Edição Especial de Aniversário de Sorocaba

DIÁRIO DE SOROCABA Especial Aniversário de Sorocaba, segunda-feira 15 de agosto de 2016

SOROCABA 362 ANOS Cartões postais de uma cidade!

Por toda a cidade, com olhares atentos e também curiosos, encontramos imagens que são verdadeiros cartões postais, recortes antigos e modernos, históricos ou não, testemunhando a trajetória da Sorocaba sonhada por Baltazar Fernandes e sua gente que chega a seu 362º aniversário de fundação contemplando futuro ainda mais promissor para as próximas décadas.

Sorocaba foi acumulando ao correr de bem mais de três, quase quatro séculos de história lindas construções, monumentos significativos, manifestações populares e símbolos urbanos que, embelezando sua paisagem atual, refletem ainda um passado de riquezas culturais. Muitos deles passando desapercebidos dos próprios sorocabanos, outros despertando a curiosidade daqueles que chegam para integrar-se à sociedade local – ou mesmo de passagem, como simples visitantes ou turistas. É esta Sorocaba que o DIÁRIO se propôs a apresentar este ano, em seu habitual Suplemento Comemorativo ao Dia da Cidade, festejado a 15 de agosto.

Fotos: Fernando Rezende

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Especial Aniversário de Sorocaba, segunda-feira 15 de agosto de 2016

Conjunto arquitetônico do Mosteiro de São Bento Fundador de Sorocaba, aqui o capitão Baltazar Fernandes tem memória perenizada pelos séculos afora, com 13 missas anuais em sua memória

Demolido nos anos 50 do século passado o casarão construído pelo capitão Baltazar Fernandes para a família morar ao fundar o Povoado de Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba em fins de 1654 (ficava na altura do atual núcleo residencial do Jardim Sandra, na antiga estrada do Lageado – hoje avenida Comendador Pereira Ignácio), passados 362 anos exatamente o conjunto arquitetônico representado pelo Mosteiro de São Bento, no centro da cidade, constitui-se no único exemplar que sobreviveu aos nossos mais de três séculos e meio de história, testemunhando os primórdios da colonização.

A primitiva capelinha construída pelos escravos indígenas de Baltazar Fernandes em barro socado em honra de Nossa Senhora da Ponte, no alto

da colina, estava certamente pronta quando do marco da fundação de Sorocaba, tendo-se como referência o rio que cortava as terras que pertenciam por herança familiar ao Fundador, sertanista e bandeirante de Santana do Parnaíba. A construção do Mosteiro, já em taipa de pilão e de torrão, estilo colonial próprio da época (século XVII), começou um pouco mais tarde, alguns anos depois de a 21 de abril de 1660, estando em Santana do Parnaíba, Baltazar Fernandes assinar escritura de doação da Capela, terras, animais e outros bens à Ordem de São Bento, com a condição de enviar ao Povoado, meses depois Vila nascente, seus padres para cuidar da vida espiritual dos moradores, inclusive com a celebração de missa diária, e de sua alfabetização. Pedia ainda sepultura digna dentro da igreja e a celebração de treze missas

anuais por todo o sempre em memória de sua alma, uma por mês e a décima-terceira no dia da festa litúrgica da Padroeira de Sorocaba (agora comemorada em 15 de agosto) – como procedem religiosamente até nossos dias os Padres Beneditinos.

As paredes da igreja – depois da construção da primeira Matriz pelo próprio fundador Baltazar Fernandes pouco antes de sua morte em data incerta em meados de 1667, recebeu outros oragos, como Nossa Senhora da Visitação, até ser dedicada a Sant´Ana, mãe de Maria Santíssima e avó do Menino Jesus -, assim como as da clausura do Mosteiro que deve ter tido sua construção iniciada por volta de 1667, com a chegada efetiva dos primeiros beneditinos que para cá vieram para residir, são até hoje as mesmas, mantendo praticamente as caracterís-

ticas originais.

O conjunto foi também o primeiro da cidade tombado oficialmente pelo Condephaat (Conselho Estadual de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,

Arquitetônico e Turístico).

Guarda em seu interior, apesar de fechado à visitação pública em razão das meticulosas obras de restauro e preservação iniciadas em 2005, algumas preciosidades, como a própria imagem

da Padroeira, Sant´Ana, e também do pai São Bento e de Santa Escolástica, sua irmã, e altar-mór esculpido em madeira, com lâminas de ouro aplicadas no retábulo, trazido de Portugal ainda no século XVIII.

Praça Dr. Carlos de Campos abrigou o primeiro cemitério público Até o início do século XIX, os sepultamentos eram feitos no interior das igrejas, para as pessoas mais abastadas, ou em seus entornos. Daí a preocupação do fundador de Sorocaba, Baltazar Fernandes, de ainda em vida garantir `sepultura digna´ para si no interior da igreja do Mosteiro de São Bento, quando da doação feita em 1660 aos Padres Beneditinos de Santana

de Parnaíba. Ali, aliás, também foram sepultados sua segunda mulher, Isabel de Proença (como manifesto em testamento aberto em fins de 1654), o bandeirante Paschoal Moreira Cabral (o pai do futuro fundador de Cuiabá, capital do Estado do Mato Grosso) e o ilustre beneditino Frei Baraúna, entre tantos outros.

Assim, não só o Mosteiro de São Bento e seus entornos

serviram a sepultamentos entre os séculos XVII e XIX, pelo menos até as primeiras décadas dele, mas também outras igrejas e seus entornos no Centro antigo de Sorocaba, como a Matriz, no mesmo local onde está hoje a Catedral Metropolitana, o Mosteiro de Santa Clara (1811), das Monjas Concepcionistas, na esquina da rua de São Bento com a atual Padre Luiz, a antiga igreja de Santo

Antônio (1752), localizada defronte ao atual Mercado Municipal, e até a Capela de Aparecidinha (1785).

Em 1819, o Mosteiro de São Bento – conta o historiador José Rubens Incao, diretor da Biblioteca Infantil Municipal, em trabalho histórico recente sobre os cemitérios da cidade – doou o terreno ao lado da igreja (atual praça Dr. Carlos de

Campos) para a implantação do primeiro cemitério público a céu aberto de Sorocaba. Era fechado com grades e tinha em seu interior uma pequena capela dedicada à Santa Cruz. Era também conhecido como “Cemitério dos Bixiguentos”, na época da epidemia da `cólera morbus´. Foi utilizado até 1863, quando com o aumento da população e o perigo das doenças rondando

a cidade a Administração Municipal decidiu pela construção de um novo cemitério, maior e mais longe da cidade, em local alto e sem risco de contaminação de rios e dos perigosos miasmas dos corpos em decomposição, no campo do Piques – o Cemitério da Saudade, ainda hoje existente, no Além-Linha, nos altos da rua Hermelino Matarazzo.

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Romaria de Aparecidinha Maior manifestação religiosa da cidade e da região, tradição atinge mais de dois séculos, transmitida de geração em geração No segundo domingo do mês de julho, a Romaria de Aparecidinha leva milhares de pessoas ao bairro histórico localizado a mais de 17 quilômetros do centro de Sorocaba. Trata-se da maior manifestação religiosa da cidade, da região e quiçá do interior do Estado, numa tradição que atinge mais de dois séculos, transmitida ao longo dos anos de geração em geração. Reúne fieis devotos e também aqueles que, por tradição ou hábito cultural, fazem questão de anualmente acompanhar a Santa.

Sorocaba foi a primeira localidade do Brasil a receber uma cópia da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, venerada no local onde no Vale do Paraíba surgiu a Basílica Nacional de Aparecida, visitada inclusive pelos últimos três papas (João Paulo II, Bento XVI e Francisco). De pouco mais de treze centímetros, foi esculpida em madeira por um dos próprios pescadores que em 1717 tiraram em suas redes das águas barrentas do rio Paraíba primeiro o corpo e depois a cabeça de uma imagem da Imaculada Conceição, sucedendo-se depois copiosa e milagrosa pesca ao grupo que até então nada conseguira pescar para a recepção ao Conde de Assumar. E foi esse pescador que a entregou a um dos tropeiros que passavam pelo Vale a caminho das Feiras de Muares de Sorocaba.

Por aqui, o devoto tropeiro primeiramente fixou essa pequenina imagem da Vir-

gem Aparecida num tronco de árvore em paragem de tropeiros na região então conhecida como Piragibú do Meio.

A Capela – hoje Santuário Arquidiocesano de Nossa Senhora Aparecida – começou a ser construída

em 1785 (ou segundo outros documentos em 1782) para abrigar a veneranda imagem. E não tardou muito começarem as procissões conduzindo a imagem da Senhora Aparecida entre o lugarejo que passava a ser conhecido como Aparecidinha e a Matriz, no centro

de Sorocaba – e vice-versa.

Principalmente em épocas de secas, calamidades ou ainda outros desastres naturais, havendo registros dessas romarias já no início do século XIX. Foi monsenhor João Soares do Amaral, então pároco

Uma ‘Aranha’ no Vergueiro Fernando Rezende

Ela sempre aparece ao lado da Catedral Metropolitana, do Mosteiro de São Bento, do Parque-Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros” e do Palácio dos Tropeiros, no Parque da Boa Vista, dentre outros, como lugares tidos como símbolos de Sorocaba. Mas o que vem a ser a intrigante chamada `aranha´ do Vergueiro, avistada de vários pontos mais altos do Município, em meio ao Conjunto Hospitalar de Sorocaba, na rua Cláudio Manoel da Costa?

A enorme estrutura armada de ferro e cimento, às vezes lembrando até a praça da apoteose do Carnaval do Rio de Janeiro e abandonada há décadas, tem sua história.

Localizada dentro de área pertencente à Fundação São Paulo, mantenedora da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), que em seu câmpus de Sorocaba conta com os cursos de Medicina e Enfermagem, foi projetada e começou a ser levantada no início da década de 60 do século passado para ser um grande Santuário em honra de São Lucas Evangelista, Padroeiro dos Médicos. Era fruto de um acalentado sonho de monsenhor Antônio Pedro Misiara, um dos que mais lutou para a criação do curso de Medicina em Sorocaba e era seu diretor eclesiástico à época – em 1976, o papa Paulo VI o elevou ao Episcopado, nomeando-o bispo diocesano de Bragança Paulista, onde viveu até falecer já na década de 90.

da Matriz de Nossa Senhora da Ponte, quem em 1899, no auge da febre amarela que castigava a cidade e dizimava os sorocabanos que não conseguiam ir para outros locais longe da peste, mandando vir de Aparecidinha às pressas a veneranda imagem, também fixou as datas de

1º de janeiro (para a vinda à Matriz - depois de 1925, Catedral) e segundo domingo de julho para a recondução de Nossa Senhora Aparecida, a Santa ou a Santinha como dizem os sorocabanos de mais idade, a sua capela colonial de origem no bairro de Aparecidinha.

A casa do Padre como Santuário Histórico Vocação natural da Casa de Aluísio de Almeida é o ‘culto das coisas e da gente de Sorocaba para sempre’ A Casa de Aluísio de Almeida teve confirmada sua vocação natural de servir ao “culto das coisas e da gente de Sorocaba para sempre” logo depois do falecimento, a 28 de fevereiro de 1981, de seu ilustre morador, monsenhor Luiz Castanho de Almeida, o historiador Aluísio de Almeida. A Prefeitura apressou-se, então, em declarar o imóvel como de utilidade pública e adquiri-lo, entregando-o em seguida à administração do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba,

fundado a 3 de março de 1954, na abertura das comemorações do III Centenário de Fundação da cidade, na sala de estar do próprio sobradinho do número 84 da rua Ruy Barbosa, esquina com a rua André de Zunega, no bairro do Além-Ponte, pelo próprio padre e um grupo de dedicados estudiosos da história sorocabana, como o comendador Luiz de Almeida Marins, os ex-prefeitos Doraci do Amaral e José Crespo Gonzales e o professor Renato Sêneca de Sá Fleury.

Fernando Rezende

Para a construção da monumental obra arquitetônica, monsenhor Misiara contava, principalmente, com a contribuição de médicos de todo o Brasil, sobretudo aqueles que haviam estudado na Faculdade de Medicinal de Sorocaba. O projeto, tanto de engenharia, como arquitetônico, foi elaborado por uma empresa paranaense de Curitiba, que também assumiu a responsabilidade pela execução da obra, com cessão de todo o cimento necessário pelo Grupo Votorantim. Porém, acidentes de percurso, como problemas com explosões de dinamites quando da terraplanagem

da área e inclusive a morte de um funcionário com o desmoronamento de uma das bases, e principalmente as primeiras diretrizes eclesiásticas emanadas do Concílio Vaticano II, entendidas como recomendações para igrejas mais simples e menos imponentes, fizeram com que o projeto fosse logo paralisado e deixado de lado.

Um depoimento antigo do responsável pela armação dos ferros da `aranha´, Juliano Calegari, também já falecido, corroborado pelo mestre de obras Celso Wilkwicios, aponta que em cada arco ou coluna foram utilizadas 40 unidades de

ferro de meia polegada. O concreto era transportado por carrinho de mão e levados aos andaimes por um elevador primitivo, feito de cabos de aço e base de madeira. Tudo muito lento e ainda com poucos recursos.

Até um incêndio no depósito foi registrado!

Abandonado o projeto, o próprio monsenhor Antônio Pedro Misiara e depois o padre Domenico Trivi trataram de construir ao lado uma igreja menor e com bastante simplicidade dedicada a São Lucas, hoje entregue pela Arquidiocese à administração da Ordem dos Clérigos Regulares, os Padres Teatinos.

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O casarão do Brigadeiro Tobias Fernando Rezende

Quem chega hoje a Sorocaba pelo novo contorno rodoviário da Raposo Tavares implantado pela concessionária ViaOeste, na altura do bairro de Brigadeiro Tobias, vindo de São Paulo, São Roque, Mairinque ou Alumínio, logo avista, à direita, belo casarão colonial, daqueles que dificilmente se encontra ainda em pé e preservado. Trata-se da sede da antiga Fazenda Passa Três, de propriedade do brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, rico sorocabano da primeira metade do século XIX. É considerado o mais ilustre dos políticos que Sorocaba já teve até hoje, por duas vezes presidente da Província de São Paulo (cargo que equivale hoje ao de governador do Estado), fundador da Guarda Imperial que daria origem à futura força Pública (hoje Polícia Militar do Estado) e um dos principais líderes do Movimento Liberal de 1842, sendo sua aclamação pela Câmara de Vereadores da cidade como presidente

da Província, na manhã de 17 de maio daquele ano, o estopim para a deflagração da Revolução Liberal, que uniu forças revoltosas de São Paulo e Minas Gerais contra o Poder Imperial Central.

O casarão colonial foi construído por volta de 1775, com grossas paredes de taipa como era estilo arquitetônico presente nas edificações do século XVIII e piso de tijolos. Logo passou a ser conhecido popularmente como o ``Casarão do Brigadeiro´. Tombado pelo Conselho Estadual de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Arquitetônico e Turístico (Condephaat) e meticulosamente restaurado sob a orientação de seus técnicos e supervisão da Secretaria de Estado da Cultura nos anos 70, foi entregue à Prefeitura, que em 1981 ali implantou o Centro de Estudos do Tropeirismo, projeto envolvendo museu para preservação da memória tropeira e também da obra do Brigadeiro Tobias.

Ode ao Tropeirismo

‘Rebentou a Feira!’ e Sorocaba ganha ares de capital e desenvolve-se econômica e socialmente Se a labuta bandeirante de seus primeiros colonizadores, liderados pelo capitão Baltazar Fernandes, forjou o crescimento do Povoado e depois Vila de Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba nas primeiras seis ou sete décadas de sua existência, foi o advento da chegada do ciclo tropeirista na primeira metade do século XVIII que assegurou e impulsionou seu desenvolvimento econômico e, por conseguinte, também social e cultural pelas décadas

seguintes, até praticamente princípios do século XX, bem depois da chegada da estrada de ferro e da introdução das primeiras indústrias têxteis.

Daí a razão de hoje a cada final de maio percebermos a verdadeira invasão de cavalos e cavaleiros à cidade, para as comemorações tropeiristas, num misto de culto e resgate a uma tradição que corroborou decisivamente para que Sorocaba chegasse ao Terceiro Milênio como verdadeira capital metropolitana.

Foi Cristovão Pereira de Abreu, português de nascimento e um dos últimos bandeirantes, quem em 1731 trouxe do Sul a primeira tropa de muares para ser comercializada em Sorocaba, como marco, então, do início do ciclo tropeirista. Daí para frente, a cada ano só aumentava a expectativa em torno do célebre grito de “Rebentou a Feira!”, entre abril e maio, que crescia de modo galopante.

Didaticamente, o Tropeirismo nasceu da necessidade que, so-

fronteiras com o Uruguai, e os senhores proprietários de minas e engenhos. Inclusive, não demorou muito para que a própria Coroa Portuguesa, reconhecendo essa posição geográfica de meio de caminho, logo resolvesse instalar por aqui, às margens do rio Sorocaba (na altura de onde hoje está a ponte da rua XV de Novembro), o Registro de Animais, transferindo-o das cercanias de Itapetininga, onde fora inicialmente implantado.

bretudo, as minas de ouro que eram descobertas no Planalto Central, a partir das Minas Gerais, e ainda os grandes engenhos de cana-de-açúcar do Nordeste, especialmente Pernambuco, passaram a ter de muares para facilitar o transporte. Sorocaba logo surgiu como ponto estratégico no mapa da Colônia para favorecer os negócios entre os tropeiros que traziam esses muares, procedentes das grandes criações existentes no extremo sul e além das

O ponto alto anual dessa inusitada manifestação cultural que nos dias de hoje se repete anualmente, desde o início da década de 60 dos século passado, resgatando, assim, as tradições tropeiras sorocabanas, é o desfile apoteótico do último domingo de maio, quando milhares de cavaleiros, inclusive com seus troles e charretes, tomam contam das ruas da cidade, como a repetir: “Rebentou a Feira!”.

A Santa Cruz da Composição

Cruz na subida para o Centro perpetua solução para primeira grande pendência jurídica para Sorocaba Fernando Rezende

Os dizeres colocados junto ao monumento quando da afixação da Cruz ali em 3 de maio de 1954, então festa religiosa da Santa Cruz e dentro das celebrações do Ano do III Centenário de Fundação de Sorocaba – “Aqui Baltazar Fernandes erigiu a 1ª Santa Cruz do Senhor Jesus Cristo...” -, representando a tradição cristã do povo sorocabano herdada de seus fundadores, na realidade não esclarecem

muito bem, contudo, o `por quê´ daquela Santa Cruz da Composição no meio do caminho. O certo é que ela também perpetua o primeiro grande imbróglio jurídico registrado em Sorocaba logo após a morte em 1667 do fundador Baltazar Fernandes. Marca também a assinatura do Termo da Santa Cruz da Composição entre os vereadores da época e os monges beneditinos, colocando um ponto final a impasse criado por um dos filhos de Baltazar, Manoel Fernandes de Abreu, que reivindicava a posse das terras doadas pelo pai à Ordem de São Bento. Os padres ameaçavam, inclusive, deixar Sorocaba.

O impasse jurídico-administrativo arrastou-se por quase 50 anos, posto que o Termo da Santa Cruz da Composição só foi assinado a 2 de julho de 1728, pondo fim ao impasse.

Outra Cruz no caminho, a Cruz de Ferro Outra Cruz desperta a atenção em Sorocaba nos altos da avenida Ipanema, na Zona Norte, no início da estrada para Iperó, onde está a Floresta Nacional de Ipanema, e também da Rodovia Emerenciano Prestes de Barros, que passando pela região do Parque São Bento interliga os municípios de Sorocaba e Porto Feliz. Foi

ela uma das três primeiras fundidas a 1º de novembro de 1818 para marcar o início das atividades da Real Fábrica de Ferro de São João do Ypanema, ou seja, na data histórica em que o ferro correu pela primeira vez em altos fornos no Brasil, dando a Sorocaba a primazia também na área da indústria siderúrgica dentro da América Latina.

A Real Fábrica de Ferro de São João do Ypanema fora criada pelo príncipe -regente dom João logo após a transferência da Família Real Portuguesa para o Brasil, fugindo das forças napoleônicas, em 1808. Os primeiros mineiros e fundidores suecos chegaram ao Brasil em 1811, mas o ferro só jorrou em abundância após

muitas tentativas, indas e vindas. As outras duas cruzes estão chantadas uma no alto do Morro do Araçoyaba (Ipanema), então dentro do território do município de Sorocaba, e outra defronte ao casarão que acolhe o Museu Histórico Sorocabano, em Vila Hortência, ao lado do Parque-Zoológico Municipal “Quinzinho de Barros”.

Fernando Rezende

Quem vindo dos lados da Estação Rodoviária, rumo ao Centro, subindo pelas ruas Santa Clara ou Dr. Nogueira Martins, logo depara-se com uma grande Cruz de pedra, afixada no alto da praça existente na bifurcação entre as duas ruas, local justamente conhecido como largo da Santa Cruz. Mas por que largo da Santa Cruz ou da Santa Cruz da Composição?

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Um tanquinho histórico Fernando Rezende

No bairro do Além-Ponte, um Tanquinho de pedra localizado em travessa da avenida São Paulo, na rua Ataliba Borges, é conhecido por todos, mas não deixa de despertar curiosidade. Perpetua uma época em que água encanada não existia. Data certamente das décadas finais do século XIX. É o historiador Aluísio de Almeida que em seu livro “História de Sorocaba” (1969) esclarece um pouco sua presença ali, ao referir-se aos chafarizes então existentes na cidade: “A Câmara de Vereadores (não havia a instituição Prefeitura na época, ressalva da redação) sempre cuidou dos c aminhos para as aguadas do Supiriri, do Sorocaba, do Tanque (rua Ataliba Borges), do Chafariz (perto da rua Nova, era uma fonte com caixa de alvenaria), da Bica de São Bento (de pedra e com um rancho), do Leão e do Itororó (Seminário). Desde pelo menos 1875, houve os pipeiros, que baldeavam água do rio e que, por sinal, em 1885 eram, na maioria, italianos e fizeram a primeira greve de que temos notícia na cidade, recusando-se a tirar água bem acima da ponte, porque as carroças entravam no rio para encherem as pipas e, mais acima, o barranco impedia”.

Pobres e ricos podiam buscar águas nos chafarizes, como o Tanquinho da rua Ataliba Borges, então conhecida simplesmente como `rua do Tanquinho´.

Residência lembra os Bandeirantes bandeirantes fundadores da cidade.

Não é para menos. Se monsenhor Luiz Castanho de Almeida, o historiador Aluísio de Almeida, é considerado o `pai da história de Sorocaba´, coube a Ettore Marangoni transpor para as telas, com seu pincel mágico, inteligência versátil e profundo amor “às coisas e à gente de Sorocaba”, as mais importantes cenas e passagens históricas da cidade. Foi na década de 40, recém-chegado de volta a Sorocaba depois de concluir os estudos em Belas Artes na Capital, que lendo trabalhos de Aluísio de Almeida resolveu procurar o Padre.

Do encontro, nasceria profunda amizade e a vasta obra pictórica deixada por Ettore Marangoni, a partir das orientações históricas de Aluísio de Almeida. A primeira, principal e mais conhecida delas é a tela “Fundação de Sorocaba”, pronta para as comemorações do III Centenário em 1954 e onde coube a Ettore ainda criar a figura supositícia do Fundador, o capitão Baltazar Fernandes.

Depois de servir de sede à Prefeitura e Câmara de Vereadores, edifício oitocentista voltou a abrigar a Cultura Fernando Rezende

Tobias de Aguiar, então presidente da Província de São Paulo (hoje dir-se-ia governador do Estado). Foram, assim, o Brigadeiro e a mãe quem em 1835 cederam o grande quintal aos fundos da majestosa residência que tinham na rua das Flores (atual Monsenhor João Soares) para a edificação do prédio).

O prédio histórico de linhas arquitetônicas oitocentistas na rua Brigadeiro Tobias, no Centro, que hoje a Fundec (Fundação de Desenvolvimento Cultural de Sorocaba) adentrou a este novo século/milênio restituído à sua vocação original. Foi inaugurado como nosso imponente Teatro São Rafael em 1844 para suprir a falta que uma decente casa de espetáculos fazia numa cidade fervilhante pelo acentuado movimento que trazia a ela as anuais Feiras de Muares, trazendo gente de todos os cantos do País, os tropeiros vindos do Sul conduzindo suas tropas de muares e os abastados do centro-oeste e do norte interessados na compra dos animais para suas lavouras e exploração de minérios preciosos, principalmente nas Minas Gerais.

O Teatro São Rafael, em sua época áurea, recebeu grandes companhias de teatro e famosas orquestras de renome internacional e também visitas ilustres, como o Imperador Dom Pedro II, que ali esteve para assistir a um pomposo espetáculo na noite de17 de março de 1846. Desgastando-se nas décadas seguintes, o majestoso Teatro São Rafael chegou a passar por uma grande reforma, tornando-o majestoso novamente. Municipalizado, tinha 18 frisas, 14 camarotes, 145 cadeiras, 50 balcões e 300 lugares nas galerias.

A reinauguração foi a 5 de janeiro de 1909, porém assim persistiu somente até 1927/1928, quando novamente decadente servia mais a bailes carnavalescos.

Até que, quase em ruinas,

Monsenhor Luiz Castanho de Almeida, o historiador Aluísio de Almeida, lembra em seus escritos que sua construção começou anos antes, sob os auspícios da Sociedade Bela União Sorocabana, liderada por dona Gertrudes Aguiar, mãe do Brigadeiro Rafael

foi novamente reformado, agora para abrigar a Prefeitura Municipal, que para ali se transferiu em 1935, inaugurando-se no velho Teatro o novo Paço a 9 de julho daquele ano, nas comemorações do 3º aniversário da Revolução Constitucionalista – era prefeito o dr. Eugênio Salerno.

Prefeitura até 1981, quando em junho o então prefeito José Theodoro Mendes entregava à cida-

de o moderno e de linhas arquitetônicas arrojadas Palácio dos Tropeiros, no Parque da Boa Vista, novo Paço Municipal de Sorocaba, até o final da década de 90 o Teatro São Rafael serviu ainda de sede do Legislativo sorocabano.

Só com a construção do novo prédio da Câmara Municipal também no Alto da Boa Vista, nova restauração devolveu-o à sua vocação de origem, o serviço à Cultura, como sede da Fundec.

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Sobradinho mescla dois estilos europeus Não poucos para admirar também o sobradinho existente no final da rua XV de Novembro, bem na esquina com a rua Leopoldo Machado, hoje inclusive inscrito no livro de tombo do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico como imóvel que deve ter obrigatoriamente sua estrutura externa preservada em suas características arquitetônicas originais.

Edificado em 1928, seu estilo mescla arquitetura italiana e portuguesa, semelhante aos sobrados existentes na Europa no início do século passado, trazendo até mesmo um curioso alpendre. Já foi loja de calçados e até velório, mas também chama a atenção pelas linhas da arquitetura apresentada em seu andar superior.

Fernando Rezende

Uma residência diríamos de linhas arquitetônicas simples, mas modernas, no bairro do Trujillo, também intriga, por trazer na fachada cena que lembra as origens históricas de Sorocaba, ao homenagear a figura ímpar do Bandeirante. Fica bem na confluência da rua Virgílio de Melo Franco com o quarteirão final da rua Professor Toledo. Quem a mandou construir para servir de residência da família foi o consagrado artista plástico de origem suíça Ettore Marangoni, que aos 8 anos de idade veio para o Brasil acompanhado dos pais, inicialmente fixando-se no distrito industrial de Votorantim, trabalhando como o pai no setor de gravação na Votorantim S/A Indústria Têxtil, antes de transferir-se para São Paulo, para cursar a Escola de Belas Artes. Nas paredes externas da casa que construiu na década de 60/70 no Trujillo, logo à entrada e junto ao jardim fez questão de imprimir seu devotamento impar à história de Sorocaba, esculpindo em cimento cena lembrando os

TEATRO SÃO RAFAEL

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Um engenheiro visionário trouxe o trem Luiz Matheus Maylasky foi o grande fundador da Companhia Sorocabana de Estrada de Ferro Eternizado em bronze ao lado de um operário, o engenheiro austríaco Luiz Matheus Maylasky parece contemplar ao longe o desenvolvimento que Sorocaba experimentaria com a chegada do trem, tendo diante dois olhos logo abaixo o imponente prédio da antiga Estação Ferroviária e, mais ao fundo, as oficinas da ex-Estrada de Ferro Sorocabana. Na verdade, Sorocaba aspirava pelo novo e moderno meio de transporte de cargas e de passageiro, inovação da segunda metade do século XIX, há algum tempo e a fundação a 20 de janeiro de 1870 da Companhia Fér-

rea Ytuana, interligando inicialmente Itu a Jundiaí, renovou as esperanças de Maylasky e um grupo de sorocabanos da chegada de um ramal desta também a Sorocaba. Porém, diante das negativas recebidas, logo os integrantes do grupo ligado a Maylasky retiraram suas ações e a 20 de março seguinte já fundava, então, a Companhia Sorocabana de Estrada de Ferro. A idéia inicial era construir uma estrada de ferro interligando a cidade a Itu, porém esta logo foi abortada e os trilhos foram surgindo em direção a São Paulo.

O primeiro trem che-

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gou a Sorocaba a 10 de julho de 1875, com Maylasky dirigindo pessoalmente todas as obras de implantação da ferrovia, que em 1876 já chegava a Ipanema. Era época de desenvolvimento industrial têxtil sobretudo, mas também agrícola para a Província de São Paulo e, conforme a lavoura cafeeira principalmente expandia-se para o Oeste, a Sorocabana igualmente ia estendendo seus trilhos até os municípios da rota, chegando paulatinamente a Tietê, Tatuí, Itapetininga e Botucatu, atingindo no futuro até a região de Bauru, Ourinhos, Assis e Presidente Prudente.

A ESTAÇÃO FERROVIÁRIA Recentemente tombada oficialmente como patrimônio histórico na esfera estadual pelo Condephaat, o conjunto arquitetônico representado pela antiga Estação Ferroviária da cidade começou a ser construído no início de 1875, pouco antes da chegada do primeiro trem a Sorocaba. Foi, aliás, o primeiro edifício de tijolos do Município – até então, as construções eram em taipa de pilão (terra socada). O prédio foi projetado pelo engenheiro alemão Clemente Noveletto Spetzler e erguido sob as orientações técnicas do sorocabano Teotônio José de Araújo e

Francisco Chagas do Amaral Fontoura, que veio da Capital especialmente para trabalhar na obra. O madeiramento utilizado, além

do serviço de carpintaria, foi de responsabilidade do mestre de obras Augusto Pedro Ângelo e mão de obra escrava.

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O CHALÉ FRANCÊS – Na região cultural-arquitetônica junto ao chamado Jardim Maylasky,

no centro de Sorocaba, representada de um lado pela Estação Ferroviária e de outro pelo Palacete Scarpa, ladeando ainda casarão em estilo inglês que serviu de residência a engenheiros da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, hoje abrigando o Museu Ferroviário, está também o chamado Chalé Francês (foto). Construído em 1910, igualmente dentro de padrões arquitetônicos ingleses e telhado em estilo francês (daí a origem de sua denominação), o Chalé Francês serviu de moradia .para os engenheiros-chefes da EFS

Prédio em estilo inglês às margens da marginal

va restauração ali instalasse a chamada Usina Cultural “Ettore Marangoni”, em homenagem ao artista plástico Ettore Marangoni (1907-1992), e, assim, funcionasse recebendo espetáculos. Hoje, é propriedade particular, porém, tombado

até hoje, com o imóvel desativado de seus fins originais entregue em comodato pela Rede Ferroviária Federal, sucedânea da Fepasa na admi-

nistração da antiga Estrada de Ferro Sorocabana, à Prefeitura, que ali ensaia a manutenção de projetos na área cultural.

Uma arquitetura palaciana O coração da cidade, a praça Coronel FernandoPrestes, abriga construções ímpares, tanto pela importância histórica, como pela beleza arquitetônica, como a própria igreja da Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Ponte.

Chama a atenção também, porém, principalmente por suas linhas palacianas – aliás, assim também ele é conhecido na cidade, o Palaciano – o prédio do Sorocaba Clube, defronte para a rua de São Bento. Foi inaugurado no início de 1943 (a fundação do Clube data de 3 de novembro de 1926). O edifício apresenta uma arquitetura eclética – movimento estético

Fernando Rezende

surgido na França na primeira metade do século II, empregando vários estilos de construção

num mesmo imóvel. Representa uma fase de crescimento e prosperidade da cidade.

Primeiro fórum vira Casa da Cultura Fernando Rezende

Com a abertura da Marginal, a partir dos anos 70 um prédio em estilo inglês passou a ter realçada sua beleza arquitetônica e a cada vez mais chamar a atenção dos que passavam pela avenida Dom Aguirre. Fora construído no início do século XX, em 1904, e inaugurado em 1909 para abrigar a usina geradora de energia a diesel, construída a fim de movimentar as máquinas da Fábrica São Paulo, da Companhia Nacional de Estamparia (Cianê). Com o Grupo entrando em concordata, seu patrimônio por um tempo passou à responsabilidade do Banco do Brasil, que nos anos 90 e até bem recentemente permitiu que a Prefeitura, através de sua Secretaria da Cultura, depois de significati-

Entre 1920 e 1929, o prédio foi ampliado e modernizado, inclusive com a implantação de nova fachada em estilo eclético, como permanece

Fernando Rezende

pelo Conselho de Patrimônio Histórico Municipal em 1996, o majestoso prédio à margem direita da avenida Dom Aguirre, sentido bairro, chama a atenção principalmente à noite, pela sua iluminação especial.

Construção iniciada nos anos 30 era destinada à Escola Municipal O suntuoso prédio para os padrões de edifícios públicos da época onde se instalou a sede da Comarca de Sorocaba no segundo semestre de 1946 e onde começou a funcionar efetivamente no dia 25 de novembro, sem qualquer pompa ou solenidade de inauguração, na praça Frei Baraúna, nem Fórum seria. O prédio cujas obras de construção foram iniciadas pela Prefeitura em 1930, em área no local que ainda era conhecido como Jardim dos Bichos, estava destinado a sediar a Escola Municipal, que mantinha o Ensino Normal, para a formação de professores primários. Porém, por mais de dez anos ficaram paralisadas, permanecendo apenas nos alicerces. Inclusive, sobre

estes alicerces foi montado o altar-monumento para a realização do I Congresso Eucarístico Diocesano de Sorocaba em 1941, a pedido do bispo dom José Carlos de Aguirre.

Quando o prédio foi finalmente concluído mais de dez anos depois, a Escola Normal já estava instalada na avenida Dr. Eugênio Salerno. Tratou-se de então de abrigar ali o Fórum da Comarca, que desde que oficialmente criada a 17 de julho de 1852, entre indas e vindas, como atesta Aluísio de Almeida em seus escritos, nunca contara com uma sede decente. Passara por diversos locais sempre apertados e, à época, funcionava preca-

riamente desde o início do século no largo de São Bento, em prédio alugado dos Padres Beneditinos, o mesmo onde, agora restaurado, funciona o Espaço Cultural “São Bento”.

O prédio do Fórum Velho serviu à Justiça até 28 de novembro de 1973, quando abriu-se o Fórum Novo, na região do bairro do Mangal.

Entregue à Secretaria de Estado da Cultura, depois de forte mobilização comunitária da cidade, sobretudo de parte da juventude, foi ali instalada a Oficinal Cultural Regional “Grande Otelo”. Hoje, o prédio encontra-se novamente fechado há meses, sob a justificativa de obras de restauro e manutenção predial.

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Art Déco presente Vários exemplares do inusitado estilo arquitetônico das décadas de 30 e 40 ainda podem ser apreciados em Sorocaba e são tombados pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico Das décadas de 30 e 40 do século passado Sorocaba preserva, inclusive com termo de tombamento aprovado pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, exemplares arquitetônicos que resistiram ao tempo no estilo que se convencionou chamar de Art Déco, de uma época em que no Brasil, segundo os arquitetos, abandonava-se o ecletismo e avançava-se em direção ao estilo moderno.

Na Europa, foi desenvolvido principalmente depois do término da 1ª Guerra Mundial em 1917, para permitir a reconstrução mais rápida das cidades destruídas pelo conflito, já que possibilitava a reprodução em série. Eram algumas de suas características as platibandas ocultando a cobertura; esquadrias e guarda-corpos metálicos, sem desenhos ou ornamentos; faixas retas salientes, horizontais ou verticais nas fachadas; e volumes arredondados salientes ou cantos arredondados.

São exemplares genuínos de Art Déco presentes até hoje na configuração urbana da cidade e que chamam a atenção de muitos prédios como o antigo Cine Caracante e depois Teatro América, no início da rua Cel. Benedito Pires, ao lado da Catedral Metropolitana (hoje Lojas Americanas), construído em 1942 por Jorge Caracante; o prédio da Agência dos Correios e Telégrafos, na rua de São Bento, construído em 1938; o próprio Mercado

Municipal, também dessa época, projetado por Zenon Lotufo; o sobrado da antiga Casa Renner, na esquina da rua XV de Novembro com a Brigadeiro Tobias, onde hoje funcionar um bar-restaurante, construído em 1937 – é possível inclusive ver a data de sua construção na fachada; e ainda, afastan-

do-se um pouco do Centro, o antigo abrigo de bondes localizado na praça 9 de Julho, datado de 1940, com faixas retas salientes e cantos arredondados, e o prédio do antigo Cine Eldorado, nos altos da rua Cel. Nogueira Padilha, em Vila Hortência, edificado também por Jorge Caracante um ano antes.

Fotos: Fernando Rezende

Especial Aniversário de Sorocaba, segunda-feira 15 de agosto de 2016

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Especial Aniversário de Sorocaba, segunda-feira 15 de agosto de 2016

Palacete Scarpa Até hoje considerado um dos mais belos conjuntos arquitetônicos da cidade, o Palacete Scarpa foi o primeiro prédio com três andares e elevador de Sorocaba. Localizado na rua Souza Pereira, esquina com a rua Dr. Álvaro Soares, na região central e a menos de 100 metros da antiga Estação Ferroviária, foi projetado pelos arquitetos Marquezzini e Scapone, a pedido da Família Scarpa, no auge da Fábrica de Tecidos “Nossa Senhora da Ponte”. Foi inaugurado em 1922 para abrigar a sede do Banco União, casa bancária criada também

pelo comendador Nicolau Scarpa, imigrante italiano e rico capitalista do início do século 20, para, assim, também oferecer, respaldo às transações financeiras de suas indústrias têxteis.

De estilo neoclássico, na fachada é possível identificar uma série de detalhes arquitetônicos interessantes como ornamentos, como molduras e colunas com capitel.

O local abrigou o Banco União por alguns anos, até a falência da instituição ainda na mesma década, com a crise financeira que abalou o País em 1929. Apesar disso,

o prédio não ficaria fechado por muito tempo, sendo ainda no final dos anos 20 transformado em sede do Partido Nacional Fascista em Sorocaba.

Pouco tempo depois, o prédio passou para outra família de industriais, funcionando de 1932 a 1935 como Hotel Pereira Ignácio. Em 1936, abrigou o Sindicato dos Citricultores de Sorocaba e, entre 1937 e 1945, sediou um posto dos Correios. O prédio permaneceria com a família de Pereira Ignácio, do Grupo Votorantim até 1949, quan-

Mirante Ondina

do foi doado ao Governo do Estado, com a Secretaria da Fazenda ali mantendo seu Posto Fiscal até 2005, quando com a construção da nova sede da Delegacia Regional Tributária, nos altos do Campolim, o imóvel foi doado à Prefeitura e ali passou a funcionar, então, a sede da Secretaria da Cultura do Município, inclusive com centro de memória, arquivos históricos, fonoteca e até galeria para exposições periódicas de Artes Plásticas. Aguarda também por obras de restauro, que devem começar nas próximas semanas.

Fernando Rezende

Passando pela rua Cesário Motta, no Centro, um conservado sobradinho branco, com suas portas e janelas preservadíssimas, chama atenção, pela beleza bucólica e, sobretudo, arquitetônica da década de 30 do século passado. Trata-se do Mirante Ondina, situado no número 338. E foi construído mais exatamente no ano de 1934. E o mais significativo: fruto de uma demonstração de amor. A construção foi encomendada ao engenheiro intaliano Pombal Ruggeri pelo engenheiro químico Alfredo Santarini, que decidiu desde logo chamá-lo

simplesmente de “Mirante Ondina”, em homenagem à esposa Ondina Rolim Santarini, descendente dos fundadores de Itapetininga.

Casaram-se em maio de 1936 e viveram durante toda a vida no sobrado, de onde Ondina acenava ao marido nas despedidas e nas voltas do trabalho. Era dali que ela, ao admirar a paisagem, encontrava inspiração para suas pinturas.

O engenheiro faleceu em 1984, aos 94 anos e dona Ondina mudou-se para a Capital, com a filha.

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