Dia Municipal do Profissional de Jornalismo e da Imprensa

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Dia Municipal do Profissional de Jornalismo e da Imprensa A partir deste ano, Sorocaba passa a comemorar o Dia Municipal do Profissional de Jornalismo e da Imprensa. O 8 de maio foi escolhido porque era a data de aniversário do fundador do DIÁRIO DE SOROCABA, o jornalista Vitor Cioffi de Luca, primeiro profissional com formação acadêmica a atuar na cidade. Hoje, ele estaria completando 90 anos. Jornalistas renomados de TV, rádio e jornal impresso comentam sobre a data e a homenagem aos profissionais de comunicação.

CADERNO ESPECIAL - 8 DE MAIO DE 2015


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ESPECIAL

DIÁRIO DE SOROCABA - DIA MUNICIPAL DO JORNALISTA

Verdade, nada mais do que a verdade

Fernando Rezende

O jornalista Cláudio Grosso, editor-chefe do DIÁRIO DE SOROCABA, conhece o jornal desde cedo. Irmão de Thereza Conceição Grosso de Luca, frequentou a redação ainda criança e logo se apaixonou pela profissão, que fala com entusiasmo. Sem dúvida nenhuma, aprendeu muito com seu cunhado, Vitor Cioffi de Luca.

za deve se manter distante das forças políticas e econômicas, isto para que as suas atividades profissionais possam ser desenvolvidas com absoluta isenção, já que é dessa maneira que poderá corresponder plenamente às expectativas do público leitor”.

Para Cláudio, quando se fala em jornalismo, o mais importante de tudo é o profissional focar a verdade acima de tudo, qualquer que seja a circunstância. “Enquanto a verdade prevalecer, sem qualquer tipo de tendência para este ou aquele lado, o jornalismo nunca deixará de triunfar”, avalia o editor.

Mas ele deixa claro que ter um relacionamento social e profissional, com quem quer que seja, é algo normal e necessário, “mas o que deve ser visto como condenável é o comprometimento inconsequente que, em muitas ocasiões, pode deturpar os fatos e estabelecer uma postura tendenciosa em prejuízo da informação correta que deve ser levada ao leitor”.

Neste sentido, o jornalista recorda que, ao longo de sua história de vida, como fundador do jornal, “Vitor Cioffi de Luca nunca deixou de recomendar esse tipo de postura aos jornalistas do DIÁRIO” e foram muitos que passaram pelo jornal ao longo dos seus 57 anos.

Cláudio Grosso, que foi prefeito de Sorocaba, faz questão de sempre contar que, mesmo sendo irmão de Thereza, quando administrou a cidade, recebeu críticas do jornal, prova que é possível existir isenção e que Vitor Cioffi de Luca sempre buscou o jornalismo no qual o leitor era o seu “patrão”.

ABSOLUTA ISENÇÃO - O ediDEDICAÇÃO, OBSTINAtor afirma que o “jornalista que se pre- ÇÃO E ENTUSIASMO - Podemos

avaliar que Cláudio é um jornalista das antigas, em razão da dedicação que tem à profissão. Entre as caraterística que deve ter o profissional da imprensa, ele coloca que o jornalista, “em sua mesa de trabalho, como se fosse o seu pequeno sacrário, ele deve se dedicar inteiramente às atividades que desenvolve. Eu diria que ele deve ser determinado, dedicado e até obstinado em tudo que faz. É imperioso que o profissional goste não apenas do que faz, mas que mantenha de maneira permanente o entusiasmo pelo que faz. É dessa forma que sempre terá muito prazer de apresentar aos demais os Cláudio Grosso, editor-chefe do DIÁRIO DE SOROCABA frutos de seu trabalho diário”. tura. Dão ibope neste Brasil, sacuConcluindo a sua aula de como dido por uma tremenda crise ética, deve atuar o bom jornalista, ele deixa alimentada pelo cinismo dos que claro que “não se pode esquecer, tam- deveriam dar exemplos de integribém, que o leitor sempre é o melhor dade. Há, felizmente, uma ampla termômetro para medir a temperatu- maioria sintonizada com valores e ra do cidadão comum. Por isso, aos princípios que podem fazer a difeque há anos nos honram com sua rença. E os jornalistas, com toda a leitura, queremos transmitir uma ex- razão, devem escrever para essa periência recorrente: família, ética gente, já que nela reside o alicerce e valores aumentam o índice de lei- da estabilidade democrática”.

Jornais têm de acompanhar a evolução digital Hoje, ao acessarmos o site de um jornal, temos várias mídias juntas, com vídeos e imagens, sem contar que o próprio site também é uma mídia alternativa para um jornal impresso. O DIÁRIO DE SOROCABA acompanhou a evolução tecnológica e, segundo o jornalista Maurício de Luca, diretor-executivo, foi o primeiro jornal da região e um dos primeiros do País a ter um site.

O conceito de transmedia vem do inglês e significa “além da” mídia, no qual o conteúdo sobressai à mídia. “Os diferentes meios coordenados por um jornal, por exemplo, podem ter conteúdos diferentes para complementar a informação”, explica Maurício, que cita o exemplo da TV DIÁRIO, cujos vídeos podem ser vistos na Fan Page do jornal, no Youtube e no site, complementando a notícia escrita.

Maurício praticamente nasceu dentro da redação do DIÁRIO. Filho caçula de Vitor e Thereza de Luca, ele é o responsável pelas plataformas virtuais do jornal. Para o jornalista, “nós vivemos a era da crossmedia e da transmedia, ou seja, a notícia é distribuída através de diferentes mídias, como o jornal impresso, a internet e suas diversas possibilidades – sites, redes sociais, Twitter, Youtube, entre outros”.

VÍDEO CLIP E NOTÍCIA - Ainda segundo Maurício, “a linguagem da TV DIÁRIO também tem um perfil diferenciado. A ideia por nós introduzida seria uma mistura de vídeo clipe com notícia. Vídeos para mostrar em poucos minutos acontecimentos relevantes ou de entretenimento. A notícia completa é contada através de texto. O vídeo transporta o internauta para o local dos fatos, de forma concisa, na grande maioria das

vezes sem entrevistas, para que ele possa sentir o ‘clima’ do palco dos acontecimentos. É a informação através de imagens e sons”. Maurício, que também é fotógrafo, uma de suas paixões, tem o cuidado, na TV DIÁRIO, de cuidar para que as imagens tenham as características inerentes ao fotojornalismo. “A informação é clara e objetiva, transmitida pela imagem, procurando valorizar também a plasticidade, como um close de uma pessoa que transmite a emoção de todos que estão pre- Maurício de Luca, diretor-executivo do DIÁRIO sentes no local dos fatos”. posição, nada seria possível sem o eleEspecializado em diversas áreas mento humano, o jornalista. E hoje o da Comunicação, além da experiên- profissional da informação precisa ter cia como repórter e editor, Maurício uma visão mais ampla de todos os elesempre acompanha os avanços tec- mentos da comunicação, pois sua tanológicos, sendo quase um visioná- refa não está mais centrada em reporrio, mas reconhece que, “apesar de tar os fatos e contar através do texto, toda tecnologia que temos a nossa dis- ela é muito mais ampla”.


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Vereador cria Dia Municipal dos Profissionais de Jornalismo e o Dia da Imprensa e homenageia Vitor Cioffi de Luca Fernando Rezende

O jornalista Vitor Cioffi de Luca completaria 90 anos no dia 8 de maio deste ano. Formado na segunda turma da Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero, em São Paulo, foi o primeiro jornalista diplomado a atuar em Sorocaba, onde fundou o DIÁRIO DE SOROCABA em 1958. Diante da sua importância para o jornalismo de Sorocaba e região, o vereador Luís Santos (Pros) decidiu homenageá-lo, escolhendo a data do seu aniversário para que seja comemorado o Dia Municipal dos Profissionais de Jornalismo e o Dia da Imprensa. Segundo Santos, a ideia surgiu ao analisar o calendário cívico-social do município. “Observei que não havia uma data destinada especificamente a essa valorosa categoria, que tanto fez e faz por uma sociedade cada vez mais democrática e justa”, conta o parlamentar. O vereador mudou-se para Sorocaba em 1993. Poucos anos depois, Vitor, juntamente com sua esposa,

Thereza da Conceição Grosso de Luca, falecerem em outubro de 1998 em um acidente automobilístico. Apesar do pouco contato, o parlamentar recorda que acompanhava o trabalho do jornalista e sua luta para manter o DIÁRIO DE SOROCABA, “jornal que simboliza sua dedicação e seriedade com que trabalhou por nossa cidade”, detalha o vereador.

com a verdade, às vezes, com dificuldades e enfrentamentos naturais à sua missão”. Na opinião do vereador, a imprensa sorocabana vem crescendo nos últimos anos, “não só em quantidade, mas, principalmente, em qualidade, diversificando-se em vários órgãos e mídias, sempre atuando e desempenhando seu papel, na transmissão dos fatos, informações e opiniões, cumprindo, assim, o seu papel social com uma atuação de qualidade”. Para marcar o Dia Municipal dos Profissionais de Jornalismo e o Dia da Imprensa, o vereador realizou no dia 27 de fevereiro, uma Sessão Solene na Câmara de Sorocaba, quando também foi comemorado 20 anos da primeira turma do curso de Jornalismo da Uniso (Universidade de Sorocaba).

PILAR DA DEMOCRACIA Questionado sobre o papel da imprensa nos dias de hoje, principalmente do interior do País, Luís Santos afirma: “A imprensa é considerada como quarto poder, não especificamente no aspecto econômico ou político, mas como um dos pilares mais atuantes na defesa da democracia, das liberdades coletivas e das garantias individuais de nossa sociedade”. E acrescenta: “Ela (a imLuís Santos informou também prensa) trabalha pela disseminação dos ideais democráticos, buscando que vai agendar uma outra sessão levar à população a informação de solene para homenagear os profissiforma imparcial e comprometida onais da área de Fotografia e Cine-

45 anos dedicados ao jornalismo O editor-executivo do DIÁRIO DE SOROCABA, José Benedito de Almeida Gomes, 59 anos, dedicou sua vida ao jornalismo. No dia 1º de abril de 1970, ele iniciou a sua carreira na área, completando 45 anos em 2015, todos eles trabalhando no matutino. A história de Almeida Gomes é muito rica. Apaixonado por filatelia, começou a escrever sobre a área por solicitação de Thereza da Conceição Grosso de Luca. Alguns meses depois, passou a escrever sobre a Igreja Católica. Quatro anos mais tarde, em 1974, seus horizontes foram ampliados e passou a fazer reportagens especiais e rádio-escuta. CURIOSIDADES DA PROFISSÃO - A totalidade dos jornalistas tem muita história para contar. Imagine quem tem 45 anos de profissão? Pedimos para ele contar uma história que presenciou em razão da profissão. Em uma tarde, Zé Benedito, como é mais conhecido, estava na redação quando avisaram que havia sido descobertas muitas ossadas

Vereador Luís Santos

matografia, que complementam o trabalho dos profissionais do Jornalismo e da Imprensa.

Fernando Rezende

humanas na praça Dr. Carlos de Campos, centro da cidade. “O fato assustou muita gente, mas a explicação era óbvia: ali tinha sido o primeiro cemitério da cidade”, conta o jornalista.

ta que gostou de fazer entre as muitas ao longo da sua carreira. Ele recordou de uma que fez com o ex-prefeito Flávio Chaves. Antigamente, a apuração de uma eleição demorava dias. A eleição sempre ocorria no dia 15 de novembro Outra história relatada foi um gran- e a apuração acontecia no Ginásio do de furo de reportagem. A ditadura mili- Sesi (Serviço Social da Indústria). tar estava quase no fim e um juiz da cidade proibiu o beijo em público. EstuNo dia 16 de novembro de 1982, Zé dantes se reuniram e resolveram fazer a Benedito conseguiu uma entrevista exNoite do Beijo. Zé Benedito era o en- clusiva com o então candidato a prefeito carregado de cobrir a pauta. Concluiu a Flávio Chaves que, pelas urnas apuradas, reportagem, quando avisaram que teve já estava eleito. Porém, parte da impreninício um quebra-quebra na praça Co- sa, com base em pesquisas eleitorais de ronel Fernando Prestes. “Foi um furo não muita credibilidade, insistia em aponnacional. Enquanto os outros jornais no- tar que o resultado ainda era duvidoso e ticiavam no dia seguinte que tudo ter- outro candidato seria eleito. “Flávio até minou na maior calmaria, o DIÁRIO me informou a composição quase que relatava a confusão que ocorreu no fi- completa de seu futuro secretariado”. nal. Até o Fantástico noticiou o fato”. Na ocasião ele estava acompanhado do Já em âmbito nacional, o chefe de então jovem repórter-fotográfico Mau- reportagem conta emocionado que enrício de Luca. tre os fatos que cobriu, não esquece “a noite memorável da cobertura da A ENTREVISTA - Pedimos para o concentração, noite adentro, na praça chefe de reportagem citar uma entrevis- do Fórum Velho, para acompanhar a

José Benedito de Almeida Gomes, editor-executivo do DIÁRIO DE SOROCABA

votação, em Brasília, das ‘Diretas Já’, que mudaria os rumos do Brasil”. O jornalista, na sua profissão, é obrigado a cobrir muitas matérias que não gostaria. Perguntamos a Zé Benedito se ele pudesse mudar uma notícia, qual mudaria das muitas que cobriu em sua carreira. A resposta: “A morte de seu Vitor e dona Tereza, meus padrinhos de profissão e casamento”.




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DIÁRIO DE SOROCABA - DIA MUNICIPAL DO JORNALISTA

Avanço tecnológico contribui para o jornalismo Editor-chefe do jornal Cruzeiro do Sul, José Carlos Fineis começou na profissão aos 16 anos Fábio Rogério

O editor-chefe do jornal Cruzeiro do Sul, José Carlos Fineis, 52 anos, é jornalista há 34, tendo começado na Tribuna de Sorocaba, quando tinha 16 anos. “Eu era um misto de chargista, aprendiz de redator e carregador de mala”, relembra com bom humor. Já no Cruzeiro, entrou aos 18 anos e trabalhou no jornal por 14 anos e meio, depois montou uma empresa com sua esposa Sandra Nascimento. Já em 2005 integrou a primeira equipe do Bom Dia Sorocaba, onde ficou até maio de 2006. “Por aqueles dias, abriu-se uma vaga de editorialista no Cruzeiro do Sul. Fui convidado, aceitei, e estou aqui. Então, são 24 anos de Cruzeiro do Sul e sete meses de Bom Dia”, conta o jornalista. Parafraseando o ex-ministro Eduardo Portella, Fineis afirma “estar” editor-chefe do Cruzeiro do Sul. Questionado se vê diferença entre os jornalistas de quando começou a atuar na área e os que saem da faculdade hoje, ele detalha que “pode parecer estranha a resposta, pois tudo mudou, mas vejo pouca diferença entre os jornalistas dos anos 1980 e os atuais”. Para Fineis, “em essência, bons jornalistas são entusiasmados com seu trabalho e procuram aprender sempre. Vibram com tudo o que fazem, têm um senso profundo de responsabilidade, respeitam as fontes e o público que vai receber a informação. Em essência, também, maus jornalistas são preguiçosos, desleixados com o texto, desinformados e têm pouca ou nenhuma consciência dos efeitos que seu trabalho pode produzir na vida das pessoas”. Na avaliação do editor, “hoje existem profissionais bons e ruins, assim como havia antes, pois o principal do jornalista – o caráter, a integridade, a ética – não tem a

ver com a prática profissional, as Conforme o editor-chefe do Crutécnicas, o ensino ou as ferramen- zeiro, a democratização da comunitas utilizadas. O essencial vem da cação em razão da internet, com as natureza humana”. redes sociais e blogs, “realmente existe e é irreversível, graças a Deus. A IDEALISMO - Já em relação ao internet deu existência real a um diidealismo, na opinião de Fineis, ele reito que era apenas teórico. O direiainda existe. “Não concebo o jor- to à livre expressão de ideias e pennalismo fora da crença profunda, samentos só passou a existir no plasincera, arraigada de que nossa ati- no individual com a informática e as vidade é um instrumento eficaz para novas tecnologias de comunicação. aprimorar a sociedade, garantir di- Antes, era um direito quase fictício, reitos, corrigir injustiças. Mas, como pois tudo o que se procurava expresem toda profissão, temos os idea- sar ou publicar precisava passar pelo listas e os que estão apenas atrás da filtro de alguém encastelado em um sobrevivência. Respeito a todos, jornal, rádio ou TV”, analisa. desde que não permitam a ausência de ideal, sem prejudicar a quaFineis vai mais longe, expressanlidade do trabalho”. do a sua teoria: “por isso digo que os ‘nerds’ é que fizeram a grande revo- José Carlos Fineis, editor-chefe do jornal Para ele, a tecnologia, ao con- lução, talvez a maior de todas. E fi- Cruzeiro do Sul trário do que muitos pensam, não zeram sem armas, sem slogans, sem está deixando os profissionais da manifestos. Usaram apenas o conhe- vemos um momento em que os emcomunicação mais frios, mas sim cimento na construção de uma gran- presários e profissionais de jornaaproximando as pessoas. “Para de obra coletiva que mudou a histó- lismo são obrigados a pôr em prácada exemplo de coisas ruins que ria da humanidade”. tica sua ousadia, se quiserem soa tecnologia pode trazer, temos breviver. Acredito firmemente que inúmeros exemplos de coisas boas Em relação ao enxugamento das é possível manter o nível de ativique ela é capaz de realizar. Está redações, o jornalista afirma que vê dade e o lucro, desde que não se tudo em nossas mãos, como sem- esse fato “com a angústia, o assom- fique parado. E percebo que, se pre esteve. Acredito que a tecno- bro e também o deslumbramento de algumas redações ficam mais enlogia é apenas mais um ‘bode ex- quem tem consciência de viver um xutas por um lado, por outro surpiatório’ para os que procuram jus- momento histórico, com tudo de ruim gem inúmeras possibilidades de tificar a própria frieza e distancia- e de bom que isso implica. O enxu- negócios e geração de renda, que mento”, filosofa. gamento das redações ocorre quan- já são uma realidade para muitos do o veículo não consegue desenvol- jornalistas. Hoje a gente pode ter APURAÇÃO DA NOTÍCIA - O ver modelos de negócios que lhe per- emprego fixo ou não, ganhar bem jornalista sempre buscou o furo de mitam manter a lucratividade dos ou não, mas ficar sem trabalho é reportagem, mas, com o advento da modelos tradicionais”. muito difícil. Com um computador internet, o imediatismo aumentou e e vontade de trabalhar, é possível muitos profissionais não se preocuPor outro lado, analisa que “vi- ganhar a vida”, conclui. pam em apurar a notícia. Para Fineis, isso é péssimo. “Basta ver os exemplos de pessoas que foram ‘mortas’ por jornalistas afoitos. Precisamos equilibrar o senso de urgência com CADERNO ESPECIAL o de responsabilidade. E jamais publicar uma informação que não esReportagens: Cida Muniz teja devidamente apurada. InfelizProjeto gráfico: Felipe Tarifa mente, há uma parte das redações que adota a política de publicar priEdição: Maurício de Luca e Cida Muniz meiro e apurar depois, mas esse não Coordenação geral: Maurício de Luca é o nosso caso”.


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Profissionais de comunicação analisam o jornalismo na era da internet Sem dúvida nenhuma o jornalismo está se transformando diariamente. Profissionais na área há 15 anos ou mais acompanharam essa mudança tecnológica. Sorocaba sempre se destacou pela capacidade e comprometimento da imprensa pela busca da informação. Diante disso, o DIÁRIO DE SOROCABA convidou três profissionais da área para responderem a duas perguntas: “qual a importância do jornalismo profissional nos dias de hoje, quando a comunicação está cada vez mais democratizada pelo uso da internet?” e “como você vê o município ter uma data para homenagear os profissionais da imprensa?” Confira as respostas:

Jornalismo comunitário Oliveira Júnior (editor do Jornal da Cidade da Rádio Cacique AM) O jornalismo está passando por uma transformação. Tem que se entender o que é noticia e opinião, objetivando não criar nenhum tipo de censura para o cidadão que faz uso de tal ferramenta, “a internet”. A complexidade do tema é que a internet, através das redes sociais, apresenta uma linha tênue entre estes dois eixos, permitindo que o cidadão poste um texto com características de informação, fazendo com que o internauta dê crédito a tal conteúdo que, em muitos casos, não passa de uma opinião particular ou algo sem qualquer base legal. Por outro lado, outros de má fé utilizam-se desta poderosa ferramenta com finalidades desconhecidas, podendo causar danos irreparáveis para quem é citado ou dá crédito a tal publicação.

Buscando soluções Simone Marquetto (diretora de Jornalismo da TV Sorocaba – SBT) Ter uma data para lembrar o dia do Profissional de Jornalismo faz com que possamos refletir sobre o nosso papel e, mais do que isso, renovar nosso compromisso de comunicólogos em retratar uma realidade de forma imparcial, apresentar discussões que não girem apenas em problemas, mas, sim, na busca por soluções. Levar ao telespectador, ouvinte ou leitor a informação com responsabilidade, para que faça a diferença na vida das pessoas. Reconhecemos que essa propagação da informação coerente com ética é o que tem feito este conceituado jornal DIÁRIO DE SOROCABA, que há anos tem expressiva participação no desenvolvimento da região. É uma empresa tradicional, que merece nosso respeito, e é justa a homenagem em ter esta data; o dia de nascimento de Vitor Cioffi de Luca, fundador do DIÁRIO DE SOROCABA, para comemorar o dia do Profissional de Jornalismo. O Profissional de Jornalismo é aquele que trabalha com a verdade da informação, não se envolve apenas com o assunto para venda de notícia. É aquele que tem a fonte segura, checa os dados

antes de compartilhar e sempre ouve todos os lados envolvidos na história que está sendo contada. Em muitos casos, mesmo com desejo de sair na frente do concorrente, precisamos ter o controle em saber a hora certa para exibir uma reportagem, por exemplo; em caso de investigação para não comprometer o trabalho da polícia. O Profissional de Jornalismo tem o comprometimento com a repercussão dos fatos, já os aventureiros da comunicação colocam em risco a credibilidade do conteúdo, porque, na maioria das vezes, não seguem os padrões de Jornalismo. É nossa obrigação apresentar um material com diferencial, para sustentarmos os anos de estudo e que no dia a dia são aplicados de maneira segura para que o público tenha o retrato real e imparcial da notícia.

racterística do ser humano em todas as áreas buscar referências e estímulos para desenvolver suas atividades, projetos e ações. Para desenvolver um jornalismo profissional, com qualidaComunicação democratizada de e credibilidade, não é diferente. Diante de uma profissão em que muiMateus Soares (chefe de tos desistem, devido às variáveis exis- Reportagem da TV Tem – Rede Globo) Diante disso, os gestores do jor- tentes, como perseguições, censuras nalismo profissional devem se colocar e assassinatos de milhares de profisO papel do jornalista é ainda mais imna vanguarda dos acontecimentos, va- sionais no mundo afora. portante nestes tempos de comunicação lorizando o ser humano, a marca e o democratizada pela internet. O profissional veículo, buscando adaptar-se às noDiante disso vejo como salutar é o responsável por apurar, checar, ouvir vas tecnologias disponíveis, visando a prestar homenagens a profissionais o(s) lado(s) envolvido(s) no assunto e, prinque seu fiel leitor, ouvinte ou telespec- do jornalismo sorocabano, visto que cipalmente, ter uma postura crítica diante tador, possa ter uma identificação pró- nossa cidade tornou-se o grande ce- dos fatos. Essa é uma conduta profissional xima com o mesmo, sabendo onde leiro no País na formação de profis- para informar e prestar serviço à populaobter a notícia, apurada e com credi- sionais na área da Comunicação e de ção. A internet e as redes sociais, hoje em município para homenagear os jornalisbilidade que o interessado busca, para grandes exemplos, como de Vitor Ci- dia, são ferramentas usadas no trabalho, tas. Seria interessante que profissionais estar sempre atualizado. offi de Luca, que deixou um legado mas não devem servir como a única fonte e estudantes de Comunicação aproveiensinando a todos o “modo de fazer para elaboração das reportagens. tassem este momento para debater soJá em relação ao Dia Municipal o jornalismo comunitário” para uma bre a profissão. Trocas de ideias e exdo Profissional de Jornalismo, é da ca- grande cidade. Acho válida uma data em nosso periências enriquecem as atividades.


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DIÁRIO DE SOROCABA - DIA MUNICIPAL DO JORNALISTA

Jornalismo para quê? Vitor de Luca buscava na filosofia a inspiração para lutar por sua utopia Walter de Luca Vitor Cioffi de Luca ficou conhecido em Sorocaba e Região como diretor do DIÁRIO DE SOROCABA, jornal que fundou e dirigiu por 40 anos. Poucos sabem, porém, o caminho que trilhou antes, ou mesmo do trabalho nos primeiros anos de seu empreendimento. Sétimo filho de uma família de 11 irmãos, Vitor veio de Piraí do Sul, Paraná, para São Paulo aos 14 anos. O objetivo era cursar o ginasial, então inexistente em sua cidade, no início da década de 40. Seu pai, sapateiro que fabricava sapatos em uma pequena oficina em casa, pouco podia fazer para ajudá-lo com as despesas. Vitor teve que se virar com mais três irmãos, com quem passou a dividir uma casa de três cômodos na capital. Seu primeiro emprego foi como entregador de compras. Carregava caixas de um armazém, subindo e descendo ladeiras da Bela Vista. Mais tarde, lembrava-se e ria dessa época, quando, segundo dizia, tinha apenas uma camisa. Tinha de lavar a cada noite para usar no dia seguinte. Inteligente e perseverante, trabalhou durante toda a adolescência, mas estudou com afinco e sempre surpreendia os filhos contando coisas que havia aprendido ainda no ginásio. Falava inglês com desenvoltura, só com as aulas da escola, declamava poemas inteiros de Camões e dominava a língua portuguesa como poucos, usando palavras que a gente só encontra em dicionários. Fez a vida em São Paulo, conseguiu empregos “de escritório”, e acabou numa casa bancária, como se dizia na época. Com o tempo, chegou a subgerente, então um cargo almejado e difícil de alcançar.

sério. Jogou torneios e se tornou árbitro da Federação Paulista da modalidade. Paralelamente, passou a colaborar com jornais da capital, enviando notícias sobre partidas e campeonatos. Pegou gosto por jornal, e ficou entusiasmado quando soube da inauguração da Cásper Líbero, primeira faculdade de jornalismo do Brasil e até hoje uma das principais do país. Em 1948 ingressou na faculdade, com a segunda turma que se formaria na Cásper, Era provavelmente um “nerd”, como são chamados hoje, divertidamente, os alunos mais aplicados. Durante o curso, passou a escrever mais, principalmente sobre um assunto que sempre o empolgou, filosofia. Com um texto sobre o filósofo alemão Friedrich_Nietzsche, ganhou um prêmio pelo melhor artigo do ano publicado pelo jornal editado pela Fundação Cásper Líbero. Leu muito sobre filosofia. Além de Nietzsche, Espinosa, Platão e vários outros, conhecia profundamente os ensinamentos de Cristo. Sempre citava nas conversas os grandes pensadores da história. Usava frases ilustrativas para expor suas ideias sobre o mundo, fosse com pessoas intelectualizadas ou mesmo com aqueles de origem mais simples. Tinha esse dom, de simplificar raciocínios brilhantes e tornálos princípios de vida. Difícil saber como encontrava tempo para refletir no dia a dia agitado do jornalista. Vitor veio para Sorocaba em 1952, convidado para dirigir o diário Folha Popular, pertencente à Curia. Instalou-se inicialmente em uma pensão no centro e teve que batalhar muito para vencer as dificuldades que enfrentava o pequeno matutino. Três meses depois, casou-se e trouxe a esposa para viver aqui.

Ambos adotaram a cidade como deles. Tiveram filhos e fundaram o DIEra praticante de tênis de mesa – ÁRIO DE SOROCABA em 1958. além de outras atividades, como o Era um tempo em que fazer jornal era remo -, desses que levam o esporte a difícil, exigia equipamentos próprios

e gente preparada para operá-los. Dos primeiros tempos de DIÁRIO, Vitor gostava de lembrar algumas histórias. De como investira tudo para instalar a empresa, a ponto de não ter absolutamente nada no bolso no primeiro dia em que o jornal foi às ruas. Sorte, dizia, que alguém gostou tanto da primeira edição que às dez da manhã do mesmo dia apareceu na redação e pagou a primeira assinatura. Contava também do trabalho de repórter, editorialista, revisor e diretor que exercia simultaneamente nos primeiros anos. Mantinha um roteiro diário de reportagem, que fazia de ônibus. Passava cedo na delegacia de polícia para pegar os registros da noite, depois ia à Câmara, à Prefeitura e circulava pela praça central (para sondar o que estava acontecendo). No final da tarde recolhia os despachos das agências de notícias que chegavam de trem na estação. Voltava para a redação e tinha que redigir e revisar o jornal praticamente sozinho. A esposa Thereza se incumbia de coordenar os jornaleiros que faziam a entrega e cuidar de outras tarefas administrativas. O DIÁRIO cresceu rápido e se tornou um jornal de porte médio com muitos funcionários. Vitor e Thereza sempre acompanharam tudo de perto, mas, com o passar dos anos, e a empresa estabilizada, puderam se dedicar a várias causas sociais. Colocaram o jornal a serviço delas, assim como defenderam, por meio dele, importantes movimentos em prol de Sorocaba e região. Vitor foi também líder católico e participou ativamente dos movimentos de Cursilho, como palestrante e organizador. Educou os quatro filhos, e três deles seguiram seus passos de jornalista. Na década de 1990, o DIÁRIO, já com a participação dos filhos do casal, se tornou um jornal de grande influência na região e um dos principais do interior do Estado. Destacava-se pela estrutura, pela equipe de profissionais, pela modernidade

Walter de Luca é professor de Jornalismo da Uniso

tecnológica e principalmente pelo jornalismo que praticava, sempre sério, ético e independente, numa linha que Vitor havia implantado desde o início e da qual jamais se afastou Vitor e Thereza viveram pouco essa fase nova. Em 1996, perderam o filho mais velho, o que lhes causou enorme desgosto e transtornos para a família e a empresa. Em 1998, partiram os dois, vitimados por um acidente de carro na volta da sua querida Piraí do Sul. O legado e os ensinamentos que deixaram são inestimáveis. Os exemplos para o jornalismo certamente serão úteis para várias gerações, assim como as lições de cidadania e de dedicação ao bem comum. Já para os que viveram próximos, a lembrança do caráter e do coração deles parece ser eterna. Em seus discursos e conversas, Vitor costumava surpreender com mensagens que traziam à tona a sua intelectualidade e a sua alma. Uma das frases que mais gostava de citar dizia: “Amar é querer o bem do outro”. Ele fora buscar em Aristóteles, o “pai da ciência¨, um jeito singelo de dizer como gostaria que fosse o mundo.


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