O efeito Kardec - Diário da Manhã

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Diário da Manhã

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Adaptação

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Ben Affleck e Matt Damon irão produzir adaptação para o cinema de Sleeper, um HQ de Ed Brubaker e Sean Philips publicada pela Wildstorm/DC Comics. Projeto foi criado em 2008, mas não era mencionado desde então.

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GOIÂNIA, DOMINGO, 24 DE NOVEMBRO DE 2013

Próximo game Tiago Leifert confirmou produção do jogo Fifa Copa do Mundo 2014. O apresentador publicou uma foto dele com Caio Ribeiro no Instagram durante a gravação.

EDITOR: NEIL NETO / EDITOR-ASSISTENTE: FRANCISCO COSTA/ DIAGRAMAÇÃO: MARCOS MELO – cadernodmrevista@gmail.com / (62) 3267-1068

O efeito Kardec l Gênio francês que mudou a face religiosa do Brasil é estudado sob o sério prisma de Marcel Souto Maior

BEL PEDROSA

Marcel Souto Maior biografou a vida de Chico Xavier e agora fecha o ciclo com estudo aprofundado sobre Allan Kardec

l Biógrafo do codificador da Doutrina Espírita ministra palestra hoje na Irradiação Espírita Cristã às 17 horas l Wagner de Assis, diretor do longa Nosso Lar, fará filme em 2015 baseado em Kardec – A Biografia Livro: KARDEC – A BIOGRAFIA

Arthur da Paz Especial para o DMRevista

Lançamento da obra Local: Irradiação Espírita Cristã Endereço: Rua 201, nº 232, Setor Vila Nova, Goiânia Horário: Às 17:30 Informações: (62) 3224-2133 Website: http://www.iecv.org

ENTREVISTA Diário da Manhã (DM) – Você se autodeclara ateu? Marcel Souto Maior – É verdade. Minha fé não é consolidada. Acredito, duvido, volto a acreditar, vivo nesta “gangorra” entre fé e falta de fé. Este talvez seja um dos motivos do meu interesse pelo espiritismo: a busca da fé. DM – Por que desenvolveu esse interesse por Francisco Cândido Xavier e que culminou em duas obras suas, uma que inclusive chegou a ser base para o filme de Daniel Filho? Marcel – Interesse jornalístico. Chico é um personagem impressionante. Ele escreveu mais de 400 livros, vendeu mais de 25 milhões de exemplares e doou toda a renda dos direitos autorais a instituições beneficentes. “Os livros não me pertencem, eu não escrevi nada, eles – os espíritos – escreveram”, passou a vida repetindo até morrer na cama estreita de seu quarto simples em Uberaba. Difícil resistir a uma história como esta.

xpôr a vida de qualquer pessoa é tarefa de grande responsabilidade e exige o respeito natural que se espera ser aplicado a si mesmo. Quando essa pessoa é um dos personagens mais brilhantes do Século XIX e cuja obra reformulou a geografia de um país continental – o Brasil –, é preciso muito esforço para garantir a aceitação do trabalho. Por isso, a visão do jornalista Marcel Souto Maior, autor do best-seller As vidas de Chico Xavier, é uma das mais coerentes para continuar um ciclo de exploração histórica que começa

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DM – Com o contato e as pesquisas relacionadas a Chico Xavier e o trabalho humanitário e universal por ele elaborado, você não se sentiu balançado na sua noção ético-moral e religiosa? Marcel – Com certeza. Mudei muito desde que mergulhei no universo de Chico Xavier e de Kardec há 20 anos. O espiritismo nos ensina a todos – a quem acredita ou não na vida depois da morte – o valor da solidariedade e a importância de encarar a vida, esta vida, com responsabilidade e respeito ao próximo. Uma das frases mais fortes que ouvi de Chico foi a seguinte: “Graças a Deus aprendi a viver apenas com o necessário.” Isso é muito importante. Quantos de nós desperdiçamos tempo e energia lutando por necessidades irreais? O contato com os valores fundamentais da doutrina (e com estes personagens, Chico e Kardec) me ajudou a determinar a “medida do necessário” e a definir também um “sentido de missão” para a minha vida. O que estamos fazendo aqui? Podemos fazer melhor? DM – Por que escrever Kardec – A Biografia?

Marcel – Escrevi o livro para fechar um ciclo iniciado com Chico Xavier, o principal discípulo de Kardec. Kardec era a principal bússola de Chico, uma referência fundamental para ele. Brinco que Chico nasceu com”manual de instrução: O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns, por exemplo, são fundamentais para quem pretende decifrar o médium mineiro. Ao pesquisar sobre Chico, mergulhei na obra de Kardec e fui levantando muitas informações ao longo dos anos. Essa história também precisava ser contada jornalisticamente: a trajetória de “A convicção um professor cético de que a vida na França do Sécucontinua para lo 19 que, aos 53 anos, muda sempre,além dos de vida e de tempos e através das nome (seu nome de reencarnações,é um batismo valor que inspira e dá era

sentido à vida”

com o principal discípulo de Allan Kardec e termina no próprio codificador da Doutrina Espírita. Em Goiânia, para propagar o décimo livro de sua carreira como escritor, Marcel concedeu entrevista ao Diário da Manhã e explicou a continuação da sua pesquisa sobre as origens de uma filosofia revolucionária. O livro traça a trajetória do cientista positivista, discípulo do pedagogo suíço Johann Pestalozzi e respeitadíssimo no meio acadêmico de Lion, na França, que é convidado a participar de uma brincadeira que acontecia nos salões nobres dos Estados Unidos e em várias partes do continente europeu por volta de 1840. O fenômeno das mesas girantes ou “mesas dançantes” havia se espalhado naturalmente. Os

Hippolyte Léon Denizard Rivail) para dar voz aos espíritos. O que gerou esta transformação? Por que o homem que não acreditava em nada – duvidava de tudo – passou a ser movido por tanta fé? O livro é a história desta conversão. DM – E qual método você adotou para atestar a veracidade das informações sobre a investigação e codificação espiritual elaborada pelo cético positivista francês? Marcel – Baseei minha pesquisa em duas fontes básicas: a coleção completa, no original, da Revista Espírita, escrita por Kardec, quase solitariamente, ao longo de 12 anos; e os arquivos de jornais e revistas da Biblioteca Nacional da França, onde resgatei artigos contra e a favor de Kardec publicados no século 19. Com o apoio destas fontes primárias, consegui resgatar dúvidas e convicções, erros e acertos de Kardec e levantar também os principais ataques desferidos contra ele pela Igreja, Imprensa, Ciência e dissidentes do próprio movimento. Cruzo estes caminhos, sem fazer qualquer juízo de valor, e deixo ao leitor, espírita ou não espírita, a liberdade e responsabilidade chegar às próprias conclusões. DM – Você, o repórter, foi modificado por você, o homem com crenças e percepções espirituais ao longo da suas pesquisas? Marcel – Como repórter tento ser o mais objetivo e imparcial possível. Luto – e muito – para não deixar a fé (ou falta de fé) interferir nos retratos que faço de Chico Xavier e Allan Kardec e nas minhas investigações sobre o intercâmbio entre vivos e mortos. DM – Julga ser verdadeiro todo o trabalho de Allan Kardec? Ele falhou em sua missão? Marcel – Ele acertou mais do que errou. Quando codifica a doutrina e se torna um best-seller em seu tempo – com O Livro dos Espíritos –, o professor Rivail veste o “casaco de general” e dá início a uma campanha incansável, e às vezes solitária, contra o materialismo. “O materialismo mata”, ele chegou a escrever num dos seus artigos. A partir deste momento, quando o cético se torna um missionário – Rivail vira Kardec –, a militância compromete, em algumas ocasiões, o rigor crítico e científico do velho professor. Algumas vezes, conto isto no livro, ele aposta, por exemplo, em médiuns que se revelam farsantes e avaliza mensagens pouco consistentes atribuídas a espíritos superiores.

participantes sentavam-se ao redor de uma mesa de madeira maciça, punham as mãos sobre ela, configurando uma corrente humana e, após alguns minutos de concentração, o móvel levitava, dava pancadas no chão e produzia batidas. A maioria das pessoas e, inicialmente, o próprio pesquisador Hippolyte Léon Denizard Rivail (nome por trás do pseudônimo Allan Kardec), julgava ser aqueles eventos meras pretidigitações ou truques de mágica. Mas experiências e validações com metodologia científica atiçaram a sensatez do professor Hippolyte, que percebeu que os fenômenos eram especiais e não fruto de uma brincadeira, e sim causados por inteligências invisíveis aos membros dessas reuniões.

DM – Conversar com espíritos é um absurdo para boa parcela da humanidade que se encarcerou numa visão científico-materialista. Mas sabemos que é uma prática natural que existe desde sempre. Por que, segundo você, há preconceitos ainda? Marcel – O preconceito está relacionado com o ceticismo. Muita gente duvida da possibilidade de que exista vida depois da morte e rejeita, portanto, a ideia da existência de espíritos e a possibilidade de qualquer comunicação com o invisível. Para os materialistas, fenômenos como a psicografia estão relacionados à autossugestão ou à fraude (na pior das hipóteses) ou a manifestações mentais ou psíquicas. DM – Muitos não acreditam na mediunidade, mas estes mesmos fazem orações, petitórios para entidades ‘imaginárias’, santos e até para um Ser Supremo. Desta forma, não parecemos carregar intuitivamente a noção da imortalidade da alma e que há algo além da vida no corpo? Marcel – Concordo totalmente. A fé nos santos – ou mesmo num Deus imortal – pode ser encarada também como a fé no invisível ou... nos espíritos. DM – Allan Kardec em suas obras primordiais afirmou que “O Espiritismo não é a religião do futuro”, mas contrapôs dizendo, “será o futuro das religiões”. O que ele quis dizer com isso? Você concorda com ele? Marcel – Acho perigoso promover uma espécie de concorrência entre religiões ou mesmo cobrar conversões de quem não tem fé. O importante é fazer o bem, tratar o outro como você gostaria de ser tratado, encarar a vida com responsabilidade e senso ético – independentemente da filiação a quaisquer correntes religiosas. DM – Raros foram os céticos que, ao contato com a obra de Allan Kardec, não reformaram sua maneira de ver a realidade humana e alguns, até, passaram a ser árduos admiradores e propagadores da obra deste gênio francês. Por que se dá esse efeito kardec? Marcel – “Nascer, morrer, nascer de novo, progredir sem cessar – esta é a lei.” A lógica do espiritismo – a esperança (ou convicção) de que a vida continua para sempre, através dos tempos, e que cabe a cada um de nós agir com responsabilidade e generosi-

É essa fantástica história da conversão de um cético pesquisador em um missionário espiritualista implacável, que a biografia elaborada por Marcel Souto traz aos leitores. O biógrafo afirma que não é preciso ser conhecedor da filosofia espírita para se entreter no livro, cuja abordagem possui o distanciamento jornalístico, restando ao observador o direito do próprio julgamento acerca dos fatos descritos.

HOJE EM GOIÂNIA

Ele, um dos criadores do programa Profissão Repórter e vários outros projetos de sucesso da TV Globo, estará ministrando exposição na Irradiação Espírita, em Goiânia, para lançar Kardec – A biografia, que vai virar filme em 2015, pelo diretor Wagner de Assis.

dade a cada “renascimento” –, estes valores inspiram e dão sentido à vida. DM – Chico Xavier foi responsável por fazer do Brasil o maior país espírita do globo terrestre. Você pensou em atender esse público específico com seu esforço biográfico? Marcel – Escrevo sempre para espíritas e não espíritas, para quem acredita e para quem não acredita na vida depois da morte. Enquanto pesquiso e escrevo, tento não pensar em se vou agradar ou desagradar a seguidores de Chico ou de Kardec. Eu me prendo aos fatos, reduzo ao mínimo o uso de adjetivos – para não fazer juízos de valor – e sigo em frente. Meu objetivo é sempre humanizar ao máximo os biografados e mostrar também suas dúvidas, erros, decepções, contradições. DM – Qual o objetivo de Kardec – A Biografia? Marcel – O objetivo do livro é reconstituir, com o máximo de objetividade, a transformação de um cético em líder de uma doutrina, a conversão de um professor em missionário. O que o moveu? Até onde ele foi capaz de levar a própria fé? Que surpresas e decepções ele enfrentou ao longo de sua jornada? O livro é a história da descoberta da fé e da construção e disseminação de uma doutrina. DM – Você recomendaria conhecer a obra de Allan Kardec antes ou depois de lerem a biografia? Marcel – Eu recomendaria os dois caminhos. Outro dia conversei com um leitor absolutamente cético – que não tinha a menor ideia de quem foi Kardec – e que, logo depois de ler a biografia, mergulhou em O Livro dos Espíritos e saiu transformado da leitura. Agora ele já está estudando O Livro dos Médiuns e encontrando novos caminhos para a sua vida. DM – Para concluir, quem foi, na sua visão intimista, esse homem, Allan Kardec? Marcel – Allan Kardec foi um missionário em campanha contra o materialismo. Um homem que trabalhou incansavelmente para criar uma rede de solidariedade capaz de unir os homens e dar sentido à vida de quem, muitas vezes, já não encontrava razões pra viver. “Ajuda o outro e você estará se ajudando.” “Trate o outro como você gostaria de ser tratado.” “Fora da caridade não há salvação.” Ao propagar valores como estes, ele transformou – e ainda transforma – milhões de vidas.


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