Diário da Manhã
OPINIÃOPÚBLICA
GOIÂNIA, SEXTA-FEIRA, 29 DE JULHO DE 2011
OPINIÃOPÚBLICA Editora: Sabrina Ritiely
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CANÇÃO SOZINHA À LIBERDADE Batista Custódio Especial para OPINIÃOPÚBLICA
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UITOS bebem etílicos para aguentar a angústia das traições amorosas. Outros bebem alegrias nas festas para esquecer a felicidade que foi embora nas saudades que ficaram crescendo na tristeza. Tantos bebem alívio no Prozac para sobreviver ao tédio matando na alma. Uns bebem ilusões nas conversas de bares para curtir os sonhos não vindos na vida. Eu bebo música para suportar as decepções na solidão das lutas. Todos têm a sua hora na canção sozinha da desarrumação íntima e cada um se acode a seu modo no sentimento que o isola daquela sofreção. Às vezes o mundo nos dói insuportável nas perdas inevitáveis. Mas devemos bendizer a tritura dos infortúnios, pois os trouxemos na escrita do nosso destino. Portanto, no bem que se mostra antes pode se esconder o mal que se revelará depois, ou estar no que nos sacrifica hoje a nossa salvação amanhã. As quedas nas adversidades são fases salutares para o nosso aprimoramento nas etapas das subidas no roteiro do triunfo para a nossa consagração. Então as percas são mais intensas ou menos consistentes na existência humana. Mas cada pessoa padece com a mesma densidade as flagelações e cada qual reage na medida do grau da resistência de seu feitio moral.
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EU ofício é o idealismo sem pausa e escravo das virtudes do caráter sem alforria no trabalho dificultado na construção da liberdade de imprensa. Não culpo a ninguém pela reincidência das armações de reveses que quase me destroem no rigor das atrocidades. Debito-me o amargor das agonias como provações que terei de beber solitariamente na taça das ideias que me romantizam na voluntária excludência das tentações dos poderes terrenos, vencidas uma a uma por esse cativo espontâneo do Cristianismo.
Nasci herdeiro de latifúndios e cresci rejeitando riquezas na vocação jornalista; vivi a paixão na imprensa e perdendo mulheres no coração; morrerei na imprensa independente e suspirando dores nos sonhos feridos. Não mando na minha vida. O destino decide-me. O que me vier para a pessoa é o que Deus quiser de mim no espírito. Como chama ao sopro dos ventos, vou respirando a liberdade incorporado na inspiração, e o pensamento faz-me condor voando poemas no que sou gente.
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jornalismo é o meu ninho habitado nas asas viajando nos infinitos da mente e bebendo conhecimento nos sábios pousados no teto da posteridade. Não fico parado no meu tempo. Arrebato-me para a companhia do jornalista Giovanni Battista Líbero Badaró, participo de sua luta pela Independência, frequento em 1829 a redação do jornal Observador Constitucional denunciando na primeira edição “os desmandos e os excessos cometidos pelos governantes” e advertindo que “não deveria vegetar no Brasil a planta do despotismo”. Emociona-me a leitura de um artigo de Líbero Badaró em defesa da liberdade de imprensa. Manteve-se idealista republicano até ser assassinado em São Paulo por ordem do imperador Pedro I e tombou dizendo: “Morre o liberal, mas não morreu a liberdade.”
Michelangelo A criação das estrelas e dos planetas
de Março de ser editado. E o mantive circulando durante os oito meses de dentro do Cárcere do DI. “As melhores coisas sobre a liberdade têm sido escritas no cárcere” (Sófocles – Atenas, 406 a.C a 495 a.C –, festejado como o maior poeta trágico da Grécia Antiga e autor da obra-prima Édipo Rei. Filósofo, acreditava que o homem está no centro do mundo e no poder invisível dos deuses). Na democracia, o autoritarismo de um governo goiano coagiu um juiz de direito a decretar a falência do Diário da Manhã. O jornal foi fechado, mas não fecharam o sonho da imprensa livre na minha cabeça. “Onde mora a liberdade, ali está a minha pátria” O jornal que (Benjamim Franklin – Boston, 1706 a 1790 –, jornalista, tirava o sono escritor, cientista, inventor, líder da Revolução Americados corruptos na, fundador do Almanaque do Pobre Ricardo e expoente Os dias são frações do do Iluminismo). tempo na facção dos mandatários impositivos. Um liberdade é o oxigênio governo estadual prendeuda vida e nenhum pome e fechou o Cinco de vo é soberano se não está liMarço na ditadura militar. vre para pensar. Os luminaReabri-o. Ao sair a primeira res da inteligência honesta edição, o coronel-governa- nas civilizações definem a dor mandou oficiais da Po- independência de opinião lícia Militar empastelarem como a ética da cidadania. as oficinas do semanário “Só conheço uma liberque tirava o sono dos cor- dade, e essa é a liberdade ruptos às segundas-feiras e do pensamento” (Antoinematarem-me. Reconstituí o Jean-Baptiste-Roger Foscoparque gráfico. Dois outros lombe de Saint-Exupery – governadores prenderam- Lion, 1900 a 1944 –, piloto me para impedir o Cinco herói da Segunda Guerra
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A minha imagem de Deus é Luz
Mundial e autor de O Pequeno Príncipe). “Quando a imprensa não fala, o povo é que não fala. Não se cala a imprensa. Cala-se o povo” (William Blake – Londres, 1757 a 1827 –, poeta, marcado pelo Iluminismo e pela Revolução Industrial da Inglaterra; sua literatura era romântica e denunciava a negatividade da Igreja Anglicana e do Estado ante a pobreza e a injustiça social; atualmente é reconhecido como um santo pela Igreja Gnóstica Católica). “A imprensa é o dever da verdade. A busca da verdade é a meta principal da imprensa. A imprensa é a vista da Nação. Por ela é que a Nação acompanha o que lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa e se acautela do que a ameaça” (Ruy Barbosa de Oliveira – Salvador, 1849 – Petrópolis, 1923 –, o gênio e o estadista empatavam-se na sabedoria e no idealismo na grandeza humana de sua biografia como o resumo que sintetiza a retidão da coerência entre os atos e as palavras do civilismo na história da república brasileira. Nas duas derrotas como candidato a presidente ou nas vitórias como senador, ministro ou no exílio,
Ruy Barbosa foi o monumento universal do apogeu da inteligência na vida pública dos líderes brasileiros e, pelo brilhantismo de sua eloquência no voo das ideias na 2ª Conferência de Paz de Haia, foi condecorado com o título de Águia de Haia. Fisicamente, a sua cabeça era desproporcional ao corpo, como se nele a vida quisesse demonstrar para as pessoas que a única função do corpo é a de carregar o cérebro na cabeça. Jornalista enciclopédico do idioma português, seus textos para a imprensa eram no estilo de escritor no Jornal do Brasil, no Diário de Notícias e no Imprensa, e, sobretudo, respeitado como mestre pelos intelectuais que o elegeram para suceder Machado de Assis na presidência da Academia Brasileira de Letras).
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S pensadores é que movem o mundo do atraso para a modernidade, através da clarividência dos filósofos do descortínio dos sábios do pensamento, para as descobertas dos inventos dos cientistas. “A imprensa é a artilharia da liberdade” (Hans-Dietrich Genscher, ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, consagrou-se como um iluminado focado na irradiação da liberdade como a única forma prática de soberania para todos os povos. Promoveu a pacificação entre a Alemanha Oriental e a
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“É tão impossível eliminar a força das ideias nos idealistas quanto seria fazer a sombra de uma pessoa tapar a luz do Sol.”
Alemanha Ocidental e reunificou o país. Genscher atuou decisivamente junto ao presidente soviético Mikhail Gorbachev na implantação da política que libertou do colonialismo russo as nações da União Soviética. A Humanidade lhe deve a página que abriu o mundo na Conferência sobre Segurança e Cooperação Europeia. A arma de Genscher foi o poder das ideias de paz fulminando o ódio entre os povos na imprensa).
A imprensa é o 4º poder A partir da descoberta de Johannes Gutenberg, o jornalismo é o monumento dos libertadores acima da percepção de jornalistas que se fatiam à dominação bronca do governismo e reduzem o apostolado do pensamento livre e futilizam-se no aluguel de opiniões sem ideias nos balcões profissionalizados na compra e venda de mercadorias de utilidade perecível no consumismo doméstico. E, por isso, jornalistas que se mercadejam no oportunismo das facilidades à mesa dos governantes, engordamse e se emburrecem, como se não possuíssem cabeça e coração e tivessem apenas o estômago no corpo. Falecem-se na credibilidade pública ao se abdicarem do maior dos poderes que fascinam as civilizações no curso da humanidade na transição das épocas para o novo tempo das mudanças históricas da evolução na Terra. “A imprensa é o quarto poder” (Edmund Burke – Dublin, 1729, a Beaconsfield, 1797 – Seus conceitos do sublime e belo despertaram a admiração de Kant, Diderto e Lessing; a sua atuação como membro da Câmara dos Comuns, da Inglaterra, tornou-o um notável da vida pública em sua época. Articulou no parlamento a independência da Índia do jugo britânico e transformou-se num dos maiores oradores de seu país ao defender a independência para a América do Norte e ali surgisse um povo livre. O seu pensamento influenciou o estadista brasileiro José da Silva Lisboa, que publicou Estratos, obra inspirada em Reflexões, de Edmund Burke).
A imagem acima foi pintada por Akiane (foto) aos 8 anos de idade. A impressionante obra recebeu o
sa uma nação é inteiramente liberta. “A liberdade é um dos dons mais preciosos que o Céu deu aos homens. Nada a iguala, nem os tesouros que a terra encerra no seu seio, nem os que o mar guarda nos seus abismos. Pela liberdade, tanto pela honra, pode e deve aventurar-se a nossa vida” (Miguel de Cervantes Saavedra, autor de Dom Quixote de la Mancha, eleito no ano passado pela elite da intelectualidade internacional como o melhor livro do mundo. Precisa dizer mais?). Mas “A liberdade de imprensa é talvez a liberdade que mais tem sofrido pela ideia da liberdade” (Albert Camus – Mondovi, 1913, – a Villeblevin, 1960 –, escritor e filósofo francês nascido na Argélia e seu pensamento mudou o desenvolvimento do país após a RevoCrítica elege lução Francesa. Graduado o melhor livro em Filosofia, ao ler seu livro O Estrangeiro, Sartre escreOMENTE no espaço da veu dizendo que o autor era autonomia da impren- uma pessoa que ele gosta-
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nome de Príncipe da Paz. Ela conta que passou um ano à procura de um modelo para a imagem de Jesus Cristo. Uma noite – lembra a menina – ”me tranquei no quarto e pedi a Deus para me mostrar Jesus, na manhã seguinte este homem bateu na porta da minha casa, era um carpinteiro, e disse que seria o modelo para meu quadro”. Reconhecida como prodígio por importantes instituições de ar-
ria de conhecer. Ao receber o Prêmio Nobel de 1957, Albert Camus fez um derrame de ideias renovadoras e demolidoras das amarras ideológicas do liberalismo e do comunismo. Era um livre pensador). A história mostra que necessariamente o verdadeiro jornalista é escritor inato, com sede de conhecimento e riqueza de erudição, e não basta a bula que rotula o diploma. “A única profissão para a qual não se precisa de nenhum título de formação é a do idiota.Para as demais é preciso estudar.Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma” ( Joseph Pulitzer – Makó, 1834, a Charleston, 1911 –, jornalista e editor dos Estados Unidos e legenda mundial do pensamento como escola da liberdade na formação de jornalistas. A sua resistência a todos os tipos de pressões, tanto dos núcleos do governo quanto
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te nos Estados Unidos e na Europa, tudo que sabe ela aprendeu sozinha. Para a família dela é um mistério, mas para Akiane a resposta é simples, atribui todos seus talentos a Deus. Já escreveu dois livros de poesia, um deles é o best-seller mundial Akiane: vida, arte e poesia e o outro Meu sonho é maior que eu. Hoje seus quadros originais chegam a valer de US$ 5 mil até US$ 3 milhões.
ampla produção de poemas, de romances, de peças de teatro e através de Os Sofrimentos do Jovem Werther tornou-se famoso na Europa, o mais importante do Classicismo de Weimar e sua obra influenciou a literatura mundial). Mas é preciso ser mais. “A liberdade significa responsabilidade, é por isso que tanta gente tem medo dela” (George Bernard Shaw – Dublin, 1856 – Ayot St. Laurence, 1950 –, escritor esplendoroso no estilo e crítico respeitado da arte e da música; autor durante os tempos de guerra da peça Hertbrake House, retratando a sua amargura e desesperança em relação à política e à sociedade. Com o final da 2ª Guerra Mundial, produziu cinco peças, destacando-se entre elas Saint Joan e Back to Methuselah, e recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1925. O peso de seu nome na fama mundial influenciou os membros do comitê Fabian Society a eliminar o rigor da censura na dramaturgia e de fundar o teatro subsidiado. O escritor Bernard Shaw foi um desmantelador dos redutos de resistência à liberdade de pressão no poder). “Uma imprensa livre pode, é claro, ser boa ou má, mas uma sem liberdade é sempre má”, adverte Albert Camus. “Prefiro ouvir o barulho da imprensa livre ao silêncio das ditaduras”, concordou Dilma Rousseff no seu pronunciamento na posse da presidência do Brasil.
dos grupos econômicos, e a corajosa investigação dos focos de desmandos foram Liberdade é ser fundamentais para a vitória e consolidação da liberdade de moralmente bom imprensa. O povo norteamericano, e cujo símbolo Á na liberdade a espátrio é o monumento com sência com a subsa estátua à Liberdade, condecora o seu nome com tância da mesma energia maior premiação à imprensa cósmica que move o Universo. É tão impossível elido país, o Prêmio Pulitzer). minar a força das ideias nos idealistas quanto seria fazer a sombra de uma Resistência às pessoa tapar a luz do Sol. “A imprensa, tal qual o pressões oficiais fogo, é um excelente servidor,mas é um terrível amo” sentimento da liber- (James Cooper – nascido dade é a angústia em Burlington, imortalizoueterna do espírito bradan- se como escritor que fodo o anseio do vir a ser no mentou a importância da íntimo da pessoa. civilidade e da decência “Só é digno da liberdade, moral dos homens nas tercomo da vida,aquele que se ras livres e no lar dos bravos. empenha em conquistá-la” Autor de O Último dos Moi(Johann Wolfgang von Goe- canos, a ficção em obras lithe – Frankfurt, 1749 – Wei- terárias captou a atmosfera mar, 1832 –, escritor, pensa- do romantismo das fronteidor, cientista, importante ras americanas como neintelectual da literatura ale- nhum outro escritor). mã do Romantismo euroO jornalismo é a turbina peu e notabilizou-se por sua na oficina das ideias.
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OPINIÃOPÚBLICA “A liberdade custa muito caro e temos ou de nos resignarmos a viver sem ela ou de nos decidirmos a pagar o seu preço” (José Martin – 1853 a 1895 –, herói nacional de Cuba e mártir da independência em relação à Espanha. Poeta, escritor, orador e jornalista, seus ideais são mantidos no país até hoje como o maior defensor da liberdade da ilha, onde é uma espécie de hino o seu pensamento de que “A liberdade é um direito que todo homem tem de orar, e a pensar e falar sem hipocrisia. É preferível o bem de muitos que a opulência de uns poucos”). Positivamente, o jornalista necessita ser atento para não manchar o santificado no pecado da tendenciosidade de opinião. “A imprensa é como as torrentes: enfurece-se e adquire mais força contra obstáculos” (Charles-Bernard Renouvier – 1815 a 1903 –, filósofo francês, autor de 11 livros e sua crença era de que a liberdade é um ato afirmando que temos de ser moralmente bons e se recusou a ocupar cargo público). “A imprensa é a imensa e sagrada locomotiva do progresso.Pode-se resistir à invasão de exércitos, não à invasão de ideias” (Victor Hugo, jornalista que previu a Unidade Europeia e projetou a criação de um jornal, com o nome de Diário, programado para circular em todos os países da Europa. Fundou a revista Conservador Literário e sensibilizou Dom Pedro II no ideal republicano. Romancista e poeta, é autor de Os miseráveis, de O Corcunda de Notre Dame e de 25 livros que compõem a coleção das boas bibliotecas, além de poemas reunidos em Odes e Poesias Diversas e em cujo estilo Castro Alves bebeu o condoreirismo. Ardente de liberdade, fez oposição ao Segundo Império de Napoleão 3º, viveu em Jersey, Guernsey e Bruxelas e foi um dos raros a recusar a anistia decidida anos depois. Com a morte da filha Leopoldina, afogada por acidente com o marido no Rio Sena, Victor Hugo viveu experiências espíritas, relatadas no livro As Mesas Moventes de Jersey. E, de acordo com seu último desejo, foi sepultado em um caixão humilde no Panthéon após ter ficado vários dias exposto sob o Arco do Triunfo.
A recusa de ocupar cargos públicos O propósito da liberdade de imprensa com responsabilidade é o combustível da máquina do
“A vida pública é vadia se está órfã do pensamento livre.”
Ishaq al Kindi
Sófocles
Péricles
Aristóteles
Krishna
Spartacus
Horácio
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zentas mil pessoas na marcha pelo fim da segregação racial em Washington e proferiu o discurso Eu tenho Sonho, que inspirou a lei dos Direitos e a lei dos Direitos de Voto, recebeu o Prêmio Nobel da Paz. Vaticinou: “Se eu soubesse que o mundo terminaria amanhã, hoje ainda plantaria uma árvore. Se um homem não descobriu nada pelo qual morreria, não está pronto para viver.” E foi assassinado a tiros por um opositor em um hotel de Memphis, onde se encontrava apoiando uma greve dos coletores de lixo. Passou para a História dos Libertadores como o Mártir Rei das Lutas contra a escravidão humana e cravou a verdade cristã de que “Temos de aprender a viver todos como irmãos ou morreremos loucos. É melhor tentar, ao invés de sentarse e nada fazer. É melhor falhar, mas não deixar a vida passar. Eu prefiro na chuva caminhar, do que em dias tristes em casa me esconder. Prefiro ser feliz, embora louco, do que viver infeliz em conformismo.” O meu entendimento é de que o líder que não passa pelas prisões por crime da opinião nas ditaduras não entra para a história. “A prisão não são as grades, e a liberdade não é a rua. Existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência” (Mohandas Karamchand Gandhi – Porbundar, 1869 – Nova Déli, 1948 –, conhecido
como Mahatma Gandhi, libertou os indianos do jugo da tirania dos ingleses sem revidar os tiros e disparando apenas ideias. Foi idealizador e fundador do moderno Estado indiano e o maior defensor do Satyagraha, princípio da não-agressão e a forma não-violenta de protesto como um meio de revolução, que inspirou as gerações ativistas da liberdade, como Martin Luther King desafiando a Ku Klux Klan nos Estados Unidos e Nelson Mandela enfrentando o apartheid na África do Sul).
desenvolvimento. “Eu acredito que o seu objetivo é mudar o mundo, o jornalismo é a arma de resultado mais rápido” (Tom Stoppard, nascido há mais de 70 anos na República Checa, dramaturgo que se tornou conhecido do grande público em 1998 pela sua colaboração no filme Shakespeare in Love. Ele sempre dá sinais de independência nas entrevistas concedidas à imprensa e define o texto como a transcrição de um evento que ainda não aconteceu).
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vida pública é vadia se está órfã do pensamento livre. “A política é a ciência da liberdade” (Pierre-Joseph Proudhon – Besançon, 1809 – Passy, 1865 –, filósofo e membro do Parlamento Francês, estudioso do latim, tornou-se conhecido por sua afirmação de que “a Propriedade é Roubo”. Pelo menos no patrimônio da quase totalidade dos políticos brasileiros, os milhões em dinheiro das riquezas são vindos dos centavos das pobrezas. “A vaidade pergunta: isso é popular? A consciência pergunta: isso é certo? O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-caráter, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons” (Martin Luther King Jr). Em 1963, esse apóstolo da liberdade irrestrita para todas as raças, que levou mais de du-
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O que mais preocupa é o silêncio dos bons
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evidência clássica de que o governo se lambuza na corrupção é a adoção da censura econômica na distribuição da publicidade oficial, regrando as verbas de propaganda, não para divulgar as obras, mas para cortar do noticiário os fatos comprometedores dos atos nos negócios públicos. “Mais custa manter o equilíbrio da liberdade do que suportar o peso da tirania” (Simón Bolívar – Palácios, 1783 a 1810 –, estudioso de História, Literatura, Matemática e do idioma francês; o herói da América Latina, libertou a Bolívia, Colômbia, Equador, Panamá, Peru e Venezuela do colonialismo da Espanha e implantou as bases ideológicas na maioria da América Hispânica).
“Sou visceralmente democrata. Para mim, a liberdade é algo fundamental. Ninguém pode ter outro interesse se não o de que se consolide o regime de liberdade, sem o qual não há nação que possa qualificarse de civilizada. Meu sonho é viver e morrer em um país em liberdade” (Juscelino Kubitschek de Oliveira – Diamantina, 1902 – Resende, 1976 –, morto à noite em uma viagem de conspiração da Frente Ampla, seu corpo ascendeu a insubordinação civil nas praças públicas de São Paulo, de Belo Horizonte e seu sepultamento em Brasília foi também o começo do velório da ditadura militar). “Um povo forte não precisa de um líder forte. É preferível morrer em pé do que viver de joelhos” (Emiliano Zapata – Anenecuilco, 1879 – Morelos, 1919 –, camponês mestiço, liderou a inconformação popular contra o ditador Porfírio Duaz, foi preso e, após ser solto, Zapata organizou uma rebelião com Terra e Liberdade, formada por um grupo de indígenas e camponeses, e repartiu as terras dos latifúndios improdutivos. Foi morto a tiros pelas tropas do governo e imortalizou-se como herói nacional do México). “Jurei morrer pela liberdade, cumpro a minha palavra” (Felipe dos Santos Freire – 1680-1720 –, tropeiro e representante das camadas populares, instigou em Vila Rica a revolta pela
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“A liberdade de imprensa é onde se reúnem todas as outras liberdades nas ideias de mudança do pensamento independente.”
OPINIÃOPÚBLICA Independência do Brasil, foi capturado, enforcado e seu corpo amarrado em quatro cavalos e despedaçado).
O poder das ideias “A democracia é o governo do povo, pelo povo, para o povo. Um boletim de voto tem mais força que um tiro de espingarda. Os que negam liberdade aos outros não merecem liberdade” (Abraham Lincoln – HodJoana D’Arc genville, 1809 – Washington, 1865 –, presidente dos Estados Unidos, acabou com a Guerra de Recessão e aboliu a escravidão negra). “O segredo da felicidade está na liberdade; o segredo da liberdade está na coragem” (Péricles – 459 a.C. a 500 a.C. – Atenas –, líder de caráter forte, sóbrio, incorruptível, reservado, orador fascinante, governou a Grécia Antiga por 14 anos e tornou-se famoso pelas obras públicas realizadas, destacando-se o Parteno (templo da deusa Atena), o Benjamin Franklin Propileus (monumental portal e única entrada da Acrópole ateniense), a Muralha Lon- Matemática e Filosofia na ga, entre Atenas e o Perigeu (o Universidade de Coimbra, foi mais incisivo: principal porto da cidade). “A imprensa é talvez o meliberdade de imprensa lhor remédio e corretivo do é onde se reúnem to- abuso de outras liberdades.” O jornalista Mino Carta, das as outras liberdades nas ideias de mudança do pen- que dirigiu as equipes de Quatro Rodas, Jornal da samento independente. “A liberdade de imprensa Tarde,Veja, IstoÉ e é diretor não faz sentir o seu poder de redação de Carta Capiapenas sobre as opiniões po- tal, garante: “Não vamos esmorecer líticas, mas também sobre todas as opiniões dos ho- na nossa crença de que o mens. Não modifica somen- jornalismo é algo que se faz te as leis, mas os costumes. com espírito crítico, frisanAmo-a pela consideração do o poder.” Humberto de Campos Vedos males que impede, mais ainda do que pelos bens que ras, escritor, jornalista, articuproduz” (Alexis Henri Char- lista do Correio da Manhã, é les Clerel – Tocqueville, 1805- autor de Memórias e de Diá1859 –, pensador político, es- rio Secreto.Elegeu-se deputacritor francês, tornou-se fa- do federal pelo Maranhão e moso por suas análises da perdeu o mandato com o feRevolução Francesa. Celebri- chamento do Congresso Nazado como Alexis de Tocque- cional pela Revolução de ville, um dos mais ilustres fi- 1930. É um dos luminares lósofos do século das luzes e, mais dedicados ao Brasil na embora consagrado pela Espiritualidade e, em 1938, diposteridade como homem tou o livro Brasil, Coração do de letras, sociólogo da demo- Mundo,Pátria do Evangelho, cracia moderna, a sua obra psicografado pelo médium mais citada é o livro Da de- Chico Xavier, recomenda: “Prefira afrontar o mundo mocracia na América). Para Konrad Hesse – Kali- servindo à sua consciência,a ningrado, 1919 – Freiburg, afrontar sua consciência pa2005 –, juiz do Tribunal ra ser agradável ao mundo.”
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Constitucional Federal da Alemanha, escreveu A Força Normativa da Constituição, trazido para o português por Gilmar Ferreira Mendes: “A imprensa é um dos meios importantes de crítica e controle público permanente.” Mariano José Pereira da Fonseca, Marquês de Maricá, ministro da Fazenda de Dom Pedro I e formado em
As letras são mais fortes que as armas
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pensamento tem em si o potencial da luz dos relâmpagos e traz na energia das ideias a força que dá às palavras a fulminância dos raios.
Francis Bacon
Filipe dos Santos Freire
Voltaire
Jean-Jacques Rousseau
Edmund Burke
Johann Wolfgang von Goethe
Johannes Gensfleisch, nascido provavelmente em 1397, conhecido como Gutenberg, criador do processo de impressão com tipos móveis, de chumbo, considerado o pai da imprensa, publicou várias edições do Donato, percebeu que havia descoberto nas 26 letras do alfabeto o poder mais forte que os governos: “A imprensa é um exército de 26 soldados de chumbo com o qual se pode conquistar o mundo.” Napoleão Bonaparte – Ajaccio, 1769 – Santa Helena, 1821 –, líder militar durante os estertores da Revolução Francesa, estadista que encheu com sua biografia a história do mundo como imperador por 10 anos da França, talentoso e culto, o Código Napoleônico estabeleceu a hegemonia francesa sobre a maior parte da Europa. A invasão da Rússia marcou uma virada na sorte de seu poder. Napoleão abdicou e foi exilado na ilha de Elba; fugiu, retornou ao poder e foi derrotado na Batalha de Waterloo. Passou os últimos seis anos de sua vida confinado pelos ingleses na ilha de Santa Helena, onde a causa de sua morte foi anunciada haver sido por câncer no estômago, embora a versão mais corrente ateste envenenamento por arsênico. Poucos chefes de Estado enfrentaram tantos exércitos contrários quanto ele, mas Napoleão Bonaparte temia enfrentar mais a um costado da imprensa que um fortifi-
cado bélico: “Três jornais hostis devem ser mais temidos que mil baionetas.” É mesmo. As balas dos canhões têm autonomia de alcance à curta distância em à projeção ao espaço atingido pelo pensamento. “Pode-se resistir à invasão de exércitos, não à invasão de ideias” (Victor Hugo).
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AS a dimensão da liberdade não se mede na amplitude do ato de ir e de vir de um lugar para outro, e, sim, se estende na dimensão do gesto nos passos do que deixou o seu rastro levando e trazendo a liberdade nos tempos. “Liberdade é o oxigênio da alma” (Woody Allen, nome artístico de Allan Stewart Königsberg, cineasta, roteirista, escritor, ator, jornalista e músico, premiado com o Oscar, o Globo de Ouro, o Grammy e com o Palma no Festival de Cannes. Gênio). A libertação é onde a emoção humana se limpa no sublime do espírito. “Mas onde se deve procurar a liberdade é nos sentimentos. Esses é que são a essência viva da alma” (Johann Goethe). “Que nada nos define. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância” (Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir, a Simone de Beauvoir – Paris, 19081986 –, escritora, filósofa existencialista e feminista, escreveu romances, monografias sobre política, filoso-
fia, sociedade, ensaios, biografias e a autobiografia).
A desonra do jornalismo Ser e viver livre é o grito incalável no íntimo da pessoa. Contudo, “Muitos são os homens que falam de liberdade, mas poucos são os que não passam a vida a construir amarras” (Gustave Le Bon – 1814-1931 –, psicólogo social, sociólogo, físico francês e sua obra serviu de base para estudos e pesquisas sobre as reações dos grupos subordinados à mídia. Seus livros A Evolução da Matéria, Psicologia de Grupo e Análise do Ego mexeram com a intelectualidade mundial. Suas ideias exerceram influência no escritor Monteiro Lobato e foram profundamente discutidas por Sigmund Freud).
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XISTE no subconsciente dos néscios a ânsia patética pela busca compulsiva do absurdo no sublimado do inconcebível, como seria o pássaro arrancar com o bico as penas das próprias asas durante o voo. “É um estranho desejo, desejar o poder e perder a liberdade” (Francis Bacon – Londres, 1561-1626 –, líder político, filósofo, é considerado o fundador da ciência moderna. Alquimista e considerado o real autor dos manifestos Rosacruzes, muitos acreditam que Bacon havia escrito as peças
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OPINIÃOPÚBLICA de William Shakespeare, uma teoria especulativa e surgida há séculos na denominada Questão da Autoria de Shakespeare). A imprensa é o engenho da liberdade que tanto pode moer inocentes e culpados e deixá-los aos bagaços da honra na calúnia, na difamação e na injúria. “Uma calúnia na imprensa é como a relva num belo prado: cresce por si mesma” (Victor Hugo). Por isso, o jornalista precisa tratar o texto como sendo onde as ideias rezam nas letras as palavras. E corre-se o risco de ser blasfemada a verdade dos fatos ou vilipendiados os conceitos de comportamento. E incorrese num desastre moral. Pois reerguer a honra de uma pessoa atingida por uma opinião impressa danificada é mais difícil do que reaprumar um edifício destroçado em sua base. “A lei da liberdade não é outra que a lei da caridade. A primeira liberdade é não ter pecados graves” (Santo Agostinho). E os pecados graves cometidos contra a credibilidade da imprensa por jornalista formador de opinião são a calúnia, a difamação e a injúria, que são filhas, irmãs, mães, avós da mentira, que é a madrasta do jornalismo desnaturado.
Honestidade e conhecimento. O resto é supérfluo
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E o jornalista é uma pessoa, é pouco. Tem de ser a humanidade nele para ser o todo. Se tem muita inteligência, não tem nada. Tem de ter cultura literária, histórica, filosófica, científica, para ter tudo. Se faz popularidade, fezse no anonimato. Tem que ter prestígio, para ter fama. Se construiu fortuna, destruiu-se. Tem que possuir caráter, para se construir na história. “Quem não soube viver com pouco será sempre um escravo” (Quinto Horácio Flaco – Venúsia, 65 a.C. – Roma, 8 a.C. –, filósofo e consagrado como um dos maiores poetas líricos da Roma Antiga e o deus da Poesia). “O escravo é um homem livre se dominar os seus apetites. O homem livre é caso corra atrás dos seus sonhos” (Ishaq al-Kindi – Kufa 801 – Bagdade, 873 –, hoje Iraque, destacou-se como filósofo, cientista, astrólogo, astrônomo e cosmólogo,
“Quem desconhece a si próprio, conhece o vazio.”
William Blake
Georges Jacques Danton
Napoleão Bonaparte
Marquês de Maricá
Simón Bolívar
James Fenimore Cooper
Giovanni Battista Líbero Badaró
Victor Hugo
“A verdadeira liberdade é um ato puramente interior, como a verdadeira solidão: devemos aprender a sentirnos livres até num cárcere,e estar sozinhos até no meio da multidão” (Massimo Bontempelli – 1878-1960 –, romancista italiano que definiu o mundo em uma janela aberta na mente e um pensador que foi ao infinito da inteligência humana). Sobretudo, “A liberdade não só em seguir a sua própria vontade, mas às vezes também em fugir dela” (Kobo Abe – 1924-1993, Tóquio –, dramaturgo primoroso autor de Mulher nas Dunas e O Homem que se Transformou. De formação marxista, interessou-se pela fusão da estética surrealista com a ideologia marxista. Autor de peças de teatro e o cinema de vanguarda, e dos livros Poemas de um Poeta Desconhecido, O Casulo Vermelho, Quarta Era Glacial Intermédia). “Tudo que somos incapazes de dar nos possui” (André Give – 1869-1951 – Paris –, formado em Letras e Filosofia, jornalista, é autor de Os Frutos da Terra, aVolta do Filho Pródigo, fundou Nouvelle Revue Française, que foi uma das revistas de maior prestígio na Europa. Escreveu Os Subterrâneos do Vaticano e recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1947). “Vencer a si próprio é a maior das vitórias” (Platão, o sábio da Grécia Antiga, o gênio que instituiu a liberdade como regime político em A República).
Quem desconhece a si próprio, conhece o vazio. Só o que vai aos defeitos em seu interior, chega à sua vitória lá fora. O melhor percurso para destruirmos os monstros de nosso íntimo é mantermos encontros com nós mesmos no isolamento das meditações ao fundo do silêncio. É para onde me levo e trago-me todos os dias. Sou eu em mim sempre e jamais outros comigo.
químico, matemático, músico e médico. Tornou-se figura iminente na entidade Casa da Sabedoria, desenvolveu estudos sobre o fabrico de relógios e instrumentos de astronomia e ficou célebre no desvendamento dos fenômenos naturais). A pessoa não penetra e conquista o Universo se não decifrar os próprios mistérios e vencer a si mesma. “Há momentos infelizes em que a solidão e o silêncio se tornam meios de liberdade” (Paul Valéry). “A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se é impossível viver só, nasceste escravo” (Fernando Antônio Nogueira Pessoa – Lisboa, 1888-1935 –, um dos maiores poetas da Língua Portuguesa e da literatura mundial. Escritor, editor e crítico, das quatro obras que publicou, três foram traduzidas, dentre elas Almada Negreiros, e são de leitura obrigatória no Planeta). “A falta de liberdade não consiste jamais em estar segregado,e,sim,em estar em promiscuidade, pois o suplício inenarrável é não poder estar sozinho” (Fiódor Dostoiévski – Moscou, 1821 – Petersburgo, 1881 –, uma das renomadas personalidades da literatura russa e fundador do Realismo. Jornalista, criou duas revistas e foi colaborador dos principais jornais. Dostoiévski em si é uma biblioteca e autor de livros de leitura obrigatória, como Crime e Castigo, O Idiota, Os irmãos Karamazon,Os Demônios).
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A
liberdade de imprensa é o meu ideal aceso. Admiro Millôr Fernandes como uma inteligência estelar. Mas discordo dele de que “Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”. Jornalismo assim é tendencioso e nele “Rara é a pessoa capaz de pesar os defeitos dos outros, sem botar um dedinho na balança para causar um pouco mais de peso” (Carlos Lacerda). “A imprensa é o dever da verdade” (Ruy Barbosa). Por mais que os governos fecharam meus jornais ou o Palácio das Esmeraldas volte a fechar o Diário da Manhã, manterei o rosto enxuto das lágrimas que estarão molhando-me no suor do trabalho do sonho que, se tiver de ser, será ainda que nasça nas minhas cinzas a semente que vier da liberdade de imprensa. A imprensa é a ferramenta da liberdade indobrável no tórax das ditaduras e, se temperada no idealismo, é colete que a covardia não trespassa a coragem nas costas dos libertadores.
O sonho no aceno dos românticos não se esfarrapa na mão dos materialistas. Quando dois governos trancaram o Cinco de Março, com os cadeados da censura no regime militar, e um outro governo do Estado fechou o Diário da Manhã, com as chaves da Justiça na democracia, não quedei-me esmorecido na esperança sangrando-se na desventura, e recolhi-me do abatimento das forças humanas para as energias emanadas da alma: “Quando encontrares em Deus a tua delícia, será livre” (Santo Agostinho). E lavo-me nas orações de todo pó que me forem mandando, os de sentimentos inferiores: “O mal trabalha contra si mesmo” (Chico Xavier). Via a minha solidão no meio de todos. Olhava o Cinco de Março e o Diário da Manhã, lacrados e não circulando por ordenação dos três governadores, e enxergava os dois jornais diferente ao ver dos outros. Percebia neles caídos duas árvores derrubadas carregadas de frutos e confortavame constatar nos frutos jogados ao chão, ainda que de um, só um tem as sementes que germinariam a florada da minha quimera. A desolação em volta, o sonho povoa-me. A paz na alma. A paz na consciência. A paz no coração. A paz na injustiça feita. A paz do que perdoa. A paz da renúncia à dor nas feridas.
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Diário da Manhã
OPINIÃOPÚBLICA
GOIÂNIA, SEXTA-FEIRA, 29 DE JULHO DE 2011
OPINIÃOPÚBLICA A paz da felicidade no sacrifício. A paz do que exerce o dever da liberdade. A paz do justo na vida. A paz do que não se deserta das dificuldades que o espírito veio sofrer para não se render às amarguras do corpo. A paz no espírito que cumpre a sua missão no jornalismo. A paz da Fé Inteira em Deus. A paz da coragem cívica no medo individual. A paz íntima na certeza de que não morre em mim a imprensa matada nos jornais. A paz do que sabe que o espírito não vai com o corpo para a sepultura, e, por isso, não se prende às coisas terrenas:
"O Diário da Manhã não é a minha marca. É o selo da História"
Alexis de Tocqueville
Abraham Lincoln
Pierre-Joseph Proudhon
Charles Bernard Renouvier
Fiódor Dostoiévski
Liev Tolstói
Machado de Assis
Gustave Le Bon
montanhas da censura econômica e, como soldado que cai de pé com a bandeira da pátria nas mãos levantadas, saí das ruínas com o pavilhão da Liberdade, hoje hasteado no Diário da Manhã, mostrando para a sociedade o gosto da liberdade – e quem prova o seu sabor, não a esquece e jamais aceita viver sem o paladar das liberdades públicas.
ideal de defender os humildes escravizados pelos deuses das metrópoles, para que os bairros sejam tratados como cidades com vida própria e não como favelas agregadas às periferias urbanas e recebendo esmolas dos centavos de milhões que lhes são arrecadados nos impostos. Mexe-se na gestação do ClassiServiço o nascimento do MercadoFácil, para inovar os jornais de anúncios das ofertas de oportunidades e de publicações obrigatórias pela lei. O Diário da Manhã é o continente da liberdade proclamada, mas não é uma colônia libertária dos que maquiam na libertinagem o ponto de vista. Abomino ataques pessoais e renego o denuncismo. Sempre que um colaborador resvala-se sobre a honra alheia, chamo-o para uma conversa reservada e advirto que “Nenhum homem é livre, se não sabe dominarse” (Pitágoras, o matemático da Grécia Antiga, soube definir com maestria a equação da honra). Ato contínuo, alerto o articulista que “A calúnia é como a relva num belo prado: cresce por si mesma” (Victor Hugo). E ao fim do diálogo, pondero que não sou censor, portanto não me obrigue vir a público em artigo assinado recriminando a tendenciosidade que emporcalha o alto nível da linha editorial da opinião fundamentada nas ideias e no elevado do conhecimento específico em ciência, em filosofia no
A ferramenta indobrável ao tórax das ditaduras “Se não voltarem é porque nunca as tive” (Bob Marley – St. Ann, 1945 – Miami, 1981 –, cantor, músico, poeta, que ouço no canto das minhas meditações seus versos): “Os ventos que às vezes nos tiram algo que amamos,são os mesmos que trazem algo que aprendemos amar... Por isso não devemos chorar pelo que nos foi tirado,e,sim, aprender a amar o que nos foi dado.Pois tudo aquilo que é realmente nosso,nunca se vai para sempre... Se Deus me enviou à Terra para uma missão, só Ele pode me deter, os homens nunca poderão. Os homens pensam que possuem uma mente, mas a mente é que os possui. Há pessoas que amam o poder e outras que têm o poder de amar.”
E não me apiedo de mim ante os dissabores que me são impostos pelos governos impunes. Faço a aceitação de que “A impunidade gera a audácia dos maus” (Carlos Lacerda). Nessas horas que as maldades do autoritarismo alimentam-se forte demais, não me cedo à imersão nos martírios; alteio-me do plano deles para as dimensões do alado e imaginome na última entrevista, O Poder do Povo, de John Lennon (Liverpool, 1940 – Nova York, 1980 –, a cabeça pensante dos Beatles e assassinado com cinco tiros em 8.12.1980 pelo fã Mark Chapman que, horas an-
tes, pedira um autógrafo ao Lennon, e recito esta sua canção à vida): “Amo a liberdade, por isso deixo as coisas livres. Se elas não voltarem é porque não as conquistei.” E deixo o destino seguir comigo para onde quiser no que está escrito no desígnio da vocação. O jornal está no papel. O Diário da Manhã é o jornalismo escrito dentro de mim, quase que como uma doença crônica da imprensa. Vim impregnado do útero pela livre manifestação das ideias e irei pelo direito da sociedade de expressar a sua opinião até ao ventre da terra, subindo e descendo, sem deixar cair do alto da minha legenda as páginas da liberdade aberta em todos os jornais que dirigi: o Aure-Verde, no Colégio Ateneu Dom Bosco; o Luneta, na Escola de Agrimensura; o Cinco de Março; o Tribuna Livre; o Cinco de Março ao voltar; o Diário da Manhã, quando o Diário da Manhã foi fechado. E não apenas reabri esses jornais ante o açoite contrário do autoritarismo oficial, mas também ergui o monumento das mudanças da imprensa nessa terra de bois pisando nos livros dentro da cabeça dos dirigentes dos negócios na política e da política nas negociatas. E foi afogado nos oceanos do despotismo, que estive ardendo no fogo das perseguições encasteladas nos espetos do poder. Rolei sob a opressão das
A manjedoura da liberdade
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Diário da Manhã não é a minha marca. É o selo da História. É o ar no pulmão da liberdade solta no espaço do pensamento. É a sangria do sentimento escorrendo nas tintas de impressão. É a palavra falando nas letras de fôrma. É a independência se distribuindo isenta nas edições. O Diário da Manhã é o sonho feito na realidade de muitos jornais nascendo em seu berço no chão duro das secas financeiras, mas com o sal da vida tirando o insosso em todos os partos das crias da liberdade de imprensa. Nasceu o OpiniãoPública na paternidade das cabeças voltadas para o mundo, a fim de as elites pensantes escolarizarem as mentes precárias de conhecimento. Está nascendo o Força Livre na manjedoura santa do
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tema abordado para ilustrar de erudição aos leitores. Nunca concluo minha ponderação ao autor que se extrapola na falta de decoro, repetindo o quanto sinto-me constrangido ao ser exposto ao dilema ou de publicar ou de vetar um artigo, e explico ao interlocutor a causa: “Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o último instante seu direito de dizê-la” (Voltaire – 1694-1777, Paris – François-Marie Arouet, conhecido Voltaire, de ideias do Iluminismo, literato de grande sucesso com a tragédia Édipo, de Cartas Filosóficas; sua obra de 70 volumes era lida em toda a França; vários monarcas pediam seus conselhos. Voltaire fervoroso combatedor de todas as formas de intolerância, um dos principais inspiradores da Revolução Francesa, membro da Academia Francesa de Letras, empresário bemsucedido e um dos pensadores mais influentes do século 18 em toda a Europa).
Irmãos da liberdade
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IVE a sorte de conviver com um amigo. Alfredo Nasser. Éramos um e outro no ideal à liberdade. Ele trazia mais de mim em si. Eu levava mais dele comigo. Sentíamo-nos irmãos siameses no sonho da vitória nas lutas contra a corrupção. A mocidade abrindo-me no jornalismo. A maturidade agigantando nele o filósofo no político e superando o sábio no texto
Diário da Manhã
OPINIÃOPÚBLICA
OPINIÃOPÚBLICA do jornalista no genial orador nominado pelas multidões nas praças públicas como “campeão das liberdades públicas”. Quanto mais alto lhe viesse o poder, tanto mais humilde o encontrava. Batido pela intermitência de infartos que lhe consumiam a resistência física, possuía a coragem cívica dos bravos e proclamava: “O maior inimigo do homem é o medo: a suprema libertação é a libertação do medo. Em meio a todas as ânsias, a todas as incertezas, a todas as angústias, a todas as aflições, a humanidade sempre aceitou a consoladora ideia de que a vida não termina nesse mundo. Acredito que não termine.” Inteligência isolada no altiplano do conhecimento, não se sentia sozinho na desoladora planície oposicionista. Encorajava os companheiros que temiam a valentia do jaguncismo político apagando a luz da liberdade à sombra do Estado Novo em Goiás. Quando capangas do governo mataram o jornalista Haroldo Gurgel na Praça do Bandeirante e um cidadão escreveu na parede do prédio do Lord Hotel frontal ao então lote vazio baldio na esquina: Aqui tombou um moço em defesa da liberdade de imprensa, todos se admiraram de como apenas aquele homem acendeu a faísca da chama que se propagou na alma goiana e Alfredo Nasser fez o incêndio da liberdade com uma frase que, depois, inseriu no artigo: “Um homem só? Sim, um simples homem, desamparado de amigos, um simples cidadão da rua. Há milênios o sangue escorre dos pulsos da Humanidade, para que um indivíduo anônimo, um só na multidão, possa ser respeitado pelos detentores do poder, na sua pessoa, nas suas prerrogativas, na sua propriedade, na sua vida. Ele tem até o direito de não morrer de fome.” Para o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues: “A liberdade é mais importante que o pão.”
“O jornalista livre não serve ao interesse de ninguém,mas trabalha coletivado ao sentimento de independência para todos.”
Nietzsche
Joseph Pulitzer
Ruy Barbosa de Oliveira
José Martí
George Bernard Shaw
André Gide
Mahatma Gandhi
Carl Gustav Jung
Nasser fez uma pausa, e concluiu: “Nosso dever, como defensores das liberdades públicas, é testar a própria sinceridade no amargor das grandes verdades. Como nós mesmos, o Cinco de Março esperneia. Vez por outra é o filho que pede contas aos pais. Pode não ter saído ao nosso jeito, nem à nossa vontade. Mas é o filho gerado nas lutas em que nos empenhamos, certos de sairmos delas como símbolos dos que redimiram a sua terra do erro, da violência e da corrupção.” Fez-se no recinto aquele silêncio em que as pessoas se envergonham de si ao serem flagradas rasgando a bandeira que flamularam na oposição ao governo do Estado, querendo bater com o mastro dela quando no poder da Prefeitura de Goiânia. A liberdade emudeceu na imprensa de Goiás, em 1954, com o assassinato do jornalista Haroldo Gurgel, do semanário O Momento, e só voltou a ser ouvida em 1969 no jornalismo do semanário Cinco de Março. E nunca mais se calou desde então, a não ser no ciclo do regime de exceção que fechou o Cinco de Março três vezes e o Diário da Manhã uma vez na democracia, por vontade do autoritarismo do governo estadual. É uma nódoa que nem o mártir tem o poder de limpar da História da biografia do carrasco da li-
berdade de imprensa. Os déspotas não assimilam as lições dadas pelos tempos nos exemplos de que nos cadafalsos montados para os que carregam a cruz da liberdade está armada a forca dos próprios tiranos. Mas os governantes de índole totalitarista, picados pela mosca azul, sofrem os delírios da vaidade do poder e passam a se sentir deuses, por ignorarem que a única mosca azul real que existe é a mosca berneira e que só é azul na parte traseira por onde ferroa e desova a larva do berne. “Aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária, não merecem nem liberdade nem segurança” (Benjamim Franklin). A realidade paralela dos deslumbrados irradia-lhes nas alucinações a miragem de que o tempo para à espera dos refratários na lucidez. “Tudo está fluindo. O homem está em permanente reconstrução; por isto é livre: a liberdade é o direito de transformar-se” (Lauro de Oliveira Lima – Limoeiro do Norte, 1921, aos 90 anos em Fortaleza –, autor de 32 obras de Educação e Psicologia Educacional, é uma universidade em pessoa com doutorado, colaborou com o Jornal do Brasil, Correio da Manhã e O Povo. Uma sumidade na ciência da Educação e sobre o desenvolvimento da inteligência da criança; professor de Português, Latim e Francês e dentre seus livros destacam-se Dinâmica de Grupo e Escola do Futuro. Refor-
espírito. Tirei em muitas ocasiões o dinheiro do pão para a minha casa a fim de não ficar uma só vez sem papel para a liberdade no Cinco de Março. O jornalista livre não serve ao interesse de ninguém, mas trabalha coletivado ao sentimento de independência para todos. Houve um período em que os líderes udenistas se reuniram e convocaram Alfredo Nasser para ele fechar o Cinco de Março, em 1963, sob o pretexto de que Nasser era dono das máquinas do extinto Jornal de Notícias, em cujos restos do espólio abandonado era impresso o semanário que fazia o sono dos corruptos ficar mais curto nas noites que amanheciam às segundasfeiras. Nasser fez um longo discurso, do qual extraio dois tópicos esparsos, o de abertura e o de encerramento: “Não são de minha propriedade as oficinas onde é impresso o jornal Cinco de Março. Nunca foram. Ali sempre tive de meus as dívidas e os aborrecimentos, o que me dá, segundo os entendidos, força moral para dispor do espólio.É verdade que alguns de espírito acentuadamente cristão descobriram, há tempos, que das Os que amam duas linotipos existentes, uma me pertence. na oposição Quando fui vê-la, satisfeie odeiam to com esse patrimônio, dela já haviam tirado todas as no governo peças essenciais, se é que existe alguma peça não esENSO que o pão é a li- sencial nesse tipo de máberdade do corpo e quina.Ficou a armação,isto que a liberdade é o pão do é,o esqueleto.”
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mou o Ensino Médico, por solicitação da Faculdade de Medicina de São Paulo, respeitado na Europa como monstro sagrado do conhecimento, idealista, perseguido pela repressão da Revolução de 64, foi preso e teve seus direitos políticos cassados).
Os que precisam se unir aos livros
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jornalista Lauro de Oliveira Lima, mestre de Didática Geral, venerado por seus livros Dinâmica de Grupo no Lar, Dinâmica na Empresa e na Escola, tem razão: “Tudo está fluindo.” Realmente, o mundo flui nas mudanças do determinismo histórico, exceto os néscios. Esses refluem na evolução, inclusive os jornalistas que os outros é que leem e escrevem para eles. Nesse equívoco se inclui até o líder revolucionário de Sierra Maestra, que tapeou a si mesmo ao se iludir com a ideia de que repetiria a história do libertador de nações Simon, mas que perdeu as duas revoluções que tentou fazer sem a liderança de Fidel Castro, e reconheceu enganação: “Não quero nunca renunciar à liberdade deliciosa de me enganar” (Ernesto Che Guevara). O líder que se engana no combate das lutas, enganou os que o seguiram. Enganaram-se os jornalistas que confundem elucu-
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OPINIÃOPÚBLICA
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“O líder que se engana no combate das lutas,enganou os que o seguiram.”
brações etílicas com as ideias que embriagam as multidões de sonhos com o seu pensamento e, por isso, cometeram um engano épico: derrotaram Iris Rezende apoiado por três máquinas, a do governo federal, a do governo do Estado e a do governo da Prefeitura de Goiânia, fortalecida pelo comboio dos governos do PMDB dos municípios vizinhos da Capital.
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liberdade de imprensa tem mostrado mudanças na alfaiataria da bandidagem. A moda agora é outra. Polivalente no corte e costura da roupagem do adereço. Caiu em desuso a venda que cobria os olhos dos ladrões. Atualizou-se o alinhavo requintado para tapar os olhos do povo na corrupção. Traja-se consentânea aos modelos da modernidade. Veste muitos figurinos. Todos a gosto da personalidade e conforme requer a elegância do ambiente que opera o doutor em sua especialização na doença corrupção. Ao invés de venda, a uniformização é a caráter. Farda. Batina. Smoking. Toga. Colete à prova de impunidade. Casaca refinada na solenidade de superfaturamento dos recursos públicos maquiados de austeridade. Se for a ocasião de luxo, a brindes de champanhe Viuve Dlijuo nos salões do orçamento, o porte recomenda black tie com colarinho branco. Véu de vestais da corte com grinalda da virgindade cortinando a impudícia nas bacanais das verbas sob o mando da austeridade. Máscaras políticas de cortesões do governo chantageando nomeações de parentes e de afins de amigos e de adjacentes no cassino das barganhas do favoritismo corporativista. Fantasia de diploma de jornalista como disfarce da limitação intelectual retocada de erudição. Reluzentes nulidades, colecionam cursos de temporada no curriculum vitae juntado à papelada do empreguismo oficializado nas assessorias de imprensa dos órgãos oficiais. Parados no tempo, celestizam-se celebridades repórteres e redatores que não evoluíram para o ampliado do jornalismo moderno. A maioria, escrevedores de textos soletrados. Às chusmas, carunchados cerebrais, rolam dos arquivos de aposentadorias, ou como rejeitos das redações dos jornais,
Massimo Bontempelli
Emiliano Zapata
Humberto de Campos
Fernando Pessoa
Ernest Miller Hemingway
Antoine-Jean Saint-Exupéry
Cecília Meireles
Juscelino Kubitschek de Oliveira
e se encostam nos gabinetes públicos. Ali, respiram no bafo do poder o mesmo ar das ideias poluídas do retrógrado, com tal identidade, que a retrocedência mental camufla-se a um só fôlego na junção mútua do não pensado no feito. (São os jornalistas que já eram ou os que nunca serão.Paramentados de autoridades, calçam salto alto, ornam-se com a túnica dos monges isolados do mundo nas meditações – quando estão é perdidos dentro de si –; ou andam inquietados, como se deslizassem suspensos no silêncio cansadiço,da ignorância à sua volta – quando estão é com preguiça e volatizados no vácuo mental –; ou, no mais das vezes,não param nas andações na sala,ficam para lá e para cá, como se vulcanizados pela formigação do excesso de obrigações – quando estão é correndo do trabalho –; ou, apenas, esfregam a memória para não se esquecer de algumas frases que decoraram ao ler a orelha de um livro e dizê-las, como suas, quais brincos do pensamento às orelhas do chefe.E cavam o seu instante de sucesso. O relincho soa para o muar com a beleza da melodia da sinfonia para Mozart, ou o centavo brilha nas mãos do mendigo com a reluzência dos milhões nos olhos do ricaço. É ainda mais fulgurante o iluminado do conhecimento ante os opacos cerebrais. Justo aí localiza-se o buraco
negro projetor do caos no universo político de Goiás, com líderes ao modo dos meteoros vagando desgovernados da atração das ideias e jornalistas ao jeito da poeira cósmica flutuando nos restilhos varridos da inteligência humana. No entanto, aqueles sem rota própria na órbita das metas do povo, esses esvaziados de substância intelectual, ambos totalizam-se um no outro. Esses jornalistas, que não enchem um embornal de votos,viram orientadores políticos desses líderes, que não reúnem dois grãos de idealismo na safra do seu oportunismo, embolam-se na dinâmica da inércia gravitada no abismo das nulidades movimentadas na fundura das cabeças ocas. Os jornalistas escrevem discursos e artigos passando por fora do tema das questões,os políticos verborrajeiam nas tribunas e assinam os artigos sem lê-los.Eis a razão elementar de comumente se exporem ao ridículo ao opinarem ou se posicionarem em episódios históricos desprovidos de profundidade de conhecimento da literatura científica e filosófica. Situação semelhante à da parceria de um indivíduo hipertrópico guiar um cidadão míope, em uma estrada perdida, na passagem de uma pinguela torta, roliça, escorregadia, com o vento soprando uma chuva fina e fria na noite escura e chicoteada de relâmpagos o suficiente para os dois verem a fundura lá em baixo).
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O tópico entre parêntese é longo e sem parágrafos de propósito. Por dois motivos. O intuito de forçar ao hábito da leitura os políticos que dormem logo na segunda página do livro. O objetivo de obrigar ao sacrifício de lerem antes de publicar o que escrevem. Os políticos e os jornalistas que não atualizarem seu conhecimento em ciência e tecnologia estão com as horas contadas na transição do amadorismo para o profissionalismo. Em breve estarão aquém dos eleitores e dos leitores. Essa realidade não é uma projeção para o futuro. É a perspectiva do presente. A internet mundializou as metrópoles nas colônias. O Diário da Manhã é acessado de graça por 196 países, via www.dm.com.br.
Obesidade mórbida dos corruptos
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militância política infestou-se de perdições morais rebuscadas e decaídas nas mais torpes das perversões do caráter humano. Lenociniou-se a honra às baratezas de vulgaridade mundana no requintado das cortes do poder democrático, com vetustos do cacicado liberal cafetizados nas orgias da corrupção e se mordendo, imprudentes, de desejos banais nas alcovas de estupro do dinheiro público. A socapa dos feudos mon-
tou tronos da legislação em causa própria nos bastidores do cívico no triunvirato dos poderes da República. Os corruptos estão mansos demais. As jurisprudências se arreganharam, impudicas, na vassalagem de leis geradas na surubagem politiqueira do Legislativo, chegam engravidadas de inconstitucionalidade no berçário do Judiciário e fazem trottoir nas bodegas do Executivo. A vida pública virou mãe solteira de uma filharada de paternidade duvidosa na genealogia do espírito público. A Carta Magna é um Bilhete Confidencial deixado à orfandade da pretensão de Ulysses Guimarães governar o Brasil. O Senhor Diretas-Já era consciente da própria infertilidade de votos populares em sua prole eleitoral. Manipulou os rebentos adotivos com mandatos populares e afamilhadados às suas casas da liberdade na época dos despejos da ditadura militar. Muitos dos que haviam sido cassados, dentre eles, muitos saíram para ser eleitos nas praças derramadas de liberdades públicas e hospedaram-se de novo nos mandatos populares. Ulysses Guimarães, mais que líder oposicionista, monumentou-se como estadista da resistência na reabertura democrática. Mas teve seu diminuto momento pessoal em sua grandiosidade coletiva. Articulou, em 1988, a aprovação da
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OPINIÃOPÚBLICA
GOIÂNIA, SEXTA-FEIRA, 29 DE JULHO DE 2011
OPINIÃOPÚBLICA Constituição do Brasil, regimentada para o parlamentarismo e para ser exercida contraditoriamente no regime presidencialista. Na época o País sacudiase, estremecido no estuário tumultuado das crises políticas à tona das apreensões, debatendo-se em medos assustando de todas as bandas: ora vindo dos quartéis temerosos de revanche dos subversivos, ora indo dos diretórios dos partidos receosos de o militarismo conservador surpreender com novo golpe de Estado. Então a Nação estava qual nau saindo avariada de um naufrágio, vasando água nos cascos, sobrecarregada a estibordo e balançando ao baque dos acidentes para ancoragem incerta à praia propício a abalroagens.
“Todos os males do mundo acontecem ao escuro da liberdade.”
Eric Arthur Blair
Jean-Paul Charles Aymard Sartre
Alfredo Nasser
Simone de Beauvoir
Chico Xavier
Nelson Rodrigues
Albert Camus
Carlos Lacerda
mensão das ideias e conquista a paz nas guerras. Política não é força e músculos. Política é energia e cérebro. Mas é justamente na inteligência a curto talento que está o risco de uma coligação do bem com o mal abrir franquias pecaminosas à moral no império dos sentidos. “A mente, quando controlada pelo vaguear dos sentidos, rouba o intelecto, do mesmo modo que uma tempestade desvia um barco do seu destino: a praia espiritual da paz e da felicidade. As forças da natureza fazem todo o trabalho, mas devido à ilusão uma pessoa ignorante supõe-se a si mesma como causadora. Luxúria, ira e avareza são os três portões do inferno, que conduzem o indivíduo para a queda (cativeiro). Então aprenda como abandonálos” (Krishna – Braj Bhoomi, à meia-noite do oitavo dia do equinócio de Bhadrapada (Agosto/Setembro), instante que o Sol, em seu aparente movimento anual na órbita da Terra, corta o círculo do equador celeste. Krishna é venerado como avatar pelos indus, perpetuou-se no livro Bhagavad Gita e é considerado por todos os mestres da Índia como a essência do conhecimento Védico, língua falada pelos vedas 2.000 a.C.). A liberdade é a sentinela de plantão na alma das repúblicas. “Se a liberdade significa alguma coisa, será sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não
querem ouvir” (Eric Arthur Blair, o George Orwell – Motihari, 1903 – Londres, 1950 –, escritor, jornalista, estadista, opositor ao totalitarismo, autor do romance Burmese Days). Mas “A liberdade não consiste só em seguir a sua própria vontade, mas às vezes também em fugir dela” (Bobo Abe). Afinal, “A lei da liberdade não é outra que a lei da caridade” (Santo Agostinho). Por isso chega a sugerir um ato de premonição da Cecília Meireles – poetisa premiada, autora de 52 livros, professora de Literatura Luso-Brasileira e de Crítica Literária – ao vergastar, em Romanceiro da Inconfidência, o moralismo dos portugueses que reagiram contra a independência do Brasil: “Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.” E recomenda Léon Tolstoi – Yasnaya Polyana, 1828 – Astapovo, 1910 –, genialíssimo escritor russo, autor de Guerra e Paz, Anna Karenina, Cossacos, O Reino de Deus está em Vós: “Se tiveres a sensação de que não és livre, procure a razão dentro de ti mesmo.” Senadores e deputados federais demonstram ter esta dúvida cruel. Pois a camaradagem de camaradas do esquerdismo e a bacanagem de bacanas do direitismo conceituam os preconceitos aliados ao corporati-
Corromperam a própria corrupção Ulysses Guimarães, cauteloso com a possibilidade de um levante das piratarias nas hordas da ditadura durante o desembarque do cargo do general presidente João Figueiredo para o sucessor civil, armou a salvaguarda de um governo parlamentarista e que, não outro senão ele, seria o primeiro-ministro. Teria conseguido esse causuísmo, não fosse a fatalidade tê-lo tirado desse descuido do civilismo para se enodoar no oportunismo do personalismo e o levado antes para a História no Oceano Atlântico como túmulo à medida do seu épico nas águas da política. O legado da Constituição com escapadela para o parlamentarismo e aberta para o presidencialismo reduziu o Congresso Nacional a um espólio das bancadas dos partidos políticos aliados, e desde então, inventariou-se o governo do Brasil aos quinhões dos cargos e, às parcelas, os recursos do Erário federal na partilha das obras dentro dos quesitos do direito de herança prescrito para o patrimônio particular. O loteamento do governo são as condições irrevogáveis e travantes para que a presidente Dilma Rousseff, nas Medidas Provisórias, possa viabilizar quaisquer projetos do Poder Executivo. Foi assim com José Sarney. Não foi diferente com Fernando Collor. Manteve-se igual com Itamar Franco. Não mudou com Fernando Henrique Cardoso. Expandiu-se com Lula após o mensalão. E detém o Brasil imobilizado como uma re-
publiqueta de fundo de quintal dos donatários das colônias políticas comendo, bebendo e enchendo a pança de gorduras do governo, refastelados na redoma do poder em Brasília.
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ODOS os males do mundo acontecem ao escuro da liberdade. As pessoas morrem se não há ar no fôlego. As nações morrem se não respiram a liberdade. E libertinagem e liberdade não são sinônimos. Liberdade, mais que uma palavra, é a fala da vida e vem do latim (Libertatem). Libertinagem, mais que um vocábulo, é a linguagem da desonra e vem do sufixo francês (agem) usado para depreciar o sentido das palavras, como, por exemplo, politicagem em política. Portanto, liberdade e libertinagem são substantivos. Já livre é adjetivo de liberdade, assim como libertino é adjetivo de libertinagem que qualifica o abuso da liberdade constitucional cometido pelas autoridades do Poder Legislativo.
A liberdade é a sentinela das Repúblicas
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OLÍTICA é a ciência na filosofia da pacificação que une os contrários em luta ao plano do equilíbrio e consagra as vitórias humanas, e é a filosofia na ciência que detona as armas na di-
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vismo das conveniências individuais e discriminam a realidade social das coletividades homossexuais legalizada pelo Supremo. A ação da mais alta corte da Justiça é o justo reconhecimento de um direito e realista nos fóruns da modernidade. A reação é hipocrisia do cinismo elitista. Homem maridar com homem e mulher esposar com mulher não me afeta nem bole com meus desejos na libido. Quem tem ideia fixa contra uma coisa é porque essa coisa mexe enrustida com ele no íntimo.
Os travestis oficiais
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homossexualidade mais chocante e descarada no Brasil é o trottoir que transformou os partidos em casas de tolerância nas alcovas das adesões partidárias. Há travestis ideológicos casados com a esquerda e amantes da direita. Existem pederastas rodando a bolsinha nos lupanares da corrupção e dando mão-de-vaca pelos fundos da austeridade. Têm surubeiros prenhes do Erário e desfilando como virgens nos pontos de putança da gigolagem nos camarins das verbas estupradas. Sobram garotos de programas oficiais pervertidos no bordel das licitações. Desfilam alcoviteiros sedutores de quengas noviças para biscatear na
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OPINIÃOPÚBLICA motelaria das nomeações despudoradas. Requebram rufiões de mandatos populares namoradores de órgãos, de autarquias e de estatais, divorciados da moral e acasalando concubinas para montar casas de encontro nos recursos pecuniários, uns a varejo, outros a atacado, nos caça-níqueis dos três poderes públicos. O gaysismo emputece de raiva a família brasileira nas gandaias políticas no cabaré da corrupção pedófila, incestuosa, estupradora do Congresso Nacional no proxenetismo nas bancadas dos partidos políticos engravidando o Poder Judiciário com leis prostituídas e abortando proles adulterinas na maternidade dos cargos do Poder Executivo.
“A liberdade é o motor da vida. Tudo se move é nela.”
Ulysses Guimarães
David Nasser
Konrad Hesse
Lauro de Oliveira Lima
Kobo Abe
Hans-Dietrich Genscher
Martin Luther King
Mino Carta
sindicâncias do Ministério Público e se desmantelando nos processos na Justiça. Ex-presidentes, ministros, governadores, deputados, senadores, vereadores, prefeitos, magistrados, magnatas, banqueiros, promotores públicos, padres, cardeais, ditadores, pastores, bispos e apóstolos evangélicos, delegados, fiscais, militares, mafiosos, reis, caciques, chefes de Estado paqueradores, celebridades em todos os cacifes dos famosos, todos os antes intocáveis estão caindo das joias para as algemas na Terra inteira. Gente fina que só era vista nas colunas sociais dos jornais e das revistas, desfilando nas chiquezas dos especiais da televisão, doutorais na falácia das rádios, agora está frequentando os noticiários de escândalos, desfilando como marginais nas páginas da imprensa e nas telas das televisões. A liberdade trouxe os figurões dos requintes do poder para o largo das ruas. É a ebulição social movendo, removendo, revirando, moendo impérios com a força inexorável do determinismo histórico dos ciclos de mudanças, incontíveis como as tempestades derretendo morros nos temporais, empurrando os oceanos para afundarem países, ou incontroláveis como os vulcões extintos ressurgindo e vomitando fogo e cuspindo cinzas de
um país para outras nações, imprevisíveis como a piorra dos ciclones torcendo usinas nucleares e rodopiando cidades.
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vida pública pôs por conta a mundana Mazela amasiada com a perdida Falcatrua; o rufião Roubo amancebado com o cortesão Furto, furnicando no motel Cópula 24 horas Corrupção. A política travestiu-se no lesbianismo do bidesejo da senhora Honra e a cafetina Desonra, bolinando no alcoice dos mandatos populares de mercadores com banca de troca-troca de apoio ao governo barganhado com cargos, para atender a feira-livre dos suplentes ou em pagamento do aluguel das alianças da campanha eleitoral. Isto na cafilagem dos políticos da situação, mas nas rufianagens dos políticos de oposição surgem ofertas de arriar a bandeira da pirataria do denuncismo caso suas naus forem ancoradas, às caladas, na Ilha do Tesouro nos litorais do continente oficial. A Corrupção tem sede própria e matrizes em todo território nacional e sócios em todas as castas sociais. Atua diversificada. A Corrupção Estatal S/A opera com franquias e reserva de mercado nos negócios públicos. A Corrupção Ltda atua como concessionária de áreas especificadas no ramo de atividade e com cotas do faturamento definidas para os lobistas captadores de serviços. A Corrupção do Crime Organizado é concessionária de autoridades na arrecadação no tráfico de drogas, no contrabando de armas, na pistolagem de aluguel, no roubo de carros para exportação ou para atender com o desmanche a clientela das oficinas com o abastecimen-
to clandestino de peças.
Motel 24 Horas Corrupção Corrupção atropelando Corrupção, gordas, de pé nas ruas, deitada nas esquinas, rolando à vista diante de todos, umas vindas do alto, outras subindo de baixo, muitas escoradas em todos os lados, algumas aqui, acolá, de lá, de cá, na frente, por trás. Não há mais lugar vago para a Corrupção ONG, a Corrupção Diplomas, a Corrupção Caridade Mercantil, a Corrupção Impunidade, a Corrupção Religião, a Corrupção Ideologias, a Corrupção Safadeza Geral. As pessoas honestas, aparentemente mínimas na população, mas é a maioria silenciosa em todas as camadas sociais. Já a legião dos desencantados barulhenta passa a imagem de que todos fazemos parte dessa invasão da Corrupção. Não é verdadeira. Os honestos podem ficar alegres. O amontoamento em cadeia da Corrupção é sintoma de que o desmoronamento dela começou. Comparem os dias de hoje com os de antes e notarão que todos os castelos da Corrupção estão desabando-se nos inquéritos da Polícia Federal, ruindo nas
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As asas das ideias
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Brasil está no caldeirão sendo depurado da corrupção ao fogo das mudanças e à luz das liberdades públicas. Nada será capaz de parar a roda da inovação no eixo das transformações. É o fenômeno do moto-contínuo regido pelas leis da vida em tudo que existe na natureza. É o acerto de contas do Mundo com a Humanidade. O processo é fácil de ser exemplificado e compreendido. Visível na causa e previsível nas consequências. Coloca-se a garapa da cana na tacha. A sujeira acama-se ao fundo. A fervura começa e inicia-se a depuração. A garapa vira melado. A espuma sobe à tona e evapora. A borra se concentra em cima. Fica exposta e vai sendo retirada aos poucos. Ou termina à mostra na crosta do açúcar e é removida aos pedaços e jogada fora. O mesmo processo está acontecendo com a corrupção na efervescência social. A borra moral será excluído. O processo é irreversível e progressivo, até ser consumada a etapa terminal das mudanças. Inexoravelmen-
te será cumprida a fase da evolução humana. Não vai demorar muito. Está vindo por aí a extinção dos corruptos do domínio de todas as formas de poder sobre o destino dos povos. É o sinal da transição dos tempos. Assim foi ao longo do percurso das épocas. Assim está no itinerário da civilização contemporânea. Assim sempre foi nos períodos de reciclagem social dos valores da Humanidade. Foi no Egito. Foi na Grécia. Foi em Roma. Foi na França. Foi na Rússia. Será nos Estados Unidos. Está sendo no Brasil. Irá ser em todas as nações até que seja a Terra a pátria de todas as pessoas no mesmo povo falando um único idioma, como na linguagem universal dos espíritos.
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liberdade é o motor da vida. Tudo se move é nela. Nada funcionaria sem ela. Todas as coisas do mundo e os órgãos no corpo da gente perderiam a utilidade sem a ação dela. A liberdade é um ser vivo e todos os movimentos andam transportados por ela. O olhar é movido pela liberdade, e sem ela de que adiantariam os olhos? Os passos são movidos pela liberdade, e sem ela para o que serviriam os pés? As lembranças são trazidas pela liberdade, e sem ela as saudades não viriam. O paladar é conduzido pela liberdade, e sem ela não sentiríamos o sabor das frutas. A liberdade movimenta o
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OPINIÃOPÚBLICA aroma no ar, e sem ela não receberíamos o perfume das flores. As batidas do coração e a cadência da respiração são a movimentação do ar pela liberdade, e sem ela trazendo o oxigênio o organismo pararia. A liberdade impulsiona o voo, e sem ela para o que valeriam as asas? A liberdade sopra o fogo e leva a luz, e sem ela o brilho das estrelas chegaria até nós? Se não fosse a liberdade de sonharmos, não haveria esperança. Ou se não houvesse o anseio da liberdade de prosseguirmos em frente de onde estamos, para quê outro lugar? A liberdade vasa a extensão dos tempos, fura as mentalidades endurecidas do carrancismo e empurra os horizontes no muque dos que constroem o amanhã. Rompeu os alicerces do trabalho escravo no Império Romano na pessoa do gladiador Espártaco (120 a.C. – Trácia – 70 a.C. – Basilicata), que liderou a Guerra dos Escravos, foi capturado, colocado para lutar com os leões na arena do Coliseu, as arquibancadas cheias, onde foi devorado; tornou-se símbolo como o primeiro operário do mundo e gritou ao morrer: “Eu morrerei e voltarei milhões!!!”. A liberdade é a chama que não se apaga nas cinzas do fogo dos opressores que fazem o inferno nas terras. Manteve a sua luz nas trevas da Inquisição do Catolicismo e imortalizou a francesa Joana D’arc (1337-1453) ao ser queimada viva na fogueira acesa pelo rei da Inglaterra, Eduardo III. A liberdade trespassa o limitado do poder nas épocas para os infinitos da história. E deixou em Pôncio Pilatos o exemplo de que jamais podemos vacilar nas decisões e proferir o que não seja justo. A liberdade é o elo entre o passado, o hoje, o futuro e o sempre. Levantou o Cristianismo no Calvário, ergue-se com os primeiros cristãos sacrificados em Roma e plaina com Jesus Cristo mais atualizado do que nunca sobre nós. A liberdade leva-nos no pensamento à inspiração, percorre conosco a imaginação, conduz-nos às descobertas científicas, carreganos para os descortínios da filosofia e põe-nos em contato com outros mundos. Então a liberdade é nossa asa. Não deixemos, pois, que a cortem no nosso espaço do direito natural de sermos livres. As mudanças que estão
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“As mudanças que estão modificando o mundo e transformando o Brasil são trazidas pela liberdade.”
Woody Allen
Tom Stoppard
John Lennon
Tiradentes
Fábio Nasser
Áureo Ludovico
Autocensura de David Nasser
trouxe Jesus Cristo
rio? – indagou-me Geisel em seu sotaque. – Revolucionário, sim. Governista,não. – Há uma diferença? – O revolucionário segue ideais. O governista segue a homens.” Em outra parte, David Nasser é mais incisivo contra os governantes autoritários: “Eles podem impedir que eu escreva o que quero,mas não podem me obrigar a dizer o que eles querem.” É o meu caso. Às vezes paro de escrever. Os leitores bombardeiam-me com telefonemas. Cobram meus artigos. Prefiro silêncio diante do que não concordo a ser a palavra que discordo. Para que ficar olhando para as coisas que se escondem por trás da noite se já estou vendo a manhã que virá mostrá-las?! “Falta de ética é não publicar notícia relevante” (Thélio de Magalhães – 1961-2006 –, jornalista brasileiro e dos mais respeitados da imprensa jurídica no País. Ex-presidente da OAB-SP, repórter do jornal O Estado de S. Paulo, da TV Globo e da Rádio Jovem Pan, marcou sua época como poucos por sua ética). Vencendo cansaços a cansaços, repondo energias do espírito nas forças do corpo, contornando incompreensões fora e dentro do jornal, não me desvio dos meus princípios, iguais no
cidadão e no jornalista. Mesmo que eu seja uma só voz adversa ao clamor geral. Sigo na cava das dificuldades de toda ordem no trançado das pressões de políticos de um lado e o povo de outro, comigo no meio e contornando a selvageria de uma prática política que está nos estertores e os líderes tentam transformar a liberdade do Diário da Manhã na independência que lhes convier.
modificando o mundo e transformando o Brasil são trazidas pela liberdade. A liberdade constitucional deu independência ao Ministério Público. A liberdade legal que instituiu Lei da Ficha Limpa. A liberdade prerrogativa de agir dinamizou a Polícia Federal. A liberdade do estado de direito conferiu cidadania às pessoas. A liberdade de imprensa abriu os órgãos de comunicação social para mostrarem à opinião pública os crimes da corrupção privada e governamental, sem censura oficial ou econômica. Olhemos nos olhos do povo. A liberdade está acesa em todos os olhares. E enxergando até nos escândalos ocultos do poder os jornalistas que os abafam. E instituiu-se a pior das censuras à liberdade de imprensa. Que é a autocensura criada por jornalistas. A liberdade de imprensa precisa ser discutida pelos jornalistas para acabar com a lei da autocensura oficiosa e em vigor no jornalismo, e instituída nas redações pelos próprios editores, redatores e repórteres nas redações dos jornais, revistas e rádios nas assessorias de imprensa dos Três Poderes da República e do empresariado, onde a ética varia conforme o princípio do autor no texto de encomenda.
A liberdade
A
liberdade é tão vasta quanto o cosmos e onde o brilho de planetas é visto como de estrelas. Assim como os matutos em astronomia conhecem Vênus como Estrela Dalva, também os rotundos em conhecimento confundem o sentido universal do direito de se expressar com suas convicções pessoais. E se equivocam. É normal. Os que nunca erraram, jamais acertaram. São os satisfeitos do imobilismo. Afinal, é no perigo do erro que se arrisca certo. “De nada adianta a liberdade se não temos a liberdade de errar” (Mahatma Gandhi). O que define o caráter de um jornalista não são as miudezas das falhas ocasionais, mas a grandeza permanente na busca do certo e de reconhecer de imediato seus desacertos. David Nasser foi um dos mais brilhantes e polêmicos jornalistas da imprensa brasileira. Errou e acertou em inúmeras vezes, mas se reposicionava em todas as ocasiões que se iludira. Em seu livro Autocensura, com 39 capítulos sobre a sua trajetória no jornalismo, dos quais destaco O Sonho e a Realidade, em um diálogo com o generalpresidente Ernesto Geisel, eis um trecho: “– Continua revolucioná-
Continua
Bob Marley
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Á momentos tão estreitos nas travessias do arrochamento da caudilhagem, como se um feudo gostasse de me ver fragilidade ao extremo pelo outro para me salvar como presa sua. Não serei refém de nenhuma dessas facções que giram rodas diferentes no mesmo eixo do continuísmo revezado entre si. Sou consciente de que, se ceder, o jornal morrerá na esperança dos goianos. “Povos livres, lembraivos dessa máxima: a liberdade pode ser conquistada, mas nunca recuperada” (Jean-Jacques Rousseau – Genebra, 1712 – Ermenonville, 1778 –, teórico político, escritor, compositor, suíço considerado um dos principais filósofos do Iluminismo, autor de obras que enriqueceram a inteligência humana, inclusive Discurso sobre as Ciências e as Artes,
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OPINIÃOPÚBLICA Discurso sobre a origem da desigualdade e Discurso sobre a economia política, que seria oportuno os políticos locais lerem a fim de parar de dizer besteiras nas tribunas e nos comícios. Seu corpo foi trasladado da Suíça para o Panteão de Paris). Estou ciente de que terei de resistir, ainda que terei de ir matando doenças a doenças do estresse. Se eu caísse, o Diário da Manhã morreria antes da celebração da minha Missa de 7º Dia. Às vezes me sinto tão sozinho como se o mundo houvesse me deixado. Mas a liberdade é o sonho que me manteve sempre acima da realidade materialista e avessa ao jornalismo não confiável pelo poder. Quando os policiais militares fechavam o Diário da Manhã,em 11 de outubro de 1984, em meio ao tumulto e desespero na redação, o jornalista Fábio Nasser sentouse à máquina, escreveu de improviso o poema As ideias sonham e me entregou. “Fechou. Fechou o quê? – indaga o povo. Fechou o sonho não feito, a cafua dos miseráveis, o ideal boliviano. Fechou. Fechou o quê? – pergunta o espectro. Fechou a história de um tempo, o sol de um povo, a câmara dos lutadores. Mas não chorem... Fecharam a matéria, mas não conseguiram fechar o ideal. Os líderes morrem, e a liberdade fica como ideia, sem balas nem gente, para a luta com um único soldado, com uma única metralhadora. Levanta-se a bandeira da resistência. Se por acaso nos matarem, um pingo de sangue irá ficar na terra, e brotará rosa. Através do seu pólen que se espalhará pela terra, dará continuação à nossa quimera. Quando você acordar, olhe a sua rosa. Pois ela brotará onde ninguém espera.” O filho plantava ali a sua rosa no coração do pai. Se não por mim, mas por ele, a rosa nasceu. Se não dele, se não de mim, a rosa viceja. Rosa, às vezes branca, às vezes vermelha, floresce altaneira e incontida como as plantas nascidas nos rachadinhos dos lajedos. Rosa rebelde. Germina-se rosa branca
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nas fendas das democracias quebradas e alastra-se no peito dos povos. Rosa insurgida. Prospera-se rosa vermelha nas frinchas das ditaduras ressequidas e alastra-se nos terreiros do mundo. Essa rosa não morre. Porque é a rosa como aquelas plantas semeadas no trincado dos rochedos. Essa rosa viverá. Porque é a rosa ventilada pela alma humana. É a rosa da liberdade. Sim, a rosa eterna. A rosa que nascerá rosas. As rosas que estarão nas rosas das coroas da despedida final dos que caminharam no poder pisando na liberdade. A liberdade é a rosa no jardim da vida. Perfumando viçosa o canteiro dos idealistas. Despetalando murcha no túmulo dos déspotas. UITAS lágrimas oceanaram rostos, muito suor derramaram faces nas lutas pelos mártires, tanto sangue escorreu dores nos idealistas nas mãos dos escravizadores de seu povo. A História mantém os libertadores na porta do mundo como se para que a Humanidade não os esqueça, como Gandhi na Índia independente do Império Britânico; Lincoln na abolição da escravatura negra nos Estados Unidos; de Trosky, morto a machadadas no exílio no México por ordem de Stalin; de São Maximiliano Kolbe, envenenado por Hitler; de Tiradentes, enforcado na Inconfidência Mineira por determinação de Maria I, rainha de Portugal. A liberdade está tinta de sangue de vários vultos na independência de tantas pátrias. Não é justo, pois, que jornalistas ponham as mãos molhadas de dinheiro na História limpa pelas lágrimas dos bravos que escreveram a liberdade no suor das lutas. Matam as pessoas. Mas não matam nelas a liberdade. E fazem heróis delas. “Um homem não pode ser mais homem do que os
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“Muitos governantes mudam no poder.Muitos jornalistas não mudam do poder.”
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outros, porque a liberdade é semelhantemente infinita em cada um” (Jean-Paul Charles Aymard Sartre – Paris, 1905-1980 –, filósofo, escritor, acreditava que os intelectuais têm que desempenhar um papel ativo na evolução da sociedade, autor do livro O Ser e o Nada? Colaborou na revista Tempos Modernos. Prêmio Nobel de Literatura de 1964, Sartre não se engajou na Resistência durante a ocupação alemã da França, foi criticado pelo filósofo Vladimir Jankélévitch que definiu sua participação, posterior nos combates, em prol da liberdade para se redimir, tornou-se ativista dos movimentos de libertação e posicionou-se publicamente em defesa da independência da Argélia do colonialismo da sua França). A liberdade é a asa das ideias. A pessoa que não traz em si o fôlego da liberdade não respira a vida. Apenas resfolega-se no mundo.
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liberdade é a rebelião das ideias no justo ante à conformação dos acovardados perante o arbitrário do poder. “Temos que ousar, voltar a ousar e continuar a ousar” (Georges Jacques Danton - Arcis-sur-Aube, 1759 – Paris, 1794 –, advogado e político, líder da Revolução Francesa no início, atuou na proclamação da República, fez oposição ao terrorismo na fase de repressão de Robespierre. Condenado por conspiração, morreu guilhotinado em Paris e suas últimas palavras para o verdugo foram: “Mostrarás minha cabeça ao povo, vale a pena. Não esqueças, acima de tudo, de mostrar minha cabeça ao povo,ela é boa de se ver.” Ousar é preciso, ainda que se perca a cabeça, mas não se perde das ideias, como Danton. Há jornalistas mais governistas que os governantes. Muitos governantes mudam no poder. Muitos jornalistas não mudam do poder. O interesse público consulta as vantagens pessoais e amigo
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é o que não teve oportunidade de ser inimigo. As conveniências conciliam a inversão de valores ao beneficente dos mandatários ao repelente no povo. A elasticidade moral espicha e encolhe no intermeio das épocas, conforme a ação dos inícuos e a reação dos dignos na militância política. É o vaivém das rendições osciladas nas variantes do caráter nas correntes humanas. Os anos vão à austeridade e voltam à indecência. Atualmente, os dias estão derrapando-se na lama do poder. A vida pública está viciada na corrupção. Nunca tantos roubaram tanto. Seria o caso de o genial médico Áureo Ludovico investir em sua descoberta científica que opera no aparelho digestivo e cura a pessoa da fome causadora de obesidade mórbida, e evoluir o processo capaz de eliminar a gula motivadora da corrupção nos políticos. Comem a fidelidade partidária. Comeram a Constituição na Emenda da Reeleição. Comeram licitações dos aeroportos. Acabaram de comer o Ministério dos Transportes à mesa da corrupção insaciável posta no Denit e na Valec. Comeram a Celg e beberam a Saneago. Querem comer a Lei da Ficha Limpa. Estão comendo o Orçamento com bancadas na ceia das alianças partidárias no Legislativo. As gorduras da corrupção deram obesidade mórbida na maioria dos dirigentes públicos nos banquetes da impunidade. Parafraseando o dito lulista “Nunca nesse país se fez tanto...”, pode-se dizer que nunca o Brasil foi visto assim. A oposição está mais corrompida que nunca no governo. A esquerda gosta mais de dinheiro que a direita. Religião está dando mais lucro financeiro que banco. A moda agora é combater preconceito. E esquerdista tem preconceito contra direitista. E direitista tem preconceito contra esquerdista. E católico tem preconceito contra evangélico. E evangélico tem preconceito contra
católico. E sectarismo ideológico e fanatismo religioso aliam-se no preconceito contra a liberdade. “O fanatismo é a única forma de vontade que pode ser incutida nos fracos e nos tímidos” (Friedrich Nietzsche). “A diferença entre a maioria dos homens e eu reside no fato de que em mim as paredes divisórias são transparentes. É uma particularidade minha. Nos outros, elas são muitas vezes tão espessas, que lhes impedem a visão. Quem nada vê não tem esperança, não pode tirar conclusão alguma, ou não confia em suas conclusões” (Carl Gustav Jung). O respeito de um à liberdade de outro tem que ser incondicional, dentro do sentimento que distingue nas convicções o entusiasmo punjante e visionário dos inteligentes da exaltação cega e fanática dos ignorantes. Aqueles criam e vivem. Esses copiam e vegetam. O meu catecismo reza na doutrina Cristandade integral: “Os anjos e os homens, criaturas inteligentes e livres, devem caminhar para o seu último destino por livre escolha.” Vivo ao avesso dos conceitos morais do mundo atual, como se o meu tempo já houvesse morrido antes de mim. Não me adapto ao desuso da honradez. Por trás dessa minha cordialidade expansiva há um caráter sisudo. Às vezes fico pensando o que vai ser de mim nessa sociedade que cidadão honesto virou pirraça a indivíduo desonesto! Está de bandido andar de guarda-costas. Os céus deviam ter um gancho que se a gente puxasse, desabaria tudo. Se eu pudesse segurar um relâmpago com as mãos e ter nos passos um instante das asas nos pés, ia pegar a linha dos horizontes, prendê-la nas duas pontas do arco-íris, flechar-me no peito com a seta de um raio e ficar olhando as golfadas do crepúsculo até ser sugado todo esse roxo das saudades que sangram tanto amor no meu coração. Ah! Se o Universo coubesse nesse meu olhar de menino para eu colher e plantar estrelas, depois ver luzes nascendo no chão, sairia por aí acendendo liberdades nas cabeças tão escuras dos jornalistas que passam pela vida velando seus sonhos mortos
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“Tornou-se refém na área dos compromissos políticos para sair na praia da vitória”.
nas ideias tristes dos políticos indecisos no caráter.
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ODAS as honrarias do poder não valem um só rosto sem liberdade olhando no povo para o governante no aplauso das palmas nas solenidades. “A liberdade é mais importante que o pão” (Nelson Rodrigues). O pão, o homem faz. A liberdade faz o homem. “O que importa é ser livre, e não ter fome. É ser livre, e mandar os filhos à escola. É ser livre, e não ser desempregado. É ser livre, e ter amparada a sua velhice. É ser livre, e não ser, ao mesmo tempo, um pária e um marginal” (Alfredo Nasser). As pessoas verdadeiramente livres não são as que estão cantando a independência do povo nas praças cheias de democracia, mas as que encheram as prisões da ditadura com os gritos da liberdade na voz de suas mortes. Verdadeiramente livres são os que morreram para que os outros vivessem livres. A verdadeira liberdade é carregar Deus no coração na sua hora de Cristo na cruz. Nenhuma outra fronteira nos deixa tão pertos dali de onde estamos como a liberdade que, se nos for restringida, todos os lugares do mundo são a medida única de toda prisão. Liberdade. Liberdade. Liberdade. Liberdade de ir e de vir. Liberdade de agir e de omitir. Liberdade de errar e de corrigir. Liberdade de começar e de terminar. Liberdade de ser e de não ser. Liberdade de concordar e de discordar. Liberdade de imprensa. Liberdade, liberdade, liberdade: Liberdades públicas... Que nessa terra são três poderes legislando, julgando e executando todas as liberdades com a liberdade do autoritarismo da censura na autocensura. Há os que se abdicam da liberdade, como se consumidos na perda da sua razão e cometessem o ato de extermínio da esperança. É algo tão brutal quanto a pessoa prender a respiração para presenciar o instante que a morte busca a vida. Um primo meu consumou-se assim. Juliano Cardoso. A vida sorria em sua alegria. Porte cinematográfico do galã Joel Macrea nos filmes de faroeste. Desbravador de sertões e dos corações das moças nas festas da roça. O amor fazia-se paixão nele. Certa vez, dançava sozinho no curral da Fazenda Paraíso,
Marconi Perillo
no município de Caiapônia. Valsava abraçado numa vassoura, a cabeça encostada ao cabo dela, como se fosse um rosto de mulher à sua face direita. – Juliano, não há mulher nem música aqui! – admirei-me. Nem me olhou e, dançando, murmurou: – Há música, sim. Ouça o vento cantando nas folhas daquele Ipê Roxo florido... Deu uma volta bailando no salão do esterco de gado e disse-me: – A moça está aqui no meu coração. É loira, os cabelos anelados... Tem os olhos azuis e grandes... Eu menino, Juliano rapaz, ele era o melhor nas vaquejadas e nos bailes, disposto e companheiro, temperoume nos primeiros trabalhos das roçadas e dos campeios. Eu, tímido. Juliano, descontraído. O oposto no modo de ser aproximava-nos no desacordo da personalidade. O tempo interveio na frequência da amizade. Ele foi para o pantanal de Mato Grosso e sumiu-se de mim nos anos. Eu vim estudar em Goiânia e ausentei-me até das notícias dele. A linda moça fazendeira
dos cabelos loiros e de olhos azuis, lá das bandas do Rio do Peixe, hoje Doverlândia, se casaria com o moço que ela escolhesse e preferiu ao Juliano. Amaram-se namorando casados e foram felizes nos filhos até que um raio fulminou o maior deles. Cada pessoa sofre a seu jeito a mesma dor. O sofrimento interferiu com intensidade diferente no casal. Juliano e Geralda foram se distanciando e se separaram, com ambos deixando o seu coração no outro. Uma tarde ele entrou no meu cárcere do DI, demorou uns dias me visitando. Ia-se embora e voltava sempre todos os meses que estive preso por crime de opinião em 1969/1970 para me rever na prisão. A partir de 1976, em todas as minhas viagens à Fazenda do Encantado, em Baliza, eu passava na Fazenda Varjão, em Bom Jardim, e o levava comigo. Um dia, procurei por ele. O Juliano não estava. O fazendeiro e nosso primo José Cardoso abateume com os pêsames súbitos e inesperados: – Estávamos muita gente alegre em casa. O Juliano despediu-se dizendo que ia
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ali morrer e saiu sorridente. Todos pensamos que fosse troça dele e tivesse ido ao seu rancho,bem ali na beira do Córrego Bom Jardim, e voltaria logo. Um peão ia passando por lá, viu o Juliano pular num poço do córrego, de mais ou menos um metro de fundura, se ajeitar sentado de cócoras com as mãos firmadas nos joelhos. Fomos correndo e o tiramos para fora. Já estava morto de olhos abertos. E ainda quente. A amizade chorou em mim por ele. A ausência sua não sai dessa saudade dele. O mundo às vezes não se explica em muitos gestos de nossa vida, tanto nas coisas físicas quanto nas metafísicas, mas é certo que numa e noutra das atitudes o sentimento venceu o pensamento. “Muitos são os homens que falam de liberdade, mas poucos são os que não passam a vida a construir amarras” (Gustave Le Bon). Joaquim Maria Machado de Assis, considerado o maior escritor brasileiro e sua obra de 51 livros sinaliza que por sua cabeça passou qualquer coisa de divino no gênio, percebeu essa verdade histórica e cuja preocu-
pação com ela é fundamental para os líderes: “Em política, a primeira coisa que se perde é a liberdade.” A advertência é oportuna para o governador Marconi Perillo. A avaliar pela aparência da cara fechada, velha e triste que diferencia o atual governo da cara descontraída, jovial e alegre de seus dois mandatos anteriores, ele está outro no que era. O semblante angustiado aparenta o debatendo-se desesperado para reaver a liberdade perdida na malha das alianças partidárias no último pleito. Marconi está sofrendo no Marconi. Tornou-se refém na área dos compromissos políticos para sair na praia da vitória e firmou os pés na areia movediça ao fazer o loteamento político do governo. Afora uns contatos, o governador Marconi Perillo compôs a sua equipe repartida entre os restos de muitos governos passados, que se aliam nos cargos e não se conciliam nos princípios éticos da vida e da política; ao contrário, cada qual alicia a si mesmo ao oportunismo de um enganar o outro e ninguém deixa transparecer que nenhum ignora a tapeação de todos. Concorrem com elegância no campeonato da desfaçatez polida. Mas o mimo de suas gentilezas não vai durar até ao fim da passarela do mandato, a não ser que o governo acabe antes de terminar. O desfecho trágico será evitado no prazo certo. Basta observar o ar de introspecção no olhar fugidio do governador, para enxergar que ele está percebendo tudo o que se passa à sua volta. É só uma questão de tempo. Irá rompendo, um a um, os cadeados postos nos seus pés por tantos políticos enferrujados e já sem elo nas correntes de votos nas novas gerações do eleitorado moderno. “A liberdade não é um luxo dos tempos de bonança; é o elemento da estabilidade” (Ruy Barbosa, a mais lúcida inteligência e caráter sólido da política na história brasileira).
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agonia irrequieta de Marconi na tribulação da ansiedade que se exterioriza em seu semblante, como se ainda estivesse do lado de fora do mandato e rondando em volta dos compromissos das alianças partidárias para entrar dentro do governo. Naufraga-se no dilema à espera se espera ou não surgir a onda da oportunidade para ver quais passageiros a maré jogará na praia e
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Diário da Manhã
OPINIÃOPÚBLICA
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quem ele aproveitará o nevoeiro das águas revoltas no refluxo das procelas para desembarcá-lo. Marconi é navegador experiente em velejar nos ventos contrários. Sabe que para singrar na rota segura para o porto da presidência da República, à vista no litoral da sucessão de Dilma Rousseff, terá que maneirar a sua nau da sobrecarga das encomendas a bordo. A bússola da sua percepção intuitiva visualiza-lhe muitos recifes submersos nas borrascas à frente, icebergs flutuando nas blumas das travessias nas correntes; diversas virações baterão na proa; cardumes, tubarões debaixo dos cascos e piratas a estibordo.
dão que lhe fora servido na taça da traição por seu sucessor, ou teria de engolir a vindita na taça da peçonha que, se a possuísse e tomasse, morreria na pancadaria do coração em seu peito. Comigo não seria diferente. Nos momentos em que certas pessoas decepcionam-me, sinto-me muito triste por dentro. As forças às vezes baqueiam-me. As energias do espírito recarregam-me a resistência física e sigo contente no áspero dos sofrimentos, por estar cumprindo no jornalismo o destino que me trouxe à Terra. Sei que todo caminho que começa difícil termina fácil e que todo caminho que começa fácil termina difícil. Conheço esse calvário. Já subi nele e desci dele na trajetória de toda a minha existência. Jamais tirei a cruz dos ombros e a deixei caída nesse chão pisado pela ditadura militar ou pelo autoritarismo civil de uma porção de ex-governadores de Goiás.
As águas contrárias à nau marconista Marconi Perillo terá de ir descendo nas margens do governo os remadores de rio a bordo dos cargos e colocar no timão das secretarias, das estatais, das autarquias, das agências e dos departamentos tripulantes habituados ao mar alto. Se não encontrá-los em Goiás, procure-os fora do Estado, no País. Caso não consiga trazê-los do Brasil, busque-os no Exterior. Terá de atraí-los dos oceanos da modernidade; do contrário, ficará encalhado nas calmarias do provincianismo o barco da esperança na viagem para Brasília e à deriva o sonho goiano de ter presidente da República.
O
andor de Marconi Perillo aguentará carregar na procissão desses devotos que têm fé nos restolhos de santos que já não fazem mais milagres. Mas peregrinação aos cargos públicos dos cobradores de promessas feitas na campanha eleitoral prossegue nos dias finais do populismo no altar dos esmoleres políticos. Ou é a romaria da mendicância dos pedintes de nomeações esmoladas nas funções comissionadas. Uns até rasgaram a bíblia da sua fidelidade partidária. O certo é que o governo foi transformado num abrigo dos restos de todos os governos. Restos do governo do Mauro. Restos do governo do Ribas. Restos do governo do Otávio. Restos do governo do Leonino. Restos do governo do Irapuan. Restos do governo do Ary. Restos dos governos do Iris. Restos do governo do Santillo. Restos do governo do Maguito.
Os dois desastres herdados
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Iris Rezende
Restos dos dois governos do próprio Marconi. De restos em restos, fez-se a reciclagem de oligarcas do ludoviquismo com os do caiadismo; de descendentes do pessedismo com os do udenismo; de militantes do socialismo com os do integralismo; de praticantes delatados na ditadura militarista com os dedos-durados. E quando não são os vovôs, são os netos recolhidos ao asilo do continuísmo. O governo atual está de tal modo desalinhado nas cabeças e de tal jeito desafinado no coração, que ficou desidentificado com a modernidade mudancista ansiosa nos nervos do governador.
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ONHEÇO a fadiga psicológica que atormenta o Marconi Perillo na gestão do Estado, porque a identifico na aflição que me desespera na direção do jornal. Ele assumiu o governo de Goiás detonado financeiramente e desmantelado na administração. Eu reassumi o Diário da Manhã destroçado na falta de dinheiro e desorganizado empresarialmente. Ele, imprensado pelas pressões dos companheiros políticos e harmonizando
vantagens partidárias e inconciliáveis no interesse público. Eu, contornando incompreensões sangrando nas minhas veias e indiferentes ao meu sofrimento no torniquete das dificuldades para salvar o jornal de um desastre precipitado por interferências externas e facilitadas por cedições internas em um momento crucial que o Diário da Manhã só tem a alternativa de crescer sendo ajudado ou de crescer sendo dificultado. Ambos: ele, doído na sensibilidade; eu, moído nas emoções. Os dois, triturados pelas apreensões, os nervos gastos, a paciência cansada, e só não é a desolação humana porque a solidão perigosa é a da pessoa que está sozinha dela mesma; e nós somos povoados pelo otimismo da certeza que venceremos porque somente o que é verdadeiro prevalece, sempre, ao final nas lutas. O governador de Goiás e o editor-geral do Diário da Manhã sabem, como os políticos e os jornalistas sabem que o povo goiano também sabe que tanto ele quanto eu estamos vindo de um massacre, para o qual fomos
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levados pelas mãos de um governo que subiu as escadas do Palácio das Esmeraldas à muita força de nossos braços. Então as mãos que bateram foram carregadas na palma das mãos que apanharam. governador irá vencer, já está vencendo o esburacado das dívidas do Estado. Por hora ainda pinguela nos centavos. Por certo, chegará aos dias dos bilhões de reais. Se Marconi fosse pessimista, estaria debruçado no abismo realmente desanimador. Mas ele é um otimista por natureza. O entusiasmo compulsivo turbina-o qual máquina com marcha traçada 4x4 para ser engatada nos atoleiros e não ficar parada no percurso da viagem em estradas ruins e que, no caso do roteiro do endividamento do Tesouro Estadual, restaram apenas vestígios do rumo por onde se deve seguir. Um espanto tão assustador que leva a acreditar quando Iris Rezende diz que Deus o guia; portanto, ele só pode estar feliz de não haver sido eleito para sucessor do Alcides Rodrigues. Já o Marconi, ou aceita beber o veneno da ingrati-
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S mudanças na política e na imprensa são siameses nas práticas tortas da consciência. O jornalista medíocre e o político de inteligência mediana se emburrecem ainda mais no poder. O episódio do fechamento do Diário da Manhã no cadafalso armado pelo governo na guilhotina das leis induziu o verdugo ao artifício de lavar a sua imagem com que o sujou bem mais, através da plantação despropositada, porém proposital, de criar uma cáfila de pequenos jornais e de revistas diminutas. E desde então a lavouragem na imprensa vem proliferando ramificada na safra das verbas da propaganda oficial. “O menor desvio inicial da verdade multiplica-se ao infinito à medida que avança” (Aristóteles – Estagia, 384 a.C. – 332 .a.C. –, filósofo grego, aluno de Platão e mestre de Alexandre, o Grande. Seus escritos em física, metafísica, lógica, ética, biologia, zoologia, teologia cristã e poemas, peças de teatro e música são de clara sabedoria como as luzes do dia que vai amanhecer). O volumoso número de jornalistas entulhados nas assessorias dos órgãos oficiais dos três poderes em Goiás não cabe em um galpão com as proporções da sede dos maiores supermercados de Goiânia.
Diário da Manhã
OPINIÃOPÚBLICA
OPINIÃOPÚBLICA Há os valiosos. Uma quantidade regrada deles engrandeceria com o seu brilhantismo de quaisquer das redações dentre os melhores jornais e revistas de circulação nacional. E para por aí, só. Existem muitos inaproveitáveis. Alguns são museus, reluzentes de soberba nas vitrines do empreguismo público e viciados no rebuscado do ideologismo de que toda oposição é honrada e que todo governo é ladrão. Afundados no tempo que já não há, perderam-se nos guetos da fama esquecida nos heroísmos inexistentes. Diversos veneráveis não são foragidos dos livros e merecem as honrarias da idade. Grave é a enormidade de jornalistas jovens que não leem e, se lerem, pioram. Essa é a preocupação prioritária que o governador Marconi Perillo precisa adotar em sua meta de modernizar a vida pública em Goiás. Toda medida para higienizar a mentalidade dos quadros políticos será em vão se não houver o saneamento consentâneo da intelectualidade dos grupos de jornalistas nos órgãos do governo. Nem é culpa direta de muitos dos profissionais agrupados à suplantação salarial nas repartições públicas. Uma parte é valiosa. Trabalhou na redação do Cinco de Março ou do Diário da Manhã. Aprendi muito com eles. A responsabilidade decorre da falta de uma política de comunicação no governo estadual, que lhes tira a liberdade de manifestar a opinião e os subcondiciona a escrever o que seus superiores querem. Isso é um senão com dois por issos. Um danoso para os jornalistas que dirigiram a Secom e a Agecom e todos foram enquadrados em processos de corrupção ao deixarem o cargo; outro é prejudicial aos dirigentes dos altos escalões do governo e são arrolados em processos de formação de quadrilha. Marconi Perillo gosta da imprensa e tem condições de demonstrar que a quer livre. Basta criar condições para que os jornalistas do elenco oficial passem a trabalhar e tenham oportunidade de mostrar a sua competência em matérias assinadas. O que será mutuamente saudável. Para o jornalista, porque não concordará em escrever e publicar expressando ao contrário do que pensa; para o governo, porque terá a oportunidade de avaliar a eficiência dos textos da divulgação dos
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“Nada escapa do determinismo da evolução”.
coragem está rouca de medo, tanto nos torturadores quanto nos torturados. Os arquivos da ditadura militar precisam ser liberados. É urgente que sejam vistos por todos os brasileiros. Face a face, e à luz da liberdade, os escuros da repressão devem ser mostrados na cara da Nação, às claras da verdade. Nenhum dos documentos pode ficar às escondidas nos digitais das mãos direitas e das mãos esquerdas na cumplicidade do silêncio das torturas e das delações.
João Bosco Bittencourt
planos administrativos das metas de obras. O João Bosco Bittencourt e o José Luiz Bittencourt possuem firmeza de caráter para banir o ciclo corrupto e corruptor na imprensa do governo estadual e dispõem de erudição talentosa para selecionar uma equipe irretocável na formação profissional. O José Luiz era imprescindível no Cinco de Março quando foi levado pelo governo de Irapuan Costa Júnior. A sua retirada desguarneceu a minha equipe no semanário. E não foi pouco. O afastamento de João Bosco do trabalho presente na redação desfalcou-me no comando do Diário da Manhã. E muito. Mas não é por isso que a amizade se ressente em nossa estima a admiração recíproca. Um montão dos jornalistas, com a pretensão de que o Marconi pensa por suas cabeças, enciumou-se ante a deferência dispensada por Sua Excelência para com o João Bosco e o José Luiz, com uma pontinha de inveja resvalando para o meu lado. A evidência de que se trata de emburro é que sobraram farpas para toda a família Bittencourt na pessoa do Paulo Tadeu Bittencourt, diretor de Comunicação da Assembleia Legislativa, e do ex-deputado Luiz Bittencourt, afastado da política para a sua vida particular. A minha convivência com a família e o convívio dos Bittencourt comigo datam de três gerações. Em toda a minha vida nunca troquei de amigos e jamais assumi os inimigos de nenhum deles. Todos do meu relacionamento reconhecem que sou irredutível no que confio e faço, porque só me dedico ao que acredito e dou conta de realizar. Tanto o João Bosco quanto o José Luiz, o Paulo e o Luiz não têm dúvida de que
José Luiz Bittencourt Filho
eu os repreenderia em erro, e veram nos blindados do com a severidade da mãe Ve- meu verdadeiro. Se o governador Marconi neranda e a honorabilidade Perillo regasse a sua publicido saudoso pai Bittencourt. dade na imprensa hoje, essa ninharia impressa de anúnGoverno e imprensa cios, em comparação com a credibilidade do Diário da comprometidos Manhã como formador de opinião, os donos de outros jornais já teriam cortado o ENHO uma história de noticiário do governo de suvida feita de frente para as páginas. Mas o dono do as dores que vieram e de jornal que edito, não sou eu. costas para as honrarias É o leitor que compra o que chegaram. Desci de he- exemplar. Principalmente ranças à minha espera nos os leitores dos 196 países latifúndios da família, com que acessam o Diário da fazendas sobrando nos ho- Manhã na internet. rizontes e gado não cabenA memória relembra-me do nas terras, e subi para o o Alfredo Nasser: sonho no jornalismo, com “Vim de longe, e não vim sede de liberdade para be- de rastros, senão pelas ber lutas nas ideias e com composições mais simples fome de independência co- e limpas do povo.” mendo no coração. Não me Eu também vim de muicedo ao falso. Corro para fo- tas distâncias, e não vim ra das riquezas nas fortunas rastejando nas cedições ao correndo para mim, e o interesse pessoal, mas altivo meu patrimônio é o legado na humildade e pisando das coisas que o dinheiro duro no alto dos poderes. não traz nem leva. Sou rico Sou o que sou, e estou no de amigos. Tenho a paciên- jornalista o que estou no cicia do cordeiro no sacrifício dadão: honrado na pessoa e e a fúria do leão no zelo da no espírito. E sugiro: toda minha honra. Trago na pa- pessoa deve competir se lavra o poder da bênção das medindo consigo mesma orações na paz e a desgraça nos seus próprios valores. das balas na mortandade Não faço concessão ao das artilharias. O meu me- que não seja estável na coedo é corajoso, se me ferem, rência e imutável na autene a minha coragem é me- ticidade. Todo processo de drosa, se firo, e me sinto ao ciência social traz dentro de chão no duelo das polêmi- si a sua própria destruição. cas como pássaro tirado da O consumismo acaba se gaiola para o céu aberto. consumindo do consumiOs políticos buscam mi- dor. Recomendo para todo nhas ideias e não trazem o jornalista a receita moral de troco nos favores. Os jorna- Machado de Assis: listas que se melindraram “Preferia afrontar o munao supor que os seus cole- do servindo à sua consciêngas João Bosco e José Luiz cia a afrontar sua consciênsão meus interpostos no cia para ser agradável ao seio do governo de Marconi mundo.” Perillo, não perceberam no Há muitas verdades menseu emburro o meu des- tindo heroísmos por aí. conforto, exatamente por Uma delas conversa à direiantever que seria prejulga- ta e à esquerda nos falatódo por maledicências as- rios se devem ou não desim. Mas sou ileso a essas vem ser liberados os arquibirras individuaizinhas em vos da ditadura militar. A seus portadores, pois convi-
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A boemia do sonho nas serenatas da alma
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ONCEBO a vida como um corpo com todas as partes do Mundo nela, igual os órgãos estão no corpo humano. Tudo funciona com a energia que move todas as coisas na natureza e evolui em sintonia no Universo, seja na organização das formigas, no desvendamento dos mistérios na filosofia, nas descobertas da ciência e nas mudanças políticas. Nada escapa do determinismo da evolução. Seria mais fácil aparecer um líder que parasse a rotação e a translação da Terra do que deter a roda da História no progresso da Humanidade. Por isso é temerário julgar os feitos de uma pessoa sem situá-la às condições de sua época. O carro de boi foi o transporte ideal. Atualmente é o avião. Amanhã poderá ser o teletransporte do indivíduo de um ponto para outro lugar. A ciência quântica já realiza esse fenômeno em escala nanométrica e já fizeram, inclusive, a capa da invisibilidade. O limite do homem está no ilimitado na imaginação. Muitas ficções pósteras estão realidades contemporâneas. O conhecimento é o carro que leva ao infinito.
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presença de Iris Rezende na política foi fundamental para o crescimento econômico de Goiás na quadra dos últimos 60 anos. Épico. Sem a sua bravura no trabalho das obras públicas, o Estado ainda seria o serviço por fazer no governo. Iris esteve àquela época na frente do seu tempo. Pena que tenha parado no fechado dos bois no curral e não continuado para o aberto aos livros. Tivemos duas longas conversas após as últimas eleições. Uma recentemente em seu apartamento. A outra mais próxima em minha casa. Abrimo-nos nossas vidas no diálogo das confi-
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dências. Muitos o olham no velho da idade. Eu o enxerguei moço nas ideias. Fez a leitura da experiência. Por mais que ele tenha sido, e o foi, agora é que está, mais que nunca, pronto para ser governador de Goiás.
to explosivo de um terceiro candidato, e de onde não se espera, nessa fermentação do descontentamento para a rebeldia popular nas urnas eleitorais, é a formação de uma chapa majoritária com o MARCONIRIS para governador de Goiás e para senador da República. E se, porventura, o leitor encontrar um político e um jornalista pensando ao contrário, olhe ao lado deles. Estará caindo ferrugem de suas ideias.
Tudo é a vida A figura de Marconi Perillo é a personagem dos dias da modernidade e o seu vulto faz sombra aos políticos à sua volta, uns girando a favor, e outros gravitando contra, e todos em sua órbita. Nos frequentamos muito no repasse das ideias. Antes, mais. Agora, menos. Os problemas do governo não deixam espaço. Não está dono de si no limite dessas horas. Às vezes não fica junto nem consigo e quando ele chega em um local, ele já saiu. As atribulações financeiras do governo estão rápidas nas aflições do governador. O coração de Marconi Perillo bate ritmado à cadência do sentimento no peito do povo, como se nele uma multidão de poetas povoasse mães. O sim lhe sai doendo no não. A palavra sim está na voz não. Se o Estado fosse seu, ele não teria mais nada. Mas o individual é o coletivo em sua pessoa. É a bondade do menino na responsabilidade do velho nesse Marconi Perillo que se dificulta em benefício de muitos que o prejudicam no governador. Conforme o TRE, o número de eleitores era de 4.050.020 no segundo turno das eleições passadas. Votaram no Marconi Perillo 1.551.132. E no Iris Rezende, 1.376.188. Os votos brancos, nulos e abstenção somaram 1.131.700. A média é de um terço para o Marconi, de um terço para o Iris e de um terço para nenhum dos dois. Esse coeficiente sugere a existência que há no eleitorado goiano o espaço aberto para um terceiro candidato na próxima sucessão estadual, em 2014. Esse um terço de votos prenuncia que existe uma rebelião crescendo no inconsciente coletivo do eleitorado e que, se chegar a 50º, atinge a temperatura social de efervescências das revoluções, que se sabe como começam e se desconhece como terminam. A única certeza que se tem é de que nunca é bom para os que estão no poder. As mudanças já estão em formação nos sinais do tempo em toda a Terra e chegarão em Goiás com a força de um tufão acima da resistência de todos os poderes. As bases da socieda-
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Dilma Rousseff
de estão corroídas pela corrupção. A política apodreceu no Estado. A vassoura virá das mãos de Deus e removerá todo o lixo moral que está debaixo dos tapetes da impunidade. Marconi está ajoujado aos compromissos eleitorais dos carregadores de votos na campanha. Esperneia-se para se soltar. Não conseguirá se libertar sozinho. Iris está atrelado ao novelo manejado pelos carretéis da companheirada comprometida na cumplicidade de fortunas que não se explicam. Debate-se. Não se soltará sozinho. Marconi precisa da ajuda de Iris. Iris necessita do apoio de Marconi. Isolados um do outro, cada qual será devorado pelo seu séquito. Só uma liberdade os libertará. É a liberdade de serem si próprios. A política precisa mudar. Mudará. Impõe-se dignidade aos políticos. Um pacto de dignidade é necessário, urgente e inadiável. Roubase demais na vida pública. O povo está enfarado de corrupção. O Brasil apodreceu nos poderes da República. O desmonte das falcatruas no Ministério dos Transportes e nos seus jurisdicionados De-
nit e Valec dá a imagem de uma montanha derretendose inteira. E criou a expectativa de que existe um lamaceiro moral acamado sob a República, que não seria surpresa se outros ministérios se desmoronassem em cadeia a qualquer momento. A corrupção cambaleia de velha. A única novidade é a presidente Dilma Roussef. Não fosse seu caráter sólido não estaria havendo essa erupção. Qual vulcões que pareciam extintos, é a eclosão das falcatruas mandando pelos ares corruptos às cordilheiras do enriquecimento ilícito. A alma do povo brasileiro incorporou-se no espírito público de Dilma Roussef. Ela está sendo queimada na fogueira dos partidos como Joana D’Arc, com a diferença que o povo brasileiro irá molhar a lenha dos políticos com o suor nos votos da sucessão presidencial. Dilma tem ao seu lado um exército em cada cidadão honesto do País. A presidente está fazendo a revolução da paz que impedirá a guerra civil que o Brasil vem fugindo dela há séculos. Dilma Roussef é uma cabeça aberta para o universal nas ideias. Os líderes com percepção das mudanças irão se
Conclusão
unindo a Dilma e formarão uma Frente Nacional Contra a Corrupção. Acontecerá o mesmo em Goiás. O slogan da bandeira dos Inconfidentes Mineiros era: Liberdade ainda que tardia. Unam-se, Iris Rezende e Marconi Perillo, antes que seja tarde. A união é dever de solidariedade ao povo e de honestidade a si próprios. Manterem-se desunidos é cumplicidade ao escuso dos que se aproveitaram e tiram proveito do governo. Que Deus ampare Marconi e Iris. A travessia lhes será dura.
A união de um ao outro salva os dois
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ARCONI Perillo e Iris Rezende são, disparados, os melhores líderes políticos de Goiás. Os jornalistas que os avaliam não dão; tiram votos. Os políticos, se sozinhos nos seus eleitorados, não somam a metade do eleitorado de ambos. Só existem dois votos que elegem governador em Goiás: um é o Marconi, o outro é o Iris. A única lógica política capaz de impedir o surgimen-
NTREI e saí de Canção sozinha à liberdade no maior porre de sonhos no fim de semana. Estou cansado de tanto andar na inspiração. Vou deitar numa saudade e sair embriagado na boemia da coleção de CDs do tenor Lindomar Castilho. Ele foi meu colega de classe nos quatro anos do curso ginasial do Ateneu Dom Bosco e ia cantar para mim às tardes de sábados dos oito meses no cárcere do DI quando estive preso por crime de opinião na ditadura militar, em 1969/1970. Estou tonto de esperança de que Iris Rezende e Marconi Perillo embebedem-se de idealismo, saiam para uma talagada de meditação e ouçam Jesus Cristo: “Àquele a quem muito se deu, muito será pedido, e a quem muito se houver confiado,muito será reclamado.” Depois Iris e Marconi se olhem, um nos olhos do outro, e façam um brinde à grandeza humana, recitando Sêneca: “Sê como o sândalo, que perfuma o machado que o corta.” Busquem-se na solidão reflexiva. Façam uma avaliação sobre o verdadeiro sentido se suas vidas. E meditem sobre as coisas e as pessoas que precisam se libertar da influência delas. “A liberdade é a possibilidade de isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo”(Fernando Pessoa).
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essas horas estou longe de todos e pertinho de mim. Já não estou em Goiânia. Estou na APA do Encantado. Vendo manhãs se abrindo nos sorrisos do João do Sonho e da Maria do Céu. Olhando a Marly me namorando aos luares. Olhando e vendo os bichos correndo livres nas larguezas do sertão. Vendo e olhando o vento parar para cheirar o perfume silvestre no ar. A liberdade viajame. De repente ouço um barulho. É a paz abraçando a felicidade no coração.
BATISTA CUSTÓDIO
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OPINIÃOPÚBLICA “Quem é bom é livre, ainda que seja escravo. Quem é mau é escravo, ainda que seja livre.” (SSanto Agostinho)
“O homem nasceu livre e, em todos os lugares, está acorrentado.” (JJean-Jacques Rousseau) “A liberdade é defendida com discursos e atacada com metralhadoCarlos Drummond de ras.” (C Andrade)
Medição da ladroagem
Reajustes
Pegue como exemplo o Ministério dos Transportes. Agora, pense em todo o aparato dos municípios, dos Estados, do Distrito Federal e da União. Pare por aí, pois o susto poderá levá-lo à loucura. (SSérgio Barbosa, via e-mail)
Quando contratamos a construção de uma casa, não estipulamos reajuste de preços. Por que as obras públicas sempre têm aumento na previsão? Isso é que tem de ser esclarecido devidamente à população. Oscar Rolim (O Júnior, via e-mail)
GOIÂNIA, SEXTA-FEIRA, 29 DE JULHO DE 2011
“O mundo, com seu microcosmo Goiás, é injustíssimo. O mundo da mídia, com seu microcosmo jornalista, é ainda pior.” Nilson Gomes) (N
Economia fundamentada na ecologia para um futuro desejado Maurício Tovar Especial para OPINIÃOPÚBLICA Tanto a ciência da economia quanto a ciência da ecologia possuem a raiz “eco” que significa “casa”. A economia reúne conhecimentos que visam gerenciar a “casa”, e a ecologia, conhecimentos sobre a “casa”. Para se gerenciar a casa com maestria, é necessário conhecê-la bem. Portanto, uma economia cujo modelo se baseia na concepção de que o homem é o sujeito e a natureza é o objeto de sua manipulação e exploração é uma economia cega que compromete, inevitavelmente, os recursos naturais e coloca em ameaça a biodiversidade dos ecossistemas e, logicamente, da própria espécie humana. A economia, em seu devido lugar, deve ser um instrumento cognitivo a serviço do bem-estar de todos os seres humanos. Não é concebível que ela se sobreponha, de forma inconsequente, aos imperativos sociais e ambientais, utilizando-se de modelos inadequados que partem da falsa premissa de que a natureza é dotada de recursos ilimitados para garantir a sobrevivência humana. A economia que, doravante, deve nortear o desenvolvimento para um futuro harmônico desejado é a economia contextual – economia sustentável –, que não pode mais se equivocar quanto ao que sejam progresso e evolução social. No passado, as sociedades se desenvolviam a partir dos recursos naturais,
sem nenhuma preocupação ambiental e sem consequências desastrosas relevantes, porque o planeta era relativamente vazio e com uma teia de necessidade consumista modesta, portanto tinha uma demanda de produtos que não causava impacto suficiente para exceder a capacidade suporte de recuperação dos ecossistemas.
“A sociedade como um todo deve permanecer vigilante em relação aos gestores em quem depositou confiança. Qualquer vacilo, desonestidade ou descomprometimento em relação aos bens metaindividuais deve ser prontamente repudiado pela sociedade organizada” Metas que visam crescentes produtividades em vários setores de produção industrial, e até mesmo no setor agropecuário, sem levar em conta o enorme impacto ambiental daí decorrente demonstram que grande parte das mentalidades que deliberam políticas públicas e influenciam nas práticas empresariais estão desconexas de uma consciência sistêmica e continuam pautando suas ações embasadas na ideia de que o lucro e o dinheiro estão acima de todas as outras coisas. Foi pelo viés da economia focada em princípios capitalistas, cujo primado sempre foi o lucro pelo lucro e não a criação de riquezas para o crescimento do povo e da nação, que o quadro de sustentabilidade planetária se
tornou sombrio nesse início de terceiro milênio. A economia deve agora trabalhar em sentido diametralmente oposto, deve se valer dos valiosos conhecimentos da ecologia, dimensionando com precisão os detalhes da “casa” para gerenciá-la, e deve também alocar recursos na cadeia de serviços que orbitam em torno da questão ambiental. A sociedade como um todo deve permanecer vigilante em relação aos gestores em quem depositou confiança. Qualquer vacilo, desonestidade ou descomprometimento em relação aos bens metaindividuais deve ser prontamente repudiado pela sociedade organizada e cada vez mais consciente. As duas ciências devem estar “mutualisticamente” unidas para que essa e as próximas gerações conheçam um novo significado de progresso. Maurício Tovar, professor de Biologia) (M
Pessoa certa no lugar certo faz a pessoa errada Nilson Gomes Especial para OPINIÃOPÚBLICA As mídias sociais tiveram na campanha eleitoral de 2010 seu apogeu recente, com virtudes e defeitos no mesmo patamar. Um dos problemas foi a paixão de alguns jornalistas pelos políticos que assessoravam. Houve caso de briga que até agora, dez meses após a votação, não se resolveu. Outros partiram para a baixaria, inventando pseudônimos para ofender a honra de colegas, principalmente no Twitter e espalhando e-mails com calúnias. Enfim, a tecnologia se aprimorou, mas os métodos continuam na idade média. Os políticos acabam se entendendo e seus ajudantes ficam com a cara grande por criar encrenca sem sequer serem pagos para isso. Jornalistas cobram em blogs, colunas, artigos e tweets que os políticos sejam probos, um dever do qual seria desnecessário lembrá-los, se não fossem de tormentas terríveis os dias de PC a Palocci. Uma linha na imprensa nacional chega aqui como páginas da verdade, se o acusado se posiciona em espectro ideológico diferente da pessoa que vai julgá-lo na mídia local. Se for amigo ou partidário do suspeito, bico trancado. As duas posições são péssimas, porque atingem o ofício do jornalista em algo sagrado, a independência, que em lugares como Goiás simplesmente inexiste. Crivada pela subserviência ao contratante e ao parceiro ideológico, a honestidade sofre inanição. É vista esquálida naquele programa ali de TV, macérrima em certos ambientes do jornal, com as costelas à mostra em determinados horários de rádio, quase desmaiando de tão fraca na mídia virtual. Administradores públicos com esse problema vão execrados para a primeira página. O problema, antigo, tem diversos provocadores, e o maior é a
dificuldade de separar interesses. Posso ser repórter de política e ao mesmo tempo assistente de um político? Posso ser da editoria de economia e assessorar uma empresa? Posso integrar uma equipe jornalística e promover eventos? Posso compatibilizar meus cargos no governo e na redação? Posso me inscrever no programa de casas populares liderado por parlamentar que entrevisto? Posso pedir dinheiro emprestado para pessoas que aparecem em minhas reportagens? Posso ser amigo do delegado, do PM, do juiz, do promotor, do presidente da associação, do político, do ocupante de função pública?
“Ficamos todos infelizes. O jornalista vocacionado teve de mudar de ramo ou de atitude para se sustentar minimamente, e os vocacionados para a malandragem ficaram ricos” São perguntas raramente feitas e nunca respondidas. Como posso ser uma pessoa correta, atuar corretamente num emprego digno e ser chamado de errado e indigno? Não roubo, não mato, não trafico, cometo delito só por ter dois empregos? O autor destas linhas sofreu ao se fazer questionamentos do gênero e concluiu não haver enigma, o cristal é quebrado ou inteiro, ou é virgem ou não, ou morreu ou está vivo, ou caiu do trapézio ou ficou pendurado, ou é bêbado ou equilibrista. Incrível como o jornalismo, por suas nuances e má remuneração, passou de ciência humana a sacrifício desumano. Era um sacerdócio, virou um castigo. É injusto chamar de desonesto um pai de família imerso na correria de dois, três empregos, mais bicos, frilas, horas extras, fins de semana na companhia do teclado, sem férias, sem feriado. É injusto desconfiar do coitado só porque comprou um carro zero que já saiu da concessionária com o porta-malas abarrotado pelo carnê. É injusto xingar o colega
“Crivada pela subserviência ao contratante e ao parceiro ideológico, a honestidade sofre inanição” que para fazer um turisminho aceitou o convite da empresa X ou do governo Y e, na volta, se manifestou sobre o objeto caro ao anfitrião. Tudo isso é injusto, mas quem disse que o mundo é justo? O mundo, com seu microcosmo Goiás, é injustíssimo. O mundo da mídia, com seu microcosmo jornalista, é ainda pior, pois a publicidade é milionária, os marqueteiros são os primos riquíssimos. E trabalhar no jornalismo em Goiás é de uma injustiça atroz. Os empresários sérios do ramo passam 365 dias por ano no globo da morte, vendo a moto da falência cruzar com a do agiota, nem pisca e já chegou a do fornecedor, todos querendo o que lhes é devido. Como o maior anunciante é o Poder Público, o dono do veículo de comunicação se vê obrigado a comer na palma do governante de plantão, qualquer que seja ele, de qualquer partido, e se não comer passa fome. Goiás ainda está na primeira fase de suas empresas, quase todas tocadas pelos fundadores, que utilizam os mesmos sistemas das primeiras décadas do século passado, quando as criaram. Em geral, descreem do poder do anúncio, visão tapada que felizmente está sendo substituída, nas empresas familiares, pelos pouquíssimos herdeiros capazes de sustentar a ges tão do negócio. Assim, o slogan de todos os jornais tinha de ser algo como “se você não comprar, o governo compra”. Depois, o empresariado reclama quando alguma política pública o atinge e os jornais não reagem. Os empresários da comunicação foram surpreendidos, nas últimas décadas, pelo surto de empreendedorismo de seus empregados. O repórter arruma amizade de infância com o político, que logo o incentiva: “rapaz, você ganha três salários mínimos por mês, monta uma fir-
minha, tira nota pra nóis que eu te arranjo alguma coisa no guvêinu ou mesmo aqui no gabinete. Vai por mim, larga de sê besta. É dinheiro honesto. E outra coisa, ninguém tem nada com a sua vida. Quando suas contas vencem, quem paga é ocê, seu boboca. Pega, rapais”. E o rapaz pega. Seria a equação perfeita, o jornalista não vai reclamar do atraso ou do tamanho do salário, coloca o político em suas matérias/coluna, o patrão não chia e ficamos todos felizes. Ficamos todos infelizes. O jornalista vocacionado teve de mudar de ramo ou de atitude para se sustentar minimamente, e os vocacionados para a malandragem ficaram ricos com três vítimas: os colegas, que fazem a mesma tarefa e ganham muito menos; o patrão, que não recebe pela publicidade permeada nas matérias; o público, que perde tanto com a cobertura tisnada de sem-vergonhice quanto com o dinheiro do erário torrado nessa do “larga de sê besta”. É com dor no coração que se produz um texto assim. A esperança é de que mude, aos poucos, mas mude algo no jornalismo, na política, no empresariado. Mude para o bem, para os bons, para a gente de bem, maioria nos três ramos. A crença é de que a vida vai melhorar pra família do Vicente,
geladeira e TV, chuveiro de água quente. É preciso acreditar que nem tudo nem todos estão perdidos, e mesmos estes se encontrem, retomem seu caminho. Quando chegar esse tempo vai ser mais fácil para o governo, que terá cobertura isenta, quaisquer que sejam os políticos/partidos ocupantes do Executivo e do Legislativo. Vai ser mais fácil para jornalistas e donos de veículos de comunicação, aqueles com melhor salário, suficiente em apenas um emprego, e estes com sua atividade recebendo a atenção devida e o respeito necessário. Vai ser mais fácil para os empresários, pois seus produtos chegarão à mesa dos consumidores junto com o jornal de credibilidade, a rádio idem, a TV ibidem. Ingenuidade? Talvez. É mais saudável enterrar o ceticismo na curva do Meia Ponte e crer nas pessoas, a 160 na contramão da realidade. A outra alternativa é acreditar que os jovens vão continuar se prostituindo por contracheque, que profissionais vão continuar estuprados em sua vocação, que os empresários vão continuar de pires estendido para os chefetes nomeados a cada estação. Não custa nada esperar a mudança. Nem que seja do barracão para o viaduto. Nilson Gomes, jornalista) (N
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GOIÂNIA, SEXTA-FEIRA, 29 DE JULHO DE 2011
OPINIÃOPÚBLICA Dilma coragem Nunca votei em candidatos do PT e, depois da experiência lulista, vi com preocupação a vitória de Dilma Rousseff para a presidência da República nas eleições de outubro de 2010. Agora, num ato de mea culpa, acompanho com admiração o lancetar do “tumor da corrupção” que o Lula lhe deixou como herança, gesto que pode fazer da nossa presidente uma esperança de moralização do Brasil. Basta que continue, até as últimas consequências, a faxina que iniciou nas estrebarias lulistas, mandando para a cadeia, com coragem e sem se incomodar com as pressões, os “mercenários” encastelados no governo federal. É isso que a Nação espera da sra. presidente. Agindo assim, Dilma, nem se preocupe com o “cara” que se diz “na reserva, à espera que a titular quebre as pernas”. Em
“Liberdade significa responsabilidade. É por isso que tanta gente tem medo dela.” Autor desconhecido) (A
“Tudo que é realmente grande e inspirador é criado pelo indivíduo que pode trabalhar em liberdade.” Albert Einstein) (A
O perfume do silêncio Ulisses Aesse Especial para OPINIÃOPÚBLICA
2012, os brasileiros darão à presidente a merecida recompensa, mesmo os não petistas. (FFernandes de Azevedo, via e-mail)
Estado bandido Nunca antes na história deste País vimos tanta corrupção, violência, assassinatos bárbaros, assaltos em plena luz do dia, explosões em série de caixas eletrônicos, invasões de condomínios, casas e mansões. O roubo de automóveis em escala crescente, o contrabando de armas e drogas batendo sucessivos recordes. Num Congresso podre, onde as barganhas são rotineiras, o “toma lá, dá cá” é praxe. O
Diário da Manhã
OPINIÃOPÚBLICA
tráfico de influência é moeda corrente. Esquemas para roubar o dinheiro dos contribuintes, quadrilhas, uso dos cartões corporativos em benefício próprio e assim por diante, sem enxergar luz no fim do túnel. Esse é o ambiente que o PT conseguiu formar em oito anos de governo. E esse é o País que vai sediar a Copa do Mundo e as OlimpíaKároly das, já imaginaram? (K Gombert, via e-mail)
Há uma sentença (definitiva) na vida que não nos permite ser mais estes omissos que sempre fomos. Há um pedido de justiça no olhar de cada brasileiro que clama pelo certo e que abomina o torto. Há um pedido quase que santo, para que não compactuemos com os erros (nada dialéticos) dos que se locupletam da vida pública e arrastam multidões para a vala da indigência e da miséria humana. A corrupção é um mal que nos entala na garganta. Que nos leva a crer que Deus virou as costas para o Brasil. E que nos faz penitenciar numa oração solene para que sejamos justos. Sempre justos. Há, entretanto, que se pedir a Deus que se volte para nós e que afaste este “cálice sangrento” que tanto mal nos faz e nos corta em pedaços. A hora da reflexão, a hora da mudança de postura, a hora de agir é, tão somente, agora. Não naquele futuro incerto que virá. Não naquele passado que condena. Mas no presente que nos pede respeito para que a esperança não seja em vão e que não nos mate essa utopia que cativamos. Ao povo é dado o direito do voto, da escolha. Ao povo é dado o direito da “voz das ruas” – hoje, também, frustrado diante das tantas presepadas que a imprensa tem feito na sua autossuficiência de quem manda e ajuda a corromper os princípios morais da ética da vida pública. Não é comum vê-la (a imprensa) no dorso dos que mantêm essa estrutura de negócios e de seus in-
teresses escusos. Há tempos que a imprensa, boa parte de seus profissionais, vem procrastinando seu verdadeiro papel: o da honradez do espírito público e da verdade como a consciência do povo. O mesmo podemos dizer das instituições “democráticas” (igrejas, entidades classistas, seja do trabalhador, seja patronal e outras), que nos guetos ou nas gangues do seu corporativismo vão mudando o curso natural do desenvolvimento humano. Se fazendo caixas e cifras quando na verdade, por trás de suas ações, há apenas conceitos mercenários dos valores e normas da vida, que tantos repudiamos. Não podemos mais compactuar com a excrescência dos que fazem da política seus balcões de negócios. Dos que se imaginam acima da lei e se fazem de mocinhos, os bandidos que são. Com suas garras que sulcam o suor dos que trabalham com a ho-
nestidade, como se emblema fosse em suas faces, à espera do dia e da luz que não virão. O Brasil precisa ser passado a limpo. Pôr fim ao lodo que nos repulsa da água que nos trata a sede. O Brasil precisa voltar a ser endereço de um “povo heroico e retumbante” e que se ergue nos braços do respeito às liberdades individuais e coletivas, sem os preconceitos dos que fazem da sua vida verdadeiras “rasteiras no vento”. Ou façamos do País Brasil a Nação dos justos ou esperemos a hora em que a guilhotina das ratazanas nos encontre na hora do pescoço, quando este estiver mais perfumado. Eis aqui o perfume do silêncio. Pois, não nos mate mais com a corrupção e com a manipulação da verdade. A mentira queima e nos cega. Ulisses Alves da Silva, jornalis(U ta e editor de reportagem do Diário da Manhã)
Comunicação solidária – uma necessidade pública urgente Pedro Wilson Especial para OPINIÃOPÚBLICA Desde a palavra impressa de Gutenberg que temos renovadas revoluções na maneira de comunicar. Mesmo com mil línguas, distâncias, culturas diferentes, as populações do Oriente e Ocidente têm buscado formas de entendimentos. E, para tanto, a arte, a religião, o esporte, o turismo e a economia política fazem com que tentemos nos comunicar uns com os outros – às vezes, até por sinais com expressões da boca, dos olhos, das mãos e mesmo usando fumaças e tambores. Livros, jornais, revistas, rádios, televisões. E agora, a revolução da internet, celulares, computadores, algo que fez com que um sociólogo canadense, McLuhan, décadas atrás dissesse que o mundo virou uma aldeia global. E assim e assado, a mídia virou necessidade pública como arroz e feijão. Ninguém vive sem saber o que está acontecendo no mundo, no seu e no de todos os homens e mulheres do planeta Terra/água. O homem foi ao espaço. Temos hoje milhares de satélites nos céus, olhando e vigiando todos nós. Vigiando para o bem, para o mal? Imaginamos que a maior parte dessas observações sejam para o bem, com novos conhecimentos, ciências, entretenimentos e mil curiosidades aqui e alhures. Facilitou muito os acessos a informações, notícias, pro-
duções e promoções culturais, religiosas, econômicas, ecológicas e políticas, simultaneamente com diferentes interesses e propósitos também para o bem e ou para o mal. Assim, além de imaginar, podemos refletir que hoje, graças às dificuldades, domínios, censuras, controles, manipulações e interesses políticos e econômicos, essas mídias estão também servindo para nos alertar. Os acessos a impressos e a internet nos remetem a usos e abusos sem fim. Pois que pornografias, pedofilias, trotes, ameaças, carta-bomba, terrorismos, preconceitos, intolerâncias, apologias a drogas estão ali, além de ideias racistas, fascistas, mentirosas, politiqueiras, hegemônicas, que estão por toda parte da mídia local, nacional e mundial. E estes casos da mídia britânica murdocchiana? Será que temos no Brasil mídias conurbadas com aparatos policiais, econômicos, ideológicos, políticos e religiosos? E como agem as mídias e os donos, editorias, anúncios, articulistas, leitores, observadores? Como as universidades estão formando os profissionais da comunicação social? E os programas e reportagens sobre violências urbanas rurais, são objetivos, imparciais, independentes? Será que tudo que se publica tem legitimidade, verdade, responsabilidade, ética face a interesses públicos e/ou privados? Como lutar e realizar uma comunicação social democrática, plural, transparente a serviço do bem comum de todos homens e mulheres? É possível nesta data-
ção história construir uma mídia solidária e a favor da verdade, da justiça e da paz social? Quais são os valores que permeiam nossas comunicações no mundo moderno? É possível ter uma comunicação democrática numa sociedade também democrática? E quando uma mídia reconhece que errou, basta reconhecer o erro? E as causas e consequências de uma notícia nada inocente, que distorce a realidade para beneficiar interesses nada publicáveis, poderes, ideologias? Nossas mídias trabalham para a construção social da democracia, cidadania, liberdade e solidariedade humana e histórica? Acreditamos que está na hora de fazermos um grande debate, que se iniciou na Conferência Nacional da Comunicação, para incentivarmos, apoiarmos, contribuirmos com mais e melhores meios de comunicação social. Informação com liberdade, responsabilidade, ética e interação. E participação social hoje, onde a mídia privada ou pública é de interesse público ou deve ser pois que é uma necessidade básica para a promoção humana integral.
“Nossas mídias trabalham para a construção social da democracia, cidadania, liberdade e solidariedade humana e histórica?” Acreditamos que podemos ir além do debate e já perguntar: não está na hora de, mesmo com diferentes pontos de vista, reali-
zarmos uma aliança para o bem, o bem comum da humanidade? Uma aliança da mídia geral, ampla e irrestrita, para a realização de uma sociedade mais justa, livre e fraterna? Um protocolo, um acordo geral para que, como o poema de Thiago de Mello, agora seja válida a verdade. Toda a verdade. E que este debate e esta construção social percorra todos os caminhos e veias abertas de nossa realidade social. Há tempo para tudo. Tenhamos tempo para a edição de uma mídia que seja de um lado ou de outro, mas que trabalhe para que a verdade seja revelada. Para a construção de uma sociedade mais aberta, digna, diversa, plural, ética, transparente e social e economicamente justa. O desafio é abrir os corações e as mentes para construirmos juntos estradas da vida, dignas de se viver hoje e amanhã. E de uma mídia que pode e tem papel funda-
mental na notícia, na crítica, autocrítica, na educação, no trabalho, na cultura, para e com todas as raças, cores, crenças, ideias, versões e todas as forças que mobilizam a humanidade, para o gostoso saber e sabor da democracia e da cidadania, direitos e deveres humanos universais. E, para tanto e sempre, é preciso que rompamos todos os cercos e cercas que tolhem o crescimento e o desenvolvimento humano e sua natureza. Façamos, de nossas teorias, práticas democráticas e plurais que atendam às necessidades, aspirações e interesses republicanos e democráticos libertadores de toda humanidade de Deus. Pedro Wilson Guimarães, profes(P sor da UFG e da PUC-Goiás. Ex-prefeito e vereador de Goiânia. Deputado Federal de 1993-2011 PT/GO. Militante dos movimentos de direitos humanos, fé e política, educação, cerrado e participação social. E-mail: pwguimaraes@yahoo.com.br)
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GOIÂNIA, SEXTA-FEIRA, 29 DE JULHO DE 2011
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“Aqueles que negam liberdade aos outros não a merecem para si mesmos.” (Abraham Lincoln)
O preso-arbítrio Arthur da Paz Especial para OPINIÃOPÚBLICA O sol rachava um clarão no céu e fazia saltitar os pés descalços no asfalto. O homem passava caminhando com a cabeça cheia de informações. Seu pensamento voava longe nas coisas inúteis. Descia como um zumbi pela calçada às margens de uma grande avenida no Centro da cidade. Passos lentos – via as coisas, mas as coisas não o via. Tentou falar com uma mulher, ela pareceu desconfiada e ignorou-o. Mais adiante, vinha passando uma criança chupando picolé, com aquela babinha d’água correndo na boca infantil, a vontade de comer subiu à tona. O vulto do homem estava faminto e não sabia o que comer, pois o cardápio da alma estava vazio. Entrou no restau-
rante, sentou-se à mesa, mas ninguém foi lá atendê-lo. Passados vinte minutos de espera, ele começou a gritar. O restaurante estava lotado, mas ninguém ouvia. O desespero começou a arrepiar os pelos. Estaria o homem doido, louco? Bateu retirada a passos rápidos. O coração parecia saltar do peito, uma sensação de pânico o fez correr pela Avenida Anhanguera para chegar ao outro lado. Não percebeu que vinha um ônibus tipo minhocão em alta velocidade. Olhou para o lado, era tarde demais. Colocou as mãos na cabeça, fechou os olhos. O ônibus atravessou seu espírito. Seu corpo já não estava ali, sua alma ficou olhando atônita. A luz apagou; fez-se trevas no coração. O fantasma havia morrido há mais de dois anos e vagava como um espectro ilusionado, que ia e voltava no momento de sua morte, como se estivesse em um laço infinito de repetições dentro da própria mente,
preso em seu egoísmo, afogado em sua dor, escravo da mediocridade. Não era livre. Muitos caminham como espectros neutros durante a vida, para saírem dela para cair no chão áspero do tribunal na consciência. São homens trancados nos desvalores, encarnados nas entranhas envenenadas do poder e perdidos na escuridão material. Travados em suas escolhas. Uma verdadeira teia de aranha ideológica, cujos fios são tecidos pelo seu preso-arbítrio. É a única teia onde o inseto a ser devorado é o mesmo que a confeccionou. O império da corrupção política em todos os cantos do mundo, em todos os regimes ideológicos, começa a desmoronar de cima para baixo, qual avalanche que vem rasgando montanhas de fortunas acumuladas na exploração do suor alheio. A imagem que se forma diante da calamidade das revelações morais dos homens que agem pelo preso-arbítrio é um verdadeiro navio em pleno nau-
Dilema Faxina pra valer
A presidenta Dilma terá de decidir entre ser fiel àquele um que a indicou e a colocou lá ou ser digna dos milhões de eleitores que ratificaram a indicação pelo voto. Se optar pela primeira hipótese, naufragará no mar da corrupção, tal qual o Titanic. Mas, se optar por nós, indignados brasileiros que vemos tudo manietados e horrorizados, terá a oportunidade de entrar para a história como aquela que
expurgou essa verdadeira quadrilha, instalada há tempos em todos os níveis, de corruptos que permutam apoio político por poder e que, com seus apadrinhados de confiança, roubam milhões. Dilma correrá, seguramente, o risco da difícil governabilidade, mas com o apoio da Nação estará fazendo o que é correto. E, cá entre nós, ela sabe direitinho quem eles são e onde estão. Gattaz Ganem, via e-mail) (G
Se a presidente, verdadeiramente, deseja eliminar a corrupção neste País, deve revelar o que o Grupo das 8 sabe sobre o mensalão do PT e, publicamente, reconhecer que a sua campanha eleitoral, montada dentro do Palácio do Planalto, foi um atentado à ética e à democracia. Helena Valenta, via e-mail) (H
frágio, são bandidos e corruptos saltando para serem tragados pelo mar dos seus erros. Chega! Abra-se o céu! Façase a luz moral no coração dos cegos de atitude. A vida caminha alegre na borboleta que voa pulsante, florificando os jardins mentais do homem livre. A alegria é o aroma da honestidade, mas muitos escolhem estar fétidos por não lavar seus pensamentos. A liberdade é o pincel que pinta para fora das margens das páginas vazias no homem pobre de espírito. Molha-se a ponta do pincel na clareira das ideias românticas para sair pintando no coração da humanidade o crepúsculo que anuncia a chegada dos novos tempos. Note que a Terra não é presa, por isso gira. A liberdade movimenta o universo, ela é a órbita por onde translada o progresso, por onde roda o futuro, que nos conduz rodopiando a Deus. Uma pena que até lá muitos ficam tontos e vomitam atitudes
egoístas pelos pensamentos apodrecidos nos interesses pessoais. Dê um beijo na liberdade, viaje com um elétron dentro de um fio de cobre e mande os átomos irem construir novas moléculas. Seja o alquimista da sua imaginação! Faça sexo com a música clássica e tenha orgasmos acústicos, especialmente com as sinfonias de Beethoven. Elas são boas de cama, mas tenha como amante as sonatas para violino de Tchaikovsky (dê um pega bem safado na Valse Sentimentale Op. 51 No. 6, as outras não vão se enciumar, pois há tempo para escutá-las todas). É no pensamento que o homem é pleno. É no caráter que a liberdade bate as asas e voa nos céus da consciência limpa. É nas mãos banhadas com amor que Deus desce à Terra todos os dias para plantar no coração dos honestos, a luz da verdadeira alegria. Arthur da Paz é editor do (A caderno Força Livre)
O que aprender com Amy A cantora Amy Winehouse poderia ser lembrada para sempre pelas suas brilhantes obras musicais, como por exemplo o ótimo álbum Back to Black. Não à toa, Amy recebeu vários prêmios, entre eles os prestigiados Grammy e o Brit Award, além de conquistar respeito e admiração tanto da imprensa especializada quanto de músicos e de gente ligada à indústria fonográfica, como o produtor Quincy Jones. Mas tudo isso ficou em segundo plano, infelizmente. Com uma vida marcada por escândalos e muitas internações para desintoxicar o organismo das drogas, Amy passou de superstar, dona de um talento único e original, a louca
Cortejo de reputações Px Silveira Especial para OPINIÃOPÚBLICA Os poderes públicos constituídos e o jornalismo viveram sempre um do outro, em uma simbiose comensalista porém antagônica que garante a sobrevivência e a finalidade de ambos, desde que mantidos a prudente distância. Não se sabe como começou, mas de uns tempos para cá se tornou normal cada órgão do governo, não importa se em nível municipal, estadual ou federal, ter uma house de jornalismo, fazendo sua própria versão já mastigada e aprovada para expor à mídia. Sabemos que existem, na atualidade, diversas entidades nacionais e internacionais de proteção ao jornalista e seu ofício. Mas ainda não surgiu nenhuma que o proteja dele mesmo. O pior dos atentados contra os jornalistas goianos está sendo cometido silenciosamente por eles mesmos. Políticos corruptos já denunciados e punidos não estão por trás dessa vitória parcial do poder capitalista contra os jornalistas. Essa vitória está sendo saboreada pelos poderes públicos em exercício pleno de seus recursos, que são utilizados para rechear a conta dos jornalistas e entupir suas mentes. O canto de sereia do governo para apascentar, corromper ou simplesmente anular os jornalistas vem de há muito tempo. Mas nunca a nossa realidade ficou tão pobre de diversidade de opinião e tão à deriva
como agora. É decepcionante saber que os jornalistas, que por vezes admiramos em suas atitudes, são seduzidos por forças ocultas, ganhos materiais ou pela ilusão do poder na área pública, se deixando levar, bovinamente, para serem removidos das redações para os gabinetes. Assim, as redações vazias e as mentes com sentimentos que preferem esconder tomam conta do que foi até há pouco tempo ilhas efervescentes de independência e ideias livres. A princípio tímida, a prática de cooptação dos jornalistas é hoje praticada às claras. O jornalista se vangloria para os colegas do novo emprego que assumiu. Os polos se inverteram. As ovelhas negras se espantam agora quando surge em meio a elas uma saudosa e inocente ovelha branca. Se hoje o parâmetro é outro, a ética perdura e continua a mesma, no entanto é propositadamente esquecida e posta de lado. E o leitor, órfão de seu tempo, inversamente proporcional a seu abandono, está cada vez mais exigente de uma informação sadia, justa e independente. Onde achar? O tiro no pé atinge toda a classe e sai do tinteiro do próprio jornalista, que aceita uma atividade secundária que acaba por se tornar a sua ocupação principal. No primeiro momento, há o ganho salarial de incorporação de um outro dividendo em sua soma mensal. Mas a médio e longo prazos, esta prática esvazia o respeito à sua profissão e tende a enfraquecer o jornalismo como um todo, tornando-o apêndice dos governos, passando a ser as redações uma antessala do poder governa-
mental, quando os jornalistas, ao contrário, deveriam se fazer respeitar pelo próprio poder que têm em mãos e entre os demais que comandam o Estado e a Nação. Em Goiás, me desculpem os amigos se ameaço o leite das crianças, vemos tiros para tudo quanto é lado. Grandes, pequenos e médios profissionais aderem à prática. Todos sem uma visão a longo prazo. Afinal, jornalista, como o próprio nome diz, trabalha em jornal. Ao contrário, seria governalista. Cooptando o jornalista, os governos passam a ser seu patrão. Como todo patrão, este também quer ter a razão e a última palavra. E o patrão, precisa ser obedecido, isso está implícito em qualquer contrato. No jornal, o patrão do jornalista é o leitor. No governo, é o governador.
A mentira reiterada a cada edição, a manipulação das informações, a fabricação de escândalos plantados nos grupos concorrentes, a circulação de boatos, balões de ensaio e informações bois de piranhas, tudo isso é obra do jornalismo atrelado ao Poder Público, conivente e coadjuvante. Algumas situações ultrapassam os limites da consciência profissional e rompem os limbos da legalidade. Antes respeitada pelo Judiciário, pelo Legislativo e pelo Executivo, a imprensa, considerada o 4.º poder, agoniza ao ser manipulada pelo Poder Público com o álibi da necessidade de contratação de profissionais para seus quadros no intuito de dinamizar a comunicação com a sociedade. Sem titubear, certos jornalistas
ou coitada, dependendo do ponto de vista de cada um. A verdade é que o rumo desequilibrado e distorcido que Amy traçou aos poucos para si mesma fez com que sua morte, tão precoce, deixasse de ser uma surpresa para quase todo mundo. Não deveria ser assim, mas, diante de tudo isso, podemos concluir que o maior exemplo que Amy deixa a seus fãs e admiradores mais jovens não é da sua inigualável voz e seu ritmo, mas o de quanto o vício em bebidas e drogas ilegais os pode deixar a um passo da loucura, da depressão e Filipe Luiz Rida morte prematura. (F beiro Sousa, via e-mail)
“Cooptando o jornalista, os governos passam a ser seu patrão. Como todo patrão, este também quer ter a razão e a última palavra” usam as prerrogativas da profissão para atuarem como frentistas do governo, abastecendo com o que querem os tanques da redações, vazios porque o governo já carimbou quase todos. O jornalista cooptado é a extensão do governo na imprensa. Portanto, não tem condições de falar jornalisticamente do governo que o emprega. É falta de ética e jogo duplo que o leitor não aceita. Se na campanha tentam corromper o eleitor, agora querem corromper o leitor, utilizando para isso não o anacronismo dos cabos eleitorais, mas os próprios jornalistas entreguistas, descontentes e desiludidos com sua profissão. Porém, o tiro tem uma lógica perversa e também fere os governos contratantes. Estes, por mais poderosos, sem ter quem lhes cobre ação, tendem a ser mais medíocres, mais fracos, menos operantes. E, assim, vão passar para história, acusados pelo silêncio e pelo lapso de informação em seu período. Pois o julgamento no arco do tempo é implacável e a ele nada escapa, pelo simples fato de que é impossível colocá-lo na folha de pagamento. O jornalismo é uma atividade com vasos comunicantes presentes em toda a sociedade. Assim é que ele a irriga, fertiliza e fortalece. Portanto, o julgamento da história há de acusar um tempo em que tentaram anular a sociedade, por meio de seus representantes nas redações dos jornais. E que estes representantes, os jornalistas, promoveram um cortejo de reputações. Px Silveira, jornalista) (P
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Diário da Manhã
OPINIÃOPÚBLICA
GOIÂNIA, SEXTA-FEIRA, 29 DE JULHO DE 2011
OPINIÃOPÚBLICA
“O que fica de pé, se cair a liberdade?” Kipling) (K
Maus presságios O presidente americano, Barack Obama, confirmou na última sextafeira que fracassou o acordo político com a oposição republicana para evitar um calote da dívida americana e, por consequência, estragos catastróficos para a economia global. A situação caótica da economia americana é a grande oportunidade para Lula demonstrar a sua capacidade conciliadora, que infelizmente não logrou sucesso quando nosso ex-presidente tentou resolver o conflito árabe-israelense, em março de 2010. Dessa vez, Lula, com pleno conhecimento de causa, poderá ministrar a Barack Obama, aulas teóricas de “mensalão”. Essa atividade conciliatória, desenvolvida pelo dirigente petista José Dirceu, e que foi extremamente bem-sucedida ao ser aplicada no Congresso Nacional, por Lula e seus companheiros, durante o seu primeiro mandato, poderá ser igualmente útil para fazer com que as divergências existentes dentro do congresso americano caminhem numa única direção e salvem o planeta de uma segunda e definitiva catástrofe econômica. Victor Germano Pereira, via e-mail) (V
Simone Tuzzo Especial para OPINIÃOPÚBLICA O político tem como grande patrimônio a sua credibilidade, sua marca, sua imagem. Ocorre que, para ser candidato a qualquer cargo político, não é exigida uma formação específica em política, com cadeiras que variam desde o direito até o serviço social, a educação e a cultura, a saúde e a comunicação. Qualquer cidadão pode ser candidato a cargos executivos e legislativos, independentemente de seu grau de escolaridade e sua formação acadêmica. No que se refere especificamente à comunicação, grande parte dos políticos imagina conseguir gerir a sua própria comunicação, tendo como base o fato de saberem se expressar publicamente (quando sabem!). Outros, mais cuidadosos, partem para a contratação de um assessor de comunicação, sem muito critério de escolha, valendo, normalmente, que o assessor seja formado em um curso superior de comunicação social (jornalismo, relações públicas ou publicidade e propaganda). Por motivos diversos e também por uma confusão conceitual que leva a interpretar a assessoria de comunicação somente como propaganda ou assessoria de imprensa, os políticos contratam assessores mal preparados, que não possuem experiência ou trabalhos de pesquisa com as ciências políticas e, como não sabem fazer comunicação, também não sabem delegar funções aos seus assessorados. O assessor de comunicação, por sua vez, por trabalhar com alguém que não entende de comunicação, resume o trabalho em envio de notas para a imprensa e construção de canais próprios de comunicação como os inúmeros jornais e revistas de comunicação do político. O resultado é uma avalanche de publicações vazias, sem critério de qualidade, definição de públicos, linguagens desconectadas com os públicos e o gasto de dinheiro sem retorno. A principal função dos assessores de comunicação de políticos passa pela construção e manutenção da imagem pessoal, e esta transcende a dimensão operacional da publicidade e alcança a dimensão estratégica, de pensar logicamente na sistematização de conhecimento na área da comunicação, no âmbito das relações humanas e na utilização de instrumentos adequados na criação da
O PAÍS DA PAZ FOI FERIDO O terrorista Anders Behring Breivik, ultranacionalista, louco, com 32 anos apenas, matou mais de 92 pessoas e conseguiu destruir a vida de milhares. Abalou a ótima reputação de um país tido como um paraíso (gelado). Até onde vai a loucura humana? A Justiça lá o isolou completamente por meses, sem direito a nada. Se fosse no Brasil, ele pagaria fi-
Censura na imprensa sul-americana Ao tomar conhecimento de que o jornal equatoriano El Universo foi condenado por falar mal de Correa, cada vez mais se torna preocupante como estes “novos democratas” se estabeleceram na América do Sul. Todos sabem que a Venezuela é praticamente o quintal de Chávez e que o jornalismo daquele país não tem voz ativa. Além disso, diários como El Clarín também vêm sendo duramente perseguidos na Argentina, onde a liberdade de imprensa está nitidamente abalada. No Brasil, qualquer leigo tem o conhecimento de que o desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça do Distrito Fe-
deral e Territórios (TJDFT) condenou um dos maiores jornais brasileiros por citar informações sobre a Operação Faktor (mais conhecida como Boi Barrica), que envolve o filho de José Sarney, por mais que seja algo de característica cabal. Pelo visto, é melhor que tais “democratas” e seus simpatizantes sejam mais corajosos e sigam o exemplo da China, onde até a internet possui suas limitações, atestando, assim, suas incompetências totais no contexto político e registrando, definitivamente, que somente de forma apelativa é que são verdadeiramente capazes de governar. Pierre Magalhães, via e-mail) (P
ança e estaria solto! Façamos as contas: aqui, no Brasil, a morte tem preço – uns 300 mil por pessoa? Quanto daria multiplicando por uns 100 mortos? Seriam uns 30 milhões? E, depois, o insano pode responder em liberdade ou, se encarcerado, com direito a visitas íntimas, TV paga e indulto de Natal e dia das mães e páscoa etc. Eduardo Zago, via e-mail) (E
TERRORISMO RELIGIOSO? O que o ataque na Noruega tem a nos ensinar é que não se pode atribuir a nenhuma religião específica o terrorismo. Corem de vergonha aqueles que buscavam no Alcorão as razões do terrorismo islâmico. Fenômenos sociais como o terrorismo têm causas socioeconômicas. Reducionismos do tipo “ele é maluco” ou “ele é a encarnação do mal” não ajudam a acabar com esse câncer. Pior, só dão mais espaFernando ço para ele. (F Ferrone, via e-mail)
Assessoria de Comunicação, Política e Imprensa um tripé ainda em construção imagem e seu monitoramento. É importante fazer a separação das interfaces do político com os seus públicos e com a opinião pública. Os públicos pertencem ao relacionamento contínuo e necessário do assessorado, garantindo-lhe a sobrevivência e o apoio às suas atividades e contribuindo para criar um conceito favorável junto à opinião pública. Eles existem independentemente da vontade do político. Enquanto questão da comunicação social, a formação da opinião pública está ligada ao poder de retórica que o conteúdo do processo de comunicação tem de gerar uma resposta à mensagem, que por sua vez gera uma opinião, que provoca outra reação que gerará outra opinião, numa cadeia de estímulo e efeito da comunicação. Assim, a primeira etapa da formação da opinião é a comunicação total, pessoal, direta e recíproca. (Prada, 1995). Para Guareschi (1991, p. 14-15), numa sociedade onde a comunicação é capaz de construir ou alterar a realidade dos fatos, quem detém o domínio dessa comunicação detém o poder sobre a existência das coisas, a difusão das ideias e a criação da opinião pública. “Quem tem a palavra constrói identidades pessoais ou sociais”.
“Por todo histórico que se tem de políticas partidárias acima de políticas sociais, a sociedade passa a criar o mundo real e o mundo da política como se fossem coisas distintas, abrindo uma lacuna para que maus políticos se proliferem” Devemos considerar também as variáveis que compõe o receptor dessas mensagens. Cada indivíduo é composto por três elementos estruturais: cultura, sociedade e personalidade. São relevantes também a consciência, os fatores psicológicos e as experiências. O real é a realidade de cada receptor a partir das suas possibilidades de interpretação. Sendo assim, expressar uma opinião é uma necessidade de interação no meio social em que está inserido. (Tuzzo, 2005) Assim, não é novidade que os profissionais de comunicação se caracterizam como importantes
auxiliares na formação da opinião que determinados grupos de pessoas ou líderes de opinião poderão ter de um político. A harmonia entre a escolha do público, a adequação da linguagem e a escolha do veículo de difusão são fundamentais para o sucesso ou o fracasso de uma comunicação pública, e, na hipótese de um desses três itens não estarem em consonância com o objetivo, a mensagem não surtirá o efeito esperado.
“A imprensa se cansa e tem que assumir um papel investigativo, muito mais do que informativo para traduzir o que acontece entre a política e o mundo real” Além disso, o político deve sempre se lembrar de que é um representante do povo e a ele deve explicações e satisfações de todos os seus atos públicos, que deverão ser materializados a partir de informações produzidas corretamente por seus assessores de comunicação. Nesse processo existe a relação entre o político, seu assessorado e os meios de comunicação de massa, como a TV, revistas, rádios e os jornais impressos. Todo político quer estar na mídia, e a assessoria de imprensa política tem a obrigação de colocar o nome de seu assessorado em evidência a qualquer custo. A relação entre aqueles que querem estar na mídia e uma mídia que precisa de notícias não é tão simples. Políticos tendem a transformar em notícia feitos pessoais, enquanto a mídia precisa noticiar aquilo que é de interesse social. Os assessores de comunicação de políticos não conseguem trabalhar a construção de imagem a longo prazo e, ao invés de darem ênfase a projetos, dão ênfase às pessoas. Projetos grandiosos e bem elaborados projetarão pessoas, e é esse o princípio dessa construção de imagem que normalmente não ocorre. Assim como os assessores de comunicação de qualquer instituição, ou profissional liberal, os assessores de comunicação dos políticos devem ser tradutores de tudo o que ocorre com o político para a imprensa, numa linguagem adequada ao público que receberá a mensagem. Deve se preocupar em ser um auxiliar da imprensa, prestando in-
formações corretas, verdadeiras, úteis e de forma precisa. É importante para a imprensa saber que pode contar com alguém que entenda de comunicação para traduzir os bastidores políticos em linguagem que alcance a sociedade. Muitas vezes o politiquês (língua utilizada pelos políticos) não permite uma interpretação correta da situação, causando rumores, boatos, especulações e distorções de fatos reais. A sociedade já está acostumada com isso e tem a ideia de que político é assim mesmo, obscuro, capaz de desdizer o que disse quando interessante for. A imprensa se cansa e tem que assumir um papel investigativo, muito mais do que informativo para traduzir o que acontece entre a política e o mundo real. Jornalistas políticos assumem a função de videntes e pais de santo na tentativa de imaginar o que acontece com a política para que a sociedade possa ser informada, até porque, como o assunto política é intenso na imprensa e costuma a ocupar muitas páginas de jornais e muito espaço nos rádios e TV, preencher esses espaços requer construção de informação. Construir informação não é inventar, mas transformar uma ação em notícia, contudo, quando as ações não existem, assessores de comunicação de políticos e imprensa mal preparada podem criar outras formas de preencher os espaços com aquilo que não é necessariamente notícia. Assessores de comunicação de políticos devem se preparar para a
função. Políticos devem ter critérios de escolha de seus assessorados e a imprensa deve ter o cuidado com a relação entre o fato criado pelo político e aquilo que o assessor informa, pois uma sociedade apolítica gera cidadãos descrentes e desinteressados pelo assunto. É comum ouvirmos pessoas dizendo “Eu não gosto de política”! Por todo histórico que se tem de políticas partidárias acima de políticas sociais, a sociedade passa a criar o mundo real e o mundo da política como se fossem coisas distintas, abrindo uma lacuna para que maus políticos se proliferem. Uma sociedade não crítica não é capaz de distinguir políticos bons de políticos maus, porque a comunicação malfeita cria imagens irreais de ações, políticos e partidos. A sociedade é capaz de transformar ações políticas e transformar meios de comunicação, contudo deve estar preparada para reconhecer o que é certo, o que é errado, o que é bom e o que é mau, abraçar aquilo que importa e descartar o que não interessa, ou continuará a consumir política e informação como se não fizessem parte de suas vidas. Simone Tuzzo, relações públicas, (S doutora em Comunicação, coordenadora do curso de especialização em Assessoria de Comunicação e Marketing da UFG, professora efetiva do Programa de Mestrado em Comunicação e do curso de Comunicação Social – Relações Públicas, da Universidade Federal de Goiás, autora do Livro Deslumbramento coletivo – simonetuzzo@hotmail.com)