Diário da Manhã
ESPECIAL
GOIÂNIA, SÁBADO, 4 DE OUTUBRO DE 2014
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A VIDA MANDA-ME DIZER A LINHA DO CAOS
Batista Custódio
Editor-geral do Diário da Manhã
ERCEBO delinear-se no semblante das pessoas a sensação de que alguma coisa acabou, como se doesse nos rostos o tapa da consciência. E é. A vida perdeu a paciência com os que não cuidam dela. E passou a bater castigos neles. O mundo se enfezou com as autoridades que criam nele sofrimento para os humildes na Terra. E começou a tirar o poder delas. A natureza se embrabeceu com os devastadores e principiou o remanejamento das quatro estações do ano para períodos diferentes nas regiões. E secaram-se nas insolações os lugares férteis em água e inundaramse nas chuvaradas os locais áridos. A Humanidade continua persistindo no egoísmo irracional do materialismo ganancioso, destruindo sonhos, devorando honras, legalizando crimes, roubando nações, matando esperanças, semeando ódios, plantando misérias e gente consumindo gente nas colheitas de fortunas. E a pobreza moral se fez transparente nas riquezas feitas na corrupção. O enriquecimento pessoal cresceu na proporção do empobrecimento espiritual. E o Universo interviu no Planeta. Então a impressão que figura no subconsciente de que algo se findou não é imaginária. É a pessoa ouvindo sua alma. O cérebro é conectado com o Universo e capta as mudanças cosmológicas da evolução contínua da vida. E gravitamos em sua órbita. As convulsões desses anos duros que flagelam a humanidade em toda a Terra não acontecem por acaso. Marcam o início dos ciclos da depuração que enquadrará a atual civilização nos princípios da ética. Fechou-se a época de remendos no velho. Abriu-se a era do original no novo. E é a contagem regressiva no prazo de saída do falso na pontuação da data de chegada do verdadeiro.
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A VOZ DAS SAUDADES PRESSINTO pairar-se no sentimento coletivo a falta de alguma emoção no gosto da saudade, como se fosse a memória parada na recordação buscando velhas lembranças. Sente-se essa nostalgia das cidades na descrença das ruas. Entreouve-se esse pesar dos campos nas reclamações dos sertanejos inconformados nas estradas. Manifesta-se essa melancolia na apatia dos eleitores de votarem nas próximas eleições, ante o descrédito dos políticos. Exalta-se essa nostalgia nas multidões das passeatas peregrinando nas romarias das reminiscências, a procura de patriota para pôr no andor das saudades. E são muitas as saudades no coração do povo. Saudade dos honestos como Juscelino Kubitschek, que construiu um novo Brasil, e como Pedro Ludovico, que mudou a História de Goiás. E morreram pobres.
Ruy Barbosa, polímata brasileiro e Alfredo Nasser, gênio da política goiana
Saudade dos idealistas como os oradores Ruy Barbosa e Alfredo Nasser, que não fincaram os tijolos dos aplausos às obras físicas nos governos em que foram expoentes, e estão imortalizados no pedestal das praças Diário da Manhã
Fúria de Aquiles, óleo sobre tela por Charles Antoine Coypel (datada em 1694). Mais adiante, o artigo detalha que todo homem que sobe ao poder também tem o seu frágil calcanhar
públicas como monumentos à sabedoria. Saudade dos sonhadores como Abraham Lincoln e Luther King, que aboliram a escravatura negra do seu povo. E morreram honestos. Saudade do respeito à Liberdade como Platão, que criou a República, e como Sócrates, que entreviu a imortalidade da alma. E morreram pobres. Saudade dos puros como Chico Xavier, que foi o maior médium dos dois últimos séculos. E morreu pobre e humilde; ou como o papa Francisco, que pratica a pureza inteira da Fé em Deus e se tornou o discípulo que revoluciona o Cristianismo atualmente. E vive humildade o voto de sua pobreza pessoal na pompa do Vaticano. Há muitas outras saudades dos valores essenciais à vida em todo o Brasil. A prioritária delas é a comunhão dos poderes com as liberdades públicas. E Goiás devia ser a primeira hóstia para a eucaristia de Liberdade nas catedrais do autoritarismo.
OS VOOS CAÍDOS ESTAMOS assistindo um festival de vassoureiros encabados nas mentes desocupadas de valiosidade construtiva no cérebro trotante nas detrações aos governadoriáveis Marconi Perillo, Iris Rezende, Vanderlan Cardoso e Antônio Gomide. Um enxame de moralistas opiniosos reveza-se em turmas no bloco dos garis faxineiros da política, que usam a maledicência como detergente nas línguas corrosivas. Operam em escalas avulsas e com tabelas agendadas nos turnos de plantão no denuncismo. Uns varrem, cada qual, ideias porcas para denegrir os demais candidatos em benefício do seu preferido. Outros fazem hora extra ciscando na lixeira da cabeça resíduos de frustrações detonadas, quais estilhaços de ojerizas, sobre a relevância dos pretendentes cotados para o governo nos partidos políticos. Generalizam honorabilidades no crivo do vulgo. São os palpiteiros enroscados na ignorância entupida no néscio balbuciando tagarelices atarantadas no oco de ideias. Dão pinotes no anonimato e somam zero com zero voto no eleitorado goiano. No conceito de quem os conhece nas coisas de trás da vida, seus julgamentos prejudicam os elogiados e beneficiam os criticados. Denomino-os como os Língua-Suja. Salivam inflamações morais no caráter alheio como se lambessem escarrações de recalques em ebulição no ânimo. Voam como corvos nos piados agoureiros e nas garras abrindo feridas, e revoam como morcegos ruflando as asas na abanação das dores, e adejam como anjos piedosos nas penações agradecidas. Formam o bando de arribação das aves de rapina esvoaçadas nas temporadas de devoração nos poleiros políticos e planam bicando sujidade nas honras, como se fossem beija-flores pairados no ar na retirada
de néctar das rosas, quando são beijamãos voejando nos canteiros dos sobrados e, nessa condição, volteiam como baratas se alimentando das sobras no chão. Insetos roedores de carunchos no caráter.
ENGAVETADOS NO ATRASO NÃO basta estar moço para ser o novo ou ser idoso para estar no velho. Avalia-se o jovem no moderno das ideias e mede-se o ancião no provecto dos conceitos. Modelam-se no retrocesso os que veem somente defeito e nenhum mérito nos outros. Ajustam-se na evolução os que reconhecem as virtudes alheias e admitem as próprias imperfeições. O antiquado acentua-se relegado nos líderes que qualificam seus desatinos como perspicácia e classificam a prudência dos adversários como ineficácia, e nesses se enquadram os condutores do povo engavetados no atraso. A atualidade formata-se irrecuável na aprimoração do obsoleto nas lapidações da modernidade, e nesses moldam-se os estadistas nas luzes do conhecimento nos fogos do contemporâneo. Por serem ilustrados, estão atinados e percebem que a Humanidade debate-se atada a uma roldana arrastando-nos num confinado de agruras acumuladas nas malevolências cometidas durante séculos. Lotou-se o recipiente do espúrio. Não há mais como adiar o saneamento das tubulações envilecidas. Nem tem como fazer a lavação do lameiro com uns jogando lama em outros. A única solução é cada qual dos suspeitos assumir a sua parte no trabalho conjunto de reparação moral no embolado do aviltado. Defeitos, quem não os tem? Erros, quem não os comete? Meditem no ensinamento da Justiça Divina: “Não julgueis, para não seres julgados. Pois com o julgamento com que julgueis sereis julgados e com a medida com que medis, sereis medidos” (Jesus Cristo).
Jesus de Nazaré
Os tolos falam demais, os sábios ouvem muito, e pensem na doutrina da sabedoria humana: para o que se entorta no mal, leva-se a retidão do bem; para o que se desvirtua no ódio, traz-se a virtude do amor; para o que se perde na desonra, mostra-se o caminho correto do digno; para o que cultiva a desavença, semeia-se a concórdia; para o que se atordoa nas provações, indica-se o confessionário da consciência; para os sofridos, dá-se o alívio. Colhe-se para si a misericórdia que se planta no perdão.
A VIDA MANDA-ME DIZER
O mundo patina num conglomerado de perdições envergonhantes revezandose ampliadas na desorganização generalizada nos poderes e incidindo-se, atiçantes de rebelações, na sociedade insatisfeita nas riquezas e perigosa nas pobrezas. A Terra encapelou-se de corrupções corpulentas no pasto dos impostos e musculosas na engorda das licitações. É a ceva das mamatas nos cofres públicos de robustas fortunas políticas e de milagrosas impunidades nos covis do crime organizado. A civilização atual está um invólucro destampado de sem-vergonhagens canalizadas na cumplicidade pudica dos omissos e mantendo chefes de estado reféns de comparsas em todas as nações. Filas de líderes parceirizam dividendos nos pecúlios da improbidade sisuda. Parcelas de circunspectas autoridades meam cativos os regalos nos vinténs rapados nas sobras dos superfaturamentos miliardários. A conjunção das falcatruas refinadas injetou o amoral na unicidade mundial agregada ao consenso da conformação com as mazelas imorais inoculadas no inconsciente coletivo. A desolação nos países entrecorta-se no apreensivo das expectativas no imponderável das perspectivas. Estertora-se a economia. Estrebucha-se a política. Os povos assustam-se. Os governantes montam planos de metas sustentáveis no fantástico e os gestores levantam obras de proporções faraônicas que sugerem o cenário da Torre de Babel. É entristecente o estarrecedor esfacelamento estável das estruturas de todas as formas de poder e cujas reformas adotadas são meras reciclagens de equívocos dos erros mantidos. Perigamos à beira do abismo, mas não entramos ainda na linha de risco do caos. Devemos então bendizer as desgraças iminentes. Pois nelas estão a salvação dos justos e a maldição dos injustos. Estamos na fervura da tacha das mudanças na depuração que separará os impuros dos puros. Nas purgações está, sobretudo, a bênção da purificação para os que se redimirem da legião dos maus para a hoste dos bons.
OS PODERES DESFILAM CORRUPÇÃO RASGOU-SE o remendo das aparências no disfarce das realidades transformistas do desonroso nas libertinagens em honrarias nas homenagens. O discreto no escabroso desprezível banalizou-se ostensivo no abjeto visível. A corrupção tinha um charme macioso na cativância que seduzia pessoas como o ímã atrai objetos e os mantém magnetizados por ele. A corrupção possuía o carisma das idolatrias no fascínio que induzia à dependência deslumbrada os que degustavam a chiqueza do glamour dela. Era discreta no porte nobrezado. Era envolvente na fidalguia irretocável. Era solidária nas desditas dos leais. Era astuciosa nas questões delicadas. Era implacável no extermínio dos traidores. Era extrovertida na extravagância das orgias íntimas. Era vigiosa no resguardo de não expor em público a privacidade. Era. Amolecaram a corrupção. Foi vulgarizada no decoro. Ficou vadia na linhagem. Está decadente do esplendor das mesuras clonadas na reciprocidade dos interesses retribuídos nas vantagens parceiras. Está aviltada no convívio da aristocracia como má companhia que a simples presença compromete a reputação das pessoas honoráveis. Está vigiada e comanda em regime de liberdade condicional nas contravenções o enriquecimento ilícito através de células nas franquias das corruptelas, como as outras organizações criminosas controlam nas celas dos presídios a operosidade nas regalias das falanges do banditismo na sociedade. A corrupção pôs a cara de fora no mundo, vestida de toga, de farda, de batina, de beca, de mandato popular, de fardão acadêmico, desfilando no carnaval do denuncismo, com culpados e inocentes no carro alegórico dos suspeitos diante do camarote dos condenadoCONTINUA
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res que, se fossem despidos da máscara de moralistas, o público veria que os julgadores são piores que os julgados. Teve seus dias de gala e glórias. Teve. Foi circunspecta no solene e confidencial no irrevelável. Ficou linguaruda e regateira. Perambula ambulante na ecumenia das religiões. Milita sirigaita na confraria conivente nos partidos políticos. Desliza emproada nos poderes particularizados nos governos. Empobreceram o Brasil no enriquecimento dos corruptos e transmitiram a mentalidade da corrupção descarada para o povo.
são limitadas na autonomia das asas; as que adejam no imenso do espaço têm nas asas a soberania da amplidão. Nas madeiras, as de miolo branco no caule, racham e tombam nas ventanias; as de cerne no tronco ficam firmes nos vendavais. O ser humano reage igual no redemoinho das crises nas mudanças épicas do poder. Nos líderes, os oportunistas rolam se segurando na sequência das quedas morais e caem destruídos na desmoralização; os idealistas são heróis no caráter, agigantamse no confronto dos combates e sofrem invencíveis para a história dos honrados. São os patriotas libertadores de povo.
FUNÇÕES DA VIDA O mundo está sofrendo febres intermitentes de corrupção, que é o câncer no caráter. As inflamações morais elevam a temperatura ao grau que afeta o juízo do povo e dá convulsões sociais. Os remédios paliativos das instituições governamentais, que aliviavam as dores da corrupção, já não têm mais efeito nas infecções malignas. Urge cirurgia de transplante dos órgãos infectados para se evitar que a contaminação seja generalizada em todo o corpo da nação e a saúde da democracia entre em fase terminal na UTI da República. Mas devemos louvar essa travessia dificultosa como redentora e não como devastadora, pois presenciamos a destruição do mal na construção do bem na Terra. Tudo e todos são úteis no conjunto das funções da vida. Desde que cada qual exerça seus valores específicos e não se exceda aos limites de suas atribuições. Os córregos correm pequenos e barulhentos nas águas rasas e secam no verão, mas os rios correm grandes nas águas profundas e transbordam no inverno. As maritacas voam em bandos e tagarelas na alteza ondulante na paisagem curvada nos outeiros e pousam nas árvores das redondezas nas regiões frutíferas, mas os condores voam sozinhos e calados na altivez das distâncias estendidas na retidão acima dos horizontes e planam na vastidão das lonjuras aladas. As sibipirunas entoiçam de flores belíssimas as copas viçosas no verde das folhas, no enfeitamento das matas ou no ajardinado das avenidas e caem com o caule quebrado nos temporais, mas as aroeiras balançam os galhos nas frondes austeras e se mantêm de pé no tronco resistente às tempestades. Nas águas, o verão bebe as minguadas; as abundantes irrigam as sequidões. Nas aves, as de voos curtos
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GOIÂNIA, SÁBADO, 4 DE OUTUBRO DE 2014
Pedro Ludovico, fundador de Goiânia, e Juscelino Kubitschek, que criou Brasília
O TAPA DE DEUS A maioria das pessoas busca e não encontra o futuro. Não o procura no único lugar onde se chega a ele. Dentro da cabeça. Pedro Ludovico e Juscelino Kubitschek viram o futuro na construção de Goiânia e Brasília. O papa Francisco vê a chegada da época que Jesus Cristo viu há dois mil anos e revelou a João Evangelista a separação definitiva do joio do tri- Promotor de mudanças, o pontífice Francisco go que está acontecendo atualmente em todas as safras colhidas nos plantios do pecado na Terra. Por mais que sejam medonhos os sinistros, as catástrofes não são atuações ocasionais dos fenômenos, mas autuações naturais da Lei de Causa e Efeito cumprindo-se no retorno
do errado no mundo para o correto na vida. As forças indômitas que estrangulam relevos nos cerros e deitam a paisagem ao chão nas intempéries dos furacões, desabam também as saliências nos poderes e achatam os reinos ao nada nos turbilhões das crises. Do jeito que nos furacões as árvores frágeis, as pedras maneiras, as latas vazias, os caixotes desocupados voam pelos ares e os pedaços moles nas serras rolam nas ribanceiras, os barrancos vergados dos rios desmoronamse nas águas; do mesmo modo, nos pandemônios políticos, os líderes fracos no caráter, os governantes molengas na têmpera, os partidos ocos de eleitores, as autoridades vacilantes nas decisões terminam esvoaçadas para as cavidades do ostracismo e punhados de mitos enferrujados no mandonismo das entidades classistas acabam diluídos nos esborrifos do oportunismo. A retumbância dos distúrbios que transtornam a civilização contemporânea tem a mesma truculência das hecatombes que abalam o ecossistema. O panorama mundial travou-se no vértice de conflitos sociais que se espalham descolados por ventos cruzados de tornados na economia, de cataclismos na política, de tormentas nas religiões, de terremotos nos governos e de desmoronamentos morais amontoando o flagelo das fomes nas farturas, das injustiças nos direitos, do dinheiro muito em pouco e pouco em muitos. Não é vigência do acaso a temporada das crises que demolem gradualmente a estabilidade dos mandões nos poderes terrenos. É o Tapa de Deus nas pilastras do mal. Assim será até que não reste nenhum dos maus com a vida na Terra. E, como é bom o espaço da calma intacta no centro do furor dos redemoinhos, ficarão a salvo das corrosões nos ciclones das mudanças os que estiverem centrados no bem.
FANTASIAS DO PODER OS governos estão mal no poder e a angústia por mudanças sufoca as pessoas. A esperança sonha indecisa nos corações secos de ilusão nas multidões rosnando desgosto na decepção gritante com os políticos. A insensibilidade impõe-se irritante no deserto das cabeças decapitadas nas ideias do senso. A insensatez reduz as mentes dos governos, impenetráveis nos resíduos do envaidecimento repelente ao menosprezo que os flecha nos arcos da revolta popular. Os dias estão perigosos para nobres e plebeus odiosos. Há uma revolução do bem andando em silêncio no âmago das pessoas. A to-
lerância amotina-se nos ordeiros aflitos na falta de remédios suficientes nos hospitais sem vagas para o aumento dos doentes. A paciência rebela-se nos pacíficos desesperados com a má qualidade do ensino nas escolas para os filhos. A fé revolta-se na descrença dos devotos com o pecado da usura das religiões no dízimo. A penúria subleva-se na conformação das cozinhas nas panelas cheias de fome. A obediência insubordina-se indócil com a impudência das fortunas esvaziadas na honra. O ânimo insufla-se nos calmos a briga geral com a incompetência nos labirintos da burocracia na administração pública. O idealismo insurge-se nos puros com a corrupção dos oportunistas à direita e à esquerda nos políticos. Lembrem-se então dessas palavras: “O que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e arruinar a sua própria vida?” (Jesus Cristo). No acerto de contas do espírito com Deus, os que usam seu poder para prejudicar pessoas em proveito de si inserem no crédito do que os beneficiou o débito do que prejudicou a outros. Os que utilizam a revolução das mudanças épicas como guerras bárbaras apontam o cano de sua arma para o próprio peito nas lutas históricas. A violência libera nos líderes a índole bandida que os devora soberbos nas fraquezas da vaidade que os endeusa presunçosos na arrogância. O poder é uma ampola de alucinógenos adicionados com a cápsula da ilusão que contém na dose do sonho o efeito colateral do culto da personalidade. Eis o través onde vencedores fascinam-se de si em suas glórias e destroem-se no mal com as próprias forças em que se construíram no bem. A vida decepa o ódio no fio do amor. O líder que transpõe para a suavidade afetuosa da luz restauradora a impiedosa sanha incendiária do fogo, entra para a História com a sua legenda chamuscada pela fumaça da chama que ele apagou ao acender a sua fogueira das vaidades – que é a areia movediça do culto da personalidade nos altiplanos do poder e onde se afundam os deslumbrados na paisagem da selva humana. O autoendeusamento leva os famosos ao tope dos escorregões nas tonturas da celebridade. A maioria regala-se nos prazeres do poder, esquecida de que no elixir da vida o néctar da glória nos triunfos e a amargura nas derrotas estão na mesma taça; no entanto, grandes vencedores cometeram, sanguinários, as práticas desalmadas dos crimes cruéis que combateram, e só acordam da ressaca da embriaguez nas vanglórias, já caídos ao chão escorrido do desprezo.
O GRITO DAS LENDAS E O CANTO DAS LEGENDAS MA das páginas mais elucidativas da incursão do desastroso no grandioso está escrita na história da Revolução Francesa. A nação contorcia-se, debalde, na extrema injustiça social asfixiando os trabalhadores urbanos, campesinos e sugando os empresários com impostos para manter os luxos da monarquia indiferente às sofreções do povo nas ruas da fome. A insensibilidade truculenta da nobreza se fez a revolta que nasceu do medo no coração da França ultrajada, e saiu derramando na sede de mudanças, como se nelas respirassem tempestades da liberdade semeando ideias da república. Era o futuro que se levantava nas almas, qual um condor de luz, que sobrevoasse nos horizontes iluminando a pátria de independência, e, dele, descessem voando bandos de esperanças fazendo ninhos no peito das pessoas e botando os ovos da mudança no sonho dos livres. Como o fogo dá a luz, as mudanças épicas nascem espontâneas no rastilho dos determinismos históricos e geram em seu berço os líderes da evolução humana. E em 14 de julho de 1789, como se do céu desceu ou se do chão se ergueu, a Revolução Francesa nasceu igual faísca do novo que se acendeu na chama que trazia nela os líderes do povo.
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Deu-se na própria pátria do francês Antoine Lavoisier o seu princípio de que “na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Igual a um cometa que rasgasse a escuridão celestina dos monarcas, trazendo no seu rastro luminoso Robespierre, Danton e Marat. A ideia da república plantada por Platão e enraizada no sentimento de Victor Hugo, que brotou nos prados da população, floriu nos ares a liberdade, pendoouse nos ventos da independência, frutificou-se no árido das revoltas os grãos da reDiário da Manhã
volução que devastou a relva fertilizada pela virulência imperial no outeiro de séculos. No século 18, a França contorcia-se, debalde, na extrema injustiça social alastrante nas penúrias da fome pela carga irrespirável de impostos esfarrapantes dos trabalhadores rurais e campesinos e aniquilantes, até os comerciantes da pequena burguesia, para manter a ostentação do luxo e extravagância dos banquetes nas orgias etílicas e idílicas da nobreza enturmada pelo rei na chusma de parentes, condes, marqueses, duques e súditos das altezas. Regia o Absolutismo reino de Luiz 16. Os políticos insurgentes iam presos para a Bastilha, ali eram torturados e levados para a execução no Champ-de-Mars (Campo de Marte). A idolatria da realeza à crueldade criou a doutrina da insurreição e da guilhotina nos oprimidos. A França gemia e do seu lamento surgiram as vozes dos idealistas que ecoaram os protestos ouvidos em todas as fronteiras humanas na Terra de Denis Diderot.
Pintura sobre a Revolução Francesa
Voltaire e Périgord, pensadores revolucionários
Jean-Paul Marat e Carlos Larceda
Maximilien de Robespierre, órfão de mãe na infância em Arras, mudou-se para Paris, dedicou-se aos livros, conquistou uma bolsa no curso de Direito e retornou advogado para a cidade natal, onde notabilizou-se como defensor dos pobres contra as arbitrariedades do poder e, por sua austeridade, passou a conhecido como o incorruptível, nacionalmente, na pátria do sábio revolucionário François Marie Arouet (Voltaire) e do revolucionário genial Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord. Orador de eloquência arrebatadora e estadista de carisma envolvente foi eleito deputado da Assembleia dos Estados Gerais às vésperas da Revolução Francesa.
Jean-Paul Marat, médico, filósofo, advogado, jornalista editor do L’Ami du Peuple (O Amigo do Povo), popularizou a expressão inimigos do povo. Impetuoso e carbonário, foi o Carlos Lacerda da França e acreditados espíritas asseguram que Lacerda era o Marat reencarnado no Brasil. Georges Jacques Danton estudou no seminário de Troyes e recusou a carreira eclesiástica. Cursou Direito na faculdade de Reims, orador de frases violentas, mas era indulgente com os conspiradores que não pensassem como ele. Considerava-se um filósofo do iluminismo, protestou contra o fuzilamento dos manifes-
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tantes republicanos no Campo de Marte e teve de refugiar-se na Inglaterra. No destino, a rota da solidão nas lutas. Na cabeça, a fogueira das ideias. No coração, a sentença dos sofrimentos. Em Robespierre, o sonho carregando a revolução no ideal, o futuro se clareando na antevisão da época de mudanças, o líder ouvindo o divino na consciência. Em Marat, o fogo nas palavras, a luz no pensamento, a liberdade queimando na alma. Em Danton, o iluminismo na eloquência do tribuno, a bravura do vencedor na misericórdia aos vencidos, a devoção eclesiástica na vocação guerreira. Eles foram a inteligência una no espírito da Liberdade, Igualdade e Fraternidade que se encorpou no idealismo sepultado na intimidação dos compatriotas e ressuscitou a França do absolutismo monárquico para a ascensão aos céus da república. A França vivera subjugada ao escarnio social da luxúria escancarada nas alcovas da nobreza cortesã dos mimos do rei Luiz 16 no Palácio de Versailles e dos caprichos abundosos nos castelos da burguesia feudal. As vozes que discordavam iam gemer nas torturas da Bastilha e calarem nas mortes do Campo de Marte. CONTINUA
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As dores escondidas nas feridas abertas, as lágrimas não escorridas nos choros segurados, os órfãos grudados às saias das mães vagando viúvas nas esmolas, nas caçadas das perseguições aos desvalidos de dinheiros para os impostos e vigílias do medo no coração das pobrezas fermentaram a doutrina do pão e da guilhotina na nação do maior amigo de Robespierre e jornalista Camille Desmoulins (figura acima). A Revolução Francesa arregaçou a capa dos horrores nas crueldades da coroa no século 18 e estendeu o manto do humanismo, tecido fio a fio da democracia alinhavada na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, iguais para todas as pessoas. Desfraldou-se na França o véu da esperança no governo de Robespierre, o incorruptível. Era a república chegando na manhã que não anoiteceria ditadura. Os ditadores estão na prepotência dos monarcas déspotas por herança e no autoritarismo dos governantes eleitos por vocação tirânica. O poder traz em si a essência do contraditório que o destrói nas substâncias de sua sustentação. O poder é a ilusão gorda como no diabetes que age igual a uma cobra dentro do corpo da pessoa e a mata com a própria boca no que se alimenta. As emoções estampiam na destemperança das tensões exaltadas nos entrechoques das tendências políticas. Como duas tempestades batendo-se de frente na corrente das ideias, ou das correntes do insano se despejasse o espetaculoso de rios engolido oceanos, assistia-se a imagem de um povo sendo partido ao meio, como se houvesse duas Franças, uma indo do chão para o céu em uns, outra vindo do céu para o chão em outros. Inaluível na rachadura de pesadelos à sombra do fantasma da guilhotina pendurando espectros de cabeças decepadas nas saudades, a França catava nas rachaduras da tristeza o alívio do esquecimento dos suplícios para dar a arrancada no sonho de abrir as fronteiras da liberdade em todos os grilhões da servidão humana. Onde estivesse, onde fosse, onde voltasse, ali era o lugar de pessoas aos pedaços nos sentimentos: ou se estava preso às lembranças que não se apagam; ou se mantinha detido na espera da independência que se adiava nos tempos vindos de Joana D’Arc (ilustração acima). A França rosnava nos maus, como se a dor mordesse a morte nas feridas, e gemia nos bons, como se o suor lambesse a vida nas lágrimas. O espaço do povo no restrito da democracia era o dos pássaros na gaiola que, aberta, voam em bandos dispersos nos céus, uns vão para a viagem das distâncias soltas nas asas, uns revoam libertos nas lonjuras e voltam para o pouso no cativeiro e, assim também, na Revolução Francesa, as pessoas se distinguiam nas gentes das multidões; as que se tornaram imensas nos infinitos da liberdade e as que se apequenaram nas alturas do poder. Revolução nasce nas ideias de mudanças na evolução dos povos, mas aponta para o alvo das guerras nas balas quando o líder perde a mira do idealismo e termina catastrófica, como o fogo posto pelo fazendeiro na coivara sem aceiro alastra-se e reduz a cinzas o que foi plantando na roça. A Revolução Francesa oscilava na caieira a todo calor nos ânimos exaltados da população e no braseiro dos conflitos nas opiniões políticas nos centros do poder. A colisão do entusiasmo pujante e da exacerbação fanática entre os revolucionários gerou dois partidos. O dos girondinos, da alta burguesia, não aceitava a participação de trabalhadores na vida pública e vociferava que governo é domínio dos ricos. O dos jacobinos, da baixa burguesia, defendia a militância dos operários e mudanças amplas na sociedade que beneficiassem os pobres. Àquelas horas, a desconexão dos ideais transformava a revolução em um fervedouro de convicções antagônicas, com muita chama na trempe das lareiras do conservadorismo tradicionalista. Era a panela de pressão a fogo máximo e com a válvula controladora da pressão travada. Ia explodir. Explodiu em 1792. Como se sentissem que o céu ia rachar sobre suas cabeças, Robespierre, Marat e Danton assumem o poder, totalitaristas e irreconhecíveis nos estadistas que eram. Ordenaram à Guarda Nacional que matasse todos e quaisquer oposicionistas. Instalou-se o regime do terror. A violência destilou-se qual sanha vaporizada no que a crueldade quisesse nos massacres. Membros dos Girondinos, facção moderada dos revolucionários, foram guilhotinados. Nas prisões Diário da Manhã
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lotadas de defensores da nobreza, matou-se um por um a pau, foice e espada. Era o horror, e não era só o terrível, mas era também o inacreditável, como se a alma da revolução houvesse saído no corpo de um monstro e nesse se visse o vulto magro da morte roçando cabeças com sua foice. E via-se a transfiguração da imagem do incorruptível defensor dos oprimidos a sua figura irreconhecível no ditador sanguinário. Robespierre quebrou o dístico da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, rasgou a legenda do Comitê da Salvação Pública e personificou a faceta mais feroz no mastro das duas bandeiras da Revolução Francesa. O medo serpentou o pânico na sociedade apavorada e a revolta transpirou no sentimento da conspiração o brado uníssono da ressurreição nos franceses. O povo virou um em todos como a gota nas águas do oceano. Ou fosse o irracional da cólera no irascível das iras, ou seria a razão perturbada na alucinação dos juízos, mas era como se a morte facciosa se levantasse no Campo de Marte da monarquia no subúrbio de Paris e saísse fratricida sepultando vidas em Campos da Morte nas vastezas republicanas da França. A História muda a página no livro do destino dos heróis. Tiros ensurdecem o ar. Vidas caem dos corpos. O vermelho para os olhos no choro e escorre o sangue dos feridos. Correrias abalam as ruas. O medo treme nas casas trancadas. Delações escondem traições no governo. A Revolução Francesa faz-se criatura e come as crias nos abortos do poder. E serviu-se à Liberdade no regime quebrado da ditadura que devorou o idealismo em Robespierre às mesas plenipotenciárias da soberania endeusada. O Champs-Élysées fervilhava de gente se alternando nas extensões do instável nas índoles humanas. A conspiração pairando suspensa sobre o palácio evocava a imagem de um arco de corvos no elo da conjura. A resistência armada se revezando nos plantões às portas sugeria a movimentação de um formigueiro nos blocos organizados na operosidade dos confrontos. A impetuosidade vagando vociferada na acústica dos salões lembrava uma caixa de maribondos ouriçados nos líderes se ferroando nos ânimos alvoraçados no pensamento belicoso de Marat e esvaecidos no sentimento religioso de Danton. A governabilidade variava febrilizada nas paixões açodadas na depuração dos jacobinos e acossadas na fermentação golpista dos girondinos. O ódio espalhara ruidoso nas vozes e seu veneno raspado nas palavras estridentes como na acuação de uma fera. Dentro de Robespierre, a solidão desoladora e o silêncio engasgado da meditação profunda à procura de uma saída da tragédia pelas vias do contorno. Atrás a cisão nos jacobinos, uns irredutíveis pela pacificação, outros inflexíveis pela rebelião. À frente, a união dos girondinos irrecuáveis na obstinação pela derrubada devastadora do governo. Robespierre pressentia a iminência do desastre que devolveria a França à monarquia e ponderava a doação urgente de uma mediação política como única forma de salvar e consolidar a república. Em vão. Viu-se impotente. Sentia-se ao mastro da bandeira da Revolução Francesa a dois panos, o da batalha nos girondinos e o da mortalha nos jacobinos, e, no esforço de romper-se das amarras, quebrou-se a estabilidade do poder nos deuses do Elísio e nos campos do povo. Era a fatalidade arrastando Robespierre de seu destino para cumprir o desiderato do imponderável nos desatinos sem freios no insano da irracionalidade. Dali para frente, os desígnios seriam os escritos na sina da bruxa. Que os leu de pronto na consumação sucessiva e sinistra do agoureiro. Como se contaminado pelo cetro da maldade própria, experimentou, rápido o gosto travo de seu fetichismo no poder. A violência cria e devora os regimes políticos autoritários. A supressão brusca das etapas de adaptação às mudanças da conjuntura feudal arraigada do conservadorismo para a nomenclatura de inovações instantâneas pelo socialismo na economia, unira a alta e a baixa burguesia e desunira a hegemonia dos que sonharam a chegada de uma civilização livre na Revolução Francesa. A euforia dos revolucionários ao chegarem no governo e o desalento dos monarquistas ao descerem do império, agora eram a nostalgia nos republicanos e o entusiasmo nos soberanos. Assistia-se o determinismo das mudanças históricas nas marés de reciclagem do poder nas nações. Cumpria-se na política o moto contínuo do movimento da onda que vem, volta, vai, retorna, deixa na praia o que estava nas águas, leva o que estava na praia para as águas. Nada é estático em tudo na vida. Até nas pedras paradas, há nelas o movimento da transformação nas matérias. A folha na corrente dos ventos ou das águas calmas não decide o seu rumo no espaço, mas ao baque das turbulências cai despedaçada nos ares ou submerge encharcada nos rios. O líder é chama que acendeu o pavio das lutas épicas, mas é instrumento e não dono da História, por isso deixa de ser luz e reduz-se a cinzas quando os sopros do poder apagam o seu ideal. Desguarnecido de humildade e robustecido de vaidade, Robespierre, o in-
corrutível no revolucionário, transfigurou-se desprezível no governo e trocou a ideia da liberdade pelas balas da repressão sanguinária. Ia-se à estagnação do passado no retrocesso do futuro, e as lealdades, as confidências, os apreços dos momentos da glorificação transmutaram-se em traições, em delações, em ingratidões nos instantes da martirização. A república escorria canalizada na conspiração empoçada na burguesia sitiada pelo socialismo acampado no Palais de l’Élysée (Palácio de Champs-Élysées). Robespierre aquartelou-se no desespero e esquartejou seu governo na insolente concentração de poderes e na injuriosa rotulação de companheiros com a pecha de Judas da revolução. A altivez do libertador sucumbiu-se à sua renegação na alteza do ditador. Ninguém sai do poder: cai. Por vontade própria, todo governante se sucederia nos mandatos enquanto se durasse na vida. E Robespierre fadou-se no culto à personalidade dos insubstituíveis nas lendas dos mitos eleitos por Deus para reinar os homens obedientes no povo. A queda do governo era o tema confidenciado nos aposentos burgos e o assunto papeado nas esquinas ao largo da França. O tititi dos cortesões birrentos, as rugas das hostes atritadas, o lenga-lenga das titubeações no cumprir das ordens, as arenas dos tribuneiros da conjuração golpista, o cheiro de perigo no ar, o gosto de morte nas expectativas ferviam preocupações na cabeça e fuzilavam indignações no coração do poder. Robespierre estafou-se. Reagiu totalitário no poder e fulminante nos massacres. Abria-se o risco nebuloso nas trilhas da sorte: ou era o condão da fada, ou seria o tacão da bruxa, que o enfeitiçou com a magia do poder.
Monarca Luiz XVI e a esposa Maria Antonieta
Como déspota, condenou e executou na guilhotina Luiz XVI e a esposa Maria Antonieta em 21 de janeiro de 1793, na Praça da Concórdia, em Paris. A perversidade robespierrana propagouse na irradiação do ódio no sentimento parisiense e Charlotte Corday (imagem), simpatizante dos girondinos, assassinou Marat a punhaladas na banheira em 13 julho de 1793. Como títere, acusou Danton (à direita) de traidor e o decapitou na guilhotina em 5 de abril de 1794 na Praça da Concórdia, por tê-lo desaconselhado a guilhotinar a família real. Ao adotar os métodos ditatoriais da monarquia e que se fez o principal herói da Revolução Francesa ao combatê-los, Robespierre enchia a taça da sua história com o veneno que iria tomá-lo. E o bebeu no cálice da morte na guilhotina em 28 de julho de 1794. Guilhotinava-se também ali a república na França. Naquela decapitação, a lâmina de Joseph-Ignace Guillotin abrira a rota do retorno da monarquia. Iria nos rastros da eminência parda do poder notabilizada por sua ilimitada falta de caráter e inusitada habilidade de mover-se ileso no ciclo mais conturbado da história política na França. Joseph Fouché. Excesso em inteligência e exagero em oportunismo, Honoré de Balzac definia-o como um gênio singular, era visto
A VIDA MANDA-ME DIZER
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por Otto Flake como um traidor da revolução, o certo é que Fouché evoluiu da condição de padre para a situação de o segundo homem mais rico da França. Traiu Robespierre, Callot, Barras, Talleyrand, permaneceu plenipotenciário no governo da França, articulou a transição para o império napoleônico em 1804, traiu Napoleão BonaJoseph Fouché parte no governo de cem dias em 1915 no golpe que o deportou para a Ilha de Santa Helena em 5 de maio de 1821. Fouché tramou a derrubada da monarquia na implantação da república e conspirou a queda da república na restauração da monarquia. Joseph Fouché morreu apagadamente na cidade de Trieste, em 28 de dezembro de 1820. Mas foi tão poderoso e execrável que, 15 anos após a sua morte, sempre que surgia o boato que ele estava vivo e preparado para voltar, o poder tremia na França. E assim segue chegando a corrupção de barriga vazia e segue saindo a corrupção de barriga cheia o destino que lhe aprouver no mundo dos poderes. A águia não desce para voar com os insetos e sabe que os que sobem às alturas dela são levados pelos ventos que os destroem nas rajadas. Nem a luz se suja nas fumaças do fogo e sabe que o embaçado delas se dissipa ao seu brilho. Também as ideias não se ferem nas balas e sabem que a vida segue nascendo o futuro nelas e que a morte fica se escondendo no velório dos cartuchos. Revolução é o clarão da evolução se abrindo no pendão das mudanças e guerra é a escuridão dos atrasos se fechando no luto das esperanças. Maximilien François Marie Isidore de Robespierre. Jean-Paul Marat. Georges Jacques Danton. Um triunvirato de sonhos na unicidade do ideal. Foram a grandiosidade imensurável do cívico nos patriotas. Estiveram monumentais nas excelências da inteligência ampliada no conhecimento. Permaneceram admiráveis nas retidões da ética como devoção na alma. Resistiram irrecuáveis na brava e temerária derrubada do poder pedrado de ditaduras na monarquia. Cresceram resplandecentes no mastro da liberdade na Revolução Francesa e nas legendas inapagáveis de heróis e mártires no marco da História. Líderes assim a vida custa tê-los e a morte os toma para renascê-los na posteridade. Robespierre, Marat e Danton terem criado a independência republicana no absolutismo repressivo da monarquia que se findara e gerado o totalitarismo da repressão absoluta na democracia que se iniciava é incrível, mas é factível. Está no fado das vaidades. Prolifera-se no enigma da magia do poder e desperta alucinações nos mistérios da mente humana, tão imperscrutáveis nas inteligências brilhantes, quão imperceptível seria o fenômeno de um raio de luz que se entortasse ao passar por um bloco de escuridões.
AS FORTALEZAS FRACAS O maravilhoso mundo dos poderes terrenos é o inferno no paraíso onde os mitos ouvem os cantos de sereias das bruxas metamorfoseadas em fadas que os encantam com sua beleza e arrebatam com a sensação do eterno nos prazeres da luxúria. Em Odisseia e Ilíada, Homero criou semideuses possuídos pelas fraquezas humanas nos pendores que os enlevavam à presunção da onipotência. O ponto frágil em Agamenon, rei dos reis gregos, era a arrogância vaidosa agregada nos atributos das vitórias gloriosas. Resoluto e onipoderoso, Agamenon arquitetou e comandou a guerra que des Clássico cavalo de Troia, retratado em Ilíada e Odisseia
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truiu a cidade de Troia para reaver a bela Helena raptada pelo príncipe Paris, mulher de seu irmão Menelau. Vencedor e orgulhoso, levou em seu séquito a lindíssima virgem Cassandra, profetisa e princesa de Troia entre os tesouros saqueados. No retorno para a Grécia, os ventos desviaram-no para o reino de Egisto que, anos antes, assassinara Anteu, pai de Agamenon e se apossou do trono de Argos e, então, ele e o irmão Menelau refugiaram-se em Esparta. Ao retornar-se agora glorificado da Guerra de Troia, Agamenon e a esposa Clitemnestra foram recepcionados com requintes à altura de uma majestade plenipotenciária sobre os domínios de todos os reis. Egisto estendeu aos dias pompas medidas e a joias de brilhantes e a passeios em andores cravejados de rubis, e, às noites, banquetes regados a vinhos em taças de cristal, ouro nos talheres e pavão ao forno degustado em pratos de marfim. O cortejamento mais primoroso na corte era o idílio que causou a sedução de Egisto e a paixão em Clitemnestra. Ser-
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via-se o refino do glamour nas mesuras blindadas entre as majestades enfastiadas da fama. Mais que o esplendor incensado a um semideus, Agamenon sentia a ardência do libidinoso pela virginal Cassandra. Retirou-se para a alcova real e, ansioso, aguardava a vinda dos súditos cortejões com Cassandra com o corpo transparente no penhoar de musseline rosa. A chegada súbita foi de Clitemnestra. Tirou o vestido, jogou em Agamenon no banheiro e o matou. E Cassandra mantevese casta. Egisto e Clitemnestra nupciaram-se e assumiram o reino de Agamenon. Aquiles, o maior herói grego e o semideus que tinha o corpo impenetrável por projéteis e lâminas de quaisquer armas. Apenas o seu calcanhar era a única parte vulnerável e onde foi atingido por uma flecha envenenada de Paris e direcionada por Apolo. E morreu inigualável em suprema bravura na guerra de Troia. Ulisses, garboso no porte guerreiro e indomável na fúria das batalhas que o magnificaram em seus triunfos na guerra de Troia, o envaidecimento deslumbrado era o traço fa-
lho que o marcou no prendado dos fascínios de semideus em Ulisses. Intrépido, indômito e fulminante nos combates, qual fosse uma tempestade estrangulando tormentas; atlético, lépido e inatingível nos ataques, igual houvesse nele um acrobata volteando-se nos golpes certeiros da espada ceifando os troianos à sua volta; esplendoroso, invicto e aclamado, a Troia incendiada na derrota era o fogo trazendo a luz para reconhecer o seu brilho, a poeira levantada na fuga dos inimigos vencidos era o chão subindo para aplaudir do alto a sua vitória. Ulisses parte para sua ilha de Itaca, saudoso de Penélope e embalado nas louvações dos marinheiros na nau de sua frota; o azul nos céus e no mar Egeu; o sol derramado aos dias e as estrelas coadas nas águas às noites; à bordo a embriaguez da volúpia no palco da cabeça e a ressaca das ondas aos ventos brabos; no ar cinza os horizontes fechados e naufrágio à vista na ilha Eta, da feiticeira Circe, metamorfoseada de Penélope; viveu encantado nos cantos da sereia e nasceu Telégono; descativou-se da sedução de Circe e naufragou na
ilha de Ciclopes, povoada por sereias; escapou numa prancha e ancorou em Itaca irreconhecível na aparência tostada e encrespada de sol e sal e ao molambo nos retalhos dos trapos. A ilha estava reunida no palácio para assistir a solenidade da disputa dos pretendentes de Penélope; que se casaria com aquele que conseguisse usar o arco de flecha do Ulisses. Nenhum foi capaz. Ulisses assistia despercebido em um canto. Ofereceu-se. Não lhe deram importância. Ele pegou o arco e flechou no coração um a um dos concorrentes. Foi um espanto geral. Ainda em êxtase no regozijo do feito surpreendente, o susto mais desconcertante foi o seu ao ser avisado por um oráculo que um filho lhe tiraria a vida. Ulisses prostrou-se aturdido. Sabia haver chegado o momento de sua última batalha e que a perderia; cumpria-se, pois, o vaticínio revelado em sua juventude. Ulisses decidiu desaparecer para fugir da predição. Passou o governo para Telémaco, seu filho com Penélope. E Telégono, filho seu com Circe, sentiu-se deserdado e o matou.
A ÓTICA DAS VISÕES INVERTIDAS
As duas profecias – a milenar de Jesus Cristo e a secular de Dom Bosco – previram o início das mudanças da redenção para o princípio do terceiro milênio. Basta observar a sequência progressiva e cadenciada das convulsões nos fenômenos da Natureza, ou a contínua reincidência de fatalidades na incidência sinistra das tragédias humanas, para perceber que a reforma moral começou a acontecer na década passada. A depuração será gradual e irreversível nos próximos anos até ser consumada a separação do joio do trigo cadenciada das convulsões nos fenômenos da Natureza, ou a contínua reincidência de fatalidades na incidência sinistra das tragédias humanas, para perceber que a reforma moral começou a acontecer na década passada. A depuração será gradual e irreversível nos próximos anos até ser consumada a separação do joio do trigo, para vantagens das individualidades não mais se sobreporem aos interesses das coletividades. A hora da regeneração é agora. “Não há mais tempo para aguardar regenerações. O tempo urge”, alertou o espírito de Pedro Ludovico Teixeira na mensagem psicografada pela médium Mary Alves no Centro Espírita Mãos Unidas, em 26.8.2014, e publicada na edição de 1º de setembro do Diário da Manhã.
O VAIVÉM DAS MÁQUINAS ENFERRUJADAS ODO poder na Terra é ilusório e ouvese nele o canto de sereias, ou mesclado do falso no verdadeiro, ou miscigenado do real no enganoso. Na Revolução Francesa, a fantasia esteve na realidade e, na mitologia de Odisseia e Ilíada, a realidade estava na fantasia. Na Civilização Moderna, o poder está uma máquina antiquada no modelo e enferrujada inteira. Funciona com peças falsas, a maioria com defeito de fábrica, muitas adaptadas de outras marcas, todas gastas ou empenadas no conjunto de diversas estragadas por várias e comprometendo o desempenho das demais. O disco de freio arranhado nas brecadas bruscas. A engrenagem do câmbio danificada nas arrancadas abruptas. O diferencial avariado por excesso de peso nas acelerações mal engatadas nas barbeiragens. Guinchos congestionam o tráfego no vaivém dos consertos nas oficinas dos programas de planejamento, ou as revisões dos motores fundidos nos desvios de rotas nas metas de obras. Não unicamente nos países, não apenasmente nos Estados, não somente nos municípios, mas totalmente nas prioridades das mudanças que irão mudar o mundo, o carro-governo não prescindirá de um estadista ao volante. A evolução é o engenho da vida que mói a casca dos valores e o poder é a caldeira que separa o digno do iníquo na raça humana, embora na ficção e no real os domínios terrenos igualizem os mandatários no deslumbramento com os cantos de sereias. Na Revolução Francesa, o calcanhar de Aquiles dos idealistas Robespierre, Marat e Danton e de tantos libertadores que derrubaram a ditadura das monarquias estava no oportunismo de Fouché e de tantos traidores nos girondinos de Brisot, Verdinand, Roland e Péin.
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Ulysses Guimarães e Lula
OS DEUSES DA MOTOLOGIA NA POLÍTICA Na Guerra de Troia, o objetivo de Agamenon, Ulisses, Aquiles e outros semideuses gregos ao construírem o cavalo de madeira em que entraram dentro para romper a muralha da cidade do príncipe Paris e resgatar a Helena raptada de Menelau esteve no propósito de Ulysses Guimarães, Lula, FHC e de tantos líderes do PMDB ao detonarem os costados da ditadura militar com a adoção do parlamentarismo no regime presidencialista na Carta Magna de 1988, que foi o cavalo constitucional arquitetado pelo brasileiro xará do Ulisses de Itaca para vencer a resistência do eleitorado nacional e se montar no sonho de governar o Brasil como primeiro-ministro. O desnovelo da história da Humanidade na perenidade dos tempos leva à comprovação de que a ambição pessoal do líder no poder é o seu autocídio político. O poder é o túnel da vaidade e a luz que se vê no seu final é do fogo dali para frente. O estadista é um empregado do povo, não o patrão, e não deve se conduDiário da Manhã
zir na vida pública como se a nação, o Estado, o município fossem sua propriedade particular povoada por escravos tratados ao chicote dos impostos, conformados com rações de cidadania nas senzalas da exclusão social e cativos na servidão às judiações dos feitores do senhor de um feudo político. A pessoa não faz os fatos da posteridade, é instrumento dos episódios nas mudanças históricas, mas será despojada ao se desvirtuar do desiderato da sua predestinação. Deu-se com o grego Ulisses ao ser atraído pelos cantos de sereia da Circe em Eta, na volta das glórias de Troia para a sua Penélope e ter o fim melancólico em Itaca, por haver criado os dois filhos como herdeiros com inclinação para o poder, não sucessores com vocação para líderes. Sucedeu-se com Robespierre, que incendiou de liberdade as escuridões seculares das monarquias, como se nele o povo houvesse virado chama e reduzido às cinzas os entulhos do absolutismo imperial na França; todavia, Robespierre não se atinou de que a conspiração se rebuça vagueando nos cochichos e, percebê-la, é tão intrigante como localizar o cri-cri de grilo; ouve-se o seu som perto, mas não se descobre o ponto do lugar de onde o cricri vem; e Robespierre só percebeu que o grilo cantava juntinho de si desde quando não escutara o conselho do companheiro Danton para não decepar Luiz XVI e Maria Antonieta, e o guilhotinou junto com Desmoulins em represália. O cri-cri vinha de Fouché, então já fora do governo, embora transitando na intimidade dos segredos do poder a conjura que depôs e mandou Robespierre para a história da Revolução Francesa na guilhotina que decepara a família e os amigos Danton e Camille. E Fouché assumiu o Champs-Élysées. Cumpriu-se com o brasileiro Ulysses na trajetória vitoriosa da sua luta contra a ditadura militar; todavia, arrebatado pelas seduções nos céus do poder, Ulysses Guimarães entrou no ovo da mosca azul, botou o parlamentarismo para chocar no ninho do presidencialismo na Constituição do Brasil e gorou o gemado de seu sonho de vir a ser primeiro-ministro; porém, nas cascas e às claras no casuísmo geraram-se bandos de raposas que encheram os poleiros do Congresso Nacional e depenam a galinha dos ovos de ouro chamada de nação, e mantêm a presidenta da República na manguara das bancadas, como pontos de compra e venda, a varejo e atacado, das granjas partidárias nos feirões das barganhas políticas. E assim, sempre assim, nunca diferente de assim, é, foi e será o sobe-desce da pessoa no desce-sobe do poder. Todos subindo esquecidos de que irão descer. A maioria caindo rápido na pressa de subir. Muitos arrependidos de terem subido tanto ao alto no imerecido para receberem tão em cima o merecido tombo para baixo. Poucos permanecem estáveis na prosperidade das conquistas alcançadas. Uns se imortalizam na memória das obras realizadas. Mas nenhum outro passa por tantos sofrimentos nas suas descidas como aquele que fez outros sofrerem em suas subidas. O poder é andrófago nos governos. Engorda o falso dos mitos nos cochos da corrupção com sifilizes do oportunismo contagiante, bactérias ideológicas contagiosas, vírus da moral infectante que gera a falência múltipla dos princípios da ética no caráter obeso do ilícito e os definha lentamente nos estrebuchos da vergonha até o abate final por eutanásia com dose maciça da desonra. Preserva o verdadeiro dos líderes no altar a decência com as essências do idealismo, o poema dos sonhos, o infinito do civismo, acorrenta-os às chamas da riqueza moral, incansáveis na construção do bem no mundo e inapagáveis na legenda dos mártires que a vida selecionou nos absolvidos por Deus.
A civilização contemporânea roda nos esgotos da corrupção. A decadência moral da política equipara-se à vastidão desoladora de um deserto com raros oásis de idealistas rodeados de oportunistas na ariJesus diante de dez ética dos poderes na Pôncio Pilatos vida pública. Há corrupto bandido, o que dilapida e elimina os extorquidos. Tem corrupto malandro, o que malversa e contemporiza com agradabilidades aos tapeados. Existe corrupto caridoso, o que surrupia e reparte bondade nas doações. Tem corrupto moralista, o que se frustra e vinga-se no denuncismo. As autoridades não deixam de ser pessoas nos Três Poderes da República, onde existem Pilatos no Executivo, Caifás no Judiciário e Barrabás no Legislativo como nunca antes tão expostos nos escândalos das corruptelas explícitas. Os agasalhamentos da corrupção nos abrigos da impunidade dos poderes públicos em todos os governos do mundo acomodaram ofidiários no ninho das ideologias políticas, onde serpenteiam líderes ofídicos até quando fazem o barulho da moralização com o chocalho na ponta do rabo enquanto dão o bote com a boca na corrupção. Venalizam a austeridade. Excedem-se no desprezível do cinismo descarado na insolência repugnante. Preservam tanta peçonha da falsidade adicionada no antídoto do despudor que, se uma cascavel morder em um deles, a cobra é que morre. A corrupção está transparente e com uma clareza tão ofuscante nas franquias do páramo político que dá para se visualizá-la em todos dos que vários mostram em diversos, como se em cada um deles a visão tivesse o foco invertido na ótica e refulgissem as miudezas de suas grandezas e vissem as imperfeições dos outros olhando para si próprios. Um disparate de beneméritos entrou fraquejado de dinheiro para a política. Trabalharam o tempo todo para ajudar os que eram pobres igual eles eram. Mas somente eles ficam muito ricos com suas ajudas dadas aos que ficaram muito mais pobres no povo. Só o bafejo da sorte nos sorteios dos prêmios das veras explica o enigma da origem de suas fortunas miraculosas, pois não lhes caíram do Céu como o maná no Egito dos faraós. O que está caindo do Céu é a bênção das mudanças que salvarão a Terra dos flagelos da corrupção. Nenhum mal ficará de pé, segundo as palavras de Jesus Cristo a João Evangelista. Os corruptos serão roçados em todos os poderes do mundo atual. Em Goiás, a terra será arada, até não mais restar nenhuma raiz ou sequer uma única semente da corrupção, pois é entre os paralelos 14 e 15 do Planalto Central que será edificada no Brasil a civilização que governará o Planeta a partir desse milênio, segundo o vaticínio do santo Dom Bosco.
João Evangelista escrevendo o Apocalipse e o santo Dom Bosco que profetizou a civilização do futuro nas terras goianas
A VIDA MANDA-ME DIZER
COMEÇOUI A HORA DO CÁLICE A enormidade de obras nos governos representa mais o volume das corrupções aos favores e menos o montante das prioridades aos benefícios públicos. Para perceber as exceções da regra geral no que se esconde na discrição das realidades e que se mostra no aparatoso das aparências, é preciso ter o condão adivinho. Basta comparar a história do ex-governador Pedro Ludovico Teixeira, que construiu Goiânia e mora pobre no Cemitério Santana, com a biografia de outros ex-governadores de Goiás que encontraram tesouros nos mandatos; ou confrontar a legenda do expresidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, que fez Brasília e reconstruiu o progresso do Brasil, com as lendas de muitos expresidentes brasileiros que empobreceram a república e enriqueceram os herdeiros com o cofre dos impostos. Escoa-se o tempo em que todo aquele que é chefe de família, gestor de empresa, guia de religião, condutor de entidade classista, dirigente público, comandante de quadrilha, líder político terá a oportunidade de rasgar urgente o véu que o deixa transparente na desonra encoberta. A tacha da depuração moral ferve a pleno fogo das mudanças regeneradoras da atual civilização, para que todos tenham chance de se redimirem. Não há força nos poderes humanos capaz de impedir a continuidade das convulsões sociais e das eclosões de hecatombes que castigam o mundo desde a década passada. E assim será até que os bons possam estar ressaltados na Terra e os maus sejam excluídos para outro planeta. Só então irão surgindo líderes novos, não dos herdeiros continuístas do patriarcado vigente na indecência política dos poderes públicos, mas de onde não se espera surgirem os eleitos na seleção dos puros e justos. Nem se sabe de que orbe virá a plêiade dos escolhidos, mas, com certeza, a legião dos redentores está sendo preparada em pessoas incorruptíveis nos moços resistentes às seduções do imoral nas tentações e nos velhos redimidos dos pecados da usura na caldeira das provações. CONTINUA
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da humildade para o envaidecimento no esplendor das celebridades. Virão tristezas com o aspecto da melancolia no acabado. Mas o horrível não traz na inquietação as premissas do calamitoso e, sim, o pavoroso traz nas atribulações a prerrogativa da indulgência no infortúnio. Os ventos da mudança moral derrubarão as árvores genealógicas da política de raízes comprometidas pelas brocas da corrupção, por mais que estejam frondosas nas copas carregadas de pencas de fortunas dos pomares do poder. A decomposição dos imorais que se enricaram nas catas do Tesouro dos Erários será natural e progressiva nesse ciclo de reposição da decência humana na Terra, como a madeira apodrece e volta a ser chão, e não há força nos poderes terrenos capaz de impedir todo ladravaz que embolsou dinheiro público de verse na lixeira da desonra. É o princípio da era dos bons e o fim do tempo dos maus. E mau é todo aquele se vangloria-se da desgraça dos que lhe fizeram o mal. E bom é todo aquele que retribui sempre o mal com o bem. O bem e o mal que fizermos aos outros, os fizemos a nós mesmos. Nos plantios da vida, as colheitas são do dono. Grão por grão.
A MELHOR COISA ALÉM DA VIDA DOS POLÍTICOS Existem dois tipos distintos de personalidade na natureza das pessoas e que as diferem nos critérios da mais-valia na utilização dos bens na vida: as de feitio coletivo e as de índole individual. Na família, os individualistas sujam a casa, querem as refeições prontas na hora, comem e não lavam as vasilhas, não desligam a televisão ao dormirem, não arrumam a cama ao acordarem, tomam banho e jogam a toalha molhada no chão, tiram os móveis do lugar nos cômodos, nunca fazem a sua parte nas obrigações domésticas, jamais cumprem seus deveres, reclamam de tudo, preocupam-se com nada, e irritam-se por qualquer coisa que os contrarie, e reagem ofendidos sempre que são chamados à atenção pelo parente têmpera coletivista que mantém a ordem na organização do lar. Na política, o imundo na vida pública espelha a poluição desavergonhada no caráter dos líderes ativistas no coletivado das teorias de moralização e militantes no individualizado nas práticas de corrupção, e zangam-se ante a menor exposição em público da evidência na rápida mutação de sua pobreza particular nas adoções amealhadas nos poderes estatais, e sentem-se traídos quando os amigos sinceros alerta-os de que as iniquidades deles estão comprometendo como cúmplices os companheiros que se calam por solidariedade irrestrita na estima. Em política, o parente é a melhor coisa ruim na vida d’a gente. Em família, a mistura de parentes dos líderes na política acaba com a família e acaba com os líderes na política. A emendação dos plantios nas praças públicas e das colheitas nos quintais dos mandatários no poder, como se o Estado fosse uma propriedade particular deles, para uso e fruto das esposas, irmãos, cunhados, filhos, netos, sobrinhos e afins apanharem mandatos populares nas safras das eleições, gera o continuísmo absoluto que gera a corrupção absoluta nos governos. Não tenho o intuito de pôr carapuças em várias cabeças, mas o propósito de tirar as vendas de diversos olhos. A advertência bíblica é de que tudo tem o seu tempo. Tempo de plantar e tempo de colher. Esse é o tempo de devolver o ceifado nos eitos da corrupção. Nem é por princípio da honestidade, mas por questão da inteligência que as pessoas enriquecidas com o alheio devem aproveitar, enquanto é o tempo da regeneração, para reporem aos cofres oficiais o dinheiro público surrupiado para os armazenamentos da corrupção nas tulhas do patrimônio particular, antes que terá de devolvê-lo no tempo das expiações no látego das pestes espalhando mortes nas doenças, na lâmina dos martírios esfolando vivos nas tragédias, no arrastão das desgraças que já estão banindo espíritos nas amarguras do Apocalipse.
A VISÃO DOS DELIRANTES As mudanças avançam incontíveis e avassaladoras das reservas de poder no mercado político. A campanha eleitoral mostra que a quase unanimidade dos candidatos vagueia no vazio das ideias paradas no oco do néscio transparente no oportunismo que os deixa de fora da credibilidade geral e exclusos do respeito até por si próprios. Nos cartazes postos no chão dos canteiros ajardinados das praças, avenidas e ruas, todos estão sorridentes, quando, no momento atual, a imagem dos políticos junto ao povo não está para candidato sorrir, o que sugere a impressão que eles não estão sorrindo para os eleitores, mas, sim, rindo dos que votarem neles. Nos programas do TRE nas emissoras de televisão e de rádio, uns revelam de outros os desacertos que estão em todos eles, e, nesse troca-troca de acusações, a lembrança das faltas daqueles desperta a recordação das falhas desses. Alguns verberam tão enfurecidos a corrupção, que, a ser autêntico o furor moralista, não votarão em si próprios, pois, se eleitos, correriam o risco de tomar posse algemados. A moda em voga na marquetagem eleitoral é a da propaganda enganosa, quanto à competência de certos caça-votos, exímios na camelolagem da demagogia, para o exercício de mandatos populares. Notórios expoentes de nulidades espumantes nas babações do desconhecimento, fuçam os anseios do povo e prometem as soluções, para cumpri-las depois do nunca. Sequer imaginam em suas meias ideias a dimensão assustadora dos gigantesDiário da Manhã
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AS MÁSCARAS DA CORRUPÇÃO Quando a vida pública se prostitui nas corrupções, os efeitos nefastos aniquilam as migalhas de moral
cos problemas que estão à espera do próximo governador de Goiás. Enormidade mais espantosa, mede-se apenas na miniatura do espírito público na maioria deles. Falta-lhes no conjunto da sensibilidade o toque da intuição perceptiva na lucidez sã. Abreviados no tirocínio não viabilizariam a adequação da máquina administrativa do Estado aí viável no compatível com a arrecadação de impostos. Estrábicos na perspicácia, desastrarse-iam na perspectiva do descortínio do moderno, nas tentativas de desamarrar do atraso o amadorismo na administração pública para enquadrar a burocracia às prospectivas da meritocracia. Remover convicções obsoletas requerer mais astúcia que adestrar cavalos selvagens em pelo sem freios. Porções de candidatos devaneiam nas lucubrações do vácuo nas ideologias políticas, como as penas soltas das asas no voo flutuam nas ondulações do vento. Vivem na realidade paralela da mitomania. São uns visionários do empirismo fantasioso no hipotético desconectado do real. Entravados nas ideias fixas da megalomania, deslumbram-se com o espetaculoso nas burrices grandiosas na pretensão e amuam nos delírios do autoconvencimento como condutores de povo. Mas só a presunção é palpável no indurável da liderança. O poder fascina-os. Convencê-los de que estão passageiros na história é o mesmo que mostrar para um caminheiro cego o fim da estrada. A secura por votos em não tão poucas candidaturas reverbera alucinações de vitória assim como na inclemência tórrida dos desertos inóspitos a insolação cria imagem de água na visão dos peregrinos nos delírios da sede. Há muitos candidatos inaugurando promessas. A plataforma das soluções mirabolantes nas propostas simplistas de investimentos fantásticos nas prioridades do Estado é sonambulagem de pesadelos corporificados no imaginário dos que sonham nas eleições com a montagem de um projeto político da permanência deles no poder, não com o planejamento de um plano de metas de obras para o governo.
A RAZÃO DO ELEITOR DESMOTIVADO NÃO é a hora de candidato prometer construção de obras, mas de iniciar a destruir a sua corrupção construída. É hora de político passar a cumprir palavra e começar a reconstruir a sua honra destruída. O índice assustante na rejeição e envergonhante na aprovação da tendência de voto espelhada na amostragem dos institutos de pesquisas não reflete a razão explícita do contagiante desencanto na vontade de votar do povo nessas eleições. O eleitor não está indeciso. Está é desmotivado. O eleitor sente-se um náufrago escapando dos tubarões para uma ilha e olhando solitário o oceano à espera de surgir nos horizontes uma nau que não seja de piratas. Os votos de fidelidade nos matrimônios dos eleitores com os candidatos no altar das eleições foram quebrados pelos adultérios das alianças políticas nos acasalamentos dos partidos nas corrupções. O eleitor não está volúvel. Está é cauteloso. Os concubinatos de correligionários nos
amancebamentos com adversários, deixou o eleitorado desconfiado como o marido que foi traído pela esposa e separou-se; e casouse com outra, foi chifrado e largou; e partiu para o terceiro casamento, foi corneado de novo e mudou-se para um hotel de descasados; e assumiu o quarto matrimônio, foi enganado outra vez e passou a morar solteiro; e tentou a quinta vida conjugal, a consorte prevaricou e fugiu com o vizinho. Esse casadoiro tinha dependência de convívio familiar. Tinha. O doído das traições no lar fê-lo resistente a casamento. Em toda mulher, via nela uma das ex-esposas. Para voltar a acreditar nas juras de amor de uma namorada, a pretendente terá de dar provas muito especiais de vida casta. Assim está o eleitor. Desconfiado. Não acredita em promessa de político que morde a fronha da corrupção. Escoa-se o prazo da mudança moral nos arrependimentos. Urge a hora para a remoção das culpas no sudário das consciências. Escoa-se no perdão o brado para esvaziar o ódio do coração. Soam os sinos da remissão. O voto do eleitor no templo das urnas deve simbolizar uma oferenda cívica ao candidato que merecer um voto de confiança no altar da honra. O voto honesto é o fio da luz capaz de queimar a manta escura da corrupção que veste o Brasil. As eleições retratam na qualidade dos corruptos eleitos a quantidade de corrupção nos eleitores. Na abastança de todos nas elites está a abundância de bobos nas plebes. As pessoas são gente em todas as raças e não se classificam no caráter pelos rótulos das classes sociais e onde se qualifica o desonesto com o adjetivo de corrupto para ladrão rico e de ladrão o corrupto pobre. Rasgou-se o invólucro do conceito que encapava em separado a cumplicidade na omissão dos eleitores e a culpa na ação dos eleitos pelas corruptelas no poder.
A SOLDA DAS IMPUNIDADES A corrupção empoçada na solda dos séculos enferrujou as traves da impunidade na concha do mundo. Há escorrimentos de honras às bicas dos derradeiros anos. Cascas secas da vergonha soltaram-se nas roletas do jogo político. Percorre os ares uma mancha de incredulidade e empoeira de incredibilidade os políticos, os culpados e os inocentes, como se houvesse rompido uma bolha de lama e respingado pessimismo nos olhos da população. A expectativa apreensiva da iminência de que o imponderável espia-nos ronda os ânimos até dos mais otimistas. E não é sem causa real o desalento geral. A destruição é total no panorama moral. A propaganda eleitoral está uma festa do que resta no que não presta no banal. Nunca antes foi tão ruim assim como doravante. O péssimo que se presencia do inepto no nulo que prenuncia o acréscimo do patético no chulo. Um certo comitê está à mercê dos montinhos de atraso de uma criatura vaidosa que reduziu à sua caricatura uma candidatura valiosa. O quadro da reforma moral irá ficando cada dia mais aterrorizante para as pessoas que endividaram o espírito nas vendagens da honradez na subida para o enriquecimento vindo chorando do alheio e na perda
A VIDA MANDA-ME DIZER
Essas eleições são uma das bateias onde se irão separando as pedras preciosas dos cascalhos do garimpo da salvação humana. Do mesmo modo que os diamantes pegos com jaça são lapidados para se tornar joia pura, também os políticos eleitos com mancha serão burilados no sofrimento até o líder ficar limpo no caráter. Mas não esperem os próximos mandatos populares como vitrines de joias raras. O polimento ético dos candidatos será por etapa nas eleições e consentâneo com o burilamento cultural dos eleitores. Pior do que o que não sabe fazer é o que aprendeu errado o que faz. Endireitar mentalidades empenadas nas pessoas incrustadas no ignoto é como desentortar toras de madeira seca. Não há como realinhá-las sem lavrar as partes tortas. As abordagens superficiais na campanha eleitoral das questões cruciais e das soluções paliativas dão aos candidatos a imagem de nadadores com boia, flutuando à tona das águas em que se afoga o povo. Um piquenique de demagogias. Rouquejam, indignados, falácias sobre os zap-zaps das falcatruas que, às claras, causaram o apagão da Celg, com muitos deles dando choque uns nos outros nas altas voltagens da rede de transmissão das culpas. Um baile de máscaras. A corrupção dança a caráter do cinismo maquiavelista nos moralistas. A hipocrisia veste doçuras nos sorrisos das mordidas dadas e retribuídas aos adversários que foram correligionários e os correligionários que eram adversários. Um duelo de burros. As mesuras nos descuidos das pisadas intencionais desses nos calos daqueles. As genuflexões daqueles a esses nas cotoveladas desferidas nos esbarrões aleatórios. A sutileza nas mordacidades das trocas de gentilezas desses e daqueles entre eles. Nos prantos, as lágrimas dos crocodilos ao morderem as mandíbulas enquanto mastigam as vítimas. Nos afagos, os abraços dos tamanduás para matar os predadores. Nas ideias, a vagareza no cérebro dos passos da tartaruga. Um cangaço de calúnias. Políticos que a corrupção endinheirou em Goiás manejam o denuncismo como quem dispara a arma com a coronha apontada para o alvo e o cano voltado para o próprio peito. Fazem acusações que esborrifam corrupção na honra dos denunciados e espatifam corrupção na honra dos acusadores. Nas trocas de acusações dos candidatos nos sítios políticos da corrupção, muitas honras são destroçadas injustamente pelas infâmias das denúncias vazias, tão revoltante como nos confrontos dos traficantes nos pontos de drogas, muitas pessoas inocentes são mortas pelas balas perdidas. Um lenocínio da política. O cenário é melancólico na vida pública. Evoca Caiapônia na década de 1940, quando a rua Américo Fernandes era chamada de Rua de Baixo e tinha lupanares em todas as casas. Meretrizes saíam às janelas e ficavam se xingando de putas sempre que uma tomava de outra o fazendeiro que a mantinha por conta. De repente, pulavam para o meio da rua, rolavam aos tapas no chão até rasgarem as roupas, levantavam-se peladas e passavam a dizer gritando os nomes das amantes do prefeito, do juiz e do promotor no lenocínio. O delegado vinha e dava uma surra nas duas prostitutas. Se a campanha eleitoral continuar esse rendez-vous da corrupção, o eleitor vai começar a bater em candidatos. CONTINUA
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O JOGO DAS MENTIRAS A corrupção é a bactéria de uma peste transmitida no berço de gerações e se propagou contagiosa por respiração nas pessoas com baixa taxa de imunidade moral. Virou epidemia global e não há vacina prevista nos laboratórios do poder. O único antídoto é o caráter individual. Então não ponha o seu ódio nesse monte das aflições. Plante nele a sua rosa. Talvez o perfume dela traga alguém para ver de onde vem aquele sopro de amor e leve-o no coração. A corrupção é crônica nos ricos e pegou nos pobres. Não é mais hora de candidato mostrar o tempo todo a corrupção dos governos. Os eleitores já estão cansados de vê-la de priscas épicas no Brasil. A corrupção não cabe mais corruptos. Essa não é a hora apenas de parar de roubar. É a hora de começar a devolver o que roubou. O jornalista Hélmiton Prateado questiona-me, provocativo: — O senhor está dizendo que têm candidatos corruptos? — Não. Estou falando que olho ricos os que os vi pobres. Essas eleições estão barulhentas demais nos candidatos e caladas demais nos eleitores. O foco da propaganda eleitoral na corrupção como causa dos problemas que desestruturam o País é verdadeiro e incontestável, mas o enfoque divulgado das soluções é embromação eleitoreira de candidato que não sabe o que diz. O jornalista Ulisses Aesse ia passando, ouve, volta, senta-se e me contesta: — E lava-se com sabão a corrupção respingada da cachoeira nos políticos? — Eis uma questão que precisa ser discutida à luz da razão. A jogatina clandestina em que as autoridades teimam solucionar nos feitos sem resolver as causas. O povo brasileiro viciou ser manipulado por rótulos que etiquetam as mentalidades no inconsciente coletivo e mantém-se embotado na percepção intuitiva para o evidente. Criou-se o hábito de chamar de jogos
Diário da Manhã
ESPECIAL
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de azar, quando, em verdade, são jogos da sorte, pois todos jogam pensando em ter a sorte de ganhar e não azar de perder. — E como ficam os débitos morais dos frequentadores da devassidão no ambiente dos cassinos? — Ficam por conta dos moralistas.O jogo funcionou legalmente no Brasil até o governo de Getúlio Vargas, com os show business atraindo turistas estrangeiros e gerando empregos para os artistas brasileiros. Na década dos anos 40, o presidente Gaspar Dutra fechou os cassinos por imposição da primeira-dama, dona Santinha, carola católica fanática, que considerava o meio artístico um antro de depravação. — As casas de jogo viraram cafuas de contravenções. — O jogo não é proibido no Brasil, e só é contravenção porque não está regulamentado, como a Mega-Sena pela União para ser explorada pela Caixa Econômica Federal. Com a marginalização do jogo de bicho, os donos migraram para a modalidade caça-níquel e, no Rio de Janeiro,começaram a investir em outras atividades do crime, como o tráfico de drogas e armas,a exploração da prostituição e a formação de milícias,ou seja,houve uma passagem do jogo tradicional envolvido com futebol e carnaval para a grossa bandidagem. Isso levou as autoridades a protagonizar uma campanha de repressão generalizada aos caça-níqueis em todo o Brasil. — O jogo não é bem-visto pelas famílias em toda a sociedade. — Nas três Américas, apenas em Cuba e no Brasil o jogo é proibido. Com exceção dos países islâmicos, o jogo é legal nos Estados Unidos, Canadá, França, Alemanha, Portugal, Espanha, Inglaterra, Rússia e há cassinos funcionando em todas as demais nações. Punta del Este, no Uruguai, recebe mais turistas que o Brasil com Pantanal na Amazônia, com praias fabulosas em todo o litoral, com as águas termais de Caldas Novas e uma porção de paraísos de belezas inacreditáveis em todo o Centro-Oeste.
— Que força é essa que impede a presidência da República de enviar propostas legislativas para o Congresso Nacional legalizando o jogo no Brasil? — A corrupção nas faturas das propinas e das extorsões para os políticos, delegados, promotores, juízes, partidos. Nos EUA, os jogos foram confinados ao deserto, como Las Vegas, ou a outras cidades turísticas, como Atlantic City, e levaram um progresso fantástico a essas regiões, dizimaram totalmente as máfias e quem estava na clandestinidade se transformou em empresário regular. — E o Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Cachoeira,o crime dele? — O de contraventor, enquanto não for regulamentado o jogo. Ele foi grampeado pela Polícia Federal em 2006 e nos seis anos de gravações não se ouviu seu envolvimento com drogas, armas, prostituição ou algo semelhante. O erro foi ter-se envolvido com o jogo político. A CPI do Cachoeira foi uma manobra do Lula para atingir dois políticos de Goiás e gerar um escândalo que abafaria o do mensalão. Levantamento de uma entidade paulista que defende a legalização de jogos demonstra que a União, Estados e municípios perdem em torno de 30 bilhões de reais por ano com a não regulamentação dos jogos. Por esses 30 bilhões, dá-se para estimar o montante de impostos que os governos perdem para a arrecadação nas faturas das propinas e das extorsões. A política está uma roleta com pedras marcadas por todos os candidatos no jogo pelo poder no sorteio das eleições. Por isso, não abordam pelas causas e, sim, pelos efeitos as questões que, se resolvidas, mudam o Brasil. Não apresentam soluções práticas para os problemas. Vociferam contra os Cais cheios de doentes mal atendidos, as ruas da capital congestionadas de bandidos reincidentes e não percebem que a culpa não é dos médicos ou da polícia, mas dos empresários que sitiaram os entornos das metrópoles de polos industriais que precisam ser redimensionados, para que a população seja redistribuída para o mercado de empregos e boa qualidade de vida no interior. A culpa desse gargalo no progresso é do modelo político obsoleto transmitido nos mandatos populares como legado do patriarcado das lideranças, umas burras, outras oportunistas, a maioria refra-
tária à modernidade e identificada com o atraso do eleitorado, que vai para o espetáculo das eleições na mesma proporção do público que prefere o show de uma dupla sertaneja a um concerto de música clássica. A maioria dos candidatos se esqueceu no passado, de onde trazem planos de vingança nas metas de ódio. Reteram-se estagnados nas quedas do retrocesso para o fundão de suas ideias caducas. Voltem para seus fantasmas. Não está mais aqui aquele tempo de candidato mostrar os erros dos outros políticos. Chegou a época de não esconder os próprios erros. Denúncia de corrupção feita por candidato perdeu o charme, de tanto se ouvilas dos partícipes nos remelexos de desmandos num bocado de governos. O jornalista Ulisses Aesse retorna com uma dúvida coçando na curiosidade: — Ao defender a legalização do jogo do bicho e de caça-níqueis, o senhor não defendia subliminarmente a contravenção do empresário Carlos Cachoeira? — Absolutamente, não. Defendi a legalização dos jogos considerados clandestinos, por entender que os poderes públicos são os ninhos das corrupções que as autoridades julgam e condenam. Não acho justo, também, as pessoas cuspirem nas águas de Cachoeira com as bocas molhadas nos mananciais das confluências de deltas das corrupções. E tem outra coisa. Não bato nos que estão por baixo e apanham, nem mesmo nos que me espancaram quando estiveram por cima. E tem mais. Sequer leio os artigos escritos contra o Iris Rezende por quem se serviu dos governos dele. Têm cheiro de vingança na ingratidão. Mas esse é o jogo bancado nos bastidores da política. É mais nocivo à nação que os jogos clandestinos ao povo. É mais perigoso no pérfido oculto nas aparências que o contrabando de armas. É mais nefasto no tráfico de influências que no narcotráfico de drogas. E é mais repugnante na devassidão das honras que nas agenciações de moças e rapazes brasileiros para a prostituição na Espanha. Essa é a moldura de políticos que os eleitores devem descer o quadro deles das paredes do poder nessas eleições.
ONDE OS HORIZONTES NÃO SE DEITAM CRISTOVÃO MATOS
Antônio Gomide
S melhores jornalistas do Estado conhecem a política de Goiás como os que olham as montanhas ao longe ou estiveram nelas por trilhas de acampamentos diferentes. Eu percorri esse território montanhoso abrindo rumos nas vastidões desoladoras do jaguncismo político, escapando das armadilhas da ditadura militar e deixado sozinho muitas vezes, derrubado no chão das lutas da liberdade de imprensa. Conheci a solidão murada nas furnas. Senti o sol doído no seco dos espigões. Ouvi o chocalho de cascavéis no escuro das locas. Vi saudades me seguindo no coração. Estive onde a vida é um descuido da morte. Não há palmo sem o meu rastro nas pedras de cada ladeira desses cerros, ou caixa de marimbondo no alto dos morros que eu não tenha posto as mãos. Passei em todos os torrões escorregadios nos ermos da política em Goiás. Sei como nasceram os quintais das lideranças. Umas são enxertos dos galhos de uns troncos para outros. Muitas são sementes de diversos terreiros. Mas o chão é o mesmo em todos os quinhões. Por isso, os frutos diferem-se no sabor, uns azedos, uns amargos, uns doces. Mas o gosto de poder é igual no paladar de todos.
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A BALANÇA DO PESO REAL O eleitorado está apartado entre marconistas e iristas, crescente nos jovens moderados para o Marconi, mantido Diário da Manhã
CRISTOVÃO MATOS
Vanderlan Cardoso
PATRÍCIA NEVES
Alexandre Magalhães
nos velhos saudosistas para o Iris, com revoadas de inconformados para o Antônio Gomide, com debandadas de descontentes para o Vanderlan Cardoso. E o vaivém das defecções indo para a Marta Jane, chegando para Wesley Garcia, parando nas sobras para Alexandre Magalhães. Antônio Gomide é todo virtude no caráter, sucesso completo como administrador parcimonioso na Prefeitura de Anápolis. É um desses líderes políticos que o futuro gosta. Mas foi deixado sozinho aos eleitores pelo racha do PT nas cisões dos chefes do partido em Goiânia e com reflexos sugando votos para o Iris no Estado. O eleitor que desfalcou mais é o Paulo Garcia. O que faz a diferença positiva do Gomide é sua falta do ódio que congestiona o meio político atualmente. Ele destoa. Tem postura de príncipe e nobreza de estadista. Vanderlan Cardoso mudou a cidade de Senador Canedo. Fez de uma lagoa um oceano. O seu carisma magnetiza mais na vocação do empresário que na aptidão populista do político. Ouve muito e fala o necessário, o que é um traço característico da personalidade das pessoas que sabem o que quer e só mudam de opinião quando são convencidas no diálogo. Não é do feitio de Vanderlan o hábito de falar mal dos outros e não deixa ódio por onde ele passa. A competência e a eficiência empatam-se no seu arrojo e na sua dedicação em tudo o que faz e realiza como se fosse a coisa mais importante de sua vida. Contudo, há um detalhe que não lhe possa passar despercebido. A estratégia que irriga a sua candidatura escorre de uma cabeça seca de ideias. E será devido a estreiteza da intelectualidade desse
LÉO IRAN
Marta Jane
canal que poderá beber a derrota nas urnas. Existem pocinhos naturais de votos pingados dos vazamentos nas outras quatro candidaturas e que irão regrados no contagotas dos eleitores para a combativa Marta Jane, o rebelde Wesley Garcia e o insurgente Alexandre Magalhães. Esta é a pintura que a minha experiência, vivenciada na intimidade dos confins da política em Goiás, capta nas tintas da tendência de votos para esse domingo de 5 de outubro de 2014.
OS NINHOS DO DESTINO A lenda figura uma cegonha trazendo do Céu numa cuna de pano branco pendurada no pescoço toda criança que vai nascer na Terra. Imagino diferente. Tudo o que nasce no mundo está criado no todo da vida. A cegonha traz o número de votos dos filhos que a família terá. Vem um ovo de águia, raramente mais de um, e os demais são ovos de pavão, de pato, de canário, de joão-bobo, de galinha e de outras aves de voo curto. Para a família de Filostro Machado Carneiro e Genoveva Rezende Carneiro, a cegonha trouxe dois ovos de águia. O do Iris e o do Orlando. (Orlando Alves Carneiro era inexplicável. Só pode ter sido um ovo indez que a vida pôs para chocar no ninho do materialismo e na gema do gênio empresarial. Era um superdotado. Com olho de lince para enxergar tesouros que outros não viam. Com asas de condor para planar no cume dos horizontes no forro das distâncias que bandos adejam
A VIDA MANDA-ME DIZER
DIVULGAÇÃO
Prof. Wesley Costa
abaixo do teto delas. Com mãos de midas para transformar em ouro o que tocasse nos negócios. Criança com muito trabalho e pouca escola, tinha uma universidade de conhecimentos na intuição. Homem rico e cortejado, havia um franciscano na sua humildade. Orlando Alves Carneiro deve ter recebido outras asas para o voo que o levou ao eterno. As de anjo.) O Iris Rezende Machado tem muitos Iris nele. Tem o Iris que ama política. Tem o Iris que gosta de dinheiro. Tem o Iris que evita livros. Tem o Iris que detesta jornalista. Tem o Iris participante. Tem o Iris indiferente. Tem o Iris que adora estar nas multidões. Tem o que detesta ter perto dele quem lhe faça sombra. Tem o Iris muito afetivo. Tem o Iris rancoroso demais. E tem um Iris em todos esses outros Iris. É o Iris que não se mostra no Iris que é, no Iris que se vê. Enigmático. Em seu universo interior, somente ele é a estrela. Os demais são planetas gravitando no seu brilho, satélites sujeitos a eclipses, meteoros circulando instáveis, cometas resplandecentes nas caudas, que ele pode reduzir a poeira cósmica nas tempestades das mudanças no clima que orbita no seu interesse político. Um fenômeno ideológico. O nome Iris lhe é apropriado. Explica o mistério de seu poder de irisação, que é a propriedade ótica de decompor a luz e produzir várias cores visíveis ao olhar. Por isso, ele faz o mesmo discurso para esquerdistas, direitistas, ditadores, democratas, católicos, evangélicos, espíritas, ecologistas, devastadores e é aplaudido com igual entusiasmo. Mas há um detalhe ainda mais impressionante CONTINUA
Diário da Manhã
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CRISTOVÃO MATOS
Marconi Perillo pode vir a ser o primeiro goiano presidente da República do Brasil
em seu enigmatismo. A tocha do carisma de Iris tem a luz que ilumina os que lhe agradam e o fogo que reduz às cinzas os que lhe contrariam, com tal perspicácia, que irradia a aura de vítima nele e reflete a mancha de algoz no defenestrado. Não existe como se cruzar pela história do Estado de Goiás sem encontrar o Iris Rezende Machado. Vindo pelo chão, esbarra-se numa obra pública construída por ele em todas as léguas dos sertões compridos do interior e de quilômetros a quilômetro na capital. Indo pelos céus, vêse a presença dele como o mais votado para vereador, prefeito, deputado estadual, governador, ministro da Agricultura, senador, ministro da Justiça, governador de novo, prefeito novamente de Goiânia e voando no coração do povo por anos. E se verá o seu pouso forçado no mandato de Goiânia e estacionado na suspensão de seus direitos por anos na ditadura militar. Nem o espaço da sua trajetória. O presidente José Sarney tentou decolar a candidatura de Iris como seu sucessor na reabertura democrática; Ulysses Guimarães, presidente nacional do PMDB, fechou o tempo contra. E se candidatou. Iris Rezende Machado é um perceptivo que se antecipa até nas trapaças do destino. No período da sua cassação foi atacado pela Síndrome de Estocolmo, décadas antes de ela ser diagnosticada na Europa Oriental, como transtorno de personalidade de quem apaixona-se pelos inimigos e passam a odiar os amigos. Iris era pobre. Ficou possuído pela ideia fixa de ser rico. Conseguiu. Na campanha eleitoral, em 1990, sofreu um acidente de carro em que o motorista morreu e ele não tinha como sair vivo. Saiu salvo da morte no hospital pelo médico Otoniel Machado e com o irmão nascido para a política em seu coração. A gratidão se transformou em idolatria. A síndrome e a idolatria seriam dois adversários no psicológico do Iris. Um no pensamento do empresário na cabeça e um no sentimento do político com o irmão no coração. O empresário passou a ouvir as vantagens dos familiares e menos os interesses dos eleitores. O apogeu no empresário criou o perigeu para o político. O efeito veio imediato e fulminante. Iris Rezende perdeu as duas eleições seguintes para Marconi Perillo. Não é Marconi Perillo quem derrotou o Iris Rezende em 1998. Foi o Otoniel Machado. Ele era suplente de senador do irmão e gostou demais do Senado. O governador Maguito Vilela estava imbatível na reeleição. Otoniel passou a injetar notas ofídias ao Maguito na imprensa e, simultaneamente, assédios ao Iris nas emoções sentimentais para renunciar ao cargo de ministro da Justiça e se candidatar a governador de Goiás. Iris resistia à ideia. Virou uma romaria peemedebista insuportável. Cedeu. Ao começarem as articulações para montar chapa majoritária, o nome de Marconi foi indicado pelos santilistas: Otoniel vetou cabal. Preferiu-se Diário da Manhã
uma chapa de copa e cozinha. Iris Rezende para governador e para vice Romilton Moraes, primo do Maguito. Para senador Maguito Vilela e para suplente Iris Araújo, mulher do Iris. Maguito foi eleito e arrastou a Iris. Marconi elegeu-se e Iris foi arrastado para a derrota. A repercussão foi tão impactuosa para os peemedebistas goianos como seria para os cearenses amanhecer um mar no agreste de Inhamuns, ou para os mineiros o queijo acabar em Minas Gerais. O baque tremeu os soalhos de Iris. A procissão jogou o santo no chão. Um escândalo encheu as ruas. Estouro a bomba do desvio dos cinco milhões da Caixego para cobrir gastos da campanha. O Ministério Público Federal provou o ilícito na Justiça e Otoniel foi preso pela Polícia Federal. Teve um acidente vascular cerebral no ato e foi internado às pressas no Hospital Neurológico. Saiu demensiado. Uma tragédia para a família. Dolorosa para uma pessoa cheia de vida como Otoniel. Uma tristeza que veio para ficar chorando dentro do Iris. É um mundo que foi embora e permanece presente. Coisas assim é de cada um ver no que pode ajudar. Todos no sangue do Iris acharam que teve um dedo do Marconi por trás na ação do MPF. Não teve. Marconi sofreu muito. Presenciei seu desespero. Mas nessas horas é compreensível a busca de culpas no véu das dúvidas. Hélio Telho é indomável. E criou-se uma bolha de ódios na família pelo Marconi. Os ódios encoscoraram no Iris e na Iris o sentimento de pôr Marconi na cadeia para se vingarem da prisão de Otoniel. Sinto-me mal estar entre ódios. Sabia que as futricas que levavam do Marconi para o Iris eram as mesmas intrigas que traziam do Iris para o Marconi. O Marconi sofria muito ao carregar uma culpa que não era dele. O Iris sofria demais ao ver o irmão carregando aquele calvário. Peguei o Marconi no Palácio das Esmeraldas e levei para a cobertura do Iris no Solar dos Buritis. O encontro, cordial. A conversa, amável. A paz durou pouco. Veio a campanha eleitoral de 2002. A Iris ganhou
para deputada federal e o Iris perdeu para senador. Marconi foi reeleito para governador e Maguito não se elegeu para senador. Reabriram-se os focos de mexericos. O ambiente recapeou-se de vinditas sinalizadas por iristas demarcando os pontos onde as maldades seriam mais ferinas. Azedaram-se os ânimos nas honras espancadas. Trabalhando mutirões de rancores, a plataforma da campanha eleitoral de Iris, em 2010, centrou-se na meta de revide total a tudo que fosse favorável ao governo do Marconi. Era a aliança dos ódios do poder contra o moço da camisa azul. O ódio do Iris na Prefeitura de Goiânia. O ódio do Alcides no governo do Estado. O ódio do presidente Lula no governo federal. Marconi venceu apertado. O ódio, neles. A paz, nele. “O mal trabalha contra si mesmo” (página 190 do livro Doutrina Viva, ditado pelo espírito de Francisco Cândido Xavier e psicografado pelo médium Carlos A. Baccelli). Iris Rezende, derrotado, trancou-se no silêncio. Iris Araújo, eleita deputada federal, foi para o palco da CPI do Cachoeira e ficou muda durante o depoimento do governador Marconi Perillo, mas o deputado Armando Vergílio, atual candidato a vice de Iris, votou favorável ao Marconi. O ano de 2012 virou martírios no pelourinho do denuncismo para Marconi Perillo e o gólgota de quatro cirurgias na coluna cervical para Iris Rezende. A História mostra. O ódio destruiu todo líder que o cometeu no poder. A Iris é dotada de muitos pendores, mas não os da sensibilidade política. Tem grandes prendas como pessoa. Li o seu livro Dona Iris (história de vida e de política, passeios literários e receitas para cozinhas com amor). Respeito o Iris. Visitei-o quando estava em repouso em sua cobertura e fazia exercícios de fisioterapia com um personal trainer para se recuperar da operação na hérnia de disco e voltar a andar normalmente. Enfrentou a bengala por uns dias e voltou inteiro nos passos. Quando ouvi o berrante do Júnior do Friboi na solenidade de sua filiação do PMDB, fiquei CRISTOVÃO MATOS
Iris Rezende
A VIDA MANDA-ME DIZER
com a impressão que os eleitores do Iris estavam indo para o curral do carrancismo político e alertei-o que estava caindo do cavalo. Gente não é gado. Que come sal no cocho, castra-se, engorda no capim, vende-se, o lucro fica no frigorífico e prejuízo na fazenda. Disse-lhe que os fracos caem e se agacham nas forças e que os bravos se levantam mais fortes das quedas. O médium João de Deus chamou-me a Abadiânia e pediu-me para trazer uma garrafa de água magnetizada para o Iris e dizer-lhe para tomar uma dose diariamente, a fim de evitar uma doença. Depois recebi uma mensagem do Fábio Nasser, psicografada pela médium Mary Alves, endereçada a ele e entreguei. Perguntei pela água, não tinha tomado. Preocupei-me pelo Iris. Senti uma carga pesada de ódio pairando no ar do comitê. E não voltei mais. Telefonei na semana seguinte e preveni-o para pôr o Daniel Vilela como seu vice, e não o outro. Respondeu que levaria em consideração o alerta. No outro dia, anunciou a chapa atual. O dinheiro decidiu. Ou a conjunção dos ódios pelo Marconi Perillo. Ódio! Ódio! Até quando as pessoas se destruirão por si neles? O Marconi Perillo baterá o recorde histórico como o governador de Goiás reeleito pela quarta vez. São os ventos da mudança varrendo o mal até não restar nenhum nada encoberto. Os julgadores serão os julgados. O suor alheio virará lágrimas na face dos hipócritas. Os opulentos conhecerão o prato vazio. Consciências gemerão nos remorsos. O desperdício comerá as farturas do supérfluo. Os que vendem a fé cristã nos templos serão cobrados. Será a hora das colheitas do ódio e dos plantios do perdão. Os que usam leis para se vingar ou perseguir experimentarão o que fazem na Lei de Causa e Efeito. A reeleição de Marconi Perillo para o 4º mandato de governador de Goiás no primeiro turno não depende da vontade expressa nas pessoas. Está consumada na decisão oculta nas almas. Ouvirão o tempo das mudanças falar na voz das urnas o que eu disse agora. Segundo turno é leilão do governo para os candidatos rejeitados pelos eleitores. É o estupro do poder pela corrupção. Ao cair na bolinagem das alianças, vai-se o governo para o bordel. Partilham-se os altos escalões para os beneficiários dos compromissos de campanha antes da posse, e o eleito assume deixado do lado de fora do seu governo no início do mandato. E obrigase a aguentar calado a carga dos sofrimentos doídos na honra em que não se pode sequer gemer, para não passar a imagem de bobo. Os concubinatos políticos às portas de eleições e celebrados no começo dos governos foram sempre a causa das amarguras dos governadores no fim dos mandatos. Eram. O segundo turno transferiu para o princípio dos mandatos as agonias dos governadores. A vida pública está uma alcovitagem. CONTINUA
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A MORTE NA VIDA E A VIDA NA MORTE A memória volta-me à lembrança de uma cena espetaculosa que assisti quando era menino no córrego Lageado, na fazenda Paraíso, em Caiapônia. O sol a céu aberto no azul, o verde na várzea de um lado e o castanho do Cerrado de outro, sentei-me no barranco de um poço, abaixo de uma cachoeira, e fiquei ali, trazendo poemas do coração e meditando de onde vinha aquela saudade que me levava para viver um sonho. O silêncio confidenciava quietude. Súbito, o tempestuoso. As águas deram cambalhotas no poço. Olhei, aluído de susto. Uma sucuri tinha pego uma capivara. Enlaçou-a com voltas sobre o corpo, apertou por um tempo e começou a engoli-la viva pelo traseiro. A capivara movia a cabeça, dava arrancos no corpo, batia as patas sem parar. E sumiram debaixo de uma moita de capim sobre uma loca. Demorei assuntando. Às vezes, via-se a ponta do rabo da sucuri à mostra nas ondas da água. Ouvia-se, às vezes, um barulho fofo dentro da loca. O crepúsculo tonava o ocaso. Montei-me no pedrêsinho e chispei para casa. O sono levou a minha noite para aquela contenda da morte querendo a vida na sucuri e a vida não querendo a morte na capivara. A manhã chegou comigo contando o caso para os peões Bento Francisco Borges e Joaquim Tobias. Saíram ligeiro para o local e voltaram logo com mantas de gordura da sucuri. — Atiraram na cabeça? — A sucuri estava morta. Aquele ipêamarelo de beira da loca caiu em cima dela. — E a capivara? — Não tinha nenhuma capivara lá. — Eu vi a sucuri começar a engolir uma capivara. — Dentro da sucuri, também não havia capivara. Dias depois revisitei o lugar. Gostava da calma na paz dele. A capivara caminhava, magra, andava e comia cocos no buritizal, parava e olhava para os lados, seguia e pastava folhas de ramos, notou a minha presença, correu devagar e mergulhou no poço. Beirando o tempo de um ano, saí para campear e passei lá. A capivara tinha oito filhotes e brincava com eles. Minha avó Felisbina Joséfa dos Santos buscoume para estudar na cidade. Dois anos depois, a saudade de minha mãe Tanila Romana dos Santos trouxeme para a fazenda Paraíso. Uma semana após, falei que ia panhar mangabas e fui ao poço. A capivara estava com uma manada de filhotes, uns grandes, outros médios, alguns pequenos, e ela pareceume estar mojando. Estava. No ano seguinte, mais capivarinhas. Anos a anos, uma profusão tão prodigiosa de capivaras, tantas, que não há sucuris que dessem conta de comer tantas. A vida venceu na capivara a morte na sucuri. Quando menos se espera, o bem derruba sempre o mal, como o inesperado tombo daquele ipê sob aquela loca. E evocação do caso remorado sugereme a semelhança com um fato memorável. O poço, a CPI do Cachoeira. A loca, o mensalão. A sucuri, o Lula. A capivara, o Marconi. A prole das capivarinhas e das capivaronas lotando os prados, as obras do governador enchendo o Estado. Omar Carneiro era o cardiologista inigualável que a Medicina perdeu no psiquiatra genial. Conversávamos no dia da morte de Alfredo Nasser e ele, consternado, falou: “O Nasser foi, com certeza, o líder político mais sábio de Goiás e, talvez, o que morreu mais pobre”. O tom de sua voz ressoou em meus ouvidos a palavra honrado no sentido dado por Omar ao pronunciar pobre. O tesouro de Alfredo Nasser era o que a inteligência acumula do conhecimento nos livros. Todas as pessoas sabem que vão morrer e que pode ser no minuto seguinte desse dia. E fico me perguntando: Até quando os que têm poder irão juntar riquezas, se Jesus Cristo teve mais poder que todos os poderosos juntos na Terra e morreu pobre? E me respondo: é a pobreza espiritual. Toda vez que você sentir ódio, você é pobre. Toda vez que você não perdoar uma ofensa, você é pobre. Toda vez que você negar a ajuda que pode dar, você é pobre. Toda vez que você matar um bicho, você é pobre. Toda vez que você desperdiçar comida, você é pobre. Toda vez que você comer uma fruta e não plantar a semente dela, você é pobre. Toda vez que você prometer e não cumprir, você é pobre. Toda vez que você falar mal de alguém, você é pobre. Toda vez que você não disser o que pensa ou sente, você é pobre. Diário da Manhã
Diário da Manhã
ESPECIAL
GOIÂNIA, SÁBADO, 4 DE OUTUBRO DE 2014
Toda vez que você mentir, você é pobre. Toda vez que você não der bom exemplo, você é pobre. Toda vez que você fizer com outros o que não gostaria que lhe fosse feito, você é pobre. Toda vez que você opinar sobre o que não entende, você é pobre. Toda vez que você reclamar de um sofrimento, você é pobre. Toda vez que você recusar uma propina e se arrepender, você é pobre. Toda vez que você denunciar a corrupção praticada por outro e que a tenha cometido também, você é pobre. Toda vez que você se intrometer na vida de outros, você é pobre. Toda vez que você não tiver coragem de declarar publicamente os nomes dos candidatos que vai votar, você é pobre.
bate contra a corrupção e foi engessada pelo PT e todos os demais partidos aliados nas bancadas do Congresso Nacional, mas tenho a esperança de que, sendo reeleita, reiniciará o expurgo dos corruptos no poder. O Lula é o Fernando Henrique Cardoso inculto e o FHC é o Lula erudito.
Para senador, o meu voto é para Ronaldo Caiado. Ele não rouba, não mente e não trai. Quando a conjura autoritarista da cúpula do governo de Iris Rezende, em 1984, mandou uma ala do Poder Judiciário e fechou o Diário da Manhã, Ronaldo Caiado foi a única voz que se ouviu e o único ato que se viu de um líder que empunhou o mastro da bandeira pela reabertura do jornal. Foi muito bravo como o articulador que levantou o empresariado goiano para se insurgir contra o massacre financeiro do Diário da Manhã e com o propósito exclusivo de banir-me do jornalismo.
Governo: Marconi Perillo
Presidência: Dilma Rousseff
Para presidenta da República, vou votar na Dilma Rousseff. Foi torturada na ditadura militar e não se tornou uma pessoa amarga, nem usa essa condição para posar de mártir. Defende a liberdade de imprensa e reage democraticamente às críticas das opiniões contrárias. Começou o seu governo no com-
Para governador, votarei no Marconi Perillo. Iniciou o atual mandato imprensado pelo cumprimento dos compromissos de campanha no segundo turno e acuado pela guerra psicológica de que, se perdesse, o Iris ia tentar pô-lo na cadeia, para se vingar da prisão do irmão Otoniel Machado. Percebi que, tão logo pôde, começou a se desvencilhar do esquema, passou a realizar o maior volume de obras, com melhor qualidade, que todos os ex-governadores. Tenho esperança de que Marconi componha o próximo governo com os escalões do quadro de auxiliares formado de expoentes com competência técnica específica para cada função e gabarito para ser ministro. Marconi Perillo deve haver percebido que essa é a postura de estadista que dará a Goiás a oportunidade de vir a ser o primeiro presidente da República na história. Marconi Perillo não trabalhou com o ódio na campanha eleitoral.
Senado: Ronaldo Caiado
Para deputado federal, meu voto será para Giuseppe Vecci. Capacitado em conhecimento técnico e eficiente em administração moderna, tem competência para debater na tribuna da Câmara Federal, ou nas comissões especializadas, todas as questões da burocracia que estrangulam a administração e de implantar a meritocracia nos serviços públicos. No período em que o governo perseguia-me, Giuseppe Vecci homenageou-me com a Biblioteca Batista Custódio na sua Faculdade Cambury.
Símbolo norte-americano é universal e traduz a expressão da Liberdade, a bandeira suprema do jornal Diário da Manhã
Deputado federal: Giuseppe Vecci
Para deputado estadual, meu voto é para o coronel Macário. Honesto, destemido e trabalhador, foi injustiçado quando era subcomandante da Polícia Militar de Goiás, ao ser preso pela Polícia Federal na Operação Sexto Mandamento. No comando do Batalhão Florestal, enfrentou a bandidagem dos crimes contra o meio ambiente em todo o Estado, tendo, inclusive, confrontado-se com os devastadores do Rio Araguaia, desde a cabeceira até a confluência com o Rio Tocantins.
Deputado estadual: Coronel Macário
Nada em minha vida é secreto. Sou o que sou o mesmo que sou em tudo que faço como cidadão e como jornalista. Meus valores são propriedades intocáveis no mundo dos sonhos. Podem roubar-me as flores do quintal, mas não me roubarão o canto do galo nas madrugadas. Podem levar-me o último prato, mas não me levarão o azul dos céus. Podem impedir-se de ter um jornal, mas não me impedirão de ficar com liberdade de opinião no peito. Podem privar-me de tempo para ir conhecer Paris, mas não me privarão de ver o vento de agosto jogar folhas secas no chão das estradas. Podem proibir-se do que quiser, não me proibirão de nada. Podem destruir-me o sossego na pessoa, mas não me destruirão a paz na alma. Agora, vou depositar um poema no coração da Marly.
BC A VIDA MANDA-ME DIZER
FIM