Pandemia: uma sociedade em transição
Este especial faz parte integrante do DIÁRIO AS BEIRAS de 08 de abril de 2022 e não pode ser vendido separadamente
EBU_DataMachine_DiarioBeiras_540x352mm.pdf
2 | especial
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
1
11/03/2022
14:52
pandemia: uma sociedade em transição
|3
93340
especial |
pandemia: uma sociedade em transição
4 | especial
diário as beiras | 09-04-2022
Celebrar os 28 anos com um caderno de qualidade sobre a nossa História recente
abertura Agostinho Franklin diretor
Este é um caderno de registo da História recente mas, igualmente, a celebração da marca de qualidade do Diário As Beiras na produção de informação rigorosa, pensada, isenta
111 O caderno que hoje lhe apresentamos é um registo de qualidade sobre a História recente que todos vivemos e que, claramente, nos influenciou e transformou. O caderno que o Diário As Beiras hoje lhe apresenta é igualmente a celebração do nosso 28º Aniversário e que significa a qualidade informativa que diariamente pretendemos apresentar nos nossos trabalhos, no nosso jornal. Essa qualidade constata-se não só pela informação apresentada - as diversas variáveis de ultra-
passagem da pandemia e o relato das experiências vivenciais realizadas, mas igualmente pela volumosa participação dos nossos parceiros comerciais que entendem ser útil estar presentes e partilhar este nosso documento. A todos eles o nosso obrigado! A qualidade deste documento afirma-se ainda pela qualidade gráfica deste mesmo documento - dimensão que faz parte já da natureza das publicações do Diário As Beiras. Mas a qualidade deste caderno afirma-se ainda pela presença de participações de opinião de
especialistas que enriquecem todo o caderno, que enriquecem o Diário As Beiras. Essa é aliás uma das mais valias do Diário As Beiras, na informação que disponibiliza aos seus leitores: a de uma informação isenta e rigorosa e, sempre que possível, apoiada em opinião de especialistas, que tornem a leitura e interpretação da realidade mais acessível e clara. E é justo referir e agradecer, neste particular, a colaboração da vasta equipa de opinadores (cerca de 50) que regularmente disponibilizam o seu saber e a
sua reflexão para melhor compreensão dos leitores do Diário As Beiras! A todos eles, também, o nosso obrigado! Para a equipa do Diário As Beiras os seus leitores e anunciantes - para quem diariamente trabalhamos - são preocupação constante de realização de um serviço útil, prático e actual. Contamos com eles, também, para a realização deste objetivo.
28.º Aniversário Diário As Beiras o meu jornal, a minha região
94071
PROPRIEDADE Sojormedia Beiras SA
Coordenação | Paulo Marques/A.Franklin |Texto | António Alves/Eu Vivi com o Covid | José Armando Torres/ Profissionais de Saúde | António Cerca /Ambiente | Emanuel Pereira/Desporto | António Rosado/Empresas | Patrícia Cruz Almeida/Ação socicla | Jot’Alves/Turismo | Dora Loureiro/Cultura | Daniel Pereira/Comércio | Agostinho Franklin/Ensino | Paulo Marques/Transição digital | Paulo Marques/Estatística Fotografia | Ana Ferreira/ Miguel Ameida /Pedro Ramos | Paginação | Carla Fonseca ASSEMBLEIA GERAL José Carlos Madeira de Jesus (presidente); Vitória da Silva Teixeira (secretário) CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Pedro Miguel da Silva Teixeira (presidente); Rosinda da Silva Teixeira (vice-presidente); Patrícia Sofia Batista Pereira Forte (vogal) COMISSÃO EXECUTIVA Ivo Magalhães (presidente)
DIREÇÃO DIRETOR Agostinho Franklin- CP-TE-n.º 842 agostinho.franklin@asbeiras.pt REDAÇÃO CHEFE DE REDAÇÃO Dora Loureiro - CP n.º 1306A, dora.loureiro@asbeiras.pt, Paulo Marques (repórter Coordenador) - CP n.º 1602A, paulo.marques@ asbeiras.pt, António Alves - CP n.º 3079 antonio.alves@asbeiras.pt ,
António Rosado - CP n.º 4921A, antonio.rosado@asbeiras.pt, Bruno Gonçalves- CP n.º 5934A, bruno.goncalves@asbeiras.pt, Emanuel Pereira - CP n.º 7611A, emanuel.pereira@asbeiras.pt, José Armando Torres CP n.º 3714A, jose.torres@asbeiras.pt, Jot’Alves (Figueira da Foz)- CP n.º 4928A, jot.alves@asbeiras.pt,, Patrícia Cruz Almeida - CP n.º 4253A, patricia.almeida@asbeiras.pt, Pedro Ana Ferreira (repórter fotográfico), Pedro Ramos (repórter fotográfico)
DEPARTAMENTO GRÁFICO COORDENADORA
Carla Fonseca, carla.fonseca@asbeiras.pt, André Antunes, Daniela Marques e Victor Rodrigues PROJETO GRÁFICO
A. Franklin
DEPARTAMENTO COMERCIAL E ADMINISTRATIVO
Ana Paula Ramos, Cidália Santos, Cristina Mota, João Ribeiro, Margarida Fernandes, Mónica Palmela, Rosa Pereira
COORDENAÇÃO INFORMÁTICA Samuel Costa
ESTATUTO EDITORIAL www.asbeiras.pt
93292
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
|5
6 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
Diário As Beiras dis e instituições da Re
Para assinalar o 28.º aniversário, o DIÁRIO AS BEIRAS distinguiu, como é habitua anos anteriores, o critério assentou no mérito aferido em uma dezena de áreas – Ciência –, a que acresce um Prémio Tributo Carreira, este ano outorgado a uma fi Prémio Desporto Catarina Costa
93114
O diploma olímpico, conquistado nos Jogos de Tóquio, foi o ponto alto do ano de 2021 da Judoca de 25 anos, natural de Coimbra, que tem levado o nome da cidade e da Académica a níveis de excelência. Já neste ano de 2022, Catarina Costa foi medalha de Ouro, na categoria de -48Kg, no Grand Prix de Portugal, que, pela primeira vez, passou a integrar o Grand Slam
Prémio Cultura Convento São Francisco A entrar no sexto ano de atividade regular, aquele que é o maior e mais completo centro cultural e de congressos da região Centro entra também num ciclo novo, com o objetivo assumido desde a primeira hora de fazer nascer em Coimbra uma nova centralidade cultural no país
especial |
08-04-2022 | diário as beiras
|7
stingue personalidades egião de Coimbra
Novo Nissan QASHQAI
ual, pessoas e instituições que se destacaram pelo trabalho e projetos realizados no ano passado. À semelhança de – Desporto; Cultura; Marca; Carreira; Solidariedade; Turismo; Empreendedorismo; Inovação; Ensino; Investigação/ figura especial que nos deixou justamente em 2021: Neno
Prémio Carreira Carlos Robalo Cordeiro
Eletrificado com Motor Mild Hybrid Prémio Marca Primus Lucas
93440
Quando se juntam o famoso bacalhau da Lugrade, a tradicional padaria e doçaria da Nutriva e as melhores colheitas dos vinhos Ribeiro Santo sobressai um denominador comum: o apelido Lucas, ele próprio já uma imagem de marca e que, em associação, permitiu criar sinergias positivas e potencializar as empresas através de uma única marca: Primus Lucas
Professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e diretor do Centro de Pneumologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, é um dos médicos pneumologistas mais prestigiados e agraciados do país, com uma carreira de clínica, docência e investigação unanimemente reconhecida como de excelência
Novo Nissan QASHQAI Eletrificado com Motor Mild Hybrid
Conheça a nova geração do Líder dos Crossover c ultra-inovador e avançadas Tecnologias de Mobilid para uma experiência de condução sem preceden
Visite-nos e faça já o seu test drive ao Novo Nissan QAS Conheça a nova geração do Líder dos Crossover com um design ultra-inovador e avançadas Tecnologias de Mobilidade Inteligente para uma experiência de condução sem precedentes.
FERREIRA MORAIS & MORAIS
Visite-nos e faça já o seu test drive ao Novo Nissan QASHQAI.
Rua Adriano Lucas, Monte de Sao Mig
FERREIRA MORAIS & MORAIS
Visual não contratual. ConsumoCoimbra combinado: 6,3239 - 7,0857 l/100300 km. Emissões de Rua Adriano Lucas, Monte de Sao Miguel - 3020-430 - Tel. Visual não contratual. Consumo combinado: 6,3 - 7,0 l/100 km. Emissões de CO2: 142 - 158 g/km.
8 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
93439
Prémio Solidariedade Casa da Criança Obra de Frei Gil
diário as beiras | 08-04-2022
Prémio Turismo Passadiço da Lousã
Fundada em 1942, a Obra do Frei Gil é uma IPSS composta por três casas de acolhimento para crianças e jovens em risco. Uma delas ocupa, desde 1952,uma quinta na Praia de Mira. Aqui tem um infantário e um Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental e dispõe de 16 hectares de terreno, onde forma jovens em atividades agrícolas, funcionando como escola
Desde o Cabo do Soito, na vila, até ao Castelo de Arouce, no complexo turístico da Senhora da Piedade, são mais de 1200 metros que agora podem ser percorridos em passadiço, de forma segura e acessível. O percurso, de extraordinária beleza, tem ainda a vantagem de poder ser feito de noite, já que o passadiço dispõe de iluminação
Prémio Empreendedorismo Armazéns do Calhabé
Prémio Inovação Casa Rotativa Pedro Bandeira/ Filipe Bandeira
Com mais de seis décadas de existência, os Armazéns do Calhabé vivem um ciclo novo, com a chegada, primeiro, de uma nova administração, e com a inauguração, bem recente, das suas novas e modernas instalações, em Banhos Secos - num investimento corajoso e premonitório, que a pandemia não fez vergar
Edifício inovador de habitação unifamiliar, próximo de Coimbra, pode fazer uma rotação até 300 graus em seis minutos. Projeto do arquiteto Pedro Bandeira venceu o Prémio Arquitetura, Inovação e Sustentabilidade 2021, na categoria “Obra”
especial |
08-04-2022 | diário as beiras
Prémio Ensino Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Criada em 1972, a FEUC comemora este ano meio século de existência. Ao seu primeiro curso de licenciatura, Economia, iniciado no ano letivo de 1973/74, seguiram-se Sociologia, Gestão e Relações Internacionais. Em paralelo, tem ligação a nove centros de investigação da Universidade de Coimbra
Prémio Tributo Carreira Neno
93536
Mais do que um grande futebolista, cantor e entertainer, Neno foi um homem feliz, que a todos contagiava com a sua incontida alegria de viver. O seu sorriso, já eternizado em mural no Estádio Dom Afonso Henriques, em Guimarães, jamais será esquecido também pela família do Diário As Beiras, que tantas vezes o acolheu nas suas festas de gala
|9
Prémio Investigação /Ciência Immunethep Empresa instalada no Biocant, em Cantanhede, é um dos líderes nacionais de I&D na área da biotecnologia, com foco no desenvolvimento de imunoterapias. O destaque vai para a vacina PNV1, pioneira na prevenção de infeções provocadas por bactérias, incluindo as multirresistentes. Em 2021, terminou ensaios não clínicos de outra vacina, SIlba, de prevenção da infeção pelo vírus SARS-COV-2
93137
10 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
93488
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
| 11
12 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
eu vivi com a cOvid
“O vídeo da saída dos cuidados intensivos é a minha medalha de sobrevivente” Durante os dois anos de pandemia, muitos foram aqueles que viram a sua vida em risco, quem não tenha resitido ao coronavírus ou até mesmo quem tenha perdido vários familiares. As histórias que aqui contamos são apenas uma pequena amostra da forma como alguns tiveram de lidar com esta situação que acabou por deixar marcas profundas no resto da sociedade. Jorge, Marcelo, Célia e Gabriela aceitaram contar as suas histórias ao DIÁRIO AS BEIRAS, por mais dolorosas que elas tenham sido para cada um deles
J
orge Reste foi infetado no final de março de 2020. Tudo indica que tenha sido o namorado da filha mais velha a contagiar toda a família. A esposa e as filhas tiveram sintomas ligeiros, mas Jorge começou a sentir que “o grau de perceção da realidade estava bastante alterado, parecia tudo um pouco difuso”. O “extremo cansaço” no final de um passeio com os cães em Oiã, Oliveira do Bairro – “o que não era, de todo, normal” –, a tosse intensa e o agravamento do estado febril, até aí relativamente ligeiro, levaram a que tivesse decidido ir às urgências do Hospital de Aveiro. Ao dar entrada na tenda de rastreio instalada na entrada do serviço de urgência, Jorge Reste fez o teste PCR. Passado algum tempo, foi informado de que estava infetado com covid-19 e que, devido ao seu estado clínico, teria de ficar internado. “Recordome apenas de me despedir da minha mulher e de passar a entrada do hospital. A partir daí, não ficou mais nada na memória, só me lembro de acordar um mês e meio depois na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de São João, no Porto”, afirmou. Apesar de não se ter apercebido, Jorge Reste já estava numa situação grave induzida pelo vírus, uma “pneumonia bilateral muito acentuada”. Para tentar inverter o quadro clínico, foi de imediato ventilado e colocado em coma induzido na unidade hospitalar aveirense. Mas o tratamento não estava a resultar e, com o agudizar do seu estado de saúde, foi transferido para os cuidados intensivos do Hospital de São João onde havia uma
ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorporal) disponível. Em meados de maio, altura em que acordou do coma, a sua preocupação foi “tentar perceber onde é que estava e o que me tinha acontecido para estar com todas aquelas máquinas à volta”. Só passado algum tempo se apercebeu da real situação por que tinha passado, já depois do período em que teve grandes alucinações, o que terá estado na origem de situações de alguma violência para com os elementos da equipa. Durante dois dias foi amarrado de pés e mãos à cama. Quando ficou mais calmo, quis perceber o que lhe tinha acontecido. “Depois passei à fase de descarga emocional, processo que se acentuou bastante à medida que fui conscencializando da gravidade do meu caso em conversas com os profissionais de saúde. Emocionava-me muito nas conversas, creio que por estar um pouco fragilizado psicologicamente”, referiu. Aos poucos, foi sendo libertado de alguns dos aparelhos que o ajudaram a viver naquele período e acompanhou de perto o trabalho efetuado pelos profissionais de saúde para tratar um homem de 30 anos que se encontrava também ligado à ECMO no seu quarto. “Tal como eu, e devido ao esforço destes homens e mulheres, sobreviveu”, referiu. A dedicação extrema da equipa médica de Roberto Roncón comoveu-o, pois apesar de debilitados física e psicologicamente naquela que foi a fase de maior pressão nos cuidados intensivos, “foram de uma competência extraordinária e nunca perderam a oportunidade de prover os melhores cuidados a quem
ali foi parar”. Jorge Reste nunca mais vai esquecer o momento em que a equipa de cuidados intensivos o aplaudiram quando saiu da unidade. Um vídeo que guarda religiosamente no seu telemóvel e que mostra com bastante orgulho sempre que aborda os factos ocorridos há dois anos atrás. “É a minha medalha de sobrevivente!”, frisou. Poucos dias depois de ter regressado ao Hospital de Aveiro, deu entrada na Unidade de Cuidados Continuados, onde iniciou os trabalhos de recuperação física e motora. “Eu tinha perdido 30 quilos de peso e muita massa muscular”, frisou. Ao fim de um mês, e sem que os resultados fossem do seu agrado, decidiu regressar a casa. Aqui, com “a preciosa ajuda” da mulher, recuperou “mais rapidamente”. Considera que tirou “um curso intensivo de dependência” desde que acordou do coma induzido até ter recomeçado a trabalhar, seis meses depois de ter sido internado. Quanto a sequelas, Jorge Reste disse que sente a memória um pouco afetada, não sabe dizer quanto, o sono não é o mesmo e tem algum défice respiratório. “A parte inferior dos pulmões ainda não oxigena normalmente, mas isso não afeta o meu dia a dia, ainda que em situações de maior esforço fique um pouco mais cansado do que era habitual”. Apesar de ter voltado a fazer cerca de 70 quilómetros de bicicleta ao fim de semana e uma sessão de spinning também semanal em casa, nota que “as pernas não têm exatamente a mesma força que tinham antes do covid-19 e que a destreza não é exatamente a mesma. Em todo o caso, no geral sinto-me bastante bem!”.
Infetada dois dias depois de ser vacinada
G
abriela Pinho perdeu a avó em setembro do ano passado. O internamento ocorreu dois dias depois de ter sido vacinada contra a covid-19 na capital brasileira, Brasília. “Com certeza já estava infetada e não sabia”, confessou a neta. Os problemas de saúde que já tinha, associados à infeção causada pelo coronavírus, levaram a que apenas tivesse resistido duas semanas num dos principais hospitais da capital brasileira. “Foi um choque tremendo quando recebemos a notícia de
que ela tinha falecido”, disse Gabriela Pinho. A morte aconteceu numa altura em que no Brasil se registava uma grande vaga de mortes causada pelo covid-19, o que levou a que o funeral tivesse ocorrido apenas com a presença apenas de quatro dos cinco filhos. “Eu não fui e o meu pai, que está a morar em São Paulo, não conseguiu vir ao funeral da mãe. Não foi fácil, ele ficou bastante triste com a situação, mas acabou por compreender devido às restrições impostas pelo Governo para a realização de funerais naquele perío-
do”, lembrou. Esta situação não impediu que, dois meses depois do falecimento da avó, Gabriela Pinho tivesse decidido emigrar. A primeira opção recaía nos Estados Unidos da América, mas devido ao covid-19, optou por viajar para Portugal. Licenciada em Direito, a jovem brasileira esteve sozinha nos três primeiros meses em Portugal, altura em que o namorado também decidiu viajar para Portugal. “Tenho pena do que aconteceu, mas acredito que a minha avó aprovava a minha decisão de vir para outro país”, concluiu.
especial |
08-04-2022 | diário as beiras
| 13
“A minha fi lha começou a chorar assim que lhe disse que estava infetada”
C
93313
élia Mendes estava a trabalhar no serviço de urgências do Hospital dos Covões quando foi infetada com covid-19. Trabalhar num serviço dedicado a doentes covid, e numa fase inicial, em que pouco se sabia da doença, terá sido o “rastilho” para que grande parte da equipa tivesse sido infetada e obrigada a ficar em casa. “Estamos a falar de março de 2020, quando os equipamentos de proteção individual e as máscaras eram um bem escasso e até estavam fechados num armário para que não houvesse desvio e desperdício”, recordou. As perdas de olfato e paladar foram os primeiros sintomas sentidos. As informações sobre a doença ainda eram escassas e decidiu fazer pesquisas na internet para perceber melhor o que era o coronavírus e quais os sintomas. Depressa confirmou que a perda destes dois sentidos
fazia parte dos sintomas já conhecidos. O facto de alguns dos colegas apresentarem sintomas mais gravosos, nomeadamente, pneumonias, dispneia, febres altas, tosse levou-a, a 24 de março de 2020, a solicitar um teste. A notícia menos esperada chegou: “estava infetada”. O mesmo aconteceu com as colegas com quem dividia o apartamento em Coimbra para evitar transmitir a doença ao resto do agregado familiar. Célia Mendes disse que a viagem de regresso a casa foi feita a pensar na melhor forma de explicar à filha de 10 anos que “a mãe tinha de ficar isolada” nos próximos dias. “A primeira reação que ela teve foi começar a chorar, com medo que me acontecesse algo de pior....pois havia muita informação a passar nos jornais e na televisão”, recordou. Uma das soluções para minimizar o isolamento e o afastamento da
Enfermeira concluiu formação no ano passado
família foi através do grupo de WhatsApp, para que pudessem, através de vídeoconferência, tomar todas as refeições em conjunto, acompanhar o estudo da filha a ajudá-la a fazer os trabalhos escolares. Ao fim dos primeiros 14 dias, os sintomas manti-
nham-se e, quando fez o teste, soube que continuava infetada. “Durante 11 semanas, os testes deram sempre positivo”, disse a enfermeira que não escondeu a primeira sensação de alívio quando teve o primeiro resultado negativo. “Mas havia que esperar que
o teste seguinte fosse de novo negativo”, afirmou. A boa notícia acabou por chegar no dia 1 de junho. “A minha primeira decisão foi abraçar a minha família, bem como estar alguns dias junto à minha filha antes de regressar ao trabalho”, lembrou. No regresso ao serviço, o cansaço não parava de aumentar para pequenos esforços e houve momentos de taquicardia – aumento da frequência cardíaca. Fez exames médicos que apresentaram alterações dos parâmetros inflamatórios, assim como a presença de dois gânglios de grande dimensão na zona da cervical, o que podia explicar o cansaço e as frequências cardíacas elevadas. Outros sinais evidentes eram a perda de memória e cansaço – sintomas de covid prolongado. O tratamento passou pela toma de alguns anti-inflamatórios na fase inicial e aguardar, cerca de meio ano, que os
gânglios regredissem e deixassem de preocupar. O cansaço, a falta de olfato e a perda de memória mantiveram-se durante alguns meses. Mas as dificuldades resultantes acabaram por ser oportunidade para Célia Mendes. Apesar de gostar muito de trabalhar nas urgências, e grande parte da sua formação ser em urgência, decidiu tomar decisões: pediu mobilidade para o Hospital do Arcebispo João Crisóstomo em Cantanhede onde atualmente trabalha na Unidade de Cirurgia de Ambulatório. Antes, ainda passou em alguns serviços no CHUC, de forma a que em outubro de 2021 pudesse ter concluído a sua Especialização em Enfermagem Médico Cirurgica, na Escola Superior de Enfermagem de Viseu. “Foi a minha força de vontade que me ajudou a superar....encontrando nas dificuldades as minhas oportunidades”, frisou.
14 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
EU VIVI COM A COVID
J Perdeu a mãe e o pai em apenas dois dias
93548
orge Ribeiro e irmãos nunca mais vão esquecer da semana antes de natal de 2020 e o início do ano de 2021. Tudo porque nesses períodos os pais foram internados com covid-19 e vieram a falecer com apenas dois dias de diferença. A história começou a 14 de dezembro, altura em que foi informado que havia um surto no centro de dia da Fundação ADFP, em Miranda do Corvo. O pai, de 88 anos, e a mãe, de 84 anos, foram encaminhados, por precaução, para a sua habitação enquanto aguardavam a realização do respetivo teste, o qual só foi realizado no dia 17 de dezembro. “A 20 de dezembro recebo um telefonema da diretora do centro a informar-me que os meus pais estavam infetados”, lembrou. Dois dias depois, e com um quadro clínico que já deixava antever problemas, o casal octogenário foi transportado ao Centro de Saúde de Miranda do Corvo, com a médica a encaminhá-los para o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. “Seria a primei-
ra vez, ao fim de 16 anos, que toda a família se iria reunir no Natal”, afirmou Jorge Ribeiro. Para além dos filhos, o objetivo era passar a noite de consoada em conjunto com a irmã que vinha de propósito da Suíça. Perante a situação, a irmã conseguiu adiar as férias para o período do Ano Novo. Na véspera da noite de Fim de Ano, uma médica dos Covões ligou ao filho para o informar que a situação clínica do pai estava estabilizada e que, caso o quadro não piorasse, tudo apontava para que lhe fosse dada alta a 4 de janeiro para ser internado numa unidade de cuidados continuados. O único local disponível encontrava-se no concelho de Penela. Sobre a mãe, foi-lhe dito que o seu boletim clínico era mais favorável, apesar da pneumonia que apanhou na unidade hospitalar. A primeira surpresa aconteceu na manhã de domingo, 3 de janeiro. Pelas 08H50, Jorge Ribeiro atendeu um telefonema do hospital a informá-lo do falecimento naquela madrugada da mãe de 84 anos. “Foi um choque tre-
mendo. E pior ainda foi dar a notícia aos meus irmãos”, recordou o motorista. A 4 de janeiro, o seu irmão e o seu cunhado dirigiramse ao serviço onde estava internado o pai a informar de que já dispunham de um espaço para o internar. “Eu fui recolher os pertences da minha mãe e fazer o reconhecimento do corpo para que fosse possível realizar o funeral após o almoço”, lembrou. Uma cerimónia triste, pois não consegui cumprir aquele que era o seu desejo: ir para a capela de São Gregório, em Cadaixo. “À revelia das indicações, pedi à agência funerária para parar junto à capela durante alguns minutos, de forma a que as pessoas pudessem despedir-se dela”, disse. Chegado ao cemitério, a urna da mãe de Jorge Ribeiro tinha ao seu lado outra onde se encontrava “um amigo de infância”, tendo sido realizado apenas um serviço religioso. Por volta das 23H00, recebeu de novo uma chamada do hospital a informá-lo que o estado de saúde do pai teria sofrido uma pequena alteração, “mas
nada de grave”. Até que no dia seguinte, às 09H00, novo telefonema do mesmo número do dia 3. O pai tinha falecido naquela madrugada. “Lá tive de ir novamente ao hospital fazer o reconhecimento do corpo do meu pai e recolher os seus pertences”, afirmou. Antes da urna chegar ao local onde iriam ter lugar as exéquias fúnebres, o filho ainda conseguiu que a agência funerária parasse durante alguns minutos no largo da aldeia para que os amigos pudessem despedir-se dele. O insólito aconteceu no largo do Cristo Rei, em Miranda do Corvo. Naquele local, e para além do seu pai, estavam perfiladas mais três urnas. “Uma situação inexplicável, pela negativa, e que motivou a presença da GNR local para evitar a aglomeração de pessoas”, frisou. O casal acabou por ser sepultado em cova dupla adquirida pela família no cemitério de Miranda do Corvo. “Lamento que não tenha sido possível fazerlhes um funeral digno, como eles tanto mereciam”, concluiu.
especial | 93560
08-04-2022 | diário as beiras
na primeira pessoa
“Tive uma segunda oportunidade de vida”
Economista recorda tempos complicados em Angola
M
arcelo Nuno contraiu a doença em 2020, por volta do seu aniversário. Mas os primeiros sinais só foram sentidos cerca de uma semana depois. “Após uma semana de completa reclusão e sucessivas idas à clínica, os sinais foram-se intensificando (as primeiras abordagens indicavam não se tratar de covid) e a minha situação clínica foi-se degradando rapidamente e de forma dramática”, referiu, na altura, o economista numa mensagem publicada na rede social Facebook. O resultado positivo só foi confirmado uns dias depois, acabando por ser internado na clínica privada da Sagrada Esperança (Grupo Endiama), em Luanda. Quando ali chegou, foi-lhe diagnosticada uma pneumonia bipolar grave, o que lhe provocava graves dificuldades respiratórias. “Após dar entrada na clínica, quis falar com o meu filho e já não consegui”, recordou ao DIÁRIO AS BEIRAS. Na mensagem do Facebook, Marcelo Nuno disse que na altura do internamento “estava muito fraco (sem conseguir comer há semana e meia) e incapaz de rea-
lizar funções tão básicas como respirar ou falar”. Os exames médicos realizados confirmaram a degradação acelerada do seu estado de saúde e os médicos que o receberam achavam que o seu estado clínico iria piorar rapidamente. “A médica que me assistiu continuava a achar que a situação se agravaria e que seria, porventura, necessário tomar medidas mais drásticas e mais complicadas”, escreveu. A acompanhar à distãncia esteve sempre o médico amigo Alberto Lemos que lhe foi pedindo, através dos profissionais angolanos, para aguentar o mais possível sem ser entubado. “Foram momentos muito complicados e muito dif íceis, mas aos poucos comecei a reagir e a evidenciar pequenos sinais de reação e superação à/da doença”, afirmou. Para estas melhorias muito contribui a sua boa condição física. Caso contrário, “não tinha sobrevivido”, garantiu ao DIÁRIO AS BEIRAS. O tempo em que esteve internado levou a que tivesse perdido 18 quilos de peso e “muita massa muscular”. Para ajudar à recuperação, Marcelo Nuno não
esqueceu as refeições entregues no hospital por um dos melhores restaurantes de Luanda – Lokal – e que, como disse no Facebook, levou a que a recuperação parecesse mais rápida. Ao fim de duas semanas, em que apresentou melhoras, o economista teve alta e, pouco tempo depois de estar em casa, voltou a sentir-se mal. À chegada ao hospital, os exames confirmaram que a covid-19 tinha deixado sequelas graves no pulmão. A solução para inverter a situação passava pela realização de muitos exercícios, tendo Marcelo Nuno reconhecido que se não fosse a sua persistência e determinação não teria recuperado “mais cedo do que o previsto”. “Num exame feito aos pulmões, os médicos nem queriam acreditar que, pouco tempos antes, tinha sofrido uma pneumonia bipolar muito grave”, disse. Marcelo Nuno referiu que a recuperação desta pandemia significou, para ele, “uma segunda oportunidade, um recomeço de vida”. “Pelo facto de não ter sido induzido em coma, tenho a clara noção de que conquistei uma segunda oportunidade”, concluiu.
testemunho
Deixámos de ter afeto e empatia Na pandemia, chegámos a um ponto em que não podíamos cumprimentar alguém. Mostrar afeto e empatia pelo próximo passou a ser algo negativo, coisa que era impensável. Catarina Barreto 16 anos
| 15
93437
16 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
* A MELHOR SELEÇÃO DA SEMANA. **OFERTA VÁLIDA PARA CLIENTES PARTICULARES ATÉ AO LIMITE DE 2 MANUTENÇÕES NÃO INCLUI PEÇAS DE DESGASTE.
94393
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
DE ABR ABR DE 4 A 14 DE BRIIL
OFERTA
2 ANOS MANUTENÇÃO **
| 17
18 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
PROFISSIONAIS RESILIENTES
Muitas dúvidas mas ainda mais confiança no próximo Bombeiros Voluntários de Coimbra aumentaram resposta às situações de emergência durante a pandemia
O
93703
93398
Não se focaram nos problemas que a pandemia trouxe, mas preferiram ficar do lado das soluções. Contra a adversidade e a incerteza foram muitas vezes um farol a apontar caminhos por entre um mar de dúvidas e emoções à flor da pele. Dos bombeiros, na linha da frente, aos agricultores, que garantiram que mesmo em casa não faltava nada à mesa. Dos condutores de autocarros à pinha que ninguém queria apanhar os barbeiros que sobreviveram à concorrência dos cortes de desespero à máquina, eles mostraram de que massa são feitos
nome diz tudo. São voluntários. Significa que se faz algo que só depende da nossa vontade. E numa altura em que tanta gente procurou refugiar-se nas suas casas eles disseram presente e lutaram contra todas as adversidades. Alguns mais ainda, com um quartel em obras, como foi o caso dos Bombeiros Voluntários de Coimbra. Nélson Antunes tinha assumido o comando poucos meses antes do início
da pandemia e recorda que a pandemia veio “não só complicar, como transformar a atuação dos bombeiros e mostrar o verdadeiro sentido da ajuda ao próximo e fazer o bem sem olhar a quem”. “Tivemos que nos adaptar a um cenário novo, desconhecido e que veio semear o receio e a dúvida, mas também a confiança e a irmandade entre todos”, acrescenta o comandante. Durante o período mais crítico foram formados piquetes de 24 horas, onde
todos faziam de tudo “limpeza, desinfeção e higienização de todos os espaços e equipamentos, lavar a roupa, fazer as camas...”, recorda o comandante. A cada saída uma nova dúvida. “A pergunta era sempre será que alguém tinha covid? Será que estamos bem protegidos? Será que podemos ir para casa? Tantas e tantas perguntas?”, mas, entre tantas dúvidas e receios, ninguém se retraiu. “Todos tínhamos e ainda temos muito res-
especial |
08-04-2022 | diário as beiras
| 19
Clientes confiaram e barbearia cresceu
D
peito pela pandemia. Mas desde o primeiro minuto, sempre houve confiança e sinceridade entre todos e conseguimos dar sempre resposta a todas as solicitações. Aliás, temos aumentado todos os anos a nossa resposta a situações de emergência, socorro e combate a incêndios”, explica Nélson Antunes.
todos davam o seu melhor e quando falámos com o coordenador e explicámos que a nossa missão era arranjar soluções ele libertou umas lágrimas de tristeza, cansaço, talvez físico e psicológico, e disse- nos: “não conseguimos fazer mais”. Em resumo, garante, “todos demos o nosso melhor e todos juntos conseguimos resolver muitos problemas apresentando soluções improvisadas que ainda não sabíamos se eram a melhor solução”.
Sandro Cotrim (à esquerda) com a sua equipa
o que afetou bastante, pois todas as despesas continuaram a cair na conta”, admite o barbeiro. Mas, como sempre, foi a trabalhar que se resolveram esses problemas. “Felizmente que os clientes confiaram em nós e o regresso deu-se com a afluência esperada e o movimento posterior com o crescimento natural”. A Barbearia Cotrim conseguiu crescer, “graças ao enorme compromisso para com os clientes, tanto ao nível da segurança como da informação”. Antes da pandemia havia
três barbeiros e agora são dois profissionais e dois estagiários, que não têm mãos a medir para tantos cortes de barba e cabelo. Um crescimento “que se deveu à enorme entrega de todos os colaboradores”. Hoje já é possível falar num regresso à normalidade anterior a 2020, mas Sandro Peres Cotrim não tem dúvidas de que “haverá sempre um antes e um depois”. “A pandemia expôs-nos bastante, mostrando também o quanto somos vulneráveis neste planeta”, diz o barbeiro.
93205
93395
Improvisar soluções O comandante dos Voluntários de Coimbra recorda um episódio em
que tentava, numa visita ao Hospital dos Covões, resolver o apoio logístico às dezenas de profissionais que aguardavam horas a fio até que as vítimas fossem aceites na urgência. “A fila de ambulâncias era interminável. Pedimos para falar com o coordenador e não havia um espaço, uma cadeira, ou uma maca vazias. O olhar cansado por trás das viseiras era notório. O desânimo de quem queria fazer mais e não podia. Um cenário de terror, onde
e máquina de cortar cabelo em riste, muitos cederam ao desespero e fizeram justiça pelas próprias mãos. Quem não se arrependeu e chorou pelo regresso destes profissionais? Os barbeiros foram obrigados a confinar, mas voltaram confiantes de que ia mesmo ficar tudo bem. Nalguns casos até ficou melhor. “O mais complicado foi abdicar de todo o ambiente que criámos para o bem-estar nossos clientes, o que, no nosso espaço, vai muito para além de um corte de cabelo ou barba”, admite Sandro Peres Cotrim, proprietário da Barbearia Cotrim, em Condeixa-a-Nova. As preocupações sanitárias “foram apenas um reforçar das medidas que já se praticavam”, com “algumas alterações óbvias, como o uso da máscara obrigatório”. Pior mesmo foi a questão financeira. “Os apoios durante a pandemia foram sempre muito reduzidos,
20 | especial
pandemia: uma sociedade em transição PROFISSIONAIS RESILIENTES
“As pessoas começaram a comprar muito online”
93138
Família Cardoso dedicou-se à terra para fazer nascer a empresa Cesto D’Alice
A
pandemia não forçou nada, mas, pelo menos não atrapalhou. Sílvia Cardoso já tinha vontade de mudar de vida e juntou-se ao irmão e cunhada para voltar a trabalhar as terras que eram dos avós: surgiu o Cesto D’Alice. “Tinha este projeto em mente e vontade de me dedicar a tempo inteiro à agricultura e a produção de cogumelos. Começámos as obras em janeiro…” depois veio a pandemia. O confinamento não alterou o previsto e a produção de cogumelos chegou no final de 2020. “Coincidiu com a pandemia eu deixar o meu antigo trabalho. Era administrativa numa empresa de construção. Na altura, o meu irmão e cunhada ainda estavam a dar aulas em Timor Leste e a pandemia também os fez regressar mais cedo”, conta Sílvia Cardoso. É um projeto familiar, localizado na aldeia de Pelichos, freguesia de Arazede – Montemor-o-Velho. “Os meus avós viveram toda a sua vida da agricultura. A minha mãe sempre teve um quintal, horta, mas nem sempre foi esse o único trabalho. Tínhamos vários terrenos que já
ninguém fazia uso; recuperámos casa dos meus avós que veio a servir para instalar a produção de cogumelos”, explica a agricultora. Público-alvo mudou A medida em que a pandemia afetou o negócio foi o facto de o público-alvo, “inicialmente, serem os restaurantes… mas a restauração fechou e o foco mudou: passou a ser o consumidor final, supermercados e mercados locais”, explica a responsável. A venda online “sempre esteve pensada”, até porque, inicialmente, “a ideia era fazer disto um part-time e isto permitia ajudar
Queremos continuar a crescer e a associar outros produtos
com as encomendas”. Mas a verdade é que “a pandemia trouxe muito negócio online. As pessoas começaram a comprar muito online”, diz Sílvia Cardoso. Depois dos cogumelos Sílvia e o irmão quiseram perceber se as pessoas procurariam outros produtos e surgiu o cultivo de “hortícolas, frutas da época, etc.”. Para já, “a produção ainda é pequena”, e por isso não há problemas em escoar o produto. Mas “os cogumelos não têm muito tempo de prateleira e por isso exige ser colhido e ter escoamento rápido”. Sílvia admite que “toda a produção é facilmente escoada para consumidores finais, supermercados, etc.”, sobretudo porque “cada vez mais é valorizada a proximidade do produtor com o consumidor”. Dois anos depois, a pandemia também trouxe um tempo e ritmo diferentes para “pensar em como melhorar o serviço, aumentar espécies e perceber o que consumidor procura”. “O balanço é positivo. Ainda é um negócio muito pequenino, mas temos bom feedback, queremos continuar a crescer e a tentar associar outros produtos”, refere Sílvia Cardoso.
João Horta, motorista dos SMTUC
Paulo Fernandes, motorista de TVDE
O álcool-gel já não acaba mas veio para ficar
A
93573
vida de João Horta mudou durante a pandemia. Era instrutor de condução, mas, em 2021, tornou-se condutor dos autocarros nos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC). O motorista, de 51 anos, residente em Penela, diz que a mudança não o deixou “nem mais nem menos preocupado com a exposição ao vírus” e garante
| 21
especial |
08-04-2022 | diário as beiras
que a administração dos SMTUC tomou medidas que permitiram “transportar toda a gente em segurança”. Na adaptação à pandemia, “a maior dificuldade foi a colocação da máscara, sobretudo porque a maioria dos que carecem de transporte são idosos”. Já do ponto de vista do motorista, “a divisória de proteção foi complicada, em especial nalguns auto-
carros onde o espaço para conduzir ficou mais reduzido, e também porque dificultou a comunicação com os passageiros”, admite João Horta. Mas, “regra geral, a maioria cumpre as medidas e respeita as normas”. “Que me lembre, não tive de lidar com nenhuma situação mais complicada a não ser o de chamar a atenção para a colocação da máscara de forma correta, o que ainda hoje
acontece, no meu entender não por intenção mas por descuido”, acrescenta. Hoje há, na perceção deste profissional, “um aligeirar das medidas e também dos hábitos de cada um de nós”. “Nota-se no simples facto de chegar ao fim de serviço com o recipiente de álcool gel quase cheio”, explica. Ainda assim, para João Horta, esta é uma das medidas que não deve desaparecer. “Penso que a higienização das mãos, a distancia de segurança mesmo o hábito do exercício que se foi criando podem vir a ficar enraizados na nossa vida”, afirma. TVDE adaptaram-se bem mas sofreram muito Também agarrado ao volante, mas com problemas diferentes, é a vida de um motorista de TVDE - Transporte Individual e Remunerado de Passageiros em Veículos Descaracterizados a Partir de Plataforma Eletrónica, cuja plataforma mais conhecida é a UBER. Paulo Fernandes só deixou de trabalhar uma vez, “forçado devido ao facto de ter contraído covid”. O conimbricense, de 51 anos, lembra que “desde
o início algumas plataformas incluíram mensagens de alerta e controlo para o uso de máscaras por parte dos motoristas e clientes, desinfeção dos veículos mais profundas e cíclicas, higienização das mãos, o distanciamento entre motorista e cliente no carregamento de bagagem, evitar contacto f ísico na saudação e na despedida, a colocação das janelas abertas de forma a poder ventilar bem o habitáculo durante e após a prestação do serviço, etc.”. Clientes e profissionais “adaptaram-se bem” e “as ações desenvolvidas mostraram-se eficazes para impedir a proliferação da doença de forma a que não tivéssemos que cessar toda a atividade”. Paulo Fernandes admite que “várias vezes” pensou mudar de carreira, “essencialmente pelo perigo elevado de reincidência da doença e pelo baixo rendimento obtido durante estes tempos que vivemos, com aumentos de combustíveis que não foram compensados nas tabelas, mas devido à crise económica generalizada o mercado de trabalho não está favorável e tal não foi possível”.
testemunho
Aprendemos a valorizar com a epidemia
Foi preciso aparecer uma epidemia para começarmos a valorizar aquilo que fazíamos anteriormente. Hoje já damos maior importância a algumas ações que temos. Inês Simões 17 anos
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022 93243
22 | especial
93814
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
| 23
24 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
profissionais de saúde
94102
Os profissionais de saúde dos CHUC foram dos que estiveram na primeira linha no combate à covid-19, mas não foram os únicos na unidade hospitalar. No último ano, no CHUC, notou-se uma abordagem “diferente” à pandemia, com menos internamentos, que se refletiram na taxa de ocupação dos cuidados intensivos
Nuno Devesa, diretor clínico do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
“D
iferente”. É desta forma que Nuno Devesa caracteriza o último ano no Serviço de Urgência do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC). Isto porque, segundo o diretor clínico, “desde a vacinação em massa, houve menos internamentos e os internamentos foram com doença menos grave e isso refletiu-se na taxa de ocupação dos cuidados in93354
Último ano foi “diferente” no Serviço de Urgência do CHUC
tensivos, que foi de facto bastante inferior ao do ano anterior”. Numa primeira fase, diz o responsável, “nos doentes que estavam nos cuidados intensivos, a maioria não estava vacinada, ao contrário dos doentes da enfermaria normal. Isso permitiu que houvesse menos necessidade de adequar tantas enfermarias para isso”. “Em relação aos doentes normais, os números
voltaram ao que eram pré-pandemia”, adianta o médico. “Em termos de urgência, o que verificámos no primeiro ano, sobretudo nos primeiros meses, é que houve uma diminuição brutal do número de pessoas que iam à urgência. Em certos dias do primeiro confinamento, as admissões baixaram 50%. As pessoas ficaram em casa, tinham medo de ir à urgência”, explica. No entanto, “isso tam-
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
| 25
“Atividade cirúrgica em níveis superiores aos pré-pandémicos”
N
93357
bém trouxe coisas negativas”, sublinha o responsável, uma vez que existiram “situações que deviam ter ido à urgência e não vieram logo. Quando vieram, estavam já com doenças mais evoluídas. Foi uma fase em que vimos situações que já não víamos há 20 anos: de diabetes descompensadas, enfartes já evoluídos…, etc.”. Segundo Nuno Devesa, “neste segundo ano, isto já voltou ao normal. A aflu-
ência à urgência voltou a níveis pré-pandémicos e isso trouxe um problema acrescido: tivemos de manter, à mesma, uma urgência respiratória (no Hospital Geral, nos Covões) e outra geral, nos Hospitais da Universidade de Coimbra”. “Tudo o que seja manter dois polos com respostas quase idênticas é sempre complicado em termos de gestão de recursos humanos, mas conseguiu-se”, garante.
uno Devesa explica que, em termos de internamentos no CHUC, “a partir de determinada altura, o que se verificou foi que passou a haver muitos internamentos de doentes com covid, não por doença covid, mas por outras patologias”. Segundo o responsável, “tiveram de ser internados em enfermarias dedicadas ao covid, o que tem implicações em termos de recursos humanos, porque tivemos de alocar médicos para essas enfermarias e tirá-los a outros serviços, o que diminui um bocadinho a capacidade de resposta”. No entanto, sublinha, “fruto da vacinação, esse número de internamentos não chegou a ser tão grande, felizmente, e não houve decréscimo da atividade programada”. Logo no início de 2021, lembra,
“começou a haver uma recuperação bastante notável, nomeadamente, da atividade cirúrgica, das listas de espera, e neste momento estamos em níveis até um bocadinho superiores aos pré-pandémicos, na tentativa de recuperar o que ficou para trás”. Para o diretor clínico, “há hoje uma atitude completamente diferente em relação à covid-19. Quando começou, era o desconhecido, as pessoas tinham medo, sobretudo pelo exemplo que vinha de Espanha e Itália, com uma mortalidade brutal”. “À medida que as coisas foram evoluindo, com o conhecimento e experiência, as pessoas verificaram que, havendo os equipamentos de proteção individual adequados, o risco era diminuído”, justifica, acrescentando
que “foram raríssimas as pessoas que se infetaram de doentes para eles próprios e a grande maioria das infeções, quase todas a bem dizer, era na comunidade”. Da parte da comunidade médica há também hoje uma abordagem diferente, garante. “No princípio, quando era para fazer exames, os colegas tinham receio e hoje em dia não. Lidam com isto como se fosse outra patologia qualquer. Habituaram-se, ganharam experiência e sabem que a vacinação lhes trouxe proteção”, explica. No ano de 2020 e até ao inverno de 2021, houve algum receio de rutura nos internamentos relacionados com a covid-19, admite Nuno Devesa. “Chegámos a ser o centro hospitalar com o maior dispositivo instalado, com
500 camas de enfermaria normal e perto de 50 em cuidados intensivos”. Nessa altura, lembra, “chegámos a ter 498 doentes em simultâneo e estávamos no limite. A partir daí, seria muito dif ícil arranjar mais enfermarias dedicadas, porque tínhamos de manter a resposta a doentes não covid”. O responsável recorda que “toda a atividade programada não urgente ficou parada, mas as coisas urgentes tiveram de se manter: circuitos de bloco, unidades de cuidados intensivos não covid, etc., todo aquilo tipo de via verde que nós, como centro hospitalar universitário central, tivemos que continuar a dar resposta. Aí sim, foram tempos muito difíceis, em termos de espaço físico, mas sobretudo de recursos humanos”, concluiu.
26 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
PROFISSIONAIS DE SAÚDE
testemunho
Com a pandemia, eu mudei!
A pandemia foi benéfica em alguns parâmetros. Como estivemos em casa, houve menos poluição. Tive mais tempo para cuidar de mim, mudei muito fisicamente e psicologicamente. João Barroso 17 anos
Resposta “excelente” dos profi ssionais do CHUC
D
urante o tempo de pandemia, a resposta dos profissionais do CHUC envolvidos no combate à covid-19 foi “excelente”, destaca Nuno Devesa. “Houve um espírito de missão, empenho e solidariedade entre todos notável. Foi fundamental e, se não fosse isso, não havia essa capacidade de responder como respon-
Encararam isto como uma missão e conseguiu-se
demos”. “Toda a gente estava focada. Todo o trabalho multidisciplinar, com pessoas de várias especialidades que normalmente não trabalham juntas, a trabalharem para o mesmo objetivo, foi notável e funcionou muito bem. E só com esse espírito de entrega era possível fazer isso”, sublinha. O responsável destaca o trabalho dos pro-
fissionais que tiveram contactos com doentes, mas também os outros “que estão por trás, a logística”. A determinada altura, lembra, “o CHUC estava a usar 40 ou 50 vezes mais a rede de gás de oxigénio do que os períodos normais, nem se sabia a resistência dessa rede e houve uma altura em que esteve muito perto do colapso”.
“Houve empenho e trabalho de todas as pessoas, não só dos que estão cara a cara com o doente, mas também desta área de backup”, elogia. A terminar, diz que os últimos tempos foram “uma experiência onde as pessoas estiveram à altura. Encararam isto como uma missão, vamos para isto e conseguiu-se”.
OPINIÃO
Pandemia: Um tempo de grande construção e união
Carlos Diogo Cortes Presidente do Conselho Regional do Centro da Ordem dos Médicos
H
á quase 500 anos, o poeta inglês John Donne escreveu que “Nenhum homem é uma ilha isolada”. A frase, já reproduzida milhões de vezes ao longo da história, sintetiza uma das lições mais importantes que devemos retirar da crise pandémica. Perante as adversidades, o conjunto é muito maior do que a soma das partes, a comunidade é mais forte que o somatório de cada um dos seus membros. Ainda contamos com pouco distanciamento histórico em relação à pandemia de COVID-19, que ainda não terminou e tem sido propensa em reviravoltas, mas é essencial refletir e analisar os acontecimentos destes últimos dois anos. Enquanto médico, fui impactado de diferentes formas pelas informações que nos chegavam inicialmente, ainda em 2019. A minha preocupação foi crescendo, à medida que se tornava evidente que a COVID-19 se tornaria numa crise sanitária global com um forte impacto sobre os grupos fragilizados e sobre os sistemas de saúde. Fui impactado pelas imagens que nos chegaram da China, um país normalmente opaco à divulgação da informação, que anunciou ao mundo estar a braços com um novo microrganismo, lançando assim o alarme ao resto do mundo. Recordo ter estranhado, não somente a construção de um hospital com cerca de mil camas, num tempo record de 10 dias, mas sobretudo o facto de a China o ter anunciado ostensivamente. Algo de muito estranho se estava a passar. Fui impactado, como tantos outros cidadãos, com as imagens de desespero
provenientes de Itália e da vizinha Espanha, onde os profissionais de saúde, esgotados perante o número crescente de casos, mostravam o seu desespero e pânico perante uma calamidade que não conseguiam controlar. Fui impactado pelas imagens de cadáveres em filas de camiões frigoríficos, que seriam depois transportados para a morgue e que não teriam, no seu último adeus, por motivos de segurança sanitária, os seus entes queridos junto deles. Contudo, perante estas imagens terríveis, não havia tempo a perder e a reação teve de ser imediata. Antes mesmo de ser anunciado o primeiro caso de COVID-19 em Portugal, já estávamos a preparar os nossos hospitais, os nossos centros de saúde e os nossos laboratórios. A pandemia colocou na linha da frente todo o setor da Saúde: os serviços hospitalares de medicina interna, de cuidados intensivos, de infeciologia, de pneumologia, de patologia clínica, entre muitos outros que participaram no esforço. Como patologista clínico, sinto que devo realçar a forma como o trabalho de laboratório se adaptou a estes tempos, criando uma nova dinâmica de união dos diferentes atores da área da Saúde. Sentiu-se imediatamente uma aproximação entre todos os intervenientes da resposta, corpo clínico, gestores, bem como uma ligação à sociedade civil, com as câmaras municipais e todo o poder local, com os bombeiros, com a Cruz Vermelha, com instituições de solidariedade social entre muitos outros, a estabelecerem uma liga-
ção forte que antes, na maioria dos casos, não existia com esta amplitude. Foram tempos de grande construção. Nada estava feito e era preciso alicerçar rapidamente uma estrutura que contava com múltiplas peças que tinham agora de se encaixar, pelo bem de todos. Os hospitais e os centros de saúde aproveitaram a sua autonomia para dar respostas rápidas que, em articulação com os restantes setores, foram essenciais para a organização de processos e ações na luta contra a pandemia. Existiu uma união inédita de todos os setores da sociedade, uma frente conjunta para derrotar um inimigo desconhecido. Na Ordem dos Médicos, desde o primeiro momento sentimos a necessidade de ter um papel interventivo e agregador, junto dos médicos, mas também junto de toda a sociedade civil. A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM) desenvolveu, ao longo dos últimos dois anos, diversas ações. No início de março de 2020 foi criado um Grupo de Acompanhamento da COVID-19, com médicos de diferentes especialidades (Pneumologia, Saúde Pública, Doenças Infeciosas, Medicina Intensiva, Pediatria, Medicina Geral e Familiar, Medicina do Trabalho, Medicina Interna e Patologia Clínica), coordenado pelo Prof. Doutor Carlos Robalo Cordeiro que integrou o Gabinete de Crise para a COVID-19 da Ordem dos Médicos no sentido de articular a resposta local com a resposta nacional. Também no início de março, poucos dias depois de ser anunciado o primeiro caso em Portugal, a SRCOM promoveu sessões
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
| 27
Mais de um ano em “missão” de vacinar Coimbra
Sofia Lemos, Gouveia e Melo, José Luís Biscaia e José Carlos Sarmento
F
oram mais de 12 meses dedicados à vacinação dos conimbricenses contra a
covid-19. A 12 de fevereiro de 2021, Sofia Lemos, enfermeira, assumiu a coordenação do projeto-piloto
online para médicos e para a população em geral, por forma a esclarecer as dúvidas sobre o desconhecido vírus que enfrentávamos, o SARS-CoV-2. Mais tarde lançámos a campanha “Respeito pela Vida”, onde apelámos ao cumprimento das regras sanitárias recomendadas, através de diversas ações junto da população. Ainda no âmbito da campanha, foi lançado pela SRCOM o manual “Viver em tempos de COVID-19”, um documento que teve como objetivo ajudar todos os cidadãos a viverem de forma normal e segura. A vacinação foi uma preocupação desde o momento em que as vacinas foram anunciadas e em março de 2021 decorria já a bom ritmo a campanha nacional de vacinação de todos os médicos, coordenada pela Ordem dos Médicos. Para a população em geral, foi lançada em junho de 2021 a campanha “Proteger o Futuro”, com apelos e recomendações referentes à vacinação e hábitos sanitários, especialmente direcionada para os mais jovens. Paralelamente a todas estas iniciativas, a SRCOM promoveu mais de 20 webinars relativos à COVID-19, com a participação de centenas de especialistas. Nestes fóruns online foram abordados ângulos como a gestão hospitalar em tempos de pandemia, a medicina intensiva, a saúde mental, a investigação médica, a obstetrícia e ginecologia, entre muitos outros. Mantivemos ainda os nossos eventos anuais, tão importantes para a Ordem dos Médicos, como o Juramento de Hipócrates ou a entrega de Medalhas aos Médicos, embora em formato digital. No entanto, mesmo à distância, através de um ecrã, estivemos juntos nestes momentos que são sempre marcantes. A Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, acompanhou, de forma constante, a evolução da pandemia, adequando as suas respostas às neces-
do Centro de Vacinação de Coimbra (CVC). Trocou então o seu habitual local de trabalho na Unidade de
Saúde Familiar Pulsar, do Centro de Saúde Norton de Matos, para se envolver desde a primeira hora no que considera ter sido o seu “maior desafio profissional”. A seu cargo, uma equipa de 25 profissionais de enfermagem, seis médicos e três secretários clínicos, empenhados num mesmo objetivo, destacando agora – que está concluído o processo – a “grande experiência por trabalhar numa equipa com profissionalismo levado ao limite, uma gestão exigente e domínio na resolução de conflitos”. Ao DIÁRIO AS BEIRAS, Sofia Lemos recorda “dias de muita resiliência de todos os profissionais” envolvidos na vacinação contra a covid-19, destacando a “equipa de enfermagem: foi excecional. Todos unidos com o mesmo espírito”, realçou. Um espírito que, diz, assumiu desde o princípio como se de missão se tratasse: “Chegámos a vacinar mais de 2.000 pessoas num dia. Houve semanas muito intensas e só os últimos meses foram mais
sidades que se exigiam, a cada fase desta crise, em coordenação com diversos parceiros. No decorrer desta pandemia não posso deixar de realçar o grande espírito de solidariedade e união entre os portugueses, entre as várias entidades e organizações com um papel relevante na luta contra o vírus SARS-CoV-2, que fomentaram uma cultura de entreajuda que muito ajudou a que pudéssemos ultrapassar os momentos mais críticos. Mas, acima de tudo, é de louvar e relembrar, sempre, a enorme entrega dos profissionais de saúde. Louvar os médicos que não tiveram medo de correr riscos, que foram para a linha da frente combatendo o desconhecido. Assisti a muitos colegas que passaram a dormir fora de casa com receio de levar o vírus para junto de suas famílias. Assisti a momentos particularmente emotivos, tais como quando uma médica, que estava na linha da frente num hospital, ia até junto de sua casa, ficava na rua a ver os seus filhos numa varanda, comunicando com eles à distância com os olhos e com a voz, para não correr o risco de os contaminar com o vírus mortífero. Como dirigente da Ordem dos Médicos, como médico e como ser humano, tocou-me muito o altruísmo e a entrega dos médicos, uma verdadeira missão que tantos assumiram. A portugueses retribuíram esta dedicação. De um modo geral, assistimos a um comportamento correto por parte dos cidadãos que integraram nas suas vidas as regras da Direção Geral da Saúde e que, com consciência coletiva, foram também solidários com quem estava na linha da frente da Saúde. Existiram muitos desvios, por vezes alguma despreocupação, mas a resposta foi globalmente a correta. O individualismo não teve lugar nesta pandemia. Ou não o podia ter. Foi aniquilado pelo contexto de união e o sentido de comunidade que se criaram em torno de um inimigo comum. Desejo que este
tranquilos”, explica Aquando do início do processo, a enfermeira lembra a existência de alguma ansiedade, relativamente a como “reagiriam as pessoas às vacinas”. Inicialmente, registaram-se igualmente “alguns problemas de espaço, até à mudança para o Pavilhão Mário Mexia e à vacinação em massa”. Mesmo assim, Sofia Lemos não tem hoje dúvidas: “Foi um desafio que correu muito bem. Tive ganhos muito positivos em termos pessoais e profissionais”, assume. Para o sucesso desta “missão”, a enfermeira não esquece a fundamental colaboração de José Carlos Sarmento, atual enfermeiro coordenador da Unidade de Cuidados na Comunidade de São Martinho do Bispo, com quem dividiu a coordenação do CVC. “Não nos conhecíamos e fizemos uma equipa coesa, baseada no respeito e responsabilidade”, sublinha. Em relação aos últimos 12 meses dedicados a este projeto, Sofia Lemos realça três pilares, que se revelaram fundamentais ao
bom funcionamento do CVC Coimbra: “Os nossos superiores do Agrupamento de Centros de Saúde do Baixo Mondego; as pessoas que coordenámos e a população, que aderiu muito bem”. Elogios Durante o processo de vacinação, esteve sempre presente nos pavilhões Mário Mexia e n.º 1 do Estádio Universitário um livro de opiniões/comentários sobre o trabalho dos profissionais envolvidos. “No final, foi emocionante ler alguns dos testemunhos”, diz Sofia Lemos. “Isso faz-nos sentir realizados, pois a maior parte das pessoas estava grata”, acrescenta. Entre as muitas horas dedicadas à vacinação dos habitantes de Coimbra, nos mais de 12 meses do processo, a enfermeira guarda várias recordações, entre as quais o dia em que foi vacinada uma mulher de 103 anos que entrou e saiu do CVC pelo próprio pé: “Agradeceu muito e foi a pessoa de mais idade que vacinámos”, concluiu.
espírito de união e de entreajuda continue em todos nós. Se aprendemos algo com esta pandemia é que apenas juntos conseguimos vencer as adversidades, colocando de lado as barreiras ideológicas e trabalhando em conjunto por um bem maior: a Vida Humana e o seu bem-estar. As pandemias são velhas conhecidas da Ciência e da Medicina. Sempre fizeram parte do trajeto histórico da humanidade. Mas infelizmente, apesar dos inúmeros avanços feitos, não conseguimos, inicialmente, ter uma resposta imediata e adequada à COVID-19 e suas caraterísticas. O vírus progrediu a grande velocidade e foi imune a muitas das medidas tomadas, que tiveram elas próprias repercussões na vida das pessoas. Os conhecimentos económicos e financeiros que adquirimos nas últimas décadas não evitaram a “bolha” de 2008 e a crise económica mundial que se seguiu. Os ensinamentos de séculos de confrontos bélicos dramáticos também não nos ajudam a evitar a sensação de insegurança, mesmo aqui perto de nós, na Europa e no resto do mundo. É assim importante perceber que, no contexto em que vivemos, o nosso bem-estar e felicidade não são bens adquiridos, nem são imperecíveis. A vida é uma construção permanente, que tem de ser acarinhada e salvaguardada através da valorização da própria Vida Humana. Essa missão compete a cada um de nós.
93489
28 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
especial |
| 29 93212
08-04-2022 | diário as beiras
30 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
consumosdeenergia,águaeresíduos
Ambiente foi salvaguardado na pandemia o
93636
93698
A pandemia de covid-19 afetou várias áreas e setores. Os consumos de energia, água e resíduos tiveram valores bastante diferentes nos anos de pandemia, comparando com o último ano sem a presença do vírus. É necessário perceber que efeito tiveram os confinamentos nos nos consumos da população do concelho ou no distrito de Coimbra
ambiente, tal como outras áreas, foi afetado pela pandemia. O facto de a população ter ficado fechada em casa e as indústrias e o comércio terem parado fez com que, obviamente, houvesse repercussões no meio ambiente. Os consumos de energia e água e os resíduos produzidos e, posteriormente, reciclados modificaram os seus valores. Para António Veiga Simão, técnico superior da
Direção de Serviços de Ordenamento na Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, a pandemia e o facto de a população ter estado em confinamento permanente durante alguns meses de 2020 e 2021 fizeram com que os valores mudassem todos para melhor. “É preciso ter em consideração todos os meses em que estivemos em lockdown, alterando significativamente os dados”, assumiu.
Relativamente aos consumos de energia no distrito de Coimbra, segundo dados da Direção-Geral de Geologia e Energia, Veiga Simão frisou que o fecho das empresas fez com que os valores tivessem diminuído. “Mesmo que todas as casas tivessem consumido mais energia, nunca se pode comparar com a energia que as grandes empresas despendiam e que, nesses meses de 2020, não utilizaram”, explicou o responsável.
especial |
08-04-2022 | diário as beiras
| 31
Mais energia em casa, menos na indústria
A
síduos produzidos pelas empresas não estão compreendidos nestes dados, mas é compreensível que também tenham descido”, disse. Qualidade do ar melhorou O impacto da pandemia da covid-19 e das medidas de confinamento adotadas com implicações no normal funcionamento da economia, e na consequente melhoria generalizada da qualidade do ar,
resultaram num ano de 2020 atípico. Segundo o Relatório de Estado do Ambiente, a qualidade do ar no distrito melhorou substancialmente durante os anos de 2020 e 2021. António Veiga Simão referiu que as melhorias da qualidade do ar se refletem não só o facto de “grande parte” dos carros terem estado parados muitos meses, como também as principais fábricas não terem estado ativas.
93572
83789
Nos resíduos produzidos e, posteriormente, reciclados, António Veiga Simão alertou para o facto de a população, fechada em casa, ter ficado mais consciente da reciclagem. “É uma questão sociológica, as pessoas reciclaram mais até para conseguirem sair de casa nos meses de confinamento”, informou. O técnico superior salientou que é preciso perceber que os dados da ERSUC só refletem os resíduos urbanos. “Os re-
pandemia da covid-19 fez diminuir os consumos de energia no distrito de Coimbra. Segundo os dados da Direção-Geral de Geologia e Energia, os consumos diminuíram em praticamente 76 mil milhões de quilowatt hora (Kwh), em 2020 – apenas atrás de Lisboa, Porto, Aveiro, Setúbal e Braga. Se em 2019, o total dos consumos de todo o tipo de atividades, no distrito, fixaram-se nos 2.887.989.280 milhões de Kwh, em 2020, o total de energia consumida em Coimbra desceu para os 2.812.071.877 milhões. Ao analisar os dados, verificamos que a área que consome mais energia no distrito é a indústria do papel, pasta e cartão. Em 2019, a fabricação consumiu 1.122.317.025 milhões de kwh. Em 2020, esses consumos desceram
para 1.085.097.961 quilowatt hora. A descida é de 37.219.064 kwh, o que pode explicar bem grande parte da descida global do consumo de energia.
Em 2020, a população do distrito de Coimbra consumiu mais energia em casa. O aumento de mais de 17 milhões de Kwh, no consumo doméstico, representou um acréscimo de 3,3%
Por outro lado, e talvez porque as pessoas estiveram mais tempo em casa em 2020 do que em 2019, verificou-se uma tendência diferente no consumo doméstico de energia. No ano de 2020, no primeiro confinamento obrigatório (de três meses), a população do distrito consumiu mais energia em casa do que no ano transato. Em 2019, os consumos fixaram-se nos 508.787.648 quilowatt hora sendo que, em 2020, os consumos aumentaram 17.266.089 Kwh, estabelecendo-se nos 526.053.737 Kwh. Em 2020, Coimbra foi o concelho onde se gastou mais energia no distrito, com consumos que se fixaram nos 189.297.969 Kwh. O concelho que mais se aproximou destes consumos foi o da Figueira da foz, consumindo 78.732.034 quilowatt hora.
32 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
CONSUMOS DE ENERGIA, ÁGUA E RESÍDUOS
Mais resíduos produzidos e reciclados
O
93143
93626
No primeiro ano da pandemia, a produção de resíduos indiferenciados (comummente chamados por lixo convencional) aumentou 0,80%
s resíduos produzidos durante a pandemia aumentaram em todos os setores. Os dados da ERSUC, empresa que abrange todo o litoral Centro de Portugal, desde Ovar até Alvaiázere. A empresa não especifica quais os dados do distrito de Coimbra, mas as informações são claras. A produção de resíduos tem subido e, com a pandemia e o seu confinamento, subiu mais do que nos anos transatos. De 2018 para 2019, a subida de resíduos fixou-se em 1%, tendo sido produzidas 412.539 toneladas em 2018 e 418.712 no ano seguinte. De 2019 para 2020, a subida foi mais acentuada mas não exponencial. Em 2020 foram produzidas 426.587 toneladas de resíduos, ou seja, mais 1,85% do que no ano antes. A recolha indiferenciada de resíduos tinha diminuído de 2018 para 2019. Mas, no primeiro ano da pandemia, a produção de resíduos indiferenciados (comummente chamados por lixo convencional), au-
mentou 0,80%. Em 2020 foram produzidas 370.860 toneladas de lixo comum. Relativamente aos resíduos provenientes da recolha seletiva de reciclagem, de 2018 para 2019, a subida tinha sido significativa: de 42.056 toneladas para 50.542, ou seja, 20% mais. Em 2020 a subida mantém-se, mas mais ténue, tendo sido produzidas 55.719 toneladas, o que corresponde a 9,3%. Destas 55.719 toneladas, somente 43.321 foram provenientes da recolha nos ecopontos. Reciclagem do vidro é a única que diminui Curiosos são os dados de reciclagem de vidro, papel e plástico/metal. Esta última categoria (ecoponto amarelo) subiu 23% em 2020. Apesar de estar sob alçada de várias medidas para a diminuição da sua produção por todo o mundo, o plástico aumentou de 8.559 para 10.550 toneladas na região abrangida pela ERSUC. Ainda assim, o plástico é o material que tem sido menos consumido.
Os consumos de papel e o cartão também aumentaram em 2020. Num aumento que representa 11%, em 2020, consumiram-se 16.452 toneladas, mais 1.602 toneladas do que em 2019, ano em que foram consumidas 14.850 toneladas de papel e cartão. O consumo de vidro destaca-se por ser o único que reduziu nas recolhas da ERSUC de 2019 para 2020. No primeiro ano em análise foram para a reciclagem 19.316 toneladas de vidro. Já em 2020 o consumo caiu para as 18.932 toneladas. Este decréscimo do número de toneladas de vidro representa menos 2% do que em 2019. Ainda assim, o vidro continua a ser o resíduo mais reciclado. António Veiga Simão explicou que, “desde a década de 1980” que o país tem a “tradição” de reciclar o vidro, estando esses níveis estabilizados há muito tempo. “As pessoas não estavam tão acostumadas a reciclar plástico e papel, pelo que é normal que tenham reciclado mais em isolamento”, acrescenta o ex-presidente da CCDRC.
Coimbra consumiu mais água. Essa subida, no entanto, não é muito vincada. Em 2019, a população do concelho de Coimbra consumiu 10.032.355 m3 de água, menos 30 mil m3 de água do que em 2020. A variação entre os dois anos reflete-se num decréscimo de 0,30%. Esta análise macro dos dados de água não pode ser dissociada dos dados mais específicos dos consumos de água. As águas
Em 2021 consumiu-se menos água no concelho do que em 2020 e 2019
Se há alguma coisa positiva que esta pandemia pode ter trazido à população foi o controlo de consumos
No geral gastou-se menos água
o
86707
93113
s dados são da empresa Águas de Coimbra e são referentes aos anos de 2019, 2020 e 2021. A pandemia e os dois confinamentos ajudaram a que os consumos fossem reduzidos. A análise tem vários pontos de interesse que podem ser considerados curiosos mas, depois de alguma reflexão, são também óbvios. Os três anos são referentes ao ano antes da
pandemia, ao ano do primeiro confinamento – e vincadamente marcado pela pandemia – e o último ano, também com confinamento, no primeiro trimestre, mas com um aliviar e alguma libertação no segundo semestre de 2021. A primeira análise macro que se pode retirar está relacionada com o consumo geral de água. Se há alguma coisa positiva que esta pandemia pode ter trazi-
| 33
especial |
08-04-2022 | diário as beiras
do à população, ela está relacionada com os consumos. O ano de 2021 foi o que teve menores consumos de água no concelho. No ano passado, foram consumidos 9.754.729 m3 de água consumida. A variação relativamente ao ano de 2020 é de -3,06%. Nesse ano, o concelho de Coimbra consumiu 10.062.472 m3 de água. Ainda assim, é curioso analisar que, de 2019 para 2020, a população de
A descida do consumo face a 2020 de -3,06% de Coimbra distinguem os consumos entre comércio, domésticos, instituições, autarquias e Estado. Comércio, indústria e serviços consomem menos Os dados fornecidos pela empresa de distribuição de águas no concelho mostram que o consumo de água no comércio, indústria e serviços regrediu ao longo dos três anos. A justificação é simples e plausível: nos anos de 2020 e 2021, estas três áre-
as estiveram praticamente fechadas durante alguns meses devido aos confinamentos decretados pelo governo. O que se pode verificar é que, no ano de 2019, estas três áreas consumiram 1.508.467 m3 de água. Comparando com 2019, em 2020 os consumos diminuíram bruscamente (-11,37%), correspondendo ao consumo de 1.336.908 m3 de água. No último ano da comparação, em 2021, os consumos continuaram a descer, mas a queda não é tão acentuada nestes setores. Neste ano, foram gastos 1.309.003 m3 de água, menos 2,09% que em 2020. Consumos domésticos aumentaram Nos três meses, em 2020, e outros três em 2021 com a população portuguesa toda em casa em isolamento, era expectável que os consumos de água aumentassem no total de cada ano. Os dados da Águas de Coimbra refletem essa subida, mas só no primeiro ano de confinamento. No ano anterior aos isolamentos devido à covid-19, em 2019, o consumo de água doméstica no concelho fixou-se nos 6.985.235 m3 de água. No ano seguinte, os consumos aumentaram, sendo que se gastaram 7.274.510 m3 de água, um aumento de 4,14%. Em 2021, a população de Coimbra amenizou esta subida dos consumos domésticos. Os gastos de água fixaram-se nos 7.105.402 m3 de água, o que representa uma descida de 2,32%.
testemunho
A pandemia ajudou-me a crescer
Durante a pandemia existiram mudanças, não só fisicamente. A minha maneira de pensar evoluiu positivamente e hoje estou mais maduro. Cauã Jaques 15 anos
Não devemos deixar nada por dizer
Durante a pandemia o mais difícil de superar foi as saudades das pessoas de quem realmente gostamos e estamos habituados a estar. Não devemos deixar nada por dizer. Beatriz Patrício 15 anos
93632
34 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
AF_IMPRENSA_CRED_EXPRESSO_252x352.pdf
1
03/03/22
15:31
especial |
| 35 93251
08-04-2022 | diário as beiras
SOLUÇÕES DE CRÉDITO PESSOAL
Se tem de ser e é para agora, que seja na Caixa. C
M
Y
CM
MY
Crédito aprovado em 24 horas.
CY
CMY
K
Resposta em 24h após solicitação em agência e condicionado à entrega da documentação necessária. Saiba mais em cgd.pt
Caixa. Para todos e para cada um. Caixa Geral de Depósitos, S.A., registada junto do Banco de Portugal sob o n.º 35.
36 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
desportoedesportistas
Um exigente adversário que obrigou a uma superação V diária
Os estádios passaram a estar vazios, os pavilhões desportivos fechados, primeira mente como centros de vac
93399
93705
O desporto teve de lidar com um adversário novo e perigoso. A época 2020/2021 terminou de forma precoce para a maioria das modalidades e esta temporada voltou a começar ainda com muitas restrições. Pavilhões deixaram de ser palco de jogos e passaram a ser o local para administrar vacinas. Retoma progressiva está a ser feita, mas as modalidades ainda procuram recuperar das perdas sofridas em dois duros anos
eni, vidi, vici (vim, vi e venci), disse um dia o imperador romano Júlio César. Aplicando a máxima ao impacto que a covid-19 causou no desporto quase se poderá dizer “cheguei, contagiei e obriguei a mudar tudo”. No espaço de dois anos as modalidades desportivas lidaram, tal como a sociedade, com um adversário desconhecido, perigoso e que provocou consequências que podem levar anos para serem totalmente mitigadas. Não existiu modalidade nenhuma que não tivesse que parar, de forma abrupta, a sua atividade devido à covid-19. Os estádios passaram a estar vazios, os pavilhões desportivos fecha-
dos, primeiramente como centros de vacinação. A nível financeiro, a covid-19 “estrangulou” as associações e os clubes, mas a nível humano o impacto foi ainda maior, com centenas de atletas a terem de parar e a retomarem, de forma gradual, com sucessivas condicionantes a prática desportiva. A criatividade durante este período, com treinos online e sessões coletivas via plataformas como o Zoom, permitiu minimizar o impacto da ausência do contacto diário dos treinos, mas, ainda assim, não evitou a perda de praticantes, São mais de 24 meses a conviver com um vírus que “acrescentou” ao diaa-dia dos atletas máscara,
álcool gel e testes. Os surtos afastaram atletas e agora há que recuperar aqueles que deixaram o desporto por receio de uma infeção cujas consequências a longo prazo ainda não são totalmente conhecidas. A transição para “o novo normal” está a ser feita, mas o caminho continua a ter obstáculos e ainda há vários adiamentos de atividades. Redução a todos os níveis “A ausência de competição provocou a redução no número de atletas inscritos em cerca de 3.000 praticantes”, revelou o presidente da Associação de Futebol de Coimbra, Horácio Antunes. Adaptação e resiliência
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
| 37
Após o adiamento, a aguardada estreia nos Jogos Olímpicos
A
cinação
de “um modo de vida mais sedentário”. Sentimentos “de frustração, ansiedade e desmotivação” foram também referidos pelos atletas. No desporto profissional, a Académica/OAF viveu um período bastante difícil e os apoios recebidos são “valores bastante insignificantes quando comparados com a quebra de receitas e com a real necessidade”. A Briosa sofreu com a ausência de receitas. “Em Portugal, não houve nem há ajuda às sociedades desportivas”, refere o clube. Neste momento está a ser feita a retoma gradual do desporto e a Associação Distrital de Atletismo de Coimbra já superou os
números das últimas duas temporadas. “Após a retoma, dita “normal”, da atividade na presente época desportiva (2021/2022), já se filiaram 1.360 atletas e 45 clubes”, revelou o presidente da entidade, David Soares. Também as modalidades amadoras foram forçadas a parar. Na Académica, por exemplo, procura-se agora o regresso à normalidade. “A pandemia provocou uma quebra, na generalidade, de atletas a praticar desporto na Académica e vamos demorar alguns anos para regressar ao número de atletas de 2019”, assumiu o membro do Conselho Desportivo da Associação Académica de Coimbra, Miguel Franco.
participação em Tóquio com vários estágios promovidos pela Federação Portuguesa de Judo e contou com a ajuda do seu clube, a Académica, e de entidades como o Comité Olímpico de Portugal para não parar. “Preparar a maior competição de todos os tempos num contexto como este foi extremamente desafiante, contudo acabou por ser, no final, também bastante recompensador, porque vimos que todo o esforço que nós fizemos desde o início valeu a pena”, ressalvou Catarina Costa que foi 5.ª classificada nos -48kg (diploma olímpico). Lidar com a infeção Na piscina esteve outro estreante nos Jogos Olímpicos, o lousanense Gabriel Lopes, atleta do Louzan Natação. “Tivemos a sorte de ter a piscina disponível, porque a Câmara da Lousã conseguiu fazer “esse favor” de manter a piscina aberta para conseguirmos continuar a treinar”, recordou o nadador de 24 anos. “Houve uma série de desafios acrescidos durante
a preparação, mas tudo se fez”, assumiu. Num cenário longe do ideal, Gabriel Lopes ficou infetado em março de 2021, a cerca de quatro meses do início da prova em Tóquio. “Fiquei com algumas mazelas f ísicas durante cinco, seis semanas. Foi um período em que voltei ao treino e em que era muito dif ícil, tinha muitas cãibras, rigidez nos músculos, dificuldade em recuperar de um dia para o outro. Isso foi a parte de eu ter covid-19 que colocou um pouco de medo na minha preparação”, revelou. Ultrapassado este período, Gabriel Lopes nadou no Centro Aquático de Tóquio e quebrou o seu recorde pessoal nos 200 metros estilos, Os dois atletas consideram que a pior fase pode já ter passado, mas nada impede que uma nova mutação do vírus cause novos surtos. “Todos os cuidados devem ser mantidos”, considerou Catarina Costa. “O vírus já passou pela maior parte da população, que também já está vacinada. Isso dá alguma segurança”, confidenciou Gabriel Lopes.
89614
93696
passaram a ser palavras comuns no desporto e agora há que voltar a trazer para os clubes os atletas que saíram “mais do que recuperar, é absolutamente necessário adotar medidas que permitam que os jovens de Coimbra e da região centro, disputem mais jogos entre si”, realça o presidente da Associação de Basquetebol de Coimbra (ABC). A ABC, em parceria com o Olivais e a psicóloga Sofia Pinheiro, promoveu um estudo exploratório sobre o impacto da pandemia nos atletas dos clubes de basquetebol da região Centro. Entre as conclusões destacam-se a “diminuição da assiduidade aos treinos” e o crescimento
pandemia forçou o adiamento de grandes competições desportivas internacionais. Os Jogos Olímpicos 2020 ou o Campeonato da Europa de Futebol 2020 são dois casos de uma forçada mudança no calendário dos atletas. No caso da maior competição desportiva a nível mundial, os Jogos Olímpicos de Verão foram realizados um ano mais tarde, em 2021. Entre os atletas que foram afetados por esta realidade estão Catarina Costa (judo) e Gabriel Lopes (natação). A aguardada estreia no maior palco chegou com um ano de atraso e depois de uma série de adaptações. “Diria que a maior dificuldade foi encontrar um local de treino para fazer judo, mais concretamente a parte do randori, que são as lutas”, contou a atleta da Secção de Judo da Académica, Catarina Costa. Depois de um confinamento forçado, em que conseguiu manter a prática num improvisado “dojo”, a judoca de Coimbra preparou a
38 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
DESPORTO E DESPORTISTAS
DR
AF Coimbra reagiu prontamente à crise pandémica
Preocupação é o não abandono da prática do basquetebol
Enorme contratempo na evolução do atletismo
A
A
A
AF Coimbra reagiu prontamente à crise pandémica, numa atitude proativa que conjugou as preocupações sociais e de saúde pública com medidas aplicadas à vertente organizacional e desportiva. A AF Coimbra avançou com o apoio aos clubes ao perceber que terminando mais cedo as competições, todos perderiam receitas que eram a base de sustentação da atividade e cujo valor atingiu cerca de 75.000 euros, a pagar em três anos, sendo que será a AFC a suportar integralmente essa verba já creditada aos clubes. No âmbito da retoma da atividade desportiva promovemos a adaptação dos quadros competitivos, tendo como principal objetivo a promoção do futebol e do futsal e, principalmente, o regresso à atividade de milhares de jovens da nossa Região. Ficaram, porém, muitos traumas que ainda não foram ultrapassados e que se notam bem no número de jogos alterados à última hora, sempre por motivos de saúde. o receio continua a impedir o normal funcionamento das provas.
93294
89817
Horácio Antunes Presidente da Associação de Futebol de Coimbra
pandemia criou muitos problemas e continuará a criar dado que não acabou e não se sabe mesmo se acabará. A ABC, como entidade reguladora, acompanha os clubes nas suas preocupações que são também as nossas. Neste momento a nossa preocupação é o não abandono da prática da modalidade, pelo que enviámos já uma proposta à FPB, denominada “Acção Social Desportiva” que, à semelhança da “Acção Social Escolar” no ensino, apoie os atletas e as famílias mais carenciadas. Mais do que recuperar, é absolutamente necessário adoptar medidas que permitam que os jovens de Coimbra e da região centro, disputem mais jogos entre si. Se percebermos, e percebemos, que a “obesidade infantil” é um problema de saúde pública e o “Desporto Escolar”, ou não existe, ou é insuficiente, os clubes e associações desportivas deverão ser o motor do desenvolvimento. Só que para isso são precisos apoios financeiros. Todo o dinheiro gasto no desporto, “não é despesa, mas investimento”. Luís Santarino Presidente da Associação de Basquetebol de Coimbra
época desportiva na nossa modalidade inicia-se a 1 de novembro de um ano civil e termina em outubro do ano civil seguinte. Face a esta condicionante temporal, a Covid- 19 afetou drasticamente duas épocas desportivas obrigando ao cancelamento de todas as competições e eventos entre 17 de março de 2020 e 20 de março de 2021. As características da modalidade – individual e de ar livre – possibilitou que alguns atletas continuassem a treinar, primeiro de forma improvisada, depois treinando na Pista de Montemor-o-Velho e mais tarde com disciplina e protocolos de segurança, na Pista de Atletismo do Estádio Cidade de Coimbra e na Pista do Complexo Desportivo de Febres. A FP Atletismo encontrou formas originais de competição, nomeadamente de competição indireta, realizada em simultâneo em várias pistas. A filiação de atletas na ADAC manteve o sentido de crescimento, demonstrativo da extraordinária resiliência dos nossos clubes. David Soares presidente da Associação Distrital de Atletismo de Coimbra
A pandemia trouxe impactos terríveis à AAC/OAF
A
pandemia trouxe impactos terríveis à AAC/OAF, tanto a nível desportivo como financeiro. Desportivamente, no que diz respeito à formação, todas as competições foram canceladas, vários atletas viram-se obrigados a ficar em casa e, ainda hoje, não recuperámos o número habitual de jogadores que tínhamos pré-pandemia. Fizemos várias ações em casa, treinos online, mas todos sabemos que não é a mesma coisa. Já a equipa sénior viu de igual forma o seu campeonato ser interrompido numa primeira fase, e obrigados a jogar sem público no ano posterior, sofrendo assim dos mesmos males. Financeiramente, a diminuição de receitas foi bastante acentuada, não só em Portugal, mas em todo o mundo do futebol. Infelizmente, os custos não diminuíram, até aumentaram, mas mais relevante ainda, foi o atraso em todo o processo de negociações com vista a alterar o modelo societário, que já estava bastante avançado. Esse foi, sem dúvida, um dos principais reveses desta crise pandémica.
Os apoios públicos para o desporto são e foram escassos
O desporto teve um papel fundamental durante a pandemia
Determinante a Lousã ter mantido a piscina aberta para nós
O
D
A
impacto das medidas de contingência e controlo da pandemia Covid-19 fez-se notar com particular relevância no desporto. O cancelamento das competições desportivas e, inclusive, dos treinos provocou naturalmente uma insustentável situação para as nossas secções. Os apoios públicos para o desporto são e foram escassos o que é reflexo da falta de visão do nosso país sobre o desporto. De início, foi o próprio Conselho Desportivo e a Direcção Geral da AAC que criaram o seu próprio fundo interno para apoiar secções desportivas. Foi fundamental manter o contacto próximo com atletas e familiares para que, à medida que as medidas de contingência iam relaxando, fosse possível retomar a prática desportiva e recuperar o maior número de atletas possíveis. A pandemia provocou uma quebra, na generalidade, de atletas a praticar desporto na AAC e vamos demorar alguns anos para regressar ao número de atletas de 2019. O desporto da AAC precisa da ajuda de todos.
93467
urante a pandemia surgiram algumas dificuldades que foram sobretudo impostas à parte do treino de judo. Perdemos alguns dos nossos colegas, porque depois não chegaram a voltar para retomar a prática desportiva e isso é uma pena, porque perdemos bons atletas e bons parceiros de treino. Preparar a maior competição de todos os tempos num contexto como este foi extremamente desafiante, contudo acabou por ser, no final, também bastante recompensador, porque vimos que todo o esforço que nós fizemos desde o início valeu a pena. Penso que a pior fase já passou, mas isso não quer dizer que não surjam novos surtos e variantes. Acho que a maior lição que podemos tirar disto tudo é que, realmente, o desporto teve um papel fundamental durante a pandemia. Aqueles que continuaram a praticar sentiram-se sempre melhores, a nível físico e, sobretudo, a nível mental.
Miguel Franco Conselho Desportivo da AAC
Associação Académica de Coimbra/ Organismo Autónomo de Futebol
Catarina Costa Secção de Judo da Académica e seleção nacional
cho que a parte inicial foi mais complicada. O confinamento, o ter de estar fechado e só sair de casa para o essencial. Nós na Lousã tivemos a sorte de ter a piscina disponível, porque a Câmara da Lousã conseguiu fazer “esse favor” de manter a piscina aberta para conseguirmos continuar a treinar. A minha preparação para os Jogos Olímpicos foi num contexto já diferente da fase inicial da pandemia. Eles foram adiados um ano, a minha preparação acabou por coincidir o início da época a seguir. Durante a minha preparação acabei por apanhar covid-19 e houve uma série de desafios acrescidos, mas tudo se fez. Fiquei com algumas mazelas físicas durante cinco, seis semanas. Foi um período em que voltei ao treino e em que era muito difícil, tinha muitas cãibras, muita rigidez nos músculos, dificuldade em recuperar de um dia para o outro. Isso foi a parte de eu ter covid-19 que me colocou um pouco de medo na minha preparação. Gabriel Lopes Louzan Natação e seleção nacional
POSTO DE COMBUSTÍVEIS ESTRADA N234 SENTIDO CANTANHEDE-MIRA COM 27 ANOS DE EXPERIÊNCIA Gasóleo rodoviário
Gasóleo agrícola
Entreg a ao domic ílio
Gasóleo aquecimento
Fernando Inocêncio: Telef: 231 458 668 | Telem: 966 417 221 (Mira) 93464
| 39
especial |
08-04-2022 | diário as beiras
93553
40 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
94020
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
| 41
pandemia: uma sociedade em transição
42 | especial
diário as beiras | 08-04-2022
empreendedorismonosnovostempos
Digitalização é a “chave do sucesso” do trabalho no futuro A diminuição dos números do desemprego e do défice (de 5,8% em 2020, para 4,3% em 2021 ), bem como o aumento PIB mostram que as empresas portuguesas (em função do setor) estão em recuperação pós-pandemia. Os setores mais beneficiados foram (por esta ordem) a fabricação de produtos farmacêuticos, investigação e desenvolvimento, consultoria e programação informática, serviços de informação, telecomunicações e construção. Em sentido contrário, os setores mais afetados foram (por esta ordem), alojamento, artes e espetáculos e restauração. A venda de veículos automóveis regista uma quebra de 42,9% entre os meses de fevereiro de 2020 e 2022
A
quase 4,9 milhões de trabalhadores. Isto significa que já começa a sarar a infeção que a pandemia causou no tecido empresarial português, pelo menos na perspetiva laboral. Todavia, antes da pandemia já existia uma ferida, que parece manter-se, que é o desemprego jovem, abaixo dos 25 anos. Agora que a covid-19 passou para uma fase endémica, a taxa de desemprego jovem – que era de 18,7% em fevereiro de 2020 (dias antes do início do confinamento) – mantém-se acima dos
20%, ou seja em valores superiores à pré-pandemia, mesmo que já tenha estado acima dos 27%. Feira de emprego do ISCAC mostrou novo paradigma Foi neste contexto que a “Business Week”, feira de emprego da Coimbra Business School/ISCAC, se realizou no final de março, sob o mote “O Futuro do Trabalho no Pós-Pandemia”, assunto que “não podia ser mais pertinente”, destaca o presidente da referida escola superior, Pedro Costa. Trata-se de um desafio que está na ordem do dia para alunos, recém-licen-
ciados e empresas, sendo certo, garante Pedro Costa, que “a pandemia covid-19 mostrou que o teletrabalho, em certas circunstâncias, pode contribuir para o aumento da produtividade das empresas e, ao mesmo tempo, para aumentar o bem-estar dos trabalhadores”. Em domínios como o ensino, a ciência, ou o mundo dos negócios, o presidente do ISCAC defende que “a tecnologia e a digitalização são a chave do sucesso. Trabalho sob o formato dos regimes individuais Os estudantes que estão às portas do mercado de trabalho defendem que “os trabalhadores possam passar a ter margem para modelar os seus próprios regimes individuais de trabalho, construindo
as soluções com os empregadores”. São alternativas ao atual modelo em que se regista o agravamento da utilização de contratos a termo certo pelas empresas, o que representa maior vulnerabilidade em tempo de crise ou de incerteza. Um problema que volta a estar na ordem do dia com a explosão da guerra na Ucrânia, outra causa global para a destruição continuada do emprego. Os efeitos da pandemia e da guerra no emprego jovem revelam agora dificuldades específicas, muito diferentes das consequências da crise do subprime que teve início em 2007. Nessa fase de recessão registou-se em Portugal um intenso fluxo de emigração que permitiu a mitigação
93505
taxa de desemprego em janeiro de 2022 fixou-se em 6%, a mais baixa registada em todos os meses de janeiro desde 2002. Após dois anos de covid-19, é um excelente indicador de vitalidade da economia portuguesa, de acordo com os mais recentes dados (do mês de março) publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Na comparação com janeiro de 2021, há agora mais 218 mil pessoas empregadas no país, atingindo um valor global de
Pedro Costa, presidente da Coimbra Business School | ISCAC
Café Santa Cruz Um Café a Caminho do Centenário 8.MAIO.1923
www.cafesantacruz.com | geral@cafesantacruz.com
do desemprego na faixa etária entre os 25 e os 35 anos, o que atualmente é mais difícil de acontecer. Acresce que, quando um jovem qualificado não encontra emprego em tempo útil, começa a sofrer de um certo tipo de desânimo pela falta de experiências profissionais e afastamento dos contactos no meio laboral. Como exemplo, Pedro Costa garante que que a taxa de empregabilidade dos cursos da Coimbra Business School é de 97%, mas defende que “o Governo, o Parlamento, as entidades fiscalizadoras e a segurança social assumam as suas responsabilidades no processo, desde a sua regulamentação às políticas de incentivo ao emprego”.
93708
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
| 43
44 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
EMPREENDEDORISMO NOS NOVOS TEMPOS
Início da g expectativa
O
74454
93433
Nuno Lopes, presidente do CERC - Conselho Empresarial da Região de Coimbra
Centro do país foi o que “melhor resistiu aos efeitos económicos negativos provocados pela pandemia”, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). A conclusão é de Nuno Lopes, presidente do CERC, Conselho Empresarial da Região de Coimbra. De acordo com o dirigente empresarial, “o PIB diminuiu em todas as regiões portuguesas em 2020, mas o Centro foi a que teve o desempenho menos negativo”, atendendo à informação veiculada pelo INE. O também presidente da Associação Comercial e Industrial da Figueira da Foz (ACIFF) alerta, todavia, para que não se possa criar ilusões com estes números, explicando que Coimbra tem uma forte componente de serviços (muitos deles públicos), “os quais tiveram uma afetação quase nula em termos de perda de rendimentos em resulta-
do da covid-19”, contribuindo assim, de forma significativa, “para os números menos desfavoráveis apresentados pelo INE”, apesar de, na realidade – numa abordagem global – “os ramos do comércio, transportes, alojamento, restauração e a maioria da indústria terem visto os seus resultados penalizados pela pandemia”. Até ao final do ano de 2021 o tecido empresarial estava a registar “uma recuperação muito positiva no setor da indústria, com algumas empresas a atingirem os valores pré-pandemia”, regista Nuno Lopes. Nos últimos meses, “os maiores desafios que a indústria tem enfrentado são o absentismo laboral, fruto dos contágios com cov-19, aumentos substanciais dos custos inerentes aos planos de proteção e contenção da sua propagação e – em alguns setores específicos – o aumento exponencial do custo das matériasprimas ou mesmo a sua escassez”, diagnosticam os serviços do CERC.
uerra gorou as “elevadas as” dos empresários “Realçamos, no entanto, que as medidas decretadas pelo Governo, como as linhas de crédito bonificado ou as medidas de lay-off, com uma componente de apoio a fundo perdido com alguma expressão, foram determinantes para a protecção do nosso tecido empresarial e respetivos postos de trabalho”, contata o líder do conselho empresarial que agrega as associações ACIBA (Bairrada e Aguieira), ACIFF (Figueira da Foz), ADEC (Condeixaa-Nova), AEC (Cantanhede), AEDP (Vila Nova de Poiares), AEM (Mira), AEPS (Pampilhosa da Serra); AESOURE (Soure), AESL (Serra da Lousã), APBC (Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra), CEMC (Miranda do Corvo) e NEP (Penela).
economia na zona Euro, onde Portugal, e Coimbra mais especificamente, não eram excepção”.
Todavia, o início da guerra na Ucrânia [a 24 de fevereiro último] originou uma escalada sem precedentes no aumento do custo da energia, tendo como consequência um acréscimo também no custo final do fabrico de todos os bens. “Foi colocada novamente em causa a viabilidade económica de muitas indústrias, principalmente as que estão muito dependentes do setor energético, como é o caso das que trabalham com fornos a gás”, observa o empresário figueirense e presidente do CERC, acrescentando que “outra preocupação é o facto de importarmos quase toda a matéria-prima necessária à transformação ou fabrico dos nossos produtos, cujo valor está indexado ao aumento dos combustíveis pelo forte impacto que este tem nas suas cadeias de distribuição”. O aumento generalizado do custo dos bens vai originar (ou melhor, já está a originar) uma inflação com a consequente perda de poder de
Comércio, transportes, alojamento, restauração e a maioria da indústria viram os seus resultados penalizados pela pandemia
compra dos portugueses e retração no consumo. Novas medidas Para os empresários, “é necessário que o Governo disponibilize novas medidas que permitam
controlar o custo da energia, mas tão ou mais importante, é a necessidade de uma boa gestão na utilização destes recursos, e para isso devemos utilizar os fundos provenientes do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) na capacitação das empresas na melhoria da eficiência energética, aumentando a sua capacidade competitiva através da produção com menor consumo”. O CERC – Conselho Empresarial da Região de Coimbra tem reunido com empresas especializadas em painéis fotovoltaicos, fornos de biomassa e outos equipamentos que permitam a utilização de uma energia “limpa”, para melhorar a eficiência energética da indústria na CIM Região de Coimbra. Nuno Lopes conclui que “os desafios são grandes, mas os empresários portugueses têm mostrado engenho e capacidade de adaptação, mostrando o porquê de sermos reconhecidos como dos melhores do mundo em algumas áreas”.
testemunho
Aproveitámos mais os convívios
Com a pandemia tivemos que nos distanciar de alguns familiares e amigos. Com esse facto aprendemos a aproveitar mais esses momentos de convívio com os nossos. Bruna Patrício 15 anos
93207
Guerra da Ucrânia trocou as voltas às empresas Nuno Lopes afirma que os empresários “estavam agora com elevadas expetativas em relação ao que será 2022, com todas as previsões a apontarem para um crescimento da
As linhas de crédito bonificado ou as medidas de lay-off, com uma componente de apoio a fundo perdido com alguma expressão, foram determinantes
| 45
especial |
08-04-2022 | diário as beiras
79235
telefone: 239 476 476 email: geral@abelpecas.pt
46 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
EMPREENDEDORISMO NOS NOVOS TEMPOS
Os números da recuperação
Plural cresceu em pandemia com aquisição da Udifar
F
mia (agora em estado endémico), seguida de uma guerra na Europa... mas está a acontecer”. Capacidade de adaptação evitou quebras O responsável conta que “as empresas do setor tiveram uma resposta muito efetiva e profissional, mesmo quando ainda estávamos numa fase em que era dif ícil saber lidar com a pandemia”. Esta capacidade de adaptação “garantiu que não tivesse havido colapso ou quebra de fornecimento de medicamentos à população, tendo sido necessário, no pico da pandemia, fazer equipas para assegurar as 24 horas”. Miguel Silvestre observa “o reconhecimento que as farmácias mereceram durante o tempo da pandemia, de que é exemplo a circular normativa do Infarmed, DGS e INSA, de dezem-
bro de 2020, onde se identificavam os farmacêuticos entre os profissionais habilitados para prestação do serviço de testagem de antigénio para o SARS-Cov-2. O presidente da Plural-Udifar regista “a capacidade das farmácias se assumirem como uma das portas de entrada no SNS, pela sua capilaridade e proximidade com a população, através de profissionais extremamente qualificados, capazes de assumir, por exemplo, a vacinação da população”. Quanto aos desafios de futuro, o responsável conclui que, também no setor farmacêutico, “a Europa tem que procurar novas cadeias de abastecimento, de forma a não ficar dependente de um só mercado, como é o caso de certos princípios ativos para produção de medicamentos que têm origem na Ásia.
Miguel Silvestre, presidente do conselho de administração da Plural-Udifar
93233
93423
oi em plena pandemia que a Plural – Cooperativa Farmacêutica, com sede em Coimbra,levou a cabo o negócio de aquisição de um conjunto de ativos pertencentes à empresa Udifar II – Distribuição Farmacêutica. Uma transação de oito milhões de euros que incluiu o armazém e edif ício sede localizados no Cacém/Lisboa. A nova identidade corporativa foi constituída a 8 de fevereiro de 2021, reforçando a distribuição por grosso no mercado, designadamente na relação com farmácias e laboratórios. Na prática, é o exemplo de que em tempos conturbados podem surgir oportunidades. Miguel Silvestre, presidente do conselho de administração da Plural-Udifar, confidenciou que “há poucos anos ninguém imaginaria que iríamos ter uma pande-
INSTALAÇÕES E QUADROS ELÉTRICOS, LDA.
INDÚSTRIA DE QUADROS ELÉCTRICOS E AUTOMATISMOS, LDA
Sede: Escritório: Av. Vladimir Lenine 173- 13ºpiso Edifício Millenium Park Maputo
COIMBRA - VISEU Sede e Armazém: Parque Industrial Taveiro, Lote 14 | Apartado 33 | 3045-508 Taveiro
Sede/Fábrica: Parque Industrial Taveiro, Lote 1 | Apartado 27 | 3045-508 Taveiro
Escritório: Avenida 24 de julho 2096- 1ºDto Maputo Telf: +258 844786099 +258 823850019
Filial1: Rua da Tamancaria Cruzamento de Pascoal | 3515-097 Viseu
Telef. 239 980 070 | Fax 239 980 089 | cinov@cinov.pt | Telefs. 232 450 991 - 232 450 992 | Fax 232 450 992 | viseu@cinov.pt | Telef. 239 980 070 | Fax 239 980 089 | prisnov@prisnov.pt
Somisis, Sociedade de Manutenção e Sistemas Industriais, Lda.
Centro Comercial Solmar | Rua Rogério Reynaud, 22 Loja 14 | Buarcos | 3080-251 – Figueira da Foz Telef. 233 438 537 | Telem. 966 490 153 Email: geral@somisis.pt
16
93206
Empresa apoiada por: Governo da República Portuguesa
UNIÃO EUROPEU Fundo Social Europeu
| 47
especial |
85230
93302
08-04-2022 | diário as beiras
WWW.CAPA-ADVOGADOS.COM ÁREAS:
Arbitragem
Arbitragem Família e Sucessões Contencioso
Direito Fiscal
Comercial e Sociedades Contratos
Comercial e Sociedades
Direito Penal e
Contratos Contra-Ordenacional Desporto
Direito Público
Desporto WWW.CAPA-ADVOGADOS.COM
WWW.CAPA-ADVOGADOS.COM
VOGADOS.COM
ÁREAS:
ÁREAS: Contencioso
SÓCIOS: 7
ÁREAS: Arbitragem
Família e Sucessões
Contencioso
Direito Fiscal
Comercial e Sociedades Direito Penal eFamília Arbitragem Família e Sucessões Direito Bancário Direito Bancário Contra-Ordenacional Contratos Direito Fiscal Reestruturações e Contencioso Direito Público DesportoReestruturações e Direito Insolvências Direito Penal e Insolvências Comercial e Sociedades Direito Contra-Ordenacional Direito da Saúde
Direito da Saúde
Direito Público Contratos
Direito do Trabalho
SÓCIOS: 7 Desporto
WWW.CAPA-ADVOGADOS.COM
ADOS, RL teus Ferreira e Associados - Sociedade de Advogados, RL
e
Reestrut Insolvên Sucessõe
Direito d
Fiscal Direito d
Penal e Contra-Ordenacio Direito do Trabalho
Direito Público 20 ADVOGADOS E COLABORADORES:
ADVOGADOS E COLABORADORES: 20
CAPA - SOCIEDADE DE ADVOGADOS, RL SÓCIOS: 7 Pereira, Mateus Ferreira e Associados ADVOGADOS Castanheira, Almeida, - SociedadeEdeCOLABORADORES: Advogados, RL
CAPA - SOCIEDADE DE ADVOGADOS, RL Castanheira, Almeida, Pereira, Mateus Ferreira e Associados - Sociedade de Advogados, RL
Direito B
ARNADO BUSINESS CENTER - Rua João de Ruão, n.º 12. 1.º andar, Esc. 5 e | FAX 239 842 732 | E-MAIL geral@capa-
20 TEL 239 842 730 - 239 842 731
SÓCIOS: 7
ADVOGADOS E C
ARNADO BUSINESS CENTER - Rua João de Ruão, n.º 12. 1.º andar, Esc. 5 e 6 - 3000-229 Coimbra TEL 239 842 730 - 239 842 731 | FAX 239 842 732 | E-MAIL geral@capa-advogados.com
ARNADO BUSINESS CENTER - Rua João de Ruão, n.º 12. 1.º andar, Esc. 5 e 6 - 3000-229 Coimbra TEL 239 842 730 - 239 842 731 | FAX 239 842 732 | E-MAIL geral@capa-advogados.com
48 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
C
a Resposta das IPSS
“É pelas pessoas e para as pessoas que existimos” Estão onde é preciso para responder a quem precisa: pessoas, utentes e comunidade mais vulnerável. O contexto de pandemia foi – e continua a ser particularmente exigente para as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), que souberam adaptarse, mobilizar recursos e garantir respostas
omo tantas outras instituições da área social, nos últimos dois anos a Associação das Cozinhas Económicas Rainha Santa Isabel (ACERSI) esteve sempre ao lado de quem precisou: pessoas idosas, famílias, migrantes, pessoas em situação de sem abrigo com multiproblemáticas associadas: doença mental, dependências de substâncias ilícitas/ álcool, desemprego ou isolamento social. O caminho não foi fácil, mas agora, que já se vislumbra alguma normalidade, a associação acredita que conseguiu cumprir com a sua missão. “A pandemia assustounos e até nos fragilizou, mas reconhecemos que conseguimos vencer, dando resposta a todas as solicitações e trabalhando em segurança, de acordo com as normas emanadas pela Direção-Geral da Saúde (DGS)”, lembra Ana Maria Cristóvão, diretora técnica da associação.
Esforço em recursos humanos e financeiros A agravar a situação, o apoio às pessoas mais velhas foi, também, “ um enorme desafio”.
93397
93396
Acréscimo de 47% de refeições servidas Em 20 de março de 2020, com o país recolhido naquele que seria o primeiro confinamento, começaram a destacar-se respostas da sociedade civil e das autarquias para fazer face à pandemia. Mas tudo era incerto. “Recuando na linha do tempo, nos primeiros dias, sentimos angústia e receio do que seria o vírus. Não sabíamos, ainda, as consequências nem as medidas a adotar. Contudo, organizámo-nos, tendo sempre
em conta as orientações da DGS e da Segurança Social, e adaptámo-nos através de um novo modus operandi”, refere. Durante o primeiro confinamento, o Refeitório Social, que funciona na baixa da cidade de Coimbra, ainda se manteve em funcionamento com um utente por mesa, mas rapidamente a direção percebeu que não era exequível manter aquele regime devido ao volume de refeições que eram servidas. A associação optou por servir as refeições em take away, aproveitando a entrega da refeição para sensibilizar os utentes para o cumprimento de medidas de segurança e distanciamento. De acordo com a diretora técnica, os pedidos aumentaram (neste período houve um acréscimo de 47 por cento de refeições servidas), como aumentaram as despesas com outros serviços que a associação presta, nomeadamente no apoio a idosos. Na verdade, a adaptação do Refeitório Social, Centro de Dia e Serviço de Apoio Domiciliário) à nova realidade foi um grande desafio a nível de recursos humanos e financeiros. “O gasto em material take away, EPI’s e géneros alimentares foi superior à capacidade da instituição”, nota Ana Maria Cristóvão .
“We take care of your cargoes”
ENINSULAR PORT SERVICES Email: info@peninsularps.pt
Agência de Navegação * Logística Portuária * Fretamento de navios
www.peninsularps.pt
especial |
08-04-2022 | diário as beiras
“Tivemos várias sinalizações de pessoas em situação de isolamento e sem rede de suporte que foi urgente apoiar, muitas vezes de forma gratuita, o que implicou um esforço gigante a nível de recursos humanos e financeiros”, recorda a responsável. De acordo com a responsável, os utentes que estavam enquadrados em Centro de Dia passaram a ser apoiados no domicílio, tal como os beneficiários do Serviço de Apoio Domiciliário e as novas sinalizações. Houve um aumento de 36 por cento de pessoas idosas apoiadas e acompanhadas.
93550
“Fomos além da nossa intervenção” Os utentes beneficiaram, no domicílio, de refeições, higiene pessoal, habitacional, compras, tratamento de roupas, apoio na toma de medicação, apoio psicológico. “No entanto, verificámos, com o passar dos meses, que os nossos utentes apresentavam sintomatologia depressiva”, conta Ana Maria Cristóvão. Surgiu, assim, o Projeto ACERSI Cuida + para promover o bem-estar das pessoas idosas, minorar o isolamento social e solidão, aproximar as famílias através das novas tecnologias. Consiste num tablet com software simples e de fácil uso com
botão SOS, jogos de estimulação cognitiva, entre outras funcionalidades. Este foi um dos aspetos positivos trazidos durante a pandemia. Obstáculos e contrariedades Mas há outros, como o espírito de entreajuda, “sem o qual não teria sido possível estar em funcionamento durante toda este período, inclusive nos períodos mais complicados. “Fomos além da nossa intervenção, capacidade e como já referimos, com o apoio de todos ultrapassámos os obstáculos e contrariedades que iam surgindo. É pelas pessoas e para as pessoas que existimos e a pandemia, apesar de todas as dificuldades, reforçou a importância da ACERSI na comunidade. O nosso trabalho também ficou mais visível e as pessoas sabem que podem contar com a instituição”, afirma diretora técnica da instituição. Fundada a 4 de julho de 1933, no Dia da Cidade e da Padroeira de Coimbra, a Associação das Cozinhas Económicas Rainha Santa Isabel, no Terreiro do Mendonça, dispõe do Refeitório Social (o único na cidade) e Centro de Dia Rainha Santa Isabel (com Serviço de Apoio Domiciliário e os projetos Acersi Cuida + e Oficina D´Os Avós).
| 49
É momento para refletir sobre as “inúmeras oportunidades de melhoria”
O
presidente da Confederação Nacional de Instituições de Solidariedade Social (CNIS) acredita que próximos anos afiguramse “de uma crise profunda, pelo que as instituições do setor social e solidário serão, ainda mais – como o são em períodos críticos –, chamadas a intervir e a responder às necessidades daqueles que mais precisam”. Por isso, Lino Maia diz ser urgente “repensar as políticas públicas de apoio social e de reforçar a capacidade de intervenção das instituições na resolução dos problemas sociais, enquanto agentes promotoras da efetivação dos direitos de proteção social dos cidadãos.” Padre Lino Maia presidente da Confederação Nacional De acordo com o di- de Instituições de Solidariedade Social (CNIS) rigente, o contexto de solidário e setor privado pandemia demonstrou a com as mesmas”. “Só o trabalho conjun- – pode ser verdadeiramennecessidade de rever, não só o modelo de compar- to entre as Entidades que te eficaz na construção ticipação financeira do constituem o triângulo de uma sociedade mais Estado às IPSS, “mas tam- – Estado (incluindo a ad- participativa, inclusiva, bém a forma como este ministração local), orga- equitativa e desenvolviintervém e se relaciona nizações do setor social e da”, refere o presidente da
CNIS, numa mensagem publicada no jornal da confederação. Lino Maia acredita que este é também o momento para refletir sobre as “inúmeras oportunidades de melhoria”, que permitam, numa perspetiva de (re)pensar o futuro, implementar novas formas de organização e trabalho. E reflexão permitirá também demonstrar o que há anos o setor tem demonstrado: “a intensa e inexcedível atuação das IPSS que as faz estar onde (quase) ninguém chega, garantindo que quem precisa tem o apoio. Ontem, hoje e sempre”, afirma o presidente da CNIS. A Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade congrega duas federações da área da deficiência, três uniões regionais, 17 uniões distritais e 3026 IPSS, constituindo-se como “a maior e mais representativa organização do setor social solidário”.
50 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
A RESPOSTA DAS IPSS
O espírito de entreajuda foi um dos aspetos positivos deste período
A
petos positivos deste período pandémico – ficou também evidente com a criação, em finais de 2020, de uma “equipa de resposta solidária” para apoiar as instituições do setor que enfrentassem maiores dificuldades face à pandemia da covid-19. O objetivo era colmatar “a insuficiente capacidade de resposta” das brigadas distritais de intervenção rápida, criada pelo Governo, em setembro, através do Instituto de Segurança Social. Nada disto passou despercebido a Marcelo Rebelo de Sousa que, no pico da pandemia elogiou o papel das misericórdias. “Em tempo de pandemia as misericórdias agigantaram-se, como outras instituições de solidariedade social. Agigantaram-se porque foram apanhadas de surpresa, como fomos todos, pela pandemia, e tiveram de ir respondendo dia a dia, inesperadamente, de modo imprevisto, a desafios alguns deles impensáveis, com o apoio dos autarcas”, considerou. António Sérgio Martins reconhece “a arte e o engenho” dos funcioná-
rios das Misericórdias e destaca o “grande investimento” realizado nas unidades para permitir o afastamento f ísico dos utentes e na aquisição de equipamentos de proteção individual “que fazem a diferença”, entre outras medidas. Aliás, o presidente do Secretariado Regional de Coimbra, lembra que as misericórdias do distrito já tinham “um problema de sustentabilidade” antes do início da pandemia, mas que foi agravado com os custos associados à covid-19 e para os quais “os montantes de apoio previstos foram claramente insuficientes”. Ainda assim, as instituições souberam resistir, muito graças aos “500 anos de história e à experiência acumulada a favor de todos aqueles que mais precisam”. Se ao longo dos últimos dois anos o mundo, foi assolado pelos efeitos de uma pandemia com graves consequências económicas e sociais, veio agora somar-se o conflito bélico que opõe a Rússia à Ucrânia. “Se no caso da pandemia sofremos diretamente
82000
pandemia trouxe receios e incerteza, mas trouxe, sobretudo, aprendizagens que ninguém irá esquecer. Uma delas é a de que a união quase sempre vence as difculdades. Em 2020, quando o país foi obrigado a parar, as Misericórdias continuaram a sua missão. “Houve uma grande capacidade de entrega”, diz o presidente do Secretariado Regional de Coimbra da União das Misericórdias Portuguesas. António Sérgio Martins faz questão de deixar rasgados elogios a quem, durante os piores dias de pandemia, se manteve “firme” no seu local do trabalho, pensando “naqueles que mais precisavam”. “Houve pessoas a viver nas instituições, deixando a sua família, não obstante as dificuldades de pudessem também ter, para cuidar com daqueles que lhes estavam entregues. Mesmo sabendo os riscos que corriam ao fazê-lo no estado de pandemia que se vivia”, concretizou Esse espírito de entreajuda – que foi um dos as-
93432
A União de Freguesias de São Martinho e Ribeira de Frades felicita o Diário As Beiras pelo seu 28.º Aniversário
com a perda de vidas humanas, a retração da economia, e o ressurgimento de problemas sociais junto das nossas comunidades; já no caso da situação de Guerra atual, a expetativa do aumento do número de refugiados e o agravamento da situação económica, impedindo o eventual regresso do crescimento, estão na ordem do dia”, adverte. “É por isso que, apesar das enormes dificuldades que o setor social atravessa e em que luta diariamente pela viabilidade das suas instituições, continuará a pugnar pela defesa da dignidade dos que mais necessitam”, garante. Nos 17 municípios do distrito de Coimbra, existem 22 misericórdias e mais de 25 lares de idosos na dependência da União das Misericórdias Portuguesas.. Ao todo, são cerca de 2.000 trabalhadores e mais de 7.000 utentes de diferentes idades, metade dos quais idosos institucionalizados, nas diferentes valências dessas organizações de solidariedade social.
especial |
08-04-2022 | diário as beiras
| 51
na primeira pessoa
86393
“Foram verdadeiros heróis e heroínas nesta luta titânica”
A
pesar de ter implementado cuidadas medidas de prevenção e mantido todos os seus utentes negativos durante os últimos dois anos da pandemia, a Associação de Desenvolvimento, Progresso e Vida da Tocha enfrentou o seu maior desafio ao ser atingida por um surto de covid-19. O que teve o seu início no dia 15 de janeiro e foi dado por clinicamente ultrapassado no dia 17 de fevereiro de 2021. “Esta temível situação [que teve o seu início no dia 15 de janeiro e foi dado por clinicamente ultrapassado no dia 17 de fevereiro de 2021] levou a que 50 dos nossos utentes e 18 das nossas funcionárias tenham sido infetados, havendo ainda a lamentar 14 óbitos nos nossos utentes”, conta José Maria Maia Gomes, presidente da direção da ADPVT. Naquele período de “verdadeira calamidade”, tiveram um papel fulcral no combate as funcionárias e prestadores de serviços da instituição que, coordenados pela equipa de saúde e pelas chefias e sob supervisão atenta e permanente
da direção, “enfrentaram corajosa e abnegadamente esta temível pandemia, pondo diariamente em risco a sua própria saúde e trabalhando até à exaustão f ísica e psicológica, com total, generosa e solidária entrega pessoal”. “Foram verdadeiros heróis e heroínas nesta luta titânica contra este injusto e traiçoeiro vírus que, invisivelmente e à escala global, parece querer por à prova a sobrevivência humana!”. No Associação de Desenvolvimento, Progresso e Vida da Tocha, durante este período de pandemia, os pedidos de ajuda na distribuição de alimentos através do Programa de Apoio a Pessoas Mais Carenciadas (POAPMC) aumentaram 27%, havendo mais 12 famílias a serem beneficiadas com esta medida. “Foi também significativo o aumento de inscrições de candidatos às nossas respostas sociais de Lar e Apoio Domiciliário”, refere a diretora. Se há algum aspeto positivo a retirar deste período, José Maria Maia Gomes salienta o espírito solidário e o sentido humanitário
que sentiram. “Tiveram um papel de enorme importância que muito nos sensibilizou e que registamos com profunda gratidão, diversas entidades que, demonstrando um enorme espírito solidário e sentido humanitário, nos apoiaram de diferentes modos, dando um enorme contributo para ultrapassarmos esta situação de extrema exigência”, refere. Por isso mesmo, em fevereiro de 2021, a direção aprovou um voto de reconhecimento ao conselho diretivo dos Compartes dos Baldios da Freguesia da Tocha, à Junta de Freguesia da Tocha, à Câmara Municipal de Cantanhede, à Autoridade de Saúde do Concelho de Cantanhede, ao Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro-Rovisco Pais, à Proteção Civil do Município de Cantanhede e ao Centro Distrital de Coimbra da Segurança Social. “Foi voto aprovado com a mais elevada gratidão e sentido de justiça pelas inestimáveis ajudas que nos concederam para ultrapassarmos com sucesso este temível surto pandémico”, garantiu Maia Gomes.
93710
52 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
93972
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
| 53
54 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
TURISMO
Pandemia testa resiliência do setor do turismo
43053
Quando o combate a um perigoso e impiedoso inimigo estava a registar avanços significativos, que apontavam para a vitória da comunidade, eis que explode a guerra na Ucrânia, numa altura em que o setor do turismo, um dos mais castigados pela pandemia, começava a respirar alívio e a dar sinais de plena retoma. O DIÁRIO AS BEIRAS “viajou” por alguns municípios da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra para colocar no mapa dos efeitos de uma crise pandémica que fez tremer o setor do turismo, relatando alguns exemplos de resiliência. As histórias que se contam nesta reportagem são relatadas na primeira pessoa e concentram capacidade de resistência, desânimo, incerteza e esperança. Esta montanha russa de emoções, de resto, reflete a realidade destes tempos atípicos. Os relatos são testemunhos dos dois anos que mudaram o mundo
Turismo de praia na região tem registado uma procura elevada e a Figueira da Foz, com os seus cerca de 20 qu
O
turismo é um dos setores económicos mais castigados pelos efeitos da pandemia. Os dois confinamentos, com forte impacto negativo, levaram ao encerramento temporário de muitos estabelecimentos. Por sua vez, as restrições impostas pelas medidas de segurança sanitária, que implicaram redução da lotação nos estabelecimentos e despesas acrescidas, testaram a resiliência das unidades hoteleiras e da restauração e similares. Mas alguns não conseguiram sobreviver ao embate. “A maioria das unidades
hoteleiras, assim como todo o alojamento turístico em geral, fechou portas durante a pandemia, sobretudo durante os confinamentos, por não terem clientes. Entretanto, assim que a situação pandémica melhorou, foram reabrindo, mas com quebras significativas nas reservas (alguns alojamentos trabalharam com ocupações de cinco a 10 por cento)”, anota Jorge Loureiro, vicepresidente da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) e da Turismo Centro de Portugal (TCP). Neste momento, acres-
centa aquele responsável, após o último levantamento das medidas de combate à pandemia, é que “as reservas para o alojamento turístico, sobretudo a partir de abril, têm aumentado de forma significativa”. Dois confinamentos diferentes Em relação aos restaurantes e similares, indica Jorge Loureiro, “durante o primeiro confinamento, muitos optaram por encerrar e só reabrir quando o confinamento terminou”. E, acrescenta, “foram poucos os estabelecimentos que trabalharam ao postigo e/
08-04-2022 | diário as beiras
especial | DB-Jot’Alves
Fazer face à conjuntura sem clientes nem apoios
O
uilómetros de zonas de banhos, continua a ser a rainha
93434
ou em regime de entrega ao domicílio - apenas padarias e pastelarias e escassos estabelecimentos de restauração”. No segundo confinamento, porém, ressalva, “a maioria dos estabelecimentos já trabalhou em regime de take-away e/ ou delivery”. O vice-presidente da AHRESP e da TCP frisa ainda que, “durante a pandemia, a generalidade dos estabelecimentos de alojamento turístico e de restauração e similares que encerraram nos confinamentos devido às medidas restritivas voltaram a reabrir”. Mas, ressalva, “in-
felizmente, houve alguns estabelecimentos que não reabriram, cessando mesmo a sua atividade”. O turismo de praia no território da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra registou, nos verões de 2020 e 2021, uma elevada procura. Os confinamentos, as medidas sanitárias e outras medidas restritivas gerou fadiga pandémica e as atividades ao ar livre foram as mais procuradas. A Figueira da Foz, como principal destino da região e uma dos mais procurados do país, foi a rainha das praias.
estabelecimento de alojamento local Casa de Santo Antão, na Pampilhosa da Serra, encerrou no início de março de 2020 e reabriu em junho do mesmo ano. “Não havia procura absolutamente nenhuma e tivemos de preparar a casa para as normas sanitárias exigidas. Até em termos decorativos tivemos de alterar, pois alguns tecidos não se podiam lavar a 90 graus, o que implicou um investimento muito grande”, conta, a esta reportagem, a gerente, Leonor Coelho. Mas como um mal nunca vem só, “quando ia submeter as candidaturas para apoios do Estado, as candidaturas foram canceladas, por falta de fundos”. Ou seja, todo o investimento foi feito a expensas da empresa familiar, além de ter suportado os prejuízos de estar fechado. A unidade de turismo rural abriu em 2017, no ano dos grandes e fatídicos incêndios. Leonor Coelho não se limitou a declarar guerra
Leonor Coelho
vagarinho. Há perspetivas de melhorar um pouco”, afirma Leonor Coelho. Da pandemia, a empresária daquele município do interior aprendeu várias coisas, e interiorizou uma, em particular: nestes tempos de incerteza, “as reservas [na hotelaria] só surtem efeito prático quando o cliente chega ao estabelecimento”.
aos efeitos económicos do novo coronavírus no seu estabelecimento, para manter a empresa e os postos de trabalho que ela suporta, como se sentiu com forças para diversificar a sua atividade empresarial. Foram as circunstâncias que aguçaram o engenho. Foi naquele adverso contexto que decidiu abriu uma loja com produtos artesanais regionais, para fazer face à crise. “Numa altura em que tinha muitas dificuldades e muito dinheiro a sair do bolso”. Arriscou e ganhou. Entretanto, “neste momento, aparentemente, o setor está a querer retomar, de-
Teimoso não resistiu ao embate Aquela é uma história de resiliência e superação, que não rima com outras que não tiveram um final feliz. Não foram poucos os estabelecimentos do alojamento e da restauração e similares que não conseguiram sobreviver ao violento choque provocado pela pandemia. Foi o caso do centenário restaurante Teimoso, no Cabo Mondego, em Buarcos, uma das referências históricas do setor da restauração. Com o seu encerramento, a gastronomia e o turismo da Figueira da Foz ficaram mais pobres.
| 55
testemunho
Duro e exaustivo mas positivo
Duro, exaustivo, mas que me permitiu apreciar várias coisas de outra forma, dando valor a alguns privilégios que antes tomava por garantido, como o simples facto de poder sair à rua e poder estar com quem gosto. Paulo Manteigas 18 anos
56 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
TURISMO
Quarto com vistas para o vazio
O
a Figueira da Foz, Sandra Reis gere dois hotéis, o Costa de Prata e o Costa de Prata Dois. “Encerrámos o Costa de Prata no primeiro confinamento, entre março e junho, porque nos apercebemos que estava tudo a anular as reservas. Na altura, não sabíamos nada sobre o vírus”, relata a empresária. “No segundo con finamento, entendemos que não dev íamos fechar, porque já sabíamos como lidar com a pandemia e as empresas continuavam a alojar os seus colaboradores”, acrescenta. Mas a taxa de ocupação foi baixa e os prejuízos foram al-
s confinamentos provocaram uma mudança de hábitos nos portugueses. O teletrabalho, por um lado, e as restrições na restauração, por outro, fizerem com que muitos passassem a comer em casa ou levar as refeições para o trabalho. A restauração ainda está a pagar a fatura desta mudança. A Petisqueira Portuguesa, na Baixa de Coimbra, é um dos estabelecimentos de restauração que encerrou nos dois confinamentos, por motivos diferentes. No primeiro, foi a pandemia que levou a fechar as portas; no segundo, as antigas instalações foram atin-
gidas por um incêndio, que obrigou a fechar e a mudar de instalações, estas com esplanada e serviço take-away. “Já estava mau e ficou péssimo”, afirma a gerente, Catarina Neves. “Neste momento, está calmo e incerto, porque há muita concorrência e as pessoas habituaramse a comer em casa ou a levar a lancheira para o trabalho”, acrescenta. “Por sua vez, a guerra na Ucrânia veio piorar a situação, com a subida do preço dos produtos, mas não podemos alterar o preço das diárias, para não perdermos clientela”, lamenta ainda a empresária.
Em Vila Nova de Poiares, o Restaurante A Grelha é uma referência. “Encerrámos durante o primeiro confinamento, mas, mais tarde, verificámos que as coisas vieram para ficar e começámos a fazer take-away”, conta a gerente, Carla Marçal. A empresária considera que as restrições aplicadas à restauração eram “injustas, porque a transmissão do vírus não acontecia só nos restaurantes”. Caíram as limitações, mas, entretanto, emergiu outro problema: “Agora, que estava a começar a recompor-se tudo, a guerra na Ucrânia fez disparar o preço dos produtos”.
N
tos. Em 2020, o Costa de Prata Dois permaneceu encerrado. Abriu no ano seguinte, de julho a outubro. “O verão de 2021 até foi superior ao que estávamos à espera e as previsões para 2022 eram boas”, afiança Sandra Reis. Eram, porque a guerra na Ucrânia levou ao cancelamento de reservas de grupos estrangeiros. Curiosamente, revela a empresária, quem mais está a cancelar são os espanhóis, enquanto romenos e polacos, vizinhos dos ucranianos, mantêm as reservas. Abrir um negócio em contexto de crise Jorge Santos é um em-
presário destemido, ou chegou a um ponto sem retorno no meio da tempestade perfeita? “Comecei antes da pandemia”, ressalva. Depois, o processo alongou-se no tempo, devido ao aumento de casos de covid-19 e à falta de mão de obra qualificada. “ Fo r a m m u i t a s c o i sas ao mesmo tempo”, afirma, a propósito do investimento que fez na Churrasqueira Prestige, em Coimbra, que se preparava para abrir, na última semana de março deste ano, aquando desta reportagem. A poucos dias de inaugurar o estabelecimento, continuava a queixar-se da falta de mão de obra.
93139
Fechados com a janela da esperança aberta
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
| 57
na primeira pessoa
Anos muito difíceis
A
93146
Figueira da Foz não foi exceção e o setor da restauração foi bastante afetado, em 2020 e 2021. Em 2022, porém, as coisas estão um bocado diferentes, para melhor, apesar de ainda haver um número elevado de pessoas internadas com covid-19. Não podemos esquecer que em 2020 e 2021 foram anos muito dif íceis para setor, que passou por encerramentos durante três meses e meio em cada ano e, quando se reabriu, foi reduzida a lotação dos estabelecimentos. Alguns de nós começámos a trabalhar com take-away, uma modalidade de recurso que funcionou bem e que, ao que tudo indica, veio para ficar. É verdade que tivemos alguns apoios do Estado, mas foi extremamente duro aguentar uma equipa de pessoal durante esse tempo todo. Lamentavelmente, alguns
Tempos de incerteza DB-Jot’Alves
Mário Esteves, delegado da AHRESP e presidente da Associação Figueira com Sabor a Mar
estabelecimentos não conseguiram e tiveram de dispensar os trabalhadores. Entretanto, a falta de mão de obra, que já se notava antes da pandemia, acentuou-se, porque os profissionais dispensados encontraram outras
alternativas de emprego. Com todas estas dificuldades, no entanto, o setor não cruzou os braços e encontrou formas alternativas para continuar. Entretanto, a guerra veio trazer mais incerteza, com a subida dos preços.
O
s dois anos de pandemia tiveram consequências dramáticas para o setor do turismo em todo o país. A Região de Coimbra não é exceção. Apesar de todos os esforços e da resiliência demonstrada pelos empresários, foram muitas as empresas que não conseguiram resistir às quebras brutais nas receitas. Ainda assim, observamse alguns sinais positivos da parte da procura. Por exemplo, entre 2020 e 2021, o total de dormidas no território da CIM Região de Coimbra recuperou 31 por cento, de 715 mil em 2020, para 940 mil em 2021. As perspetivas para 2022 poderiam assim ser positivas, embora ainda estivéssemos longe de se poder falar em normalidade. Mas estamos a assistir a uma situação nova para a nossa geração, que é o regresso de um cenário de guerra na Europa. E esta situação deixa antever inéditas e
DR
Jorge Loureiro, vice-presidente da AHRESP e da Comissão Executiva da TCP
enormes dificuldades. Numa altura em que as empresas começavam a levantar a cabeça e a olhar com otimismo para o futuro, a escalada do custo dos combustíveis, da energia e de outras matérias-primas
essenciais para a atividade turística, provocada pela guerra, levanta uma nova sombra negra para um setor já deprimido. Resta-nos esperar que o bom-senso acabe por prevalecer.
58 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
Paulo Abrantes
resiliEncia na cultura
Reinventar formas de levar a cultura ao público Hiroshima estreou no espaço exterior do Museu Nacional Machado de Castro
N
o setor da Cultura o “lockdown” imposto pela pandemia de covid-19 começou na segunda semana de março de 2020 e depressa se estendeu a todas as áreas. Até ao final do ano, entre estados de emergência e anúncios de desconfinamento, somaram-se perdas em todas as áreas, desde as bilheteiras de cinema e dos museus às artes de palco, dos editores e li-
vreiros aos promotores de festivais. Perdas em muitos casos superiores a 70% em relação a 2019, indicou o Instituto Nacional de Estatística. Cerca de três meses depois, as salas de espetáculos foram autorizadas a reabrir, a 1 de junho, com lugares marcados e distanciamento social, mas ficou proibida a realização de “festivais e espetáculos de natureza análoga”.
A meados de janeiro de 2021 um novo confinamento ameaça a recuperação que já crescia. Dois meses depois, as atividades culturais começaram a ser retomadas, faseadamente, a partir de 15 de março, dia em que reabriram livrarias, lojas de discos, bibliotecas e arquivos. E no início de abril reabriram os museus, monumentos, palácios, galerias de arte e similares. 93208
A área cultural foi das mais afetadas com os confinamentos provocados pela pandemia de covid-19, com o encerramento de salas de espetáculos, livrarias, museus e a longa proibição de realização de grandes eventos. Com os espaços fechados, os agentes culturais, resilientes, procuraram outras formas de chegar aos seus públicos. O mágico Luís de Matos foi dos primeiros a inovar com o “Estúdio 33 drive-in”, em Ansião. No teatro, a Cooperativa Bonifrates e O Teatrão recorreram ao Facebook e a espetáculos ao ar livre, que também aconteceram no Convento S. Francisco, em Coimbra. O Museu Monográfico de Conimbriga apostou no trabalho interno, como outras instituições
www.sirmaf.pt 239 880 420 geral@sirmaf.pt
especial |
08-04-2022 | diário as beiras
A 19 de abril foi a vez dos teatros, auditórios, salas de espetáculos e cinema, sendo também retomados os “eventos no exterior, sujeitos à aprovação da DireçãoG e r a l d a S a ú d e ”. E m maio voltaram os grandes eventos exteriores e interiores, ainda que com lotação reduzida. Regresso dificultado Salas com lotação reduzida a quase um terço,
sessões anuladas, alterações de horários, marcaram a atividade das companhias de teatro, que se viram também confrontadas com o aumento de gastos na higienização das salas. Ainda assim, a maior parte das companhias de teatro adaptou-se rapidamente às exigências sanitárias e às novas regras de funcionamento no contacto com o público. O mesmo aconteceu no
“Estúdio33 Drive In” foi a forma de o mágico Luís de Matos produzir espetáculos na pandemia
cinema e audiovisual. As medidas para conter a pandemia afetaram a produção e rodagem de alguns projetos, que depois foram retomados com apertadas medidas de higiene. No entanto, a paralisação mais imediata, com impacto no consumo, aconteceu no setor da exibição, onde, de resto, a retração do público se manteve mesmo após a reabertura das salas.
Luís de Matos com “Estúdio 33 Drive In” em Ansião Logo o primeiro confinamento determinado pela pandemia, e as apertadas regras de funcionamento, após a reabertura, levaram os agentes culturais a procurar formas alternativas de manter o contacto com os seus públicos. O mágico de Coimbra, Luís de Matos, insistiu em retomar a atividade e, de forma inovadora,
anunciou a criação de um espectáculo ao vivo mas em formato “drivein”, ao qual se juntaram vários artistas. Denominado “Estúdio 33 Drive In”, resultou de uma adaptação do seu estúdio, em Ansião, aos tempos de pandemia. A ideia teve tal sucesso que o que era inicialmente um espetáculo de magia acabou por se transformar num evento com várias datas, em junho
e julho de 2020, e com a atuação de diversos músicos, comediantes e djs nacionais. Pedro Abrunhosa, Nilton, Pete Tha Zouk, Noble, Mário Mata e José Cid foram alguns artistas que se juntaram. Foram espetáculos inovador, visíveis do interior do veículo em que as pessoas se deslocaram e ouvido através do rádio do carro, mediante uma frequência indicada pela organização. 93211
“Pitou. 100 anos Amália” subiu ao palco no Convento São Francisco
| 59
60 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
RESILIÊNCIA NA CULTURA
Museu de Conimbriga recebeu 48 mil visitantes em ano de pandemia
A
tares de cidade antiga expectável, as tarefas de manutenção são regulares e a pandemia possibilitou a gestão de muitas ações ‘silenciosas’ que não são geralmente notadas pelo
O regresso ao funcionamento pleno “foi gradual e implicou a dedicação e coragem necessária de toda a equipa” visitante”. Para além disso, “durante os períodos em que o museu esteve fechado foi possível aproveitar para trabalhar no novo catálogo, nas vitrines e na muralha do Baixo Império”, acrescenta o responsável.
Regresso ao funcionamento pleno O regresso ao funcionamento pleno “foi gradual e implicou a dedicação e coragem necessária de toda a equipa, para alcançar o exemplo mais adequado de boas práticas”, reconhece Vítor Dias. De resto, o Museu Monográfico de Conimbriga – Museu Nacional registou em 2021 mais de 48.000 visitantes, num ano em que estive encerrado durante quatro meses, por razões inerentes à pandemia de covid-19, e os múltiplos receios condicionaram fortemente a mobilidade de portugueses e estrangeiros. Aceleração da transição digital No meio das dificuldades, surgem experiências muito positivas. “Destacaria como maior consequência social e cultural despoletada pela pandemia a vertiginosa aceleração da transformação digital aplicada a diversas áreas”, realça Vítor Dias. No caso do Museu Monográfico de Conimbriga, “as dificuldades, quando
superadas, demonstraram igualmente a necessidade de um planeamento ainda mais atempado e cirúrgico, bem como, uma combinação de saberes analógicos e digitais que a fusão etária da equipa promoveu”. Neste aparente regresso à normalidade, “as expetativas para o presente aconselham como prudentes metas realistas e sustentadas, que consolidem a confiança que o público escolar e o público em geral aparentam demonstrar nos primeiros meses de 2022”. “O futuro impõe como principal ambição o uso adequado da singular oportunidade histórica permitida pelo Plano de Recuperação e Resiliência”, aconselha o diretor. “Deveremos ser capazes de preparar a reserva/campo arqueológico e o museu para os vibrantes desafios do século XXI e com o “saber-saber” e “saberfazer” da presente equipa, preparar a transição para uma nova geração de investigadores e profissionais do património e da cultura”, conclui.
Freguesia Torres do Mondego Telef.: 239 718 742 email: geral@torresmondego.eu 94390
93463
pandemia obrigou todos os funcionários e visitantes do Museu Monográfico de Conimbriga – Museu Nacional – tal como aconteceu noutros núcleos museológicos – a adaptarem-se “às renovadas exigências sanitárias e a novos hábitos de funcionamento”. Vítor Dias, diretor do Museu Monográfico de Conimbriga, realça ainda que esta “questão de saúde pública acrescentou não só novos procedimentos, que condicionaram o ritmo de algumas tarefas, como também adicionou outra variável imprevisível à gestão dos museus: o medo”. O trabalho do Museu Monográfico de Conimbriga não se esgota no atendimento dos diversos públicos, frisa o seu diretor. “A historiografia de Conimbriga está desde os primórdios associada a trabalhos de investigação, estando umbilicalmente ligada ao campo e reserva arqueológica, que está na origem do museu, inaugurado em 1962”, acrescenta Vítor Dias. “Com cerca de 22 hec-
FIM PORTAS ABERTAS FIMDE DESEMANA SEMANA PORTAS ABERTAS
9 e 10 abril
Visite o novo espaço em Coimbra e experimente todas as novidades SEAT e CUPRA. Visite o novo espaço em Coimbra e expe
FIM DE SEMANA PORTAS ABERTAS 9 10SEMANA abril todas as novidades SEAT e CUPRA. LEIRIBÉRIA FIMe DE PORTAS ABERTAS
9 e 10 abril LEIRIBÉRIA
Rua do Gineto- Ribeira de Eiras, s/n 3020-429 Coimbra
Visite o novo espaço em Coimbra e experimente LEIRIBÉRIA todas as novidades SEAT e CUPRA.
9 e 10 abril
Visite novo espaço em Coimbra e experimente Rua do Gineto- Ribeira de Eiras, s/n o 3020-429 Coimbra todas as novidades SEAT e CUPRA.
Rua do Gineto- Ribeira de Eiras, s/n 3020-429 Coimbra
LEIRIBÉRIA
Rua do Gineto- Ribeira de Eiras, s/n 3020-429 Coimbra
especial |
08-04-2022 | diário as beiras
Convento São Francisco reagendou quase todos os espetáculos
A
pandemia de covid-19 encerrou também, ainda que por pouco tempo, o maior espaço cultural de Coimbra, o Convento São Francisco. “A pandemia foi um momento de união, de conjugação de esforços, que tenho que louvar”, salienta Francisco Paz, diretor do Departamento de Cultura e Turismo da Câmara de Coimbra, que assumiu, no mês passado, também a programação do Convento São Francisco. Francisco Paz recorda “o esforço feito para preparar a reabertura do Convento, cumprindo todas as regras sanitárias definidas pela Direção-Geral da Saúde, que foram permitindo manter os espaços abertos e a funcionar”.
aniversário do convento. O mesmo aconteceu na última passagem de ano, com o Convento São Francisco a acolher os três espetáculos musicais – a banda Quinta do Bill e os dj’s conimbricenses Pedro Carrilho e Rui Tomé –, que foram transmitidos online, no “Fim de Ano em Coimbra 2021 – Evento Livestreaming”. Recalendarizar os espetáculos Para minimizar o impacto negativo, na área da cultura, da redução da atividade, o Convento são Francisco pagou sempre 50% do cachet dos espetáculos cancelados. “Para além disso, tivemos a preocupação de não deixar cair nenhum dos espetáculos, procurando recalendarizá-los todos, sempre que possível. Só não foi possível fazê-lo, por exemplo, quando os artistas já não tinham agenda para isso” ou estavam fora do país .
“Uma das situações mais difíceis foi o Semestre Europeu”, um conjunto de dezenas de espetáculos programados na sequência da Presidência Portuguesa da Comunidade Europeia, cuja apresentação foi quase adiada na íntegra, devido ao segundo confinamento, em janeiro de 2021. Mal foi possível, o Convento São Francisco “retomou a programação do semestre dedicado à União Europeia, reagendando os espetáculos, que foram apresentados”, salienta Francisco Paz. Atualmente, a retoma é total e a programação do Convento S. Francisco para os próximos meses está praticamente concluída. “Uma das apostas será melhorar os canais de comunicação para o exterior, para que todas as pessoas saibam, atempadamente, quais são os espetáculos que poderão ver no Convento São Francisco”, adianta Francisco Paz.
testemunho
Tecnologias foram importantes
As tecnologias tiveram um papel importante na sociedade pois foram essenciais no dia a dia de um estudante para continuarmos a obter bons conhecimentos escolares. Tomás Carvalho 15 anos
93459
79103
Trabalho continuou com portas fechadas “Mesmo quando estivemos encerrados ao público continuámos
a trabalhar”, frisa Francisco Paz, destacando que esse período foi aproveitado para se efetuar a manutenção dos espaços e dos grandes equipamentos, que se vinha revelando necessária. “Esse tempo foi também aproveitado para a realização de reuniões de trabalho, para agilizar o regresso ao funcionamento e a adaptação às apertadas regras sanitárias – por exemplo com a criação de elementos e sistemas de desinfeção – , de modo que “o Convento São Francisco foi um dos primeiros espaços culturais a reabrir”, recorda Francisco Paz. De resto, mesmo quando os espetáculos estiveram proibidos, no Convento São Francisco continuaram a funcionar os espaços da Livraria e do Café Concerto. Nos primeiros meses de 2021, a Câmara de Coimbra decidiu transmitir online vários espetáculos, assinalando o quinto
| 61
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
RESILIÊNCIA NA CULTURA
Sem pa O
Teatrão, que está instalado e faz a gestão da Oficina Municipal do Teatro desde 2008, sempre procurou, mesmo durante a pandemia estreitar os laços com a comunidade através da sua produção teatral e artística. No início da pandemia, contudo, tudo parou. “Numa primeira fase ficámos sem reação”, lembra Isabel Craveiro, diretora artística do Teatrão. No entanto, apesar das dificuldades, ao longo dos dois anos o Teatrão conseguiu repensar e adaptar a sua atividade. “Os projetos de proximidade foram adaptados, as colaborações mantiveram-se, houve concertos e espetáculos”, destaca Isabel Craveiro. Agora, os próximos meses estão a ser preparados. Mas, se a pandemia acelerou o contacto e a adesão a soluções digitais, o que foi positivo, uma coisa é certa: “Nós não conseguimos pensar a nossa 93469
62 | especial
especial |
08-04-2022 | diário as beiras
| 63
alco e sem público… não é teatro
93490
atividade sem o público. Não faz sentido”, acentua a diretora da companhia. Da programação que o Teatrão pretendia apresentar em 2020 e 2021 “houve alguns espetáculos que não foi possível recuperar, porque os artistas tinham saído de Portugal”, e a produção “ficou pelo menos um ano atrasada”. Por exemplo, “Rumo aos Céus”, uma produção dos alunos de Teatro e Educação da Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), em colaboração com o Teatrão, foi adiada mas depois reposta. Isabel Craveiro recorda o espetáculo “De Portas Abertas”, realizado em setembro de 2020. “As necessárias condições de segurança, impostas pela Direção-Geral da Saúde, levaram à restruturação do evento, tivemos que mudar muita coisa”, e o espetáculo acabou por acontecer ao ar livre, no Campo da Arregaça. “Ainda assim foi muitíssimo
interessante. Foi amplamente participado, os streamings tiveram muita gente a ver”, conta a diretora artística. Durante a pandemia ou no regresso à proximidade com o público, que foi “muito caloroso”, nos espetáculos ou nos projetos educativos, o Teatrão procurou sempre adaptarse às regras de cada momento e, auscultando as preocupações e anseios do público, elaborou um plano para todas as apresentações, refere a diretora da companhia. Com o fim do primeiro confinamento, “voltaram as pessoas, mas com medição de temperatura, uso de álcool gel e uma troca de contactos para prevenção de possíveis surtos. Foi complicado, mas necessário”, concorda Isabel Craveiro. Agora, o Teatrão está em plena produção e a OMT é uma casa cheia, a receber a atuação de várias companhias. Em paralelo prosseguem os ensaios
de Viajantes do Tempo, a próxima produção do Teatrão. Recentemente foi apresentada a peça “O Que É Invisível” do projeto A Meu Ver, realizada em colaboração com a ACAPO Coimbra. E no mês passado realizou-se o Fórum Teatrão, no qual a companhia quis ouvir a cidade e reuniu “muitos e bons” do público para o caminho futuro. Bonifrates insistiu na ligação ao público Em tempo de pandemia e isolamento social, a Cooperativa Bonifrates reinventou a ligação com o público através de eventos criados para esse efeito e lançando mão das redes sociais. “Procurámos reinventar a ligação com o público, não fazer teatro à distância, que isso não acredito que possa existir; será outra coisa, não é teatro” afirma João Maria André, encenador e presidente da direção da Cooperativa Bonifrates.
Em 2020, a um mês da estreia de uma nova peça, já com o cenário montado, a pandemia obrigou a Cooperativa Bonifrates, como tantas outras, a fechar portas. “Ao longo de vários meses não pôde haver espetáculos e depois, quando os teatros reabriram, já não foi possível estrear a peça, porque dois dos atores, entretanto, tinham deixado Portugal”, explica o encenador. Assim, a peça “Querô - Uma reportagem maldita”, do brasileiro Plínio Marcos, teve apenas uma antestreia, circunscrita aos membros da cooperativa. Com o isolamento social obrigatório, a Bonifrates lançou mão do Facebook para chegar ao público, iniciando uma produção para as redes sociais. Porque “Há palavras que nos tocam, os atores, veteranos e juniores, iam gravando diariamente a declamação de um poema num pequeno filme, que depois publicavam
no Facebook. Numa segunda fase a Bonifrates realizou recitais ao ar livre, recorda João Maria André. Foram revisitadas as casas dos poetas, na Alta e na Baixa de Coimbra, com atores a recitarem alguns dos seus poemas nas ruas, realça João Maria André. Depois surgiu “Suspiros noturnos”, um recital performativo a envolver poesia e teatro e a criação de ambientes sonoros ao vivo no espaço exterior do Convento São Francisco. Em “Suspiros noturnos” os atores recriaram encontros entre poetas e escritores, como Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro ou Florbela Espanca e Manuel da Fonseca, entre outros. Muito sucesso teve também “Memorial de Hiroshima”, outra produção apresentada ao ar livre, no espaço exterior do Museu Nacional Machado de Castro. Finalmente iniciou-se a preparação da última
produção da Bonifrates, “Quero dançar o poente”, atualmente em cena, que com as restrições impostas pela pandemia “exigiu um trabalho de palco e um processo de improvisação para construir o espetáculo que foi avassalador”, acentua João Maria André. “A criação desta peça começou por conversas com idosos, por ouvi-los, para fornecer material para os atores criarem as personagens, para se construir o espetáculo. A primeira parte, os trabalhos preparatórios, ainda puderam ser feitos à distância, através da plataforma zoom, por exemplo, mas depois o trabalho de palco e os ensaios foram presenciais”, acentua o encenador. Com mais esta experiência, João Maria André é perentório: “Os registos f ílmicos não substituem o teatro, isso não é teatro, que exige a presença dos espetadores e em que cada dia é diferente”.
64 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
a resistencia no COMÉRCIO
Das vendas ao postigo à retoma que se saúda
71371
O município de Coimbra é um dos cinco municípios da região onde o comércio se constitui como o setor com mais trabalhadores. Comércio em transformção sofre alterações e adaptação a novas formas de venda. Comércio local e baixa de Coimbra sofreram para recuperar crescimento obtido antes da pandemia. Bares e discotecas foram os primeiros a fechar e os últimos a abrir. Regras e limitações como entrave ao normal funcionamento
especial | 93919
08-04-2022 | diário as beiras
Q
uando foi declarado o estado de emergência em Portugal, em março de 2020, grande parte do comércio foi obrigado a encerrar. A exceção foi o setor da distribuição alimentar e outras lojas considerados de primeira necessidade. Desta forma, o setor do comércio viu-se obrigado a assumir uma postura diferente e mais resiliente tentando construir várias adaptações para que fosse possível prosseguir com a venda de artigos. As empresas que já se encontravam no digital, investiram mais nas suas lojas online. No entanto, os pequenos negócios retalhistas e baseados no comércio local tiveram que estruturar um novo plano de ações para conseguirem sobreviver. O comércio digital foi uma das estratégias para que muitos negócios pudessem subsistir. No setor na restauração, a fórmula do take-away foi adoptada por quase todos os restaurantes como forma de continuar em funcionamento. No caso do retalho, o comércio online aumentou o seu peso no total das compras em Portugal de 10% para 18% nos últimos dois anos, desde o início da pandemia de covid-19. O índice de volume de negócios no comércio a retalho passou de uma variação homóloga de 7,4%
Natal de 2021 na Baixa de Coimbra atingiu níveis de 2019
O
pequeno comércio da Baixa de Coimbra apresentou quebras de venda na ordem dos 90% e em alguns casos chegou mesmo a atingir os 100%. Apesar de tudo, a perserverança e a proatividade dos comerciantes permitiu começar a arranjar alternativas, com destaque para as vendas através das redes sociais ou a integração em plataformas como a Uber Eats ou a Glovo. Atualmente, a Baixa já recupera e o Natal de 2021 atingiu números muito idênticos ao Natal de 2019 Assunção Ataíde presidente da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra
em dezembro 2021 para 10,4% em janeiro 2022, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). O município de Coimbra é um dos cinco municípios da região onde o comércio se constitui como o setor com mais trabalhadores, segundo dados da Pordata. O centro histórico da cidade, como a baixa de Coimbra, onde o pequeno comércio está representado, apresentou quebras de venda na ordem dos 90% e em alguns casos chegou mesmo a atingir os 100%, segundo Assunção Ataíde, presidente da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC). Apesar de tudo, conta que os comerciantes “através da perserverança e da proatividade começaram a arranjar alternativas”, com destaque para as vendas através das redes sociais ou a integração em plataformas como a Uber Eats ou a Glovo. Atualmente, esta zona da cidade já esta em recuperação e, segundo a presidente, “o Natal de 2021 atingiu números muito idênticos ao Natal de 2019 “ quando a doença ainda não tinha chegado a Portugal. Alavancado no turismo e apostando na dinamização das zonas próximas ao comércio, está em claro crescimento e transformação.
| 65
66 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
A RESISTÊNCIA NO COMÉRCIO
“Ainda não conseguimos alcançar as vendas que tínhamos antes da pandemia”
A
93634
93635
Luís Filipe Carvalho, da Loja das Meias
s empresas familiares, com negócios mais pequenos, foram das que mais sofreram com o confinamento. Exemplo disso é o caso da Loja das Meias, situada na Rua Ferreira Borges, na Baixa da cidade, uma das principais zonas do comércio tradicional apoiada no turismo. Luís Filipe Carvalho, sócio gerente do negócio, conta que o estabelecimento esteve fechado cerca de cinco meses num período de dois anos. Na loja trabalha Luís e mais dois funcionários. Durante este período, a firma optou pelo recurso ao regime de lay-off – uma realidade para a grande parte das empresas do país, durante a pandemia. Este é um exemplo de uma loja que conta já com 61 anos de existência nas mãos da família de Luís Filipe Carvalho, embora a origem seja ainda mais antiga. Com a pandemia, a Loja das meias adaptou-se à realidade imposta pelas regras ditadas pelo governo e ”encerrou portas como todas as outras”. Através das redes sociais, iam dando vida à loja “co-
locando uma foto ou duas de alguns artigos, para que as pessoas soubessem que estamos cá”.
Os nossos clientes gostam de tocar nos artigos e de os ver. O nosso tipo de loja está mais orientado para o comércio tradicional” A crise pandémica acelerou o crescimento do comércio eletrónico, sobretudo no comércio a retalho. De uma forma geral, a pandemia marcou um ponto de viragem e pode-
mos mesmo dizer que o mundo nunca mais será o mesmo no que toca ao e-commerce. Um estudo de mercado revelado pela Mondial Relay, apresentado em janeiro de 2022, demonstrou que atualmente 71% dos portugueses fizeram compras online. Para o gerente da Loja das Meias, Luís Filipe Carvalho, a criação de uma loja online foi uma hipótese mas afirma que “os nossos clientes gostam de tocar nos artigos e de os ver. O nosso tipo de loja está mais orientado para o comércio tradicional”, afirmou. Em relação à diminuição do número de pessoas a entrar na loja, diz que “havia um mix de sensações. Tinham algum receio mas também tinha vontade de vir à loja”. No que diz respeito aos níveis de faturação, o negócio apresentou um decréscimo bastante acentuado nos meses em que teve fechado mas afirma que “atualmente, já começa a normalizar”, no entanto “ainda não foi possível alcançar os níveis de vendas que obtinha antes da pandemia”.
especial |
08-04-2022 | diário as beiras
| 67
“Fechar “O Moelas” foi uma possibilidade um nível pessoal “rebentei as contas todas”. Passou dificuldades e mesmo quando foi possível voltar a abrir, O Moelas continuou fechado. “Não temos uma janela para a rua, não temos um passeio. Pedi uma esplanada no Largo da Sé Velha e a camara municipal atribuiu-me uma esplanada na avenida Sá da Bandeira a 1500 metros de distância”, afirmou. Todos os estabelecimentos da cidade se adaptavam a uma nova realidade, com esplanadas improvisadas em passeios ou em praças mas não foi possível. Quem conhece o espaço sabe que além das mesas estarem pregadas ao chão e dificultar a organização das regras de distanciamento, a área do bar é muito reduzida. Pedro Pessoa explica que “temos de perceber o conceito do bar onde as pessoas circulam, bebem shots e conversam. O Moelas sempre foi caracterizado pelo aglomerado de pessoas a conviver e a pandemia obrigou ao distanciamento”. Ao longo destes 18 meses foram várias as mensagens que foram chegando tentando mostrar apoio e
dessa forma evitar o encerramento. Quando Pedro Pessoa decidiu abrir as portas, em Setembro do ano passado, uma das primaciais dificuldade consistiu em arranjar quem quisesse trabalhar neste setor e também em encontrar alguns artigos que normalmente vendia no bar. Apesar das várias restrições como a apresentação de certificado de vacinação ou o uso de máscara os estudantes aderiram em força e os primeiros dois meses “foi uma loucura”. Recorde-se que setembro é o início do ano letivo e no mês seguinte decorreu a Queima das Fitas. Com o surgimento de uma nova vaga, O Moelas voltou a fechar e “tive quebras de 95% da faturação”, contou. Atualmente, com o alívio das restrições, os mapas de faturação estão próximos ao mesmo período de 2019. Direcionado para os estudantes, O Moelas foi condecorado pelo Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra como “Tasca de Interesse Académico”, em fevereiro de 2020 e tornou assim o primeiro “Refugius Bachus de Coimbra”.
93633
93533
Pedro Pessoa, gerente do bar, e a mulher, Andrea
Primeiro encerrados e depois com a sua lotação reduzida a metade. Cafés, bares e discotecas tiveram ainda de lidar com uma menor afluência de clientes e horários de funcionamento mais curtos, sofrendo assim o fortíssimo embate da pandemia de Covid-19. Aproveitando as facilidades concedidas pelo município, em Coimbra, as esplanadas foram uma salvação para muitos estabelecimentos, já que é ao ar livre que os clientes dizem sentir-se mais seguros e confortáveis. No entanto, foram os espaços de diversão noturna os que mais sofreram com o aparecimento desta nova doença. Pedro Pessoa, gerente do bar “O Moelas”, inaugurado em 1974 na Alta da cidade, que conta com a distinção de Loja histórica atribuída pelo município de Coimbra, esteve 18 meses e meio fechado. “Estive seis ou sete meses sem entrar no bar. Estava completamente desmotivado e fechar portas foi uma possibilidade”, disse. Apesar de ter outros negócios que iam ajudando a colmatar as despesas do bar, afirma que teve de investir muito dinheiro, A
68 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
A RESISTÊNCIA NO COMÉRCIO
“Foram batidos t as pessoas estava
O
93571
O gerente de 43 anos garante que “os consumos estão semelhantes ao que era antes da pandemia”
s primeiros a fechar e os últimos a abrir. As discotecas e os bares dedicados à diversão noturna encerraram ao mesmo tempo que todos os outros mas o desconfinamento fez-se bem mais tarde e com regras mais apertadas. Ainda o governo não tinha decretado o encerramento dos espaços de diversão noturna, já, Roger Sousa, gerente da discoteca NB, tinha decidido encerrar o estabelecimento por tempo indeterminado. “Quando percebemos que algo de errado se passava e com o número de casos a aumentar decidimos fechar portas”, referiu. A mais antiga discoteca da cidade,que soma já 13 anos em atividade regular, que contava à data do encerramento com cerca de 30 funcionários esteve sem vida durante 18 meses. Durante esse período de encerramento, os apoios
vindos do estado eram curtos para fazer face às despesas fixas, como, por exemplo, as rendas, sem que entrasse um euro nas caixas da discoteca. Ao longo desse tempo foram muitas as pessoas que tiveram de alterar as suas vidas e mudar o rumo da carreira profissional. Pessoas que viviam e trabalhavam na cidade foram obrigadas a mudar de cidade em busca de emprego. O Dj residente decidiu abrir uma empresa em nome pessoal e começou a trabalhar como Uber para fazer face às despesas. Alguns seguranças que trabalhavam no espaço são hoje em dia camionistas de longo curso. Funcionários que efetuavam a limpeza também reformularam as carreiras profissionais. Da equipa de 30 funcionários, só duas ou três pessoas regressaram quando o NB voltou a entrar em funcionamento.
especial |
08-04-2022 | diário as beiras
todos os recordes porque am ansiosas para poder sair à noite”
93615
No dia 1 de outubro do ano passado, os bares e as discotecas voltaram à atividade quando o país transitou do estado de contingência para o estado de alerta. Com a saída de grande parte da equipa, Roger teve de reformular todo o staff. “Tivemos que montar uma nova estrutura, tivemos que nos adaptar as regras existentes, tivemos de criar uma fase de experimentação para saber se as pessoas queriam vir às discotecas. Houve muita experimentação”, afirmou. Uma das estratégias que a gerência da discoteca adotou no início foi a reformulação do tipo de programação. Roger admite que “tivemos receio de fazer grandes investimentos porque não sabíamos se podíamos fazer investimentos de três ou quatro mil euros e se iria haver retorno”.
No entanto, nos primeiros meses “foram batidos todos os recordes porque as pessoas estavam com uma ansiedade enorme para poder sair à noite”. Entre outubro e dezembro, para entrar nestes espaços, era preciso apresentar teste negativo antigénio ou PCR ou certificado de recuperação da covid-19, mesmo no caso de pessoas vacinadas. Várias discotecas decidiram por iniciativa própria criar protocolos com laboratórios locais com o intuito de disponibilizar a realização de testes à porta das discotecas. O NB disponibilizava, por noite, cerca de 300 testes, de forma gratuita, pagos pela própria discoteca. Roger, gerente desde a sua inauguração, diz que “antes do município perceber que estava em falta com a própria cidade e montar um tenda para a realização de testes à
“Quando percebemos que algo de errado se passava e com o número de casos a aumentar decidimos fechar portas” covid-19, já o NB estava a fazer isso há três semanas”. Acrescentou que “é completamente diferente as
pessoas irem a um espaço e o único requisito é terem 16 anos ou teres de apresentar um certificado de vacinação válido e teste negativo.” Muitas vezes assistiu-se a algumas complicações nas entradas devido ao facto de lhe ser exigido uma série de regras. Em Coimbra, o NB foi notícia em vários orgãos de comunicação social que associaram o espaço a um surto de covid-19 em dezembro do ano passado. Roger afirma que as notícias eram falaciosas porque “ as paredes do NB não têm o vírus. Ele teve de vir de fora para dentro”, referindo que “as pessoas infetadas vinham todas da mesma escola secundária e que, inclusive, houve pais desses mesmos jovens que admitiram que os filhos falsificaram os testes para poder entrar na discoteca”. Este surto surge numa altura em que o governo decretou novo encerramento
das discotecas como forma de contenção da propagação do vírus durante a época festiva do natal e da passagem do ano. Atualmente, a noite de Coimbra já estabilizou e está semelhante ao que era na pré-pandemia. Já não é necessário a apresentação de certificado de vacinação nem teste negativo para entrar nestes estabelecimentos. O gerente de 43 anos garante que “os consumos estão semelhantes ao que era antes da pandemia”. Não era possível prever o aparecimento da pandemia, nem muitos empresários montaram os negócios a pensar que estariam mais de um ano e meio sem atividade. Roger não acredita num retrocesso. “Mas a nós apenas nos compete cumprir as normas do governo, no entanto não estou a trabalhar a pensar que vou fechar”, rematou.
| 69
testemunho
A escola tornou-se complicada
Não podia estar com os meus amigos pessoalmente, aumentou o número de trabalhos da escola e o ensino online afetava a aprendizagem. A matéria era mais difícil de compreender desta forma. André Simões 14 anos
70 | especial
diário as beiras | 08-04-2022
pandemia: uma sociedade em transição
ENSINO
Processo de ensino aprendizagem - o antes e o depois da pandemia
Emergência da pandemia, e dos cuidados necessários de saúde com todos os intervenientes, alterou tudo na
Antes
O processo de ensino aprendizagem era como tinha sido desde há dois séculos: uma relação tutu, em que o professor lecionava conteúdos, face a um grupo-turma que o ouvia, o questionava sobre
dúvidas e dificuldades de aprendizagem. Uma situação que o docente acompanhava em tempo real, percebendo se o seu ritmo de administração de conteúdos era o correcto, se os ‘olhos’ dos alunos manifestavam compreensão e acompa-
nhamento positivo das matérias lecionadas. Uma situação que, nos momentos de avaliação, permitia ao docente criar situações de equidade, produzindo instrumentos de avaliação que ele acompanhava na sua realização e no resultado obtido.
86340
Os efeitos da crise sanitária, provovcada pela difusão planetária da pandemia de covid-19, fizeram-se sentir de forma drástica no setor educativo. Em Portugal, o sistema de ensino estava há séculos cristalizado num processo de aprendizagens assente na relação professor-aluno em sala de aula. De repente, tudo mudou, com a imposição de afastamento físico e a necessidade de recurso a plataformas eletrónicas de comunicação a distância
JP
Rua da Alfândega, 22 3080 Figueira da Foz
joaopinheirofilhosffoz@gmail.com joaopinheirofilhos@sapo.pt
TEl.: (+351) 233 422 612 | Tlm.: (+351) 966 796 482 |Fax: (+351) 233 428 089
João Pinheiro
Declarante Aduaneiro
João Pinheiro & FILHOS L.DA
& FILHOS L.DA
93462
Av. Calouste Gulbenkian, 131 - 3000-092 COIMBRA Telef. 239 483 697
basta um clique
seja um leitor-cidadão ativo
envie-nos notícias, vídeos, queixas e propostas para a sua terra
JP
perto de si perto da notícia
whatsapp 962 107 855 www.facebook.com/diarioasbeiras
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
a educação e ensino
Depois
93435
A emergência da pandemia, e dos cuidados necessários de saúde com todos os intervenientes, alterou tudo na educação e ensino. Em primeiro lugar, a necessidade de utilização
da máscara e do afastamento (necessário) entre alunos e docentes. Da incomodidade da utilização do dispositivo facial à dificuldade de comunicação em ambiente de sala de aula, esse é o elemento mais evidenciado da relação diária da aula.
Mas, igualmente, da necessidade de higienização de todos os elementos intervenientes no processo de ensino — de pessoas a objetos — tornando a prática informal de transmissão de conteúdos e competências num processo
complexificado de cuidados e procedimentos que, no início, tiveram grande dificuldade em ser aplicados. Mas a pandemia e a sua difusão mais intensa teve ainda os momentos de, por questão de preservação e redução das
possibilidades de contágio, enviar toda a população estudantil para casa e passar a fazer o que chamou de ‘ensino a distância’. E aqui, de uma semana para a outra, o corpo docente teve que reformular todas a suas competências de comunicação de conteúdos, de interação com os alunos e, também, de produção de conteúdos a disponibilizar aos alunos bem como alterar e adaptar — na medida do possível — os métodos de avaliação e monitorização do processo avaliativo. Se antes, o aplicativo PowerPoint era utilizado — dominantemente — como complemento de reforço da comunicação oral produzida pelo docente, agora, o aplicativo torna-se o centro de projecção e disponibilização de conteúdos. Complementarmente a este aplicativo, desenvolvem-se em muito pouco tempo, competências, entre os docentes, de manuseamento e aplicação de aplicações de comunicação à distância como o Zoom, da Teams, entre outras, que exigiram dos docentes que em
| 71
muito pouco tempo e experimentando em tempo real a eficácia destas plataformas de comunicação. E elas exigiram, igualmente, novas competências e aprendizagens para os docentes: a de alargar a metodologia de avaliação, recolhendo outros elementos que não só o dos tradicionais testes ou provas escritas... e tudo isto posto em prática num prazo de tempo reduzidíssimo! E estas transformações tiveram que ser feitas adaptando aos diferentes níveis etários dos alunos as aplicações então existentes. Se até ao ensino secundário as plataformas existentes respondiam às necessidades mais imediatas, no ensino superior, e em áreas me competências e especialização elevada foi necessário desenvolver aplicações que permitissem garantir um nível de acesso prático aos dispositivos e, assim, garantir as aprendizagens e permitir também uma avaliação adequada, fazendo recurso, por exemplo, às potencialidades de Realidade Aumentada.
72 | especial
pandemia: uma sociedade em transição ENSINO
OPINIÃO
UC Teacher e UC Student
estudantes, respostórios de ficheiros para partilha de conteúdos pedagógicos, salas virtuais, sistemas de validação da lecionação das aulas e de marcação de presenças, bem como disponibilização e recolha de testes, entre outras funcionalidades. Em 2021 foi lançada uma variante da plataforma, designada por UC Meetings, a qual, recuperando as funcionalidades da UC Teacher para atividadades não letivas, permite aos elementos da comunidade UC realizar reuniões de trabalho online e dispor canais de conversação e de partilha de ficheiros. Após 18 meses de utilização, tinham sido dinamizadas perto de 50 000 sessões virtuais. Existem atualmente 160 000 canais de conversação e perto de 1 000 grupos criados pelos nossos utilizadores, com cerca de 35 000 utilizadores ativos. A UC Teacher, uma aposta de sucesso e única no panorama das IES nacionais, continuará a evoluir nas suas funcionalidades para acomodar as sugestões da comunidade académica, cuja participação tem sido essencial no processo de desenvolvimento e de melhoria contínua desta plataforma.
82147
93699
Luís Neves Vice-Reitor Universidade de Coimbra
E
m março de 2020 fomos surpreendidos com a súbita necessidade de manter o essencial da atividade de ensino e investigação da Universidade de Coimbra em pleno regime de confinamento. Tal como as restantes instituições de Ensino Superior, a Universidade de Coimbra recorreu a plataformas informáticas existentes para a lecionação online, desenvolvidas para videoconferência e de natureza comercial, que permitiram nos primeiros meses de pandemia COVID-19 assegurar as atividades institucionais. Contudo, os genes de inovação da UC falaram mais alto, e desde logo foi lançado um projeto ambicioso e de alto risco: o desenvolvimento de uma plataforma de video própria, com base em tecnologias de códogo aberto e interligada com o sistema académico da UC (Nonio), que permitisse obter a informação sobre as unidades cirriculares, horários, turmas, docentes e estudantes, criando automaticamente salas de aula virtuais no horário previsto às quais apenas o docente e os estudantes da turma tinham acesso. Em apenas 6 meses estava pronta a UC Teacher (versão para os docentes) e UC Student (versão para os estudantes), a qual iniciou o seu uso em setembro de 2020, por ocasião do início do ano letivo de 2020/2021. Como reconhecimento pelo sucesso da plataforma, a UC Teacher / UC Student veio a ser galardoada na edição de 2021 dos Portugal Digital Awards com o prémio “Best education Project”. Após o primeiro “sprint”, que permitiu dispor de uma plataforma para lecionação online não intrusiva com funcionalidades básicas, dispensando a instalação de software nos computadores dos participantes, correndo exclusivamente em browser e ultrapassando naturais preocupações de privacidade que decorrem do uso de plataformas externas, a UC Teacher continuou a evoluir, tornando-se numa plataforma com valências também de suporte ao ensino híbrido e presencial. Dispõe de canais de conversação que podem ser utilizados para contacto entre docentes e
COMÉRCIO E RECICLAGEM DE METAIS, LDA
Rua Regatos de Baixo, 142, apartado 465 | 4520-451 Rio Meão – Santa Maria da Feira Email: geral@riosoares.com | Telf: 256 758 199 – 256 758 200 – 256 356 041 | Fax: 256 758 201
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
| 73
OPINIÃO
Os futuros da Educação
ser reconfigurados para encorajar e capacitar todos a trabalhar juntos. E relembra a pertinência de princípios e práticas que ainda não foi possível implementar devido a um modelo de escola do passado que não encaixa na conceção de escola do presente. Refere-se à autonomia dos educandos, à comunicação, ao diálogo, à cooperação entre os alunos, à escola assente numa lógica de trabalho, de investigação e de criação, à importância da comunidade educativa ligando a escola à sociedade. Se estas teses se tornaram tão populares no decurso dos últimos cem anos, acrescenta, por que razão tem sido tão limitada a sua tradução na realidade escolar? E justifica: Como ser autónomo em espaços-tempos normalizados? Como comunicar com os alunos arrumados em fileiras? Como ser activo quando a tarefa principal dos alunos é escutarem as lições dos professores? Como relacionar-se com o meio exterior quan¬do tudo se passa dentro dos muros da escola? A terceira batalha é a resposta às circunstâncias e exigências do mundo novo. Antes de mais porque as alterações climáticas, as suas causas e efeitos, e todas as ameaças que enfrentamos requerem novas atitudes e comportamentos. Por outro lado, os enormes e rápidos avanços ao nível das tecnologias, do digital e da inteligência artificial requerem uma nova e profunda abordagem do currículo. Citando ainda Nóvoa ( 2022 ), “as crianças hoje habitam o virtual, em ambientes de aprendizagem insuspeitáveis no início do atual modelo de escola”. Logo, “tudo deve ser repensado e recomeçado”, e se as crianças e jovens se sentem como peixe na água no seu novo ambiente, os professores vêm em grande parte de “outras eras” e precisam de uma atenção muito especial que não têm tido até agora. A Unesco, definindo horizontes para 2030 e para 2050, chama a atenção para a imprevisibilidade do futuro próximo, o que requer uma mudança de agulha no perfil dos alunos. Não basta o saber feito do passado, importa preparar para descobrir novos saberes.
93918
93790
José Afonso Baptista Ciências de Educação
O
Relatório da Unesco 2021 - Reimagining our futures together: a new social contract for education – faz um diagnóstico preocupante sobre o momento que vivemos. O mundo muda, as disparidades globais permanecem, a educação não está a funcionar. Altos níveis de vida coexistem com desigualdades chocantes, a construção da sociedade civil e da democracia é um fracasso em muitas partes do mundo. As aceleradas mudanças tecnológicas estão a transformar muitos aspetos das nossas vidas, mas estas inovações não estão orientadas para a igualdade, inclusão e participação democrática. A educação de qualidade, muitas vezes, é privilégio das elites, ao mesmo tempo que numerosos grupos de pessoas vivem na miséria. Até agora o modo como organizamos a educação não garante sociedades justas e pacíficas nem progressos partilhados que beneficiem a todos, o que significa que a própria educação tem de ser transformada. Como? Antes de mais, cumprindo promessas e programas há muito anunciados, mas em grande parte por cumprir. A inclusão continua uma miragem, a educação de todos deixa muitos milhões de fora, mesmo em países desenvolvidos. Os quatro primeiros Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS - Unesco 2015 ) põem o dedo na ferida: combater a pobreza, eliminar a fome, garantir a saúde e bem-estar, educação igual de qualidade para todos. Este é o primeiro grande desafio: sem cumprir os três primeiros ODS, o quarto fica comprometido. A inclusão é ainda um privilégio de países ricos. Esta é a primeira batalha. A segunda batalha, que também herdamos do passado, tem a ver com a substituição da escola construída para uma sociedade que já não existe, a do século dezanove, por uma escola que prepare para os problemas do século XXI. Hoje tudo é diferente, menos a escola. O restauro que se pretende tem a ver com a pedagogia, mas também com os espaços adequados para a sua adaptação ao tempo presente. António Nóvoa (Escolas e Professores - Proteger, Transformar, Valorizar. Salvador, Bahia 2022), insiste que as escolas precisam de mudanças profundas na organização, funcionamento e ambientes educativos e defende que a arquitetura, espaços, tempos, horários e formação de grupos dos estudantes deveriam
Felicita o Diário As Beiras pelo seu 28.º aniversário Secção Regional do Centro da Ordem dos Farmacêuticos
Rua Castro Matoso, 12 A/B, Coimbra Tel: 239 851 440 / Fax: 239 851 449 email: regional.centro@ordemfarmaceuticos.pt www.srcordemfarmaceuticos.pt
74 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
ENSINO
OPINIÃO
O que é que eu aprendi com 2 anos de ensino em pandemia
94023
Isabel Pedrosa Docente de Tecnologias de Informação
08-04-2022 | diário as beiras
D
93422
ia 10 de março 2020: a minha Escola - Coimbra Business School | Instituto Superior de Contabilidade e Administração - comunicou à comunidade académica que as aulas em regime presencial iriam ser suspensas. A Universidade de Coimbra já tinha tomado essa decisão no dia anterior, sendo expectável que outras Instituições de Ensino Superior se seguissem. O semestre tinha começado há poucas. Afortunadamente, tínhamos começado a utilizar o Nónio nesse ano letivo, o que muito simplificou o contacto. Comecei as aulas na 4.ª, 11/03, em Zoom, que não era novidade uma vez que já estava em uso em Pós-graduações, embora não fosse usado globalmente. Apesar de o 1.º período de confinamento ter sido anunciado com a duração de 2 semanas, para mim era importante continuar as aulas. Promover o contacto com os alunos, para que nos identificassem como aptos a fazer a transição e “guiar” na direção certa e com as estratégias mais adequadas. Conversámos com outros docentes, também de outras escolas, tentando perceber as abordagens seguidas. Genericamente, cada professor decidiu em conformidade com os seus domínios de trabalho mas, em algumas escolas, os diretores criaram grupos de trabalho, com docentes de várias áreas, para brainstorming e proposta de soluções. Fizeram-se sessões online para discutir o que cada um pensava fazer e se poderiam ser boas práticas aplicáveis a todos. Os alunos responderam, maioritariamente, à chamada. Contudo, contactar as pessoas exclusivamente por meios digitais, faz com que, quem se quiser alhear da situação, fique mais facilmente para trás. Era importante garantir a comunicação também em inglês
especial |
nas turmas com estudantes Erasmus/Internacionais e optar por canais informais, como grupos em Messenger (que permaneceram) por Unidade Curricular que atuaram complementarmente às plataformas oficiais. Nas avaliações de Mestrado, e à semelhança do que vi noutras escolas, optei por incluir MOC/ simulação, para permitir familiarização com exametipo e treino até ao dia do exame. Numa dessas UCs, alguns alunos fizeram 9 tentativas, outros nenhuma. Tudo isto aconteceu nas 4 primeiras semanas de confinamento. A Páscoa, a 12/04, representou a primeira “oportunidade para respirar”. Foi imenso o número de sessões Zoom para esclarecer dúvidas que antes nos tomariam 2 minutos em sala. Notei os alunos desconfortáveis a colocar dúvidas online e com algum receio de perderem informação: na sessão síncrona não havia dúvidas mas, assim que terminava a aula, surgiam várias questões na conta de email. Se as tivesse esclarecido antes, seria muito mais útil, proveitoso e imediato para todos. Voltámos às aulas presencialmente no 1.º semestre de 20/21. A opção presencial despertou maior interesse dos alunos do 1.º ano, que foram frequentando em turnos rotativos, garantindo que era possível virem à Escola e conhecer o seu funcionamento. O Zoom permaneceu. Tudo isso obrigou a que os docentes dialogassem muito mais uns com os outros, na busca da melhor solução, o que não é comum no Ensino Superior: estamos habituados a trabalhar com os colegas das mesmas UCs, os que orientam trabalhos connosco ou que estão nos mesmos projetos. Todavia, era uma questão de sobrevivência: quem tivesse uma boa prática, ela merecia ser partilhada! O balanço, já dizia Darwin, é: “sobrevive melhor
| 75
quem melhor se adapta”. Aprendi imenso sobre a minha capacidade de adaptação/resiliência e sobre a dos outros, em especial, a dos meus alunos. Alguns nunca os conheci pessoalmente. Só conheci pessoalmente alguns orientandos de Mestrado no dia da prova pública final. Com todos os adiamentos, juntaram-se orientandos de 19/20, 20/21 e alguns de 21/22. Não foi tarefa fácil para ninguém, sendo que a principal dificuldade foi, muitas vezes, a falta de informação para decidirmos. A autonomia de cada Escola permitiu que muitas das atividades docentes se realizassem online, embora o cenário possa ser distinto de Escola para Escola: júris de provas públicas, reuniões e horários de gabinete, consulta de provas, eventos científicos… alunos quase sempre online. Muitos destes alunos optaram também por usar, eles próprios, ferramentas para se organizarem melhor: o Slack da Salesforce, foi uma das opções. Muitas destas experiências eram depois partilhadas, gentilmente, connosco. Recebemos alguns ex-alunos que optaram por regressar à Escola e concluir a sua licenciatura já que a ausência de deslocações lhes simplificou a gestão do tempo. Tivemos muito mais alunos a candidataremse aos Mestrados e a Pós-graduações o que revela que, em tempos de crise, quanto mais ferramentas tivermos, melhor sobreviveremos. Num texto tão pequeno, não cabem todos os desafios de 2 anos… 2 anos depois continuamos com algum medo, porém já com saudades dos boletins diários COVID: infelizmente, o mundo tem agora um desafio muito mais exigente pela frente.
76 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
transição digital
E num instante todo o real passou a ser digital O mundo já dependia da Internet, mas a pandemia acelerou a presença das tecnologias de informação e comunicação e tornou a vida das pessoas e das organizações predominantemente digital. Uma das áreas mais sensíveis foi (é) a da educação, com o impacte do Ensino @ Distância
O
confinamento trouxe “obras, birras, angústias... mas, acima de tudo, trouxe uma forma totalmente nova de estar com a família e com os amigos, de trabalhar, de divertir e até de descansar, quase sempre à volta de um ecrã”. Joaquim, 47 anos, quadro superior de uma ins-
tituição pública, pede “desculpa pela franqueza”. Mas fazer um balanço do que mudou na sua relação com o mundo digital, nestes dois anos, “só pode mesmo ter uma resposta simples e direta: quase tudo”. Quase tudo é o quê? Primeiro, foi a adaptação da casa – um T3 – num
escritório/sala de estudo/ ginásio e sabe-se lá o que mais. Depois, foi preciso investir num computador e num tablet novos. “Numa coisa tivemos sorte: já não tinha fidelização à NOS e consegui negociar com a Meo para ter mais velocidade de internet pelo mesmo preço”. Computadores, inter-
O que se pretende com a Europa digital do futuro?
O
planeta, em particular a Europa, não mais será o mesmo. A pandemia covid-19 despertou em alguns e acelerou na maior parte dos países a adoção de novas, e alternativas, formas de viver, todas elas fortemente influenciadas pela transição digital. Resta saber se, na ressaca de dois anos atípicos, o caminho conduz a uma economia mais sustentável ou se, esbatidos os efeitos da crise pandémica, tudo voltará ao que era dantes. Há uma premissa prévia – a transição digital é uma das prioridades da União Europeia – e uma realidade incontornável: a pandemia tornou irreversível a transição digital. Em Portugal, o resultado prático é que uma parte substancial do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) vai justamente para esta cada vez mais determinante área. Mas o que se pretende, afinal, com esta Europa digital do futuro? Com-
petitividade e modernidade, claro está, mas também mais atenção às pessoas e respeito pela natureza. Na realidade, o grande objetivo da União Europeia é fazer com que a tecnologia funcione cada vez mais ao serviço das pessoas. Para isso, a Europa precisa de uma economia digital mais
competitiva mas também mais justa. Em concreto, a União já assumiu que vai investir no reforço das competências em empregos digitais, Inteligência Artificial (IA), computação em nuvem e blockchain, computação de alto desempenho e tecnologias quânticas, conectividade, 5G e Internet das Coi-
sas, fotónica e eletrónica, ciber segurança e reforço da Inclusão Digital. Presidência Portuguesa da União Europeia Estes e outros focos da Europa digital do futuro foram, de resto, uma prioridade da Presidência Portuguesa da União Europeia, que decorreu, como se sabe, em plena
crise pandémica. A verdade é que, como a UE reconheceu, os resultados foram alcançados em áreas como transportes, justiça, cibersegurança ou promoção da conectividade entre regiões do globo. Uma das prioridades passa pela adaptação dos trabalhadores aos novos processos produtivos (designadamente o
teletrabalho) e à transformação digital das empresas. Aqui, têm relevo as plataformas digitais e os mecanismos de pagamento e de fiscalidade. Em paralelo, pretende-se também promover a saúde e prevenir a doença. Por fim, há ainda o ensino à distância, quer no domínio específico do sistema educativo formal quer em ações de formação. Outra prioridade é a da melhoria no acesso e partilha de dados e de informação de qualidade. Aqui, ganha especial relevo a criação da identidade digital europeia. A Europa assumiu, neste contexto, o compromisso de prestar especial atenção à modernização da administração local, destacando o papel da digitalização na afirmação das cidades inteligentes (smart cities). Para isso, o Estado deve dar o exemplo, com uma administração pública mais ágil, mais próxima e capaz de prestar melhores serviços a cidadãos e empresas.
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
| 77
g lossário na escola Zoom, Meet
Aulas (as)síncronas
Dentre as múltiplas plataformas com valências de videoconferência, destacaram-se o Google Meet e sobretudo o Zoom – cuja designação quase se confundiu com a função.
A adoção do E@D - Ensino a Distância criou um novo formato de aulas: as assistidas em direto (síncronas) e aquelas em que os alunos acedem a vídeos ou outros recursos previamente gravados (assíncronas).
Teletrabalho O trabalho desenvolvido à distância disparou com a pandemia, tendo mesmo sido obrigatório, para as atividades compatíveis. Entre outras consequências, deu origem aos chamados “nómadas digitais”.
93436
93438
net, fibra ótica, download e upload... Nada de novo, portanto, ao invés do recurso a webcam e a auscultadores com microfone, que passou a ser coisa de todos os dias. Assim se familiarizaram todos, lá em casa, com dois novos conceitos fundamentais: Teletrabalho e Videoconferência para os pais; Ensino @ Distância e Discord [forum online de debate e partilha de ficheiros] para o filho. Num instante, (quase) todos lá em casa se atreveram a outras descobertas, como e-commerce (“comprámos online um
pouco de tudo, incluindo um peru congelado para o primeiro Natal”, gracejou). Hoje, Joaquim admite que nada é como era. “Dantes, usava a internet para ver o mail, escolher hotéis e restaurantes, consultar um outro site e sobretudo para usar o Facebook; hoje, não têm conta as coisas novas que faço, desde compras a controlar o meu carro, passando por consultas pelo telemóvel com a minha médica de família”. Mas, será que tantas e tão substantivas mudanças, na relação com o mundo digital, só traduzem coisas
boas? Vejamos o exemplo do Ensino @ Distância, que afetou praticamente todas as famílias. De início, a plataforma mais popular para as aulas online foi o Zoom. Para os professores, foi um desafio de monta, o de se filmarem a explicar a matéria. E também o de prepararem materiais para as aulas síncronas e trabalhos em formato digital para as assíncronas. Depois, foi preciso inventar soluções para as aulas práticas e, pior, para as de laboratório – com inúmeras experiências que ficaram por
fazer. Tudo isto aconteceu com alunos a acederem à internet em plataformas muito diferenciadas e com condições de utilização de banda larga muito diversas. As consequências práticas começaram a ficar à vista e acordo com o relatório “Youth and COVID-19: impacts on jobs, education, rights and mental well-being”, 65% dos jovens afirmam ter aprendido menos desde o início da pandemia. E metade admite que as aprendizagens foram prejudicadas.
Compras online O crescimento exponencial de E-commerce, à escala planetária, minimizou o impacto da pandemia no comércio tradicional e potenciou o aperfeiçoamento de nov Teleconsulta Com os atos médicos não essenciais ultrapassados pelo combate à doença, nasceram novas formas de relacionamento médico-doente.
Classroom Muitas escolas, de todos os ciclos de ensino, criaram as suas próprias plataformas de transmissão de conteúdos e contacto entre a escola, os professores e os alunos. Todavia, uma delas – a Classroom, desenvolvida pela Google – tomou a dianteira e agregou a maioria dos processos E@D do país. #EstudoEmCasa Parceria entre a RTP e o Ministério da Educação, com apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, proporcionou aulas em formato de telescola adequadas às diferentes áreas disciplinares do ensino básico, com emissões em canal aberto logo a partir de 20 de abril de 2020.
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
93535
78 | especial
O que mudou na vida das empresas
C
omo reagiram as empresas aos efeitos da pandemia no que respeita à transição digital? A questão foi objeto de vários estudos, à escala europeia e nacional. Todos convergem na relevância de dois efeitos: o de aceleração e o de especialização. Aceleração de processos e competências digitais, em primeiro lugar, foi o que as empresas foram obrigadas a fazer. Para todas (ou quase todas), a pandemia levou a que a tecnologia e a digitalização deixassem de ser um mero custo de investimento. Um website dinâmico, presença ativa e interativa nas redes sociais, com ferramentas práticas de contacto, de encomenda e de pagamento de produtos passaram a ser obrigatórios para as empresas – sobretudo para as que apostam na venda a retalho. Em simultâneo, as empresas foram também forçadas a desenvolver respostas mais específicas e eficazes, quer ajustando serviços e produtos quer agilizando a interação com trabalhadores e clientes. Em suma, ser e agir digital em várias plataformas passou a ser fulcral na estratégia de empresa, tornando-se, de forma decisiva, um recurso distintivo de competitividade. Em Portugal, o impacto afetou também as estratégias de gestão, nomeadamente, nas empresas com maior incidência de teletrabalho. De repen-
te, ficou claro que muitas reuniões presenciais são, afinal, dispensáveis e que as empresas também podem contribuir para o equilíbrio entre vida pessoal e profissional ganhou relevo. Importante, neste contexto, tem sido a preocupação em acompanhar a transformação digital da
economia do respeito pelos direitos dos cidadãos”. Para isso, há uma Carta dos Direitos Digitais, que agrega a legislação digital já existente, tendo no horizonte uma estrutura comum que possa servir de base, de guião e de referência, não só para a Europa, mas também a nível internacional.
política novos europeia gadgets Green Digital Coalition Compromisso para acelerar a transição do setor das tecnologias da informação e comunicações para uma economia sustentável, neutra para o clima, circular e com poluição zero. Livro Branco sobre Inteligência Artificial Iniciativa para uma tecnologia ao serviço das pessoas e uma economia justa e competitiva, que respeite os valores de uma sociedade democrática, aberta e sustentável. Plataforma Europeia de Entrada de Dados Assente em cabos submarinos para maior autonomia digital europeia, baseada na proteção e privacidade de dados. Integra o cabo ‘Ellalink’, que parte de Sines e vai ligar Europa, África e América do Sul.
Playstation 5 A multinacional japonesa Sony apresentou, em junho de 2020, a sua primeira consola com uma versão sem entrada para discos. Suporta realidade virtual e é compatível com ecrãs de 8K e comando tátil. Samsung Fold O primeiro smartphone dobrável da Samsung chegou aos mercados mundiais em plena pandemia. Tem um ecrã de 7,3 polegadas com um ecrã secundário, de 4,8 polegadas, quando o telemóvel está completamente fechado. Goog le Pixel 6 Diferente da Apple e da Samsung, a Google oferece um excelente telefone com o melhor do seu sistema operativo Android, um design slick e uma câmara excecional por um preço competitivo.
94249
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
| 79
80 | especial
diário as beiras | 08-04-2022
pandemia: uma sociedade em transição
estatística
93441
Setor desportivo perdeu 17,6% no volume de negócios em 2020
Acompanhe todos os dias assine por 30€ (assinatura digital) e receba em sua casa, ou onde estiver Contatos: Dep. Assinaturas
239 980 289 | Email: assinaturas@asbeiras.pt
Nome: * Empresa: N.º de Contribuinte: * E-mail para envio do PDF: * Morada:
93908
Idade:
Telefone: *
*Preenchimento obrigatório
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
O
74231
Estádios vazios e competições adiadas geraram brutal quebra de receitas a clubes e instituições desportivos
setor desportivo em Portugal registou um decréscimo de 17,6% no volume de negócios em 2020, em relação ao ano anterior, para um total de 1,7 mil milhões de euros, indica o Instituto Nacional de Estatística (INE). Os números de 2020 indicam uma redução de 17,6% no volume de negócios num ano marcado pela pandemia de covid-19, depois de em 2019 ter gerado acima de 2,1 mil milhões de euros, com o valor acrescentado bruto (VAB) a diminuir 31,1%. O número de empresas registadas no setor desportivo até cresceu em relação a 2019, em 1%, com a produtividade aparente do trabalho, de 18,8 mil euros, abaixo do setor não financeiro, de 23,2 mil. Estes valores constam do relatório “Desporto em números – 2021” recentemente publicado pelo INE, com dados do último ano a darem conta de uma balança comercial com saldo positivo nos bens desportivos, de 205,6 milhões de euros, mais do dobro do que em 2020.
Em 2021, em relação ao ano anterior, as exportações cresceram 25,3%, para um total de 536,7 milhões, e as importações contraíram 1,7%, para 331,1 milhões, resultando num saldo positivo de 205,6 milhões de euros na balança comercial de bens desportivos. Destacado no ‘peso’ da balança comercial está a venda de bicicletas, cuja exportação atingiu os 308,1 milhões de euros, contra 31,1 milhões de euros de volume transacionado por importações, com o maior défice nos bens de ginástica e equipamento de natação (-80,4 milhões). Os dados provisórios do ano transato notam ainda um ligeiro aumento na remuneração mensal média por trabalhador face a 2020, sobretudo nos clubes desportivos, com as remunerações mais baixas encontradas no ensino desportivo e recreativo. Ainda assim, em 2021 deu-se uma quebra de 3,7% na população empregada no setor, estimada em 37 mil pessoas, a maior parte (64,9%) homens. No que toca ao apoio
| 81
público, a pandemia levou a uma diminuição dos apoios à alta competição e a eventos internacionais, o que baixou o valor total dotado pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) às federações desportivas. Apesar de um aumento no apoio às atividades desportivas, que ocupa 53,5% do total do financiamento, a queda noutros fatores levou a uma redução de 11,1% do apoio em relação a 2019, para um total de 40,8 milhões de euros. Também as Câmaras afetaram 301 milhões de euros a atividades e equipamentos desportivos, 6% abaixo de 2019, com despesa média por habitante de 29,2 euros, encontrando-se os valores mais altos no Algarve (57,3 euros) e Alentejo (42,9), por contraste com a Madeira (9,9 euros) e a Área Metropolitana de Lisboa (19,3). Fora de indicadores económicos, os efeitos da pandemia nos números de 2020 notam-se também no número de praticantes inscritos em federações desportivas, que baixou 14,7% para 587.812.
Instalações Elétricas Comunicações Segurança Projetamos o seu conforto em segurança
93446
Projeto, Fiscalização e Consultoria Escritório: Av.ª Fernão de Magalhães, 584 6.º C - 3000-174 Coimbra Tel.: 239 833210 - mail: geral@celiumproj.pt
ASSOCIAÇÃO DE FUTEBOL DE COIMBRA 1922 - 2022 a caminho
do CENTENÁRIO
Ontem e Hoje a mesma EMOÇÃO!
Associação de Futebol de Coimbra Estádio Municipal Sérgio Conceição 3045-478 Taveiro
www.afcoimbra.com afcoimbra@afcoimbra.com #afcpartilhamospaixao
pandemia: uma sociedade em transição
diário as beiras | 08-04-2022
SDSDSDSDSD SDSDSDSDSDSDSD
93234
86723
93709
93559
82 | especial
Ajudamos a proteger o seu negócio Alvarás MAI 22A, 22B, 22C
securitas.pt
93157
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
| 83
84 | especial
pandemia: uma sociedade em transição
testemunhos
Irene Vieira 17 anos
Acho que houve demasiado tempo de antena para a pandemia e isso provocou um certo receio na população. Devíamos ter olhado para outros temas com a mesma importância Afonso Duarte 17 anos
Tempos negros e coisas belas
O Covid ainda era um mistério e o mundo estava recetivo, mas ainda assim, a população enfrentou de frente o desconhecido. As pessoas tornaramse um pouco mais humanas, apoiaram-se e estabeleceram maiores ligações. Miguel Gonçalves 17 anos
93687
A máscara protegenos do bicho mas afasta-nos das pessoas. Deixámos de abraçar, beijar e eu aceito isso mas custa tanto estar ao pé de uma pessoa e ao mesmo tempo não estar.
Demasiado tempo de antena para a pandemia
89480
Estar e não estar ao pé de uma pessoa
diário as beiras | 08-04-2022
93850
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
| 85
pandemia: uma sociedade em transição
94166
93534
93238
86 | especial
93394
www.editoradideias.pt
diário as beiras | 08-04-2022
93745
08-04-2022 | diário as beiras
especial |
| 87
92701
88 | especial
pandemia: uma sociedade em transição