
Redes de Compartilhamento e o desenvolvimento de Soft Skills
Por Marcos Gatti*
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De acordo com a produção científica, temos fortes evidências de que o atual cenário sócio-político-econômico, com seus respectivos padrões de produção e consumo de bens e serviços impõe, não só às pequenas e médias empresas como comumente é estudado, mas também às grandes corporações, inúmeros desafios no que tange a manutenção do valor agregado aos processos de produção e ao fornecimento de produtos e serviços em geral, bem como nas estratégias de desenvolvimento de seus colaboradores, exigindo de cada participante deste processo uma constante reinvenção de seus modelos de negócio como forma de se sobreviver num mercado cada vez mais exigente, que impõe demandas cada vez mais complexas, regras de funcionamento mais difusas e práticas cada vez mais agressivas. Tais desafios, por sua vez, demandam uma constante reformulação do processo formativo das equipes a fim de que as empresas possam manter seus profissionais sempre aptos a atendê-los.
Esta constante reinvenção de seus modelos de negócio é uma estratégia fundamental para que as empresas possam manter a sustentabilidade econômica do empreendimento ao mesmo tempo em que garantem uma proposta atraente aos clientes e buscam despertar interesse em potenciais novos parceiros, da mesma forma que a busca por novos modelos de desenvolvimento pessoal e profissional se colocam como essenciais para promover colaboradores aptos a darem seu melhor neste ambiente. Ao contrário de tempos passados, como o período compreendido entre o pós 2ª Guerra Mundial e a década de 1970, em que o conhecimento técnico e a habilidade específica na resolução de um grupo determinado de desafios configurava-se como suficiente para uma boa colocação profissional bem como para uma carreira de sucesso, a complexidade dos dias atuais pede que o profissional ofereça mais do que as chamadas hard skills, ou seja, as habilidades técnicas básicas para o cumprimento de suas tarefas esperadas. É necessário ao profissional agregar a estas habilidades, normalmente providas por cursos de formação padrão, as chamadas soft skills, que compreendem todo um conjunto de habilidades comportamentais que, juntamente com as primeiras, compõe o conjunto de habilidades necessárias ao profissional de sucesso do século XXI. Do ponto de vista das organizações e dos desafios do mercado, uma das formas de resposta organizada pelas empresas neste cenário de crises e mudanças é sua organização em forma de redes colaborativas - um modelo de gestão em que um grupo de entidades autônomas, muitas vezes distantes geograficamente, organiza-se numa parceria em prol de um objetivo comum, com grande potencial de geração de vantagens e benefícios aos parceiros envolvidos visto que cada elemento contribui com o empreendimento naquilo em que apresenta maior expertise.
As redes colaborativas, normalmente concebidas como um elemento de trabalho entre organizações, seriam uma possível referência para o desenvolvimento de um modelo de desenvolvimento profissional que seja capaz de proporcionar aos colaboradores de uma empresa um espaço de aprimoramento de suas habilidades de Forma que possam estar em consonância com as demandas diversas do mercado e capacitados a atenderem os desafios derivados do modelo de negócio da empresa? Mais ainda, poderíamos nos valer desta concepção de organização do trabalho como modelo específico para a aquisição e aprimoramento das soft skills? Da mesma forma que a rede colaborativa já se constituí como elemento fundamental de sobrevivência para empresas de todos os portes e nos mais diversos setores por conta de seus aspectos positivos, acreditamos que um modelo de trabalho de desenvolvimento dos colaboradores que seja baseado na mesma filosofia tem também grande potencial para possibilitar a busca pelo domínio deste grupo de habilidades uma vez que a construção de redes é fundamentalmente alicerçada nas mesmas habilidades que se busca desenvolver, ou seja, o modelo tem em na essência de sua existência, aquilo que se busca oferecer a seus participantes. Uma vez que o modelo de rede colaborativa cria um espaço diferenciado no qual a parceria entre seus elementos é o motor das ações a serem desenvolvidas e cuja cultura de trabalho é a obtenção de um dado objetivo de interesse coletivo, podemos afirmar que esta peculiaridade funciona como um imã para onde determinado perfil de participantes é atraído; pessoas com disposição para trabalhar de forma colaborativa em prol de um objetivo que pode ser tanto o desenvolvimento de um grupo de “skills” como a criação de um novo modelo de negócio. Ou seja, uma vez que se ofereça as habilidades desejadas na proposta subjacente à rede, estas passam a servir como norteadoras do trabalho, assim, obtém-se também um espaço privilegiado de aquisição e evolução das outras skills de interesse, como pensamento crítico, capacidade de solução de problemas complexos e muitas outras mais. Por exemplo, uma determinada empresa, decide criar uma rede de troca de informações entre seus colaboradores. No planejamento e implementação desta rede, a empresa imbui a mesma com habilidades diversas que se tornam automaticamente filtros de acesso. Assim, ao regulamentar acesso voluntário a colaboradores de todos os escalões, passa a definir de forma subliminar um determinado perfil: apenas aquelas pessoas com determinado grau de iniciativa, disposição para trabalho em equipe, etc. será candidata a este grupo. Uma vez que já há um set de skills pré disposto, a partir deste é possível alavancar sua evolução ou criar contextos para a inserção de novas habilidade a serem desenvolvidas a partir desde ponto. Liderança, por exemplo. Certamente, também é possível criar grupos mais simples que permitam, a partir de trocas básicas, sensibilização e desenvolvimento de habilidades de convívio e empatia por meio da mediação de redes por um responsável que possa orientar os envolvidos e trabalhar tais habilidades nas trocas cotidianas entre quaisquer número de colaboradores mesmo que não pertençam à mesma empresa visto que essência da rede é exatamente este grau de flexibilidade e permeabilidade. Seus limites são a proposta e habilidade dos possíveis mediadores na definição e busca de seus objetivos.
* Marcos Gatti, psicólogo, ocupa o cargo de Operador de Transporte Metroferroviário nível IV, no Metrô de São Paulo.