CLAUDIO VAZ, 28/05/2014
Mais um ano de reticências para o hospital regional
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e o Gênio da Lâmpada aparecesse para os moradores de Santa Maria e região e perguntasse o que eles gostariam de melhorar na cidade, provavelmente um dos pedidos seria ter um sistema de saúde de melhor qualidade. Esse milagre ainda está longe de ocorrer, mas a abertura do novo hospital regional é uma esperança para amenizar esse problema. Em 2014, chegou quase ao fim a construção do prédio e, em dezembro, foi confirmado um convênio entre o governo do Estado, a UFSM
FERNANDO RAMOS, 3/11/2014
e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) para que esta última assuma a gestão do novo hospital. Mas o documento não é garantia absoluta de que a Ebserh será mesmo a gestora. Isso porque, assim como a cura para outros males do setor público, o hospital regional depende de vontade política. E, com a troca de governo no Estado em 2015, há o risco de que ocorram novas mudanças. Por enquanto, a previsão é que uma pequena parte do hospital comece a funcionar em março de 2015 com a Ebserh no comando.
Poucas obras, muitas promessas
O longo I e polêmico início do fim do vestibular
sso é impossível”, disse Alice. E o chapeleiro respondeu: “Só se você acreditar que é”. Esse diálogo do livro “Alice no País das Maravilhas” lembra a polêmica sobre o fim do vestibular da UFSM. Para a grande maioria dos santamarienses e dos moradores da região, parece loucura, algo impossível, acabar com o concurso. Mas a UFSM deu seu primeiro passo para isso, gerando uma onda de polêmica. Era maio, e um vento frio soprava no campus da UFSM quando conselheiros do Cepe decidiram extinguir o vestibular. Calouros ingressariam na Federal mediante o novo sistema que atende pelo nome de Sisu, que usa as notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como classificação. Sendo assim, os estudantes teriam de se inscrever para o exame, que encerrava as inscrições no dia seguinte à decisão. Houve choro de parte dos candidatos, protesto no Centro e até ação judicial contra a medida. Dois meses depois, a Justiça decidiu manter a realização do vestibular em 2014, e o concurso saiu de 12 a 14 de dezembro. Mas, em 23 de dezembro, os conselheiros voltaram a se reunir e votar novamente a adesão ao sistema que decretou o fim do vestibular. Antes disso, em agosto, a UFSM abriu o campus em Cachoeira do Sul, com cinco cursos e seleção só pelo Sisu. Já o campus de Silveira Martins (Udesm), devido ao número reduzido de alunos, corre o risco de fechar ou mudar de foco.
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GABRIEL HAESBAERT, ESPECIAL, 5/12/2014
s governantes devem estar com o nariz bem comprido, como o do Pinóquio, diante de tantas promessas que não foram cumpridas. Obras públicas importantes para Santa Maria, prometidas para virar realidade em 2014, não saíram do papel. Anunciada para começar ainda em 2011, a obra de duplicação dos 14km das BRs, do Trevo do Castelinho até a Ulbra, teve novas datas anunciadas. O importantíssimo investimento, orçado em R$ 309 milhões e que promete reduzir os longos congestionamentos, teve a ordem de serviço assinada no longínquo setembro de 2013, e a nova promessa era começar os trabalhos nos primeiros meses de 2014. Mas o Dnit levou mais de um ano e dois meses para obter a licença ambiental junto à Fepam. Com isso, só em 16 de dezembro é que
as máquinas entraram na pista. A obra deve ficar pronta só na metade de 2017, se tudo correr bem. Outro grande impasse viveu a construção da rede de esgoto de Camobi, cuja primeira fase deve custar R$ 16 milhões. A empresa Sul Cava fez só 12% do serviço, que prevê 74km de rede, e parou a obra pedindo mais dinheiro. A Corsan multou a empresa. A paralisação gera um problemão, pois se a Corsan tiver de fazer nova licitação, a obra vai demorar mais. E faltará a licitação para construir a estação de tratamento, que será no campus da UFSM, por R$ 20 milhões. Já a duplicação dos 4km que faltam da Faixa Velha de Camobi até andou (foto), apesar de imprevistos. A obra, iniciada em novembro de 2013 e que custará R$ 33 milhões, deve ficar pronta em 2016.
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Enfim, nasce um novo curso de Medicina
Um calvário sem fim
RONALD MENDES, 2/12/2014
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erdido no deserto, o Pequeno Príncipe enfrentou dificuldades e incertezas. A direção do Centro Universitário Franciscano (Unifra) também passou por agruras para construir o hospital-escola e abrir o curso de Medicina. Depois de dois anos de muito trabalho, alívio: a Unifra conseguiu o aval do Ministério da Educação para abrir o curso. Em dezembro, o vestibular teve grande procura, com média de 68 candidatos por vaga. Dos 2,7 mil concorrentes ao curso, 78% eram de fora de Santa Maria. Vieram alunos de Brasília, Paraná e excursões de várias cidades gaúchas, como Porto Alegre, Caxias do Sul, Pelotas, Passo Fundo e Rio Grande. Os primeiros 40 alunos ingressarão na particular no primeiro semestre de 2015. Os outros 40 entrarão no segundo semestre. E agora, a Unifra concentra seus esforços numa batalha ainda mais difícil: a construção de seu novo hospital-escola. Em um futuro
próximo, a esperança é de que aparelhagem médica, servidores e 280 leitos estarão reunidos em um empreendimento generoso. Porém, este horizonte tão almejado pela Unifra e pela população da região está sujeito a incertezas. O novo hospital da Unifra espera para ser erguido no bairro Nossa Senhora de Lourdes, mas esbarra em uma já velha conhecida: a legislação. Para ser construído lá, é necessário ainda que seja feita uma alteração no Plano Diretor do município, pois ele não prevê a construção de prédios tão altos naquela região. O Ministério Público pediu informações à prefeitura e à Câmara de Vereadores para saber a real possibilidade de alteração do Plano Diretor ou não. Enquanto isso, a Unifra segue firme em seus planos de construir um novo hospital na cidade. Se isso demorar demais, o plano B é reformar e ampliar o Hospital São Francisco para já poder fazer as aulas práticas para os alunos de Medicina e outros cursos.
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história lembra dor e sofrimento. Como no calvário de Jesus Cristo, é uma longa e dura jornada de muitas provações, em que os sentimentos de justiça e injustiça se confundem. Desde a dura tragédia que se abateu sobre 242 pessoas e deixou outros 600 feridos na boate Kiss, em 27 de janeiro de 2013, centenas de pais, parentes e amigos das vítimas clamam por justiça, numa peregrinação que parece infindável. Desde aquele terrível incêndio, centenas de vidas – de familiares, de integrantes da polícia e do Judiciário e de grande parte da cidade – passaram a se envolver em uma angustiante e polêmica busca: descobrir a origem (o que levou ao incêndio) e quem foram os agentes responsáveis por tantas mortes. Assim como Jesus passou por várias estações, o calvário das pessoas que lutam por justiça teve várias passagens em 2014. Na esfera policial, uma nova investigação resultou em mais 18 indiciados. Esse caso foi analisado pelo Ministério Público, que acabou denunciando 37 pessoas por falsidade ideológica e falso testemunho – é que elas teriam assinado um documento se dizendo vizinhas do prédio onde seria aberta a Kiss e não se opondo ao funcionamento da boate, mas a polícia
JEAN PIMENTEL, 12/12/2014
descobriu que essas pessoas não moravam nas imediações da Rua dos Andradas. Na Justiça, o processo também andou. Relatos de vítimas e de testemunhas preencheram várias e várias páginas no processo criminal. Quase todos já falaram, faltam poucos indicados pela defesa. Entretanto, está distante o Fim, ou melhor, descobrir o que motivou o início. E a expectativa é que haja possíveis reviravoltas na esfera pública, que até, o momento, ficou apenas na trama periférica. Enquanto isso, donos de boates e prefeitura protagonizaram trama paralela. Casas noturnas fecharam e reabriram diversas vezes e, mesmo para as que hoje estão funcionando, nem tudo é definitivo. Momentos de tensão vividos em dois grandes eventos dos maiores clubes da cidade, Dores (onde teto de gesso desabou em um salão) e ATC (em que gás causou tumulto), sacudiram os primeiros meses de 2014. A Kiss também mudou a história do tradicionalismo em Santa Maria. O desfile farroupilha, em 2014, não teve carros alegóricos e alguns CTGs foram interditados por problemas de segurança. Esse calvário em busca de respostas ainda não acabou. Esta é uma história real que será contada, ano após ano, ainda por muito tempo.
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TADEU VILANI, 13/05/2014 FERNANDA RAMOS, ESPECIAL, 12/01/2014
Um sofrido e triste fim
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ra uma vez, um menino que sofria muito na mão do pai e da madrasta, teve seus pedidos de socorro ignorados e sua vida interrompida de forma cruel. O sofrimento do garoto lembra a difícil saga do menino João, do conto “João e Maria”, que ficou preso numa casa mal assombrada no meio de uma floresta e foi maltratado por uma bruxa. Triste e dura história também viveu o menino santa-mariense Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos. Assim como João, ele vivia numa espécie de cárcere, sob maus-tratos e abandono. Um certo dia, Bernardo sumiu de casa. Em 4 de abril, todos saíram à procura dele em Três Passos, onde vivia, e até em Santa Maria, onde mora sua avó materna. Em 14 de abril, as buscas cessaram, por um motivo que ninguém queria acreditar. Em uma cova, no meio do mato, no interior de Frederico Westphalen, estava o corpo do inocente, coberto de terra. O triste fim de Bernardo expôs a fragilidade da chamada rede de proteção à infância, que deveria tê-lo salvado. Conta a polícia que Bernardo foi vítima
da própria família em Três Passos até ser assassinado pela madrasta, Graciele Ugulini, com a suposta anuência do pai, o médico Leandro Boldrini. Gracieli, Leandro, a amiga da madrasta Edelvânia Wirganovicz e o irmão dela, Evandro Wirganovicz, foram presos e respondem pelo crime na Justiça. Mas todos eles se dizem inocentes. Quando muitos ainda se perguntavam “o que poderia ter sido feito para protegê-lo?”, gravações de conversas entre a madrasta e o pai de Bernardo com o menino fizeram com que a pergunta mudasse para “seria possível ter maltratado ainda mais essa criança?”. O ano chegou ao fim sem o julgamento dos acusados e com a Justiça negando um pedido da família da mãe de Bernardo, Odilaine Uglione Boldrini, para a reabertura das investigações sobre a morte dela, em 2010. A família não acredita que Odilaine cometeu suicídio no consultório de Leandro, como garante a polícia. Infelizmente, Bernardo não teve a mesma sorte de João, do conto infantil, que fugiu da casa da bruxa e teve um final feliz.
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Um recorde que não causa nenhum orgulho
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em mesmo as histórias de bruxas malvadas, monstros e fantasmas são tão horripilantes quanto a realidade vivida por muitas famílias santa-marienses. Nunca tantas pessoas foram assassinadas em Santa Maria como em 2014. A onda de violência foi tão grande que os especialistas na área de segurança começaram a alertar que, se nada fosse feito – principalmente na região da Nova Santa Marta, onde se concentraram os crimes nos primeiros meses do ano –, a cidade poderia chegar ao fim do ano com mais de cem mortes violentas. Sem um juiz titular na Vara de Execuções criminais até julho, muitas vezes, a resposta dada era que faltava uma maior vigilância sobre os presos do regime semiaberto, que estavam envolvidos em boa parte dos crimes. A sensação de insegurança foi potencializada pelos boatos de uma suposta lista que teria partidos do presídio com o nome de 40 pessoas que deveriam ser assassinadas – a tal lista nunca foi achada. Em 23 de setembro, a cidade já registrava uma preocupante estatística: 41 mortes violentas, ultrapassando as 40 de 2013, ano do recorde desses crimes. Até o dia 22 de dezembro, o número já chegava a 49 assassinatos na cidade. A maioria dos assassinatos vitimou homens, jovens (entre 18 e 30 anos), que morreram com disparos de arma de fogo, na rua, geralmente perto de casa. Segundo a Polícia Civil e a Justiça, na maioria dos homicídios de 2014, de alguma forma, o fato de as vítimas terem tido envolvimento com drogas acabou colaborando para que elas perdessem a vida.
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JEAN PIMENTEL, 31/10/2014
FERNANDO GOMES, BD
Um ano difícil para a economia
Chuvas destruíram pontes e casas na região
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ão chegaram a ser 40 dias de chuva, como no Dilúvio, narrado na Bíblia, mas a região central do Rio Grande do Sul foi castigada por chuvas e ventos fortes em 2014. Casas, galpões, pontes e estradas foram danificados ou destruídos. Era outubro quando uma ponte da várzea do Rio Toropi caiu na BR-287, entre São Pedro do Sul e Mata. Primeiro, no dia 28, parte dela cedeu, e o trânsito ficou bloqueado. Três dias depois, ela desabou. Era a mesma ponte que, em 1984, teve a cabeceira levada pelas cheias, e protagonizou uma cena histórica, de um Fusca que ficou pendurado (foto à dir.). A rota dos viajantes ficou mais longa. O desvio por asfalto era por Rosário do Sul, distância quase 200 km maior, ou por terra, por localidades de Vila Clara e Passo Clara, interior de Mata e São Pedro do Sul. Lá era preciso atravessar o rio por uma balsa. Foi no dia 8 de novembro que o desvio acabou sendo liberado: os motoristas voltaram a viajar pela BR-287. Mas sem data exata para
começar a construir uma nova ponte. A BR-158 foi outra estrada que sofreu danos: uma chuvarada no dia 29 de junho fez o asfalto ceder, entre Santa Maria e Itaara. Foram três dias de trânsito bloqueado. O mesmo aguaceiro fez ceder a cabeceira de outra ponte, na RSC287, entre Novos Cabrais e Candelária. Os carros que viajavam para Capital, ou voltavam, não puderam passar durante um dia. A população não foi prejudicada só no trânsito. Muitos viram suas casas serem destelhadas e invadidas pela chuva. Em Rosário do Sul, um idoso jurava que as estrelas haviam chegado até o telhado da sua casa. Na verdade, a constelação não passava de mais de 30 buracos no telhado, obra dos granizos. Ao todo, mais de 3 mil casas foram atingidas na região, além de pavilhões, arrancados pela força do vento. Em outras cidades, o castigo se transformou em falta de luz e logo faltou água também. Em Tupanciretã, Júlio de Castilhos e Unistalda, milhares de pessoas passaram dias, até mais de semana, às escuras.
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epois de anos e anos de vacas gordas, a boa fase da economia brasileira deu uma trégua e, em 2014, cresceu o temor de vivermos um longo período de vacas magras, como pregava Gênesis, na Bíblia. O desempenho da economia durante 2014 foi um choque de realidade para quem ainda acreditava que a crise na Europa não atravessaria o Atlântico. A elevação dos preços, sobretudo antes da Copa do Mundo, mostrou que o fantasma da inflação voltou. Em Santa Maria, o Índice do Custo de Vida variou 4,57% só no 1º semestre (no mesmo período em 2013, foi 2,85%) e atingiu 6,19% de janeiro a novembro. A influência do futebol decepcionou os empresários: o esperançoso comércio teve perdas com os jogos, resultando em queda nas vendas e nas contratações. De janeiro a novembro, a geração de empregos foi 70% menor que no mesmo período de 2013 na cidade. No país, a previsão de crescimento do PIB ficou em 0,2%. Devido ao aumento de preços, no começo de 2014, Santa Maria foi palco de protestos e até de questionamentos judiciais sobre o reajuste da tarifa do transporte coletivo urbano. Mesmo mostrando equívocos no cálculo da passagem, o movimento que liderou as manifestações não obteve apoio na Justiça, e a tarifa de R$ 2,60 foi mantida.
EDUARDO RAMOS, ESPECIAL, BD
Outro acréscimo que impactou nas contas foi o aumento da tarifa de energia elétrica em 28,8% na região atendida pela AES Sul. Já na região da Nova Palma Energia, a alta média chegou a 25%, enquanto as cidades atendidas pela RGE sofreram reajuste de 22%. No campo, a colheita da safra de grãos de verão resultou em números parecidos com os da supersafra do ano anterior, mas o calorão prejudicou a qualidade do arroz e da soja. Houve também queda dos preços. E no inverno, o trigo teve quebra de 40% na produção. E 2015 já começa com uma perspectiva de enfrentarmos um ano de vacas magras na economia da cidade, do Estado e do Brasil.
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Após seis anos, o tão esperado julgamento
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uma história que poderá render ainda muitos livros e que, no dia 23 de maio, teve um capítulo importante: seis anos e meio após a Operação Rodin, a Justiça Federal finalizou o maior processo de sua história no Estado, que tem mais de 200 mil páginas – são 255 volumes, recheados de histórias polêmicas, que dariam para encher uma pequena biblioteca. A sentença final, assinada pelo juiz Loraci Flores de Lima, condenou 29 dos 32 réus a penas que variam de 2 a 38 anos de prisão, devolução de R$ 90 milhões aos cofres públicos, além de multas pelos crimes cometidos. À época, R$ 70 milhões em bens dos condenados estavam bloqueados. Entre os condenados, pessoas que tiveram grande influência em Santa Maria e no Estado, como o ex-reitor da UFSM Paulo Jorge Sarkis e o ex-presidente da Coperves Dario Trevisan de Almeida, o empresário José Fernandes e
dois filhos, além de ex-diretores da Fatec e expresidentes do Detran gaúcho. Todos alegam inocência. A decisão é de primeira instância, e tanto a defesa dos réus quanto o Ministério Público Federal (MPF) recorreram. A Operação Rodin, que sacudiu o cenário político gaúcho, foi deflagrada em 2007 após uma denúncia de um professor da UFSM, nunca identificado, que apontou para o Ministério Público Federal a existência do esquema de corrupção. Segundo a investigação da Polícia Federal e do MPF, duas fundações ligadas à UFSM, a Fatec e a Fundae, foram contratadas sem licitação pelo Detran para fazer e aplicar provas para a carteira de motorista. As fundações teriam subcontratado empresas que cobrariam valores superfaturados, desviando recursos públicos. O esquema ocorreu entre 2003 e 2007 e desviou R$ 44 milhões, dizem o MPF e a Justiça.
Uma eleição cheia de surpresas EVARISTO SÁ, AFP, 26/10/2014
J
á dizia a fábula que a lebre saía em disparada e contava vantagem sobre a tartaruga, que andava tranquila pelo caminho. Afinal, a lebre era mais ágil e deixava a sossegada tartaruga para trás. Pois nas eleições de 2014, houve reviravoltas e surpresas parecidas. Para governador dos gaúchos, um candidato que estava entre os últimos nas primeiras pesquisas acabou surpreendendo e vencendo. José Ivo Sartori (PMDB), um certo gringo da Serra gaúcha, até então desconhecido do eleitor, desbancou os favoritos Ana Amélia Lemos (PP) e o então governador Tarso Genro (PT). Sartori usou a estratégia do não ataque pessoal e, mesmo sem propostas pontuais de governo, caiu no gosto popular, que manteve a tradição de nunca ter reeleito um governador. Sartori venceu por 61,2% a 38,7% no 2º turno. Para o Senado, a disputa foi apertada e, no fio do bigode, deu o estreante Lasier Martins (PDT). A região de cobertura do Diário de Santa Maria elegeu quatro deputados estaduais e um federal. Santa Maria reelegeu seus três representantes: Paulo Pimenta (PT) no Congresso, e Valdeci Oliveira (PT) e Jorge
FERNANDO GOMES, 27/10/2014
Pozzobom (PSDB) na Assembleia. Já para presidente, foi a eleição mais disputada de sua recente democracia, mas também com reviravoltas. No começo, as pesquisas indicavam vitória fácil e reeleição de Dilma Rousseff (PT). Porém, a queda de um avião em agosto quase mudou o rumo do pleito, com a morte do candidato Eduardo Campos (PSB). A sua substituta, Marina Silva (PSB), surgiu como a terceira via na disputa e ganhou uma meteórica simpatia popular. Marina chegou a desbancar Aécio Neves (PSDB) da segunda colocação nas pesquisas, e nas intenções de voto para o segundo turno, chegava a superar Dilma. Porém, na última hora, o tucano virou o jogo e foi para o segundo turno junto com a primeira colocada, Dilma, deixando a disputa entre dois partidos que comandaram o país nos últimos 20 anos: PT e PSDB. Por muito pouco, Aécio não atrapalhou a reeleição de Dilma, que teve apenas 3 milhões de votos a mais que o concorrente no segundo turno – a vitória foi de 51,6% para Dilma e 48,6% para Aécio. O cenário pós-eleição seguiu marcado por escândalos envolvendo a Petrobras.
MARCELO MARTINS, 22/09/2014
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FRANCOIS XAVIER MARI, AFP, 8/07/2014
Um fiasco do tamanho do mundo
A
fábula da formiga e da cigarra ensina que, para não passar frio, fome e necessidade no inverno, é preciso trabalhar duro no verão. Mas a cigarra queria só se divertir e, depois, sofreu. Por agrura semelhante passou a seleção brasileira, de Neymar, Felipão e companhia. Toda confiante, embalada pelo clima de festa de uma Copa do Mundo no Brasil, a Seleção começou o Mundial com vitórias e na grande esperança de faturar o hexa. Mas levou tudo na flauta, na diversão e sem a preparação necessária. No final, o Brasil sofreu um grande vexame em campo, mas evitou o temido fiasco na organização do evento. A seleção brasileira começou a disputa como a única pentacampeã. Foi um mês de uma bela competição, realizada em 12 cidades-sedes, entre elas, a capital dos gaúchos, que teve como palco o novo Estádio Beira-Rio. No entanto, o desfecho do torneio não foi o esperado pelos torcedores brasileiros, que viram o fantasma da derrota da
Copa de 1950 para o Uruguai, na final em pleno Estádio do Maracanã, repetir-se novamente. Porém, desta vez, a eliminação veio em uma partida anterior à final e de forma vergonhosa. Nas semifinais, a seleção brasileira, comandada por Luiz Felipe Scolari, protagonizou o maior fiasco da sua história no futebol ao ser goleada por 7 a 1 pela Alemanha, em jogo no Mineirão, em Belo Horizonte (MG). Os alemães, por sinal, viriam a ser campeões mundiais após vitória de 1 a 0 sobre a Argentina na final da Copa no Maracanã, no Rio de Janeiro. Já o Brasil amargou apenas um quarto lugar, após derrota de 3 a 0 para a Holanda em duelo que valia a terceira posição. A partida decisiva da Copa do Mundo, em 13 de julho, teve como gandulas 14 meninos da Sociedade Esportiva Novo Horizonte, de Santa Maria, que conquistaram essa oportunidade única depois de faturar o título nacional na Copa Coca-Cola em 2013.
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Um ano cheio de polêmicas
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beijo do príncipe, que acordou a Branca de Neve do sono profundo, garantiu o final feliz à história do conto de fadas, mas na vida real, um beijo entre duas meninas foi o estopim de um ano marcado por polêmicas em Santa Maria e no Estado. Em janeiro, um protesto de vários casais se beijando, o chamado Beijaço, foi feito no Calçadão contra a atitude de um segurança do Santa Maria Shopping, que dias antes teria tirado do local duas meninas que se beijavam. Em maio, mais polêmica. A onda de rolezinhos chegou à cidade. Por meio de eventos marcados em redes sociais, grupos de dezenas de adolescentes decidiam se encontrar nos corredores do Royal Plaza Shopping. Segundo a direção do centro comercial, houve cenas de tumulto, correrias e xingamentos contra clientes – situações que deflagraram a restrição da entrada de menores de 18 anos sem documento ou um responsável. A comunidade se dividiu a favor e contra a decisão, que, para muitos, discriminava os jovens da periferia. Menos de um mês depois, o shopping amenizou a proibição, e liberou a entrada do público dos jovens mediante identificação. Já na Capital, os gritos de “Macaco, Macaco” proferidos por parte da torcida gremista contra o goleiro do Santos, em um jogo da Copa do Brasil, no fim de agosto, ecoaram por todo o país. O racismo e a falta de civilidade nos estádios de futebol estimularam um debate que durou meses. A torcedora Patrícia Moreira da Silva, que personificou o malfeito por ser flagrada xingando Aranha, perdeu o emprego, teve de mudar de endereço e teve a antiga casa
GABRIELA VARGAS, ARQUIVO PESSOAL
incendiada. Como punição, o tricolor gaúcho perdeu 3 pontos e ficou fora do campeonato. E um CTG pode ou não abrigar um casamento gay? Essa foi a polêmica de setembro no Estado. O CTG Sentinelas do Planalto, de Livramento, aceitou o convite da Justiça para realizar um casamento coletivo, mas, entre os noivos, havia um casal de lésbicas. A medida gerou protestos e até um ato criminoso: o CTG foi incendiado dias antes do casamento. Houve mutirão para recuperar o prédio, mas o casório teve de ser feito no Fórum de Livramento. A última polêmica do ano envolveu nudez. Cinco mulheres foram flagradas correndo peladas pelas ruas da Capital. Por motivações várias – de exibicionismo até doença mental – as peladonas desafiaram os pudores dos gaúchos. E os pudicos são a maioria: um evento no Facebook, que planejava reunir peladões na Redenção, teve 19 mil presenças confirmadas. Mas só duas pessoas foram e se pelaram.
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Foi show!
FERNANDA RAMOS, ESPECIAL, 29/03/2014
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omo nas histórias de contos de fadas, muita gente ficou maravilhada com a quantidade de grandes shows que Santa Maria recebeu em 2014, depois de vários anos de vacas magras. A vinda de Luan Santana e do Teatro Mágico, em novembro, e de Kleiton & Kledir, em dezembro, fechou um ano incrível em matéria de shows nacionais e estaduais na cidade. Daniel (foto), Raça Negra, Thiaguinho, Roupa Nova, MC Catra, Jorge e Mateus, Luan Santana, Cidadão Quem, NX Zero, Frejat, Malta, O Rappa, Chimarruts, Nenhum de Nós, Nando Reis, Ira!, Papas da Língua e Jota Quest se apresentaram aqui em 2014. E tinha mais gente para vir. Os shows de Paralamas do Sucesso, Capital Inicial e Lucas Lucco foram cancelados. O do cantor sertanejo, em função do mau tempo. Já as bandas foram desmarcadas em função de um inusitado “congestionamento” de atrações: as apresentações aconteceriam em uma mesma semana de outubro, o que dividiu a procura por ingressos. Estima-se que cerca de 50 mil pessoas tenham acompanhado os shows, o que mostra que o público de Santa Maria e região está disposto a pagar para ver seus ídolos de pertinho. Mas fica para 2015 a resposta a uma pergunta que perturba quem gosta de ir aos espetáculos: quando Santa Maria terá um espaço com infraestrutura e acústica mais adequadas para receber os shows?
14 fatos breves de 2014 1) Protesto contra a tarifa – Em 20 de fevereiro, na véspera da entrada em vigor da tarifa de ônibus, de R$ 2,45 para R$ 2,60, um protesto contra o reajuste terminou em confronto entre manifestantes e policiais, na Avenida Rio Branco, deixando 21 feridos
8) Duplicações – Em 2014, foram concluídas a duplicação de 1,4km da Faixa de Rosário, até o Trevo dos Quartéis, e dois trechos da Perimetral Dom Ivo Lorscheiter – faltará o terceiro trecho
2) Alta do preço dos estacionamentos – Após lei municipal, que obrigou a cobrança passar a ser por intervalos de 15 em 15 minutos, os estacionamentos de Santa Maria aumentaram muito o preço, gerando queixas
10) Cidade será sede dos quartéis do Estado – O Exército anunciou que todos os quartéis do Estado passarão ao comando da 3ª Divisão do Exército, de Santa Maria
9) Volta do Carnaval – Após a suspensão do desfile de 2013, em função da tragédia da Kiss, a festa foi retomada na Avenida Liberdade em 2014. A campeã foi a Vila Brasil
3) Fraudes do leite – O ano foi marcado por diversas prisões e divulgações de lotes de leite com adulteração no Estado, com adição de água, ureia e soda cáustica 4) Prefeitos cassados – Após processo na Justiça, o prefeito de Jaguari, João Mario Cristofari (PMDB), perdeu o cargo e chegou a ser convocada nova eleição. Em novembro, a Justiça o reconduziu ao cargo. Já em Rosário do Sul, a Câmara fez o impeachment de Luis Henrique Antonello (PSB). Na Justiça, ele conseguiu reassumir como prefeito 5) Nanossatélite da UFSM – Um satélite de 30cm, criado no Inpe e na UFSM, foi lançado ao espaço em junho, por meio de foguete na Rússia, pondo Santa Maria no mapa das pesquisas com o uso de satélites 6) Daronco é juiz Fifa – Santa-mariense Anderson Daronco é promovido a árbitro Fifa 7) Mercados fechados aos domingos por 2 anos – Em julho, a convenção entre os sindicatos dos patrões e empregados decidiu proibir o uso de mão de obra aos domingos por dois anos. Na prática, os mercados, que abriam em um domingo por mês, não poderão mais abrir também nesse dia
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11) Seis mortos – Em 16 de abril, um ônibus da prefeitura de Santiago, que levava pacientes, foi atingido por um caminhão, em São Vicente do Sul. Seis passageiras do ônibus morreram 12) Fraude na Petrobras – A Operação Lava-Jato desvendou fraude de R$ 10 bilhões na Petrobras. Ex-diretores foram presos e disseram receber propina das empreiteiras e repassar parte da grana ao PT e ao PP. Foram presos diretores das maiores empreiteiras do país 13) Famosos que morreram – Entre as personalidades que se foram, estão os narradores Luciano do Vale e Maurício Torres, o comentarista Osmar de Oliveira, o ex-capitão colorado Fernandão, o comediante Roberto Bolaños (Chaves), a vidente Mãe Dinah, os atores José Wilker, Paulo Goulart, Hugo Carvana, Robin Williams e Philip Seymour Hoffmann, os cantores Cesar Lindemeyer, Nico Nicolaiéwsky, Jair Rodrigues e Nelson Ned, o músico Luciano Leindecker, e os escritores Gabriel García Marquez, Ariano Suassuna e João Ubaldo Ribeiro 14) Ano morno no futebol – O Inter foi campeão gaúcho de 2014 e conseguiu vaga à Libertadores 2015. Já o Grêmio amargou um ano sem título. Em Santa Maria, o Inter-SM e o Riograndense não conseguiram subir à Série A
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A você, um feliz e iluminado 2015! RONALD MENDES, 3/12/2014
Nós, da Redação, desejamos a você um ótimo 2015! Na foto, estão: Maristela Moura, Paulo Chagas, Andreia Fontana, Fernando Ramos, Carolina Carvalho, Jean Pimentel, Gabriel Haesbaert, Michelle Teixeira, Patric Chagas, Liciane Brun, Dandara Aranguiz, Thaise Moreira, Juliana Gelatti, Gabriela Perufo, Ronald Mendes, Pedro Pavan, Marilice Daronco, Pâmela Matge, Fabiana Sparremberger, Tatiana Py Dutra, Jaiana Garcia, Silvana Silva, Lizie Antonello, Leandro Belles, Igor Müller, Ricardo Silva, Rafael Guerra, Manuela Vasconcellos, Izaur Monteiro, Ticiana Fontana e Deni Zolin.
15 temas que poderão fazer história em 2015 1) Ampliações dos shoppings Royal Plaza e Monet e construção do Praça Nova Santa Maria 2) Avanço na construção da duplicação das BRs (travessia urbana) e da Faixa Velha de Camobi 3) Abertura do novo hospital regional 4) Fim da novela e início da construção do hospital da Unifra 5) Projeto de duplicação da Faixa Nova e da BR392, na saída para São Sepé 6) Retomada da obra do esgoto de Camobi 7) Conclusão do centro de eventos da UFSM 8) Reconstrução da ponte da várzea do Toropi
9) Consolidação do Parque Tecnológico 10) Abertura da unidade da alemã KMW 11) Expectativa de começo da obra de conclusão do prédio abandonado da Rio Branco 12) Projeto dos BRTs (ônibus rápidos) e licitação do transporte podem sair do papel 13) Esperança de mais segurança e bem menos mortes que em 2014 14) Desafio de Sartori em desenvolver o Estado e, ao mesmo tempo, colocar as contas em dia 15) Desafio de Dilma de reaquecer a economia e escapar da crise
Expediente Arte de capa: Elias Monteiro Textos: Deni Zolin, Gabriela Perufo, Juliana Gelatti, Leandro Belles, Lizie Antonello, Manuela Vasconcellos, Marilice Daronco, Pedro Pavan, Tatiana Py Dutra e Ticiana Fontana.
Projeto e edição: Deni Zolin Diagramação: Ricardo Silva Revisão: Andreia Fontana, Carolina Carvalho e Thaise Moreira